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MANUTENÇÃO DE AERONAVES:
COMO PLANEJAR A AQUISIÇÃO DE
MATERIAIS “FORA DE ESTOQUE”?
Melina Osorio dos Santos (UNSINOS)
osrmelina@gmail.com
Secundino Luis Henrique Corcini Neto (UNSINOS)
secundino.henrique@hotmail.com
Maria Isabel Wolf Motta Morandi (UNSINOS)
mmorandi@unisinos.br
Dieter Brackmann Goldmeyer (UNSINOS)
dieter.goldmeyer@gmail.com
Diego Damasio de Lima (UNSINOS)
diego.damasio@hotmail.com
1. Introdução
A prestação de serviços de manutenção em aeronaves envolve, além de questões relacionadas
à expertise de sua execução, uma série de procedimentos de apoio objetivando a
disponibilidade dos materiais necessários no tempo, quantidade e qualidade requeridos.
A definição dos materiais necessários para a execução do pacote de serviço contratado exige
dos planejadores especial atenção, pois não é possível prever com a devida antecedência quais
serão estes materiais. Esta completa definição ocorre somente após a inspeção da aeronave e a
identificação dos materiais danificados que deverão ser reparados ou substituídos.
Juntamente com esta baixa previsibilidade, muitos dos materiais a serem utilizados são
importados, possuem necessidade de resfriamento em seu armazenamento, apresentam
reduzida vida útil, possuem características de periculosidade (materiais químicos, explosivos,
inflamáveis, etc) em seu manuseio e acondicionamento, bem como elevados custos de
aquisição que juntos reforçam a atenção na definição daqueles materiais a serem mantidos em
estoque.
Estes fatores impossibilitam que todos os potenciais materiais a serem utilizados sejam
mantidos em estoque na empresa prestadora de serviços de manutenção. Uma condição de
plena estocagem ocorre somente com os materiais de substituição obrigatória, conforme
determinação da Maintenance Planning Data - MPD1, para atender as diretrizes de
aeronavegabilidade definidas pelos fabricantes e órgãos fiscalizadores.
Neste contexto emerge a questão de como planejar a aquisição de materiais que não estão
disponíveis antecipadamente no estoque da empresa, ou seja, os materiais “fora de estoque”,
evitando assim, a ocorrência de custos desnecessários e/ou atrasos no Turn Around Time -
TAT2 ?
A busca da resposta a esta questão motivou a realização desta pesquisa que visa explicitar o
método de análise e planejamento de aquisição de materiais “fora de estoque” utilizado por
uma empresa prestadora de serviços de manutenção a aeronaves, denominada ficticiamente de
Aero.
2. Referencial Teórico
1
MPD: Maintenance Planning Data , são dados de manutenção desenvolvidos pelo fabricante onde contém as
informações necessárias para desenvolver uma manutenção programada e o programa de inspeção.
2
TAT: Turn Around Ttime, tempo previsto. No caso desta pesquisa, tempo previsto para a realização da
atividade e entrega do equipamento de volta ao cliente.
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O uso racional dos recursos é um dos pontos chave do componente de custos na prestação de
serviço de manutenção, que é uma dimensão competitiva relevante neste segmento. Neste
sentido, estas empresas buscam adotar políticas visando à redução do capital total investido
em estoques de materiais. Assim, políticas de postergação podem ser as mais adequadas, em
contrapartida as políticas de antecipação, uma vez que a primeira busca o posicionamento do
estoque em resposta a um consumo real e a segunda uma resposta a previsões de consumo
(WANKE, 2008).
O entendimento destas políticas contribui para a definição dos parâmetros a serem informados
no sistema informatizado de planejamento das necessidades de materiais. Estes sistemas de
planejamento evoluíram ao longo do tempo, tendo a sua principal referência no sistema
Material Requirement Palnning – MRP, que tinha como objetivo planejar a necessidade de
materiais dos produtos da empresa (MENDES, 2011).
Segundo Corrêa, Gianesi e Caon (2010) os sistemas ERP podem ser entendidos como uma
evolução do MRP II, pois, além do controle de recursos diretos, permitem controlar os demais
recursos necessários à produção, comercialização, distribuição e gestão. O melhor
aproveitamento dos recursos disponíveis nestes sistemas está relacionado à sua adequada
parametrização. Assim, definir valores para estoques mínimos, lotes econômicos, estoques de
segurança, tempos de ciclo, tempos médios de atravessamento, tempos médios de
ressuprimento, validades, unidade de medida, entre tantos parâmetros, são fundamentais para
a efetiva utilização destes sistemas.
Viana (2000) reitera à importância da parametrização dos sistemas, dando especial ênfase a
classificação dos materiais. A adequada classificação que atenda a necessidade da
organização pode orientar decisões e resultados que contribuam para atenuar o risco de falta
ou excesso de materiais em estoque.
Viana (2000) apresenta duas classificações para os materiais: os materiais “fora de estoque” e
materiais “em estoque”. Os materiais “em estoque” são aqueles que, com base na demanda
prevista e na importância para empresa, devem ser mantidos em estoque com critérios e
parâmetros para ressuprimento automático. Por outro lado, os materiais “fora de estoque” são
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aqueles que apresentam demanda imprevisível. Neste caso, não é possível a definição de
parâmetros seguros para seu ressuprimento sem que haja a possibilidade de geração de
excessos e custos adicionais ao necessário.
3. Abordagem metodológica
Esta pesquisa é de natureza aplicada, pois seu objetivo trata da apresentação de um método
prático aplicado por uma organização real. A questão de pesquisa foi abordada de forma
qualitativa por meio da revisão documental da empresa e entrevistas aos profissionais
envolvidos nas atividades de planejamento e aquisição dos materiais que são utilizados
durante a manutenção das aeronaves. O procedimento técnico que se valeram os
pesquisadores foi o estudo de caso único, onde se pode avaliar em profundidade o
sequenciamento das atividades realizadas no planejamento e aquisição dos materiais “fora de
estoque” (GODOY, 1995, YIN, 2005; GIL, 2010,).
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Esta pesquisa foi estruturada a partir de três etapas que compreenderam o entendimento,
mapeamento e a análise das informações coletadas. A Figura 1 apresenta o desenho de
pesquisa que embasou este trabalho.
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O material necessário deve estar à disposição no momento da execução das tarefas, que na
maioria das vezes, são sequenciadas e interdependentes. Desta forma, a não disponibilização
de um material “fora de estoque” pode gerar atrasos no cronograma geral do serviço,
comprometendo o cumprimento do TAT.
Visando atender as políticas internas de estoque e cumprir o TAT, a empresa estudada vale-se
do processo apresentado na Figura 2 para a aquisição de seus materiais.
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Os materiais que necessitam estar “em estoque”, ou seja, materiais de rotina tem sua
necessidade identificada pela equipe de planejamento durante a análise das tarefas. Os
materiais “fora de estoque”, que são considerados não rotina, possuem sua identificação
quando da execução do serviço pelo pessoal da operação ou pela necessidade preliminar de
projeto – NPP realizada pela equipe de planejamento. A NPP é o objeto de estudo desta
pesquisa, sendo detalhado na Seção 5 - O Método para a Necessidade Preliminar de Projeto –
NPP.
À medida que os materiais adquiridos são entregues, eles são conferidos e armazenados em
seus devidos locais, tendo seus dados de recebimento cadastrados no sistema contábil da
empresa. Estando todos os materiais conferidos e cadastrados, estes estão aptos a serem
entregues aos setores que os solicitaram, atendendo desta forma as reservas feitas para os
mesmos.
Este planejamento é realizado por meio de uma plataforma ERP em seu módulo específico de
MRP, respeitando as parametrizações previamente realizadas. Os materiais “em estoque”, de
consumo regular constam nas tasks cards3 definidas em cada Pacote-Cliente, conhecido como
Workscope4. Todo material que é identificado nas tasks cards são chamados de itens de
rotina, ou seja, são materiais de consumo regular determinados pela MPD do fabricante da
aeronave. Este documento deveria ser enviado pelo Cliente com 90 dias de antecedência em
relação à execução do serviço, o que na prática não ocorre.
3
Task card – são serviços planejados a serem executados e definidos pelo Cliente conforme orientado no manual
da aeronave
4
Workscope – é o documento enviado pelo cliente no qual descreve todas as tarefas de manutenção do
equipamento, conforme determinação de aeronavegabilidade.
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Em função disto, visando entender a possível demanda de materiais que não estejam em
estoque, foi estabelecida uma rotina para identificar todos os materiais consumidos
anteriormente em checks já efetuados. Nesta rotina é considerada a similaridade dos tipos de
checks da frota, o cliente e rotatividade dos materiais. Este levantamento tem o objetivo de
criar um banco de dados que contribua para uma maior acuracidade na previsão dos materiais.
Bimestralmente é realizada a “rodada” da NPP para os serviços que serão executados a partir
de 60 dias da realização desta “rodada”. Este período de 60 dias entre a “rodada” de
identificação do material e seu consumo refere-se ao prazo para o planejamento, aquisição e
entrega dos referidos materiais.
Passo 5: Localizar base de dados para comparação. Esta atividade envolve três
situações distintas:
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Passo 6: Analisar e planejar os materiais a serem adquiridos: para realizar este passo a
empresa estruturou uma matriz que leva em consideração a utilização histórica dos
materiais, a qual é apresentada na Figura 3.
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A execução ou não de uma tarefa por falta de material “fora de estoque” deve ser negociada
junto ao cliente, sendo este o responsável por definir qual ação a ser tomada. Os itens de
manutenção que não forem atendidos são informados ao cliente e registrados no histórico de
manutenção do avião, pois havendo prazo legal, podem ser realizados em intervenções
subsequentes. Caso o material em falta venha impactar na segurança exigida para voo o avião
ficará “on ground”, ou seja, ficará em solo e não será entregue ao cliente até a execução da
tarefa. Esta falha tem um alto impacto no nível de atendimento, uma vez que repercute
diretamente nas operações do cliente.
A partir deste método a empresa busca dar tratamento sistemático para análise dos materiais a
serem adquiridos e contribuir para um planejamento racional na aquisição daqueles
considerados “fora de estoque”. O produto deste esforço visa atender o TAT acordado com o
cliente, sem que haja a oneração desnecessária de seu estoque.
6. Considerações finais
Ao acompanhar a aplicação do método e a rotina da organização foi possível observar que tal
levantamento e planejamento proporciona à empresa a oportunidade de agir antecipadamente
em relação ao consumo do material, tanto na aquisição, bem como na negociação com o
cliente para o fornecimento de serviços, garantindo o nível de atendimento desejado.
O objetivo do presente artigo começa a ser contemplado à medida que na Seção 4. O processo
de aquisição de materiais na empresa Aero, é descrito o processo de aquisição de materiais
pela empresa estudada e, é finalizado quando na Seção 5. O Método para a Necessidade
Preliminar de Projeto – NPP, há o detalhamento do método que define o tipo e quantidade de
material “fora de estoque” que será adquirido em função da análise proposta na Figura 3 -
Matriz de Aquisição de materiais “fora de estoque”.
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A empresa tem certa segurança comercial ao adotar o método em questão, pois ele está
relacionado aos materiais não rotina, ou seja, que não possuem sua substituição obrigatória.
Assim tem ao seu favor o tempo legal para a realização de intervenções que em um primeiro
momento não foram atendidas. Esta condição pode ser cessada quando da análise em detalhe
do componente ou estrutura for percebido algum problema não previsto pelo histórico de
intervenções, seja da empresa, de outras filiais ou do fabricante, que faça com que a aeronave
permaneça em solo,“on ground”.
Esta pesquisa encontra suas limitações na qualidade de seu referencial teórico que não obteve
profundidade na discussão sobre métodos de planejamento de aquisição de materiais “fora de
estoque” por não encontrar bibliografia referente ao mesmo. O fato de não ser encontrado tal
referencial, não justifica a sua inexistência, pois este fato pode estar relacionado às limitações
da abrangência de pesquisa teórica executada pelos autores.
Sugere-se como estudos futuros decorrentes da questão apresentada nesta pesquisa, bem como
de seu desenvolvimento e conclusão a realização de outras pesquisas sobre o tema de
planejamento de materiais “fora de estoque” em outros segmentos prestadores de serviços.
Estes setores a definição dos materiais necessários para a realização do trabalho é percebida a
medida que se avança na realização do referido serviço.
Referências
CORRÊA, Henrique L.; GIANESI, Irineu G.; CAON, Mauro. Planejamento, Programação e
Controle da Produção. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2010.
GODOY, Arlinda Schimidt. Pesquisa Qualitativa: Tipos fundamentais. Revista de
Administração de Empresas. vol. 35, n.3, p.20-29, 1995.
MENDES, Otávio A. Gestão de estoques baseada em estrutura genérica de materiais.
Monografia defendida no curso de Administração de Empresas, UFRGS – Porto Alegre,
2011.
VIANA, João J. Administração de Materiais – Um Enfoque Prático. 1. ed., São Paulo: Atlas,
2000.
WANKE, Peter. Gestão de Estoques na Cadeia de Suprimentos – Decisões e Modelos
Quantitativos. 2. ed., São Paulo: Atlas, 2008.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e método. 3. ed. Porto Alegre: Bookmam,
2005.
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