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Artigo Científico Versus Artigo de Revisão

Por Andrew Sugden

Science, Cambridge, Reino Unido

Abra qualquer amostra aleatória de periódicos científicos e você achará abrangentes


estilos de artigos científico, desde breves ‘cartas’ ou relatórios que ocupam apenas algumas
páginas a monografias de dezenas de páginas, e ainda relatos breves sobre novos resultados a
comentários obstinados e pesadas revisões de tópicos mais amplos.

Segundo a prática convencional, artigos científicos e artigos de revisão requerem


diferentes estilos de edição, que reflitam seus diferentes objetivos e público. Partindo da
minha própria experiência como editor em duas publicações bem diferentes, eu certamente
concordo. A palavra de ordem de um artigo científico, minha função mais básica na
Science, é precisa: documentar a investigação do autor. Para a grande maioria dos artigos
na literatura científica como um todo (senão na Science) o público é bem pequeno e muito
específico: na verdade, muitos são lidos do começo ao fim por não mais que 10 pessoas - e
isso incluindo os colegas do autor e os especialistas.

O estilo de um artigo científico é bastante formulado, com a maioria das


publicações seguindo alguma versão do padrão seqüencial de Introdução-Métodos-
Resultados-Discussão. Com a ajuda dos revisores, o trabalho do editor é se certificar de que
o estudo tem fundamento, que é um avanço legítimo e inovador, que é apresentado de forma
clara e concisa, e que está no contexto mais amplo dos desenvolvimentos pertinentes
(histórico e contemporâneo). O mais importante é que o editor precisa estar satisfeito com o
texto, de forma que contenha informação suficiente para permitir que o leitor avalie os
méritos do trabalho e - teoricamente - possa repeti-lo. Claro, alguns trabalhos não são
repetíveis - por exemplo, um conjunto de dados ecológicos recolhidos durante um longo
período é de fato uma fonte ímpar, e em tais casos o editor precisa ter certeza de que os dados
são suficientes para permitir que os leitores avaliem a eficácia da interpretação do autor sobre
os resultados.

Antes de ir para a Science, há 3 anos, trabalhei para a Trends in Ecology & Evolution
(ou TREE, como ficou conhecida), uma publicação inteiramente devotada a notícias,
comentários e análises. Um texto de revisão geralmente tem uma palavra de ordem mais
difusa do que um trabalho inédito de pesquisa: documentar e interpretar o
desenvolvimento e a tecnologia de ponta de uma determinada área. O público para uma
revisão é maior do que aquele para os artigos científicos e irá tipicamente abranger vasta
familiaridade com a área - do iniciante ou interessado observador de fora ao especialista. O
estilo de uma revisão é menos formulado e os editores têm debates acalorados entre si e
também com os autores, sobre o que constitui material analítico legítimo. Deve uma
revisão se concentrar estritamente em noticiar os avanços feitos nos últimos anos ou
pode se estender para incluir novas sínteses, novas hipóteses ou novas conclusões? O
único consenso parece ser que uma revisão é definida por aquilo que não contém:
notadamente, pesquisa inédita e novos resultados.

Um contraste fundamental entre as revisões e os artigos científicos é que as revisões


tendem a ser comissionadas (i.e., a convite) pelo editor ao invés de serem submetidas para
avaliação como o são os artigos científicos. Publicações excelentes de pesquisa têm altos
índices de rejeição de artigos científicos - às vezes excedendo 90%. Sob estas circunstâncias,
muitos trabalhos competentes têm que ser rejeitados depois da análise de colegas, mesmo se
as falhas identificadas pelos revisores são em sua maioria consertáveis. Em contraste, o índice
de rejeição para os revisores convidados é bem menor. Isso acontece em parte por que o editor
comissiona já de olho em preencher uma cota pré-estabelecida de páginas, mas também por
que um elemento-chave de controle de qualidade se delineou no início do processo: o editor
tentou escolher um tópico interessante e um autor de quem se pode esperar um artigo de
autoridade. Mesmo assim, os manuscritos de análise irão receber freqüentes críticas de
revisores, geralmente em virtude do equilíbrio do artigo e de quanto foi ou não explorado -
uma falha que geralmente pode ser consertada pelo autor. Com freqüência, há a simples
divergência de opiniões, que - pelo motivo de os artigos de revisão conterem quase que
inevitavelmente alguns elementos subjetivos - não levam necessariamente à rejeição.

Apesar destas diferenças, o editor tem que trazer os mesmos conhecimentos básicos a
ambos os tipos de manuscritos: um olho vivo nos detalhes, um faro do que é ou não
interessante e um senso para ajudar os autores a transmitirem sua mensagem da forma mais
eficiente para o leitor. O editor também tem que estar preparado para levar chumbo dos
autores rejeitados, embora isso se aplique mais aos artigos de pesquisa do que às análises, em
parte porque acontece seguidamente e em parte porque freqüentemente há pesada expectativa
de que o artigo científico seja bem sucedido. Já que as carreiras científicas são parcialmente
construídas com a publicação da pesquisa inédita, não é de se estranhar que os autores
rejeitados fiquem aborrecidos. Assim, um outro conjunto de talentos editoriais muito
necessário é gostar das responsabilidades inerentes à profissão, desenvolver confiança na
própria capacidade de avaliação e comunicar as decisões com eficiência e tato.

Uma vez que um trabalho, de qualquer tipo, tenha sido aprovado para publicação,
vários desafios ainda restam ao editor. Um dos mais universais é diminuir o trabalho para o
tamanho desejado. A maioria das publicações estipula um número limite de palavras e
número máximo e tamanho de figuras, quadros ilustrativos, etc. Tive a sorte (ou azar,
dependendo do ponto de vista de cada um) de trabalhar para duas publicações onde os limites
de tamanho são especialmente apertados: as análises na TREE devem ter 2.500 palavras, com
35 referências; os artigos na Science também são de 2.500 palavras - mas isso também inclui
referências e legendas. Minha experiência é que a maioria dos autores rotineiramente ignora
esta exigência e, ou acham que aqueles 25% extras não serão notados, ou protestam com o
editor que seu trabalho merece tratamento especial. Geralmente, nenhuma destas hipóteses é
verdadeira e o editor pode achar jeitos de aparar sem perder informações essenciais. Embora o
editor deva sempre se esforçar para preservar o estilo do autor, pode se conseguir muito ao
editar palavras desnecessários ou usar palavras mais curtas. Assim, ‘recursos necessários para
o metabolismo e crescimento contínuo’ - uma das minhas preferidas - se transforma
simplesmente em ‘alimento’, sem perda de informação.

Limites de tamanho existem por dois motivos. Primeiro há o argumento econômico:


trabalhos mais longos significam mais páginas, que significam tempos de edição mais longos
e maiores custos de produção e distribuição. Segundo, e tão importante, as necessidades do
leitor precisam ser consideradas: em geral, trabalhos mais curtos tendem a ser lidos por mais
pessoas, e se o objetivo é alcançar um público interdisciplinável, um limite curto é sempre
desejável.

Existem outras formas de enxugar uma redação. Nos últimos anos, a possibilidade de
colocar informações adicionais em um recurso auxiliar online ao invés de em um papel
impresso tornou este processo mais fácil e fez com que uma publicação como a Science
ficasse mais acessível a trabalhos que geralmente estavam fora de cogitação pela simples
questão da quantidade de dados necessários para sustentar as reivindicações do autor. Existe
uma desvantagem nisso, é claro: o editor ainda tem que verificar se a informação impressa e a
online está devidamente equilibrada e que - livre de qualquer restrição de tamanho máximo -
o material online em si não fique algo tedioso ou desinteressante. Mas isso é sem duvida a
direção que as publicações científicas estão tomando.
Quais são as recompensas para o editor? Primeiro existe a recompensa muito tangível
de produzir algo novo a cada semana. Segundo, não se tem a ansiedade de escrever pedidos
de financiamento para a pesquisa. Mas para mim a melhor parte tanto na Science quanto na
TREE, tem sido o acesso privilegiado a um vasto campo de pesquisa fascinante e a
oportunidade de interagir com um número enorme de cientistas de disciplinas abrangentes.

*Traduzido por Karen Shishiptorova

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