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Análise bioclimática numa escola estadual na cidade de Macapá-Amapá.

Jânio de Aragão (1); Adailson Bartolomeu (2); João Bosco Botelho (3)
Alexandre Rocha (4)
(1) Arquiteto, janio.aragao@eln.gov.br
(2) Msc., Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo CEAP, adailsonb@yahoo.com.br
(3) Doutorando Erasmus,Universidade de Rotterdam, lissandro.botelho@gmail.com
(4) Mestrando Universidade Federal do Pará, alex1606lr@yahoo.com.br

Resumo: O crescimento das cidades evidencia a importância de buscar soluções que minimizem os
impactos ambientais devido ao fato que a construção civil está entre as principais atividades geradoras
de degradação ambiental. A arquitetura bioclimática, que relaciona o homem ao clima, otimiza as
relações energéticas com o ambiente natural circundante através do projeto arquitetônico e de suas
estratégias bioclimáticas estabelecidas, pensadas e desenvolvidas nos estudos prévios e nas intenções
conscientes e comprometidas. Portanto, o projeto arquitetônico é a etapa mais adequada para
implantação de diretrizes de sustentabilidade à edificação. No contexto das edificações escolares do
Estado do Amapá, foi desenvolvido um projeto padrão pela Secretaria de Infraestrutura - SEINF-AP, que
se insere como um edifício escolar definido de acordo com a racionalização construtiva para geração de
economia na administração pública, no entanto, verificou-se que não houve a devida prioridade no
resultado de seu desempenho ambiental. A implantação do projeto e sua configuração física no espaço
de ensino deve se adaptar às características climáticas da região e do terreno onde poderá ser
construído. Contudo, o presente trabalho constatou que a falta de flexibilidade nestes projetos acarretou
condições desfavoráveis, principalmente no conforto térmico da edificação, que interferem na
produtividade, motivação, desempenho e concentração dos usuários.
Palavras-chave: Arquitetura bioclimática; Edificação escolar padrão, conforto térmico.

Abstract: Growth of cities shows the importance of seeking solutions that minimize the environmental
impacts due to the fact that civil construction is among the activities that cause most environmental
degradation. Bioclimatic architecture, that relates man to climate, optimizes the energy relations with the
surrounding natural environment through architectural designs and particular strategies. The
architectural design is the most adequate stage for implementing sustainability guidelines in the building.
In the context of school building in the State of Amapá, the standard design developed by SEINF-AP
asserts itself as a school building defined according to the construction rationalization for the generation
of economy in public administration; however it has been found that due priority has not been given to
the building environmental performance. The implantation of the building on the site and its physical
configuration in the school environment should adapt itself to the climatic characteristics of the region
and the terrain where it may be built. The lack of flexibility in these projects entails unfavorable
conditions – especially thermal comfort in the building – which interfere in productivity, motivation and
concentration of the users.

Keywords: Bioclimatic architecture; standard school building, thermal comfort.

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1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho considera os princípios da arquitetura bioclimática, os fatores ambientais, o conforto
do ser humano e as soluções da arquitetura no ambiente escolar construído.
Macapá, a Capital do Estado do Amapá, possui, segundo dados do IBGE de 2012, população de 415.554
habitantes, e está localizada no extremo norte do Brasil, situada às margens do rio Amazonas. O clima
equatorial úmido do local apresenta altas temperaturas, ventos de pouca velocidade, altos índices de
umidade relativa do ar e precipitações abundantes com totais oscilando entre 30 e 400 mm mensais.
Como consequência, tem-se um aumento na temperatura média anual, cujos registros indicam
aproximadamente 27,1°C. Portanto, percebe-se a importância da implementação de estratégias para que
se tenha conforto térmico nas edificações em função dessas características climáticas.
No bairro Valeverde está localizada a Escola Estadual Professora Jacinta Carvalho, inaugurada em 1º de
Agosto de 2012, com capacidade para 1200 alunos, que segue o modelo protótipo de dois pavimentos
com 16 salas de aula, quadra poliesportiva, refeitório, sala de informática, auditório e bloco
administrativo, seguindo o projeto padrão estabelecido pela Secretaria de Infraestrutura do Estado do
Amapá - SEINF. A padronização das edificações tem grandes vantagens como, por exemplo, a rapidez do
processo público de licitação, já que, definido o projeto arquitetônico, estrutural e os projetos
complementares, não é necessária uma licitação específica permitindo somente os ajustes de implantação
da edificação ao terreno. No entanto, se não forem levadas em consideração a localização e a orientação
solar das edificações, obedecendo as características climáticas da região, a qualidade do edifício escolar
poderá ser afetada, comprometendo todo o investimento realizado. O resultado será um projeto que
poderá não atender as exigências de conforto para os usuários, ou seja, proporcionar ambiente propício e
estimulante educacional. Segundo estudos realizados por Bartolomeu (2007), o fato de comumente os
profissionais que pensam o espaço construído não levarem em conta nas edificações e na urbanização das
cidades equatoriais o comportamento do sol e as condições climáticas faz com que os habitantes
convivam diariamente com muito desconforto térmico, tanto dentro das edificações como nos espaços
abertos (ruas, praças e passeios). Esses, entretanto, buscam sanar tal problema desenvolvendo estratégias
para se adaptar ao clima local. Contudo, o foco principal deste trabalho foi baseado no conforto térmico
nas edificações escolares, especificamente, com padrão pré-determinado, ou seja, cujo programa
arquitetônico é estipulado pela modulação em função das salas de aula. A partir da padronização, os
espaços de uma edificação escolar são organizados dentro de um determinado terreno considerando-se
somente a legislação local vigente. Neste contexto, a adaptação do projeto arquitetônico ao clima de uma
dada região e a escolha de materiais condizentes a este clima são fatores determinantes para se garantir
uma arquitetura de boa qualidade, implicando em projetos racionalizados, reduzindo o consumo de
energia e oferecer condições de satisfação térmica ao usuário (BERALDO, 2006).

2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho foi realizar uma analise bioclimática na arquitetura escolar atualmente
desenvolvida no Estado do Amapá, onde se pretendeu responder à seguinte questão: “a implantação da
edificação escolar padrão adotada na rede pública de ensino do Estado do Amapá possibilita um
desempenho homogêneo dos aspectos do conforto térmico aos usuários?”.

3. METODOLOGIA
Os procedimentos metodológicos utilizados nesse trabalho partem da caracterização da escola E.E.
Professora Jacinta Carvalho, escolhida como estudo de caso, com dados fornecidos pela Secretaria de
infraestrutura do Estado do Amapá (SEINF), cujas instalações referem-se ao projeto protótipo padrão e
das seguintes análises: das características bioclimáticas da região de estudo com a utilização do programa
Climaticus 4.1; da ventilação em ambientes construídos com a utilização do programa Fluxovento; da
Incidência solar e sombreamento das diversas fachadas da edificação em diferentes períodos do ano com
a utilização do programa Heliodon2. Através do resultado de tais procedimentos procurou-se obter a

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definição de recomendações conclusivas para o clima da localidade, como forma de contribuição para o
ensino, pesquisa e aplicações práticas, visando adequação às prescrições normativas de desempenho
térmico dos edifícios.

4. CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DO LUGAR


O território brasileiro tem seu clima mapeado e dividido em zonas bioclimáticas. Estas zonas têm relação
com as características climáticas das diversas áreas do território, que não obedecem ao mapeamento
político ou divisão em estados ou regiões econômicas. A partir destes estudos e do seu respectivo mapa,
pode se obter o clima de cada cidade, e relacioná-lo através de dados que indicam as estratégias e
diretrizes construtivas bioclimáticas recomendadas para cada local, onde será projetada e construída uma
edificação. Estudos de pesquisadores relacionados aos climas de diversas partes do país, mapearam o
território Brasileiro, dividindo-o em zonas bioclimáticas. Conforme figura abaixo, o Amapá esta na Z8
tendo como principal recomendação a ventilação cruzada, sombreamento das aberturas e refrigeração
artificial. Segundo diagrama de Givoni 27,1% do ano Macapá apresenta características da Zona de
ventilação. Esta situação se dá principalmente nas madrugadas de maio a setembro. Em 72,9% do ano a
cidade de Macapá encontra-se na Zona que necessidade de condicionamento artificial.

FIGURA 01 e 02: A esquerda o mapa de zoneamento climático do Brasil e estratégias recomendadas, a


direita gráfico com dados da temperatura e umidade relativa para Macapá (Adaptado do ZBBR 1.1)
Macapá encontra-se na latitude 00º 02' 20" N e longitude 51º 03' 59" W. Sua extensão territorial é
1.065,00 km². Nesta região, a irradiação solar global apresenta uma média anual de 584,4 Wh/m² dia.
Localizada em zona tropical o clima do município é classificado como equatorial superúmido (quente e
úmido), influência direta da floresta amazônica devido à sua localização geográfica (na linha do equador),
com chuvas constantes, pequena amplitude térmica e sem estações climáticas definidas, observa-se para
todo o período, que a temperatura média, média máxima e média mínima do ar foram da ordem de
26,8°C, 27,9°C e 25,7°C, respectivamente. Segundo os dados do Serviço de Meteorologia do Ministério
da Agricultura (normas de 1931/1960), as maiores frequências anuais dos ventos para a cidade de Macapá
são nordeste (29%), norte (10%) e leste (9%). A frequência nos demais é insignificante, a velocidade
média entre 2,6 e 2,9m/s e a calmaria de 45% nos 12 meses”.

5. EDIFICAÇÃO ESCOLAR PADRÃO


A construção de escolas no sistema padronizado surgiu no Brasil a partir da década de 70 (Kowaltowski,
2005). A idéia era projetar um padrão único para que pudesse ser repetido em diferentes terrenos de
diferentes municípios, alterando apenas a forma de implantação. Para o estudo de caso, foi feita uma
análise do protótipo de edificação escolar do Governo do Estado do Amapá. Este padrão foi concebido
em 2008 pela equipe técnica da Secretaria de Infra Estrutura do Estado – SEINF. Desde então as novas
escolas do Estado do Amapá seguem rigorosamente o protótipo para rede de ensino público. O projeto
apresenta uma tipologia com salas de aula voltadas para orientações opostas, divididas em quatro partes

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com corredores voltados para o lado externo. Nesse padrão os blocos podem ser de dois ou três
pavimentos com 8, 12 ou 16 salas. Todos com biblioteca, auditório, quadra de esporte, refeitório etc.
Esse protótipo de edificação escolar está orçado ao redor de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais). A
partir de 2008 o Governo do Amapá iniciou a construção de quatro escolas protótipo, como: Escola
Estadual Profª. Jacinta Carvalho (Macapá); Escola Estadual Profª. Nanci Nina Costa (Macapá); Escola
Estadual Elesbão (Santana) e a Escola Estadual Augusto dos Anjos, em fase de inauguração atualmente,
em Macapá.

Imagem 01 e 02: E.E. Augusto dos Anjos a esquerda e E.E. Profª Jacinta a direita (Aragão, 2012).
A construção de uma nova unidade escolar envolve diversas etapas, desde a doação do terreno por parte
do município, o processo de implantação do projeto padrão no terreno, a aprovação deste projeto pelos
órgãos competentes, o processo licitatório até sua efetiva construção.

6. ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA JACINTA CARVALHO


A escola Estadual professora Jacinta Carvalho localiza-se no bairro Vale Verde no município de Macapá
em zona urbana a 0º02’S e 51º06’O, próximo ao distrito de fazendinha onde fica localizado o principal
balneário da cidade. O terreno disponibilizado para a escola contempla uma área de 7900m², sendo
cercado por vegetação nativa e área de preservação á oeste, com acesso pela Rua da Marinha.

Figura 03: Imagem aérea da escola


O projeto executivo segue a proposta do protótipo de edificação escolar do Governo do Estado do Amapá
e é dividido da seguinte forma: dois pavimentos com: 16 salas de aula; Sala de informática; Auditório;
Biblioteca; Área administrativa; Sala de reunião; Sala de professores; Núcleo pedagógico; Quadra
poliesportiva; Refeitório e Banheiros. O projeto previu três blocos sendo o bloco principal retangular de

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12m largura por 80m de comprimento, quadra poliesportiva de 24m de largura por 45 de comprimento e
refeitório de 26m de largura por 10m de comprimento. O presente trabalho limitou-se a estudar somente o
bloco principal.

Figura 04: Implantação da Escola Jacinta Carvalho


O edifício tem sua orientação voltada para o quadrante leste-nordeste a 14 graus a oeste em relação ao
norte. As fachadas serão chamadas, por simplicidade, de fachada leste e fachada oeste em decorrência da
pequena angulação existente.

Imagem 03 e 04: vista da Escola padrão pela Rua da Marinha (Aragão, 2012).
A edificação principal tem 12m de largura por 80m de comprimento dividido em dois pavimentos com pé
direito de 4m cada. São 16 salas de aula medindo 6m de largura por 8m de comprimento cada, 8 salas
voltadas ao leste e 8 voltadas ao oeste. Há um grande hall dividindo os dois blocos de salas de aula, onde
foi alocada a escada. As esquadrias das salas de aula são de alumínio e vidro de 6mm de espessura,
possuem ainda peitoril de 1,40m, largura de 2,40m e altura de 1,50m.

Figura 05: Planta baixa pavimento superior

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7. ANALISES COM FERRAMENTAS BIOCLIMÁTICAS

7.1. Estudo de insolação das fachadas


A fachada principal possui orientação oeste, se apresentando desfavorável, pois, conforme figura 08, o sol
incide diretamente na maior fachada em todos os períodos do ano provocando o aquecimento das paredes
e consequente a elevação da temperatura nos ambientes internos. Essa condição influencia diretamente no
desempenho da edificação. As fachadas norte e sul, que são as menores da edificação, se apresentam mais
favoráveis devido à menor incidência de radiação solar nas mesmas. Essa condição é praticamente
constante durante o ano inteiro e varia pouco no decorrer do dia.
Para a análise da intensidade da insolação das fachadas foi utilizado o software Heliodon2 e o Climaticus
4.1, como podemos verificar de forma simplificada: Fachada norte = pela tarde há uma incidência solar
de 680 W/m²; Fachada sul = pela manhã há uma incidência solar de 650 W/m²; Fachada leste = pela
manhã há uma incidência solar de 680 W/m²; Fachada oeste = pela tarde há uma incidência solar de 680
W/m².
Ainda através de dados do Climaticus 4.1 pode-se observar que as fachadas leste, norte e oeste sofrem
incidência solar ora no período da manhã ora no período da tarde e praticamente em todos os horários
desse período e durante o ano todo. Já na fachada sul esta condição se altera, no sentido de favorecer a
fachada, pois verifica-se, por exemplo, do mês de junho apenas entre 7 e 8h da manhã o sol consegue
incidir sobre a fachada.

Figura 06: Análise do sombreamento da edificação durante o ano (Adaptado de Heliodon2)


A fachada leste ás 10h sofre a maior incidência de radiação solar e de acordo com a análise da carta solar
projetada na edificação evidencia que a fachada não esta protegida nesse período. O sol impacta sem
obstáculo na fachada até às 10h da manhã em todos os meses do ano. De março a setembro a insolação
incide até as 11h da manhã. A fachada oeste às 16h sofre a maior incidência de radiação solar e de acordo
com a análise da carta solar projetada na edificação evidencia que essa é a fachada mais desfavorável.
Não há nenhuma proteção desde às 14h de todos os períodos do ano. O sol atinge essa fachada que ainda
possui grandes janelas de vidro de 6mm que não evitam a entrada da radiação solar.

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Imagem 05: Incidência solar na fachada oeste das 15h ás 16h e penetração na sala (Aragão, 2012).
A condição mostrada acima mostra a incidência solar na parede da sala de aula, bem como a penetração
do sol na sala de aula nos horários de 15h, 15h30 e 16h. O sol invade a sala a partir das 15h30min
fazendo com que a temperatura se eleve. Mesmo com o corredor de 2,5m e o beiral de 1,2m não há
barreira para o sol, fazendo o mesmo incidir na parede das salas de aula voltadas para o oeste desde ás
14h até o sol se por. A inflexibilidade do projeto protótipo faz com que essa situação se apresenta nas
outras escolas.

Imagem 06 e 07: Incidência solar na fachada principal da E.E. Profª. Nanci Nina (Aragão, 2012)

7.2. Estudo da ventilação


Em relação à ventilação, mesmo a edificação sendo voltada para a orientação de ventilação predominante,
não possui aberturas cruzadas e como consequência, de acordo com simulações feitas no software
fluxovento, não penetra nas salas de aula e há pouca ventilação no hall na edificação. Analisando somente
a sala percebe-se que a falta de aberturas opostas as janelas existentes impede que, mesmo com incidência
de ventilação no local, não ocorra penetração da ventilação nas salas de aula.

Figura 07: Fluxo de vento da edificação e nas salas de aula (Adaptado do Fluxovento)

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7.3. Levantamento das condicionantes ambientais
Efetuado medição dos parâmetros climáticos nas horas de pico da incidência solar nas salas de aula
orientadas a oeste e leste conforme tabela abaixo:
Sala 9 – Leste
Parâmetro Unidade 10h
Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5
Temperatura ºC 30 29,8 29,9 29,9 29,9
Umidade Relativa % 67 67 67 67 67
Ruído dB 33,4 33,4 33,4 33,4 33,4
Iluminância Lux 1060 666 227 218 490
Fluxo de vento m/s 0 0 0 0 0
Tabela 1: Parâmetros climáticos verificados na sala 9
Os valores verificados na análise da sala 9, evidenciam a ausência de fluxo de vento no interior das salas
de aula, devido as aberturas existentes serem na mesma parede e com isso não permitir a ventilação
cruzada. As salas de aula têm boa luminosidade, apresentando valores acima do recomendado pela NBR
5413 (em salas de aula a luminosidade deve ser superior a 200 Lux). O ruído apresentou-se sem variações
apesar da escola ter sido locada á margem da via publica e dessa forma ficar susceptível ao ruído da
mesma. A temperatura se apresentou abaixo de 30º C mesmo no pico de radiação solar (10h), verificou no
local que nesse horário as fachadas leste já não sofrem muita incidência solar.
Sala 13 – Oeste
16h
Parâmetro Unidade
Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5
Temperatura ºC 34,7 34,7 34,9 34,9 34,8
Umidade Relativa % 56 56 56 56 56
Ruído dB 32,6 32,6 32,6 32,6 32,6
Iluminância Lux 712 435 1780 2478 846
Fluxo de vento m/s 0 0 0 0 0
Tabela 2: Parâmetros climáticos verificados na sala 13
Já os valores verificados na análise da sala 13, também evidenciam a ausência de fluxo de vento no
interior das salas de aula, tem boa luminosidade e o ruído apresentou-se sem variações, porém a
temperatura se apresentou muito elevada, pois no pico de radiação solar (16h), verificou no local que as
fachadas oeste sofrem muita incidência solar. Com o intuito de aprofundar na análise verificou-se a
incidência de fluxo de vento e temperatura no hall de acesso ás salas de aula, que possuem aberturas que
possibilita a ventilação cruzada e é sombreada constantemente, mesmo nos horários de pico de radiação
solar. Como resultado verificou-se que temperatura do hall de entrada das salas de aula ficou estável em
29,8°C durante a tarde toda e percebeu-se um fluxo de 1,2m/s de ventilação.

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Figura 08: Planta de localização dos pontos em que foram coletados os parâmetros
Comparando as condições do Hall com as da sala 13, que recebe insolação direta a partir das 15h30min,
verificou-se uma estabilidade de temperatura no Hall enquanto na sala 13 a temperatura subiu
consideravelmente, passando de 30,8°C paraEvolução
34,8°C, conforme gráfico 01.
da temperatura
36
35
Temperatura em ºC

34
33
32
31
30 Hall

29
28
15h00min
1 15h30min 16h00min

Horário

Gráfico 01: Evolução da temperatura na fachada Oeste das 15h às 16h (Aragão, 2012).

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES


A relevância do conhecimento do clima e das estratégias bioclimáticas se revela como um importante
passo para compreender a real necessidade imposta pelo meio ambiente e que deve ser considerada nas
edificações. Através da análise do clima pelo Diagrama de Givoni, observa-se que a cidade de Macapá,
cuja característica climática segundo Koppen é equatorial super úmido (Af) sendo esse o único tipo de
clima incidente no Estado do Amapá, em apenas 0,3% do ano a cidade esta na zona de conforto e 72,9%
com necessidade de condicionamento artificial, daí a grande necessidade de adaptar a edificação ao clima.
Conclui-se, sem análise rigorosa, que a orientação solar da edificação escolar padrão desenvolvida pelo
governo do Estado do Amapá não corresponde ao ideal de conforto ambiental recomendado pelo
Zoneamento Climático Brasileiro. Mesmo não sendo o ideal, não houve preocupação em adaptar o
edifício ao impacto consequente à orientação escolhida.
A temperatura das salas de aulas expostas a radiação solar, no período da tarde em comparação com o
Hall de entrada coberto e sombreado o dia todo e por onde circula ventilação de em média 1,2m/s, teve
um ganho térmico considerável. Demonstrando que ventilação e proteção contra os raios solares são
fundamentais para o projeto arquitetônico. As recomendações arquitetônicas para a Zona Climática Z8,
onde está inserido Macapá, determina que os meios pelos quais a edificação deve utilizar para minimizar
o efeito do clima são: ventilação cruzada, sombreamento das aberturas, proteção das fachadas e
condicionamento artificial. Ressalta-se que o amplo beiral, com intuito de proteção horizontal da fachada,
e abertura na cobertura para possibilitar a ventilação por resfriamento foram dois bons exemplos de
estratégias adotas no projeto padrão.

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Para amenizar a falta de conforto térmico na escola a solução adotada pela Secretaria de Educação do
Estado foi a refrigeração de todas as salas, com instalação de centrais de ar de 48.000 BTUs em cada sala,
o que ocasiona aumento do consumo de energia elétrica, solução esta que vai contra as ações de
sustentabilidade. Assim como vários outros protótipos, a edificação escolar padrão não considerou
características de clima e sítio, podendo proporcionar aspectos desfavoráveis para o desempenho térmico
da edificação, quando implantadas de maneira contrária ao que seria adequado ao clima local.
A edificação escolar padrão adotada no Estado do Amapá, no estudo de caso, não atende os aspectos de
habitabilidade e bem estar na edificação escolar, se não possuir estudos de padrões rigorosos de
implantação e desempenho para o clima do estado do Amapá (Af). A arquitetura bioclimática deve ser
inserida no contexto das edificações padronizadas da Secretaria de Infraestrutura do Estado do Amapá.
A implantação de todas as edificações escolares padrões, as ruas principais onde estão inseridos os lotes,
têm sua principal visibilidade as fachadas voltadas para o oeste, porém essa fachada é a mais desfavorável
para o clima de Macapá. Portanto, uma vez que os lotes permitiam uma orientação mais favorável,
aparentemente deu-se mais importância para a arquitetura da genialidade em detrimento ao desempenho
da edificação. Outro aspecto em analise, das referidas salas de aula, é o fato da organização do layout para
prática docente, a localização da lousa branca, situada perpendicular à incidência solar direta, interfere no
ato do ensino por parte dos professores.
Para amenizar o impacto causado pela deficiência no projeto recomenda-se as seguintes melhorias na
edificação: - Ampliar a proteção horizontal existente para as fachadas leste e oeste; - Criar proteção
vertical do tipo brises-soleil, tela solar, marquises cobogós, venezianas ou persianas externas para as
fachadas leste e oeste; - Criar área de microclima para proteção e amenização da temperatura.
Os principais usuários deste ambiente são os mais prejudicados, pois podem sofrer com o déficit de
atenção, queda de produtividade e rendimento nas atividades desenvolvidas. Sendo assim, o principal
objetivo, a educação, é prejudicada pela estrutura física implantada.
Dispor de áreas com melhor qualidade, economia e desempenho do espaço construído considerando os
recursos naturais é o principal desafio da arquitetura. Através de estudo e análise das problemáticas deste
projeto padrão já existente, verifica-se na prática a importância do conhecimento teórico adquirido na
academia e suas consequências para os usuários. Portanto, o principal objetivo desta análise foi alcançado
e servirá como base para aplicação em projetos futuros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAGÃO, Jânio José Lima. Análise bioclimática da E.E. professora Jacinta Carvalho no bairro
valeverde na cidade de Macapá. (TCC) In: CEAP, 2012, Macapá-AP.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15215-3 Iluminação Natural
BARTOLOMEU, A. Oliveira. Analisís bioclimático en la ciudad ecuatorial de Belém do Pará – Brasil.
Barcelona, 2007. Tesina (postgrado) Universidad Politécnica de Catalunya .
BERALDO, Juliano Coronato. Eficiência energética em edifícios: avaliação de uma proposta de
regulamento de desempenho térmico para a arquitetura do estado de São Paulo. 2006. 283 f.
GONÇALVES, P. H. L.; Jesus, E. S.; Oliveira, M. C. F.; Costa, M. C.; Silva Junior, J. A.; Santos, L. A.
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KOWALTOWSKI, Doris Catharine Cornelie Knatz, FUNARI, Teresa B. Arquitetura escolar e avaliação
pós-ocupação. In: ENCAC – ELACAC, 2005, Maceió. p. 1-3.

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