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TIAGO LUFT
Ijuí/RS
2013
TIAGO LUFT
Ijuí/RS
2013
TIAGO LUFT
Trabalho de conclusão de curso defendido e aprovado em sua forma final pelo professor
orientador e pelo membro da banca examinadora
Banca examinadora
______________________________________________________________
___________________________________________________________________
Diante dos novos desafios no campo das relações sociais de trabalho, os programas preventivos
de segurança e de saúde ocupacional assumem uma importância cada vez maior no plano das
políticas que definem o Estado de Direito do ‘valor social do trabalho’ e dos ‘direitos sociais
do cidadão à saúde, à segurança e à previdência’. Trata-se de uma tendência que coloca os
recorrentes programas de prevenção acidentária e do risco ambiental (físico, químico,
biológico, etc.) no centro da gestão de trabalho das empresas e, cada vez mais, na perspectiva
não só da prevenção, mas ainda da promoção da saúde ocupacional. Nesse cenário, a busca pelo
almejado direito do trabalhador à saúde ocupacional consiste na ‘concausalidade’ das questões
sociais que perpassam as relações entre serviços gerenciais e técnicos de prevenção
(transdisciplinar e intersetorial). Trata-se de um esforço conjugado dos protagonistas (gestores,
trabalhadores e especialistas) para construir condições ótimas de trabalho (seguro e saudável),
de forma a gerar uma nova cultura de gestão preventiva, capaz de garantir integridade física,
mental e social ao trabalhador, cortando, assim pela raiz, o risco de acidente e a sinistralidade.
Entretanto, o que se observa, na prática, é que estes novos valores culturais ainda não fazem
parte da gestão de muitas empresas, em que o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA) e de Controle Médico da Saúde Ocupacional (PCMSO) funcionam como documentos
cartoriais pouco sustentáveis. Para entender esta realidade, foi realizado um estudo de campo,
de caráter quantitativo e qualitativo, em empresa do ramo de atividade gráfica, na qual o uso
dos EPIs (Equipamentos Preventivos Individuais) não ocorre conforme orientação técnica do
Programa que o prescreve, como sendo ainda a única medida de prevenção.
- Gestão preventiva.
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
1 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE DIREITO E SEGURANÇA DO
TRABALHO ........................................................................................................................... 14
1.1 SEGURANÇA E PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA ATUAL
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA ............................................................................................ 20
1.2 SEGURANÇA DO TRABALHO NAS NORMAS REGULAMENTADORAS DO
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO ...................................................................... 28
2 EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA GRÁFICA E DE SEGURANÇA DO
TRABALHO ........................................................................................................................... 34
2.1 RISCOS OCUPACIONAIS NA GRÁFICA ARTESANAL E INDUSTRIAL
MODERNA .............................................................................................................................. 35
2.2 RISCOS OCUPACIONAIS NA HISTÓRIA DAS ARTES GRÁFICAS NO
BRASIL .................................................................................................................................... 39
2.3 RISCOS AMBIENTAIS DO TRABALHO NO ÂMBITO DA INDÚSTRIA
GRÁFICA ATUAL .................................................................................................................. 42
3 ANÁLISE DA METODOLOGIA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA NA
ATIVIDADE INDUSTRIAL GRÁFICA ............................................................................. 48
3.1 METODOLOGIA CONSENSUAL E MULTIDISCIPLINAR DE INVESTIGAÇÃO
DO RISCO AMBIENTAL NA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA ........................................... 49
3.2 METODOLOGIA DE RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO DO RISCO
AMBIENTAL NA PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA .............................................................. 54
3.2.1 Reconhecimento e Inventário dos Prováveis Riscos Ocupacionais na Atividade
Gráfica ..................................................................................................................................... 55
3.2.2 Avaliação da Magnitude do Risco Ambiental na Atividade Gráfica ..................... 60
3.3 ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DO RISCO AMBIENTAL NA PREVENÇÃO
ACIDENTÁRIA ....................................................................................................................... 65
3.3.1 Estratégia de ação de prioridades do projeto de prevenção acidentária ............... 66
3.3.2 Estratégia de ação de atividades de controle do projeto ......................................... 69
4 ESTUDO DE CASO NA ATIVIDADE GRÁFICA ................................................. 75
4.1 USO DE EPI NA GESTÃO PREVENTIVA DO TRABALHO SEGURO E
SAUDÁVEL............................................................................................................................. 77
4.1.1 Determinantes sociais da gestão de saúde e segurança do trabalho ...................... 78
4.1.2 Determinantes econômicos da saúde e segurança do trabalho ............................... 83
4.1.3 Segurança e medicina do trabalho na nova cultura de gestão preventiva ............ 87
4.2 METODOLOGIA: CLASSIFICAÇÃO E PLANEJAMENTO DA PESQUISA ........ 98
4.2.1 Classificação da pesquisa ........................................................................................... 98
4.2.2 Planejamento da pesquisa .......................................................................................... 98
4.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS SOBRE O USO DE EPI NA
PREVENÇÃO ACIDENTÁRIA DA EMPRESA .................................................................. 100
4.3.1 O EPI na cultura preventiva da empresa ............................................................... 100
4.3.2 EPI no programa de prevenção acidentária da empresa (PPRA/PCMSO) ........ 117
4.3.3 A questão do EPI na perspectiva da nova cultura de gestão preventiva da
empresa .................................................................................................................................. 124
CONCLUSÃO....................................................................................................................... 128
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS .................................................................................. 131
ANEXOS ............................................................................................................................... 134
ANEXO A1 – PPRA/2007 .................................................................................................... 135
ANEXO A2 – PPRA/2007 .................................................................................................... 136
ANEXO A3 – PPRA/2007 .................................................................................................... 137
ANEXO A4 – PPRA/2007 .................................................................................................... 138
ANEXO A5 – PPRA/2007 .................................................................................................... 139
ANEXO A6 – PCMSO/2007 ................................................................................................ 140
ANEXO B1 – PPRA/2013 .................................................................................................... 141
ANEXO B2 – PPRA/2013 .................................................................................................... 142
ANEXO B3 – PPRA/2013 .................................................................................................... 143
ANEXO B4 – PPRA/2013 .................................................................................................... 144
ANEXO B5 – PPRA/2013 .................................................................................................... 145
ANEXO B6 – PPRA/2013 .................................................................................................... 146
ANEXO B7 – PPRA/2013 .................................................................................................... 147
ANEXO B8 – PPRA/2013 .................................................................................................... 148
ANEXO B9 – PPRA/2013 .................................................................................................... 149
ANEXO B10 – PPRA/2013 .................................................................................................. 150
ANEXO B11 – PPRA/2013 .................................................................................................. 151
ANEXO B12 – PPRA/2013 .................................................................................................. 152
ANEXO B13 – PPRA/2013 .................................................................................................. 153
ANEXO B14 – PPRA/2013 .................................................................................................. 154
ANEXO B15 – PPRA/2013 .................................................................................................. 155
ANEXO B16 – PPRA/2013 .................................................................................................. 156
ANEXO B17 – PPRA/2013 .................................................................................................. 157
ANEXO B18 – PPRA/2013 .................................................................................................. 158
ANEXO B19 – PPRA/2013 .................................................................................................. 159
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INTRODUÇÃO
O interesse pelo tema – colocado dessa forma – nasceu em mim aos poucos, desde minha
incipiente experiência de engenheiro eletricista ao ser designado como responsável técnico para
efetuar a instalação da rede elétrica numa gráfica, na região Noroeste do estado Rio Grande do
Sul, em que não pude deixar de observar como o sucesso gerencial daquela empresa dependia
da segurança do trabalho, como uma questão crucial.
Agora, passado algum tempo, tive a oportunidade de voltar à empresa gráfica como
estudante pesquisador para verificar, in loco, o desdobramento desse sistema de gestão, tendo
em vista os estudos que realizo no curso de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do
Trabalho, na UNIJUI.
A busca pela qualidade, na visão dos especialistas (2), tem produzido frequentemente o
efeito contrário, ou seja, “a degradação destes (...) padrões (...), frequentemente ameaçados
pela existência dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais. Esta realidade deteriora
os negócios e provoca danos aos colaboradores, às empresas e à sociedade, não podendo ser
tratada como fruto do acaso”.
Nessa situação, o Estado viu-se obrigado a intervir, até mesmo pelas pressões sofridas,
para melhorar as condições dos trabalhadores, criando leis e direitos para que os empregadores
não explorassem a falta da presença do estado ou a ausência do amparo legal ao ambiente de
trabalho de seus colaboradores.
Segundo Nascimento (2004, 2009), o conjunto de influências, que determinou para que
fossem adotadas medidas de proteção aos trabalhadores no Brasil teve dois aspectos – o externo
e o interno:
Foi a partir destas influências que em 1934 se incluiu, pela primeira vez, normas de direito
de trabalho na Constituição do Brasil, sendo que mais recentemente, na Constituição de 1988,
15
(...). Por outro lado, contudo, proibiu o exercício do direito de greve e o lockout, tidos
como manifestações anti-sociais e incompatíveis com os interesses nacionais. Além
dessas medidas, a nova carta previu a criação e sindicato único e instituiu o imposto
sindical, atrelando, dessa forma, os órgãos corporativos ao Estado. A Justiça do
Trabalho foi mantida, mas ainda era considerada como um órgão administrativo.
Em 29 de outubro de 1945, verificava-se novo golpe militar no País,
assumindo a chefia do Governo o Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Realizadas eleições gerais, instalou-se a Assembleia Nacional Constituinte, que
elaborou e promulgou nova Constituição (1946).
É importante observar que, anos antes, em 1943 ao ser lançada a CLT (Consolidação
das Leis do Trabalho), foram criadas as bases da regulamentação legal sobre as relações
individuais e coletivas do trabalho (Art. 1º da CLT), que inspiraram as sucessivas constituições
posteriores, até os dias de hoje.
Embora tenha sido fortemente inspirada na ‘Carta del Lavoro’ do governo Benito
Mussolini na Itália, a CLT teve como fonte as convenções internacionais do trabalho e a
‘Encíclica Rerum Novarum’, chegando a ser denominada como Consolidação das Leis do
Trabalho e da Previdência Social. Seu impacto foi grande e o termo ‘celetista’, derivado da
sigla ‘CLT’, passou a ser utilizado até hoje para denominar o indivíduo que trabalha com
registro de carteira de trabalho.
Três anos depois da criação da CLT, é aprovada a Constituição de 1946, sobre a qual o
autor assim se refere:
1969, quanto a alguns princípios básicos então vigentes no âmbito do Direito Internacional do
Trabalho:
Está garantida a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas
de saúde, higiene e segurança. E, ratificadas as Convenções 155 e 161 da OIT, que
também regulamentam ações para a preservação da Saúde e dos Serviços de Saúde do
Trabalhador. As conquistas, pouco a pouco, vêm introduzindo novas mentalidades,
sedimentando bases sólidas para o pleno exercício do direito que todos devem ter à
saúde e ao trabalho protegido de riscos ou das condições perigosas e insalubres que
põem em risco a vida, a saúde física e mental do trabalhador. A proteção à saúde do
trabalhador fundamenta-se, constitucionalmente, na tutela “da vida com dignidade”,
e tem como objetivo primordial a redução do risco de doença, como exemplifica o art.
7º, inciso XXII, e também o art. 200, inciso VIII, que protege o meio ambiente do
20
trabalho, além do art. 193, que determina que “a ordem social tem como base o
primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”.
Mas, no plano prático (da CF/88), a questão da segurança do trabalho, num primeiro
momento, alcança concretude apenas com “a redução de riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança”, e o pagamento do adicional e do seguro contra
acidentes e do pagamento de indenização quando incorrer em dolo ou culpa.
No que se refere ao conceito legal de acidente de trabalho, a Lei nº 8.213/91 define que
“Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo
exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente
ou temporária, da capacidade para o trabalho”.
I. O acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua
recuperação;
II. O acidente de trabalho sofrido pelo segurado no local e no horário de trabalho em
consequência de:
a. Ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de
trabalho;
b. Ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao
trabalho;
c. Ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro
de trabalho;
d. Ato de pessoa privada de uso da razão;
e. Desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força
maior.
III. A doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua
atividade;
IV. O acidente de trabalho sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de
trabalho:
a. Na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
b. Na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou
proporcionar proveito;
c. Em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta
dentro de seus planos para melhorar capacitação de mão de obra, independentemente
do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
d. No percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer
que seja o meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do
segurado.
Parágrafo 1º-Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação
de outras necessidades fisiológicas, no local de trabalho ou durante este, o
empregado é considerado no exercício do trabalho;
Parágrafo 2º-Não é considerada agravação ou complicação do acidente do trabalho a lesão
que, resultante de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do
anterior.
Além do ‘infortúnio a reparar’ e nesta mesma linha, Mendes e Wünsch (SP, 2007, pág.
156-7) questionam o reducionismo do conceito legal de acidente e de ‘risco aceitável’, baseado
no binômio ‘pericial-legal’, ou seja, no diagnóstico técnico e nas normas que enquadram os
riscos nos limites do medicamente aceitável.
De acordo com as autoras (op. Cit, 2007), “seus artifícios são a desqualificação (o
desnivelamento da qualificação) dos trabalhadores ditos ‘de fora de quadro, exteriores,
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Neste sentido, o conceito legal de acidente de trabalho contido na Lei no. 8.213, ao
dispor dos Planos de Benefícios da Previdência Social, na visão das autoras, equipara doença
profissional e doença do trabalho, excluindo do seguro previdenciário, por definição,
determinadas categorias de trabalhadores, principalmente as que atuam na economia informal.
Trata-se de um equívoco que não condiz com os princípios constitucionais que tratam
da saúde como um direito do cidadão, tal como é referido no artigo XXII (CF-1988) sobre a
redução dos riscos inerentes ao trabalho e no artigo XXVIII (CF-1988) sobre o direito ao
seguro.
No artigo 3º, parágrafo único, onde se prescreve que “não haverá distinções relativas
à espécie e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e
manual”;
No artigo 9º, onde se preceitua que “serão nulos de pleno direito os atos praticados
com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos
na presente Consolidação” (CLT);
No Capítulo II, do Título II da CLT, que versa sobre a “duração do trabalho” e no
Capítulo V, Título II, que versa sobre “a segurança e a medicina do trabalho nas
empresas, no qual se destaca a parametrização para as condições de trabalho”;
No art. 157 onde se estabelece as “competências das empresas:- Inciso I – de cumprir
e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho - Inciso II – instruir
os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no
sentido de evitar acidentes ou doenças ocupacionais - Inciso III – adotar as medidas
que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente - Inciso IV – facilitar a
fiscalização pela autoridade competente;
No artigo 158, onde se “estabelece as atribuições dos trabalhadores: Inciso I – de
observar normas de segurança e medicina do trabalho - Inciso II – de colaborar com
a empresa na aplicação dos dispositivos do Capítulo – Parágrafo Único –Constitui
ato faltoso do empregado a recusa injustificada: a) à observância das instruções
expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior – b) ao uso dos
equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa”;
No Título III da CLT, onde se fala das “normas especiais de tutela do trabalho – com
destaque aos Capítulos I, III e IV sobre ‘duração e condições’ (insalubres, não-
saudáveis – ou acima dos limites de tolerância) de trabalho de certas atividades, e
ainda, ‘da proteção ao trabalho da mulher e do menor”;
No artigo 189 da CLT, no qual é definido o conceito legal de insalubridade – “Serão
consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza,
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Assim, pelo artigo 192 da CLT, o adicional por insalubridade será de 10%, 20% ou de
40% (do salário mínimo), segundo seu grau de intensidade, verificada mediante perícias
requeridas às Delegacias Regionais do Trabalho. Já pelo artigo 193 da CLT, o adicional por
periculosidade será de 30% (do salário nominal) para o trabalhador que realiza suas atividades
em ambientes que oferecem perigo de incêndio, etc.
No campo prático da gestão financeira dos adicionais, muitas dúvidas ou falhas
acabaram exigindo o aperfeiçoando da legislação, como no caso do conceito de periculosidade,
tanto que em 1986 o Decreto nº 93.412 considera também como ‘periculoso’ o trabalho em
contato com energia elétrica. Posteriormente, em 1987, pela Portaria no. 3.393, passa-se
também a tratar como ‘periculosas’ as atividades ou operações que envolvem radiações
ionizantes e substâncias radioativas.
Além disso, o artigo 7º, inciso da Constituição Federal que institui o adicional de
remuneração para as atividades penosas, insalubres e perigosas, ainda não recebeu até hoje uma
regulamentação para atividades penosas, ou seja, para as atividades que o trabalhador, por
exemplo, realiza de pé ou sob a chuva e o sol. Trata-se de uma modalidade de indenização em
atividades que, embora não causem efetivo dano à saúde do trabalhador, constituem atividades
sofridas.
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De certa forma, esta lacuna, como se verá a seguir, pode ficar minimizada com as
prescrições contidas na Norma Regulamentadora NR-17 que dispõe sobre Ergonomia,
incluindo as condições ambientais do posto de trabalho, enfim, a própria organização do
trabalho.
Para os autores (op. Cit., pág.193), a jornada de trabalho implica ainda questões de
corresponsabilidade, assim como o trabalho terceirizado para atividades que não constituem o
objeto principal da empresa, cuja contratação irregular pode formar vínculo, de acordo com o
Enunciado n. 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), inciso IV: “O inadimplemento das
obrigações trabalhistas por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do
tomador de serviços, quanto àquelas obrigações, (...) desde que hajam participado da relação
processual e constem também do título executivo judicial (Artigo 71, Lei nº 8.666/1993 e
Resolução 96 –DJ/2000).
de trabalho temporário a ocorrência de todo acidente, cuja vítima seja um assalariado posto à
sua disposição (op. Cit, pág. 194).
No que se refere à normatização previdenciária, os autores (op. Cit, pág. 218 e 219),
destacam que o acidente típico (no exercício do trabalho), o acidente de trajeto (a caminho do
trabalho), e o que provoca doenças ocupacionais (por agentes físicos, químicos, biológicos) ou
ainda aquele acidente que resulta em doenças do trabalho provocadas pelas condições
inadequadas (ergonômicas/mecânicas), enfim, devem todos ser comunicados ao INSS,
mediante formulário específico (além do profissiográfico), ficando a empresa com o
compromisso de pagar os primeiros 15 dias de afastamento, e a partir do 16º dia a cargo do
INSS como auxílio-doença.
Da mesma forma, é cobrado o seguro previsto no inciso XXVIII do artigo 7º, que é
aquele percentual recolhido pelas empresas, a título de Seguro contra Acidentes do Trabalho
(SAT) previsto na Lei nº 8.212/91 e pago pelas empresas no conjunto de outras obrigações,
através da Guia de Recolhimento da Previdência Social (GRPS). A obrigação se dará em
percentual, sobre o salário do trabalhador, a ser determinado de acordo com o grau de risco da
atividade ao qual o empregado está exposto.
Para evitar responsabilização dessa natureza, segundo os autores (op. Cit, pág. 223) é
importante que a empresa implante ações permanentes de melhoria da saúde, higiene e
segurança dos trabalhadores. E por se tratar sempre de um dano a ser indenizado, resta ao
funcionário e ao empregador compreender que o acidente ou doença do trabalho resulta
invariavelmente em despesa para ambos, razão porque investir em prevenção dos acidentes de
trabalho é, na verdade, um bom negócio.
Com já foi dito anteriormente, a Lei nº 10.666/2003 que instituiu o FAP (Fator
Acidentário Previdenciário) promove este entendimento ao tornar obrigatório o recolhimento
do seguro de acidente de trabalho por parte das empresas, que consiste de um percentual
descontado sobre a folha de pagamento dependendo do risco de acidente de trabalho, podendo
ser reduzido ou ampliado (BARBOSA FILHO, 2011, pág. 24).
27
Recentemente (jan/2013), o FAP acrescentou novas regras que preveem bonificação por
redução do número de acidentes, no sentido de que as empresas que não investirem em saúde e
segurança podem ter a cobrança do SAT/RAT aumentada em até 100%, dependendo do seu
histórico de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais.
Outro aspecto, que contribui para esta visão refere-se ao NTEP (Nexo Técnico
Epidemológico), instituído pela Lei nº 11.430/2006 e regulamentado pelo Decreto 6.042/2007
(ver NR-16 a seguir), que consiste na relação presumida entre ‘Atividades Econômicas’
(CNAE) e ‘Classificação Internacional de Doenças’ (CID 10 da OMS), isto é, entre a
lesão/agravo e a atividade que o trabalhador desenvolve e cuja relação é informada ao INSS,
evitando o mascaramento ou a subnotificação de acidentes e doenças do trabalho, ficando o
ônus da prova por conta do empregador.
Para se manter dentro deste indexador (NTEP), será um bom negócio para a empresa
investir em ações preventivas, notadamente em programas baseados no PCMSO (Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional) e no PPRA (Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais), previstos nas Normas Regulamentadoras NR-7 e NR-9 respectivamente
(BARBOSA FILHO, 2011, pág. 24).
Porém, nem todas as Normas Regulamentadoras (NRs) são pertinentes a todos os setores
da economia, por isso no presente estudo são priorizadas aquelas NRs relativas à saúde e
segurança no ambiente de trabalho no sistema produtivo da indústria gráfica, que
resumidamente (SESI/SP, 2006, pág.194) são as seguintes:
Segundo Ponzetto (2010, pág.13, 14 e 15), uma primeira forma de CIPA organizada no
Brasil surgiu, em 1921, na Light, devido ao grande número de operários acidentados. Esta forma
de organização ganhou corpo nos movimentos sindicais da década de 60, principalmente na
Itália, com o intuito de reunir conhecimentos empíricos e técnicos (médicos, psicólogos, etc)
para eliminar riscos de acidentes e controlar condições de trabalho, a cargo de uma comissão
de operários e empregadores que deviam definir e mapear as áreas de riscos de acidentes nas
oficinas de trabalho, o que, no Brasil, resultou na Norma Regulamentadora NR-9 sobre Riscos
Ambientais.
do empregador traçar a representação gráfica do Mapa, enquanto que na NR-5 isso seria
atribuição da comissão. Em 1994, ficou decidido, juntamente com a regulamentação da NR-15
(operações insalubres) e NR-16 (operações perigosas), que a confecção do Mapa seria mesmo
da CIPA, sendo que em 1996, a NR-9 foi alterada, dando ao empregador a tarefa pela confecção
do PPRA.
Por se tratar de um modelo participativo, a CIPA é uma primeira medida não paternalista
no plano normativo da segurança do trabalho, porém na opinião do autor (op.Cit, pág. 17), a
participação fica comprometida quando os cursos obrigatórios de prevenção de acidentes para
membros da CIPA não regulamentam o programa de ensino de como confeccionar o Mapa de
Riscos.
Nesta tarefa, segundo Ponzetto (2010, pág. 22), protagonistas (CIPA) e técnicos
necessitam trabalhar juntos para pesquisar e avaliar, com o apoio da literatura pertinente, as
características dos agentes causadores de risco, por exemplo, as substâncias químicas e
corrosivas em produtos de limpeza.
Isto implica o conhecimento dos princípios teóricos que fundamentam, por exemplo, a
Tabela de Tipos De Riscos Baseados Nos Agentes Ambientais Ocupacionais, tarefa
diretamente relacionada com a missão de CIPA (NR-5), que inclui o reconhecimento dos
seguintes riscos ambientais:
Em geral, esta tabela não serve somente para CIPA, mas para todos os componentes
técnicos e legais que formam a sofisticada rede de serviços especializados no âmbito da
prevenção acidentária, a saber:
Pode-se, pois, concluir que deve ser do interesse dos protagonistas (CIPA) conhecer as
normas regulamentadoras (NRs) não apenas definir direitos e deveres, mas ainda para
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Que toda empresa é obrigada a cumpri-las (NR-1), sob pena de embargo (NR-3) e multa
(NR28);
Que na instalação de qualquer empresa se considere as normas regulamentadoras de
autorização (NR-2), de edificação adequada (NR-8), de instalação de máquinas e
equipamentos (NR-12), de sinalização (NR-26), de emergência (NR-23);
Que na organização do ambiente de trabalho sejam consideradas todas as demais
Normas Regulamentadoras, principalmente as que dizem respeito ao PCMSO e PPRA
(que é obrigatório para todas as empresas) e à CIPA (obrigatório apenas para empresas
com um mínimo de 20 funcionários, embora, mesmo nas empresas com poucos
funcionários, a CIPA seja recomendável).
Neste contexto de uma total ausência do Estado de leis que protegessem o trabalhador,
a mentalidade era de que a vida humana era pouco mais que desprezível, visto que, “até meados
do século 20, as condições de trabalho nunca foram levadas em conta, sendo sim importante a
produtividade, mesmo que tal implicasse riscos de doença ou mesmo a morte dos trabalhadores.
(...). Apenas a partir da década 50/60, surgem as primeiras tentativas sérias de integrar os
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Torna-se, pois, importante e oportuno conhecer, com maior detalhe, a história desses
avanços tecnológicos no processo de produção gráfica e os respectivos avanços na mentalidade
preventiva de segurança do trabalho, desde seus primórdios até os tempos atuais, tendo em vista
os novos desafios quanto aos riscos físicos, biológicos, químicos, ergonômicos e acidentes
outros, neste setor.
Depois que a humanidade aprendeu a se comunicar por meio de sinais gráficos, saindo
de um longo período sem registro por não conhecer a linguagem escrita, enfrentou uma
realidade antes desconhecida que é a capacidade de lidar com a tecnologia da inscrição gráfica,
desde a mais rudimentar até a mais erudita.
Em sua forma mais primitiva, a inscrição gráfica, de certa forma, surgiu e progrediu
com a intensificação cada vez maior do uso da escrita, em razão da necessidade de transmitir
mensagens à distância e de preservar informações (MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006, pág.
20):
A época mais remota das inscrições feitas pelo ser humano é a Pré-História.
As pinturas rupestres, que representam cenas de batalhas ou descrevem animais,
contêm elementos de escrita, por constituírem expressão visual fixa de fatos e coisas.
A atividade pictográfica do homem, ao escrever usando figuras, estabelecia
uma correspondência entre a imagem e o objeto, e essa forma de escrita podia ser
utilizada para qualquer língua falada.
Na tentativa de criar os registros, vários materiais foram usados para a
transmissão de informações: os egípcios, por exemplo, utilizavam o junco para a
confecção de seus rolos de papiro; os astecas e os maias usavam uma das camadas da
casca de árvore; os romanos, placas de madeira; os sumérios, sinetes cilíndricos e
tabletes de argila; e na Idade Média os escritos passaram a ser grafados em
pergaminhos feitos de pele de animais.
36
A partir desse estágio, a humanidade viveu a experiência da impressão por entalhe, com
modelos reproduzidos manualmente, muitas vezes de forma estafante e insalubre (op. Cit., pág.
20):
A partir dos avanços das tecnologias menos artesanais de impressão gráfica, os cuidados
com os frequentes acidentes parecem ganhar maior importância, uma vez que o processo se
realizava com a incipiente mediação da tecnologia mecânica de reprodução em série, período
histórico que compreende as seguintes inovações (op. Cit., pág. 21):
Por volta de 1456, Gutenberg produziu uma Bíblia impressa em latim, que foi
a primeira publicação pelo processo tipográfico. Foram confeccionados duzentos
exemplares, em dois volumes, com 642 páginas no total.
A região de Mainz foi perturbada pela guerra dos bispos, que culmina com o
saque da cidade onde Gutenberg vivia, levando muitos operários a se refugiarem em
outras regiões da Europa e a instalarem pequenas tipografias, difundindo para o
mundo as técnicas de impressão.
O clero viu as vantagens do poder da impressão. Indulgências, textos
teológicos e manuais para condução de inquisições passaram a ser impressos e se
tornaram instrumentos comuns para disseminação da influência da Igreja.
De 1456 até 1500, houve grande produção e distribuição de uma variedade de
textos, bem como aumento do número de estabelecimentos impressores.
A invenção da imprensa em série tipográfica (prensa mecânica de madeira ou de metal),
além de transformar os negócios do setor gráfico num meio de poder econômico e político,
escancarou a necessidade de capacitação técnica para lidar com maquinário, a fim de evitar
acidentes de trabalho em vários aspectos: o acidente físico (esmagamentos), o acidente químico
(intoxicação por contato com metais pesados, solventes, tintas), o acidente biológico
(insalubridade). e o acidente ergonômico (posições incômodas, etc.).
Neste contexto, porém foi decisiva a invenção da imprensa por Gutenberg porque
impulsionou os avanços tecnológicos de aperfeiçoamento das máquinas, instrumentos e
matérias-primas e, sobretudo de capacitação técnica da mão de obra, tendo em vista os diversos
avanços da industrialização ocorridos na Europa em fins do século XVIII e início do século
XIX (op. Cit. pág.21).
No que se refere à máquina Offset, seu sistema de impressão pode ser considerado um
aperfeiçoamento da litografia mecânica – tecnologia muito empregada, por exemplo, no meio
artístico cultural na década de 60 em São João del-Rei, quando se buscava uma maior fidelidade
ao desenho original sem perda da capacidade de reprodução em série.
Por ser inicialmente menos competitiva, a Rotogravura foi aperfeiçoada pelo próprio
Karl Klic que projetou um equipamento rotativo para aumentar a velocidade de impressão. Já
o sistema de tintagem da primitiva Rotogravura do “Intagilo” somente foi aperfeiçoado, em
1983, com a invenção da gravação eletromecânica, em que a aplicação de tintas ao impresso
(tonalidade da imagem) se faz pela gravação de células em um cilindro revestido com cobre e
cromo, sem os controles digitais de nossos dias.
Foi neste contexto tecnológico, com todos os seus novos desafios em matéria de
segurança do trabalho, que se fez, no Brasil, a transição das Artes Gráficas para a Indústria
39
Gráfica (do poluente linotipo à base de chumbo líquido), em plenos ‘anos de chumbo’, nas
décadas de 70 e 80, quando o Brasil detinha o título de campeão mundial de acidentes do
trabalho.
Na época, chegava-se a culpar a máquina por 30% dos acidentes de trabalho, devido à
inadequada manutenção e conservação, sendo os demais por causa de instrumentos e objetos
traumatizantes, das quedas, choques, esmagamentos, bem como das queimaduras e dos
acidentes causados, inclusive, por falta de iluminação adequada (op. Cit, 1947).
Outro fator citado pelos autores como causa geral dos acidentes de trabalho era a fadiga
devido às longas jornadas de trabalho, elevadas temperaturas, muitas horas extras e poucas
pausas, e sempre com muitos ruídos, exigindo muita concentração e atenção, posição fixa e
movimentos repetitivos, monotonia, esforço físico (op. Cit, 1947).
Nesta pesquisa também são apontados como causa de acidentes fatores externos ao
trabalho como a alimentação deficiente, a habitação distante, as viagens longas, a atitude mental
(resistência ao uso de protetores, aventais, luvas, óculos), além da falta de formação (sem
perícia) ou de higiene e condições sanitárias (falta de limpeza) tanto em casa como no próprio
local de trabalho (op. Cit, 1947).
Esta era uma realidade que se estendeu até os anos 70, no auge dos governos militares,
com a produção da arte gráfica brasileira se organizando principalmente sob a proteção das
associações de classe (patronais e de ordem técnica) a promover uma capacitação profissional
e alguns avanços no processo de produção gráfica, sem todavia alcançar status de ‘indústria’.
(Sesi, 2006, pág. 21).
Os fatos que contribuíram para superar esta fase e impulsionar a indústria gráfica, no
Brasil, foram certamente os enormes investimentos no sistema produtivo automatizado e as
enormes alterações que este sistema sofreu com a introdução da informática, segundo o diretor
de tecnologia da ABTG (op. Cit., 2011).
No mesmo ano de 2006, a indústria gráfica proporcionou mais de duzentos mil postos
de trabalho diretos, ou seja, cerca de 2,4% do total de nº 8.242.750 trabalhadores da indústria
brasileira (Dados do TEM/RAIS, 2006).
42
No entanto, o uso das tecnologias de ponta ocorreu não sem os desequilíbrios marcantes,
como ocorre em todos os aspectos da nossa sociedade. Os dados indicam que aproximadamente
90% das empresas gráficas empregam menos de vinte pessoas, e que, geograficamente, a
Indústria Gráfica brasileira está concentrada principalmente nas regiões sudeste (56%) e sul
(22%) do país (MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006, pág. 23).
O avanço tecnológico tem gerado, no mundo atual, um processo produtivo cada vez
mais acelerado e, no caso da indústria gráfica, uma polivalência que exige da mão de obra muita
versatilidade e constante aperfeiçoamento dos processos produtivos, mudando frequentenente
de lugar o tipo e a natureza dos riscos à saúde ocupacional e à segurança do trabalho.
Com a impressão digital não é necessário se produzir uma chapa de impressão, processo
que dispensa o trabalho com fotolitos, um dos grandes responsáveis por intoxicação química
(MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006).
mais rapidez e precisão. E isso muda significativamente o perfil dos riscos de acidentes (op.
Cit., 2006).
Os riscos da área industrial gráfica, porém, variam também de acordo com os diferentes
setores ou condições e processos de trabalho, compreendendo a etapa da Pré-Impressão, da
Impressão e da Pós-Impressão.
Na fase do acabamento, além dos agentes de risco que incluem o ruído afetando a
audição, há os fatores ergonômicos de movimentos repetitivos que podem provocar
dores musculares;
Em espaços reduzidos, acidentes podem ocorrer devido ao arranjo físico inadequado,
provocando, além de quedas, incêndios;
No uso da guilhotina, pode ainda ocorrer o risco de acidente causado por prensamento,
corte nas mãos e dedos, ou fraturas;
No depósito de resíduos, além dos riscos com agentes químicos, pode ainda ocorrer
os riscos com agentes biológicos devido ao armazenamento e tratamento inadequados,
ocasionando alergias, infecções;
Na etapa da expedição, os fatores de risco se referem a agentes ergonômicos e
acidentes outros que podem provocar dores e problemas de coluna, varizes, contusões,
devido ao trabalho em pé por períodos prolongados ou devido à locomoção em de
espaços inadequados.
No setor de pós-impressão é ainda frequente o agente nocivo ergonômico na utilização
de dobradeiras.
Com base neste extenso rol de riscos na área da indústria gráfica, é possível observar
que o avanço da tecnologia modificou as necessidades referentes à mão de obra e à matéria-
prima, inclusive a logística geográfica e as necessidades de capacitação gerencial o que,
segundo os autores do Manual da Indústria Gráfica (MANUAL-SST/Ind.Gráfica/SP, 2006, pág.
22-24), implica nos seguintes desafios:
E por fim, a análise se volta para o conceito de gestão quanto ao seu papel de planejar e
desenvolver o plano de ação preventiva, ou de efetivar o sistema de saúde e de segurança do
trabalho, no caso deste estudo, em empresa na área da atividade gráfica.
49
Já com relação ao ‘ato inseguro’ – risco que se corre por prevenção inadequada ou
subestimada – embora independa de quem o sofra, implica uma avaliação dos atos do
trabalhador que ainda não é capaz de controlar o risco por não oferecer, por exemplo,
treinamento sobre como seguir e respeitar, de forma crítica e efetiva, as normas técnicas de
segurança do trabalho.
Diante disso, estudos sobre avaliação de riscos ambientais de trabalho recomendam que,
antes de fechar questão sobre normas ou fórmulas pré-concebidas de risco laboral, é importante
proceder a uma investigação prospectiva no sentido de verificar aquelas fontes e fases em que
o risco aumenta significativamente, ou a uma investigação dedutiva, quando a natureza dos
riscos de acidentes é apenas diagnosticável após sua ocorrência (Castro, Peixoto, & Pires do
Rio, 2005).
acidente de trabalho, resolveu aliar sua cultura empírica (opiniões subjetivas validadas por
consenso) aos conhecimentos de profissionais especializados (multidisciplinares), criando um
modelo próprio de investigação e de controle das condições de trabalho digno e seguro
(PONZETTO, 2010, P. 13).
A aplicação deste modelo de prevenção, que ficava a cargo de uma comissão interna de
trabalhadores, consistia em levar ao conhecimento do operário os focos de risco potencial que
seu posto ou ambiente de trabalho oferecia, prevenindo-o inclusive quanto à classe e ao grau
do risco a que estaria exposto. Para isso foi criado, segundo Ponzetto (2010, pág.14), o mapa
de riscos – uma representação gráfica ou um catálogo da variedade de riscos possivelmente
existente no ambiente laboral da empresa, incluindo ‘recomendações’ de como agir para reduzir
ou eliminar as fontes ou causas dos riscos ali representados.
Este modelo de prevenção chegou ao Brasil na década de 80, quando o ‘mapa de riscos’
passou a ser objeto de oficialização legal com a Norma Regulamentadora NR-5, que instituiu a
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), com a função de desenhar o ‘mapa de
riscos’ dentro da realidade da empresa, assim como prescreve a Portaria de 1999, que atualiza
com nova redação a NR-5, dizendo o seguinte:
O risco, assim qualificado e reconhecido por todos, além de, desde sempre representar
uma deterioração do ambiente de trabalho, constitui na verdade uma questão de probabilidade
(se pode haver dano, existe o risco), cuja gravidade necessita de uma avaliação fundamentada
e baseada, como já foi dito, em adequada metodologia que, segundo Germano (– Internet - Univ
Porto), compreende resumidamente os seguintes processos:
Em outras palavras, para Barbosa Filho (2011, pág. 104), uma vez diagnosticada toda e
qualquer possibilidade de risco, é preciso avaliar sua chance de ocorrência (frequência, duração)
e potencialidade danosa (grau de intensidade e de frequência), valendo-se de medições
quantitativas e qualitativas para, enfim, tratar da possibilidade de eliminar a causa ou as fontes
dos riscos, e se isso não for possível, reduzir os riscos mediante medidas de prevenção ou, em
último caso, providenciar meios de proteção individual e coletiva.
Em termos técnicos, Ponzetto (2010, pág. 20) observa que a avaliação quantitativa
necessita de instrumentos científicos de medição diversos e calibrados para cada tipo de risco
analisado, assim como recomenda a NR-9, ou como é feito, por exemplo, em Laudo Técnico
para a mensuração da insalubridade.
52
Isso se aplica a todos os instrumentos científicos, tal como o Luxímetro que mede o
fator iluminação; tubos colorimétricos para mensurar os agentes de risco com produtos
químicos nocivos; ou para mensurar temperaturas por meio de termômetros de bulbo seco, de
bulbo úmido e termômetro globo; ou ainda para avaliar a velocidade do ar em ambientes
externos.
Para Barbosa Filho (2011), a avaliação quantitativa envolve uma gama ampla de
medição de diferentes agentes nocivos, compreendendo os riscos físicos (calor, frio, radiações),
químicos (compostos inorgânicos como metálicos e orgânicos como diluentes), biológicos
(microorganismos, parasitas), mecânicos (traumatismos, atritos), além de outros de difícil
mensuração quantitativa.
Com efeito, há fatores de risco, tais como se verá a seguir na área da indústria gráfica,
que só podem ser dimensionados qualitativamente por meio de informações coletadas
diretamente no ambiente de trabalho mediante investigação prospectiva (enquete de memória
histórica e organizacional), ou ainda por meio de observação direta ou de imagens (gravadas).
A observação direta ou por imagem tem também suas limitações, pois pode causar
constrangimentos aos trabalhadores, modificando sua rotina (modus operandi), ou porque pode
ser efetuada em horários não representativos e inadequados, ou ainda devido a outras
interferências.
Do ponto de vista investigativo, isso significa que o quadro teórico assim como o perfil
cultural do risco no âmbito real da empresa, juntos, funcionam como referenciais para que o
risco seja percebido como algo não isolado, mas como algo integrado às fontes dos agentes
nocivos, portanto, um objeto de pesquisa contextualizado, feito variável ou conceito
mensurável, e por isso mesmo controlável.
b) Riscos Químicos - São considerados como agentes: poeiras, fumos, gases, vapores,
neblinas e produtos químicos em geral. Estes agentes penetram no organismo do
trabalhador pelas vias cutânea, digestiva e respiratória. Na Indústria Gráfica, os
produtos químicos utilizados são: fixadores, reveladores, reparadores, tintas e
solventes orgânicos (diluentes de tintas e limpeza de equipamentos). Dependendo do
produto químico utilizado, sua manipulação, concentração no ambiente e tempo de
exposição do trabalhador podem causar efeitos, cujos sintomas são cefaléia, tontura,
irritação ocular, problemas de pele pelo contato, episódios depressivos e outros
relacionados ao sistema nervoso.
56
Para facilitar a visualização dessa classificação, o ‘mapa teórico de riscos’ pode ser
representado na forma de um de inventário ilustrativo (Quadro - II) resumindo, no plano teórico,
a diversidade de agentes nocivos que integram a problemática geral do risco no âmbito da
indústria gráfica.
especializados sobre a natureza e a classificação dos riscos ocupacionais pincelados por meio
de cores e da magnitude do risco simbolizada por meio de círculos de diferentes tamanhos.
Sem ainda considerar a magnitude do risco, conceito que será analisado na secção
seguinte, o Quadro-II, associada à NR-5, implica, por conseguinte, uma reconstrução baseada
também em princípios legais que levam em conta a ação participativa, por exemplo, da CIPA,
como uma reconstrução (teórica) feita no local de trabalho com a anuência dos próprios
protagonistas.
Neste sentido, o mapa teórico de riscos, além de proporcionar elementos para validar
inclusive instrumentos de pesquisa de campo (ver a seguir), funciona também como paradigma
para a reconstrução dos componentes que constituem o histórico de acidentalidade a cultura
acidentária, tendo em vista os incidentes de trabalho existentes na empresa (objeto de pesquisa).
Assim, a reconstrução coletiva da cultura local do risco na empresa pode ainda ter a
contribuição dos especialistas através dos dados contidos no Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais (PPRA - Norma Regulamentadora NR-9) e no Programa de Controle Médico de
Saúde Ocupacional (PCMSO - Norma Regulamentadora NR-7), ou outros.
Com as informações e dados obtidos coletivamente, o perfil da cultura local do risco
(acidentalidade) pode ser representado por meio de uma ilustração, por exemplo, de um desenho
que localize as áreas de maior risco laboral, tendo em vista o processo de trabalho com
máquinas, instrumentos, produtos, e outros fatores.
A síntese pode ser feita, por exemplo, num desenho em forma de um mapa de áreas de
riscos na planta da indústria gráfica pesquisada, conforme se observa na Figura- 1 (abaixo), em
que o círculo de várias cores representa as diversas classes de riscos e seu tamanho indicando
a magnitude, e o ‘x’ a quantidade de funcionários expostos a estes riscos.
59
Por exemplo, o mesmo agente de risco (no caso da contaminação por agentes químicos),
dependendo de fatores diversos, pode causar danos diferentes, assim como a dermatite (contato
com a pele) ou a doença no sistema nervoso central (contato por inalação).
Um exemplo disso é a doença respiratória laboral que pode ser ocasionada por um
conjunto de agentes nocivos atuando no ambiente de trabalho, envolvendo ao mesmo tempo
agentes químicos, físicos, biológicos e outros (umidade, poluição, ventilação, temperatura,
higiene, etc.).
Esta condição se repete para quase todo tipo de risco quando associado ao dano, ou seja,
quando o risco é definido em termos de sua intensidade, tempo e circunstância, tal como se
observa na avaliação de Sesi (Modelo SST, 2006) da magnitude do risco laboral, segundo
diferentes classes de agentes nocivos (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, mecânicos
ou de acidentes outros):
1. Risco físico – Do ponto de vista tanto do grau de probabilidade quanto do grau de gravidade pode-
se determinar o nível dos ‘riscos físicos’, por exemplo, do ruído por meio do dosímetro (marca
Simpon), calculando-se seu grau de intensidade em dB(A) e assim determinar a gravidade do dano
(alta = acima de 95 dB; média = entre 85 e 95 dB; e baixa = menos que isso).
Porém, tendo em vista a forma de exposição à fonte nociva (ao ruído) no tempo e no espaço em que se
encontram as fontes de risco (em máquinas, equipamentos, instrumentos, em setores de pré-impressão,
impressão, pós-impressão, ou de qualquer processo de trabalho), a medição do grau da intensidade
necessita de avaliações complementares.
Com efeito, além da medição da intensidade, a gravidade do dano (estresse ou surdez provocado por
ruído) pode variar dependendo do tempo (duração), da frequência e da distância a que o trabalhador fica
exposto à fonte do risco (Modelo SESI em SST, 2006).
Assim, o limite de tolerância humana ao ruído geralmente fixado em 80 decibéis segundo recomendação
técnica, precisa ser avaliado mediante outros fatores que modificam a exposição sonora em diferentes
tempos e espaços (tipo, frequência, duração do ruído), o que pode modificar o diagnóstico da magnitude
do risco laboral quanto ao dano.
O mesmo ocorre em relação ao calor (temperatura), quando o fator ‘tempo de exposição’ é fundamental
na avaliação qualitativa feita no contraponto da avaliação quantitativa por meio de um medidor de estresse
térmico, por exemplo, IBTG (marca Instrutthem modelo TGD-20).
2. Risco químico – No caso da avaliação da magnitude dos ‘riscos químicos’, pode-se determinar, do
ponto de vista técnico da medição quantitativa, o nível (em ppm) de vapores e solventes orgânicos,
dentro dos limites de tolerância estabelecidos na NR-15 ou da ACGIH para acetona, acetato de etila,
álcool isopropílico, metil etilcetona, n-hexano, tolueno, xilenos, etc.
Mais uma vez aqui, a forma de dimensionar o risco em relação ao dano, necessita ainda de observação
direta do processo produtivo, envolvendo, por exemplo, procedimentos de manuseio dos produtos
químicos, de armazenamento e de descarte de resíduos para, enfim determinar, a magnitude do risco.
No caso de radiações não-ionizantes que podem ser encontrados na indústria gráfica em caso de
vazamento ou derramamento de produtos químicos, a avaliação qualitativa (observação do fenômeno in
loco) é igualmente importante para se determinar a gravidade do risco, em vista do maior ou do menor
contato com o agente nocivo.
O mesmo ocorre com a avaliação em laboratório (LT) de gases poluentes obtidos por meio de uma bomba
de sucção, por amostragem, quando é preciso levar em conta ainda diferentes jornadas de trabalho para,
enfim determinar a gravidade do dano, em termos de tempo, de frequência e de distância em que o
trabalhador fica exposto ao agente nocivo.
Em geral, a avaliação dos agentes químicos é feita quase que exclusivamente por métodos qualitativos
(observação ponderada), sempre levando em consideração as condições gerais do risco, ou seja, o grau
de probabilidade e de gravidade quanto ao efeito danoso (Modelo SESI em SST).
62
3. Risco biológico – Da mesma forma, a avaliação para determinar o limite de tolerância à exposição
dos ‘riscos biológicos’ é, geralmente, feita pela observação direta, secundada por testes laboratoriais
dos riscos ocupacionais que ocorrem, por exemplo, no refeitório/cozinha, nos banheiros e nos
depósitos de resíduos de agentes nocivos, tendo em vista a presença de sujeira (vestígios de insetos
e roedores) que podem contaminar embalagens, matéria-prima, ambientes e pessoas.
Assim como no caso dos limites químicos, a tolerância aos agentes biológicos é estabelecida caso a caso,
a exemplo da avaliação médica que define o grau máximo ou grau médio de gravidade por observação e
interação, tendo em vista os critérios de probabilidade e de medição de agentes transmissores (observação
de sintomas, exames laboratoriais de doenças ‘infecto-contagiosos’ etc.).
Para relacionar o risco à diversidade do dano, neste caso, os exames em laboratório complementam a
observação qualitativa no ambiente do trabalho para ‘checar in loco’, por exemplo, queixas sobre
desconforto acústico, visual, térmico, ou de fadiga psíquica, física, ou ainda de queixas de dores
osteomusculares (DORT), e de dores por esforço repetitivo (LER), etc.
Quando se observa as fontes do risco no contraponto das medições instrumentais e avaliações pessoais,
fica mais fácil saber se, por exemplo, há relação entre os agentes ergonômicos e o estado de saúde
ocupacional, sobretudo o estado psicossocial, como falta de apoio social, relações com colegas, disposição
para o trabalho, fadiga, monotonia, etc.
Em termos gerais, a análise dos níveis de riscos ergonômicos implica sempre a avaliação qualitativa, o
que, todavia, não dispensa as avaliações quantitativas efetuadas segundo os limites técnicos ou aqueles
colocados pela Norma Regulamentadora NR-17 ou, por exemplo, pela ‘Industrial Hygiene, Evironmental,
Occupational Health’ (ACGIH).
5. Risco de acidentes outros - A avaliação feita, por exemplo, sobre o grau de risco por excesso ou
precariedade da iluminação (iluminancia) por meio de um Luxímetro, com incidência de luz natural
e artificial, também aqui é preciso levar em conta, por exemplo, a distância da medição. Em geral,
essa medição é feita a uma determinada altura de, por exemplo, 0,75m do piso para que se possa
definir o grau de gravidade do risco (luminosidade precária ou excessiva), o que ainda assim demanda
uma avaliação qualitativa.
Na delimitação das condições de periculosidade (de riscos de acidentes outros), por exemplo, de trabalho
em contato com líquidos inflamáveis, é preciso caracterizar o grau de probabilidade e de gravidade do
risco por setor ou processo e por tipo de produto e de material.
Neste caso, a medição do grau de periculosidade inclui o arranjo físico e as condições de armazenamento,
tendo em vista quantidades, tempo de exposição, enfim, condições geralmente expressos em catálogos,
rótulos e quadros de advertência quanto ao grau de gravidade.
6. Mix de agentes nocivos – È importante observar que a avaliação do grau de probabilidade e de
gravidade do risco raramente se reduz a um risco só, mas frequentemente implica um conjunto de
agentes nocivos, de modo que a magnitude do risco varia segundo esta combinação (Modelo SESI
em SST).
Igualmente o contato, por exemplo, com forno de alta temperatura, pode provocar queimaduras (via chapa
quente) ou fadiga ou debilidade física (sobrecarga térmica), dependendo do tipo de associação entre o
risco e os diferentes danos que o mesmo pode provocar.
Neste sentido, a mensuração combinada de diferentes agentes de risco, em termos quantitativos
(instrumentos de medida) e qualitativos (observação direta de fatores combinados), pode implicar
complexas fórmulas, como no caso do ruído continuo ou intermitente.
Por exemplo, pela NR-15, o limite de tolerância ao ruído está fixado em 85 dB(A), inclusive para
caracterizar ou não o pagamento de adicional de insalubridade previsto na Constituição Federal, Artigo
7º, XXIII, tendo em vista uma exposição ocupacional diária de 8 horas a ruído contínuo ou intermitente.
63
Na mesma Portaria (NR-15) em que isso é regulamentado, é estabelecido que a cada aumento de 5 dB(A)
no nível de ruído, o tempo de exposição deve ser reduzido pela metade (fator de troca – Q de 5 decibéis),
resultando na seguinte fórmula C1/T1 + C2/T2 + ... + CN/TN (C=níveis de ruído; T=nível máximo
permissível pela NR-15). Já no caso do ruído de impacto único (instantâneo), o limite de tolerância sobe
para 120 ou 130 dB(A).
Todas essas diferentes condições, uma vez conhecidas, permitem que se defina a
magnitude do risco, sendo, pois, importante destacar que as condições gerais do trabalho que
determinam sua avaliação implicam os mesmos critérios avaliativos que foram utilizados
anteriormente para antecipar e reconhecer os riscos (prováveis), isto é, de forma consensual e
multidisciplinar.
É essa a razão porque a pesquisa exploratória junto aos protagonistas traz valiosa
contribuição na forma de validar e complementar as mensurações técnicas da pesquisa de
campo.
Assim, o que define o grau de probabilidade (gºP) do risco acontecer, em geral, refere-
se aos critérios utilizados para definir os níveis (chance de risco alto, médio, baixo) dos
diferentes dados e informações, que incluem, por exemplo, graus atribuídos:
A gradação da gravidade (gºG) do risco associado ao dano pode, por sua vez, ser
estimada mediante critérios verificando, por exemplo, se o risco possui alto potencial de
provocar câncer; médio potencial de causar irritação nos olhos; ou baixo potencial de gerar
alergia por contaminantes atmosféricos ou por microorganismos.
A questão da gradação da gravidade do dano que o risco oferece, refere-se, por sua vez,
à constatação de vários níveis em que os danos se situam, caracterizados por circunstâncias
observáveis, assim como:
PROBABILIDADE (P)
Fonte: Tabela baseada nos estudos do risco laboral (Modelo SESI em SST, 2006)
Neste sentido, embora a maioria das empresas brasileiras esteja isenta da atribuição de
manter em seus quadros um serviço especializado e setorizado ligado à saúde e segurança do
trabalho, independentemente do grau de risco da atividade principal, isso não a exime da
responsabilidade de manter um programa mínimo de medidas estratégicas para identificação e
controle dos riscos à saúde e à segurança do trabalhador.
66
Como se sabe, por lei, apenas empresas com mais de 20 empregados tem a obrigação
de formar uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), ou aquelas com mais de
50 empregados que tem ainda a obrigação legal de formar o Serviço Especializado em
Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT).
Entretanto, como afirma Barbosa Filho (2011, pág.217), a legislação é bem clara ao
expressar que em qualquer estabelecimento que empregue trabalhador, o administrador terá a
obrigação de aplicar programas mínimos (PPRA e PCMSO) e cumprir suas determinações, sob
as penas da lei.
Após o risco ocupacional ser reconhecido e avaliado na fase de coleta de dados, tal como
já foi exaustivamente demonstrado, as ações preventivas para controlar seus efeitos danosos
agora demandam medidas e estratégias que implicam um planejamento para estabelecer
prioridades factíveis mediante objetivos e metas de prevenção, no sentido de eliminar ou reduzir
os riscos a níveis aceitáveis.
Por exemplo, o objetivo geral do projeto pode ser a ‘prevenção da saúde e a integridade
dos trabalhadores através do desenvolvimento das etapas de (i) antecipação e reconhecimento,
(ii) da avaliação e (iii) do controle dos riscos ambientais do trabalho existentes ou que venham
a existir nos locais de trabalho’. Prioridades factíveis de prevenção, neste caso, significam:
Assim, o ‘critério’ está nas ações prioritárias resultantes do perigo que o risco oferece
em função da gradação resultante, como já foi demonstrado, da combinação entre
‘probabilidade e gravidade’ do Quadro 3, demandando medidas adequadas para cada nível de
risco:
Por exemplo, a meta geral pode ser fixada em termos de porcentagens sobre resultados
positivos (por exemplo, 25% no geral) que se espera alcançar quanto à eliminação, à redução
ou à proteção contra riscos existentes ou que venham a ocorrer no ambiente de trabalho, sempre
tendo em vista a implantação das medidas prioritárias de controle (necessárias) e de
monitoramento (periódico).
Com base nestes critérios, há condições de realizar o planejamento das ações de cada
meta de prevenção setorizada, processo que implica a descrição de atividades relativas às
diferentes etapas do projeto.
No que se refere às atividades previstas no cronograma, cada uma delas, implica por sua
vez uma série de atividades operacionais, aqui apresentadas como sendo aquelas que
comumente se desenvolve na prevenção acidentária:
dano. Como já foi dito, o inventário de riscos serve como base para a elaboração do plano de
ação da empresa.
Diante dos novos desafios no campo das relações sociais de trabalho alteradas pela
progressiva globalização econômica e política (de redemocratização), o estudo propõe uma
redefinição dos processos individualizados de prevenção da saúde e da segurança do trabalho,
alinhando-se à nova cultura que defende, segundo Mendes e Wünsch (2007, pág. 154), a
necessidade de vincular a segurança e a saúde laboral aos processos sociais da gestão do
trabalho no contexto empresarial, tendo em vista:
O capítulo a seguir trata dos limites teóricos de como e porque ampliar o recorrente
conceito de prevenção, no que se refere especialmente ao uso de equipamentos de proteção
individual (EPI), de modo a gerar uma nova cultura de gestão preventiva, ou seja, uma
prevenção intersetorial (do ‘risco invisível do modelo de gestão’, que ocorre no plano ético e
social, além dos limites das relações solidárias na empresa), e uma prevenção transdisciplinar
(do ‘risco ambiental aceitável e indenizável’, que ocorre no plano técnico-legal, porém, além
do aspecto interdisciplinar da segurança e medicina do trabalho).
77
de organização do trabalho”, uma vez que se constata que os problemas não ocorrem só pela
falta de equipamentos de proteção, mas também de falhas gerais no posto de trabalho (Maria
Maeno, Fundacentro, Internet).
Estes são alguns exemplos que mostram que, se no passado o acidente de trabalho
poderia ser considerado um ‘infortúnio’, cujo risco podia ser controlado pela ‘prevenção
acidentária individualizada’, nas relações sociais de trabalho de hoje, esta prevenção já não
consegue dar conta do impacto social e econômico negativo provocado pela sinistralidade e
pelos riscos graves existentes no âmbito do sistema produtivo, gerando insatisfação e prejuízo
para todos (BARBOSA FILHO, 2011).
Em termos práticos, significa afirmar que, na nova visão cultural de hoje, é preciso
prevenir o risco do trabalho promovendo ‘condições ótimas de trabalho’, processo que depende,
de um lado, da consciência (intersetorial) que se tem dos fatores socioeconômicos que afetam
estas condições (a sobrecarga de trabalho, a rotatividade, a substituição e descarte da mão-de-
obra, absentismo laboral, etc.) e, de outro lado, da consciência (transdisciplinar) que se tem da
possibilidade de ampliar a ação preventiva na direção da saúde e do valor social do trabalho
(MENDES E WÜNSCH, 2007).
Esta nova ordem (de gestão transdisciplinar e intersetorial), na verdade vem sendo
esculpida através de pactos, princípios, valores e acordos coletivos, interligando questões
individuais e sociais, ou seja, saúde ocupacional e saúde integral, que inclui alimentação,
educação, salário, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer e liberdade, realização
profissional, acesso aos serviços de saúde, tal como prevê a Constituição Federal ao
redimensionar a saúde do trabalho (CLT, 1943) na perspectiva do valor social do trabalho
(BRASIL, 1988).
É preciso, pois, dar mais ênfase às falhas de projeto (riscos mecânicos) ou à faceta
psicossocial dos riscos ergonômicos, no que se refere à falta de sinergia entre trabalho prescrito
e trabalho real (Manual PME - Portugal internet), decorrentes de problemas que ocorrem em
nível de gestão (risco invisível do modelo de gestão), de hierarquia e decisão, de integração
com a equipe, de jornada e ritmo de trabalho e, inclusive de medidas preventivas mal
conduzidas, abrangendo ainda outros fatores, além dos já citados:
Como se pode observar, o foco aqui está na esfera gerencial, ou seja, nas relações sociais
de trabalho e no componente humano de adaptação ao trabalho (OIT/OMS), quando a gestão
necessita levar em conta o modo de inserção social do trabalhador, sua experiência anterior na
atividade, sua qualificação, suas condições de vida (distância residência-trabalho, alimentação,
mobilidade social e geográfica, acesso aos bens e serviços), além de questões de gênero, idade,
antiguidade na empresa e principalmente de aptidão física e mental para a função ou para
suportar as exigências do cargo em condições mal conservadas (posto de trabalho).
Nas situações em que se pode reconhecer o dano à saúde, pouco se tem olhado
para o “controle” da carga de trabalho; além disso, a prevenção e a eliminação dos
riscos não têm levado em conta a progressividade do desgaste humano lentamente
acumulado, que não é só físico. Esta realidade demarca aos empregadores a
necessidade de reverem não apenas as condições ambientais e organizacionais do
trabalho, mas também seus modelos de gestão da saúde para o trabalhador (op. Cit.
2007, pág. 159).
Ligados à dinâmica da produção e às condições de trabalho e de vida, os riscos
ocupacionais podem, pois, estar interligados aos riscos da sobrecarga, sendo assim produto da
falta de sincronia entre o trabalho proposto e o trabalho real, ou quando a gestão deixa de
redimensionar as condições reais do trabalho, no sentido de não querer torná-lo adequado às
condições ergonômicas psicossociais (op. Cit. 2007, pág. 160).
No que se refere à sinergia entre trabalho e vida’ (saúde), o fator subjetivo de satisfação
e de saúde física, mental e social do trabalhador depende, assim, de ‘pactuações’ (intersetoriais)
83
Como se sabe, os prejuízos por falhas na prevenção de acidentes têm um custo indireto
quatro vezes maior que o custo direto de prevenção de riscos ambientais e de agravo com
assistência médica e com indenizações, concorrendo, segundo especialistas (Manual PME,
Portugal - internet), para uma série de perdas de rentabilidade e de produtividade, em vista dos
seguintes fatores:
Danos materiais;
Atraso na execução do trabalho;
Custos inerentes às peritagens e ações legais eventuais;
Diminuição do rendimento durante a substituição;
A retomada de trabalho pela vítima.
Com efeito, as boas condições de trabalho, segundo Gardinalli (Manual, 2012, internet),
auxiliam na sensibilização de todos para o desenvolvimento de uma consciência coletiva de
respeito à integridade física e psicossocial dos trabalhadores no ambiente de trabalho, o que, no
caso das pequenas empresas, isso acontece naturalmente com a participação do próprio
empreendedor e dos próprios trabalhadores na identificação de riscos ocupacionais e de
‘sobrecarga’, tornando as condições de trabalho menos sinistras e mais competitivas.
logística e mecânica do trabalho, o que pode representar o início de uma nova cultura de gestão
de segurança e saúde, enfim de resgate do valor social do trabalho
Para evitar responsabilização dessa natureza, é importante que a empresa implante ações
permanentes de melhoria da saúde, higiene e segurança dos trabalhadores. E por se tratar
sempre de um dano a ser indenizado, resta ao funcionário e ao empregador compreender que o
acidente ou doença do trabalho resulta invariavelmente em despesa para ambos, razão porque
‘investir em prevenção dos acidentes de trabalho é, na verdade, um bom negócio’ (PME,
Portugal).
Com já foi dito anteriormente, a Lei 10.666/2003 que instituiu o FAP (Fator Acidentário
Previdenciário) promove este entendimento ao tornar obrigatório o recolhimento do seguro de
acidente de trabalho por parte das empresas, que consiste de um percentual descontado sobre a
folha de pagamento dependendo do risco de acidente de trabalho existente na empresa, podendo
ser reduzido ou ampliado (BARBOSA FILHO, 2011, pág. 24).
Como já foi dito, outro aspecto, que contribui para esta visão de que investir em saúde
e segurança pode ser um bom negócio, refere-se ao NTEP (Nexo Técnico Epidemológico),
instituído pela Lei nº. 11.430/2006 e regulamentado pelo Decreto nº. 6.042/2007 (ver NR-16),
que consiste na relação presumida entre ‘Atividades Econômicas’ (CNAE) e ‘Classificação
Internacional de Doenças’ (CID 10 da OMS), isto é, entre a atividade que o trabalhador
desenvolve e a estimativa de lesão/agravo dessa atividade, cuja relação é informada ao INSS,
evitando o mascaramento ou a ‘subnotificação’ de acidentes e doenças do trabalho, ficando o
ônus da prova por conta do empregador.
Para manter a ‘acidentalidade’ dentro desse indexador (NTEP), será um bom negócio
para a empresa investir em ações preventivas, notadamente em programas baseados no PCMSO
(Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) e no PPRA (Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais), previstos nas Normas Regulamentadoras NR-7 e NR-9 respectivamente
(BARBOSA FILHO, 2011, pág. 24).
Produzir, pois, sem causar lesões ou doenças aos trabalhadores significa, de um lado,
evitar custos indenizatórios, e de outro lado, evitar fatores de risco e de insatisfação, que geram
invariavelmente diminuição de produtividade, desperdícios de material, aumento do número de
produtos defeituosos ou de serviços ineficientes, além de perda de credibilidade social e
competitividade econômica.
Na perspectiva dos fatores sociais e econômicos que afetam a atual questão preventiva,
considera-se que a segurança e a medicina do trabalho estão a sofrer um redimensionamento
em que a análise dos riscos ocupacionais se desloca dos efeitos para as causas, implicando
naturalmente uma reavaliação da metodologia adotada, tendo em vista a nova cultura de gestão
preventiva no que se refere à promoção da saúde ocupacional (OIT/OMS).
Com efeito, como ciências distintas, segurança e medicina do trabalho são dois campos
de atividade que precisam estar intimamente relacionados quando se pretende ampliar a
segurança do trabalho na direção da saúde ocupacional como ‘um estado de bem-estar físico,
mental e social e não somente a ausência de doença e enfermidade’ (W.H.O., 1946).
Sem sustentabilidade, um programa assim não pode ter solução de continuidade, a não
ser aquela de reeditar anualmente tal processo (cartorial), passando a ideia de que este é um
programa em que se espera prevenir o acidente sem se comprometer com a saúde do trabalhador
e sem mobilizar os trabalhadores e os gestores para o compromisso e para a cooperação efetiva.
88
Têm-se assim dois problemas. Um, de ordem conceitual (transdisciplinar) que consiste
na necessidade de integrar medicina e segurança preventiva do trabalho em torno não apenas
dos efeitos, mas das causas sociais que geram o risco ambiental (concausalidade) e outro, de
ordem gerencial (intersetorial) que consiste na unificação das políticas de gestão preventiva em
torno não apenas da prevenção, mas da promoção da saúde ocupacional plena (OMS/OIT).
Aqui, a faceta psicossocial do risco ergonômico constitui, como já foi dito, uma
ampliação do conceito de ergonomia como “ciência que visa o ajustamento mútuo ideal entre
o homem e o seu ambiente de trabalho, cuja importância está na execução de tarefas feitas
com um mínimo de consumo energético, de modo a sobrar ‘atenção’ para o controle das tarefas
89
e dos produtos, assim como para a proteção do próprio trabalhador” (Manual PME, Portugal,
internet).
Significa, por exemplo, que, se, por um lado, o problema gerado pela monotonia
muscular de movimentos repetitivos (faceta fisiológica ergonômica) pode ser diagnosticado
objetivamente (na relação causa-efeito) como doença inflamatória (LER, DORT), por outro
lado, a falta de sinergia entre trabalho e vida (faceta psicossocial ergonômica) pode ser
observável apenas no plano da ‘concausalidade’ subjetiva (críticas, queixas, insatisfações,
patologias, distúrbios, desgaste emocional ou doenças desenvolvidas imperceptivelmente).
Como dois lados de uma mesma moeda, gestão e prevenção se conectam, quando se
reconhece que o risco ambiental é socialmente produzido, ou seja, quando se reconhece aquelas
forças socioeconômicas que determinam os ‘pactos sociais’ em torno da prevenção acidentária,
90
assim legitimados no contexto das políticas públicas sobre saúde e segurança do trabalho,
incluindo as questões legais.
Assim, a nova cultura de gestão preventiva que efetivamente promove o trabalho seguro
e saudável (condições ótimas de trabalho) acontece quando se forma efetivamente o tripé,
baseado nos aspectos intersetoriais (de gestão), nos aspectos transdisciplinares (de prevenção)
e nos aspectos políticos (legitimação de novos ‘pactos’ sociais trabalho seguro e saudável), tal
como se pode observar na Figura 2.
Ampliar o conceito de prevenção significa, por suposto, aliar as políticas públicas com
o serviço técnico (segurança e medicina do trabalho) e gerencial a fim de promover uma nova
cultura de gestão preventiva, em que se desenvolva ‘condições ótimas de trabalho’ (saudáveis
e seguras), onde efetivamente se corte o risco ambiental pela raiz, de modo a ‘sobrar mais
tranquilidade e atenção pela tarefa’ (Manual PME, Portugal, internet), tendo em vista que:
O Emprego não deve representar somente o trabalho que se realiza num dado
local para auferir um ordenado, mas também uma oportunidade para a valorização
pessoal e profissional, para o que contribuem em muito as boas condições do posto de
trabalho.
Desta forma, integrar gestão e prevenção significa elevá-los ao nível das políticas
públicas da promoção da saúde e do ‘valor social do trabalho’ (CF., 1988), visando ‘adaptar o
91
trabalho ao homem e cada homem à sua atividade’ (OIT/OMS, 1950), sempre no sentido de
promover o “mais alto grau de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores de todas as
ocupações” (OIT/OMS).
1. O LOCAL DE TRABALHO:
A iluminação é natural?
Está bem orientada relativamente ao Posto de Trabalho?
Existe alguma iluminação intermitente nas imediações do Posto de Trabalho?
8. RISCOS QUÍMICOS:
Por isso, no que se refere ao uso dos equipamentos de proteção individual (EPI), a
adoção de uma medida preventiva eficaz depende, segundo estudiosos (Manual PME, Portugal,
internet), necessariamente das prioridades de controle do risco ambiental que se estabelece
desde a concepção do projeto empresarial (do prédio e do modelo de gestão) até a concepção
do próprio ‘posto de trabalho’ (trabalho proposto e condições reais de trabalho), a saber:
Significa dizer que a priorização das questões preventivas não se esgota na visão
consensual e multidisciplinar em torno do que se entende por natureza e magnitude do risco
ambiental. Ela se define, na verdade, no plano da dimensão social e ética do que se entende por
segurança e saúde ocupacional e no valor social do trabalho.
Desta forma, a ordem prioritária no controle dos riscos ambientais no espaço social
próximo organizado (BAKHTIN, 2004) está em compreender a cultura preventiva da empresa,
sua história (acidentalidade), sua concepção na organização de cada posto de trabalho
(atividades prescritas e condições reais oferecidas), enfim em todas aquelas questões que
contribuem para caracterizar o modo de inserção social do trabalhador no sistema produtivo e
que, por sua vez, caracterizam sua inserção social no sistema de segurança e de saúde do
trabalho dentro e fora da empresa.
decisão consciente, como medida extrema adotada no âmbito da gestão ética (participativa) e,
não apenas, no plano da decisão técnica e legal (BARBOSA FILHO, 2011).
desde sempre, uma ameaça à saúde ocupacional (OIT/OMS), esta representada nas
‘condições saudáveis e seguras de trabalho’.
3. ‘Saúde ocupacional plena’ – É um conceito baseado na definição conjunta
de OIT/OMS, em que ‘saúde ocupacional’ significa ‘adaptar o trabalho ao homem e
cada homem à sua atividade’ (OIT/OMS, 1950), e ainda ‘melhorar as condições de
trabalho para que sejam compatíveis com a saúde e a segurança (...) e desenvolver
culturas empresariais em nível de gestão que contribuam para isso’ (OIT/OMS,
1995). Trata-se de uma definição que, na interface da gestão, integra medicina e
segurança do trabalho (CLT, 1943) não só para prevenir, mas ainda para promover
saúde ocupacional, aspecto que, neste estudo, é considerado na perspectiva do ‘valor
social do trabalho’ e do direito do cidadão à saúde (CF, 1988), isto é, como ‘saúde
ocupacional plena’.
4. Valor social do trabalho – É um conceito que se refere à valorização do
trabalho seguro e saudável, como um estado de bem-estar físico, mental e social,
incluindo fatores de ordem psicossocial, como alimentação, educação, habitação e
transporte, meio ambiente, salário justo, trabalho digno e adequado às aptidões, lazer
e liberdade, tal como prevê a Constituição Federal (1988) ao redimensionar a
medicina do trabalho e a segurança preventiva (CLT) como um direito do trabalhador.
7. Riscos invisíveis de gestão – São falhas de projeto e de gestão no plano
adaptativo homem-trabalho (faceta ergonômica psicossocial), quando, por exemplo,
a falta de equilíbrio entre trabalho proposto e trabalho real pode causar
progressivamente sofrimento ou insatisfação (desgastes ou doenças silenciosas), e
cuja prevenção não se faz sem a imprescindível participação dos protagonistas
(gestores, trabalhadores, técnicos, sindicatos, governo, etc.). Neste sentido, implica
um esforço transdisciplinar e intersetorial de promover sinergia entre trabalho
(produção) e vida (humanização), libertando a gestão preventiva da histórica primazia
dos aspectos produtivos sobre os aspectos humanos.
8. Riscos ambientais – Referem-se aos agentes físicos, químicos, biológicos,
mecânicos e ergonômicos considerados pelos serviços técnicos de prevenção como
causadores ‘naturais’ do acidente de trabalho e que ocorrem, geralmente, no plano das
ações individualizadas. Neste estudo, as causas dos riscos ambientais devem ser
analisadas ainda na perspectiva dos ‘riscos invisíveis de gestão’, ou seja, na
‘concausalidade’ destes com aqueles.
9. Acidente de trabalho – Não é apenas um infortúnio assim como se costuma
considerar no âmbito da recorrente prevenção acidentária, até porque acidentes de
trabalho são sempre socialmente produzidos, e como tal, previsíveis e passíveis de
prevenção, independentemente do fato de que as questões sociais relativas às causas
do acidente sejam evidentes ou não. Neste sentido, o acidente de trabalho implica, em
geral, uma questão multicausal, que se revela na ‘concausalidade’ de aspectos sociais,
pessoais e materiais.
10. Uso dos EPIs – Consiste, em geral, no uso de equipamentos de proteção de
praticamente todas as partes do corpo: capacete de segurança (para se proteger contra
impactos na cabeça e no crânio); Óculos (para proteger os olhos contra limalhas,
estilhaços, etc.); Protetor Respiratório (para proteger as vias respiratórias e pulmões
de poeiras, gases, etc.); Máscara (para se proteger de raios infravermelhos ou
ultravioletas, e de químicos); Protetores auriculares (para se proteger contra ruídos,
etc.); Luvas (para proteger mãos e braços de produtos químicos, de queimaduras, etc.);
Botas (para proteger pés e pernas de ambientes úmidos ou da eletricidade, etc.);
Aventais (para proteger o tronco de produtos químicos, choques, queimaduras, cortes,
etc.). Por não evitar, nem eliminar o risco e por se constituir em um incômodo para
quem o usa, o EPI deve ser prescrito como medida extrema, baseado numa decisão
transdisciplinar e intersetorial (pois, além do aspecto técnico e legal).
98
A presente pesquisa pode ser classificada como um ‘estudo de caso’, que, do ponto de
vista dos procedimentos, é baseada na metodologia de pesquisa de campo, que consiste na
observação de fatos e problemas que ocorrem no plano da ação preventiva (uso de EPIs) e na
coleta de dados sobre esses mesmos fatos.
Este fato pode ser observado na ilustração no ‘mapa de riscos na planta da empresa’,
confeccionado e desenhado pelo autor do presente estudo de caso com a valiosa participação
da equipe administrativa da empresa, conforme está representado na figura 3, a seguir:
101
Nesta planta, e tendo em vista seu layout único, estão localizados todos os possíveis
riscos ambientais que teoricamente podem existir, segundo SESI (SP, 2006), em qualquer
indústria gráfica, inclusive quanto à sua magnitude, mas que, na visão da maioria dos
funcionários da empresa, como se verá mais adiante, no posicionamento deles em relação ao
uso de EPIs, implicam uma visão bem menos complicada.
É neste espaço (salão central), onde se encontra instalada a maquinaria do setor gráfico
e onde se realiza o uso e manejo dos produtos químicos (alguns tóxicos e inflamáveis),
transformando o ambiente em um ‘local multiuso’, como se pode observar na diversidade de
máquinas, de materiais e de produtos químicos ali concentrados (ver figuras):
102
(encadernação, corte, vinco, prensas e guilhotinas) e ainda alguns serviços relacionados com a
etapa da pré-impressão (acabamento de matrizes).
De acordo com o fluxograma, em tese, não parece haver dúvidas que a organização do
trabalho segue o ordenamento de um sistema de produção, dividido em três etapas distintas
(pré-impressão, impressão e pós-impressão), sugerindo uma divisão clássica de processos de
produção para cada etapa, com serviços e ambientes de trabalho separados.
Na prática, porém, essa divisão por etapas (fluxograma), como se pode observar no
layout na planta da empresa (Fig. 3), ocorre em um único ambiente, no salão central apresentado
como um local diversificado, onde se realizam serviços múltiplos (mix de serviços e de
instalações), incluindo e abrangendo atividades e atribuições que se referem a diferentes etapas.
Para se compreender melhor toda esta problemática (‘mix’), o presente estudo de caso
procedeu ao detalhamento do fluxograma da empresa com o apoio do serviço administrativo,
resultando em uma explicação pormenorizada de cada etapa da produção gráfica (pré-
impressão, impressão e pós-impressão), como se pode observar, a seguir:
CtF são geralmente feitas pelo setor produtivo (em ambiente contíguo ao setor de
impressão).
Com base neste descritivo, é possível observar que a etapa da pré-impressão abrange,
de fato, serviços que se realizam em diferentes espaços e em alguns deles apontados como
críticos no mapa de riscos na planta da empresa (Fig. 3).
É o caso do serviço de produção de chapas na sala CtP (raios laser de grau médio) e de
chapas CtF no ambiente contíguo ao salão central (exposição aos poluentes químicos e
radiações), quando funcionários de diferentes setores se envolvem com este trabalho (produção
de chapas), ficando expostos a determinados riscos que, no plano da recorrente prevenção
acidentária, demandariam necessariamente o uso de EPIs.
Além disso, é possível inferir que a criação da arte (matrizes) não se constitui de um
serviço realizado unicamente no âmbito das funções que compõem a etapa da pré-impressão,
mas ainda implica a etapa dos serviços administrativos e os serviços que se situam já na área
da produção propriamente dita, ou seja, junto ao setor de impressão e na interação direta com
os impressores.
Já a GTO é uma impressora offset de uma só cor, usada para até 5.000 tiragens.
Acima disso, vale a pena fazer o serviço de impressão nas outras impressoras offsets.
Ela serve para imprimir impressos de menor qualidade como: notas fiscais, blocos,
etc. Neste processo, geralmente se utiliza mais da cor preta e as chapas são de CTF
(fotolito), de menor qualidade, porém compensam, pois o processo é mais barato que
o método do CTP (laser).
107
Para obter uma melhor compreensão desse ambiente laboral de etapas integradas e
paralelas, é importante juntar as informações que o setor administrativo da empresa fornece
sobre a etapa da pós-impressão, também denominada de etapa dos acabamentos:
....... ....
Pré-impressão Diagramadores 2
Fonte:Encartadores
Equipe Administrativa da Empresa (2013)
110
Diante desse quadro, embora haja mais funcionários que cargos (funções), é preciso
observar que, em termos reais, cada cargo se divide, ou pelo menos, precisaria se dividir, em
uma série de funções.
No caso da etapa da pós-impressão, por exemplo, o setor implica não apenas dois cargos
(Cortador e Encartador), mas uma série de outras funções (Serrilhador, Picotador, Dobrador a
vácuo, Prensador, Encadernador, Operador, Grampeador, Selador, Colador, Pacoteador,
Embalador, Operador, Perfurador, transportador de volumes, etc.).
O mesmo ocorre nas demais etapas, tal como na etapa de impressão, quando as
atribuições do operador de impressoras incluem eventualmente serviços auxiliares de limpeza,
de lubrificação, além de outros serviços relacionados com a preparação de chapas e até mesmo
com os serviços de acabamento.
passagem, onde havia uma emenda mal feita. Com a máquina sem corrente elétrica, o
operador resolveu conferir a caixa e encostou com uma chave de fenda nos fios,
fechando um curto-circuito no eletroduto zincado (condutor de energia elétrica), sem
ser, todavia, atingido pelo choque, devido ao isolamento da chave de fenda (ver Figura
14 da máquina, na parte de cima, onde a caixa de passagem foi vedada com fita
isolante).
Figura 14 – Impressora offset (Komori)
Com base nesse retrospecto histórico de acidentalidade, a realidade dos fatos (lesões
físicas) aponta para um ambiente laboral, cujo retrospecto é de um lugar relativamente seguro
e saudável, com algumas lesões físicas que, no plano da prevenção acidentária, poderiam ser
classificadas como acidentes e incidentes que ocorrem por ‘atos inseguros’, e que, portanto,
nem sequer implicam necessariamente o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), ou
talvez, no máximo, o uso de luvas.
Na etapa de pré-impressão
Sala do CtP:
Lavadora de Chapa:
Na etapa de impressão
Impressoras e Máquina de Acabamento:
o Risco de Acidentes: Queda de materiais, equipamentos sem proteção, arranjo
físico inadequado.
o Risco químico: Exposição a vapores orgânicos proveniente de tintas, solventes
de limpeza, graxas e óleos.
o Risco Físico: ruído.
o Risco Ergonômico: Postura inadequada na bancada de trabalho, levantamento
e transporte manual de carga, trabalhar em pé por períodos prolongados,
repetitividade.
Na etapa de pós-impressão
Guilhotina:
Setor Acabamento:
Expedição e almoxarifado:
Setores Contíguos
Setor administrativo:
o Risco ergonômico: má postura, repetitividade, etc.
o Risco Biológico: ácaros, fungos, e bactérias presentes no ar condicionado.
Banheiro administrativo:
o Risco Biológico: ácaro, fungos, bactérias e vetores de doenças presentes nos
materiais e ambiente.
o Risco Físico: frio proveniente da sala do CtP.
Vestiários:
o Riscos Químicos: Material de limpeza.
o Riscos Biológicos: Ácaros, bactérias, fungos e vetores de doenças presentes
nos materiais e no ambiente.
o Riscos Ergonômicos: Postura inadequada durante a limpeza, trabalhar em pé
por períodos prolongados, repetitividade.
o Risco de Acidentes: Piso escorregadio.
Depósito de Resíduos:
o Risco de Acidentes: Queda de materiais, equipamentos sem proteção, arranjo
físico inadequado.
o Risco Químico: Exposição a solventes orgânicos provenientes de embalagens
vazias, panos usados na limpeza e resíduos líquidos resultantes dos processos
de impressão e limpeza.
o Risco Biológico: Bactérias, fungos e vetores presentes nos resíduos
armazenados inadequadamente.
o Risco de Acidentes: Arranjo físico inadequado.
o Risco Ergonômico: Levantamento, transporte manual de carga, trabalhar em pé
por períodos prolongados.
.
Este novo olhar também se observa em depoimentos dados por funcionários mais
antigos sobre a questão que envolve os Equipamentos de Proteção Individual (EPI), quando
apresentam as seguintes ponderações e justificativas no seguinte fac-simile:
É interessante observar a justificativa dada sobre o uso do protetor auricular que se torna
necessário ‘quando as máquinas fazem muito barulho’, revelando que o ruído se torna
intolerável no momento em que todas as máquinas estão em funcionamento, ao mesmo tempo
e num mesmo ambiente, presumindo-se que o ruído de uma máquina isolada poderia não
implicar necessariamente o uso de EPI.
Outro aspecto importante a ressaltar, é aquele que se refere aos intervalos de situações
de riscos, dispensando o uso do EPI de forma constante, mas apenas em situações pontuais. Isso
se aplica à máscara e o EPR, as luvas e o creme que precisariam ser usados apenas no momento
da limpeza das impressoras e no manuseio de produtos, ressalvando-se, porém, que a primordial
função do creme é preventiva, não apenas servindo para limpar as mãos (conforme
depoimento).
Além disso, como se trata de procedimentos de trabalho que ocorrem num mesmo
ambiente (salão central), é presumível que no caso específico das máscaras e do EPR, seu uso
possa ser necessário também para trabalhadores que atuam próximo dos locais onde eles são
necessários, devido aos cheiros e vapores que podem afetar o ambiente em geral.
Com base nestas e as anteriores colocações sobre a cultura preventiva da empresa, torna-
se assim importante confrontá-la com a questão do uso de EPIs nos programas técnicos de
prevenção acidentária desenvolvidos em dois exercícios anuais diferentes (PPRA-PCMSO de
2007 e 2013).
depois de sua devida avaliação, o documento relata a existência dos seguintes riscos
ambientais e sua magnitude (gravidade e probabilidade) no ambiente laboral (ver
anexo A4):
Ainda que o PPRA, obviamente articulado ao PCMSO, seja declarado parte integrante
de iniciativas gerais adotadas pela empresa no âmbito da saúde e segurança do trabalho, ou que
o embasamento do programa de prevenção seja feito no contraponto da proteção do meio
ambiente e dos recursos naturais, em momento algum, isso fica evidenciado.
Além disso, na descrição das funções, sequer se menciona as operações de risco que são
feitas nas máquinas dobradeiras, e no caso dos exames médicos, não é levado em consideração
o rol de riscos encontrados nas demais funções pelo PPRA, sendo apenas destacado que os
exames laboratoriais serão feitos no caso de insalubridade severa e que os exames clínicos
regulamentares seriam para todos (independentemente da insalubridade) e que todos, isso sim,
receberiam orientação sobre má postura, tendo em vista os riscos ergonômicos, cuja avaliação,
em momento algum parece ter sido efetuada.
observadas nos rótulos, identifica riscos de grau médio por exposição aos hidrocarbonetos
alifáticos.
Por isso mesmo, a prevenção se limita apenas ao uso de EPI, que inclui protetor
auricular para se proteger dos ruídos e de luvas, máscaras, aventais e óculos, a fim de se proteger
de substâncias químicas nocivas.
Nos demais aspectos, o programa de 2013 se parece como o programa de 2007, tanto
na forma de descrever as responsabilidades, quanto na forma de descrever funções (quando
esquece a função do operador de guilhotina) ou na forma de avaliar os riscos ambientais
(quando enfatiza a participação da administração e CIPA, se houver). A novidade está na
avaliação da iluminação, quando curiosamente inclui a função de operador de guilhotina como
um dos setores com Lux insuficiente.
Com relação às justificativas dos protagonistas sobre a questão dos EPIs, seu uso
foi considerado necessário em determinados momentos, porém não de forma
contínua. Fica entendido que, na visão deles, há momentos de barulho e de
exposição a substâncias nocivas que demandaria o uso de EPI para todos, a não
ser que sejam tomadas medidas de organização do trabalho para reduzir a
concentração de riscos ambientais, principalmente no salão central, onde ocorre
o grosso do processo produtivo da empresa.
A partir dessa comparação, torna-se relativamente claro que a avalição dos técnicos –
limitada aos riscos físicos (ruído) e químicos (substâncias nocivas) – apresenta uma abrangência
bem menor que a dos próprios protagonistas que, além dos riscos detectados pelos técnicos,
apontam outros relacionados com a organização e o desconforto no trabalho (arranjo físico,
queda e armazenamento de material, temperatura, EPI dolorido, concentração de poluentes num
único espaço, etc).
Trata-se de uma incongruência entre o olhar dos protagonistas e o dos técnicos, uma vez
que a visão dos técnicos se restringe a prescrever EPIs no varejo ( –> proteger-se de agentes de
risco no miúdo) como medida preventiva fundamental, transformando-a numa medida ainda
mais reducionista quando se observa que eles (PPRA-PCMSO) não levaram em conta, por
exemplo, o histórico de acidentalidade da empresa e o aspecto conjuntural dos riscos ambientais
descrito pelos protagonistas no atacado (–> reduzir agentes de risco no todo da organização).
CONCLUSÃO
Neste contexto e guiado pelas críticas gerais sobre a pouca eficácia dos recorrentes
programas de prevenção acidentária, o presente estudo analisou detalhadamente o modelo de
um clássico sistema SSST aplicado pelo SESI na indústria gráfica de São Paulo (SESI, SP,
2006), fazendo-o à luz dos questionamentos sobre seu reducionismo técnico-legal, distante da
questão ética (Barbosa Filho, 2011) e da questão intersetorial e transdisciplinar (Mendes e
Wünsch, 2007) sobre o que se entende por ‘nova cultura de gestão preventiva’.
Em vista disso, o foco do estudo de caso resultou numa pesquisa de campo, em que o
objeto da pesquisa – prevenção do risco ambiental por meio de EPI – fosse questionado na
relação que existe entre ‘riscos ambientais’ e o ‘risco invisível do modelo de gestão’, no plano
adaptativo homem-trabalho (OMS), implicando a faceta psicossocial do risco ergonômico.
129
Neste sentido, o presente estudo apresenta algumas sugestões para a empresa buscar
uma nova cultura de gestão preventiva, no sentido de:
Trata-se de um debate que, num primeiro momento, implica a análise daquele modelo
gerencial (‘risco invisível de gestão’) que ainda ignora a estreita relação existente entre ‘metas
de produtividade’ e ‘condições de trabalho’ na nova cultura laboral, cuja relação evidentemente
não se limita à problemática dos ‘riscos ambientais’.
130
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
ANEXOS
135
ANEXO A1 – PPRA/2007
136
ANEXO A2 – PPRA/2007
137
ANEXO A3 – PPRA/2007
138
ANEXO A4 – PPRA/2007
139
ANEXO A5 – PPRA/2007
140
ANEXO A6 – PCMSO/2007
141
ANEXO B1 – PPRA/2013
142
ANEXO B2 – PPRA/2013
143
ANEXO B3 – PPRA/2013
144
ANEXO B4 – PPRA/2013
145
ANEXO B5 – PPRA/2013
146
ANEXO B6 – PPRA/2013
147
ANEXO B7 – PPRA/2013
148
ANEXO B8 – PPRA/2013
149
ANEXO B9 – PPRA/2013
150