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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção


Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

MANUTENÇÃO DE AERONAVES:
COMO PLANEJAR A AQUISIÇÃO DE
MATERIAIS “FORA DE ESTOQUE”?
Melina Osorio dos Santos (UNSINOS)
osrmelina@gmail.com
Secundino Luis Henrique Corcini Neto (UNSINOS)
secundino.henrique@hotmail.com
Maria Isabel Wolf Motta Morandi (UNSINOS)
mmorandi@unisinos.br
Dieter Brackmann Goldmeyer (UNSINOS)
dieter.goldmeyer@gmail.com
Diego Damasio de Lima (UNSINOS)
diego.damasio@hotmail.com

A presente pesquisa apresenta a metodologia utilizada por uma


empresa prestadora de serviço de manutenção em aeronaves para o
planejamento e aquisição de materiais considerados “fora de
estoque”. Foi realizado um estudo de caso onde se podee acompanhar
a rotina dos profissionais das áreas envolvidas e elucidar técnicas
utilizadas pelos mesmos na definição destes materiais. Ao final é
detalhado os passos do método utilizado para definir qual a
quantidade e quais os tipos de materiais “fora de estoque” devem ser
adquiridos. Assim, materializa-se com este trabalho uma contribuição
para discussão de métodos desenvolvidos que visam amenizar a
estocagens em excesso, bem como a falta dos mesmos no momento da
execução do trabalho.

Palavras-chaves: Manutenção de aeronaves, planejamento de


aquisição, materiais “fora de estoque”
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

1. Introdução
A prestação de serviços de manutenção em aeronaves envolve, além de questões relacionadas
à expertise de sua execução, uma série de procedimentos de apoio objetivando a
disponibilidade dos materiais necessários no tempo, quantidade e qualidade requeridos.
A definição dos materiais necessários para a execução do pacote de serviço contratado exige
dos planejadores especial atenção, pois não é possível prever com a devida antecedência quais
serão estes materiais. Esta completa definição ocorre somente após a inspeção da aeronave e a
identificação dos materiais danificados que deverão ser reparados ou substituídos.
Juntamente com esta baixa previsibilidade, muitos dos materiais a serem utilizados são
importados, possuem necessidade de resfriamento em seu armazenamento, apresentam
reduzida vida útil, possuem características de periculosidade (materiais químicos, explosivos,
inflamáveis, etc) em seu manuseio e acondicionamento, bem como elevados custos de
aquisição que juntos reforçam a atenção na definição daqueles materiais a serem mantidos em
estoque.
Estes fatores impossibilitam que todos os potenciais materiais a serem utilizados sejam
mantidos em estoque na empresa prestadora de serviços de manutenção. Uma condição de
plena estocagem ocorre somente com os materiais de substituição obrigatória, conforme
determinação da Maintenance Planning Data - MPD1, para atender as diretrizes de
aeronavegabilidade definidas pelos fabricantes e órgãos fiscalizadores.
Neste contexto emerge a questão de como planejar a aquisição de materiais que não estão
disponíveis antecipadamente no estoque da empresa, ou seja, os materiais “fora de estoque”,
evitando assim, a ocorrência de custos desnecessários e/ou atrasos no Turn Around Time -
TAT2 ?
A busca da resposta a esta questão motivou a realização desta pesquisa que visa explicitar o
método de análise e planejamento de aquisição de materiais “fora de estoque” utilizado por
uma empresa prestadora de serviços de manutenção a aeronaves, denominada ficticiamente de
Aero.

2. Referencial Teórico

Mendes (2011) apresenta uma classificação para as empresas de manutenção aeronáutica.


Elas são classificadas como Maintenance, Repair e Overhaul - MRO, ou seja, prestam
serviços de manutenção, reparo e revisão nos componentes e estruturas de aeronaves. Para a
realização deste serviço é necessário que o prestador esteja devidamente homologado.

1
MPD: Maintenance Planning Data , são dados de manutenção desenvolvidos pelo fabricante onde contém as
informações necessárias para desenvolver uma manutenção programada e o programa de inspeção.
2
TAT: Turn Around Ttime, tempo previsto. No caso desta pesquisa, tempo previsto para a realização da
atividade e entrega do equipamento de volta ao cliente.

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A realização de suas operações está diretamente relacionada ao bom desempenho da gestão de


seus estoques. O planejamento e a política de aquisição dos materiais são dois processos que
auxiliam a tomada de decisão no sentido de otimizar o uso dos recursos e atingir os
compromissos e metas organizacionais.

O uso racional dos recursos é um dos pontos chave do componente de custos na prestação de
serviço de manutenção, que é uma dimensão competitiva relevante neste segmento. Neste
sentido, estas empresas buscam adotar políticas visando à redução do capital total investido
em estoques de materiais. Assim, políticas de postergação podem ser as mais adequadas, em
contrapartida as políticas de antecipação, uma vez que a primeira busca o posicionamento do
estoque em resposta a um consumo real e a segunda uma resposta a previsões de consumo
(WANKE, 2008).

O entendimento destas políticas contribui para a definição dos parâmetros a serem informados
no sistema informatizado de planejamento das necessidades de materiais. Estes sistemas de
planejamento evoluíram ao longo do tempo, tendo a sua principal referência no sistema
Material Requirement Palnning – MRP, que tinha como objetivo planejar a necessidade de
materiais dos produtos da empresa (MENDES, 2011).

A partir dos resultados positivos com a utilização do MRP, houve o acréscimo do


planejamento das capacidades juntamente com a dos materiais. Este novo sistema foi
denominado de Manufacturing Resource Planning – MRPII. Assim, além da estrutura dos
materiais, são considerados os roteiros de produção e os tempos de processamento de cada
item nos respectivos equipamentos. Nesta linha evolutiva emerge a necessidade da integração
entre os diversos sistemas utilizados pela empresa em uma mesma plataforma. Esta
plataforma integrada recebeu a denominação de Enterprise Resource Planning – ERP, onde
estão interligados os diferentes módulos operativos e de apoio da organização (MENDES,
2011).

Segundo Corrêa, Gianesi e Caon (2010) os sistemas ERP podem ser entendidos como uma
evolução do MRP II, pois, além do controle de recursos diretos, permitem controlar os demais
recursos necessários à produção, comercialização, distribuição e gestão. O melhor
aproveitamento dos recursos disponíveis nestes sistemas está relacionado à sua adequada
parametrização. Assim, definir valores para estoques mínimos, lotes econômicos, estoques de
segurança, tempos de ciclo, tempos médios de atravessamento, tempos médios de
ressuprimento, validades, unidade de medida, entre tantos parâmetros, são fundamentais para
a efetiva utilização destes sistemas.

Viana (2000) reitera à importância da parametrização dos sistemas, dando especial ênfase a
classificação dos materiais. A adequada classificação que atenda a necessidade da
organização pode orientar decisões e resultados que contribuam para atenuar o risco de falta
ou excesso de materiais em estoque.

Viana (2000) apresenta duas classificações para os materiais: os materiais “fora de estoque” e
materiais “em estoque”. Os materiais “em estoque” são aqueles que, com base na demanda
prevista e na importância para empresa, devem ser mantidos em estoque com critérios e
parâmetros para ressuprimento automático. Por outro lado, os materiais “fora de estoque” são

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aqueles que apresentam demanda imprevisível. Neste caso, não é possível a definição de
parâmetros seguros para seu ressuprimento sem que haja a possibilidade de geração de
excessos e custos adicionais ao necessário.

No segmento de manutenção de aeronaves, esta classificação é adequada, porém recebe uma


nomenclatura distinta: os materiais “em estoque” são denominados de materiais de rotina,
pois são utilizados no dia-a-dia da prestação de serviço de manutenção sem a demanda direta
do cliente. Por outro lado, os materiais “fora de estoque” são denominados de materiais não
rotina, pois sua aquisição somente é realizada pela direta solicitação do cliente ou a partir da
identificação da necessidade durante a execução do serviço.

As empresas de aviação e os proprietários de aeronaves possuem um horizonte de tempo para


a realização da manutenção dos diferentes componentes e estrutura. Uma rotina não atendida
em uma intervenção, também denominada check, e havendo prazo legal, poderá ser realizada
na próxima intervenção de manutenção.
A Federal Aviation Administration – FAA estabelece diferentes intensidades de intervenções
da manutenção na aeronave, chamados de Letter Check. Um check tipo A ocorre normalmente
entre 500 e 800 horas de voo e pode ser realizado durante paradas entre turnos de voo. Um
check B é realizado a intervalos de 3 a 6 meses e pode requerer até três dias de intervenção.
Um check C ocorre entre 15 e 21 meses e pode demandar quinze dias de trabalho. Um check
D ocorre entre 5 e 6 anos e pode demandar 70 dias de intervenção. A intensidade da
intervenção dentro de cada check varia em função dos diferentes portes das aeronaves. Os
diferentes checks também requerem estruturas distintas para sua realização. U check A pode
ser realizado em um hangar do aeroporto, em contra partida um check D deve ser realizado
em uma base de manutenção especializada para tal.

3. Abordagem metodológica

A realização desta pesquisa está relacionada à explicitação de um método de trabalho que


vem sendo adotado com sucesso, por uma empresa prestadora de serviço de manutenção em
aeronaves, no que tanque a aquisição dos materiais a serem utilizados e que são classificados
como “fora de estoque”. Neste contexto, a pesquisa desenvolvida apresenta-se como uma um
conjunto de ações que visam encontrar uma solução para o problema de pesquisa proposto,
valendo-se para tanto de procedimentos racionais e sistemáticos (GODOY, 1995; GIL, 2010).

Esta pesquisa é de natureza aplicada, pois seu objetivo trata da apresentação de um método
prático aplicado por uma organização real. A questão de pesquisa foi abordada de forma
qualitativa por meio da revisão documental da empresa e entrevistas aos profissionais
envolvidos nas atividades de planejamento e aquisição dos materiais que são utilizados
durante a manutenção das aeronaves. O procedimento técnico que se valeram os
pesquisadores foi o estudo de caso único, onde se pode avaliar em profundidade o
sequenciamento das atividades realizadas no planejamento e aquisição dos materiais “fora de
estoque” (GODOY, 1995, YIN, 2005; GIL, 2010,).

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Esta pesquisa foi estruturada a partir de três etapas que compreenderam o entendimento,
mapeamento e a análise das informações coletadas. A Figura 1 apresenta o desenho de
pesquisa que embasou este trabalho.

Figura 1: Desenho de Pesquisa

A partir da identificação das práticas adotadas pela empresa em relação ao planejamento e


aquisição de materiais buscou-se, junto às lideranças das áreas envolvidas, o entendimento do
funcionamento do método e os benefícios alcançados. Uma vez entendido o funcionamento
deste método foi realizado o mapeamento de todas as suas etapas para um completo
entendimento de seu funcionamento. Para a realização deste mapeamento formam realizadas
visitas as áreas envolvidas a fim de observar a rotina de realização das atividades.

Uma vez realizado o mapeamento, foram entrevistados os profissionais envolvidos no


processo, ou seja, os coordenadores de matérias e os planejadores. O coordenador de
materiais é o profissional que acompanha o dia-a-dia de cada aeronave durante a execução do
serviço de manutenção, buscando monitorar o atendimento de materiais frente às demandas da
produção. Ele mantém o contato com cliente, informando o mesmo quanto às necessidades de
não rotinas existentes, bem como, quanto à falta dos materiais, caso venha ocorrer. O
planejador é responsável pela realização do procedimento em si. Ele coleta as informações
pertinentes para mensurar quais as necessidades de materiais nas aeronaves a serem
trabalhadas. Por fim, fez-se a análise documental dos serviços prestados de setembro a
dezembro de 2011.

Esta pesquisa delimita-se a apresentar um estudo de caso único considerando somente um


procedimento metodológico da empresa em questão. Não são abordados outros procedimentos
técnicos relacionados à gestão de suprimentos, tão pouco há a comparação entre técnicas
utilizadas para o mesmo fim e que são realizadas em diferentes empresas. O estudo
concentrou sua atenção na etapa referente à identificação da necessidade dos materiais, mais
especificamente ao método denominado Necessidade Preliminar de Projeto – NPP.

4. O processo de aquisição de materiais na empresa Aero

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Na operação de prestação de serviços em manutenção de aeronaves o gerenciamento de


estoques está diretamente relacionado com o nível de serviços oferecidos ao cliente. Para
conduzir um trabalho de excelência de atendimento ao cliente dentro do prazo requisitado, ou
seja, cumprir o TAT é necessário que as etapas do processo logístico, que envolvam os
materiais para a prestação de serviços, sejam corretamente seguidas dentro da organização.

O material necessário deve estar à disposição no momento da execução das tarefas, que na
maioria das vezes, são sequenciadas e interdependentes. Desta forma, a não disponibilização
de um material “fora de estoque” pode gerar atrasos no cronograma geral do serviço,
comprometendo o cumprimento do TAT.

Neste cenário, a principal missão do planejamento de materiais é conseguir identificar com


maior antecedência possível os materiais “fora de estoque” que serão necessários no check da
aeronave. Se esta identificação ocorrer apenas no momento da execução do serviço poderá
não haver tempo hábil para o suprimento, impactando nos prazos definidos e em custos
adicionais.

Visando atender as políticas internas de estoque e cumprir o TAT, a empresa estudada vale-se
do processo apresentado na Figura 2 para a aquisição de seus materiais.

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Figura 2: Processo de aquisição de materiais empresa Aero

Os materiais que necessitam estar “em estoque”, ou seja, materiais de rotina tem sua
necessidade identificada pela equipe de planejamento durante a análise das tarefas. Os
materiais “fora de estoque”, que são considerados não rotina, possuem sua identificação
quando da execução do serviço pelo pessoal da operação ou pela necessidade preliminar de
projeto – NPP realizada pela equipe de planejamento. A NPP é o objeto de estudo desta
pesquisa, sendo detalhado na Seção 5 - O Método para a Necessidade Preliminar de Projeto –
NPP.

Uma vez identificado o tipo de material, este é cadastrado no sistema de gestão de


suprimentos para que sua aquisição e consumo sejam planejados. A partir deste planejamento
é dado início a cotação de preços para formalização do orçamento que autorizará a aquisição
do mesmo. Muitos materiais são importados, o que repercute em um maior tempo de
ressuprimento, fato este, considerado pela equipe de planejamento.

À medida que os materiais adquiridos são entregues, eles são conferidos e armazenados em
seus devidos locais, tendo seus dados de recebimento cadastrados no sistema contábil da
empresa. Estando todos os materiais conferidos e cadastrados, estes estão aptos a serem
entregues aos setores que os solicitaram, atendendo desta forma as reservas feitas para os
mesmos.

Neste processo de aquisição recebe especial atenção a etapa de identificar a necessidade de


material, pois, é a parir dela que ocorre o planejamento da compra e consumo dos mesmos.
Uma vez má definida esta etapa, todo o processo subsequente será realizado também de forma
equivocada, impactando negativamente na execução do trabalho e no atendimento aos prazos
estabelecidos.

Este planejamento é realizado por meio de uma plataforma ERP em seu módulo específico de
MRP, respeitando as parametrizações previamente realizadas. Os materiais “em estoque”, de
consumo regular constam nas tasks cards3 definidas em cada Pacote-Cliente, conhecido como
Workscope4. Todo material que é identificado nas tasks cards são chamados de itens de
rotina, ou seja, são materiais de consumo regular determinados pela MPD do fabricante da
aeronave. Este documento deveria ser enviado pelo Cliente com 90 dias de antecedência em
relação à execução do serviço, o que na prática não ocorre.

3
Task card – são serviços planejados a serem executados e definidos pelo Cliente conforme orientado no manual
da aeronave
4
Workscope – é o documento enviado pelo cliente no qual descreve todas as tarefas de manutenção do
equipamento, conforme determinação de aeronavegabilidade.

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Em função disto, visando entender a possível demanda de materiais que não estejam em
estoque, foi estabelecida uma rotina para identificar todos os materiais consumidos
anteriormente em checks já efetuados. Nesta rotina é considerada a similaridade dos tipos de
checks da frota, o cliente e rotatividade dos materiais. Este levantamento tem o objetivo de
criar um banco de dados que contribua para uma maior acuracidade na previsão dos materiais.

Para atender as necessidades de cada cliente e cumprir políticas de postergação em relação ao


consumo, a empresa estabeleceu métodos e práticas que atenuam o risco de falta de materiais
na execução das tarefas e contribuem para evitar o atraso na entrega da aeronave. O método
utilizado para análise e definição da aquisição de materiais não rotina, ou seja, “fora de
estoque” é denominado de Necessidade Preliminar de Projeto – NPP.

5. O Método para a Necessidade Preliminar de Projeto – NPP

Bimestralmente é realizada a “rodada” da NPP para os serviços que serão executados a partir
de 60 dias da realização desta “rodada”. Este período de 60 dias entre a “rodada” de
identificação do material e seu consumo refere-se ao prazo para o planejamento, aquisição e
entrega dos referidos materiais.

O método utilizado para a realização da NPP consiste em 7 passos que iniciam no


recebimento da programação de manutenção do cliente e finalizam com a definição do uso de
procedimentos para aquisição em caráter de emergência. Estes passos são descritos a seguir:

Passo 1: Receber a programação de manutenção do cliente;

Passo 2: Definir o critério de divisão dos checks para o levantamento de informações.


Estes critérios devem ser coerentes com o padrão de customização utilizado pelo
cliente;

Passo 3: Detalhar os serviços a serem realizados;

Passo 4: Identificar os checks anteriores;

Passo 5: Localizar base de dados para comparação. Esta atividade envolve três
situações distintas:

a) Quando o cliente já realizou outros serviços de manutenção com a empresa:


considera-se o modelo da aeronave e o tipo de check realizado. Este levantamento
vale-se de dados dos últimos 6 meses, tendo como parâmetro os serviços realizados.
Esse cuidado se dá devido as aeronaves serem customizadas para cada companhia e
também a alterações realizadas pelos próprios clientes, como, por exemplo, inclusão
de novos opcionais internos (Live TV, poltronas, lavatórios) e troca de motores;

b) Quando é a primeira prestação de serviço a este cliente, porém de modelos de


aeronaves já trabalhadas em outro cliente: solicita-se a área de engenharia as
informações referentes aos clientes já trabalhados.

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c) Quando não tiver ocorrido nenhum atendimento a aeronaves do modelo: consultam-


se outras filiais para verificar se este modelo já foi atendido. Juntamente com esta
ação, buscam-se informações com o fabricante do modelo para identificar materiais
sugeridos conforme o tipo de check que será realizado, levando em consideração a
frequência de uso dos mesmos.

Passo 6: Analisar e planejar os materiais a serem adquiridos: para realizar este passo a
empresa estruturou uma matriz que leva em consideração a utilização histórica dos
materiais, a qual é apresentada na Figura 3.

Figura 3: Matriz de aquisição de materiais “fora de estoque”

Ao realizar o levantamento das informações nas três situações descritas no passo 5, a


empresa identifica qual a frequência de utilização de todos os materiais utilizados em
checks anteriores do modelo de aeronave em questão. Em função da frequência de uso
de cada material a empresa estabeleceu um critério para aquisição dos mesmos.

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Assim, materiais que foram utilizados em todas as aeronaves de mesmo modelo e


checks tem sua aquisição definida na totalidade e o cadastro da empresa é atualizado
com as informações coletadas. No outro extremo, os materiais que foram utilizados em
até 20% das aeronaves de mesmo modelo e check são adquiridos somente os que
apresentarem relação custo-benefício positivo, ou seja, o benefício de adquiri-los deve
ser maior do que o custo de mantê-los possivelmente em estoque.

Passo 7: Avaliar a necessidade de aquisição de emergência: Se durante a prestação de


serviço é exigida a realização de uma tarefa com material “fora de estoque” e este não
esteja disponível no momento, o mesmo será adquirido em Aircraft Block Overhaul –
ABO, termo utilizado para expressar a emergência da necessidade, pois faltam poucas
horas para a aeronave ser liberada. Estes custos são de responsabilidade da prestadora
de serviço.

A execução ou não de uma tarefa por falta de material “fora de estoque” deve ser negociada
junto ao cliente, sendo este o responsável por definir qual ação a ser tomada. Os itens de
manutenção que não forem atendidos são informados ao cliente e registrados no histórico de
manutenção do avião, pois havendo prazo legal, podem ser realizados em intervenções
subsequentes. Caso o material em falta venha impactar na segurança exigida para voo o avião
ficará “on ground”, ou seja, ficará em solo e não será entregue ao cliente até a execução da
tarefa. Esta falha tem um alto impacto no nível de atendimento, uma vez que repercute
diretamente nas operações do cliente.

Ao longo deste estudo foi possível observar a aplicação do método em 18 checks de


aeronaves, de mesmo fabricante e modelo. Neste período a empresa atingiu índices médios de
atendimento de 97,3%, considerando um volume total de aproximadamente 29.800 materiais
fornecidos nos checks, contemplando tanto materiais “em estoque” quanto “fora de estoque”.

A partir deste método a empresa busca dar tratamento sistemático para análise dos materiais a
serem adquiridos e contribuir para um planejamento racional na aquisição daqueles
considerados “fora de estoque”. O produto deste esforço visa atender o TAT acordado com o
cliente, sem que haja a oneração desnecessária de seu estoque.

6. Considerações finais
Ao acompanhar a aplicação do método e a rotina da organização foi possível observar que tal
levantamento e planejamento proporciona à empresa a oportunidade de agir antecipadamente
em relação ao consumo do material, tanto na aquisição, bem como na negociação com o
cliente para o fornecimento de serviços, garantindo o nível de atendimento desejado.
O objetivo do presente artigo começa a ser contemplado à medida que na Seção 4. O processo
de aquisição de materiais na empresa Aero, é descrito o processo de aquisição de materiais
pela empresa estudada e, é finalizado quando na Seção 5. O Método para a Necessidade
Preliminar de Projeto – NPP, há o detalhamento do método que define o tipo e quantidade de
material “fora de estoque” que será adquirido em função da análise proposta na Figura 3 -
Matriz de Aquisição de materiais “fora de estoque”.

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A empresa tem certa segurança comercial ao adotar o método em questão, pois ele está
relacionado aos materiais não rotina, ou seja, que não possuem sua substituição obrigatória.
Assim tem ao seu favor o tempo legal para a realização de intervenções que em um primeiro
momento não foram atendidas. Esta condição pode ser cessada quando da análise em detalhe
do componente ou estrutura for percebido algum problema não previsto pelo histórico de
intervenções, seja da empresa, de outras filiais ou do fabricante, que faça com que a aeronave
permaneça em solo,“on ground”.

Esta pesquisa encontra suas limitações na qualidade de seu referencial teórico que não obteve
profundidade na discussão sobre métodos de planejamento de aquisição de materiais “fora de
estoque” por não encontrar bibliografia referente ao mesmo. O fato de não ser encontrado tal
referencial, não justifica a sua inexistência, pois este fato pode estar relacionado às limitações
da abrangência de pesquisa teórica executada pelos autores.

Sugere-se como estudos futuros decorrentes da questão apresentada nesta pesquisa, bem como
de seu desenvolvimento e conclusão a realização de outras pesquisas sobre o tema de
planejamento de materiais “fora de estoque” em outros segmentos prestadores de serviços.
Estes setores a definição dos materiais necessários para a realização do trabalho é percebida a
medida que se avança na realização do referido serviço.

Referências
CORRÊA, Henrique L.; GIANESI, Irineu G.; CAON, Mauro. Planejamento, Programação e
Controle da Produção. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2010.
GODOY, Arlinda Schimidt. Pesquisa Qualitativa: Tipos fundamentais. Revista de
Administração de Empresas. vol. 35, n.3, p.20-29, 1995.
MENDES, Otávio A. Gestão de estoques baseada em estrutura genérica de materiais.
Monografia defendida no curso de Administração de Empresas, UFRGS – Porto Alegre,
2011.
VIANA, João J. Administração de Materiais – Um Enfoque Prático. 1. ed., São Paulo: Atlas,
2000.
WANKE, Peter. Gestão de Estoques na Cadeia de Suprimentos – Decisões e Modelos
Quantitativos. 2. ed., São Paulo: Atlas, 2008.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e método. 3. ed. Porto Alegre: Bookmam,
2005.

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