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1 Sobre David, ver John Colapinto, As nature made him. The boy who was raised as a girl.
NY/London: W.W. Norton & Company, 2001; sobre Agnes, ver Harold Garfinkel, Passing and
the managed achievement of sex status in an ‘intersexed’ person, part 1, em colaboração
com Robert Stoller, no livro de Garfinkel, Studies in ethnomethodology. Englewood Cliffs:
Prentice-Hall, Inc., 1977. Ver também o Appendix to chapter five – no qual Garfinkel
transcreve a revelação de Agnes feita a Stoller em 1966.
2 Donna Haraway, “Gênero” para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra.
homens é circuncidado, é uma outra história, ainda que estreitamente vinculada a esta.Ver
www.norm.org
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4 John Money nasceu na Nova Zelândia em 1921 e era professor emérito de pediatria e
psicologia na Johns Hopkins University. Fez parte da Clínica de Identidade de Gênero da
mesma universidade, na qual foi realizada a primeira operação de um transexual com
permissão legal nos Estados Unidos, em 1965. Morreu em 2006.
5 Vários outros exemplos semelhantes de não adequação ao sexo de criação são
6 Milton Diamond é pesquisador do Pacific Center for Sex and Society da Universidade do
Havaí.
7 Deixo de lado aqui inúmeros detalhes horripilantes da trajetória de David como paciente de
tinha quase dois anos quando foi operado, já tinha feito uma
opção de gênero – diferente da opção de sexo, feita por outros,
confusão sobre a qual toda esta história repousa. Isto é, ele já era,
socialmente, um menino. O médico John Money certamente
acreditava que gênero era uma questão de sexo, e de
heterossexualidade – e vários autores, inclusive feministas, o
seguiram por essa trilha: ‘acertando’ o aparato biológico de Bruce,
que se tornou Brenda, nome que David repudiou assim que pode
usar sua própria voz sobre o assunto, ele fez uma leitura perversa
da famosa frase de Simone de Beauvoir, levando em sua esteira
toda uma geração de médicos americanos, e de outros países, a
tentar ‘acertar’ os ponteiros biológicos com os ponteiros das
convenções de gênero vigentes na sua sociedade.8
8 Sobre a importância do sexo nas convenções médicas e culturais, ver Anne FaustoSterling,
Sexing the body. Gender politics and the construction of sexuality. N.Y.:Basic Books, 2000.
Ver também seu How to build a man, em Roger N. Lancaster e Micaela di Leonardo, eds., The
gender/sexuality reader. Culture, History, Political Economy.
N.Y./London: Routledge, 1997, no qual ela cita o ditado médico transcrito como epígrafe a este
texto.
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para a vida de meninos ou meninas delas portadoras – falo apenas das ‘cirurgias cosméticas’
realizadas em bebês, ou crianças, para ‘adequá-las’ à ideologia do dimorfismo sexual.
Fausto-Sterling (1997), examinando a bibliografia médica, conclui que a definição de micro-
pênis é dada a um pênis menor do que um centímetro e meio (0,6 inches).
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13Ver Fausto-Sterling, 2000, para vários exemplos da lógica do segredo e, para depoimentos
dos próprios envolvidos nessas cirurgias, Alice D. Dreger, ed., Intersex in the age of
ethics.Hagerstown: University Publishing Group, 1999. Um geneticista aí citado, disse para
uma paciente: “Devo dizer-lhe que não lhe contaram certos detalhes sobre sua condição, mas
não posso lhe dizer quais são eles porque isso iria incomodá-la muito.”
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14Donna Haraway, Simians, Cyborgs, and Women. The reinvention of nature. N.Y.:Routledge,
1991, p. 135.
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15Aqui, claro, seria preciso citar Freud, mas isso exigiria um maior vagar na análise: ver
Jean Laplanche, Problèmatiques II. Castration. Symbolisations. Paris: Presses Universitaires
de France, 1983. Um resumo da discussão feita por Laplanche sobre gênero está bem
expressa por um cartoon norte-americano contemporâneo de toda essa discussão. O
desenho mostrava duas crianças, um menino e uma menina, diante de um
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quadro sobre o paraíso, com Adão e Eva nus. Uma delas pergunta quem é homem e quem é
mulher e a outra responde: não sei, não estão vestidos. A memória, como sempre, pode ter
distorcido um pouco as palavras, mas creio que a idéia geral era essa.
17 Vários dos autores de artigos nos quais narram sua experiência com o aparato médico
acentuam o fato de que o aspecto de experiência, da qual eles e elas são cobaias, com todo
seu cortejo de múltiplas cirurgias (entre as quais a vaginoplastia é uma das técnicas mais
invasivas e dolorosas) é o que deixa mais marcas nas suas lembranças de uma infância
passada entre uma hospitalização e outra. Fausto-Sterling (2000) deixa implícita a sugestão
de que, como não é permitido à Medicina usar cobaias humanas, a constituição de grupos
fragilizados como os intersexuados e suas famílias, proporciona uma oportunidade rara de
experimentação em corpos humanos.
tenha sido tratada, e operada, como intersexual, era com uma
transexual que os médicos estavam lidando.16
16Um intersexual era considerado um erro da natureza, que a medicina podia tratar sem
impedimentos. Um transexual era uma espécie de aberração e seriam precisos alguns anos
para que tais operações fossem legalmente permitidas.Sobre a necessidade de as/os
transexuais adequarem a sua aparência à essência do gênero que querem assumir, até hoje,
para provar que merecem receber autorização para operar-se, ver o trabalho de Flavia
Teixeira, em andamento. Sobre as disputas em torno da interpretação da relação entre
Agnes/Garfinkel/Stoller, ver Leia Kaitlyn Armitage, Truth, falsity, and schemas of
presentation: a textual analysis of Harold Garfinkel’s story of Agnes, Electronic Journal of
Human Sexuality, vol. 4, april 29, 2001 (www.ejhs.org)
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17 Stoller tentará desmanchar esse paradoxo mais adiante sugerindo, claro, que a criação dos
futuros transexuais havia sido ambígua.
18 É interessante lembrar que as pesquisas da Johns Hopkins University na área dos estudos
sexuais foram generosamente financiadas por Reid Erickson, nascido mulher, mas que
desejava tornar-se homem. Ao herdar uma fortuna de seu pai, criou a Erickson Educational
Foundation (EEF) que se dissolveu em 1979, aparentemente após seu fundador ter
alcançado seu objetivo.
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