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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

CLEBIANA DANTAS CALIXTO

ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E PRÁTICAS PARA CONVIVÊNCIA


COM O SEMIÁRIDO NO ASSENTAMENTO QUEIMADAS - REMÍGIO (PB)

JOÃO PESSOA – PB
2012
CLEBIANA DANTAS CALIXTO

ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E PRÁTICAS PARA CONVIVÊNCIA


COM O SEMIÁRIDO NO ASSENTAMENTO QUEIMADAS - REMÍGIO (PB)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Geografia - PPGG, da Universidade Federal da
Paraíba - UFPB, como requisito à obtenção do grau de
Mestre, na área de concentração Território, Trabalho e
ambiente sob a orientação do Prof. Dr. Anieres Barbosa
da Silva.

JOÃO PESSOA – PB
2012
C154o Calixto, Clebiana Dantas.
Organização do espaço e práticas para convivência com o
semiárido no assentamento Queimadas – Remígio (PB) /
Clebiana Dantas Calixto.-- João Pessoa, 2012.
124f. : il.
Orientador: Anieres Barbosa da Silva
Dissertação (Mestrado) – UFPB/PPGG
1. Campesinato. 2. Espaço agrário. 3. Agroecologia.
4. Semiárido. 5. Assentamento Queimadas (PB).

UFPB/BC CDU: 316.343.644(043)


CLEBIANA DANTAS CALIXTO

ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E PRÁTICAS PARA CONVIVÊNCIA


COM O SEMIÁRIDO NO ASSENTAMENTO QUEIMADAS - REMÍGIO (PB)

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA E APROVADA EM


____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Anieres Barbosa da Silva (PPGG/UFPB)


Orientador

Prof. Dr. Bartolomeu Israel de Souza (PPGG/UFPB)


Examinador Interno

______________________________________________________________
Prof. Dr. Celso Donizete Locatel (PPGE/ UFRN)

Examinador Externo
DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação a Deus, instrumento de sabedoria, amor e confiança.


Aos meus familiares, em especial aos meus pais, José e Alexandrina, pelo
amor incondicional a mim dedicado e por serem exemplo permanente de
dignidade, honestidade e perseverança.
AGRADECIMENTOS

 Agradeço a Deus todo poderoso, por todos os momentos vividos, pelo


fortalecimento espiritual, pelo amor concedido, por me dar força e
confiança para concluir etapas importantes na minha vida e por me
carregar nos braços quando o cansaço já me impedia de caminhar;
 A minha Nossa Senhora Aparecida pela graça concedida para a
realização desse sonho;
 Aos meus familiares, em especial aos meus pais José Calixto e
Alexandrina Calixto e minhas maravilhosas irmãs Claudiana, Clediana e
Cristiane pela dedicação, apoio, carinho, amor e pelo grande incentivo e
encorajamento nos momentos mais difíceis. Por me mostrarem a
importância da família em minha vida;
 Ao meu esposo Marcelo por todo amor, companheirismo, paciência,
compreensão de minha ausência e incentivo nos momentos difíceis.
Pelo ombro amigo, conselheiro, pelos momentos felizes e pela enorme
força principalmente durante a finalização deste trabalho durante as
pesquisas de campo;
 Ao meu tio Manoel que é um dos maiores responsáveis pela iniciação e
conclusão desta etapa da minha vida. Meus sinceros agradecimentos
pela amizade, orientação, pelo amparo em seu lar, pela convivência,
pelos incentivos nos momentos difíceis e pelo exemplo de
profissionalismo;
 Ao meu tio Everaldo pela grande contribuição para a iniciação deste
trabalho. Pela força nos momentos difíceis e pela prontidão que sempre
apresentou para me ajudar.
 Ao meu admirável Orientador Prof. Dr. Anieres Barbosa da Silva pela
competência durante as orientações e viagens a campo, além da
paciência e companheirismo. Agradeço pela enorme contribuição para a
finalização deste trabalho e pela força e encorajamento nos momentos
difíceis desta caminhada.
 Ao Professor Dr. Bartolomeu Israel de Souza pela sua valiosa
contribuição durante as várias etapas de elaboração deste trabalho e
pela competência profissional apresentada durante as aulas.
 Ao Professor Dr. Celso Donizete Locatel por ter aceitado compor a
banca examinadora e pela grande contribuição durante o exame de
qualificação.
 A minha grande amiga Silvânia Félix de Lima pela enorme ajuda
concedida durante a elaboração do Projeto de Mestrado e pela sua
prontidão em ajudar-me sempre.
 Aos Assentados do Assentamento Queimadas localizado em Remígio –
PB, pelo acolhimento e fornecimento de dados durante a pesquisa.
 A equipe gestora da Escola Celerino Francisco de Menezes em Acaú –
Pitimbú pela ajuda concedida para a realização de meu trabalho.
 A Secretária de Educação do Município de Pitimbu, pela compreensão e
ajuda para conclusão desse sonho.
 A Sônia pela competência e ótimo atendimento na secretaria do PPGG.
Humilha teu coração espera com paciência,
Dá ouvido e acolhe as palavras de sabedoria;
Não te perturbes no tempo da infelicidade
Sofre as demoras de Deus;
Dedica-te a Deus, espera com paciência,
A fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.

Eclesiástico 2: 2, 3.
RESUMO

Este estudo tem a finalidade de analisar a organização do espaço agrário e as


práticas para convivência com o semiárido no assentamento Queimadas,
localizado no município de Remígio (PB). Refletir sobre o campesinato e a luta
por terra é uma tarefa que se formula em meio às transformações decorrentes
do desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro, o qual, em seu
desenvolvimento desigual, gera inevitavelmente a expropriação e a exploração.
Nesse sentido, os expropriados utilizam-se da ocupação da terra como forma
de reprodução do trabalho de base familiar e de materialização da luta de
classes. Em se tratando dos procedimentos da pesquisa, este foi realizado por
meio de entrevistas, aplicação de questionários, pesquisa bibliográfica,
levantamento de dados secundários em instituições governamentais e não-
governamentais, documentação fotográfica e elaboração de mapas, gráficos e
tabelas. Tais procedimentos, aliados ao referencial teórico-metodológico, nos
ajudaram a compreender que o Assentamento Queimadas é um espaço de
conquista da luta pela terra e de produção agropecuária, uma vez que abarca
experiências e vivências, sendo entendido como a espacialidade representativa
da materialidade do homem, já que a área de produção agrícola é considerada
o lugar onde os assentados estabelecem relações uns com os outros,
produzindo e recriando gêneros que na vida social, transformam-se em
mercadorias.

Palavras-chaves: Espaço Agrário; Campesinato; Agroecologia; Semiárido.


ABSTRACT

This study has the purpose to analyze the organization of space and agrarian
practices for coexistence with the semi-arid settlement burned, located in the
municipality of Remigio (PB). Reflect on the peasantry and the struggle for land
and a task that formula in the midst of the changes resulting from the
development of capitalism in brazilian field, which, in its uneven development,
inevitably generates the expropriation and exploitation. In this sense the
expropriated use-if the occupation of the land as a form of reproduction of the
work of family-based and materialization of class struggle. In the case of the
study procedures, this was carried out by means of interviews, questionnaires,
bibliographic research, survey of secondary data in governmental and non-
governmental institutions, photo documentation and preparation of maps,
graphs and tables. Such procedures, combined with the theoretical-
methodological framework, have helped us to understand that the settlement
burned down and an area of conquest of the struggle for land and agricultural
production, since it touches experiences, being understood as the spatiality
representative the materiality of man, since the area of agricultural production is
considered the place where the settlers establish relations with each other,
producing and recreating genera that in social life, they are transformed into
goods.

Key Words: Space Agrario; Peasantry; Agroecology; semi-arid.


LISTA DE FIGURAS

Páginas
Fotografia 01 - Passeata organizada pelo MST, reivindicando a
40
posse das terras da Fazenda Queimadas.
Fotografia 02 - Produção orgânica de hortaliças. 57
Fotografia 03 - Produção de Girassol com apoio da Petrobrás. 57
Fotografia 04 - Placa indicativa do P1MC em cisterna de placa 76
Fotografia 05 - Cisterna de Placa em residência do Assentamento 77
Fotografia 06 - Cisterna Calçadão 78
Fotografia 07- Tanques de pedra 79
Fotografia 08 - Produção agroecológica do algodão colorido 83
Fotografia 09 - Espaçamento na plantação do algodão, como forma
85
de inibição das pragas.
Fotografia 10 - Plantio da Palma em lote individual. Ao fundo,
90
residência do Assentado.
Fotografia 11 - Plantio da Palma em área coletiva do Assentamento. 90
Fotografia 12 - Criação de gado 100
Fotografia 13 - Criação de Ovelhas 101
Fotografia 14 - Casa de taipa construída ao lado da moradia
102
principal

LISTA DE TABELAS

Páginas
Tabela 01 - Grupos básicos do PRONAF, enquadramentos e
66
finalidades
Tabela 02 - Registro das Secas ocorridas no Nordeste brasileiro.
72
LISTA DE GRÁFICOS

Páginas
Gráfico 01 - Produção do Algodão herbáceo no Brasil (1950/2006) 82
Gráfico 02 – Naturalidade dos Assentados 94
Gráfico 03 – Formas de acesso a terra 95
Gráfico 04 – Escolaridade dos Assentados 96
Gráfico 05 – Fonte de abastecimento D‘água 104
Gráfico 06- Acesso ao crédito 105

LISTA DE MAPA

Página
Mapa 01: Localização do município de Remígio, com destaque para
a área de estudo. 18

LISTA DE PLANTA

Página
PLANTA 01: Distribuição espacial dos lotes do Assentamento
43
Queimadas – Remígio (PB).
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APPRQ - Associação de Pequenos produtores rurais do Assentamento


Queimadas

AS-PTA - Associação a Serviços e Projetos em Agricultura Alternativa


BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEBS - Comunidades Eclesiais de Base

CMDR - Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural

COEP - Comitê Nacional de Entidades no Combate a Fome pela Vida

CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas do Brasil

CPT - Comissão Pastoral da Terra

DATER/MA - Departamento de Extensão Rural da Secretaria de


Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura

EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAEPA - Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba

FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador

IBD - Instituto Biodinâmico

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MAARA - Ministério da Agricultura e do Abastecimento

MASTER - Movimento dos Agricultores Sem Terra


MIRAD - Ministério de Reforma Agrária

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

OGU - Orçamento Geral da União

PCB - Partido Comunista do Brasil


PNCF - Programa Nacional de Crédito Fundiário

PNRA - Plano Nacional de Reforma Agrária

PNRH - Plano Nacional de Recursos Hídricos

PO - Puro de origem

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Familiar

PROVAP - Programa de Valorização da Pequena Produção Rural

P1+2 - Programa uma terra e duas águas

SAPPP - Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco

SPA/MA - Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura

SRD - Sem Raça Definida

STR - Sindicato dos Trabalhadores Rurais

UDR - União Democrática Ruralista

ULTAB - União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17

A ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS COMO INSTRUMENTO NA


LUTA PELA POSSE DA TERRA .................................................................... 24

1.1- O MST e a consolidação do Assentamento Queimadas................... 35

1.2- A produção do espaço no Assentamento Queimadas ..................... 41

1.3 - A territorialização como um componente do poder ........................ 51

A QUESTÃO CAMPONESA E AS POLÍTICAS DE CRÉDITO ....................... 54

2.1 – O campesinato ................................................................................... 55

2.2 - As políticas de crédito e a “consolidação” do assentamento como


unidade produtiva ....................................................................................... 59

2.2.1 - Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Familiar


(PRONAF) ................................................................................................. 63

CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: AVANÇOS E DESAFIOS EM


CONSTRUÇÃO ................................................................................................ 69

3.1- Programas e novas tecnologias sociais ............................................ 76

3.2 - Práticas Agroecológicas .................................................................... 80

3.3 – Projeto Palmas ................................................................................... 87

A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E AS INFRA-ESTRUTURAS SOCIAL E


ECONÔMICA ................................................................................................... 93

4.1. Local de residência e escolaridade .................................................... 94

4.2. Trabalho e renda .................................................................................. 99

4.2.1. Organização do trabalho e da produção ........................................ 100

4.3. Condição de moradia ......................................................................... 102

4.4. Fonte de abastecimento e armazenamento d’água ........................ 104

4.5. Uso do crédito e investimentos na produção .................................. 105

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 108


REFERÊNCIAS .............................................................................................. 111

APÊNDICE A ................................................................................................. 120


INTRODUÇÃO

Ao longo da história de ocupação do território brasileiro é possível


verificar a presença de diversos elementos que estão relacionados à questão
agrária. Estes se fundamentam, de um lado, na concentração fundiária, e, do
outro, nas lutas de trabalhadores rurais pelo acesso a terra, seja pelo retorno a
terra de origem - após terem passado por um forte processo de
desterritorialização resultante do avanço do capitalismo no campo - ou pela sua
territorialização a partir da conquista de terra para trabalho. Essas lutas têm
possibilitado a ampliação do número de desapropriações de terras e a criação
de áreas de assentamentos rurais de reforma agrária em diversos estados
brasileiros.
Assim, pensar o campesinato e a luta por terra é uma tarefa que se
formula em meio às transformações decorrentes do desenvolvimento do
capitalismo no campo brasileiro, o qual, em seu desenvolvimento desigual,
gera inevitavelmente a expropriação e a exploração. Nesse sentido, os
expropriados utilizam-se da ocupação da terra como forma de reproduzirem o
trabalho familiar e de materialização da luta de classes. É na resistência contra
o processo de exclusão que os trabalhadores criam uma forma política para se
ressocializarem, lutando pela terra e pela não exclusão social.
Palerm (1980 apud Guzmán e Molina 2005) afirmam que a discussão
sobre o campesinato no capitalismo deve está centrada na sua continuidade e
não no seu desaparecimento, pois o campesinato subsiste a partir de
adaptações e oportunidades na expansão do capitalismo. Para esses autores,
a produção agrícola deverá depender de uma nova tecnologia ―tendo por base
o manejo inteligente do solo e da matéria viva por meio do trabalho humano,
utilizando pouco capital, pouca terra e pouca energia inanimada‖ (PALERM,
1980 apud GUZMÁN e MOLINA, 2005, p.73).
As diversas palavras que nos distintos lugares designam o camponês
têm duplo sentido, marcando-o como aquele que não está incluído na dinâmica
social brasileira. Nesta forma ambígua de ver o campesinato, verifica-se ainda,
segundo Martins (1986), que ele não é de fora, mas também não é de dentro. É
com este olhar que o Estado brasileiro tem tratado historicamente este sujeito

17
social. Portanto, as relações sociais envolvendo terra e trabalho, tendo o
Estado como mediador, desvendam o verdadeiro lugar do campesinato no
processo produtivo.
O estudo em tela tem a intenção de ampliar, por meio de uma análise
qualitativa sobre a organização do espaço agrário e a realidade social e
econômica do camponês em área de assentamento rural no Curimataú
Ocidental da Paraíba.
Cabe destacar que não se trata de um trabalho inovador, ao contrário,
se apóia em trabalhos já desenvolvidos por estudiosos como Cândido (1998),
Lamarche (1998), Lovisolo (1987) e Soares (2007), que realizaram estudos
sobre o trabalhador rural em outros recortes espaciais.
Nesse contexto, o objetivo geral deste trabalho consiste em analisar a
organização do espaço e as práticas para convivência com o semiárido no
assentamento Queimadas, localizado no município de Remígio (PB). Quanto
aos objetivos específicos, estes visam destacar a importância do processo
histórico de formação espacial e de luta pela terra no Curimataú Ocidental
paraibano, tendo como referência o desenvolvimento desigual e combinado do
capitalismo no campo; Discutir as práticas utilizadas pelos camponeses para
convivência com o semiárido, destacando programas, técnicas tradicionais e
novas tecnologias sociais e Analisar a realidade social e econômica dos
camponeses residentes no assentamento Queimadas.
A escolha desse assentamento como recorte espacial do estudo se
justifica pelo fato de ter sido o primeiro Assentamento de reforma agrária em
Remígio (Mapa 1). Município caracterizado pela concentração de terras,
quando comparado com os demais municípios que compõem a Microrregião do
Curimataú Ocidental. Além disso, trata-se de um Assentamento que tem sua
área territorial inserida em mais dois municípios: Areia, na microrregião do
Brejo e Algodão de Jandaíra no Curimataú Ocidental. Essa particularidade
confere a área de estudo uma diversidade de paisagens e de uso e ocupação
do solo.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
o município possui uma área territorial de 177, 998 km2 e uma população de
17.581 habitantes, dos quais 4.628 habitantes na área rural (IBGE, 2010). No
Assentamento Queimadas, residem cem famílias.
18
Mapa 01: Localização do município de Remígio, com destaque para a área de
estudo.

Fonte:Banco de dados IBGE, 2007.


Elaborado por: SILVA, U.R.L; FREIRE, C.S.

Historicamente, os primeiros habitantes de Remígio foram os índios


Potiguares, que estavam distribuídos espacialmente em seis tabas, dentre as
quais Jandaíra, Queimadas e Cuxexa, localizadas em terras do atual município.
Não se tem dados precisos a respeito de quando teve início a ocupação da
região. Pressupõe-se que tenha sido no início do ano de 1700, uma vez que o
primeiro registro foi encontrado em 1778, destacando a presença de
colonizadores naquele local, sobretudo o Alferes Luiz Barbosa da Silva Freire
que entrou em choque com o Governador da Província do Rio Grande do Norte
e, em luta armada, conseguiu fugir da sua terra e trouxe consigo dois escravos
negros. Na fuga, encontrou o português João Morais Valcacér, tendo com ele
permutado sua propriedade "Barro Branco", no Rio Grande, pela fazenda "Chã
Jardem" no município de Areia, estendendo-se pouco tempo depois, até o lugar
denominado "Lagoas" em Remígio. (IBGE, 2010).
Após estabelecer-se no local, Alferes Luiz Barbosa da Silva Freire trouxe
a família, inclusive filhos, genros e serviçais, iniciando com eles a exploração
da propriedade, tendo conseguido a amizade dos índios. Um dos genros do

19
fazendeiro, chamado Remígio dos Reis, construiu sua morada próximo a cinco
lagoas existentes na região. A partir daí novas casas foram construídas e
surgiram novos sítios. Por este motivo o denominaram "Lagoa do Remígio",
tempos depois simplificado para "Remigio". (IBGE, 2010).
Para alcançarmos os nossos objetivos, vários procedimentos, técnicas e
instrumentos de pesquisa foram utilizados, tais como:

a) Pesquisa bibliográfica
Esse procedimento de pesquisa teve por objetivo ampliar o
conhecimento sobre a área pesquisada, bem como dá suporte teórico às
nossas reflexões. A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bibliotecas da
Universidade Estadual da Paraíba e da Universidade Federal da Paraíba, no
banco de teses da Capes e em sites da internet.

b) Levantamento de dados secundários


Os dados secundários foram coletados em instituições governamentais e
não-governamentais, como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) do
município de Remígio (PB); Associação de Pequenos produtores rurais do
Assentamento Queimadas (APPRQ); Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA); a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); além da
ONG Arribaçã, onde se coletou dados socioeconômicos, mapas, fotografias e
documentos históricos sobre a formação do Assentamento.

c) Pesquisa de campo
A pesquisa de campo compreendeu as seguintes etapas:
 Reconhecimento e coleta de informação sobre a área objeto de estudo.
 Aplicação de formulários, com o objetivo de coletar informações sobre
formas de organização da produção e do trabalho, condições socioeconômicas,
bem como aspectos relacionados à participação social e política dos
assentados. Nessa etapa, desenvolvida nos meses de agosto e dezembro de
2011 e janeiro de 2012, foram aplicados aos responsáveis pelos lotes 45
instrumentos de pesquisa. Considerando que a área pesquisada tem 100 lotes,
o total de sujeitos pesquisados correspondeu a 45%.
20
Para a aplicação dos instrumentos de pesquisa a área do assentamento
foi dividida em três partes, cada uma delas constituída em média de 33 lotes.
Em cada uma dessas partes foram aplicados quinze formulários, sendo a
escolha dos informantes feita de forma aleatória.
 Realização de entrevistas com técnicos da Emater, com o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais e com lideranças comunitárias. A
entrevista possibilitou a obtenção de informações mais detalhadas sobre o
objeto pesquisado. O interesse maior foi o de apreender a dinâmica interna e
externa do Assentamento;
 Visita detalhada aos lotes, nas áreas comuns e de preservação
permanente. Para tanto, foi utilizado o procedimento metodológico da
observação participante, na qual ―o observador participante coleta dados
através de sua participação na vida cotidiana do grupo ou organização que
estuda a fim de obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seu
próprio contexto‖ (BECKER 1999, p. 47).

d) Documentação fotográfica
Essa etapa teve por objetivo documentar fotograficamente o
assentamento estudado, de modo a possibilitar uma representação visual dos
diversos aspectos abordados no trabalho;

e) Elaboração de mapas, gráficos e tabelas


Esse procedimento de pesquisa teve por objetivo apresentar os
resultados obtidos com a pesquisa de dados primários e secundários.
Além desses procedimentos de pesquisa, convém ressaltar que o
método dialético foi utilizado para subsidiar reflexões encaminhadas ao longo
do texto, vez este método possibilita reflexões mais consistentes sobre as
maneiras pelas quais os homens transformam o mundo e sofrem os efeitos
dessas transformações.

f) Sobre o método
Para Marx (1974), a natureza é material e dado primário, e a
consciência, as idéias, as sensações, são apenas reflexos do mundo. Nessa
perspectiva, o método dialético possibilita uma melhor compreensão dos
21
fenômenos que ocorrem na sociedade ao estabelecer a relação dialética de
transformação homem-natureza-homem. Sendo assim, acreditamos que este
método permitiu desvelar a essência do Assentamento Queimadas, não
ficando apenas na sua aparência. Trata-se, portanto, de um método que exige
um espírito crítico de observação, que nos incita a rever o passado à luz do
que acontece no presente e a questionar esse presente em nome do futuro
(KONDER, 2010).
De acordo com Gil (1999), o método dialético é considerado um
procedimento de interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Esse autor
também considera que os fatos não podem ser considerados fora de um
contexto social, político e econômico, empregado em pesquisa qualitativa. Em
resumo, trabalhar com a dialética é buscar uma visão de conjunto que permite
ao pesquisador descobrir a estrutura significativa da realidade, saber quais são
as contradições que existem dentro dessa realidade, ir para além da visão
imediata, para aos poucos ir descobrindo e construindo o que é pesquisado.

g) Estrutura do trabalho
Tomando como base os objetivos propostos neste trabalho, o texto
está organizado em quatro capítulos, além desta introdução e da parte
conclusiva.
O primeiro capítulo, intitulado A organização dos movimentos sociais
como instrumento na luta pela posse da terra, contemplou as questões mais
gerais, no plano teórico, no qual os Movimentos Sociais apresenta sua
capacidade de articulação a partir de uma rede estratégica de ação e no
redimensionamento da luta política, apresentando constantemente propostas e
projetos de organização territorial.
O segundo capítulo, cujo título foi denominado A questão camponesa e
as políticas de crédito, procurou mostrar o conceito de camponês, bem como
as políticas de crédito que atendem o assentamento estudado. Os objetivos
destas políticas, quase sempre circunscritos à dimensão econômica da vida
social, são principalmente referidos à ideia de promover uma rápida
―emancipação‖ ou ―consolidação‖ dos assentamentos rurais como unidades
produtivas.

22
No terceiro capítulo, denominado de Convivência com o semiárido:
avanços e desafios em construção, foi realizada uma discussão sobre
programas e tecnologias socias existentes no assentamento para convivência
com o semiárido. Nesse capítulo também evidenciamos a adoção de práticas
relacionadas ao uso e manejo da água e a produção agroecológica,
principalmente do algodão.
Em se tratando do quarto capítulo, intitulado A organização espacial e as
infra-estruturas social e econômica, apresentamos e analisamos os dados
secundários e as informações obtidas diretamente no campo. Assim,
colocamos em evidência o entendimento de que a dinâmica social faz parte de
um processo complexo e contraditório, uma vez que esta possibilita a
apreensão da diversidade de ações, de projetos, de estratégias e de trajetórias
de luta existentes na área onde a pesquisa foi realizada.

23
Primeiro capítulo
A ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS COMO INSTRUMENTO NA
LUTA PELA POSSE DA TERRA

A luta pela terra e a reforma agrária transformam-se em


luta pela construção de uma nova cidadania para aqueles
que foram excluídos da terra e da participação social
(BRUMER; SANTOS, 1997, p.6).
24
A luta pela terra tem se estabelecido na demonstração mais evidente e
permanente da luta de classes no país, uma vez que a propriedade da terra
continua sendo um marco de poder econômico e político, permanecendo
também como instrumento de dominação de uma minoria sobre a maior parte
da população (TARGINO, 2002).
Segundo Brumer e Santos (1997), as tensões sociais, rurais e urbanas
da sociedade brasileira atual, redefinem o significado da reforma agrária: as
forças sociais estão propondo modos diversos não apenas de apropriação da
terra, mas também de uso da terra, bem como a instalação de unidades
econômicas camponesas e unidades de produção familiar em distintas regiões
do país. Nesse sentido:

A luta pela terra e a reforma agrária transformaram-se em luta


pela construção de uma nova cidadania para todos aqueles
que foram excluídos da terra e da participação social. Trata-se
de uma luta eminentemente política, pois justamente em torno
da propriedade e do uso da terra configurou-se um novo campo
de conflitos agrários (BRUMER; SANTOS, 1997, p.6)

A luta pela terra no Brasil não é recente. Têm-se registros da legislação


portuguesa na tentativa de resolver o problema fundiário do Brasil Colônia, no
que tange limiar as áreas das sesmarias. Tais cuidados decorriam dos
inúmeros pedidos de terra para seu aproveitamento, como também, em
conseqüência dos abusos, irregularidades e desordens que aqui grassavam,
provenientes em muitos casos das extensas áreas conseguidas em sucessivas
doações, principalmente, nos séculos XVII e XVIII (VARELA, 2003).
A reforma agrária se configurou como sintetizadora de diversas
reivindicações embutidas em diferentes formas de tensões sociais existentes
no campo, sobretudo no início da década de 1950, quando uma Campanha
Nacional pela Reforma Agrária foi lançada, em 1954, pelos partidos
comunistas. Essa reforma era vista como condição básica para o progresso da
economia nacional e medida de justiça social. Nesse contexto, a reforma
agrária não aparecia como uma questão do meio rural, mas sim como um tema
para a sociedade brasileira (MEDEIROS, 1997).
Embora essa campanha não tivesse obtido o sucesso desejado, ela
representou papel importante na difusão das questões referentes aos conflitos
25
fundiários, uma vez que estimulou a emergência de associações e uniões de
lavradores, em diferentes regiões do Brasil.
Essas associações e uniões de lavradores tiveram uma participação
importante no debate sobre a reforma agrária, atuando politicamente no
conhecimento das condições de trabalho e na organização dos trabalhadores
rurais, com o objetivo de dar consistência social à fórmula da revolução
democrático-burguesa¹ que compunha suas diretrizes programáticas.
Naquele momento, a reforma agrária era entendida como uma política
de distribuição de terras por meio do confisco/desapropriação do latifúndio,
englobando também medidas parciais de regulamentação do arrendamento e
da parceria, a extensão da legislação trabalhista ao campo, a proibição de
despejos, a garantia de preços mínimos e o crédito (MEDEIROS, 1997).
Com o florescimento do debate sobre a necessidade de uma reforma
agrária, começaram a se estruturar as primeiras organizações de
trabalhadores. Ao mesmo tempo, a classe latifundiária também começou a se
organizar utilizando-se da repressão (com perseguições e assassinatos de
lideranças e trabalhadores), fortalecendo as entidades de representação já
existentes e criando outras, como é o caso da Confederação Rural Brasileira.
Dessa maneira, podemos afirmar que nas décadas de 1950 e 1960, não
só o debate sobre a extensão da legislação trabalhista ao campo e sobre o
direito de organização ocorreu num ritmo extremamente lento, devido ao
―engavetamento de projetos de reforma agrária no Congresso Nacional
(MEDEIROS, 1997).1

Sobre a perspectiva, Silva (1997) assevera que:

Em 1953, o presidente Getúlio Vargas encaminhou ao


congresso Nacional projeto-lei definindo os casos de

1
Período que corresponde ao momento em que a burguesia que é oprimida pelos estados
feudais (na Europa) ou pelas metrópoles (nas colônias), utiliza a mobilização popular
revolucionária contra o feudalismo para impor o seu domínio político e adequar o Estado, suas
instituições e suas leis ao seu já desenvolvido domínio econômico. Nessa época, podemos
diferenciar dois tipos de revoluções: a revolução democrático-burguesa contra o estado feudal
a nobreza e a igreja latifundiária, e a revolução democrático-burguesa em prol da
independência nacional das colônias com a relação aos impérios metropolitanos.

26
desapropriação por interesse social e o que se entendia por
imóvel improdutivo. O projeto, compatível com a constituição
de 46, propunha uma solução inteiramente plausível para o
estabelecimento de uma política de reforma da situação da
propriedade rural, mas sofreu todo tipo de oposição e acabou
ficando engavetado no Senado por quase dez anos (SILVA,
1997, p.19).

Foi também nesse período que a luta pela terra e pela reforma agrária
foi intensificada no país, com a atuação das Ligas Camponesas, do Movimento
dos Agricultores Sem Terra (MASTER) e da União dos Lavradores e
Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB).
Segundo Azevêdo (1982), as primeiras Ligas Camponesas que surgiram
em nosso país remontam ao período imediatamente posterior à
redemocratização de 1945. Nasceram sob a iniciativa e direção do recém-
legalizado Partido Comunista do Brasil (PCB) e sob a forma de associações
civis que permitiam a mobilização e a organização dos trabalhadores rurais,
com o amparo do Código Civil.
O alicerce dessas Ligas iria refletir, antes de tudo, a necessidade do
PCB de ampliar as suas bases políticas para além das fronteiras urbanas e
concretizar a idéia de uma aliança operário-camponesa para se contrapor ao
latifúndio e ao imperialismo, de acordo com a estratégia política definida desde
os primeiros congressos desse partido. No entanto, essa ampliação das bases
políticas foi adiada para outro momento, como destaca Azevêdo (1982) ao
afirma que:

Devido às difíceis condições de ilegalidade e clandestinidade, e


sofrendo uma repressão policial desde a ―Intentona Comunista‖
de 1935, a qual se prolongaria, de forma sistemática, por todo
o período do Estado Novo, o Partido Comunista Brasileiro se
viu forçado a concentrar os seus quadros e a preservar o seu
aparelho partidário nos limites dos grandes centros urbanos e
industriais (AZEVÊDO, 1982, p.55).

Com a conquista da legalidade, a ampliação do seu quadro de militantes


e a necessidade de enfrentar as disputas eleitorais, o PCB amplia seu raio de
ação e de presença no campo, como tentativa de arregimentar uma clientela
eleitoral capaz de neutralizar o domínio das oligarquias coronelistas que se
reproduziam por meio do controle dos votos sob a forma de ―currais eleitorais‖.

27
Na visão das lideranças do PCB as Ligas seriam, por excelência, os
instrumentos de organização e mobilização das massas rurais. Desse modo, o
partido atuaria não somente com os assalariados da grande propriedade
comercial, mas encamparia também as reivindicações específicas dos
trabalhadores rurais.

As Ligas e associações rurais foram fundadas em quase todos


os estados brasileiros, reunindo ao redor de si algumas
dezenas de milhares de trabalhadores rurais e camponeses.
Em Pernamuco, as mais fortes e de maior expressão foram as
de Escada, Goiana, Pau D‘Alho e da Iputinga (situada nos
arredores de Recife e liderada por um antigo militante
comunista, José dos Prazeres, que teria um papel importante
na criação da Liga da Galiléia, em 1955) (AZEVÊDO,1982,
p.56).

A Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco


(SAPPP), baseada no núcleo de camponeses do engenho Galiléia, município
de Vitória de Santo Antão em Pernambuco, acabaria por ficar conhecida como
a Liga Camponesa da Galiléia, a qual surgiu com três fins específicos:
auxiliar os camponeses com despesas funerárias — evitando que os
camponeses falecidos fossem literalmente despejados em covas de
indigentes ("caixão emprestado") - fornecer assistência médica, jurídica e
educação aos camponeses; e formar uma cooperativa de crédito capaz de
livrar aos poucos o camponês do domínio do latifundiário.
No engenho Galiléia trabalhavam cerca de 140 famílias de camponeses
em regime de foro; isto é, para cultivar a terra, os camponeses pagavam uma
quantidade fixa em espécie ao proprietário da terra
Segundo Stedile (2006), a SAPPP teve em seu início dias muito difíceis.
Isso foi a partir do momento em que seu presidente de honra, Oscar Beltrão,
que era o próprio dono do engenho Galiléia, declinou do cargo de honra e
passou a perseguir os camponeses. Advertido por outro proprietário da região
de que o movimento, de proposta comunista, teria finalidade política, Oscar
Beltrão, ordena que o movimento seja desfeito imediatamente, ameaçando os
foreiros de expulsão e de aumento do valor do foro. Os camponeses decidem

28
resistir, mas sabiam que isolados no campo não conseguiriam resistir por muito
tempo.
Diante dos fatos, resolveram buscar na cidade do Recife, respaldo
político para os camponeses do engenho Galiléia, junto a José dos Prazeres
presidente da SAPPP, e Paulo Travassos².
O movimento teve uma significativa expansão a partir da segunda
metade da década de 1950, quando passou a atuar em praticamente todo o
Estado de Pernambuco. Apesar de ter atuação mais intensa na Zona da Mata
desse Estado, foi com as ligas camponesas que a luta pela terra e contra o
latifúndio ganhou dimensão nacional, como ressaltado por Oliveira (1990) ao
afirmar que:

Nascidas muitas vezes, como sociedade beneficente dos


defuntos, as ligas foram organizando, no Nordeste brasileiro, a
luta dos foreiros, moradores, arrendatários, pequenos
proprietários e trabalhadores da Zona da Mata, contra o
latifúndio (OLIVEIRA, 1990, p. 25-26).

Além do Estado de Pernambuco, o movimento das Ligas penetrou


organizado e atuante nos estados da Paraíba, do Rio Grande do Norte, da
Bahia, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de São Paulo, do Paraná, do Rio
Grande do Sul, de Goiás, do Mato Grosso, do Acre e no Distrito Federal
(STEDILE, 2006).
Na Paraíba, a modernização e penetração do capital no setor canavieiro
paraibano alteraram as relações de produção dentro do sistema latifundiário.
Isso viabilizou mudanças significativas do ponto de vista agrário e social, como
por exemplo, aumento da concentração de terras, violência e empobrecimento
do trabalhador rural, fazendo com que fosse intensificada a atuação das Ligas
neste estado.

____________________________
²Trabalhador rural do Espírito Santo, onde militava no partido comunista. Perseguido pela
polícia, em 1945 viajou para Pernambuco e recomeçou sua atividade de mobilização e
organização dos trabalhadores rurais.

29
Com a intenção de prestar assistência social e jurídica aos associados é
que João Pedro Teixeira, Pedro fazendeiro, Nego Fubá e outros camponeses
criam, em fevereiro de 1958, a Associação dos Lavradores e Trabalhadores
Agrícola de Sapé - PB, embrião da Liga Camponesa naquele município.

Segundo Silva (2009), em pouco tempo, Associação deixa de ser um


movimento apenas assistencialista às pequenas causas locais dos
camponeses, para se tornar um movimento de atuação e instrumento de
protesto contra o cambão, o foro, o barracão e a falta de direitos trabalhistas,
bem como a luta pela reforma agrária no país.
As Ligas Camponesas ganharam destaque (entre os levantes populares
do campo) através das estratégias de luta e pela multiplicação de focos de
conflito, sendo essa uma das razões para a repressão do movimento por parte
dos grandes latifundiários e, também, do poder público.
No estado da Paraíba a liga camponesa contava com aproximadamente
quinze mil associados. Segundo Bandeira et al. (1997), a população de Sapé,
no ano de 1950, era de 37.918 habitantes e no início da década de 1960 a Liga
Camponesa de Sapé tinha aproximadamente dez mil filiados.
Para conseguirem se organizar, e tendo em vista a perseguição sofrida
pelos líderes do movimento, os camponeses lançavam mão de táticas de luta e
de mobilização, como a ―infiltração‖, na qual os militantes das Ligas vestiam-se
de vendedores de doce e, passando despercebidos pelos capangas dos
proprietários, convidavam os camponeses a se associarem às Ligas (CALADO
et al; 2007).
Outra tática bastante utilizada pelos integrantes das Ligas Camponesas
eram os chamados chocalhos, aonde quem era contra as Ligas, como os
proprietários e seus capatazes, eram ―chocalhados‖ e trazidos para a marcha
devendo gritar: ―Viva às Ligas Camponesas!‖ (CALADO et al; 2007).
Entretanto, dentre as estratégias de luta utilizada pelos camponeses
uma das mais recorrentes era a ocupação de propriedades. Ocupavam as
fazendas em prol do trabalhador e permaneciam no local até que o problema
fosse solucionado.
Em seu processo de luta, o movimento camponês angariou a eliminação
do cambão e do foro e fez com que os trabalhadores expulsos injustamente de

30
suas terras pudessem retornar e permanecer nelas ou, então, recebessem uma
indenização dos latifundiários.
Devido à forte influência exercida pelos latifundiários no cenário político
nacional e paraibano, as Ligas Camponesas passaram a ser reprimidas; seus
lideres perseguidos e mortos, enfraquecendo e desarticulando o movimento.
Como exemplo, destacamos a morte de João Pedro Teixeira, presidente da
Liga Camponesa, assassinado a mando de um usineiro local. Outro líder
igualmente assassinado foi o camponês Pedro Inácio de Araújo, o Pedro
fazendeiro.
De acordo com Bandeira e colaboradores (1997), Elizabeth Teixeira,
viúva de João Pedro Teixeira, também foi perseguida pelas forças repressoras.
Para não ser presa, abandonou o Estado da Paraíba e se refugiou na cidade
de São Rafael, no Estado do Rio Grande do Norte, sendo obrigada a ocultar a
sua real identidade.
O receio de que o Brasil se tornasse um país socialista fez com que
muitos líderes camponeses fossem presos, fugissem ou fossem colocados na
clandestinidade. Com as ausências de seus principais líderes, a Liga paraibana
foi sendo enfraquecida e aos poucos desarticulada.
Nesse contexto, o movimento das Ligas foi marcado pela violência
expressa através de assassinatos das lideranças dos trabalhadores até a sua
extinção resultante da repressão que sofreu a partir da implantação do regime
militar em 1964. Porém, é preciso entender que as Ligas camponesas, mesmo
extintas, deixaram um caminho aberto e uma legislação mais favorável àqueles
que posteriormente passaram a lutar pela terra e pela reforma agrária.
Ainda na década de 1960 inicia-se o processo de sindicalização rural,
institucionalizando a organização dos trabalhadores na atuação dos sindicatos,
das federações e das confederações, sendo o resultado desse processo a
constituição da Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas do Brasil
(CONTAG). Começaram a se formar também no Brasil as Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs), que foram grupos de pessoas da periferia ou da
zona rural, organizados por padres ou leigos, em torno de uma paróquia
(urbana) ou capela (rural).
Nas CEBs era realizada a leitura político-religiosa da Bíblia, que
consistia em relacionar o cotidiano de camponeses aos textos bíblicos,
31
enfatizando principalmente a relação entre a história de Moisés, dos hebreus e
da ―terra prometida‖ com as histórias pessoais daqueles indivíduos, o que os
ajudou no reconhecimento da comum situação de opressão e a se identificar
como grupo (TARELHO,1988).
Além das CEBs, a Igreja passou a contar, a partir de 1975, com a
Comissão Pastoral da Terra (CPT), que nasceu da prática das igrejas
envolvidas contra a violência que atingia as comunidades de índios e de
posseiros na Amazônia.
A CPT tinha o objetivo de assessorar e interligar o trabalho pastoral junto
aos camponeses e, ao mesmo tempo, denunciar e registrar os conflitos no
campo. A luta pela justiça social se tornou constante na atuação da CPT, uma
vez que atuar nessa comissão é estar em meio às lutas de diferentes grupos
sociais que compõem o campo brasileiro (MITIDIERO JÚNIOR, 2008).
Na concepção de Canuto et al. (2010), a CPT é uma ação pastoral da
Igreja, tem sua raiz e fonte no Evangelho e tem como destinatários de sua ação
os trabalhadores e trabalhadoras da terra. Por fidelidade ao Deus dos pobres, à
terra de Deus e aos pobres da terra.
Formada por religiosos, voluntários e profissionais das mais diversas
áreas do conhecimento, a CPT foi criando corpo e dando início às suas ações
por todo o país. A essas pessoas foi dado o nome de agente, encarregados de
ajudarem, assessorarem e denunciarem a realidade dos camponeses
brasileiros, oprimidos dentro de um contexto ditatorial e coronelista. Como
forma de denunciar à sociedade, às autoridades governamentais e ao mundo a
situação vivida pelos trabalhadores e trabalhadoras rurais em todo país, deu
início, ao trabalho de documentação dos conflitos e violências no campo.
De acordo com Polleto (1997), um dos fundadores da CPT, a Comissão
da Pastoral da Terra teve na sua origem imediata uma geografia eclesial e
política diferente daquela seguida pelos movimentos, instituições e grupos de
ação católica que surgiram no seio das igrejas tradicionais e se desenvolveram
no Sul e Nordeste, tendo como fundamento o mandato da hierarquia concedida
aos leigos para que evangelizassem o seu meio social.
A atuação da CPT e de outras organizações que lutavam pela justiça
social no campo fizeram com que a organização sociopolítica dos
trabalhadores rurais ganhasse força no final dos anos de 1970 e no início da
32
década de 1980. Nessa época, podemos destacar os acampamentos e as
ocupações de terra elementos fundamentais para a consolidação do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem -Terra (MST) – nos estados da
Região Sul; as lutas dos seringueiros na Região Norte do país e o
aparecimento dos movimentos reivindicatórios compostos de atingidos por
barragens. Essas formas diferentes de luta e resistência demonstram o
potencial contestatório e a força política significativa dos conflitos no campo
(FERNANDES, 1996).
Em se tratando da atuação da CPT no estado da Paraíba, Moreira e
Targino (1997) afirmam que:

A postura da CPT na Paraíba tem-se pautado na defesa


intransigente dos pobres da terra. Seu trabalho não se resume
ao simples ―apoio à luta‖. Ele é bem mais amplo e embute: a
prestação de serviço de assessoria jurídica; a denúncia de
violência; o acampamento quase diário dos trabalhadores em
conflito; a divulgação dos fatos em nível local, nacional e
internacional; a organização das romarias da terra; o trabalho
de formação da consciência política dos trabalhadores e uma
assistência infra-estrutural (alimentação, transporte, colchões,
lonas) por ocasião dos acampamentos, além de assistência
médica e cobertura financeira quando se faz necessário
(MOREIRA; TARGINO, 1997, p. 306).

Esse conjunto de organizações políticas e de lutas sociais recolocou o


tema da reforma agrária no centro dos debates políticos nacionais,
principalmente após a redemocratização do país. É nesse contexto que o
governo da Nova República3 cria o Ministério de Reforma Agrária (MIRAD) e
traz para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)
conhecidos defensores e tradicionais aliados dos trabalhadores do campo.
2
Com o governo da Nova República3 o país ingressa na
redemocratização e retomadas as discussões em torno da reforma agrária.

³ A Nova República é o período de nossa história onde o Brasil passou a ser um país
democraticamente político. Em 1985, Tancredo Neves foi eleito Presidente do Brasil pelo
Colégio Eleitoral. A escolha de Tancredo Neves como Presidente deu um ponto final na
Ditadura Militar. Na véspera de tomar posse do governo, Tancredo Neves adoeceu, e dias
depois, 21 de Abril de 1985, veio a falecer. Seu Vice-presidente José Sarney assume a
presidência em seu lugar.

33
Procurando fugir da bipolaridade política, mas destacando-se seu conteúdo
social e sua importância para desenvolvimento nacional, a distribuição de
renda, a ampliação do mercado interno, a produção de alimentos e o
harmonioso crescimento rural-urbano da população, é anunciado pelo governo
o Plano Nacional de Reforma Agrária, despertando uma forte reação e um
reordenamento das entidades de representação da agricultura capitalista.
É nesse contexto que surge a União Democrática Ruralista (UDR),
arregimentando forças políticas opositoras à campanha reformista e difundindo
a violência contra os trabalhadores rurais.
O período compreendido entre 1985 e 1988 foi marcado por uma
acirrada disputa política entre os sujeitos sociais envolvidos na questão da
reforma agrária, culminando com a derrota do projeto reformista.
Essa derrota institucional pode ser percebida em dois momentos:
primeiramente, com a aprovação do Plano Nacional de Reforma Agrária
(PNRA) em 1986, pois o seu perfil apresentava uma pálida imagem dos
intentos reformistas contidos na versão original; posteriormente, com a
Constituinte, onde, apesar da simpatia que o tema despertava e da mobilização
dos trabalhadores rurais, a proposta reformista tornou-se limitada à
desapropriação de terras improdutivas.
O resultado mais imediato desse processo foi que de 1988 a 1993,
quando foi aprovada a regulamentação da lei agrária, as desapropriações não
puderam ser realizadas por falta de mecanismos legais (MEDEIROS, 1997).
Segundo Silva (1997), a demora na regulamentação e as imperfeições
contidas na lei definidora do rito sumário 4 estagnaram os assentamentos que já
enfrentavam de lentidão em seus processos de aquisição da terra. Ao vazio
legal imposto pela nova Constituição, somaram-se os efeitos da crise
econômica, ocasionando o aumento da tensão no campo brasileiro.
A partir das contradições geradas com a modernização da agricultura 5 e
da intensificação da repressão política e institucional das entidades
latifundiárias, inicia-se a gestação do principal movimento social de luta pela
terra do Brasil: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem - Terra (MST).
Num breve espaço de tempo, o MST territorializou-se por todo o país e
as ocupações passaram a se consolidar como uma marca política da
resistência desses trabalhadores. Com a espacialização e territorialização da
34
luta surgem os assentamentos (principalmente por meio das ocupações), que
conseguiram produzir mudanças qualitativas nas formas de se pensar as
possibilidades de uma reforma agrária.
Atualmente, o MST é considerado o maior movimento social popular
organizado do Brasil e, possivelmente, também o maior da América Latina
(GOHN,1998). Fundado oficialmente em 1984, está presente em 23 estados do
Brasil e envolve cerca de dois milhões de pessoas, com 350 mil famílias
assentadas e 160 mil acampadas. É um movimento social que tem como
principal objetivo a luta pela reforma agrária e a justiça social no campo. Entre
suas formas de ação estão acampamentos, a ocupação de fazendas, sedes de
organismos públicos e de multinacionais, a destruição de plantações
transgênicas, marchas, greves de fome e outras ações políticas (MOVIMENTO
DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA, 2003; 2004).
Do surgimento aos dias de hoje, o MST cresceu e passou por muitas
mudanças. Se inicialmente seus líderes e militantes formavam-se junto à Igreja,
atualmente já têm um setor dedicado à formação de seus participantes. É
sobre a formação do MST e a sua atuação na área de estudo que discutiremos
no item a seguir.

1.1- O MST e a consolidação do Assentamento Queimadas

A origem do MST está diretamente vinculada a um conjunto de lutas


sociais desenvolvidas por uma diversidade de sujeitos sociais: meeiros,
parceiros, filhos de pequenos agricultores, arrendatários, pequenos
proprietários, posseiros, assalariados rurais e urbanos, etc. Essas lutas,
inicialmente, estavam localizadas na região Centro-Sul do país, mais
precisamente nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do
Paraná, de São Paulo e do Mato Grosso do Sul.

Em janeiro de 1984, no município de Cascavel (PR), os trabalhadores


sem-terra fundaram o MST e partiram para a construção de um movimento
nacional. Com a realização do Primeiro Congresso em 1985, na cidade de
Curitiba, abriram caminhos para a organização e atuação do Movimento nas
regiões Nordeste e Norte, territorializando a luta pela terra no país. Nesse
período de reconstrução da democracia no Brasil e início da Nova República,
35
os camponeses sem-terra definiram a ocupação da terra como forma de
resistência da luta camponesa.
Segundo Navarro (1997), o MST tornou-se próximo e incômodo às elites
brasileiras e seus mecanismos de repercussão existentes, em especial os
meios de comunicação, ampliando assim a sua visibilidade social e suas
potencialidades políticas.
O mesmo autor afirma ainda que a partir de 1979, as lutas sociais no
campo começaram a causar uma unidade organizativa dos trabalhadores sem -
terra frente à expropriação e exclusão resultantes do desenvolvimento das
relações capitalistas de produção no país, que alteraram significativamente as
relações de trabalho e de produção, aumentando progressivamente a miséria e
o desemprego no campo e também na cidade.
O MST desde sua estruturação formal, em 1984, tem apresentado uma
notável agilidade quanto à ocupação de espaços, alargando as possibilidades
de solidariedade social, de ampliação das formas de pressão ou, ainda, de
conquista de esferas de influência institucional ou política (NAVARRO, 1997).
Domingues (2007), destaca que o MST tem como principais objetivos a
construção de uma sociedade sem exploradores e que o trabalho tenha
supremacia sobre o capital; colocar a terra a serviço de toda a sociedade,
visto que é um bem de todos; garantir trabalho a todos, com justa
distribuição da terra, da renda e das riquezas; buscar permanentemente a
justiça social e a igualdade de direitos econômicos, políticos, sociais e
culturais; difundir os valores humanistas e socialistas nas relações sociais;
combater todas as formas de discriminação social e buscar a participação
igualitária da mulher.
Tendo como referência as reflexões encaminhadas por Stédile e
Fernandes (1999), podemos afirmar que tivemos três condições concretas
fundamentais para o surgimento e a consolidação do MST no Brasil.
A primeira condição está relacionada às transformações recentes da
agricultura brasileira e, mais especificamente, aos processos de
―modernização‖ e industrialização. Essas transformações alteraram
profundamente toda a estrutura socioeconômica e política do campo brasileiro,
pois produziram o aumento progressivo do assalariamento e agravaram ainda
mais a situação dos camponeses, que continuaram excluídos da política
36
agrícola. Dessa maneira, expropriados e expulsos da terra, restou a esses
trabalhadores migrarem para as cidades ou para as áreas de fronteira agrícola.
A segunda condição concreta que nos ajuda a entender a gênese do
MST no Brasil está ligada ao trabalho político e organizativo da CPT,
instituição organizada em 1975, na cidade de Goiânia (GO). Sua referência
doutrinária é a Teologia da Libertação e apesar de sua gênese ser no Norte e
no Centro-Oeste do país, atualmente seu trabalho estende-se, praticamente,
por todo território nacional. (STÉDILE; FERNANDES, 1999).
Ao analisarem a atuação da CPT, Moreira e Targino (1997, p.304)
afirmam que:

A CPT irá desempenhar uma função aglutinadora das forças


que lutavam pela justiça social no campo. Através da
organização dos trabalhadores, ela não só passa a defender os
direitos trabalhistas no campo mas, sobretudo, começa a tuar
em áreas de conflito, em conjunto com dioceses, paróquias e
comunidades eclesiais de base, levantando a bandeira da
reforma agrária. Ela ainda presta assessoria a Sindicatos de
Trabalhadores Rurais, Associações de Pequenos Produtores,
movimentos sociais, etc.

A atuação da Igreja Luterana - Igreja Evangélica de Confissão Luterana


no Brasil (IECLB) é outra condição para entender a origem do MST, uma vez
que essa igreja desenvolveu um trabalho pastoral com os camponeses do Sul
e Centro Oeste do país, especialmente com os de ascendência alemã, por
meio da Pastoral Popular Luterana (STÉDILE; FERNANDES, 1999).
Essas entidades realizaram um importante trabalho de formação
política, tendo como base os princípios religiosos. Nesse sentido, tanto a Igreja
Católica quanto a Igreja Luterana contribuíram para a organização política dos
trabalhadores. Essas instituições cediam seus espaços para a realização de
reuniões dos trabalhadores, participavam de manifestações e ainda
contribuíram para o debate em torno da necessidade de uma reforma agrária.
No caso da Igreja Católica, esse debate estava vinculado com os princípios da
Teologia da Libertação.
A Teologia da Libertação é uma corrente teológica que se desenvolveu
inicialmente na América Latina. Atualmente, engloba diversas teologias cristãs
espalhadas em diversas partes do mundo, sobretudo nos países pobres e nas

37
periferias dos países ricos. Esta teologia utiliza como ponto de partida de sua
reflexão a situação de pobreza e exclusão social à luz da fé cristã. Esta
situação é interpretada como produto de estruturas econômicas e sociais
injustas, influenciada pela visão das ciências sociais, sobretudo a Teoria da
Dependência na América Latina4, que possui inspiração marxista.
A terceira condição concreta que motivou o surgimento do MST diz
respeito ao momento de retomada da democracia no país, com o
ressurgimento das greves operárias, em 1978 e 1979. Assim, o contexto
político da época foi favorável à consolidação e legitimação de um Movimento
Social vinculado às classes populares.
A partir desse conjunto de elementos, o MST surge, oficialmente, em
1984, com a realização do I Encontro Nacional, em Cascavel (PR) que contou
com a participação de 80 representantes de 13 estados brasileiros. Em janeiro
de 1985 ocorreu o seu I Congresso Nacional, em Curitiba (PR) formalizando
seus princípios e consolidando sua atuação política.
No I Encontro Nacional do MST foram elaborados seus objetivos gerais,
sendo definido que:

A terra só esteja nas mãos de quem nela trabalha; lutar por


uma sociedade sem exploradores e sem explorados; ser um
movimento de massa autônomo dentro do movimento sindical
para conquistar a reforma agrária; organizar os trabalhadores
rurais na base; estimular a participação dos trabalhadores
rurais no sindicato e no partido político; dedicar-se à formação
de lideranças e construir uma direção política dos
trabalhadores; articular-se com os trabalhadores da cidade e
da América Latina (FERNANDES, 1996, p.79).

Nesse contexto, o MST pode ser definido como o principal mediador da


luta pela terra e pela reforma agrária no país. Sua atuação política tem como
base as ocupações de terras, que objetivam explicitar o conflito com as cercas
do latifúndio. Outra característica importante do MST é sua forma organizativa,
pois ele busca articular os assentamentos com um projeto político nacional.

__________________
4
Uma tentativa de nova versão do modelo neocolonial, descrito e conhecido desde o século
XlX quando, então, o sistema político das nações hegemônicas impôs às ex-colônias um novo
modelo socioeconômico e político de exploração em nome do liberalismo triunfante.

38
O MST apresenta sua capacidade de articulação a partir de uma rede
estratégica de ação e no redimensionamento da luta política, apresentando
constantemente propostas e projetos de organização territorial. Além da
conquista da terra, as experiências das escolas nos assentamentos, a
continuidade das ocupações, o trabalho de comunicação (jornal, rádio etc.), a
cooperação agrícola, dentre outros, são elementos que possibilitam a
consolidação de uma rede organizativa de gestão dos assentamentos e o
fortalecimento político do próprio Movimento.
Esse fortalecimento político, a partir do redimensionamento constante da
luta, está diretamente relacionado com a questão da reforma agrária, que
assumiu uma relevância mais acentuada no cenário político brasileiro,
principalmente a partir das duas últimas décadas.

Os assentamentos de reforma agrária surgem como resultado


da organização e da mobilização dos trabalhadores sem-terra
que se materializam a partir das ocupações de terra. Não são
apenas lugares dedicados à produção agrícola, pecuária ou
agroindustrial, mas também o lugar do debate político no qual
se discutem questões como a conquista da terra e a
continuidade articulada das lutas. Durante o período de
acampamento, que antecede ao assentamento, uma série de
embates são travados no intuito de se construir o ser social.
Dependendo da prática estabelecida, ter-se-á uma consciência
individualista ou coletiva do sujeito (SILVA; SOUZA, 2008, p.
148-149).

Portanto, podemos afirmar que:

a luta dos camponeses assentados em variadas formas de


manifestações coletivas é uma luta contra as regras do
capitalismo. Uma luta que nasce na conquista da terra e se
espacializa na terra conquistada, formando o território
camponês. O questionamento da ordem capitalista se
materializa em ações, como as ocupações de terra, as
organizações de produção e as cooperativas nos
assentamentos (SILVA; SOUZA, 2008, p. 149).

Um exemplo de concretização das ações do MST foi a consolidação do


Assentamento Queimadas, no lugar onde antes era a Fazenda Queimadas
(criada por volta de 1968). O Assentamento originou-se em 1998, após muita

39
luta e reivindicação dos trabalhadores por espaço físico (terra para trabalhar) e
condições dignas de permanecerem na região e sustentar suas famílias.
Sobre a atuação do MST e o processo de ocupação da Fazenda
Queimadas, obtivemos o seguinte depoimento:

Queimadas já havia sido revisada pelo INCRA, só que nós


temia o latifundiário porque esta fazenda passou a ser
esconderijo de bandidos. Muitas vezes a polícia atacava a
fazenda, nós ouvia os tiros e via a fumaça que parava na serra
da Pia. Era isto que nós temia para fazer uma invasão. Foi
quando surgiu o movimento MST enviado pelo sindicato de
Remígio.Eles vinheram e fizeram a primeira reunião e na
segunda que foi no dia 27 de setembro às 10 e 40 da noite
ocupamos a Fazenda (Assentado Mário Pereira, agosto de
2011).

Dias após a ocupação, os trabalhadores foram despejados devido uma


ordem judicial. Com isso, os ocupante ficaram acampados em um sítio
próximo, de propriedade do senhor Juvino. Após quinze dias, resolveram
realizar uma nova assembléia e voltaram a ocupar as terras da fazenda,
começando uma manifestação de resistência para que de fato ficassem
alojados definitivamente na área ocupada.

Primeiro de maio, dia do trabalhador, nois fizemos uma


passeata só com os agricultor. Nois fomos para Remígio
mostrar o nosso valor. Foi na praça da Lagoa a nossa reunião,
na estrada e na cidade chamava o povo atenção... (Assentado
Mário Pereira, agosto de 2011).

A mobilização dos camponeses a que se refere o informante está


expressa na fotografia a seguir.

40
Fotografia 01: Passeata organizada pelo MST, reivindicando a posse das
terras da Fazenda Queimadas (Maio de 1999).

Fonte: Pesquisa de campo, Agosto de 2011.


Acervo: Mário Pereira.

O processo de luta pela terra despertou na maioria dos assentados a


consciência da necessidade da organização, da luta e da disposição para se
conquistar os direitos da classe trabalhadora, como instrumento de atingir uma
vida digna.
A consolidação do Assentamento somente ocorreu quando o
Presidente da República, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84,
incisos IV e VI, da Constituição, e tendo em vista as disposições da Lei nº
8.629, de 25 de fevereiro de 1993, fez uso do decreto de nº 2.250 de 11 de
junho de 1997, desapropriou a Fazenda Queimadas e assentou as 100 famílias
que lutavam por terra para trabalhar e dela sobreviverem.

1.2- A produção do espaço no Assentamento Queimadas

O espaço geográfico pode ser compreendido como o resultado da


atuação do homem sobre o meio natural, configurado como um sistema
indissociável de objetos e de ações (SANTOS 1999).
Na percepção de Suertegaray (2001), a presença do homem
concretamente como ser natural e, ao mesmo tempo, como alguém oposto a

41
natureza, promoveu e promove profundas transformações na natureza mesma
e na sua própria natureza. Isto exige uma reflexão efetiva sobre o que é
natureza hoje.
Nesse sentido, o Assentamento Queimadas caracteriza-se como espaço
de conquista da luta pela terra, como também de produção agropecuária. A
área do Assentamento abarca experiências e vivências nas relações duais
homem/meio, capital social capital/econômico, política/agricultura, dentre
outras, do mesmo modo que é a espacialidade representativa da materialidade
do homem, já que a área de produção agrícola é considerada o lugar onde os
assentados estabelecem relações uns com os outros, produzindo e recriando
gêneros que na vida social transformam-se em mercadorias.
O espaço, tido por Santos (1986) como produto e condição da
reprodução das relações subjacentes à sociedade, possibilita o entendimento
de uma determinada realidade e os atores nela inscritos. Da concepção
apresentada por esse autor, depreende-se que o entendimento acerca do
espaço é de natureza social. Por meio do trabalho, os homens organizam
segundo suas necessidades e seus interesses, sobretudo porque o espaço
deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de
um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos
sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade
em movimento (SANTOS, 1999).
Sendo o espaço geográfico uma produção que resulta das relações
dinâmicas e dialéticas entre o homem e a natureza, as áreas de reforma
agrária, como um Assentamento de trabalhadores rurais, constitui um espaço
geográfico resultante da relação da sociedade com a natureza. No ato de
produzir, mediante as técnicas e trabalho, o homem automaticamente está
produzindo espaço ( LIMA, 2008).
Desse modo, Santos (2004) afirma que:

O ato de produzir é igualmente o ato de produzir espaço. A


promoção do homem animal a homem social deu-se quando
ele começou a produzir. Produzir significa tirar da natureza os
elementos indispensáveis à reprodução da vida. A produção,
pois, supõe uma intermediação entre o homem e a natureza,
através das técnicas e dos instrumentos de trabalho inventados
para o exercício desse intermédio (SANTOS, 2004, p. 202).

42
Ainda de acordo com o pensamento desse autor, ―o espaço é formado
por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de
objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o
quadro único no qual a história se dá‖ (SANTOS, 1999, p.50).
Nessa perspectiva, os objetos não são tratados unicamente como
coisas, como algo natural, mas como coisas materiais ou imateriais produzidas
pelos homens para servirem de exemplo materializável espacialmente. Isso
porque as relações se efetivam no ordenamento e na organização do
espaço/tempo, em que o espaço é tido como um receptáculo que absorve toda
a carga de simbologias e signos derivados da sociedade.
No Assentamento Queimadas a efetivação das manifestações, por meio
de mecanismos articulados pelo processo de partilha e acomodação no campo,
como a construção de lotes individuais, fez com que houvesse uma espécie de
ordenamento e organização do espaço. (Planta 01).

43
PLANTA 01: Distribuição espacial dos lotes do Assentamento Queimadas – Remígio (PB).

Fonte: Pesquisa de campo, 2011.


Acervo: Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Assentamento Queimadas.
No tocante ao sistema produtivo, entendemos que este integra o sistema
de ações, isto é, a capacidade de agir ligando instrumentos como levantamento
de variedades de sementes, busca de financiamento para produção de
sementes, produção agropecuária, dentre outros. Enquanto a técnica é vista
como uma criação que aglutina ações e objetos, julgados como meios
instrumentais e sociais efetivos para a sociedade reproduzir sua vida.
Corrêa (2003) menciona que a palavra espaço está presente no uso
corrente do cotidiano, manifestada por diversas motivações. Ele aponta que
nas diferentes ciências o termo espaço é associado a várias nomenclaturas
(espaço sideral, topológico, econômico, social, etc.). No entanto, afirma ainda
que a expressão espaço geográfico tem sido ―utilizada vagamente, seja como
um ponto na superfície da terra, identificada pela natureza, ou por marcas do
homem impressas na mesma, ou ainda a uma simples localização‖. A
superfície, após esta imprecisão, ainda é utilizada em diferentes escalas -
global, continental, regional, da cidade, da rua, dos cômodos, etc., gerando
outras distorções sobre sua natureza (CORRÊA, 2003, p.72).
Esse autor também se preocupa em estabelecer uma fronteira
epistemológica, ou seja, delimitar através da teoria do conhecimento as bases
teórico-filosóficas de um olhar geográfico sobre um objeto de estudo geral. Esta
também é a perspectiva de Santos (1999), que procura compreender o que
significa o espaço geográfico para os geógrafos, em suas abordagens
específicas.
Segundo Moreira (1997, p.2):

Estudar o espaço como unidade autônoma e homogênea,


como um suporte da ação do homem, implica necessariamente
em omitir as relações que se estabelecem entre os homens,
em negar as diferenciações internas nelas existentes tais como
classes sociais e relações de dominação-subordinação, em
excluir as diferentes formas de produzir e em não reconhecer
as questões ideológicas, culturais e políticas que estão
contidas no espaço. Implica também em desprovê-lo de sua
dimensão histórica na medida em que a ação do homem é
considerada como algo genérico, desvinculada das condições
concretas materiais de vida que são, como sabe-se
historicamente datadas.

45
Santos (1999) argumenta que se procurássemos uma estrutura
ontológica para cada ciência em particular teríamos que definir especificamente
o objeto de cada uma, o que para nós resultaria em um olhar por demais
esfacelado do real. Por isso, ele aponta ainda que os mesmos objetos podem
dialogar com as mais diversas disciplinas. Isto implica em objetos iguais sob o
crivo de diferentes olhares, ou seja, diante do mesmo objeto, podemos atribuir-
lhe diferentes estatutos epistemológicos, sempre lembrados que o processo
social como um todo é indivisível.
Moraes (1982) reforça estas ideias, proporcionando múltiplos olhares
sobre o conceito de espaço, ao afirmar que não cabe a ciência geográfica
construir uma redoma lógica para justificar a propriedade exclusiva sobre este
objeto. Se assim fosse, dizemos agora, existiria um grande autoritarismo e
dogmatismo sobre um consenso nada inteligente.
Durante anos, a geografia caminhou ao lado de uma grande diversidade
de concepções que levavam a uma indefinição do seu objeto de estudo. A
preocupação com o espaço geográfico foi colocada em segundo plano, de
modo que esta ciência chegou a ser definida mais pelo seu método de
aproximação ou de enfoque do que pelo seu objeto.
Segundo Carlos (2001), o espaço passou a ser estudado como um dado
neutro, como uma unidade autônoma e homogênea, como algo estático que
detém a função de mero suporte da ação social, isto é, como palco onde se
localizam e se desenvolvem as atividades do homem.
Em contraposição a visão do espaço enquanto palco e algo exterior ao
homem, surgiu no início da década de 1970, uma nova corrente de
pensamento geográfico que possibilitou um amplo debate em torno do objeto
da Geografia e de seus conceitos fundantes: a geografia crítica. Essa corrente
de pensamento se baseia teórica e filosoficamente no materialismo histórico e
na dialética marxista, tendo o espaço como conceito-chave.
Esse foi um período de intensos debates. Um relato dessa conjuntura de
transformações é apresentado por Corrêa (1982), ao afirmar que:

a abertura política que se afirma no país, a descrença que


vários geógrafos passaram a ter em relação à ‗nova geografia‘,
a própria falência do sistema de planejamento, a acentuação
dos problemas nacionais que se tinha proposto solucionar, a

46
volta de Milton Santos com sua riqueza e vigor intelectual, tudo
isto iria contribuir para a emergência de uma ‗geografia nova‘
não comprometida com o aparelho ideológico do Estado,
comprometida sim, com o interesse da maioria da população,
com os trabalhadores rurais e urbanos, e com um projeto
histórico que é o da transformação da sociedade (CORRÊA,
1982, p. 120).

Nesse contexto, o desenvolvimento da análise do espaço, tendo como


referência a teoria marxista, se deve, fundamentalmente, ao aumento das
contradições sociais e espaciais tanto nos países centrais quanto nos países
periféricos, devido à crise geral do capitalismo na década de 1960 e início da
década de 1970, com a crise do petróleo.
Os conflitos que antes eram vistos como entidades naturais agora
passam pelo crivo de uma crítica ao capital, esboçada e fundamentada em
diversos níveis de análise. Dessa maneira, a ―geografia chamada crítica visava
dar conta das transformações vivenciadas a partir dos anos 70‖ (ZUSMAN,
1996, p. 29).
É importante lembrar que no livro Por uma Geografia Nova, Santos
(1980) estabelece uma reflexão sobre espaço natural e espaço social. Para ele,
o espaço natural seria a natureza primeira, a natureza mãe que cria obras com
individualidade própria, pertencentes a um determinado gênero e a diferentes
espécies, porém não necessitam de trabalho para sua criação. Nesse aspecto,
o espaço social seria aquele criado pelo trabalho humano como natureza
segunda, natureza transformada, natureza social ou socializada, uma vez que:

A natureza social do espaço geográfico decorre do simples fato


de que os homens têm fome, sede, frio, necessidades de
ordem física decorrentes de pertencer o homem ao reino
animal, ponte de sua dimensão cósmica. No entanto, à
diferença do animal, o homem consegue os bens de que
necessita intervindo na primeira natureza, transformando-a.
Transformando o meio natural, o homem transforma-se a si
mesmo. Ora, como a obra de transformação do meio é uma
realização necessariamente depende do trabalho social (a
ação organizada da coletividade dos homens), é o trabalho
social o agente de mutação do homem, de um ser animal para
um ser social, combinando estes dois momentos em todo o
decorrer da história humana (MOREIRA, 1982: p. 42).

47
Nesse sentido, Santos (1980) afirma que para o homem tornar-se
homem social deve transformar o centro da natureza. Para tanto ele necessita
dos instrumentos de trabalho. É a partir de então que a atividade social passa a
ser uma combinação do trabalho desempenhado pelo homem e da natureza
modificada por este. Assim, fica evidente para nós um dos pilares que sustenta
a teoria de Milton Santos sobre o espaço: a compreensão de que o ato de
produzir consiste também na produção do espaço.
No Assentamento Queimadas, este processo de produção do espaço e
transformação da natureza é muito perceptível. A área do assentamento, antes
recoberta intensamente por vegetação nativa foi transformada em grande
campo de produção de algodão e palma forrageira através do trabalho
humano, uso de tratores e outros instrumento de trabalho. A partir da ocupação
e permanência na terra, novas produções foram sendo efetivadas: as casas e
obras de infra-estrutura (estradas, energia elétrica, barragens, entre outras)
foram construídas, os lotes foram formados, novas culturas foram sendo
incorporadas.
Nesta perspectiva, os sujeitos que atuam naquele espaço vão dando
forma e produzindo novas atividades, sendo que ―as novas atividades exigem
um lugar no espaço e impõem uma nova arrumação para as coisas, uma
disposição diferente para os objetos geográficos, uma organização do espaço
diferente daquela que antes existia‖ (SANTOS, 2004, p.205). Além disso, ―por
seus próprios ritmos e formas, a produção impõe formas e ritmos à vida e à
atividade dos homens, ritmos diários, estacionais, anuais, pelo simples fato de
ser a produção indispensável à sobrevivência do grupo‖ (SANTOS, 2004,
p.202).
Convém destacar que nessa perspectiva, a ação de produzir dos
homens não se dá pelo simples somatório ou reunião arbitrária de indivíduos,
mas sim a partir do grau de desenvolvimento das forças produtivas em uma
determinada sociedade (MORAES, 1984, p. 53).
Então, é a partir dessa produção social que o homem transforma a
primeira natureza, socializando-a, como destacado por Moreira (1982) ao
ressaltar que:

48
A natureza apresenta-se aos nossos olhos sob distintas
formas, mas simplificam-se estas formas em duas: a primeira
natureza (a natureza ―natural‖) e a segunda natureza (a
natureza ―socializada‖). No plano abstrato de que estamos
falando o processo do trabalho passa-se como sendo a
transformação da primeira natureza em segunda, isto é, sua
socialização. O que é forma natural neste momento fica
transmutada em uma forma social com o trabalho. A natureza
prenhe de trabalho historiciza-se, vira parte da história dos
homens (MOREIRA,1982: p. 79).

A partir dessa compreensão é possível inferir que o processo de


historicização da natureza equivale ao processo de formação da sociedade.
Assim, no seu plano abstrato, a história do homem – história da conversão das
formas naturais em formas sociais – pode ser entendida como a história da
transformação permanente e continuamente ampliada da natureza em
sociedade.
Nesse processo de transformação, o espaço organizado pelo homem
desempenha um papel na sociedade, condicionando-a, compartilhando do
complexo processo de existência e reprodução social (CORRÊA, 2003). O
espaço, dessa maneira, deve ser considerado como um produto social, ou seja,
ele somente pode ser explicado recorrendo aos aspectos fundamentais que
organizam a vida em sociedade. Estes aspectos para o marxismo são, de
forma geral, as relações de produção e as forças produtivas.
Ao discutir sobre a nova fase da geografia, presente desde o surgimento
do ―horizonte da crítica radical‖, Gomes (1996) destaca os limites da geografia
tradicional, as dificuldades impostas pela mesma, bem como o descaso com o
conteúdo político do espaço, este fundamental para a geografia crítica. O
marxismo, em sua serventia para a geografia, constitui-se em dois planos
gerais: um teórico e outro prático.

No plano teórico a base do sistema materialista-histórico é


dada pelas regras que determinam o tipo de relação de
produção frente ao desenvolvimento das forças produtivas;
estes dois elementos são os termos fundamentais que definem
um modo de produção e, ao mesmo tempo, constituem a causa
da transformação dialética. (...) No plano prático, a perspectiva
marxista define uma nova atitude do cientista em sua relação
com a sociedade, sempre crítico e pronto a denunciar as
armadilhas ideológicas montadas pelo saber comprometido
com o status quo (GOMES, 1996, p. 283).

49
É importante lembrar que, no marxismo, é justamente essa capacidade
de pré-ideação que diferencia o trabalho dos homens das atividades dos outros
animais. Há, portanto, um processo de trabalho sobre o qual se conhece todas
as grandes partes das etapas necessárias para se produzir o que se pretende.
Não obstante, a relação ―processo de trabalho-produção‖ não se
encontra de maneira alguma reduzida a um simplório mecanicismo, já que ao
mesmo tempo em que o espaço é produzido através do processo de trabalho
este também é produto do outro e onde um é condição para o outro. ―Dessa
maneira o espaço não é apenas produzido, mas também é reproduzido.
Encontra-se em permanente processo de transformação, acompanhando e
condicionando a evolução das sociedades‖, como afirmou Moreira (1981 p.
138).
A partir das palavras desse autor, é possível afirmar ainda que o espaço
geográfico não é algo estático; ao contrário, ele está em contínuo processo de
produção e reprodução, transformando-se juntamente com a sociedade que se
relaciona de modo dialético. Nesse sentido, o espaço deve ser concebido
dentro de uma lógica processual, sobretudo se considerarmos que na
sociedade capitalista o espaço tem como conteúdo as contradições inerentes a
esse modo de produção e que, por sua vez, desembocam na luta de classes.
Sobre essa questão, Moreira (1981) afirma que:

A estrutura de classes da sociedade traduz se como um


espaço estruturado em classes. Cada classe social define seu
espaço próprio de existência. Mesmo onde os estratos
entrecruzam-se, as diferenciações de classe são
especialmente visíveis. A corriqueira expressão ―ponha-se no
seu lugar‖ com que o dominante refere-se ao dominado numa
sociedade de classes (só numa sociedade de classes há
dominantes dominados, isso é evidente) tem clara significação
espacial (MOREIRA, 1981, p. 92 - 93).

Isto posto, é possível destacar que o espaço produzido por meio das
relações sociais, condicionadas pelo modo capitalista de produção, acaba por
criar novos objetos, novas funções e a refuncionalizar objetos criados em
períodos históricos anteriores, de modo que estes atendam ao processo de
acumulação do capital. Sendo assim, o espaço humano é necessariamente
50
produto de uma série de decisões que orientam sua organização, segundo os
critérios hegemônicos em uma dada formação econômica e social (seja pela
movimentação do capital ou pela ação organizada e planejada da sociedade
pelo Estado).
Nestas condições, a produção e a organização espacial engendrada no
Assentamento Queimadas são construídas e reconstruídas por meio através
das relações sociais efetivadas pelos movimentos sociais e os agentes que os
instituem. Com isso, constituem-se assim ações necessárias para convivência
e permanência nos espaços ora apresentados. Nesse sentido, se
considerarmos que o território é construído a partir do espaço, como
destacamos anteriormente, o processo que produz o espaço, por sua vez,
também produz território. É essa discussão que encaminhamos a seguir.

1.3 - A territorialização como um componente do poder

O território se figura a partir da apropriação do espaço de forma concreta ou


abstrata, ou seja, pela representação. Desse modo, o ser humano
―territorializa‖ o espaço e elabora estratégias de produção, que se chocam com
outras estratégias em diversas relações de poder. A territorialidade se inscreve
no quadro da produção, da troca e do consumo das coisas, uma vez que ela
―se manifesta em todas as escalas espaciais e sociais; ela é consubstancial a
todas as relações e seria possível dizer que, de certa forma, é a ―face vivida‖
da ―face agida‖ do poder‖ (RAFFESTIN, 1993, p. 161).
Assim, a territorialização é parte superior da espacialização, é um indicativo
da continuação da luta pela terra (da espacialização). Nesse sentido,
assentamento é uma porção do espaço onde as pequenas revoluções
tomam uma o materialidade mais concreta. Portanto, a necessidade de se
discutir a conceituação de território como categoria geográfica, se expressa por
um imperativo epistemológico. Ao discutirmos a categoria território, estamos
nos reportando automaticamente ao tempo. A temporalidade está expressa no
território, tornando-se uma referência necessária (ROCHA, 2008).
Segundo Lima (2010), ao recuperar a discussão teórico-conceitual sobre o
território, constata-se que embora o conceito tenha sido formulado no século
XVII, sua sistematização deve-se a Friedrich Ratzel na tradicional geografia
51
política, através de sua obra Politische Geographie, publicada em 1897. O
território seria, em sua definição, uma determinada porção da superfície
terrestre apropriada por um grupo humano. Nesse caso, a propriedade qualifica
o território, numa concepção que remonta às origens do termo na Zoologia e na
Botânica (onde ele é concebido como área de dominância de uma espécie
animal ou vegetal).
A partir desse enfoque, o território é posto como um espaço que alguém
possuiu; é a posse que lhe dá identidade (RATZEL apud MORAES, 1992, p.
23). Ele representa não só as condições de trabalho e de existência de um
povo, mas também um dos elementos fundamentais da formação e da garantia
de existência do Estado. Desse modo, o território é para Ratzel, um ―espaço
vital‖ que tem como referência básica a relação entre sociedade e recursos
disponíveis (RATZEL, F. apud CAPEL, 1981, p. 252).
De acordo com Raffestin (1993), o território se forma a partir do espaço,
como resultado de uma ação conduzida por um ator determinante em qualquer
nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente, o ator
territorializa o espaço.
Haesbaert (2004) conceitua o território desde sua origem, trabalhando as
concepções etimológicas, próprias do cerne de seu significado:

O território nasce com uma dupla conotação, material e


simbólica, pois etimologicamente aparece tão próximo de
terra-territorium quanto de térreo-territor (terror, aterrorizar), ou
seja, tem ver com dominação (jurídico-política) da terra e com
a inspiração do terror, do medo – especialmente para
aqueles que, com esta dominação, ficam alijados da terra, ou
no ‗territorium‘ são impedidos de entrar. Ao mesmo tempo, por
extensão, podemos dizer que, para aqueles que têm o
privilégio de usufruí-lo, o território inspira a identificação
(positiva) a efetiva ‗apropriação (HAESBAERT, 2004, p.67).

O Território para Haesbaert teria dois significados. O primeiro estaria


relacionado à questão própria do poder político, e a outra, ligar-se-ia ao sentido
de dominação, consequentemente de apropriação. Apropriar-se de um
determinado espaço seria vivê-lo, construí-lo, relacionando-o com a questão do
―sentir‖.

52
Surge a questão da multiplicidade do território, em um determinado
espaço geográfico. Assim, a lógica do território eminente político estaria sujeito
a unifuncionalidade. Ao contrário, dentro de um mesmo espaço geográfico
podem coexistir territorialidades diferentes, sobrepostas ou paralelas. Os
territórios estão acoplados aos sujeitos, que lá vivem e que são condicionados
pelo poder ou o reproduzem continuamente.
Apesar de considerar o território enquanto espaço físico indispensável
por ser o lócus que integra todas as relações de poder, Haesbaert (2004),
enfatiza que a sociedade estabelece uma ação principal por ser o elemento
constitutivo do território, em sua dinâmica constante: será fácil compreender
porque colocamos a população em primeiro lugar: simplesmente porque ela
está na origem de todo o poder.
Assim, é possível afirmar que o poder no seu sentido simbólico também
precisa ser devidamente considerado nas concepções de território. Sendo o
território um espaço dominado e/ou apropriado, manifesta hoje um sentido
multi-escalar e multidimensional que só pode ser concebido dentro de uma
concepção de multiplicidade. Ainda de acordo com Haesbaert (2004), essa é a
única maneira de construir outra sociedade, mais universalmente igualitária e
multiculturalmente reconhecedora das diferenças humanas.

Ainda sobre territorialidade, Haesbaert explica que:

A territorialidade, além de incorporar uma dimensão


estritamente política, diz respeito também às relações
econômicas e culturais, pois está intimamente ligada ao
modo como as pessoas utilizam a terra, como elas próprias
se organizam no espaço e como elas dão significado ao
lugar (HAESBAERT, 2004, p. 21).

Desse modo, o assentamento Queimadas representa a expressão das


territorialidades camponesas por meio das diversas estratégias utilizadas pelas
famílias para garantirem sua reprodução social. Atualmente, o assentamento
apresenta uma organização socioprodutiva baseada na produção familiar
onde cada família, em seu lote, pode produzir individualmente. No item a
seguir faremos uma breve discussão sobre o campesinato, política de crédito e
os elementos de sua economia, com o objetivo de explicitar essa organização
socioprodutiva.

53
Segundo capítulo
A QUESTÃO CAMPONESA E AS POLÍTICAS DE CRÉDITO

O camponês trabalha a terra para se alimentar: qualquer teoria


da economia camponesa nada mais é que o comentário desta
fórmula lapidária, mas o camponês produz para um mercado
globalizante. Todavia, esta exigência é somente acessória
para compreender a lógica que preside ao cálculo econômico
do camponês. Quando falamos de camponês, é preciso
compreender família camponesa. Cada produto tem seu
destino particular e nenhum pode substituir o outro: o capim
alimenta os animais, o trigo, os homens (MENDRAS, 1976, p.
23).

54
2.1 – O campesinato

O campesinato, mesmo tendo perdido a significação e a importância que


tinha nas sociedades tradicionais, continua a se reproduzir nas sociedades
atuais integradas ao mundo moderno. Pode-se identificar, portanto, em
diversos países, na atualidade, setores mais ou menos expressivos, que
funcionam e se reproduzem sobre a base de uma tradição camponesa, tanto
em sua forma de produzir, quanto em sua vida social (WANDERLEY, 1996).
Na perspectiva de Wanderley (1996), qualquer que seja a diversidade
das regiões e das nações, das civilizações e dos regimes políticos, vê-se,
sempre a coletividade rural integrar-se à sociedade global, conservando, no
entanto, sua autonomia e sua originalidade.
Os conceitos de camponês e campesinato têm grande força histórica,
teórica e empírica. São repletos de significados culturais, no contexto social e
político. Assim como são numerosos os estudos que indicam a luta dos
camponeses para terem acesso ao mercado, são igualmente inúmeras as
referências às suas derrotas neste campo de ação. Longe, porém, de desenhar
uma direção unívoca, resultando na dissolução do setor, estes embates dão de
processos complexos que construíram trajetórias diferenciadas nos diversos
momentos e em diversos espaços.
No Brasil para alguns teóricos, o conceito de camponês é indefinido e
por eles considerado pequeno produtor. Se conceituados como pequenos
produtores, culminam na polêmica de cunho capitalista: a prática de atividade
mercantil. O conceito de camponês transcende a materialidade econômica da
troca de mercadorias e sugere imediatamente características da sua
organização social, tais como o trabalho familiar, os costumes de herança,
tradição religiosa e as formas de comportamento político (MOURA, 1986).
Em outras vertentes teóricas, os camponeses estão ―condenados‖ ao
desaparecimento tendo em vista que a burguesia rural ou o campesinato rico,
associam a agricultura comercial à empresas industriais, fato que levaria,
inevitavelmente a destruição do camponês. Sendo assim, o campesinato está
fadado a desaparecer e será substituído por novos tipos de população rural,
seja estes, operários assalariados, o assalariado agrícola, o diarista, o operário
da construção civil (LÊNIN, 1982).

55
Nesse sentido, a modernização do campo, o monopólio dos meios de
produção, e da circulação dos produtos, fez com que o camponês buscasse
outros meios para se reproduzir, resistir e permanecer na terra, porém sem
perder a essência. Este trabalha na indústria, no restaurante, no bar, na escola,
mas também na terra (NASCIMENTO, 2011).
Essa afirmação foi confirmada durante nossas incursões no
Assentamento Queimadas, pois alguns assentados precisam trabalhar em
outras áreas para complementar a renda. ―Aqui eu boto meu roçado, planto,
cuido, mas na maioria das vezes saio na minha moto às 4 horas da manhã
para trabalhar em construções‖ (Depoimento do assentado João, Agosto de
2011).
Na visão de Moura (1986), a partir da década de 1970, algumas
características permitiam dar significados ao estudo sobre o campesinato,
como o controle sobre a terra sem, contudo, possuir capital; o caráter familiar
da produção camponesa sem, no entanto, despender remuneração aos
membros da família, divergindo, portanto, do capitalismo, cujas atividades
realizadas em seu seio são contratadas individualmente e remuneradas; a
organização cultural e social própria ―sem ser ou poder se concretizar como
outro povo ou outra cultura‖ (MOURA, 1986, p. 8), ao mesmo tempo em que
estranha a sociedade ao seu entorno, que o contém; os complexos agro-
industriais têm transformado o camponês em um trabalhador para o capital
sem, porém, torná-lo um operário. Nesse caso, ocorreria a integração
camponesa subordinada à lógica econômica do capital industrial.
Ao tecer considerações sobre as formas pelas quais o trabalhador do
campo é explorado em outras atividades, Marx (1974) adverte que:

todo desenvolvimento do capital tem por base natural a


produtividade do trabalho agrícola. Se o ser humano não fosse
capaz de produzir num dia de trabalho mais meios de
subsistência, ou seja, em sentido estrito, mais produtos
agrícolas que os necessários para reproduzir cada trabalhador,
se dispêndio diário de força de trabalho de cada um apenas
desse para gerar os meios de subsistência indispensáveis às
perspectivas necessárias eventuais, não se poderia falar de
produto excedente nem mais valia. Produtividade do trabalho
agrícola excedendo as necessidades individuais do trabalhador
é a base de toda a sociedade e, sobretudo, da produção
capitalista, que libera a produção dos meios imediatos de
subsistência parte cada vez maior da sociedade, convertendo-a

56
[...] em braços livres, tornando-a disponível para ser explorada
noutros ramos (MARX, 1974, p.901).

Nessa perspectiva, Shanin (1980) sinaliza para a compreensão de que,


os camponeses perseveram se transformando e se vinculando
simultaneamente ao modo de produção capitalista. Mesmo sendo
marginalizada sua importância na economia nacional, ainda assim serve ao
capital quando da oferta de mão-de-obra e alimentação barata, fortalecendo
mercados que geram lucros, num tipo de acumulação primitiva de capital, ou
seja, realizando a exploração camponesa pelo capital.
Em se tratando da questão da sobrevivência camponesa, Ploeg (2008,
p. 16) destaca que:

A sobrevivência é outro elemento da caracterização


abrangente do campesinato. O termo se refere à reprodução e
ao melhoramento esperado da própria existência. A
sobrevivência é de certo modo, a metáfora que se refere à
unidade simbiótica entre a unidade de produção e a unidade de
consumo implícita no campesinato. A natureza e o nível de
sobrevivência dependem evidentemente da localização
temporal e espacial, ou seja, dependem das relações com o
Estado, os grupos de capital, com outros grupos sociais,
classes instituições, bem como das relações internas dentro do
próprio campesinato.

Na área de estudo, a sobrevivência a que se refere Ploeg (2008)


também se faz presente nas relações com o Estado com os grupos de capital.
Para exemplificar essas relações destacamos dois tipos de cultivos agrícolas
que podem ser vistos como estratégia de reprodução e de sobrevivência: a
produção de hortaliças (Fotografia 02) e a produção de Girassol (Fotografia
03), ambas com parcerias com o Estado, por meio do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Petrobrás,
respectivamente.

57
Fotografia 02 - Produção orgânica de hortaliças.

Fonte: Pesquisa de campo, Agosto de 2011.


Acervo: Anieres Barbosa da Silva.

Fotografia 03 - Produção de Girassol com apoio da Petrobrás.

Fonte: Pesquisa de campo, Agosto de 2011.


Acervo: Anieres Barbosa da Silva.

Em se tratando da produção do Girassol, esta vem sendo intensificada


na região, e se apresentando como estratégia de reprodução e sobrevivência.

58
No entanto, os produtores encontram-se insatisfeitos com o preço do produto.
Estes não conseguem ter uma definição do preço real que será vendida sua
produção, pois a determinação do preço depende da variação do dólar e
muitos produtores sequer conhecem essa moeda.
No que se refere à produção orgânica de hortaliças, a mesma desponta
como alternativa de complemento de renda familiar, pois os produtores chegam
a comercializar sua produção na feira local e de cidades vizinhas.

2.2 - As políticas de crédito e a “consolidação” do assentamento como


unidade produtiva

Segundo Francis (2009), a partir da década de 1960, começaram a


surgir nos países em desenvolvimento projetos e programas especiais de
financiamento dirigidos às parcelas mais pobres das populações rurais. Estas
iniciativas, governamentais e privadas, respondiam, em parte, à constatação de
que os sistemas financeiros convencionais não desempenhavam a contento o
papel de financiadores de atividades e empreendimentos rurais, principalmente
quando se tratava de investimentos de pequeno porte. Estes
empreendimentos, dada a sua escala e as peculiaridades da atividade
agropecuária, representavam, para os agentes financeiros, riscos e custos
operacionais cujo retorno financeiro não era compensador.
Por isso, a inadequação da lógica da atividade financeira às demandas
da agricultura de pequena escala, inclusive a praticada nos programas e
projetos de reforma agrária, as reivindicações dos trabalhadores rurais,
colocaram em pauta a necessidade de criação de políticas específicas de
crédito rural que o tornasse acessível a estes segmentos da população do
campo.
Para Magalhães (2003) o objetivo geral dos programas oficiais de crédito
rural para os pequenos produtores e assentados era, por um lado, romper com
a histórica escassez de recursos para estes grupos sociais. Por outro lado,
diagnosticando a limitada capacidade de investimento e custeio produtivo da
maioria destes agricultores, os programas propunham criar condições
favoráveis ou especiais de acesso e de pagamento dos financiamentos.

59
Nesse sentido, a redução dos custos do crédito era categoria essencial
para que seu uso se tornasse mais coerente com as contingências e
especificidades das práticas agrícolas desenvolvidas em pequena escala e sob
condições precárias de capitalização prévia dos agricultores.
Ao disponibilizar crédito, buscava-se elevar a produtividade e o nível de
renda das famílias, de modo que o financiamento concedido fosse capaz de
assegurar não apenas maior capacidade de acumulação e, por conseguinte,
capacidade de pagar o empréstimo, mas também a elevação do nível de vida e
bem-estar das populações rurais alvo dos programas, conduzindo-os a uma
condição em que não mais necessitassem do apoio estatal para lidar com as
exigências dos mercados.
Na perspectiva de Mattei (2001) os programas e políticas públicas de
crédito rural assumiram, quase sempre, o caráter de políticas de inclusão social
ou de integração de grupos sociais economicamente carentes nos mercados
locais e regionais e, em algumas regiões, nas teias da economia agroindustrial.
No caso dos agricultores assentados, os objetivos destas políticas,
quase sempre circunscritos à dimensão econômica da vida social, são
principalmente referidos à ideia de promover uma rápida ―emancipação‖ ou
―consolidação‖ dos assentamentos rurais como unidades produtivas. Uma vez
integradas aos mercados, os assentamentos ganhariam autonomia da
intervenção estatal, conferindo, desta forma, uma medida da eficiência das
políticas de reforma agrária.
A formulação de políticas especiais de crédito para os agricultores
assentados justifica-se tanto pela inadequação das condições praticadas pelo
mercado financeiro quanto pela situação em que estes agricultores se deparam
ao terem acesso a terra.
Na maioria dos casos, são agricultores pobres, com baixíssima ou
nenhuma capacidade própria de investir em melhorias de seu lote. O que
podem fazer raramente vai além do uso da mão de obra familiar para tratar
minimamente a terra conquistada.
Para agravar a situação, os assentamentos geralmente ocupam áreas
que apresentam condições estruturais precárias, que demandam investimentos
imediatos para se tornarem minimamente cultiváveis. Dadas estas
peculiaridades e demandas, a aceitação das condições de contrato do crédito
60
convencional é impraticável para estes agricultores. A instituição de subsídios
às taxas de juros e aos custos operacionais e a criação de condições especiais
de pagamento, com prazos de carência mais longos, surgem como alternativas
que vêm sendo utilizadas pelos programas oficiais, com o objetivo de custear a
produção e, associado ao investimento público na melhoria da infra-estrutura
dos assentamentos, gerar renda e condições de reprodução e inovação
socioeconômica para os agricultores assentados.
O Assentamento Queimadas também apresentava essas condições,
pois segundo relatos de assentados a antiga Fazenda Queimadas foi produtora
de várias culturas, como o café, a cana-de-açúcar, o milho, o agave, o algodão
e o fumo. Devido ao uso intensivo do solo em decorrência do cultivo desses
produtos, a área em estudo apresenta espaços onde o solo encontra-se
praticamente esgotado, sendo necessário investimento para recuperá-lo e
possibilitar ao assentado condições para que ele possa produzir em seu
espaço.
É neste sentido que, no plano macroeconômico, as políticas de crédito
se associam a estratégias e políticas públicas de desenvolvimento rural e de
redução da pobreza no campo. Deste ambiente formativo das políticas públicas
de crédito rural surgem várias questões sobre suas concepções, objetivos e
institucionalidade operativa.
Ao propor uma distribuição mais equitativa de renda, em benefício dos
pobres do campo, por meio de subsídios e recursos a fundo perdido, cabe
investigar até que ponto as políticas de crédito para os agricultores assentados
assumem o caráter anti-sistêmico das propostas que não se adéquam à lógica
hegemônica ou aos princípios do capitalismo dominante (SOUSA SANTOS;
RODRÍGUEZ, 2002), passando, por isso, a ser combatidas ou boicotadas no
cotidiano das relações sociais e econômicas que as sustentam e
operacionalizam.
Esta questão se torna relevante ao considerarmos a importância do
campo econômico e de seus agentes e a amplitude do respeito às regras e
instituições na concepção e implementação de políticas públicas. Estas regras
incluem, de um modo geral, e, por exemplo, a obediência às restrições
orçamentárias ditadas pelos ajustes fiscais e a premência dos meios que

61
promovem a viabilidade econômica das ações e empreendimentos financiados
com os escassos recursos públicos (REZENDE, 2002).
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), até os dias
de hoje, possui uma posição contrária a determinadas políticas públicas
adotadas pelo governo desde a Revolução Verde, as quais eram voltadas tão
somente à mecanização da agricultura, reduzindo ao máximo o uso de mão de
obra e gerando uma concentração cada vez maior do capital nas mãos de uma
minoria, ou seja, uma busca incessante pelo aumento da produtividade e maior
concentração de terras (NEGRI, 2005).
Nos últimos tempos, os assentamentos passaram a contar com uma
política de crédito própria, através do INCRA, que financia a implantação dos
lotes, com recursos para a construção da moradia, para manutenção da família
no primeiro ano, além de financiar o custeio da produção e disponibilizar crédito
para investimento, com prazos e carências.
Essa política de crédito objetivou fornecer assistência técnica aos
assentados, pois esta era uma das suas reivindicações históricas, e tinha como
principal objetivo o desenvolvimento das famílias assentadas; a consolidação
dos projetos de assentamento e sua inserção no mercado como unidade de
produção competitiva, geradora de renda e emprego; suprir a necessidade de
assistência técnica. Além disso, estimulava a capacitação das famílias
assentadas, no que diz respeito à implantação e desenvolvimento de culturas e
pastagens, armazenamento e comercialização, criação de animais e introdução
de novas tecnologias e ações voltadas à organização dos assentados
(MINISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO DE POLÍTICA FUNDIÁRIA, 2001).
A própria constituição do assentamento apresenta-se como uma
estratégia de inserção social por parte dessa população excluída. Assim,
mesmo com todas as dificuldades, o assentamento é visto como uma
alternativa consistente (LEITE, 1998).
As políticas públicas envolvem questões de valores e de recursos
disponíveis. Por isto, desenvolver uma ou outra política depende do que se
considera que é desejado socialmente. Portanto, são os critérios seguidos no
momento de se estabelecer as prioridades dos recursos disponíveis que
direcionam a distribuição e transferência de renda de um agente social para
outro (RODRÍGUEZ; ARDID, 1996).
62
Como já destacado em outras partes do texto, a construção de
assentamentos rurais é fruto do movimento nacional de luta pela terra, reflexo
da secular concentração fundiária existente no Brasil. Contudo, apenas a
aquisição do assentamento rural não soluciona a expropriação camponesa da
terra, uma vez que, para nela permanecer, esses sujeitos sociais defrontam-se
com uma série de adversidades.
Nesse sentido, as políticas públicas podem se constituir um caminho real
para o desenvolvimento do camponês, mas, conforme afirma Veiga (1998):

Os estabelecimentos agrícolas não patronais no Nordeste


constituem uma massa de agricultores tão fragilizados que
seria ilusório esperar que possam ser ajudados pelas linhas de
crédito de custeio e investimento oferecidas pelo Pronaf. Ou
seja, o pacote convencional dos programas de modernização
voltados para a agricultura familiar (crédito, assistência técnica,
apoio à comercialização, etc.) só poderia atingir essa grande
massa de desvalidos se estiver acoplado (ou for procedido) ao
binômio essencial da estratégia de erradicação da pobreza
rural: redistribuição fundiária e educação (VEIGA, 1998, p. 10).

As reflexões apresentadas por esse autor, também podem ser balizadas


para o entendimento de que a pouca eficácia de determinadas políticas
públicas destinadas aos assentamentos rurais, de forma a propiciar melhorias
significativas para as famílias envolvidas, torna as avaliações dos efeitos dos
projetos implantados bastante negativas
Nesse sentido, os maiores prejudicados são os próprios camponeses,
que, mesmo com o fracasso dos investimentos, têm que arcar com pagamento
do financiamento, sob pena de endividamento e impossibilidade de adquirir
novos créditos.

2.2.1 - Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Familiar (PRONAF)

O contexto de surgimento do (PRONAF), em meados dos anos de 1990,


foi marcado pela intensa mobilização dos movimentos sociais e organizações
de trabalhadores rurais que buscavam acesso a terra e melhores condições de
permanência produtiva no campo, reivindicando ações governamentais

63
favoráveis à reforma agrária, o que envolvia, dentre outras demandas, a
questão do crédito rural.
As mobilizações e ocupações de terras eram respondidas pelo Estado
com crescente violência policial e, no campo administrativo, com mudanças
institucionais que buscavam limitar o poder de ação dos movimentos sociais,
sobretudo o MST.
Desde a divulgação do programa de reformulação das políticas públicas
de reforma agrária e desenvolvimento rural, conhecido como ―Novo‖ mundo
rural, as novas orientações institucionais relacionadas ao desenvolvimento
rural, particularmente das pequenas unidades de produção, foram influenciadas
pelas propostas do Banco Mundial.
Naquela época, o Banco Mundial recomendava uma ampla revisão das
políticas públicas de desenvolvimento rural, recomendando que o Estado
priorizasse a produção familiar e criasse mecanismos que promovessem sua
integração aos mercados. O mercado passava a ser visto tanto como um meio
para obtenção do acesso a terra, por intermédio de programas como o Banco
da Terra, quanto um objetivo a ser alcançado na viabilização econômica dos
agricultores familiares (VILELA, 1997).
Neste contexto de mudanças institucionais marcadas pelo processo de
reforma do Estado e de pressão dos movimentos sociais por ações em prol da
reforma agrária, as alterações mais significativas no primeiro ano de governo
do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foram a criação do
Gabinete Extraordinário de Política Fundiária e a transferência do INCRA para
responsabilidade desse gabinete, deixando este órgão de estar subordinado ao
Ministério da Agricultura.
Deste modo, como argumenta Medeiros (2002, p.60), a questão agrária
saía da alçada do Ministério da Agricultura, tradicional espaço de controle dos
grandes empresários rurais, e passava a ser subordinada mais diretamente à
Presidência da República.
Estas mudanças sinalizavam a determinação governamental para
assumir o protagonismo das ações de reforma agrária, na tentativa de tornar as
respostas institucionais mais ágeis e eficazes. Por outro lado, abriam-se novas
perspectivas e limites de interlocução entre as organizações de movimentos

64
sociais e o governo por meio dos novos mecanismos administrativos e das
novas institucionalidades criadas. O PRONAF é originário deste contexto.
Em 1994, no governo Itamar Franco, foi criado, pelo Ministério da
Agricultura e do Abastecimento (MAARA), o Programa de Valorização da
Pequena Produção Rural (PROVAP), antecipando algumas concepções que,
um ano depois, seriam reformuladas para a instituição do PRONAF, cuja
intenção era ajustar as políticas públicas agrícolas voltadas para os pequenos
agricultores familiares, viabilizando infra-estruturas para aumentar a
produtividade através da capacitação profissional dos agricultores e da
inserção da produção no mercado de insumos e produtos.
De acordo com Silva (1999), o PRONAF também atendia a uma
reivindicação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(CONTAG), funcionando inicialmente com uma linha de crédito ao custeio da
produção, operando recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) por
meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e
com um alcance muito limitado por conta de suas exigências para contratação
dos financiamentos (BELIK, 2004).
Em 1996, o PRONAF passou a ser um programa governamental e a
operar recursos do Orçamento Geral da União (OGU), que também poderiam
ser aplicados em infraestrutura rural nos municípios e em capacitação dos
produtores rurais. O Programa surgiu como uma novidade institucional
relacionada à redefinições do papel a ser desempenhado pela pequena
produção agrícola, de perfil familiar, no processo de integração ao mercado e
de promoção do desenvolvimento econômico.
Segundo Pérsico e Resende (2011), o PRONAF abrange três grandes
eixos de atuação, com uma ampla abrangência de propósitos: política agrícola
(crédito, preços e tributação), oferta de serviços de apoio (pesquisa, assistência
técnica, extensão rural e reforma agrária) e apoio à formação de infraestrutura
física e social nos municípios. Estes eixos foram distribuídos em três grandes
modalidades de investimento: (a) PRONAF - Infraestrutura e Serviços
Municipais, para o financiamento de obras e serviços que deem suporte às
atividades agrícolas; (b) PRONAF - Capacitação, visando proporcionar aos
agricultores e suas organizações conhecimentos para a gestão dos sistemas

65
de produção, e (c) PRONAF - Crédito Rural que se destina ao investimento na
produção agropecuária, apoiando financeiramente os agricultores.
No decorrer do tempo, e das revisões nas concepções iniciais do
Programa, foram várias as mudanças nas linhas de crédito do PRONAF, que
também se diversificaram bastante. Neste processo, que se desenrolou
inicialmente em meados dos anos de 1990, tiveram um papel importante a
CONTAG, a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura
(SPA/MA), o Departamento de Extensão Rural da Secretaria de
Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura (DATER/MA), o Fórum
Nacional das Secretarias de Agricultura e a Casa Civil da Presidência da
República.
No PRONAF – Infraestrutura e serviços, por exemplo, os municípios são
os demandantes e executores dos recursos obtidos, aplicando-os na
implantação, ampliação e modernização da infraestrutura e dos serviços
necessários ao incremento das atividades agrícolas. Um dos critérios
estabelecidos para o recebimento dos recursos dessa modalidade é que o
município constitua um Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural
(CMDR), que possua no mínimo 50% de representantes dos agricultores
familiares, e elabore um Plano Municipal de Desenvolvimento Rural,
planejando a aplicação da demanda dos recursos.
Segundo Vilela (1997), este fato constitui uma das principais inovações
institucionais do PRONAF, introduzindo novas formas de relação entre o
Estado, a gestão das políticas públicas e as organizações da sociedade civil.
Os recursos desta linha do PRONAF são repassados aos municípios pela
Caixa Econômica Federal.
Para Abramovay e Veiga (1998), a participação, embora discreta, dos
sindicatos patronais, também teve importância nas negociações
desencadeadas no processo de criação do Programa e, nas mudanças
institucionais que vêm marcando a sua execução.
No tocante à liberação do Pronaf para o desenvolvimento dos
assentamentos é importante ressaltar a diferenciação dos beneficiários do
programa, classificados em: Grupo (A) – assentados; Grupo (B) – agricultor
com baixa produção e pouco potencial na produtividade; Grupo (C) – agricultor
com exploração intermediária e nível esperado para aumentar a produtividade
66
e o Grupo (D) – agricultor estabilizado economicamente (LEAL, 2003). Os
grupos básicos do PRONAF com suas finalidades e enquadramentos estão
expressos na tabela 01.

Tabela 01 - Grupos básicos do PRONAF, enquadramentos e finalidades


Grupos Enquadramento Finalidade

A Agricultores familiares assentados pelo Financiamento das atividades


Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), agropecuárias e não
público-alvo do Programa Nacional de Crédito agropecuárias.
Fundiário (PNCF) e os reassentados em função
da construção de barragens.

A/C Agricultores familiares assentados pelo Financiamento do custeio de


Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) atividades agropecuárias, não
ou público-alvo do Programa Nacional de agropecuárias e de
Crédito Fundiário (PNCF) que já tenham beneficiamento ou
contratado a primeira operação no Grupo ―A‖ industrialização da produção.

B Agricultores familiares com renda bruta anual Financiamento das atividades


(Micro familiar de até R$ 6 mil. agropecuárias e não
crédito agropecuárias no
Rural) estabelecimento rural ou áreas
comunitárias próximas.

C Agricultores familiares titulares de Declaração Financiamento de custeio,


de Aptidão ao PRONAF (DAP) válida do Grupo isolado ou vinculado, até a
C, emitida até 31/03/2008, que, até 30/06/2008, safra de 2012/2013.
ainda não tinham contratado as seis operações
de custeio com bônus.

PRONAF Agricultores familiares com renda bruta anual Financiamento da infra-


Agricultor acima de R$ 6 mil e até R$ 110 mil. estrutura de produção e
Familiar serviços agropecuários e não
agropecuários no
estabelecimento rural, bem
como o custeio agropecuário.
Fonte: PÉRSICO; RESENDE, 2011.

67
Portanto, essas modalidades de crédito vêm se constituindo em um
importante instrumento de financiamento das atividades produtivas e de
melhoria da infraestrutura dos assentamentos rurais. Na área de estudo, os
assentados são beneficiados principalmente pelo crédito do Pronaf C, pois
como apresentado anteriormente é um crédito Rural para custeio e
investimento na produção agropecuária. Essa linha de crédito é utilizada
sobretudo para produção da Palma forrageira, que é um dos principais projetos
para convivência com o semiárido.

68
Terceiro capítulo
CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: AVANÇOS E DESAFIOS EM
CONSTRUÇÃO

Desde o período colonial, a intervenção governamental vem


sendo feita visando ‗lutar contra a seca‘ e não ‗lutar contra os
efeitos da seca‘. Esquecem-se os nossos administradores que
a seca, como tal, não pode ser combatida, de vez que é um
fenômeno natural. Na realidade, o que deve ser feito é uma
conscientização da população visando à adaptação à seca e
travar luta para atenuar seus efeitos (ANDRADE, 1999, p. 47).

69
O termo semiárido é utilizado basicamente para designar um tipo
climático caracterizado por forte insolação, temperaturas relativamente altas e
um regime de chuvas marcado pela escassez, irregularidade e concentração
das precipitações num curto período de tempo. A esse tipo climático
corresponde a formação vegetal de Caatinga, caracterizada pela adaptação
dos vegetais à carência hídrica, com espécies, na sua maioria, caducifólias,
espinhosas, com folhas pequenas ou de lâminas subdivididas, existindo,
inclusive, algumas sem folhas (áfilas) para reduzir ao máximo a perda de água
por transpiração. A sua fisionomia varia de acordo com as condições climáticas
e edáficas locais.
O clima é considerado por muitos estudiosos como o elemento mais
marcante da região semiárida, pois apresenta um regime pluviométrico que
delimita duas estações bem distintas: uma curta estação chuvosa, ou ―inverno‖,
e uma longa estação seca ou ―verão‖. As chuvas geralmente são torrenciais e
irregulares no tempo e no espaço, com ausências prolongadas, ocasionando o
fenômeno da seca climática. A pluviosidade é considerada não muito baixa,
isto é, 500 mm em média (MENDES, 1992).
De acordo com Moreira (2007), essas características, são encontradas
áreas da hinterlândia dos estados nordestinos (à exceção do Maranhão) e
ainda o norte do estado de Minas Gerais. Trata-se da ―região semiárida do
Nordeste‖. Essa região está localizada principalmente no interior do Nordeste,
somente atingindo a costa no litoral setentrional do Rio Grande do Norte e no
litoral Cearense. Compreende uma imensa área de mais de 1.000.000 de km²,
que corresponde a ¾ da região Nordeste e mais de 10% da superfície do
território (MENDES, 1992).
Para efeito de atuação do Estado brasileiro, por meio de suas políticas
públicas, várias delimitações do semiárido nordestino têm sido efetuadas, via
de regra, utilizando-se indicadores naturais, como por exemplo, a pluviosidade
(a isoieta de 800mm tem sido um dos indicadores mais utilizados para a
delimitação regional), o déficit hídrico, o índice de aridez e o risco de ocorrência
de seca.
Do ponto-de-vista político-administrativo, o Nordeste brasileiro é uma
região formada por nove Estados, caracterizados pela desigualdade
socioespaciais, onde habita quase um terço da população do país. Além disso,
70
a região vem experimentando nos últimos tempos grandes descompassos
inter-setoriais no processo de crescimento econômico, sendo necessário
portanto, ações afirmativas e políticas públicas que possibilitem a redução das
desigualdades existentes.
Isso significa dizer que não se deve adotar uma única receita, programa
ou modelo de crescimento, uma vez que um dos traços característicos da
região, e particularmente do semiárido, é a sua heterogeneidade, pois dentro
de um mesmo município podemos encontrar realidades distintas, o que
demanda ações e tratamento diferenciado. Nesse sentido, é importante
destacar que o semiárido possui características próprias, com peculiaridades
há muito tempo conhecidas, porém não levadas em consideração no momento
em que foram executadas determinadas ações governamentais, como, por
exemplo, as políticas de combate às secas.
O semiárido nordestino tem sofrido com o problema das secas há várias
décadas. Estas secas se explicam em parte pelas altas temperaturas
registradas na região, o que entre outras coisas, acarreta uma taxa de
evaporação alta. Desta forma, não se faz possível a permanência de alguns
corpos d‘água, e a maiorias dos rios tornam-se intermitentes. Estes fatores
naturais, associados às próprias ações humanas – que utilizam o solo, a água
e a vegetação de forma predatória – agravam ainda mais a situação.
Convém, no entanto destacar que o atraso socioeconômico desta porção
do território nordestino não se deve ao fato de que as condições climáticas não
são tão favoráveis ao desenvolvimento e tampouco podemos culpar a
população, que não tem como intervir nesta situação, por falta de
esclarecimento, ou simplesmente por falta de incentivo.
Segundo Rebouças (1997), que não acredita no determinismo fisio-
climático, as condições que predominam no Nordeste do Brasil, podem,
relativamente, dificultar a vida, exigir maior empenho e maior racionalidade na
gestão dos recursos naturais, em geral, e da água em particular, não podem
ser responsabilizadas pela pobreza e pela cultura das secas na região.
É evidente que mesmo uma região com as características fisio-
climáticas consideradas adversas por muitos pesquisadores pode e deve
almejar a melhoria de seus indicadores sociais e econômicos. Entretanto, para
que isto aconteça necessita-se de um maior comprometimento dos governos
71
Federal, Estadual e Municipal e da sociedade civil organizada na gestão do
território, com vistas à adoção de práticas que tenham como único propósito
reverter o atual quadro de precariedade e de pobreza que ainda se mantém na
região, por meio de uma política clientelista e conservadora. Além disso,
também faz-se necessário a superação de outros desafios, como por exemplo:

A baixa eficiência do aparelho público, o caráter paternalista-


eleitoreiro das obras realizadas, a falta de coordenação, a
baixa eficiência no uso das águas disponíveis, a
descontinuidade do trabalho, associado à ignorância política
no tratamento da água, resultam no quadro de agravamento e
de pobreza vivido pelos sertanejos do semiárido (BATISTA
FILHO, 2001, p. 33).

A literatura sobre a ocorrência das secas no Nordeste brasileiro é


relativamente extensa, sendo considerada natural a sua existência devido às
condições climáticas predominantes. Os registros sobre a ocorrência das secas
remontam ao século XVI, como pode ser observado nos dados apresentados
na tabela 02.

72
Tabela 02 - Registro das Secas ocorridas no Nordeste brasileiro.
Século XVI Século XVII Século XVIII Século XIX Século XX

1552 1603 1709/11 1803/04 1903

1559 1606/08 1720/27 1808 1915

1564 1614 1730 1809 1919

1583 1645 1735/37 1810 1931/32

1592 1652 1744/47 1814 1942

1692 1748/51 1819/20 1951/53

1754 1824/25 1958

1760 1827 1966

1766 1833/35 1970

1771/72 1844/46 1976

1776/78 1877/79 1979/83

1784 1888/89 1987

1790 1898/99 1990/93

1900 1998/99

Fonte: GOMES, 2001.


Adaptação: Anieres Barbosa da Silva

Os dados contidos na tabela expressam que as secas na região


Nordeste ocorrem desde o século XVI. No entanto, somente a partir do século
XVIII é que se ampliaram os registros sobre esse fenômeno climático, tendo
em vista uma maior ocupação do semiárido com a prática da pecuária.
Apesar dos efeitos devastadores sobre consideráveis contingentes
populacionais e animais (morte de pessoas e do gado), a seca passa a ser
considerada como um problema regional do Nordeste apenas no século XIX,
na medida em que começaram a surgir manifestações, como representações
ao governo e apelos às autoridades. Evento emblemático desse contexto foi a
construção do açude Cedro em 1906, no Estado do Ceará, por iniciativa da
Coroa Imperial (VIEIRA FILHO, 2006).

73
Embora as condições naturais predominantes na região Nordeste
possam relativamente dificultar a vida, exigindo uma maior responsabilidade na
gestão dos recursos naturais, principalmente a água, tem-se observado nos
últimos anos, a partir de uma análise mais crítica da política local, que estas
condições não podem ser responsabilizadas pelo quadro de pobreza
amplamente manipulado e sofridamente tolerado. Rebouças (1997, p. 128)
explica que: ―o que mais falta no semiárido do Nordeste brasileiro não é água,
mas determinado padrão cultural que agregue confiança e melhore a eficiência
das organizações públicas e privadas no negócio da água.‖
O combate aos efeitos das secas na região Nordeste se deu de muitas
formas, mesmo que algumas destas ações tenham sido pouco eficientes. O
que se pode concluir ao observar a realidade do Nordeste é que o principal viés
de enfrentamento a esse fenômeno natural foi a adoção de políticas públicas
voltadas à construção de açudes e barragens, instalação de perímetros
irrigados e a construção de canais por todo o seu território, configurando-se,
portanto, uma exorbitante tecnificação e uma indisfarçável despolitização da
questão.
Isto foi possível porque a intervenção governamental em grande parte,
estava orientada por três dimensões que se combinam no combate à seca e
aos seus efeitos: a finalidade da exploração econômica; a visão fragmentada e
tecnicista da realidade local; e o proveito político dos dois elementos anteriores
em benefício das oligarquias locais no/do espaço semiárido (SILVA, 2007).
Uma breve reflexão sobre a lógica de intervenção no território e a
atuação das oligarquias nordestinas, permite-nos afirmar que a seca foi um
meio para se conseguir investimentos governamentais na região, para o
estabelecimento de políticas de favores e para o estabelecimento de um
conceito de combate às secas, o qual é visto por muitos estudiosos como um
grande equívoco porque:

Desde o período colonial, a intervenção governamental vem


sendo feita visando ‗lutar contra a seca‘ e não ‗lutar contra os
efeitos da seca‘. Esquecem-se os nossos administradores que
a seca, como tal, não pode ser combatida, de vez que é um
fenômeno natural. Na realidade, o que deve ser feito é uma
conscientização da população visando à adaptação à seca e
travar luta para atenuar seus efeitos (ANDRADE, 1999, p. 47).
74
Apesar desse quadro de referência, é possível destacar que nos últimos
tempos a sociedade civil tem se mobilizado e o trabalho educacional sobre
como conviver com o fenômeno da seca tem sido desenvolvido por
Universidades e Organizações Não governamentais que estão atuando no
semiárido paraibano. Desse modo, estão sendo desenvolvidas algumas
experiências voltadas para o manejo do solo, da água e da biodiversidade, com
base em alternativas que utilizam tecnologias de baixo custo e buscam reduzir
impactos negativos sobre o ambiente, o que nos leva a acreditar que a seca é
inibidora do crescimento social e econômico, mas não é determinante.
Segundo Silva (2007), a convivência é um reaprendizado da comunhão
intrínseca entre os sujeitos e a realidade do semiárido através das experiências
vividas. A mudança de percepção sobre a realidade local e a experimentação
de alternativas de produção apropriada pela população sertaneja é a principal
garantia da convivência.
O segredo da convivência está em compreender como o clima funciona
e adequar-se a ele. Não se trata mais de ―acabar com a seca‖, mas de adaptar-
se de forma inteligente. É preciso interferir no ambiente, é claro, mas
respeitando as leis de um ecossistema que, embora frágil, tem riquezas
surpreendentes. A convivência com o semiárido também passa pela produção
e estocagem dos bens em tempos chuvosos para se viver adequadamente em
tempos sem chuva. O principal bem a ser estocado é a própria água
(MALVEZZI, 2009).
O mesmo acontece no assentamento Queimadas, pois os camponeses
estão buscando caminhos alternativos para permanência na terra com a
adoção de tecnologias apropriadas ao local e orientadas na perspectiva de
―convivência com o semiárido‖. Nestas condições, as associações comunitárias
dos pequenos produtores rurais desempenha papel fundamental, pois se
constituem em espaço de discussão e socialização de informações e
conhecimentos.
Essa mudança paragmática se refere também a algumas ações
governamentais, uma vez que estão sendo priorizados mecanismos que sejam
capazes de criar condições de convivência com a seca, bem como estimular a
adoção de práticas econômicas sustentáveis. Assim, pois, programas como
75
Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: um
Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), já estão sendo executados na área da
pesquisa.
Entendemos ainda, que a organização e a união de algumas famílias
assentadas que lutam pela permanência em sua terra conquistada viabilizou
outras práticas de convivência: a produção agroecológica do algodão e o
plantio de palma. Essa produção conta com o apoio da Embrapa, de ONG‘s,
como a Arribaçã, e da Associação a Serviços e Projetos em Agricultura
Alternativa (AS-PTA).
O Projeto Palmas também é uma prática de convivência com o
semiárido. De modo que a produção de mais de 50 hectares é utilizada para
alimentar o gado, estimular a pecuária e vender para pecuaristas da região do
Curimataú.
É sobre essas práticas de convivência e as estratégias de sobrevivência
no assentamento ora estudado que abordaremos no item a seguir.

3.1- Programas e novas tecnologias sociais

De acordo com Diaconia (2003), a primeira lei da convivência com o


semiárido é a captação inteligente da água da chuva, uma prática milenar,
usada pelo povo de Israel desde os tempos bíblicos. A abundância de água em
território brasileiro fez com que essa prática fosse quase abandonada. Só
recentemente, o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) estabelecido
pela lei nº 9.433/97, desenhou os primeiros rumos para uma política nacional
de captação da água de chuva para consumo humano, consumo animal e
agricultura.
Entretanto, não bastava armazenar a água. Era preciso criar
mecanismos para impedir que ela evaporasse. Nessa perspectiva, uma nova
tecnologia social vem sendo amplamente utilizadas na área de estudo como
forma de armazenamento de água da chuva: as cisternas de placas.5 3.

5
Tecnologia inventada por um pedreiro sergipano. As cisternas são reservatórios que se
apresentam de forma ovalada e com metade de suas dimensões encravadas no chão.
Geralmente, elas são construídas próximas das casas porque são utilizadas calhas para captar
à água da chuva que escorre pelos telhados e conduzi-la para as cisternas. Hermeticamente
fechadas, elas não permitem a entrada de luz e tampouco a evaporação ou a transpiração. A
76
Em 2003, o assentamento ora estudado foi contemplado com as ações
do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o
Semiárido: um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), como pode ser visto na
fotografia a seguir.

Fotografia 04 - Placa indicativa do P1MC em cisterna de placa

Fonte: Pesquisa de campo, Agosto de 2011.


Acervo: Anieres Barbosa da Silva.

Esse programa vem desencadeando um movimento de articulação e de


convivência com o ecossistema do semiárido, através do fortalecimento da
sociedade civil e da mobilização, envolvimento e capacitação das famílias, com
uma proposta de educação processual. O objetivo do P1MC é beneficiar cerca
de 5 milhões de pessoas em toda região semiárida, com água potável para
beber e cozinhar, armazenada nas cisternas de placas (fotografia 5).

água depositada ali durante os períodos chuvosos fica guardada para os períodos em que
normalmente não chove.
77
Fotografia 05 - Cisterna de Placa em residência do Assentamento

Fonte: Pesquisa de campo, Janeiro de 2011.


Acervo: Clebiana Dantas Calixto.

As cisternas, que tem capacidade de armazenar até 16 mil litros de


água, foram construídas por pedreiros da própria localidade de Remígio, os
quais foram capacitados pelo P1MC, e pelos camponeses que executam os
serviços gerais de escavação e aquisição do material utilizado na construção.
Os pedreiros foram remunerados e a contribuição dos assentados nos
trabalhos de construção se caracteriza como uma contrapartida no processo.
Para a maioria dos informantes as cisternas é um equipamento indispensável
para a sobrevivência e permanência no campo, pois ―Se a água da cisterna for
utilizada de forma adequada (para beber, para cozinhar e para a higiene
pessoal) dura, aproximadamente, oito meses‖ (Depoimento da assentada
Rosinete, janeiro de 2011).

Durante a pesquisa de campo também ouvimos dos assentados que o


programa muito serviu para minimizar os problemas relacionados à água e
trabalhos domésticos uma vez que ― as mulheres tinham que acordar cedo para
buscar água, geralmente em baldes pesados e carregados na cabeça.” (Depoimento
do assentado Mário Pereira, janeiro de 2011).
78
O assentamento Queimadas em 2010 também foi beneficiado com outro
programa: o Programa uma terra e duas águas (P1+2) 64. O objetivo principal
desse programa é ir além da captação de água da chuva para o consumo
humano, avançando para a utilização sustentável da terra e para o manejo
adequado dos recursos hídricos para produção de alimentos (animal e vegetal),
promovendo a segurança alimentar e a geração de renda. O P1+2 também
beneficiou o assentamento com a construção de duas cisternas calçadão 75
(Fotografia 6).

Fotografia 06 - Cisterna Calçadão

Fonte: Pesquisa de campo, Agosto de 2011.


Acervo: Anieres Barbosa da Silva.

Uma outra alternativa utilizada pelos assentados como forma de


captação e armazenamento de água da chuva são os Tanques de Pedra –
Caldeirão (Fotografia 7). Esses tanques possibilitam o armazenamento de um
volume expressivo de água captada nos lajedos, aproveitando a inclinação

6
O numeral "1" significa terra suficiente para que nela sejam desenvolvidos processos
produtivos, visando à segurança alimentar e nutricional. E o "2" corresponde a duas formas de
utilização da água: água potável para cada família e água para a produção agropecuária, de
forma que as famílias de agricultores e o contingente por elas influenciado vivam dignamente.
7
A Cisterna calçadão chega a captar até 52 mil litros de água. Com essa cisterna é possível
irrigar pequenas áreas, como um "quintal produtivo" de verduras; regar mudas ou ter água para
pequenos animais, como galinhas.

79
natural neles existentes. Em alguns locais, é necessário construir paredes ou
muretas para facilitar a contenção ou o direcionamento da água para os
tanques e, consequentemente, maior acúmulo de água. É uma das inovações
técnicas que tem como base à valorização do conhecimento do camponês nas
estratégias de uso e gestão da água.

Fotografia 07- Tanques de pedra

Fonte: Pesquisa de campo, Agosto de 2011.


Acervo: Anieres Barbosa da Silva.

Durante a pesquisa de campo, identificamos a presença de oito tanques de


pedras espalhados por vários lotes. A água armazenada nos tanques de pedra é
de uso coletivo da população do assentamento, sendo utilizada geralmente para
gastos domésticos, para alimentação animal e para irrigação.

3.2 - Práticas Agroecológicas

Além da adoção de práticas relacionadas ao uso e manejo da água,


outra prática desenvolvida na área de estudo que vem possibilitando a
convivência com o semiárido é a produção agroecológica, principalmente do
algodão. Durante muito tempo, o algodão foi uma das principais culturas

80
geradoras de renda e de utilização da mão de obra no semiárido nordestino.
No entanto, os problemas econômicos, o surgimento da praga do bicudo no
início da década de 1980, as mudanças na matriz tecnológica e o aumento nos
custos de produção afetaram a cotonicultura e podem ser apontados como
fatores responsáveis pela redução das áreas destinadas ao cultivo do produto.
Apesar de o pólo produtivo ter migrado para a região dos Cerrados, Silva
e outros estudiosos (2005) destacam que a região semiárida é possuidora de
condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo do algodão, sobretudo o
ecológico. Além disso, as características das propriedades locais, ocupadas
basicamente por camponeses que cultivam espécies diversificadas e utilizam a
mão de obra famíliar como fonte de trabalho, favorecem o cultivo do algodoeiro
desta forma. Junte-se a isso a demanda premente por produtos de base
ecológicas, voltadas para um mercado cada vez mais exigente, e será possível
ter uma idéia do potencial de desenvolvimento deste tipo de cultivo para a
região.
Por ser um produto primário de grande importância para a produção de
diversas mercadorias a serem comercializadas, o algodão tornou-se uma das
culturas de maior importância para a fabricação de fibras. O seu cultivo é
realizado durante o período de estiagem, o que possibilita ao camponês o uso
do solo para o plantio de outras culturas, como as de subsistência, durante o
período das chuvas. Tal característica torna viável a produção do algodão
como uma atividade capaz de oferecer suporte financeiro, já que a produção é
destinada ao mercado, principalmente para grupos fabris, da Paraíba e de
outros estados.
No entanto, cabe destacar que essa forma de integração dos produtos
ao mercado favorece a ampliação da monopolização do capital no campo, a
qual se expressa, na área de estudo como uma estratégia utilizada pelos
detentores dos meios de produção na busca pela reprodução ampliada do
capital, ao estabelecer conexões para subordinar a renda da terra produzida
pelos camponeses, transformando-a em capital (OLIVEIRA, 2008).
Segundo esse autor, o capital não tem operado necessariamente no
sentido de implantar seu modo específico de produzir por meio do trabalho
assalariado em todo lugar. Pelo contrário, ora ele controla a circulação dos
produtos agropecuários, subordinando-os à produção, ora ele se instala na
81
produção, subordinando a circulação. Um processo engendra o outro. Como
consequência desse movimento contraditório, temos ora o monopólio do capital
na produção, ora esse monopólio, sobretudo, instaura-se na circulação. Desse
modo, e considerando o atual estágio de desenvolvimento capitalista no Brasil,
é possível dizer que há um predomínio do capital industrial ou comercial
atuando na circulação e sujeitando a renda da terra produzida na agricultura.
Nesse viés, Amin e Vergopoulos (1986), afirmam que:

a administração e o capital inserem-se no processo produtivo e


comandam-no verdadeiramente. É rico o arsenal de meios
administrativos posto em funcionamento para obrigar o
camponês a produzir aquilo que querem que produza, da
maneira como querem: há, desde uma ordem pura e simples, à
velada (a da imposição pelo dinheiro, quando o ameaçam de
lhe comprar um só produto) ou à obrigação decorrente da ação
dita de promoção ou modernização dos serviços do quadro
rural (AMIN; VERGOPOULOS, 1986, p. 37).

Kautsky (1987), avaliando a inclusão do modo de produção capitalista na


agricultura, considera que a burguesia leva o camponês à subordinação, haja
vista que a agricultura começa a depender cada vez mais de produtos
adquiridos na cidade (adubos, sementes, rações, entre outros insumos), o que
possibilita a exploração do mesmo pelo capitalista financeiro.
Nesse sentido, quanto à produtividade do algodão, esta pode ser
aumentada pela intensificação do uso de insumos, pelo genótipo da cultura ou
pela manipulação do ambiente. Esta última estratégia parece ser eficiente no
incremento da produtividade dos agroecossistemas de produção de algodão
agroecológico para Semiárido. O manejo do ambiente inclui o arranjo da cultura
no tempo e no espaço e as técnicas culturais, que podem influenciar as
variáveis de solo e clima (BASTOS et al., 2006).
De acordo com o IBGE (2006), a produção do algodão no Brasil tem
dado sinais de avanços nos últimos anos, sobretudo em função dos
investimentos em pesquisas, do avanço tecnológico e dos incentivos. A partir
daí, podemos constatar a expressividade na recuperação da cotonicultura
brasileira, evidenciada com o aumento do rendimento médio do algodão em
caroço, (Gráfico 1).

82
Gráfico 01 - Produção do Algodão herbáceo no Brasil (1950/2006)

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1950/2006.

De acordo com o gráfico, percebe-se que a cotonicultura no Brasil


obteve grande recuperação nacional. Os dados contidos no gráfico revelam
que a partir de 1980 vem ocorrendo uma diminuição da área territorial colhida e
um aumento na produção em toneladas, sobretudo no ano de 2006. Essa
expressividade está ligada ao avanço tecnológico no campo.
Por outro lado, Saquet e Santos (2010), apontam que o processo de
modernização da agricultura e a incorporação de novas terras à dinâmica
capitalista provocaram a expulsão de milhares de pequenos proprietários,
rendeiros, ribeirinhos, caiçaras, posseiros, quilombolas, dentre outros
camponeses e indígenas, de suas terras.
Segundo Costa (2007), esse avanço tecnológico também se faz
presente no semiárido com a introdução de novas cultivares que foram
desenvolvidas para a implantação do algodão colorido. Os resultados obtidos
são considerados significativos e vêm impulsionando a cotonicultura na região.
Como exemplo, destaca-se o desenvolvimento e a validação de um sistema de
produção de algodão colorido orgânico.,

83
Fotografia 08 - Produção agroecológica do algodão colorido

Fonte: Pesquisa de campo, Agosto de 2011.


Acervo: Janailson Santos.

No Assentamento Queimadas a produção agroecológica do algodão


(branco e colorido) teve inicio em 2006, a partir da organização de dezoito
famílias que passaram a produzir e a comercializar o algodão agroecológico
com certificação orgânica.
Segundo Silva e colaboradores (2010), no ano de 2007, o número de
famílias que passou a se dedicar a produção e a comercialização dessa
matéria-prima do setor têxtil, com manejo ecologico e atendendo às tendências
e necessidades das contingências mundiais, aumentou de 18 para 50. Como
elemento de ―sucesso‖ do empreendimento agroecológico desenvolvido no
assentamento, seus integrantes orgulham-se do processo antecipado de
comercialização, pois toda produção é a priori negociada, parcialmente, com a
empresa YD Confecções com sede no Estado de São Paulo. Segundo os
produtores, a empresa paga melhor preço pelo algodão branco. Já o algodão
colorido é comercializado dentro do próprio Estado da Paraíba pela
Coopnatural, associação sediada no município de Campina Grande. Tal
preferência se dá pelo incentivo às práticas agrícolas que sejam capazes de
poupar o meio ambiente, como o não lançamento de produtos tóxicos no
trabalho do algodão colorido, posto que não são usados corantes.
84
No entanto, segundo informações obtidas a partir de entrevista com um
jovem assentado, que é estudante de agroecologia

alguns produtores encontram-se desmotivados para plantarem


o algodão, pois falta assistência técnica adequada para
produção agroecológica. O pagamento da venda do produto é
muito demorado chegando a levar até 3 meses e a certificação
do produto é algo muito complicado, onde a coopnatural detém
essa certificação, adquirindo o produto por um preço inferior ao
mercado (Assentado Janaílson Santos em agosto de 2011).

Em se tratando do processo produtivo do algodão de sequeiro é


importante salientar que as técnicas agroecológicas são utilizadas sem
nenhuma dependência de insumos externos. Com isso, a produção tem
certificação orgânica pelo Instituto Biodinâmico (IBD) e acompanhamento
técnico de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) e das ONG‘s Associação de Apoio a Políticas de Melhoria de
Qualidade de Vida (Arribaçã) e Associação a Serviços e Projetos em
Agricultura Alternativa (AS-PTA).
Fundada em 2003, a ONG ARRIBAÇÃ surgiu a partir da ideia de um
grupo de pessoas compromissadas em desenvolver trabalhos que
contribuíssem com a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores do
campo, através de processos educacionais. Tem como princípios a valorização
e fortalecimento das dinâmicas locais, no contexto das experiências da
agricultura familiar agroecológica e no desenvolvimento sustentável; contribuir
para o desenvolvimento socioeconômico sustentável da Agricultura
camponesa, apoiar atividades ligadas à melhoria da qualidade de vida nas
áreas de agricultura, meio ambiente, cultura popular e educação do campo,
além de estimular a formação, capacitação, qualificação e o aperfeiçoamento
profissional de Agricultores Familiares e suas representações.
As sementes utilizadas para o plantio do algodão são obtidas sem
técnicas transgênicas, o que facilita a comercialização do produto. De acordo
com PASSOS (2009), o espaçamento do algodão plantado obedece uma
medição de 1,10 X 0, 40, (Fotografia 09) o que inibe a ação, reprodução e

85
sobrevivência de uma das principais pragas do algodão: o bicudo (Anthonomus
grandis B.).

Fotografia 09 - Espaçamento na plantação do algodão, como forma de inibição


das pragas.

Fonte: Pesquisa de campo, Agosto de 2011.


Acervo: Janailson Santos.

Entretanto, para evitar maior estrago à cultura, o plantio do algodão é


realizado no final do mês de maio e início do mês de junho, quando a época
das chuvas já está terminando na região. Essa técnica é utilizada para que a
fase de produção do algodão se dê no período seco, já que neste período, o
bicudo não sobrevive ao calor da região semiárida (WANDERLEY JÚNIOR et
al., 2007).
As informações obtidas por meio do trabalho de campo permitem inferir
que os princípios agroecológicos das práticas adotadas pelos camponeses
podem ser utilizados como referência na construção de sistemas
agroecológicos em outros locais do semiárido, desde que sejam levadas em
consideração as especificidades locais. A nosso ver, o entendimento do
conhecimento tradicional é ferramenta essencial na construção coletiva de
sistemas de produção capazes de promover a sustentabilidade das famílias do
semiárido. O que chama a atenção no Assentamento Queimadas são os vários

86
aspectos que atestam o respeito à natureza e a forma de combate às pragas
do algodão, as quais ainda assolam as plantações desse gênero no Nordeste
do Brasil.
Outro aspecto de grande relevância quando se analisa as iniciativas
agrícolas baseadas na produção algodoeira da área pesquisada, diz respeito à
possibilidade de reprodução socioeconômica dos assentados e,
consequentemente, para sua permanência na região.
Além disso, constatamos, a partir das observações de campo e das
conversas informais com os produtores do assentamento Queimadas, as várias
estratégias de (re) produção camponesa, as quais são consideradas por eles
como eficazes. Uma dessas estratégias diz respeito à maneira como utilizam o
solo de acordo com a estação climática. Como o algodão é uma cultura que
tem o seu período para plantio e colheita os meses de estiagem, o camponês
utiliza o solo durante os meses chuvosos para realizar outros tipos de
plantação capazes de suprir suas necessidades.
Portanto, as práticas agrícolas realizadas no assentamento Queimadas,
que têm como principal produto o algodão, apontam para o fato que os
agricultores buscam colocar em prática estratégias de produção que promovam
a qualidade dos produtos, utilizando-se de ações agrícolas sustentáveis, como
a alternância das culturas plantadas, o que facilita o combate às pragas e
favorece adoção de formas para convivência sustentável no semiárido.

3.3 – Projeto Palmas

No Nordeste brasileiro, a palma é utilizada quase que exclusivamente


como forragem para o gado. Porém, nos últimos tempos, ela vem se
destacando quanto ao enorme potencial produtivo e de múltiplas utilidades,
podendo ser usada na alimentação humana, na produção de medicamentos,
cosméticos e corantes, na conservação e recuperação de solos, cercas vivas,
paisagismo, além de uma infinidade de usos (BARBERA, 2001).
Segundo Leite (2006), a maior área de palma forrageira no Nordeste se
concentra no agreste e sertão dos estados de Alagoas e Pernambuco.
Segundo dados do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), cultivos bem
conduzidos de palma forrageira produzem uma biomassa superior a 150

87
toneladas de matéria verde/ha/ano (ou15 toneladas de matéria seca/ha/ano),
desde que se associem práticas agronômicas adequadas e variedades de
elevado potencial produtivo.
Famosa como uma alternativa para a alimentação dos animais durante o
período de estiagem, a Palma é uma alternativa eficaz para combater a fome e
a desnutrição no semiárido nordestino, além de ser uma importante aliada nos
tratamentos de saúde é a palma forrageira rica em vitaminas A, complexo B e
C e minerais como Cálcio, Magnésio, Sódio, Potássio além de 17 tipos de
aminoácidos. A palma é mais nutritiva que alimentos como a couve, a
beterraba e a banana, com a vantagem de ser um produto mais econômico
(NUNES, 2011).
A palma forrageira se consolidou no semiárido nordestino como
estratégia para os diversos sistemas de produção da pecuária, sendo cultivada
de forma precária e nas piores condições de manejo, por se tratar de uma
planta xerófila que sobrevive com poucos índices pluviométricos. Porém,
estudos realizados por diversos pesquisadores têm demonstrado que para
obter bons níveis de crescimento e produtividade a palma necessita de
adubação e de cuidados, como qualquer produto agrícola.
Segundo Menezes (2005), a palma requer solos de boa fertilidade e bem
drenados, pois não toleram alagamentos e não se desenvolvem bem em áreas
salinizadas. A partir da década de 1950, começaram os estudos de caráter
mais aprofundados sobre a espécie, visando assim seu melhor aproveitamento.
Entre os anos de 1979 e 1983, durante a estiagem prolongada ocorrida no
nordeste brasileiro, a palma teve a sua área de cultivo ampliada, como
destacado por Dias (2005) ao afirmar que:

A partir da seca de 1979-1983 e, mais acentuadamente, da


seca de 1993, nas quais novamente houve grandes perdas de
rebanhos por escassez de forragens, iniciou-se
espontaneamente um ciclo de expansão da área plantada com
palma para fins forrageiros. A expansão se deu não apenas
entre os grandes pecuaristas, mas também entre os pequenos
proprietários rurais do semiárido, ressabiados com as perdas e
também atraídos pela possibilidade de comercialização
vantajosa de partidos de palma nos períodos secos, quando se
eleva a demanda por forragens (DIAS, 2005, p 23).

88
A produção de forragem no semiárido brasileiro é comprometida em
consequência do baixo índice pluviométrico e pela ausência ou má distribuição
das chuvas durante grande parte do ano. Devido a esta oscilação na oferta de
alimentos para os rebanhos, o gado, que geralmente é criado solto e
aproveitando as pastagens naturais, apresenta baixos índices de produtividade
em decorrência da estiagem. Com a finalidade de amenizar essa situação, a
palma forrageira surgiu como fonte alternativa de alimento, pois oferece boa
disponibilidade no período seco, bom coeficiente de digestibilidade da matéria
seca e alta produtividade. Desse modo, pode ser introduzida na alimentação de
bovinos, caprinos, ovinos e avestruzes.
Alguns estudiosos afirmam que a introdução da palma se deu pelos
portugueses na época da colonização, provavelmente trazida das Ilhas
Canárias, sendo estas de origem mexicana. Inicialmente, foi utilizada para a
produção de corantes naturais ―carmim‖, vindo a ser utilizada como forragem
somente por volta de 1915. Após a seca de 1932, por ordem do Ministério da
Viação, foram plantados, do Piauí até a Bahia, diversos campos de
demonstração, sendo este o primeiro grande trabalho de difusão da palma no
Nordeste (FIGUEIREDO et al.,2010).
Segundo Nunes (2011, p. 55):

desde o período pré-hispânico que a palma forrageira é


utilizada pelo homem no México, assumindo um papel
importante na economia agrícola do Império Asteca,
juntamente com o milho e a agave, consideradas as espécies
vegetais mais antigas cultivadas no território mexicano.

No Nordeste, três tipos de palma são as mais cultivadas na região: a


palma gigante e a palma redonda, ambas com nome científico de (Opuntia
fícus indica); e a palma doce ou miúda (Napolea cochenillifera Salm-Dyck). As
duas primeiras são cultivadas nas zonas mais secas e de solos menos férteis
enquanto a palma miúda é cultivada nas zonas mais chuvosas e de solos ricos.
Na Paraíba, devido às condições edafo-climáticas, predomina a palma gigante.
Contudo, a expansão da cochonilha do carmim vem contribuindo para o
aumento da área plantada com a palma doce.
Domingos Lelis, assessor técnico da Federação da Agricultura e
Pecuária da Paraíba (FAEPA), a Paraíba é referência nacional no plantio de
89
Palma forrageira, possuindo cerca de 150 mil hectares de plantio do vegetal,
que é encontrada principalmente na região semiárida de grande parte no
território paraibano. Tal fato vem modificando a situação socioeconômica em
diversas comunidades rurais, visto que os pecuaristas não mais precisam
vender suas criações a baixo do preço no período da seca (FIGUEIREDO et.
al., 2010).
No Assentamento Queimadas, o plantio da palma é realizado nos meses
de estiagem, isto é, outubro, novembro e dezembro. No plantio são enterrados
dois terços da raquete, posta na cova verticalmente com uma das faces voltada
para o nascente, na direção das linhas, para uma melhor incidência dos raios
solares na região fotossintética da planta. Atualmente, são cultivadas mais de
50 hectares de palma forrageira. Além de alimentar o gado criado no
Assentamento, o produto é vendido para pecuaristas da região do Curimataú.
Tal prática também pode ser vista como uma estratégia de reprodução
camponesa, como destacado anteriormente.
Na perspectiva de Figueiredo et. al. (2010), os pesquisadores da
Embrapa têm obtido resultados significativos de produtividade nos rebanhos
bovinos testados com a palma associada a outros alimentos. Segundo eles, foi
constatado o aumento do peso dos animais e o crescimento da produtividade
leiteira. Este fato pode contribuir para melhorar os indicadores da pecuária na
região semiárida, caso estas informações sejam transmitidas ao pequeno
agricultor, de forma que venha a capacitá-lo para o manejo e plantio da palma,
bem como a utilização dos recursos da caatinga de forma racional.
Devido à diversidade de usos, a palma também surge como uma
alternativa às perdas de solos no Assentamento Queimadas. Além disso, a
partir de novas tecnologias de cultivo intensivo, o plantio da palma passa a ser
vista como uma atividade que gera lucros e oportunidades econômicas. Hoje
ela é utilizada na produção de farelo, conservas doces e salgadas, bem como
na fabricação de cosméticos (xampu e sabonetes).
Tanto nos lotes individuais quanto no espaço coletivo, a produção da
palma no assentamento ora estudado é realizada por meio de plantação em
área coletiva e em lotes individuais (Fotografias 10 e 11) é incentivada pelo
PRONAF C, que se destina a Agricultores familiares assentados pelo Programa

90
Nacional de Reforma Agrária (PNRA) ou público-alvo do Programa Nacional de
Crédito Fundiário (PNCF).

Fotografia 10 - Plantio da Palma em lote individual. Ao fundo, residência do


Assentado.

Fonte: Pesquisa de campo, Janeiro de 2011.


Acervo: Clebiana Dantas Calixto.

Fotografia 11- Plantio da Palma em área coletiva do Assentamento.

Fonte: Pesquisa de campo, Janeiro de 2011.


Acervo: Clebiana Dantas Calixto.

91
As reflexões feitas até então, nos permitem compreender que o
Assentamento Queimadas caracteriza-se como espaço de conquista da luta
pela terra, da produção agropecuária e da espacialidade representativa da
materialidade do homem, já que a área de produção agrícola é considerada o
lugar onde os assentados estabelecem relações uns com os outros, produzindo
e recriando gêneros que, na vida social, se transformam em mercadorias.
A área pesquisada representa, ainda, a expressão das territorialidades
camponesas por meio das diversas estratégias utilizadas pelas famílias para
garantirem sua reprodução social. Atualmente, o assentamento apresenta uma
organização socioprodutiva, baseada na produção familiar, na qual os
camponeses buscam caminhos alternativos para permanência na terra, com a
adoção de tecnologias apropriadas ao local e orientadas na perspectiva de
―convivência com o semiárido‖. Nestas condições, as associações comunitárias
vêm desempenhando papel fundamental, pois se constituem em espaço de
discussão e socialização de informações e conhecimentos.

92
Quarto capítulo
A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E AS INFRA-ESTRUTURAS SOCIAL E
ECONÔMICA

Na atualidade inúmeros agricultores familiares têm dificuldades


no desenvolvimento de suas lavouras, atrelado a isto desde
anos o campo brasileiro vem se deparando com políticas
públicas que não lhes tem proporcionado ganhos satisfatórios
em suas produções (FRANCIS, 2009, p.79).

93
O entendimento de que a dinâmica social faz parte de um processo
complexo e contraditório possibilitou a apreensão da diversidade de ações, de
projetos, de estratégias e de trajetórias de luta existentes na área onde a
pesquisa foi realizada. Avaliar esse contexto é um passo fundamental para
entender a dinâmica social presente nos Assentamentos Rurais, uma vez que
eles ´´adquirem feições próprias em função da multiplicidade de variáveis
existentes no movimento da realidade, um permanente pulsar da historia‖
(SILVA; VIEIRA, 2008, p. 144).
Nesse sentido, são apresentadas, nos itens a seguir considerações
decorrentes das analises e interpretação dos dados obtidos com a aplicação
dos formulários de pesquisa (Apêndice A), com o objetivo de explicitar o perfil
socioeconômico dos sujeitos sociais pesquisados.

4.1. Local de residência e escolaridade

Os assentamentos representam uma transformação no tipo de relações


sociais nas quais estavam inseridas estas famílias; uma transformação na
forma de uso da terra; uma transformação das práticas de produção
agropecuária. Representa uma nova forma de produzir, um novo controle sobre
o tempo de trabalho, a realização de atividades que até então não faziam parte
de suas atribuições nas relações sociais anteriores. A redefinição das relações
sociais em torno da posse da terra pode ser compreendida como um ponto de
partida para a redefinição de um conjunto de outras práticas sociais.
Por meio do trabalho de campo, constatou-se que boa parte dos
informantes possui naturalidade do município de Remígio, uma vez que 74% já
viviam no município dos quais 51,0% residiam na área rural e 23% na área
urbana (gráfico 02). Os demais, isto é, 26% dos sujeitos pesquisados residiam
na área rural de outros municípios.

94
Gráfico 02 – Naturalidade dos Assentados

51%
26% 74% Natural de Remígio

Natural de outros municípios


23%
Residentes na área rural
Remígio
Residentes na área urbana
Remígio
Fonte: Pesquisa de Campo, 2011.
Adaptação: Clebiana Dantas Calixto

Os dados apresentados no gráfico 02 auxiliam na compreensão do


processo inicial de formação do assentamento, uma vez que a maioria dos
informantes são camponeses que se dedicaram a luta pela terra no município.
Em se tratando do acesso a terra e a formação do assentamento,
constatamos em entrevista que 21,75% dos entrevistados participaram de
reuniões para formação do assentamento. 39,13% ficaram acampados no
processo de posse pela terra e 8,69% participaram da ação de invasão. Um
fato que chamou atenção é pelo percentual de famílias que adquiriram seu lote
por meio de desistência de alguns assentados. Constatamos um percentual de
30,43% de famílias assentadas que conseguiram seu lote através de
desistência de outros assentados em permanecerem no assentamento (Gráfico
03).

95
Gráfico 03 – Formas de acesso a terra

50%
45%
40%
Reuniões
35%
30% Acampamentos
39,13% Invasão
25%
30,43%
20% Desistência
15% 21,75%
10%
8,69%
5%
0%

Fonte: Pesquisa de Campo


Adaptação: Clebiana Dantas Calixto

Com a compreensão de que a luta pela reforma agrária é também a luta


pelo direito à educação de qualidade vinculada à realidade do campo, os
movimentos sociais colocam em sua pauta de reivindicação a exigência
imediata de acesso à escolaridade,à moradia, à formação técnico-profissional
com o objetivo de garantir o direito fundamental à educação, ao conhecimento
e, consequentemente possibilitar a construção de alternativas de produção e
de vida nos assentamentos. Além disso, lutam para superar a concepção de
que o campo espaço do atraso, pautando a necessidade de uma política de
educação que incorporem no processo de formação educacional suas
especificidades: os valores, os conhecimentos, a sociabilidade, seus tempos...
Enfim... seu modo de vida.
Sendo assim, a educação do meio rural deve estar vinculada às
estratégias de desenvolvimento. Ela precisa ser uma educação diferenciada,
específica, isto é, alternativa, principalmente no que diz respeito ao processo
de formação humana que apresenta características culturais e políticas
daquela população. (KOLLING, 2002, p. 24).
Ainda de acordo com Kolling (2002), a educação rural está constituída
pela formação humana e por isso é necessário considerar as ações dos

96
sujeitos a partir dos próprios contextos de vida. Para esse autor, existe a
educação no campo caracterizada pelo acesso aos conhecimentos no meio
rural, ao passo que a educação do campo se relaciona ao direito de educar o
homem do campo, cuja reflexão político-pedagógica é elaborada a partir do seu
lugar de vida e da sua realidade.

A educação está relacionada com as propostas apresentadas na LDB -


Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB - (Lei 9394/96). De
acordo com Kolling (2002, p. 24), a educação básica do campo compreende
um dos níveis da educação escolar formada pela educação superior, pela
educação infantil, pelo ensino fundamental e pelo ensino médio que inclui
também a educação de jovens e de adultos (destinada às pessoas que não
tiveram acesso aos estudos no ensino fundamental e médio na idade
adequada) e a educação profissional.

Em relação à escolaridade, constatou-se que 85% dos informantes


possuem o ensino fundamental completo, 4% possuem o ensino médio
incompleto, 9% dos entrevistados são apenas alfabetizados e 2% ainda são
analfabetos (Gráfico 04).

Gráfico 04 – Escolaridade dos Assentados

2%
4% 9%

85%

Ensino Fundamental Completo


Ensino Médio Incompleto
Alfabetizados
Analfabetos

Fonte: Pesquisa de Campo


Adaptação: Clebiana Dantas Calixto

97
Segundo os assentados pesquisados, o elevado percentual de pessoas
com o ensino médio incompleto deve-se as dificuldades de deslocamento para
a cidade, pois o ensino médio só é ofertado na área urbana. Outros fatores que
foram apontados pelos informantes para a descontinuidade dos estudos, dentre
os quais destacam-se a árdua jornada de trabalho que os tornam indispostos
para freqüentar a escola no período noturno e às más condições das estradas,
que apresentam problemas sérios de trafegabilidade no período de estiagem, e
não permitem o tráfego de veículos no período chuvoso, por conta disso, a
maioria dos estudantes durante seis meses no ano de 2011 foram
prejudicados, onde não puderam freqüentar a escola.

Nessa perspectiva, Silva (2006, p.45) assevera:

A baixa escolaridade compromete o desenvolvimento


socioterritorial, dificulta a compreensão por parte da população
dos processos sociopolíticos, facilita a cooptação de atores
sociais por grupos políticos dominantes em épocas de eleição,
compromete o grau de reivindicação e de atuação na melhoria
das condições de vida, restringe as possibilidades de
qualificação profissional e dificulta o uso de mecanismos
participativos e de cidadania.

Aplicando-se esse pensamento à realidade educacional dos assentados


pesquisados, podemos afirmar que a baixa escolaridade verificada ao longo da
pesquisa decorre de um contexto de precariedade infraestrutural em seus mais
variados aspectos, como, por exemplo, o uso de metodologias que não são
capazes de atender às expectativas dos jovens estudantes, o que contribui
para elevados índices de evasão escolar.
Essa situação se torna ainda mais grave quando se trata de regiões nas
quais o baixo nível de escolaridade é um elemento que permite a permanência
da pobreza e favorece a reprodução do poder político, na medida em que as
pessoas se tornam mais vulneráveis frente às ações de cooptação. Isso não
nega a importância de algumas ações, que vêm sendo implementadas, visando
à melhoria dos níveis educacionais em diversos municípios brasileiros.

98
4.2. Trabalho e renda

Apesar da inconsistência das políticas governamentais para os


assentamentos, a curto e a médio prazos, o acesso a terra permite uma
reorganização social dessas famílias de trabalhadores rurais, por dois fatores:
a) a abertura de um espaço para a construção habitacional; e b) o aumento na
disponibilidade familiar de alimentos por meio da prática do autoconsumo.
Entretanto, é evidente que a renda monetária agropecuária constitui o principal
objetivo dessas famílias, pois ela permite atingir um padrão de vida que as
coloque claramente em uma situação de não-pobreza é, portanto, a geração da
renda agropecuária (BERGAMASCO, 1997).
A partir de meados da década de 80, a polêmica do cálculo da renda ou
da avaliação econômica dos assentamentos rurais tem sido motivo de diversas
pesquisas. A primeira delas, divulgada pelo BNDES em 1987, concluiu pelo
fracasso da reforma agrária no Brasil apontando que a maioria das famílias
assentadas tem renda inferior a dois salários mínimos, que há uma forte
concentração de renda entre elas e que parte significativa vive do trabalho
assalariado e não da renda dos lotes. A crítica à pesquisa do BNDES,
coordenada por Castro (1992), é de que os parâmetros por ele utilizados se
inserem em um contexto de "empresas rurais", deixando de lado
especificidades necessárias ao cálculo da renda em uma agricultura de base.
A renda é um dos indicadores sociais que também contribui para a
reprodução social. Ela tem sido analisada por nós, geógrafos, como um
elemento estruturante na condição humana. A questão é – e há muito já
sabemos disto – que o nível médio de renda de uma população é apenas um
dos indicadores de bem-estar e do poder aquisitivo de bens e serviços da
mesma. No entanto, faz-se necessário destacar que a renda não-monetária
(produção para auto-consumo e troca de alimentos, por exemplo) também
contribui para melhorar a vida dos assentados.
Na área estudada, os assentados dedicam-se à atividade agropecuária
no interior dos assentamentos. Os mesmos cultivam produtos alimentares e
criam alguns animais. Eles ainda complementam a renda por meio da venda
da força de trabalho, seja em atividades na cidade, como, por exemplo,
trabalhando em outros lotes do assentamento. A renda dos assentados

99
também provém de transferências governamentais. Estas transferências são
oriundas basicamente do programa Bolsa Família do governo federal, e de
aposentadorias, as quais têm contribuído para melhorar a condição de vida das
famílias assentadas.

4.2.1. Organização do trabalho e da produção

Os indicadores da organização do trabalho e da produção apontam


elementos para contextualizar a realização do trabalho, na medida em que
envolvem tanto os membros das famílias quanto a ajuda de parentes e amigos
nos períodos de colheitas.
A dimensão da organização do trabalho e da produção contém ainda
questões direcionadas para a produtividade, a eliminação dos atravessadores e
ao destino final da produção agropecuária que é direcionada para o consumo
interno e para o mercado. Os membros das famílias participam de todas as
etapas da produção, tanto os homens quanto as mulheres e até algumas
crianças que dividem o dia entre a escola e o trabalho.
Além da palma e do algodão, o feijão, o milho, a macaxeira, o amendoim
e a batata doce são outros produtos cultivados no assentamento. A
comercialização dos produtos ocorre aos domingos na feira livre da cidade de
Remígio. Sobre essa comercialização, ouvimos de um dos assentados o
seguinte depoimento:

A gente vende os produtos na feira, mas só se tiver preço. Uma


parte a gente guarda a semente para o outro ano. Outra parte é
para o consumo da casa. Agente faz banco de semente em
garrafa pet (Assentado Mário Pereira, Agosto de 2011).

Há também as hortas individuais com cultivos agroecológicos de


coentro, cebolinha, alface, pimentão, tomates, legumes. Sobre as práticas
agroecológicas e a não utilização de produtos químicos nas lavouras, um dos
assentados revelou que:

No assentamento desenvolvemos uma prática agroecológica.


Aqui ninguém usa veneno. Eu não tenho conhecimento. Pode
até ser que alguém use. Utilizar o veneno é como um vício que
a pessoa pega. Tem uma pessoa que disse que tomate precisa
de veneno. Nós plantamos setenta pés de tomate. Não usei

100
veneno e não deu bicho nenhum (Assentado Mário Pereira,
Agosto de 2011).

Quanto à atividade pecuária esta é pouco desenvolvida, pois os animais


criados pelas famílias assentadas são em geral algumas cabeças de gado
(fotografia 12), como bois utilizados nas atividades agrícolas e vacas de leite
para ajudar na alimentação da família.

Fotografia 12 - Criação de gado

Fonte: Pesquisa de campo, Janeiro de 2011.


Acervo: Anieres Barbosa da Silva.

A criação de animais de pequeno porte foi uma ação de grande êxito


dentro do Assentamento. Esta ação teve a colaboração do Comitê Nacional de
Entidades no Combate a Fome pela Vida – COEP, que criou em 2000 o
programa de repasses e entrega de matrizes de caprinos e ovinos. Foram
distribuídas 24 matrizes sem raça definida (SRD) de ovinos e um reprodutor
puro de origem (PO) da raça Santa Inês (fotografia 13) com a finalidade de
melhorar o rebanho. Foram contempladas 8 famílias com três matrizes cada,
sendo que os beneficiados se comprometeram a repassar as três primeiras
crias fêmeas para outra família já inscrita no programa, beneficiando assim
toda a comunidade e fortalecendo o associativismo.

101
Fotografia 13 - Criação de Ovelhas

Fonte: Pesquisa de campo, Janeiro de 2011.


Acervo: Clebiana Dantas Calixto.

4.3. Condição de moradia

Nos assentamentos rurais, as casas estão dispostas sob a forma de


agrovilas ou construções individuais nos lotes. A casa construída
individualmente em cada lote é o modo característico da distribuição das
moradias no assentamento Queimadas.
As habitações foram construídas por meio de recursos oriundos de
créditos rurais ou de recursos. Segundo Leal (2003), a moradia é o local onde
os assentados se protegem das intempéries climáticas e também um espaço
de socialização política em que as famílias se reúnem, fazem festas e celebram
missas.
Na dimensão moradia, os indicadores também estão relacionados com o
meio ambiente, porque a habitação é a primeira benfeitoria realizada pela
família no lote. Por isso, deve ser localizada e construída em local adequado
para evitar problemas de contaminação do lençol freático e de cursos de água.

102
Num primeiro momento, quando as famílias recebem os lotes, as
moradias são construídas de lona ou madeira, mas, após a consolidação das
atividades produtivas (período de 3 a 5 anos), geralmente a casa passa a ser
construída de alvenaria (LEAL, 2003).
No assentamento ora estudado pudemos constatar que dos 45
entrevistados todos possuem moradia própria. A alvenaria é o tipo de
construção mais comum com exceção de um tipo de moradia encontrada
durante nossa pesquisa. Trata-se de uma casa de taipa que foi construída para
abrigar outra família que passou a residir dentro do mesmo lote, como pode ser
visto na fotografia 14.

Fotografia 14 - Casa de taipa construída ao lado da moradia principal

Fonte: Pesquisa de campo, Janeiro de 2011.


Acervo: Anieres Barbosa da Silva.

Em se tratando da quantidade de cômodos das casas, estas possuem


entre 04 e 07 cômodos. Em entrevista, foi constatado que os assentados
demonstram grande satisfação com esse espaço, pois o mais importante para
eles não são as casas em si, mas as condições de vida que adquiriram
através do conjunto: terra-trabalho-moradia.
Além da estrutura física das casas também foi constatado a presença de
elementos que podem proporcionar certo conforto e comodidade doméstica

103
aos assentados. Quanto aos principais utensílios, a televisão é encontrada nas
casas de todas as famílias entrevistadas. A antena parabólica é outro item que
está presente em 87% das casas dos entrevistados. O fogão a gás, a geladeira
e o rádio estão presentes em todas as residências visitadas. O computador
está presente em apenas 2% e o aparelho de DVD em 68% das residências. A
presença desses bens de consumo atestam a melhoria das condições de vida
das famílias assentadas.

4.4. Fonte de abastecimento e armazenamento d’água

Quanto à fonte de abastecimento de água no Assentamento Queimadas,


se detectou realidades diferentes em toda a área territorial do assentamento,
levando em conta, um fator natural que caracteriza o assentamento como uma
área que integra o semiárido. Nas áreas próximas ao município de Remígio a
existência de açudes possibilita o abastecimento das cisternas e das
residências dos assentados por meio de caminhão pipa. Segundo os
assentados, a escassez de chuvas não possibilita a captação de água nas
cisternas com a quantidade necessária para suprir a necessidade da família.
Essa situação se torna ainda mais complicada quando se trata das áreas
onde o acesso aos lotes é mais difícil, tendo em vista a precariedade das
estradas. Os assentados que residem nessas áreas revelaram que até mesmo
no período de estiagem não conseguem ser abastecidos com o caminhão pipa.
Assim, as famílias que residem nessas áreas apresentam uma situação
econômica mais precária, pois as pessoas tem que se deslocarem a distâncias
consideráveis para conseguirem água nos açudes, tanques, ou cisternas
existentes em lotes de terceiros, ou ainda comprar esse bem natural.
Quanto à fonte de abastecimento de água, constatamos que 60% dos
assentados são abastecidos pelo caminhão pipa, 18% utiliza a água de
açudes, 15% utilizam a água dos tanques de pedras e 7% dos assentados
compram água de seus vizinhos. Esses dados podem ser visualizados no
gráfico 05.

104
Gráfico 05 – Fonte de abastecimento D‘água

7%
Compra Água

Tanques de Pedra 15%

60%
Caminhão

Açude 18%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Fonte: Pesquisa de Campo


Adaptação: Clebiana Dantas Calixto

4.5. Uso do crédito e investimentos na produção

O crédito agrícola é importante na formação das pequenas unidades de


produção, porque os assentados recebem os recursos para investir em
melhorias nos lotes.
A liberação do crédito agrícola é um elemento importante na estrutura e
na organização da produção agropecuária nos assentamentos, pois com os
recursos do crédito, os assentados realizam investimentos nos lotes,
constroem cercas, compram matrizes leiteiras, preparam o solo para o cultivo.
Enfim, desenvolvem atividades produtivas nos lotes.
De acordo com os dados obtidos por meio da pesquisa de campo, esse
acesso ao crédito começou a ser realizado a partir do ano de 2003, quando um
número expressivo de assentados teve acesso as linhas de crédito do Pronaf
na área Investimento e Custeio (Gráfico 06). No entanto, segundo opinião
emitida por um assentado vários agricultores não conseguiram o crédito devido

105
à burocracias ou porque tiveram receio de assumir a condição de
endividamento.

Gráfico 06- Acesso ao crédito

60%
54%

50%

40%
35%
30%

20%
15%
10%

0%
5%
Ponaf Investimento
-10% Pronaf Custeio
Não Conseguiram
Aprovação do Tiveram Medo de se
Crédito Endividar

Fonte: Pesquisa de Campo


Adaptação: Clebiana Dantas Calixto

Cabe acrescentar que a inadimplência do Pronaf é um fato existente no


Assentamento como afirma o presidente da Associação dos Pequenos
produtores rurais do Assentamento. Segundo ele, o aumento da inadimplência
se dá por falta da aplicação do crédito previsto, ou seja:

Não há uma aplicação correta dos recursos destinados ao


campo, mas sim um desvio de dinheiro para outros fins. Isso
faz com que o município como um todo perca recursos onde
poderiam ser executadas obras, compras de equipamentos,
além de serviços que beneficiaria o povo. (Depoimento do
assentado João Batista em Agosto de 2011).

106
Assim, na perspectiva de Silva e Vieira (2008), a aquisição do crédito
está processando uma melhoria das condições sociais, sobretudo daqueles
que aplicam corretamente o crédito, faz-se necessário acrescentar que
mudanças capazes de reverter à precariedade socioeconômica em que vive
uma parcela expressiva de agricultores exigem intervenções mais profundas e
período de tempo de atuação maior.

107
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões feitas até então, nos permitem compreender que no Brasil,


a ocupação tornou-se uma importante forma de acesso a terra. Nas últimas
décadas, ocupar latifúndios tem sido a principal ação da luta pela terra. Por
meio das ocupações, os sem-terra espacializam a luta, conquistam a terra e
territorializam o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Os assentamentos são espaços que iniciam uma nova dinâmica de
apropriação do espaço ao promoverem um rearranjo do processo produtivo. As
mudanças provocadas pelos assentamentos são perceptíveis pela substituição
de grandes propriedades rurais por pequenas unidades de produção
plurifuncionais, na dinamização da economia local, na geração de emprego e
renda, entre outros.
Sob esta perspectiva, o MST, assim como os assentamentos, abarcam
tanto uma dimensão territorial, quanto social. Ao universalizar a questão da
terra no território nacional, reunindo agentes desterritorializados na luta por sua
reterritorialização, reconhece os resultados nocivos da lógica produtivista.
Reconhecer as implicações sociais do modo de produção capitalista implica em
não apenas resolver o problema de acesso a terra, como construir uma nova
territorialidade no espaço rural que garanta a permanência do homem no
campo, sua qualidade de vida e a conservação do ambiente.
Os assentamentos rurais brasileiros representam, sob o ponto de vista
das famílias hoje assentadas, uma nova forma de produzir, um novo controle
sobre o tempo de trabalho, a realização de atividades que até então não faziam
parte de suas atribuições nas relações sociais anteriores. A redefinição das
relações sociais em torno da posse da terra pode ser compreendida como
ponto de partida na redefinição de um conjunto de outras práticas sociais.
Isso aponta para a necessidade de observação sistemática das novas
relações com o mercado e com muitas outras instituições envolvidas na
produção agropecuária. Na parceria, no arrendamento e, principalmente, no
trabalho assalariado, as diversas atividades que compõem o processo
produtivo eram até então controladas pelo fazendeiro/proprietário fundiário.
Agora, passam ao controle direto dos agricultores assentados.

108
Estas alterações socioculturais e econômico-institucionais, no entanto,
nem sempre contam com um adequado suporte das políticas públicas, uma
decorrência das próprias relações de forças políticas presentes no interior do
Estado. Assim, a construção/reconstrução das relações sociais adquire um
caráter histórico (BERGAMASCO, 1997).
O Assentamento Queimadas caracteriza-se como espaço de conquista
da luta pela terra, como também de produção agropecuária. A área do
Assentamento abarca experiências e vivências nas relações duais
homem/meio, capital social/capital econômico, política/agricultura, do mesmo
modo que a espacialidade representativa da materialidade do homem, já que a
área de produção agrícola é considerada o lugar onde os assentados
estabelecem relações uns com os outros, produzindo e recriando gêneros que
na vida social, transformam-se em mercadorias.
A área pesquisada representa, ainda, a expressão das territorialidades
camponesas por meio das diversas estratégias utilizadas pelas famílias para
garantirem sua reprodução social. Atualmente, o assentamento apresenta uma
organização socioprodutiva baseada na produção familiar, onde cada família,
em seu lote, pode produzir tanto individualmente quanto coletivamente.
Com isso, percebe-se que os camponeses estão buscando caminhos
alternativos para permanência na terra com a adoção de tecnologias
apropriadas ao local e orientadas na perspectiva de ―convivência com o
semiárido‖. Nestas condições, as associações comunitárias dos pequenos
produtores rurais desempenha papel fundamental, pois se constituem em
espaço de discussão e socialização de informações e conhecimentos.
Mas, vale ressaltar que em termos de políticas públicas o campo
brasileiro ainda carece de mudanças significativas para o alcance de um
desenvolvimento rural, de modo que este deve merecer atenção do atual
governo para que as medidas postas em prática possam conciliar de fato
crescimento econômico com desenvolvimento.
Nesse sentido, percebe-se que os assentamentos geralmente ocupam
áreas que apresentam condições estruturais precárias, que demandam
investimentos imediatos para se tornarem minimamente cultiváveis. Dadas
estas peculiaridades e demandas, a aceitação das condições de contrato do
crédito convencional é impraticável para estes agricultores. A instituição de
109
subsídios às taxas de juros e aos custos operacionais e a criação de condições
especiais de pagamento, com prazos de carência mais longos, surgem como
alternativas que vêm sendo utilizadas pelos programas oficiais, com o objetivo
de custear a produção e, associado ao investimento público na melhoria da
infraestrutura dos assentamentos, gerar renda e condições de reprodução e
inovação sócioeconômica para os agricultores assentados.
O Assentamento Queimadas também apresentava essas condições,
pois segundo relatos de assentados, a antiga Fazenda Queimadas foi
produtora de várias culturas como o café, a cana-de-açúcar, o milho, o agave,
o algodão e o fumo. Devido ao uso intensivo, a área em estudo apresenta
espaços onde o solo encontra-se praticamente esgotado, sendo necessário
investimento para recuperá-lo e possibilitar ao assentado condições para que
ele possa produzir em seu espaço.
É neste sentido que, no plano macroeconômico, as políticas de crédito
se associam a estratégias e políticas públicas de desenvolvimento rural e de
redução da pobreza no campo. Deste ambiente formativo das políticas públicas
de crédito rural surgem várias questões sobre suas concepções, objetivos e
institucionalidade operativa.
O contexto de surgimento do Programa Nacional de fortalecimento de
Agricultura familiar (PRONAF), em meados dos anos de 1990, foi marcado pela
intensa mobilização dos movimentos sociais e organizações de trabalhadores
rurais que buscavam acesso a terra e melhores condições de permanência
produtiva no campo, reivindicando ações governamentais favoráveis à reforma
agrária, o que envolvia, dentre outras demandas, a questão do crédito rural.
Quanto ao acesso ao crédito rural no Assentamento Queimadas,
constatou-se que um número expressivo de assentados teve acesso as linhas
de crédito do Pronaf na área Investimento e Custeio.
Assim, Apesar da inconsistência das políticas governamentais para os
assentamentos a curto e a médio prazos, o acesso à terra permite uma
reorganização social para as famílias de trabalhadores rurais pela abertura de
um espaço para a construção habitacional e o aumento na disponibilidade
familiar de alimentos por meio da prática do autoconsumo.

110
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119
APÊNDICE A

FORMULÁRIO DE PESQUISA APLICADO NO


ASSENTAMENTO QUEIMADAS
INSTRUMENTO PARA COLETA DE INFORMAÇÕES JUNTO AOS
ASSENTADOS DO ASSENTAMENTO QUEIMADAS EM REMÍGIO – PB

IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO

Nome do Assentado:_________________________________________ Sexo: F( )


M( )

Idade:________ Estado Civil: _________________ Naturalidade: ______________

01. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

1.1 Renda ______________ 1.2 Grau de escolaridade _____________________

1.3. Condição de moradia

( ) Própria ( ) Alugada

( ) Arrendada ( ) Outro. Qual?


_______________________________________________

1.4. Tipo de Construção

( ) Taipa ( ) Alvenaria

( ) Madeira ( ) Outro.
Qual?_____________________________________________

1.5. Infraestrutura da moradia

Dispõe de água encanada? ( ) Sim ( ) Não

Dispõe de energia elétrica? ( ) Sim ( ) Não

Quantos cômodos tem o imóvel?

( ) Até 03

( ) De 04 a 07

( ) Mais de o7

1.6. Bens de Consumo

Possui transporte próprio? ( ) Sim ( ) Não

Eletrodomésticos que possui

( ) Fogão ( ) Computador

121
( ) Geladeira ( ) Antena parabólica

( ) Televisão ( ) Rádio

( ) DVD ( ) Freezer ( ) Outros

1.7. Fonte de abastecimento d’água

( ) Açude ( ) Cacimba

( ) Poço ( ) Caminhão pipa ( ) Outro

1.8. Fonte de armazenamento d’água

( ) Cisterna ( ) Tanque

( ) Caixa d’água ( ) Tambor

1.9. Destino do lixo

( ) Enterrado ( ) Reciclado

( ) Queimado ( ) Descartado livremente

( ) Coletado pela Prefeitura ( ) Outro

02. ACESSO A TERRA

2.1. Antes de ser assentado, o Sr(a) já havia trabalhado na agricultura?

( ) Sim ( ) Não

2.2.Como o (a) Sr(a) participou na luta pela terra para a formação do


assentamento?

( ) Reuniões ( ) Invasão da propriedade

( ) Acampamentos ( ) Outros
_________________________________________________

2.3. Qual a área de seu lote?____________________________________

2.4. Quantas pessoas trabalham em seu lote? _________

2.5. Quantas pessoas residem em seu lote?

( ) Até 03

( ) De 04 a 06

( ) De 07 a 09

( ) Mais de 10

122
2.6. Sua vida melhorou depois que teve acesso ao lote?

( ) Sim.
Porquê?______________________________________________________________

( ) Não.
Porquê?_____________________________________________________________

03. FINANCIAMENTO E INFRAESTRUTURA

Acesso ao crédito

3.1. O (A) Sr (a) teve acesso a algum crédito após a formação do assentamento?

( ) Sim ( ) Não. Por quê?


______________________________________________________

3.2 Em que ano? ______________

3.3. Qual o valor do crédito?____________

3.4. Em que utilizou os recursos?


______________________________________________________________________

3.5 Fonte do crédito:

( ) PRONAF CUSTEIO

( )PRONAF INVESTIMENTO

( ) PROCERA

( )COOPERATIVA

( ) Outros. Quais?_____________________________________________________

04. ATIVIDADES ECONÔMICAS

4.1. Produção e comercialização

Quais produtos agrícolas são cultivados no lote?


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

Qual o destino da produção?

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

123
Quais os tipos de animal são criados na propriedade?

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

Qual o destino da produção?

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

Desenvolve práticas agroecológicas?

( ) Sim. Quais produtos são


cultivados?_____________________________________________________________

Qual o destino da produção?


______________________________________________________________________

( ) Não. Por
quê?__________________________________________________________________

4.2. O Sr.(a) produz em área coletiva do Assentamento?

( ) Sim. Quais produtos são


cultivados?_____________________________________________________________

( ) Não. Por
quê?__________________________________________________________________

4.3. Recebe algum tipo de assistência técnica?

( ) Sim. Por quê?

( ) Não. Por quê?

( ) Em parte

4.4. O Sr.(a) trabalha fora do assentamento?

( ) Sim. Onde? Que atividades desenvolve?


______________________________________________________________________

( ) Não.
Porquê?_______________________________________________________________

124
0.5. ASPECTOS SOCIOPOLÍTICOS

5.1. Sindicalizado?

( ) Sim. Qual o sindicato?


______________________________________________________________________

( ) Não

5.2. Participa de Associação?

( ) Sim. Qual a Associação?


______________________________________________________________________

( ) Não

5.3. Cooperativado?

( ) Sim. Qual cooperativa?


______________________________________________________________________

( ) Não

5.4. Participa de ONG?

( ) Sim. Qual ?
______________________________________________________________________

( ) Não

125

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