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oportunidades da economia
Em reunião com um empresário que lhe falou do mal-estar entre seus pares sobre o rumo
da economia, o ex-presidente Lula foi preciso na análise. A Vale e a Petrobras, disse ele,
segundo seu interlocutor, precisam recuperar valor de mercado, e ser encaminhado o
problema dos investimentos em infraestrutura do grupo EBX, de Eike Batista.
Os três grupos são o carro-chefe da bolsa brasileira, que desabou na grande crise
mundial de 2008 e nunca mais recuperou a posição de vitrine da economia. No final do
ano passado, a capitalização total da BM&FBovespa, medida em dólares, US$ 1,227
trilhão, ainda estava 10,4% abaixo de seu recorde em 2007. A capitalização total no
mundo (US$ 54,6 trilhões) estava 6,7% abaixo do pico em outubro de 2007.
Mas enquanto em 2012 o valor de mercado total das empresas abertas no mundo
cresceu 24,4% em dólar – 19,2% apenas nos EUA -, no Brasil houve uma queda de 0,1%,
basicamente atribuída à Petrobras. Segundo pesquisa da Economática, divulgada no
seminário promovido pelo PSDB esta semana para discutir a Petrobras, as ações da
estatal tiveram uma perda de valor de mercado de 47,15% do fim de 2010 a fevereiro
passado – uma desvalorização em dinheiro de R$ 179,3 bilhões.
O que se esquece, diz Julio Sérgio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e consultor
do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, é que a bolsa não só expressa
o sentimento do mercado em relação à economia, mas também serve de referência ao
empresário sobre o valor aproximado de seus negócios. Uma bolsa que só cai não atrai o
capitalista aos prazeres da mesa da economia.
É neste sentido, provavelmente, a intuição do ex-presidente: se as empresas
responsáveis pelos maiores investimentos em curso no país, portanto, de maior
visibilidade, vão mal, a percepção também tende a ser ruim, contaminando toda a
economia. Isso se resolve atacando os problemas objetivos enfrentados por tais grupos.
Mas não só.
A comunicação obstruída
O termômetro do capital
O desempenho da bolsa tem sido sofrível. Já acumula queda de 9,3% este ano, a 57.385
pontos. O detalhe é que há uma correlação alta entre a valorização do índice da bolsa, o
Ibovespa, e a evolução da taxa de formação bruta de capital fixo, vulgo investimento.
Pode-se dizer que a bolsa é como um termômetro da confiança empresarial.
Onde está pegando, se, como dizem autoridades do governo, se fez quase tudo em favor
dos negócios: queda dos juros, depreciação do câmbio, desoneração de impostos e de
energia? E pouco se alterou a disposição empresarial para investir. É onde entram a
bolsa e a tal interlocução com o empresariado.
“A Dilma é muito hard”, segundo um líder empresarial com acesso ao Palácio. “Ela
deveria também saber trabalhar com os símbolos do mercado, assim como faz em
relação às medidas de cunho social, e não só com o conteúdo das decisões.”
Pode ser. Fato é que a falta de jeito tirou de reformas relevantes o brilho da intenção,
como se deu com a corte da conta de luz. Não era contra o empresariado, e acabou
digerido como agressão a normas contratuais pela forma impositiva e abrupta da decisão.
Fosse feita com negociação, não haveria queima de valor das empresas elétricas. E a
bolsa teria subido, levando junto Petrobras, Vale e tudo mais.
A desindexação do CDI
Tais questões entre a intenção e prática merecem ser estudadas com carinho, já que
começa a despontar outra reforma importante, e com potencial de arrumar confusão, se
mal conduzida: a desindexação das operações financeiras. Elas hoje acompanham o CDI
e passariam a se basear em contratos futuros, negociados na BM&F, da taxa Selic.
Trata-se, verdadeiramente, de uma reforma estrutural, tão ou mais séria que a queda da
taxa básica de juro. Ela implica um regime de juros flutuantes, como há nos EUA e na
Europa, e, segundo estudos iniciais, deve afetar o resultado dos bancos.
Há duas formas para conduzir a questão: tratá-la como consenso entre o Banco Central e
a banca, e assim tem sido, ou privilegiar o retorno político, como tivesse saído a fórceps.
A aprovação do governo subiria numa ordem inversa à da confiança empresarial. E
dificultaria o desdobramento da medida, como a desindexação de tarifas públicas e de
aluguéis.