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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E ENGENHARIAS

Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Engenharia de Segurança do


Trabalho

TIAGO LUFT

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SEGURANÇA DO


TRABALHO NA ATIVIDADE GRÁFICA: ESTUDO DE CASO

Ijuí/RS
2013
TIAGO LUFT

Trabalho de conclusão do Curso de Pós Graduação Lato


Sensu em Engenharia de Segurança do Trabalho
apresentado como requisito parcial para obtenção do título
de Engenheiro de Segurança do Trabalho

Orientadora: Cristina Eliza Pozzobon

Ijuí/RS
2013
TIAGO LUFT

Trabalho de conclusão de curso defendido e aprovado em sua forma final pelo professor
orientador e pelo membro da banca examinadora

Banca examinadora

______________________________________________________________

Prof. Cristina Eliza Pozzobon, Mestre em Engenharia Civil - Orientadora

___________________________________________________________________

Prof. Fernando Wypyzynski, Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho

Ijuí, 19 agosto de 2013


“a empresa que melhor protege o trabalhador
não é aquela que lhe oferece os melhores
dispositivos de proteção (EPI) e sim aquela que
menos o expõe a riscos ou que menos oferece
possibilidades de danos à sua saúde e
integridade” (Barbosa Filho, 2011).
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores, colegas, amigos e familiares que, de alguma forma,


contribuíram para a realização deste estudo de caso.
RESUMO

Diante dos novos desafios no campo das relações sociais de trabalho, os programas preventivos
de segurança e de saúde ocupacional assumem uma importância cada vez maior no plano das
políticas que definem o Estado de Direito do ‘valor social do trabalho’ e dos ‘direitos sociais
do cidadão à saúde, à segurança e à previdência’. Trata-se de uma tendência que coloca os
recorrentes programas de prevenção acidentária e do risco ambiental (físico, químico,
biológico, etc.) no centro da gestão de trabalho das empresas e, cada vez mais, na perspectiva
não só da prevenção, mas ainda da promoção da saúde ocupacional. Nesse cenário, a busca pelo
almejado direito do trabalhador à saúde ocupacional consiste na ‘concausalidade’ das questões
sociais que perpassam as relações entre serviços gerenciais e técnicos de prevenção
(transdisciplinar e intersetorial). Trata-se de um esforço conjugado dos protagonistas (gestores,
trabalhadores e especialistas) para construir condições ótimas de trabalho (seguro e saudável),
de forma a gerar uma nova cultura de gestão preventiva, capaz de garantir integridade física,
mental e social ao trabalhador, cortando, assim pela raiz, o risco de acidente e a sinistralidade.
Entretanto, o que se observa, na prática, é que estes novos valores culturais ainda não fazem
parte da gestão de muitas empresas, em que o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA) e de Controle Médico da Saúde Ocupacional (PCMSO) funcionam como documentos
cartoriais pouco sustentáveis. Para entender esta realidade, foi realizado um estudo de campo,
de caráter quantitativo e qualitativo, em empresa do ramo de atividade gráfica, na qual o uso
dos EPIs (Equipamentos Preventivos Individuais) não ocorre conforme orientação técnica do
Programa que o prescreve, como sendo ainda a única medida de prevenção.

Palavras-Chave: - Trabalho seguro e saudável;

- EPI (Equipamento de Proteção Individual);

- Gestão preventiva.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa de riscos na planta da indústria hráfica ......................................................... 59


Figura 2 – Mapa Conceitual ..................................................................................................... 90
Figura 3 – Mapa de riscos ambientais (teórico) na planta da empresa ................................... 101
Figura 4 – Instalações no salão central da Eempresa (setor produtivo) ................................. 102
Figura 5 – Estoque (depósito de resíduos e de produtos químicos). ...................................... 102
Figura 6 – Fluxograma da Empresa ........................................................................................ 103
Figura 7 – CtP (para impressão offset) e o setor de criação (impressão digital) .................... 104
Figura 8 – Mesa junto à impressora offset Komori ................................................................ 106
Figura 9 – Impressora Harris e impressora GTO ................................................................... 106
Figura 10 – Da esq. Para dir.: Guilhotina antiga, guilhotina nova e picotadeira .................... 108
Figura 11 – Da dir. para esq.: Acabamentos, almoxarifado e expedição ............................... 108
Figura 12 – Guilhotina bimanual ............................................................................................ 111
Figura 13 – Máquina de corte e vinco (Heidelberg) ............................................................... 111
Figura 14 – Impressora offset (Komori) ................................................................................. 112
Figura 15 – Mapa de riscos (pontuais) na planta da empresa ................................................. 115
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Contrapontos no reconhecimento do risco Ambiental .......................................... 54


Quadro 2 – Mapa teórico de riscos ocupacionais (adaptado à NR-5) ...................................... 57
Quadro 3 – Magnitude da gravidade e da probabilidade do risco (para fins de Estabelecimento
de prioridades) .......................................................................................................................... 65
Quadro 4 – Cronograma de ação do projeto ............................................................................. 70
Quadro 5 – Quadro de funcionários da empresa gráfica ........................................................ 109
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


CAT – Comunicado de Acidente de Trabalho
CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CNAE – Código Nacional de Atividade Econômica
CID – Classificação Internacional de Doenças
CF/88 – Constituição Federal do Brasil de 1988
dB(A) – Unidade de Ruído, Nível de Pressão Sonora
DORT – Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho
EPI’s – Equipamentos de Proteção Individual
EPC’s – Equipamentos de Proteção Coletiva
FAP – Fator Acidentário Previdenciário
LTCAT– Laudo Técnico de condições Ambientais
LER – Lesões por Esforços Repetitivos
LUX – Unidade de Iluminamento.
MTE. – Ministério do Trabalho e Emprego
NR – Normas Regulamentadoras
NTEP – Nexo Técnico Epidemológico
OIT – Organização Internacional do Trabalho
OMS – Organização Mundial da Saúde
PPRA – Programa de Prevenção de riscos Ambientais
PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PPP – Perfil Profissiográfico Previdenciário
SAT/RAT – Contribuição do Seguro de Acidentes de Trabalho
SESMT – Serviço Especializado Segurança Medicina do Trabalho
SSST – Sistema de Segurança e Saúde do Trabalho
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
1 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE DIREITO E SEGURANÇA DO
TRABALHO ........................................................................................................................... 14
1.1 SEGURANÇA E PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA ATUAL
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA ............................................................................................ 20
1.2 SEGURANÇA DO TRABALHO NAS NORMAS REGULAMENTADORAS DO
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO ...................................................................... 28
2 EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA GRÁFICA E DE SEGURANÇA DO
TRABALHO ........................................................................................................................... 34
2.1 RISCOS OCUPACIONAIS NA GRÁFICA ARTESANAL E INDUSTRIAL
MODERNA .............................................................................................................................. 35
2.2 RISCOS OCUPACIONAIS NA HISTÓRIA DAS ARTES GRÁFICAS NO
BRASIL .................................................................................................................................... 39
2.3 RISCOS AMBIENTAIS DO TRABALHO NO ÂMBITO DA INDÚSTRIA
GRÁFICA ATUAL .................................................................................................................. 42
3 ANÁLISE DA METODOLOGIA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA NA
ATIVIDADE INDUSTRIAL GRÁFICA ............................................................................. 48
3.1 METODOLOGIA CONSENSUAL E MULTIDISCIPLINAR DE INVESTIGAÇÃO
DO RISCO AMBIENTAL NA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA ........................................... 49
3.2 METODOLOGIA DE RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO DO RISCO
AMBIENTAL NA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA .............................................................. 54
3.2.1 Reconhecimento e Inventário dos Prováveis Riscos Ocupacionais na Atividade
Gráfica ..................................................................................................................................... 55
3.2.2 Avaliação da Magnitude do Risco Ambiental na Atividade Gráfica ..................... 60
3.3 ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DO RISCO AMBIENTAL NA PREVENÇÃO
ACIDENTÁRIA ....................................................................................................................... 65
3.3.1 Estratégia de ação de prioridades do projeto de prevenção acidentária ............... 66
3.3.2 Estratégia de ação de atividades de controle do projeto ......................................... 69
4 ESTUDO DE CASO NA ATIVIDADE GRÁFICA ................................................. 75
4.1 USO DE EPI NA GESTÃO PREVENTIVA DO TRABALHO SEGURO E
SAUDÁVEL............................................................................................................................. 77
4.1.1 Determinantes sociais da gestão de saúde e segurança do trabalho ...................... 78
4.1.2 Determinantes econômicos da saúde e segurança do trabalho ............................... 83
4.1.3 Segurança e medicina do trabalho na nova cultura de gestão preventiva ............ 87
4.2 METODOLOGIA: CLASSIFICAÇÃO E PLANEJAMENTO DA PESQUISA ........ 98
4.2.1 Classificação da pesquisa ........................................................................................... 98
4.2.2 Planejamento da pesquisa .......................................................................................... 98
4.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS SOBRE O USO DE EPI NA
PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA DA EMPRESA .................................................................. 100
4.3.1 O EPI na cultura preventiva da empresa ............................................................... 100
4.3.2 EPI no programa de prevenção acidentária da empresa (PPRA/PCMSO) ........ 117
4.3.3 A questão do EPI na perspectiva da nova cultura de gestão preventiva da
empresa .................................................................................................................................. 124
CONCLUSÃO....................................................................................................................... 128
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS .................................................................................. 131
ANEXOS ............................................................................................................................... 134
ANEXO A1 – PPRA/2007 .................................................................................................... 135
ANEXO A2 – PPRA/2007 .................................................................................................... 136
ANEXO A3 – PPRA/2007 .................................................................................................... 137
ANEXO A4 – PPRA/2007 .................................................................................................... 138
ANEXO A5 – PPRA/2007 .................................................................................................... 139
ANEXO A6 – PCMSO/2007 ................................................................................................ 140
ANEXO B1 – PPRA/2013 .................................................................................................... 141
ANEXO B2 – PPRA/2013 .................................................................................................... 142
ANEXO B3 – PPRA/2013 .................................................................................................... 143
ANEXO B4 – PPRA/2013 .................................................................................................... 144
ANEXO B5 – PPRA/2013 .................................................................................................... 145
ANEXO B6 – PPRA/2013 .................................................................................................... 146
ANEXO B7 – PPRA/2013 .................................................................................................... 147
ANEXO B8 – PPRA/2013 .................................................................................................... 148
ANEXO B9 – PPRA/2013 .................................................................................................... 149
ANEXO B10 – PPRA/2013 .................................................................................................. 150
ANEXO B11 – PPRA/2013 .................................................................................................. 151
ANEXO B12 – PPRA/2013 .................................................................................................. 152
ANEXO B13 – PPRA/2013 .................................................................................................. 153
ANEXO B14 – PPRA/2013 .................................................................................................. 154
ANEXO B15 – PPRA/2013 .................................................................................................. 155
ANEXO B16 – PPRA/2013 .................................................................................................. 156
ANEXO B17 – PPRA/2013 .................................................................................................. 157
ANEXO B18 – PPRA/2013 .................................................................................................. 158
ANEXO B19 – PPRA/2013 .................................................................................................. 159
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INTRODUÇÃO

A gestão do trabalho visando o êxito econômico e social da empresa, no caso deste


estudo, da indústria gráfica, deveria começar, segundo especialistas em gestão 1, pela forma
como se organiza o sistema de segurança do trabalho, no sentido de que a prevenção do risco
ambiental (aceitável e indenizável) seja realizada sem ignorar a histórica primazia da produção
sobre humanização e sem esquecer que as ‘condições ótimas de trabalho’ constituem a melhor
forma de promover a segurança e a saúde ocupacional do trabalhador (OMS, 1948).

O interesse pelo tema – colocado dessa forma – nasceu em mim aos poucos, desde minha
incipiente experiência de engenheiro eletricista ao ser designado como responsável técnico para
efetuar a instalação da rede elétrica numa gráfica, na região Noroeste do estado Rio Grande do
Sul, em que não pude deixar de observar como o sucesso gerencial daquela empresa dependia
da segurança do trabalho, como uma questão crucial.

Agora, passado algum tempo, tive a oportunidade de voltar à empresa gráfica como
estudante pesquisador para verificar, in loco, o desdobramento desse sistema de gestão, tendo
em vista os estudos que realizo no curso de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do
Trabalho, na UNIJUI.

Pude então constatar que a empresa, em termos de estratégia do trabalho e de estrutura


do ambiente físico, desenvolve uma gestão atenta e preocupada com o aspecto legal da
prevenção de riscos ambientais (PPRA) e de controle médico (PCMSO), sem que, todavia, os
funcionários tenham aderido ao uso regular dos Equipamentos de Proteção Individual
(prescritos pelo PPRA), denotando uma cultura de segurança do trabalho dissonante.

1 Revista Crea-RS – Ano VIII – MAI/JUN/2012


10

Como é de conhecimento geral, nos dias de hoje, a tendência no cenário empresarial é


de melhorar os padrões de qualidade e de responsabilidade social, porém as estatísticas2 tem
demonstrado que, em vários casos, é uma tendência que não se reflete na melhoria dos padrões
de saúde e de segurança no ambiente laboral da empresa.

A busca pela qualidade, na visão dos especialistas (2), tem produzido frequentemente o
efeito contrário, ou seja, “a degradação destes (...) padrões (...), frequentemente ameaçados
pela existência dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais. Esta realidade deteriora
os negócios e provoca danos aos colaboradores, às empresas e à sociedade, não podendo ser
tratada como fruto do acaso”.

Trata-se de um problema que, de maneira diversa, ocorre geralmente nas pequenas


empresas, quando a política da prevenção dos riscos de acidentes é relegada ao segundo plano,
diante da necessidade de dirigir toda a atenção às pressões do mercado competitivo, clamando
por rapidez e qualidade, que Barbosa Filho (2011, pág.1) assim descreve:

A multiplicidade de ações e decisões que o administrador de empresa,


principalmente da micro e pequena empresa – quando na maioria das vezes é o
proprietário dela – tem de realizar e tomar ante os diversos compromissos, para buscar
a sobrevivência organizacional, faz com que não detenha suas atenções quanto ao
ambiente de trabalho que oferece aos seus funcionários.
Compromissos financeiros, a necessidade de estar atento ao mercado, as
negociações com fornecedores e distribuidores, ocupam lugar de destaque em suas
preocupações. Por outro lado, em sua formação profissional, mesmo enquanto
cidadão, raramente tem acesso a informações que demonstrem a importância das
condições de trabalho para a manutenção da saúde dos trabalhadores e do meio
ambiente, para a melhoria da produtividade da empresa e, por conseguinte, da
competitividade desta. Ao desconhecer essa problemática, não se interessa e, portanto,
não pode perceber esses relacionamentos.
Por outro lado, as empresas que desenvolvem ferramentas gerenciais no campo físico e
social da Segurança do Trabalho, em função das novas exigências legais ou por força de
inovação tecnológica, tem adotado a medida pouco eficaz de fazer disso, muitas vezes, uma
gestão setorizada (separada da gestão central), ou tão-somente como um pretexto para elevar o
desempenho da atividade produtiva.

Embora não seja incorreto considerar a gestão da Segurança do Trabalho como um


mecanismo para impulsionar a produtividade, seria fatal para a imagem de qualquer
organização, no mundo atual, se isso ocorresse em prejuízo das pessoas, com elevado custo
humano (TACHIZAWA; FERREIRA; FORTUNA, 2001 apud Palestrantes2).

2 Palestrantes do 5º. Congresso de Excelência em Gestão, Rio, 2009


<http://www.excelenciaemgestao.org/Portals/2/documents/cneg5/anais/T8_0156_0544.pdf>
11

Com efeito, no que se refere, especificamente, ao aspecto do cumprimento das


exigências legais e técnicas (NR-7 PCMSO e NR-9 PPRA), a questão se limita, muitas vezes,
a um mero ‘documento cartorial’, que conspira contra a imagem da empresa, uma vez que este
programa (SSST), segundo especialistas de SESI (2006), não está melhorando a ‘segurança e a
saúde do trabalho’ no contexto empresarial brasileiro:

No processo de reformulação da legislação trabalhista foram introduzidos


em 1994 o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, o
Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais - PPRA e o Programa de Condições e
Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção – PCMAT, constituindo as
Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, números 7,
9 e 18, respectivamente.
Estes Programas que visam eliminar ou minimizar os riscos no ambiente de
trabalho e, por conseguinte, reduzir os acidentes laborais, as doenças decorrentes do
trabalho e melhorar a qualidade no ambiente de trabalho, não conseguiram demonstrar
evidências de mudança significante do cenário brasileiro no que diz respeito a estas
questões. Pelo contrário, observou-se um distanciamento entre as equipes de saúde
ocupacional, higiene industrial e segurança do trabalho, além de que as práticas
preventivas da ocorrência de riscos laborais não ganharam espaço no dia-a-dia das
empresas.
Outro determinante provável pela manutenção de um panorama pouco
favorável para a SST no Brasil tem sido a interpretação restrita dos PPRAs, PCMSOs
e PCMATs apenas como documentos cartoriais a serem apresentados para a
fiscalização do MTE ao invés de um processo de melhoria contínua da SST dentro da
empresa.
Diante dessas contradições que, muitas vezes se observa no âmbito dos negócios em
fase de expansão, pode-se constatar que o projeto de segurança e de saúde do trabalho
representa uma evolução recente na cultura empresarial brasileira, sendo, pois, natural que
ainda haja um longo caminho a ser percorrido, principalmente no que se refere à tarefa de torná-
lo mais funcional e eficaz, como um projeto efetivamente integrado à gestão da atividade
produtiva da empresa.

O ‘estudo de caso’ desta pesquisa de campo visa, pois, focalizar as limitações da


prevenção acidentária da empresa, notadamente na questão do uso de EPIs (Equipamentos de
Proteção Individual) e observar seu alcance na realização dos princípios de uma nova cultura
de gestão preventiva (multidisciplinar e intersetorial) baseada, não apenas no esforço de evitar
a doença do trabalho, mas ainda no esforço de promover a ‘saúde ocupacional’ (OIT/OMS) e
o direito do trabalhador à ‘saúde e ao valor social do trabalho ’ (CF, 1988).

Na prática significa verificar, ao mesmo tempo, diferentes dimensões de um sistema de


prevenção acidentária ampliado, a saber: (i) a dimensão individual do risco à saúde biológica,
(ii) a dimensão preventiva contra o risco ambiental do trabalho, e principalmente (iii) a
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dimensão social da saúde ocupacional do trabalhador, incluindo os aspectos físicos,


psicológicos e sociais no processo adaptativo homem-trabalho (OIT/OMS).

Nesta perspectiva, o presente estudo postula que a análise do sistema de saúde e


segurança do trabalho (SSST) necessita contemplar não apenas o aspecto legal e técnico da
prevenção (individual, ambiental), mas igualmente o aspecto ético (social) do direito do
trabalhador à ‘saúde’ (CF, 1988), em que pese a difícil relação entre produtividade e
humanização, quando se trata de melhorar a relação custo-benefício na atividade produtiva da
empresa (BARBOSA FILHO, 2011).

Ao focalizar a gestão de segurança do trabalho na perspectiva técnica, legal e ética, o


estudo tem, pois, por objetivos:

 Arrolar, no primeiro capítulo, as principais conquistas no campo do Direito do


Trabalho, com ênfase nos avanços legais em matéria de medicina do trabalho e
de segurança ocupacional, expressos na Constituição Federal brasileira, na
Consolidação das Leis do Trabalho e nas Normas Reguladoras do Ministério do
Trabalho, ressaltando-se a dificuldade da legislação em regulamentar o princípio
constitucional da saúde como um direito do cidadão (CF, 1988).
 Discorrer, no segundo capítulo, sobre a evolução da indústria gráfica e os
avanços técnicos do trabalho e dos meios de produção (máquinas, instrumentos,
produtos), com o intuito de caracterizar o viés da cultura capitalista de reduzir a
prevenção ao plano técnico, deixando, historicamente, para o estado ou para a
sociedade o ‘agravo’ pelos acidentes de trabalho;
 Analisar, no terceiro capítulo, o recorrente sistema de ‘prevenção acidentária’ e
de sua metodologia de evitar o dano e a doença ocupacional, ao antecipar,
reconhecer, avaliar e controlar o risco laboral, sem se envolver com as causas
sociais que o geram e com a promoção da saúde ocupacional (OIT e OMS) e do
‘valor social do trabalho’ (CF, 1988);
 Desenvolver, no quarto capítulo, o Estudo de Caso na forma de uma pesquisa de
campo na área da atividade gráfica, focalizando, à luz da nova cultura de gestão
preventiva (transdisciplinar e intersetorial), a questão do uso de EPI na e além
da prevenção acidentária (multidisciplinar e consensual).
Como objetivo geral, o presente estudo pretende contribuir para um aprofundamento da
informação sobre a natureza dos acidentes de trabalho e sobre a forma de sua redução na
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indústria gráfica, tendo em vista a nova cultura de redimensionamento dos programas de


prevenção do risco ambiental na perspectiva da saúde do trabalhador.
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1 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE DIREITO E SEGURANÇA DO


TRABALHO

As leis trabalhistas relativas à segurança e à saúde do trabalhador da sociedade moderna


ocidental foram criadas a partir da evolução do sistema de trabalho assalariado, surgido na
revolução industrial, onde trabalhadores eram submetidos a jornadas excessivas e a ambientes
e condições precárias de trabalho, além dos baixos salários resultando em péssimas condições
de vida. Essas pessoas tinham grande probabilidade de adoecer no ambiente de trabalho, no
qual, se isso ocorresse, não teriam nenhum amparo legal para recuperar a sua saúde debilitada,
tornando-os inoperantes e descartáveis.

Nessa situação, o Estado viu-se obrigado a intervir, até mesmo pelas pressões sofridas,
para melhorar as condições dos trabalhadores, criando leis e direitos para que os empregadores
não explorassem a falta da presença do estado ou a ausência do amparo legal ao ambiente de
trabalho de seus colaboradores.

Segundo Nascimento (2004, 2009), o conjunto de influências, que determinou para que
fossem adotadas medidas de proteção aos trabalhadores no Brasil teve dois aspectos – o externo
e o interno:

 Dentre as influências externas, que exerceram forte pressão no sentido de levar o


Brasil a elaborar leis trabalhistas, destacam-se as transformações que ocorriam na
Europa e a crescente elaboração legislativa de proteção ao trabalhador. Além disso,
destaca-se, o compromisso internacional assumido pelo Brasil ao participar da
Organização Internacional do Trabalho, criada pelo Tratado de Versalhes (1919), que
propunha a observância das normas trabalhistas;
 Os fatores internos que mais influenciaram no surgimento do Direito do Trabalho no
Brasil foram: o movimento operário do qual participaram imigrantes com inspirações
anarquistas, caracterizado por inúmeras greves em fins de 1800 e início de 1900; o
surto industrial, efeito da Primeira Guerra Mundial, com o aumento do número de
fábricas e operários; e a política trabalhista de Getúlio desde 1930.

Foi a partir destas influências que em 1934 se incluiu, pela primeira vez, normas de direito
de trabalho na Constituição do Brasil, sendo que mais recentemente, na Constituição de 1988,
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houve um significativo avanço no campo das conquistas sociais dos trabalhadores,


notadamente, no campo da saúde ocupacional e da segurança do trabalho, porém não o
suficiente para se falar de uma cultura sustentável de trabalho digno, saudável e seguro, ou seja,
aquela que não gera riscos a prevenir e muito menos a remediar.

Com efeito, é no contexto da política do Estado Novo que a legislação trabalhista, no


Brasil, ganha forma, notadamente nas constituições de 1934 e 1937 (governo Vargas), e de
1946, no governo de Gaspar Dutra, período em que também se lançou as bases do direito do
trabalho no campo da saúde ocupacional e da segurança do trabalho.

Em rápida síntese, Amauri M. Nascimento (2004), faz as seguintes referências à


inclusão de normas de direito de trabalho na Constituição de 1934:

Em 16 de julho de 1934 é promulgada a segunda Constituição Republicana


do Brasil. (...) Instituiu a Justiça do Trabalho, salário mínimo, limitação de lucros,
nacionalização de empresas, direta intervenção do Estado para normalizar, utilizar ou
orientar as forças produtoras e organização sindical.
A representação profissional foi a principal inovação na Constituição de
1934. Esta assegurava autonomia sindical, dava a todos o direito de prover à própria
subsistência e à de sua família mediante trabalho honesto; determinava que a lei
promovesse o amparo à produção e estabelecesse as condições do trabalho tendo em
vista a proteção social dos trabalhadores e os interesses econômicos do País; estatuía
a proibição de diferença de salário para o mesmo trabalho por motivo de idade, sexo,
nacionalidade ou estado civil; determinava a fixação de salário mínimo; proibia o
trabalho dos menores de 14 anos, o trabalho noturno dos menores de 16, o trabalho
nas indústrias insalubres por mulheres e menores de 18 anos; assegurava a
indenização ao trabalhador injustamente dispensado, a assistência médica e sanitária
ao trabalhador e à gestante e, também para ela, o descanso antes e depois do parto sem
prejuízo do salário. Fixava o dever da União em amparar o trabalhador inválido ou
envelhecido, dando ela uma contribuição para as instituições de previdência social,
igual àquela a que são obrigados empregadores e empregados, e, por fim, criava a
Justiça do Trabalho. Para seu funcionamento, o sindicato precisava de autorização do
Estado, com estatutos padronizados e apresentação de relatório. Dessa forma, conclui-
se que houve uma perda de autonomia por parte desses sindicatos.
Desaparecia, assim, com a Constituição de 1934, a democracia igualitária,
individualista, não intervencionista, que permitia ao livre capitalismo a exploração do
trabalho em benefício exclusivo de alguns sob os olhares complacentes de um Estado
proibido de intervir. Não era admitida a propaganda ideológica.
Passaram-se três anos e um golpe de Estado dissolvia o Congresso
derrogando a atual Constituição e criando a Carta de 1937.
Com relação à Constituição de 1937, o autor refere a inclusão de normas de direito de
trabalho nos seguintes termos:

A Constituição de 1937 se acentuou pelo seu caráter revolucionário,


especialmente legitimando a intervenção do Estado no domínio econômico. De cunho
corporativista, a carta de 1937 alterou profundamente a textura da ordem econômica
e social do país: fixou diretrizes da legislação do trabalho, repouso semanal, a
indenização por cessação das relações de trabalho sem que o empregado a ela tenha
dado causa, as férias remuneradas, o salário mínimo, o trabalho máximo de oito horas,
a proteção à mulher e ao menor, o seguro social, a assistência médica e higiênica etc,
16

(...). Por outro lado, contudo, proibiu o exercício do direito de greve e o lockout, tidos
como manifestações anti-sociais e incompatíveis com os interesses nacionais. Além
dessas medidas, a nova carta previu a criação e sindicato único e instituiu o imposto
sindical, atrelando, dessa forma, os órgãos corporativos ao Estado. A Justiça do
Trabalho foi mantida, mas ainda era considerada como um órgão administrativo.
Em 29 de outubro de 1945, verificava-se novo golpe militar no País,
assumindo a chefia do Governo o Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Realizadas eleições gerais, instalou-se a Assembleia Nacional Constituinte, que
elaborou e promulgou nova Constituição (1946).
É importante observar que, anos antes, em 1943 ao ser lançada a CLT (Consolidação
das Leis do Trabalho), foram criadas as bases da regulamentação legal sobre as relações
individuais e coletivas do trabalho (Art. 1º da CLT), que inspiraram as sucessivas constituições
posteriores, até os dias de hoje.

Embora tenha sido fortemente inspirada na ‘Carta del Lavoro’ do governo Benito
Mussolini na Itália, a CLT teve como fonte as convenções internacionais do trabalho e a
‘Encíclica Rerum Novarum’, chegando a ser denominada como Consolidação das Leis do
Trabalho e da Previdência Social. Seu impacto foi grande e o termo ‘celetista’, derivado da
sigla ‘CLT’, passou a ser utilizado até hoje para denominar o indivíduo que trabalha com
registro de carteira de trabalho.

Três anos depois da criação da CLT, é aprovada a Constituição de 1946, sobre a qual o
autor assim se refere:

Conforme o ensinamento de Süssekind, a Constituição de 1946 encerrava um


conteúdo social que a colocava entre as mais completas do mundo. Quanto a esse
aspecto, faltava a muitos de seus dispositivos um caráter mais imperativo, já que, pela
redação que receberam, eram, principalmente, recomendações. Tinha, portanto, um
caráter social-democrático, mantendo os mesmos princípios fascistas da Constituição
de 1934.
Com a Constituição de 1946, a Justiça do Trabalho foi inserida no âmbito do
Poder Judiciário e outras mudanças também importantes ocorreram: a carta dispunha
sobre a organização e definição da competência da Justiça do Trabalho, atribuindo à
mesma um poder normativo; houve a inclusão do Ministério Público do Trabalho ao
Ministério Público da União; previsão do salário mínimo familiar; previsão de
participação pelo empregado nos lucros da empresa; repouso semanal remunerado;
normas de higiene e segurança do trabalho; proibição do trabalho noturno para
menores de idade e, também, foi instituído o direito de greve. Nesse período, foi
promulgada a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) pelo decreto lei nº 5.452/43.
A constituição de 1946 manteve os mesmos princípios fascistas da CF/34, num regime
democrático.
Em 31 de março de 1964, ocorreu uma revolução militar e o Congresso
Nacional assumiu poderes constituintes, aprovando, em 24 de janeiro de 1967, uma
nova Constituição.
Durante os governos militares, que promulgaram a Constituição Federal de 1967, foram
mínimas as alterações e inovações nas normas de direito de trabalho, com a ressalva, segundo
Amauri M. Nascimento (2004 e 2009), da grave alteração feita pela emenda constitucional de
17

1969, quanto a alguns princípios básicos então vigentes no âmbito do Direito Internacional do
Trabalho:

Nessa constituição ficou estabelecido que a legislação trabalhista se aplica


aos servidores admitidos temporariamente para obras ou contratos para funções de
natureza técnica ou especializada. Estabeleceu, também, a valorização do trabalho
como condição da dignidade humana. Proibiu a greve nos serviços públicos e
atividades essenciais definidas em lei. Continua proibindo a diferença de salários e de
critério de admissões por motivos de sexo, cor e estado civil. Não alterou o inciso que
fixa a existência de salário de trabalho noturno superior ao diurno (...).
Já quanto à participação do trabalhador nos lucros, a redação do inciso V dá
o sentido legal, dizendo que visa à integração do trabalhador na vida e no
desenvolvimento da empresa, com participação nos lucros, e, excepcionalmente, na
gestão, nos casos e condições que forem estabelecidos.
O descanso remunerado não ficou subordinado ao limite das exigências
técnicas das empresas como estabelecia o inciso VI do art. 157 da Constituição de
1946.
A idade mínima para o trabalho foi fixada em 12 anos com proibição de
trabalho noturno, sem mais a faculdade de exceção prevista em leis ordinárias ou
admitida pelo juiz competente, como era na Constituição anterior.
Continua garantindo à gestante o direito de descanso, antes e depois do parto,
sem prejuízo do emprego e do salário. Também não houve alteração quanto ao
reconhecimento das convenções coletivas, mantido o princípio da de 1946.
Já no que diz respeito à proteção da previdência social, a nova Constituição
incluiu o direito ao seguro-desemprego, mas somente em 1986 tal seguro foi criado.
Duas disposições novas foram incluídas, quais sejam as colônias de férias e
clínicas de repouso, recuperação e convalescença, mantidas pela União, conforme
dispuser a lei; e a aposentadoria para a mulher aos trinta anos de trabalho, com salário
integral.
A Constituição regulou, também, a composição do Tribunal Superior do
Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho, bem como a nomeação dos seus
integrantes. Fez previsão do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da
contribuição sindical e voto sindical obrigatório.
A intervenção estatal na vida do sindicalismo continuou marcante. Ainda
como um aspecto da nacionalização do trabalho, somente a brasileiros natos caberá a
responsabilidade, a orientação intelectual e administrativa das empresas jornalísticas
de qualquer espécie.

A Constituição de 1967 foi alterada pela Emenda Constitucional, outorgada


em 17 de outubro de 1969, e (...) outras posteriores não modificaram os princípios que
nortearam os capítulos referentes ao problema social. Deve-se registrar, entretanto,
que duas disposições ferem princípios internacionalmente consagrados: a que reduz o
limite de idade do trabalho para 12 anos e a que proíbe a greve nos serviços públicos
e nas atividades consideradas essenciais pela lei.
Note-se que, até os anos 80 – anos em que o Brasil ostenta o título de campeão mundial
em acidentes de trabalho – as conquistas no campo do direito do trabalho no Brasil tiveram
como referência a Consolidação das Leis de Trabalho estabelecidas durante o Estado Novo,
cujo embasamento tem sido, como já foi dito, fortemente influenciado pelo corporativismo de
inspiração fascista e, por suposto, paternalista, inclusive no que diz respeito aos dispositivos da
segurança do trabalho.
18

Neste contexto, ganham importância também os direitos sociais à saúde, à segurança e


à previdência social, contidos no Capítulo II – Título II da Constituição Federal de 1988, com
desdobramentos, que Barbosa Filho (2011, pág. 12 e 13), assim descreve:

Merecem destaque os incisos do Artigo 7º que tratam dos direitos do


trabalhador urbano e rural, do trabalhado menor e do sexo feminino, visando, entre
outros benefícios, à melhoria da condição social deles.
Entre tais direitos, deve ser observada a redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (Inc. XXII).
Devem também merecer atenção o inciso XXIII, que trata da remuneração
adicional para atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da Lei, e o Inciso
XXVIII, que dispõe sobre o seguro contra acidentes, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
Os artigos seguintes do capítulo também tratam de interesses ligados ao
trabalhador como associação profissional ou sindical e o direito de greve.
O Artigo 21, inciso XXIV, dispõe que é de competência da União a
organização, a manutenção e a execução da inspeção do trabalho.
A despeito dos novos princípios sociais do novo Estado de Direito, a Constituição
Federal de 1988, no plano prático, segue legislando, todavia, na perspectiva das Constituições
anteriores, que classificam, por exemplo, o acidente de trabalho como um infortúnio a ser
prevenido e indenizado.

Neste sentido, ao se constituir uma continuidade das antigas Cartas Constitucionais, a


Constituição Federal de 1988 trata de emendar medidas compensatórias, anteriormente
prescritas. Com relação à Constituição de 1934, por exemplo, resgata e complementa, entre
outras coisas, os seguintes aspectos:

 Redução da jornada de trabalho;


 Assistência médica ao trabalhador e à gestante;
 Proibição do trabalho insalubre para mulheres;
 Descanso remunerado da mãe antes e depois do parto;
 Contribuição Previdenciária para trabalhadores inválidos e velhos.
Em relação aos direitos sociais à saúde e à segurança no trabalho ampliadas pela
Constituição de 1937, reforça e legitima seus pontuais avanços, assim como:

 A inclusão do repouso semanal remunerado;


 A indenização por cessação das relações de trabalho;
 A instituição do salário mínimo;
 A proteção à mulher e ao menor;
 O seguro social;
19

 A assistência médica e higiênica.


No que se refere aos avanços relativos à segurança no trabalho contidos na Constituição
de 1946, a atual Constituição amplia e revitaliza questões relacionadas com os seguintes
aspectos:

 Normas de higiene e segurança do trabalho;


 Instituição do salário mínimo familiar;
 Regulamentação do repouso remunerado e proibição do trabalho noturno para
menores de idade.
E finalmente em relação à Constituição de 1967, redimensiona aspectos referentes à
valorização do trabalho como condição da dignidade humana, corrigindo distorções como a
proibição do direito de greve e a instituição do trabalho de menores.

Da mesma forma, resgata ampliando diversas normas da Constituição de 1967, no que


se refere à promoção do bem-estar do trabalhador, assim como:

 O processo de integração do trabalhador na vida da empresa, referendando a


participação nos lucros (preconizados na CF de 1946);
 O direito de descanso à gestante, antes e depois do parto;
 O seguro-desemprego, que apenas entraria em vigor em 1986;
 As colônias de férias e as clínicas de repouso;
 A aposentadoria para a mulher aos trinta anos de trabalho.
Na visão de Barbosa Filho (2011, pág. 11), é inegável que, em relação às constituições
anteriores, a Constituição de 1988 avançou bastante no que se refere ao direito de participação
dos grupos sociais – por suposto corporativistas – especialmente no campo da segurança e
estabilidade de emprego e de amparo social ao trabalhador despedido e desempregado.

No campo das conquistas sociais, segundo Gardinalli (2012-Internet), a Constituição de


1988 foi, sem dúvida, um marco no ordenamento jurídico sobre a saúde do trabalhador, no
Brasil, ao afirmar que agora:

Está garantida a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas
de saúde, higiene e segurança. E, ratificadas as Convenções 155 e 161 da OIT, que
também regulamentam ações para a preservação da Saúde e dos Serviços de Saúde do
Trabalhador. As conquistas, pouco a pouco, vêm introduzindo novas mentalidades,
sedimentando bases sólidas para o pleno exercício do direito que todos devem ter à
saúde e ao trabalho protegido de riscos ou das condições perigosas e insalubres que
põem em risco a vida, a saúde física e mental do trabalhador. A proteção à saúde do
trabalhador fundamenta-se, constitucionalmente, na tutela “da vida com dignidade”,
e tem como objetivo primordial a redução do risco de doença, como exemplifica o art.
7º, inciso XXII, e também o art. 200, inciso VIII, que protege o meio ambiente do
20

trabalho, além do art. 193, que determina que “a ordem social tem como base o
primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”.

Mas, no plano prático (da CF/88), a questão da segurança do trabalho, num primeiro
momento, alcança concretude apenas com “a redução de riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança”, e o pagamento do adicional e do seguro contra
acidentes e do pagamento de indenização quando incorrer em dolo ou culpa.

A permanecer nestas prescrições compensatórias e previdenciárias (do infortúnio a


reparar), compreende-se que a recorrente prevenção acidentária se reduz, na prática, ao controle
de riscos ambientais que, no caso de uma Indústria, poderiam se reduzir a uma medida
preventiva ambiental (manter máquinas, ferramentas e equipamentos em perfeitas condições de
uso, prover equipamentos de proteção, adequar as instalações físicas às atividades dos
trabalhadores), sem se preocupar com a promoção da saúde integral e com as causas sociais que
geram o risco ambiental.

Como se verá a seguir, a legislação que trata de avançar na interpretação constitucional


sobre o “valor social do trabalho” ainda é tímida, mesmo aquela que criou o Fator Acidentário
de Prevenção (FAP - Lei nº 10.666/2003), garantindo, ao mesmo tempo o direito à saúde, à
segurança, à previdência social e ao trabalho – considerado, na época um avanço na “cultura
da prevenção dos acidentes e doenças do trabalho”, uma vez que foi fruto do diálogo social
entre empregadores e trabalhadores (Internet, 2012, Ministério da Previdência Social).

Do exposto, pode-se concluir que a Constituição Federal promulgada em 1988 foi um


marco no que se refere à garantia dos direitos sociais à saúde ocupacional, ao elencar uma série
de Direitos Trabalhistas, estabelecidos nos incisos do artigo 7º, deixando, porém em aberto a
interpretação do que se entende por “valor social do trabalho” e da saúde do trabalhador como
um direito de cidadania.

1.1 SEGURANÇA E PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA ATUAL


LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

A atual legislação relativa aos direitos do trabalho – incluindo os direitos à segurança


ocupacional, à medicina do trabalho e à previdência social – tem naturalmente a finalidade
constitucional de assegurar ‘os valores sociais do trabalho’, além de contribuir para resguardar
a integridade física, mental e social do trabalhador, tendo em vista o já consagrado chavão de
que “o acidente de trabalho ocorre onde a prevenção falha”.
21

É neste sentido que a redução de riscos de acidentes para os trabalhadores obriga, do


ponto de vista legal, a que os empregadores lhes propiciem uma jornada que inclua um ambiente
de trabalho individual e coletivo ‘sem riscos para os direitos de outrem’, assim como está no
código civil, com as respectivas sanções em caso de descumprimento.

Ao exigir ‘a adoção dos meios de proteção’ e ‘indenização pelos danos’ em caso de


acidentes ocupacionais, a legislação contribui para promover a segurança do trabalho, mas no
sentido de coibir os excessos e manter a questão dentro, pelo menos, dos limites legais daquilo
que se entende por ‘acidente de trabalho’, cujo conceito é que dá, de fato, a dimensão prática
do alcance da lei.

No que se refere ao conceito legal de acidente de trabalho, a Lei nº 8.213/91 define que
“Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo
exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente
ou temporária, da capacidade para o trabalho”.

Trata-se, antes de tudo, de um conceito previdenciário de acidente de trabalho que,


segundo Barbosa Filho (2011, pág. 29), é complementado no artigo 20 desta mesma Lei nº
8.213/91, como algo que todavia implica “entidades mórbidas”:

I. Doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício


do trabalho e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho
e da Previdência Social;
II. Doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente,
constante da relação mencionada no inciso I;
Parágrafo 1º - Não são consideradas como doença do trabalho:
a. A doença degenerativa;
b. A inerente a grupo etário;
c. A que não produza incapacidade laborativa;
d. A doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se
desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto
determinado pela natureza do trabalho;
Parágrafo 2º - Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída nos incisos
I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e
com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente de
trabalho.
Já o artigo 21 da mesma Lei nº 8.213/91 atribui, segundo o autor (op. Cit., 2011, pág.
30), um alcance ainda maior ao conceito previdenciário de acidente de trabalho, ao incluir os
acidentes causados por razões indiretas ou não relacionados diretamente ao trabalho
ocupacional:
22

I. O acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua
recuperação;
II. O acidente de trabalho sofrido pelo segurado no local e no horário de trabalho em
consequência de:
a. Ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de
trabalho;
b. Ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao
trabalho;
c. Ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro
de trabalho;
d. Ato de pessoa privada de uso da razão;
e. Desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força
maior.
III. A doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua
atividade;
IV. O acidente de trabalho sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de
trabalho:
a. Na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
b. Na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou
proporcionar proveito;
c. Em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta
dentro de seus planos para melhorar capacitação de mão de obra, independentemente
do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
d. No percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer
que seja o meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do
segurado.
Parágrafo 1º-Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação
de outras necessidades fisiológicas, no local de trabalho ou durante este, o
empregado é considerado no exercício do trabalho;
Parágrafo 2º-Não é considerada agravação ou complicação do acidente do trabalho a lesão
que, resultante de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do
anterior.

Ao tratar dos benefícios da segurança do trabalho, a Lei nº 8.213/91, na verdade o faz


no contraponto do ‘infortúnio a reparar’, como algo que, segundo Barbosa Filho (2011, pág.
31), implica causalidade (o inesperado), prejuízo (lesões), nexo causal (concausa), gerado pelo
elemento que concorre com o outro, formando o nexo, por exemplo, entre o ambiente de
trabalho e o acidente do trabalho (abrupto), a doença ocupacional (insidiosa), incluindo a
doença adquirida inadvertidamente (por exemplo, contaminação invisível).

Além do ‘infortúnio a reparar’ e nesta mesma linha, Mendes e Wünsch (SP, 2007, pág.
156-7) questionam o reducionismo do conceito legal de acidente e de ‘risco aceitável’, baseado
no binômio ‘pericial-legal’, ou seja, no diagnóstico técnico e nas normas que enquadram os
riscos nos limites do medicamente aceitável.

De acordo com as autoras (op. Cit, 2007), “seus artifícios são a desqualificação (o
desnivelamento da qualificação) dos trabalhadores ditos ‘de fora de quadro, exteriores,
23

ajudantes’ e a redução do tempo de trabalho, com rebaixamentos salariais legalmente


permitidos quando se trata de trabalho em tempo parcial” (terceirizado).

Neste sentido, o conceito legal de acidente de trabalho contido na Lei no. 8.213, ao
dispor dos Planos de Benefícios da Previdência Social, na visão das autoras, equipara doença
profissional e doença do trabalho, excluindo do seguro previdenciário, por definição,
determinadas categorias de trabalhadores, principalmente as que atuam na economia informal.

Trata-se de um equívoco que não condiz com os princípios constitucionais que tratam
da saúde como um direito do cidadão, tal como é referido no artigo XXII (CF-1988) sobre a
redução dos riscos inerentes ao trabalho e no artigo XXVIII (CF-1988) sobre o direito ao
seguro.

Na medida em que isso implica naturalmente aspectos organizacionais, como a jornada


de trabalho, o conceito previdenciário de acidente de trabalho na Lei nº 8.213/91 oscila entre
os preceitos constitucionais (CF-1988) e da Consolidação das Leis do Trabalho (1943), a qual,
segundo Barbosa Filho (2011, pág. 14 e 15) trata da questão baseada em normas de Segurança,
de Medicina do Trabalho e de Saúde Ocupacional que remontam à época em que foi criada,
tendo em vista o trabalho formal, e dentro deste, o trabalho industrial:

 No artigo 3º, parágrafo único, onde se prescreve que “não haverá distinções relativas
à espécie e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e
manual”;
 No artigo 9º, onde se preceitua que “serão nulos de pleno direito os atos praticados
com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos
na presente Consolidação” (CLT);
 No Capítulo II, do Título II da CLT, que versa sobre a “duração do trabalho” e no
Capítulo V, Título II, que versa sobre “a segurança e a medicina do trabalho nas
empresas, no qual se destaca a parametrização para as condições de trabalho”;
 No art. 157 onde se estabelece as “competências das empresas:- Inciso I – de cumprir
e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho - Inciso II – instruir
os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no
sentido de evitar acidentes ou doenças ocupacionais - Inciso III – adotar as medidas
que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente - Inciso IV – facilitar a
fiscalização pela autoridade competente;
 No artigo 158, onde se “estabelece as atribuições dos trabalhadores: Inciso I – de
observar normas de segurança e medicina do trabalho - Inciso II – de colaborar com
a empresa na aplicação dos dispositivos do Capítulo – Parágrafo Único –Constitui
ato faltoso do empregado a recusa injustificada: a) à observância das instruções
expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior – b) ao uso dos
equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa”;
 No Título III da CLT, onde se fala das “normas especiais de tutela do trabalho – com
destaque aos Capítulos I, III e IV sobre ‘duração e condições’ (insalubres, não-
saudáveis – ou acima dos limites de tolerância) de trabalho de certas atividades, e
ainda, ‘da proteção ao trabalho da mulher e do menor”;
 No artigo 189 da CLT, no qual é definido o conceito legal de insalubridade – “Serão
consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza,
24

condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à


saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade
do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos”;
 No artigo 193 da CLT, no qual é definido o conceito de periculosidade – “São
consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação
aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de
trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em
condições de risco acentuado”.

Na prática dualista de causa e efeito, entre acidente e medicina, estabelecida na CLT,


observa-se a tendência de prescrever e a de colocar o acidente do trabalho na perspectiva da
segurança e da medicina preventiva, ou seja, como um ‘infortúnio a reparar’ que pode incidir
no ‘risco indenizável’, por exemplo, em adicional de insalubridade ou de periculosidade, tendo
em vista:

 O artigo 192 da CLT, em se considerando como operações insalubres aquelas que,


por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a
agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza
e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos;
 O artigo 193 da CLT, em se considerando as atividades ou operações perigosas, na
forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua
natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis
ou explosivos em condições de risco acentuado.

Assim, pelo artigo 192 da CLT, o adicional por insalubridade será de 10%, 20% ou de
40% (do salário mínimo), segundo seu grau de intensidade, verificada mediante perícias
requeridas às Delegacias Regionais do Trabalho. Já pelo artigo 193 da CLT, o adicional por
periculosidade será de 30% (do salário nominal) para o trabalhador que realiza suas atividades
em ambientes que oferecem perigo de incêndio, etc.
No campo prático da gestão financeira dos adicionais, muitas dúvidas ou falhas
acabaram exigindo o aperfeiçoando da legislação, como no caso do conceito de periculosidade,
tanto que em 1986 o Decreto nº 93.412 considera também como ‘periculoso’ o trabalho em
contato com energia elétrica. Posteriormente, em 1987, pela Portaria no. 3.393, passa-se
também a tratar como ‘periculosas’ as atividades ou operações que envolvem radiações
ionizantes e substâncias radioativas.

Além disso, o artigo 7º, inciso da Constituição Federal que institui o adicional de
remuneração para as atividades penosas, insalubres e perigosas, ainda não recebeu até hoje uma
regulamentação para atividades penosas, ou seja, para as atividades que o trabalhador, por
exemplo, realiza de pé ou sob a chuva e o sol. Trata-se de uma modalidade de indenização em
atividades que, embora não causem efetivo dano à saúde do trabalhador, constituem atividades
sofridas.
25

De certa forma, esta lacuna, como se verá a seguir, pode ficar minimizada com as
prescrições contidas na Norma Regulamentadora NR-17 que dispõe sobre Ergonomia,
incluindo as condições ambientais do posto de trabalho, enfim, a própria organização do
trabalho.

Na perspectiva legal da segurança e da medicina ocupacional, o Capítulo II da CLT


destaca ainda, segundo os autores do Manual da Indústria Gráfica (Sesi 2006, pág. 190), os
seguintes aspectos sobre a organização da jornada de trabalho:

 Os artigos 59 e 60 que dispõem sobre horas suplementares, sua compensação,


remuneração e prorrogações em atividades insalubres.
 Os artigos 66 a 72 que dispõem sobre ‘descanso diário e semanal, bem como sobre o
intervalo para repouso ou alimentação’;
 O artigo 73 que dispõe sobre o trabalho noturno, considerado aquele executado entre
as 22h de um dia e às 5h do dia seguinte, prevendo acréscimo de 20% sobre a
remuneração da hora diurna;
 As normas de trabalho para situações especiais como aquelas: A) do estatuto do idoso,
instituído pela lei ordinária n. 10.741/2003; B) do trabalho de portadores de
deficiência conforme Lei n. 7.853/1989 e Decreto n 3.298/1999 e Lei 8.213/1991
(cota de profissionais deficientes); C) do estatuto da criança instituído pela lei
ordinária n. 8.069/1990, com destaque ao capítulo V, do direito à profissionalização
e à proteção no trabalho, sendo que no artigo 60 consta que “é proibido qualquer
trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz”,
proibição que também está prescrita na CLT, artigo 405, Inciso I;
 Artigo 372 da CLT, Capítulo II, Título III, onde se afirma que “os preceitos que
regulam o trabalho masculino são aplicáveis ao trabalho feminino, naquilo que não
colidirem com a proteção especial instituída por este Capítulo” (que proíbe: revistas
íntimas, atestados de não gravidez, disparidade salarial, rescisão de contratos por
gravidez, esforço físico sem distinção de gênero, negar pausa para a amamentação,
etc.).

Para os autores (op. Cit., pág.193), a jornada de trabalho implica ainda questões de
corresponsabilidade, assim como o trabalho terceirizado para atividades que não constituem o
objeto principal da empresa, cuja contratação irregular pode formar vínculo, de acordo com o
Enunciado n. 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), inciso IV: “O inadimplemento das
obrigações trabalhistas por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do
tomador de serviços, quanto àquelas obrigações, (...) desde que hajam participado da relação
processual e constem também do título executivo judicial (Artigo 71, Lei nº 8.666/1993 e
Resolução 96 –DJ/2000).

Pela Lei nº 6.019/1974, que regulamenta o trabalho temporário, também ocorre a


corresponsabilidade, quando no artigo 12º assegura, além dos direitos trabalhistas, o direito ao
“seguro contra acidentes do trabalho e proteção previdenciária”. Os parágrafos 1º e 2º desse
artigo obrigam as empresas tomadoras ou clientes a registrar o trabalhador na Carteira do
Trabalho e Previdência Social quanto à sua condição de temporário, e a comunicar à empresa
26

de trabalho temporário a ocorrência de todo acidente, cuja vítima seja um assalariado posto à
sua disposição (op. Cit, pág. 194).

No que se refere à normatização previdenciária, os autores (op. Cit, pág. 218 e 219),
destacam que o acidente típico (no exercício do trabalho), o acidente de trajeto (a caminho do
trabalho), e o que provoca doenças ocupacionais (por agentes físicos, químicos, biológicos) ou
ainda aquele acidente que resulta em doenças do trabalho provocadas pelas condições
inadequadas (ergonômicas/mecânicas), enfim, devem todos ser comunicados ao INSS,
mediante formulário específico (além do profissiográfico), ficando a empresa com o
compromisso de pagar os primeiros 15 dias de afastamento, e a partir do 16º dia a cargo do
INSS como auxílio-doença.

Da mesma forma, é cobrado o seguro previsto no inciso XXVIII do artigo 7º, que é
aquele percentual recolhido pelas empresas, a título de Seguro contra Acidentes do Trabalho
(SAT) previsto na Lei nº 8.212/91 e pago pelas empresas no conjunto de outras obrigações,
através da Guia de Recolhimento da Previdência Social (GRPS). A obrigação se dará em
percentual, sobre o salário do trabalhador, a ser determinado de acordo com o grau de risco da
atividade ao qual o empregado está exposto.

Em caso de descumprimento, de acordo com a Lei nº 10.406/2002 do Código Civil, a


empresa incorre em responsabilidade civil e criminal por ato lesivo provocado por ação,
omissão voluntária, negligência ou imprudência, com obrigação de indenizar, sendo ainda
passível das penalizações por condenação criminal, conforme artigo 132 do Código Penal,
quando o ato lesivo caracterizar “perigo para a vida ou a saúde de outrem”.

Para evitar responsabilização dessa natureza, segundo os autores (op. Cit, pág. 223) é
importante que a empresa implante ações permanentes de melhoria da saúde, higiene e
segurança dos trabalhadores. E por se tratar sempre de um dano a ser indenizado, resta ao
funcionário e ao empregador compreender que o acidente ou doença do trabalho resulta
invariavelmente em despesa para ambos, razão porque investir em prevenção dos acidentes de
trabalho é, na verdade, um bom negócio.

Com já foi dito anteriormente, a Lei nº 10.666/2003 que instituiu o FAP (Fator
Acidentário Previdenciário) promove este entendimento ao tornar obrigatório o recolhimento
do seguro de acidente de trabalho por parte das empresas, que consiste de um percentual
descontado sobre a folha de pagamento dependendo do risco de acidente de trabalho, podendo
ser reduzido ou ampliado (BARBOSA FILHO, 2011, pág. 24).
27

Neste sentido, a finalidade do FAP é incentivar a melhoria das condições de trabalho e


da saúde do trabalhador, estimulando e beneficiando as empresas a implementar políticas mais
efetivas de saúde e segurança do trabalho para reduzir a ‘acidentabilidade’. O FAP é um índice
que pode reduzir pela metade, ou duplicar, a alíquota de contribuição do Seguro de Acidentes
do Trabalho – SAT/RAT, pago pelas empresas sobre a folha de pagamento, conforme o
enquadramento em risco leve (1%), risco médio (2%) e risco grave (3%). O FAP é individual
para cada empresa, vai variar anualmente e será calculado sempre sobre os dois últimos anos
de todo o histórico de acidentabilidade e de registros acidentários da previdência social para
aquela empresa.

Recentemente (jan/2013), o FAP acrescentou novas regras que preveem bonificação por
redução do número de acidentes, no sentido de que as empresas que não investirem em saúde e
segurança podem ter a cobrança do SAT/RAT aumentada em até 100%, dependendo do seu
histórico de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais.

Outro aspecto, que contribui para esta visão refere-se ao NTEP (Nexo Técnico
Epidemológico), instituído pela Lei nº 11.430/2006 e regulamentado pelo Decreto 6.042/2007
(ver NR-16 a seguir), que consiste na relação presumida entre ‘Atividades Econômicas’
(CNAE) e ‘Classificação Internacional de Doenças’ (CID 10 da OMS), isto é, entre a
lesão/agravo e a atividade que o trabalhador desenvolve e cuja relação é informada ao INSS,
evitando o mascaramento ou a subnotificação de acidentes e doenças do trabalho, ficando o
ônus da prova por conta do empregador.

Para se manter dentro deste indexador (NTEP), será um bom negócio para a empresa
investir em ações preventivas, notadamente em programas baseados no PCMSO (Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional) e no PPRA (Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais), previstos nas Normas Regulamentadoras NR-7 e NR-9 respectivamente
(BARBOSA FILHO, 2011, pág. 24).

A implementação dessas metodologias, que tem reunido governo, empresários e


trabalhadores em torno de um esforço conjunto para gerar legislação aplicada, mais voltada
para os benefícios da segurança do trabalho, pode ser considerado uma tentativa de promover
o lado proativo da Constituição Federal no que se refere a um dos princípios fundamentais do
novo Estado do Direito, ou seja, ‘o valor social do trabalho’.

Nesta linha de raciocínio, os empresários podem promover uma cultura de segurança do


trabalho, apoiando-se nas Normas Regulamentadoras (NRs) aprovadas pela Portaria nº 3.214
28

de 08 de junho 1978, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que explicitam as


determinações dos artigos 154 a 201 da CLT (atualizadas pela Lei nº 6.513 de 1977) relativas
à Segurança e Medicina do Trabalho, visando sua aplicação na ‘prática prevencionista’.

1.2 SEGURANÇA DO TRABALHO NAS NORMAS REGULAMENTADORAS DO


MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO

Baseada na CLT de 1943 (atualizada pela Lei nº 6.513 de 1977), a Norma


Regulamentadora objetiva servir de balizamento e de parâmetro técnico às pessoas ou empresas
que devem atender aos ditames legais e que, também, devem observar o pactuado nas
Convenções e nos Acordos Coletivos de Trabalho de cada categoria e nas Convenções
Coletivas sobre Prevenção de Acidentes.

Conforme se lê no Manual da Indústria Gráfica (Sesi, 2006), convém lembrar que, na


prática ‘prevencionista’, muito pouco adianta atender a uma norma (NR) sem levar em
consideração as demais (NRs). Para isso é importante o conhecimento integral de todas elas e,
em resumo, constatar como cada uma pode contribuir para melhorar a gestão da Segurança e
Medicina do Trabalho na empresa.

Porém, nem todas as Normas Regulamentadoras (NRs) são pertinentes a todos os setores
da economia, por isso no presente estudo são priorizadas aquelas NRs relativas à saúde e
segurança no ambiente de trabalho no sistema produtivo da indústria gráfica, que
resumidamente (SESI/SP, 2006, pág.194) são as seguintes:

 NR 1: Disposições legais - As empresas privadas e públicas que possuam empregados


regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT deverão cumprir as normas
regulamentadoras relativas à segurança e à medicina do trabalho.
 NR 2: Inspeção prévia - Todo estabelecimento novo deverá solicitar aprovação de
suas instalações ao órgão regional do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, que
emitirá o CAI-Certificado de Aprovação de Instalações;
 NR 3: Embargo ou interdição - A Delegacia Regional do Trabalho poderá interditar
e/ou embargar o estabelecimento, as máquinas, o setor de serviços, se eles
demonstrarem grave e iminente risco para o trabalhador (Ver CLT Artigo 161 inciso
3.6|3.4|3.7|3.8|3.9|3.10);
 NR 4: Serviço Especializado em Medicina e Segurança do Trabalho – SESMT - Será
implantado na empresa conforme a gradação do risco da atividade principal e o
número total e empregados do estabelecimento. É também de responsabilidade do
SESMT o registro dos acidentes de trabalho (Ver CLT- Artigo 162 inciso
4.1|4.2|4.8.9|4.10).
 NR 5: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA - Todas as empresas
privadas, públicas, sociedades de economia mista, instituições beneficentes,
cooperativas, os clubes, desde que possuam empregados regidos pela Consolidação
das Leis do Trabalho - CLT, dependendo do grau de risco da empresa e do número
29

mínimo de 20 empregados, são obrigados a constituir e manter a CIPA (Ver CLT


Artigo 164 Inciso 5.6|5.6.1|5.6.2|5.7|5.11 e Artigo 165 inciso 5.8);
 NR 6: Equipamentos de Proteção Individual – EPI - As empresas são obrigadas a
fornecer gratuitamente aos seus empregados equipamentos de proteção individual -
EPI, destinados a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador (Ver CLT -
artigo 166 inciso 6.3 subitem A - Artigo 167 inciso 6.2).
 NR 7: Exames Médicos - Estabelece a obrigatoriedade da elaboração e
implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam
trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional - PCMSO, cujo objetivo é promover e preservar a saúde do conjunto dos
seus trabalhadores;
 NR 8: Edificações – Estabelece requisitos técnicos mínimos a ser observados nas
edificações para garantir segurança e conforto aos que nelas trabalham;
 NR 9: Riscos Ambientais – Estabelece a obrigatoriedade do empregador de
implementar o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) para antecipar,
reconhecer, avaliar e controlar riscos que possam ocorrer no ambiente de trabalho;
 NR 10: Eletricidade – Fixa as condições mínimas para garantir a segurança dos
empregados que trabalham em instalações elétricas, e ainda, a segurança de usuários
e terceiros;
 NR 11: Movimentação de Materiais – Estabelece normas de segurança para operação
de elevadores, guindastes, transportadores industriais e máquinas transportadoras,
incluindo armazenamento dentro dos requisitos de segurança requeridos para cada
material;
 NR 12: Máquinas e Equipamentos – Estabelece requisitos na instalação de máquinas
e equipamentos quanto a dispositivos de acionamento e parada visíveis, bem como
fácil acesso à chave geral de eletricidade, de tal modo que evite seu acionamento
acidental;
 NR 13: Caldeiras e Vasos de Pressão – Refere-se à prevenção de acidentes com
caldeiras e vaso de pressão, cuja operação deve ser efetuada por profissional
habilitado, tendo cada caldeira e vaso de pressão placa de indicação informando sobre
fabricante, número de identificação, ano de fabricação, pressão máxima de trabalho
admissível, pressão de teste hidrostático, código de projeto e ano de edição, além do
prontuário do vaso de pressão, registro de segurança, projetos de instalação ou reparo,
relatório de inspeção;
 NR 15: Atividades e Operações Insalubres – Estabelece procedimentos para lidar com
agentes nocivos à saúde (ruído, calor, radiações, pressões, frio, umidade, agentes
químicos, etc.), nos limites de tolerância, comprovados por laudo de inspeção e
estabelece o adicional de insalubridade;
 NR 16: Atividades e operações perigosas – Estabelece procedimentos para se lidar
com inflamáveis ou explosivos (químicos, radioativos), quanto ao manuseio e
transporte, incluindo o contato com a energia elétrica (Lei n. 7.369/85) e estabelece o
adicional de periculosidade;
 NR 17: Ergonomia - Estabelece os parâmetros que permitem a adaptação das
condições de trabalho às características psicofisiológicas do homem (postura e
movimentos, mobiliário adaptado, técnica de levantar peso, posição de trabalhar
sentado ou de pé, etc.), de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e
desempenho eficiente;
 NR 20: Líquidos combustíveis e inflamáveis - Define os parâmetros para o manuseio,
o transporte e o armazenamento de combustíveis e inflamáveis;
 NR 23: Proteção contra incêndios - Estabelece a proteção contra incêndio; saídas para
retirada de pessoal em serviço e/ou público; pessoal treinado e equipamentos. As
empresas devem observar também as normas do Corpo de Bombeiros sobre o assunto;
 NR 24: Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho - Todo
estabelecimento deve atender às determinações desta norma, no tocante à otimização
das condições, e às instalações sanitárias, separadas por sexo, e de conforto, além do
asseio no refeitório e cozinha;
 NR 25: Resíduos industriais - Objetiva a eliminação dos resíduos gasoso, sólido,
líquido de alta toxidade, periculosidade, risco biológico e radioativo, por meio de
30

métodos e equipamentos adequados, evitando riscos à saúde e à segurança do


trabalhador;
 NR 26: Sinalização de Segurança - Estabelece as cores na segurança do trabalho como
forma de prevenção, evitando a distração, a confusão e a fadiga do trabalhador, bem
como cuidados especiais quanto a produtos e locais perigosos;
 NR 28: Fiscalização e penalidades - Estabelece uma gradação de multas, para cada
item das normas. Estas gradações são divididas por número de empregados, risco na
segurança e risco em medicina do trabalho. O auditor fiscal do trabalho, baseado em
critérios técnicos, autua o estabelecimento, faz a notificação e concede prazo para a
regularização e/ou defesa;
 NR 32: Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde (hospitais,
ambulatórios, etc) - Esta Norma Regulamentadora tem por finalidade conscientizar e
estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à
segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que
exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral;
 NR 33: Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados - Esta Norma tem
como objetivo estabelecer os requisitos mínimos para identificação de espaços
confinados e o reconhecimento, avaliação, monitoramento e controle dos riscos
existentes (falta de ventilação), de forma a garantir permanentemente a segurança e
saúde dos trabalhadores que interagem direta ou indiretamente nestes espaços.

Como se observa, as Normas Regulamentadora tem a finalidade de ajudar a organizar o


ambiente de trabalho, de modo a antecipar e a evitar riscos de acidentes, o que, sem dúvida,
constitui uma forma objetiva de promover um ambiente favorável à proteção da integridade do
trabalhador e da própria empresa.

A Norma Regulamentadora NR-5 é particularmente interessante no que se refere à


gestão de saúde e segurança ocupacional, pois, ao instituir a CIPA ( Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes), valoriza a participação dos empregados na organização do ambiente de trabalho,
no sentido de uma atividade que contribui inclusive para fortalecer o programa de prevenção
pela antecipação e reconhecimento de riscos ambientais (PPRA), preconizada pela Norma
Regulamentadora NR-9.

Segundo Ponzetto (2010, pág.13, 14 e 15), uma primeira forma de CIPA organizada no
Brasil surgiu, em 1921, na Light, devido ao grande número de operários acidentados. Esta forma
de organização ganhou corpo nos movimentos sindicais da década de 60, principalmente na
Itália, com o intuito de reunir conhecimentos empíricos e técnicos (médicos, psicólogos, etc)
para eliminar riscos de acidentes e controlar condições de trabalho, a cargo de uma comissão
de operários e empregadores que deviam definir e mapear as áreas de riscos de acidentes nas
oficinas de trabalho, o que, no Brasil, resultou na Norma Regulamentadora NR-9 sobre Riscos
Ambientais.

No Brasil, a CIPA foi regulamentada, em 1992, pela Portaria nº 5 DNSST, baseado na


CLT, atualizada pela Lei nº 6.514 de 1977. Segundo Ponzetto (op. Cit. Pág. 16), a exigência do
Mapa como parte da NR-9 gerou controvérsia porque esta norma (NR-9) previa que era dever
31

do empregador traçar a representação gráfica do Mapa, enquanto que na NR-5 isso seria
atribuição da comissão. Em 1994, ficou decidido, juntamente com a regulamentação da NR-15
(operações insalubres) e NR-16 (operações perigosas), que a confecção do Mapa seria mesmo
da CIPA, sendo que em 1996, a NR-9 foi alterada, dando ao empregador a tarefa pela confecção
do PPRA.

São atribuições da CIPA, conforme Portaria nº 8 de 1999 que instituiu a NR-5, “a


identificação dos riscos do processo de trabalho e a elaboração do mapa de riscos com a
participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do SESMT” (Serviços
Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho, instituídos pela NR-4).

Por se tratar de um modelo participativo, a CIPA é uma primeira medida não paternalista
no plano normativo da segurança do trabalho, porém na opinião do autor (op.Cit, pág. 17), a
participação fica comprometida quando os cursos obrigatórios de prevenção de acidentes para
membros da CIPA não regulamentam o programa de ensino de como confeccionar o Mapa de
Riscos.

Esta regulamentação é importante para a avaliação, in loco, do ambiente de trabalho, que


precisa ser feita com os funcionários em atividade, quando CIPA e profissionais na área de
Segurança do Trabalho (PPRA-NR-9, PCMSO-NR-7) precisam se envolver com instrumentos
científicos de medição dos agentes de risco (iluminação, ruídos, produtos químicos,
temperatura, umidade, ventilação, etc.) e aspectos qualitativos, que dependem, por exemplo, de
conhecimentos empíricos de funcionários mais antigos (op. Cit. Pág. 20 e 21).

Nesta tarefa, segundo Ponzetto (2010, pág. 22), protagonistas (CIPA) e técnicos
necessitam trabalhar juntos para pesquisar e avaliar, com o apoio da literatura pertinente, as
características dos agentes causadores de risco, por exemplo, as substâncias químicas e
corrosivas em produtos de limpeza.

Isto implica o conhecimento dos princípios teóricos que fundamentam, por exemplo, a
Tabela de Tipos De Riscos Baseados Nos Agentes Ambientais Ocupacionais, tarefa
diretamente relacionada com a missão de CIPA (NR-5), que inclui o reconhecimento dos
seguintes riscos ambientais:

 Riscos Químicos – poeira, fumos, vapores, gases, produtos e substâncias químicas,


combustíveis em geral;
 Riscos Físicos – ruído, vibração, umidade, temperaturas, radiação ionizante, altura,
calor, frio;
 Riscos Biológicos – vírus, bactérias, fungos, protozoários, bacilos, parasitas,
picadas, suor, águas residuais;
32

 Riscos Ergonômicos – postura inadequada, trabalho físico pesado, jornada


prolongada e/ou noturna, treinamento inadequado, tensões, monotonia, excesso de
responsabilidade/atividade;
 Riscos de Acidentes – máquinas/instrumentos sem proteção ou defeituosos, perigo
de incêndio, material fora de especificação, armazenamento inadequado, arranjo
físico deficiente, edificações e instalações perigosas (elétricas).

Em geral, esta tabela não serve somente para CIPA, mas para todos os componentes
técnicos e legais que formam a sofisticada rede de serviços especializados no âmbito da
prevenção acidentária, a saber:

Laudos Técnicos das Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT),


Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO-NR-7) e de Controle
dos Riscos Ambientais (PPRA-NR-9), Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP),
Laudo de Adicional por Insalubridade (NR-15), Laudo de Adicional por
Periculosidade (NR-16), Laudo de Aposentadoria Especial.

Nesta perspectiva, é ainda importante saber que o adicional de atividade penosa se


encontra implicitamente contemplado na NR-17, por conta dos fatores de risco de acidentes
ocupacionais que decorrem das condições gerais de trabalho, e que, segundo Barbosa Filho
(2011, pág. 34 a 44), envolvem aspectos ergonômicos do componente humano de trabalho, tais
como:

 Ritmos intensos de trabalho;


 Trabalho monótono / repetitivo;
 Ausência de capacidade / possibilidade de decisão ou controle sobre o trabalho;
 Trabalho por turnos;
 Trabalho suplementar;
 Trabalho com exposição a potenciais ameaças e agressões verbais;
 Trabalho com exposição a potenciais agressões físicas;
 Assédio ou Discriminação;
 Outros fatores psicossociais ou organizacionais.

Nestes termos, o componente humano envolve a relação adaptativa homem-trabalho, no


tocante ao gênero, idade, antiguidade na empresa, aptidão física para a função, experiência
anterior na atividade, qualificação, distância residência-trabalho. Também se refere à
organização do trabalho, à gestão em termos de turnos, autonomia e decisão, integração com a
equipe, ao ritmo de trabalho e às medidas preventivas e de proteção acidentária.

Pode-se, pois, concluir que deve ser do interesse dos protagonistas (CIPA) conhecer as
normas regulamentadoras (NRs) não apenas definir direitos e deveres, mas ainda para
33

compreender a importância de contribuir com a organização do ambiente de trabalho, que em


síntese consiste no seguinte:

 Que toda empresa é obrigada a cumpri-las (NR-1), sob pena de embargo (NR-3) e multa
(NR28);
 Que na instalação de qualquer empresa se considere as normas regulamentadoras de
autorização (NR-2), de edificação adequada (NR-8), de instalação de máquinas e
equipamentos (NR-12), de sinalização (NR-26), de emergência (NR-23);
 Que na organização do ambiente de trabalho sejam consideradas todas as demais
Normas Regulamentadoras, principalmente as que dizem respeito ao PCMSO e PPRA
(que é obrigatório para todas as empresas) e à CIPA (obrigatório apenas para empresas
com um mínimo de 20 funcionários, embora, mesmo nas empresas com poucos
funcionários, a CIPA seja recomendável).

A responsabilidade das empresas, no caso de acidentes e doenças do trabalho, na


verdade não se esgota na prescrição legal, mas depende ainda do empregado (CIPA) em fazer
uso do direito de exigir da empresa não somente a indenização pelos prejuízos, mas a
corresponsabilidade na prevenção e na recuperação da saúde.

No que diz respeito à responsabilidade civil dos empregadores, é importante que


conheçam a legislação para reduzir o risco a fim de esgotar todas as opções de redução e
eliminação do mesmo, embora a própria legislação regulamentar, ainda presa aos preceitos
celetistas de regulação do trabalho formal e industrial, nem sempre dá conta da perspectiva
social das normas constitucionais (CF-1988), do trabalho e da saúde como um direito de todo
cidadão, seja ele trabalhador formal ou informal, industrial ou não.

Por isso, em termos de responsabilidade social, é importante que os protagonistas


conheçam ainda os aspectos técnicos do trabalho desenvolvidos no âmbito da revolução
industrial e da era da automação, tendo em vista as formas de reduzir a chance do risco, de
combatê-lo na fonte, ou de reduzi-lo mediante métodos de trabalho condizentes com a evolução
tecnológica dos modos e meios de produção, sobretudo no plano social em que o risco fica
invisível (oculto ou ocultado).
34

2 EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA GRÁFICA E DE SEGURANÇA DO


TRABALHO

O caminho que a Arte Gráfica percorreu até chegar ao perfil da automação e


digitalização da atividade gráfica atual passou por grandes mudanças e desafios no campo da
inovação tecnológica e das normas de segurança do trabalho em atividades altamente
‘tecnologizadas’, cada vez mais aceleradas e vertiginosas, porém cada vez mais repetitivas e
monótonas, por suposto, sedentárias ou em posições desconfortáveis ou em condições de
confinamento laboral.

A cada avanço tecnológico se impunha a necessidade de atualizar a capacitação dos


operários a fim de que aprendessem a dominar os novos processos de trabalho e se proteger, a
seu modo, dos novos riscos de acidentes ao operar as novas máquinas e instrumentos e ao
manusear os novos produtos (químicos), enfim, para que aprendessem a lidar com os novos
meios e modos de produção.

Esta capacitação, porém, não se fazia na perspectiva da prevenção dos riscos de


acidentes do trabalho, mas na perspectiva da perícia técnica na operação de máquinas e
equipamentos, tal como ocorria na Oficina Gráfica do passado, cujo ambiente laboral ficava
fortemente exposto à insalubridade (químicos menos controlados e mais tóxicos que os atuais)
e à periculosidade (maquinários sem os atuais sensores bloqueadores, porém menos
monótonos).

Neste contexto de uma total ausência do Estado de leis que protegessem o trabalhador,
a mentalidade era de que a vida humana era pouco mais que desprezível, visto que, “até meados
do século 20, as condições de trabalho nunca foram levadas em conta, sendo sim importante a
produtividade, mesmo que tal implicasse riscos de doença ou mesmo a morte dos trabalhadores.
(...). Apenas a partir da década 50/60, surgem as primeiras tentativas sérias de integrar os
35

trabalhadores em atividades devidamente adequadas às suas capacidades” (PME-Portugal –


Internet).

Torna-se, pois, importante e oportuno conhecer, com maior detalhe, a história desses
avanços tecnológicos no processo de produção gráfica e os respectivos avanços na mentalidade
preventiva de segurança do trabalho, desde seus primórdios até os tempos atuais, tendo em vista
os novos desafios quanto aos riscos físicos, biológicos, químicos, ergonômicos e acidentes
outros, neste setor.

2.1 RISCOS OCUPACIONAIS NA GRÁFICA ARTESANAL E INDUSTRIAL


MODERNA

A evolução das máquinas e das técnicas de trabalho nos processos produtivos da


economia moderna tem exigido, desde a revolução industrial, uma atualização constante da mão
de obra qualificada, vítima de uma alta incidência de acidentes de trabalho, inclusive no ramo
da indústria gráfica.

Depois que a humanidade aprendeu a se comunicar por meio de sinais gráficos, saindo
de um longo período sem registro por não conhecer a linguagem escrita, enfrentou uma
realidade antes desconhecida que é a capacidade de lidar com a tecnologia da inscrição gráfica,
desde a mais rudimentar até a mais erudita.

Em sua forma mais primitiva, a inscrição gráfica, de certa forma, surgiu e progrediu
com a intensificação cada vez maior do uso da escrita, em razão da necessidade de transmitir
mensagens à distância e de preservar informações (MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006, pág.
20):

A época mais remota das inscrições feitas pelo ser humano é a Pré-História.
As pinturas rupestres, que representam cenas de batalhas ou descrevem animais,
contêm elementos de escrita, por constituírem expressão visual fixa de fatos e coisas.
A atividade pictográfica do homem, ao escrever usando figuras, estabelecia
uma correspondência entre a imagem e o objeto, e essa forma de escrita podia ser
utilizada para qualquer língua falada.
Na tentativa de criar os registros, vários materiais foram usados para a
transmissão de informações: os egípcios, por exemplo, utilizavam o junco para a
confecção de seus rolos de papiro; os astecas e os maias usavam uma das camadas da
casca de árvore; os romanos, placas de madeira; os sumérios, sinetes cilíndricos e
tabletes de argila; e na Idade Média os escritos passaram a ser grafados em
pergaminhos feitos de pele de animais.
36

No estágio civilizatório das sociedades pré-modernas, a humanidade viveu a experiência


da gráfica artesanal usando instrumentos com os quais a inscrição era produzida em um único
exemplar e com instrumentos rudimentares tocados à base da habilidade manual (gravado à
mão).

A partir desse estágio, a humanidade viveu a experiência da impressão por entalhe, com
modelos reproduzidos manualmente, muitas vezes de forma estafante e insalubre (op. Cit., pág.
20):

As primeiras formas de impressão (tipos móveis) conhecidas ocorreram nas


antigas civilizações do Extremo Oriente, no entanto, a China foi o primeiro país a
utilizar papel e tinta para suas reproduções de textos e imagens, em um processo
chamado xilografia, método que utilizava papel, tinta e blocos de madeira talhados à
mão.
A China começou a imprimir por meio de formas de madeira gravadas e, entre
1041 e 1049, foram criados os caracteres (tipos) móveis de louça (terracota), depois
os tipos móveis de metal, chumbo e cobre.
Para a civilização ocidental, a técnica de imprimir teve início, por volta de 1300
d.C., na Europa, quando os comerciantes começaram a importar mercadorias do
Oriente.
Os blocos entalhados foram usados na Europa, primeiramente, para imprimir
figuras de santos e baralhos de cartas, e os ‘tipos móveis’ começaram a ser utilizados
pouco antes de 1450.
Em matéria de acidentes de trabalho, a xilogravura (artesanal), que é ainda hoje muito
utilizada na literatura de cordel, pode oferecer alguns riscos na arte de gravar letras ao contrário
numa prancha/matriz (de madeira ou de metal), e na etapa de aplicar, com um rolinho de
borracha, tintas (antigamente mais tóxicas) ou ainda na etapa de pressionar o papel sobre a
prancha, manualmente ou com ajuda de algum mecanismo de prensar.

Na época, riscos de acidentes provocados por tecnologias artesanais que ganhavam


alguma importância eram certamente os acidentes brutais, até porque se dava menos
importância para os riscos provocados, por exemplo, por insalubridade (intoxicação, falta de
higiene, etc).

A partir dos avanços das tecnologias menos artesanais de impressão gráfica, os cuidados
com os frequentes acidentes parecem ganhar maior importância, uma vez que o processo se
realizava com a incipiente mediação da tecnologia mecânica de reprodução em série, período
histórico que compreende as seguintes inovações (op. Cit., pág. 21):

Na Alemanha, Johannes Gutenberg, ourives na cidade de Mainz, foi


considerado o criador da imprensa em série, ao confeccionar moldes de metal que
serviam como matrizes para a moldagem dos tipos móveis em liga de chumbo,
antimônio e bismuto, utilizados para a composição dos textos a serem impressos
através do prelo de madeira (a prensa), no qual a folha de papel era apoiada e prensada
manualmente. Este processo foi chamado de impressão tipográfica.
37

Por volta de 1456, Gutenberg produziu uma Bíblia impressa em latim, que foi
a primeira publicação pelo processo tipográfico. Foram confeccionados duzentos
exemplares, em dois volumes, com 642 páginas no total.
A região de Mainz foi perturbada pela guerra dos bispos, que culmina com o
saque da cidade onde Gutenberg vivia, levando muitos operários a se refugiarem em
outras regiões da Europa e a instalarem pequenas tipografias, difundindo para o
mundo as técnicas de impressão.
O clero viu as vantagens do poder da impressão. Indulgências, textos
teológicos e manuais para condução de inquisições passaram a ser impressos e se
tornaram instrumentos comuns para disseminação da influência da Igreja.
De 1456 até 1500, houve grande produção e distribuição de uma variedade de
textos, bem como aumento do número de estabelecimentos impressores.
A invenção da imprensa em série tipográfica (prensa mecânica de madeira ou de metal),
além de transformar os negócios do setor gráfico num meio de poder econômico e político,
escancarou a necessidade de capacitação técnica para lidar com maquinário, a fim de evitar
acidentes de trabalho em vários aspectos: o acidente físico (esmagamentos), o acidente químico
(intoxicação por contato com metais pesados, solventes, tintas), o acidente biológico
(insalubridade). e o acidente ergonômico (posições incômodas, etc.).

Neste contexto, porém foi decisiva a invenção da imprensa por Gutenberg porque
impulsionou os avanços tecnológicos de aperfeiçoamento das máquinas, instrumentos e
matérias-primas e, sobretudo de capacitação técnica da mão de obra, tendo em vista os diversos
avanços da industrialização ocorridos na Europa em fins do século XVIII e início do século
XIX (op. Cit. pág.21).

A Revolução Industrial, em 1760, impulsionou consideravelmente os avanços


tecnológicos nas artes gráficas. As inovações eram tão frequentes que, quando uma
técnica começava a ser aceita e praticada, outra nova surgia. Processos de impressão
foram aperfeiçoados e outros foram criados, como: offset (Alois Senefelder,em 1796),
impressão anilina (John A Kingsley,em 1860), posteriormente chamada de flexografia
(1952), rotogravura (Karl Kleitsche, em 1878) e serigrafia, do qual derivou o estêncil.
As máquinas inventadas no período da revolução industrial, muitas delas podem ser
consideradas protótipos das atuais máquinas de impressão a tinta, na transferência de dados
‘com forma’ (chapas de impressão). É o caso da Offset, da Rotográfica, da Serigráfica, da
Flexográfica, representando um avanço em relação à prensa tipográfica manual e mecânica
tradicional.

No caso específico da máquina flexográfica, atualmente muito usada para impressão de


embalagens, seu funcionamento era originalmente com anilina, à base de solventes e tintas
tóxicas, causando muitos problemas nos alimentos assim empacotados (WIKIPÉDIA, 2012).
Mais tarde este produto tóxico foi substituído por tintas à base de água (não tóxicas).
38

No que se refere à máquina Offset, seu sistema de impressão pode ser considerado um
aperfeiçoamento da litografia mecânica – tecnologia muito empregada, por exemplo, no meio
artístico cultural na década de 60 em São João del-Rei, quando se buscava uma maior fidelidade
ao desenho original sem perda da capacidade de reprodução em série.

Os riscos de acidentes na litografia primitiva decorrem do manuseio de produtos tóxicos


(tintas, óleos, querosene) de ferramentas cortantes (esmerilhar, gravar a pedra), de
esmagamentos (prensa manual a manivela) e de ambiente insalubre, num processo de impressão
que dependia do contra-grafismo, em que água e gordura na pedra porosa grifada formam o
fundo/forma das letras e imagens (a água, ao ocupar áreas sem grifo, formando o fundo sem
tinta – e o óleo, ao marcar áreas com grifo, formando a impressão de forma gráfica).

Na atual máquina Offset, a função do contra-grafismo é feita pela interposição de um


cilindro (cauchu/blanqueta), posto entre o cilindro da chapa e o cilindro impressor,
representando uma inovação tecnológica que trouxe uma modalidade nova de risco de acidentes
de trabalho para os operadores dessas máquinas impressoras rotativas (ritmo vertiginoso).

Sem o cilindro de intermediação, a atual impressora de Rotogravura representou um


avanço na arte de ilustração com fotografias, técnica e artisticamente muito superior aos
métodos tradicionais da arte tipográfica.

A Rotogravura evoluiu da arte renascentista do ‘Intaglio’ ou do entalhe em sulcos, feito


à mão sobre placas de cobre (mole), diferente da arte de impressão tipográfica de Gutenberg
feita em alto relevo. A reprodução de imagens fotográficas só veio com a invenção do chamado
‘meio-tom’ por Talbot, em 1860, e mais ainda com Karl Klic, em 1879, ao dar maior contraste
na gravação (fundo/forma), levando-o a encontrar também uma forma de transferir o negativo
da foto para a chapa de cobre, através de um papel recoberto com gelatina pigmentada
(Wikipédia, 2012)

Por ser inicialmente menos competitiva, a Rotogravura foi aperfeiçoada pelo próprio
Karl Klic que projetou um equipamento rotativo para aumentar a velocidade de impressão. Já
o sistema de tintagem da primitiva Rotogravura do “Intagilo” somente foi aperfeiçoado, em
1983, com a invenção da gravação eletromecânica, em que a aplicação de tintas ao impresso
(tonalidade da imagem) se faz pela gravação de células em um cilindro revestido com cobre e
cromo, sem os controles digitais de nossos dias.

Foi neste contexto tecnológico, com todos os seus novos desafios em matéria de
segurança do trabalho, que se fez, no Brasil, a transição das Artes Gráficas para a Indústria
39

Gráfica (do poluente linotipo à base de chumbo líquido), em plenos ‘anos de chumbo’, nas
décadas de 70 e 80, quando o Brasil detinha o título de campeão mundial de acidentes do
trabalho.

2.2 RISCOS OCUPACIONAIS NA HISTÓRIA DAS ARTES GRÁFICAS NO BRASIL

No contexto da história brasileira, a evolução da indústria gráfica assume


particularidades típicas de um país dependente, importador de tecnologia, e que sofre com o
crônico problema da falta de mão de obra especializada, sem contar que o número de acidentes
de trabalho na indústria em geral sempre foi um dos mais altos (MANUAL-
SST/Ind.Gráfica/SP, 2006, pág. 21).

No Brasil, devido às rígidas proibições e censuras da Coroa Portuguesa, a


primeira oficina tipográfica oficialmente instalada aconteceu em 1808, a “Imprensa
Régia”, por iniciativa de D. João VI, no Rio de Janeiro, onde foi mantido o monopólio
da impressão até 1822, quando o Brasil se tornou independente.
Em 1815, chegou a Pernambuco uma impressora adquirida na Europa, a qual
entretanto, por falta de mão-de-obra especializada, ficou inoperante até 1817, quando
em mãos de revoltosos foi impresso um manifesto.
Em 1875, havia catorze oficinas tipográficas e quatro oficinas litográficas
operando na cidade do Recife.
O declínio da importância política do estado de Pernambuco, no final do século
XIX, levou à estagnação econômica, refletindo diretamente na redução do setor
gráfico na região. No século XX, sobretudo após os anos 20, ocorreu a expansão da
industrialização no eixo Rio–São Paulo, acentuando a estagnação pernambucana.
A expansão das gráficas, nos ramos comercial e editorial, ocorreu
principalmente no Estado de São Paulo. Esta expansão não foi acompanhada por um
programa de formação e aprimoramento profissional. A escassez de mão-de-obra
especializada tornou-se um problema.
Em 1945, no final da segunda guerra mundial e do Estado Novo (governo Vargas),
criou-se em São Paulo a Escola SENAI do Belém, período em que as lutas do operariado no
contraponto das dificuldades do sistema de trabalho empresarial resultam, como já foi visto no
capítulo anterior, na criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Uma pesquisa de João de Barros Barreto e Octávio G. de Oliveira sobre a Gráfica


Nacional (Imprensa Nacional, RJ, 1947) do Rio de Janeiro aponta que no período de 1942-45,
os acidentes atingiam 20% dos operários e que os acidentes mais comuns ocorriam com os
operadores das máquinas de rotogravura, estereotipia e impressão, chegando a média de um
acidente a cada 10 horas, entre mil operários (op. Cit, 1947).
40

Na época, chegava-se a culpar a máquina por 30% dos acidentes de trabalho, devido à
inadequada manutenção e conservação, sendo os demais por causa de instrumentos e objetos
traumatizantes, das quedas, choques, esmagamentos, bem como das queimaduras e dos
acidentes causados, inclusive, por falta de iluminação adequada (op. Cit, 1947).

Outro fator citado pelos autores como causa geral dos acidentes de trabalho era a fadiga
devido às longas jornadas de trabalho, elevadas temperaturas, muitas horas extras e poucas
pausas, e sempre com muitos ruídos, exigindo muita concentração e atenção, posição fixa e
movimentos repetitivos, monotonia, esforço físico (op. Cit, 1947).

Nesta pesquisa também são apontados como causa de acidentes fatores externos ao
trabalho como a alimentação deficiente, a habitação distante, as viagens longas, a atitude mental
(resistência ao uso de protetores, aventais, luvas, óculos), além da falta de formação (sem
perícia) ou de higiene e condições sanitárias (falta de limpeza) tanto em casa como no próprio
local de trabalho (op. Cit, 1947).

Os autores apontam como principal causa de acidentes no setor gráfico da época, o


trabalho nas máquinas de linotipo e monotipo (caixa de composição de tipos) e o processo
envolvendo o preparo da matriz para a impressão, feita de tipos (letras) fundidos a chumbo,
causando intoxicação com produtos químicos a base de chumbo, antimônio e estanho, o que
ocorria também durante a limpeza das caldeiras para retirar resíduos de chumbo e para coletar
aparas de metal a serem devolvidas à fundição, com o agravante da periculosidade por
queimadura, incêndios (op. Cit., 1947).

Esta era uma realidade que se estendeu até os anos 70, no auge dos governos militares,
com a produção da arte gráfica brasileira se organizando principalmente sob a proteção das
associações de classe (patronais e de ordem técnica) a promover uma capacitação profissional
e alguns avanços no processo de produção gráfica, sem todavia alcançar status de ‘indústria’.
(Sesi, 2006, pág. 21).

A Associação Brasileira de Técnicos Gráficos, hoje, chamada de Associação


Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG), foi fundada em 1959 e direcionada para a
formação e a informação técnica do meio gráfico.
Em 1965, reunidos num congresso na cidade paulista de Águas de Lindóia, os
empresários do setor gráfico criaram a Associação Brasileira da Indústria Gráfica
(ABIGRAF), encontrando uma nova maneira de atuação coletiva, já que os seus
sindicatos estavam sob intervenção em decorrência da Revolução de 1964.
O Colégio Industrial de Artes Gráficas, atual Escola SENAI Theobaldo De
Nigris, foi fundado em 1971, no bairro da Moóca na cidade de São Paulo, SP, e
oferecia o Curso Técnico em Artes Gráficas, preenchendo a lacuna para uma formação
mais especializada deixada pela Escola SENAI de Artes Gráficas Felício Lanzara, que
41

até então ministrava ensinamentos sobre tipografia, clicheria e offset dirigidos à


formação de aprendizes. Essas duas Escolas foram unificadas em 1978.
Na década de 1970, o Brasil se lançou na moderna industrialização gráfica
graças à velocidade da produção de novos equipamentos e a produção de impressos,
atingindo o status de “indústria”, em oposição ao de “arte”. (...)
Na passagem da produção artesanal (“de arte”) para a industrial, a técnica de impressão
gráfica, tanto no Brasil como no mundo inteiro, ocorreu na forma da impressão gráfica
analógica (não-digital), com processos que eram “baseados em reprodução fotográfica, retoque
manual (com pincéis, tintas e produtos químicos). As combinações de fotos, textos e outros
elementos (...) eram feitas por meio de montagem manual, o que significava recortar imagens,
fixá-las com fitas adesivas, fazer múltiplas exposições sobre uma mesma película fotográfica”
(OLIVEIRA, ABGT,2011).

Os fatos que contribuíram para superar esta fase e impulsionar a indústria gráfica, no
Brasil, foram certamente os enormes investimentos no sistema produtivo automatizado e as
enormes alterações que este sistema sofreu com a introdução da informática, segundo o diretor
de tecnologia da ABTG (op. Cit., 2011).

Isso teve início na década de 80. Computadores de grande porte, caríssimos,


eram usados para tratamento de imagens e montagem eletrônica. Os scanners que
digitalizavam as imagens a serem processadas também eram muito caros. Nessa fase,
os sistemas eletrônicos de processamento de imagens eram proprietários, ou seja, cada
fabricante tinha seus próprios formatos de arquivo e seus próprios softwares. O fluxo
não era completamente digital, em algum momento os arquivos precisavam ser
transformados em fotolitos, dos quais se faziam provas e chapas de impressão.
O ciclo da era digital se completou efetivamente no processo gráfico da pré-impressão,
na arte produzida em computador e depois enviada diretamente para a impressora, dispensando
a montagem manual. Este ciclo se consolida com o advento das câmaras fotográficas digitais
de qualidade profissional, bem como dos equipamentos ‘computer-to-plate’ (que gravam, a
laser, as chapas de impressão) e das impressoras para prova digital (op. Cit, 2011).

Atualmente, com um ambiente laboral significativamente modificado, inclusive em


termos de riscos de acidentes, o setor gráfico brasileiro tem feito investimentos comparáveis às
melhores do mundo. Nos últimos quinze anos o setor investiu perto de US$ 6 bilhões em
máquinas, equipamentos e novas tecnologias (ABIGRAF, 2006), tendo gerado uma economia
que representa cerca de 1,0% do PIB nacional e 3,3% do PIB industrial.

No mesmo ano de 2006, a indústria gráfica proporcionou mais de duzentos mil postos
de trabalho diretos, ou seja, cerca de 2,4% do total de nº 8.242.750 trabalhadores da indústria
brasileira (Dados do TEM/RAIS, 2006).
42

No entanto, o uso das tecnologias de ponta ocorreu não sem os desequilíbrios marcantes,
como ocorre em todos os aspectos da nossa sociedade. Os dados indicam que aproximadamente
90% das empresas gráficas empregam menos de vinte pessoas, e que, geograficamente, a
Indústria Gráfica brasileira está concentrada principalmente nas regiões sudeste (56%) e sul
(22%) do país (MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006, pág. 23).

No que se refere ao trabalho de prevenção de acidentes, o segmento gráfico, no Brasil,


ostenta uma incidência próxima da indústria pesada, sendo fácil constatar que a carente cultura
de prevenção da saúde e da segurança do trabalho - de primazia dos meios de produção sobre a
saúde humana, em qualquer parte do mundo, depõe contra a imagem de qualquer empresa.
(Oliveira, ABTG, 2011).

2.3 RISCOS AMBIENTAIS DO TRABALHO NO ÂMBITO DA INDÚSTRIA GRÁFICA


ATUAL

O avanço tecnológico tem gerado, no mundo atual, um processo produtivo cada vez
mais acelerado e, no caso da indústria gráfica, uma polivalência que exige da mão de obra muita
versatilidade e constante aperfeiçoamento dos processos produtivos, mudando frequentenente
de lugar o tipo e a natureza dos riscos à saúde ocupacional e à segurança do trabalho.

Com a impressão digital não é necessário se produzir uma chapa de impressão, processo
que dispensa o trabalho com fotolitos, um dos grandes responsáveis por intoxicação química
(MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006).

A impressora rotativa (offset), por ser alimentada com os dados de impressão


diretamente do computador, reduz o fluxo de trabalho desde a criação até a impressão, e o acerto
da máquina é insignificante enquanto seu ritmo vertiginoso de produção pode reduzir custos,
desde que seu uso seja o da competitividade estressante. A tiragem pode definir se o processo
offset (com insumos mais baratos) é mais viável financeiramente que o processo de impressão
digital (op. Cit., 2006).

O ambiente laboral acelerado e diversificado, que ocorre igualmente com a impressão


analógica (não-digital) implica o manejo de equipamentos altamente automatizados,
demandando em geral equipamentos de proteção mais sofisticados para o trabalhador. O acerto
de uma impressora offset rotativa, embora ainda seja uma operação complexa, é feita com muito
43

mais rapidez e precisão. E isso muda significativamente o perfil dos riscos de acidentes (op.
Cit., 2006).

Neste sentido, observa-se que os problemas relacionados com a saúde (doenças do


trabalho) modificam-se a partir da evolução e da potencialização dos meios de produção, desde
as deploráveis condições de trabalho e de vida durante a Revolução Industrial até a era digital,
quando ainda se torna quase impossível conciliar economia e saúde no trabalho.

Segundo o Prof. René Mendes (2011 – volume 13 CPS), o maquinário e os instrumentos,


muitas vezes ainda obsoletos e inseguros, são responsáveis por cerca de 25% dos acidentes de
trabalho graves e incapacitantes registrados no país. Entre essas máquinas, destacam-se as
seguintes:

a) Máquinas nas quais o material (placa ou chapa) é trabalhado sob operações de


conformação (prensas), responsáveis por 31,8% de todos os acidentes graves. Em
geral, são máquinas utilizadas na Metalurgia básica, sendo a maioria destes acidentes
(42%) por esmagamento de dedos ou mão;
b) Máquinas de corte (serras, circulares) utilizada na construção com madeiras,
responsáveis por 15% dos acidentes graves do trabalho, sendo que 16% dos casos de
amputação de dedos;
c) Máquinas de trabalhar madeiras (tupias, desempenadeiras), responsáveis por 15% dos
acidentes graves, sendo as desempenadeiras como as mais “perigosas”;
d) Máquinas de fabricação de produtos de plástico, sendo que a maioria dos acidentes
(39%) na indústria plástica ocorrem com as máquinas injetoras;
e) Máquinas Guilhotinas, sendo responsáveis por 2,6% de todos os acidentes causados
por máquinas. Utilizadas principalmente na Metalurgia básica, muitos destes
acidentes resultam na amputação de dedos (em 4,5% dos casos);
f) Calandras e cilindros utilizados em padarias, sendo responsáveis por 3,4% de todos
os acidentes com máquinas, e 6,6% de todos os acidentes graves causados por
máquinas, resultando em esmagamento de dedos (16,1%);
g) Outras máquinas, como motosserras, máquinas de sisal, etc.

Segundo dados do Ministério da Previdência Social o quadro de acidentes de trabalho


no Brasil, teve um aumento anual de 13,4%, entre 2007 e 2008, chegando a 747,7 mil acidentes
de trabalho. Já o segmento gráfico, segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social,
registrou, no ano de 2004, mais de 2.327 acidentes de trabalho, 1.663 acidentes típicos e 206
doenças do trabalho. Estes elevados índices tiveram pequena variação nos anos anteriores (entre
2002 e 2004), sendo que as principais causas desses acidentes na indústria gráfica referem-se
a:

 Alimentação manual em máquinas semi-automáticas;


 Falta de proteção nas partes móveis de máquinas e equipamentos;
 Falhas de instalações e aterramento, causando choque elétrico;
 Armazenamento e manuseio inadequado de materiais inflamáveis;
 Falta de orientação e treinamento para utilização de máquinas, ferramentas manuais e
equipamentos de proteção coletivas ou individuais;
44

 Falta de sinalização, com obstrução da saída de emergência, escadas e rotas de fugas,


de alarmes e extintores de incêndios;
 Iluminação inadequada nos postos de trabalho.

Os riscos da área industrial gráfica, porém, variam também de acordo com os diferentes
setores ou condições e processos de trabalho, compreendendo a etapa da Pré-Impressão, da
Impressão e da Pós-Impressão.

Os agentes causadores de riscos à saúde na etapa da Pré-Impressão se referem à fase de


editoração (eletrônica), sua programação, e fase de manejo dos elementos de pré-impressão
(captura de imagens digitais, originais, arquivos, resolução, lineatura, processo de retícula,
seleção de cores, impressão em policromia, fotolito, ‘computer to film – to plate’, provas de
conteúdo e de cores, controle de qualidade das cores). Os principais agentes de risco à saúde
nesta etapa podem ocorrer com mais frequência (MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006), por
exemplo:

 No setor de preparação, pela radiação não-ionizante na forma ultravioleta, utilizada


no processo de sensibilização de filmes, telas e chapas, na cura;
 Em atividades relacionadas com a preparação do fotolito em que o profissional fica
exposto a agentes químicos como reveladores, fixadores e corretores, que podem
causar irritação nas vias respiratórias, náuseas, ressecamento de pele, dermatites;
 Em ambientes onde há agentes biológicos provenientes do ar condicionado (ácaros,
bactérias e fungos) que podem causar alergias, infecções e problemas respiratórios.
 Em posto de trabalho, onde agentes ergonômicos podem causar riscos quanto à
postura inadequada em bancadas de trabalho, no levantamento e transporte manual de
carga, no trabalho em pé por períodos prolongados e repetitividade, provocando dores
musculares, problemas de coluna, varizes;
 No trabalho em contato com materiais quentes e devido ao arranjo físico inadequado,
quando há o risco de queimaduras e quedas;
 Outras atividades, como a de composição ou de digitação, que podem envolver o risco
de forçar os olhos, podendo causar cansaço visual.

Na etapa da Impressão, os agentes de risco se referem ao trabalho com impressoras, que


pode incluir a litografia, a xilogravura, a tipográfica, a serigrafia, a tampografia, a flexografia,
a rotogravura, o sistema Cameron, a offset plana ou rotativa, a impressão digital, os impressos
de segurança, sendo que a impressão pode ser monocromática, de policromia, de cores especiais
e impressões especiais (Premium black – HI FI). Nesta etapa, que inclui também montagem de
cadernos, imposição de páginas, além do controle de qualidade, podem ocorrer os seguintes
riscos de acidentes (op. Cit., 2006):

 No trabalho com impressoras em geral, o ruído é o agente de risco dominante,


ocasionando alterações auditivas, além dos agentes nocivos em termos de vibrações,
temperatura, umidade, radiações ionizantes e não ionizantes;
45

 No trabalho com rotativas ainda ocorre exposição a vapores orgânicos provenientes


de tintas e solventes de limpeza, ocasionando irritação nas vias respiratórias, dor de
cabeça, ressecamento de pele, danos pulmonares, cardiovasculares, e no sistema
nervoso;
 No posto de trabalho, onde agentes ergonômicos podem gerar desconforto, por
exemplo, na fase da secagem de papéis (postura inadequada, transporte de carga,
trabalho em pé);
 Na operação de equipamentos sem proteção ou iluminação inadequada (riscos para os
olhos, etc.);
 Na alimentação manual de máquinas semiautomáticas, onde pode ocorrer o risco de
esmagamentos, contusões, etc;
 Em ambientes com arranjo físico pouco funcional, ocasionando queda de materiais,
lesões, dores de coluna, cortes, fadiga.
 Neste ambiente laboral, ocorrem ainda riscos biológicos por contato com tintas que
funcionam como nutrientes para microorganismos, podendo, além disso, ocasionar
inclusive incêndios e intoxicações.

Na etapa da Pós-Impressão, os agentes de risco implicam o processo de acabamento


editorial que pode incluir corte, vinco, dobra, alceamento, costura, prensagem, colagem,
encadernação, grampo, brochura costurada, enfim, plastificação, laminação, acabamento
cartotécnico (envelopes), embalagens (caixas), refile, blocagem, espiral, picote, serrilha, etc.
Os agentes de risco, nesta etapa podem ocorrer em situações, como por exemplo (op. Cit.,
2006):

 Na fase do acabamento, além dos agentes de risco que incluem o ruído afetando a
audição, há os fatores ergonômicos de movimentos repetitivos que podem provocar
dores musculares;
 Em espaços reduzidos, acidentes podem ocorrer devido ao arranjo físico inadequado,
provocando, além de quedas, incêndios;
 No uso da guilhotina, pode ainda ocorrer o risco de acidente causado por prensamento,
corte nas mãos e dedos, ou fraturas;
 No depósito de resíduos, além dos riscos com agentes químicos, pode ainda ocorrer
os riscos com agentes biológicos devido ao armazenamento e tratamento inadequados,
ocasionando alergias, infecções;
 Na etapa da expedição, os fatores de risco se referem a agentes ergonômicos e
acidentes outros que podem provocar dores e problemas de coluna, varizes, contusões,
devido ao trabalho em pé por períodos prolongados ou devido à locomoção em de
espaços inadequados.
 No setor de pós-impressão é ainda frequente o agente nocivo ergonômico na utilização
de dobradeiras.

Nos ambientes de apoio em espaços contíguos á atividade produtiva, os principais


fatores de risco à saúde podem ocorrer com mais frequência, por exemplo, (op. Cit., 2006):

 No setor de manutenção devido aos produtos químicos (óleo e graxas), provocando


alergias ou ainda problemas com transporte manual de cargas, quedas de materiais,
fiação exposta, soldagem elétrica, ocasionando choques, queimaduras, lesões nos
olhos, na pele, etc
 Na reforma de edificações, na instalação de máquinas, no arranjo físico de estoques,
ocasionando excesso de esforço com cargas, riscos com contusões, quedas,
intoxicação, etc;
46

 No almoxarifado, além dos agentes químicos, biológicos e ergonômicos, onde há


ainda o risco de incêndios;
 Na portaria, onde podem ocorrer problemas devido aos prolongados períodos de
trabalho em pé;
 Na recepção, podem ocorrer problemas relacionados com postura inadequada, além
do risco dos agentes biológicos, que ocorrem devido à não limpeza do ar
condicionado;
 No setor de produtos químicos, onde poeiras, fumos, gases, vapores, neblinas
provocados pela manipulação de fixadores, reveladores, reparadores, tintas e
solventes orgânicos (diluentes de tintas e limpeza de equipamentos), podem causar
cefaleia, tontura, irritação ocular, problemas de pele pelo contato, episódios
depressivos e relacionados ao sistema nervoso, com maiores ou menores
consequências, dependendo do grau de concentração no ambiente e de tempo de
exposição;
 Agentes que se relacionam ao piso e às vias de circulação irregulares, ambientes
confinados, com pouca ventilação e iluminação inadequada, além de fatores como
temperatura, poeira, etc;
 Em áreas reservadas para refeitório, cozinha, vestiários e banheiros, onde em geral
predominam os fatores de risco relacionados com os agentes biológicos (infecções
intestinais, alergias), além de acidentes outros devido a arranjos físicos inadequados,
podendo provocar quedas, queimaduras, cortes, etc.

Em termos gerais, devido à falta de planejamento preventivo, os agentes de risco


prosperam pela ineficiência dos setores técnicos e administrativos no que se refere ao projeto
gráfico em geral, que inclui a consciência pela preservação da saúde ambiental, o cálculo de
consumo e, por exemplo, o aproveitamento do papel, a escolha do tipo de tintas, especificação,
enfim o cuidado que se exige com todo o material utilizado na produção gráfica, tendo em vista
a preocupação com o uso consciente e a sustentabilidade (papel reciclado, retalhos, resíduos
industriais, etc). Em linhas gerais, a falta de cuidados implica (op. Cit., 2006):

 Os ambientes em geral, onde atuam agentes como vírus, bactérias, fungos,


protozoários e parasitas presentes no ar condicionado, nas divisórias de madeira, nos
equipamentos e plantas que podem conter poeira, fungos e ácaros, provocando
alergias e problemas respiratórios, ou agentes trazidos por roedores e insetos;
 Nos postos de trabalho, nas inadequadas adaptações psicofisiológicas às condições
de trabalho, à organização, ao ritmo, aos processos e turnos de trabalho. Agentes
surgidos pela ausência de pausas e a realização de horas extras;
 Nas relações de trabalho, tendo em vista aspectos pessoais (idade, sexo, estado civil,
escolaridade, atividade física, tabagismo e antropometria), fatores psicossociais
(percepções de sobrecarga, trabalhos monótonos, controle limitado das funções e
pouco apoio social no trabalho) e indicadores biomecânicos (postura inadequada, uso
de força excessiva e repetição de movimentos), causando tensão psicológica,
ansiedade e depressão, fadiga visual, lesão ocular, lacrimejamento, dores de cabeça,
fadiga, dor muscular e distúrbios osteomusculares;
 Nos ambientes estressantes, que nas empresas de pequeno porte referem-se
especialmente ao transporte manual de cargas e trabalho contínuo em pé, e nas
empresas de maior porte, ao ritmo de trabalho intenso e com expedientes noturnos;
 Na falta de planejamento quanto aos agentes de risco em pontos móveis de máquinas
e equipamentos; nas falhas de instalações e aterramento, causando choque elétrico; no
armazenamento e manuseio inadequado de materiais inflamáveis; na falta de
orientação e treinamento para utilização de máquinas, ferramentas manuais e
equipamentos de proteção coletivas ou individuais;
47

 Em setores onde falta sinalização, com obstrução da saída de emergência, escadas e


rotas de fugas, de alarmes e extintores de incêndios; na iluminação inadequada nos
postos de trabalho.

Com base neste extenso rol de riscos na área da indústria gráfica, é possível observar
que o avanço da tecnologia modificou as necessidades referentes à mão de obra e à matéria-
prima, inclusive a logística geográfica e as necessidades de capacitação gerencial o que,
segundo os autores do Manual da Indústria Gráfica (MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006, pág.
22-24), implica nos seguintes desafios:

Essas tecnologias trouxeram benefícios na prevenção de acidentes de trabalho,


uma vez que as máquinas passaram a ter sistemas de proteção mais sofisticados,
tornando mais difícil seu desligamento pelos operadores e diminuindo também a
exposição a alguns produtos químicos, devido à automatização dos sistemas de
gravação de matrizes e outros.
(Em contrapartida) outros fatores, como a rapidez da transmissão de
informações associada à falta de planejamento, podem acarretar ritmos de trabalho
mais intensos, diminuindo a atenção do trabalhador e possibilitando um aumento dos
acidentes de trabalho ou danos à saúde.
Neste sentido, observa-se que a evolução da indústria gráfica e dos avanços técnicos do
trabalho (máquinas, instrumentos, produtos) expõe o viés da cultura capitalista, em que os
problemas relacionados com a saúde (doenças do trabalho), na verdade, não se reduzem, mas
se modificam.

A modificação ocorre de acordo com o processo evolutivo na potencialização dos meios


de produção, desde as deploráveis condições de trabalho e de vida ao longo da Revolução
Industrial até a era da automação digital, em que, diante da dificuldade de conciliar economia
e saúde no trabalho, quase sempre se deixa para o estado ou para a sociedade o ‘agravo’ pelos
acidentes ocorridos’.

Num contexto de trabalho assim ‘tecnologizado’ – de primazia dos meios de produção


(‘tecnicamente correto’) sobre a saúde humana – torna-se, pois, ainda mais importante deslocar
a atenção dos efeitos para as fontes ou as causa sociais dos riscos à saúde ocupacional.

Na prática, isso implica uma reavaliação da metodologia de investigação para definir,


classificar e avaliar a extensão do risco e, consequentemente, para controlar e prevenir o risco
e suas fontes ou causas ambientais e sociais dentro das condições conjunturais do ambiente de
trabalho, tendo em vista a promoção da segurança e da saúde do trabalhador.
48

3 ANÁLISE DA METODOLOGIA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA NA ATIVIDADE


INDUSTRIAL GRÁFICA

Para compreender a problemática da baixa eficácia dos programas de controle do risco


ambiental do trabalho, torna-se importante analisar as bases metodológicas que fundamentam
a recorrente prevenção acidentária, principalmente aquela que se aplica regularmente na área
industrial gráfica.

Numa primeira etapa, a análise consiste no processo consensual e multidisciplinar que


embasa os métodos de investigação e identificação prática e teórica dos agentes de risco de
trabalho geralmente atribuídos aos agentes naturais no plano das máquinas, dos produtos ou das
falhas humanas no ambiente laboral da indústria gráfica.

Numa segunda etapa, a análise consiste na forma como o projeto ‘prevencionista’


determina a magnitude do risco, isto é, o grau de tolerância humana à sua exposição, depois de
ficar constatada a probabilidade de o risco ser antevisto e reconhecido, ou ainda depois de
verificada a impossibilidade de eliminá-lo na fonte.

Numa terceira etapa, a análise da metodologia ‘prevencionista’ consiste na observação


das estratégias de promover ações planejadas para controlar e reduzir, a níveis aceitáveis, os
riscos ou danos à saúde dos trabalhadores que os agentes nocivos podem provocar, ou para
simplesmente eliminá-los na fonte quando isso é possível.

E por fim, a análise se volta para o conceito de gestão quanto ao seu papel de planejar e
desenvolver o plano de ação preventiva, ou de efetivar o sistema de saúde e de segurança do
trabalho, no caso deste estudo, em empresa na área da atividade gráfica.
49

3.1 METODOLOGIA CONSENSUAL E MULTIDISCIPLINAR DE INVESTIGAÇÃO


DO RISCO AMBIENTAL NA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA

A linha metodológica de investigação dos riscos ambientais, adotada no projeto


prevencionista, tal como se apresenta, por exemplo, no Manual da Indústria Gráfica (Sesi, SP,
2006), sugere como ponto de partida a consensual e multidisciplinar ação investigativa de
revisitar questões relativas à segurança do trabalho, tendo em vista os conceitos de acidente e
de ato inseguro:

 O acidente - como um evento indesejável e inesperado que causa danos pessoais,


materiais (danos ao patrimônio), danos financeiros e que ocorre de modo não
intencional, e que podem decorrer de uma variedade de causas (a identificar);
 Ato inseguro - como procedimento contrário às normas de prevenção de acidentes,
em condições inseguras e circunstâncias que independem das pessoas, mas estão
incompatíveis com a segurança.
Considera-se, assim, que o ‘acidente’ é reconhecido ‘a posteriori’, sendo que a avaliação
das causas do dano à saúde ocupacional provocado pelo acidente implica variáveis que ainda
precisam ser investigadas e controladas no âmbito do conhecimento especializado da segurança
do trabalho.

Já com relação ao ‘ato inseguro’ – risco que se corre por prevenção inadequada ou
subestimada – embora independa de quem o sofra, implica uma avaliação dos atos do
trabalhador que ainda não é capaz de controlar o risco por não oferecer, por exemplo,
treinamento sobre como seguir e respeitar, de forma crítica e efetiva, as normas técnicas de
segurança do trabalho.

Diante disso, estudos sobre avaliação de riscos ambientais de trabalho recomendam que,
antes de fechar questão sobre normas ou fórmulas pré-concebidas de risco laboral, é importante
proceder a uma investigação prospectiva no sentido de verificar aquelas fontes e fases em que
o risco aumenta significativamente, ou a uma investigação dedutiva, quando a natureza dos
riscos de acidentes é apenas diagnosticável após sua ocorrência (Castro, Peixoto, & Pires do
Rio, 2005).

O processo investigativo é semelhante ao universalmente conhecido processo que


resultou de um movimento operário da Itália, na década de 60, quando o sindicado dos
trabalhadores da indústria metalmecânica, inconformados com o grande número de mortes por
50

acidente de trabalho, resolveu aliar sua cultura empírica (opiniões subjetivas validadas por
consenso) aos conhecimentos de profissionais especializados (multidisciplinares), criando um
modelo próprio de investigação e de controle das condições de trabalho digno e seguro
(PONZETTO, 2010, P. 13).

A aplicação deste modelo de prevenção, que ficava a cargo de uma comissão interna de
trabalhadores, consistia em levar ao conhecimento do operário os focos de risco potencial que
seu posto ou ambiente de trabalho oferecia, prevenindo-o inclusive quanto à classe e ao grau
do risco a que estaria exposto. Para isso foi criado, segundo Ponzetto (2010, pág.14), o mapa
de riscos – uma representação gráfica ou um catálogo da variedade de riscos possivelmente
existente no ambiente laboral da empresa, incluindo ‘recomendações’ de como agir para reduzir
ou eliminar as fontes ou causas dos riscos ali representados.

Este modelo de prevenção chegou ao Brasil na década de 80, quando o ‘mapa de riscos’
passou a ser objeto de oficialização legal com a Norma Regulamentadora NR-5, que instituiu a
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), com a função de desenhar o ‘mapa de
riscos’ dentro da realidade da empresa, assim como prescreve a Portaria de 1999, que atualiza
com nova redação a NR-5, dizendo o seguinte:

A CIPA terá por atribuição, identificar os riscos do processo de trabalho, e


elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores, com
assessoria do SESMT, onde houver (op. Cit. 2010, pág. 17).
O ‘mapa de riscos’, assim instituído, constitui uma medida democrática que a CIPA usa
para alertar o trabalhador sobre a eminência do risco mediante indicações que funcionam como
um manual de sinais de trânsito, no caso, do trânsito do ambiente laboral, promovendo
coletivamente a missão de antever o risco, ou de antever a probabilidade de ocorrência do dano
(acidente), caso não forem tomados os cuidados necessários e as recomendações feitas pela
própria comissão.

A função deste modelo (CIPA) implica, pois, o desafio de reduzir e eliminar as


prováveis causas de risco, cuja responsabilidade, porém, segundo a Norma Regulamentadora
NR-9, é do empregador, que tem a obrigação de contratar especialistas para elaborar o Programa
de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), e segundo a Norma Regulamentadora NR-7, para
desenvolver o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

Na perspectiva dessa metodologia (participativa e multidisciplinar), trabalhadores


(CIPA), empregadores e especialistas (PPRA, PCMSO) representam, no âmbito da empresa
(indústria gráfica) os diferentes pontos de vista que permitem adequar, por exemplo, o ‘mapa
51

de riscos’ (universal e atualmente já teórico), à realidade do risco a que o trabalhador está


exposto na empresa, embasado na premissa de que “quando não se sabe com certeza o que vai
acontecer, mas se conhece a probabilidade, isso é risco. Quando nem sequer se conhece a
probabilidade isso é incerteza” (CASTRO, Peixoto, & Pires do Rio, 2005).

O risco, assim qualificado e reconhecido por todos, além de, desde sempre representar
uma deterioração do ambiente de trabalho, constitui na verdade uma questão de probabilidade
(se pode haver dano, existe o risco), cuja gravidade necessita de uma avaliação fundamentada
e baseada, como já foi dito, em adequada metodologia que, segundo Germano (– Internet - Univ
Porto), compreende resumidamente os seguintes processos:

a) Identificação e reconhecimento dos fatores de risco, que estejam causando efeitos


adversos para a saúde do trabalhador;
b) Avaliação do nível de risco à saúde (não tolerável, tolerável, aceitável), que depende
dos fatores de ‘exposição ao risco’ (intensidade, duração, frequência), determinando
a necessidade ou não de controle;
c) Controle, que consiste na estratégia para eliminar ou reduzir os riscos, ou seja, de
reduzir a probabilidade de ocorrência dos efeitos adversos, a ‘níveis aceitáveis’.

Este processo possibilita o reconhecimento e a ponderação do grau de exposição


humana ao risco e implica naturalmente o controle, que consiste em pesquisar e estabelecer a
relação (teórica multicisciplinar) entre esta exposição ao risco e os efeitos adversos que o
determinam, de modo que se torne possível conhecer a forma de eliminá-lo, de reduzi-lo na
fonte ou de conviver com ele por meio de procedimentos de prevenção ou de proteção.

Em outras palavras, para Barbosa Filho (2011, pág. 104), uma vez diagnosticada toda e
qualquer possibilidade de risco, é preciso avaliar sua chance de ocorrência (frequência, duração)
e potencialidade danosa (grau de intensidade e de frequência), valendo-se de medições
quantitativas e qualitativas para, enfim, tratar da possibilidade de eliminar a causa ou as fontes
dos riscos, e se isso não for possível, reduzir os riscos mediante medidas de prevenção ou, em
último caso, providenciar meios de proteção individual e coletiva.

Em termos técnicos, Ponzetto (2010, pág. 20) observa que a avaliação quantitativa
necessita de instrumentos científicos de medição diversos e calibrados para cada tipo de risco
analisado, assim como recomenda a NR-9, ou como é feito, por exemplo, em Laudo Técnico
para a mensuração da insalubridade.
52

Isso se aplica a todos os instrumentos científicos, tal como o Luxímetro que mede o
fator iluminação; tubos colorimétricos para mensurar os agentes de risco com produtos
químicos nocivos; ou para mensurar temperaturas por meio de termômetros de bulbo seco, de
bulbo úmido e termômetro globo; ou ainda para avaliar a velocidade do ar em ambientes
externos.

Para Barbosa Filho (2011), a avaliação quantitativa envolve uma gama ampla de
medição de diferentes agentes nocivos, compreendendo os riscos físicos (calor, frio, radiações),
químicos (compostos inorgânicos como metálicos e orgânicos como diluentes), biológicos
(microorganismos, parasitas), mecânicos (traumatismos, atritos), além de outros de difícil
mensuração quantitativa.

Com efeito, há fatores de risco, tais como se verá a seguir na área da indústria gráfica,
que só podem ser dimensionados qualitativamente por meio de informações coletadas
diretamente no ambiente de trabalho mediante investigação prospectiva (enquete de memória
histórica e organizacional), ou ainda por meio de observação direta ou de imagens (gravadas).

Em matéria de reconhecimento qualitativo de riscos, Ponzetto (2010, pág. 21) aposta na


avaliação subjetiva de queixas, baseada na experiência própria e no conhecimento empírico ou
nas práticas profissionais, ou ainda, nas informações provenientes, principalmente de
funcionários antigos. Trata-se de uma avaliação que dá importância aos saberes dos autores
expostos diariamente ao risco de acidentes no manejo de máquinas e equipamentos, por
exemplo, ao lidar com ruídos, vibrações, calor gerado por motorização, cuja mensuração quanto
à sua intensidade geralmente varia de um para outro funcionário.

É neste plano investigativo que a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)


atua com mais eficiência quando estimula a participação de todos os envolvidos na tarefa de
identificar situações de risco: Por exemplo, na pesquisa coletiva sobre algum elemento químico
e biológico nocivo (substâncias corrosivas - cloro), em que o grupo precisa recorrer à literatura
técnica ou à empresa fabricante para avaliar o grau de risco (intoxicação), ou o tipo de
prevenção a ser adotada para reduzir a ‘níveis aceitáveis’ a probabilidade de ocorrência de
incidentes com operações arriscadas (op. Cit., 2010).

Quando esta tarefa de identificar riscos é realizada por um investigador utilizando a


observação direta, este levantamento pode ser complementado por meio de imagens na forma
de uma avaliação qualitativa que oferece, segundo Barbosa Filho (2011, pág. 93), outras
vantagens, que permitem:
53

a) A análise de uma situação por mais de uma pessoa, ampliando a interpretação;


b) A percepção de detalhes não anotados ou não descritos (pela observação direta);
c) A comparação ao longo do tempo de um determinado fenômeno (evolução do risco);
d) A visão geral e local do posto de trabalho, com as influências do todo e do detalhe;
e) O registro das influências do entorno que envolve o posto de trabalho, sua ligação
com outros postos de trabalho (movimentação de cargas, espaços de movimentação,
trocas, etc);
f) Detalhamento de interpretações (obtidas por close/zoom).

A observação direta ou por imagem tem também suas limitações, pois pode causar
constrangimentos aos trabalhadores, modificando sua rotina (modus operandi), ou porque pode
ser efetuada em horários não representativos e inadequados, ou ainda devido a outras
interferências.

Há também as limitações que dependem da experiência, dos conhecimentos ou da


competência de quem faz a observação ou o levantamento de riscos (CIPA, técnicos, etc.),
sendo necessário, pois, que a pesquisa seja confrontada com medições técnicas e estudos
científicos sobre o tema, tendo em vista os diferentes grupos de riscos físicos, químicos,
biológicos, ergonômicos e de acidentes outros, aplicáveis à indústria gráfica.

Desta forma, o processo de avaliação de riscos de acidentes necessita combinar a


avaliação quantitativa com a qualitativa, sempre numa perspectiva multidisciplinar (medicina
do trabalho, higiene do trabalho, segurança do trabalho, gestão ambiental), razão porque todos
os programas de prevenção devem estar interligados (CIPA, PPRA, PCMSO, PCI, PCA,
LTCAT, PPP, Primeiros Socorros, etc).

Mas, recorrer a métodos mistos de avaliação e a fontes multidisciplinares de informação


prática e teórica significa algo mais que reunir uma lista completa de riscos de acidentes de
trabalho, ou mais que simplesmente juntar peças informativas sobre técnicas de prevenção de
acidentes. É preciso ainda confrontar a visão teórica com o histórico de acidentalidade em
determinado setor produtivo (indústria gráfica), tal como se pode observar no Quadro 1.
54

Quadro 1 – Contrapontos no reconhecimento do risco Ambiental

Fonte: Próprio autor (2013)

Assim, o processo de processo de reconhecimento do risco (e seu potencial) ocorre no


contraponto entre a visão multidisciplinar que o quadro teórico de referência oferece e a visão
consensual baseada na memória histórica de acidentalidade que caracterizam a cultura de
segurança do trabalho no âmbito da empresa, refletindo inclusive os problemas e as dificuldades
dos trabalhadores quanto à forma de se prevenir dos ‘riscos ambientais’.

3.2 METODOLOGIA DE RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO DO RISCO


AMBIENTAL NA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA

A linha metodológica de análise dos riscos ambientais, adotada no projeto


‘prevencionista’, consiste numa questão problemática de dupla face (reconhecer e mensurar o
risco) que precisa ser definida no plano da pesquisa de campo que precede o plano de ação para
proceder ao controle do risco ambiental.

A dificuldade de diagnosticar o risco laboral está, pois, em tornar visível, paralelamente,


sua natureza e sua magnitude, uma vez que a antecipação e reconhecimento dos riscos implica
sempre a avaliação da exposição dos trabalhadores aos riscos ambientais (MANUAL Ind.
Gráfica- SP- 2006).
Neste sistema, a pesquisa necessita de ser feita, de um lado, à luz do mapa teórico de
riscos e de outro lado, à luz do histórico de acidentalidade na empresa, tendo em vista as
prioridades que a gestão de saúde e segurança do trabalho necessita estabelecer para controlar
os riscos de acidente no ambiente do trabalho na empresa pesquisada (indústria gráfica).
55

3.2.1 Reconhecimento e Inventário dos Prováveis Riscos Ocupacionais na Atividade


Gráfica

O processo de pesquisa para diagnosticar o risco laboral depende, pois, da probabilidade


de ‘que pode haver dano’. Neste caso, o que define o risco ambiental se refere ao seu potencial
de causar danos à saúde dos trabalhadores, tendo em vista o nível de exposição humana ao
mesmo (intensidade, tempo, frequência) e do grau de tolerância humana ao risco ambiental
(intolerável, tolerável, aceitável).

Do ponto de vista investigativo, isso significa que o quadro teórico assim como o perfil
cultural do risco no âmbito real da empresa, juntos, funcionam como referenciais para que o
risco seja percebido como algo não isolado, mas como algo integrado às fontes dos agentes
nocivos, portanto, um objeto de pesquisa contextualizado, feito variável ou conceito
mensurável, e por isso mesmo controlável.

A metodologia de pesquisa, ao se basear em referenciais teóricos, trata assim de ampliar,


sob ‘lentes especializadas’, os conhecimentos empíricos do risco laboral. Por isso, é importante
conhecer os estudos já efetuados por especialistas sobre os agentes de risco cientificamente
fundamentados, cuja teorização resultou no universalmente conhecido ‘mapa teórico de riscos’,
aqui neste caso, adaptado à área da atividade gráfica pelos autores do Manual da Indústria
Gráfica (SP, 2006, pág. 30-33), com a seguinte classificação:

a) Riscos físicos - São considerados como agentes: o ruído, a vibração, a umidade, as


radiações ionizantes e não ionizantes, e a temperatura extrema (frio e calor). Vários
autores citam o ruído como o principal agente de risco na Indústria Gráfica. Este
ocorre principalmente nas etapas de impressão e pós-impressão, devido à utilização
de máquinas rotativas e dobradeiras. O ruído é definido como um som indesejável e
nocivo à saúde dos trabalhadores, podendo ocasionar, além de alterações auditivas,
distúrbios de equilíbrio, do sono, psicológico, social, bem como alterações nos
sistemas, circulatório, digestivo e reprodutor. “Estudos realizados apontam que a
exposição do trabalhador à radiação na Indústria Gráfica está relacionada apenas à
radiação não ionizante na forma ultravioleta, utilizada no processo de sensibilização
de filmes, telas e chapas, na cura e nas atividades de soldagem elétrica (manutenção).”
A radiação não ionizante (radiofreqüências, microondas, infravermelho, visível e
ultravioleta) é aquela que não possui capacidade de ionizar e emitir partículas. As
possíveis consequências no organismo, devido à exposição sem proteção adequada,
são queimaduras, lesões nos olhos, na pele e em outros órgãos.

b) Riscos Químicos - São considerados como agentes: poeiras, fumos, gases, vapores,
neblinas e produtos químicos em geral. Estes agentes penetram no organismo do
trabalhador pelas vias cutânea, digestiva e respiratória. Na Indústria Gráfica, os
produtos químicos utilizados são: fixadores, reveladores, reparadores, tintas e
solventes orgânicos (diluentes de tintas e limpeza de equipamentos). Dependendo do
produto químico utilizado, sua manipulação, concentração no ambiente e tempo de
exposição do trabalhador podem causar efeitos, cujos sintomas são cefaléia, tontura,
irritação ocular, problemas de pele pelo contato, episódios depressivos e outros
relacionados ao sistema nervoso.
56

c) Riscos Biológicos - Os agentes biológicos são: vírus, bactérias, fungos, protozoários


e parasitas. Segundo a OIT, os trabalhadores estão expostos aos agentes biológicos
em duas situações: instalações antigas, que podem estar infestadas por roedores e
insetos, entre outros; contato com tintas utilizadas para impressão, as quais contêm,
em sua formulação, componentes que funcionam como nutrientes para o crescimento
de microorganismos. Além disso, na Indústria Gráfica, ambientes fechados e a
presença de sistemas de ar condicionado, divisórias de madeira, equipamentos e
plantas que podem conter poeira, fungos e ácaros, quando não são limpos
adequadamente e com regularidade, causando alergias e problemas respiratórios.

d) Riscos Ergonômicos - Referem-se à adaptação das condições de trabalho às


características psicofisiológicas dos trabalhadores e se relacionam diretamente à
organização do trabalho, ao ambiente laboral e ao trabalhador. A organização do
trabalho vincula-se com o ritmo da produção, o processo de trabalho, o trabalho em
turnos, a ausência de pausas e a realização de horas extras. O risco ergonômico no
ambiente laboral está também relacionado ao piso e à via de circulação irregular, à
iluminação inadequada, à temperatura desconfortável, à existência de vibração, ruído,
poeira, produto químico e outros. Em relação ao trabalhador, estão envolvidos os
aspectos pessoais (idade, sexo, estado civil, escolaridade, atividade física, tabagismo
e antropometria), psicossociais (percepções de sobrecarga, trabalhos monótonos,
controle limitado das funções e pouco apoio social no trabalho) e biomecânicos
(postura inadequada, força excessiva e repetição de movimentos). De forma geral, a
presença desses agentes podem contribuir para o aparecimento de algumas
características desfavoráveis nas condições de trabalho, causando tensão psicológica,
ansiedade e depressão, fadiga visual, lesão ocular, lacrimejamento, dores de cabeça,
fadiga, dor muscular e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho – DORT
(Stellman, 1998). A maioria dos especialistas afirma que, na Indústria Gráfica, é
difícil generalizar os problemas ergonômicos, pois cada empresa apresenta um
aspecto diferente da outra. Porém, alguns relatam que as empresas de pequeno porte
apresentam em comum, a maior incidência de riscos ocupacionais durante o transporte
manual de cargas e trabalho contínuo em pé, e que, nas empresas de maior porte, a
incidência maior decorre do ritmo de trabalho intenso e de expedientes noturnos e
extras de trabalho para suprir a demanda sazonal de produção. Em síntese, os Riscos
Ergonômicos estão ligados à execução de tarefas, à organização e às relações de
trabalho, ao esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso,
mobiliário inadequado, posturas incorretas, controle rígido de tempo em função da
produtividade exigida, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno,
jornadas de trabalho prolongadas, monotonia, repetitividade e situações causadoras
de estresse, o que inclui também o perfil do corpo físico do trabalhador
(antropometria) adaptado para determinadas tarefas (BARBOSA FILHO, 2011).

e) Risco Mecânico ou de Acidentes Outros - Os agentes caracterizados nessa classe de


riscos decorrem de várias situações adversas encontradas nos ambientes e nos
processos de trabalho, envolvendo principalmente os aspectos de construção e de
manutenção das máquinas e das edificações, o tipo de arranjo físico de produtos e suas
utilizações. No ramo gráfico, esses agentes podem ser representados por: alimentação
manual em máquinas semiautomáticas provocando, por exemplo, esmagamentos;
falta de proteção nas partes móveis de máquinas e equipamentos; falhas de instalações
e aterramento, causando choque elétrico; armazenamento e manuseio inadequado de
materiais inflamáveis; falta de orientação e treinamento para utilização de máquinas
ou para lidar com ferramentas manuais e equipamentos de proteção coletivas ou
individuais; falta de sinalização, com obstrução da saída de emergência, escadas e
rotas de fugas, de alarmes e extintores de incêndios; iluminação inadequada nos postos
de trabalho.
Com base nesta classificação teórica, os agentes de risco assim catalogados (mapa
teórico de riscos), proporcionam ao eventual investigador a possibilidade de “enxergar além do
57

óbvio”, ajudando-o na investigação e no reconhecimento desses agentes in loco, no caso, na


área da indústria gráfica, sem deixar de considerar sua variedade e sua natureza nociva.

Para facilitar a visualização dessa classificação, o ‘mapa teórico de riscos’ pode ser
representado na forma de um de inventário ilustrativo (Quadro - II) resumindo, no plano teórico,
a diversidade de agentes nocivos que integram a problemática geral do risco no âmbito da
indústria gráfica.

Quadro 2 – Mapa teórico de riscos ocupacionais (adaptado à NR-5)

Fonte: Manual Indústria Gráfica (2006)

Como se pode observar, o Quadro 2, adaptado aos quesitos da Norma Regulamentadora


NR-5 (Manual Ind. Gráfica- SP- 2006), constitui, em síntese, um retrato dos estudos
58

especializados sobre a natureza e a classificação dos riscos ocupacionais pincelados por meio
de cores e da magnitude do risco simbolizada por meio de círculos de diferentes tamanhos.

Sem ainda considerar a magnitude do risco, conceito que será analisado na secção
seguinte, o Quadro-II, associada à NR-5, implica, por conseguinte, uma reconstrução baseada
também em princípios legais que levam em conta a ação participativa, por exemplo, da CIPA,
como uma reconstrução (teórica) feita no local de trabalho com a anuência dos próprios
protagonistas.

Neste sentido, o mapa teórico de riscos, além de proporcionar elementos para validar
inclusive instrumentos de pesquisa de campo (ver a seguir), funciona também como paradigma
para a reconstrução dos componentes que constituem o histórico de acidentalidade a cultura
acidentária, tendo em vista os incidentes de trabalho existentes na empresa (objeto de pesquisa).

As mesmas percepções e opiniões expressadas pelos próprios protagonistas na


reconstituição do mapa teórico de riscos, agora podem ajudar na reconstrução simbólica da
realidade visível das áreas de risco na empresa, cuja memória histórica e cultural
(acidentalidade) pode ser resgatada nas rotinas ou condições de trabalho (documentadas ou
não), ou através dos registros de acidentes de trabalho existentes nos arquivos da empresa.

Assim, a reconstrução coletiva da cultura local do risco na empresa pode ainda ter a
contribuição dos especialistas através dos dados contidos no Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais (PPRA - Norma Regulamentadora NR-9) e no Programa de Controle Médico de
Saúde Ocupacional (PCMSO - Norma Regulamentadora NR-7), ou outros.
Com as informações e dados obtidos coletivamente, o perfil da cultura local do risco
(acidentalidade) pode ser representado por meio de uma ilustração, por exemplo, de um desenho
que localize as áreas de maior risco laboral, tendo em vista o processo de trabalho com
máquinas, instrumentos, produtos, e outros fatores.
A síntese pode ser feita, por exemplo, num desenho em forma de um mapa de áreas de
riscos na planta da indústria gráfica pesquisada, conforme se observa na Figura- 1 (abaixo), em
que o círculo de várias cores representa as diversas classes de riscos e seu tamanho indicando
a magnitude, e o ‘x’ a quantidade de funcionários expostos a estes riscos.
59

Figura 1 – Mapa de riscos na planta da indústria gráfica

Fonte: Manual da Indústria Gráfica (SP, 2006).

Desta forma, a representação das áreas de riscos na empresa constitui um referencial


que encontra ressonância nas percepções e opiniões dos próprios protagonistas (gestores,
PPRA, etc) sobre a memória histórica da empresa, assim como a representação do mapa teórico
de riscos encontra eco, por exemplo, na tarefa (de CIPA) de adaptá-lo ao contexto da atividade
gráfica.

A participação dos protagonistas (CIPA, PPRA, etc), na verdade, constitui o elo-de-


ligação entre o mapa teórico de riscos (Tabela-I) e a ‘planta baixa de acidentalidade (Figura-I),
que permite colocar o risco a ser pesquisado, ao mesmo tempo, no retrospecto histórico e sob o
foco teórico do risco ambiental a ser pesquisado.
60

Com base nestes prospectos ilustrativos, o levantamento do risco na pesquisa de campo


implica o quantitativo e o qualitativo, caracterizado pela coleta de provas objetivas e subjetivas,
tendo em vista, de um lado, o quadro teórico de referência e, de outro lado, o perfil cultural do
risco no âmbito real da empresa.

No contraponto das construções teóricas (Tabela-I) e das práticas culturais (Figura-I)


define-se, assim, a metodologia para a elaboração dos instrumentos de pesquisa de campo da
natureza e da magnitude do risco ambiental.

O diagnóstico do risco laboral consiste assim no levantamento e na análise que confronta


os dados das ilustrações (perfil teórico do risco e perfil cultural do risco) com os dados da
pesquisa de campo (inventário de riscos), por exemplo, das entrevistas, da observação direta ou
das imagens feitas nos diferentes ambientes laborais (postos de trabalho, tarefas, trabalhadores
em atividade), tendo em vista as diferentes classes e tipos de risco (físicos, químicos, biológicos,
ergonômicos, acidentes outros e psicossociais).

Trata-se de um processo que resulta no inventário dos prováveis riscos (acidentalidade


e mapeamento–NR-5, incluídas as recomendações feitas com o apoio da CIPA), pronto para ser
dimensionado ou avaliado, tendo em vista a questão da magnitude do risco ambiental.

3.2.2 Avaliação da Magnitude do Risco Ambiental na Atividade Gráfica

Uma vez concluído o inventário de riscos selecionados – com potencial de ameaçar a


saúde ocupacional do trabalhador – torna-se necessário avaliar a magnitude do risco, tendo em
vista a tolerância humana à exposição do risco, em termos de intensidade e de outros fatores
temporais e circunstanciais.

A avaliação da magnitude do risco, como se verá a seguir, dificilmente é determinada


apenas por instrumentos técnicos quantitativos de medição, até porque sua magnitude precisa
ser avaliada qualitativamente em função de danos, que podem ser complexos e variados.

Por exemplo, o mesmo agente de risco (no caso da contaminação por agentes químicos),
dependendo de fatores diversos, pode causar danos diferentes, assim como a dermatite (contato
com a pele) ou a doença no sistema nervoso central (contato por inalação).

Em contrapartida, um mesmo dado pode ser causado por um conjunto de fatores de


risco, quando diversos agentes nocivos concorrem para ocasionar uma determinada doença
ocupacional.
61

Um exemplo disso é a doença respiratória laboral que pode ser ocasionada por um
conjunto de agentes nocivos atuando no ambiente de trabalho, envolvendo ao mesmo tempo
agentes químicos, físicos, biológicos e outros (umidade, poluição, ventilação, temperatura,
higiene, etc.).

Esta condição se repete para quase todo tipo de risco quando associado ao dano, ou seja,
quando o risco é definido em termos de sua intensidade, tempo e circunstância, tal como se
observa na avaliação de Sesi (Modelo SST, 2006) da magnitude do risco laboral, segundo
diferentes classes de agentes nocivos (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, mecânicos
ou de acidentes outros):

1. Risco físico – Do ponto de vista tanto do grau de probabilidade quanto do grau de gravidade pode-
se determinar o nível dos ‘riscos físicos’, por exemplo, do ruído por meio do dosímetro (marca
Simpon), calculando-se seu grau de intensidade em dB(A) e assim determinar a gravidade do dano
(alta = acima de 95 dB; média = entre 85 e 95 dB; e baixa = menos que isso).
Porém, tendo em vista a forma de exposição à fonte nociva (ao ruído) no tempo e no espaço em que se
encontram as fontes de risco (em máquinas, equipamentos, instrumentos, em setores de pré-impressão,
impressão, pós-impressão, ou de qualquer processo de trabalho), a medição do grau da intensidade
necessita de avaliações complementares.
Com efeito, além da medição da intensidade, a gravidade do dano (estresse ou surdez provocado por
ruído) pode variar dependendo do tempo (duração), da frequência e da distância a que o trabalhador fica
exposto à fonte do risco (Modelo SESI em SST, 2006).
Assim, o limite de tolerância humana ao ruído geralmente fixado em 80 decibéis segundo recomendação
técnica, precisa ser avaliado mediante outros fatores que modificam a exposição sonora em diferentes
tempos e espaços (tipo, frequência, duração do ruído), o que pode modificar o diagnóstico da magnitude
do risco laboral quanto ao dano.
O mesmo ocorre em relação ao calor (temperatura), quando o fator ‘tempo de exposição’ é fundamental
na avaliação qualitativa feita no contraponto da avaliação quantitativa por meio de um medidor de estresse
térmico, por exemplo, IBTG (marca Instrutthem modelo TGD-20).

2. Risco químico – No caso da avaliação da magnitude dos ‘riscos químicos’, pode-se determinar, do
ponto de vista técnico da medição quantitativa, o nível (em ppm) de vapores e solventes orgânicos,
dentro dos limites de tolerância estabelecidos na NR-15 ou da ACGIH para acetona, acetato de etila,
álcool isopropílico, metil etilcetona, n-hexano, tolueno, xilenos, etc.

Mais uma vez aqui, a forma de dimensionar o risco em relação ao dano, necessita ainda de observação
direta do processo produtivo, envolvendo, por exemplo, procedimentos de manuseio dos produtos
químicos, de armazenamento e de descarte de resíduos para, enfim determinar, a magnitude do risco.

No caso de radiações não-ionizantes que podem ser encontrados na indústria gráfica em caso de
vazamento ou derramamento de produtos químicos, a avaliação qualitativa (observação do fenômeno in
loco) é igualmente importante para se determinar a gravidade do risco, em vista do maior ou do menor
contato com o agente nocivo.

O mesmo ocorre com a avaliação em laboratório (LT) de gases poluentes obtidos por meio de uma bomba
de sucção, por amostragem, quando é preciso levar em conta ainda diferentes jornadas de trabalho para,
enfim determinar a gravidade do dano, em termos de tempo, de frequência e de distância em que o
trabalhador fica exposto ao agente nocivo.
Em geral, a avaliação dos agentes químicos é feita quase que exclusivamente por métodos qualitativos
(observação ponderada), sempre levando em consideração as condições gerais do risco, ou seja, o grau
de probabilidade e de gravidade quanto ao efeito danoso (Modelo SESI em SST).
62

3. Risco biológico – Da mesma forma, a avaliação para determinar o limite de tolerância à exposição
dos ‘riscos biológicos’ é, geralmente, feita pela observação direta, secundada por testes laboratoriais
dos riscos ocupacionais que ocorrem, por exemplo, no refeitório/cozinha, nos banheiros e nos
depósitos de resíduos de agentes nocivos, tendo em vista a presença de sujeira (vestígios de insetos
e roedores) que podem contaminar embalagens, matéria-prima, ambientes e pessoas.
Assim como no caso dos limites químicos, a tolerância aos agentes biológicos é estabelecida caso a caso,
a exemplo da avaliação médica que define o grau máximo ou grau médio de gravidade por observação e
interação, tendo em vista os critérios de probabilidade e de medição de agentes transmissores (observação
de sintomas, exames laboratoriais de doenças ‘infecto-contagiosos’ etc.).

4. Risco ergonômico – Seguindo técnicas de avaliação quantitativa, pode-se igualmente determinar o


nível dos “riscos ergonômicos’, mas seu grau de gravidade pode ser melhor dimensionado,
observando-se, por exemplo, as condições de trabalho postural, posição, movimentação, atividades
repetitivas.

Para relacionar o risco à diversidade do dano, neste caso, os exames em laboratório complementam a
observação qualitativa no ambiente do trabalho para ‘checar in loco’, por exemplo, queixas sobre
desconforto acústico, visual, térmico, ou de fadiga psíquica, física, ou ainda de queixas de dores
osteomusculares (DORT), e de dores por esforço repetitivo (LER), etc.

Quando se observa as fontes do risco no contraponto das medições instrumentais e avaliações pessoais,
fica mais fácil saber se, por exemplo, há relação entre os agentes ergonômicos e o estado de saúde
ocupacional, sobretudo o estado psicossocial, como falta de apoio social, relações com colegas, disposição
para o trabalho, fadiga, monotonia, etc.

Em termos gerais, a análise dos níveis de riscos ergonômicos implica sempre a avaliação qualitativa, o
que, todavia, não dispensa as avaliações quantitativas efetuadas segundo os limites técnicos ou aqueles
colocados pela Norma Regulamentadora NR-17 ou, por exemplo, pela ‘Industrial Hygiene, Evironmental,
Occupational Health’ (ACGIH).

5. Risco de acidentes outros - A avaliação feita, por exemplo, sobre o grau de risco por excesso ou
precariedade da iluminação (iluminancia) por meio de um Luxímetro, com incidência de luz natural
e artificial, também aqui é preciso levar em conta, por exemplo, a distância da medição. Em geral,
essa medição é feita a uma determinada altura de, por exemplo, 0,75m do piso para que se possa
definir o grau de gravidade do risco (luminosidade precária ou excessiva), o que ainda assim demanda
uma avaliação qualitativa.
Na delimitação das condições de periculosidade (de riscos de acidentes outros), por exemplo, de trabalho
em contato com líquidos inflamáveis, é preciso caracterizar o grau de probabilidade e de gravidade do
risco por setor ou processo e por tipo de produto e de material.
Neste caso, a medição do grau de periculosidade inclui o arranjo físico e as condições de armazenamento,
tendo em vista quantidades, tempo de exposição, enfim, condições geralmente expressos em catálogos,
rótulos e quadros de advertência quanto ao grau de gravidade.
6. Mix de agentes nocivos – È importante observar que a avaliação do grau de probabilidade e de
gravidade do risco raramente se reduz a um risco só, mas frequentemente implica um conjunto de
agentes nocivos, de modo que a magnitude do risco varia segundo esta combinação (Modelo SESI
em SST).
Igualmente o contato, por exemplo, com forno de alta temperatura, pode provocar queimaduras (via chapa
quente) ou fadiga ou debilidade física (sobrecarga térmica), dependendo do tipo de associação entre o
risco e os diferentes danos que o mesmo pode provocar.
Neste sentido, a mensuração combinada de diferentes agentes de risco, em termos quantitativos
(instrumentos de medida) e qualitativos (observação direta de fatores combinados), pode implicar
complexas fórmulas, como no caso do ruído continuo ou intermitente.
Por exemplo, pela NR-15, o limite de tolerância ao ruído está fixado em 85 dB(A), inclusive para
caracterizar ou não o pagamento de adicional de insalubridade previsto na Constituição Federal, Artigo
7º, XXIII, tendo em vista uma exposição ocupacional diária de 8 horas a ruído contínuo ou intermitente.
63

Na mesma Portaria (NR-15) em que isso é regulamentado, é estabelecido que a cada aumento de 5 dB(A)
no nível de ruído, o tempo de exposição deve ser reduzido pela metade (fator de troca – Q de 5 decibéis),
resultando na seguinte fórmula C1/T1 + C2/T2 + ... + CN/TN (C=níveis de ruído; T=nível máximo
permissível pela NR-15). Já no caso do ruído de impacto único (instantâneo), o limite de tolerância sobe
para 120 ou 130 dB(A).
Todas essas diferentes condições, uma vez conhecidas, permitem que se defina a
magnitude do risco, sendo, pois, importante destacar que as condições gerais do trabalho que
determinam sua avaliação implicam os mesmos critérios avaliativos que foram utilizados
anteriormente para antecipar e reconhecer os riscos (prováveis), isto é, de forma consensual e
multidisciplinar.

Com efeito, o pesquisador, ao proceder à avaliação qualitativa no contraponto da


mensuração quantitativa, não o faz isento das percepções e opiniões ou respostas dos próprios
trabalhadores e gestores, cuja informação subjetiva resulta, enfim, na consolidação do
diagnóstico técnico e consensual sobre a problemática da magnitude do risco laboral.

A contribuição das respostas dos protagonistas é especialmente válida quando o grau de


gravidade do risco precisa ser associado a diferentes danos, em termos de contatos ou vias
diferentes de exposição (Modelo SESI em SST -2006, internet).

É essa a razão porque a pesquisa exploratória junto aos protagonistas traz valiosa
contribuição na forma de validar e complementar as mensurações técnicas da pesquisa de
campo.

Assim sendo, o diagnóstico da magnitude do risco, que pode se referir a diferentes


formas técnicas e exploratórias de avaliação, depende, em resumo, dos seguintes processos
avaliativos (Modelo SESI em SST, 2006), entre outros:

 Mensurações quantitativas no caso do grau de gravidade a ser estimado pela


frequência com que o trabalhador fica exposto ao perigo;
 Estimativa em relação ao padrão quantitativo (de exposição conforme limites
estabelecidos, por exemplo, pela NR-15 para contaminação química etc.);
 Estimativa quantitativa por dosagem, por analogia – por predições sensoriais (contatos
toleráveis ou não);
 Avaliação por aproximação do padrão limite (quantitativo – conforme limite de
exposição fixada pela NR-15 para agentes de insalubridade);
 Média aritmética da frequência e duração do agente de risco na jornada de trabalho;
 Estimativa qualitativa baseada na combinação da intensidade (concentração)
frequência e duração (contato de uma substancia na pele), tendo e vista queixas,
doenças, dados sensoriais, observação.

Com base nestes processos, a avaliação do risco em termos de probabilidade (P) e de


gravidade (G) implica o tipo de dano e o quanto de dano se pode esperar depois de responder a
seguinte pergunta: “Qual a probabilidade que o trabalhador exposto (a este risco) tem de vir
64

a sofrer um dano se as condições de trabalho permanecerem iguais ao presente momento?”


(Modelo SESI em SST, 2006).

Assim, o que define o grau de probabilidade (gºP) do risco acontecer, em geral, refere-
se aos critérios utilizados para definir os níveis (chance de risco alto, médio, baixo) dos
diferentes dados e informações, que incluem, por exemplo, graus atribuídos:

 Aos dados e informações sobre doenças e acidentes ocorridos (registros,


depoimentos);
 Ao perfil de exposição (qualitativo) pela combinação da intensidade, frequência e
duração;
 Ao perfil de exposição (quantitativo) estimada pela média aritmética (ou porcentagem
% em relação ao limite fixado);
 Ao controle do risco com medidas de redução ou proteção contra o risco (EPI, EPC,
medidas de correção em geral).

A gradação da gravidade (gºG) do risco associado ao dano pode, por sua vez, ser
estimada mediante critérios verificando, por exemplo, se o risco possui alto potencial de
provocar câncer; médio potencial de causar irritação nos olhos; ou baixo potencial de gerar
alergia por contaminantes atmosféricos ou por microorganismos.

A questão da gradação da gravidade do dano que o risco oferece, refere-se, por sua vez,
à constatação de vários níveis em que os danos se situam, caracterizados por circunstâncias
observáveis, assim como:

 Altíssimo grau - Casos graves (registrados), como perda de membros, órgão ou


doenças incapacitantes.
 Grau elevado - Lesões com sequelas (SNC), danos ao sistema nervoso central,
doenças críticas;
 Grau mediano - Doenças, irritações e lesões (15 dias de afastamento);
 Baixo grau - Ferimentos e irritações leves (alguns dias de afastamento).

A avaliação da magnitude do risco laboral, em resumo, somente se torna definitiva


depois de se conhecer, em primeiro lugar, o tipo de risco e o grau de probabilidade (gºP) de sua
ocorrência e, em segundo lugar, o tipo de dano que o risco provoca e o grau de gravidade (gºG)
do dano.

Do exposto, a avaliação do risco laboral implica, pois, a relação entre probabilidade e


gravidade do risco associado ao dano, cuja magnitude (do risco laboral) resulta do grau de
probabilidade e de gravidade do risco (gºPG), como se pode observar no Quadro 3.
65

Quadro 3 – Magnitude da gravidade e da probabilidade do risco (para fins de Estabelecimento


de prioridades)

GRAVIDADE (G) Incapacitante (gºG3) Irreversível (gºG2) Reversível (gºG1)

PROBABILIDADE (P)

(gºP3) Provável Risco Crítico Alto Risco Risco Médio

(gºP2) Pouco Provável Alto Risco Risco Médio Risco Baixo

(gºP1) Improvável Risco Médio Risco Baixo Risco Irrelevante

Fonte: Tabela baseada nos estudos do risco laboral (Modelo SESI em SST, 2006)

O Quadro 3, assim organizada, além de mostrar a maneira como se estabelece o


cruzamento do grau de probabilidade e de gravidade do risco ocupacional, tem ainda a função
de servir de referência para estabelecer prioridades, por exemplo, caracterizar o ‘risco crítico’
como sendo o de alta prioridade por apresentar forte probabilidade de ocorrer e com elevado
potencial de gravidade, isto é, com potencial para incapacitar o trabalhador.

No que se refere às prioridades, há a necessidade de ações gerenciais no sentido de torná-


las factíveis em termos de critérios de intervenção (prevenção) e de possibilidades de controle,
se por eliminação, se por redução preventiva ou se por neutralização (uso de equipamentos de
proteção).

3.3 ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DO RISCO AMBIENTAL NA PREVENÇÃO


ACIDENTÁRIA

A prevenção acidentária, no que se refere ao controle do risco ambiental, geralmente,


fica limitada aos aspectos técnicos e legais contidas em documento base sobre o inventário de
riscos diagnosticados na ação investigativa, realizada de forma consensual e multidisciplinar.

Neste sentido, embora a maioria das empresas brasileiras esteja isenta da atribuição de
manter em seus quadros um serviço especializado e setorizado ligado à saúde e segurança do
trabalho, independentemente do grau de risco da atividade principal, isso não a exime da
responsabilidade de manter um programa mínimo de medidas estratégicas para identificação e
controle dos riscos à saúde e à segurança do trabalhador.
66

Como se sabe, por lei, apenas empresas com mais de 20 empregados tem a obrigação
de formar uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), ou aquelas com mais de
50 empregados que tem ainda a obrigação legal de formar o Serviço Especializado em
Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT).

Entretanto, como afirma Barbosa Filho (2011, pág.217), a legislação é bem clara ao
expressar que em qualquer estabelecimento que empregue trabalhador, o administrador terá a
obrigação de aplicar programas mínimos (PPRA e PCMSO) e cumprir suas determinações, sob
as penas da lei.

Na visão prevencionista considera-se, pois, particularmente aqueles procedimentos


(obrigatórios por lei) que constituem genericamente o Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais (PPRA), descrito na Norma Regulamentadora NR-9 e ainda o Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), descrito na Norma Regulamentadora NR-
7 (Portaria 3.214/78).

Com base nestes pressupostos, o projeto prevencionista se encontra em condições para


estabelecer suas prioridades, em termos de situações críticas de riscos ocupacionais a controlar.

3.3.1 Estratégia de ação de prioridades do projeto de prevenção acidentária

Após o risco ocupacional ser reconhecido e avaliado na fase de coleta de dados, tal como
já foi exaustivamente demonstrado, as ações preventivas para controlar seus efeitos danosos
agora demandam medidas e estratégias que implicam um planejamento para estabelecer
prioridades factíveis mediante objetivos e metas de prevenção, no sentido de eliminar ou reduzir
os riscos a níveis aceitáveis.

Por exemplo, o objetivo geral do projeto pode ser a ‘prevenção da saúde e a integridade
dos trabalhadores através do desenvolvimento das etapas de (i) antecipação e reconhecimento,
(ii) da avaliação e (iii) do controle dos riscos ambientais do trabalho existentes ou que venham
a existir nos locais de trabalho’. Prioridades factíveis de prevenção, neste caso, significam:

 A eliminação do risco, ou quando isso não é possível;


 A redução do risco na fonte a níveis aceitáveis, ou quando isso ainda não é possível;
 A neutralização do dano (ruído, etc.) por meio de equipamentos ou meios de proteção.

Trata-se de um objetivo que, todavia, depende de determinados critérios operacionais,


de modo que sua aplicação implique, por exemplo, respostas a determinadas perguntas, que
segundo critérios da convenção 5W2H (= 5‘W’ + 2‘H’), consistem no seguinte:
67

 (What) – O que fazer em termos de etapas, descrições e ações preventivas, para


estabelecer, por exemplo, prioridades, seleção de dados (riscos mais críticos), análise
quanto ao grau de probabilidade e de gravidade do risco associado ao dano;
 (Why) – O porquê fazer este projeto tal como se expressa no objetivo geral de solução
do problema, tendo em vista os critérios (objetivos operacionais) na forma de avaliar
e analisar o desempenho para resolver o problema;
 (Where) – O local onde a pesquisa ocorre (espaços físicos e sociais), sua área de
abrangência (indústria gráfica), postos de trabalho, setores (pré-impressão, impressão,
pós-impressão), máquinas, reuniões para selecionar riscos e definir prioridades;
 (When) – O momento e o prazo de quando as atividades deverão ser desenvolvidas e
concluídas, sob a forma de cronograma;
 (Who) – Os responsáveis pelas atividades do plano de ação a ser desenvolvido
segundo atividades estabelecidas no cronograma;
 (How) – O modo de fazer, ou seja, a metodologia a adotar no processo de efetuar
registros, de trabalhar em grupo, etc.;
 (How much) – O custo ou os gastos com os recursos envolvidos no projeto.

Para assegurar o padrão desejado, o projeto precisa prever o monitoramento da


qualidade desde a abordagem à empresa até o acompanhamento e avaliação da política de ação
definida após o inventário (diagnóstico) dos perigos e dos riscos constatados. Daí porque é
preciso especificar para cada procedimento o que e quando fazer; quem é o responsável; quais
os insumos necessários; os indicadores de medidas; os resultados esperados.

O monitoramento ou as ações de controle dos riscos dependem, assim, dos critérios de


prioridade estabelecidos pelo reconhecimento e avaliação do risco, tendo em vista determinadas
metas a serem estabelecidas e alcançadas.

Assim, o ‘critério’ está nas ações prioritárias resultantes do perigo que o risco oferece
em função da gradação resultante, como já foi demonstrado, da combinação entre
‘probabilidade e gravidade’ do Quadro 3, demandando medidas adequadas para cada nível de
risco:

 Para o risco crítico (G/P) – interromper imediatamente o processo de produção


no local da indústria gráfica pesquisada;
 Para o alto risco (G/P) - implantar ações de controle em caráter prioritário de
urgência e/ou corrigir falhas nas medidas existentes, em curto prazo;
 Para o médio risco (G/P) – reavaliar os meios de controle e quando necessário
adotar medidas complementares, visando melhorar o controle sobre as
exposições ocupacionais ao risco;
 Para o baixo risco (G/P) – adotar medidas visando melhoria contínua;
 Para o risco irrelevante (G/P) – manter o controle do risco dentro dos parâmetros
atuais.
68

Além dos critérios prioritários de intervenção, as ações de controle implicam ‘formas


organizacionais’ adequadas de controle do risco laboral, tendo em vista o monitoramento da
saúde e da segurança do trabalho na gestão geral da atividade gráfica.

Isso inclui o sistema de gestão das condições gerais de trabalho e, especificamente,


ouvido a CIPA, a gestão do programa de prevenção de riscos ambientais (PPRA) associado ao
programa de controle médico da saúde ocupacional (PCMSO) e outros existentes (primeiros
socorros, etc), exigidos ou não por lei.

No que se refere às exigências legais mínimas, a organização de segurança no trabalho


e saúde ocupacional consiste na integração dos programas oficialmente estabelecidos pelo
Ministério do Trabalho e Emprego e INSS, prevendo que a implementação de PCMSO,
PPRA/LTCAT seja feita de maneira conjugada.

Desta forma, ao levar em conta ‘critérios de prioridade’ (tabela-II) e ‘formas


organizacionais’, o plano de ação participativa, envolvendo empresa, PPRA, CIPA e autores do
projeto, implica ainda o monitoramento ou controle dos agentes de risco (físicos, químicos,
biológicos, ergonômicos, e acidentes outros), em termos da ‘necessidade’ e ‘periodicidade’ de
controle:

 Para o risco crítico (G/P) – Necessidade obrigatória de reavaliar o risco e as medidas


de controle – e – Periodicidade determinada pela gradação do risco e conforme
resultados da pesquisa para obter, em parceria, novas informações e novo laudo
técnico (LTCAT – Diagnóstico, por exemplo, de Mudança do Layout);
 Para o alto risco (G/P) – Necessidade prioritária de redimensionar a exposição ao risco
e a eficácia das medidas de controle – e – Periodicidade e conforme dados da pesquisa
para obter, em parceria, mais informações e novo laudo técnico (LTCAT);
 Para o médio risco (G/P) – Necessidade de rever o risco ocupacional dentro da função
(corrigir o processo de trabalho) – e – Periodicidade em intervenção eventual de
controle em parceria com os especialistas de programas outros;
 Para o baixo risco (G/P) – Necessidade e Periodicidade de rotina visando a melhoria
contínua;
 Para o risco irrelevante (G/P) – manter o controle do risco dentro dos parâmetros
atuais.

Depois de estabelecida a prioridade quanto ao critério (probabilidade e gravidade) e


quanto à ‘forma organizacional’ participativa e, finalmente quanto à necessidade (das medidas
de controle) e à periodicidade (de monitorar o controle e seu viés), segue o processo de
definição das metas, que precisa levar em consideração as prerrogativas da NR-9, tornando
obrigatórias medidas de prevenção e de controle de riscos ocupacionais (agentes nocivos
diversos causando ou com potencial de causar lesões, doenças).
69

Por exemplo, a meta geral pode ser fixada em termos de porcentagens sobre resultados
positivos (por exemplo, 25% no geral) que se espera alcançar quanto à eliminação, à redução
ou à proteção contra riscos existentes ou que venham a ocorrer no ambiente de trabalho, sempre
tendo em vista a implantação das medidas prioritárias de controle (necessárias) e de
monitoramento (periódico).

Em termos práticos, porém, a meta necessita de um detalhamento (metas operacionais)


sobre como e quanto se espera controlar cada risco ocupacional, o que inclui, em termos
técnicos, metas para os diferentes riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, acidentes
outros (mecânicos) e em termos legais, metas de controle e monitoramento da exposição do
trabalhador à insalubridade, à periculosidade ou às formas penosas de trabalho.

Dependendo da porcentagem de controle, estas metas específicas, uma vez alcançadas,


podem inclusive anular ou dispensar a obrigatoriedade do adicional de insalubridade (NR-15),
ou o de operações perigosas (NR-16), ou ainda, o das condições penosas de trabalho (NR-17),
conforme prevê a Constituição Federal.

O estabelecimento de metas específicas para controlar e monitorar a insalubridade, a


periculosidade ou o trabalho penoso, também seguem critérios de prioridade, necessidade e de
periodicidade, envolvendo operações que podem se tornar visíveis pelas ações qualitativas e
quantitativas no esforço de promover a redução, a eliminação, ou ainda a neutralização dos
agentes nocivos e de risco.

Com base nestes critérios, há condições de realizar o planejamento das ações de cada
meta de prevenção setorizada, processo que implica a descrição de atividades relativas às
diferentes etapas do projeto.

3.3.2 Estratégia de ação de atividades de controle do projeto

As medidas de ação para eliminar, reduzir ou neutralizar a exposição do trabalhador aos


riscos, segundo as metas da insalubridade, da periculosidade e das atividades penosas na
atividade gráfica, implicam, segundo os autores do Modelo SESI em SST (2006),
procedimentos operacionais para cada etapa do projeto, assim como se encontram
resumidamente no seguinte cronograma (Quadro-4):
70

Quadro 4 – Cronograma de ação do projeto

ONDE E QUANDO QUANDO


O QUE QUEM COMO
PORQUÊ PREVISTO EXECUTADO

Atividades de Autores do projeto Plano de Indução e Visando Julho/2012 Agosto/2012


Abordagem à e gestão de Adesão ao sensibilizar os
Empresa interessada Projeto gestores

Atividades de Autores do projeto Reunião Na secretaria


e gestores exploratória; coletando provas
Diagnóstico
Consulta à de situações Agosto/2012 Setembro/2012
Inicial
Documentação. críticas de risco.

Atividades do Gestores do Reuniões, estudos, No setor para


Orçamento do projeto e autores contabilizações orçar os custos do
Projeto projeto Setembro/2012 Outubro/2012

Inventário de Autores do projeto Pesquisa de Campo Nos postos de


e protagonistas – dados trabalho visando
Riscos
qualit/quantit. levantar riscos Outubro/2012 Novembro/2012

Atividades da Autores do projeto Seleção de riscos – Na sala de estudo


Avaliação de e protagonistas critérios visando fixar
Riscos Probab./Gravidade prioridades Novembro/2012 Dezembro/2012

Atividades de Autores do projeto Pesquisa - Na sala de


e gestores Biblioteca e estudos, visando
Requisitos
Eletrônica - conferir leis. Dezembro/2012 Janeiro/2013
Legais

Atividades de Autores do projeto Documento – Gabinete ou Janeiro/2013 Fevereiro/2013


Registro de e gestão Relatório do Projeto banca.
Resultados interessada

Fonte: Próprio autor (2013).

No que se refere às atividades previstas no cronograma, cada uma delas, implica por sua
vez uma série de atividades operacionais, aqui apresentadas como sendo aquelas que
comumente se desenvolve na prevenção acidentária:

I – A abordagem à empresa – contato com gestores e representantes da empresa, no caso


do ramo da atividade gráfica, para apresentação do projeto e mobilizá-los para o mesmo, por
meio de atividades procedimentais, tais como:

 Reunião para expor o projeto aos gestores e interessados;


 Apresentação do projeto e seus benefícios, na busca de adesão concreta ao projeto;
 Em caso de adesão, troca de ideias sobre pontos de risco cruciais e sobre a consciência
dos mesmos por parte da gestão e da equipe de trabalho;
71

 Breve relato sobre as atividades realizadas na empresa e constatação inicial da


incidência de acidentes do trabalho por meio de alguns dados estatísticos e de
cadastros por setor (atribuições e processos de trabalho de maior de risco);
 Setores que possivelmente vão aderir e se comprometer com o projeto;
 Planejamento conjunto de visita de aproximação (approach) aos setores mais
resistentes;
 Acordo de compromisso firmado pela parceria do projeto;
II – O diagnóstico inicial – consiste no levantamento de informações relativas ao sistema
de saúde e segurança do trabalho da empresa, bem como do processo produtivo e da estrutura
organizacional, a fim de identificar as situações críticas, ou os eventuais descumprimentos de
legislação, tendo em vista os acidentes e óbitos ocorridos nos últimos 12 meses.

 Levantamento inicial da saúde e segurança, mediante coleta de dados sobre acidentes,


óbitos absenteísmo e sugestões para solucionar imediatamente as situações mais
críticas (controlar o risco eminente, atender autuação legal em andamento);
 Preenchimento da ficha de identificação e caracterização da empresa, incluindo a
pontuação geral da empresa quanto ao grau de risco (no caso da atividade gráfica –
nível de risco 3) – incluir organograma, fluxograma, descrição de cargos, relação dos
funcionários e de processos produtivos, manutenção, pontos críticos de perigo,
inventário de matérias primas, relação das máquinas e equipamentos, PPRA e
PCMSO anteriores e atuais (com apoio de CIPA), Cadastros (CAT, atestados
médicos, licenças saúde;
 Observação para checar as informações (checklist) sobre limpeza, higiene, circulação,
sinalização, conservação de máquinas e equipamentos, uso de EPI adequado,
primeiros socorros, instalações (elétricas), pisos com risco de queda, controle de
temperatura ambiente, dispositivos de emergência, ventilação adequada, participação
dos trabalhadores no SST e treinamento, bebedouros, etc.
 Nas primeiras visitas, reelaborar com os especialistas (SST) da empresa o mapa
teórico de riscos adaptado à realidade da empresa, e ainda o mapa de áreas de risco na
planta da empresa, com base no checklist;
 Entrevista (sobre a atual cultura do risco) com gestores e responsáveis de diferentes
setores de produção para validar o mapa de riscos e das áreas de risco, e a coleta de
dados de acidentes, absenteísmo e óbitos com base na memória histórica da empresa;
 Elaboração do relatório para o diagnóstico inicial da situação crítica do risco na
empresa (dados de identificação da empresa, introdução, descrição da empresa,
resumo do processo produtivo, resultado da coleta e das entrevistas realizadas na
empresa, cronograma geral de atividades para a vigência do projeto, conclusão,
autores e anexos);
 Apresentação do diagnóstico ao empregador.

III – O orçamento – consiste na especificação dos recursos necessários para a realização


das atividades e o custo dos serviços ou insumos (computador, formulários), incluindo custos
por responsabilidades não assumidas (multas, etc.);

 Levantamento de custos com papéis, fotografias, filmagens, computador, fichas, etc.


 Apresentação do orçamento ao empregador.

IV – O inventário de riscos – refere-se à identificação de perigos e avaliação dos riscos


ambientais (químicos, físicos, biológicos, condições ergonômicas e de acidentes mecânicos e
outros), incluindo a classificação do grau de probabilidade e de gravidade de ocorrência de
72

dano. Como já foi dito, o inventário de riscos serve como base para a elaboração do plano de
ação da empresa.

 Inventário geral de riscos, das exposições dos trabalhadores a todas as classes de


agentes nocivos e avaliação da intensidade, da variação temporal e dos tipos de danos
potenciais à saúde e à segurança em termos de insalubridade, periculosidade e
operações penosas, tendo em vista a tabela II e III;
 Estabelecimento, com base no inventário de riscos, de prioridades com
recomendações de ação para controlar exposições que representem riscos inaceitáveis
e intoleráveis, tendo em vista a eliminação, a redução ou a neutralização mediante
proteção;
 Registro das avaliações e comunicação dos resultados relativos ao inventário de
riscos;
 Relatório do Inventário de Riscos com Identificação da empresa, Introdução fazendo
referência aos aspectos legais, Objetivos esperados na caracterização e priorização,
Metodologia, Focos geradores de risco por áreas (na planta da empresa, setores,
horário e jornada de trabalho, organograma e fluxograma do processo produtivo, nas
máquinas, agentes químicos inventariados, histórico de acidentes, medidas de
controle existentes, etc.);
 Sugestão de um plano de ação de prevenção do risco ambiental nos termos do PPRA,
incluindo, se for o caso, laudo técnico que permite inclusive avaliar a real necessidade
do pagamento de adicional por insalubridade e periculosidade;

V – A avaliação dos riscos em função da saúde do trabalhador – Consiste no estudo do


PCMSO (programa de controle médico e de saúde ocupacional) e do levantamento do
prontuário médico, que inclui, por exemplo:

 Atestado admissional e de saúde ocupacional (ASO);


 Documento de comunicação de acidentes (CAP) ao INSS;
 Informações geralmente contidas no PPRA, servindo igualmente para consolidar e
validar o diagnóstico sobre o inventário de riscos;
 Aplicação de um instrumento apropriado baseado em ‘autoconceito’ no cartão “eu sou
assim” (informações fornecidas pelo trabalhador);
 Mensuração e exame clínico que permitam o diagnóstico e a definição de medidas
individuais e coletivas voltadas principalmente para a prevenção e para a educação
em saúde.

VI – Os requisitos legais– envolve as atividades de identificação de toda legislação de


saúde e segurança (federal, estadual e municipal) relacionada aos negócios da empresa,
orientando a mesma para organizar-se no sentido de atender as exigências legais:

 Entrar em contato com sites do governo, da ANVISA, da ABNT, etc;


 Pesquisar em decretos, instruções normativas, portarias, ordens de serviço, leis,
normas regulamentadoras, etc.
 Pesquisar em leis e normas técnicas recomentadas, verificando aquelas que se
relacionam com as atividades da empresa;
 Diagnóstico da legislação aplicada na empresa, alertando sobre as consequências da
falta de conscientização sobre o perigo que representam riscos não considerados no
sistema de segurança ocupacional;
 Leitura de todas as Normas Regulamentadoras aprovadas pela Portaria 2314/78 do
Ministério do Trabalho e Emprego,
73

 Leitura do Decreto 4882/03 e Instrução Normativa 99 (laudo técnico do PPRA a


respaldar o PPP – perfil profissiográfico para atender critérios de Benefícios da
Receita Previdenciária);
 Leitura do Decreto 3048/99 e Instrução Normativa 100 (que dispõe sobre tributação
previdenciária do INSS).
VI – Registro dos resultados e plano com alternativas de solução – visando melhoria da
qualidade dos ambientes de trabalho, de acordo com as seguintes medidas a serem divulgadas:

 Algumas sugestões, externas ao projeto, como substituição de produtos químicos,


aquisição de máquinas de produção seguras, melhorias nos sistemas elétricos e
mudanças de layout, vão depender das condições financeiras da empresa;
 Mobilização dos gestores no sentido de investir em saúde e segurança como parte de
sua responsabilidade social e como vantajosas pelo retorno financeiro que traz o
investimento em melhoria no ambiente de trabalho;
 Treinamento confrontando, de um lado, a cultura de risco existente e, de outro lado, a
proposta de uma nova cultura de controle do risco que depende da conscientização de
toda a equipe de trabalho;
 Conscientização sobre o uso (NR-6) de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e
de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC);
 Eventos de entrega de certificados de participação de atividade do projeto;
 Elaboração de um manual de segurança para a realidade da empresa (como evitar
possíveis acidentes com agentes nocivos nos diferentes setores, serviços de
manutenção, métodos, jornadas com esforço físico e mental e processos de trabalho
com máquinas, produtos, equipamentos, transporte de cargas, etc.);
 Proposta de ‘remapeamento’ das áreas de risco na planta da empresa gráfica,
coordenada por uma comissão de funcionários (voluntários, tipo CIPA),
assumidamente interessada em preservar a saúde e segurança do trabalho, com
medidas de prevenção e de educação em saúde geral.

Estas atividades podem ser colocadas na linha do tempo, em forma de ações


operacionais para cada etapa do projeto e de medidas de controle, em termos de prazos de
execução e de responsáveis, tal como sugere o cronograma.

Em conclusão cabe ressaltar que a metodologia da prevenção acidentária implica o


envolvimento de um corpo técnico altamente especializado para que o projeto seja levado a
efeito, sendo de fundamental importância sua aplicação criteriosa para garantir sua
sustentabilidade técnica e legal.

Como projeto consensual e multidisciplinar focado na pesquisa da natureza e da


magnitude do risco ambiental, que se realiza no contraponto do conhecimento teórico e da
história de acidentalidade da empresa, este modelo fica, porém, reduzido à ciência especializada
que, segundo Barbosa Filho (2011, pág. 8), falha em sua abrangência ao não promover o ‘valor
social do trabalho’ tal como propõe a Constituição Federal (CF-1988) ou ao conceito de saúde
ocupacional ( OIT e OMS), principalmente no que se refere à questão:

 Promover o mais alto grau de bem-estar físico, mental e social de trabalhadores de


todas as ocupações;
74

 Prevenir entre os trabalhadores os desvios de saúde causados pelas condições de


trabalho (inadequadas), protegendo-os em seus empregos contra riscos resultantes
de fatores ou agentes prejudiciais à sua saúde;
 Colocar e manter a trabalho em um emprego adequado às suas aptidões (fisiológicas
e psicológicas) – adaptando o trabalho ao homem e cada homem à sua atividade.

A forma consensual e multidisciplinar do modelo prevencionista não garante uma visão


transdisciplinar (além da multidisciplinaridade técnica) e uma visão intersetorial (além da
consensualidade interna da empresa entre os protagonistas), no sentido de compreender e/ou
redefinir a prevenção acidentária na perspectiva dos pactos sociais que o fundamentam e o
ampliam (MENDES E WÜNSCH, 2007).
75

4 ESTUDO DE CASO NA ATIVIDADE GRÁFICA

Este estudo de caso, ao focalizar a questão do uso de EPI (Equipamento de Proteção


Individual) na perspectiva da nova cultura de gestão preventiva da saúde e segurança na
atividade gráfica, leva em consideração não somente a prevenção do risco ambiental
(indenizável), associado ao dano, isto é, nos limites da ‘saúde-doença ocupacional’, mas ainda
a promoção da saúde e do valor social do trabalho, na perspectiva da Constituição Federal de
1988, como um direito de cidadania.

Diante dos novos desafios no campo das relações sociais de trabalho alteradas pela
progressiva globalização econômica e política (de redemocratização), o estudo propõe uma
redefinição dos processos individualizados de prevenção da saúde e da segurança do trabalho,
alinhando-se à nova cultura que defende, segundo Mendes e Wünsch (2007, pág. 154), a
necessidade de vincular a segurança e a saúde laboral aos processos sociais da gestão do
trabalho no contexto empresarial, tendo em vista:

 As novas modalidades de trabalho, as inovações tecnológicas e os processos mais


dinâmicos de produção, modificando constantemente os processos de gestão (e de
organização) e as relações sociais de trabalho;
 A resistência ao forte impacto do capitalismo contemporâneo, em que a
produtividade, a competitividade e a flexibilidade ainda se sobrepõem aos aspectos
sociais e humanos, determinando e modificando o perfil do risco laboral e a forma
de controlá-lo;
 A nova cultura em saúde do trabalhador, representada no estabelecimento de pactos,
princípios e valores, norteando práticas e condutas para atender novas e antigas
demandas da área.
76

Neste contexto, o estudo se justifica na constatação de que os atuais mecanismos


preventivos de acidentes baseados na ‘saúde laboral como ausência de doença’ parecem
incapazes de desenvolver a necessária prevenção e promoção da saúde do trabalhador para
conter o agravamento da morbi-mortalidade, tendo em vista a persistência de acidentes típicos
e o crescimento do número de patologias e distúrbios relacionados ao trabalho (Mendes e
Wünsch, 2007).

Para superar as limitações da recorrente prevenção acidentária, o estudo defende a


ampliação dos limites deste modelo, apoiando-se no avanço da própria legislação, no que se
refere, por exemplo, às mudanças trazidas pela Instrução Normativa 98 de 2003 da Previdência
Social, ao recomendar às empresas a imediata emissão de CAT (Comunicação de Acidentes de
Trabalho) na simples suspeita de LER/DORT, no sentido de registrar não apenas acidentes ou
riscos de acidentes, mas ocorrências de queixas, geralmente relacionados às condições
ergonômicas e a fatores multicausais (mecânicas ou causas outras de acidentes).

Com base na Constituição e nesta medida solidária de imediata intervenção e de atenção


ao menor sinal de queixa (IN-98), o estudo tem, pois, o objetivo de pensar a questão do uso de
EPI, não apenas como uma questão individualizada, mas no plano social da promoção do
“estado de bem-estar físico, mental e social do trabalhador e não somente o (estado) de
ausência de doença e enfermidade no âmbito do trabalho” (OMS, 1948).

A meta está, pois, nas ações preventivas (intersetoriais e transdisciplinares) que


eliminem pela raiz o risco de acidentes e a doença ocupacional, no sentido de que “a empresa
que melhor protege o trabalhador não é aquela que lhe oferece os melhores dispositivos de
proteção (EPI) e sim aquela que menos o expõe a riscos ou que menos oferece possibilidades
de danos à sua saúde e integridade” (Barbosa Filho, 2011, pág. 12).

O capítulo a seguir trata dos limites teóricos de como e porque ampliar o recorrente
conceito de prevenção, no que se refere especialmente ao uso de equipamentos de proteção
individual (EPI), de modo a gerar uma nova cultura de gestão preventiva, ou seja, uma
prevenção intersetorial (do ‘risco invisível do modelo de gestão’, que ocorre no plano ético e
social, além dos limites das relações solidárias na empresa), e uma prevenção transdisciplinar
(do ‘risco ambiental aceitável e indenizável’, que ocorre no plano técnico-legal, porém, além
do aspecto interdisciplinar da segurança e medicina do trabalho).
77

4.1 USO DE EPI NA GESTÃO PREVENTIVA DO TRABALHO SEGURO E


SAUDÁVEL

Focalizar a questão preventiva e seus mecanismos de proteção individual (EPI) na


perspectiva de uma nova cultura significa considerar a possibilidade de uma mudança
(psicossocial) no modelo de gestão e de organização do sistema de segurança e saúde do
trabalho, tendo em vista que a “cultura organizacional é o sistema de ações, valores e crenças
compartilhados que se desenvolve numa organização e orienta o comportamento dos seus
membros” (autores excelência Congresso Rio, internet).

Neste sistema de ações compartilhadas, a nova cultura consiste, pois, naquela


organização onde os protagonistas se sentem responsáveis pela segurança e saúde, como uma
prioridade voltada para a construção de um processo de trabalho seguro e saudável, envolvendo
não somente questões ambientais ou naturais, mas principalmente, questões psicossociais.

Por questões psicossociais se entende aqueles fatores de ordem transdisciplinar e


intersetorial que implicam a conexão entre as políticas públicas (no plano da organização) e as
práticas de prevenção acidentária (plano comportamental), no sentido de que “as organizações
não são dominadas pela racionalidade técnica, como se a simples padronização e
sistematização dos processos, associada a práticas de controle e vigilância, fossem suficientes
para a obtenção dos resultados desejados” (autores excelência Congresso Rio, internet).

Assim, o redimensionamento dos programas de prevenção na perspectiva cultural de


uma nova gestão preventiva implica, ao mesmo tempo, a estrutura comportamental
(transdisciplinar) que agrega novos valores e conceitos de melhoria contínua e a organização
do sistema produtivo (intersetorial) que agrega novos processos de participação dos
protagonistas (gestores, trabalhadores, parceiros, técnicos, governo), de modo que se detenha,
efetivamente, a escalada da morbi-mortalidade que, no Brasil, apesar do relativo declínio nos
últimos anos, contabilizou em 2010, um total de 711,1 mil acidentes de trabalho, sem ainda
considerar os acidentes na economia informal e os subnotificados (Anuário Estatístico de
Acidente de Trabalho, 2011).

Com efeito, pesquisadores da Fundacentro (2012) ressaltam que, neste contexto, há um


aumento significativo de doenças relacionadas a fatores psicossociais (stress, fadiga,
depressão), causadas por exigências unilaterais, cobranças de metas impossíveis, humilhação,
longas jornadas de trabalho, contexto em que o problema é resolvido “na estratégia de
individualizá-lo e de transferi-lo para o trabalhador quando, na verdade a causa está na lógica
78

de organização do trabalho”, uma vez que se constata que os problemas não ocorrem só pela
falta de equipamentos de proteção, mas também de falhas gerais no posto de trabalho (Maria
Maeno, Fundacentro, Internet).

A necessidade de renovação transdisciplinar e intersetorial da gestão preventiva fica


bem caracterizada, por exemplo, no caso de uma pesquisa nas plataformas de petróleo na Bacia
de Campos (RJ, 1995-97), em que se observou que o acidente de trabalho, neste serviço, decorre
principalmente por omissões gerenciais e organizacionais (nos procedimentos insuficientes
/confusos, na falta de manutenção e por erro de projeto), e que isso acontece principalmente em
empresas terceirizadas, com trabalhadores subcontratados.

Estes são alguns exemplos que mostram que, se no passado o acidente de trabalho
poderia ser considerado um ‘infortúnio’, cujo risco podia ser controlado pela ‘prevenção
acidentária individualizada’, nas relações sociais de trabalho de hoje, esta prevenção já não
consegue dar conta do impacto social e econômico negativo provocado pela sinistralidade e
pelos riscos graves existentes no âmbito do sistema produtivo, gerando insatisfação e prejuízo
para todos (BARBOSA FILHO, 2011).

Em termos práticos, significa afirmar que, na nova visão cultural de hoje, é preciso
prevenir o risco do trabalho promovendo ‘condições ótimas de trabalho’, processo que depende,
de um lado, da consciência (intersetorial) que se tem dos fatores socioeconômicos que afetam
estas condições (a sobrecarga de trabalho, a rotatividade, a substituição e descarte da mão-de-
obra, absentismo laboral, etc.) e, de outro lado, da consciência (transdisciplinar) que se tem da
possibilidade de ampliar a ação preventiva na direção da saúde e do valor social do trabalho
(MENDES E WÜNSCH, 2007).

4.1.1 Determinantes sociais da gestão de saúde e segurança do trabalho

Repensar, em termos sociais, a gestão dos atuais programas de prevenção significa


redefinir o antigo conceito (celetista e corporativista) de ‘saúde como ausência da doença’ na
perspectiva das condições (transdisciplinares) de trabalho e relações (intersetoriais) de gestão
que ocorrem no contraponto da decadente cultura dos sistemas produtivos, onde a produtividade
e a competitividade ainda se sobrepõem aos aspectos humanos e sociais (MENDES E
WÜNSCH, 2007, pág. 154).

Nessa cultura em decadência, as desigualdades sociais diante da doença, que perpassam


as relações de trabalho, são vistas como “naturais’, e assim têm sido reforçadas pelo
‘prevencionismo’, inserido neste modelo cultural na forma de conceitos, tais como de ‘acidente
79

de trabalho’, de ‘doença ocupacional’, de ‘risco por atos inseguros’, inclusive de ‘perícia-


norma’ que define o limite do ‘risco medicamente aceitável’, desqualificando o trabalhador (op.
Cit., 2007, pág. 156).

A tendência das novas políticas de atenção à saúde do trabalho é, pois, de


questionamento do atual sistema de prevenção (interdisciplinar técnico), no sentido de que este
não deveria se restringir ao cuidado biológico (Medicina do Trabalho para curar a doença) e ao
cuidado ambiental (Saúde para prevenir os riscos de dano ou doença), mas ainda, ao cuidado
integral (transdisciplinar), isto é, de proteção, de recuperação e de promoção da saúde para o
conjunto dos trabalhadores e com sua imprescindível participação (MENDES E WÜNSCH,
2007, pág.156).

Trata-se de uma nova forma cultural de abordagem (transdisciplinar) da saúde e


segurança do trabalho, em que os acidentes e as doenças do trabalho são percebidos, não
unicamente no plano individual-ambiental, mas, sobretudo, no plano social-gerencial
(qualidade de vida, de relações de trabalho e de acesso aos bens e serviços), baseado na ordem
intersetorial de gestão pública e privada, que vai além dos limites do posto de trabalho e da
própria empresa (op. Cit., 2007, pág. 156).

Esta nova ordem (de gestão transdisciplinar e intersetorial), na verdade vem sendo
esculpida através de pactos, princípios, valores e acordos coletivos, interligando questões
individuais e sociais, ou seja, saúde ocupacional e saúde integral, que inclui alimentação,
educação, salário, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer e liberdade, realização
profissional, acesso aos serviços de saúde, tal como prevê a Constituição Federal ao
redimensionar a saúde do trabalho (CLT, 1943) na perspectiva do valor social do trabalho
(BRASIL, 1988).

A mudança cultural está, assim, em compreender que, ao interligar o plano individual-


ambiental ao plano social-gerencial, não faz mais sentido a visão ‘prevencionista’ de atribuir a
culpa aos indivíduos e secundariamente à gestão ou à organização, fato que tem contribuído
para imputar as causas do acidente de trabalho unicamente à conduta individual do trabalhador,
como aquele único que necessita de treinamento para se prevenir (MENDES E WÜNSCH,
2007, pág. 159).

Com efeito, reconhecer a interligação entre ações do trabalhador (plano individual-


ambiental) e exigências de gestão ou de relações de produção (plano social-gerencial) significa
80

ir além da visão do modelo cultural ‘prevencionista’, principalmente no que se refere às causas


dos acidentes.

Nesta perspectiva, o que constitui para o ‘prevencionismo’ a causa de acidentes (por


exemplo, os ‘atos inseguros’ do trabalhador), para o novo modelo cultural pode ser considerado
apenas uma ‘concausa’, que depende, segundo as autoras (op. Cit. 2007, pág. 159), de uma série
de fatores de ordem gerencial, tais como:

 Cansaço provocado por horas extras;


 Estafa crônica;
 Horas não dormidas;
 Alimentação e transporte deficientes;
 Precárias condições de trabalho;
 Manuseio de máquinas e equipamentos que requeiram atenção redobrada;
 Intensificação do ritmo de trabalho;
 Exigências de um trabalhador ‘multiuso’;
 Más condições de vida e de saúde.

Na visão de Barbosa Filho (2011, pág. 34 a 44), as causas de acidentes, em


circunstâncias assim (de ‘concausa’), referem-se, muitas vezes, aos aspectos humanos, isto é,
às condições interpessoais desconfortáveis de trabalho (no plano ético dos riscos ergonômicos
e mecânicos de acidentes outros), que não se limitam aos aspectos naturais dos riscos
ambientais (técnico-legais).

É preciso, pois, dar mais ênfase às falhas de projeto (riscos mecânicos) ou à faceta
psicossocial dos riscos ergonômicos, no que se refere à falta de sinergia entre trabalho prescrito
e trabalho real (Manual PME - Portugal internet), decorrentes de problemas que ocorrem em
nível de gestão (risco invisível do modelo de gestão), de hierarquia e decisão, de integração
com a equipe, de jornada e ritmo de trabalho e, inclusive de medidas preventivas mal
conduzidas, abrangendo ainda outros fatores, além dos já citados:

 Trabalho monótono / repetitivo;


 Ausência de autonomia / possibilidade de decisão ou controle sobre o trabalho;
 Trabalho por turnos suplementares;
 Trabalho com exposição a potenciais ameaças físicas e agressões verbais;
 Assédio, discriminação, ou falta de reconhecimento do trabalho.
.
81

Como se pode observar, o foco aqui está na esfera gerencial, ou seja, nas relações sociais
de trabalho e no componente humano de adaptação ao trabalho (OIT/OMS), quando a gestão
necessita levar em conta o modo de inserção social do trabalhador, sua experiência anterior na
atividade, sua qualificação, suas condições de vida (distância residência-trabalho, alimentação,
mobilidade social e geográfica, acesso aos bens e serviços), além de questões de gênero, idade,
antiguidade na empresa e principalmente de aptidão física e mental para a função ou para
suportar as exigências do cargo em condições mal conservadas (posto de trabalho).

Todos estes fatores multicausais, na verdade, extrapolam os limites da empresa, uma


vez que são determinados pelas condições históricas de como os sujeitos (gestores e
trabalhadores) se encontram inseridos no sistema produtivo (visão empresarial, visão laboral)
e que, por sua vez, determinam o modo de organizar e de realizar o trabalho (saudável ou não,
seguro ou não), isto é, todos aqueles fatores socioculturais que refletem o próprio modo de ser
e de viver do grupo social próximo organizado (BAKHTIN, 2004).

Para Mendes e Wünsch (2007, pág.160), a plena significação do ‘risco ocupacional


relativo às ações do indivíduo depende, pois, do risco geralmente ‘invisível ou natural’ na esfera
gerencial (no modelo de gestão), por exemplo, do risco subjacente à ‘carga de trabalho’,
afetando o equilíbrio entre os limites físicos, mentais e sociais do trabalhador e as exigências
ou condições ambientais de trabalho (físicas, químicas, biológicas, mecânicas de projeto,
ergonômicas).

A compreensão destes fatores multicausais pode assim modificar o entendimento que


se tem da relação causa-efeito do risco ocupacional prevencionista, uma vez que a ‘sobrecarga’
é certamente produto de uma mentalidade de trabalho geradora do risco sociocultural (invisível
ou ‘natural’), que, segundo Mendes e Wünsch (2007), está no modelo de gestão equivocado de
tratar dos riscos ocupacionais (no individual e no detalhe ambiental) sem levar em conta a
responsabilidade gerencial diante das condições de trabalho proporcionadas quando se exige,
por exemplo:

 Jornada prolongada de trabalho;


 Trabalhos em turnos alternantes que desestruturam o trabalhador;
 Ritmo acelerado e exigências referidas ao mesmo;
 Tempo de descanso insuficiente;
 Hierarquização rígida;
 Rotinas desumanas de controle do desempenho na produção;
82

 Sistema insatisfatório de segurança do trabalho;


 Rotatividade de pessoal;
 Desinformação;
 Desvios de função e acúmulo de funções;
 Relações interpessoais conflituosas, mágoas e insatisfação com chefias;
 Desconsideração pelas condições tensas de vida do trabalhador (por perdas
materiais e afetivas), além da pressão dos frequentes riscos ambientais (físicos,
químicos, biológicos, etc.).

Com efeito, o reconhecimento do risco subjacente à ‘carga de trabalho’, além de


redimensionar o conceito de ‘risco ocupacional’, traz à tona a questão dos problemas subjetivos
de insatisfação e de queixa, quando o modelo de gestão não promove a sinergia entre homem-
trabalho, ou quando não faz a antecipação do risco por erro de projeto (Manual PME, Portugal,
internet).

Assim, a insatisfação implica, ao mesmo tempo, a dimensão ergonômica psicossocial


da ‘carga de trabalho’ e os erros de projeto (mecânico), quando, por exemplo, o equipamento
não apresenta proteção ou quando não há adequada manutenção das máquinas e equipamentos,
problemática, que segundo Mendes e Wünsch (2007, pág. 159), apresenta ainda as seguintes
implicações:

Nas situações em que se pode reconhecer o dano à saúde, pouco se tem olhado
para o “controle” da carga de trabalho; além disso, a prevenção e a eliminação dos
riscos não têm levado em conta a progressividade do desgaste humano lentamente
acumulado, que não é só físico. Esta realidade demarca aos empregadores a
necessidade de reverem não apenas as condições ambientais e organizacionais do
trabalho, mas também seus modelos de gestão da saúde para o trabalhador (op. Cit.
2007, pág. 159).
Ligados à dinâmica da produção e às condições de trabalho e de vida, os riscos
ocupacionais podem, pois, estar interligados aos riscos da sobrecarga, sendo assim produto da
falta de sincronia entre o trabalho proposto e o trabalho real, ou quando a gestão deixa de
redimensionar as condições reais do trabalho, no sentido de não querer torná-lo adequado às
condições ergonômicas psicossociais (op. Cit. 2007, pág. 160).

Resulta, assim, que a adaptação homem-trabalho implica em reciprocidade, no sentido


de que é preciso adaptar também o ambiente às condições do trabalhador e não apenas o
trabalhador ao sistema do trabalho previamente estruturado.

No que se refere à sinergia entre trabalho e vida’ (saúde), o fator subjetivo de satisfação
e de saúde física, mental e social do trabalhador depende, assim, de ‘pactuações’ (intersetoriais)
83

em torno de prioridades, de relações horizontais, e de práticas inovadoras, (transdisciplinares)


que promovam equilíbrio entre ‘trabalho proposto e trabalho real’, enfim de uma nova cultura
de gestão que, de fato, promova a segurança e a saúde integral do trabalhador.

Do exposto, conclui-se que redimensionar o conceito de prevenção individualizada da


‘saúde como ausência da doença’ depende da consciência que se tem de fatores sociais que
podem dificultar o desenvolvimento de uma nova cultura de gestão preventiva, que consiste, de
um lado, no processo educativo ‘transdisciplinar’ de promover valores e condutas que
expressem a sinergia entre as condições de vida e de trabalho (saúde integral do trabalhador),
e, de outro lado, o processo participativo ‘intersetorial’ de envolver diferentes instâncias
(públicas e privadas) de tomada de decisão (empresários, trabalhadores, especialistas, gestores
de políticas públicas na área da saúde, trabalho, emprego e previdência social).

4.1.2 Determinantes econômicos da saúde e segurança do trabalho

Repensar, em termos econômicos, a gestão dos atuais programas de prevenção


acidentária (do risco indenizável) no sentido de ampliá-la em direção da ‘saúde social do
trabalhador’ significa perguntar até que ponto as condições de trabalho e de produtividade se
encontram interligadas, tendo em vista a superada cultura de produzir sem levar em conta os
riscos de doença ou mesmo a morte dos trabalhadores.

Na atualidade, em que certificações de Selos de Qualidade Empresarial e Ambiental


ganham tanta importância, o despertar de consciências para acelerar a prevenção e a promoção
da saúde e segurança do trabalho tem gerado uma série de decisões e medidas que, sob o
pretexto de gerar uma ‘boa imagem’ para a empresa, acabaram por reduzir a prevenção a um
‘documento cartorial’, sem se dar conta dos reais prejuízos dessa política administrativa
equivocada e financeiramente pouco vantajosa.

Como se sabe, os prejuízos por falhas na prevenção de acidentes têm um custo indireto
quatro vezes maior que o custo direto de prevenção de riscos ambientais e de agravo com
assistência médica e com indenizações, concorrendo, segundo especialistas (Manual PME,
Portugal - internet), para uma série de perdas de rentabilidade e de produtividade, em vista dos
seguintes fatores:

 Perda de horas de trabalho pela vítima;


 Perda de horas de trabalho pelas testemunhas e responsáveis;
 Perda de horas de trabalho pelas pessoas encarregadas dos inquéritos;
 Interrupção da produção;
84

 Danos materiais;
 Atraso na execução do trabalho;
 Custos inerentes às peritagens e ações legais eventuais;
 Diminuição do rendimento durante a substituição;
 A retomada de trabalho pela vítima.

Ao se referir ao impacto dos acidentes e doenças do trabalho, o professor Gardinalli


(Manual do professor José R. Gardinalli – Eng. Mecânico em Seg. trabalho - internet), considera
que a questão financeira e social com acidentes e doenças do trabalho é negativa sob todos os
aspectos, pois provoca danos e desgastes ao trabalhador (morte, incapacitação, tratamento,
marginalização, dependência a terceiros, etc.) e prejuízos à empresa e à sociedade (custo do
segurado, custos indiretos já citados).

Com relação às perdas de produtividade e ao custo gerado pela má gestão do trabalho,


estudos apontam que o processo repetitivo e monótono da tecnologia industrial moderna tem
sido uma constante ‘fonte de insatisfação’, e que, em contrapartida, o “corpo humano, apesar
de sua imensa capacidade de adaptação, tem um rendimento muito maior quando o trabalho
concorre para condições ótimas” (PME, Portugal).

Estes estudos comprovam ainda que, em muitos casos, é possível aumentar a


produtividade, sem aumentar a sinistralidade, simplesmente melhorando condições de trabalho,
de um lado evitando a exposição dos trabalhadores a riscos profissionais graves, e de outro
lado, diminuindo a insatisfação dos trabalhadores com a má gestão entre o trabalho prescrito e
do trabalho real, isto é, entre exigências que se faz e as condições que se oferece para realizar
o trabalho (PME, Portugal).

Com efeito, as boas condições de trabalho, segundo Gardinalli (Manual, 2012, internet),
auxiliam na sensibilização de todos para o desenvolvimento de uma consciência coletiva de
respeito à integridade física e psicossocial dos trabalhadores no ambiente de trabalho, o que, no
caso das pequenas empresas, isso acontece naturalmente com a participação do próprio
empreendedor e dos próprios trabalhadores na identificação de riscos ocupacionais e de
‘sobrecarga’, tornando as condições de trabalho menos sinistras e mais competitivas.

Desta forma, pode-se afirmar que frequentemente a produtividade é melhorada quando


o ambiente de trabalho se conjuga com as características físicas e mentais do trabalhador, ou
como já foi dito, com maior ergonomia (adaptação social e física) e com maior adequação
85

logística e mecânica do trabalho, o que pode representar o início de uma nova cultura de gestão
de segurança e saúde, enfim de resgate do valor social do trabalho

Aqui não se trata de transformar o programa de prevenção e de promoção da saúde do


trabalhador num pretexto para melhorar a produtividade, mas de promover a sinergia entre
trabalho e saúde, que resulta, ao mesmo tempo, em bem-estar e produtividade, ou como já foi
dito em ‘condições ótimas de trabalho’ baseadas na parceria e na responsabilidade social,
inclusive no que tange aos custos com a responsabilização judicial, quando ‘o ato lesivo causar
perigo para a vida e a saúde de outrem’ (código civil).

Para evitar responsabilização dessa natureza, é importante que a empresa implante ações
permanentes de melhoria da saúde, higiene e segurança dos trabalhadores. E por se tratar
sempre de um dano a ser indenizado, resta ao funcionário e ao empregador compreender que o
acidente ou doença do trabalho resulta invariavelmente em despesa para ambos, razão porque
‘investir em prevenção dos acidentes de trabalho é, na verdade, um bom negócio’ (PME,
Portugal).

Com já foi dito anteriormente, a Lei 10.666/2003 que instituiu o FAP (Fator Acidentário
Previdenciário) promove este entendimento ao tornar obrigatório o recolhimento do seguro de
acidente de trabalho por parte das empresas, que consiste de um percentual descontado sobre a
folha de pagamento dependendo do risco de acidente de trabalho existente na empresa, podendo
ser reduzido ou ampliado (BARBOSA FILHO, 2011, pág. 24).

Neste sentido, a finalidade do FAP é de incentivar a melhoria das condições de trabalho


e da saúde do trabalhador, estimulando e beneficiando as empresas que possuem políticas mais
efetivas de saúde e segurança do trabalho para reduzir a ‘acidentalidade’. O FAP é um índice
que pode reduzir pela metade, ou duplicar a alíquota de contribuição do Seguro de Acidentes
de Trabalho – SAT/RAT, pago pelas empresas sobre a folha de pagamento, conforme o
enquadramento em risco leve (1%), risco médio (2%), e risco grave (3%). Em se tratando de
um índice individual para cada empresa, o FAP pode variar anualmente e será calculado sempre
sobre os dois últimos anos de todo o histórico de ‘acidentabilildade’ e de registros acidentários
da previdência social para aquela empresa.

Recentemente (Jan/2013), o programa de FAP acrescentou novas regras que preveem


bonificação por redução do número de acidentes, de sorte que as empresas, que não investirem
em saúde e segurança, tem sua cobrança do SAT/RAT aumentada em até 100%, dependendo
do seu histórico de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais.
86

Como já foi dito, outro aspecto, que contribui para esta visão de que investir em saúde
e segurança pode ser um bom negócio, refere-se ao NTEP (Nexo Técnico Epidemológico),
instituído pela Lei nº. 11.430/2006 e regulamentado pelo Decreto nº. 6.042/2007 (ver NR-16),
que consiste na relação presumida entre ‘Atividades Econômicas’ (CNAE) e ‘Classificação
Internacional de Doenças’ (CID 10 da OMS), isto é, entre a atividade que o trabalhador
desenvolve e a estimativa de lesão/agravo dessa atividade, cuja relação é informada ao INSS,
evitando o mascaramento ou a ‘subnotificação’ de acidentes e doenças do trabalho, ficando o
ônus da prova por conta do empregador.

Para manter a ‘acidentalidade’ dentro desse indexador (NTEP), será um bom negócio
para a empresa investir em ações preventivas, notadamente em programas baseados no PCMSO
(Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) e no PPRA (Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais), previstos nas Normas Regulamentadoras NR-7 e NR-9 respectivamente
(BARBOSA FILHO, 2011, pág. 24).

A implementação dessas metodologias, que tem reunido governo, empresários e


trabalhadores em torno de um esforço conjunto (intersetorial) para gerar legislação voltada a
beneficiar a empresa que oferece maior segurança de trabalho, pode ser considerado uma
tentativa de promover a saúde ocupacional, no que se refere a um dos princípios fundamentais
do novo Estado do Direito, ou seja, ‘o valor social do trabalho’ (CONSTITUIÇÃO FEDERAL,
1988).

Produzir, pois, sem causar lesões ou doenças aos trabalhadores significa, de um lado,
evitar custos indenizatórios, e de outro lado, evitar fatores de risco e de insatisfação, que geram
invariavelmente diminuição de produtividade, desperdícios de material, aumento do número de
produtos defeituosos ou de serviços ineficientes, além de perda de credibilidade social e
competitividade econômica.

Condições ótimas de trabalho significam vantagens para a empresa e para o trabalhador.


Para o trabalhador, ao garantir a sua valorização pessoal e profissional, para o que contribuem
em muito as boas condições no seu posto de trabalho. Para a empresa, ao garantir maior
competitividade e menor desperdício de recursos humanos e monetários, além da questão da
imagem e da responsabilidade social (PME, Portugal).

Do exposto, conclui-se que a interligação entre produtividade e condições seguras e


saudáveis de trabalho, depende também da prevenção de acidentes de trabalho que se faz na
perspectiva da promoção da saúde e do bem-estar do trabalhador que, em curto prazo, contribui
87

para diminuir desperdícios de recursos humanos e monetários e, em longo prazo, melhora o


desempenho da empresa, através do aumento de sua competitividade, obtida em condições de
menor absentismo e sinistralidade.

4.1.3 Segurança e medicina do trabalho na nova cultura de gestão preventiva

Na perspectiva dos fatores sociais e econômicos que afetam a atual questão preventiva,
considera-se que a segurança e a medicina do trabalho estão a sofrer um redimensionamento
em que a análise dos riscos ocupacionais se desloca dos efeitos para as causas, implicando
naturalmente uma reavaliação da metodologia adotada, tendo em vista a nova cultura de gestão
preventiva no que se refere à promoção da saúde ocupacional (OIT/OMS).

Com efeito, como ciências distintas, segurança e medicina do trabalho são dois campos
de atividade que precisam estar intimamente relacionados quando se pretende ampliar a
segurança do trabalho na direção da saúde ocupacional como ‘um estado de bem-estar físico,
mental e social e não somente a ausência de doença e enfermidade’ (W.H.O., 1946).

O que se observa na prática da prevenção acidentária, tanto nas pequenas empresas


quanto na departamentalização das grandes empresas, é que, de um lado, o engenheiro de
segurança se ocupa em reconhecer e registrar os riscos de acidentes e requisitar medidas de
segurança cabíveis, e de outro lado, de posse desses dados, o médico se ocupa em fazer exames
e recomendar a prevenção adequada, ficando a cargo da administração da empresa a
responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as ações preventivas prescritas pelos especialistas,
geralmente sem ter participado efetivamente do processo de elaboração do plano preventivo
(Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais).

Sem dúvida, trata-se de um programa que carece de estratégias de gestão em termos de


desenvolvimento de ações efetivas de relacionamento (intersetorial) com seus ‘stakeholders’
(empregados, proprietários, consumidores, sindicados, governo, acionistas, fornecedores,
concorrentes, familiares, enfim, sociedade em geral) e, muitas vezes sem o devido ‘scaffolding’
transdisciplinar (de suporte ‘no e além’ dos serviços especializados) até que o projeto se torne
sustentável, no sentido de remover as causas sociais que impedem sua eficácia.

Sem sustentabilidade, um programa assim não pode ter solução de continuidade, a não
ser aquela de reeditar anualmente tal processo (cartorial), passando a ideia de que este é um
programa em que se espera prevenir o acidente sem se comprometer com a saúde do trabalhador
e sem mobilizar os trabalhadores e os gestores para o compromisso e para a cooperação efetiva.
88

Têm-se assim dois problemas. Um, de ordem conceitual (transdisciplinar) que consiste
na necessidade de integrar medicina e segurança preventiva do trabalho em torno não apenas
dos efeitos, mas das causas sociais que geram o risco ambiental (concausalidade) e outro, de
ordem gerencial (intersetorial) que consiste na unificação das políticas de gestão preventiva em
torno não apenas da prevenção, mas da promoção da saúde ocupacional plena (OMS/OIT).

A solução do problema implica, assim, uma nova visão cultural baseada na


reciprocidade entre prevenção e gestão, no sentido de que ‘haverá saúde ocupacional se houver
gestão de trabalho saudável e seguro’, isto é, quando o passo inicial consiste na “compreensão
de que a gestão (saudável e segura) é uma atividade coletiva e que, dessa forma, dever ser
exercida e realizada” (BARBOSA FILHO, 2011, pág. 5).

Para que isso seja possível, é necessário um redimensionamento do problema que


depende, de um lado, da forma ‘transdisciplinar’ de avaliar a prevenção do risco ambiental
(aceitável e indenizável - físico, químico, biológico, mecânico, ergonômico) pelos serviços
especializados (médico e de segurança técnica) e, de outro lado, da forma ‘intersetorial’ de
reconhecer e enfrentar o ‘risco invisível do modelo de gestão’ – se mais produção, ou se mais
humanização, ou se ambas (MENDES E WÜNSCH, 2007).

No que se refere ao serviço (transdisciplinar) de medicina e segurança preventiva, o


redimensionamento depende, como já foi dito, do avanço da consciência sobre a
‘concausalidade’ dos riscos ambientais, cuja análise e controle precisam estar relacionados ao
contexto das atuais tendências de ‘valor social do trabalho’ (CF. 1988).

Já o controle (intersetorial) dos ‘riscos invisíveis do modelo de gestão’ implica a nova


gestão capaz de assumir os desafios deste contexto de ‘concausalidade’, processo que diz
respeito a gestores, trabalhadores, serviços especializados, corporações e governantes.

Como aspectos interdependentes no contexto da nova cultura sobre a sinergia que


precisa existir entre homem e trabalho (OIT/OMS), gestão e prevenção se integram, assim, na
prática da ‘concausalidade’ entre questões intersetoriais e questões transdisciplinares, ou seja,
na sinergia que se pode observar melhor na faceta psicossocial dos riscos ergonômicos
(MENDES E WÜNSCH, 2007 e BARBOSA FILHO, 2011).

Aqui, a faceta psicossocial do risco ergonômico constitui, como já foi dito, uma
ampliação do conceito de ergonomia como “ciência que visa o ajustamento mútuo ideal entre
o homem e o seu ambiente de trabalho, cuja importância está na execução de tarefas feitas
com um mínimo de consumo energético, de modo a sobrar ‘atenção’ para o controle das tarefas
89

e dos produtos, assim como para a proteção do próprio trabalhador” (Manual PME, Portugal,
internet).

Significa, por exemplo, que, se, por um lado, o problema gerado pela monotonia
muscular de movimentos repetitivos (faceta fisiológica ergonômica) pode ser diagnosticado
objetivamente (na relação causa-efeito) como doença inflamatória (LER, DORT), por outro
lado, a falta de sinergia entre trabalho e vida (faceta psicossocial ergonômica) pode ser
observável apenas no plano da ‘concausalidade’ subjetiva (críticas, queixas, insatisfações,
patologias, distúrbios, desgaste emocional ou doenças desenvolvidas imperceptivelmente).

Ao ampliar o conceito de ergonomia (aspecto subjetivo da faceta psicossocial) amplia-


se, consequentemente, a percepção que se tem do acidente de trabalho, que, segundo estudiosos
(Manual PME, Portugal, internet), constitui sempre um fenômeno multicausal comparado ao
efeito dominó, de modo que qualquer um dos fatores do risco ambiental pode provocar um
acidente em cadeia (concausalidade), envolvendo fatores de ordem física, mental e social, assim
como:

1. O Ambiente Social do trabalhador que se relaciona com dois fatores principais, a


saber: Hereditariedade e Influência Social. As características físicas e psicológicas do
indivíduo são determinadas pela hereditariedade transmitida pelos pais. Por outro
lado, o comportamento de cada um é muitas vezes influenciado pelo ambiente social
em que cada um vive (modo de inserção no trabalho).
2. A causa pessoal que está relacionada com o conjunto de conhecimentos e habilidades
que cada um possui para desempenhar uma tarefa num dado momento. A
probabilidade de envolvimento em acidentes aumenta quando as condições
psicológicas não são as melhores (depressão), ou quando não existe preparação e
treino suficiente.
3. A causa mecânica (acidentes outros de trabalho) que diz respeito às falhas materiais
existentes no ambiente de trabalho. Quando o equipamento não apresenta proteção
para o trabalhador, quando a iluminação do ambiente de trabalho é deficiente ou
quando não há boa manutenção do equipamento, quando os riscos de acidente
aumentam consideravelmente.
4. O acidente provocado pelo desencadeamento do risco, em que um ou mais dos fatores
anteriores de risco se manifestam.
5. As consequências do acidente de trabalho que podem provocar lesão no trabalhador.

No que se refere ao aspecto da faceta psicossocial do risco ergonômico, a


‘concausalidade’ que se observa no efeito dominó (acidente em cadeia), na verdade, implica o
controle de fatores multicausais do risco ambiental, que se situam, de um lado, no ‘modelo de
gestão’ (que pode limitar a visão intersetorial da questão preventiva), de outro lado, no ‘modelo
de prevenção’ (que pode limitar a visão transdisciplinar do risco ambiental).

Como dois lados de uma mesma moeda, gestão e prevenção se conectam, quando se
reconhece que o risco ambiental é socialmente produzido, ou seja, quando se reconhece aquelas
forças socioeconômicas que determinam os ‘pactos sociais’ em torno da prevenção acidentária,
90

assim legitimados no contexto das políticas públicas sobre saúde e segurança do trabalho,
incluindo as questões legais.

Assim, a nova cultura de gestão preventiva que efetivamente promove o trabalho seguro
e saudável (condições ótimas de trabalho) acontece quando se forma efetivamente o tripé,
baseado nos aspectos intersetoriais (de gestão), nos aspectos transdisciplinares (de prevenção)
e nos aspectos políticos (legitimação de novos ‘pactos’ sociais trabalho seguro e saudável), tal
como se pode observar na Figura 2.

Figura 2 – Mapa Conceitual

Fonte: Próprio autor (2013)

Em se tratando de um processo social, de natureza ética, técnica e legal, Barbosa Filho


(2011, pág. 5-11) alerta para o fato de que é errôneo agir apenas como espectadores diante das
recomendações dos serviços técnicos (PPRA e PCMSO), até porque é preciso considerar o
caráter social mais amplo das políticas públicas que lhe dão coerência, no sentido de que a
saúde do trabalhador não se limita ao receituário técnico da prevenção acidentária.

Ampliar o conceito de prevenção significa, por suposto, aliar as políticas públicas com
o serviço técnico (segurança e medicina do trabalho) e gerencial a fim de promover uma nova
cultura de gestão preventiva, em que se desenvolva ‘condições ótimas de trabalho’ (saudáveis
e seguras), onde efetivamente se corte o risco ambiental pela raiz, de modo a ‘sobrar mais
tranquilidade e atenção pela tarefa’ (Manual PME, Portugal, internet), tendo em vista que:

O Emprego não deve representar somente o trabalho que se realiza num dado
local para auferir um ordenado, mas também uma oportunidade para a valorização
pessoal e profissional, para o que contribuem em muito as boas condições do posto de
trabalho.

Desta forma, integrar gestão e prevenção significa elevá-los ao nível das políticas
públicas da promoção da saúde e do ‘valor social do trabalho’ (CF., 1988), visando ‘adaptar o
91

trabalho ao homem e cada homem à sua atividade’ (OIT/OMS, 1950), sempre no sentido de
promover o “mais alto grau de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores de todas as
ocupações” (OIT/OMS).

Para os objetivos do presente estudo, trata-se de um desafio que implica a análise de


duas questões importantes: (a) a questão do uso de dispositivos de proteção individual (EPI)
como medida que deveria ser extrema no controle do risco ambiental e não apenas como
estratégia cômoda para a organização; (b) a reformulação dos conceitos da recorrente prevenção
acidentária (do risco aceitável e indenizável), em que o EPI pode se tornar aplicável, não sem
antes de ser avaliado na perspectiva da nova cultura de gestão preventiva.

a) Dispositivos de proteção individual no controle do risco de acidente de trabalho

Para compreender a questão do uso dos equipamentos de proteção individual (EPI),


como um dos meios de controle do risco ambiental, é preciso analisá-la à luz da atual política
de promoção da saúde ocupacional plena, ou seja, do processo cultural de, ao mesmo tempo,
‘adaptar o homem ao trabalho, e adaptar o trabalho ao homem’ (OIT/OMS, 1950).

Trata-se de ampliar a visão da prevenção acidentária, de não somente “ver


antecipadamente; chegar antes do acidente; tomar todas as providências para que o acidente
não tenha possibilidade do ocorrer”, mas de promover ‘condições ótimas de trabalho, de modo
que o uso de equipamentos individuais de proteção no posto de trabalho se torne, de fato, uma
medida extrema (Manual PME, Portugal, internet).

No posto de trabalho, onde convergem os diversos meios de produção (Homem,


Máquina, Energia, Matéria-prima, etc.), as medidas para melhorar as ‘condições de trabalho’
consistem certamente na possibilidade de trabalhar com um mínimo de desgaste’, ou seja, com
um mínimo de riscos de acidente (Manual PME, Portugal, internet).

Na prática, isso pode ser feito simplesmente ‘socializando’ atividades rotineiras já


existentes nos serviços especializados da prevenção acidentária, no sentido de procurar
respostas coletivas (multicausais) para perguntas individualizadas (técnicas):

1. O LOCAL DE TRABALHO:

 Tem acesso fácil e rápido?


 É bem iluminado?
 O piso é aderente e sem irregularidades?
 É suficientemente afastado dos outros postos de Trabalho?
 As escadas têm corrimão ou proteção lateral?
2. MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS;
92

 As cargas a movimentar são grandes ou pesadas?


 Encontram-se disponíveis equipamentos de transporte auxiliar?
 A cadência de transporte é elevada?
 Existem passagens e corredores com largura compatível?
 Existem marcações no solo delimitando zonas de movimentação?
 Existe carga exclusivamente Manual?
3. POSIÇÕES DE TRABALHO:

 O Operador trabalha de pé muito tempo?


 O Operador gira ou baixa-se frequentemente?
 O operador tem que se afastar para dar passagem a máquinas ou outros operadores?
 A altura e a posição das máquinas são adequadas?
 A distância entre a visão e o trabalho é correta?
4. CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS DO TRABALHO

 O trabalho é em turnos ou em expediente normal?


 O Operador realiza muitas Horas extras?
 A Tarefa é de alta cadência (picos) de produção?
 É exigida muita concentração devido a riscos da operação?
5. DISPOSITIVOS DE SEGURAN NAS MÁQUINAS (EPC)

 As engrenagens e partes móveis estão protegidas?


 Estão devidamente identificados os dispositivos de segurança?
 A formação do Operador é suficiente?
 A operação é rotineira e repetitiva?
6. RUÍDOS E VIBRAÇÕES (Riscos físicos)

 No Posto de Trabalho sentem-se vibrações ou ruído intenso?


 A máquina a operar oferece trepidação?
 Existem dispositivos que minimizem vibrações e ruído?
7. ILUMINAÇÃO:

 A iluminação é natural?
 Está bem orientada relativamente ao Posto de Trabalho?
 Existe alguma iluminação intermitente nas imediações do Posto de Trabalho?
8. RISCOS QUÍMICOS:

 O ar circundante tem Poeiras ou fumos?


 Existe algum cheiro persistente?
 Existe ventilação ou exaustão de ar no local?
 Os produtos químicos estão bem embalados?
 Os produtos químicos estão bem identificados?
 Existem resíduos de produtos no chão ou no Posto de Trabalho?
9. RISCOS BIOLÓGICOS:

 Há contato direto com animais?


 Há contato com sangue ou resíduos animais?
 Existem meios de desinfecção no Posto de Trabalho?
10. PESSOAL DE SOCORRO:

 EXISTE alguém com formação em primeiros socorros?


93

 Os números e sinais de alerta estão visíveis e atualizados?


 Existem caixas de primeiros socorros e Macas?

No tocante a todos estes questionamentos, ‘socializar’ significa compartilhá-los com


todos os protagonistas, de modo que a prevenção não se reduza apenas a questões
individualizadas do risco ambiental, mas a todas as questões ou causas sociais que o geram,
todavia, previsíveis e passíveis de prevenção, independentemente do fato de que sejam
evidentes ou não.

Por isso, no que se refere ao uso dos equipamentos de proteção individual (EPI), a
adoção de uma medida preventiva eficaz depende, segundo estudiosos (Manual PME, Portugal,
internet), necessariamente das prioridades de controle do risco ambiental que se estabelece
desde a concepção do projeto empresarial (do prédio e do modelo de gestão) até a concepção
do próprio ‘posto de trabalho’ (trabalho proposto e condições reais de trabalho), a saber:

1. Tal como se verifica no domínio da segurança, a prevenção mais eficaz em


matéria de higiene industrial (saúde ocupacional) exerce-se, também, no momento da
concepção do edifício, das instalações e dos processos de trabalho, pois todo o
melhoramento ou alteração posterior já não terá a eficácia desejada para proteger a
saúde dos trabalhadores e será certamente muito mais dispendiosa.
2. As operações perigosas (as que originam a poluição do meio ambiente ou
causam ruído ou vibrações) e as substâncias nocivas, susceptíveis de contaminar a
atmosfera do local de trabalho, devem ser substituídas por operações e substâncias
inofensivas ou menos nocivas.
3. Quando se torna impossível instalar um equipamento de segurança coletivo,
é necessário recorrer a medidas complementares de organização do trabalho, que, em
certos casos, podem comportar a redução dos tempos de exposição ao risco.
4. Quando as medidas técnicas coletivas e as medidas administrativas não são
suficientes para reduzir a exposição a um nível aceitável, deverá fornecer-se aos
trabalhadores um equipamento de proteção individual (EPI) apropriado.
5. Salvo casos excepcionais ou específicos de trabalho, não deve considerar-
se o equipamento de proteção individual como o método de segurança fundamental,
não só por razões fisiológicas, mas também por princípio, porque o trabalhador pode,
por diversas razões, deixar de utilizar o seu equipamento.

Em termos de prioridade, é preciso considerar, todavia, que o controle e o


monitoramento da insalubridade, da periculosidade ou do trabalho penoso (CF. 1988), não se
restringem às questões naturais do risco ambiental, mas ainda compreendem as questões sociais
que remontam ao modo de inserção social do trabalhador no sistema produtivo (BAKHTIN,
2004).

Assim, o processo de reconhecimento e controle do risco, que na prevenção acidentária


se faz no contraponto das questões teóricas (mapa de risco) e práticas (acidentalidade), precisa
94

ainda levar em consideração os problemas e as dificuldades dos trabalhadores quanto à forma


de se prevenir dos ‘riscos ocupacionais’ no ambiente laboral e fora dele.

Significa dizer que a priorização das questões preventivas não se esgota na visão
consensual e multidisciplinar em torno do que se entende por natureza e magnitude do risco
ambiental. Ela se define, na verdade, no plano da dimensão social e ética do que se entende por
segurança e saúde ocupacional e no valor social do trabalho.

Desta forma, a ordem prioritária no controle dos riscos ambientais no espaço social
próximo organizado (BAKHTIN, 2004) está em compreender a cultura preventiva da empresa,
sua história (acidentalidade), sua concepção na organização de cada posto de trabalho
(atividades prescritas e condições reais oferecidas), enfim em todas aquelas questões que
contribuem para caracterizar o modo de inserção social do trabalhador no sistema produtivo e
que, por sua vez, caracterizam sua inserção social no sistema de segurança e de saúde do
trabalho dentro e fora da empresa.

As questões teóricas e práticas sobre o modo de inserção social dos trabalhadores no


projeto preventivo da empresa servem, assim, de contraponto e de validação das mesmas
prioridades tecnicamente estabelecidas nos recorrentes programas de prevenção acidentária,
como aquelas que visam:

 Primeiramente, eliminar o risco (torná-lo inexistente, por exemplo, substituindo um


piso escorregadio por um antiderrapante);
 Em seguida, neutralizar o risco (solução temporária, por exemplo, pelo uso de anteparos
de proteção coletiva ou pelo uso de protetores pessoais);
 Finalmente, quando o risco não pode ser eliminado ou isolado, prover uma adequada
sinalização (por exemplo, não fumar ao manipular produtos inflamáveis, etc.).

Atribuir um caráter de natureza social à questão técnica das recorrentes prioridades


preventivas consiste, pois, em priorizar o aspecto da ‘concausalidade’ do risco ambiental, como
um fenômeno multicausal e não puramente natural (técnico), de modo que, por exemplo, a
decisão de prevenir o risco por ‘ato inseguro’ através de treinamento ou tratamento psicológico
pode ser uma medida não prioritária quando a prioridade poderia ser a decisão de ‘mitigar a
pressão desumana da sobrecarga de trabalho’ como a principal causa geradora do ‘ato
inseguro’.

Nesta perspectiva, a socialização das recorrentes medidas de neutralização do risco


ambiental da prevenção acidentária constitui, certamente, uma medida da maior importância no
95

plano da prevenção transdisciplinar, no momento em que, especialistas, gestores e


trabalhadores decidem cooperar para melhorar as condições de trabalho (Manual, EPM,
Portugal, internet), mediante as seguintes medidas administrativas de, por exemplo,
providenciar:

 Protetores fixos (anteparos evitando contato com polias de transmissão);


 Protetores móveis (que na sua remoção param automaticamente a máquina);
 Comando bi-manual (nas guilhotinas, obrigando o trabalhador a manter as duas
mãos ocupadas);
 Barreiras óticas (cortina de raios infra-vermelhos, que, ao ser tocada, interrompe
o funcionamento da máquina);
 Distância de segurança (de se posicionar fora da ‘zona perigosa’).

Em termos de neutralização do risco ambiental, a socialização da prevenção acidentária


pode ainda incluir diferentes medidas de proteção coletiva (EPC), mediante instalações
diversas, que incluam, por exemplo:

 Sistemas de exaustão que elimina gases, vapores ou poeiras contaminantes do


local de trabalho;
 ‘Enclausuramento’ de máquina ruidosa para livrar o ambiente do ruído
excessivo;
 Cabo de segurança para conter equipamentos suspensos sujeitos a esforços, caso
venham a se desprender;
 Instalação de indicadores de sinalização de segurança, etc.

Como se trata sempre de um processo que depende do aspecto social do processo


preventivo e não apenas das questões ambientais, é importante considerar que o EPC
(Equipamento coletivo de proteção) tem sempre preferência sobre a utilização do EPI
(Equipamentos de prevenção individual), uma vez que o EPC contribui para minimizar os
efeitos negativos de diversos riscos ambientais e, assim, dispensando o trabalhador de usar o
EPI.

Com efeito, na ‘concausalidade’ do ‘risco invisível de gestão’ (situado no plano


adaptativo homem-trabalho) e do risco ambiental (situado no plano técnico de prevenção), é
importante destacar que os EPIs não evitam acidentes, como acontece de forma eficaz com a
proteção coletiva. Apenas diminuem ou evitam lesões, daí porque seu uso deve decorrer de uma
96

decisão consciente, como medida extrema adotada no âmbito da gestão ética (participativa) e,
não apenas, no plano da decisão técnica e legal (BARBOSA FILHO, 2011).

Diga-se de passagem, que as recomendações da própria prevenção acidentária são feitas


no sentido de que o uso de EPI somente seja prescrito quando realmente não for mais possível
adotar medidas técnicas, administrativas e coletivas de segurança para garantir a proteção do
trabalhador contra os riscos de acidentes e doenças profissionais (Manual PME, Portugal,
internet).

Do exposto, conclui-se que a socialização da prevenção acidentária consiste no


desenvolvimento de uma nova cultura de gestão preventiva, baseada em prioridades sociais que
cercam o ‘posto de trabalho’, de modo que o uso de equipamentos individuais de proteção se
torne uma medida extrema, não sem antes considerar os limites de sua aplicação no âmbito das
políticas públicas e sociais de promoção da saúde do trabalhador.

b) Reformulação de conceitos de segurança e saúde na perspectiva da nova cultura


preventiva

A reformulação ou ampliação dos conceitos contidos na recorrente prevenção


acidentária consiste no fato de que a prevenção individualizada da saúde e da segurança do
trabalho precisa ainda ser analisada na perspectiva da promoção da saúde ocupacional plena,
representada nas condições de trabalho saudáveis e seguras extensivas a todos os trabalhadores
(OIT/OMS), o que implica uma série de questionamentos e mudanças conceituais, tendo em
vista as seguintes definições:

1. Prevenção Acidentária – Refere-se ao recorrente programa de prevenção de


acidentes, restrito ao aspecto técnico-legal do risco ambiental ‘aceitável e
indenizável’, que é aplicado, em geral, pelos serviços técnicos especializados no plano
da medicina e da segurança do trabalho (CLT). Estes serviços funcionam como dois
campos distintos, mas interdisciplinares e consensuais quando se trata de reconhecer
e controlar o risco ambiental no plano da prevenção acidentária. A limitação deste
sistema preventivo está em evitar o dano ou a doença do trabalho, sem
necessariamente se envolver com a promoção do valor social do trabalho e da saúde
do trabalhador (CF, 1988).
2. ‘Nova cultura de gestão preventiva’ – refere-se aos novos tempos de
ampliação da prevenção acidentária na direção não só da ausência da doença, mas da
promoção da saúde do trabalhador, quando a coletividade se apercebe que causas
atribuídas (por definição interdisciplinar e consensual) ao risco ambiental (por
exemplo, ao ato inseguro) como tecnicamente ‘naturais’ podem ter como ‘concausa’
(por definição transdisciplinar e intersetorial) fatores multicausais (por exemplo,
modelo de gestão, sobrecarga de trabalho, dramas familiares ou pessoais, etc.). A
nova cultura consiste, assim, em ver que a solução do problema não se restringe ao
plano técnico-legal do ‘risco aceitável ou indenizável’ (interdisciplinar e consensual),
mas implica ainda a ‘concausalidade’ (transdisciplinar e intersetorial) com o ‘risco
invisível de gestão’ (falhas no modelo de gestão, na instância do poder, dentro e fora
da empresa). Neste sentido, cabe ressaltar que o risco (aceitável ou não) constitui,
97

desde sempre, uma ameaça à saúde ocupacional (OIT/OMS), esta representada nas
‘condições saudáveis e seguras de trabalho’.
3. ‘Saúde ocupacional plena’ – É um conceito baseado na definição conjunta
de OIT/OMS, em que ‘saúde ocupacional’ significa ‘adaptar o trabalho ao homem e
cada homem à sua atividade’ (OIT/OMS, 1950), e ainda ‘melhorar as condições de
trabalho para que sejam compatíveis com a saúde e a segurança (...) e desenvolver
culturas empresariais em nível de gestão que contribuam para isso’ (OIT/OMS,
1995). Trata-se de uma definição que, na interface da gestão, integra medicina e
segurança do trabalho (CLT, 1943) não só para prevenir, mas ainda para promover
saúde ocupacional, aspecto que, neste estudo, é considerado na perspectiva do ‘valor
social do trabalho’ e do direito do cidadão à saúde (CF, 1988), isto é, como ‘saúde
ocupacional plena’.
4. Valor social do trabalho – É um conceito que se refere à valorização do
trabalho seguro e saudável, como um estado de bem-estar físico, mental e social,
incluindo fatores de ordem psicossocial, como alimentação, educação, habitação e
transporte, meio ambiente, salário justo, trabalho digno e adequado às aptidões, lazer
e liberdade, tal como prevê a Constituição Federal (1988) ao redimensionar a
medicina do trabalho e a segurança preventiva (CLT) como um direito do trabalhador.
7. Riscos invisíveis de gestão – São falhas de projeto e de gestão no plano
adaptativo homem-trabalho (faceta ergonômica psicossocial), quando, por exemplo,
a falta de equilíbrio entre trabalho proposto e trabalho real pode causar
progressivamente sofrimento ou insatisfação (desgastes ou doenças silenciosas), e
cuja prevenção não se faz sem a imprescindível participação dos protagonistas
(gestores, trabalhadores, técnicos, sindicatos, governo, etc.). Neste sentido, implica
um esforço transdisciplinar e intersetorial de promover sinergia entre trabalho
(produção) e vida (humanização), libertando a gestão preventiva da histórica primazia
dos aspectos produtivos sobre os aspectos humanos.
8. Riscos ambientais – Referem-se aos agentes físicos, químicos, biológicos,
mecânicos e ergonômicos considerados pelos serviços técnicos de prevenção como
causadores ‘naturais’ do acidente de trabalho e que ocorrem, geralmente, no plano das
ações individualizadas. Neste estudo, as causas dos riscos ambientais devem ser
analisadas ainda na perspectiva dos ‘riscos invisíveis de gestão’, ou seja, na
‘concausalidade’ destes com aqueles.
9. Acidente de trabalho – Não é apenas um infortúnio assim como se costuma
considerar no âmbito da recorrente prevenção acidentária, até porque acidentes de
trabalho são sempre socialmente produzidos, e como tal, previsíveis e passíveis de
prevenção, independentemente do fato de que as questões sociais relativas às causas
do acidente sejam evidentes ou não. Neste sentido, o acidente de trabalho implica, em
geral, uma questão multicausal, que se revela na ‘concausalidade’ de aspectos sociais,
pessoais e materiais.
10. Uso dos EPIs – Consiste, em geral, no uso de equipamentos de proteção de
praticamente todas as partes do corpo: capacete de segurança (para se proteger contra
impactos na cabeça e no crânio); Óculos (para proteger os olhos contra limalhas,
estilhaços, etc.); Protetor Respiratório (para proteger as vias respiratórias e pulmões
de poeiras, gases, etc.); Máscara (para se proteger de raios infravermelhos ou
ultravioletas, e de químicos); Protetores auriculares (para se proteger contra ruídos,
etc.); Luvas (para proteger mãos e braços de produtos químicos, de queimaduras, etc.);
Botas (para proteger pés e pernas de ambientes úmidos ou da eletricidade, etc.);
Aventais (para proteger o tronco de produtos químicos, choques, queimaduras, cortes,
etc.). Por não evitar, nem eliminar o risco e por se constituir em um incômodo para
quem o usa, o EPI deve ser prescrito como medida extrema, baseado numa decisão
transdisciplinar e intersetorial (pois, além do aspecto técnico e legal).
98

4.2 METODOLOGIA: CLASSIFICAÇÃO E PLANEJAMENTO DA PESQUISA

Na qualidade de um estudo acadêmico do curso de Engenharia de Segurança do


Trabalho, em nível de pós-graduação (Lato Sensu), a metodologia e o planejamento desta
pesquisa se baseiam no levantamento bibliográfico, desenvolvido a partir de estudos
exploratórios sobre a recorrente prevenção acidentária (no plano técnico e legal) e na
observação crítica das limitações dela, notadamente na questão do uso de equipamentos de
proteção individual (EPI) em empresa no ramo da atividade gráfica.

4.2.1 Classificação da pesquisa

A presente pesquisa pode ser classificada como um ‘estudo de caso’, que, do ponto de
vista dos procedimentos, é baseada na metodologia de pesquisa de campo, que consiste na
observação de fatos e problemas que ocorrem no plano da ação preventiva (uso de EPIs) e na
coleta de dados sobre esses mesmos fatos.

Quanto à forma de abordagem, a pesquisa se baseia em informações quantitativas e


qualitativas, interpretadas à luz das causas ambientais e psicossociais que determinam os
aspectos que envolvem a recorrente prevenção acidentária, por exemplo, daquelas causas
sociais que determinam os chamados ‘atos inseguros’, tal como são os próprios atos de recusa
dos trabalhadores com relação ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

4.2.2 Planejamento da pesquisa

Ao se basear na problemática dos aspectos legais, técnicos e éticos ou psicossociais da


prevenção acidentária, o planejamento da pesquisa se desenvolve dentro da possibilidade
surgida de aplicar o estudo de caso numa microempresa, em expansão, no ramo da atividade
gráfica, como um caso representativo das práticas de prevenção comumente adotadas em
empresas deste perfil, principalmente no que se refere aos problemas relacionados com a
questão do uso dos dispositivos de proteção individual (EPI).

a) Procedimentos de coleta e interpretação de dados

Os procedimentos de coleta e interpretação de dados da pesquisa constituem-se de uma


combinação de técnicas, visando o levantamento de registros documentais e depoimentos sobre
as ações e decisões que, de um lado, tornam visível o histórico da prevenção acidentária na
empresa e, de outro lado, caracterizam a decisão técnica de prescrever o uso de EPI, e que,
afinal, não recebeu a devida atenção dos protagonistas e beneficiários do programa preventivo
da empresa (objeto deste estudo de caso).
99

No plano da antecipação, reconhecimento e controle do risco ambiental, notadamente


no que se refere aos dispositivos de proteção (EPIs), a coleta e a interpretação de dados inclui,
pois, aspectos diversos da pesquisa de campo que concorrem para caracterizar o
redimensionamento da prevenção acidentária em termos de organização consensual-
intersetorial e de visão interdisciplinar-transdisciplinar em diferentes planos culturais (no dia-
a-dia da empresa, na visão do PPRA-PCMSO, e na perspectiva da nova cultura de gestão
preventiva).

b) Local do estudo de caso

O presente estudo de caso foi desenvolvido em uma microempresa, em expansão, no


ramo da atividade gráfica, registrada no CNAE do Ministério da Fazenda, com inscrição
estadual (isenta), cuja atividade específica se enquadra na seguinte classificação: “Edição
integrada à impressão de jornais”.

Pela Classificação Nacional de Atividade Econômicas – CNAE – a descrição da


empresa e o seu grau de risco de acidente do trabalho associado é definida como sendo de nível
3 (risco três, substancial). Este grau de risco determina, inclusive, a alíquota de contribuição da
empresa para o financiamento dos gastos com benefícios decorrentes de acidentes de trabalho.

Com relação ao quadro de funcionários e suas atribuições, a empresa gráfica integra


basicamente os postos de trabalho relativos à etapa de impressão, que conta com 3 ou 4
impressores (operadores de máquinas impressoras), os postos de trabalho relativos à etapa de
pós-impressão, que inclui os serviços de acabamento como o de operador de guilhotinas (aparar
papeis), o serviço de encartador e o serviço de encadernação, e ainda os postos de trabalho
relativos à etapa de pré-impressão que inclui os serviços de diagramação (arte no computador),
além do serviço administrativo (vendedor externo) e de coordenação e direção geral, também
responsáveis pelos orçamentos e contabilização de resultados (Anexos A4 e B3).

Ao longo da pesquisa de campo serão apresentados maiores informações sobre a


prescrição de atividades e a organização do sistema produtivo, principalmente no que se refere
à análise preliminar de riscos ambientais (APR), assim como a descrição dos postos de trabalho,
o mapa físico das edificações e dos riscos ambientais na planta da empresa.
100

4.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS SOBRE O USO DE EPI NA


PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA DA EMPRESA

A apresentação e análise dos resultados e dados seletivos, pesquisados através de


registros e depoimentos seguem a pauta prescrita no item (anterior) referente aos procedimentos
metodológicos, a saber:

a) Resultados sobre a cultura preventiva existente na empresa, no que se refere ao


reconhecimento dos riscos pontuais, o histórico de acidentalidade, e a percepção dos
protagonistas sobre a importância da prevenção e do uso de EPIs;
b) Resultados sobre a cultura programática da prevenção acidentária existente na
empresa (PPRA/PCMSO), tendo em vista a prescrição do uso de EPIs;
c) Análise conclusiva sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) na
perspectiva da nova cultura de gestão preventiva (transdisciplinar e intersetorial) da
empresa.

4.3.1 O EPI na cultura preventiva da empresa

Sob o ponto de vista cultural e das questões relacionadas com a problemática da


segurança e saúde do trabalho no âmbito da empresa, a impressão geral é de que a administração
da empresa possui um bom domínio sobre o tema, pelo menos no plano do conhecimento
teórico da literatura técnica sobre prevenção acidentária, o que não necessariamente ocorre com
a equipe de trabalho como um todo.

Este fato pode ser observado na ilustração no ‘mapa de riscos na planta da empresa’,
confeccionado e desenhado pelo autor do presente estudo de caso com a valiosa participação
da equipe administrativa da empresa, conforme está representado na figura 3, a seguir:
101

Figura 3 – Mapa de riscos ambientais (teórico) na planta da empresa

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012).

Nesta planta, e tendo em vista seu layout único, estão localizados todos os possíveis
riscos ambientais que teoricamente podem existir, segundo SESI (SP, 2006), em qualquer
indústria gráfica, inclusive quanto à sua magnitude, mas que, na visão da maioria dos
funcionários da empresa, como se verá mais adiante, no posicionamento deles em relação ao
uso de EPIs, implicam uma visão bem menos complicada.

Porém, permanecendo no plano teórico de riscos na planta da empresa, observa-se que


quase todos os riscos ambientais se concentram presumivelmente no salão central, como aquele
local (se ali ainda for incluído o depósito de resíduos) onde há a possibilidade de riscos
ambientais de toda ordem (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos), quase
todos avaliados como sendo de mediana gravidade.

É neste espaço (salão central), onde se encontra instalada a maquinaria do setor gráfico
e onde se realiza o uso e manejo dos produtos químicos (alguns tóxicos e inflamáveis),
transformando o ambiente em um ‘local multiuso’, como se pode observar na diversidade de
máquinas, de materiais e de produtos químicos ali concentrados (ver figuras):
102

Figura 4 – Instalações no salão central da Empresa (setor produtivo)

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012).

Figura 5 – Estoque (depósito de resíduos e de produtos químicos).

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)

Ao confrontar as ilustrações do mapa de riscos na planta da empresa (Fig. 3) com as


descrições dos processos de trabalho descritos no fluxograma da empresa (Fig. 4, abaixo), é
possível observar que o salão central é também um local onde se realiza e se desenvolve,
paralelamente, a etapa da impressão (máquinas impressoras), e a etapa da pós-impressão
103

(encadernação, corte, vinco, prensas e guilhotinas) e ainda alguns serviços relacionados com a
etapa da pré-impressão (acabamento de matrizes).

Figura 6 – Fluxograma da Empresa

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2013).

De acordo com o fluxograma, em tese, não parece haver dúvidas que a organização do
trabalho segue o ordenamento de um sistema de produção, dividido em três etapas distintas
(pré-impressão, impressão e pós-impressão), sugerindo uma divisão clássica de processos de
produção para cada etapa, com serviços e ambientes de trabalho separados.

Na prática, porém, essa divisão por etapas (fluxograma), como se pode observar no
layout na planta da empresa (Fig. 3), ocorre em um único ambiente, no salão central apresentado
como um local diversificado, onde se realizam serviços múltiplos (mix de serviços e de
instalações), incluindo e abrangendo atividades e atribuições que se referem a diferentes etapas.

a) Fluxos de serviços e espaços de produção na visão dos protagonistas

Para se compreender melhor toda esta problemática (‘mix’), o presente estudo de caso
procedeu ao detalhamento do fluxograma da empresa com o apoio do serviço administrativo,
resultando em uma explicação pormenorizada de cada etapa da produção gráfica (pré-
impressão, impressão e pós-impressão), como se pode observar, a seguir:

Na etapa da pré-impressão, primeiramente, o cliente conversa com o setor


administrativo informando sobre o tipo de material que gostaria de fazer (ex.: folders,
104

calendários, bloco de notas, materiais publicitários, convites, livros,


periódicos/revistas, jornais, etc.), depois é discutida a criação da arte até o cliente
aprovar ou, se ele vier com a arte pronta, faz-se o acerto de valores para imprimir o
material.
Quando é aprovado a arte e o valor da impressão do material, o setor
administrativo gera uma ordem de serviço para que o setor produtivo da empresa
possa começar a produzir o material (que inclui a preparação de matrizes).
Para definir a preparação de matrizes é preciso optar, porque existem dois
métodos de imprimir os materiais pela empresa: offset e digital.
A (matriz) digital é impressa diretamente no setor administrativo (na
impressora digital – Figura 7) para volumes de materiais menores, sendo mais
utilizada para imprimir convites em pequenas tiragens, pois a impressão nas máquinas
existentes no setor de produção (offset, etc.) vale mais a pena para grandes tiragens
de materiais.
(A matriz para) a offset depende do tipo de impressão do material acertado
com o cliente, que pode ser gerada em um dos dois tipos de chapa para offset. Se o
material a imprimir precisa de mais qualidade, é utilizada a criação da chapa através
do CtP (uma máquina que gera a chapa através de laser), senão é gerada uma chapa
pelo método CtF (geração da chapa através da luz - fotolito) para a impressora (GTO),
de menor qualidade de impressão.
No sistema CtF, o arquivo gerado no computador é transferido para um filme
especial (poliester) através de uma ‘imagesetter’, esse filme é fixado à chapa que, por
sua vez, é exposta à luz. Esse processo também é conhecido como fotolito (sistema
antigo em desuso).
Pelo novo sistema CtP (Figura 7), não é necessária a confecção do filme, pois
o arquivo produzido é "gravado" diretamente na chapa através de laser em uma
platesetter.
Figura 7 – CtP (para impressão offset) e o setor de criação (impressão digital)

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)

Com relação ao novo sistema CtP, a empresa adquiriu recentemente uma


máquina (azura c95) para melhorar a fixação da imagem na chapa (chapas geradas no
CtP). Sem essa máquina (lavadora de chapa), no sistema antigo (também em desuso),
a chapa era colocada diretamente na impressora, quando a qualidade de impressão se
limitava a 500 folhas (chamadas de mala - folhas descartadas), tendo em vista o custo/
hora de produção e desperdício de material. Com a utilização desta máquina (azura
c95), a chapa dura mais e dela se consegue tirar mais impressões.
No que se refere ao sistema CTF e CTP, a diferença entre os dois sistemas não
está apenas na sua qualidade e economicidade, mas no fato de que as chapas geradas
pelo método CtP são feitas pelo setor administrativo (em sala separada) e as chapas
105

CtF são geralmente feitas pelo setor produtivo (em ambiente contíguo ao setor de
impressão).

Com base neste descritivo, é possível observar que a etapa da pré-impressão abrange,
de fato, serviços que se realizam em diferentes espaços e em alguns deles apontados como
críticos no mapa de riscos na planta da empresa (Fig. 3).

É o caso do serviço de produção de chapas na sala CtP (raios laser de grau médio) e de
chapas CtF no ambiente contíguo ao salão central (exposição aos poluentes químicos e
radiações), quando funcionários de diferentes setores se envolvem com este trabalho (produção
de chapas), ficando expostos a determinados riscos que, no plano da recorrente prevenção
acidentária, demandariam necessariamente o uso de EPIs.

Além disso, é possível inferir que a criação da arte (matrizes) não se constitui de um
serviço realizado unicamente no âmbito das funções que compõem a etapa da pré-impressão,
mas ainda implica a etapa dos serviços administrativos e os serviços que se situam já na área
da produção propriamente dita, ou seja, junto ao setor de impressão e na interação direta com
os impressores.

No que se refere, especificamente, à etapa da impressão, esta fase apresenta uma


complexidade ainda maior, tal como se pode observar na seguinte descrição fornecida pela
equipe administrativa da empresa:

Na etapa da impressão, há um total de três impressoras offset: Komori, Harris


e GTO; e duas impressoras digitais (anexo ao serviço administrativo), sendo que a
empresa conta com 4 impressores (funcionários) para poder, assim, possibilitar uma
maior opção e diversidade de (turnos e) horários de impressão, no caso de picos de
trabalho intenso.
Para imprimir na Komori (OFFSET KOMORI 228 ll P 52X74 BICOLOR),
uma máquina de impressão vertiginosa (Figura 8), é necessário gerar mais de uma arte
(chapa CTF), pois esta impressora bicolor só imprime duas cores por vez. O sistema
de cores é o de CMYK (cyan, magent, yellow e key=preto), mas também se pode usar
da tinta ‘pantone’, acrescida de uma cor não primária durante a impressão para dar
mais qualidade na cor (contato com químicos nocivos), mantendo-a o mais próximo
possível da cor aprovada na arte do material. Por isso, dependendo da quantidade de
cores utilizadas o cliente pode pagar mais barato ou mais caro.
106

Figura 8 – Mesa junto à impressora offset Komori

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)

Em seguida, o impressor instala as tintas no compartimento da impressora (ver


figuras 5 e 8), ajeitando as duas chapas para, enfim, colocar as folhas de papéis e
começar o processo de impressão.
Se o material a ser impresso for mais de duas cores, o impressor limpa a
máquina para não ficar nenhum resto de tinta, para colocar as outras tintas e, em
seguida pega as folhas da pilha de papel impresso do primeiro processo, recolocando-
as na máquina para reimprimi-las, gerando as cores desejadas.
O processo com a Harris é o mesmo sistema da Komori, sendo uma impressora
também bicolor, porém mais antiga e com alguns problemas mecânicos (isolamento
e aterramento), além de desenvolver uma velocidade de impressão menor que a da
Komori.
Figura 9 – Impressora Harris e impressora GTO

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)

Já a GTO é uma impressora offset de uma só cor, usada para até 5.000 tiragens.
Acima disso, vale a pena fazer o serviço de impressão nas outras impressoras offsets.
Ela serve para imprimir impressos de menor qualidade como: notas fiscais, blocos,
etc. Neste processo, geralmente se utiliza mais da cor preta e as chapas são de CTF
(fotolito), de menor qualidade, porém compensam, pois o processo é mais barato que
o método do CTP (laser).
107

No que se refere às impressoras digitais existentes no setor administrativo (ver


Figura 7), seu funcionamento é semelhante ao das impressoras a laser que existem nas
casas e escritórios, só tendo mais qualidade de impressão. Elas não precisam de chapas
para imprimir, o comando de impressão é gerado diretamente do computador.
Com base neste descritivo, é possível constatar que a organização da etapa da impressão
requer espaços específicos, pois algumas funções só podem ser exercidas por profissional
específico (impressor, operador de máquinas em geral), tal como ocorre com os profissionais
de diagramação na etapa da pré-impressão (arte gráfica de diagramação).

Mas, na prática, observa-se que o operador (o impressor) se envolve, eventualmente


com diferentes funções e espaços diversificados, quando realiza a preparação de chapas (pré-
impressão) ou os serviços auxiliares de manutenção e de acabamentos (pós-impressão).

Neste sentido, a etapa de impressão abrange serviços que necessitam de ser


compartilhados tanto com o setor administrativo quanto com o setor de produção propriamente
dito, que acontece no salão central, e onde os serviços de impressão se juntam com serviços de
outras etapas (Fig.3).

Para obter uma melhor compreensão desse ambiente laboral de etapas integradas e
paralelas, é importante juntar as informações que o setor administrativo da empresa fornece
sobre a etapa da pós-impressão, também denominada de etapa dos acabamentos:

A empresa possui diversas máquinas que fazem parte da etapa de pós-


impressão ao lado de outros serviços de acabamento dos impressos (encarte,
encadernação, picote, vinco, corte, grampos, colagem, etc.), o que implica o manejo
e a operação das seguintes máquinas e equipamentos no processo de acabamento ou
de pós-impressão (ver Figura 10 adiante):

 Serrilhadora BMS 500/680 mm: equipamento para fazer vinco, corte,


meio-corte, serrilha, micro-serrilha;
 Heidelberg Cylinder 46x58,5cm (ver Figura 13, adiante): máquina
para fazer corte, semi-corte, vinco e picote. O risco está relacionado às facas, que são
lâminas de aço montadas sobre uma base de madeira (Ver adiante a foto da máquina
onde já ocorreu um acidente). Nesta máquina já ocorreu um acidente por corte leve
na mão.
 Guilhotina Guowang 82x120cm: ela serve para cortar os papéis no
formato correto, pois além de o material implicar ‘sangria’, eles são impressos em um
tamanho, geralmente, 66x96, 64x88, 72x102, incluindo vários materiais que precisam
ser cortados (Ver Figuras 10 e 12). Nesta guilhotina já ocorreu um acidente por
esmagamento de dedos (ver adiante).
108

Figura 10 – Da esq. Para dir.: Guilhotina antiga, guilhotina nova e picotadeira

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)

 Abaumhak 350/4 Vacuum Feed: é uma máquina dobradora


alimentada a vácuo para separar as folhas com ar, onde ela tem as opções de dobras
de: Sanfona tripla, Sanfona quadrupla, Envelope sem meio, Envelope triplo, Tripla no
meio, Envelope triplo sanfonado.
 Dobradeira 35x60: outra máquina para fazer dobragem do material
impresso.
 Grampeadeira Funtimod: agrupa os papéis impressos e dobrados (os
cadernos de impressão) e os mantém assim para que os grampos sejam inseridos.
 Seladora RS-4050 Rosset semi-profissional a vácuo: serve para
embalar com um plástico diversos materiais gráficos para facilitar no transporte.
 Coladeira Boway - Glue Binding Machine: Coladeira de capas para
produção de livros, revistas e blocos.
 Furadeira para picote: esse equipamento faz o picote, onde é a parte
do material impresso que você pode destacar, por exemplo: bloco de notas.
No que se refere às atividades de acabamento, existem dois processos em
forma de serviços manuais: o de intercalar e o de dobrar.
Figura 11 – Da dir. para esq.: Acabamentos, almoxarifado e expedição

....... ....

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)

Dobrar consiste no manejo da máquina de faca para marcar o papel no ponto


onde deve ser dobrado (vinco), quando o funcionário pega o papel, dobrando-o
conforme tem que ser, por exemplo, um convite de casamento.
Intercalar consiste no serviço de encadernação quando, depois de impressos os
papéis, por exemplo, um jornal, as folhas são colocadas em ordem para montar o
jornal.
109

A etapa de pós-impressão apresenta, claramente, uma grande variedade de pequenas


funções, cuja multiplicidade implica uma série de pequenos serviços especializados que
precisariam ser realizados por um grande número de profissionais, algo inconcebível para uma
empresa de pequeno porte.

Assim, o serviço de acabamento constitui-se de uma etapa da produção, como aquela


que parece oferecer maior polivalência e dispersão, pois é por onde se dá a intersecção
(cruzamento) dos serviços administrativos com os serviços de produção e de expedição do
material impresso, o que, segundo os especialistas, caracteriza um ambiente laboral que
necessitaria de mais resguardo para que efetivamente ‘sobre mais atenção para a tarefa’.

Em termos gerais, e tendo em vista o que se observa no fluxograma (Fig. 4) e na


ilustração dos riscos ambientais na planta da empresa (Fig. 3), a distribuição de funções e de
layout de máquinas e equipamentos de produção na empresa gráfica apresenta um ambiente
multiuso (juntando diagramadores, preparadores de chapas, impressores, operadores de
máquinas de acabamento como guilhotinas, prensas), e um trabalho polivalente (acumulação
de funções na cobrança, nos serviços auxiliares, na recepção, na limpeza e lubrificação de
máquinas, na manutenção, nos serviços manuais de acabamento e de expedição, etc.).

Porém, segundo informações do setor administrativo da empresa, o quadro de


funcionários para atender toda esta variedade de serviços integra atualmente apenas um número
médio de 16 funcionários, tal como consta no Quadro 5, a seguir:

Quadro 5 – Quadro de funcionários da empresa gráfica

Setores Cargos ou Funções Quantidade

Administrativos Sócios gerentes 2

Financeiros Controle e cobrança 1

Pré-impressão Diagramadores 2

Serviços de Impressão Impressores 4

Pós-Impressão Cortador + Encartadores 1+5

Serviços Gerais Faxineira 1

Total Sete cargos ou funções 16 trabalhadores

Fonte:Encartadores
Equipe Administrativa da Empresa (2013)
110

Diante desse quadro, embora haja mais funcionários que cargos (funções), é preciso
observar que, em termos reais, cada cargo se divide, ou pelo menos, precisaria se dividir, em
uma série de funções.

No caso da etapa da pós-impressão, por exemplo, o setor implica não apenas dois cargos
(Cortador e Encartador), mas uma série de outras funções (Serrilhador, Picotador, Dobrador a
vácuo, Prensador, Encadernador, Operador, Grampeador, Selador, Colador, Pacoteador,
Embalador, Operador, Perfurador, transportador de volumes, etc.).

O mesmo ocorre nas demais etapas, tal como na etapa de impressão, quando as
atribuições do operador de impressoras incluem eventualmente serviços auxiliares de limpeza,
de lubrificação, além de outros serviços relacionados com a preparação de chapas e até mesmo
com os serviços de acabamento.

É, pois, compreensível que a acumulação de funções por um mesmo trabalhador dentro


de um espaço multiuso (salão central) acabe por se tornar um complicador na questão da
segurança e da saúde laboral, cujo ambiente se torna, no caso, mais propenso à ocorrência de
acidentes múltiplos (ruído das máquinas, presença tóxica e inflamável de substâncias químicas,
congestionamento, etc.).

b) Registro sobre histórico de acidentalidade da empresa

O histórico de acidentalidade da empresa, pelo menos no que se refere à efetiva


sinistralidade registrada na empresa, aponta para um número de acidentes e ‘quase-acidentes’
de trabalho que, além de reduzidos, apresentam-se como incidentes físicos sem maior
gravidade, tal como se pode deduzir dos seguintes relatos fornecidos pelos gestores da empresa:

i. Acidente por esmagamento de dedo na Guilhotina de acionamento bi-manual


(etapa de pós-impressão):
Um acidente de trabalho ocorreu na Guilhotina (Guowang) quando o operador
estava arrumando a pilha de papel para cortar e aproveitou para acionar a prensa (com
o pedal ou botão manual) a fim de firmar o papel (antes de acionar a lâmina de corte
da guilhotina de acionamento bi-manual – com as duas mãos simultaneamente).
Neste instante, o polegar dele ficou na área da prensa, ocasionando um
esmagamento grave, mas reversível (ver figura 12 da prensa expandida com o pedal,
embaixo, visível).
111

Figura 12 – Guilhotina bimanual

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)


ii. Acidente por corte na mão na máquina de corte e vinco (etapa de pós-impressão):

Outro acidente de trabalho ocorreu na máquina de corte e vinco (Heidelberg


Cylinder, 1967), um modelo antigo projetado sem a atual segurança técnica, e,
portanto, com muitos mecanismos expostos quando está em movimento. Ao calibrar
e ajustar a máquina com ela em funcionamento, o operador acabou enroscando a mão
e sofrendo um corte profundo, porém reversível (ver Figura 13 da máquina expandida
com muitos mecanismos expostos, sem enclausuramento).
Figura 13 – Máquina de corte e vinco (Heidelberg)

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)


iii. Um Quase-Acidente por choque elétrico na Offset Komori (etapa de impressão):

Uma situação de ‘quase-acidente’ de trabalho ocorreu por um problema de


manutenção na parte elétrica da máquina impressora Offset (Komori), na caixa de
112

passagem, onde havia uma emenda mal feita. Com a máquina sem corrente elétrica, o
operador resolveu conferir a caixa e encostou com uma chave de fenda nos fios,
fechando um curto-circuito no eletroduto zincado (condutor de energia elétrica), sem
ser, todavia, atingido pelo choque, devido ao isolamento da chave de fenda (ver Figura
14 da máquina, na parte de cima, onde a caixa de passagem foi vedada com fita
isolante).
Figura 14 – Impressora offset (Komori)

Fonte: Equipe Administrativa da Empresa (2012)

Com base nesse retrospecto histórico de acidentalidade, a realidade dos fatos (lesões
físicas) aponta para um ambiente laboral, cujo retrospecto é de um lugar relativamente seguro
e saudável, com algumas lesões físicas que, no plano da prevenção acidentária, poderiam ser
classificadas como acidentes e incidentes que ocorrem por ‘atos inseguros’, e que, portanto,
nem sequer implicam necessariamente o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), ou
talvez, no máximo, o uso de luvas.

c) Depoimentos sobre riscos ambientais e dispositivos de proteção

Diante deste histórico de acidentalidade e da visão teórica sobre os riscos ambientais


assinalados e comentados na planta da empresa de forma vinculada com o fluxograma (etapas
de trabalho), os protagonistas de diferentes setores, ao serem perguntados sobre aqueles riscos
ambientais mais visíveis, apresentaram a seguinte lista de riscos pontuais:

Na etapa de pré-impressão

Sala do CtP:

o Risco Físico: ar condicionado frio (para esfriar máquina).


o Risco Ergonômico: trabalhar em pé e má postura.
113

Lavadora de Chapa:

o Risco Químico: exposição a produtos químicos (reveladores, etc.)


o Risco Físico: ruído.
o Risco Ergonômico: trabalhar em pé.

Na etapa de impressão
Impressoras e Máquina de Acabamento:
o Risco de Acidentes: Queda de materiais, equipamentos sem proteção, arranjo
físico inadequado.
o Risco químico: Exposição a vapores orgânicos proveniente de tintas, solventes
de limpeza, graxas e óleos.
o Risco Físico: ruído.
o Risco Ergonômico: Postura inadequada na bancada de trabalho, levantamento
e transporte manual de carga, trabalhar em pé por períodos prolongados,
repetitividade.

Na etapa de pós-impressão

Guilhotina:

o Risco de Acidentes: esmagamento de membros.


o Risco Ergonômico: postura inadequada na bancada de trabalho, levantamento e
transporte manual de carga, trabalhar em pé por períodos prolongados,
repetitividade.
o Risco Físico: ruído.

Setor Acabamento:

o Risco de Acidentes: contato com materiais quentes, máquinas e equipamentos,


sem proteção.
o Risco Físico: ruído.
o Risco Ergonômico: trabalhar em pé, repetitividade, má postura, etc.

Expedição e almoxarifado:

o Risco Físico: Ruído


o Risco Ergonômico: levantamento e transporte de carga.
o Risco de Acidentes: queda de materiais, esmagamentos de membros na hora de
transportar papéis, etc.
114

Setores Contíguos
Setor administrativo:
o Risco ergonômico: má postura, repetitividade, etc.
o Risco Biológico: ácaros, fungos, e bactérias presentes no ar condicionado.

Banheiro administrativo:
o Risco Biológico: ácaro, fungos, bactérias e vetores de doenças presentes nos
materiais e ambiente.
o Risco Físico: frio proveniente da sala do CtP.

Vestiários:
o Riscos Químicos: Material de limpeza.
o Riscos Biológicos: Ácaros, bactérias, fungos e vetores de doenças presentes
nos materiais e no ambiente.
o Riscos Ergonômicos: Postura inadequada durante a limpeza, trabalhar em pé
por períodos prolongados, repetitividade.
o Risco de Acidentes: Piso escorregadio.

Depósito de Resíduos:
o Risco de Acidentes: Queda de materiais, equipamentos sem proteção, arranjo
físico inadequado.
o Risco Químico: Exposição a solventes orgânicos provenientes de embalagens
vazias, panos usados na limpeza e resíduos líquidos resultantes dos processos
de impressão e limpeza.
o Risco Biológico: Bactérias, fungos e vetores presentes nos resíduos
armazenados inadequadamente.
o Risco de Acidentes: Arranjo físico inadequado.
o Risco Ergonômico: Levantamento, transporte manual de carga, trabalhar em pé
por períodos prolongados.
.

Em se considerando o ponto de vista dos protagonistas de diferentes setores, a lista


apresenta um acréscimo em relação às considerações feitas sobre o fluxograma e o mapa de
riscos ambientais na planta da empresa, inclusive em relação ao histórico de acidentalidade da
empresa, tal como se pode observar na Figura 5.
115

Figura 15 – Mapa de riscos (pontuais) na planta da empresa

Fonte: Equipe de funcionários da empresa (2013)


116

Além dos riscos ambientais reiteradamente apresentados nos diferentes registros e


relatos, neste mapa (Fig.5) são apontadas algumas outras possibilidades de riscos de acidentes
de trabalho, com ênfase nos seguintes aspectos:

 Arranjo físico e armazenamento inadequado, escorregamento e queda de materiais,


ambientes com temperaturas mais frias;
 Postura inadequada, trabalho repetitivo, em pé e por períodos prolongados, envolvendo
riscos ergonômicos;
 Equipamentos e máquinas sem proteção, exposição ao ruído também na lavadora de
chapas, além do ruído das impressoras e guilhotina;
 Exposição a agentes biológicos, inclusive, no manuseio de material descartável
(embalagens, panos com resíduos, lixo);
 Exposição às substâncias químicas nocivas na impressão, pré e pós-impressão, inclusive
nos serviços de limpeza e de faxina.

Em síntese, o quadro de riscos pontuais na planta empresa (Fig. 5), segundo os


protagonistas, apresenta uma pequena variação em relação ao mapa genérico dos riscos
apontados na planta da empresa (Fig. 3).

Este novo olhar também se observa em depoimentos dados por funcionários mais
antigos sobre a questão que envolve os Equipamentos de Proteção Individual (EPI), quando
apresentam as seguintes ponderações e justificativas no seguinte fac-simile:

Em geral, todos os EPIs são importantes;


A máscara é usada quando temos que limpar a impressora com solventes fortes
e para se proteger do cheiro que dá dor de cabeça ou náuseas;
O equipamento de proteção respiratória (EPR) não é exigido para tarefas
rotineiras. Pode ser necessário para algumas atividades como limpeza e manutenção
dos equipamentos ou durante o manuseio do material derramado;
Luva de borracha é geralmente utilizada quando limpamos as impressoras para
não ficarmos com as mãos expostas aos produtos e para não sujarmos as mãos com
tinta, pois é difícil de limpar;
Protetor auricular é fornecido na forma de protetor de inserção e de concha.
Geralmente usamos estes protetores quando as máquinas estão fazendo muito barulho.
Teve um impressor que reclamou do protetor de concha que aperta a cabeça e, por
isso, ele não gosta muito de usar.
Creme é usado para ajudar a limpar as mãos depois de limparmos as
impressoras quando as mãos ficam sujas. Os cremes hidratantes para as mãos,
utilizados após o trabalho, são recomendados para proteger a pele e auxiliar na
reposição da oleosidade cutânea.
117

Jaleco é utilizado para mantermos as roupas limpas, assim como para


evitarmos a exposição aos produtos, vapores e tintas.

É interessante observar a justificativa dada sobre o uso do protetor auricular que se torna
necessário ‘quando as máquinas fazem muito barulho’, revelando que o ruído se torna
intolerável no momento em que todas as máquinas estão em funcionamento, ao mesmo tempo
e num mesmo ambiente, presumindo-se que o ruído de uma máquina isolada poderia não
implicar necessariamente o uso de EPI.

O desconforto no uso de EPI (protetor auricular de concha) pode ser considerado um


aspecto importante na avaliação sobre o uso de EPI, pois, no caso citado (o protetor de concha
aperta a cabeça), constitui um fator que merece uma avaliação técnica e de gestão preventiva
mais acurada.

Outro aspecto importante a ressaltar, é aquele que se refere aos intervalos de situações
de riscos, dispensando o uso do EPI de forma constante, mas apenas em situações pontuais. Isso
se aplica à máscara e o EPR, as luvas e o creme que precisariam ser usados apenas no momento
da limpeza das impressoras e no manuseio de produtos, ressalvando-se, porém, que a primordial
função do creme é preventiva, não apenas servindo para limpar as mãos (conforme
depoimento).

Além disso, como se trata de procedimentos de trabalho que ocorrem num mesmo
ambiente (salão central), é presumível que no caso específico das máscaras e do EPR, seu uso
possa ser necessário também para trabalhadores que atuam próximo dos locais onde eles são
necessários, devido aos cheiros e vapores que podem afetar o ambiente em geral.

Com base nestas e as anteriores colocações sobre a cultura preventiva da empresa, torna-
se assim importante confrontá-la com a questão do uso de EPIs nos programas técnicos de
prevenção acidentária desenvolvidos em dois exercícios anuais diferentes (PPRA-PCMSO de
2007 e 2013).

4.3.2 EPI no programa de prevenção acidentária da empresa (PPRA/PCMSO)

No que se refere aos programas de prevenção acidentária desenvolvidos pelos serviços


especializados, eventualmente contratados pela empresa para esta finalidade, o presente estudo
de caso apresenta, resumidamente, o conteúdo destes programas e de sua evolução ao longo
dos últimos anos, tendo em vista o caráter técnico-legal de seu projeto de pesquisa e de controle
dos riscos ambientais existentes no ambiente laboral da empresa, notadamente na questão do
EPI.
118

Para analisar estes programas quanto à consensual e intersetorial forma de trabalhar e


ao processo inter e transdisciplinar de avaliar o risco ambiental, o presente estudo se baseia em
dois exercícios (o de 2007 e o de 2013), com o objetivo de descrever, resumidamente, as
medidas de avaliação e de controle dos riscos ambientais de trabalho.

a) A questão do EPI no programa preventivo da empresa de 2007

Os principais aspectos relacionados com a questão do EPI e a necessidade de seu uso


no plano da segurança ocupacional (PPRA) e da medicina de trabalho (PCMSO) da empresa
no ano de 2007, dizem respeito ao seguinte teor programático:

O documento de 2007 (Anexos - A) inicia destacando que cabe ao empregador


o custeio do programa e que ao técnico de segurança cabe pesquisar o risco ambiental
e ao médico do trabalho prover exames clínicos e laboratoriais, diagnosticando lesões
e doenças provocadas eventualmente pelos riscos ocupacionais detectados.
No que se refere às responsabilidades pelo desenvolvimento do programa
(Anexo A1), é dito que a direção da empresa precisa cumprir as determinações dos
especialistas e fazê-las cumprir, desenvolvendo o cronograma de ações e de
prioridades ali prescritas, cabendo aos trabalhadores seguir recomendações (no caso,
usar EPI), além de informar a direção sobre quaisquer riscos, enfim, colaborar com o
programa.
Na introdução do programa (Anexo A2), afirma-se que o “PPRA é parte
integrante do conjunto mais amplo das iniciativas da empresa no campo da saúde e
da integridade física dos trabalhadores devendo estar articulado com as demais
normas de segurança e Medicina do trabalho”, em particular o PCMSO.
No objetivo do programa (Anexo A2 e A3) se esclarece que a prevenção da
saúde e da integridade física se faz pela avaliação e controle dos riscos ambientais
físicos, químicos e biológicos existentes no local de trabalho, tendo por meta a
redução de 25% dos riscos de lesões e doenças por agentes nocivos detectados,
considerando-se sua magnitude (gravidade e probabilidade).
Para realizar a pesquisa (PPRA de 2007) o técnico de segurança realizou
primeiramente um levantamento das atribuições de cada função (posto de trabalho)
com a ajuda da direção, e durante o qual foram ouvidos os trabalhadores para
complementar essas informações (ver descrição de atribuições no Anexo A4), a saber:

 Cortador opera guilhotina mecânica, corta papéis e blocos, refila


papéis;
 Impressor prepara e ajusta impressoras, opera impressora plana e
rotativa, de tipografia e de offset queima chapas de alumínio com luz, segue
procedimentos de segurança e de higiene;
 Auxiliar de impressor auxilia na impressão e no processo de queimar
chapas com luz;
 Vendedor Externo visita clientes, faz publicações, concretiza vendas
e faz o pós-venda (sem citar meio de locomoção);
 Diagramador realiza programação visual gráfica de textos e imagens,
monta fotolitos (preparo terceirizado), faz diagramação;
 Encartador intercala papéis, picota papéis, monta blocos, recibos, etc.,
passa cola, grampeia, perfura blocos, etc.;
 Orçamentista calcula custos e preços, administra produção, estoque,
maquinário, equipamentos, resultados.
Com base nesta descrição das atividades funcionais de cada posto de trabalho,
foi realizada a pesquisa durante uma jornada de trabalho (26 de outubro de 2007), e
119

depois de sua devida avaliação, o documento relata a existência dos seguintes riscos
ambientais e sua magnitude (gravidade e probabilidade) no ambiente laboral (ver
anexo A4):

 Ruído de 83 dB(A) no setor de guilhotina (cortador) e de 81 dB(A) no


setor de impressão (impressor e auxiliar de impressor);
 Sustâncias nocivas no setor de impressão por substâncias tóxicas
(hidrocarbonetos alifáticos, além de tintas e solventes) usadas para alimentar e limpar
máquinas impressoras rotativas, tipográficas e offset;
 Substâncias nocivas na função de encartador (solvente e cola);
 Para as demais funções (vendedor externo, diagramador e
orçamentista) o documento declara que não há riscos ambientais (físicos, químicos,
biológicos), mas que estes servidores necessitam de treinamento para outros riscos,
em especial, os riscos ergonômicos (de competência do PCMSO).
Quanto aos riscos ergonômicos, o técnico de segurança refere que os
problemas sobre postura corporal serão avaliados pelo médico, enfatizando que a
exposição aos riscos ambientais detectados não implica em direitos (adicional, etc.),
até porque, mediante o uso correto de EPIs, cessam os efeitos nocivos dos riscos
detectados.
Em resumo, o técnico em segurança concluiu que o ambiente laboral da
empresa apresenta basicamente dois tipos de agentes nocivos (Anexo A4):

 O ruído (intermitente) das impressoras mensurado em 83 dB(A) e em


81 dB(A) no caso do ruído da guilhotina, cujo controle – mediante uso de EPI (protetor
auricular) – fica reduzido para menos de 70 dB(A);
 As substâncias nocivas, no caso, hidrocarbonetos alifáticos, tintas e
solventes a que estão expostos os operadores de impressão e, em menor gravidade, no
caso da cola adesiva a que estão expostos os encartadores, cujo controle – mediante o
uso de EPI (luvas, óculos, máscara, avental) – manterá o trabalhador protegido contra
tais agentes de insalubridade.
No cronograma do PPRA (Anexo A5) se encontram prescritas algumas
medidas preventivas complementares a serem adotadas pela empresa, tal como
realizar treinamento, monitorar o uso de EPI, divulgar o programa, reavaliar riscos em
caso de mudança de layout, e finalmente, reeditar a avaliação do programa dentro de
um ano.
De posse destes dados, o médico do trabalho estabelece, por sua vez, a
organização da bateria de exames clínicos regulamentares (admissional, demissional,
anual, retorno ou mudança de função), para em seguida destacar que os exames
laboratoriais serão feitos no caso de insalubridade severa (conforme tabela padrão), o
que inclui ainda “orientar má postura – LER e DORT” para todos os funcionários (ver
anexo A6).
A título de conscientização, o médico destaca que o departamento de pessoal
será informado sobre a bateria de exames clínicos, recomendando ainda que a empresa
desenvolva campanhas e treinamentos sobre primeiros socorros, brigadas de incêndio,
deixando tudo a cargo da administração e de CIPA, se houver (Anexo A5).
No que se refere à análise dos resultados do PPRA/PCMSO de 2007, é possível observar
que, neste modelo de prevenção acidentária, há efetivamente uma preocupação como os
aspectos institucionais que envolvem as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho
e Emprego a Legislação Previdenciária, sem que isso se transforme em um modelo consensual
e interdisciplinar e muito menos em um modelo intersetorial e transdisciplinar de gestão
preventiva.
120

A descrição das responsabilidades dos atores envolvidos (administradores,


trabalhadores e técnicos) é feita de forma técnica e em forma de prescrições normativas, embora
a descrição de cargos, por exemplo, tenha sido feita com a ajuda do gerente e, em aspectos
complementares, com a ajuda dos empregados.

Ainda que o PPRA, obviamente articulado ao PCMSO, seja declarado parte integrante
de iniciativas gerais adotadas pela empresa no âmbito da saúde e segurança do trabalho, ou que
o embasamento do programa de prevenção seja feito no contraponto da proteção do meio
ambiente e dos recursos naturais, em momento algum, isso fica evidenciado.

O mesmo ocorre com as declarações de que o PPRA se baseia na análise preliminar de


riscos ambientais do ano anterior, tal como consta no relatório do PCSMO, mesmo se sabendo
que o programa nunca fora desenvolvido em anos anteriores. Além disso, quanto à abrangência,
o PPRA se ocupa apenas dos riscos físicos, químicos, e, sem citar os riscos biológicos e
mecânicos, deixa para o médico a questão dos riscos ergonômicos.

Ao propor que a redução de 25% dos riscos ambientais detectados dependerá


principalmente do uso de EPI, e do treinamento e cobrança para seu uso correto, o programa
parece não ver outra necessidade de prevenção, a não ser aquela de passar informações vagas e
generalizadas, tal como, a de ambientar os novos funcionários e de reavaliar os riscos em caso
de mudança de layout, além de proceder à realização de exames médicos regulamentares, com
a recomendação de que o médico ficaria à disposição para tirar dúvidas nas campanhas que, por
ventura, a direção da empresa promover com a ajuda de CIPA, se houver.

Além disso, na descrição das funções, sequer se menciona as operações de risco que são
feitas nas máquinas dobradeiras, e no caso dos exames médicos, não é levado em consideração
o rol de riscos encontrados nas demais funções pelo PPRA, sendo apenas destacado que os
exames laboratoriais serão feitos no caso de insalubridade severa e que os exames clínicos
regulamentares seriam para todos (independentemente da insalubridade) e que todos, isso sim,
receberiam orientação sobre má postura, tendo em vista os riscos ergonômicos, cuja avaliação,
em momento algum parece ter sido efetuada.

Pelo PPRA de 2007, os especialistas encontraram apenas riscos ambientais de gravidade


média, não havendo risco intolerável que implique, por exemplo, parar todo o trabalho e
modificar o layout. É o caso do risco físico (ruído) que fica em 81 dB(A) no setor de impressão
e em 83 dB(A) no setor de guilhotina, enquanto que a gravidade dos agentes químicos
121

observadas nos rótulos, identifica riscos de grau médio por exposição aos hidrocarbonetos
alifáticos.

Por isso mesmo, a prevenção se limita apenas ao uso de EPI, que inclui protetor
auricular para se proteger dos ruídos e de luvas, máscaras, aventais e óculos, a fim de se proteger
de substâncias químicas nocivas.

b) A questão do EPI no programa preventivo da empresa de 2013

No que se refere ao programa de prevenção de 2013, os principais aspectos considerados


pelo PPRA e PCMSO apresentam alguma variação, com avanços pontuais, mas sem fugir da
característica dos modelos correntes de prevenção acidentária, tendo em vista os seguintes
procedimentos técnicos de avaliação:

O documento de 2013, antes de apresentar o objetivo do programa (Anexo B1)


destaca que o rol de riscos ambientais detectados pelo programa PPRA não dá direito
à insalubridade ou à aposentadoria especial, mas que serve para definir medidas de
proteção e para embasar o programa PCMSO, funcionando sempre de forma
articulada com a legislação e as normas regulamentadoras (sobre CIPA, EPI, EPC,
insalubridade, periculosidade, etc).
Quanto ao objetivo, o programa declara que faz a prevenção da saúde e da
integridade física dos trabalhadores através da antecipação, reconhecimento e
avaliação dos riscos ambientais, de modo que a empresa possa controlá-los no
contraponto da legislação, dos riscos efetivamente encontrados na empresa, com a
cooperação dos envolvidos (beneficiários), enfim, no contraponto da literatura técnica
e do mapa de riscos ambientais nos Postos de Trabalho no ramo da atividade gráfica
(Anexo B1 e B2).
No que se refere às responsabilidades, é dito que cabe ao empregador
implementar e assegurar o cumprimento do PPRA, como atividade permanente da
empresa, bem como informar os trabalhadores sobre os riscos ambientais existentes e
os meios de se proteger deles. Ao trabalhador cabe colaborar, seguir orientações dadas
em treinamento, informar a direção sobre ocorrências que ameaçam sua saúde no
ambiente de trabalho, sendo que o papel do especialista é, por conseguinte, prestar
assessoria técnica e, junto com a direção e CIPA, realizar a reavaliação anual do
programa (Anexo B7).
Sem antecipar riscos na planta da empresa, o documento descreve a edificação
e ambientes de trabalho, destacando que os serviços de impressão e pós-impressão são
desenvolvidos no salão grande com 5 metros de pé direito, paredes de alvenaria, piso
expoxi (contrapiso pintado), teto com pré-laje, divisórias de alvenaria (cimento),
ambientes com luz natural e fluorescente, e ventilação natural e artificial, e que os
serviços administrativos e de pré-impressão são desenvolvidos em um espaço físico
(tipo mezanino) com 3 metros de pé direito, teto de gesso, piso de cerâmica, divisórias
de alvenaria, e também com luz natural e fluorescente e ventilação natural e artificial
(Anexo B2).
A título de reconhecimento das condições de trabalho, é feita a descrição das
atividades (por função), apresentando as seguintes observações (Anexo B3 e B4):
 Impressor - coloca chapas para revelação na impressora, coloca e
retira tintas, controla a temperatura da água, realiza a limpeza e lubrificação das
impressoras (a manutenção mecânica é terceirizada);
 Auxiliar de impressor – auxilia o impressor e, além disso, realiza
serviços de acabamento (grampeador industrial, colagem a pistola e pincel);
122

 Encartador – realiza a talonagem e alçamento dos blocos, picotes,


vincas, opera dobradeiras, intercala folders, jornais, etc.;
 Auxiliar de Encadernação – auxilia o encartador e faz acabamentos
de produtos (grampeamento industrial, embalagem de produtos, colagem com pistola
e pincel);
 Diagramador - Realiza a arte no computador, repassa-a para máquinas
de revelar chapas que são entregues ao impressor;
 Auxiliar administrativo – Atende ao público, faz agendamentos, faz
contatos, entrega material no perímetro urbano (veículo da firma), organiza a parte
contábil.
 Faltou o cortador (guilhotina, que apenas está citado na mensuração
da iluminação).
Depois de uma série de definições sobre riscos ambientais e sobre a
metodologia de avaliação, o programa coloca como exemplo a mensuração da
iluminação (Anexo B8), constatando que o mínimo fixado (500 Lux, conforme
ABTM – NRB5413/92) não está sendo respeitado no trabalho do operador de
guilhotina (275 Lux) e na sala de estoque (325 Lux).
Com base na descrição das atividades funcionais de cada posto de trabalho, foi
realizada a pesquisa de todos os riscos ambientais durante a jornada de um dia de
trabalho (abril de 2013), cujos resultados foram posteriormente encaminhados para o
preenchimento do PPP (NR-15 – insalubridade – Anexo B14) e ao PCMSO-médico
(Anexo B3 e B4; B16 e B17), dando conta do seguintes riscos detectados:

 Risco físico – ruído 82 dB(A) – Impressor/Auxiliar, Encartador e


Encadernador – ao operar impressoras e dobradeiras –> limite de intensidade 85
db(A), tolerância (0,5);
 Risco químico – Impressor e Auxiliar – ao fazer a revelação de chapa
-> hidróxito de potássio, ácido cítrico – ao alimentar, limpar e lubrificar máquinas ->
tóxico (hidrocarbonetos aromáticos, tintas, solventes, óleo mineral, isopropanol,
desengraxante); etc) – Encadernador – ao passar cola -> tóxico (adesivo – polímero
sintético); Auxiliar de Impressor – ao diluir óleos -> inflamáveis (hidrocarbonetos
parafínicos);
 Risco Ergonômico – (em todas as funções – sem especificar formas
de avaliação);
 Risco de Acidente (Trânsito) – Aux. Administrativo.
Em resumo, o técnico em segurança prescreve o uso dos seguintes
equipamentos de proteção individual (Anexo B5, B6):

 Protetor auricular para se proteger do ruído (intermitente) de 82 dB(A)


nos serviços de impressão e o mesmo ruído mensurado em 82 dB(A) nos serviços de
encadernador e encartador (dobradeiras);
 Protetores diversos (luvas, máscaras, cremes, óculos, aventais) para
se proteger de substâncias nocivas, tóxicas e inflamáveis na revelação das chapas e no
preparo e limpeza das impressoras (por hidrocarbonetos, tintas, solventes, etc.) – e
(calçado fechado) para se proteger de polímeros sintéticos nos serviços de
encadernação.
No cronograma do PPRA (Anexo B9 e B10) se encontram prescritas algumas
medidas preventivas complementares a serem adotadas pela empresa, tal como
realizar treinamento sobre riscos ambientais, monitorar o uso de EPI, divulgar o
programa e mantê-lo disponível, inspecionar compressores e motores elétricos
(aterramento), embalagens, sanitários, ficha de produtos químicos, extintores,
avaliação de riscos em caso de mudança de layout, e finalmente, reavaliação do
programa dentro de um ano.
Para embasar a questão do adicional de insalubridade, o documento declara
que a atividade de Impressor e de auxiliar de Impressor é insalubre de grau médio por
contato com hidrocarbonetos aromáticos (Portaria MT 3.214/78 w Lei 6.514/77).
123

De posse destes dados, o médico do trabalho (PCMSO – Anexo B19)


estabelece, por sua vez, a organização da bateria de exames clínicos regulamentares
(admissional, demissional, anual, retorno ou mudança de função), prescrevendo os
seguintes exames laboratoriais, segundo riscos ambientais a que os trabalhadores
estão expostos:

 Exame de Glicose e de Gama GT - na admissão e uma vez ao ano para


condutor de veículo no serviço administrativo, tendo em vista os riscos de acidentes
outros;
 Exame de Audiometria - na admissão, demissão e uma vez por
semestre para encartador, encadernador, impressor e auxiliar de impressão, tendo em
vista os riscos físicos (ruídos);
 Exame de Hemograma - na admissão, demissão e uma vez por
semestre para impressor e auxiliar de impressão (substâncias nocivas);
 Orientação de postura corporal (ergonômica) – para todos os
trabalhadores.
A título de conscientização, o médico destaca que o departamento de pessoal
será informado sobre a bateria de exames clínicos, recomendando ainda para que a
empresa desenvolva campanhas e treinamentos sobre primeiros socorros, brigadas de
incêndio, tudo com o conhecimento de CIPA, se houver (Anexo A5).
Em termos de prevenção acidentária, o programa de 2013 é, teoricamente, mais apurado,
sem se constituir, todavia, em um modelo consensual e interdisciplinar e muito menos em um
modelo intersetorial e transdisciplinar de gestão preventiva.

Já de início, o programa realiza uma descrição relativamente completa das edificações


onde se realiza a atividade gráfica da empresa, embora não mencione qualquer fato que se
relacione com o processo de antecipação de riscos no projeto ou de riscos mecânicos de
manutenção.

No plano dos objetivos, o programa parece propor um avanço na direção da promoção


da saúde ocupacional plena e do valor social do trabalho (CF.1988), principalmente no PCMSO,
em que o médico destaca a importância de melhorar a qualidade de vida do trabalhador,
prevenindo e detectando precocemente agravos à saúde ocupacional. Chega inclusive a afirmar
‘que é necessário atestar a aptidão do trabalhador para a função’, constatar a ocorrência de
disfunções e danos à saúde do trabalhador, reconhecer fatores de risco no processo de
organização do trabalho e articular ações com outros programas de saúde pública.

Ao fazer um alerta sobre as prioridades de controle dos riscos ambientais, de que as


medidas administrativas e de controle coletivo devem preceder a medidas de prevenção
individual, o programa, na prática se limita a exigir EPI, embora no cronograma de atividades
recomende, de forma genérica, a realização de treinamento, divulgação de riscos, controle de
extintores, compressores, motores (aterramento), proteção de máquinas, identificação de
embalagens, FISPG de produtos químicos, etc.
124

Nos demais aspectos, o programa de 2013 se parece como o programa de 2007, tanto
na forma de descrever as responsabilidades, quanto na forma de descrever funções (quando
esquece a função do operador de guilhotina) ou na forma de avaliar os riscos ambientais
(quando enfatiza a participação da administração e CIPA, se houver). A novidade está na
avaliação da iluminação, quando curiosamente inclui a função de operador de guilhotina como
um dos setores com Lux insuficiente.

Especificamente à avaliação dos riscos ambientais, o programa se limita aos riscos


físicos e químicos, sem se reportar aos biológicos e sem definir e localizar as fontes geradoras
do risco mecânico (trânsito) e do risco ergonômico, cujo controle é recomendado para todas as
funções indistintamente, sem qualquer avaliação evidente e efetiva.

Enfatiza-se no documento que a pesquisa pode servir de base para atestar a


insalubridade no ambiente de trabalho da empresa, segundo Portaria MT 3.214/78 e Lei
6.514/77 (ver anexo B), a qual é de grau médio por contato com hidrocarbonetos aromáticos e
por ruídos próximos do limite de tolerância de 85 dB(A), atingindo principalmente o setor de
impressão e de acabamentos (encartador e encadernador).

No plano prático, o médico reduz o propósito de melhorar a qualidade de vida do


trabalhador à sugestão de proporcionar palestras sobre saúde geral (alcoolismo, hipertensão,
higiene ocupacional, etc), deixando tudo a cargo da direção. O técnico de segurança, por sua
vez, trata da preservação da saúde e da integridade física como algo que depende apenas do
reconhecimento e controle dos riscos ambientais no plano do individualizado posto de trabalho.

Do exposto, ambos (médico e técnico) têm em vista as normas regulamentadoras e a


legislação previdenciária, bem como a literatura técnica e o mapa de riscos existentes na
empresa, sem se referir, por exemplo, ao histórico de acidentalidade e às observações dos
protagonistas, que, por suposto, podem não entender a necessidade de ter que usar os EPI
prescritos pelos técnicos.

4.3.3 A questão do EPI na perspectiva da nova cultura de gestão preventiva da


empresa

A se considerar a descrição acima sobre a cultura preventiva na tradição e no histórico


de acidentalidade da empresa, incluindo os depoimentos sobre a questão do EPI quanto à
necessidade de seu uso, é possível observar algumas incongruências de ordem transdisciplinar
e intersetorial entre o que acontece no plano da ação (visão dos protagonistas) e no plano
programático da prevenção acidentária da empresa (visão dos técnicos PPRA-PCMSO).
125

No plano da ação dos protagonistas, os dados apontam para agentes de risco, ou


incidentes e acidentes atribuíveis a fatores pessoais (atos inseguros) e organizacionais
(polivalência, multiuso), porém em situações de risco que demandam não somente a
necessidade do uso de EPI, a saber:

 No histórico de acidentalidade percebem-se fatores meramente físicos da


prevenção acidentária (cortes, esmagamentos, choques por eletricidade),
atribuíveis a atos inseguros e passíveis de controle quase sem a necessidade de
EPI;

 Com relação ao fluxo de serviços na perspectiva dos riscos do trabalho na planta


da empresa, descrito genericamente com a ajuda da equipe administrativa,
destacam-se os fatores organizacionais (trabalho polivalente e espaços
multiuso), que podem diminuir a atenção pela tarefa e a dificuldade de se
proteger contra com os riscos ambientais no conjunto do ambiente laboral, com
medidas de solução que não se restringem ao uso de EPI;

 Na observação empírica dos riscos (pontuais) feita pelos protagonistas dos


diferentes setores, destacam-se os riscos que incluem o arranjo físico,
armazenamento, maquinaria sem proteção, queda de materiais e de produtos,
lixo, resíduos e materiais descartáveis, trabalhar em pé (repetitivo, prolongado,
temperatura desconfortável), além da constante exposição ao ruído e substâncias
químicas nocivas, necessitando de medidas preventivas diversas (EPI, EPC,
organização);

 Com relação às justificativas dos protagonistas sobre a questão dos EPIs, seu uso
foi considerado necessário em determinados momentos, porém não de forma
contínua. Fica entendido que, na visão deles, há momentos de barulho e de
exposição a substâncias nocivas que demandaria o uso de EPI para todos, a não
ser que sejam tomadas medidas de organização do trabalho para reduzir a
concentração de riscos ambientais, principalmente no salão central, onde ocorre
o grosso do processo produtivo da empresa.

No plano programático dos especialistas (PPRA-PCMSO) – se forem levados em


consideração apenas os riscos pesquisados e efetivamente avaliados, sem os abundantes
conselhos gratuitos e moralistas destes programas – os dados apontam para soluções
126

preventivas voltadas exclusivamente para o uso de equipamentos de proteção individual (EPI),


porém de forma individualizada e nos limites do posto de trabalho, a saber:

 No programa de 2007, o parecer técnico resultou na prescrição do uso de protetor


auricular - para se proteger do ruído de 81dB(A) na máquina impressora e de 83
dB(A) na guilhotina; e do uso de luvas, máscaras, aventais e óculos – para se
proteger da exposição a substâncias químicas (grau médio de risco por
hidrocarbonetos alifáticos), chegando a afirmar que “mediante o uso correto de
EPIs, cessam os efeitos nocivos dos riscos detectados”;

 No programa de 2013, o parecer técnico atesta e confirma o uso dos mesmos


EPIs para se proteger, nos termos da Portaria MT 3.214/78 e Lei nº. 6.514/77,
da insalubridade de grau médio por contato com hidrocarbonetos aromáticos e
por ruídos próximos do limite de tolerância de 85 dB(A), atingindo
principalmente os trabalhadores do setor de impressão e de acabamentos
(encartador e encadernador), chegando a afirmar que ‘o programa servia ainda
para avaliar a aptidão para o trabalho’.

A partir dessa comparação, torna-se relativamente claro que a avalição dos técnicos –
limitada aos riscos físicos (ruído) e químicos (substâncias nocivas) – apresenta uma abrangência
bem menor que a dos próprios protagonistas que, além dos riscos detectados pelos técnicos,
apontam outros relacionados com a organização e o desconforto no trabalho (arranjo físico,
queda e armazenamento de material, temperatura, EPI dolorido, concentração de poluentes num
único espaço, etc).

Trata-se de uma incongruência entre o olhar dos protagonistas e o dos técnicos, uma vez
que a visão dos técnicos se restringe a prescrever EPIs no varejo ( –> proteger-se de agentes de
risco no miúdo) como medida preventiva fundamental, transformando-a numa medida ainda
mais reducionista quando se observa que eles (PPRA-PCMSO) não levaram em conta, por
exemplo, o histórico de acidentalidade da empresa e o aspecto conjuntural dos riscos ambientais
descrito pelos protagonistas no atacado (–> reduzir agentes de risco no todo da organização).

Ao não levar em conta a visão transdisciplinar das causas sociais e organizacionais do


risco ambiental, os programas técnicos (PPRA-PCMSO) acabam não se refletindo no âmbito
da gestão preventiva, por falta de uma ação intersetorial, ou seja, de uma gestão preventiva
baseada em pactos e atos institucionais assumidos coletiva e publicamente.
127

Do exposto, é possível considerar que os programas técnicos de prevenção acidentária


não poderiam mesmo ser compreendidos pelos atônitos protagonistas, embora se saiba que
estes, como atores principais, poderiam dar uma contribuição muito enriquecedora para tornar
o programa mais sustentável e mais coerente com a nova cultura baseada na avaliação
transdisciplinar do risco ambiental e na ação intersetorial da gestão preventiva.
128

CONCLUSÃO

Na qualidade de um trabalho acadêmico, o presente estudo de caso foi precedido por


uma pesquisa bibliográfica exploratória para se chegar, finalmente, ao planejamento e
organização da pesquisa de campo.

Foi preciso, inicialmente, realizar uma exaustiva incursão na área da legislação do


direito do trabalho e das questões relativas à segurança e saúde do trabalho prescritas na CLT,
nas leis sobre o tema e nas Normas Regulamentadoras, tendo em vista os princípios
constitucionais do ‘valor social do trabalho’ e do direito do cidadão à saúde e ao trabalho digno
(CF. 1988) e não somente uma prevenção que se restringe à ‘ausência da doença ocupacional’.

A fim de elucidar o viés capitalista da recorrente prevenção acidentária, o presente


trabalho realizou um estudo retrospectivo sobre a evolução da tecnologia da arte gráfica, tendo
em vista a histórica primazia da produção sobre a humanização dos processos de trabalho no
que se refere, especialmente, ao quadro trágico dos acidentes de trabalho provocados por
precárias condições de trabalho no âmbito da indústria, envolvendo o risco que é de trabalhar
exposto ao barulho das máquinas e aos agentes nocivos de produtos químicos.

Neste contexto e guiado pelas críticas gerais sobre a pouca eficácia dos recorrentes
programas de prevenção acidentária, o presente estudo analisou detalhadamente o modelo de
um clássico sistema SSST aplicado pelo SESI na indústria gráfica de São Paulo (SESI, SP,
2006), fazendo-o à luz dos questionamentos sobre seu reducionismo técnico-legal, distante da
questão ética (Barbosa Filho, 2011) e da questão intersetorial e transdisciplinar (Mendes e
Wünsch, 2007) sobre o que se entende por ‘nova cultura de gestão preventiva’.

Em vista disso, o foco do estudo de caso resultou numa pesquisa de campo, em que o
objeto da pesquisa – prevenção do risco ambiental por meio de EPI – fosse questionado na
relação que existe entre ‘riscos ambientais’ e o ‘risco invisível do modelo de gestão’, no plano
adaptativo homem-trabalho (OMS), implicando a faceta psicossocial do risco ergonômico.
129

O resultado desse trabalho foi a constatação que aponta para um distanciamento do


programa de prevenção acidentária com a realidade cultural preventiva da empresa e de uma
incongruência entre o que se propõe no plano técnico e o que se faz no plano preventivo prático,
o que explica, em grande parte, a falta de adesão dos protagonistas ao uso de EPI prescrito pelos
técnicos, os quais não incluíram os protagonistas (beneficiários) no processo decisório, nem no
plano da avaliação (transdisciplinar) e nem no plano das medidas de solução (intersetorial).

Neste sentido, o presente estudo apresenta algumas sugestões para a empresa buscar
uma nova cultura de gestão preventiva, no sentido de:

 Considerar a possibilidade de investir mais na faceta psicossocial do risco ergonômico,


especialmente na questão de buscar maior sincronia na relação homem-trabalho
(produção e humanização), tendo em vista a questão da segurança e da saúde do trabalho
prescrito e real;

 Socializar junto aos protagonistas (gestores e colaboradores, CIPA, stakeholders,


SESMT, etc.) a questão relativa ao modelo de treinamento no que se refere
principalmente ao uso de EPI, a fim de que haja uma maior compreensão, por exemplo,
sobre a função preventiva do creme, da importância de um protetor auricular adequado,
tendo em vista a questão do POP de atividades e se nelas estão recomendados os EPIs
adequados à função;

 Socializar o processo de discussão e de avaliação do ruído de fundo (impacto do ruído


no todo do salão central, no momento do pico de produção), e de avaliação dos químicos
(solventes, tintas, etc.) quanto ao uso, manejo e arranjo, tendo em vista a FISPQ.

 Promover, finalmente, um ambiente seguro e saudável, em que não seja necessário


prescrever o uso de EPI, pelo menos não como medida preventiva única e fundamental.

Em continuidade ao presente trabalho, há a necessidade de desenvolver pesquisas e


estudos bibliográficos mais aprofundados sobre o importante debate que trata da nova cultura
de prevenção, focalizando a relação que existe entre os ‘riscos ambientais do trabalho’ e as
causas sociais que o geram (‘risco invisível de gestão’).

Trata-se de um debate que, num primeiro momento, implica a análise daquele modelo
gerencial (‘risco invisível de gestão’) que ainda ignora a estreita relação existente entre ‘metas
de produtividade’ e ‘condições de trabalho’ na nova cultura laboral, cuja relação evidentemente
não se limita à problemática dos ‘riscos ambientais’.
130

A par disso, o aprofundamento deste debate implica, por conseguinte, a questão do


redimensionamento da avaliação e do controle dos ‘riscos ambientais do trabalho’ na
perspectiva de uma gestão preventiva (transdisciplinar e intersetorial) que promova, antes de
tudo, condições ótimas de trabalho (seguro e saudável).
131

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

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Editora Impetus, RJ. 2008
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<http://www.previdencia.gov.br>, 2011,
BAKHTIN, Mikhail (Wolochinov) – Marxismo e Filosofia da Linguagem, 11ª Edição,
Editora Hucitec, SP, 2004.
BARBOSA FILHO, Antônio Nunes – Segurança do Trabalho & Gestão Ambiental –
4ª Edição, Editora Atlas SP, 2011.
BARRETO, João de Barros – Acidentes de Trabalho em Indústria Gráfica – site:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0074-02761947000100010&script=sci_abstract>.
Acesso em: 25 mar. 2013.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20
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lei/del5452.htm>. Acesso em: 20 nov. 2012.
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BRASIL. Lei nº 6.513, de 20 de dezembro de 1977. Dispõe sobre a criação de Áreas
Especiais e de Locais de Interesse Turístico; sobre o Inventário com finalidades turísticas
dos bens de valor cultural e natural; acrescenta inciso ao art. 2º da Lei nº 4.132, de 10 de
setembro de 1962; altera a redação e acrescenta dispositivo à Lei nº 4.717, de 29 de junho
132

de 1965; e dá outras providências. Disponível em


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6513.htm>. Acesso em: 02 jan. 2013.
BRASIL. Lei nº 6.514, de 20 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Título II da
Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a segurança e medicina do trabalho e dá
outras providências. Disponível em
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BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 05 jan. 2013.
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aposentadoria especial ao cooperado de cooperativa de trabalho ou de produção e dá
outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.666.htm>. Acesso em: 12 jan. 2013.
BRASIL. Lei nº 11.430, de 26 de dezembro de 2006. Altera as Leis nos 8.213, de 24 de
julho de 1991, e 9.796, de 5 de maio de 1999, aumenta o valor dos benefícios da
previdência social; e revoga a Medida Provisória no 316, de 11 de agosto de 2006;
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134

ANEXOS
135

ANEXO A1 – PPRA/2007
136

ANEXO A2 – PPRA/2007
137

ANEXO A3 – PPRA/2007
138

ANEXO A4 – PPRA/2007
139

ANEXO A5 – PPRA/2007
140

ANEXO A6 – PCMSO/2007
141

ANEXO B1 – PPRA/2013
142

ANEXO B2 – PPRA/2013
143

ANEXO B3 – PPRA/2013
144

ANEXO B4 – PPRA/2013
145

ANEXO B5 – PPRA/2013
146

ANEXO B6 – PPRA/2013
147

ANEXO B7 – PPRA/2013
148

ANEXO B8 – PPRA/2013
149

ANEXO B9 – PPRA/2013
150

ANEXO B10 – PPRA/2013


151

ANEXO B11 – PPRA/2013


152

ANEXO B12 – PPRA/2013


153

ANEXO B13 – PPRA/2013


154

ANEXO B14 – PPRA/2013


155

ANEXO B15 – PPRA/2013


156

ANEXO B16 – PPRA/2013


157

ANEXO B17 – PPRA/2013


158

ANEXO B18 – PPRA/2013


159

ANEXO B19 – PPRA/2013

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