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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 40

25/10/2019 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 175.179 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


REDATOR DO : MIN. EDSON FACHIN
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : JAIR BORGES
ADV.(A/S) : ROGERIO MAIA GARCIA E OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 529.890 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
INTDO.(A/S) : PEDRO ROBERTO RIBEIRO RODRIGUES
ADV.(A/S) : RENAN DA SILVA MOREIRA

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


PROCESSO PENAL. DECISÃO TERMINATIVA UNIPESSOAL.
DECISUM NÃO SUBMETIDO A ÓRGÃO COLEGIADO.
CONHECIMENTO DO MANDAMUS. INVIABILIDADE. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA DA PENA. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
ILEGALIDADE OU TERATOLOGIA. ENTENDIMENTO
CONTEMPORÊNEO E REITERADO DO PLENO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO.
1. Esta Corte tem posição firme pela impossibilidade de admissão
de habeas corpus impetrado contra decisão proferida por membro de
Tribunal Superior, visto que, a teor do artigo 102, I, “i”, da Constituição
da República, sob o prisma da autoridade coatora, a competência
originária do Supremo Tribunal Federal somente se perfectibiliza na
hipótese em que Tribunal Superior, por meio de órgão colegiado, atue
nessa condição.
2. Sob essa perspectiva, não se inaugura a competência do Supremo
Tribunal Federal, nas hipóteses em que, como in casu, não esgotada a
jurisdição antecedente, visto que, dado o cabimento de agravo
regimental, tal proceder acarretaria indevida supressão de instância.
3. Não bastasse, não há que se falar em teratologia ou em ilegalidade

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Ementa e Acórdão

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HC 175179 AGR / RS

da decisão judicial que tão somente aplica entendimento contemporâneo


e reiterado do Plenário desta Suprema Corte de que a execução provisória
de decisão penal condenatória proferida em segundo grau de jurisdição,
ainda que sujeita a recurso especial ou extraordinário, não viola o
princípio constitucional da presunção de inocência ou da não
culpabilidade. Precedentes.
4. Outrossim, ainda que já interposto o recurso destinado ao
Superior Tribunal de Justiça, o entendimento, também já sumulado, desta
Corte é o de que “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida
cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi
objeto de juízo de admissibilidade na origem” (Súmula n. 634/STF) e de que
“Cabe ao presidente do tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em
recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade” (Súmula
n. 635/STF).
5. Agravo regimental provido, para que negar seguimento ao habeas
corpus e, por conseguinte, revogar a ordem concedida.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da


Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, em sessão virtual de 18 a
24 de outubro de 2019, sob a Presidência da Senhora Ministra Cármen
Lúcia, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas,
por maioria de votos, em dar provimento ao agravo regimental para que
seja negado seguimento ao habeas corpus e, por conseguinte, revogada a
ordem concedida, nos termos do voto do Ministro Edson Fachin, Redator
para o acórdão, vencidos os Ministros Gilmar Mendes (Relator) e Ricardo
Lewandowski, que acompanhava com ressalva.

Brasília, 25 de outubro de 2019.

Ministro EDSON FACHIN


Redator p/ o acórdão

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Relatório

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25/10/2019 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 175.179 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


REDATOR DO : MIN. EDSON FACHIN
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : JAIR BORGES
ADV.(A/S) : ROGERIO MAIA GARCIA E OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 529.890 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
INTDO.(A/S) : PEDRO ROBERTO RIBEIRO RODRIGUES
ADV.(A/S) : RENAN DA SILVA MOREIRA

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (RELATOR): Trata-se de


agravo regimental contra a decisão que concedeu a ordem de habeas
corpus para suspender a execução provisória da pena até o primeiro
pronunciamento colegiado do STJ, nos autos de recurso especial.
Nas razões recursais, a PGR afirma que “o entendimento (já rejeitado
anteriormente pela maioria dos integrantes do STF) é equivocado e merece
reforma, pois é plenamente possível a execução provisória da pena diante do
quadro processual em exame”.
Aduz que “sequer há notícia nos autos de que o agravado tenha
efetivamente interposto recursos de natureza extraordinária. Em suma, não havia
– como não há – situação de constrangimento ilegal à sua liberdade que
autorizasse, em detrimento da jurisprudência assentada pelo Pleno dessa
Suprema Corte, a concessão de habeas corpus impetrado contra decisão
monocrática proferida pelo colendo STJ (não esgotamento de jurisdição)”.
É o relatório.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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AG.REG. NO HABEAS CORPUS 175.179 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (RELATOR): No agravo


regimental, não ficou demonstrado o desacerto da decisão agravada.

O Plenário desta Corte, ao decidir nos autos do ARE 964.246,


asseverou que “a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido
em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não
compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo
artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal”.

Dito isso, entendeu o Pleno não agredir a Constituição Federal a


execução provisória da pena.

Afirmar que a execução provisória da pena “não compromete o


princípio constitucional da presunção de inocência” não é o mesmo que
determinar o seu início, mas apenas que ele é possível.

Em suma, esta Corte jamais se pronunciou no sentido de que a


execução provisória da pena é obrigatória, mas, sim, permitida.

Ademais, conforme registrei na decisão agravada, no julgamento do


HC 126.292/SP, o Ministro Dias Toffoli votou no sentido de que a
execução da pena deveria ficar suspensa com a pendência de recurso
especial ao STJ, mas não de recurso extraordinário ao STF. Para
fundamentar sua posição, sustentou que a instituição do requisito de
repercussão geral dificultou a admissão do recurso extraordinário em
matéria penal, que tende a tratar de tema de natureza individual e não de
natureza geral ao contrário do recurso especial, que abrange situações
mais comuns de conflito de entendimento entre tribunais.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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HC 175179 AGR / RS

Ainda, no julgamento do HC 142.173/SP (de minha relatoria, sessão


da Segunda Turma de 23.5.2017), manifestei minha tendência em
acompanhar o Ministro Dias Toffoli no sentido de que a execução da pena
com decisão de segundo grau deve aguardar o julgamento do recurso
especial pelo STJ.

No ano passado, a Segunda Turma julgou o HC 152.752/PR, DJe


27.6.2018, de modo que novamente me manifestei no sentido de que o
julgamento pelo Superior Tribunal de Justiça é a opção que confere maior
segurança à execução provisória da pena. Isso porque, como
anteriormente citado, o STJ pode corrigir questões relativas à tipicidade,
antijuridicidade ou culpabilidade do agente, alcançando inclusive a
dosimetria da pena.

Esse novo marco, com o fim da prisão automática no segundo grau,


consubstancia apenas um ajustamento do momento inicial para a
execução da pena, mais consentâneo com o nosso ordenamento jurídico e
a com a nossa realidade. Não se altera a essência do entendimento
majoritário desta Corte estabelecido no HC 126.292, de esgotamento das
instâncias soberanas na apreciação dos fatos para se considerar imutável
a condenação; apenas se muda o marco.

Fora desse referido marco, abrem-se três possibilidades de


antecipação da execução da pena:

A primeira: possibilidade de antecipar-se a execução da pena


ocorreria com o trânsito em julgado progressivo da sentença
condenatória, tendo em vista que parte ou parcela da pena tornou-se
líquida por falta de argumentação recursal. A pena incontroversa poderia
ser executada ainda na primeira instância (execução da pena mínima).

A segunda: possibilidade de antecipação da execução da pena, na

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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HC 175179 AGR / RS

mesma linha do trânsito em julgado progressivo, decorrente agora da


precipitação em habeas corpus (denegado) do exame pelo STJ ou pelo STF
de questões iguais ou mais abrangentes que aquelas perfiladas nos
recursos extraordinários (especial e extraordinário), de modo a tornar
desnecessário aguardar o julgamento destes para o cumprimento da
reprimenda.

A terceira: confirmada a condenação em segundo grau de jurisdição,


depois de revolvidos fatos e provas por órgão colegiado, confere-se maior
robustez ao édito condenatório e abre-se a possibilidade de, em crimes
graves, proceder-se à nova análise do cabimento da antecipação da
execução da pena para garantia da ordem pública ou da aplicação da lei
penal, mediante uma nova interpretação do conceito de ordem pública.

Extrai-se dos autos que o paciente foi denunciado pela prática dos
delitos tipificado no art. 171, caput e § 3º (estelionato), e nos arts. 288, 317
e 333 (organização criminosa, corrupção ativa e passiva), todos do Código
Penal (Operação Camaleão), e condenado às penas de 7 (sete) anos, 9
(nove) meses e 3 (três) dias de reclusão, em regime inicial semiaberto, e ao
pagamento de 127 (cento e vinte e sete) dias-multa, conforme a sentença
de fls. 12/134. (eDOC 15)

Desse modo, o caso não se enquadra em nenhuma das hipóteses


acima, razão por que entendo que a decisão agravada deve ser mantida.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

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Voto Vogal

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AG.REG. NO HABEAS CORPUS 175.179 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


REDATOR DO : MIN. EDSON FACHIN
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : JAIR BORGES
ADV.(A/S) : ROGERIO MAIA GARCIA E OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 529.890 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
INTDO.(A/S) : PEDRO ROBERTO RIBEIRO RODRIGUES
ADV.(A/S) : RENAN DA SILVA MOREIRA

VOTO VOGAL

O Senhor Ministro EDSON FACHIN: Senhora Presidente, trata-se de


habeas corpus impetrado contra decisão monocrática que, proferida no
âmbito do Superior Tribunal de Justiça e à luz da jurisprudência desta
Corte, indeferiu liminarmente o remédio heroico, que lá foi apresentado
com o fim de obstar a execução imediata da pena privativa de liberdade
imposta ao paciente, já confirmada em segundo grau de jurisdição.

O eminente Relator, Ministro Gilmar Mendes, embora tenha


reconhecido em sua decisão que, contra o referido acórdão proferido pela
instância ordinária, “o recurso especial movido pela defesa ainda não foi
apreciado pelo STJ”, concedeu parcialmente a ordem, para suspender o
início da execução provisória da pena a que foi submetida o paciente, até
o primeiro pronunciamento colegiado do Superior Tribunal de Justiça
sobre a controvérsia.

Daí o agravo regimental interposto pelo Ministério Público Federal.

Sendo esse o quadro, Senhora Presidente, rogo vênias ao relator,

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Voto Vogal

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para divergir de sua compreensão sobre a solução para o caso em tela.

1. Preliminarmente, porque esta Corte tem posição firme pela


impossibilidade de admissão de habeas corpus impetrado contra decisão
proferida por membro de Tribunal Superior, visto que, a teor do artigo
102, I, “i”, da Constituição da República, sob o prisma da autoridade
coatora, a competência originária do Supremo Tribunal Federal somente
se perfectibiliza na hipótese em que Tribunal Superior, por meio de
órgão colegiado, atue nessa condição. Nessa linha, cito o seguinte
precedente:
“É certo que a previsão constitucional do habeas corpus no
artigo 5º, LXVIII, tem como escopo a proteção da liberdade. Contudo,
não se há de vislumbrar antinomia na Constituição Federal, que
restringiu a competência desta Corte às hipóteses nas quais o
ato imputado tenha sido proferido por Tribunal Superior.
Entender de outro modo, para alcançar os atos praticados por
membros de Tribunais Superiores, seria atribuir à Corte
competência que não lhe foi outorgada pela Constituição.
Assim, a pretexto de dar efetividade ao que se contém no inciso
LXVIII do artigo 5º da mesma Carta, ter-se-ia, ao fim e ao cabo, o
descumprimento do que previsto no artigo 102, I, “i”, da
Constituição como regra de competência, estabelecendo
antinomia entre normas constitucionais.
Ademais, com respaldo no disposto no artigo 34, inciso XVIII,
do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, pode o relator
negar seguimento a pedido improcedente e incabível, fazendo-o como
porta-voz do colegiado. Entretanto, há de ser observado que a
competência do Supremo Tribunal Federal apenas exsurge se
coator for o Tribunal Superior (CF, artigo 102, inciso I, alínea
“i”), e não a autoridade que subscreveu o ato impugnado.
Assim, impunha-se a interposição de agravo regimental” (HC
114.557 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em
12.08.2014, grifei).

É nessa perspectiva, aliás, que tem-se reconhecido o descabimento

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de habeas corpus dirigido ao combate de decisão monocrática de


indeferimento de liminar proferida no âmbito do STJ. Tal entendimento
pode ser extraído a partir da leitura da Súmula 691/STF:
“Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de
habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas
corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.”

Além disso, de acordo com a tradicional jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal, não é admissível a superposição de habeas corpus
contra decisões denegatórias de liminar (HHCC 79.238/RS e 79.776/RS,
relator Ministro Moreira Alves, DJU de 6.8.1999 e de 3.3.2000,
respectivamente; HC 79.748/RS, relator Ministro Celso de Mello, DJU de
23.6.2000; HC 79.775/AP, relator Ministro Maurício Corrêa, DJU de
17.3.2000).

Sob essas perspectivas, não se inaugura a competência do Supremo


Tribunal Federal, nas hipóteses em que não esgotada a jurisdição
antecedente, visto que tal proceder acarretaria indevida supressão de
instância, dado o cabimento de agravo regimental. Precedentes:
Há óbice ao conhecimento de habeas corpus impetrado contra
decisão monocrática do Superior Tribunal de Justiça, cuja jurisdição,
à falta de manejo de agravo regimental ao Colegiado, não se
esgotou. (HC 123.926, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira
Turma, julgado em 14.04.2015, grifei)
Inexistindo deliberação colegiada do Superior Tribunal de
Justiça a respeito da questão de fundo suscitada pelo
impetrante, não compete ao Supremo Tribunal Federal analisá-
la originariamente, sob pena de indevida supressão de
instância. (HC 124.561 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO
BARROSO, Primeira Turma, julgado em 10.02.2015, grifei)

Assim, no caso concreto, por contrariar frontalmente a


jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o habeas corpus não
merecia conhecimento, na medida em que, sem prévio manejo de
irresignação regimental perante o juízo antecedente, atacou-se,

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diretamente nesta Corte, decisão monocrática que indeferiu


liminarmente o mandamus lá impetrado.

O exame da matéria, neste momento, compactuaria com o manejo de


verdadeiro atalho processual, destinado a submeter à mais alta Corte do
País, per saltum, questões que contrariem os anseios do paciente.

Como já salientado, indispensável a observância do sistema


processual e as regras de distribuição de competência
constitucionalmente estabelecidas, em especial porque a concepção da
competência originária da Suprema Corte submete-se ao regime de
direito estrito, não admitindo interpretação extensiva.

Nessa linha, ainda que o Supremo Tribunal Federal seja Corte de


vértice, a Constituição Federal só lhe outorgou competência para habeas
corpus […] quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o
paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à
jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma
jurisdição em uma única instância, nos exatos termos do art. 102, I, i, da CF,
e quando for paciente o Presidente da República, o Vice-Presidente, os
membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros, o Procurador-
Geral da República, Ministros de Estado, os Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica, membros dos Tribunais Superiores do
Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter
permanente, em razão da incidência da regra prevista no art. 102, I, d,
combinado com o art. 102, I, b e c, todos da Constituição da República.

Não é qualquer desses, no entanto, o caso do paciente. Por todas, cito


o seguinte julgado desta Corte:
[…] 1. Inexistindo anteriores manifestações das instâncias
precedentes sobre a matéria de fundo da impetração, a
apreciação dos pedidos da defesa implica dupla supressão de
instância, o que não é admitido conforme a jurisprudência do
Supremo Tribunal. Precedentes. 2. Sob pena de supressão de

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instância, não se admite a impetração de habeas corpus neste


Supremo Tribunal contra decisão monocrática de Ministro de
Tribunal Superior. Precedentes. [...] 4. Agravo regimental ao
qual se nega provimento. (HC 133685 AgR, Rel. Min. CÁRMEN
LÚCIA, Segunda Turma, j. 31.05.2016)

2. Não bastasse, na situação posta sob exame, verifico que o ato


inquinado coator está calcado na seguinte fundamentação (destaquei):
[O] Supremo Tribunal Federal passou a admitir a
possibilidade de imediato início do cumprimento provisório
da pena após o exaurimento das instâncias ordinárias,
inclusive com restrição da liberdade do condenado, por ser o
recurso extraordinário desprovido de efeito suspensivo, sem
que isso implique violação ao princípio da não culpabilidade.
Confira-se:
CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS.
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA CONFIRMADA POR TRIBUNAL DE
SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE. 1. A execução provisória
de acórdão penal condenatório proferido em grau de
apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou
extraordinário, não compromete o princípio constitucional
da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso
LVII da Constituição Federal. 2. Habeas corpus denegado.
(HC 126292, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal
Pleno, julgado em 17/02/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-100 DIVULG 16-05-2016 PUBLIC 17-05-2016)
Esta egrégia Corte de Justiça, por sua vez, também adotou
o aludido posicionamento, mormente a partir do julgamento
pela egrégia Sexta Turma dos EDcl no REsp n. 1.484.415/DF, da
relatoria do Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, cujo
brilhante voto sintetiza a quaestio em debate conforme se
verifica dos trechos a seguir transcritos:
Ao que tudo está a indicar, a decisão, proferida, pela

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composição plena do Supremo Tribunal Federal, no


Habeas Corpus nº 126.292-MG (ainda não publicado),
evidencia que a mais elevada Corte do país, a quem a Lex
Legis incumbe a nobre missão de “guarda da
Constituição” (art. 102, caput, da CF), sufragou
pensamento afinado ao de Gustavo Zagrebelsky – juiz que
já presidiu a Corte Constitucional da Itália –, para quem o
direito é disciplina prática, necessariamente ancorada na
realidade. Assim especifica, verbis:
(...) Se o direito deve se voltar à realidade, é
dizer, se deve operar em cada caso concreto
conforme o valor que os princípios assinalam à
realidade, não se pode controlar a validade de uma
norma tomando em consideração exclusivamente o
que ela diz. Não basta considerar o direito dos livros,
é preciso ter em conta o direito em ação; não basta
uma validade lógica, é necessário uma validade
prática" (Zagrebelsky, Gustavo. El derecho dúctil. 2.
ed. Madri: Trotta, 1997, p. 123. Destaquei.).
Deveras, em diversos pontos dos votos dos
eminentes juízes que participaram da sessão ocorrida
em 17 de fevereiro próximo passado, assinalou-se,
como móvel para a referida guinada jurisprudencial,
a gravidade do quadro de “desarrumação” do
sistema punitivo brasileiro, máxime por permitir a
postergação da definição do juízo de condenação,
mercê dos inúmeros recursos previstos na legislação
processual penal.
[...]
O exemplo, que se repete, com assiduidade, no
cotidiano dos tribunais, evidencia a patologia do
sistema criminal brasileiro e também mostra, com
clareza meridiana, que a maior parte dos recursos
são manejados já no exercício da jurisdição
extraordinária, onde se sucedem agravos regimentais
e embargos declaratórios a cada decisão, monocrática

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ou colegiada, que se toma.


Também não posso deixar sem registro – sem
qualquer emissão de juízo de valor a respeito – que
talvez em nenhum outro país do mundo o instituto
do habeas corpus tenha alcançado, por conta da
assim chamada “doutrina brasileira do habeas
corpus”, tamanha elasticidade quanto ao seu
cabimento e possibilidade de utilização. De ação
voltada à proteção da liberdade, em decorrência de
coação ilegal, atual ou iminente, o remédio heroico,
como dito na Exposição de Motivos do projeto de
reforma do Código de Processo Penal (em trâmite na
Câmara dos Deputados), transformou-se em "sub-
rogado universal das impugnações recursais", do
que resulta sempre a permissão para que, mesmo na
pendência de recurso extraordinário sem efeito
suspensivo, se faça uso do writ – ou de medida
cautelar – para sobrestar agressão, atual ou iminente,
à liberdade de locomoção do indivíduo.
Certo é que, em decorrência dessa pletora de
meios impugnativos, que engendra, a cada instância
inaugurada no curso processual, uma infindável
reapreciação dos mesmos temas já anteriormente
debatidos – o que, na compreensão, v.g., dos
ministros Teori Zavascki, Luiz Fachin, Roberto
Barroso, Luiz Fux e Gilmar Mendes, condiciona a
concretização do ius puniendi do Estado a que o
acusado não mais interponha outro recurso, de modo
a alcançar-se o trânsito em julgado da condenação –
a Suprema Corte acabou assumindo, na dicção do
Ministro Roberto Barroso, “papel decisivo nessa
rearrumação”.
Quiçá fosse mais adequado, para tal propósito,
o caminho legislativo. E nessa direção já se tentou
andar, por meio da frustrada PEC dos Recursos, que
objetivava racionalizar a jurisdição extraordinária, de

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maneira a permitir maior eficiência da justiça


criminal, assegurando densificação a outro princípio
muito caro a todo e qualquer processo penal
moderno, e que também encontrou positivação na
Carta de 1988, o princípio da duração razoável do
processo (art. 5º, inc. LXXXVIII), cuja redação (“a
todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação”)
sugere que sua titularidade se estende não apenas
ao indivíduo alcançado pela justiça criminal, como
usualmente se verifica em relação aos demais
direitos que integram o Bill of Rights, mas também à
parte contrária, que, no processo penal, representa os
interesses de toda a comunhão social.
[...]
Não haveria, assim me parece, impedimento a
que se promovesse a alteração do texto positivado no
art. 5º, inciso LVII da Carta de 1988, prescrevendo
fórmula semelhante, que permitiria – por não
vincular a presunção de inocência ao trânsito em
julgado da condenação – o início do cumprimento da
pena mesmo na pendência de eventual recurso
especial ou extraordinário, em que, como sabido, não
se permite discussão sobre matéria fática ou
probatória.
Decerto que, a meu aviso, tal modificação não
importaria em supressão ou abolição da referida
garantia – o que reclamaria incidência da vedação
contida no art. 60, § 4º, da C.R. – pois o núcleo
essencial da presunção de inocência continuaria
preservado.
Reafirmo que não se cogita, ainda que
remotamente, de abolir ou diminuir essa verdadeira
conquista civilizatória. Contudo, preservado o
núcleo essencial dessa garantia, não haveria razão

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para se impedir que, ajustada sua redação por meio


de reforma constitucional, fosse alcançado o salutar e
desejado equilíbrio entre os interesses individuais
e os interesses sociais que permeiam tanto a
persecução quanto a punição de autores de
condutas criminosas.
Equilíbrio, aliás, que há de ser sempre
perseguido quando se trata de compatibilizar
interesses igualmente legítimos de punição dos
culpados e de proteção dos inocentes. Assim, a
busca da eficiência no processo penal não se
contrasta com a necessária salvaguarda das garantias
individuais. Antes, em um sistema processual bem
ordenado, as garantias concorrem para assegurar a
eficiência do processo (GREVI, Vittorio. Alla ricerca
di un processo penale giusto. Milão: Giuffrè, 2000, p.
13).
Ressalto também que "a prisão decorrente de decisão
confirmatória da condenação pelo Tribunal de apelação não
está vinculada ao exame dos pressupostos para a prisão
preventiva, previstos no art. 312 do CP. Está na competência do
juízo revisional e independe de recurso da acusação (HC
381.568/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 21/02/2017, DJe 24/02/2017).
A tese apresentada pela defesa, portanto, mostra-se
manifestamente improcedente, pois contrária à jurisprudência
pacífica desta Corte.

3. Nessa quadra, cumpre assentar, de saída, que tenho dificuldades


em reconhecer eivada de teratologia ou de ilegalidade decisão judicial
que aplica entendimento contemporâneo e reiterado do Plenário desta
Suprema Corte.

É bem verdade que o tema afeto à conformidade constitucional da


execução provisória da pena configura matéria de extrema delicadeza, a
exigir a apreciação e contraposição de diversos argumentos e elementos

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interpretativos que devem ser sopesados à luz da inteireza constitucional.

Reconheço, pois, nessa ambiência, a possibilidade de adoção de


distintas e respeitáveis leituras da Constituição, a fim de se extrair a
resposta adequada à questão.
Assim, embora tenha convicção formada e explicitada em diversos
outros feitos a respeito da matéria, enfatizo que a sensibilidade da
controvérsia constitucional, a meu ver, realmente pode albergar diversas
compreensões.

Todavia, mesmo nesse cenário, independentemente da posição


adotada, tenho como imprescindível que sujeitos processuais que se
encontrem em situações semelhantes recebam tratamento processual
condizente com tal similaridade.

Vale dizer, comungo do entendimento no sentido de que esta Corte


deve funcionar de modo a prestigiar a estabilidade, integridade e
coerência de sua jurisprudência, conforme, a propósito, expressamente
exige o art. 926, CPC. A respeito de tal dispositivo, menciono Luiz
Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero:

“O art. 926, CPC, institui claramente o que a doutrina


chama de stare decisis horizontal. Ao dizer expressamente que
há dever de outorgar unidade ao direito e de fazê-lo seguro o
que implica torná-lo cognoscível, estável e confiável o
legislador obviamente determinou ao Supremo Tribunal
Federal e ao Superior Tribunal de Justiça respeito aos
próprios precedentes, além de ter determinado aos Tribunais
Regionais Federais e aos Tribunais de Justiça respeito à própria
jurisprudência formada a partir dos incidentes de resolução de
resolução de demandas repetitivas e de assunção de
competência. Isso porque a primeira condição para que exista
um sistema de precedentes e de compatibilização vertical das
decisões judiciais é o respeito por parte das Cortes Supremas
aos seus próprios precedentes. Do ponto de vista da

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administração da Justiça Civil, não é possível respeitar quem


não se respeita.” (Novo Código de Processo Civil comentado. 2.
ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 990, grifei)

Portanto, à luz da regência do Código de Processo Civil, deve ser


observada a necessária estabilidade, integridade e uniformidade da
jurisprudência, circunstância que é traduzida, inclusive, a partir do dever
de autorreferência da Corte.

Já ao disciplinar o stare decisis segundo um enfoque vertical,


prescreve o Código de Processo Civil:

“Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


(…)
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos
quais estiverem vinculados.”

Diante do exposto, sobretudo na atual sede fracionária, reitero,


independentemente do acerto ou desacerto da decisão do colegiado
maior, cujo reexame, por óbvio, não se submete a órgão fracionário, ser o
caso de, forte no Princípio da Colegialidade, implementar a
compreensão adotada pelo Plenário.

Saliento que não se trata de defender uma indesejável petrificação da


jurisprudência da Suprema Corte, mas de apenas se reconhecer que cabe
precipuamente ao Plenário eventual análise de superação de seus
próprios precedentes.

Acrescento que, embora se possa sustentar que determinado tema


demandaria reexame definitivo em sede plenária, com a devida vênia aos
que aderem a posição diversa, não cabe às Turmas fazê-lo, notadamente
quando há factível risco de produção de compreensões fracionárias
divergentes, a acarretar potencial insegurança jurídica e involuntária
violação à isonomia.

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Feito esse registro, e com especial enfoque no Princípio da


Colegialidade, passo a apreciar, à luz dos precedentes do Tribunal Pleno,
o caso concreto.

4. O primeiro ponto a ser examinado refere-se, pois, à


compatibilidade constitucional da execução da pena assentada em sede
ordinária e passível de impugnação por recursos que não possuem
eficácia suspensiva ope legis.

A esse respeito, registro que a jurisprudência tradicional da Corte


admitia a execução da pena em tais circunstâncias.

Como bem explicitado pelo saudoso Min. Teori Zavascki (HC


126292, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em
17/02/2016), com citação, na ocasião, de diversos precedentes, “a
possibilidade da execução provisória da pena privativa de liberdade era orientação
que prevalecia na jurisprudência do STF, mesmo na vigência da Constituição
Federal de 1988.” Em suma, segundo Sua Excelência, já naquele contexto, o
“princípio da presunção de inocência não inibia a execução provisória da pena
imposta, ainda que pendente o julgamento de recurso especial ou extraordinário.”

A guinada jurisprudencial acerca da matéria operou-se pelo


Plenário no HC 84078/MG (Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno,
julgado em 05/02/2009), oportunidade em que o Supremo Tribunal
Federal afirmou a impossibilidade de deflagração da execução penal na
pendência de recursos excepcionais.

A posição tradicional da Corte, contudo, foi retomada na ocasião do


julgamento do referido HC 126292, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI,
Tribunal Pleno, julgado em 17/02/2016. A esse respeito, concluiu o
saudoso Relator (grifei):

“12. Essas são razões suficientes para justificar a proposta

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de orientação, que ora apresento, restaurando o tradicional


entendimento desta Suprema Corte, no seguinte sentido: a
execução provisória de acórdão penal condenatório proferido
em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou
extraordinário, não compromete o princípio constitucional da
presunção de inocência.”

Mencionado pronunciamento foi atacado por meio de embargos de


declaração. Em sede de aclaratórios, além do pedido de modulação de
efeitos, também se alegava omissão quanto à incidência do art. 283, CPP.
O recurso, contudo, foi rejeitado por maioria, vencido o eminente decano,
Min. Celso de Mello (HC 126292 ED, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI,
Tribunal Pleno, julgado em 02/09/2016).

Em seguida, como bem apontado pela autoridade inquinada coatora,


o Tribunal Pleno, em 05/10/2016, indeferiu as medidas cautelares
requeridas nas ADCs 43 e 44, ações nas quais os fundamentos decisórios
explicitados no HC 126292 eram impugnados sob a premissa da higidez
constitucional do art. 283, CPP.

Selando a consolidação do tema, a Corte, sob a sistemática da


repercussão geral, reafirmou a jurisprudência (Tema 925), nos seguintes
termos:

“CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). ACÓRDÃO PENAL
CONDENATÓRIO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA.
POSSIBILIDADE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
JURISPRUDÊNCIA REAFIRMADA. 1. Em regime de
repercussão geral, fica reafirmada a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal no sentido de que a execução
provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau
recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou
extraordinário, não compromete o princípio constitucional da

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presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII,


da Constituição Federal. 2. Recurso extraordinário a que se
nega provimento, com o reconhecimento da repercussão geral
do tema e a reafirmação da jurisprudência sobre a matéria.”
(ARE 964246 RG, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, julgado
em 10/11/2016, grifei)

Mais recentemente, o Plenário voltou a debruçar-se sobre o tema


(HC 152.752/PR), salientando, por maioria de votos, que não se qualifica
como configurador de constrangimento ilegal o ato judicial que, ao se
alinhar aos precedentes da Suprema Corte, chancela a deflagração da
execução provisória da pena:

“HABEAS CORPUS. MATÉRIA CRIMINAL. EXECUÇÃO


PROVISÓRIA DA PENA. IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO
A RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL.
COGNOSCIBILIDADE. ATO REPUTADO COATOR
COMPATÍVEL COM A JURISPRUDÊNCIA DO STF.
ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. INOCORRÊNCIA.
ALEGADO CARÁTER NÃO VINCULANTE DOS
PRECEDENTES DESTA CORTE. IRRELEVÂNCIA.
DEFLAGRAÇÃO DA ETAPA EXECUTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO ESPECÍFICA. DESNECESSIDADE.
PEDIDO EXPRESSO DA ACUSAÇÃO. DISPENSABILIDADE.
PLAUSIBILIDADE DE TESES VEICULADAS EM FUTURO
RECURSO EXCEPCIONAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
ORDEM DENEGADA.
(...)
2. O habeas corpus destina-se, por expressa injunção
constitucional (art. 5°, LXVIII), à tutela da liberdade de
locomoção, desde que objeto de ameaça concreta, ou efetiva
coação, fruto de ilegalidade ou abuso de poder.
3. Não se qualifica como ilegal ou abusivo o ato cujo
conteúdo é compatível com a compreensão do Supremo
Tribunal Federal, sobretudo quando se trata de jurisprudência
dominante ao tempo em que proferida a decisão impugnada.

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4. Independentemente do caráter vinculante ou não dos


precedentes, emanados desta Suprema Corte, que admitem a
execução provisória da pena, não configura constrangimento
ilegal a decisão que se alinha a esse posicionamento, forte no
necessário comprometimento do Estado-Juiz, decorrente de
um sistema de precedentes, voltado a conferir
cognoscibilidade, estabilidade e uniformidade à
jurisprudência.
(…)
(HC 152752, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Tribunal
Pleno, julgado em 04/04/2018, grifei)”

Como se vê, os precedentes emanados do Tribunal Pleno revelam


que a jurisprudência atual desta Corte admite o início do cumprimento
da pena, em caso de título condenatório não passível de impugnação
por recursos que possuam automática eficácia suspensiva.

De tal modo, embora, eventualmente, a matéria possa ser


reexaminada, a tempo e modo e em sede própria, entendo, com a devida
vênia, que não cabe a órgão fracionário dissentir da compreensão
assentada pelo colegiado maior, de modo que tomo como premissa a
higidez constitucional da execução provisória da pena.

5. Imperioso tecer ainda algumas considerações quanto à aventada


exigência de fundamentação concreta para fins de legitimação da
execução provisória, especialmente em razão do contido no art. 5°, LXI,
CF, que condiciona a implementação de prisões à situação de flagrância
ou ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente,
bem como no art. 93, IX, CF, que prescreve o dever de fundamentação
judicial.

É que a conhecida pretensão defensiva também colide com prévio


pronunciamento do Plenário.

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Com efeito, o Tribunal Pleno, ao examinar as tutelas cautelares


requeridas nas ADCs 43 e 44, firmou o seguinte entendimento:

“MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DECLARATÓRIA DE


CONSTITUCIONALIDADE. ART. 283 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE APÓS O ESGOTAMENTO DO
PRONUNCIAMENTO JUDICIAL EM SEGUNDO GRAU.
COMPATIBILIDADE COM O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL
DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. ALTERAÇÃO DE
ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO
JULGAMENTO DO HC 126.292. EFEITO MERAMENTE
DEVOLUTIVO DOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E
ESPECIAL. REGRA ESPECIAL ASSOCIADA À DISPOSIÇÃO
GERAL DO ART. 283 DO CPP QUE CONDICIONA A
EFICÁCIA DOS PROVIMENTOS JURISDICIONAIS
CONDENATÓRIOS AO TRÂNSITO EM JULGADO.
IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVOSA.
INAPLICABILIDADE AOS PRECEDENTES JUDICIAIS.
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 283 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA.
(…)
2. No âmbito criminal, a possibilidade de atribuição de
efeito suspensivo aos recursos extraordinário e especial detém
caráter excepcional (art. 995 e art. 1.029, § 5º, ambos do CPC c/c
art. 3º e 637 do CPP), normativa compatível com a regra do art.
5º, LVII, da Constituição da República. Efetivamente, o acesso
individual às instâncias extraordinárias visa a propiciar a esta
Suprema Corte e ao Superior Tribunal de Justiça exercer seus
papéis de estabilizadores, uniformizadores e pacificadores da
interpretação das normas constitucionais e do direito
infraconstitucional.
(…)
4. O retorno à compreensão emanada anteriormente pelo
Supremo Tribunal Federal, no sentido de conferir efeito
paralisante a absolutamente todas decisões colegiadas

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prolatadas em segundo grau de jurisdição, investindo os


Tribunais Superiores em terceiro e quarto graus, revela-se
inapropriado com as competências atribuídas
constitucionalmente às Cortes de cúpula.
(…)
6. Declaração de constitucionalidade do art. 283 do Código
de Processo Penal, com interpretação conforme à Constituição,
assentando que é coerente com a Constituição o principiar de
execução criminal quando houver condenação assentada em
segundo grau de jurisdição, salvo atribuição expressa de
efeito suspensivo ao recurso cabível.”
(ADCs 43 e 44 MC, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 05/10/2016, grifei)

Noto que, no referido julgamento, o Plenário concluiu que o efeito


suspensivo eventualmente concedido aos recursos especial ou
extraordinário é de cunho excepcional, sendo que conferir automático
efeito paralisante a todos os títulos condenatórios assentados pelas
instâncias ordinárias configuraria medida dissonante das competências
dos órgãos de cúpula. Nesse contexto, a execução da condenação seria
desde logo possível, exceto se existente atribuição expressa de efeito
suspensivo ao recurso cabível, o que, de modo algum, ocorre na espécie
em exame.

Com efeito, como anotado pelo eminente Relator do presente


mandamus, seja quando da impetração do writ perante a Corte
antecedente seja no momento do manejo do presente habeas corpus neste
Supremo Tribunal, nem sequer havia notícia de que o recurso especial,
supostamente interposto pela defesa, tivesse sido admitido pela
instância ordinária. Em verdade, consoante simples consulta ao sítio
eletrônico do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, é possível constatar
que o recurso extraordinário lato sensu em questão somente foi
admitido por aquela Corte em 15.10.2019, mais de um mês após a
prolato o decisum ora agravado.

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Nessa toada, é dizer, ainda que já interposto o recurso destinado ao


Superior Tribunal de Justiça, cumpre salientar também haver
entendimento, já sumulado por este Supremo Tribunal Federal, de que
“Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar
para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi
objeto de juízo de admissibilidade na origem” (Súmula n. 634/STF) e de
que “Cabe ao presidente do tribunal de origem decidir o pedido de
medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo
de admissibilidade” (Súmula n. 635/STF).

De tal maneira, não se trata de exigência de fundamentação concreta


para fins de observância da regra geral, qual seja, o imediato implemento
do acórdão proferido pelas instâncias ordinárias, que nasce eficaz e
apenas terá seus efeitos suspensos por força de eventual, específica e
fundamentada decisão judicial que atribua tal consequência jurídica aos
recursos excepcionais interpostos.

O tema, aliás, foi novamente debatido no contexto do Plenário no


HC 152.752/PR, de minha relatoria, julgado em 5.4.2018. A esse respeito,
reproduzo segmento do voto condutor que proferi e recebeu a adesão da
maioria dos integrantes do respectivo colegiado:

“6. No que se refere à ausência de motivação concreta da


imposição da prisão, o que, em tese, poderia configurar ofensa
ao art. 5°, LXI e art. 93, IX, CF, enfatizo que a necessidade de
fundamentação da ordem escrita de autoridade judiciária deve
ser compreendida à luz do momento processual em que
inserida.
Vale dizer, o implemento da execução provisória da pena,
nos termos das decisões tomadas pelo Plenário, atua como
desdobramento natural do esgotamento das instâncias
ordinárias e do cabimento, em tese, tão somente de recursos
despidos de automática eficácia suspensiva, de modo que,

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assim como ocorre na deflagração da execução definitiva, não


se exige motivação particularizada.
Trata-se, em verdade, tão somente de cumprimento do
título condenatório, este sim caracterizado pela necessidade
de robusta motivação.”

Consta da ementa do referido julgado:


“(…)
5. O implemento da execução provisória da pena atua
como desdobramento natural da perfectibilização da
condenação sedimentada na seara das instâncias ordinárias e
do cabimento, em tese, tão somente de recursos despidos de
automática eficácia suspensiva, sendo que, assim como ocorre
na deflagração da execução definitiva, não se exige motivação
particularizada ou de índole cautelar.
(…)
(HC 152752, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Tribunal
Pleno, julgado em 04/04/2018, grifei)

Também cumpre registrar, a respeito da matéria, as bem lançadas


razões explicitadas, na oportunidade, pelo eminente Min. Ricardo
Lewandowski (transcrição livre), das quais respeitosamente divirjo, a
reforçar que o tema foi objeto de efetiva deliberação pelo Plenário:

“Mas eu ousaria afirmar, com muita convicção Senhora


Presidente, que a ilegalidade está justamente na falta de
fundamentação, de motivação adequada dessas decisões.
Porque, em que pese as palavras até um tanto quanto
rebuscadas, por parte dos integrantes da Turma que analisou o
caso do ora paciente no Tribunal Regional Federal da 4ª Região,
no fundo no fundo eles simplesmente arrimaram sua decisão
na Súmula 122 daquela Corte Regional, que tem a seguinte
redação:
(…)
Fazer remissão às súmulas, à súmula 122 do TRF4 ou à
súmula 267 do STJ, data vênia, não é fundamentar a decisão

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nos termos do exigido pela Constituição. Aí é que reside a


ilegalidade dessas duas decisões. É por isso que eu entendo
viável e necessário conceder-se a ordem.”

Menciono ainda o seguinte trecho dos debates:


“O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Vossa
Excelência me permite?
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Por
favor!
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Mas a
Constituição brasileira impede a execução.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Ao
seu ver, Ministro.
O SENHOR MINISTRO MARCO – O principal, que é a
liberdade de ir e vir, pode ser perdido!
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES -
Pode e deve.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – E deve?
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - A
meu ver, deve.”

A propósito, cabe enfatizar que, salvo melhor juízo, e desde que


obviamente preenchidos os requisitos próprios, inexiste controvérsia na
ambiência deste Supremo Tribunal Federal acerca da compatibilidade, em
si, da presunção da inocência com a imposição de prisões de índole
cautelar.

Ou seja, que é possível a prisão de índole cautelar a partir do


esgotamento da jurisdição ordinária não há dúvidas, tampouco parece
existir questionamento a esse respeito.

Assim, o cerne do que a Corte discutiu e decidiu no HC 126.292/SP,


em sede cautelar nas ADC 43 e 44, sob a sistemática da repercussão geral,
no ARE 964.246/SP e no HC 152.752/PR, consiste, precisamente, na
adequação, independentemente dos requisitos da prisão cautelar, da

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deflagração de prisão penal quando a condenação encontrar-se assentada


na seara ordinária.

Aliás, a própria ideia de execução penal, ainda que provisória,


parece incompatível com a exigência de pressupostos próprios de prisões
processuais.

Como bem observou a Procuradora-Geral da República em parecer


exarado na Rcl. 30.126/PR em que examinada os pronunciamentos do
Tribunal Pleno, “a essência desse precedente, ou seja, aquilo que ele traz de
novo para a persecução penal no país, é estabelecer a regra de que o
início do cumprimento da pena dar-se-á já após a condenação do réu por
Tribunal, ainda que pendentes de julgamento recursos extremos”.

Impende sopesar ainda que, a rigor, qualquer recurso admite, em


tese, a atribuição de efeito suspensivo. O que se coloca é que, em
determinados casos, expressamente assim previstos em lei, tal
consequência decorre direta e tão somente da hipótese normativa de
cabimento recursal (ope legis), enquanto que, nos demais, a suspensão dos
efeitos da decisão recorrida pressupõe decisão judicial específica (ope
judicis). Confira-se, nesse contexto, o que menciona a doutrina:

“Quando o efeito suspensivo é ope legis, decorre do


cabimento do recurso. Ou seja, a mera possibilidade de uso do
recurso, em função de sua previsão legal, já retira a eficácia da
decisão que será recorrida.
(…)
Com efeito, o efeito suspensivo ope iudicis é uma forma
de tutela provisória, uma providência cautelar a ser concedida
incidentalmente em favor do recorrente.
No caso do efeito suspensivo ope iudicis, este não
decorre do cabimento do recurso, pois não se sabe se o relator
concederá esse efeito.
Portanto, o efeito suspensivo nessas hipóteses decorre da
decisão que o concede, configurando uma determinação do

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órgão jurisdicional, com base nos pressupostos legais.


Dependendo o efeito suspensivo de ato judicial, ao
contrário, o provimento nasce eficaz. Os seus efeitos cessam
na oportunidade em que o órgão ad quem agrega o efeito
suspensivo.” (RODRIGUES. Marco Antonio. Manual dos
recursos, ação rescisória e reclamação. 1. ed. São Paulo: Atlas,
2017, p. 87, grifei)

Esse é o sentido, a meu ver, do pronunciamento do Tribunal Pleno,


colhido no contexto cautelar das ADC 43 e 44, na direção de que “é
coerente com a Constituição o principiar de execução criminal quando houver
condenação assentada em segundo grau de jurisdição, salvo atribuição
expressa de efeito suspensivo ao recurso cabível”.

Em suma, os recursos excepcionais eventualmente cabíveis contra o


acórdão que assenta a condenação em sede ordinária possuem potencial
efeito suspensivo ope iudicis, de modo que tais provimentos nascem
eficazes e demandam imediata execução, com possibilidade, em casos
excepcionais, de atribuição de resultado paralisante a ser implementado
mediante concessão de tutela específica de urgência.

Diante de tais aspectos, entendo que a cogitada exigência de


fundamentação concreta, a fim de legitimar o cumprimento do acórdão
que materializa a condenação, além de ter sido expressamente rechaçada
pelo Plenário, revela-se de todo incompatível com a razão de ser dos
precedentes do Tribunal Pleno e com a própria natureza dos recursos
extremos cabíveis contra acórdãos que assentam condenações, os quais,
repita-se, nascem eficazes e cujos efeitos somente se suspendem em caso
de específica e motivada concessão de tutela provisória.

6. Remanesce a questão associada à formação da coisa julgada


decorrente do disposto eventualmente contido na sentença, que assegura
ao acusado o direito de responder em liberdade.

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Esse aspecto também foi enfrentado pelo Plenário no HC 152.752/PR,


que decidiu o seguinte:

“Não configura reforma prejudicial a determinação de


início do cumprimento da pena, mesmo se existente comando
sentencial anterior que assegure ao acusado, genericamente, o
direito de recorrer em liberdade.” (HC 152752, Relator(a): Min.
EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 04/04/2018)

A respeito do tema, consta do voto condutor que proferi naquela


assentada (grifei):

“7. Também não impressiona a alegação de ocorrência de


reformatio in pejus, aspecto corolário do contraditório e da ampla
defesa e derivado do artigo 617 do Código de Processo Penal,
que prescreve que, no âmbito dos órgãos recursais, não poderá
ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da
sentença.
Esse postulado, ao qual os Tribunais têm atribuído
interpretação ampliativa, inclusive com alcance de prejuízos
qualitativos, materializa a personalidade dos recursos. A esse
respeito, enuncia a doutrina:

‘O princípio da personalidade dos recursos significa


que: a) o recurso só pode beneficiar à parte que o interpôs,
não aproveitando a parte que não recorre; e, como via de
consequência, que b) quem recorreu não pode ter sua
situação agravada, se não houve recurso da outra parte.’
(GRINOVER. Ada Pellegrini e outros. Recursos no
processo penal: teoria geral dos recursos, recursos em
espécie, ações de impugnação, reclamação aos tribunais.5ª
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2008. p. 43)

Tal compreensão tem assento na perspectiva de que o


recurso constitui desdobramento do direito de ação. Nesse
enfoque, impor situação prejudicial ao réu sem insurgência da

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acusação consubstancia ato semelhante à submissão de pleito


condenatório despido de imputação, de modo que se nota
íntima relação entre a vedação da reformatio in pejus e o sistema
acusatório.
Ocorre que esse modo de pensar não pode ser
transportado, de forma automática, para a execução penal,
atmosfera processual em que não há acusação propriamente
dita e que é regida, quanto à instauração e processamento, por
critérios de oficialidade, conforme expressamente preceitua a
Lei n. 7.210/84 (Lei de Execuções Penais):

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as


disposições de sentença ou decisão criminal e
proporcionar condições para a harmônica integração
social do condenado e do internado.
(…)
Art. 194. O procedimento correspondente às
situações previstas nesta Lei será judicial, desenvolvendo-
se perante o Juízo da execução.
Art. 195. O procedimento judicial iniciar-se-á de
ofício, a requerimento do Ministério Público, do
interessado, de quem o represente, de seu cônjuge,
parente ou descendente, mediante proposta do Conselho
Penitenciário, ou, ainda, da autoridade administrativa.

Não bastasse, não comungo da compreensão no sentido


de que o acórdão penal condenatório que determina o início da
execução provisória da pena concede providência sem
requerimento do Ministério Público. Entender que o
requerimento para cumprimento de pena, provisório ou
definitivo, não está contido, desde o início, na pretensão
acusatória é negar, em sua inteireza, o próprio direito
constitucional de ação, porque limita temporalmente os efeitos
da pretensão deduzida em juízo quando o ordenamento
jurídico admite, expressamente, que os recursos excepcionais
não são dotados de automática eficácia suspensiva.

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Assim, a ilegalidade apontada, a meu ver, não merece ser


reconhecida.
Nessa ótica, não verifico pronunciamento jurisdicional,
ainda que anterior, que dê guarida à alegação de que o TRF-4ª
teria incorrido em indevida reformatio in pejus, tampouco
sustentação jurídica ao condicionamento do início da execução
à existência de pedido específico da acusação.”

Também cumpre reproduzir resumo dos termos do multicitado HC


126292, de Relatoria do saudoso Min. TEORI ZAVASCKI, conforme ementa
formulada, naqueles autos, pela própria defesa (fls. 3-4 da petição inicial,
grifei), a revelar inexistência de particularidade no caso ora em exame que
imponham equacionamento diverso do exarado pelo Plenário:

“1. Paciente, primário, sem nenhum antecedente criminal,


foi condenado pela suposta prática do crime de roubo
qualificado. Antes do encerramento da instrução criminal foi
revogada a prisão preventiva decretada em desfavor do
Paciente, o qual encontra-se em liberdade há mais de quatro
anos, trabalhando e sem que nenhum outro delito tivesse
cometido.
2. Sentença condenatória, que transitou em julgado para
o Ministério Público, que garante, expressamente, o direito do
paciente recorrer em liberdade desta decisão.
3. Determinação da expedição do mandado de prisão no
julgamento da apelação. Manifesta ilegalidade. Afronta ao
princípio constitucional preconizado no art. 5°, LVII da
Constituição Federal. Precedentes do col. Superior Tribunal de
Justiça: A ilegalidade decorre da determinação de expedição de
mandado de prisão em desfavor do paciente antes mesmo do trânsito
em julgado do acórdão que julgou o recurso de apelação. Registre-se
que o paciente encontrava-se em liberdade até o julgamento do apelo,
por ocasião da prolação da sentença condenatória (fls. 23/34), situação
que deve ser preservada se não há motivo suficientemente forte em
contrário, consoante se nota, a priori, da decisão vergastada. A
PROPÓSITO, CUMPRE REGISTRAR QUE A CHAMADA

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HC 175179 A GR / RS

EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA PRIVATIVA DE


LIBERDADE, EM PRINCÍPIO, É VEDADA, SOB PENA DE SE
PÔR EM XEQUE A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (HC n.º
312.273, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
decisão monocrática, DJ 18.12.14).
5. Ausência dos requisitos previstos no artigo 312, do
Código de Processo Penal, que justificasse a prisão do Paciente.
MANIFESTA FALTA DE DEMONSTRAÇÃO DA
NECESSIDADE DA CUSTÓDIA CAUTELAR.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO.
6. Pedido de liminar tão-somente para sobrestar o
cumprimento do mandado de prisão expedido em desfavor do
Paciente até o julgamento final do writ.”

Ainda sobre as balizas do decidido pelo Tribunal Pleno no HC


126292, oportuno transcrever segmento do voto condutor proferido no
HC 134863 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma,
julgado em 29/11/2016, desprovido em decisão unânime, ocasião em que
se enfrentou idêntica matéria:

“Os impetrantes sustentaram a possibilidade de se mitigar


o óbice da Súmula nº 691/STF, aduzindo, para tanto, que, na
pendência de recursos especial e extraordinário, o juízo de
primeiro grau, após requerimento do Ministério Público
Federal, determinou a execução provisória da pena de 5 (cinco)
anos de reclusão em regime semiaberto imposta ao paciente
pela prática do crime de evasão de divisas (art. 22 da Lei nº
7492/86).
No entender da defesa, essa determinação configurou
reformatio in pejus, na medida em que, quando da prolação da
r. Sentença condenatória, o d. juízo de piso decidiu que o
Paciente poderia RECORRER EM LIBERDADE (…)
(…)
Anoto, adicionalmente, como registro, que o Tribunal
Pleno desta Suprema Corte em caso equivalente, vale dizer,
hipótese em que o paciente também obtivera o direito de

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HC 175179 A GR / RS

recorrer em liberdade, fixou orientação no sentido de que

‘a execução provisória de acórdão penal


condenatório proferido em grau de apelação, ainda que
sujeito a recurso especial ou extraordinário, não
compromete o princípio constitucional da presunção de
inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII da
Constituição Federal (HC nº 126.292/SP, Relator o Ministro
Teori Zavascki, DJe de 17/5/16).’

Portanto, a decisão do juízo de origem, que determinou a


execução provisória da pena imposta ao ora agravante, não
configurou reformatio in pejus nem afrontou a jurisprudência
fixada pelo Supremo Tribunal Federal naquele leading case.
(…)
Fica ressalvado, contudo, meu entendimento pessoal
consignado por ocasião do julgamento daquelas ações
diretas.”

Rememoro que o HC 126292 retomou a posição tradicional desta


Corte quanto à compatibilidade constitucional da imediata execução de
condenações assentadas pelas instâncias ordinárias, superando a
compreensão afirmada no HC 84078/MG, Rel. Min. Eros Grau.

Na vigência do entendimento que admitia o cumprimento da pena,


ou seja, em momento anterior ao julgamento do HC 84078/MG, a Corte já
havia se debruçado sobre a questão atinente à vinculação do Juízo ad
quem ao pronunciamento espelhado em sentença que assegura ao
acusado o direito de apelar em liberdade. Cito, a esse respeito, precedente
de lavra do eminente decano:

“HABEAS CORPUS - RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO


PELO ACUSADO - INEXISTÊNCIA DE EFEITO SUSPENSIVO
- POSSIBILIDADE DE PRISÃO IMEDIATA DO CONDENADO
- MAGISTRADO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA QUE

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CONDICIONA A EXPEDIÇÃO DO MANDADO DE


PRISÃO AO PRÉVIO TRÂNSITO EM JULGADO DA
CONDENAÇÃO PENAL - DELIBERAÇÃO QUE NÃO
VINCULA OS TRIBUNAIS SUPERIORES - PEDIDO
INDEFERIDO. PRISÃO DO SENTENCIADO E
INTERPOSIÇÃO DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS. -
(…)
JUIZ QUE CONDICIONA A EXPEDIÇÃO DE
MANDADO DE PRISÃO AO TRÂNSITO EM JULGADO
DA CONDENAÇÃO PENAL. - A deliberação do magistrado
de primeira instância, que condiciona a expedição do
mandado de prisão ao prévio trânsito em julgado da
condenação penal, embora garanta ao réu o direito de apelar
em liberdade contra a sentença, não vincula os Tribunais
incumbidos de julgar os recursos ordinários ou
extraordinários eventualmente deduzidos pelo sentenciado. O
Tribunal ad quem, em conseqüência, pode ordenar, em sede
recursal, a prisão do condenado, quando improvido o recurso
por este interposto.
(…)
(HC 72610, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira
Turma, julgado em 05/12/1995, grifei)

No caso concreto, ainda há um agravante. O tema afeto ao direito de


apelar em liberdade foi tratado na sentença de primeiro grau, limitando-
se sua incidência ao efeito suspensivo do recurso de apelação.

A compreensão assentada na decisão recorrida, portanto, legitimaria


que o Juiz singular conferisse efeito suspensivo a recurso excepcional,
recurso este ainda não interposto e cabível contra decisão colegiada ainda
inexistente.

Por tais razões, verifico a existência de prévio pronunciamento


explícito do Plenário a respeito da matéria (HC 152.752), bem como que
idêntica circunstância já se verificava no HC 126292, inexistindo, a meu

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HC 175179 A GR / RS

ver, particularidade a recomendar solução diversa.

7. Diante do exposto, divergindo do eminente Relator, dou


provimento ao presente agravo regimental, para que seja negado
seguimento ao habeas corpus e, por conseguinte, revogada a ordem
concedida.

É como voto.

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25/10/2019 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 175.179 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


REDATOR DO : MIN. EDSON FACHIN
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : JAIR BORGES
ADV.(A/S) : ROGERIO MAIA GARCIA E OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 529.890 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
INTDO.(A/S) : PEDRO ROBERTO RIBEIRO RODRIGUES
ADV.(A/S) : RENAN DA SILVA MOREIRA

VOTO

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Como se sabe,


o Supremo Tribunal Federal, a partir da decisão proferida no
HC 126.292/SP e com apoio em sucessivos julgados emanados do
Plenário desta Corte Suprema (ADC 43-MC/DF e ADC 44-MC/DF),
inclusive em sede de repercussão geral (ARE 964.246-RG/SP), veio a firmar
orientação no sentido da legitimidade constitucional da execução provisória
da pena:

“CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO
DE INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). ACÓRDÃO
PENAL CONDENATÓRIO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA.
POSSIBILIDADE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
JURISPRUDÊNCIA REAFIRMADA.
1. Em regime de repercussão geral, fica reafirmada a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de
que a execução provisória de acórdão penal condenatório
proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial

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HC 175179 AGR / RS

ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional


da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII,
da Constituição Federal.

2. Recurso extraordinário a que se nega provimento, com o


reconhecimento da repercussão geral do tema e a reafirmação
da jurisprudência sobre a matéria.”
(ARE 964.246-RG/SP, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI,
Pleno – grifei)

Ao participar dos julgamentos que consagraram os precedentes


referidos, integrei a corrente minoritária, por entender que a tese da
execução provisória de condenações penais ainda recorríveis transgride,
de modo frontal, a presunção constitucional de inocência, que só deixa
de subsistir ante o trânsito em julgado da decisão condenatória
(CF, art. 5º, LVII).

Ocorre, no entanto, que, enquanto não sobrevier alteração do


pensamento jurisprudencial desta Corte sobre o tema em causa,
não tenho como dele dissociar-me.

Desse modo, no que concerne ao questionamento referente à execução


antecipada da pena, e tal como já venho fazendo em casos da minha própria
relatoria (HC 154.032-MC/PE – HC 154.954-MC/SP – HC 158.640-MC/PE,
v.g.), devo observar o princípio da colegialidade, além de considerar,
na espécie, o fato de que se deve aguardar o julgamento definitivo
da ADC 43/DF e da ADC 44/DF, de que é Relator o eminente Ministro
MARCO AURÉLIO, ocasião em que esta Corte reapreciará, em caráter
final, com eficácia “erga omnes” e efeito vinculante, o tema da
possibilidade constitucional de efetivar-se, ou não, a execução antecipada
(ou provisória) da condenação penal.

Não obstante a minha pessoal convicção em sentido contrário, devo


ajustar o meu entendimento à diretriz jurisprudencial prevalecente nesta

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HC 175179 AGR / RS

Suprema Corte, em respeito e em atenção ao postulado da colegialidade.

Sendo assim, em face do exposto e, sobretudo, em respeito ao princípio


da colegialidade, peço vênia para dissentir do eminente Relator e, em
consequência, dar provimento ao recurso de agravo interposto pelo
Ministério Público Federal, em ordem a indeferir o pedido de “habeas
corpus”.

É o meu voto.

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AG.REG. NO HABEAS CORPUS 175.179 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : JAIR BORGES
ADV.(A/S) : ROGERIO MAIA GARCIA E OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 529.890 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
INTDO.(A/S) : PEDRO ROBERTO RIBEIRO RODRIGUES
ADV.(A/S) : RENAN DA SILVA MOREIRA

V OT O VO GAL

O Senhor Ministro Ricardo Lewandowski: Em inúmeros julgados


manifestei-me no sentido de que ofende o princípio da presunção de
inocência, insculpido no art. 5°, LVII, da Constituição Federal, a execução
da pena privativa de liberdade antes do definitivo trânsito em julgado da
sentença condenatória, ressalvada a hipótese de prisão cautelar, e desde
que presentes os requisitos autorizadores previstos no art. 312 do Código
de Processo Penal.

Essa foi minha posição por ocasião do julgamento do HC 126.292/SP,


de relatoria do Ministro Teori Zavascki; das ADC 43 e 44, ambas de
relatoria do Ministro Marco Aurélio; e do HC 152.752/PR, de relatoria do
Ministro Edson Fachin.

Penso, desse modo, não ser possível a fixação de um marco que


torne possível a execução antecipada da pena, que não seja o trânsito em
julgado definitivo da ação penal.

No caso concreto, tratando-se de recurso manejado pelo Ministério


Público, acompanho o relator para também negar provimento ao agravo
regimental.

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 25/10/2019

Inteiro Teor do Acórdão - Página 40 de 40

SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 175.179


PROCED. : RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. EDSON FACHIN
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : JAIR BORGES
ADV.(A/S) : ROGERIO MAIA GARCIA (56255/RS) E OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 529.890 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA
INTDO.(A/S) : PEDRO ROBERTO RIBEIRO RODRIGUES
ADV.(A/S) : RENAN DA SILVA MOREIRA (84027/RS)

Decisão: A Turma, por maioria, deu provimento ao agravo


regimental para que seja negado seguimento ao habeas corpus e, por
conseguinte, revogada a ordem concedida, nos termos do voto do
Ministro Edson Fachin, Redator para o acórdão, vencidos os
Ministros Gilmar Mendes (Relator) e Ricardo Lewandowski, que
acompanhava com ressalva. Segunda Turma, Sessão Virtual de
18.10.2019 a 24.10.2019.

Composição: Ministros Cármen Lúcia (Presidente), Celso de


Mello, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Edson Fachin.

Ravena Siqueira
Secretária

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