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DIREITO AMBIENTAL
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Daniella Fernandes Haruze Manta
Flávia Mello Magrini
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Leonardo Ramos de Oliveira Campanini
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Oliveira, Fabiano Melo Gonçalves Alves de
O48d Direito ambiental/ Fabiano Melo Gonçalves Alves de
Oliveira, Fernanda Camargo Penteado – Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018.
78 p.
ISBN 978-85-522-1045-0

1. Meio ambiente. 2. Direito ambiental. 3. Tutela coletiva. I.


Oliveira, Fabiano Melo Gonçalves Alves de. II. Penteado,
Fernanda Camargo. Título.
CDD 340

Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2018
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DIREITO AMBIENTAL

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 04

Tema 01 – Recursos Naturais: Política Nacional do Meio Ambiente e


responsabilidades administrativa, civil e criminal 05

Tema 02 – Cobertura Vegetal e Sistema Nacional de Gerenciamento de


Recursos Hídricos 35

Tema 03 – Política Nacional de Gerenciamento de Resíduos Sólidos 63

Tema 04 – Licenciamento Ambiental, Licenças Ambientais e


Estudo Prévio de Impacto Ambiental 86

Direito Ambiental 3
Apresentação da disciplina

Nessa disciplina será tratada, em um primeiro momento, a análise da Lei n.


6.938/81, seus objetivos, princípios e instrumentos, além do estudo da es-
trutura e composição do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA),
que constitui de uma rede de instituições e órgãos criados com a finali-
dade de dar cumprimento ao princípio matriz esculpido no art. 225, da
CF/88. Em seguida, uma análise dos principais aspectos concernentes às
responsabilidades civil, penal e administrativa.

4 Direito Ambiental
TEMA 01
RECURSOS NATURAIS: POLÍTICA
NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
E RESPONSABILIDADES
ADMINISTRATIVA, CIVIL E CRIMINAL

Objetivos

• Entender e contextualizar a concepção da Política


Nacional do Meio Ambiente, com seus princípios,
objetivos e instrumentos;

• Compreender o organograma institucional do Sistema


Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA);

• Analisar as esferas de responsabilidade por danos


ambientais;

• Articular a aplicação das responsabilidades civil, penal


e administrativa.

5 Direito Ambiental
Introdução

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fun-


damental de terceira dimensão (MELO, 2016), previsto no art. 225, caput,
da Constituição Federal (CF/88).
Com efeito, até o advento da CF/88, a proteção ambiental no Brasil as-
sentava-se fundamentalmente na Lei n. 6.938/81, que instituiu a Política
e o Sistema Nacional do Meio Ambiente, com seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, inclusive prevendo a possibilidade de responsabi-
lização civil objetiva do poluidor. Esse diploma foi recepcionado pela nova
ordem constitucional, e desde sua formulação tem sido o referencial mais
importante na proteção ambiental.
Outro diploma que merece atenção é a Lei n. 9.605/98, em que o meio
ambiente passou a ser tutelado penal e administrativamente. Registre-se
nos termos do art. 225, § 3º, da CF/88, que o poluidor, pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado, poderá ser responsabilizado penal,
civil e administrativamente pela prática de danos ambientais.
A Lei n. 9.605/98 constitui em um mini-código penal ambiental, que se
divide em: parte geral (art. 1º ao art. 28) e parte especial (art. 29 ao 69-A).
Uma importante característica dessa lei é a preocupação com a reparação
ou menos compensação do dano ambiental. Traz, ademais, a possibilida-
de de responsabilização penal da pessoa jurídica, pela prática de crimes
ambientais; a competência para processar e julgar os crimes ambientais;
os crimes e penas aplicáveis ao infrator pessoa física ou jurídica; e, por
fim será procedida uma análise da aplicação do princípio da bagatela ou
insignificância nos crimes ambientais.
Não obstante a Lei n. 9.605/98 ter previsto entre seus artigos 70 a 76
normas a respeito das infrações administrativas ambientais, o procedi-
mento e as sanções aplicáveis não foram contemplados. Essa regulamen-
tação ocorreu somente em 22 de julho de 2008, por meio do Decreto n.
6.514/08, que revogou as demais normas que regulamentavam a Lei n.
9.605/98, no que diz respeito à responsabilização administrativa.

6 Direito Ambiental
1. Política Nacional do Meio Ambiente

Diante da complexidade dos recursos ambientais, bem como dos meios


para a sua efetiva proteção, surgiu a necessidade de criar e desenvolver
diretrizes para instrumentalizar o objetivo maior a ser perseguido, qual
seja, a defesa e proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Dentro deste contexto e impulsionada pelo movimento ambientalista da


década de 70, foi elaborada durante o regime militar a Lei n. 6.938/81,
conhecida como a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que
se reveste do diploma ambiental mais importante em nível infraconstitu-
cional. Sua importância reside em traçar toda a sistemática necessária à
aplicação da política ambiental (conceitos básicos, objetivos, princípios,
instrumentos, órgãos, responsabilização, dentre outros), o que não exis-
tia anteriormente a sua vigência.

Segundo Antunes (2017, p. 65), a Política Nacional do Meio Ambiente “[...]


deve ser compreendida como o conjunto de instrumentos legais, técni-
cos, científicos, políticos e econômicos destinados à promoção do desen-
volvimento sustentado da sociedade e economias brasileiras”.

A Lei n. 6.938/81 também foi responsável pela criação de uma comple-


xa rede institucional que compõe o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SINAMA), conforme disposto no art. 6º, da Lei n. 6.938/81.

1.1. Princípios da Política Nacional

Os princípios norteadores das ações previstas na PNMA, estão arrolados


no art. 2º, inciso I a X, da Lei n. 6.938/81, são eles:

a) ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, conside-


rando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessaria-
mente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

Direito Ambiental 7
b) racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
c) planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
d) proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
e) controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
f) incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
g) acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
h) recuperação de áreas degradadas;
i) proteção de áreas ameaçadas de degradação;
j) educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação
da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na de-
fesa do meio ambiente.

1.2. Objetivos da Política Nacional

A PNMA tem por objetivo geral a preservação, melhoria e recuperação


da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar no País, con-
dições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana (art. 2º, caput, da Lei
n. 6.938/81).

Dentre os objetivos gerais da PNMA se inseriu a acepção “interesses da


segurança nacional”, devido ao momento histórico da edição da Lei n.
6.938/81, qual seja, o regime militar (MELO, 2017).

Com efeito, os objetivos gerais somente poderão ser alcançados através


do cumprimento dos objetivos específicos arrolados no at. 4º, da Lei n.
6.938/81:
a) à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a pre-
servação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
b) à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qua-
lidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União,
dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

8 Direito Ambiental
c) ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de
normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
d) ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orienta-
das para o uso racional de recursos ambientais;
e) à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação
de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência
pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e
do equilíbrio ecológico;
f) à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a
manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
g) à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/
ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela uti-
lização de recursos ambientais com fins econômicos.

Os objetivos têm por escopo dar efetividade ao princípio do desenvolvi-


mento sustentável previsto no art. 225, caput, da Constituição Federal,
que busca, de um lado, a harmonização da proteção do meio ambiente e,
do outro, o desenvolvimento socioeconômico, com o fito de garantir que
as futuras gerações possam gozar da mesma ou melhor qualidade am-
biental usufruída hoje (SIRVINSKAS, 2017).

1.3. Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente

Os instrumentos da PNMA estão arrolados no art. 9º, inciso I a VII, da Lei


n. 6.938/81, e têm por finalidade dar efetividade aos objetivos da PNMA.
São eles:

1.3.1. Padrões de qualidade ambiental

São normas instituídas pelo Poder Público, através do órgão competente,


para fixação dos limites máximos permitidos para garantir a manutenção
da qualidade ambiental, relacionados à poluição do ar, água, solo e visual,
além da emissão de ruídos no meio ambiente.

Direito Ambiental 9
1.3.2. Zoneamento ambiental

“Zoneamento é uma expressão que significa, em termos objetivos, o uso e


a ocupação territorial, incluindo a utilização dos recursos ambientais. Daí a
menção a zoneamento urbano, agrícola, industrial, etc.” (MELO, 2017, p. 143).
O objetivo deste instrumento é evitar a ocupação do solo de maneira de-
sordenada e é o Poder Público que estabelece os critérios básicos para a
ocupação do solo por meio de leis ou regulamentos.
O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) foi instituído pelo Decreto n.
4.297/02, que por sua vez regulamentou o art. 9º, II, da Lei n. 6.938/81,
constituindo um dos instrumentos da PNMA. Trata-se de um meio de or-
ganização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de
planos, obras e atividades públicas e privadas, o qual estabelece medidas
e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade am-
biental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversida-
de, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições
de vida da população (art. 2º, do Decreto n. 4.297/02).

1.3.3. Avaliação de impactos ambientais (AIA)

A AIA é um instrumento de gestão ambiental aplicável a atividades e em-


preendimentos que, efetiva ou potencialmente, possam causar polui-
ção ou degradação ambiental, e nos termos do art. 1º, III, da Resolução
Conama n. 237/97, pode ser definida como “todos e quaisquer estudo
relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação,
operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresenta-
do como subsídio para a análise de licença requerida, tais como: relatório
ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental pre-
liminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação
de área degradada e análise preliminar de risco”.
Não se deve confundir a AIA com o Estudo Prévio de Impacto Ambiental
(EIA), pois o AIA é gênero que inclui o EIA como uma de suas espécies
(MELO, 2017).

10 Direito Ambiental
1.3.4. Licenciamento ambiental e a sua revisão

Considera-se licenciamento ambiental “o procedimento administrativo des-


tinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental” (art. 2º, I, da LC n. 140/2011).
O licenciamento ambiental materializa o princípio da prevenção, pois é
mediante o adequado licenciamento que se busca evitar a ocorrência de
danos ambientais.

1.3.5. Incentivos à produção e instalação de equipamentos e à criação ou


absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade
ambiental
Este instrumento guarda relação com o art. 9º, I, da Lei n. 6.938/81, pois com-
pete às empresas com fundamento no art. 170, VI, da CF/88, adotarem ou
instalarem equipamentos com a finalidade de respeitar os padrões de quali-
dade ambiental, visando garantir o princípio do desenvolvimento sustentável.
Por esse instrumento, poderão ser concedidos incentivos fiscais e econô-
micos pelo Poder Público, a fim de que a iniciativa privada efetue a instala-
ção de equipamentos mais eficientes, com adoção de tecnologias limpas,
de forma a minimizar os riscos da atividade e a ocorrência de degradação
ambiental (MELO, 2017).

PARA SABER MAIS


Há inúmeras patentes verdes aprovadas e em aprovação, pe-
rante o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI),
viáveis para a implantação imediata nas empresas causado-
ras de degradação ambiental. Tais tecnologias podem auxi-
liar para minimizar o aquecimento global, bem como os pro-
cessos de certificação de produtos limpos ou não poluentes,
tais como ISO 9000 e ISO 14000.
Para conhecer mais, acesse o link: <http://www.inpi.gov.br/
menu-servicos/patente/patentes-verdes-v2.0>.
Acesso em: 30 ago. 2018.

Direito Ambiental 11
1.3.6. Criação de espaços territoriais especialmente protegidos

Estes espaços abrangem as áreas de preservação permanente (APP), as


reservas legais e, em especial, as unidades de conservação. As APP’s e as
reservas legais encontram-se regulamentadas pelo Código Florestal (Lei
n. 12.651/12) e as unidades de conservação pela Lei n. 9.985/00.

1.3.7. Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (SINIMA)

Esse instrumento decorre do princípio da informação ambiental e atra-


vés dele pretende-se organizar, centralizar e divulgar informações am-
bientais dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA), nos três níveis de governo.
O Cadastro Ambiental Rural (CAR), criado pelo Código Florestal (Lei n.
12.651/12), foi instituído no âmbito do SINIMA, e é um registro público
eletrônico de âmbito nacional, que tem a finalidade de integrar informa-
ções ambientais das propriedades e posses rurais, compondo-se de base
de dados para controle, monitoramento, combate ao desmatamento e
planejamento ambiental e econômico. É obrigatório para todos os imó-
veis rurais do país.

1.3.8. Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa


Ambiental

Nos termos do art. 17, I, da Lei n. 6.938/81, refere-se ao “[...] registro obri-
gatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à consultoria técni-
ca sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de
equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de ativi-
dades efetiva ou potencialmente poluidoras”. É administrado pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Nas palavras de Milaré (2007, p. 448): “o cadastro é um censo ambiental,
destinado a conhecer os profissionais e suas técnicas e tecnologias am-
bientais, subsidiando o SINIMA. Sua renovação ocorre a cada dois anos,
sob pena de multa”.

12 Direito Ambiental
1.3.9. Penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento
das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental

São fruto do poder de polícia ambiental e encontram-se disciplinadas na


Lei n. 9.605/98 e regulamentadas pelo Decreto n. 6.514/08. As penalida-
des disciplinares ou compensatórias descritas no art. 14, incisos I a IV, da
Lei n. 6.938/81, foram revogadas.

Registre-se que estados e municípios também poderão criar penalidades


administrativas no âmbito de sua unidade federativa (art. 24, VIII, e art. 30,
I e II, da CF/88).

1.3.10. Relatório de Qualidade do Meio Ambiente (RQMA)

Constitui documento de publicação anual, de responsabilidade do IBAMA,


que tem por objetivo apresentar a situação da qualidade ambiental no país.

1.3.11. Garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,


obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes

Este instrumento decorre da obrigação do Poder Público em prestar in-


formações ao cidadão (art. 5º, XIV e XXXIII, da CF) e foi regulamentado pela
Lei n. 10.650/03, que disciplina o acesso público aos dados e informações
existentes nos órgãos e entidades do SISNAMA.

O objetivo desse instrumento é permitir ao cidadão o acesso à informação


relacionada à matéria ambiental, ressalvado o sigilo comercial, industrial,
financeiro ou qualquer outro sigilo protegido por lei.

1.3.12. Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente


Poluidoras e/ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais

É administrado pelo IBAMA e encontra definição no art. 17, II, da Lei n.


6.938/81: “[...] registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se de-
dicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração, produção,

Direito Ambiental 13
transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao
meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora”.

Vinculado ao Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente


Poluidoras e/ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais encontra-se a
Taxa de Fiscalização e Controle Ambiental (TCFA), instituída pela Lei n.
10.165/2000.

1.3.13. Instrumentos econômicos: concessão florestal, servidão


ambiental, seguro ambiental e outros

A servidão ambiental, como o próprio nome indica, é uma espécie de ser-


vidão em que o proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa física ou ju-
rídica, por instrumento público ou particular, ou ainda por termo admi-
nistrativo firmado perante órgão integrante do SISNAMA, limita o uso da
propriedade, com a finalidade de preservar, conservar ou recuperar os
recursos ambientais existentes (art. 9º-A, caput, da Lei n. 6.938/81). Não
se confunde com as APP’s e a reserva legal, e como se tratam de áreas já
protegidas, a servidão ambiental não pode ser instituída sobre elas (art.
9º, § 1º, da Lei n. 6.938/81).

Conceitua-se concessão florestal a “delegação onerosa, feita pelo poder


concedente, do direito de praticar manejo florestal sustentável para ex-
ploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante lici-
tação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda a exigências do
respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempe-
nho, por sua conta e risco e por prazo determinado” (art. 3º, VII, da Lei n.
11.284/09).

Seguro ambiental, seguindo a sistemática do Código Civil, é o contrato


realizado com uma seguradora, por meio do qual o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segu-
rado, relativo a um bem ambiental, em face de riscos predeterminados
(SIRVINSKAS, 2017).

14 Direito Ambiental
1.4. Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA)

Segundo a definição de Antunes (2017, p. 93), “O SISNAMA é o conjunto


de órgãos e instituições vinculadas ao Poder Executivo que, nos níveis
federal, estadual e municipal, são encarregados da proteção ao meio am-
biente, conforme definido em lei”.

O SISNAMA de acordo com o art. 6º, da Lei n. 6.938/81, regulamentado


pelo Decreto n. 99.274/90:

a) Conselho de Governo, órgão superior, com a função de assessorar o


Presidente da República na formulação da política nacional e nas dire-
trizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais
(art. 6º, I, da Lei n. 6.938/81);
b) Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e
deliberativo. É presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e tem como
principal finalidade assessorar, estudar e propor ao Conselho de
Governo, diretrizes políticas governamentais para o meio ambiente e
os recursos naturais, e, deliberar, no âmbito de sua competência, sobre
normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida (art. 6º, II, art. 8º, da
Lei n. 6.938/81, e art. 7º, do Decreto n. 99.274/90).
c) Ministério do Meio Ambiente, órgão central, com função de planejar,
coordenar, supervisionar e controlar a política nacional e as diretri-
zes governamentais fixadas para o meio ambiente (art. 6º, III, da Lei n.
6.938/81, e art. 10, do Decreto n. 99.274/90).
d) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
(IBAMA), órgão executor, com a finalidade de executar, na esfera fede-
ral, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambien-
te (art. 6º, IV, da Lei n. 6.938/81).
e) Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ór-
gão executor, criado pela Lei n. 11.516/07, com o objetivo de adminis-
trar as unidades de conservação instituídas pela federação.

Direito Ambiental 15
PARA SABER MAIS
No dia 07/03/2012, através do julgamento da ADI n. 4.029,
o STF declarou parcialmente procedente a inconstituciona-
lidade da Lei n. 11.516/07, que criou o ICMBio. Contudo, no
dia seguinte, (08), após uma questão de ordem, o Plenário
modificou a decisão, julgando improcedente a ação direta e
declarando incidentalmente a inconstitucionalidade dos ar-
tigos 5º, caput, e 6º, parágrafos 1º e 2º, da Resolução 1/2002
do Congresso Nacional. Disponível em: <http://www.stf.jus.
br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=202191>.
Acesso em: 30 ago. 2018.

f) Órgãos ou entidades estaduais, órgãos seccionais, instituídos pelos es-


tados-membros, com a finalidade de executar programas, projetos e
pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degra-
dação ambiental (art. 6º, V, da Lei n. 6.938/81, e art. 13, do Decreto n.
99.274/90).
g) Órgãos ou entidades municipais, órgãos locais, com a função de execu-
tar programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades ca-
pazes de provocar a degradação ambiental, nas suas respectivas juris-
dições (art. 6º, VI, da Lei n. 6.938/81, e art. 13, do Decreto n. 99.274/90).

2. Responsabilidade Civil Ambiental

Conforme o art. 225, da CF/88: “as condutas e atividades consideradas


lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurí-
dicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obriga-
ção de reparar os danos causados”. Esse dispositivo traz a previsão da trí-
plice responsabilidade em matéria ambiental: civil, penal e administrativa.
Todas autônomas e independentes entre si.

16 Direito Ambiental
A responsabilidade civil por danos ambientais fundamenta-se nos princí-
pios da prevenção, do poluidor pagador, da solidariedade intergeracional
e da reparação integral, classificando-se como objetiva e solidária, funda-
mentada na teoria do risco integral.

Nesse sentido, dispõe o art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81: “Sem obstar a
aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua ativi-
dade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para
propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente” (grifos nossos).

Portanto, para que um agente (pessoa física ou jurídica) seja responsabili-


zado civilmente pela ocorrência de danos ambientais, basta a comprova-
ção de sua conduta, do nexo de causalidade e do dano, não se perquirin-
do acerca da culpabilidade.

Em face da adoção da teoria do risco integral para fundamentar a respon-


sabilidade objetiva, as clássicas excludentes de responsabilidade (caso
fortuito e força maior) não podem ser invocadas para eximir o agente de
responsabilidade.

A solidariedade entre os agentes responsáveis pelo dano ambiental resul-


ta do conceito geral de poluidor contido no art. 3º, IV, da Lei n. 6.938/81,
que aduz ser o poluidor “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora
de degradação ambiental”.

Além disso, importa consignar que na responsabilidade civil por danos


ambientais, não se leva em conta a licitude ou não da conduta, pois
mesmo que uma atividade esteja licenciada, se ela produzir danos am-
bientais, não será afastada ou atenuada a responsabilidade do poluidor
(MELO, 2017).

Direito Ambiental 17
2.1. Dano ambiental e sua reparação

Nas palavras de Antunes (2017, p. 251), “dano ambiental é dano ao meio


ambiente. [...] O meio ambiente é res communes omnium. Uma coisa co-
mum a todos, que pode ser composta por bens pertencentes ao domínio
público ou ao domínio privado. [...] A fruição do bem jurídico meio am-
biente é sempre de todos, da sociedade”.

Nos termos da Lei n. 6.938/81 e da Lei n. 7.347/85 (art. 3º), há duas formas
para a reparação dos danos ambientais: a restauração e a indenização. A
doutrina insere entre elas, outra modalidade, a compensação ambiental
(MELO, 2017).

A reparação in natura tem primazia sobre as demais e reveste-se da recu-


peração específica, que busca o retorno do equilíbrio ecológico, antes da
ocorrência do dano, ou pelo menos uma situação próxima. Diante da sua
impossibilidade, abre as outras duas alternativas: indenização e compen-
sação ecológica.

A compensação ecológica deve anteceder a indenização pecuniária, ou


seja, na impossibilidade de reparação in natura, deve-se primeiramente
optar pela compensação ecológica, e somente se ela não for possível, par-
te-se para a indenização pecuniária.

A compensação ecológica implica na substituição do bem lesado por ou-


tro equivalente e para que seja possível, deve-se observar os seguintes
requisitos: “a) ser absolutamente necessária; b) não ser possível uma re-
paração específica; c) consistir numa medida de equivalente importância
ecológica; d) que a medida seja adotada dentro do mesmo ecossistema;
e) que sejam observados critérios técnicos; f) que haja ciência por parte
dos órgãos públicos; g) que os órgãos públicos autorizem previamente as
medidas” (Destefenni apud MELO, 2017, p. 379).

A indenização pecuniária é a reparação em dinheiro dos prejuízos oca-


sionados em decorrência do dano ambiental, que podem ser de natu-
reza material (patrimonial) e moral (extrapatrimonial). Questão de difícil

18 Direito Ambiental
solução é a quantificação dos danos ambientais, pois a degradação do
meio ambiente tem vítimas pulverizadas e às vezes anônimas, atingindo
não apenas a integridade patrimonial ou física de indivíduos, presentes e
futuros, mas também interesses da sociedade em geral (Milaré, 2007).

O STJ interpretando o art. 3º, da Lei n. 7.347/85 (conhecida como Lei da


Ação Civil Pública), concluiu “[...] por força dos princípios do poluidor-pa-
gador e da reparação in integrum, admite-se a condenação simultânea e
cumulativa, em obrigação de fazer, não fazer e indenizar. Assim, na inter-
pretação do art. 3º da Lei 7.347/1985, a conjunção ‘ou’ opera com valor
aditivo, não introduz alternativa excludente” (REsp n. 1.145.083/MG, DJe:
04/09/2012).

2.2. Prescrição da Pretensão Reparatória


O entendimento que prevalece na jurisprudência é que os danos ambien-
tais individuais prescrevem em três anos, já os danos difusos são impres-
critíveis, em face da essencialidade do meio ambiente, por se tratar de
direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos.

PARA SABER MAIS


A respeito da análise da prescrição da pretensão reparatória
ambiental, acesse o link e confira a jurisprudência atual
do STJ a respeito: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista
/inteiroteor/?num_registro=201403294740&dt_publicacao
=20/03/2018>. Acesso em: 30 ago. 2018.

3. Responsabilidade Penal Ambiental


A Lei n. 9.605/98 (conhecida como Lei de Crimes Ambientais) traz a tipolo-
gia dos crimes ambientais e suas respectivas sanções, contudo, importan-
te consignar que existem outros tipos de natureza penal previstos na Lei

Direito Ambiental 19
de Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6.766/79), no Código Florestal (Lei
n. 12.651/12), no próprio Código Penal, dentre outros dispositivos.

Além da responsabilização da pessoa física, a Lei de Crimes Ambientais


possibilita expressamente a responsabilização da pessoa jurídica, de di-
reito público ou privado (art. 3º), inclusive com a possibilidade de aplica-
ção do instituto da liquidação forçada (art. 24) e da desconsideração da
personalidade jurídica (art. 4º), que diferencia-se da regra geral contida no
art. 50 do Código Civil, já que para a sua aplicação basta que a personali-
dade jurídica constitua obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
ao meio ambiente (teoria menor).

Melo (2017) advoga que a Lei n. 9.605/98, antes de punir, preocupa-se


com a busca da reparação ou compensação dos danos ambientais. Nesse
sentido a reparação constitui atenuante de pena (art. 14, II); condição para
concessão de sursis especial (art. 17) e suspensão condicional do proces-
so (art. 28), além de poder o juiz na sentença penal condenatória fixar
valor de indenização para a reparação do dano ambiental (art. 20).

Os crimes ambientais podem ser praticados a título de dolo ou culpa.


Sopesando a Lei n. 9.605/98, podem ser apresentados como exemplos de
tipos penais puníveis por culpa, os crimes previstos nos artigos 38, 40, 41,
49, 54, 56, 62, 67, 68 e 69-A.

Nos termos do art. 26, da Lei n. 9.605/98, todos os crimes por ela tipifi-
cados são de ação penal incondicionada, admitindo a ação penal privada
subsidiária da pública, quando o Ministério Público não oferecer a denún-
cia no prazo legal.

3.1. Competência para processar e julgar os crimes contra o


meio ambiente

O parágrafo único do art. 26, da Lei n. 9.605/98, foi vetado, pois


excluía da Justiça Estadual a competência para processar e julgar os cri-
mes ambientais quando, na localidade, houvesse vara da Justiça Federal
(SIRVINSKAS,2017).

20 Direito Ambiental
Como regra geral, a competência será da Justiça Estadual se não atingir
nenhum interesse da União ou de suas autarquias e empresas públicas,
que neste caso, atrai a competência da Justiça Federal.
As contravenções penais ambientais serão sempre julgadas pela Justiça
Estadual porque a Justiça Federal não julga contravenções (art. 109, IV,
da CF/88).

3.2. Das penas

As pessoas físicas estão sujeitas às seguintes penas:


PENAS CARACTERÍSTICAS
Serão aplicadas dentro dos limites cominados nos respec-
Privativas de liberdade tivos tipos penais elencados na Lei n. 9.605/98. Podem ser
detenção ou reclusão.
Será calculada segundo os critérios do Código Penal; se re-
velar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, pode-
Multa
rá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da
vantagem econômica auferida.
• Prestação de serviços à comunidade;
• Interdição temporária de direitos;
Restritiva de direitos • Suspensão parcial ou total de atividades;
• Prestação pecuniária;
• Recolhimento domiciliar.
Fonte: MELO, 2017, p. 451.

São aplicáveis às pessoas jurídicas as penas abaixo cominadas:


PENAS CARACTERÍSTICAS
Será calculada segundo os critérios do Código Penal; se re-
velar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, pode-
Multa
rá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da
vantagem econômica auferida.
• Suspensão parcial ou total de atividades;
•Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
Restritiva de direito
• Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele
obter subsídios, subvenções ou doações.
• Custeio de programas e de projetos ambientais;
Prestação de serviços • Execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
à comunidade • Manutenção de espaços públicos;
• Contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
Fonte: MELO, 2017, p. 445.

Direito Ambiental 21
Além das penas supramencionadas, aplica-se à pessoa jurídica a pena de
liquidação forçada (art. 24, da Lei n. 9.605/98) e desconsideração da per-
sonalidade jurídica (art. 4º, da Lei n. 9.605/98).

A liquidação forçada terá lugar sempre que a pessoa jurídica for constitu-
ída ou utilizada, preponderantemente, com a finalidade de permitir, facili-
tar ou ocultar a prática de crime definido na Lei de Crimes Ambientais. O
patrimônio da pessoa jurídica será considerado instrumento do crime, e,
portanto, será revertido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.

Já a desconsideração da pessoa jurídica possibilita que seja transferida


para as pessoas físicas a responsabilidade civil e administrativa da pessoa
jurídica, bastando que a personalidade jurídica seja obstáculo ao ressar-
cimento dos danos. De acordo com a doutrina, tal instituto não permite a
transferência da responsabilidade penal da pessoa jurídica, em decorrên-
cia do princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, XLV, da
CF/88 (MELO, 2017).

As circunstâncias atenuantes e agravantes da pena encontram-se previs-


tas, respectivamente, nos arts. 14 e 15 da Lei n. 9.605/98.

3.3. Lei n. 9.605/98: crimes em espécie

Os tipos penais estão arrolados na parte especial da Lei n. 9.605/98 e divi-


dem-se em: a) crimes contra a fauna (arts. 29 a 35); b) crimes contra a flo-
ra (arts. 38 a 52); c) poluição e outros crimes ambientais (arts. 54 a 56, 60 e
61); d) crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (arts.
62 a 65); e, e) crimes contra a administração ambiental (arts. 66 a 69).

3.4. Princípio da insignificância ou bagatela nos delitos


ambientais

Há divergência de opiniões a respeito da aplicação do princípio da in-


significância nos delitos ambientais, com a existência de duas correntes

22 Direito Ambiental
contrapostas. A primeira corrente entende que não é cabível a aplicação
do princípio da bagatela nos delitos ambientais, posto que ainda que uma
conduta típica possa parecer inofensiva ao meio ambiente, é certo que
possui efeitos sinérgicos, incidindo sobre o meio ambiente como um todo.
Já a segunda teoria aduz que é “possível o reconhecimento do delito baga-
telar, desde que a conduta se mostre inapta para causar efetiva lesão ao
meio ambiente” (MELO, 2017, p. 458).

PARA SABER MAIS


O posicionamento atual da jurisprudência do STF é pelo re-
conhecimento da aplicação do princípio da insignificância ou
bagatela, nos delitos penais, desde que atendidos determi-
nados requisitos. Nesse sentido, colaciona-se trecho do acór-
dão proferido nos autos do HC 135404/PR: “Ementa: PENAL.
HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO PELO CRIME
PREVISTO NO ART. 34 DA LEI 9.605/1998 (LEI DE CRIMES
AMBIENTAIS). PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. REPROVABILIDADE DA CONDUTA DO
AGENTE. REITERAÇÃO DELITIVA. ORDEM DENEGADA. I - Nos
termos da jurisprudência deste Tribunal, a aplicação do prin-
cípio da insignificância, de modo a tornar a ação atípica exige
a satisfação de certos requisitos, de forma concomitante: a
conduta minimamente ofensiva, a ausência de periculo-
sidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade
do comportamento e a lesão jurídica inexpressiva. [...]. (HC
135404/PR, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI. Segunda
Turma, julgado em 07/02/2017, publicado em 02/08/2017)
(grifo nosso).

Direito Ambiental 23
4. Responsabilidade Administrativa Ambiental

A Lei n. 9.605/98, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, disciplina


entre os artigos 70 a 76 o procedimento e as sanções administrativas am-
bientais. Tais dispositivos foram regulamentados pelo Poder Executivo fe-
deral mediante o Decreto n. 6.514/08.

A responsabilidade administrativa é decorrente do exercício do poder


de polícia ambiental dos entes responsáveis pela qualidade ambiental no
país, conforme competência administrativa comum definida pelo art. 23,
VI, da CF/88. No que diz respeito à competência para definir infrações
administrativas e suas penalidades, o art. 24, da CF/88, atribui compe-
tência concorrente entre a União, os Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios (em face do disposto no art. 30, II, da CF/88).

A responsabilidade em análise surge da infração de normas administra-


tivas, devendo a mesma ser apurada através da instauração de procedi-
mento administrativo próprio, assegurando-se o direito ao contraditório
e a ampla defesa.

Nos termos do art. 70, da Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/98), in-
fração administrativa ambiental consiste em “toda ação ou omissão que
viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação
do meio ambiente”.

A partir da leitura do dispositivo supracitado, é possível retirar o pressu-


posto para a configuração da responsabilidade administrativa: praticar
conduta ilícita. Essa é a principal característica que difere a responsabili-
dade administrativa da civil, já que na última não é necessário que a con-
duta seja ilícita, basta a verificação de dano ao meio ambiente. De outra
banda, na responsabilidade administrativa, não há necessidade da ocor-
rência do dano, basta a violação de uma norma administrativa.

24 Direito Ambiental
Segundo o magistério de Milaré (2007, p. 921): “Refletindo mais detida-
mente sobre a matéria, concluímos que a essência da infração ambiental
não é o dano em si, mas sim o comportamento em desobediência a uma
norma jurídica de tutela ao ambiente. Se não há conduta contrária à legis-
lação posta, não se pode falar em infração administrativa. Hoje entende-
mos que o dano ambiental, isoladamente, não é gerador de responsabili-
dade administrativa; contrario sensu, o dano que enseja reponsabilidade
administrativa é aquele enquadrável como o resultado descrito em um
tipo infracional ou provocado por uma conduta omissiva ou comissiva
violadora de regras jurídicas”.

Tema controvertido diz respeito à natureza jurídica da responsabilidade ad-


ministrativa, se seria ela objetiva ou subjetiva. A jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) oscila, ora aduzindo ser objetiva (Res 1318051/RJ,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe:12/05/2015), e noutro-
ra subjetiva (REsp n. 1401500/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe: 13/09/2016). A tendência é para a ordenação como subjetiva,
contudo, a temática depende de novos julgados.

As infrações administrativas encontram-se tipificadas entre os artigos 24


a 93, do Decreto n. 6.514/08, e o procedimento administrativo para a apu-
ração das infrações ambientais encontra-se disciplinado pelo Decreto n.
6.514/08, entre os artigos 94 a 133, cuja leitura recomendamos ao leitor.

4.1. Das sanções e dosimetria

Nos termos do art. 72, da Lei n. 9.605/98, bem como do art. 3º, do Decreto
n. 6.514/08, são 10 (dez) as sanções aplicáveis ao infrator pelo cometi-
mento de uma infração administrativa ambiental:
a) Advertência: aplica-se para as infrações de menor lesividade ao meio
ambiente, ou seja, aquelas que a multa máxima não ultrapasse o valor
de R$ 1.000,00 (art. 3º, I, e art. 5º, do Decreto n. 6.514/08).

Direito Ambiental 25
b) Multa simples: será aplicada se o agente, por negligência ou dolo, ad-
vertido das irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-
-las no prazo assinado pelo órgão ambiental competente, ou se opuser
à fiscalização. Poderá ser convertida em serviços de preservação, me-
lhoria e recuperação da qualidade ambiental (art. 3º, II e art. 8º a 13, do
Decreto n. 6.514/08);
c) Multa diária: será aplicada sempre que o cometimento da infração se
prolongar no tempo (art. 3º, III, do Decreto n. 6.514/08). Os valores ar-
recadados são revertidos aos Fundos criados por lei federal, estadual
ou municipal. A multa terá por base unidade de medida (metro cúbico,
hectare, quilograma, etc). O valor da multa é de no mínimo R$ 50,00 e
de no máximo, R$ 50 milhões (art. 9º, do Decreto n. 6.514/08);
d) Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora,
instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer
natureza utilizados na infração: os animais se possível serão devol-
vidos ao seu habitat. Os produtos, subprodutos da flora e da fauna e
veículos serão avaliados e doados às entidades de caridade, às institui-
ções científicas ou hospitalares e os petrechos e equipamentos serão
vendidos (arts. 101 a 107, do Decreto n. 6.514/08);
e) Destruição ou inutilização do produto: art. 111, do Decreto n.
6.514/08;
f) Suspensão de venda e fabricação do produto: visa obstar a continui-
dade da venda e fabricação de produtos nocivos à saúde, à segurança
e ao bem-estar da população (art. 109 do Decreto n. 6.514/08);
g) Embargo de obra ou atividade: visa evitar a continuidade da infração
(art. 108, do Decreto n. 6.514/08);
h) Demolição de obra construída ilegalmente: art. 19, §§ 1º a 3º, e art.
112, do Decreto n. 6.514/08;
i) Suspensão parcial ou total de atividades: em caso de serem cons-
tatadas irregularidades ou o descumprimento de normas ambientais
relevantes (art. 110, do Decreto n. 6.514/98);
j) Restritiva de direitos: compreende a suspensão de registro, licença,
permissão ou autorização; cancelamento de registro, licença, permis-
são ou autorização; perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;

26 Direito Ambiental
perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de crédito; e, proibição de contratar com a
Administração Pública, pelo período de até três anos (art. 20, I a V, do
Decreto n. 6.514/08).

As sanções acima descritas são obrigatórias para a União, podendo os


estados e municípios acrescentar outras que acharem conveniente.

Prescreve o art. 76, da Lei n. 9.605/08: “O pagamento da multa imposta


pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa
federal na mesma hipótese de incidência”.

A respeito da dosimetria, estabelece o art. 4º, do Decreto n. 6.514/08, que


na lavratura do auto de infração, o agente autuante indicará as sanções,
observando: “I – gravidade dos fatos, tendo em vista os motivos da infra-
ção e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente;
II – antecedentes do infrator, quanto ao cumprimento da legislação de
interesse ambiental; e, III – situação econômica do infrator”.

4.2. Da prescrição

A pretensão punitiva prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data do


ato, ou, em infrações permanentes, do dia em que tiver cessado (art. 21,
do Decreto n. 6.514/08). Com efeito, se a infração administrativa for ilícito
penal, a prescrição se regerá pela esfera penal (art. 21, § 3º, do Decreto n.
6.514/08).

Ocorre a prescrição intercorrente quando o procedimento de apuração


do auto de infração estiver parado por mais de 3 (três) anos, pendente
de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou
mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração
da responsabilidade funcional decorrente da paralização (art. 21, § 2º, do
Decreto n. 6.514/08).

Nos termos do art. 22, do Decreto n. 6.514/08, são causas de interrupção


da prescrição:

Direito Ambiental 27
a) Pelo recebimento do auto de infração ou pela cientificação do infrator
por qualquer outro meio, inclusive por edital;
b) Por qualquer ato inequívoco da administração que importe apuração
do fato, ou seja, “aqueles que impliquem na instrução do processo”
(MELO, 2017, p. 422); e,
c) Pela decisão condenatória recorrível.

Vamos pensar

De um mesmo fato jurídico pode surgir as três espécies de danos tran-


sindividuais ou metaindividuais: danos difusos, coletivos e individuais ho-
mogêneos. Esta classificação tem por objetivo possibilitar a tutela coletiva
desses direitos.
Os danos difusos apresentam-se como os transindividuais, de natureza
indivisível e titularidade indeterminada, interligados entre si por circuns-
tâncias de fato (art.81, I, do CDC).
Os danos coletivos se diferem dos difusos em razão da determinabilidade
dos titulares. Assim, nos termos do art. 81, II, do CDC, são direito coletivos
“os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, cate-
goria ou classe de pessoas ligas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base”.
E por fim, os direitos individuais homogêneos tratam-se de direitos indi-
viduais, cuja origem decorre de uma mesma causa (art. 81, III, do CDC). A
característica de direito transindividual é atribuída por conta da possibili-
dade de tutela coletiva.

PARA SABER MAIS


Assista a palestra do Prof. Hugo Nigro Mazzilli, na Escola
Superior do Ministério Público de São Paulo, através do link:
<https://www.youtube.com/watch?v=f24spEO_09o#t=13>.
Acesso em:

28 Direito Ambiental
Pontuando

• A PNMA tem por objetivo geral a preservação, melhoria e recupera-


ção da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no
país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses
da segurança nacional e à proteção da dignidade da pessoa humana;
• Os instrumentos da PNMA encontram-se disciplinados pelo art. 9º,
da Lei n. 6.938/81, e tratam-se de mecanismos colocados à disposi-
ção do Poder Público para a implementação dos objetivos da PNMA;
• O SISNAMA é responsável por organizar, sistematizar e divulgar as
informações ambientais dos órgãos que os integra, nos três níveis
de governo;
• Infração administrativa ambiental é toda conduta que viole as regras
jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio
ambiente;
• A pretensão punitiva administrativa prescreve em 5 (cinco) anos,
contados da data da prática do ato, ou em infrações permanentes,
do dia em que tiver cessado.
• Há prescrição intercorrente na responsabilização administrativa, e
ela incide no procedimento para apuração do auto de infração parali-
sado por mais de 3 (três) anos, pendente de julgamento ou despacho.
• Dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais que afete o equi-
líbrio ecológico e a sadia qualidade de vida;
• A responsabilidade civil é objetiva, fundamentada na teoria do risco
integral; solidária; e imprescritível quando se tratar de dano difuso;
• As ações que visem a reparação civil do dano ambiental devem
observar a ordem de preferência: reparação in natura; compensa-
ção ecológica e indenização em pecúnia;
• As pessoas jurídicas, de direito público ou privado, poderão ser res-
ponsabilizadas penalmente pela prática de crimes ambientais.

Direito Ambiental 29
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 01
1. Nos termos da Lei n. 6.938/81, a Política Nacional do Meio
Ambiente tem como objetivos gerais:
a) recuperação, gestão e integração de ações sociais
ambientais.
b) mitigação de problemas ambientais através da regene-
ração e planejamento do meio ambiente. 
c) socialização, administração e recuperação ambiental. 
d) melhoria e gestão social de problemas ambientais.
e) preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental.
2. Sobre os instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente, afirma-se corretamente que:
a) o zoneamento consiste no estudo e diagnóstico am-
biental da área de influência do projeto, completa des-
crição e análise dos recursos ambientais.
b) o EIA tem caráter vinculante, eis que representa um
parecer técnico essencial para a concessão da licença
ambiental.
c) o RIMA consiste no estudo de impacto prévio ambien-
tal elaborado e custeado pelo empreendedor e que en-
volve atividades técnicas.
d) constitui uma de suas espécies a criação de espaços ter-
ritoriais, especialmente protegidos pelo Poder Público
federal, estadual e municipal, tais como área de pro-
teção ambiental, de relevante interesse ecológico e de
reservas extrativistas.
e) o licenciamento e a revisão de atividades potencial-
mente poluidoras ocorrerão somente quando obede-
cidos os requisitos constantes em rol taxativo previsto
em resolução do CONAMA.

30 Direito Ambiental
3. Quanto às infrações penais ambientais previstas na Lei n.
9.605/98, é correto afirmar que:
a) os crimes ambientais nela previstos são de ação penal
pública condicionada e incondicionada, aplicando-se, a
todos os tipos penais, a suspensão condicional do pro-
cesso e a transação penal. 
b) nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo e
de ação penal pública condicionada, a transação penal
poderá ser formulada independentemente de prévia
composição do dano ambiental.
c) a legislação contempla apenas crimes ambientais de
ação penal pública incondicionada, aplicando-se inte-
gralmente as disposições da Lei n. 9.099/95 no tocante à
suspensão condicional do processo e à transação penal.
d) nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo e
de ação penal pública incondicionada, não se aplica a
suspensão condicional do processo.
e) nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a
transação penal somente poderá ser formulada desde
que tenha havido a prévia composição do dano am-
biental, salvo em caso de comprovada impossibilidade.
4. Uma fábrica operando dentro dos limites da licença de
operação vigente, polui parte de um rio no interior do
estado de Minas Gerais, o que comprometeu a pesca de
subsistência no local. João, afetado pelos danos causados,
ajuizou ação indenizatória contra a fábrica responsável.
Nessa situação hipotética, a ação poderá ser julgada: 
a) procedente, independentemente da licitude da atividade
e da observância dos limites de emissão de poluentes,
uma vez que a responsabilidade do poluidor é objetiva.
b) procedente, independentemente do nexo causal entre
a conduta e o dano, uma vez que a responsabilidade do
poluidor é objetiva.

Direito Ambiental 31
c) procedente, se for comprovado que a atividade que
causou o dano era ilícita. 
d) improcedente, se for comprovado que o poluidor ob-
servou os limites da emissão de poluentes, haja vista a
sua responsabilidade ser subjetiva.
e) improcedente, se o dano perseguido for de cunho
moral, uma vez que os danos extrapatrimoniais não
são alcançáveis em demandas com fundo de direito
ambiental.
5. A respeito das infrações administrativas ambientais, assi-
nale a alternativa correta: 
a) Considera-se infração administrativa ambiental, so-
mente as condutas comissivas que violem as regras
jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recupera-
ção do meio ambiente e causem danos a terceiros.
b) O pagamento de multa por infração ambiental imposta
pela União substitui a aplicação de penalidade pecuniá-
ria pelo órgão municipal, em decorrência do mesmo fato.
c) Enquanto a multa simples pode ser convertida em ser-
viços de preservação, melhoria e recuperação da qua-
lidade do meio ambiente, a multa diária será aplicada
sempre que o cometimento da infração se prolongar
no tempo.
d) As infrações administrativas ambientais podem ser pu-
nidas com as sanções de suspensão de venda e fabri-
cação de produto e demolição de obras. Por outro lado,
há vedação expressa no ordenamento jurídico quanto
à sanção de embargo de obra ou atividade. 
e) A sanção de advertência poderá ser aplicada, mediante
a lavratura de auto de infração, para as infrações de
menor potencial ofensivo, assim definidas aquelas cuja
a pena não ultrapasse a um ano de detenção.

32 Direito Ambiental
Referências Bibliográficas

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
MELO, Fabiano. Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017.
Direitos Humanos. São Paulo: Método, 2016.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2017.

Gabarito – Aula 01

Questão 1 – Resposta: E

Os objetivos gerais da PNMA encontram-se arrolados no art. 2º,


caput, da Lei n. 6.938/81, nos seguintes termos: “ A Política Nacional
do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recu-
peração da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar,
no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interes-
ses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida huma-
na [...]”.

Questão 2 – Resposta: D

Os instrumentos da PNMA encontram-se descritos no art. 9º, da Lei


n. 6.938/81. Nesse sentido, o inciso VI, do art. 9º, da Lei n. 6.938/81,
dispõe que “a criação de espaços territoriais especialmente protegi-
dos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas
de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas
extrativistas”, é instrumento da PNMA.

Questão 3 – Resposta: E

Resolução: O art. 89, da Lei n. 9.099/95, aduz ser cabível a suspensão


condicional do processo nos crimes com pena mínima não superior

Direito Ambiental 33
a um ano, ou seja, crimes definidos como de menor potencial ofen-
sivo. Contudo, o juiz somente poderá decretar a extinção da puni-
bilidade se durante a suspensão condicional do processo o infrator
reparar o dano ambiental, saldo impossibilidade de reparação (art.
28, inciso I a V, da Lei n. 9.605/98).

Questão 4 – Resposta: A

Nos termos do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81, a responsabilidade civil


do poluidor por danos ambientais é objetiva. Além disso, a licitude da
conduta não afasta ou atenua a responsabilidade do poluidor, posto
que o direito fundamental intergeracional ao meio ecologicamente
equilibrado deve prevalecer sobre o direito do empreendedor, de
explorar atividade, ainda que licenciada.

Questão 5 – Resposta: C

A multa simples será aplicada se o agente por negligência ou dolo,


advertido das irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de
saná-las no prazo assinado pelo órgão ambiental competente, ou se
opuser à fiscalização. Poderá ser convertida em serviços de preser-
vação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental (arts. 8º a 13,
do Decreto n. 6.514/08). Já a multa diária será aplicada sempre que o
cometimento da infração se prolongar no tempo (art. 10, do Decreto
n. 6.514/08).

34 Direito Ambiental
TEMA 02
COBERTURA VEGETAL E SISTEMA
NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE
RECURSOS HÍDRICOS

Objetivos

• Compreender os diferentes tipos de áreas protegidas;

• Diferenciar e caracterizar as áreas ambientalmente


protegidas disciplinadas no Código Florestal, na Lei
do Bioma Mata Atlântica e outros diplomas;

• Analisar o tratamento legislativo aos recursos hídricos;

• Conhecer as instituições responsáveis pela gestão


das águas.

Direito Ambiental 35
Introdução

Os bens ambientais são compostos por diversos elementos bióticos e abi-


óticos. Consideram-se bióticos o conjunto de seres e organismos vivos
presentes no ambiente, como por exemplo a fauna e a flora. Abióticos,
por sua vez, são os elementos físicos e químicos não vivos que compõem
o ambiente, como o ar, o solo e a água. A interação dos elementos bióti-
cos e abióticos formam o meio ambiente natural (MELO, 2017).

O ordenamento jurídico dispensa tratamento diferenciado aos bens am-


bientais, conforme a sua natureza, mas sempre considerando o meio am-
biente como um todo, já que, por exemplo, qualquer alteração nos recur-
sos hídricos gerará consequências à fauna, à flora e ao solo.

Nesse contexto, será objeto de estudo desta aula, em um primeiro mo-


mento, o tratamento legal dispensado à cobertura vegetal, mais especi-
ficamente pelo Código Florestal, com as duas áreas especialmente pro-
tegidas, quais sejam: área de preservação permanente e reserva legal.
Ademais, a lei do Bioma Mata Atlântica e o instituto da servidão ambiental.

Outra temática dessa aula é a gestão e o gerenciamento dos recursos


hídricos. Com efeito, em contexto histórico, a água foi considerada um
recurso renovável e ilimitado, tratada como um bem passível de ser apro-
priado gratuitamente, o que acabou contribuindo para políticas públicas
calamitosas na gestão desse recurso.

Contudo, com o crescimento demográfico, o estabelecimento de políticas


insustentáveis, dentre outros fatores, fez com que a pressão sobre as águas
se tornasse fonte de preocupação extrema, passando a ser encarada como
um recurso renovável, porém limitado, surgindo dessa forma a necessida-
de de maior intervenção do Estado por meio de seu poder regulatório.

O regime jurídico de uso e proteção dos recursos hídricos passa a ser trata-
do como matéria inerente ao Direito de Águas, compreendido nos seguin-
tes diplomas: a) Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n. 9.433/97); b)

36 Direito Ambiental
Lei da Agência Nacional de Águas (Lei n. 9.984/00); c) Lei de Saneamento
Básico (Lei n. 11.445/07); d) Decreto n. 2.464/34, que instituiu o Código de
Água, apesar de constar com a maioria de seus artigos revogados.

O objetivo da parte final dessa aula é o estudo da Lei n. 9.433/97, que ins-
tituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos. Em linhas gerais, tratare-
mos da competência e do domínio dos recursos hídricos, os fundamentos,
objetivos, diretrizes e instrumentos para o uso dos recursos hídricos no
Brasil, além do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

1. Código Florestal

O primeiro Código Florestal foi editado por Getúlio Vargas, em 1934, com
o Decreto n. 23.793/34, cuja finalidade era a proteção de alguns recursos
naturais, como a água e a madeira. As florestas, consideradas em conjun-
to, passaram a ser tratadas como bens de interesse comum a todos os
habitantes do país (art. 1º, do Decreto n. 23.793/34) (SIRVINSKAS, 2017).
Em 15 de setembro de 1965, durante o governo militar, foi editado novo
Código Florestal (Lei n. 4.771/65), com a intenção de proteger as florestas
e demais formas de vegetação. Esse Código, com suas alterações, vigorou
até o dia 25 de maio de 2012, data em que foi publicada a Lei n. 12.651/12,
conhecida com o Novo Código Florestal.

PARA SABER MAIS


A Revista científica Science publicou um estudo liderado
pelos brasileiros Britaldo Soares Filho e Raoni Rajão, da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a colabo-
ração da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo bra-
sileiro e pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia (IPAM) e do centro de pesquisa americano Woods
Hole Research Center, que constatou uma grande anistia para

Direito Ambiental 37
quem desmatou até 2008, reduzindo 58% o passivo ambien-
tal dos imóveis rurais no Brasil. O Novo Código Florestal, Lei
n. 12.651/12, anistia 29 milhões de hectares de florestas e
permite a possibilidade de desmate legalizado para outros
88 milhões de hectares. A área desmatada ilegalmente que
deveria ser restaurada foi reduzida de 50 milhões para 21
milhões de hectares, sendo 22% de Áreas de Preservação
Permanente nas margens dos rios e 78% áreas de Reserva
Legal. Confira o artigo completo através do link: <http://
science.sciencemag.org/content/350/6260/519.1/tab-pdf>.
Acesso em: 17 jul. 2018.

PARA SABER MAIS


As Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 4901, 4902
e 4903 ajuizadas pela Procuradoria-Geral da República
(PGR), e a ADI 4937 pelo Partido Socialismo e Liberdade
(PSOL) para questionar diversos dispositivos constantes
do novo Código Florestal, bem como a Ação Declaratória
de Constitucionalidade (ADC) 42, ajuizada pelo Partido
Progressista (PP) para defender a constitucionalidade da lei,
foram julgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), reconhe-
cendo a validade de vários dispositivos, declarando alguns
trechos inconstitucionais e atribuindo interpretação confor-
me outros itens. Confira o voto do Ministro Celso de Mello,
no julgamento da ADI 4901: <http://www.stf.jus.br/arquivo/
cms/noticiaNoticiaStf/anexo/VotoMinistroCMADI4.901DF.
pdf>. Acesso em: 17 jul. 2018.
Além disso, o vídeo do Prof. Fabiano Melo com a análise do jul-
gamento do STF sobre essas ações diretas de inconstituciona-
lidade, no Canal do LFG no YouTube: <https://www.youtube.
com/watch?v=dMQ-fLE9_4M&t=1s>. Acesso em: 17 jul. 2018.

38 Direito Ambiental
A Lei n. 12.651/12, com as alterações da Lei n. 12.727/12, prevê a proteção,
basicamente de dois tipos de áreas: a) Áreas de Preservação Permanente
(APP); e, b) Reserva Florestal ou Legal, conforme serão vistas nos tópicos
que abaixo seguem.

A utilização irregular das áreas protegidas pela Lei n. 12.651/12 enseja a


responsabilidade civil objetiva do proprietário, possuidor ou detentor a
qualquer título do imóvel (art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81).

As obrigações previstas na Lei n. 12.651/12 possuem natureza real, sendo


transmitidas aos sucessores de qualquer natureza, no caso de transferên-
cia de domínio ou posse.

1.1. Áreas de Preservação Permanente (APP)

Nos termos do art. 3º, II, da Lei n. 12.651/12, áreas de preservação perma-
nente podem ser conceituadas como espaços cobertos ou não por vege-
tação nativa, com objetivo de preservar os recursos hídricos, a paisagem,
a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e floras,
de proteger o solo e de assegurar o bem-estar das populações humanas.

Existem duas espécies de APP’s: a) por imposição legal, previstas no art.


4º, da Lei n. 12.651/12; e, b) por instituição de ato do Poder Executivo,
cujas hipóteses estão previstas no art. 6º, da Lei n. 12.651/12. Remetemos
o leitor a leitura dos dispositivos.

As APP’s por força de lei, são aquelas que basta a simples localização para
serem consideradas como áreas a serem protegidas, por exemplo, a exis-
tência de um rio, uma montanha, uma nascente são suficientes para atrair
a proteção, independente de ato declaratório do Poder Público (MELO,
2017). Já a segunda forma de APP depende de ato do Poder Público para
que seja declarada.

As APP’s recaem sobre imóveis urbanos e rurais, devendo a vegetação


ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer
título (art. 7º, da Lei n. 12.651/12).

Direito Ambiental 39
1.1.1. Supressão de vegetação em APP

De acordo com o art. 8º, caput, da Lei n. 12.651/12, a supressão de vege-


tação em APP’s somente poderá ser autorizada em caso de atividades de
utilidade pública (art. 3º, VIII, da Lei n. 12.651/12), de interesse social (art.
3º, IX, da Lei n. 12.651/12) ou de baixo impacto ambiental (art. 3º, X, da Lei
n. 12.651/12).

Caso ocorra a supressão de vegetação situada em APP fora das hipóteses


acima previstas, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer
título, é obrigado a promover a recomposição da vegetação. Tal obrigação
conforme já ressaltado, é propter rem, ou seja, possui natureza real, e,
portanto, é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio
ou posse do imóvel (art. 7º, §§ 1º e 2º, da Lei n. 12.651/12).

1.2. Reserva Legal

Reserva legal ou florestal trata-se da área localizada no interior de uma


propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, da Lei n.
12.651/12, com a função de assegurar o uso econômico de modo susten-
tável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação da bio-
diversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora
nativa (art. 3º, III, da Lei n. 12.651/12).

Para Paulo de Bessa Antunes (2001, p. 120), “a reserva legal é uma obriga-
ção que recai diretamente sobre o proprietário do imóvel, independente-
mente de sua pessoa ou da forma pela qual tenha adquirido a proprieda-
de; desta forma ela está umbilicalmente ligada à própria coisa, permane-
cendo aderida ao bem”.

A vegetação da reserva legal deverá ser a existente no local, desta for-


ma, procura-se conservar a vegetação típica de cada região, seja cerra-
do, caatinga, florestas, manguezais, etc. (SIRVINSKAS, 2017). O fato de
não existir cobertura arbórea não afasta a obrigação de proteção da
vegetação do local.

40 Direito Ambiental
Os percentuais mínimos de reserva legal a serem observados, em relação
à área do imóvel, nos termos do art. 12, da Lei n. 12.651/12, são:
SE LOCALIZADOS NA AMAZÔNIA LEGAL DEMAIS REGIÕES DO PAÍS
80% (oitenta por cento) do imóvel se situado em
área de florestas;
35% (trinta e cinco por cento) do imóvel se situado
20% (vinte por cento) do imóvel.
em área de cerrado;
20% (vinte por cento) do imóvel se situado em
área de campos gerais.

É possível a instituição de Reserva Legal em regime de condomínio ou co-


letiva entre propriedades rurais, nos termos do art. 16, da Lei n. 12.651/12.

A Reserva Legal da Amazônia poderá ser reduzida, em até 50% (cinquen-


ta por cento), nas seguintes situações: a) caso o município tenha mais de
50% da área ocupada por Unidades de Conservação de domínio público
e por terras indígenas devidamente homologadas (art. 12, § 4º, da Lei n.
12.651/12); e, b) caso o Estado tenha Zoneamento Ecológico aprovado e
mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por
Unidade de Conservação de domínio público regularizado e por terras
indígenas homologadas (art. 12, § 5º, da Lei n. 12.651/12).

“A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei


municipal, não obriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área
de Reserva Legal, que será extinta concomitantemente ao registro do par-
celamento do solo para fins urbanos, aprovado segundo a legislação es-
pecífica e consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o § 1º do
art. 182 da Constituição Federal (art. 19)” (MELO, 2017, p. 284).

O art. 15, da Lei n. 12.651/12, aduz ser possível o cômputo da APP no


percentual do cálculo de Reserva Legal, desde que atendidas as três situa-
ções descritas, de forma cumulativa, a saber: a) não implique a conversão
de novas áreas para o uso alternativo do solo; b) a área a ser computada
esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme compro-
vação do proprietário ou órgão estadual integrante do SISNAMA; e, c) o

Direito Ambiental 41
proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro
Ambiental Rural (CAR). Importante consignar que o regime jurídico da APP
será o mesmo, fica apenas reduzida a Reserva Legal.

Não será obrigatória a constituição de Reserva Legal: a) em empreendi-


mentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto (art.
12, § 6º, da Lei n. 12.651/12); b) em áreas adquiridas ou desapropriadas
por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de
potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos
de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas
de transmissão e de distribuição de energia elétrica (art. 12, § 7º, da Lei
n. 12.651/12); e, c) áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias (art. 12, §
8º, da Lei n. 12.651/12).

O registro da área de reserva legal no CAR desobriga a sua averbação


junto à matrícula do referido imóvel no Cartório de Registro de Imóveis.
Contudo, o proprietário ou possuidor que desejar fazer a averbação terá
direito à gratuidade desse ato (art. 18, § 4º, da Lei n. 12.651/12).

1.2.1. Regime jurídico

Admite-se a exploração econômica da reserva legal mediante manejo sus-


tentável, previamente aprovado pelo órgão competente do SISNAMA, de
acordo com as modalidades previstas no art. 20, da Lei n. 12.651/1, quais
sejam, sem propósito comercial e com propósito comercial.

“O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com pro-


pósito comercial depende de autorização do órgão competente e deverá
atender as seguintes diretrizes: a) não descaracterizar a cobertura vegetal
e não prejudicar a conservação da vegetação nativa da área; b) assegurar
a manutenção da diversidade das espécies; e, c) conduzir o manejo de es-
pécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração
de espécies nativas” (MELO, 2017, p. 282).

42 Direito Ambiental
Já o manejo sustentável da vegetação da Reserva Legal, para consumo
próprio, e portanto, sem propósito comercial, independe de autorização,
devendo apenas ser declarados previamente ao órgão ambiental a moti-
vação da exploração e o volume explorado, limitada a exploração anual a
20 metros cúbicos (art. 23, da Lei n. 12.651/12).

1.3. Área rural consolidada

A definição de área rural consolidada é fundamental para a Lei n. 12.651/12,


pois o Código Florestal concede uma série de prerrogativas e privilégios
para a regularização das intervenções irregulares preexistentes a 22 de
junho de 2008 (MELO, 2017).

Entende-se por área rural consolidada, área de imóvel rural com ocupa-
ção antrópica preexistente a 22 de junho de 2008, com edificações, ben-
feitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a
adoção do regime de pousio.

1.4. Áreas de uso restrito

A Lei n. 12.651/12 protege as áreas de uso restrito, além das APP’s e


Reservas Legais.

São áreas de uso restrito:

a) os pantanais e planícies pantaneiras: onde é permitida a exploração


ecologicamente sustentável, nos termos do art. 10, da Lei n. 12.651/12; e,
b) as áreas de inclinação entre 25º e 45º: “sendo permitido o manejo
florestal sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem
como a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvi-
mento de atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo
vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utili-
dade pública e interesse social” (MELO, 2017, p. 289).

Direito Ambiental 43
1.5. Cadastro Ambiental Rural (CAR)

O CAR foi criado no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre


o Meio Ambiente (SINIMA), com a finalidade de integrar as informações
ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados
para o controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico
e combate ao desmatamento (art. 29, da Lei n. 12.651/12). É obrigatório
para todos os imóveis rurais.
O Decreto n. 7.830/12 regulamenta o CAR.

2. Servidão Ambiental

Trata-se de instrumento econômico da Política Nacional do Meio Ambiente


(PNMA), previsto no art. 9º, XIII, da Lei n. 6.938/81, e regulamentado entre
os artigos 9ºA a 9ºC, da Lei n. 6.938/81.
Em termos legais, a servidão ambiental pode ser definida como uma es-
pécie de servidão, por meio da qual o proprietário ou possuidor de imó-
vel, pessoa natural ou jurídica, por instrumento público ou particular ou
por termo administrativo firmado perante órgão integrante do SISNAMA,
limita o uso de toda a sua propriedade ou parte dela, para fins de preser-
var, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes (art. 9º-A,
caput, da Lei n. 6.938/81).
O instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental deve incluir,
segundo o art. 9ºA, § 1º, da Lei n. 6.938/81: a) o memorial descritivo da
área da servidão, contendo pelo menos um ponto de amarração geor-
referenciado; b) objeto da servidão ambiental; c) direitos e deveres do
proprietário ou possuidor instituidor; e, d) prazo que a área permanecerá
como servidão ambiental.
“O detentor da servidão ambiental poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-
-la, total ou parcialmente, por prazo determinado ou em caráter definiti-
vo, em favor de outro proprietário ou de entidade pública ou privada que
tenha a conservação ambiental como fim social” (MELO, 2017, p. 150).

44 Direito Ambiental
A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou per-
pétua (art. 9ºB, da Lei n. 6.938/81). O prazo mínimo da servidão ambiental
temporária é de 15 (quinze) anos (art. 9ºB, § 1º, da Lei n. 6.938/81).
O contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental
deve ser averbado na matrícula do imóvel, e deve contar com no míni-
mo: a) a delimitação da área submetida à preservação, conservação ou
recuperação ambiental; b) o objeto da servidão ambiental; c) os direitos
e deveres do proprietário instituidor e dos futuros adquirentes ou suces-
sores; d) os direitos e deveres do detentor da servidão ambiental; e) os
benefícios de ordem econômica do instituidor e do detentor da servidão
ambiental; e, f) a previsão legal para garantir o seu cumprimento, inclusi-
ve medidas judiciais necessárias, em caso de ser descumprido.
Os deveres do proprietário do imóvel serviente encontram-se previstos
no art. 9ºC, § 2º, da Lei n. 6.938/81, já os deveres do detentor da servidão
ambiental estão elencados no art. 9ºC, § 3º, da Lei n. 6.938/81.
O art. 9ºA, § 2º, da Lei n. 6.938/81, dispõe que: “A servidão ambiental não se
aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal mínima exi-
gida”, pois estas áreas já se encontram protegidas pelo Código Florestal.
As obrigações decorrentes da servidão ambiental, durante o prazo de sua
vigência, possuem natureza real (propter rem), transferindo-se ao atual pro-
prietário ou possuidor a qualquer título (art. 9ºA, § 6º, da Lei n. 6.938/81).

PARA SABER MAIS


A área de servidão ambiental pode ser objeto de compen-
sação de reserva legal, ficando obrigado ambos os imóveis
envolvidos à averbação da informação junto à matrícula dos
imóveis (art. 9ºA, § 5º, da Lei n. 6.938/81).

Por fim, as áreas que tenham sido instituídas na forma de servidão flores-
tal, nos termos do art. 44A, da Lei n. 4.771/65 (revogada pelo atual Código
Florestal, Lei n. 12.651/12), passaram a ser consideradas como servidão
ambiental (art. 9ºA, § 7º, da Lei n. 6.938/81).

Direito Ambiental 45
3. Bioma Mata Atlântica

A Mata Atlântica é constituída por uma formação homogênea situada na


Serra do Mar, que percorre 17 estados brasileiros. Segundo dados do
IBAMA, há no Bioma Mata Atlântica 1.361 espécies da fauna, sendo 261
mamíferos, 620 aves, 200 répteis e 280 anfíbios. Do total, 567 espécies só
existem nesse bioma. Ademais, há 20 mil espécies de plantas vasculares,
das quais 8 mil só ocorrem na Mata Atlântica.

LINK
Acesse o link: <http://siscom.ibama.gov.br/monitora_biomas/
PMDBBS%20-%20MATA%20ATLANTICA.html>.
Acesso em: 30 ago. 2018.

O art. 225, § 4º, da CF/88, elenca os macroecossistemas, e dentre eles dis-


põe que a Mata Atlântica é considerada patrimônio nacional, e a sua utili-
zação far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a pre-
servação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Nesse contexto, a Lei n. 11.428/06 tem por objeto a conservação, prote-
ção, regeneração e utilização do Bioma Mata Atlântica e os remanescen-
tes de vegetação ativa no estágio primário e secundário (inicial, médio
e avançado) de regeneração. Cuida também das hipóteses de utilização
deste bioma, observando conjuntamente o que dispõe o Código Florestal
(Lei n. 12.651/12) a respeito.

3.1. Vegetação integrante do Bioma Mata Atlântica

Nos termos do art. 2º, da Lei n. 11.428/06, “consideram-se integrantes do


Bioma Mata Atlântica as seguintes formações florestais nativas e ecos-
sistemas associados, com as respectivas delimitações estabelecidas em
mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme re-
gulamento: Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, também

46 Direito Ambiental
denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta
Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os
manguezais, as vegetações de restingas, campos de altitude, brejos inte-
rioranos e encraves florestais do Nordeste”.

3.2. Objetivos e princípios

A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica “tem por objetivo geral


o desenvolvimento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda
da biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos
e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social” (art. 6º, da Lei n.
11.428/06).
Devem ser observados os seguintes princípios na proteção e utilização do
Bioma Mata Atlântica: função socioambiental da propriedade, equidade
intergeracional, da prevenção, precaução, usuário-pagador, transparên-
cia das informações e atos, gestão democrática, celeridade procedimen-
tal, gratuidade dos serviços administrativos prestados ao pequeno produ-
tor rural e às populações tradicionais e respeito ao direito de propriedade
(art. 6º, parágrafo único, da Lei n. 11.428/06).

3.3. Regime jurídico

A teor do art. 7º, da Lei n. 11.428/06, a proteção e utilização do Bioma


Mata Atlântica far-se-á dentro de condições que assegurem:
a) A manutenção e a recuperação da biodiversidade, vegetação, fauna e
regime hídrico do Bioma para as presentes e futuras gerações;
b) O estímulo à pesquisa, à difusão de tecnologias de manejo sustentável
da vegetação e à formação de uma consciência pública sobre a neces-
sidade de recuperação e manutenção dos ecossistemas;
c) O fomento de atividades públicas e privadas compatíveis com a manu-
tenção do equilíbrio ecológico;
d) O disciplinamento da ocupação rural e urbana, de forma a harmonizar
o crescimento econômico com a manutenção do equilíbrio ecológico.

Direito Ambiental 47
Interessante constar que a Lei n. 11.428/06 disciplina mais o aspecto da
exploração do bioma do que a preservação propriamente dita.
Nesse sentido, dispõe o art. 8º, da lei supra que o corte, a supressão e a
exploração da vegetação do Bioma Mata Atlântica far-se-ão de maneira
diferenciada, conforme se trate de vegetação primária ou secundária, le-
vando-se em conta nesta última, o estágio de regeneração.
Considera-se: a) vegetação primária, aquela que ainda não sofreu inter-
venção antrópica; b) vegetação secundária, aquela que decorre de seu
estágio de regeneração, que se classifica em: avançado, médio e inicial
(MELO, 2017).

PARA SABER MAIS


O autor Fabiano Melo, em sua obra, faz a seguinte observa-
ção: o corte e a supressão do Bioma Mata Atlântica em vege-
tação primária e vegetação secundária em estágio avança-
do, possuem hipóteses mais restritivas. Com isso, indaga-se:
para flexibilizar as regras legais de corte e supressão é ne-
cessário somente desfigurar o estágio da vegetação nativa?
A resposta é negativa.
A respeito, dispõe o art. 5º, da Lei n. 11.428/06, “a vegetação
primária ou secundária em qualquer estágio de regeneração
do Bioma Mata Atlântica não perderá esta classificação nos
casos de incêndio, desmatamento ou qualquer outro tipo de
intervenção não autorizada ou não licenciada”.
Portanto, ainda que se verifique a ocorrência dessas intera-
ções, não poderá o empreendedor solicitar a flexibilização
das normas de corte e supressão da vegetação nativa (MELO,
2017, p. 528).

O corte e a supressão da vegetação primária ou secundária em estágio


avançado, médio ou inicial de regeneração, em áreas urbanas ou nas ati-
vidades minerárias, somente serão autorizadas em caráter excepcional,

48 Direito Ambiental
quando necessários à realização de obras, projetos ou atividades de uti-
lidade pública, pesquisas científicas e práticas preservacionistas, nos ter-
mos dos artigos 20 a 32, da citada lei.

Na hipótese de utilidade pública, o corte e a supressão de vegetação, de-


verá observar o disposto no art. 14, da Lei n. 11.428/06, além da realiza-
ção de Estudo Prévio de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de
Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA) (art. 20, parágrafo único, da Lei n.
11.428/06).

3.4. Vedações ao Corte e Supressão no Bioma da Mata Atlântica

As vedações a respeito do corte e supressão de vegetação primária ou


nos estágios avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica,
encontram-se previstas no art. 11, da Lei n. 11.428/06, e demonstradas
através do quadro abaixo:
É VEDADO O CORTE QUANDO A VEGETAÇÃO:
Abrigar espécies de flora e fauna silvestres ameaça-
das de extinção, em território nacional ou em âmbito
estadual, assim declaradas pela União ou pelos Esta-
dos, e a intervenção ou parcelamento puserem em
risco a sobrevivência dessas espécies (art. 11, I, “a”, da
Lei n. 11.428/06);
O proprietário ou posseiro
Exercer função de proteção de mananciais ou de pre- que não cumprir os disposi-
servação e controle de erosão (art. 11, I, “b”, da Lei n. tivos da legislação ambien-
11.428/06); tal, em especial das áreas de
Formar corredores entre remanescentes de vegeta- preservação permanente e
ção primária ou secundária em estágio avançado de reserva legal, respondem pe-
regeneração (art. 11, I, “c”, da Lei n. 11.428/06); las normas previstas na Lei n.
12.651/12 (Código Florestal).
Proteger o entorno das unidades de conservação (art.
11, I, “d”, da Lei n. 11.428/06);
Possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido
pelos órgãos executivos competentes do Sistema Na-
cional do Meio Ambiente (SISNAMA) (art. 11, I, “e”, da
Lei n. 11.428/06).
Fonte: MELO, 2017, p. 530

Direito Ambiental 49
3.5. Incentivos econômicos

Segundo o art. 33, caput, da Lei n. 11.428/06, o Poder Público, sem preju-
ízo das obrigações dos proprietários e posseiros, estabelecida na legisla-
ção ambiental, estimulará através de incentivos econômicos a proteção e
o uso sustentável do Bioma Mata Atlântica.

Na regulamentação dos incentivos econômicos ambientais, serão obser-


vadas as seguintes características da área beneficiada: a) a importância e
representatividade ambientais do ecossistema e da gleba; b) a existência
de espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção; c) a relevância dos
recursos hídricos; d) o valor paisagístico, estético e turístico; e) o respeito
às obrigações impostas pela legislação ambiental;  e, f) a capacidade de
uso real e sua produtividade atual. (art. 33, § 1º, da Lei n. 11.428/06).

Registre-se que os incentivos estabelecidos na citada lei não excluem ou


restringem outros benefícios, abatimentos e deduções em vigor, em es-
pecial as doações a entidades de utilidade pública efetuadas por pessoas
físicas ou jurídicas (art. 33, § 2º, da Lei n. 11.428/06).

4. Gerenciamento de Recursos Hídricos

4.1. Regime Constitucional: competências e domínio

A Constituição Federal (CF) de 1988, em seu art. 22, IV, prevê a competên-
cia privativa da União para legislar sobre: “águas, energia, informática, te-
lecomunicações e radiodifusão”. O parágrafo único do referido artigo de-
termina que lei complementar pode autorizar os Estados a legislar sobre
questões específicas destas matérias, e aos municípios, como não pos-
suem águas de seu domínio, compete apenas gerir a drenagem urbana, e
em alguns casos, rural, com fundamento em sua competência legislativa
para tratar de interesses locais e suplementar a legislação federal e esta-
dual (art. 29 e art. 30, I e II, da CF/88).

50 Direito Ambiental
Nos termos do art. 21, XII, alíneas “b”, “d” e “f” da CF/88, cabe à União ex-
plorar diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: os
serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético
dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se localizam os
potenciais hidroenergéticos; os serviços de transporte ferroviário e aqua-
viário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham
os limites de Estado ou Território; os portos marítimos, fluviais e lacustres.

Outra importante função atribuída à União encontra-se disciplinada no


art. 21, XIX, da CF/88, e diz respeito a sua competência para “instituir o
sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios
de outorga de direitos de seu uso”. Tal dispositivo encontra-se regula-
mentado pela Lei n. 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH).

Importa consignar que nos termos constitucionais as águas estaduais


constituem bens públicos de domínio dos Estados, cabendo a estes a ges-
tão e regulamentação (art. 26, I, II e III, da CF/88).

4.2. Fundamentos

Os fundamentos basilares da PNRH encontram-se previstos nos incisos


do art. 1º, da Lei n. 9.433/97, a saber:
a) “A água é um bem de domínio público”, afastando o legislador incidên-
cia de águas particulares;
b) “A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico”: o
legislador reconheceu o caráter finito dos recursos hídricos, qualifican-
do-os como um bem econômico, em face de sua escassez e necessida-
de de uso racional;
c) “Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais”;
d) “A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múlti-
plo das águas”. Segundo MELO (2017, p. 548), entende-se por uso múl-
tiplo a otimização do uso das águas;

Direito Ambiental 51
e) “A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e a atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos”. Segundo MELO (2017, p. 548),
pode-se definir uma bacia hidrográfica como uma área de drenagem
de um curso d’água ou lago; e,
f) “A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com
a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades”. Tal
fundamento encontra razão no princípio da participação.

4.3. Objetivos

Os objetivos da PNRH encontram-se disciplinados no art. 2º, da Lei n.


9.433/97:
a) assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de
água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
b) a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o
transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
c) a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem
natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais;
d) incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento
de águas pluviais.

4.4. Diretrizes Gerais

Segundo o art. 3º, da Lei n. 9.433/97, são diretrizes da PNRH:


a) a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspec-
tos de quantidade e qualidade;
b) a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bi-
óticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regi-
ões do País;
c) a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;
d) a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores
usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional;

52 Direito Ambiental
e) a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;
f) a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas
estuarinos e zonas costeiras.

“A União articular-se-á com os Estados tendo em vista o gerenciamento


dos recursos hídricos de interesse comum” (art. 4º, da Lei n. 9.433/97).

4.5. Instrumentos

São instrumentos da PNRH, nos termos do art. 5º, da Lei n. 9.433/97:


a) Planos de Recursos Hídricos: tratam-se de planos diretores de longo
prazo, elaborados por bacia hidrográfica, Estado e para o país, com o
objetivo de fundamentar e orientar a implementação da PNRH e o ge-
renciamento de recursos hídricos (arts. 6º a 8º, da Lei n. 9.433/97);
b) Enquadramento dos corpos d’água em classes: tem por objetivo
nos termos do art. 9º, da Lei n. 9.433/97: assegurar às águas qualida-
de compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas; e,
diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações
preventivas permanentes. A classificação das águas encontra-se disci-
plinada pela Resolução n. 357/05 do CONAMA;
c) Outorga de direitos de uso dos recursos hídricos: encontra-se regu-
lamentada entre os artigos 11 a 18, da Lei n. 9.433/97, e tem por obje-
tivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e
o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. A outorga de direitos
de uso dos recursos hídricos tem natureza jurídica de autorização ad-
ministrativa e constitui manifestação do exercício do poder de polícia
ambiental.

As atividades sujeitas à outorga do uso dos recursos hídricos pelo Poder


Público encontram-se elencadas nos incisos do art. 12, da Lei n. 9.433/97,
e as atividades que independem de outorga no § 1º, do mesmo dispositivo.

A outorga não implica a alienação parcial das águas, pois são inalienáveis,
mas sim o simples direito de seu uso, que não poderá ser superior a 35
anos, renovável (arts. 16 e 18, da Lei n. 9.433/97).

Direito Ambiental 53
d) Cobrança pelo uso dos recursos hídricos: encontra-se disciplinada
entre os artigos 19 a 22, da Lei n. 9.433/97, e baseia-se no princípio do
usuário-pagador.
e) Compensação a municípios: embora prevista como instrumento da
PNRH, a compensação a municípios foi objeto de veto presidencial
(MELO, 2017, p. 553).
f) Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos: trata-se de um
“sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de in-
formações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua
gestão” (art. 25, da Lei n. 9.433/97), devidamente discriminado entre os
artigos 25 a 27, da Lei n. 9.344/97.

4.6. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

A estrutura de gestão da PNRH foi instituída pelo Sistema Nacional de


Gerenciamento de Recursos Hídricos, tendo por objetivos, nos termos do
art.32, da Lei n. 9.433/97:
a) coordenar a gestão integrada das águas;
b) arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recur-
sos hídricos;
c) implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;
d) planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos
recursos hídricos;
e) promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.
Compõem a estrutura do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, os órgãos descritos no art. 33, da Lei n. 9.433/97:
a) o Conselho Nacional de Recursos Hídricos: com atribuições delibera-
tivas e normativas descritas no art. 35, da Lei n. 9.433/97;
b) a Agência Nacional de Águas: com objetivo de implementar a PNRH
(Lei n. 9.984/00);
c) os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal:
com atribuições deliberativas e normativas no âmbito da gestão das
águas sob domínio dos Estados e do Distrito Federal;

54 Direito Ambiental
d) os Comitês de Bacia Hidrográfica: com competência deliberativa no
âmbito local e para fins de estabelecer “mecanismos de cobrança pelo
uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados”, bem
como “estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras e
uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo” (art. 38, VI e IX, da Lei n.
9.433/97);
e) os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito
Federal e municipais, cujas competências se relacionem com a gestão
de recursos hídricos;
f) as Agências de Água: com função de secretaria executiva dos respec-
tivos Comitês de Bacia Hidrográfica (art. 41, da Lei n. 9.433/97).

Pontuando

• O Código Florestal, Lei n. 12.651/12, estabelece normas de prote-


ção da vegetação inserida em áreas de preservação permanente e
reserva legal;

• As obrigações previstas na Lei n. 12.651/12 têm natureza real (prop-


ter rem), sendo transmitidas ao sucessor de qualquer natureza, em
caso de transferência de domínio ou posse do imóvel;

• Considera-se APP’s a área coberta ou não por vegetação nativa, com


a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das popula-
ções humanas;

• Há duas formas de se criar APP’s: por força de lei (art. 4º, da Lei n.
12.651/12), ou por ato do Poder Executivo (art. 6º, da Lei n. 12.651/12);

• Reserva Legal é a área localizada no interior de uma posse ou pro-


priedade rural, delimitada nos termos do art. 12, da Lei n. 12.651/12,
com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável
dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a

Direito Ambiental 55
reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da
biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre
e da flora nativa;

• É admitido o cômputo das APP’s no cálculo do percentual da Reserva


Legal do imóvel, desde que: a) o benefício não implique na conver-
são de novas áreas para o uso alternativo do solo; b) a área a ser
computada esteja conservada ou em processo de recuperação, con-
forme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do
SISNAMA; e, c) o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão
do imóvel no CAR;

• O CAR foi criado pela Lei n. 12.651/12 (Novo Código Florestal), no


âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente
(SINIMA), e trata-se de registro público eletrônico de âmbito nacional,
obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de inte-
grar as informações ambientais das propriedades e posses rurais,
compondo base de dados para controle, monitoramento, planeja-
mento ambiental e econômico e combate ao desmatamento;

• Servidão ambiental pode ser definida como uma espécie de servi-


dão, por meio da qual o proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa
natural ou jurídica, por instrumento público ou particular ou por ter-
mo administrativo firmado perante órgão integrante do SISNAMA,
limita o uso de toda a sua propriedade ou parte dela, para fins de
preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes

• Não é possível instituir servidão ambiental sobre área de preserva-


ção permanente e reserva legal;

• Nos termos da Lei n. 11.428/06, é objetivo geral do Bioma Mata


Atlântica o desenvolvimento sustentável, e são objetivos gerais:
a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores
paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabili-
dade social;

56 Direito Ambiental
• O corte, a supressão ou exploração do Bioma Mata Atlântica deverá
respeitar a divisão entre vegetação primária e secundária. Trata-se
de vegetação primária aquela que não sofreu interação antrópica, e
secundária aquela que sofreu alguma espécie de interação humana.
Na vegetação secundária analisa-se o seu estágio de regeneração:
avançado, médio ou inicial;

• São objetivos da PNRH: a) assegurar à atual e às futuras gerações


a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade
adequados aos respectivos usos; b) a utilização racional e inte-
grada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário,
com vistas ao desenvolvimento sustentável; c) a prevenção e a
defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural
ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais; e, d)
incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveita-
mento de águas pluviais;

• A outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos constitui mani-


festação do exercício do poder de polícia e sua natureza jurídica de
autorização administrativa;

• A outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos não implica em


alienação parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples
direito de seu uso;

• O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem


como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos
usos de água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água;

• O prazo da outorga de direito de uso de recursos hídricos não exce-


de a 35 anos, renovável.

Direito Ambiental 57
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 02
1. Nos termos do atual Código Florestal, são consideradas
áreas de preservação permanente as áreas ao longo de
qualquer curso d’água, natural, perene e intermitente, ex-
cluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regu-
lar, em largura mínima de:
a) 10 metros para os cursos d’água com até 5 metros de
largura.
b) 30 metros para os cursos d’água de 15 metros de
largura.
c) 50 metros para os cursos d’água que tenham até 30
metros de largura.
d) 150 metros para os cursos d’água que tenham mais de
200 metros de largura.
e) 500 metros para os cursos d’água que tenham mais de
600 metros de largura.
2. A respeito das normas aplicáveis à reserva legal, previstas
na Lei n. 12.651/12, assinale a alternativa correta:
a) Considera-se reserva legal a área coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar
os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geoló-
gica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna
e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das po-
pulações humanas.
b) Os empreendimentos de abastecimento público de
água e tratamento de esgoto estão sujeitos à constitui-
ção de reversa legal.
c) Os imóveis rurais localizados na Amazônia Legal de-
verão observar os percentuais mínimos em relação à

58 Direito Ambiental
área do imóvel, de: 80%, se situado em área de floresta;
35%, se situado em área de cerrado; e, 20%, se situado
em área de campos gerais.
d) Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer
título, inclusive para assentamentos pelo Programa de
Reforma Agrária, não será considerada, para fins de es-
tabelecimento do percentual de reserva legal, a área do
imóvel antes do fracionamento.
e) Será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas
ou desapropriadas com o objetivo de implantação e
ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias. 
3. Com relação à servidão ambiental, assinale a opção correta:
a) a servidão ambiental não se aplica às áreas de preser-
vação permanente e à reserva legal mínima exigida.
b) em termos legais é vedada a servidão perpétua.
c) o prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de
5 (cinco) anos.
d) o contrato de alienação, cessão ou transferência da
servidão ambiental não precisa ser averbado junto à
matrícula do imóvel, bastando a sua inscrição no CAR.
e) é proibida a cessão gratuita da servidão ambiental.
4. A respeito das definições, objetivos e princípios do regi-
me jurídico do Bioma Mata Atlântica, assinale a alternativa
correta:
a) A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm
por objetivo geral a salvaguarda dos recursos hídricos. 
b) O corte, a supressão e a exploração da vegetação do
Bioma Mata Atlântica far-se-ão de maneira unificada,
conforme se trate de vegetação primária ou secundária.
c) O Bioma Mata Atlântica tem por objetivos específicos a
salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos
valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime
hídrico e da estabilidade social. 

Direito Ambiental 59
d) São estágios de regeneração da vegetação primária do
Bioma Mata Atlântica: avançado, médio e inicial.
e) A vegetação primária ou a vegetação secundária em
qualquer estágio de regeneração do Bioma Mata
Atlântica perderão esta classificação nos casos de in-
cêndio não criminoso. 
5. A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos se-
guintes fundamentos:
I. a água é um bem de domínio público;
II. a água é um recurso natural ilimitado, dotado de valor
econômico;
III. em situações de escassez, o uso prioritário dos recur-
sos hídricos é o consumo humano e a dessedentação
de animais;
IV. a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcio-
nar o uso múltiplo das águas;
V. a gestão dos recursos hídricos deve ser centralizada no
Poder Público.
Considerando as assertivas acima, assinale a que melhor
corresponde às proposições da Lei n. 9.433/97:

a) Apenas as assertivas I, II e V estão corretas.


b) Apenas as assertivas I, III e IV estão corretas.
c) Apenas as assertivas I, III e V estão corretas.
d) Apenas as assertivas II, IV e V estão corretas.
e) Apenas as assertivas II, III e IV estão corretas.

60 Direito Ambiental
Referências Bibliográficas

ANTUNES, Paulo de Bessa. Poder Judiciário e Reserva Legal: análise de recentes deci-
sões do Superior Tribunal de Justiça. Revista de Direito Ambiental. São Paulo: RT, 2001.

MELO, Fabiano. Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017.

. Direitos Humanos. São Paulo: Método, 2016.

. Direitos Difusos e Coletivos: Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2012.

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2017.

Gabarito – Aula 02

Questão 1 – Resposta: E

Nos termos do art. 4, I, “e”, da Lei n. 12.651/12: Considera-se APP,


em zonas rurais ou urbanas, as faixas marginais de qualquer curso
d’água, natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde
a borda da calha do leito regular, em largura mínima de  500 (qui-
nhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior
a 600 (seiscentos) metros.

Questão 2 – Resposta: C

Dispõe o art. 12, I, alíneas “a”, “b” e “c”, da Lei n. 12.651/12: “Todo
imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a
título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre
as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes per-
centuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos
previstos no art. 68 desta Lei: I - localizado na Amazônia Legal: a) 80%
(oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35%
(trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c)
20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais”.

Direito Ambiental 61
Questão 3 – Resposta: A

O art. 9ºA, § 2º, da Lei n. 6.938/81, dispõe que “A servidão ambiental


não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal
mínima exigida”.

Questão 4 – Resposta: C

Segundo dispõe o art. 6º, da Lei n.11.428/06: “A proteção e a utili-


zação do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o desenvolvi-
mento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da bio-
diversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e
turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social”.

Questão 5 – Resposta: B

A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fun-


damentos: I - a água é um bem de domínio público; II - a água é um
recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III - em situa-
ções de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação de animais; IV - a gestão dos recursos hí-
dricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas [...] VI - a
gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.(art.
1º, da Lei n. 9.433/97).

62 Direito Ambiental
TEMA 03
POLÍTICA NACIONAL DE
GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS

Objetivos

• Compreender a sistemática introduzida pela Lei n.


12.305/10 (conhecida como a Lei da PNRS);

• Analisar os objetivos da Política Nacional de Resíduos


Sólidos, seus princípios, instrumentos e diretrizes
relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de
resíduos sólidos;

• Compreender a responsabilidade compartilhada pelo


ciclo de vida dos produtos e logística reversa;

• Esclarecer sobre os instrumentos econômicos da


PNRS.

Direito Ambiental 63
Introdução

A escassez de recursos ambientais em conjugação com a conscientização


quanto às consequências sobre o descarte adequado do lixo e o seu va-
lor econômico agregado, demonstrou a essencialidade de se estabelecer
regulamentação para a gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos.
Nesse sentido, após 20 anos de tramitação no Congresso Nacional, em 02
de agosto de 2010 entrou em vigor a Lei n. 12.305, que instituiu a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada pelo Decreto n.
7.404/10.

A Lei n. 12.305/10 contém 57 artigos assim distribuídos: das definições;


dos princípios; dos objetivos; dos instrumentos; das diretrizes e planos;
da responsabilidade dos geradores e do poder público; dos resíduos pe-
rigosos; dos instrumentos econômicos; das proibições e das disposições
transitórias e finais.

A PNRS tem por escopo a gestão e o gerenciamento apropriado de resídu-


os, de forma compartilhada e integrada entre os setores público e priva-
do. Através da Lei n. 12.305/10 foi feita a distinção entre resíduo e rejeito
e, segundo o seu art. 1º, a lei aplica-se a todo o tipo de resíduo, excluindo
os radioativos, que são regulamentados por legislação específica.

São pontos que merecem destaque na Lei n. 12.305/10: a responsabilida-


de compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (art. 3º, XVII) e a logística
reversa (art. 3º, XII). Esses dois institutos são claramente mecanismos do
princípio do poluidor pagador.

64 Direito Ambiental
PARA SABER MAIS
A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública
e Resíduos Especiais (ABRELPE) publica desde 2003,
anualmente, o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Só
no ano de 2016, o Brasil gerou 78,3 milhões de toneladas de
resíduos sólidos, dos quais 71,3 milhões de toneladas foram
coletados, e os 7 milhões de toneladas de resíduos que não
foram objeto de coleta, consequentemente tiveram destino
impróprio. No que diz respeito à disposição final dos resíduos
sólidos coletados, 58,4% ou 41,7 milhões de toneladas foram
enviados para aterros sanitários. O caminho da disposição
inadequada continuou sendo trilhado por 3.331 municípios
brasileiros, que enviaram mais de 29,7 milhões de toneladas
de resíduos, correspondentes a 41,6% do coletado em 2016,
para lixões ou aterros controlados, que não possuem o
conjunto de sistemas e medidas necessários para proteção
do meio ambiente contra danos e degradações. Para mais
informações, acesse o link: <http://www.abrelpe.org.br/
panorama_apresentacao.cfm>. Acesso em: 17 jul. 2018.

1. Objeto e campo de aplicação

Trata-se de objeto da PNRS a gestão integrada e o gerenciamento de re-


síduos sólidos.

Nos termos do art. 3º, XVI, da Lei n. 12.302/10, entende-se por resíduos
sólidos: “material, substância, objeto ou bem descartado resultante de
atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se
propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas

Direito Ambiental 65
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de es-
gotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou eco-
nomicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”.

PARA SABER MAIS


Resíduos sólidos não se confundem com rejeitos. Nos termos
do art. 3º, XV, da Lei n. 12.305/10, considera-se rejeitos: “resí-
duos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilida-
des de tratamento e recuperação por processos tecnológicos
disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem ou-
tra possibilidade que não a disposição final ambientalmente
adequada”. Portanto, é inviável o tratamento e recuperação
dos rejeitos.

Com efeito, a gestão integrada de resíduos sólidos, de acordo com PNRS,


constitui um “conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para
os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econô-
mica, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvol-
vimento sustentável” (art. 3º, XI, da Lei n. 12.305/10).
Importante destacar que a lei da PNRS proíbe de forma explícita o lança-
mento de resíduos sólidos ou rejeitos a céu aberto, ou seja, os conhecidos
lixões, assim como a fixação de habitações nas áreas de disposição final
de resíduos ou rejeitos, vedando também a importação de resíduos sóli-
dos ou rejeitos perigosos (FIORILLO, 2017).
Já o gerenciamento de resíduos sólidos trata-se do “conjunto de ações
exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, trans-
bordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resí-
duos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de
acordo com o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
(PMGIRS) ou com o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos” (art. 3º,
X, da Lei n. 12.305/10).

66 Direito Ambiental
Estão sujeitas à observância da Lei n. 12.305/10 as pessoas físicas ou jurí-
dicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamen-
te, pela geração de resíduos sólidos, e as que desenvolvam ações relacio-
nadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.  Não
se aplicando aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação
específica. 

Ademais, aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto na Lei n.


12.305/10, as Leis número 11.445/07 e 9.966/00, as normas estabelecidas
pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema
Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção
à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro).

2. Princípios e objetivos

Os princípios da PNRS encontram-se disciplinados pelo art. 6º, da Lei n.


12.305/10, a saber:
a) a prevenção e a precaução; 
b) o poluidor-pagador e o protetor-recebedor; 
c) a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as va-
riáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde
pública; 
d) o desenvolvimento sustentável; 
e) a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a
preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as
necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do im-
pacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mí-
nimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta; 
f) a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor em-
presarial e demais segmentos da sociedade; 

Direito Ambiental 67
g) a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; 
h) o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um
bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e pro-
motor de cidadania; 
i) o respeito às diversidades locais e regionais; 
j) o direito da sociedade à informação e ao controle social; 
k) a razoabilidade e a proporcionalidade.
A maioria dos princípios já eram conhecidos pela doutrina e alguns de-
les já se encontravam inseridos em outras leis esparsas. Contudo, mere-
cem destaque dois princípios novos: o princípio do protetor-recebedor e
o princípio da ecoeficiência.
“O princípio do protetor-recebedor é aplicável à logística reserva, passan-
do os integrantes da cadeia produtiva a dar o destino correto aos resídu-
os por eles produzidos ou comercializados” (SIRVINSKAS, 2017, p. 485).
O princípio da ecoeficiência é autoexplicativo, nos termos do art. 6º, V, da
Lei n. 12.305/10, e relaciona-se ao aproveitamento máximo dos recursos
naturais na produção de determinado bem, extraindo-se o máximo sem
desperdício (SIRVINSKAS, 2017).
Os objetivos são metas que se pretende alcançar com a lei, e encontram-
se arrolados no art. 7º, da Lei n. 12.305/10:
a) proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;
b) não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resí-
duos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada
dos rejeitos; 
c) estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de
bens e serviços; 
d) adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas
como forma de minimizar impactos ambientais; 
e) redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos; 
f) incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso
de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e
reciclados; 

68 Direito Ambiental
g) gestão integrada de resíduos sólidos; 
h) articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com
o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para
a gestão integrada de resíduos sólidos; 
i) capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos; 
j) regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da pres-
tação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resídu-
os sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que
assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados, como
forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira, ob-
servada a Lei n. 11.445/07; 
k) prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para: pro-
dutos reciclados e recicláveis; e, bens, serviços e obras que considerem
critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmen-
te sustentáveis; 
l) integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas
ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de
vida dos produtos; 
m) estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto; 
n) incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e em-
presarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao rea-
proveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o apro-
veitamento energético; 
o) estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável.

3. Instrumentos

Os instrumentos são os meios materiais colocados à disposição do Poder


Público para a concretização dos objetivos traçados. Nesse sentido, são
instrumentos da PNRS, nos termos do art. 8º, da Lei n. 12.305/10:
a) os planos de resíduos sólidos; 
b) os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos; 

Direito Ambiental 69
c) a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramen-
tas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos; 
d) o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de ou-
tras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis; 
e) o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária; 
f) a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado
para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos,
processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento
de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos; 
g) a pesquisa científica e tecnológica; 
h) a educação ambiental; 
i) os incentivos fiscais, financeiros e creditícios; 
j) o Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico; 
k) o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos
(Sinir); 
l) o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa); 
m)os conselhos de meio ambiente e, no que couber, os de saúde; 
n) os órgãos colegiados municipais destinados ao controle social dos ser-
viços de resíduos sólidos urbanos; 
o) o Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos; 
p) os acordos setoriais; 
q) no que couber, os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente,
entre eles:  os padrões de qualidade ambiental;  o Cadastro Técnico
Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras
de Recursos Ambientais;  o Cadastro Técnico Federal de Atividades e
Instrumentos de Defesa Ambiental; a avaliação de impactos ambien-
tais; o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima); e,
o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras; 
r) os termos de compromisso e os termos de ajustamento de conduta; 
s) o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação
entre os entes federados, com vistas à elevação das escalas de aprovei-
tamento e à redução dos custos envolvidos. 

70 Direito Ambiental
4. Diretrizes e classificação

Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a se-


guinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, recicla-
gem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos (art. 9º, caput, da Lei n. 12.305/10).
Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos
resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabili-
dade técnica e ambiental e com a implantação de programa de monitora-
mento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão ambiental (art.
9º, § 1º, da Lei n. 12.305/10).
“A Política Nacional de Resíduos Sólidos e as Políticas de Resíduos Sólidos
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, serão compatíveis com
a ordem de prioridade na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos e
uso de tecnologias, visando à recuperação energética dos resíduos sóli-
dos urbanos e com as demais diretrizes estabelecidas na Lei da PNRS”
(MELO, 2017, p. 621).
Incumbe ao Distrito Federal e aos Municípios a gestão integrada dos re-
síduos sólidos gerados nos respectivos territórios, sem prejuízo das com-
petências de controle e fiscalização dos órgãos federais e estaduais do
Sisnama, do SNVS e do Suasa, bem como da responsabilidade do gera-
dor pelo gerenciamento de resíduos, consoante o estabelecido na Lei da
PNRS (art. 10, da Lei n. 12.305/10).
Incumbe aos Estados, observadas as diretrizes e demais determinações
estabelecidas na Lei n. 12.305/10 e em seu regulamento: 
a) promover a integração da organização, do planejamento e da execu-
ção das funções públicas de interesse comum relacionadas à gestão
dos resíduos sólidos nas regiões metropolitanas, aglomerações urba-
nas e microrregiões, nos termos da lei complementar estadual previs-
ta no § 3º do art. 25 da Constituição Federal (regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões);

Direito Ambiental 71
b) controlar e fiscalizar as atividades dos geradores sujeitas a licencia-
mento ambiental pelo órgão estadual do Sisnama. 

A atuação do Estado deve apoiar e priorizar as iniciativas do Município de


soluções consorciadas ou compartilhadas entre dois ou mais Municípios. 

Nos termos do art. 12, da Lei da PNRS, a União, os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios organizarão e manterão, de forma conjunta, o
Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos
(Sinir), articulado com o Sinisa e o Sinima. 

Incumbe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios fornecer ao ór-


gão federal responsável pela coordenação do Sinir todas as informações
necessárias sobre os resíduos sob sua esfera de competência, na forma e
na periodicidade estabelecidas em regulamento (art. 12, parágrafo único,
da Lei n. 12.305/10). 

Para os efeitos da Lei n. 12.305/10, os resíduos sólidos se classificam


quanto à origem (art. 13, I, alínea “a” a “k”) e periculosidade (art. 13, II, “a”
e “b”), nos termos do quadro abaixo:
ORIGEM PERICULOSIDADE
Resíduos domiciliares (art. 13, I, “a”) Resíduos perigos (art. 13, II, “a”)
Resíduos não perigosos (art. 13,
Resíduos de limpeza urbana (art. 13, I, “b”)
II, “b”)
Resíduos sólidos urbanos (art. 13, I, “c”)
Resíduos de estabelecimentos comerciais e presta-
dores de serviços (art. 13, I, “d”)
Resíduos dos serviços públicos de saneamento bá-
sico (art. 13, I, “e”)
Resíduos industriais (art. 13, I, “f”)
Resíduos de serviços de saúde (art. 13, I, “g”)
Resíduos da construção civil (art. 13, I, “h”)
Resíduos agrossilvipastoris (art. 13, I, “i”)
Resíduos de serviços de transportes (art. 13, I, “j”)
Resíduos de mineração (art. 13, I, “k”)
Fonte: MELO, 2017, p. 623.

72 Direito Ambiental
5. Planos de resíduos sólidos

Segundo Melo (2017, p. 623): “Os planos de resíduos sólidos constituem


documentos com o diagnóstico e a definição de diretrizes, metas, dinâmi-
cas, instrumentos, normas e procedimentos para a execução da gestão e
do gerenciamento de resíduos sólidos no âmbito de sua elaboração”.

São planos de resíduos sólidos:

a) o plano nacional de resíduos sólidos: art. 15, da Lei n. 12.305/10;


b) os planos estaduais de resíduos sólidos: art. 16 e 17, da Lei n. 12.305/10;
c) os planos microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos
sólidos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas: art. 17,
§§ 1º a 3º, da Lei n. 12.305/10;
d) os planos intermunicipais de resíduos sólidos; 
e) os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos: art. 18 e
19, da Lei n. 12.305/10;
f) os planos de gerenciamento de resíduos sólidos: arts. 20 a 23, da Lei n.
12.305/10.

O plano de gerenciamento de resíduos sólidos atenderá ao disposto


no plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos do respec-
tivo Município, sem prejuízo das normas estabelecidas pelos órgãos do
Sisnama, do SNVS e do Suasa (art. 21, § 1º, da Lei n. 12.305/10). 

Registre-se que a inexistência do plano municipal de gestão integrada de


resíduos sólidos não obsta a elaboração, a implementação ou a operacio-
nalização do plano de gerenciamento de resíduos sólidos, segundo preco-
niza o art. 21, § 2º, da Lei da PNRS.

Direito Ambiental 73
PARA SABER MAIS
Os planos municipais de gerenciamento de resíduos sólidos
são os mais importantes, já que implicam descentralização
da gestão dos resíduos sólidos, o que atende muito mais ao
princípio da eficiência. Nesse sentido, é importante lembrar
que a elaboração de plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos é como regra, obrigatória pela lei e condição
para que o Distrito Federal e Municípios tenham acesso aos
recursos da União, ou por ela controlados, destinado a em-
preendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e
ao manejo de resíduos sólidos, ou, ainda, condição para que
o Distrito Federal e os municípios sejam beneficiados por in-
centivos ou financiamentos de entidades federais de crédito
ou fomento para tal finalidade.

Estão sujeitos à elaboração de plano de gerenciamento de resíduos sóli-


dos as pessoas físicas ou jurídicas (art. 20, da Lei n. 12.305/10):
Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico,
que são os geradores nessas atividades, excetuados os re-
síduos sólidos urbanos;
Resíduos industriais, que são os gerados nos processos
produtivos e instalações industriais;
GERADORES DE
Resíduos de serviços de sáude, que são os geradores
RESÍDUOS SÓLIDOS
nos serviços de saúde, conforme definido em regulamen-
to ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama
e do SNVS;
Resíduos de mineração, que são os gerados na atividade
de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios.
Gerem resíduos perigosos;
OS ESTABELECIMENTOS
COMERCIAIS E DE Gerem resíduos que, mesmo caracterizados como não
PRESTAÇÃO DE perigosos, por sua natureza, composição ou volume, não
sejam equiparados aos resíduos domiciliares pelo poder
SERVIÇOS QUE
público municipal.

74 Direito Ambiental
Resíduos de serviços de transporte: os originários de por-
OS RESPONSÁVEIS PELOS tos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e fer-
TERMINAIS E OUTRAS roviários e passagens de fronteira;
INSTALAÇÕES DE TRANS- Nos termos do regulamento ou de normas estabelecidas
PORTES pelos órgãos do Sisnama e, se couber, do SNVS, as empre-
sas de transporte.
Os responsáveis por atividades agrossilvipastoris, se exigido pelo órgão com-
petente do Sisnama, do SNVS ou do Suasa.
As empresas de construção civil, nos termos do regulamento ou de normas
estabelecidas pelos órgãos do Sisnama.
Fonte: MELO, 2017, p. 631.

Os planos de gerenciamento de resíduos sólidos, nos termos do art. 21,


da Lei PNRS, deverão ter no mínimo o seguinte conteúdo:
a) descrição do empreendimento ou atividade; 
b) diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados, contendo
a origem, o volume e a caracterização dos resíduos, incluindo os passi-
vos ambientais a eles relacionados; 
c) observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do
SNVS e do Suasa e, se houver, o plano municipal de gestão integrada
de resíduos sólidos: explicitação dos responsáveis por cada etapa do
gerenciamento de resíduos sólidos; definição dos procedimentos ope-
racionais relativos às etapas do gerenciamento de resíduos sólidos sob
responsabilidade do gerador; 
d) identificação das soluções consorciadas ou compartilhadas com outros
geradores; 
e) ações preventivas e corretivas a serem executadas em situações de
gerenciamento incorreto ou acidentes; 
f) metas e procedimentos relacionados à minimização da geração de re-
síduos sólidos e, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do
Sisnama, do SNVS e do Suasa, à reutilização e reciclagem; 
g) se couber, ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo
de vida dos produtos, na forma do art. 31; 
h) medidas saneadoras dos passivos ambientais relacionados aos resídu-
os sólidos; 
i) periodicidade de sua revisão, observado, se couber, o prazo de vigên-
cia da respectiva licença de operação a cargo dos órgãos do Sisnama. 

Direito Ambiental 75
6. Logística reversa, ciclo de vida do produto, acordo
setorial e responsabilidade compartilhada

A logística reversa é o instrumento de desenvolvimento econômico e so-


cial caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios des-
tinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos pro-
dutivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (art. 3º, XII,
da Lei n. 12.305/10, e art. 13, do Decreto n. 7.404/10).

O art. 33, da Lei PNRS, traz rol exemplificativo de produtos que deverão
integrar a logística reversa, a saber:
a) agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos
cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas
as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou
regulamento (Lei n. 7.802/89 e Decreto n. 4.074/02), em normas esta-
belecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em nor-
mas técnicas; 
b) pilhas e baterias; 
c) pneus; 
d) óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; 
e) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; 
f) produtos eletroeletrônicos e seus componentes. 

“A obrigatoriedade de estruturar e implementar os sistemas de logística


reversa é para os fabricantes, importadores, distribuidores e comercian-
tes desses produtos. Significa que não inclui o gerador de resíduos domi-
ciliares, cuja a obrigação é disponibilizar adequadamente os resíduos só-
lidos reutilizáveis e recicláveis para a devolução nos sistemas de logística
reserva” (MELO, 2017, p. 637).

Considerando a viabilidade técnica e econômica da logística reversa, bem


como o grau e a extensão do impacto à saúde pública e ao meio am-
biente dos resíduos gerados, na forma do disposto em regulamento ou

76 Direito Ambiental
em acordos setoriais e termos de compromisso firmados entre o poder
público e o setor empresarial, o sistema de logística reversa poderá ser
estendido a produtos comercializados em embalagens plásticas, metáli-
cas ou de vidro, e aos demais produtos e embalagens, considerando prio-
ritariamente, o grau e a extensão do impacto à saúde pública e ao meio
ambiente dos resíduos gerados (art. 33, §§ 1º e 2º, da Lei da PNRS). 

Entende-se por ciclo de vida do produto a série de etapas que envolvem o de-
senvolvimento do produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o pro-
cesso produtivo, o consumo e a disposição final (art. 3º, IV, da Lei da PNRS).

Considera-se acordo setorial o ato de natureza contratual firmado entre


o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comer-
ciantes, tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilha-
da pelo ciclo de vida do produto (art. 3º, I, da Lei da PNRS). Talvez tenha
sido esse o ponto mais importante da lei, pois possibilitará a implantação
e operacionalização de logística reversa por meio de três instrumentos:
acordos setoriais; regulamentos expedidos pelo Poder Público ou termos
de compromisso.

Segundo o art. 34, da Lei da PNRS, os acordos setoriais ou termos de com-


promisso podem ter abrangência nacional, regional, estadual ou munici-
pal. Lembrando que os acordos setoriais e termos de compromisso fir-
mados em âmbito nacional têm prevalência sobre os firmados em âmbito
regional ou estadual, e estes sobre os firmados em âmbito municipal.

Outra questão importante é a responsabilidade compartilhada pelo ciclo


de vida dos produtos, que nos termos do art. 3º, XVII, da Lei da PNRS,
pode ser definida como conjunto de atribuições individualizadas e enca-
deadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos
consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e
de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos só-
lidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à
saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos
produtos, nos termos da Lei n. 12.305/10. 

Direito Ambiental 77
Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerenciamento de
resíduos sólidos e com vistas a fortalecer a responsabilidade compartilha-
da e seus objetivos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comer-
ciantes têm responsabilidade que abrange (art. 31, da Lei da PNRS):
a) investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no
mercado de produtos: a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor,
à reutilização, à reciclagem ou a outra forma de destinação ambiental-
mente adequada; b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade
de resíduos sólidos possível; 
b) divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eli-
minar os resíduos sólidos associados a seus respectivos produtos; 
c) recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso,
assim como sua subsequente destinação final ambientalmente ade-
quada, no caso de produtos objeto de sistema de logística reversa na
forma do art. 33; 
d) compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromis-
so com o Município, participar das ações previstas no plano municipal
de gestão integrada de resíduos sólidos, no caso de produtos ainda
não inclusos no sistema de logística reversa.

7. Instrumentos econômicos

Conforme o art. 42, da Lei da PNRS, o poder público poderá instituir me-
didas indutoras e linhas de financiamento para atender, prioritariamente,
às iniciativas de:

a) prevenção e redução da geração de resíduos sólidos no processo


produtivo; 
b) desenvolvimento de produtos com menores impactos à saúde huma-
na e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida; 
c) implantação de infraestrutura física e aquisição de equipamentos para
cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda; 

78 Direito Ambiental
d) desenvolvimento de projetos de gestão dos resíduos sólidos de caráter
intermunicipal ou regional; 
e) estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa; 
f) descontaminação de áreas contaminadas, incluindo as áreas órfãs; 
g) desenvolvimento de pesquisas voltadas para tecnologias limpas apli-
cáveis aos resíduos sólidos; 
h) desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial volta-
dos para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento
dos resíduos.

Vamos Pensar

Verifica-se, por vezes, no contexto das discussões dessa aula, que países
centrais, fortemente industrializados, efetuam a exportação de resíduos
sólidos para países em desenvolvimento, em troca de amortizações de
juros externos, empréstimos e financiamentos de programas, dentre ou-
tras vantagens econômicas.

Um dos casos emblemáticos nesse sentido foi a notícia na mídia da desti-


nação de 81 contêineres de lixo doméstico da Inglaterra para o Brasil de
forma irregular e erroneamente declarado como resíduos plásticos para
reciclagem (<https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,navio-com-lixo-
-importado-ilegalmente-parte-para-a-inglaterra,414051>. Acesso em: 30
ago. 2018).

Desta forma, é necessário indagar: é ilegal a importação de resíduos sóli-


dos no Brasil?

Com efeito, o que é proibido no país é a importação de resíduos perigo-


sos e de quaisquer resíduos destinados à incineração ou outras formas
de disposição final. Desta forma, a importação de resíduos não perigosos
para o Brasil é permitida, mas necessariamente devem ser destinados à
reciclagem em instalações devidamente licenciadas para tal fim.

Direito Ambiental 79
O Brasil é signatário da Convenção de Basileia, tratado internacional que
normatiza a movimentação transfronteiriça de resíduos perigosos. Tal
convenção foi internalizada no país por meio do Decreto n. 875, de 19 de
julho de 1993, e regulamentada pela Resolução Conama n. 452, de 02 de
julho de 2012.

Pontuando

• O objeto da PNRS é a gestão integrada e o gerenciamento de resí-


duos sólidos;

• A Lei da PNRS não se aplica aos rejeitos radioativos;

• Estão sujeitos à Lei PNRS as pessoas físicas ou jurídicas, de direi-


to público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela
geração de resíduos sólidos, e as que desenvolvam ações relacio-
nadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos;

• Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada


a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutiliza-
ção, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente correta dos rejeitos;

• Os resíduos sólidos podem ser classificados quanto à origem e


quanto à periculosidade;

• Constituem planos de resíduos sólidos: a) o plano nacional de resí-


duos sólidos; b) os planos estaduais de resíduos sólidos; c) os planos
microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos
de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas; d) os planos
intermunicipais de resíduos sólidos; e) os planos municipais de ges-
tão integrada de resíduos sólidos; e, f) os planos de gerenciamento
de resíduos sólidos;

80 Direito Ambiental
• É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos, a ser implementada de forma individualizada e enca-
deada, abrangendo os fabricantes, importadores distribuidores e
comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos
de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;
• Em termos legais, logística reversa trata-se do “instrumento de
desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto
de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reapro-
veitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra
destinação final ambientalmente adequada”;
• A obrigatoriedade de estruturar e implementar os sistemas de logís-
tica reversa abrange os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes dos produtos.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 03
1. São objetivos da Lei n. 12.395/2010, que trata da Política
Nacional de Resíduos Sólidos, exceto:
a) a) Proteção da saúde pública e da qualidade ambiental.
b) b) Estímulo à adoção de padrões sustentáveis de pro-
dução e consumo de bens e serviços.
c) Redução do volume e da periculosidade dos resíduos
perigosos.
d) Incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão
ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos
processos produtivos e ao reaproveitamento dos resí-
duos sólidos, exceto a recuperação e o aproveitamento
energético.
e) Gestão integrada de resíduos sólidos.

Direito Ambiental 81
2. São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
instituída pela Lei n. 12.305 de 2010, exceto: 
a) Prevenção e a precaução. 
b) Gestão integrada de resíduos sólidos. 
c) Poluidor-pagador.
d) Protetor-recebedor.
e) Razoabilidade. 
3. Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser
observada uma ordem de prioridade específica. Nos ter-
mos da Lei n. 12.305/10, assinale a alternativa que apre-
senta a ordem correta de prioridade:
I. Redução;
II. Disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
III. Reutilização;
IV. Tratamento dos resíduos sólidos;
V. Não geração;
VI. Reciclagem.
Apresenta a sequência na ordem correta, a assertiva:
a) V, II, III, I, IV e VI.
b) I, VI, III, IV, II e V.
c) V, VI, III, I, IV e II.
d) I, VI, V, IV, II e III.
e) V, I, III, VI, IV e II.
4. São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
instituídos pela Lei n. 12.305/2010:
I. Os planos de resíduos sólidos.
II. A proteção da saúde pública.
III. A coleta seletiva.
IV. O desenvolvimento sustentável.
V. O respeito às diversidades locais e regionais.

82 Direito Ambiental
Estão certos apenas os itens:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e V.
d) III e IV.
e) IV e V.
5. Segundo a Lei n. 12.305/10, o instrumento de desenvolvi-
mento econômico e social caracterizado por um conjunto
de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a
coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empre-
sarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros
ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmen-
te adequada, denomina-se: 
a) Acordo setorial. 
b) Coleta seletiva. 
c) Gestão integrada de resíduos sólidos. 
d) Logística reversa. 
e) Reciclagem.

Referências Bibliográficas
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 17. ed.
São Paulo: Saraiva, 2017.

MELO, Fabiano. Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo: Método, 2017.

. Direitos Humanos. São Paulo: Método, 2016.

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2017.

Direito Ambiental 83
Gabarito – Aula 03
Questão 1 – Resposta: D

O art. 7º, da Lei n. 12.305/10, elenca os objetivos da PNRS, dentre eles:


proteção da saúde pública e da qualidade ambiental (I); estímulo à
adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e
serviços (III);    redução do volume e da periculosidade dos resíduos
perigosos (V); incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão
ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos
produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a
recuperação e o aproveitamento energético (XIV);  e gestão integrada
de resíduos sólidos (V).

Questão 2 – Resposta: B

Os princípios da PNRS encontram-se disciplinados pelo art. 6º, da Lei


n. 12.305/10, e dentre eles não se encontra a gestão integrada de re-
síduos sólidos, que em verdade trata-se de objetivo da PNRS (art. 7º,
VII, da Lei da PNRS) e não de princípio.

Questão 3 – Resposta: E

Dispõe o art. 9º, caput, da Lei n. 12.305/10: “Na gestão e gerencia-


mento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de
prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamen-
to dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada
dos rejeitos”. 

Questão 4 – Resposta: B

Segundo dispõe o art. 8º, da Lei n. 12.305/10: “São instrumentos da


Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros: I - os planos de
resíduos sólidos; [...] III - a coleta seletiva [...]”. A proteção da saúde
pública é objetivo da PNRS (art. 7º, I). Já desenvolvimento sustentável
e respeito às diretrizes locais e regionais são princípios da PNRS (art.
6º, IV e IX).

84 Direito Ambiental
Questão 5 – Resposta: D

Nos termos do art. 3º, XII, da Lei n. 12.305/10, denomina-se logística


reversa: “instrumento de desenvolvimento econômico e social carac-
terizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destina-
dos a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”.

Direito Ambiental 85
TEMA 04
LICENCIAMENTO AMBIENTAL,
LICENÇAS AMBIENTAIS
E ESTUDO PRÉVIO DE
IMPACTO AMBIENTAL

Objetivos

• Definir e distinguir o licenciamento ambiental e as


licenças ambientais;

• Estabelecer as regras de competência, inclusive as


supletivas e subsidiárias dos entes federados para o
procedimento de licenciamento ambiental;

• Compreender as hipóteses de revisão das licenças


ambientais;

• Analisar os aspectos técnicos do Estudo Prévio de


Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de
Impactos ao Meio Ambiente (EIA/RIMA).

86 Direito Ambiental
Introdução

A Lei n. 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente


(LPNMA), trouxe em seu art. 9º um rol de instrumentos para o efetivar
os seus objetivos protetivos, entre eles, o licenciamento ambiental e a
Avaliação de Impactos Ambientais.

Com efeito, o ato de licenciar impõe a realização dos estudos necessários


para, ao término, com a devida avaliação técnica, conferir anuência para
um empreendimento ou atividade potencialmente causador de polui-
ção e/ou degradação ambiental. Como o meio ambiente ecologicamente
equilibrado é um bem de uso comum do povo, a sua proteção é de natu-
reza pública e, por decorrência, compete ao Poder Público a sua gestão
e controle. Assim, é certo que que não é possível o desenvolvimento de
atividades potencialmente degradadoras e poluidoras sem uma avalia-
ção prévia dos seus possíveis impactos. Daí a importância do licenciamen-
to ambiental que, em última análise, tem por objetivo imediato prevenir
possíveis ocorrências de danos ambientais, assentando-se no princípio
da prevenção.

Pontua-se que, nos licenciamentos de atividades que tenham potencial


de causar significativa degradação ao meio ambiente, é exigível o Estudo
Prévio de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de Impactos ao
Meio Ambiente (EIA/RIMA). Destaca-se que, dada a importância do EIA/
RIMA para a prevenção de danos ambientais, teve reconhecimento direta-
mente na Constituição Federal, mais especificamente no art. 225, §1º, IV.

Feitos essas considerações preliminares, o objeto dessa aula é o estudo


do licenciamento ambiental e aspectos decorrentes.

Direito Ambiental 87
1. Licenciamento e Licença ambiental

O licenciamento ambiental e sua revisão é um dos instrumentos da PNMA


previsto no art. 9º, IV, da Lei n. 6.938/81, sendo obrigatório para as ati-
vidades potencialmente poluidoras ou que possam causar degradação
ambiental.

O Anexo I, da Resolução CONAMA n. 237/97, traz um rol exemplificativo


de atividades e empreendimentos que deverão ser submetidas ao licen-
ciamento ambiental. Importante destaca, que, se “a obra ou empreendi-
mento for potencialmente causador de significativa degradação ao meio
ambiente, é inescusável o cumprimento da principal exigência preliminar:
a confecção do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, conhecido pela sigla
EIA/Rima” (MELO, 2017, p. 223).

Com efeito, a Lei Complementar n. 140/2011 conceitua licenciamento am-


biental como: “o procedimento administrativo destinado a licenciar ativi-
dades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva
ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental” (art. 2º, I).

A Resolução CONAMA n. 237/97, por sua vez, traz a seguinte definição:


“procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente
licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreen-
dimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas
efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer for-
ma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições
legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso” (art. 1º, I).

Em síntese, licenciamento ambiental, trata-se de um complexo de etapas


que compõe o procedimento administrativo com o fito de obter uma li-
cença ambiental (prévia, instalação e operação).

Por licença ambiental, entenda-se “o ato administrativo pelo qual o ór-


gão ambiental competente estabelece condições, restrições e medidas

88 Direito Ambiental
de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor,
pessoa física e jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreen-
dimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais considera-
das efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer
forma, possam causar degradação ambiental (art. 1º, II, da Resolução
CONAMA n. 237/97).

PARA SABER MAIS


A licença ambiental difere-se da licença administrativa, que
tem caráter de ato administrativo vinculado e definitivo, po-
dendo ser revogada por interesse público relevante, caben-
do neste caso, indenização. A licença ambiental, tem caráter
ato administrativo discricionário e não definitivo, já que as
licenças (prévia, instalação e operação) possuem prazos pre-
estabelecidos e podem ser suspensas ou canceladas nas hi-
póteses do art.19, I, a III, da Resolução CONAMA n. 237/97).

1.1. Competência para o licenciamento ambiental

A competência para licenciar é tema complexo, por vezes com decisões


proferidas no Poder Judiciário. É comum ocorrerem conflitos de compe-
tência envolvendo a União, os Estados e os Municípios, o que acaba sendo
motivo de insegurança jurídica para aqueles que pretendem desenvolver
atividades ou empreendimentos (RODRIGUES, 2013).

Constitucionalmente, a competência para licenciar é comum entre a União,


Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23, VI, da CF/88). Contudo, os
empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambien-
talmente, por um único ente federativo (art. 13, da Lei Complementar
n. 140/11).

Direito Ambiental 89
Com o objetivo de implementar o federalismo cooperativo em matéria
ambiental, a Lei Complementar n. 140/11 foi editada, com a seguinte pre-
visão em sua ementa: “fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do
caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a coo-
peração entre a União, os Estados, o Distrito Federal, e os Municípios nas
ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum
relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio
ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preser-
vação das florestas, da fauna e da flora”.

Neste contexto, a Lei Complementar n. 140/11 traz um extenso rol de


competências dos entes federativos para o licenciamento ambiental.

No âmbito federal, o licenciamento compete ao Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), e a sua compe-
tência é definida pelo art. 7º, XIV, e parágrafo único, da Lei Complementar
n. 140/11:

a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país


limítrofe; 
b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma conti-
nental ou na zona econômica exclusiva; 
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas; 
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas
pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); 
e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados; 
f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos ter-
mos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e em-
prego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar
no 97, de 9 de junho de 1999; 
g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, arma-
zenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que uti-
lizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, me-
diante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); ou 

90 Direito Ambiental
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a par-
tir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a par-
ticipação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade ou empreendimento; 
A competência dos Estados-membros para o procedimento de licencia-
mento ambiental está definida no art. 8º, XIV, da Lei Complementar n.
140/11, nos seguintes termos: “promover o licenciamento ambiental de
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efe-
tiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de
causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7o e 9o”.
Aos municípios competem promover o licenciamento ambiental das ativi-
dades ou empreendimentos, observadas as atribuições dos demais entes
federativos (art. 9º, XIV, da Lei Complementar n. 140/11): 
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local,
conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de
Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor
e natureza da atividade; ou 
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, ex-
ceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); 
No que tange a competência do Distrito Federal para o licenciamento am-
biental, são aplicáveis as disposições concernentes aos Estados e aos mu-
nicípios (art. 10, da Lei Complementar n. 140/11).
A Lei Complementar n. 140/11 traz regras próprias para o licenciamen-
to ambiental de atividades e empreendimentos em Áreas de Proteção
Ambiental (APAs). “Ao contrário das demais espécies de unidades de con-
servação, nas APAs o critério do ente político instituidor não determina o
licenciamento ambiental” (MELO, 2017, p. 234).
A definição de competências do ente federativo responsável pelo licencia-
mento ambiental em APAs seguirá os critérios previstos nas alíneas “a”,
“b”, “e’, “f” e “h”, do inciso XIV do art. 7º, no inciso XIV do art. 8º e na alínea
“a” do inciso XIV do art. 9º, da Lei Complementar n. 140/11, cuja leitura
recomenda-se ao leitor.

Direito Ambiental 91
1.2. Atuação supletiva e subsidiária

Nos termos do art. 2º, da Lei Complementar n. 140/11, entende-se por


atuação supletiva: “ação do ente da Federação que se substitui ao ente
federativo originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses de-
finidas nesta Lei Complementar”; e por atuação subsidiária: “ação do
ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições
decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente fe-
derativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei
Complementar”. 

O art. 15, da Lei Complementar n. 140/11 elenca as hipóteses de atuação


supletiva, a saber:
a) inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente
no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações
administrativas estaduais ou distritais até a sua criação; 
b) inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente
no Município, o Estado deve desempenhar as ações administrativas
municipais até a sua criação; e 
c) inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente
no Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações admi-
nistrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos. 
No que diz respeito a ação administrativa subsidiária dos entes federa-
tivos, ela se dará por meio de apoio técnico, científico, administrativo ou
financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação e deve ser soli-
citada pelo ente originariamente detentor da atribuição. (art. 16, caput e
parágrafo único, da Lei Complementar n. 140/11). 

1.3. Licenças: espécies, efeitos, condicionantes e prazos

O licenciamento ambiental como procedimento administrativo é uma su-


cessão de atos que visam à obtenção de três licenças: a) prévia; b) insta-
lação; e, c) operação.

92 Direito Ambiental
O quadro abaixo, ilustra as espécies de licenças, seus efeitos, condicio-
nantes e prazos de validade:

DIFERENÇAS ENTRE OS TIPOS DE LICENÇA


(Conforme a Resolução Conama nº 237/1997)

LICENÇA LICENÇA DE LICENÇA DE


PRÉVIA INSTALAÇÃO OPERAÇÃO

Aprova a loca-
Autoriza a instala- Autoriza a operação
lização e a con-
EFEITOS ção do empreendi- da atividade ou em-
cepção do pro-
mento. preendimento.
jeto.

Estabelece os Verifica o cumpri-


Define as medidas
requisitos e mento das condicio-
de controle ambien-
condicionantes nantes das licenças
CONDICIONANTES tal e os condicio-
para as próxi- anteriores e os esta-
nantes para a próxi-
mas fases do li- belece para a fase de
ma fase.
cenciamento. operação.

Mínimo: 04 (quatro)
PRAZOS Não superior a Não superior a 06 anos.
(Res. nº 237/1997) 05 (cinco) anos. (seis) anos. Máximo: 10 (dez)
anos.
Fonte: MELO, 2017, p. 226.

Os estados-membros e municípios podem estabelecer prazos e dinâmicas


distintas em seus respectivos procedimentos de licenciamento ambiental.

Nos termos do art. 14, § 4º, da Lei Complementar n. 140/11: “A renovação


de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de
120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na
respectiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a mani-
festação definitiva do órgão ambiental competente”.

1.4. Revisibilidade das licenças ambientais

O órgão ambiental poderá mediante decisão motivada, modificar as con-


dicionantes e medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar
uma licença expedida, quando ocorrer:

Direito Ambiental 93
a) Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas
legais;
b) Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidia-
ram a expedição da licença;
c) Superveniência de graves riscos ambientais e de saúde (art. 19, da
Resolução CONAMA n. 237/97).
“Modificar é alterar as condicionantes e as medidas de controle e adequa-
ção, de modo a minimizar os riscos ambientais. Suspender é determinar
a paralisação dos efeitos até que a obra ou atividade esteja adequada às
condicionantes ambientais exigidas (hipóteses dos incisos I e II do art. 19).
Cancelar é retirar do mundo jurídico por uma das razões indicadas nos
três incisos do art. 19”. (SIRVINSKAS, 2017, p. 240).

Assim, presente uma das hipóteses previstas acima, poderá o órgão am-
biental mediante decisão motivada: a) anular a licença: em caso de ilega-
lidade; b) revogar a licença: por interesse público; ou, c) cassar a licença:
em caso de descumprimento dos preceitos constantes na própria licença
(MELO, 2017).

2. Estudo de Impacto Ambiental (EIA)

O EIA/RIMA é um instrumento preventivo da PNMA e, ademais, com previ-


são constitucional no art. 225, §1º, IV, que aduz ser incumbência do Poder
Público de “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”. Assim, o
procedimento de licenciamento ambiental deverá ser precedido do EIA e
seu respectivo relatório de Impacto ao meio ambiente (RIMA).

A regulamentação do EIA/RIMA e das audiências públicas a ele aplicá-


veis ficam a cargo, respectivamente, da Resolução n. 01/86 e 09/87, do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

94 Direito Ambiental
Entende-se por EIA “o procedimento administrativo de análise antecipa-
tória dos possíveis impactos ambientais de uma obra, atividade ou em-
preendimento potencialmente causadores de significativa degradação do
meio ambiente, elaborado por equipe técnica multidisciplinar [às expen-
sas do empreendedor], em que se relacionam as medidas de mitigação e
compensatórias à possível intervenção ao meio ambiente” (MELO, 2017,
p. 192).

O RIMA, por sua vez tem a finalidade de tornar compreensível para o públi-
co o conteúdo do EIA, que é elaborado segundo critérios técnicos. “Assim,
em respeito ao princípio da informação ambiental, o RIMA deve ser claro
e acessível, retratando fielmente o conteúdo do estudo, de modo compre-
ensível e menos técnico” (FIORILLO, 2017, p. 204).

Os profissionais que integram a equipe multidisciplinar responsável pela


elaboração do EIA/RIMA, devem possuir inscrição no Cadastro Técnico
Federal de Atividades de Defesa e Proteção Ambiental e serem legalmen-
te habilitados.

Nos termos do art. 11, parágrafo único, da Resolução CONAMA n. 237/97:


“O empreendedor e os profissionais que subscrevem os estudos previs-
tos no caput deste artigo serão responsáveis pelas informações apresen-
tadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais”.

PARA SABER MAIS


A siglas EPIA e EIA, referem-se respectivamente, a Estudo
Prévio de Impacto Ambiental (acepção constitucional – art.
225, §1º, IV), e, a Estudo de Impacto Ambiental (utilizada pela
Resolução CONAMA n. 01/86 e pela Lei n. 9.985/00), sendo,
portanto, sinônimas. Assim, a utilização de uma ou outra si-
gla não altera a essência do estudo.

Direito Ambiental 95
2.1. Atividades sujeitas ao EIA

O art. 2º, da Resolução CONAMA n. 01/86 traz um rol exemplificativo de


atividades sujeitas ao EIA/RIMA, a saber:
a) Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
b) Ferrovias;
c) Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
d) Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei
nº 32, de 18 de setembro de 1966158;
e) Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de
esgotos sanitários;
f) Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
g) Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: bar-
ragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de
irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação,
retificação de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, trans-
posição de bacias, diques;
h) Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
i) Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de
Mineração;
j) Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos
ou perigosos;
k) Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de ener-
gia primária, acima de 10MW;
l) Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, si-
derúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e culti-
vo de recursos hídricos hidróbios);
m)Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
n) Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100
hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;
o) Projetos urbanísticos, acima de 100 ha ou em áreas consideradas de
relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos munici-
pais e estaduais competentes estaduais ou municipais;

96 Direito Ambiental
p) Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos
similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia.
q) Projetos Agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000 ha. ou
menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas em ter-
mos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental, inclu-
sive nas áreas de proteção ambiental.
r) Empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio espeleológi-
co nacional.

PARA SABER MAIS


A Resolução CONAMA n. 237/97 traz um rol exemplificativo (e
muito mais amplo do que o previsto na Resolução CONAMA
n. 01/87) de atividades que necessariamente estão sujeitas
ao licenciamento ambiental, sem vincular contudo, o licen-
ciamento à realização do EIA/RIMA. Desta forma, as ativida-
des elencadas no Anexo I da Resolução CONAMA n. 237/97
deverão passar obrigatoriamente por um procedimento de
licenciamento ambiental, que por sua vez, poderá ou não ter
o respaldo do EIA/RIMA, tendo em vista que o art. 3º, não traz
uma presunção de que as atividades descritas no Anexo I têm
potencial para causar significativa degradação ambiental.

2.2. Requisitos do EIA

“Os requisitos mínimos encontram-se previstos na Resolução Conama n.


01/1986, mas o órgão ambiental pode estabelecer diretrizes adicionais
pelas peculiaridades do projeto ou pelas características ambientais da
área” (MELO, 2017, p; 197). Assim, através do termo de referência, o órgão
ambiental competente para o procedimento de licenciamento ambiental,
defini os procedimentos, os prazos de conclusão e os estudos técnicos
necessários à realização do EIA.

Direito Ambiental 97
Nos termos do art. 5º e 6º, da Resolução CONAMA n. 01/86, cuja leitura
recomendamos ao leitor, são essenciais e obrigatórios para a realização
do EIA, no mínimo: a) as Diretrizes Gerais, que são requisitos de conteúdo
(art. 5º); e, b) os Estudos e Atividades Técnicas (art. 6º).

2.3. Conteúdo do RIMA

“O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua com-


preensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessí-
vel, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de
comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e
desvantagens do projeto, bem como todas as consequências ambientais
de sua implementação” (art. 9º, parágrafo único, da Resolução CONAMA
n. 01/86).

São requisitos mínimos que devem constar no RIMA, nos termos dos inci-
sos do art. 9º, da Resolução CONAMA n. 01/86:

a) Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade


com as políticas setoriais, planos e programas governamentais;
b) A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,
especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação
a área de influência, as matérias primas, e mão-de-obra, as fontes de
energia, os processos e técnicas operacionais, os prováveis efluentes,
emissões, resíduos e perdas de energia, os empregos diretos e indire-
tos a serem gerados;
c) A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da
área de influência do projeto;
d) A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e ope-
ração da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os hori-
zontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos,
técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e
interpretação;

98 Direito Ambiental
e) A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,
comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alter-
nativas, bem como com a hipótese de sua não realização;
f) A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em
relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não pude-
rem ser evitados, e o grau de alteração esperado;
g) O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
h) Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e co-
mentários de ordem geral).

2.4. Audiência pública

A Audiência Pública tem por finalidade expor aos interessados o conte-


údo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo dúvidas e
recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito (art. 1º, da
Resolução CONAMA n. 9/87).

A publicidade do EIA/RIMA garante o cumprimento do princípio demo-


crático ou da participação (RODRIGUES, 2013). Contudo, a audiência pú-
blica poderá ou não acontecer, não tendo cunho obrigatório, caso não
requerida.

Nos termos do art. 2º, da Resolução CONAMA n. 9/87, sempre que julgar
necessário, ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério
Público, ou por 50 (cinquenta) ou mais cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente
promoverá a realização de audiência pública.

Existindo solicitação para audiência pública e na hipótese do órgão am-


biental não a realizar, a licença concedida não terá validade.

Importante ressaltar, que “a ata da (s) audiência (s) pública (s) e seus
anexos, servirão de base [portanto, não vincula(m) o órgão ambiental],
juntamente com o RIMA, para a análise e parecer final do licenciador
quanto à aprovação ou não do projeto” (art. 5º, da Resolução CONAMA
n. 9/87).

Direito Ambiental 99
2.5. Decisão do órgão ambiental

O órgão público ambiental não está vinculado à análise do EIA apresenta-


do pela equipe técnica multidisciplinar (SIRVINSKAS, 2017).

Os órgãos ambientais têm discricionariedade na análise dos estudos am-


bientais, o que pode implicar na concordância ou discordâncias com as
conclusões da equipe multidisciplinar (MELO, 2017). Desta forma, ainda
que o EIA seja desfavorável, é perfeitamente possível que o órgão am-
biental conceda a licença ambiental.

Vamos pensar

Nos termos do art. 3º, IV, da Lei n. 6.938/81, considera-se poluidor, “a pes-
soa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.

Neste contexto, insurge questionar: o Poder Público, tendo concedido a


licença de operação, será responsável civilmente pelos danos causados
ao meio ambiente pela atividade desenvolvida pelo empreendedor?

O questionamento deverá ser analisado em, pelo menos, 4 (quatro) ver-


tentes, a saber:
a) Não foi exigido o EIA/RIMA e o órgão ambiental concede a licença: o
Poder P EIA/RIMA e este foi favorável, tendo sido concedida a licença:
inexiste responsabilidade do Poder Público, pois a licença cuidou-se de
mero ato vinculado ao EIA/RIMA;

b) Houve o EIA/RIMA e este foi desfavorável, tendo sido concedida a licen-


ça: há responsabilidade civil do Poder Público já que concorreu para a
prática do resultado danoso.

100 Direito Ambiental


4 Pontuando
• O licenciamento ambiental é instrumento da PNMA e possui caráter
preventivo.

• Licenciamento ambiental pode ser definido como “o procedimento


administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimen-
tos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental”.

• O licenciamento ambiental como procedimento administrativo tem


como finalidade a obtenção, em regra sequencial, de três licenças:
prévia, instalação e operação.

• Licença ambiental é ato administrativo discricionário e não defi-


nitivo, que aprova a localização e concepção (prévia), instalação e
operação de atividades ou empreendimentos, após a verificação
das condicionantes estabelecidas nas licenças anteriores.

• Os empreendimentos e atividades serão licenciados ambiental-


mente, por um único ente federativo, observadas as regras de
competência fixadas pela Lei Complementar n. 140.

• A renovação da licença ambiental deve ser requerida com ante-


cedência de até 120 dias da expiração de seu prazo, ficando esta
automaticamente prorrogada até a manifestação definitiva do órgão
ambiental.

• A atuação supletiva trata-se de “ação do ente da Federação que se


substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribui-
ções, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar”.

• Por atuação subsidiária, entende-se a ação do ente da Federação


que visa a auxiliar no desempenho das atribuições decorren-
tes das competências comuns, quando solicitado pelo ente

Direito Ambiental 101


federativo originariamente detentor das atribuições definidas na Lei
Complementar n. 140/11. 

• O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é procedimento administrativo


realizado por equipe técnica multidisciplinar, custeada pelo empre-
endedor, cujo objetivo é proceder uma análise prévia dos possíveis
impactos ensejados pela atividade ou empreendimento.

• O pressuposto para a realização do EIA é a potencialidade do empre-


endimento ou atividade causar significativa degradação ambiental.

• A audiência pública tem por finalidade expor aos interessados o


conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo
dúvidas e recolhendo críticas e sugestões a respeito.

• A audiência pública será obrigatória, se requerida: a) pelo órgão


competente; b) Ministério Público; c) entidade da sociedade civil; e,
d) petição contendo 50 (cinquenta) ou mais assinaturas de cidadãos.

• Caso a audiência pública tenha sido requerida, mas não realizada, a


licença concedida não será válida.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 04
1. No tocante ao licenciamento ambiental, assinale a alterna-
tiva correta:
a) O prazo de validade da Licença Prévia (LP) não pode ser
superior a 10 (dez) anos.
b) A renovação da Licença de Operação (LO) de uma ati-
vidade ou empreendimento deverá ser requerida com
antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da ex-
piração de seu prazo de validade, fixado na respectiva
licença.

102 Direito Ambiental


c) Considera-se Impacto Ambiental Regional todo e qual-
quer impacto ambiental que afete diretamente (a área
de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o
território de dois ou mais Municípios.
d) O arquivamento do processo de licenciamento não
impedirá a apresentação de novo requerimento de li-
cença, ficando isento de novo pagamento de custo de
análise.
e) O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá
ser o estabelecido pelo cronograma de instalação do
empreendimento ou atividade, não podendo ser supe-
rior a 3 (três) anos.

2. (VUNESP – TJSP - Juiz Substituto – 2017) O licenciamento


ambiental legalmente deferido ao empreendedor:
a) o desonera da responsabilidade administrativa.
b) o desonera de responsabilidade por eventuais danos
ambientais, ante a licitude da sua atividade.
c) não desonera, mas mitiga a sua responsabilidade civil
pelos danos ambientais, uma vez que sua atividade foi
autorizada pela administração pública.
d) o desonera da responsabilidade civil, uma vez
que  sua atividade foi expressamente autorizada pela
Administração Pública, sendo, portanto, lícita.

3. A respeito do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, mais


especificamente sobre a audiência pública, é correto afir-
mar que:
a) não vinculam o órgão licenciador, que tem o dever, por
outro lado, de justificar tecnicamente o não acolhimen-
to das sugestões. 

Direito Ambiental 103


b) vinculam o órgão licenciador, que tem o dever, portan-
to, de acolher as sugestões. 
c) são votados e vinculam o órgão licenciador os que ob-
tiverem maioria simples. 
d) são votados e vinculam o órgão licenciador os que ob-
tiverem maioria absoluta. 
e) são votados e vinculam o órgão licenciador os que ob-
tiverem 2/3 dos votos dos presentes.

4. É correto afirmar a respeito do licenciamento ambiental:


a) é um objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente,
previsto no rol do art. 9º, da Lei n. 6.938/81.
b) é admissível mais de um licenciamento ambiental a
respeito do mesmo empreendimento.
c) a licença ambiental envolve duas fases, quais sejam a
Licença Prévia e a de Operação.
d) o IBAMA não poderá também ser responsável pelo li-
cenciamento ambiental, de forma supletiva. 
e) o licenciamento ambiental tem relação com o princípio
da publicidade.

5. Nos termos da legislação brasileira o Estudo Prévio de


Impacto Ambiental (EIA) será:
a) dispensado por critério discricionário do órgão público
ambiental competente para o licenciamento ambiental.
b) exigido apenas para obras públicas de infraestrutura.
c) dispensado para obras de baixo impacto, utilidade pú-
blica ou interesse social.
d) exigido apenas para obras da iniciativa privada.
e) exigido para obras públicas ou privadas, potencial-
mente causadoras de significativa degradação do meio
ambiente. 

104 Direito Ambiental


Referências Bibliográficas
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 17. Ed.
São Paulo: Saraiva, 2017.
MELO, Fabiano. Direito Ambiental. 2. Ed. São Paulo: Método, 2017.
______ . Direitos Humanos. São Paulo: Método, 2016.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. São Paulo: Saraiva,
2013.
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 15. Ed. São Paulo: Saraiva,
2017.

Gabarito – Aula 04

Questão 1 – Resposta: B

Nos termos do art. 18, da Resolução CONAMA n. 237/97: “A renova-


ção da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou empreendi-
mento deverá ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento
e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respec-
tiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a mani-
festação definitiva do órgão ambiental competente”.

Questão 2 – Resposta: A

A licença se integralmente cumprida e válida, retira o caráter de ili-


citude administrativa do ato, afastando a responsabilidade adminis-
trativa ambiental, mas não a penal e civil.

Questão 3 – Resposta: A

A Resolução CONAMA n. 09/87, prescreve em seu art. 1º, que: “A


Audiência Pública referida na Resolução Conama n. 001/86, tem por
finalidade expor aos interessados o conteúdo do produto em análise
e do seu referido RIMA, dirimindo dúvidas e recolhendo dos presen-
tes as críticas e sugestões a respeito”. Portanto, audiência pública se

Direito Ambiental 105


presta a dirimir dúvidas, recolher críticas e sugestões a respeito do
RIMA aos interessados, não se prestando a vincular a decisão final do
Órgão Ambiental.

Questão 4 – Resposta: E

O art. 10, da Resolução CONAMA n. 237/97, estabelece as etapas a


serem cumpridas no procedimento de licenciamento ambiental, e
prevê em seu inciso II: “Requerimento da licença ambiental pelo em-
preendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos am-
bientais pertinentes, dando-se a devida publicidade”. Desta forma, o
dispositivo determina que o pedido de licença deverá ser público, o
que evidencia o princípio da publicidade que deverá estar presente
durante o procedimento de licenciamento ambiental.

Questão 5 – Resposta: E

Dispõe o art. 225, §1º, IV, da CF/88, que cabe ao Poder Público “exigir,
na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmen-
te causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo
prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”. Portanto,
não são todas as atividades e empreendimentos que serão subme-
tidos ao procedimento de licenciamento ambiental, mas apenas
àquelas que tiverem potencial para causar significativa degradação
ambiental.

106 Direito Ambiental


Bons estudos!

Direito Ambiental 107

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