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Editora Poisson

Gestão e Tecnologia em Educação


Volume 1

1ª Edição

Belo Horizonte
Poisson
2018
Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade

Conselho Editorial
Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais
Dra. Cacilda Nacur Lorentz – Universidade do Estado de Minas Gerais
Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia
Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC
Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


G393
Gestão e Tecnologia na Educação – Volume 1/
Organização Editora Poisson – Belo
Horizonte - MG : Poisson, 2018
208

Formato: PDF
ISBN: 978-85-7042-003-9
DOI: 10.5935/978-85-7042-003-9.2018B001

Modo de acesso: World Wide Web


Inclui bibliografia

1. Gestão 2. Tecnologia. 3. Educação I.


Título

CDD-658

O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são
de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.

www.poisson.com.br

contato@poisson.com.br
Sumário
Capítulo 1: Emoticons: o fator humano da tecnologia na educação a distância 6

Ligia Maria Fonseca Affonso, Henrique Martins Rocha

Capítulo 2: Perspectivas e desafios para a aprendizagem de Espanhol como


Língua Estrangeira na Educação a Distância ........................................... 16
Raimunda Maria Rodrigues Santos, Nataly Nunes Ferreira, Stephanie Caroline da Rocha Mesquita,
Cintya Lopes do Rosario, Klayton Oliveira de Araújo

Capítulo 3: Redes Sociais como mecanismos de otimização no processo de


Educação a Distância (EAD) ..................................................................... 30
Aline Marques Marino, Jonatas Fonseca Passos, Ana Lúcia Magalhães

Capítulo 4: Análise da Percepção de Graduandos em Engenharia Quanto à


Implantação de Metodologias de Aprendizagem Ativa ............................ 42

Laura Amâncio Rezende, Humberto Felipe Silva, Cíntia Fernanda do Prado, Morun Bernardino Neto

Capítulo 5: Reestruturação da disciplina introdução à engenharia na Faculdade de


Engenharia de Resende – Uma proposta com base nas Metodologias Ativas de
Aprendizagem ........................................................................................... 53
Mario Anibal Simon Esteves, Julio Cesar Batista, Wagner Pina Stoffel

Capítulo 6: O perfil dos formandos no ensino superior: trajetórias e perspectivas


para a sua valoração acadêmica e profissional ........................................ 67
Dayan Rios Pereira

Capítulo 7: A preparação de gestores para ONGS: um campo a ser explorado 82


Victor Cláudio Paradela Ferreira, Kamila Barbosa de Assis, Joana Aparecida de Oliveira, Rafaela
Knaip Alves da Fonseca

Capítulo 8: Sala-ambiente: Espaço de Interação e Práticas Pedagógicas


Inovadoras ................................................................................................. 97
Cintya Lopes do Rosario, Raimunda Maria Rodrigues Santos, Nataly Nunes Ferreira, Klayton
Oliveira de Araújo, Stephanie Caroline da Rocha Mesquita

Capítulo 9: Utilização de objetos pedagógicos para o ensino de Física em


escolas... .......................................................................................................................... 109

Caio Soares Santos,Gil Fernandes da Cunha, Juliana Spinelli e Silva, Saul Eliahú Mizrahi
Sumário
Capítulo 10: Concepções implícitas de aprendizagem: um estudo com
graduandos do curso de Ciências Contábeis da UFBA ........................... 118
Ana Gabriela Moura Baqueiro, Mariana Almeida Ribeiro, Joséilton Silveira da Rocha, Catarina
Salume Lusquinhos Almeida

Capítulo 11: O impacto dos estilos de aprendizagem no ensino de Contabilidade


no ICHS–UFF ............................................................................................. 130
Alessandra dos Santos Simão, Arlindo de Oliveira Freitas, Júlio Cândido de Meirelles Júnior,
Sandra Margareth Lopes Louzada de Camargo, Israel de Carvalho Drumond Araújo

Capítulo 12: Tecnologia e a carreira docente: Uma adaptação necessária 142


Anderson Ricardo Silvestro

Capítulo 13: O uso do celular na aprendizagem: A escala de valores dentro do


contexto escolar ........................................................................................ 151
Simone Silva Cunha

Capítulo 14: Metodologias de Ensino para a melhoria do aprendizado ... 158


Victor Ulisses Pugliese, Eduardo Noboru Sasaki

Capítulo 15: Mapeamento e Gestão de Processos aplicados em uma pró-reitoria


pertecente a uma instituição pública de ensino superior brasileira .......... 166
Andreia Lucila da Costa Schlosser, Daniele Estivalete Cunha, Daniele Medianeira Rizzetti,
Andressa Hennig Silva, Gilnei Luiz de Moura

Capítulo 16: Padronização de processos em uma instituição pública de ensino


superior brasileira ...................................................................................... 178
Andreia Lucila da Costa Schlosser, Daniele Estivalete Cunha, Daniele Medianeira Rizzetti,
Andressa Hennig Silva, Gilnei Luiz de Moura

Capítulo 17: Ludicidade no ensino de espanhol como língua estrangeira:


percepções dos alunos do ensino fundamental de escolas públicas de Boa Vista
- Roraima ......................................................................................................................... 190
Klayton Oliveira de Araújo, Raimunda Maria Rodrigues Santos, Nataly Nunes Ferreira, Cintya
Lopes do Rosario, Stephanie Caroline da Rocha Mesquita

Autores:............................................................................................................................ 200
Capítulo 1
EMOTICONS: O FATOR HUMANO DA TECNOLOGIA NA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Ligia Maria Fonseca Affonso
Henrique Martins Rocha

Resumo: o presente artigo busca avaliar a percepção de alunos e ex-alunos de


cursos livres e de MBA sobre o uso de emoticons em sala de aula. Buscou-se, por
meio de questionário enviado por e-mail, coletar informações sobre a percepção da
importância do uso dos mesmos como complementos da linguagem entre aluno e
professor-tutor em sala de aula, se têm o poder de aproximar o aluno do ambiente
online e criar uma sintonia e se críticas e feedbacks ao aluno podem ser melhorados
com o uso dos emoticons. Foram enviados 144 questionários, havendo uma taxa de
resposta, em treze dias, de 30 questionários (20,8%). Baseado nas respostas
recebidas, a análise dos resultados leva à inferência de que os emoticons, na opinião
de parcela significativa dos respondentes (cerca de 70%), são vistos como uma
forma de aproximação entre aluno e docente e ferramenta de incentivo e motivação
à participação e interação do aluno com os demais colegas, facilitando sua
aprendizagem. Com base em comentários e justificativas das respostas, alguns
aspectos relevantes são apresentados no corpo do texto, contribuindo, desta forma,
para uma melhor compreensão e adequação de uso dos emoticons por parte dos
professores e tutores.

Palavras chave: EAD; Emoticons; Ensino a distância


7

1. INTRODUÇÃO (ALMEIDA, 2003), devendo o mesmo fazer uso


dos recursos disponíveis em favor da
Junto à globalização, mudanças no ambiente
aprendizagem.
de trabalho e redução das distâncias pela
introdução das ferramentas de informática e de Mecanismos hipertextuais podem contribuir
comunicações (computador pessoal, internet e para tornar os diálogos mais construtivos e as
melhorias da rede de telefonia), a educação e interações mais proveitosas, como os citados
o sistema educacional têm tomado novos por Silva (2008) apud Araújo e Dieb (2010): a
rumos, com muitas pessoas buscando cursos possibilidade de inserir imagem estática ou
a distância como forma de obterem graduação dinâmica no corpo do texto do fórum; a
ou aperfeiçoamento profissional, buscando existência de vários hiperlinks (representados
melhoria da posição social e das condições de por expressões) que possibilitam ao usuário
vida (ARIEIRA et al., 2009), o que faz com que movimentar-se entre as diversas postagens do
a modalidade de ensino ou educação a fórum; o uso de emoticons; o fato de os
distância (EaD) venha sendo cada vez mais endereços da web serem transformados
utilizada e aceita em todo o mundo (ROCHA; automaticamente em link; e a possibilidade de
AFFONSO, 2011a, 2011b). disponibilizar as fotos dos usuários, sendo
estas, links para seus respectivos perfis.
Ainda que o uso maciço dessas novas
tecnologias tenha possibilitado uma O presente artigo busca conhecer a
aproximação e um maior poder de atração de percepção de ex-alunos e alunos de educação
alunos para essa modalidade (ARIEIRA et al., a distância da Instituição X sobre a utilização
2009), utilizar as tecnologias de informação e dos emoticons como forma de aproximação
comunicação (TIC) como suporte à EaD entre aluno e professor (ou tutor) e ferramenta
apenas para pôr o aluno diante de de incentivo à motivação, participação e
informações, problemas e objetos de interação do aluno com os demais colegas,
conhecimento, pode não ser suficiente para facilitando sua aprendizagem.
envolvê-lo e despertar nele tal motivação pela
aprendizagem (ALMEIDA, 2003). O autor
destaca ser necessário criar um ambiente que 2. LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
favoreça a aprendizagem significativa ao
De acordo com Maia e Mattar (2007) apud
aluno, “desperte a disposição para aprender
Santos (2011), a “EaD é uma modalidade de
[...], disponibilize as informações pertinentes
educação em que professores e alunos estão
de maneira organizada e, no momento
separados, planejada por instituições e que
apropriado, promova a interiorização de
destaca que a “denominação ‘educação a
conceitos construídos” (ibid., p.79).
distância’ envolve invariavelmente a separação
Ensinar em ambientes digitais e interativos de geográfica entre estudante e instrutor e, em
aprendizagem significa: organizar situações alguns casos, também a separação no tempo”.
de aprendizagem, planejar e propor Essa separação pode constituir-se em uma
atividades; disponibilizar materiais de apoio vantagem para os aprendizes:
com o uso de múltiplas mídias e linguagens; ter
Os seres humanos progridem em ritmos
um professor que atue como mediador e
próprios, e muitas vezes, bastante diferentes
orientador do aluno, procurando identificar
uns dos outros no processo de aprendizagem.
suas representações de pensamento; fornecer
[...] Portanto, a EaD possibilita a manipulação
informações relevantes, incentivar a busca de
do tempo e do espaço em favor da educação.
distintas fontes de informações e a realização
O aluno estuda onde e quando quiser e puder.
de experimentações; provocar a reflexão sobre
[...] Ou seja, o aluno se autoprograma para
processos e produtos; favorecer a
estudar, de acordo com o seu tempo e sua
formalização de conceitos; propiciar a
disponibilidade. (MAIA; MATTAR, 2007, p. 7
interaprendizagem e a aprendizagem
apud SANTOS, 2011).
significativa do aluno (ALMEIDA, 2003, p.334-
335). Segundo Kenski (2004), o conceito de
presença no mundo virtual vai além do que a
Redefine-se assim, o papel do Professor e sua
simples localização do ser no mundo físico se
importância na condução deste processo,
expande e incorpora questões de linguagem.
como parceiro do aluno, condutor da
descoberta de novos caminhos, provocador e Estudantes e professores tornam-se
incentivador do compartilhamento de ideias e desincorporados nas escolas virtuais. Suas
sonhos e da construção do conhecimento presenças precisam ser recuperadas por meio

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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de novas linguagens, que os representem e os divergir da concepção apresentada, devendo


identifiquem para todos os demais. contemplar essas características. Assim, para
Linguagens que harmonizem as propostas estimular a participação dos estudantes,
disciplinares, reincorporem virtualmente seus favorecendo a interação, os textos para a
autores e criem um clima de comunicação, modalidade devem apresentar mais do que
sintonia e agregação entre os participantes de habilidades técnico-científicas.
um mesmo curso (KENSKI, 2004, p. 67).
Segundo Zaina (2002a, p.1) apud Cinelli
Apesar das separações físicas, existem (2005) “as ferramentas interativas são
tecnologias com capacidades de reduzir tais fundamentais para minimizar os problemas
limitações temporais e espaciais, causados pela distância promovendo a
possibilitando a chamada “educação sem aproximação entre docentes e alunos”. Cursos
distância”: que desejam integrar uma grande interação
devem incluir também certo nível de humor,
É perfeitamente possível ao aprendiz se sentir
oferecendo aspectos lúdicos para deixar o
próximo ao professor, ou presente em uma
curso um pouco mais “humano”, através de
atividade de aprendizagem, mesmo se
relatos de “fatos reais” ou embutindo desenhos
encontrando afastado geograficamente. [...]
cômicos, tornando o curso mais prazeroso.
Além disso, não é apenas na relação aluno-
Segundo Parker (1999) apud Cinelli (2005), o
professor que a sensação de distância ou de
humor pode intensificar a curva do
presença se manifesta em um contexto
aprendizado e gerar um clima de mais
educacional. A sensação de proximidade aos
sinceridade entre os alunos.
colegas é também importante parâmetro
motivacional e de apoio ao aprendizado (TORI,
2010, p.57 apud SANTOS, 2011).
3. EMOTICONS
Na educação a distância, aspectos como
Segundo Soares e Araújo (2009), o espaço
distância, presença, espaço, tempo, ensino,
virtual reinventa a realidade, na medida em
aprendizagem, entre outros aspectos, devem
que sugere um ambiente capaz de gerar
ser compreendidos, pois, apesar de diferirem
interações entre pessoas que estão separadas
em seus conceitos, se complementam
temporal e geograficamente. Segundo os
mutuamente (SANTOS, 2011). Nos últimos 35
autores, durante essas interações pode haver
anos, o desenvolvimento de novas tecnologias
alguns desentendimentos ocasionados por
e descobertas no campo das ciências do
uma mensagem ambígua ou por uma aparente
comportamento humano trouxeram novas
frieza das palavras. Percebendo a dificuldade
possibilidades aos programas de ensino a
dos interlocutores ao tentar expressar
distância, tornando-os mais preocupados em
sentimentos durante as interações mediadas
atender as necessidades dos estudantes e
por computador, através da escrita, os
com a interação entre aluno e professor,
internautas criaram mecanismos hipertextuais
visando beneficiar o desempenho acadêmico
e hipermodais capazes de simular emoções e
(FREITAS, 2005). Sendo assim, técnicas de
evitar os múltiplos sentidos da mensagem, os
motivação vêm sendo desenvolvidas por
emoticons. Segundo Araújo (2007), os
psicólogos e educadores, visando diminuir as
emoticons são “estratégias para substituir os
dificuldades comumente encontradas pelos
gestos e as emoções que, comumente, fazem
alunos e minimizar os problemas de evasão.
parte de uma conversa face a face”. Também
Desta forma, a linguagem pode se constituir chamados de smileys, os emoticons são uma
em um elemento facilitador da interação na sequência de caracteres tipográficos ou
modalidade a distância, atuando como um elo também uma imagem (geralmente pequena),
entre alunos, professores e tutores. Nesse que traduz ou tem o intuito de transmitir o
sentido, a comunicação constitui-se grande estado psicológico, emotivo de quem o
peça do processo educativo em modelos emprega, por meio de imagens ilustrativas de
baseados na interação por meio de Ambientes uma face (SOARES; ARAÚJO, 2009).
Virtuais de Aprendizagem, necessitando assim Exemplos de emoticons são mostrados na
de consolidação entre seus diversos atores Figura 1.
(KOELLING; LANZARINI, 2009). Segundo as
autoras, a linguagem utilizada nos materiais
produzidos para cursos a distância não pode

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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Figura 1: Exemplos de emoticons (FGV Online, s.d.)

Para Costa (2009), o uso de emoticons visa Tal contextualização aponta para a
facilitar a redação de mensagens e assegurar necessidade de utilizar adequadamente os
a regulação dos diálogos na interação verbal e emoticons. Algumas explicações e
social na internet. Sobre isso, Araújo e Dieb recomendações sobre seu uso são
(2010), tendo por base estudo realizado no apresentadas a seguir:
curso de Letras da Universidade Federal do
É difícil descobrir quando alguém está falando
Ceará em 2008, acreditam que o uso dos
algo em tom de brincadeira, se está realmente
emoticons pelos mediadores do conhecimento
bravo ou feliz, ou se está sendo irônico em um
em ambientes virtuais tem sua importância.
ambiente no qual só há texto. Caso sinta
Segundo os autores, trata-se de uma forma
necessidade de expressar com mais clareza
possível de tornar a interação entre os sujeitos
seu pensamento e seu sentimento, use sempre
mais agradável e produtiva, influenciando, de
os emoticons. Lembre que o interlocutor não
maneira positiva, o processo de aquisição de
tem contato direto com seu tom de voz e nem
conhecimento por parte do aluno, bem como a
com sua expressão corporal e facial -
mediação realizada pela equipe formada por
linguagem/comunicação não-verbal. Por isso,
monitores e professor. Brito (2008, p.5) apud
você pode utilizar emoticons “simpáticos”
Soares e Araújo (2009) afirma que:
sempre que precisar chamar a atenção de
Eles [os emoticons] conseguem expressar os algum aluno; [...] Os emoticons são bem-
sentimentos de interlocutores que estão vindos como forma de expressar o que, na
distantes fisicamente um do outro. Sendo oralidade, é expresso por gestos, expressões
assim, as emoções experimentadas por faciais e diferentes tons de voz. Se utilizamos
usuários não deixam de existir simplesmente demais os emoticons, eles acabam por perder
porque estão sendo mediadas por máquinas, a importância e seu uso torna-se banalizado.
apenas assumem outro formato e circulam de [...] O uso excessivo de cores e de emoticons
outra forma, pois com a virtualização, houve a deve ser evitado, pois esses elementos poluem
necessidade de se criar novas maneiras de e infantilizam a sala de aula (FGV, 2010).
expressar o afeto e a linguagem.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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No contato inicial com os respondentes, foi


solicitada a colaboração no desenvolvimento
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
da pesquisa por meio do preenchimento do
O presente estudo foi elaborado por meio da questionário. Todos os participantes foram
coleta das percepções de ex-alunos e alunos informados sobre a característica científica e
da modalidade Online da Instituição X. Foi acadêmica da pesquisa e sobre seu propósito,
adotada a amostragem não probabilística, em o que reforça a característica de não disfarce
que a seleção dos elementos da população do instrumento, ou seja, da transparência
para compor a amostra depende, ao menos sobre os propósitos da pesquisa (ROCHA,
em parte, do julgamento dos pesquisadores. 2009).
A amostragem foi ainda por conveniência, Optou-se por tabular as respostas e apresentar
devido à necessidade e importância de ter os resultados na forma de gráficos “de pizza”,
como respondentes alunos com o perfil tendo em vista a facilidade de serem
delimitado ao interesse da pesquisa: o critério percebidas as proporções neste tipo de
de escolha dos potenciais respondentes foi a gráfico. Além da tabulação das respostas (na
de serem/terem sido alunos de cursos livres e forma de sim e não), comentários e
de MBA da Instituição estudada. Isto garante justificativas relevantes de alguns
uma alta qualificação e significância na respondentes foram também registradas, de
amostra. Cobriu-se assim, apenas o reduzido, forma a servir de instrumento de análise e
mas importante, perfil de interesse para o reflexão por parte dos pesquisadores. Cabe
presente estudo. ressaltar que, para elaboração do presente
artigo, alguns comentários dos respondentes
Foram enviados por e-mail questionários do
foram editados pelos autores, visando corrigir
tipo autopreenchido, ou seja, a serem lidos e
pequenos erros de digitação e/ou resumir o
preenchidos diretamente pelos pesquisados, a
texto, sem alterar, no entanto, o conteúdo e
144 alunos e ex-alunos da Instituição X, todos
ideias dos respondentes.
sob a tutela do mesmo professor-tutor,
contendo as seguintes perguntas:
Você considera os emoticons importantes 5. COMPILAÇÃO E ANÁLISE DOS
como complemento da linguagem aluno e tutor RESULTADOS
em sala de aula, no ambiente online? Por quê?
Os resultados aqui apresentados refletem as
A utilização dos emoticons pelo Professor- respostas recebidas de 30 respondentes, o
Tutor tem o poder de aproximar o aluno do que representa 20,8% do total de e-mails
ambiente online e criar uma sintonia entre eles? enviados, percentual considerado adequado
para pesquisas desse tipo (MALHOTRA;
Uma crítica ou feedback ao aluno pode ser
GROVER, 1998).
melhorado com o uso dos emoticons?
Os resultados da primeira pergunta do
A opção pelo questionário autopreenchido, ao
questionário (“Você considera os emoticons
invés de entrevistas, se deve principalmente
importantes como complemento da linguagem
ao tempo de aplicação e custo envolvido, que
aluno e tutor em sala de aula, no ambiente
no caso de entrevistas seriam muito altos. A
online? Por quê?”) são apresentados na Figura
familiaridade dos respondentes com o
2.
ambiente online foi fator preponderante para
que fosse feita a opção de envio dos
questionários por e-mail.

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Figura 2: Resultados da primeira pergunta.

Você considera os emoticons importantes como complemento da


linguagem aluno e tutor em sala de aula, no ambiente online? Porquê?

3%

27%
Sim

Não

Não respondeu/Depende/Outros
70%

Observa-se um elevado nível de concordância Facilitam o entendimento da linguagem escrita


dos respondentes quanto ao uso dos entre alunos e professores;
emoticons como complemento da linguagem
Complementa as impressões e emoções que
em sala de aula. Algumas justificativas das
não podem ser feitas por palavras; e
respostas são apresentadas abaixo,
segmentadas em “Sim” e “Não”: A escrita por si só é "fria" e muitas vezes não
passa exatamente a forma (intenção) daquilo
SIM
que escrevemos.
Em função da facilidade de transmitir aquela
NÃO
“expressão” de rosto de um professor para o
aluno e vice-versa; Não considero importante, mas sei que
contribuem para quebra de barreiras que
Ajuda a comunicação ficar mais próxima;
possam existir entre aluno e tutor, visto a frieza
São importantes quando usados com o intuito do ambiente online;
de realmente passar o seu estado de espírito
Não acho que emoticons seja complemento,
no momento da comunicação com o professor
mas compreendo sua utilização no espaço
ou colegas;
lúdico;
Têm um papel de aproximação importante.
Sinceramente não acho que o emoticons tem
Diferentemente do que acontece com aulas
qualquer influência no aprendizado. Não
presenciais, em que você pode ver o professor
acredito que eles sejam fundamentais para o
e os colegas e ter uma ideia de como eles
contato do aluno com o professor. [...] no
estão se sentindo (se estão tristes, se estão
ambiente online, acho que os emoticons
rindo ou nervosos, por exemplo), em
"poluem" e não agregam;
ambientes virtuais isso não é possível;
Não acho que os emoticons interferem na
Ajudam a fixar o tema abordado de forma mais
comunicação do professor e aluno; e
informal;
Acho as figuras pouco representativas e
Faz com que a comunicação se torne mais
algumas vezes as considero infantis demais.
rápida e eficaz;
Os resultados da segunda pergunta do
Transmite algo mais próximo e divertido do
questionário (“A utilização dos emoticons pelo
aluno ao professor e vice-versa, tornando o
professor-tutor tem o poder de aproximar o
diálogo mais alegre, interativo no sentido
aluno do ambiente online e criar uma sintonia
positivo, como expressão emocional do
entre eles?”) são apresentados na Figura 3.
conteúdo seco do assunto discutido;

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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Figura 3: Resultados da segunda pergunta.

A utilização dos emoticons pelo professor-tutor tem o poder de


aproximar o aluno do ambiente online e criar uma sintonia entre eles?

7%
20%
Sim

Não

Não respondeu/Depende/Outros
73%

Observa-se, novamente, um elevado nível de Acredito que sim, pois expressa sentimentos e
concordância dos respondentes quanto ao uso torna a comunicação mais próxima. Também
dos emoticons para aproximar o aluno do desperta interesse no aluno;
ambiente online e criar sintonia. Algumas
Os emoticons quebram o gelo da palavra
justificativas das respostas são apresentadas
escrita;
abaixo, segmentadas em “Sim” e “Não”, além
de outros comentários: Acho que eles são imprescindíveis nos
ambiente online, tornando a aula menos
SIM
cansativa e mais divertida. Os emoticons nos
Sem os emoticons o curso seria muito deixam mais à vontade com o professor e
impessoal; acredito que o professor também sinta isso
quando ele é utilizado. Quebra a rotina teórica
Acho que quebra o gelo e deixa expressar o
do online, deixando o ambiente mais divertido
sentimento que estão sentido ou querendo
e interativo; e
expressar;
Acredito que o maior objetivo desta ferramenta
Quando o emoticons for alegre e positivo
é expor o pensamento e as emoções entre os
penso que pode criar ânimo na participação
locutores.
dos colegas na sala de aula;
NÃO
Só se for usado com parcimônia. Tem uma
linha tênue entre o que é um uso motivador e De forma alguma; e
útil para o aluno e algo que fica sem sentido
Os emoticons não aproximam aluno e
por ser usado sem adequação. O problema é
professor.
que essa linha é difícil de dizer. E o uso
exagerado é bem irritante, quase adolescente; OUTROS
Como uma "imagem fala mais que mil Não saberia responder se emoticons aproxima
palavras", entendo que sim, os emoticons alguém da linguagem aluno e tutor. Eu
aproximam os interlocutores e cria certa particularmente não uso e não gosto.
sintonia entre eles, mas o uso deve ser
Os resultados da última pergunta do
moderado ou o ambiente pode fugir do foco
questionário (“Uma crítica ou feedback ao
principal que é o conteúdo escrito, tema
aluno pode ser melhorado com o uso dos
discutido;
emoticons?”) são apresentados na Figura 4.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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Figura 4: Resultados da terceira pergunta.

Uma crítica ou feedback ao aluno pode ser melhorado com o uso dos
emoticons?
3%

27%
Sim

Não

Não respondeu/Depende/Outros
70%

Observa-se, mais uma vez, um elevado nível Com certeza os emoticons podem exprimir os
de concordância dos respondentes quanto ao sentimentos;
uso dos emoticons para melhorar uma crítica
Acredito que ele poderá transformar algo
ou feedback. Algumas justificativas das
pesado do feedback ou crítica em algo mais
respostas são apresentadas abaixo,
aceitável quando utilizado neste contexto; e
segmentadas em “Sim” e “Não”:
O uso dos emoticons consegue, em parte,
SIM
traduzir o entendimento da mensagem.
Como não existe o visual, o emoticon serve
NÃO
como a reação da pessoa que está te
criticando; Emoticons para mim significam apenas
poluição visual e deveriam ser removidos do
Se o aluno for muito sentimental acredito que
ambiente de aprendizado;
os emoticons possam contribuir para que uma
crítica não seja algo ruim e sim possa contribuir Não acredito que os emoticons melhoram ou
para melhora do aluno; amenizam qualquer feedback ou crítica ao
aluno. O feedback tem que ser sincero e
Acho que crítica e feedback têm que ser ditos
construtivo, mostrando que existem
em palavras, mas acho que neste caminho
possibilidades para melhorar algum
emoticons pode ser usado como
determinado ponto e o que professor pode
complemento;
ajudar neste caminho, não é emoticons que
Os emoticons de alegria e de alto astral, fará ou mudará isso;
quando utilizados num feedback, acredito que
Não vejo dessa forma. Num ambiente em que
possam também incentivar a participação das
você conversa com as pessoas apenas por
pessoas no ambiente de sala de aula;
texto, quanto mais diretas forem as mensagens
Acho que, no caso de críticas, os emoticons de crítica ou de feedback, melhor será o
podem ajudar a que o aluno receba o que está resultado. Os emoticons podem amenizar o
sendo dito ali de uma forma mais positiva; recado em algumas situações, mas para mim
isso não ajuda muito;
Acredito que a crítica pode ser talvez, não
melhorada, mas enfatizada com o uso dos Não. Pois o emoticons introduz um aspecto
emoticons, pois os mesmos ora substituem o emocional do professor ao feedback. Acredito
que quer ser dito ou ratificam aquilo o que já no feedback apenas como uma opinião com
foi escrito; base técnica e não necessariamente
emocional;
Pode demonstrar o sentimento do tutor quanto
ao assunto abordado. Assim, ao receber o Por experiência própria já sofri críticas e
feedback o aluno pode perceber como o tutor negativas fortes que, usadas com o emoticon,
reagiu à situação em pauta. Também serve de ficou soando meio fake.
“quebra-gelo” para quem recebe o feedback,
aliviando um pouco a tensão do momento;

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES seu aprendizado. Trata-se de uma


contribuição da pesquisa, apontando direções
Analisando os resultados, é possível perceber
para o uso dos emoticons por parte dos
uma tendência, com base nas respostas
Professores-Tutores da Instituição X, as quais
recebidas e processadas, que a percepção da
estão em consonância com as diretrizes do
maioria dos alunos da modalidade EaD seja a
seu Manual de Tutoria (FGV, 2010).
de que o uso dos emoticons tem um efeito
positivo, colaborando com a aproximação Os resultados, recomenda-se, no entanto,
entre aluno e professor, sendo ferramenta de devem ser validados com a ampliação da
incentivo e motivação à participação e pesquisa, submetendo os questionários (ou
interação do aluno com os demais colegas, versões ampliadas dos mesmos, abordando
facilitando sua aprendizagem. Observa-se, no outras perguntas para explorar outros
entanto, não ser uma posição de consenso aspectos no relacionamento professor-aluno, e
entre os respondentes: cerca de um quarto segmentando por área de estudo, idade,
dos respondentes não percebem tais familiaridade com o ambiente online, cursos
benefícios. livres versus MBAs, etc.).
Por meio dos comentários, foi possível Sugere-se, também, na expansão do estudo,
identificar que o uso exagerado dos emoticons que a amostra englobe alunos de diferentes
pode ter efeito contrário, ou seja, pode poluir o Professores e Tutores, de tal forma que se
ambiente em sala de aula, tirando o foco do possa prospectar um universo mais amplo,
aluno no conteúdo exposto; pode irritá-lo, sem o risco da percepção ter algum viés por
dificultando ou impedindo sua participação, conta de diferentes atuações de docentes com
interação e consequentemente, interferindo em características e formas de atuação distintas.

REFERÊNCIAS
[1]. ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância [8]. FREITAS, K. S. Um panorama geral sobre a
na internet: abordagens e contribuições dos história do ensino a distância. In: ARAÚJO, B.;
ambientes digitais de aprendizagem. Educação e FREITAS, K. S. (coord.). Educação a distância no
Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, jul./dez. 2003, pp. contexto brasileiro: algumas experiências da UFBA.
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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


16

Capítulo 2
PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA A APRENDIZAGEM DE
ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA NA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Raimunda Maria Rodrigues Santos


Nataly Nunes Ferreira
Stephanie Caroline da Rocha Mesquita
Cintya Lopes do Rosario
Klayton Oliveira de Araújo

Resumo: Com o objetivo de conhecer a percepção dos acadêmicos do Curso de


Letras-Espanhol e Literatura Hispânica do IFRR/Campus Boa Vista, matriculados na
modalidade Educação a distância, a respeito da sua aprendizagem da Língua
Espanhola, realizou-se a pesquisa ora apresentada, buscando-se, para isso, refletir
sobre o ensino dessa língua estrangeira nessa modalidade, identificar os benefícios
ou dificuldades apontadas pelos alunos no desenvolvimento do processo, além de
reconhecer os recursos utilizados pelos professores/tutores para interagirem com os
acadêmicos. Para tanto, recorreu-se aos procedimentos da pesquisa mista de
natureza descritiva. Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário misto online,
encaminhado para 250 alunos do referido curso, obtendo-se como amostra 40
respondentes, correspondendo a 16% do universo. Os resultados permitem concluir
que, apesar do expressivo avanço da modalidade EAD, de sua capacidade para
fomentar o acesso de muitos docentes ao mercado de trabalho, as experiências dos
acadêmicos no ensino presencial, a pouca habilidade para trabalharem os arranjos
pedagógicos virtuais, as limitações impostas pelo sistema de internet local, a
ausência de prática da oralidade da língua espanhola, ainda se constituem em
barreiras para a aprendizagem dos acadêmicos, que, devido a isso, avaliam-se
como falantes não-fluentes na língua que irão ensinar no exercício da docência.

Palavras-Chave: Educação a Distância. Espanhol como Língua Estrangeira.


Percepção. Trajetória formativa.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


17

1. INTRODUÇÃO O reconhecimento da importância dessa


modalidade como uma ferramenta eficaz no
A possibilidade de os brasileiros elevarem seu
desenvolvimento das políticas públicas
nível de escolarização por meio da modalidade
voltadas para a educação brasileira
Educação a Distância (EAD) deu-se em 1904,
concretizou-se com a promulgação da Lei de
quando as Escolas Internacionais
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
(representação de uma organização norte-
9394, de 20 de dezembro de 1996), sendo
americana) apresentaram propostas de
regulamentada pelo Decreto n.º 5.622,
formação por correspondências. Contudo,
publicado no D.O.U. de 20/12/05 (que revogou
somente na década de 1930, a EAD ganhou
o Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de
destaque no Brasil, em virtude de os
1998, e o Decreto n.º 2.561, de 27 de abril de
indicadores da educação nacional apontarem
1998), e com normatização definida na Portaria
o crescimento do acesso de pessoas que
Ministerial n.º 4.361, de 2004 (que revogou a
residiam em áreas isoladas ou que não tinham
Portaria Ministerial n.º 301, de 07 de abril de
condições de frequentar um curso em período
1998).
regular à formação profissionalizante.
Com a LDB 9394/96, ampliaram-se as
Desde então, a EAD passou por diferentes
perspectivas para a oferta de ensino superior
fases, com destaque para os investimentos
na modalidade a distância e o Ministério da
realizados por algumas intituições, tais como:
Educação lançou pelo Sistema Universidade
na década de 1930 a 1940, a fundação da
Aberta do Brasil (UAB), em 2006, uma política
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro Roquette-
direcionada ao fomento de programas de
Pinto (1930); a Rádio-Escola Municipal Rio de
formação incial e continuada de professores
Janeiro (1934); o Instituto Rádio Técnico
para atuarem na Educação Básica. Aderindo a
Monitor, em São Paulo, instituição privada que
essa proposta, em 2010, o Instituto Federal de
oferecia cursos profissionalizantes (1939); a
Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima
Universidade do Ar, da Rádio Nacional voltada
(IFRR) implantou a modalidade de educação a
para o professor leigo/ Instituto Universal
distância, criando em seu organograma uma
Brasileiro (1941). Na década de 1990,
coordenação de Educação a Distância (CEAD)
destacaram-se as aulas transmitidas pelo
e, no mesmo ano, transformou-a em Diretoria
Telecurso 2000 e Telecurso profissionalizante -
de Educação a Distância do IFRR (DIPEAD).
difundidas pela Fundação Roberto Marinho e
Atualmente, cada campus possui uma
SENAI (NUNES, 1993).
coordenação responsável pela condução do
Ressalta-se que, devido às demandas por processo de ensino em cursos de diferentes
capacitação da força de trabalho nacional, em níveis, cabendo à DIPEAD monitorar,
especial dos professores da educação básica, acompanhar e avaliar a execução das políticas
e também com o avanço das novas de educação a distância no âmbito desta IES
tecnologias e consequente uso para o (IFRR, 2014).
fortalecimento do processo ensino-
Dentre os cursos de EAD ofertados no IFRR,
aprendizagem, a EAD passou a ocupar um
encontra-se o Curso de Letras-Espanhol e
espaço significativo no cenário da educação
Literatura Hispânica, que tem por objetivo
brasileira. Suas diferentes formas de interação
formar professores para a educação básica, e
tornaram o acesso à escolarização ainda mais
sobre o qual recai o olhar deste estudo, com o
viável para uma parcela da população que, por
objetivo de conhecer a percepção dos alunos
diferentes razões, não tinha condições de
sobre sua aprendizagem no componente
frequentar a escola em horários regulares e,
curricular língua espanhola, identificando as
assim, essa modalidade de ensino passou a
ferramentas utilizadas para o ensino desse
responder aos desafios da aceleração do
idioma, bem como verificando se tais recursos
processo técnico. Conforme salienta Preti
são eficientes e suficientes para garantirem a
(1998, p.1):
apreensão das particularidades da língua.
A Educação a Distância, por sua flexibilidade
A motivação para a pesquisa surgiu a partir da
e economia de escala, tem sido chamada para
divulgação dos quadros demonstrativos com
dar uma resposta aos desafios político-social,
estatísticas sobre os índices de acesso,
econômico, pedagógico e tecnológico, postos
permanência e retenção dos cursos superiores
à sociedade com a implantação do programa
do IFRR, constantes em seu relatório anual de
neoliberal, a globalização da economia e a
gestão. Os quadros indicam que o curso de
introdução das novas tecnologias no sistema
Letras – Espanhol e Literatura Hispânica
produtivo e de comunicação.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


18

possui as melhores estatísticas na relação de 15 de agosto de 1971, abriram-se portas


entre o número de matrículas e de concluintes. estreitas, construídas para a exceção e não
Apesar disso, é importante realizar estudos para a regra. A LDB 4.024/61, em seu artigo
sobre as causas da retenção, o que justifica a 104, permitiu a organização de cursos ou
proposta aqui apresentada. Trabalhou-se com escolas experimentais cujo funcionamento
o pressuposto de que, apesar de o avanço dependia de autorização do Conselho
dessa modalidade ter expandido o acesso de Estadual de Educação (CEE), ao se tratar dos
muitos docentes ao mercado de trabalho, os cursos primários e médios, e do Conselho
arranjos pedagógicos constituem-se em Federal de Educação (CFE), quando
barreiras para a aprendizagem dos superiores. Já a LDB 5692/71 não só manteve
acadêmicos que, devido a suas experiências em vigor o dispositivo da lei anterior, como
no ensino presencial, sentem-se limitados no também atribuiu aos conselhos de educação
uso dos recursos tecnológicos e competência para autorizar experiências
consequentemente sentem-se prejudicados pedagógicas com regimes diversos
em sua aprendizagem. A fim de confirmarmos (FORMIGA; LITTO, 2009).
ou refutarmos esse pressuposto, aplicamos
Somente com a LDB 9394, de 20 de dezembro
um questionário online, enviado pela
de 1996, a EAD passou a usufruir de um novo
Plataforma Moodle, contendo questões mistas
status no cenário educacional, conforme
aos 250 alunos matriculados nos oito polos
estabelecido em seu Art. 80: “o Poder Público
(Amajari, Alto Alegre, Boa Vista, Caracaraí,
incentivará o desenvolvimento de programas
Iracema, Pacaraima, Rorainópolis e São João
de ensino a distância, em todos os níveis e
da Baliza) do Campus Boa Vista, dos quais
modalidade de ensino, e de educação
nos foram retornados 40 intrumentos,
continuada” (BRASIL, 1996).
caracterizando uma amostra de 16% da
população pesquisada. Acrescenta-se ao rol de marcos regulatórios
dessa modalidade o decreto n° 2.494, de 10
Devemos enfatizar que as respostas para a
de fevereiro de 1998, revogado pelo decreto n°
problemática servirão também como
5.622, de 19 de dezembro de 2005, que, em
termômetro na aferição da metodologia
seu Art. 1, assim caracteriza a EAD:
adotada no desenvolvimento do curso. Assim,
os resultados serão disponibilizados à Modalidade educacional na qual a mediação
coordenação pedagógica e à de curso, a fim didático-pedagógica nos processos de ensino
de que possam planejar com os professores e aprendizagem ocorre com a utilização de
intervenções capazes de aprimorar a meios e tecnologias de informação e
qualidade do ensino no Curso de Letras – comunicação, com estudantes e professores
Espanhol e Literatura Hispânica, ofertado pelo desenvolvendo atividades educativas em
Campus Boa Vista/IFRR, garantindo a lugares ou tempos diversos. (BRASIL, 2005).
permanência dos acadêmicos
Outro marco relevante é o decreto n° 5.800, de
8 de junho de 2006, que dispõe sobre o
Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB),
2. POLÍTICAS PÚBLICAS EM EAD NO BRASIL
criado como uma política pública pelo
E A UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
Ministério da Educação. A proposta de uma
Pensar no processo de regulamentação do universidade aberta já havia sido apresentada
ensino a distância é buscar nos primórdios da sob diversas alternativas, concretizando-se,
história da educação brasileira os desafios afinal, esse sistema, custeado por dotações
encontrados por esta modalidade. Segundo consignadas ao Ministério da Educação (MEC)
Formiga e Litto (2009), a EAD, por muito tempo, e ao Fundo Nacional de desenvolvimento da
foi considerada modalidade de pouco Educação Básica (FNDE) e mantido em regime
prestígio social. Apesar disso, enfrentava o de colaboração da União com os entes
desafio de ser eficiente e bem-sucedida, federativos, mediante a oferta de cursos e
buscando abrir caminhos para o programas por instituições públicas de
reconhecimento dos benefícios capazes de educação superior (FORMIGA; LITTO, 2009).
gerar às pessoas, por promover acesso à
Os principais objetivos deste decreto são:
escolarização.
Oferecer, prioritariamente, cursos de
Assim, com a primeira Lei de Diretrizes e
licenciatura de formação inicial e continuada
Bases da Educação Nacional (LDB) nº 4.024,
de professores da educação básica; II-
de 20 de dezembro de 1961, e com LDB 5692,
oferecer cursos superiores para capacitação

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


19

de dirigentes, [...]; III- oferecer cursos estruturados que atendessem adequadamente


superiores nas diferentes áreas do os estudantes, conforme as características
conhecimento; IV- ampliar o acesso à locais de cada polo. Este entendido como “o
educação superior pública; V- reduzir as braço operacional das instituições de ensino
desigualdades de oferta de ensino superior superior na cidade do estudante ou o mais
entre diferentes regiões do país; VI- próximo dele” (IBIDEM, p. 301).
estabelecer amplo sistema nacional de
Podemos afirmar, portanto, que o Sistema de
educação superior a distância; e VII- fomentar
Universidade Aberta do Brasil busca viabilizar
o desenvolvimento institucional para a
as condições necessárias para a capacitação
modalidade de educação a
de professores para a educação básica
distância,[...].(MAIA; MATTAR, 2007)
(IDEM), proporcionando às universidades
De acordo com Formiga e Litto (2009), o públicas, em sua maioria localizadas nos
Sistema UAB representa um dos resultados da grandes centros, a oportunidade de
convergência de esforços das instituições que aproximaram-se e permitirem o acesso à
se articularam em defesa de um projeto educação superior para uma parcela
voltado para a criação e implementação de um significante da população brasileira residente
sistema nacional de ensino superior. em locais com acessibilidade prejudicada pela
geografia da região, dentre outros fatores de
O Sistema UAB foi oficializado, [...], visando à
ordem econômica, social e cultural
democratização, expansão e interiorização da
oferta de ensino superior público e gratuito no
país, bem como desenvolvimento de projetos
3. FERRAMENTAS DE ENSINO NA
de pesquisas e de metodologias inovadoras
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
de ensino, preferencialmente para a área de
formação inicial e continuada de professores Conforme já mencionado, a EAD vem
da educação básica. (FORMIGA; LITTO, 2009, ganhando cada vez mais espaço no cenário
p. 300) educacional brasileiro. Devido a isso, é
necessário que para esta modalidade de
A consecução do sistema sustenta-se na oferta
ensino sejam utilizadas ferramentas de
da educação superior baseada na adoção e
comunicação que otimizem e auxiliem esse
fomento da modalidade EAD, possibilitando
processo, eliminando a distância espacial e
um crescente potencial para a UAB,
facilitando a aprendizagem dos alunos.
principalmente no que diz a respeito de
oportunizar acesso à educação para um Segundo Litto (2003, p.74),
grande número de estudantes que vivem em
[...] quem busca um curso não presencial quer
regiões distantes dos grandes centros urbanos
interatividade. É preciso que os organizadores
brasileiros.
pensem em criar um ambiente de
É importante ressaltar que a modalidade EAD aprendizagem estimulante, com animações,
tem por sustentáculo as TICs, o que também simulações, formas que façam o aluno
poderá espaço de formação acadêmica entender a concretização daquele
atualizada, privilegiando a construção conhecimento.
autônoma e crítica do conhecimento, por
Entende-se-, pois, que o aluno da EAD precisa
variados meios de aprendizagem: materiais
de algo atrativo e motivacional nas aulas, de
impressos, auditivos, visuais e de multimídia,
modo que os recursos didáticos disponíveis no
internet, correio eletrônico, chats, fóruns e
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)
videoconferências. (IDEM)
estimule-o a realizar suas atividades, de modo
A primeira ação voltada para oferta de cursos a afastar a possibilidade de atraso na entrega
de educação a distância por meio da UAB e consequente retenção nos módulos ou no
iniciou-se com um plano piloto, em março de curso. Por essa perspectiva, as inovações na
2006, ofertando um curso de administração e EAD pautaram-se no desenvolvimento de
com a implantação do Programa Pró- estratégias de uso de diferentes ferramentas
Licenciatura, que atendeu, principalmente, tecnológicas de comunicação, principalmente
professores da rede pública de educação com a expansão da Internet, que passou a
básica (MAIA; MATTAR, 2007). constituir-se em uma aliada fundamental nesse
Posteriormente, outros cursos e programas processo, facilitando a interação entre
foram desenvolvidos no âmbito de UAB, professores, tutores e alunos. Esse contato
fazendo-se necessários, dessa forma, locais pode ser síncrono, quando ocorre de maneira

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


20

simultânea, ou seja, uma das partes emite uma aprofundado de uma realidade delimitada e à
mensagem e as outras a recebem formulação de hipóteses para o
imediatamente, e assíncrono, quando a encaminhamento de outras pesquisas.
comunicação não se realiza em tempo real, ou
A pesquisa descritiva foi amparada pelos
seja, a pessoa envia a mensagem e as outras
preceitos da pesquisa bibliográfica, pois,
a receberão momentos mais tarde.
segundo Prestes (2007, p. 26) permite ao
Atualmente, encontram-se disponíveis pesquisador “criar novas proposições na
algumas plataformas e ambientes virtuais que tentativa de explicar a compreensão de
proporcionam a criação e hospedagem de fenômenos relativos às mais diversas áreas do
aulas e participação em cursos online, porém conhecimento.”
o mais utilizado é o Moodle: “[...] aplicativo
Seguindo as recomendações de Gil (2001),
desenvolvido para ajudar os educadores a
inicialmente, realizou-se a identificação das
criar cursos online,ou suporte online a cursos
fontes que tratam sobre o tema da pesquisa.
presenciais, de alta qualidade e com muitos
Após a localização do material, deu-se início à
tipos de recursos disponíveis” (SABBATINI,
leitura exploratória do material, a fim de
2007, on line)
verificar em que medida a obra consultada
A educação a distância pode contar com as contribuiu para responder ao problema de
seguintes ferramentas: e-mail, grupos de pesquisa. Na sequência, realizou-se a leitura
discussão, videoconferências, chats (bate- seletiva, seguindo-se a leitura analítica do
bapo), audioconferências, teleconferências, material, com o intuito de entender, ordenar e
dentre outras. Além disso, trabalha com sumariar as informações contidas nas fontes.
materiais impressos e CD- Roms, para aqueles Por fim, adotaram-se os parâmetros da leitura
alunos que têm dificuldades em ter acesso à interpretativa, com o objetivo de relacionar as
Internet. discussões dos autores com o problema deste
estudo, utilizando-se fichas para registro de
Nota-se, pois, que a EAD vem buscando
apontamentos e citações importantes como
formas de disseminar o conhecimento, pois
parte da revisão da literatura.
está investindo em instrumentos que
aproximam alunos, professores e tutores no Conforme o objetivo deste trabalho utilizou-se
momento da aprendizagem. Apesar desse como instrumento de pesquisa um
avanço, é importante que os participantes questionário online, cujas variáveis foram
deste processo mantenham um diálogo definidas após realização do levantamento
voltado para o seu bem estar humano. bibliográfico. Segundo Martins e Theóphilo
(2009) os questionários são recursos cada vez
mais frequentes no processo de coleta de
4. MATERIAIS E MÉTODOS dados e evidências. E, como este estudo
envolve uma modalidade de ensino
De acordo com a abordagem, seguiram-se as
diretamente relacionada ao uso de novas
recomendações da pesquisa quantitativa e
tecnologias na educação, justificou-se a
qualitativa; quanto aos objetivos, da pesquisa
utilização de questionários eletrônicos, pois os
descritiva; quanto aos procedimentos, da
alunos já utilizam a internet como um dos
pesquisa bibliográfica.
principais meios para a interação com seus
Segundo Gil (2009, p. 42), “as pesquisas professores. O envio de questionário eletrônico
descritivas têm como primordial a descrição dispensou a participação das pesquisadoras
das características de determinada população nos encontros presenciais. O questionário
ou fenômeno”. No caso deste artigo, online foi encaminhado para 250 alunos
apresenta-se uma descrição da percepção matriculados no referido curso ofertado pelo
dos alunos do Curso de Letras-Espanhol e Campus BV, que se divide em 8 polos
Literatura Hispânica do IFRR/Campus BV na (Amajari, Alto Alegre, Boa Vista, Caracaraí,
modalidade EAD sobre sua aprendizagem. Iracema, Pacaraima, Rorainópolis e São João
da Baliza) distribuídos nestes municípios do
Para a realização de pesquisas descritivas,
estado de Roraima, sendo assim, a polução
Triviños (1987, p. 112) recomenda “uma
alvo da pesquisa. Para a amostragem utilizou-
precisa delimitação de técnicas, métodos,
se 10 % deste universo, ressaltando que os
modelos e teorias que orientarão a coleta e
nomes dos alunos foram substituídos por
interpretação dos dados”. Nessa perspectiva o
números para garantir sigilo.
autor atribui o grande valor do estudo de caso
ao fornecimento do conhecimento

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


21

Os dados quantitativos foram tabulados e A oferta deste curso a distância visa


apresentados em forma de tabelas. De acordo proporcionar à sociedade um conjunto de
com Martins e Theóphilo (2009) nesse tipo de instrumentos educacionais que venham
pesquisa o pesquisador poderá sistematizar e garantir a formação humana e cidadã para o
interpretar os dados numéricos coletados. As exercício do trabalho sem esquecer os
respostas às questões abertas foram conhecimentos prévios e a cultura – de modo
analisadas segundo os procedimentos da a proporcionar a formação do cidadão crítico-
pesquisa qualitativa que, de acordo com participativo. (IFRR/PPL, 2010, p.18)
Minayo (2001), trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um Neste estudo, tem-se o interesse em conhecer
espaço mais profundo das relações dos a visão dos alunos de Letras-Espanhol e
processos e dos fenômenos que não podem Literatura-Hispânica sobre sua aprendizagem
ser reduzidos à operacionalização de na modalidade de ensino a distância. Por isso,
variáveis. em um primeiro momento buscou-se conhecer
qual perfil profissional esperado na conclusão
do curso, baseando-se pelo projeto
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO pedagógico da graduação.
Em 2009, como marco decisivo na De acordo com o projeto do curso (IFRR,
interiorização da educação superior no estado 2010), o licenciado em Letras com habilitação
de Roraima, o IFRR, em função do atendimento em Espanhol e Literatura Hispânica detém das
das demandas de formação identificadas no seguintes competências: dominar plenamente
Plano Nacional de Formação de Professores a Língua Espanhola, o que inclui todas as
para a Educação Básica, aderiu ao Sistema competências linguísticas, discursivas,
Universidade Aberta do Brasil, via Plano de pragmáticas e socioculturais necessárias para
Ações Articuladas, para a oferta do curso de usar adequadamente uma língua; Dominar a
Letras – Espanhol e Literatura Hispânica na teoria linguística de modo a ser capaz de
modalidade a distância (IFRR, 2010). descrever e explicar a estrutura e o
funcionamento do sistema linguístico, inclusive
O curso de licenciatura em Letras – Espanhol
saber usar este conhecimento para
e Literatura Hispânica, na modalidade a
potencializar tanto o uso individual da língua
distância, foi elaborado seguindo orientações
como a sua prática docente; Conhecer a
da Lei n.º 9394/96 – LDBEN; Parecer n.º
configuração das literaturas em língua
009/2001 CNE/CP, que estabelece as
espanhola, inclusive de suas principais obras,
diretrizes nacionais para a formação de
tendo em vista tanto a dimensão humanística
professores da educação básica em nível
de sua formação como a de seu futuro aluno;
superior, curso de licenciatura, de graduação
Capacidade de mediar as culturas hispânicas
plena (IDEM).
e a própria cultura, tanto como cidadão como
Diante deste contexto, o Instituto Federal de quanto docente, e em possíveis atividades de
Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima, tradução e fomentar de atitudes éticas,
com base na conjugação de conhecimentos críticas, investigativas, criativas e solidárias a
técnicos e tecnológicos com as suas práticas partir da prática docente.
pedagógicas, nos termos da Lei n.º 11.892/08
Após a análise documental, buscou-se
apresenta-se com a proposta de oferecer
conhecer o perfil dos alunos que responderam
ensino de qualidade na modalidade a
ao questionário, identificando-os por números
distância, a fim de contribuir para minimizar as
na ordem de devolução dos questionários,
desigualdades educacionais no Estado de
pelo módulo em que se encontram
Roraima. (IDEM)
matriculados e polo no qual frequentam as
aulas presenciais, conforme tabela abaixo.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


22

Tabela 1: Identificação do aluno por módulo e pólo


Aluno Módulo Polo Aluno Módulo Polo
1 2° Boa Vista 10 5° Amajari
2 6° Boa Vista 11 5° Boa Vista
3 5° Amajari 12 5° Alto Alegre
4 2° Pacaraima 13 5° Amajari
5 2° Pacaraima 14 5° Boa Vista
6 5° Amajari 15 2° Boa Vista
7 2° Boa Vista 16 5° Amajari
8 5° São João da Baliza 17 3° Caracaraí
9 2° Caracaraí 18 5° Alto alegre

19 5° São João da Baliza 30 2° Pacaraima


20 5° Rorainópolis 31 5° Boa Vista
21 5° Boa Vista 32 5° Alto Alegre
22 1° Iracema 33 5° São João da Baliza
23 2° Caracaraí 34 5° Boa Vista
24 2° Boa Vista 35 5° Boa Vista
25 5° Boa Vista 36 5° Boa Vista
26 2° Boa Vista 37 5° Amajari
27 1° Caracaraí 38 5° Boa Vista
28 5° Boa Vista 39 5° Boa Vista
29 4° Rorainópolis 40 5° Rorainópolis

O currículo do curso de Licenciatura em Letras oportunidades de aprendizagem e


– Espanhol e Literatura Hispânica na treinamento; a proporcionalidade de
modalidade a distância está estruturado em oportunidades para atualizar aptidões;
oito módulos. Um módulo corresponde a 100 contribui na redução dos recursos
dias letivos em um semestre. A realização do educacionais; melhora a capacitação do
curso contempla dois momentos: presencial e sistema educacional; a qualidade das
a distância. A parte presencial ocupa 30% da estruturas educacionais; nivela as
carga horária de cada disciplina e são desigualdades de grupos etários; direciona a
realizadas nos polos, distribuídos em oito educação para públicos-alvo específicos;
municípios do estado de Roraima, quais sejam: aumenta a aptidões para a educação em
Amajari, Alto Alegre, Boa Vista, Caracaraí, novas áreas do conhecimento; oferece uma
Iracema, Pacaraima, Rorainópolis e São João combinação com trabalho e vida familiar; e
da Baliza. agrega uma dimensão internacional à
experiência educacional.
Kearsley e Moore (2011) apontam que o
ingresso em cursos EAD decorre de diferentes Por essa perspectiva, foi-lhes perguntado a
motivações, apontando as seguintes respeito da motivação para a escolha do curso
necessidades: o acesso crescente a na modalidade a distância, conforme tabela 2.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


23

Tabela 2: Motivos para escolha do curso na modalidade a distância


Motivos Quantidade de alunos(%)
Flexibilidade de hora, possibilitando conciliar o estudo com trabalho e vida 50%
familiar.
Comodidade de poder estudar em casa, sem a necessidade de está 7,5%
presente em uma sala de aula todos os dias.
Falta de acesso de uma faculdade presencial na localidade 7,5%
Capacitação professional 12,5%
Por ser uma modalidade que possibilita novidades educacionais 5%
Por ser o curso de espanhol nessa modalidade 15%
Outros 2,5%
Total 100%

De acordo com as respostas, verificou-se que Além disso, 7,5% dos estudantes
a flexibilidade de horário tem sido a maior argumentaram que preferem estudar na
necessidade, sendo justificada por 50% dos comodidade do lar, exemplificado na fala do
alunos, pois esse tipo de modalidade assegura aluno 12: “eu escolhi este curso por que eu não
a conciliação com sua rotina diária. Dessa preciso me deslocar da minha casa todos os
forma, a “EAD beneficia [...] pessoas que por dias da semana e nem passar horas na sala de
diversos motivos, não podem se deslocar até aula, por que a maior parte das aulas são
uma instituição do ensino presencial, ou as que ministradas de forma online”.
trabalham em horários alternativos [...], sem
Há ainda, aqueles que pela falta de uma
conseguir, por isso, se comprometer a
instituição na localidade acabam optando pelo
frequentar uma instituição de ensino
ensino a distância, exposto na fala do aluno 33:
tradicional”. (MAIA & MATTAR, 2007, p.10)
“Porque na minha localidade não possui na
Ainda sobre as respostas, nota-se que a modalidade presencial”.
necessidade de aptidão mostrou-se uma das
Vale ressaltar que 5% acreditam que a EAD é
mais justificadas, por 15% dos alunos,
uma nova maneira no contexto educacional,
podendo ser observada na fala do aluno 30: “é
fala do aluno 17: “a EAD tem o potencial de
um curso muito bom para aperfeiçoar a minha
promover novos e ricos processos de ensino e
carreira profissional, e para aumentar meu
de aprendizagem”. Dessa maneira, “a EAD
vocabulário e o meu conhecimento”.
traz novas (e diversas) possibilidades e
Percebe-se que além da qualificação oportunidades de aprendizagem para os
profissional, a aptidão pelo curso é alunos”. (MAIA & MATTAR, 2007, p.81)
imprescindível na opção pela EAD, “os hábitos
Dessa forma, foi- lhes questionado sobre os
e as aptidões de estudo dos alunos
desafios encontrados na aprendizagem da
determinam, em grande parte, o sucesso nas
língua espanhola nessa modalidade de ensino,
aulas on-line, e este é um fator que podem
os constam na tabela 3.
controlar”. (KEARSLEY & MOORE, 2011,
p.187)

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


24

Tabela 3: Desafios na aprendizagem da Língua Espanhola na EAD


Desafios Quantidade de alunos (%)
Falar e escrever em espanhol 32,5%
Manuseio do ambiente virtual e recursos tecnológicos 7,5%
Internet precária e/ou falta de energia 22,5%
Poucos encontros presenciais 2,5%
Ausência do professor presencial 5%
Falta de apoio da coordenação do curso 2,5%
Falta de tutores formados em espanhol 2,5%
Alcançar o perfil profissional esperado pelo curso 5%
Não há desafios 5%
Outros 15%
Total 100%

Os dados revelam que 32,5% dos alunos pessoas para lidarem com a informática do
encontram na aquisição da língua estrangeira programa ou com computador e com a
seu maior desafio, aspecto que pode ser metodologia do EAD, são fatores que
exemplificado pela fala do aluno 28: “Em prejudicam o estudo e desestimulam o aluno.
princípio os desafios são quanto as pronúncias [...] situações essas que causam no aluno
que ainda não domino, mas quanto aos certa resistência, por entender que não
significados das palavras já estou conseguirá se programar. (VERGARA &
compreendendo, mas por ser [um curso] a VERISSIMO apud Capeletti, 2014, p.6)
distância acho que estudo muito”.
Observa-se, ainda, que, para os acadêmicos,
A declaração do acadêmico coaduna-se ao a contato físico com o professor e o número
pensamento de Paiva (1999) que define a EAD reduzido de encontros presenciais são
como um sistema educacional que promove a questões que dificultam o processo de
autonomia do aprendiz através de estudo aprendizagem, indicando o predomínio dos
independente e flexível. Portanto, nessa conceitos de ensino e aprendizagem atrelados
modalidade, o aluno necessita exercitar o ao convívio diário entre alunos e professores.
significado de autonomia e flexibilidade, posto Contudo alguns dos entrevistados
que essas características “implicam demonstram ter consciência de que na EAD o
mudanças estruturais de grande alcance. Elas aluno é o sujeito ativo da sua aprendizagem,
nos desafiarão [...] seguindo os velhos conforme revela a fala do aluno 21: “Por ser
caminhos ou disponibilizando novas menos cansativo que um presencial, pois está
dimensões” (PETERS, 2009, p. 270). todos os dias em um banco de faculdade
ocupa muito o tempo do acadêmico. Outro
Além disso, a internet precária e/ou falta de
fator é a idade, já não tenho o mesmo pique de
energia, a dificuldade no manuseio do
antes. Nessa modalidade eu posso escolher o
ambiente virtual e das ferramentas
melhor horário para fazer minhas tarefas”.
tecnológicas, correspondem, para 30% dos
alunos, em fatores que dificultam um ensino de Na sequência, perguntou-se sobre as
qualidade, conformando o que salienta estratégias utilizadas para praticarem a língua
Vergara e Verissimo: espanhola. As respostas foram organizadas na
tabela 4.
A lentidão do acesso da internet, a falta de
flexibilidade do programa, a inabilidade das

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25

Tabela 4: Atividades praticadas pelos estudantes

Atividades práticas Quantidade de alunos (%)


Escuta de música, leitura, diálogos com amigos e/ou familiares, assistir 60%
filmes.
Cursos online, Cursos de extensão, vídeos aulas. 15%
Visita a Venezuela 12,5%
Já atua como professor de espanhol 7,5%
Falante native 2,5%
Não faz nada 2,5%
Total 100%

De acordo com os dados apontados, nota-se Sendo assim, foi perguntado aos estudantes
que 60% dos alunos para superar as se ocorre interação entre aluno e
dificuldades na aprendizagem da língua professor/tutor e quais as ferramentas mais
espanhola, declararam investir mais tempo utilizadas para essa interação. As respostas
com atividades extras citadas na tabela e 15% indicadas encontram-se nas tabelas 5 e 6,
frequentam cursos livres para ajudar no respectivamente.
domínio dos aspectos fonéticos, fonológicos,
semânticos e sintáticos da língua espanhola.

Tabela 5: Interação aluno e professor/tutor


Respostas Quantidade de alunos (%)
Há interação 75%
Não há interação 2,5%
Às vezes 15%
Não responderam 7,5%
Total

Tabela 6: Relação das ferramentas utilizadas pelos alunos de Letras – Espanhol da EAD
Ferramentas Quantidade de alunos (%)
Internet (ferramentas do AVA) 2,5%
Recursos Audiovisuais (data show e slides) 7,5%
Outros (SMS, ligação telefônica, WhatsApp, seminários) 57,5%
Não responderam 32,5%
Total 100%

Considerando-se as respostas dos pouca frequência. A partir disso, foi


entrevistados, percebeu-se que as perguntado aos alunos se existe uma interação
ferramentas mais utilizadas são as que com os professores/tutores do curso.
possibilitam uma comunicação mais imediata.
A resposta da maioria dos entrevistados, 75%,
Essas são usadas para proporcionar uma
demonstra que essa interação existe, como se
interação entre professores/tutores e alunos,
observa na fala do aluno 5: “Há uma perfeita
uma vez que por se tratar de um ensino a
interação, pois quando surge alguma dúvida,
distância, o encontro presencial ocorre com

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


26

sempre nos comunicamos, seja por e-mail, Outro fator que se pode destacar da leitura da
telefone, mensagens de texto. Criamos um tabela 5 diz respeito á importância dos tutores
grupo no aplicativo WhatsApp”. para o processo. Estes são fundamentais para
manter o vínculo entre professores e alunos.
Em contrapartida, os entrevistados 03 e 06
Isso fica evidente nas palavras do aluno 30: “a
afirmam encontrarem dificuldades durante a
tutora do curso é bem presente e está sempre
comunicação, destacando que “A interação é
disposta a ajudar os alunos em o que for
no momento da aula presencial e depois se
preciso, sempre tira nossas dúvidas, sempre
quisermos falar com os mesmos, precisamos
nos comunica sobre as atividades, sobre as
percorrer um longo caminho, ou seja, ‘de tutor
aulas presenciais e etc”.
em tutor’, e quando o retorno acontece, já não
precisamos mais” e “Falta muita comunicação Nessa mesma perspectiva, Gonçalves afirma
entre ambas as partes, pois tecnologia as que o tutor
vezes ajuda ou atrapalha, me refiro ao AVA”.
se põe a disposição do aluno para auxiliá-lo na
Observa-se, ainda, que há uma divergência construção do próprio caminho: não dá mais
quanto ao relacionamento com os professores/ aulas; agora ele orienta e reorienta a
tutores, que pode ser atribuída tanto à aprendizagem dos alunos, ajuda no
dificuldade em ter acesso ao principal meio de esclarecimento de suas dúvidas, identifica
comunicação nessa modalidade, que é a dificuldades, sugere novas leituras ou
Internet, ou a questões burocráticas. Essa atividades, organiza atividades de estudo em
barreira já fora apontada por Barros e grupo, supervisiona a prática de oficina ou
Crescitelli que alertam: “Interações virtuais, por laboratório e assim por diante”. (GONÇALVES,
serem a distância, impõem desafios aos 1997, p.14)
professores e alunos para a sua realização e
Outro tema relevante para a discussão do
para a sua manutenção com sucesso, em
objeto de pesquisa diz respeito aos pontos
razão da ausência do contexto físico
positivos e negativos, segundo percepção dos
partilhado”. (BARROS & CRESCITELLI, 2008,
acadêmicos, em sua aprendizagem, os quais
p.73)
são apresentados nas tabelas 7 e 8,
respectivamente.

Tabela 7: Pontos positivos na aprendizagem dos alunos


Pontos positivos Quantidade de alunos (%)
Facilidade e afinidade com a Língua Espanhola 39,5%
Motivação pessoal 10%
Flexibilidade do horário, conciliando os estudos com o trabalho. 2,5%
Acredita na modalidade EAD como inovação na educação 10%
Outros 15%
Não declarou argumentos positivos 22,5%
Total 100%

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Tabela 8: Pontos negativos na aprendizagem dos alunos


Pontos negativos Quantidades de alunos (%)
Dificuldades com a Língua Espanhola 17,5%
Localidade dos polos inadequadas, distante e ambiente desfavorável. 7,5%
Falta de recursos (material didático) 5%
Poucas aulas presenciais e/ou carga horária insuficiente das disciplinas 10%
Internet ruim 22,5%
Falta de apoio da coordenação do curso 2,5%
Falta de tempo para se dedicar aos estudos 2,5%
Outros 12,5%
Não responderam 15%
Total 100%

Considerando primeiramente os pontos 17,5% dos alunos, são comuns quando se está
positivos, apontados na tabela 7, pode-se adquirindo uma língua estrangeira. Apesar de
observar que ter afinidade e facilidade com o muitos alunos afirmarem ter facilidade com o
idioma tem sido um dos itens mais importantes idioma sempre há aqueles que terão
na aprendizagem dos alunos. Em segundo dificuldades, visto que ao estudar uma língua
lugar está a motivação pessoal, pois 10% estrangeira seja na modalidade presencial
argumentaram que é preciso ter força de ou/e a distância exige prática da oralidade,
vontade e disposição para seguir em frente seja ela feita durante as aulas ou em casa. É
com a qualificação na EAD, podendo ser imprescindível, portanto, proporcionar
observado na fala do aluno 16: “os pontos condições de os alunos terem essa vivência,
positivos são que corro atrás, busco com adotando recursos que não dependam da
garra, com isso aprendo”. internet, pois, conforme declararam os
acadêmicos, não tem se configurado como
Percebe-se, que o interesse e a aptidão pelo
tecnologia totalmente eficaz para promover a
curso escolhido nessa modalidade é o grande
aprendizagem almejada pelos professores em
responsável para que a aquisição do
formação.
conhecimento seja efetiva, como salienta
Kearsley e Moore: Outro aspecto negativo, exposto por 5% dos
estudantes, foi a falta de material didático,
Os hábitos e as aptidões dos alunos
representado na fala do aluno 8 “Já os
determinam, em grande parte, o sucesso nas
negativos são a falta de recurso disponível
aulas on-line, e este é um fator que podem
como: materiais didáticos e internet de
controlar. Os alunos que planejam seu tempo
qualidade”. Todavia, sabe-se que as
de estudo e estabelecem horários para
ferramentas tecnológicas mediadas pela
concluir o curso têm maior possibilidade de
internet possibilitam a aquisição de materiais
obter sucesso na educação a distância. (2011,
virtuais, mas 22,5 % dos alunos afirmaram que
p. 187)
ainda não se tem uma conexão de qualidade
Além disso, o item flexibilidade de horário, que em Roraima, principalmente no interior do
em grande maioria é o motivo principal para estado, urge que a coordenação do curso
escolha da EAD já exposto acima na tabela 2, planeje com seus professores estratégias para
foi argumentando como fator positivo na sanar essa dificuldade dos alunos,
aprendizagem dos alunos. Outro item exposto proporcionando-lhes acesso a material
foi o apoio dos tutores/professores nesse didático que não os deixem reféns da internet.
processo. E 22,5% dos alunos não declararam
Quanto às destrezas linguísticas (ler, ouvir,
pontos positivos.
escrever e falar), foi perguntado em qual nível
Observando os pontos negativos, indicados na na língua espanhola estavam, como auto
tabela 8, nota-se que as dificuldades com a avaliação, as respostas estão indicadas na
língua espanhola, conforme declarado por tabela abaixo.

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28

Tabela 9: Nível na língua espanhola


Nível Quantidade de alunos (%)
Básico 47,5%
Intermediário 45%
Avançado 7,5%

Portanto, percebe-se que os alunos buscam da oralidade da língua espanhola, avaliam-se


adquirir dentro das suas condições uma como falantes não-fluentes na língua que irão
aprendizagem significativa, e buscam na EAD, ensinar no exercício da docência. Contudo,
não só ferramentas que possibilitem que isso apesar das dificuldades, acreditam na
ocorra, mas sim uma educação de qualidade seriedade de sua graduação, reconhecem os
e humanizada. Porém os entraves foram entraves encontrados na trajetória, e
apontados, precisa-se discutir e refletir quais demonstram disposição para enfrentá-los e
maneiras mais viáveis para melhorar a alcançar o objetivo esperado.
qualidade do curso nessa modalidade.
Ademais, as discussões aqui apresentadas
refletem a necessidade de diferentes relações
de espaço e tempo, tanto para o professor
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
quanto para o estudante. Depreende-se que o
O desenvolvimento dessa pesquisa deu-se professor/tutor necessita estar em constante
pela necessidade de conhecer a percepção processo de ação-reflexão-ação, a fim de que
dos alunos do Curso de Licenciatura em Letras mantenha a interação com os alunos. Estes,
- Espanhol e Literatura Hispânica na por seu sua vez, precisam desenvolver
modalidade a distância do IFRR/Campus Boa habilidades de autodisciplina, compromisso
Vista, sobre sua aprendizagem, averiguando com seus objetivos, além do perfil desejado
em que medida essa modalidade de ensino com a conclusão do curso.
permite ao estudante alcançar o perfil traçado
Por essa perspectiva, é possível afirmar que a
na conclusão do curso.
EAD promove a descaracterização do ensino
A revisão da literatura aponta a educação a como mera transmissão de conhecimentos;
distância como uma modalidade que transforma o trabalho docente; ressalta a
oportuniza um universo de possibilidades importância do planejamento; faz com que os
àqueles que buscam capacitação profissional. professores mobilizem diferentes saberes, a
Partindo disso, sabe-se que com o aumento fim de que possam preparar o ambiente virtual
das políticas para a educação, como o sistema de aprendizagem, diversificar o material
Universidade Aberta do Brasil, tem selecionado, conforme a natureza dos
possibilitado a milhares de brasileiros gozarem conhecimentos a serem trabalhados,
o direito de uma educação superior, conforme associando-os à tecnologia e mídias
revelam os registros coletados na pesquisa. disponíveis.
Ressalta-se que os dados indicam que o Pelos resultados, podemos afirmar que a EAD
pressuposto de que, apesar do expressivo exige que professores e acadêmicos, nas
avanço da modalidade EAD, de sua palavras de Roldão (2007, p. 102), adotem
capacidade para fomentar o acesso de muitos “uma postura meta-analítica, de
docentes ao mercado de trabalho, os arranjos questionamento intelectual da sua ação, de
pedagógicos ainda se constituem em barreiras interpretação permanente e realimentação
para a aprendizagem dos acadêmicos que, contínua”, a fim de que sua formação seja
devido a suas experiências no ensino pautada em um contínuo repensar e de fato o
presencial, às limitações impostas pelo curso se concretize como projeto de educação
sistema de internet local, a ausência de prática socialmente comprometido.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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REFERÊNCIAS
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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


30

Capítulo 3
REDES SOCIAIS COMO MECANISMOS DE OTIMIZAÇÃO
NO PROCESSO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD)
Aline Marques Marino
Jonatas Fonseca Passos
Ana Lúcia Magalhães

Resumo: O estudo tem como tema central as redes sociais, problematizadas no


contexto do Ensino à Distância, ou seja, objetiva estudar a possibilidade de criação
de rede social voltada exclusivamente para as plataformas de EAD, de forma a
otimizar o ensino, possibilitando maior interação entre discentes e docentes, bem
como a utilização democrática do direito à educação. A relevância do estudo advém
desse aspecto, já que a segunda maior causa de abandono dos cursos de EAD é a
falta de adaptação à metodologia utilizada nesse contexto, o que demonstra
necessidade de contextualizar a prática do ensino ao cotidiano dos alunos. A rede
social é uma forma de permitir tal prática, devido ao número de pessoas que a
compõe. Para tanto, a metodologia utilizada será, além da revisão de literatura, o
estudo de casos. O tema interdisciplinar, é de interesse dos profissionais das áreas
da educação, da informática e do direito.

Palavras Chave: rede social - interação - ensino à distância - -

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


31
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como tema as redes novo a cada dia, por meio de sua imaginação”.
sociais e como problema a utilização delas em Mesmo Marx (1848) escreveu que “A
otimizar técnicas de Educação à Distância burguesia só pode existir com a condição de
como contribuição para democratizar o direito revolucionar incessantemente os instrumentos
fundamental à educação, daí a escolha do de produção”.
tema. O objetivo é demonstrar como uma rede
social pode servir de interação entre alunos e O conhecimento explícito, oriundo de teorias,
professores e, assim, possibilitar a diminuição comumente associado à literatura e aliado
da evasão escolar nos cursos de EAD, uma vez principalmente ao ensino técnico, cujo enfoque
que a inadequação com a metodologia reside mais em aplicações, é transmitido à
empregada, segundo o censo da ABED distância desde o século XIX, como no caso do
(Associação Brasileira de Educação à curso pioneiro de taquigrafia. Segundo
Distância), é a segunda principal causa de Marques (2004), ainda no século XIX
desistência, o que demonstra a relevância do agricultores europeus migrantes no Brasil
estudo nas áreas da educação, informática e aprendiam sobre técnicas de agricultura por
direito. meio de correspondência.

Para melhor abordar a problematização do 2.2 UMA TEORIA DE EDUCAÇÃO À


tema, utilizar-se-á a revisão de literatura DISTÂNCIA.
associada ao estudo de caso da rede
Holmberg (2003) propôs uma teroria para
Mendeley.
Educação à Distância., que consiste nos
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA seguintes pontos:

2.1 ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O - A educação a distância implica ensino e


ENSINO À DISTÂNCIA (EAD) aprendizagem não-presenciais, que usam o
fato de que alunos e professores não precisam
A educação à distância, conhecida popularmente ter contato pessoal. Em princípio, o EAD é um
como EAD, tem suas origens na necessidade instrumento de estudo individual, mas pode ser
humana de aprendizado frente aos obstáculos adaptado para aprendizagem em grupos. A
geográficos e temporais. Tempo e espaço sempre educação a distância é bem adequada às
representaram barreiras consideráveis ao condições de adultos com empregos ou
desenvolvimento técnico e intelectual do homem.A compromissos sociais, que não podem — ou
educação a distância tem suas origens na não querem — participar de atividades em sala
Europa e nos Estados Unidos em meados do de aula ou manter um horário prescrito.
século XIX. Os pioneiros da educação à Destina-se a se beneficiar da maturidade
distância usaram a melhor tecnologia do seu esperada desses estudantes. Suõe uma certa
tempo, o sistema postal, para abrir independência dos alunos e um dos objetivos
oportunidades educacionais a pessoas que é promover cada vez mais essa
queriam aprender, mas não podiam independência. Se todo o potencial da
frequentar escolas convencionais. As pessoas educação a distância é explorado, os
que mais se beneficiaram dessa educação estudantes se tornam de fato independentes
por correspondência incluíam indivíduos com de decisões tomadas por outros quanto ao
deficiências físicas, mulheres que não tinham local e tempo de estudo.
permissão para se matricular em instituições
- A educação a distância inclui ensino e
educacionais abertas apenas a homens,
aprendizagem na forma de: (a) apresentação
pessoas que trabalhavam durante o horário
mediada de assunto (tráfego de informações
escolar normal e gente vivia em regiões
em sentido único) e (b)interacção mediada
remotas onde não existiam escolas. .
entre alunos e tutores (tráfego de informaçãoes
Um inglês, Isaac Pitman, foi um dos pioneiros.
em duas vias). Essa interação implica uma
Ele começou a ensinar taquigrafia por
relação um-a-um entre o aluno e seu tutor.
correspondência em Bath, na Inglaterra, em
Espera-se que a aprendizagem decorra do
1840. Os alunos foram instruídos a copiar
ensino assim fornecido através das mediação
passagens curtas da Bíblia e devolvê-las para
em um e em dois sentidos. A educação a
classificação por meio do novo sistema de
distância também incluir interação entre
postagem.
alunos, em grupos e individualmente, e a
Hoje, há não só mais tecnologia como mais tecnologia permite que isso seja aprofundado.
dinamismo e vontade de inovar. Uma autora de
ficção, Bradley (2008), em As Brumas de
Avalon, escreveu “o homem recria o mundo,
Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1
32

- A educação a distância depende de meios (Centro Nacional de Educação a Distância) foi


técnicos tanto para apresentação dos relevante, especialmente a partir de 1996, ano
assuntos como para interação. Sua em que a Lei de Diretrizes e Bases da
viabilização envolve algum tipo de Educação Nacional organizou e regulamentou
organização de apoio (geralmente uma escola o ensino a distância no Brasil. O EAD já formou
ou universidade) responsável por ensino, mais de 15 mil pessoas, em cursos à distânca
apoio ao estudante e logística. Dentro desta e semipresenciais.
organização especialistas em disciplinas,
Hoje, existem várias iniciativas do tipo, como a
designers educacionais, tutores, conselheiros
Univesp, em São Paulo e os cursos de EAD do
e pessoal administrativo cooperam.
Centro Paula Souza, que podem ser
- As relações pessoais entre os envolvidos são sempipresenciais, oatlmente on-line a menos
centrais para a aprendizagem e ensino em dos exames, EJA (educação de jovens e
educação a distância são pessoais. D mesmo adultos) para promover certificação em nível
modo, o prazer no estudo e a empatia entre médio e mesmo um MBA à distância.
estudantes, tutores e os que representam a
organizção de suporte. Expressões dessa
empatia realçam a motivação e pavimentam o 2.4 A EAD HOJE NO BRASIL
caminho para o sucesso.
A EAD vive um período de afirmação, pois, ao
Sentimentos de empatia e pertencimento mesmo tempo em que se enquadra nas
promovem a motivação dos alunos para necessidades do aluno contemporâneo sofre
aprender que influenciam a aprendizagem também a sobrecarga de tarefas cotidianas e,
favoravelmente podem ser desenvolvidos consequentemente, o tempo reduzido para o
independentemente de qualquer contato aperfeiçoamento. A volatilidade das
pessoal com os tutores. Eles são transmitidos informações e problemas em algumas salas de
por: aula costumam gerar indivíduos
indisciplinados, incapazes de se concentrar e
 Apresentações claras,
administrar produtivamente o tempo, o que
conversacionais e orientadas para o
dificulta o processo de aprendizado à
problema de aprendizagem em
distância.
questão;
Segundo Nuñez (2004), o grande desafio
 Atenção ao uso do conhecimento
imposto à EAD consiste justamente na
exixtente;
diferenciação da abordagem diante das
 Interação amigável ainda que não dificuldades de ambientação física e
presenciais; emocional, se comparada à educação
convencional.
 Estruturas administrativas liberais e
pouco rígidas. Enriquez (2013) também aborda essa
realidade, enfatizando a diferença entre os
ambientes físico e virtual. Defende a
2.3 RESUMO HISTÓRICO SOBRE A EAD NO necessidade de uma reestruturação da
BRASIL concepção de aprendizagem como fruto da
experiência do aluno. Essa diferenciação e
O Instituto Monitor, primeira e mais antiga
reestruturação de conceitos e métodos requer
instituição de ensino à distância no Brasil, e o
iniciativas e ações distintas, inovadoras, tanto
Instituto Universal Brasileiro, fundado sete
de docentes quanto de estudantes, o que se
anos depois do anterior, foam ambos grandes
justifica, segundo Nuñez (2004), pelo fato de
expoentes do EAD no Brasil, no começo do
que o espaço social só existe e se constrói pela
século XX. Ensinavam secretariado,
produção dos participantes. Nuñez, embora
eletricidade, eletrõnica e mecânica.
aborde o problema da empatia, atua no plano
Mais tarde vieram iniciativas governamentais teórico, sem propor soluções concretas.
para normatização e profissionalização por
Lantz-Anderssson (2013) lembra que ao
meio da EAD, como em 1976, com a criação
incorporar sites de redes sociais em contextos
do Sistema Nacional de Teleducação, que
educacionais, há que reconhecer que o
obteve resultados importantes durante sua
envolvimento dos jovens nas práticas de mídia
existência, tendo acumulado em pouco mais
social em sua vida cotidiana pertence a suas
de uma década, mais de um milhão de
práticas autodirecionadas, que são diferentes
matrículas. Em1995, a criação do CEAD

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


33

das práticas escolares em muitos aspectos. países politicamente constituídos e, assim,


Isto implica que os alunos têm diferentes chegam a estabelecer suas próprias normas.
formas de se representarem e se expressarem Mas o que são redes sociais?
nas atividades que ocorrem naturalmente em
Segundo Telles (2011), redes sociais ou sites
sua vida cotidiana em contextos de redes
de relacionamento são ambientes virtuais cujo
sociais em comparação com as práticas de
principal enfoque é propiciar a interação de
ensino e aprendizagem de linguagem mais
pessoas, por meio da criação de perfis de
instrucionalmente projetadas nas escolas.
usuário, envio de mensagens,
Essas práticas mais tradicionais surgiram ao
compartilhamento de fotos, texto e vídeos,
longo do tempo, compreendendo certos
além da interação com pessoas por meio de
procedimentos discursivos com muitas regras
comunidades temáticas. Cada rede social tem
explícitas e implícitas, juntamente com práticas
suas próprias regras, que visam a moldar o
de ensino. Portanto, quando as mídias sociais
comportamento e a forma como seus usuários
são implementadas para fins educacionais, as
interagem e compartilham informações, tendo
discrepâncias nas visões de aprendizagem, ou
em suas regras o primor na eficiência desse
seja, o que conta como conhecimento, e os
processo.
objetivos das diferentes práticas
implicitamente levam a tensões e desafios A história das modernas redes sociais,
práticos. segundo o autor, inicia-se em 2002, com a
criação do site Friendster. Antes deste marco,
3 OBSTÁCULOS À APRENDIZAGEM PELA
os sites de relacionamento eram conhecidos
EAD
única e exclusivamente por serem
Para propor soluções eficazes à prática do mecanismos para procura de parceiros por
ensino à distância, é preciso ter uma pessoas com dificuldades de sociabilização.
percepção afinada das principais dificuldades
Com a criação do Friendster, os sites de
enfrentadas pelos alunos nas plataformas já
relacionamento, depois chamados de redes
existentes. Assim, são interessantes os dados
sociais, ganharam novo patamar e passaram a
estatísticos, fruto do censo realizado pela
alcançar uma população muito maior. Nota-se
ABED em 2012 (Associação Brasileira de
que nos anos seguintes à criação desse site,
Educação a Distância), que constatou que,
as mais populares redes sociais da atualidade
aproximadamente 23% dos alunos evadidos
foram criadas, entre elas, o Facebook e o
de cursos realizados na modalidade EAD
Orkut. Coincidência ou não, este mesmo
abandonam os estudos por inadequação com
período marcou a ascensão dos membros da
os métodos de ensino. Essa é a segunda maior
aclamada “Geração Y” à vida adulta e ao
causa, segundo a associação, perdendo
mercado de trabalho. Conhecida como a
apenas para a inabilidade na gerência do
“geração .net”, a geração y se caracterizou,
tempo para se dedicar aos estudos, cujo
principalmente, por indivíduos mais
índice foi de 33%.
acostumados às facilidades da grande rede e
Podemos ntão compreender que as soluções que criaram uma demanda antes escassa:
propostas ainda estão longe de alcançar seus meios mais eficientes de interação.
objetivos, especialmente no quesito de
Nesse contexto, surgiram novas demandas
interação entre alunos e docentes, visto que o
inerentes ao processo pedagógico, fruto do
mesmo censo aponta que 42% dos alunos
surgimento de novas tecnologias de
utilizam e-mails particulares como forma de
comunicação, acentuando que estas são
interação com os tutores, enquanto somente
fundamentais, segundo Moraes et al (2006),
23% utilizam-se dos mecanismos
visto que, essencialmente a educação se
proporcionados pelo próprio sistema dos sites
baseia no processo comunicativo. Assim,
das instituições. Isso demonstra que os meios
adaptar os conceitos pedagógicos ao contexto
de interação e apresentação do conteúdo ao
tecnológico é vital.
aluno ainda são deficientes.
Para enfatizar esta questão, é interessante
lembrar que o homem é um ser social, cujas
4 REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO relações estão sempre transformando o mundo
que conhece. Dentro dessa abordagem,
Na atualidade, as redes sociais são fenômenos
compreende-se que o social é otimizado no
onipresentes na vida do homem moderno.
processo comunicativo, que acarreta a
Inclusive, muitas delas possuem maior número
modificação da forma como o homem vê e
de usuários do que a população de alguns

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


34

interage com o mundo que conhece. Bakhtin Conforme já demonstrado, as redes sociais
(1986, apud Moraes et al, 2006, p.7) explica são cada vez mais utilizadas como meio de
que todo processo de apropriação de um interação entre as pessoas, desde a difusão de
conhecimento é eficaz, única e futilidades até a divulgação de informações
exclusivamente, quando se dá de maneira valiosos para a formação social, cultural,
multilateral devendo, sobretudo, possibilitar a política e, por que não dizer, educacional.
associação do conhecimento à realidade e
Assim, acreditamos que a criação de redes
vivências do indivíduo. Logo, se vivemos no
sociais voltadas exclusivamente à educação e,
mundo imerso na tecnologia e nos meios de
mais especificamente, à EAD, é medida
comunicação frenéticos, como alcançar os
interessante para conter a evasão dos alunos
alunos utilizando mecanismos que não
que iniciam cursos virtuais e, também, como
correspondem à realidade?
meio de possibilitar a interação entre os
Existe no meio educacional grande resistência participantes e os docentes.
na utilização de redes e mídias sociais como
Salienta-se que, na maioria das vezes, o
mecanismo no processo educacional.
acesso às redes sociais é gratuito, o que
Entretanto, como assevera Telles (2010), estes
facilita a entrada de quaisquer pessoas, desde
novos mecanismos abrem um leque de
que conectadas à internet. É inegável que este
possibilidades e recursos, como, por exemplo:
tipo de formação não se trata de “puro
 Compartilhamento de documentos; treinamento e adestramento”, como Paulo
Freire (2000,
 Criação de grupos de estudo;
p. 46) tenta colocar. Pensar em controle da
 Possibilidade de seções de vídeo-
tecnologia antes de experimentá-la seria
conferência;
reduzir a educação à mesmice do giz com o
 Calendários compartilhados; quadro negro, sem mesmo admitir o uso do
pincel atômico. Seria voltar aos tempos mais
 Grupos de debate em tempo real.
remotos, em que o homem dispunha apenas
De acordo com Telles (2010), esses pontos da natureza para fazer as pinturas rupestres.
refletem a maneira como se pode transformar
A necessidade de vivenciar o hoje se impõe e,
os aspectos que, antes, eram considerados
sem dúvidas, o professor, educador e
problemas, em soluções inovadoras. A
pesquisador não podem ficar alheios a essas
dinâmica das redes sociais e redes de
mudanças estruturais, ou seja, precisam estar
compartilhamento multimídia condiz muito
preparados para lidar com situações que
mais com a personalidade das atuais
inexistiam anteriormente, desde a utilização de
gerações. Freire e Shor (1993, apud Moraes et
aparelhos celulares até o uso de notebooks
al, 2006, p. 5) defendem que a educação ideal,
pelos alunos.
libertadora, não deve se prender a técnicas e
métodos, que a essência deve ser mantida Algumas redes sociais já se tornaram
independente de atualizações tecnológicas. referência para a educação, como as listadas
Que deve ser muito mais baseada em relações a seguir.
com a realidade social do que se prender a
inovações. Entretanto, se retomarmos a
Bakhtin (1986, apud Moraes et al, 2006, p.7), 5.1 MENDELEY
como os indivíduos, enquanto alunos,
Criada em 2008 por estudantes de doutorado,
conseguiriam apropriar-se do conhecimento
esta rede social científica teve sua gênese em
exposto de modo divergente da realidade
um software que tinha a função apenas de
dinâmica, fortemente baseada nos valores da
adequar textos a padrões científicos para
“digitalidade”? Sem o discurso interior, como
submissão em revistas e periódicos. Hoje,
reitera Bakhtin, sem que a bagagem interior do
como explicita Vilicic (2012), ela é considerada
indivíduo possa possibilitar a compreensão, o
o Facebook dos cientistas, aliando em suas
processo de significação, processo de
soluções os programas de formatação de
apropriação do conhecimento, será
textos, sem perder sua origem, a dinâmica e
inviabilizado.
integração das redes sociais. Seu principal
objetivo e maior bandeira é a diminuição da
burocracia no processo de produção
5 REDES SOCIAIS COMO ALTERNATIVA DE
científica. Tem como alvo o público
MAIOR INTERAÇÃO E DEMOCRACIA
acadêmico, o que fica explícito nos dados

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


35

mostrados por Vilicic (2012), nestes podemos Universidade de São Paulo. Sua concepção e
constatar que 65% dos cadastrados são projeto tiveram origem na insatisfação dos
estudantes de graduação ou pós-graduação alunos com relação às inúmeras fotocópias
(especialistas, mestres e doutores). que precisavam providenciar durante o
desenvolvimento do curso. Logo o objetivo
A sistemática de sucesso desta rede baseia-se
inicial do projeto, que não foge as suas atuais
principalmente nos fundamentos das redes
funcionalidades, era o compartilhamento de
sociais, tai como:
material. Hoje esta rede evoluiu e tornou-se
Possibilidade de estar em contato com uma das mais conhecidas redes sociais
pesquisadores geograficamente distantes, por acadêmicas do Brasil, com mais de 700 mil
meio de grupos temáticos; usuários cadastrados, oriundos de inúmeras
universidades de todo o país. Dentre os
Compartilhamento de trabalhos para
principais recursos estão:
apreciação de outros pesquisadores, podendo
ser revisto e complementado; Possibilidade de participação de grupos e
comunidades relacionadas a área de estudo e
Facilitações do processo de publicação pelos
instituição de ensino;
mecanismos de revisão e transmutação do
trabalho em diferentes normas científicas além Compartilhamento de artigos e trabalhos;
da possibilidade do encaminhamento para
Criação de salas de aula online por parte dos
publicação.
professores, que dispõe de recursos
Apesar de não ser pioneira no conceito de rede diferenciados para compartilhamento de
social desenvolvida para compartilhamento de materiais e criação fóruns para tirar dúvidas.
trabalhos científicos, a Mendeley, segundo
Enfim, a utilização de redes sociais como
Vilicic (2012), é ambiciosa em seus objetivos:
forma de otimizar o EAD envolve a
tornar-se a principal ferramenta de
democratização da educação baseada na
compartilhamento científica do planeta.
quebra de paradigmas inerentes aos livres
As ferramentas disponibilizadas por esta rede compartilhamentos propostos pelas redes
serão analisadas com mais detalhes em tópico sociais. Educação é um direito fundamental
subsequente. que pertence a todos, independentemente de
raça, cor, sexo, religião, entre outras
diferenças.
5.2 PASSEI DIRETO
A semelhança dos populares mecanismos de
Rede social acadêmica brasileira com mais de busca, as redes sociais agem como meios
150 mil alunos cadastrados, mais de 40 pelos quais as pessoas buscam o que tem
instituições de ensino, além de dispor de um interesse e com os quais conseguem acessar
acervo com mais de 75 mil arquivos. Criada na livremente materiais que, antes, ficavam
Pontifícia Universidade Católica do Rio de restritos devido ao alto custo associado às
Janeiro, suas principais funcionalidades são: ideologias dominantes de informação.
 Compartilhamento de arquivos por Em outras palavras, a rede social diminui tais
disciplina; restrições, aproxima docentes e discentes e,
mais do que isso, facilita a estruturação e
 Cronograma semestral;
consolidação de interesses de pesquisa, além
 Agenda de eventos; de possibilitar a construção de um
conhecimento dinâmico. Apelar para a
 Interação com monitores em tempo
vigilância da tecnologia como forma de
real.
democratizar a educação, conforme quer
Os principais diferenciais desta solução são Paulo Freire (1992, p. 69), é negar a concepção
serviços condicionados às etapas do período do pragmatismo de Dilthey, que defende a
acadêmico. liberdade de pensamento como meio de
chegar a essa democracia pautada pelo
respeito ao individual e coletivo que se constrói
através da elaboração de conceitos próprios e
refletidos, e não prontos e acabados
5.3 EBAH
(RAMALHO, 2013).
Rede social brasileira desenvolvida em 2006
por estudantes da Escola Politécnica da

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


36

6 ESTUDO DE CASO MENDELEY +. Uma de suas características mais


interessantes é que a Mendeley não se
A Rede Social Mendeley, como supracitado,
caracteriza pela facilidade na utilização de
constitui uma das redes sociais mais
seus mecanismos, ela não esta disponível em
proeminentes da atualidade. Criada com
muitos idiomas e nem possui abas bem
objetivo de facilitar a produção cientifica e o
definidas com conceitos de acessibilidade.
contato entre pesquisadores e interessados
em fazer ciência de todo o mundo. Ela é Enquanto rede social ela mantém sua
gratuita e para ter acesso a mesma basta característica fundamenta como tal, permitindo
efetuar um simples cadastro ou mesmo criar vínculos com demais usuários
aproveitar cadastros já existentes em redes cadastrados na mesma. Como pode ser
sociais comuns como o Facebook e o Google verificado na figura 1:

Figura 1: Network contacts

Assim como outras redes sociais também Também permite a criação de grupos
permite o compartilhamento de textos temáticos, em sua totalidade focados em
públicos, noticias e imagens, ainda que de temáticas de estudo e pesquisa, como é
maneira bem mais comedida. ilustrado na Figura 2:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


37

Figura 2: Groups

Estes grupos são organizados por áreas de de arquivos, trabalhos e artigos, além é claro
conhecimento de forma a facilitar a busca de de comentários e textos, possibilitando a troca
interessados em participar. Neste grupos de impressões e experiências. Como fica
existem mecanismos para compartilhamentos ilustrado na Figura 3:

Figura3: Group Tools

Fora isso as ferramentas para busca e inclusive com mecanismos de procura


compartilhamento de informações também sofisticados. A figura 4 ilustra as ferramentas
proporcionam maior facilidade no acesso a de busca:
materiais de todas as áreas de conhecimento,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


38

Figura 5: Search Papers

Figura 6: Paper

Cada artigo contem além de seu abstract cada trabalho, níveis de estudo e frequência
informações estatísticas sobre quais são as com que é acessado. Estes dados estão
áreas de conhecimento que mais acessam ilustrados nas figuras 6 e 7:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


39

Figura 7: Statistics

Cada artigo tem também suas referencias padrões científicos de produção. A figura 8
geradas automaticamente em diversos ilustra esta função:

Figura 8: Reference

Além de tudo isso por meio do software que é o usuário passa a usufruir de uma biblioteca
baixado quando se conclui o cadastro na rede, particular, onde ficam salvos os artigos que ele

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


40

já leu de forma que ele possa acessá-los tanto


por meio da rede quanto offline. A figura 9
ilustra esse recurso.

Figura 9: Library

Logo apesar de não constituir uma das Para que esta implementação seja efetiva, é
ferramentas mais acessíveis em termo de necessário, primeiro, modificar a estrutura de
facilidade tácita em sua utilização a Mendeley pensamento que domina a pedagogia,
representa sim uma auxilio considerável para sobretudo o apego ao tradicionalismo freireano
qualquer um que queira utilizá-la como meio que, apesar das contribuições ilustres à
para a educação. Principalmente pela sua educação, a realidade, hoje, mudou e, assim,
flexibilidade no quesito da criação de grupos não convém aplicar métodos que contradizem
temáticos e o rico acervo cientifico. essa nova ordem tecnológica, ainda mais
quando associados à política ideológica de
época, que foge ao ideal de democracia
7 CONCLUSÃO estampado constitucionalmente.
Diante da fundamentação teórica realizada e Em consequência desta mudança de
do exemplo apresentado no estudo de caso, paradigma, haverá novos estudos para
cabe concluir que a principal ideia para a aprimorar a ideia de construir redes sociais
adequação das redes sociais à educação voltadas para a educação, tecnologia que
advém do contexto histórico atual, em que um influenciará esta e as próximas gerações.
número crescente de pessoas participa.

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E Atualidade Brasileira Face Ao Paradigma Da

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


42

Capítulo 4
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE GRADUANDOS EM
ENGENHARIA QUANTO À IMPLANTAÇÃO DE
METODOLOGIAS DE APRENDIZAGEM ATIVA
Laura Amâncio Rezende
Humberto Felipe Silva
Cíntia Fernanda do Prado
Morun Bernardino Neto

Resumo: O mercado de trabalho contemporâneo demanda profissionais com


competências que os sistemas tradicionais de ensino sejam radicalmente
modificados. A demanda é por profissionais cada vez mais competentes
tecnicamente, mas que também tenha desenvolvidas as competências humanas,
gerenciais e de caráter social. Com base nesses pressupostos o objetivo desse
trabalho é o de avaliar a percepção dos alunos de engenharia quanto à eficiência de
métodos de aprendizagem ativa em disciplinas ligadas à gestão. Para tanto,
situações-problema reais foram definidas para serem trabalhadas em grupos. A
partir de então, os alunos foram motivados a buscar um problema concreto em uma
pequena organização a fim de que elaborem soluções simples relacionadas à
melhorias de processo, porém pautadas nos conceitos apreendidos. Tem também o
projeto da disciplina a pretensão desenvolver nos alunos a responsabilidade social
pois, tem a finalidade também de melhorar a renda das empresas envolvidas.

Palavras Chave: ensino de engenharia - situações-problema - aprendizagem ativa

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


43

1 INTRODUÇÃO De fato, o problema hoje não é a informação


em si, mas a dificuldade de sistematizar essa
Um dos problemas da educação atual é que
informação e transformá-la em conhecimento
ela ainda baseia seu foco nos processos de
efetivo. Os jovens não ficam mais presos as
ensino e não no processo de aprendizagem. O
informações repassadas pelos professores,
ensino tradicional se caracteriza
eles têm um manancial ilimitado de
prioritariamente por aulas expositivas nas
informações à qual podem ter acesso por
quais o formando é um mero expectador com
diferentes mídias como celulares, tablets e
pouca participação efetiva. Nesse modelo o
notebooks.
processo centra-se quase que exclusivamente
no professor. Exemplo disso é que ainda hoje, Assim os métodos de ensino/aprendizagem
em muitas escolas o professor ministra a aula precisam ser muito dinâmicos, focados no
sobre um tablado em plano mais alto que a processo de aprendizagem, de modo que os
classe, o que evidência a sua proeminência formandos consigam desenvolver não apenas
nesse processo. Quanto ao aluno, na maioria competências técnicas e tecnológicas, mas,
esmagadora dos casos, sua participação se precisa também desenvolver o espírito crítico,
resume as perguntas que realiza em função da a capacidade de trabalhar em grupo, de se
exposição do docente. Esse tipo de aula é um adequar ao ambiente. Em suma, o método
mero sistema de transmissão de informações precisa ser capaz de resolver os problemas
sem que desenvolva a criticidade do aluno. complexos que o mundo produtivo apresenta.
Os métodos didáticos baseados no ensino Nesse sentido surgiram os métodos ativos de
tradicional foram herança do sistema medieval aprendizagem, como o “Problem Based
(VERGER, 1999), quando os livros eram raros Learning” (PBL), “Team Based Learning”
e de valor extremante elevados e, portanto, de (TBL), Problematização, entre outros, objeto
difícil acesso para os discentes. Naquele desse trabalho. Vale observar que esses
modelo o professor era o proprietário dos métodos ainda estão em fase de consolidação
meios de se obter a informação. Naquele e experimentação, mesmo nos países mais
sistema a escola buscava reproduzir a ordem dinâmicos.
social desejável na indústria de então. Ou seja,
Tendo a formação de engenheiros como pano
o modelo foi muito útil às necessidades do
de fundo, esse trabalho tem por objetivo
sistema industrial vivente até meados do
analisar a percepção dos graduandos em
século XX. Nele o trabalho era parcelar,
engenharia quanto à implantação de método
mecanicista, com base na divisão muito
ativo de aprendizagem.
estreita do trabalho. Ou seja, o método de
ensino era adequado ao sistema produtivo
taylorista. Para isso buscava reproduzir, na
2 ENSINAR VERSUS APRENDER
medida do possível o ambiente fabril.
Apesar dos cinco séculos que separam a era
A partir da metade do século XX, as mudanças
contemporânea da idade média, grandes
concebidas para os processos produtivos
marcas culturais sobrevivem no cotidiano da
globalizados, de base toyotistas, passaram a
sociedade. O método tradicional de ensino nas
exigir um novo perfil profissional com
universidades é parte dessa herança e vem
demandas condizentes com um modelo mas
sendo questionado quanto à sua eficácia.
autônomo e integrado. Não cabem mais o
Huberman (1973), já dissertava, há décadas,
modelo que tem por base quase exclusiva a
sobre o fato das universidades estarem entre
aula expositiva e nem mesmo sistemas que
as instituições mais conservadoras existentes,
privilegiam a passividade do educando. Agora
atuando como perpetuadoras de
é preciso desenvolver outras competências
comportamentos e conhecimentos
mais condizentes com o dinamismo do sistema
previamente solidificados.
produtivo. Para adequar-se a esse sistema
produtivo a escola precisou mudar Anastasiou (2003, p. s/n) busca na história as
radicalmente o método de ensino focado na razões para a adoção de um modelo de
figura do aluno. Nesse sistema o professor tem educação centrado na aula expositiva. Ou
um papel mais relevante como sistematizador seja, um modelo no qual o docente expõe o
de conhecimentos. Por outro lado, acrescente- conteúdo da matéria a ser ensinada, para a
se a esse panorama a internet que qual a oratório é uma das principais
democratizou, de certa forma, o acesso à competências exigidas, além do
informação. Está encontra-se a um “click” dos conhecimento, é claro. Segundo ela
dedos.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


44

O modelo jesuítico, presente desde o início da evolução fortaleceu e revolucionou a formação


colonização do Brasil pelos portugueses, do estudante. Essa mudança tornou a
apresentava em seu manual, Ratio Studiorum - disseminação do conhecimento mais
datado de 1599, os três passos básicos de igualitária, sem distinções de classe ou raça.
uma aula: preleção do conteúdo pelo Com ela o acesso ao conhecimento ocorre
professor, levantamento de dúvidas dos alunos através de um “click”.
e exercícios para fixação, cabendo ao aluno a
A necessidade de se apresentar a realidade
memorização para a prova.
profissional que o aluno enfrentará também
Nesse sentido, e, considerando o adulto um merece destaque entre os novos métodos de
indivíduo completo e formado e o estudante ensino-aprendizagem. Para Zanotto e Rose
um adulto em formação, eles precisam ser (2003), uma aprendizagem significativa é
moldados, o agente central do aprendizado alcançada quando são usados em classe
seria sempre o professor, deixando o aluno contextos reais, sistematizados e
como um ser passivo, apenas “recebedor do problematizados para a compreensão e
conhecimento” e de padrões de aplicação do conteúdo proposto ao
comportamento (MIZUKAMI, 1986). graduando. Esse contato com o factível
permite o desenvolvimento das competências
Nos países latinos, pelo histórico de
que farão diferença na tomada de decisões em
colonização, o método tradicional se inseriu de
sua vida profissional.
maneira ainda mais visível na cultura
educacional. Carvalho e Martins (1998 apud Fato é que, May e Strong (2006) lembram que
AULER; BAZZO, 2001), referindo-se ao caso tanto a indústria quanto a engenharia
do Brasil colonial, destacam que o modelo passaram por uma significativa evolução nas
agroexportador da economia brasileira, unido últimas décadas, assim, é necessário que o
até 1888 ao regime escravocrata, não ensino de engenharia acompanhe a essa
contribuía com a investigação e o evolução para que se torne eficaz. Citando,
desenvolvimento tecnológico. Sobre o Todd, Sorenson e Magleby (1993, p.206 apud
processo de industrialização do país os MAY; STRONG, 2006) observam que uma série
autores se baseiam em Motoyama (1985) para de insuficiências significativas são
explicar que a industrialização brasileira se encontradas nos graduados em engenharia,
fundamentou na “importação de tecnologia e insuficiências essas apontadas pelo segmento
de técnicos estrangeiros”. Isso dificultou o industrial. Para aqueles autores “os
crescimento da área de inovação e pesquisa. educadores devem ter um olhar não só para o
que está sendo ensinado, mas também com a
Se compreender o conteúdo oferecido era o
forma como ele está sendo ensinado”.
fator essencial de tal processo, hoje, apenas
este comportamento, colocado diante das Nesse sentido é que Freire (1996) comenta
possibilidades geradoras de diferenciais sobre a necessidade de se desenvolver a
disponíveis, toma a forma de um conhecimento autonomia dos alunos, para que eles mesmos
superficial e insuficiente na preparação de um reconheçam a necessidade de absorver
profissional para o mercado de trabalho atual, conhecimentos e desenvolver habilidades que
volúvel e competitivo. levem a atitudes assertivas. Para isso, é
necessário, primeiramente, despertar a
Vários autores, dentre eles Tardif (2005),
curiosidade e a inquietude do educando.
destacam que até os anos 80 havia uma cisão
muito grande entre o conteúdo ministrado nas É primordial desenvolver nos alunos, não
universidades e o cotidiano encontrado pelo somente as competências técnicas inerentes à
aluno em sua realidade. Foi por meio da busca sua área de especialização, como também são
por uma maior aproximação entre estes dois necessários um conjunto de competências
universos que surgiram diversas teorias sobre transversais, entre as quais se destacam a
as novas habilidades, conhecimentos e capacidade de comunicação, de liderança, de
atitudes exigidas de um profissional gestão de conflitos, de assunção de
qualificado. responsabilidades e de gestão do tempo.
Estas são as competências mais reconhecidas
Estar integrado à tecnologia é um dos fatores
e procuradas pelo mercado de trabalho
que definem a boa qualificação do graduado
(CAVACO, 2005; CABRAL-CARDOSO,
de hoje. Pereira et al. (2007) chamam a
ESTEVÃO; SILVA, 2006 apud FERNANDES,
atenção para a evolução do aparato
2010). De fato, tanto a aquisição quanto o
tecnológico e sua consequente utilização na
desenvolvimento das competências que o
educação, com ênfase na internet. Essa

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


45

mercado de trabalho busca nos recém vantagem aos que são capazes de as
formados precisam ser forjadas em ambientes compreender e dominar. Os empregadores
pedagógicos que sejam estimulantes. São exigem cada vez mais ao seu pessoal a
esses ambientes estimulantes que irão capacidade de resolver novos problemas e de
alimentar o envolvimento ativo dos alunos nos tomar iniciativas. Quanto ao setor dos serviços
processos de aprendizagem. Esse tipo de que, desde longa data, vem ocupando um
ambiente favorece a formação da autonomia lugar predominante nos países
do educando, tão importante para seu industrializados, ele requer muitas vezes uma
processo de aprendizagem. cultura geral e um conhecimento das
possibilidades oferecidas pelo meio humano
Entretanto é importante observar que nos
envolvente que colocam novas exigências à
métodos ativos de ensino, o professor não é
educação.
deixado de lado. Ele é coparticipe do processo
no qual o aluno é o protagonista principal. O método tradicional de ensino, quando
observado na formação de engenheiros,
Nas palavras de Maseto (2012, p.207) o
muitas vezes, não permite a contextualização
professor deve assumir o
do conteúdo por parte do aluno, além de ser
Papel de mediador que facilita a rotineiro, podendo desmotivar e facilitar a
aprendizagem do aluno, que o orienta em seus desatenção do mesmo. Como afirma Colenci
trabalhos, que discute com ele suas dúvidas, (2010, p. 25)
seus problemas, suas perguntas, que o
O aluno ao receber o conhecimento pronto,
incentiva e motiva para avançar, que interage
não se preocupa em procurar novas soluções
com o grupo e faz com que o grupo interaja
para os problemas existentes, ou mesmo
entre si. Enfim, um papel de educador que se
identificar novos problemas e quando ingressa
sente co-responsável com seus alunos por sua
no mercado de trabalho vai lidar justamente
formação.
com novas situações. Já os professores, até
Assim, ao invés de transferir o conhecimento, por falta de matérias pedagógicas em sua
o novo papel assumido por ele é o de tutor, formação, não utilizam metodologias de ensino
daquele que vai direcionar o aluno para a que desenvolvam no aluno novas formas de
busca das informações que julgar necessárias agir e pensar, apesar de farto material
em fontes adequadas e compartilhar disponível. Geralmente dão aula da forma
experiências de maneira que estejam em como aprenderam em sua época de
posição de equivalência. estudante.
Sobre este tema encontra-se em Loder (2005 Por outro lado, as avaliações aplicadas,
apud SILVA; CECÍLIO, 2007, p.s/n), a geralmente, exigem do educando fórmulas e
consideração sobre o bom professor como dissertações abstratas que não sabe
aquele que problematiza o conteúdo e que cria exatamente como e onde poderá utilizá-las em
desafios intelectuais aos alunos. Ele não se seu futuro. A avalição tradicional visa a
limita apenas a apresentar o conteúdo da reprodução de conteúdo de maneira uniforme.
disciplina, mas revela seu conhecimento. Seu Espera-se de todos os alunos o mesmo padrão
objetivo principal está afinado com o de resposta (COLENCI, 2010). Ou seja, não se
aprendizado do aluno. Observa ainda que uma respeitam as heterogeneidades nem tão pouco
das estratégias eficazes do processo de a criatividade dos formandos.
aprendizagem centra-se em problematizar
situações para as quais os alunos deverão
trazer soluções. “Dessa forma, o professor 3 MÉTODOS ATIVOS
convida o aluno a participar dos rumos da aula
Na busca pela adequação da educação às
e um verdadeiro processo de ensino
demandas produtivas, novas formas de
aprendizagem se estabelece.”.
realizar o processo de ensino-aprendizagem,
A publicação da Organização das Nações foram desenvolvidas. Nesse sentido diversos
Unidas para a Educação (UNESCO, 1996. método de ensino, dentre elas Problema
p.143) comprova o aumento da criticidade Gerador de Discussões (PGD), “Problem
com que está sendo tratada a formação Based Learning” (PBL), “Team Based
profissional em seu contexto atual: Learning” (TBL) e Problematização foram
estabelecidos ou criados como forma de
Em matéria de qualificação, as exigências são
modificar a forma com que os alunos são
cada vez maiores. Na indústria e na agricultura
estimulados no processo de aprendizagem.
a pressão das modernas tecnologias dá

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


46

PGD apresentado em parte para os alunos, mas de


que depende da autonomia deles para que
Segundo seus criadores Machado e Pinheiro
seja completo. A avaliação durante este
(2009), a metodologia PGD consiste na
método mede tanto as atitudes individuais de
proposição de situações-problema para as
estudo como a interação grupal para o
quais os alunos devem propor soluções. As
desenvolvimento de um projeto que se
propostas são elaboradas em grupos e não há
familiariza com o que será enfrentado no
intervenção do professor. Após a elaboração
futuro. O diferencial da TBL é o profundo
das propostas, os grupos apresentam-nas uns
norteamento pelo trabalho em equipe que
para os outros. Ainda de acordo com esses
fortalece o grupo com diversas habilidades e
mesmos autores, é nesse momento em que
supre fraquezas, da mesma maneira.
todos compartilham suas ideias e argumentos
que o docente atua para inserir os conceitos O método segue primeiramente através das
científicos pertinentes e fazer as correções leituras requeridas que servirão de
necessárias. embasamento teórico ao grupo. O próximo
passo é uma avaliação individual que mede o
PBL
envolvimento de cada integrante com o
O PBL, “Problem Based Learning” aprendizado proposto, seguida de uma
(Aprendizagem baseada em problemas), se avaliação em grupo que analisa o andamento
utiliza de pequenos grupos e um professor do projeto. É dada ao grupo a oportunidade de
tutor para resolver diversos problemas e casos contra- argumentar o julgamento do tutor, a
previamente pensados e preparados utilizando partir de pesquisas fundamentadas e
raciocínio lógico. Há dentro do grupo o explicação de sua teoria, de forma que uma
coordenador – a quem cabe a liderança e boa dissertação pode refletir na melhoria do
função de motivar a participação de toda a conceito atribuído à equipe. Ao final dessa
equipe – e o secretário – que cuida da etapa é feito o comentário pelo professor, que
programação e organização do trabalho. Essa aprimora o conteúdo estudado, tirando
metodologia baseia-se no ensino através da possíveis dúvidas que restaram, fechando o
investigação por parte dos alunos e estímulos conteúdo.
gerados a cada projeto, o enredo da prática
visa, usar um problema para preparar este
aluno ao invés de preparar o aluno para o 4 PROBLEMATIZAÇÃO
problema (PEREIRA et al., 2007).
A Problematização tem como diferencial o uso
A sequência de aprendizagem se baseia na de um problema real buscado pelos próprios
exploração do problema, tentativa de solução, alunos envolvidos. Neste contexto, o grupo
identificação de deficiências, priorização do trabalha unido durante todo o processo e
que é necessário aprofundar em questão de aplica conceitos teóricos para tratar a situação
conteúdo, aplicação deste estudo no encontrada, os resultados aqui podem ser
questionamento do problema e, por fim, a imprevisíveis visto que estão presentes
avaliação que é efetuada sobre os conteúdos variáveis externas reais (BERBEL, 1998) – este
aplicados. Seguindo esta ordem o PBL busca método busca, assim, preparar os alunos para
o perfil de formando que apresenta tanto o tomar decisões a partir de fatores surpresas e
domínio dos fundamentos científicos, proporcionar o desenvolvimento da
tecnológicos e administrativos, quanto a consciência, já que nem todos os projetos
capacidade de desenvolver projetos e trabalho criados em classe refletem as condições de
em equipe, além de estimular a iniciativa, viabilidade encontradas no cotidiano.
criatividade e motivação dos estudantes.
Novas questões e problemas podem surgir
TBL durante a aplicação do método, que não
necessariamente se mostrará eficiente. Há o
A TBL, “Team Based Learning” (Aprendizagem
fator da adaptação dos educandos à maneira
Baseada em Equipes), fundamenta-se nas
tradicional de se estudar – que em uma visão
equipes como fonte de desenvolvimento
geral é algo menos trabalhoso de ser realizado
participativo dos alunos (MICHAELSEN;
já que não lhe exige tanta autonomia; há
SWEET, 2009). Estas equipes são formadas a
também o fator tutor – que deve planejar
partir de uma estratégia que visa o maior
rigorosamente suas aulas e participar de
compartilhamento de habilidades diversas a
maneira mais ativa e espontânea da vida
fim de acrescer culturalmente as capacidades
universitária; além de muitas variáveis como o
de raciocínio e aplicação do conteúdo – que é
tempo disponível para a realização dos

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


47

projetos, a disciplina específica em que eles  Aplicabilidade técnica e financeira da


serão realizados e também a integração de solução proposta ao estabelecimento
todo corpo docente e discente no plano de (15% da nota);
aula. De seu lado, Felder (1993) discorda de
 Apresentação do artigo nos formatos
que todos os alunos se adaptariam à mudança
pré-estabelecidos (40%);
imposta, de modo que uma análise é
necessária tanto em âmbitos gerais de  Avaliação pelos demais integrantes do
desempenho da turma, como de maneira grupo (20% da nota).
pessoal sobre a opinião dos componentes.
A análise da percepção dos alunos quanto à
Entretanto, como alerta Parise no prefácio de implantação das metodologias de
Silveira (2005, p.V) fica a todos interessados aprendizagem ativa foi feita quantitativa e
pelo tema uma questão que não é fácil de ser qualitativamente. A análise qualitativa
respondida: “qual a melhor formação para apresentou como instrumentos a observação
nossos engenheiros?”. E, a resposta não será participante, segundo Cervo et al. (2007) e a
necessariamente única e nem um ponto coleta de dados sob a forma de anotações
pacífico para a sociedade. pessoais, segundo Gil (2010). Já a análise
quantitativa foi feita por meio de questionários
com a escala Likert, conforme a definição de
5 MÉTODO Rea e Parker (2002).
Um misto das metodologias TBL, PBL, PGD e Os questionários foram aplicados após a
problematização foi implantado. primeira e após a segunda etapa da disciplina.
A primeira aplicação, realizada para efeito de
Os conteúdos das disciplinas gestão de
teste do questionário, contou com um aluno
negócios e organização industrial foram
selecionado aleatoriamente de cada um dos
abordados através da resolução de problemas
grupos. A segunda implantação,
por grupos formados aleatoriamente.
diferentemente da primeira, ocorreu
Contextos reais foram levados para as aulas
virtualmente e as respostas foram voluntárias.
juntamente com uma situação problema ou
Os questionários continham questões
questões a serem respondidas.
segregadas em quatro áreas: método, atuação
No restante das aulas, em uma segunda etapa, do docente, trabalho em equipe e disciplina.
os graduandos trabalharam na elaboração e Além disso, disponibilizou-se uma área para
apresentação de um relatório a respeito do que os alunos redigissem comentários, críticas
estudo de caso de um estabelecimento e sugestões aos pesquisadores.
comercial de até dez funcionários e com algum
problema de gestão. O relatório contava com a
utilização dos conceitos aprendidos na 5.1 OBJETO DE ESTUDO
disciplina para a elaboração de uma proposta
O objeto de estudo da pesquisa constitui-se de
de melhoria para solucionar o problema
duas turmas de uma escola de engenharia de
encontrado. A primeira etapa das disciplinas,
uma universidade pública no Vale do Paraíba.
dessa forma, serviu como preparação para a
segunda. Todavia, em ambas, o trabalho em As turmas estudadas são das disciplinas
grupo, a busca autônoma por respostas, as Gestão de Negócios e Organização Industrial
discussões e o desenvolvimento da oratória e contam com alunos de engenharia química,
foram constantes. ambiental, materiais e bioquímica.
É de grande valia ressaltar que os alunos foram
apresentados ao método e ao cronograma das
atividades logo no início do período das
disciplinas, uma vez que, “as regras do jogo”
precisam ficar claras, a fim de que os alunos
não se sintam prejudicados pelo método
alternativo de ensino.
A avaliação das disciplinas constituiu-se de:
 Avaliação diária da participação e
desempenho (25% da nota);

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


48

6. RESULTADOS negócios. Tais números apontam que,


possivelmente, o envolvimento da segunda foi
Para avaliar a percepção dos alunos, foram
maior que o da primeira.
considerados apenas os números obtidos da
segunda aplicação. Do total de 33 alunos que Quanto às respostas para cada item do
responderam o questionário, obteve-se que questionário, obteve-se:
33% do total era da turma de organização
industrial e 67% da turma de gestão de

SOBRE A DISCIPLINA

Figura 1: Respostas dos alunos.

Figura 2: Respostas dos alunos.

Figura 3: Respostas dos alunos.

Figura 4: Respostas dos alunos.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


49

Figura 5: Respostas dos alunos.

Figura 6: Respostas dos alunos.

Figura 7: Respostas dos alunos.

Figura 8: Respostas dos alunos.

Figura 9: Respostas dos alunos.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


50

Figura 10: Respostas dos alunos.

SOBRE O MÉTODO DE ENSINO


Figura 11: Respostas dos alunos.

Figura 12: Respostas dos alunos.

Figura 13: Respostas dos alunos.

Figura 14: Respostas dos alunos.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


51

Figura 15: Respostas dos alunos.

7. CONCLUSÃO planejamento, além de uma relação professor-


aluno que ofereça entrosamento e liberdade
Os resultados confirmam que as novas
para questionamentos e sugestões. Entre os
metodologias de ensino são bastante
resultados do questionário destacam-se o fator
interessantes e inovadoras, além de conter
trabalho em grupo que foi, pela maioria dos
inúmeros benefícios ao aprendizado; porém,
alunos, reconhecido como ponto muito
não existe um método de ensino acabado ou
desenvolvido no método, e o fator docente,
definido como o melhor. A implementação de
que como primeira experiência teve alguns
uma mudança no ensino, bem como em
pontos indicados para que se façam
qualquer realidade, exige o estudo
melhorias. Por ser uma primeira experiência,
investigativo e avaliação constante de falhas e
acredita-se que as métodologias ativas de
acertos, a fim de realizar melhorias tanto
ensino tem muito a oferecer e partindo disso a
quanto for possível.
pesquisa será continuada pelos
A implantação das metodologias ativas pesquisadores para aplicar as modificações
necessita de intensa organização e necessárias e analisar os novos resultados.

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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


53

Capítulo 5
REESTRUTURAÇÃO DA DISCIPLINA INTRODUÇÃO À
ENGENHARIA NA FACULDADE DE ENGENHARIA DE
RESENDE – UMA PROPOSTA COM BASE NAS
METODOLOGIAS ATIVAS DE APRENDIZAGEM
Mario Anibal Simon Esteves
Julio Cesar Batista
Wagner Pina Stoffel

Resumo: O objetivo deste artigo é propor a reestruturação da disciplina de


introdução á engenharia ministrada no ciclo básico da Faculdade de Engenharia de
Resende á luz das reflexões propostas pelas metodologias ativas de aprendizagem.
O resultado concreto deste trabalho é o estabelecimento de uma nova ementa com
objetivos gerais e secundários mais sintonizados aos requisitos e necessidades de
formação do profissional para o mercado. A introdução de atividades ativas e não
passivas ao aluno representam um esforço a participação mais efetiva no processo
de ensino aprendizagem e reconfiguram a estrutura didático-pedagógica da
disciplina e irá representar um desafio significativo para os cursos de Engenharia,
por promover sinergia interdisciplinar dos conteúdos programáticos, reformulação
do processo de ensino e aprendizagem e conteúdos e minorar os graves problemas
de altas taxas de evasão escolar e desistência. Além disso, pretende-se contribuir
para que o estudante de engenharia, pelo uso das novas metodologias, motive-se
com a carreira de engenheiro e tenha uma visão global do curso, facilitando assim a
escolha de sua habilitação profissional.

Palavras-Chave: Educação Superior; Metodologias Ativas; Curso de Engenharia;


Reestruturação Curricular

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


54

1. INTRODUÇÃO A proa e a popa da nossa Didática será


investigar e descobrir o método segundo o
Em toda atividade profissional há a
qual os professores ensinem menos e os
necessidade de um questionamento constante
estudantes aprendam mais. [...]
sobre seu “modus faciendi“ e seu “modus
operandi”, isto é, todo profissional precisa Nós ousamos prometer uma Didáctica Magna,
estar atento aos princípios fundamentais de isto é, um método universal de ensinar tudo a
como executar suas atividades, com foco em todos. [...] E de ensinar sòlidamente, não
seu melhoramento continuo, conforme um superficialmente e apenas com palavras, mas
programa estruturado de metas a serem encaminhando os alunos para uma verdadeira
alcançadas em beneficio pessoal, da instrução, para os bons costumes e para a
instituição e da sociedade. piedade sincera. (Comênio, 1976, pg. 44-46)
Os educadores são profissionais que lidam Percebe-se, nesta obra escrita originalmente
com o conhecimento, sendo responsáveis, no início do século XVII, a preocupação não
muitas vezes, por sua geração e disseminação apenas com a diminuição do protagonismo
na sociedade. Como profissionais, não estão docente em prol do discente, como com o
alheios à necessidade de questionarem-se em “encaminhamento” a uma aprendizagem
relação aos seus papéis, aos seus objetivos e sólida no lugar de um ensino superficial e
às melhores práticas para que estes objetivos puramente discursivo.
sejam atingidos.
Antes mesmo de Comênio, sem que chegasse
As questões levantadas neste artigo são uma a um trabalho detalhado como sua Didática
primeira reação às ideias abordadas por Magna, Montaigne (1972), em um dos
docentes do Consórcio STEHM-Brasil, do qual capítulos de seus Ensaios, apresenta ideias
o autor faz parte, e procura discutir as similares no que se refere ao papel do
possibilidades e cuidados em relação à preceptor:
adoção de metodologias ativas de
(...) para um rapaz que mais desejaríamos
aprendizagem na disciplina Introdução à
honesto do que sábio, seria útil que se
Engenharia, integrante dos currículos dos
escolhesse um guia com cabeça bem formada
Cursos de Engenharia da Faculdade de
mais do que exageradamente cheia e que,
Engenharia de Resende.
embora se exigissem as duas coisas, tivesse
As discussões e reflexões aqui propostas melhores costumes e inteligência do que
procuram estabelecer o contexto teórico- ciência. Mais ainda: que exercesse suas
pedagógico no qual se inserem as práticas de funções de maneira nova.
metodologias ativas; definir alguns princípios
Não cessam de nos gritar aos ouvidos, como
norteadores que possibilitem sistematizar a
que por meio de um funil, o que nos querem
adoção das práticas propostas, evitando o
ensinar, e o nosso trabalho consiste em repetir.
risco de desvio de nossos objetivos; e,
Gostaria que ele corrigisse este erro, e desde
finalmente, apresentar uma proposta de ações
logo, segundo a inteligência da criança,
para a reestruturação do programa da
começasse a indicar-lhe o caminho, fazendo-
disciplina, em atenção às imposições legais e
lhe provar as coisas, e as escolher e discernir
aos princípios propostos e que possibilite a
por si próprio, indicando-lhe por vezes o
adoção conveniente das metodologias ativas.
caminho certo ou lho permitindo escolher. Não
quero que fale sozinho e sim que deixe
também o discípulo falar por seu turno. (Pg. 81)
2. CONTEXTO PEDAGÓGICO
Pela expressão e defesa destas ideias,
Não são atuais as vozes de educadores e
Montaigne foi considerado um dos fundadores
filósofos em defesa de paradigmas
da pedagogia da Idade Moderna, tendo
educacionais que estimulem o
criticado duramente o estilo educacional de
desenvolvimento, pelo discente, de
sua época, que se ocupava simplesmente da
ferramentas que lhe permitam adotar uma
memória, deixando de lado a razão e a
postura de reflexão e autonomia diante do
consciência. Comênio, por sua vez, foi um dos
conhecimento, em contraponto à tradicional
primeiros educadores a aplicar métodos que
valorização da simples recognição, boa parte
buscavam despertar o interesse do aluno,
das vezes acrítica e irrefletida, do
descritos minuciosamente em sua, já
conhecimento a ele disponibilizado.
mencionada, Didática Magna.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


55

A menção a estes autores não teve outro Montessori; ou o método de trabalho em


objetivo senão apontar que não há novidade equipes de Roger Cousinet.
teórica nas ideias que serão tratadas neste
A descrição dos diversos métodos trazidos
artigo. O fato, porém, de diversos autores
pela Escola Nova pode aparentar um confronto
voltarem a este tema nas últimas décadas do
à afirmação anterior de que as concepções
século passado, e de, até hoje, termos este
teóricas apresentadas neste artigo carecem de
tema como corrente, a ponto de justificar-se a
uma prática que os satisfaça. Porém, o próprio
elaboração deste artigo, confirma que, apesar
Gadotti descreve as diversas críticas, sofridas
de serem estas concepções tão difundidas
pelos escolanovistas, e que devem ser objeto
entre os educadores e defendidas por eles,
de nossa reflexão, para evitarmos os mesmos
mesmo que com variações que não chegam a
equívocos.
afetar suas concepções centrais, tais teorias
carecem, ainda, de uma prática que as Na segunda metade deste século (XX) uma
satisfaça. Criticando a metodologia expositiva, visão crítica a respeito da educação
típica do ensino tradicional, Vasconcellos escolanovista vem desmistificar o otimismo
(1993, pg.15) afirma que “apesar de no dos educadores novos. Esses educadores
discurso haver rejeição a essa postura (do mais recentes afirmam que toda educação é
ensino tradicional), no cotidiano da escola política e que ela, na maioria das vezes,
verifica-se que é a mais presente..., talvez nem constitui-se (...) num processo através do qual
tanto pela vontade dos educadores, mas por as classes dominantes preparam a
não se saber como efetivar uma prática mentalidades, a ideologia, a conduta das
diferente”. crianças para reproduzirem a mesma
sociedade e não para transformá-la. (id. Pg.
Ao longo da história contemporânea, diversos
147)
estudiosos da educação juntam-se a
Montaigne e Comênio na defesa destas Segundo o autor, o educador brasileiro Paulo
concepções. De modo geral, os autores Freire, herdeiro de muitas conquistas do
ligados ao movimento da Escola Nova, que movimento e reconhecedor de que a Escola
tomou forma concreta no início do século XX, Nova “representou um considerável avanço
valorizavam a auto-formação e a atividade nas ideias e práticas pedagógicas”, denunciou
espontânea da criança (Gadotti, 2001, pg. seu caráter conservador, na medida em que
142): ela poderia servir tanto para a “educação
como prática da dominação quanto para a
Em resumo, a Educação Nova seria integral
educação como prática da liberdade”.
(intelectual, moral e física); ativa; prática (com
trabalhos manuais obrigatórios, A proposta trazida pelos professores
individualizada) autônoma (campestre em convidados para ministrarem o consórcio
regime de internato e co-educação) (id,. pg. STEHM-Brasil, é compartilhar experiências de
143) [...] sucesso em Instituições de Ensino norte
americanas, dentre as quais Harvard, MIT e
Só o aluno poderia ser autor de sua própria
Olin College, com a recomendação de que não
experiência. Daí o ‘paidocentrismo’ (o aluno
se ceda à tentação de reproduzir as “melhores
como centro) da Escola Nova. Essa atitude
práticas”, mas refletir sobre elas para aplicá-
necessitava de métodos ativos e criativos
las, criativamente, nas realidades específicas
também centrados no aluno. Assim, os
de cada professor.
‘métodos de ensino’ significaram o maior
avanço da Escola Nova. (id,. pg. 144) Alguns aspectos, salientados na capacitação
do consórcio, e que parecem formar uma
O autor apresenta diversos métodos utilizados
espécie de espinha dorsal das metodologias
pelos escolanovistas, dos quais se pode
ativas, serão condensados a seguir. O uso das
destacar o método de projetos de William
metodologias deve permitir a autonomia do
Heard Kilpatrick, que dividia os projetos em
discente em seu processo de aprendizagem;
quatro grupos: ‘de produção; de consumo (no
os conteúdos devem ser repensados de
qual se aprende a utilizar algo já produzido);
maneira a estabelecer os chamados
de resolução de algum problema; ou de
“conceitos lineares”, ou seja, aquilo que é mais
aperfeiçoamento de alguma técnica’. Diversos
significativo e que realmente se espera que o
outros métodos podem ser citados, como os
aluno saiba daqui a alguns anos, substituindo
centros de interesse, de Ovide Decroly; os
a lógica da quantidade de conteúdos pela da
jogos e materiais pedagógicos de Maria
profundidade na abordagem destes conceitos
considerados críticos, em geral, conceitos

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


56

transformadores e integradores; compreensão pelo conhecimento tende a ser mais eficaz


pelo professor de como se dá a aprendizagem para a aprendizagem do que a simples
(não apenas a do aluno, mas a dele próprio); memorização de conteúdos, gerando uma
estímulo de que o aluno desenvolva aprendizagem mais profunda e consistente.
abordagens profundas de aprendizagem;
Em relação à inculcação, o autor observa que
planejamento criterioso visando alinhar o
este é um recurso do ensino tradicional como
ensino com a aprendizagem; estímulo ao
complemento às aulas, “com os aprendizados
desenvolvimento, pelo aluno, de uma
decorados e os exercícios ditos de aplicação
motivação intrínseca; criação de um ambiente
que são, de fato, imitações repetidas dos
de aprendizagem favorável às discussões e à
comportamentos docentes. Mas são as formas
iniciativa por parte dos alunos.
de ensinar inspiradas no behaviorismo que
Destaque-se, então, que há algumas mais sistematizam a inculcação, ao recorrer ao
concepções teórico-pedagógicas que vêm condicionamento por repetição e reforço”. O
sendo defendidas por diversos estudiosos da autor destaca que os métodos coativos
educação e que estão claramente alinhadas facilitam o raciocínio, mas podem ser de tal
com as propostas de metodologias ativas, mas modo canalizados que podem perder o
que alguns cuidados não podem ser essencial de suas capacidades formadoras.
negligenciados para que sua utilização surta
Por outro lado, embora seja sedutora a fórmula
os efeitos desejados.
do conhecimento procedido de uma
Um dos principais cuidados que destacamos construção ativa do aluno, através de
neste artigo diz respeito à construção atividades de descoberta, de criação ou de
curricular participativa. Diante da consciência invenção, Not aponta as seguintes
da não neutralidade curricular, esperamos, na “fragilidades incontestáveis”:
pluralização da construção do currículo,
“Os limites da experiência corriqueira”, que
maximizar as influências discursivas e permitir
apontam a incapacidade de o aluno observar
ao aluno um posicionamento, o mais possível,
tudo ou descobrir tudo através de sua
autônomo.
experiência corriqueira. Além disso, se não
A fim de assegurarmos o alinhamento de houver alguém ao seu lado, esclarecendo seus
nossas propostas metodológicas com o procedimentos, ele pode não distinguir o que
escopo de nosso trabalho, estabelecemos vê, ou se perder nos detalhes e, com isso,
quatro princípios norteadores, a seguir permanecer na superfície dos problemas ou se
detalhados, que tomam por base o contexto dispersar em curiosidades periféricas.
teórico-pedagógico apresentado neste
“As invenções impossíveis”, segundo as quais
capítulo e a partir dos quais pretendemos
o autor aponta que nem todos os
construir nossa práxis.
conhecimentos podem ser inventados, tais
como acontecimentos históricos, dados
geográficos e convenções diversas.
3. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA
PROPOSTA METODOLÓGICA “A relativa ineficiência das necessidades
sentidas”. Em outras palavras, foram
3.1. PROTAGONISMO DO DISCENTE
necessários milênios para que os interesses e
Há, na visão de Louis Not (1993), três formas necessidades da humanidade orientassem
de fazer alguém adquirir conhecimentos: “a suas descobertas que, hoje, podem ser
transmissão, a inculcação e a descoberta por ensinadas às crianças em poucos anos, não
aquele que aprende”. Aos que ainda havendo tempo hábil para que ela sinta estes
defendem o paradigma da transmissão, interesses e necessidades.
mormente com argumentos ligados à
Finalmente, o autor salienta a “impossível
segurança, rapidez e facilidade, o autor aponta
recapitulação da experiência ancestral”, ou
que o argumento da segurança equivale a um
seja, não há como recriar as experiências
dogma. O autor lembra que a ciência tem a
vividas por nossos ancestrais, quer pelo meio
característica de recolocar-se
cultural completamente diferente, quer pelas
ininterruptamente em questão e que tanto as
influências existentes. “E o problema é, sem
tentativas quanto o próprio erro são educativos
dúvida, menos o de reinventar o conhecimento
e não seria adequado querer evitá-los a
do que de aprender (no sentido etimológico de
qualquer preço. Quanto à rapidez e facilidade,
apreender) aquilo que os nossos ancestrais
aparentemente conseguidas pela transmissão,
nos legaram e que teremos talvez a sorte de
o autor nos lembra que o processo de busca

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


57

poder estender ou transformar”. (Not, 1993, pg Nem tudo pode ser reconstruído. Há
16-23) momentos em que as aulas serão expositivas,
mas estes momentos devem ser reduzidos a
Percebe-se que a ideia de ter o aluno como
um mínimo indispensável.
protagonista, embora desejável, deve cercar-
se de cuidados. Como vimos, um dos
principais pontos defendidos pela Escola Nova
3.2. DESEJO DE APRENDER
era o paidocentrismo, ou seja, colocar o aluno
como centro do processo. Vale, então, rever as “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si
críticas sofridas por este movimento, para que mesmo, os homens se educam entre si,
possamos adotar uma visão mais realista deste mediatizados pelo mundo” (Freire, 1987, pg.
princípio. 68).
Segundo Moacir Gadotti (2001) o “respeito à Não há como ensinar um aluno que não deseja
criança”, preconizado pela Escola Nova, aprender e, ao contrário do que podem
representava, muitas vezes, uma renúncia do imaginar alguns professores, este desejo não
educador à direção educativa. Segundo ele surge naturalmente pelo simples fato de o
aluno estar em sala de aula. Neste sentido,
Educar não é ser omisso, ser indiferente, ser
uma das preocupações de quem pretende
neutro diante da sociedade atual. Deixar a
efetivar a prática educativa, que só se dá com
criança à educação espontânea da sociedade
a aprendizagem do aluno, deve ser com a
é também deixá-la ao autoritarismo de uma
motivação do aluno para a aprendizagem.
sociedade nada espontânea. O papel do
educador é intervir, posicionar-se, mostrar um Segundo Weiten, “os teóricos motivacionais de
caminho, e não se omitir. A omissão é também todas as correntes concordam em que os
uma forma de intervenção. (Gadotti, 2001, pg. seres humanos apresentam uma enorme
148) variedade de motivos” (Weiten, 2002, pg. 282).
Não é objeto deste artigo realizar um estudo
Assim, com base nas ideias até aqui
profundo sobre a motivação, mas é preciso
apresentadas, podemos apontar alguns
que o docente entenda seus principais
cuidados a tomar para que compreendamos
fundamentos a fim de planejar e conduzir as
perfeitamente o que está por trás deste
atividades docentes no sentido de desejar nos
princípio do protagonismo do discente:
alunos o desejo de aprender. Assim,
O estímulo a que o aluno assuma o papel de trataremos de alguns destes fundamentos.
protagonista de sua própria aprendizagem não
O sentido básico de motivação pode ser
pode representar a omissão do professor. É do
conhecido por suas raízes latinas ‘movere’,
professor o papel de discutir o currículo, ajudar
que significa mover-se. Desta forma, motivar
a estabelecer os objetivos e planejar as
alguém [grifo meu] – implica em levá-lo a agir
atividades educacionais, em sua disciplina,
ou a produzir uma resposta. Neste sentido, a
que viabilizarão aos alunos a consecução dos
motivação tem também uma certa semelhança
objetivos traçados. “Aprender é construir
com estimulação, como se sabe, os
significados e ensinar é oportunizar essa
organismos não reagem da mesma forma a um
construção” (Moretto, 2003, pg. 9).
mesmo estímulo. (Alencar, 1986, pg. 157)
A realização exaustiva de exercícios de
Ressalte-se que diversos autores se opõem às
aplicação que massificam o aprendizado
teorias de incentivo, defendendo a tese de que
desejado, ou o comportamento pretendido,
a motivação é um movimento interno do sujeito.
não configura uma postura de protagonismo,
De qualquer forma, sendo o incentivo capaz ou
mas de condicionamento.
não de motivar o comportamento, devemos
A participação ativa do discente em seu estar atentos às extensões e diversidades dos
processo de aprendizagem exige mais tempo motivos humanos, seja para incentivá-los ou,
do que a “transmissão”. Trata-se de uma troca simplesmente, para estimulá-los em nossos
de quantidade dos conhecimentos abordados alunos.
pelo professor, pela qualidade das
Uma das classes de motivos que interessa ao
competências desenvolvidas pelos alunos.
educador é a curiosidade que, segundo
Com isso, é necessária uma revisão dos
Alencar (1986, pg. 164), tem sido considerado,
conteúdos, na busca daquilo que é realmente
por evidências experimentais, como um dos
significativo para a consecução dos objetivos
motivos mais fortes, sendo classificado por
pretendidos. Algo que poderíamos chamar de
diversos autores como um dos
princípio de Pareto aplicado à educação.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


58

“comportamentos intrinsecamente motivados”. Com base nos princípios motivacionais


Segundo o autor, algumas “características do apresentados, podemos ousar apresentar
estímulo, como complexidade, novidade e alguns cuidados em relação à adoção de
incongruência parecem influir na preferência métodos ativos, para que as ações propostas
por um estímulo ou outro”. Neste sentido, estimulem a motivação dos alunos:
podemos destacar, ainda, a significância do
A aprendizagem deve ter uma significação
tema tratado para o aluno. Como despertar a
para o aluno. O professor deve saber quais os
curiosidade para algo que não tenha qualquer
objetivos pretendidos com cada assunto de
sentido ou significado para o aluno?
sua disciplina, e compartilhar com seus alunos
Vasconcellos (1993, pg. 22) destaca que
estes significados.
muitas vezes o próprio educador é “vítima de
uma formação alienante, não sabem o porquê As tarefas apresentadas aos alunos devem
daquilo que ensinam e quando interrogados levar em conta os seguintes aspectos:
dão resposta evasivas: ‘faz parte do programa’
Devem representar um desafio aos alunos,
[...] ‘hoje você não entende, mas daqui a dez
despertando sua curiosidade, quer pela
anos vai entender’.
complexidade, pela novidade ou por uma
Outra classe motivacional que impacta aparente incongruência.
fortemente no ambiente escolar é a motivação
Este desafio deve estar plenamente adequado
social. Segundo Weiten, o pesquisador John
às possibilidades do aluno, ou seja: nem tão
Atkinson teorizou que a tendência de buscar a
fácil que não represente, verdadeiramente, um
realização em uma determinada situação
desafio; nem tão difícil que o aluno não
depende dos seguintes fatores:
perceba a probabilidade de obter sucesso.
 A força de motivação de uma pessoa
O professor deve sinalizar o valor do incentivo
para obter sucesso. É considerada um
do sucesso. Para isso, é importante conhecer
aspecto estável da personalidade.
seus alunos para saber quais são os aspectos
 A estimativa que uma pessoa tem da tangíveis e intangíveis que eles valorizam.
probabilidade de obter sucesso em Vale, também, a criatividade do professor, mas
determinada tarefa. Varia de tarefa algumas possibilidades podem ser sugeridas,
para tarefa. tais como: uma parcela no grau das
avaliações, uma competição entre os grupos,
 O valor do incentivo do sucesso.
uma publicação em veículo interno do melhor
Depende das recompensas tangíveis
trabalho, participação em algum evento ligado
e intangíveis pela obtenção de
à área de estudos etc.
sucesso na tarefa específica.
O professor deve ter em mente que, diante da
Considerando o primeiro fator como
importância da motivação social, a realização
dependente da personalidade de cada aluno,
de trabalhos em grupo pode ser uma forte
o professor pode, em seu planejamento e nas
aliada. Porém, na formação dos grupos, o
ações docentes, atuar no estímulo aos outros
professor deve estar sempre atento aos
dois. A seguir, apresentaremos sugestões de
relacionamentos. Vale destacar que os alunos
como lidar com estes fatores. Antes, porém,
devem compreender que o relacionamento
convém citar Vasconcellos que, como
interpessoal é, também, uma competência vital
educador, aponta ações educativas
para sua formação profissional e cidadã.
plenamente ligadas aos princípios
motivacionais vistos até aqui.
A motivação para o conhecimento em sala de
aula, além das características do sujeito, está
relacionada a: a) assunto a ser tratado; b)
forma como é trabalhado; c) relações
interpessoais (professor-aluno, aluno-aluno).
Tem a ver, portanto com o trabalho com
conhecimento (assunto e forma), com a
organização da coletividade e com o
relacionamento interpessoal, as três
dimensões básicas do trabalho de sala de
aula. (Vasconcellos, 1993, pg. 53)

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


59

3.3. APRENDIZAGEM PROFUNDA necessários ao egresso. Diante desta


realidade devemos evitar sucumbir à
Certa ocasião, Dewey estava visitando uma
tendência de querer ministrar o máximo
escola e fez a seguinte pergunta a um grupo
possível, caindo na armadilha da rapidez,
de alunos: ‘O que vocês encontrariam se
sinalizada pelo paradigma da transmissão. Ao
cavassem um buraco muito profundo dentro
contrário, devemos exercitar nossa
da terra?’como não recebesse resposta repetiu
capacidade de síntese, diminuindo o conteúdo
a pergunta, mas o que obteve foi um grande
ministrado e ajudando o aluno a desenvolver
silêncio e olhares perplexos. A professora
estratégias de profundidade que darão a ele
então advertiu a Dewey dizendo que ele tinha
as competências necessárias à construção, no
formulado mal a pergunta. Ela, então, dirigiu-
futuro, dos conhecimentos necessários à
se às crianças e perguntou: ‘Qual é o estado
solução de novos problemas com os quais ele,
do centro da terra?’. Imediatamente os alunos
certamente, irá se deparar em sua trajetória
responderam em coro: ‘Estado de fusão ígnea’.
profissional e social.
(Vasconcellos, pg. 22)
3.4. ALUNO COMO SER COMPLETO,
Comumente vemos professores preocupados
COMPLEXO E SOCIAL
com a quantidade de conteúdo que devem
ministrar e com a exatidão dos conceitos a O aluno não é um ser puramente cognitivo
serem reproduzidos pelos alunos. No entanto, pronto a debruçar-se sobre os conteúdos que
ambas são preocupações que conduzem a pretendemos que ele aprenda no momento
estratégias de aprendizagem de superfície. A exato em que esperamos que ele o faça. Ao
tendência dos alunos, quando se vêem diante contrário, ele é um ser complexo, com seus
de uma quantidade muito grande de problemas, dificuldades, conhecimentos,
conteúdos e da necessidade de reproduzi-los relações e visão de mundo. A simples
ipsis litteris, é decorar para reprodução lembrança deste fato imprimirá uma postura
imediata e posterior esquecimento. Nesses diferente do professor ao planejar e conduzir
casos, se realizarmos, extra oficialmente, uma suas atividades docentes.
avaliação meses após o conteúdo ter sido
Em seus estudos psicanalíticos, Freud já
formalmente avaliado, certamente os
chamava a atenção para a importância dos
resultados tenderão a ser pífios. Mais
processos emocionais inconscientes na
negativos, ainda, tenderão a sê-lo se
relação entre alunos e mestres. Ao refletir
esperarmos deles mais do que a simples
sobre os mecanismos de transferência e outras
reprodução do conteúdo memorizado, mas
facetas das relações escolares, Freud
sua aplicação em situações concretas.
observava que, diante da emoção de
Se desejamos que o egresso leve consigo as encontrar um velho mestre, “é difícil dizer se o
competências desenvolvidas ao longo do que exerceu mais influência sobre nós e teve
curso, devemos estimular nossos alunos a importância maior foi a nossa preocupação
adotarem estratégias de aprendizagem de pelas ciências que nos eram ensinadas, ou
profundidade, que incluam não apenas a pela personalidade de nossos mestres”
memorização dos conteúdos, mas sua (FREUD, 1976, p.286)
aplicação na realidade concreta e que faça as
Não podemos, diante desse conhecimento,
devidas ligações necessárias ao
deixar que esta relação fique restrita aos
aprofundamento destes conceitos nas
processos emocionais inconscientes. O aluno
diversas nuances em que possa se dar sua
não deve ver seu professor como um inimigo,
aplicação. Em outras palavras, desejamos que
como um obstáculo que deverá ser transposto
o aluno se aproprie do conhecimento.
para que ele atinja seu objetivo de obter um
O professor deve, antes de qualquer coisa, diploma. Ao contrário, o professor deve ser um
definir qual o conteúdo realmente significativo aliado do aluno para que ele possa atingir este
em sua disciplina. O que ele espera que o objetivo e, muito mais, que o atinja com um
egresso carregue em seu arcabouço de arcabouço de competências que o farão um
competências. A partir daí, seu planejamento profissional e um cidadão muito melhor.
deve focar no aprofundamento dos conceitos
Para isso, o professor, sendo o “lado” mais
ligados a este conteúdo, com a participação
maduro da relação, deverá estar atento ao
intensa do aluno neste processo. É uma
aluno, às suas expectativas, às suas
realidade inquestionável que não é possível
dificuldades. Certamente ele não terá
para a escola ministrar, durante o curto período
condições de atendê-las todas, e nem é este
de um curso, todos os conhecimentos
seu papel, mas deve procurar exercitar sua

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


60

empatia, sendo solidário ao aluno e Cada disciplina seja ela de conteúdo básico,
mostrando-se um aliado importante para o específico ou profissionalizante integra um
sucesso de sua formação. conjunto consistente, objetivo, articulado e
sinérgico que integra seu Projeto Pedagógico
Além disso, não faz mais sentido que o
de Curso (PPC), que por sua vez segue as
professor tenha uma visão de seu aluno como
orientações específicas contidas nas Diretrizes
a “tábula rasa” de Locke. O aluno chega à aula
Curriculares Nacionais (DCN).
com uma série de conhecimentos prévios,
tenham eles fundamento científico ou não, que A confecção do PPC então é uma obra única,
devem ser levados em consideração no de concepção do capital intelectual da
planejamento docente, já que em alguns Instituição de Ensino Superior (IES). Vemos,
momentos eles serão a base para as então, que as ementas e programas, de cada
sucessivas assimilações e acomodações dos disciplina que integra o currículo, têm a
novos conteúdos que se pretende trabalhar e, responsabilidade de dar seu contributo ao
em outros momentos, eles deverão ser conjunto maior, respondendo com seu
ressignificados. Em ambos os casos, sua particular campo do conhecimento, estratégias
desconsideração poderá criar uma posição de e metodologias de ensino e aprendizagem.
rejeição do aluno por aquele conhecimento.
Como claramente definido na missão da
Um exemplo muito claro desta rejeição é Faculdade de Engenharia de Resende:
apresentado por Vasco Moretto (2003, pg.
“O egresso engenheiro terá formação
106-107). Ele descreve a conversa entre uma
generalista, humanitária, crítica e reflexiva,
aluna de 11 anos e sua mãe. A menina explica
capacitado a absorver e desenvolver novas
à mãe que foi muito bem na prova de
tecnologias, estimulando a sua atuação crítica
Geografia, pois colocou na prova exatamente
e criativa na identificação e resolução de
o que a professora queria. A mãe perguntou,
problemas, considerando seus aspectos
então, do que se tratava e a filha disse que a
políticos, econômicos, sociais, ambientais e
professora havia explicado que a Terra girava
culturais, com visão ética e humanista, em
em torno do Sol, usando para demonstrá-lo
atendimento as demandas da sociedade” FER
três alunos, nos papéis de Sol, Terra e Lua,
2014
fazendo com que a segunda girasse em torno
da primeira e a última em torno da segunda. A Sendo assim o que se deseja com esta reflexão
mãe então, entusiasmada, perguntou se a filha é mais do que discutir as competências gerais
entendeu a explicação e sabia como as coisas para a formação do engenheiro, já que estas
aconteciam. A filha afirmou que só respondeu questões podem ser respondidas com a
assim porque a professora queria e, se simples análise textual explícita de seu
respondesse diferentemente não tiraria dez na conteúdo. O que queremos provocar com este
prova, mas que na realidade era óbvio que a artigo é de que maneira, isto é, com quais
professora estava errada: “Olha só! Nós duas instrumentos didáticos contemporâneos
estamos paradas aqui em casa. De manhã o poderá o professor contar para possibilitar aos
Sol nasce lá. Nós continuamos aqui e o Sol vai alunos uma experiência de aprendizagem
subindo, subindo. Ao meio dia ele está sobre a significativa que realmente de conta do
cabeça da gente. Depois vai descendo, desenvolvimento destas competências que,
descendo e no final da tarde está lá (e aponta como vimos nas DCN, vão muito além da pura
para o poente). E então, mãe, quem andou? Foi aquisição (ou reprodução) do conhecimento.
a Terra ou o Sol?”. As próprias DCN apontam uma direção
quando recomendam que “O Aprendizado só
se consolida se o estudante desempenhar um
4. CONTEXTO CURRICULAR papel ativo de construir o seu próprio
conhecimento e experiência, com orientação e
Os currículos atuais dos Cursos Superiores são
participação do professor” (DCN, 2011).
compartimentados em disciplinas que
procuram organizar-se em torno de suas
respectivas ementas. Esta organização se dá
4.1. PROGRAMA ATUAL
conforme o planejamento consolidado em um
programa de disciplina, que aponta as O programa atual da disciplina de introdução
estratégias utilizadas para que se cumpra a a engenharia tem origem quando do processo
ementa prevista. de credenciamento da Faculdade de
Engenharia de Resende em 1997
conjuntamente com a autorização do seu

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


61

primeiro curso de graduação em Engenharia


na habilitação de Engenharia Elétrica com
ênfase em eletrônica.
5. PROPOSTA DE REESTRUTURAÇÃO DA
A proposta de inclusão desta disciplina no
DISCIPLINA
currículo se deu através de recomendação da
comissão avaliadora do MEC que sugeriu a 5.1 REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS
sua inserção no currículo. Hoje a disciplina
“Em 30 anos, o grande campus da
integra a matriz curricular também das outras
Universidade será uma relíquia. As
formações ofertadas pela IES como os
Universidades não irão sobreviver.” Peter
bacharelados em Engenharia de Produção
Drucker (1997).
Automotiva e Metalúrgica, Engenharia Civil e
Engenharia Mecânica, sendo ministrada nos Esta celebre frase de Drucker em seu livro nos
referidos cursos no primeiro ano do ciclo sinaliza a necessidade de propostas de
básico em regime letivo anual. A carga horaria mudança. De fato se analisarmos a evolução
é de 80 horas de aula em regime semi das atividades econômicas, a Escola talvez
presencial utilizando também os recursos seja o ambiente de trabalho onde a dinâmica
didáticos da plataforma moodle. econômica e tecnológica menos tenha
mudado suas praticas.
O programa atual da disciplina inclui na sua
ementa os seguintes conteúdos A figura do professor ministrando suas aulas
programáticos: expositivas, possivelmente utilizando quadro
negro, giz e apagador ainda é uma realidade
Metodologia cientifica; Ciência, Tecnologia e
que reproduz as mesmas atividades realizadas
Inovação; Qualidade; Segurança do Trabalho;
no século passado. Em contraste com a
Introdução a Projetos, Manutenção e logística
resistente prática pedagógica tradicional
e Ética.
pretendemos refletir sobre a figura do
Como objetivos gerais e secundários o professor, ente fundamental na cadeia do
programa apresenta os seguintes pontos: processo de ensino aprendizagem, como
indutor da inovação na Escola e garantidor do
 Perceber a utilização e necessidade
objetivo maior de uma instituição de ensino:
da produção do conhecimento
preparar cidadãos para o mundo com
cientifico
consistente formação profissional voltada para
 Dar ao aluno uma visão geral da os anseios maiores de serviço á sociedade.
Engenharia, notadamente nos campos
O professor está na linha de frente,
de projeto, manutenção e materiais,
responsável pela construção de um novo
objetivando o desenvolvimento de
currículo onde ele também é executor mais
habilidades específicas
também designer dos novos processos de
 Discutir amplamente a questão ensino aprendizagem.
tecnológica e da qualidade como fator
Centrando-se na observação e na prática
de aperfeiçoamento pessoal e
pedagógica do Processo de Ensino-
desenvolvimento da engenharia e da
Aprendizagem , verifica-se, apesar da
Nação.
constante evolução tecnológica e científica,
 Refletir sobre a Ética na engenharia e que, na maioria das vezes, os Currículos são
sua importância na melhoria da desenvolvidos de forma que o estudante passe
qualidade de vida da população. boa parte do seu tempo em sala de aula e
seja avaliado mediante provas e trabalhos
Os métodos e técnicas de ensino
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL
aprendizagem utilizados na disciplina são:
DO PARANÁ, 2007b, p. 21.)in JACINSKI(2012)
 Aulas expositivas com retroprojetor
Pretende se mais que uma reestruturação da
multimídia e quadro negro
disciplina, almeja se uma nova arquitetura
 Trabalhos que estimulem os alunos a fundada nas metodologias ativas de
aplicar as técnicas de pesquisa aprendizagem.
 Palestra de especialistas Tal reconfiguração curricular didático-
pedagógica da disciplina ira representar um
 Visitas técnicas as empresas e
desafio significativo para os cursos de
concessionárias
Engenharia, por promover sinergias

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


62

interdisciplinares dos conteúdos conhecimentos e habilidades específicas


programáticos, reformulação do processo de inerentes a sua formação. Desenvolver a sua
ensino e aprendizagem e dos conteúdos e criatividade e competência para a
minorar os graves problemas de altas taxas de experimentação e resolução de problemas
evasão escolar e desistência. Além disso reais.
pretende se contribuir para que o aluno de
5.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
engenharia através do uso das novas
metodologias, motive se com a carreira Os seguintes objetivos específicos são
profissional de engenheiro, facilitando a propostos nesta revisão do programa:
escolha de sua habilitação e ter uma visão
 Refletir sobre a mudança de
global do curso.
paradigma atual da sociedade
Buscar se há na raiz desta reformulação do industrial para a sociedade industrial
programa, aquilo que é considerado um dos ou Nova Economia e sua impactação
pilares da atividade profissional do no profissional de Engenharia e na
engenheiro: A resolução de problemas. Para sociedade;
além de uma perspectiva tecnicista, essa
 Desenvolver atividades ativas que
capacidade demanda uma necessidade de
proporcionem ao aluno o
interpretação da situação-problema, muito
desenvolvimento de sua criatividade
mais rica e complexa e a necessidade de
na resolução de problemas;
disseminar uma “máxima” norteadora sobre o
engenheiro para os alunos: “ o Engenheiro é o  Apresentar metodologias ativas que
profissional que engendra soluções dos induzam o aluno á se orientar quanto a
problemas do mundo real” . relevância da sistematização dos
estudos e as pesquisas acadêmicas;
 Refletir sobre a Ética na engenharia e
5.2 PROGRAMA REVISTO COM BASE NAS
sua importância na melhoria da
METODOLOGIAS ATIVAS DE
qualidade de vida da sociedade.
APRENDIZAGEM
 Desenvolver no aluno o espírito crítico
5.2.1 OBJETIVOS GERAIS
para interpretação e avaliação dos
Quando se fala em objetivo geral da disciplina resultados experimentais.
procura se alinhar sua ementa com as
diretrizes curriculares nacionais, o projeto
pedagógico do curso de engenharia, seu 5.2.3 EMENTA
currículo e o perfil do egresso que queremos
A nova ementa proposta tem duas dimensões
para a sociedade.
distintas complementares entre si.
Por outro lado, reconhecendo as vantagens
Os conteúdos básicos interdisciplinares que
comparativas que a disciplina tem como:
tratam de assuntos introdutórios que serão
Conteúdo aberto e flexível as especificidades muitas vezes desenvolvidos com mais
do currículo da IES e do contexto regional em profundidade em disciplinas do ciclo
que se insere; profissional e que serão consolidados e
colocados a disposição dos estudantes de
Conteúdo ministrado no curso básico e
maneira estruturada na plataforma moodle da
introdutório das demais possibilitando um alto
disciplina. Os alunos serão recomendados a
grau de interdisciplinariedade;
leitura previa do material e em sala serão
Possibilidade de uso intensivo das Tecnologias aplicadas as técnicas de estudo de caso com
de informação, ampliando os recursos os estudantes separados em grupo para
pedagógicos e estendendo a carga horaria do discussão dos tópicos relevantes do conteúdo.
curso. Adicionalmente serão utilizados os fóruns para
debate de temas atuais relacionados ao
Formulamos o objetivo geral da disciplina
conteúdo em destaque.
como:
Da analise de 20 ementas da disciplina das
Possibilitar ao aluno ingressante no ciclo
mais conceituadas escolas de engenharia
básico dos cursos da FER uma visão geral das
resumimos os temas que consideramos os
áreas de estudo da Engenharia, apoiando a
mais relevantes e presentes como conteúdos
decisão de escolha de sua carreira
básicos interdisciplinares:
profissional. Motivar o aluno a aquisição de

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


63

A Metodologia Cientifica, teoria do permanentes e fios e com hélice de ventilador


conhecimento, técnicas de aprendizagem; para gerar eletricidade com o vento e acender
Ciência tecnologia e inovação, propriedade uma lâmpada. E outros projetos relevantes que
tecnológica, sistema de patentes X know how, o professor ou os próprios alunos sugiram.
Marcas, dinâmica da evolução tecnológica
Os benefícios decorrentes destas atividades
Engenharia e a interface com a logística: Tipos
podem ser aquilatados conforme experiências
de logística, Gestão dos estoques,
bem sucedidas pelo Instituto Mauá de
Classificação ABC-aplicação de Pareto,
Tecnologia, MONTEFUSCO (2008) que
Desenvolvimento de fornecedores,
assinala:
Negociação e Analise de valor, Reengenharia
e os novos conceitos de logística, Parcerias As aulas com caráter pratico e com
cliente fornecedor. Engenharia e a interface desenvolvimento de experiências junto aos
com Projetos: A função do engenheiro na área alunos proporcionam uma melhor fixação dos
de projetos, conceituação de projeto, Gerência conteúdos abordados;
de projetos, Planejamento e controle, a técnica
Desenvolvem a sensibilidade na avaliação dos
PERT CPM.Engenharia e a interface com a
parâmetros de engenharia;
manutenção: A função do engenheiro na área
de manutenção, Tipologia da manutenção, Contribuem para o desenvolvimento do
Eficiência do equipamento, Confiabilidade e estudante na aplicação dos princípios básicos
Manutenibilidade. Engenharia e Qualidade: teóricos e para solução de problemas;
evolução da qualidade no mundo, ferramentas
 Familiarizam o estudante no uso da
da qualidade. Ética na Engenharia: conceito,
instrumentação empregada na
conselho e legislação profissional.
engenharia;
Grupo de novas metodologias ativas que serão
 Desenvolvem o espirito critico na
desenvolvidas conforme abaixo:
interpretação e avaliação dos
Serão desenvolvidos projetos resultados experimentais;
interdisciplinares que permitirão motivar o
 Desenvolvem a habilidade para a
aluno ingressante ao estudo da engenharia e
execução de relatórios técnicos, bem
desenvolver sua criatividade aplicando seus
como a apresentação de gráficos
conhecimentos e usando materiais facilmente
tabelas e equações;
disponíveis para criar protótipos de máquinas
importantes na engenharia.  Permitem que se tire conclusões a
partir de resultados experimentais;
Serão desenvolvidos projetos e
experimentação com simulação em modelos e  Contribuem para desenvolver a
a experimentação por protótipos utilizando capacidade criativa e desenvolve o
conhecimentos básicos da matemática. física espirito de trabalho em grupo.
e química com a utilização de materiais
A metodologia ensejará a formação de grupos
reciclados. Para isso será necessária uma
de alunos para a construção de protótipos
formação dos conceitos básicos para
relevantes nas áreas de Engenharia Mecânica,
aplicação nos projetos. Almeja se construir
Elétrica, Produção e Civil. Concluindo o
protótipos relevantes do ponto de vista
estudante terá a oportunidade de se investir na
tecnológico como: Braço robótico hidráulico
função de engenheiro modelando soluções
utilizando seringas de injeção e tubos de
para problemas comuns científicos.
borracha de soro para pressionar e mover as
partes articuladas; Foguete com garrafa pet
utilizando água, ácido acético (vinagre) e
6. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DA NOVA
bicarbonato de sódio (“sal de fruta ou pó
METODOLOGIA
Royal”) para produzir CO2 e pressão para
expelir água e gerar empuxo; Turbina a vapor Procurou-se fazer uma abordagem objetiva da
utilizando CDs e panela de pressão; Motor pirâmide de aprendizagem mostrada na figura
Stirling utilizando latas e queima de qualquer 1.
combustível. Gerador elétrico utilizando imãs

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


64

Figura 1 - Pirâmide de Aprendizagem [ABHIYAN,2008]

O curso está dividido em aulas EAD e aulas O professor atua como facilitador. Cabe ao
presenciais alternadas. aluno a busca de soluções para os problemas.
O professor é parceiro do aluno na descoberta
Nas aulas EAD o conteúdo da ementa estão
do conhecimento. Estimula a reflexão, a partir
sendo abordados utilizando-se ferramentas de
de diferentes pontos de vista.
ensino como leituras, audiovisuais,
demonstrações, grupos de discussão e Os alunos escolheram um tema relacionado às
exercícios. práticas realizadas em sala e desenvolvem em
grupo um projeto até o final do ano. Entregam
Nas aulas presenciais, na primeira metade da
relatórios técnicos bimestrais e ao final do ano
aula, os alunos (um grupo a cada aula)
apresentam o projeto e o protótipo
ensinam os colegas os assuntos vistos na
desenvolvido.
semana anterior em EAD (Figura 5). Além de
utilizar o conteúdo disponível em EAD, os Utilizam software para auxílio ao
alunos têm liberdade para acrescentar desenvolvimento de projetos e metodologia
materiais, de preferência relacionados ao seu científica.
curso específico (área de engenharia da
Os alunos estão sendo estimulados a escrever
turma).
artigos sobre seus projetos e apresentar em na
No restante das aulas presenciais, os alunos, Semana de Atividades Científicas – SEAC.
em grupos, fazem uso imediato do que Também realizarão competições de
aprenderam não só na disciplina Introdução à lançamento de foguete por ocasião do SEAC.
engenharia, como nas demais disciplinas do
Os resultados obtidos até aqui (ilustrados nas
primeiro ano, como física, química, português,
figuras) mostram a receptividade e o interesse
etc., resolvendo problemas e fazendo projetos
dos alunos pelas metodologias ativas
multidisciplinares.
utilizadas.
Os problemas e projetos são lúdicos e
desafiantes.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


65

Figura 2 – Foguete com garrafa pet Figura 3 – Torre de macarrão e marshmallow

Figura 4 – Gerador elétrico com imã, fio, prego, Figura 5 – Ensinar os outros.
papelão e lâmpada

6. CONCLUSÕES ampla dos métodos e técnicas de ensino


empregadas na disciplina, á revisão dos
Os cursos de graduação em engenharia da
objetivos geral e específicos. Buscou se um
Faculdade de Engenharia de Resende devem
benchmark competitivo com outras escolas de
objetivar a formação de profissionais
engenharia e consequente modernização
capacitados na solução de problemas , na
curricular. Incorporou se também novas
condução das situações a ele inerentes de
tecnologias aos processos de ensino fazendo
forma competente, eficaz e
que o aluno possa aprender a aprender. E que
criativa .Contribuindo assim para a melhor
ele através da ação pedagógica e
produtividade dos segmentos industriais e por
principalmente do seu fazer, experimentar,
conseguinte na qualidade de vida da
discutir, se envolver, participar, possa
sociedade.
apreender o conhecimento objetivado.
O país carece de engenheiros que tenham
Que os instrumentos de avaliação, provas e
capacidade para resolver os seus problemas
exames, não meçam a capacidade de decorar
complexos e únicos que exigem soluções
do aluno mais possam principalmente
inovadoras. Este artigo refere se a capacidade
comprovar o seu efetivo aprendizado.
do autor de promover uma disrupção em sua
práxi docente. E melhorar o seu particular A prática das atividades ativas como a
contributo ao projeto pedagógico dos cursos experimentação com simulação em modelos e
de Engenharia. a experimentação por protótipos para análise
e interpretação dos resultados motiva o aluno,
A reflexão necessária sobre a utilização das
desperta sua curiosidade e interesse pela
metodologias ativas no processo ensino
ciência e pela tecnologia, propicia o
aprendizagem e em particular na disciplina de
desenvolvimento da criatividade, ajuda o na
introdução á Engenharia conduziram a revisão

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


66

decisão da escolha de sua área de atuação Portanto, a Introdução à Engenharia, neste


como futuro profissional, estimula o estudo e a novo contexto apresentado, assume um papel
pesquisa, permite o trabalho em equipe, faz muito importante pois pelas atividades que se
uso do conhecimento multidisciplinar, além de propõe a desenvolver junto aos alunos, acaba
iniciar no estudante o desenvolvimento de uma sendo precursora de uma renovação mais
postura, atitudes e práticas inerentes ao ampla no projeto pedagógico dos cursos de
engenheiro na solução de problemas. Engenharia da FER.

REFERÊNCIAS
[1]. ABHIYAN, S. S.; NADU, T. Manual of Active das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de
Learning Methodology. Índia: Krishnamurti Janeiro: Imago, volume XIII, 1976.
Foundation, 2008.
[10]. GADOTTI, Moacir. História das ideias
[2]. ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. pedagógicas. 8 ed. São Paulo: Ática, 2001.
Psicologia: Introdução aos princípios básicos do
[11]. MONTEFUSCO, Ricardo e MONTEFUSCO,
comportamento. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1986
Elizabeth. Introdução á Engenharia COBENGE
[3]. BRASIL, Ministério da Educação. Conselho 2008.
Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares
[12]. JACINSKI, EDSON. Sentido das interações
Nacionais dos Cursos de Engenharia. Diário Oficial
entre tecnologia e sociedade na formação de
da União, Brasília, 9 abr. 2002. Seção 1, p. 32.
engenheiros (tese de doutorado) 2012 UFSC.
Resolução CNE/CES 11, 11 mar. 2002b.
[13]. MONTAIGNE, Michel. Ensaios. Tradução
[4]. BRASIL, Ministério da Educação. Conselho
Sérgio Milliet. 1 ed. Porto Alegre: Editora Globo S.A.,
Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares
1972. (Coleção Os pensadores Volume XI, Abril
Nacionais dos Cursos de Engenharia. Resolução
Cultural)
CNE/CES 1362 12 dezembro. 2011
[14]. MORETTO, Vasco Pedro. Construtivismo: a
[5]. COMÉNIO, João Amós. Didáctica Magna:
produção do conhecimento em aula. 4. Ed. Rio de
Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos.
Janeiro: DP&A, 2003.
Tradução e notas de Joaquim Ferreira Gomes. 2 ed.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1976. [15]. NOT, Louis. Ensinando a aprender:
elementos da psicodidática geral. Tradução
[6]. DRUCKER, Peter F. Uma Bússola para
Carmem Sylvia Guedes, Cláudia Signorini. São
tempos incertos. Revista Exame. São Paulo, v. 30, n.
Paulo: Summus, 1993
7, p. 66-70. 26 mar. 1997.
[16]. VASCONCELLOS, Celso dos Santos.
[7]. FER. Associação Educacional Dom Bosco.
Construção do conhecimento: em sala de aula. São
Projeto pedagógico do curso de Engenharia de
Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1993.
Produção Metalúrgica, 2014.
(Cadernos pedagógicos do libertad; 2)
[8]. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido.
[17]. WEITEN, Mayne. Introdução à Psicologia:
17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
temas e variações. Trad. Maria Lúcia Brasil, Zaira G.
[9]. FREUD, Sigmund. Algumas reflexões sobre Botelho, Clara A. Colotto, José Carlos B. dos Santos.
a psicologia escolar – In Edição Standard Brasileira São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


67

Capítulo 6
O PERFIL DOS FORMANDOS NO ENSINO SUPERIOR:
TRAJETÓRIAS E PERSPECTIVAS PARA A SUA VALORAÇÃO
ACADÊMICA E PROFISSIONAL.
Dayan Rios Pereira

Resumo: O artigo analisa sob a perspectiva da gestão universitária em instituições


de ensino superior privada (IESPr), os reflexos da formação acadêmica dos
formandos nos cursos de graduação de uma IES de Belém/Pa sobre sua carreira
profissional, acadêmica e seus movimentos em termos de mobilidade social. O
trabalho avalia a agregação de valor pessoal e profissional do curso superior para os
formandos bem como suas perspectivas de formação continuada e inserção no
mercado de trabalho. Partindo-se dos testes de hipóteses estatísticas, as análises
buscam compreender como a formação superior influencia na vida dos graduandos
e moldam sua visão enquanto indivíduos e profissionais. Avalia-se ainda, como a
qualidade do curso é percebida pelos concluintes e suas expectativas de
valorização no mercado de trabalho. Os resultados apontam para uma significativa
valoração pessoal que estimula a formação continuada. Contudo, verifica-se um
baixo nível de transformação profissional no curto prazo. Diante de tal realidade, sob
a perspectiva dos formandos, o trabalho identifica ainda quais competências e
habilidades são imprescindíveis para que os mesmos ingressarem numa pós-
graduação com vistas à sua maior valorização profissional e imediata inserção no
mercado de trabalho.

Palavras Chave: Perfil Acadêmico; Avaliação Acadêmica; Gestão Universitária

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


68

1 INTRODUÇÃO O aumento da população estudantil do Ensino


Superior nas IES privadas no Brasil e sua
Um dos quesitos inovadores que compõe a
heterogeneidade justificam estudos que
avaliação do Exame Nacional de Desempenho
descrevam as experiências acadêmicas e as
Estudantil (Enade) realizado pelo MEC junto às
percepções desta população sobre sua
IESPr é o Indicador de Diferença entre os
formação, o interesse em dar continuidade na
Desempenhos Observado e o Esperado (IDD).
formação acadêmica e a aplicabilidade dos
A ênfase do mesmo está em possibilitar uma
conhecimentos adquiridos na formação no
análise do desempenho dos concluintes de
mercado de trabalho.
cada instituição levando em consideração o
perfil do estudante que ingressa no curso. Em
outros termos, foca a agregação de valor –
2 REFERENCIAL TEÓRICO
medida em termos de conhecimento – dos
acadêmicos ingressantes e concluintes de 2.1 EMPREGABILIDADE E MERCADO DE
dado curso superior. Seu propósito reside em TRABALHO
última instância, no fato de que não é
Neri (2008, p.24) ressalta que a valoração da
admissível, do ponto de vista educacional, que
educação, entendida como uma premiação,
um acadêmico ingresse em uma formação
pode ser expressa em termos de preço que o
superior e a conclua com o mesmo (ou pior)
mercado de trabalho, segundo as leis de oferta
nível de conhecimento do ingresso.
e demanda, determina para o atributo
O Indicador de Diferença Entre os educação. Com efeito, Langoni apud Neri
Desempenhos Observado e Esperado (IDD) foi (2008, p.24) em seu trabalho “Distribuição da
elaborado com a finalidade de avaliar o grau Renda e Desenvolvimento Econômico do
de acurácia do processo de formação superior Brasil” de 1973 e reeditado em 2005, observa
e, por conseguinte, num indicador de eficácia que a tensão entre a oferta e demanda por
educacional relativa entre as IES sob mão- de-obra qualificada oriunda,
avaliação. respectivamente, da expansão da educação e
do progresso tecnológico definem o preço
O propósito deste estudo, portanto, alinha-se
como retorno à educação.
ao IDD na medida em que pretende avaliar a
importância da formação acadêmica (efeito Utilizando-se do modelo de equações
curso) na projeção profissional do egresso e mincerianas de salário para análise dos
sua perspectiva de investimento na formação prêmios oferecidos pela educação, Neri (2008,
acadêmica. Dentre os benefícios do trabalho, p.29) verifica, com base nos microdados da
destaca-se a compreensão dos mecanismos PNAD/IBGE de 2007, que o pico da renda de
explicativos que permitam, por um lado, dotar trabalho se dá aos 54 anos (Fig.1) e o auge da
o corpo gerencial de informações que o chance de dispor de ocupação aos 42 anos. O
auxiliem no planejamento e tomada de decisão referido estudo também revelou que a política
e; por outro, planejar o desenvolvimento de pública no Brasil favoreceu a ascensão
projetos de pós-graduação que atendam às econômica da juventude.
expectativas do mercado e dos graduados.

Figura 1 – Mercado de Trabalho e Ciclo de Vida - 2007

Fonte CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


69

A fig. 2 revela com clareza como a educação, salários dos universitários pós-graduados são
medida em anos de estudo (0 a 18 anos), 544% superiores aos dos analfabetos e a
impacta na ocupação e nível salarial da mão- chance de ocupação no mercado de trabalho
de-obra. Neri (2008, p.36) destaca que os de 422% superior.

Figura 2 – Retorno Educacional por Anos de Estudo – 2007

Fonte CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

Segundo Neri (2008,p.38) destaca que específica e identificar, ou tentar identificar, os


analisando hoje a população em idade ativa, o diversos processos que interagem no contexto
crescimento do salário chega a 15,07% por estudado.
cada ano adicional de estudo e 3,38% para
O escopo do trabalho envolveu 50,93% do
taxa de ocupação.
montante de acadêmicos do último período
dos cursos de bacharelado e tecnológico
conforme os seguintes quadros
3 MATERIAL E MÉTODO
discriminativos.
O método a ser utilizado na pesquisa é o
estudo de caso. Bell (1989) ressalta que o
estudo de caso tem sido descrito como um 4 EXAME DOS DADOS DA PESQUISA
termo guarda-chuva para uma família de
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE
métodos de pesquisa cuja principal
PESQUISA
preocupação é a interação entre fatores e
eventos. Como vantagens para a O público-alvo da pesquisa (formandos de
implementação do método, BELL (1989) 2011) está predominantemente situado na
destaca a possibilidade do pesquisador faixa etária de 18 a 25 anos (Fig. 3).
concentrar-se em um aspecto ou situação

Figura 3 – Perfil etário dos formandos pesquisados

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


70

Esta proporção representa bem a realidade de todos os cursos estudados com exceção da segunda
turma do Curso de Direito, que apresenta maior prop
orção na faixa de 26 a 34 anos (40%). longo de sua formação acadêmica (Fig.4),
observa-se que, em geral, houve um nível de
Na perspectiva dos formandos quanto ao seu
aproveitamento – entre bom e ótimo – de 75%
desempenho e aproveitamento dos
do curso na perspectiva dos próprios
conhecimentos e habilidades trabalhados ao
discentes.

Figura 4 – Desempenho acadêmico declarado

Na análise por Curso destacou-se, dentre os Para a realização das provas de significação
bacharelados, o Curso de Engenharia Civil estatística, foram adotados os supostos
como melhor percentual de aproveitamento paramétricos de variável dependente
acadêmico (43%). Nos Tecnológicos, quantitativa contínua medida em uma escala
Processos Gerenciais apresentou o melhor de intervalo e amostra procedente de uma
desempenho (25%). O curso de Engenharia população com distribuição normal.
Civil também apresenta o maior índice de
A amostra contou com um total de 82 discentes
amadurecimento profissional dentre os cursos
formandos (50,93% do total) para um nível de
analisados.
significância de 95% e um erro amostral de 1,5
com um desvio-padrão populacional calculado
em 6,97.
5 TESTE DE HIPÓTESES
O teste de contraste trabalha com a hipótese
nula de que a formação acadêmica agregou 5.1 TESTE DE HOMOSCEDASTICIDADE
valor aos formandos o qual assume um nível de (ANOVA)
significância (erro alfa) de 0,05 com prova
Com o intuito de corroborar os supostos
bilateral. Os sujeitos da pesquisa são formados
paramétricos sobre a homogeneidade de
pelos diferentes cursos de graduação da IES
variâncias, realizou-se o teste de
com diferente número de observações,
homoscedasticidade (Tab.1).
constituindo assim, dados independentes.
BISQUERRA (2004, p.77).

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


71

Tabela 1 – Teste de Homocedasticidade

Os graus de significação das variáveis apresentam o valor (em módulo) do grau de


amadurecimento profissional (p=0,011), significação calculado “p” inferior ao valor do
formação acadêmica (p=0,017), satisfação nível de significância “α”.
com o curso (p=0,022) e satisfação com a IES
(p=0,002) são significativas ao nível de 95%
(α=0,05). Isto posto, rejeita-se a hipótese nula 5.2 ANÁLISE DE VARIÂNCIA (ANOVA)
de homogeneidade de variâncias entre os
Com o intuito de comparar as médias dos
grupos analisados. Tal fato ocorre quando as
cursos simultaneamente (Tab.2) a fim de
diferenças observadas entre as variâncias de
verificar se as amostras procedem da mesma
dois ou mais grupos (Anova) são
população, efetuou-se o teste ANOVA.
estatisticamente significativas, isto é,

Tabela 2 – Análise de Variância

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


72

Os resultados mostraram que se pode aceitar hipótese nula é que a população dos
a hipótese nula de que não existem diferenças formandos avalia (em média) como ótima
significativas entre as médias observadas, ou (conceito 4) a contribuição da graduação
seja, as diferentes amostras procedem da acadêmica para sua valorização profissional.
mesma população.
A intenção do teste está em avaliar a opinião
dos formandos pesquisados quanto à
agregação de valor do curso no qual estão
5.3 TESTE DE HIPÓTESE UNIVARIADO
concluindo e avaliar sua significância
Como teste de hipótese univariado, admite-se estatística em relação a avaliação (estimada)
que a população de formandos responderiam da população (conceito 4). O nível de risco (α)
em média um conceito ótimo (4,0) numa escala assumido é de 5
de 5 pontos (excelente) nas questões sobre
% nas duas caldas da distribuição t de Student
análise da graduação como fator de
(erro tipo I).
agregação de valor profissional e pessoal. A

Tabela 4 – Teste estatístico de um Fator

Os resultados do teste de hipóteses univariado continuidade na formação acadêmica dos


(Tab. 3), com um risco de erro α (tipo I) de 5% formandos está posta como segue:
(ou nível de significância de 0,05), demonstra
Os formandos pretendem cursar uma pós-
que não há motivos para se rejeitar a hipótese
graduação ligada à sua área de atuação
nula (H0). Isto implica dizer que todos os
profissional?
formandos concordam quanto a importante
contribuição da sua formação superior para o A expectativa é que a média populacional seja
seu amadurecimento profissional e à aplicação 4,0 em uma escala de cinco pontos. Assim, a
dos conhecimentos adquiridos no seu hipótese nula a ser testada é a de que a média
cotidiano. Outra questão relevante sobre a da população de formandos não será diferente
de 4,0.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


73

Tabela 5 – Teste estatístico de um Fator

Os resultados mostram (Tab. 5) que H0 pode onde está graduando, formulou-se a seguinte
ser aceita, isto é, os formandos de todos os questão:
cursos pesquisados julgam importante a pós-
Os formandos avaliam a pós-graduação da IES
graduação, principalmente, aquelas que
como sendo de alta qualidade?
estejam relacionadas à sua área de atuação
profissional. A hipótese nula a ser testada é a de que a
média da população de formandos não difira
Ao avaliar o conceito dos formandos quanto à
de 4,0.
qualidade da pós-graduação oferecida na IES

Tabela 6 – Teste estatístico de um Fator

Aceita-se H0, ou seja, julgam a pós-graduação Os formandos pretendem cursar uma pós-
da IES como sendo de elevada qualidade, graduação ligada à sua área de formação
somente os cursos de Engenharia Civil, Direito acadêmica?
1 e os Tecnológicos (Redes de Computadores,
Assim, a hipótese nula a ser testada é a de que
Processos Gerenciais). Já para Direito 2,
a média da população de formandos não será
Administração e Gestão Ambiental, rejeita-se
diferente de 4,0.
H0. Os resultados (Tab. 6) mostram que a
avaliação da pós-graduação pelos formandos
não apresenta um elevado conceito.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


74

Tabela 7 – Teste estatístico de um Fator

O teste aceita H0 e mostra que o interesse dos Uma última questão formulada diz respeito à
formandos em cursar uma pós- graduação pós-graduação pública.
ligada a sua área de formação é elevado (Tab.
Os formandos pretendem cursar uma pós-
7). Revela ainda que tal critério é mais
graduação somente em uma IES pública?
significativo ainda (ou prioritário) que o
interesse em uma pós-graduação ligada à sua
área de atuação profissional.

Tabela 8 – Teste estatístico de um Fator

Os resultados revelam que H0 é aceita para os 5.4 TESTE DE HIPÓTESES BIVARIADO


cursos Direito 1 e Gestão Ambiental, ou seja,
TABULAÇÃO CRUZADA COM O USO DA
há uma preferência clara por uma pós-
ANÁLISE QUI-QUADRADO
graduação em uma IES pública nestas turmas
(Tab.8). Contudo rejeita-se H0 para os cursos Com o objetivo de descrever relações entre os
Administração, Direito 2, Engenharia Civil e grupos e variáveis pesquisadas, procede-se a
Tecnológicos que não apresentam tal construção de uma tabela onde se tabula as
preferência. respostas para cada grupo e as compara entre
si. A análise qui-quadrado permite testar se há
diferenças estatísticas entre grupos.
As questões levantadas e suas respectivas
análises são:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


75

Há diferenças entre os formandos dos Cursos


analisados quanto à percepção do grau de
amadurecimento profissional proporcionado
pela graduação?

Tabela 9 – Teste Qui-quadrado

O teste qui-quadrado (Tab. 9) demonstra que A aplicação dos conhecimentos adquiridos ao


não há motivos para se rejeitar a hipótese nula longo da formação acadêmica diverge entre os
de igualdade de percepções entre os formandos dos Cursos?
formandos dos cursos quanto ao
reconhecimento do amadurecimento
profissional.

Tabela 10 – Teste Qui-quadrado

De acordo com o teste qui-quadrado (Tab.10), A avaliação da qualidade do curso e a validade


aceita-se a hipótese nula de igualdade de do seu diploma no mercado de trabalho
proporções entre os formandos dos Cursos diferem entre os formandos dos cursos
analisados no que diz respeito a aplicação dos pesquisados?
conhecimentos adquiridos ao longo da
formação em sua vida cotidiana.

Tabela 11 – Teste Qui-quadrado

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


76

Aceita-se H0 indicando que os formandos de semelhante e positivo sobre a qualidade do


todos os cursos analisados tem um conceito curso (Tab.11).

Tabela 12 – Teste Qui-quadrado

O mesmo pode ser dito sobre a credibilidade Existe relação entre o curso e o interesse do
do diploma no mercado (Tab.12). Aceita- se formando em ingressar em outra graduação?
H0 de modo que todos os formandos de todos
os cursos acreditam no valor do diploma desta
IES no mercado de trabalho.
Tabela 13 – Teste Qui-quadrado

A estatística qui-quadrado (Tab.13) mostra que seguem o padrão de escolhas teoricamente


não há influência nas respostas de um curso esperados.
sobre as respostas de outros cursos quanto à
Existe relação entre o curso e o interesse do
intenção dos seus formandos em ingressar
formando em ingressar em uma pós-
noutra graduação, isto é, todos os cursos
graduação lato ou strictu sensu?

Tabela 14 – Teste Qui-quadrado Latu Sensu

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


77

Tabela 15 – Teste Qui-quadrado Strictu Sensu

O teste qui-quadrado mostra que um curso não significativas e positivas. Tais relações estão
influencia nas opiniões dos outros cursos assim enquadradas nas seguintes questões:
(variáveis independentes). Com relação às
Par 1 – o amadurecimento profissional (variável
respostas de intenção dos seus formandos em
1) contribui para a aplicação dos
ingressar em uma pós-graduação, isto é, todos
conhecimentos dos formandos (Variável 2)?
os cursos seguem o padrão de escolhas
teoricamente esperados. Aceita-se, portanto, Par 2 – a qualidade do curso (variável 1)
H0 (Tab. 14) – Lato (p=0,336) e Strictu (Tab.15) contribui para o aumento da satisfação dos
(p=0,548) – de que a proporção de formandos formandos (Variável 2)?
dos cursos analisados que pretendem
Par 3 – a valorização do diploma no mercado
ingressar numa pós-graduação são
de trabalho (variável 1) contribui para a
semelhantes e favoráveis à formação
satisfação dos formandos com a IES (Variável
acadêmica continuada.
2)?
Par 4 – a formação acadêmica (variável 1)
5.5 COMPARAÇÃO DE DUAS MÉDIAS contribui para o ingresso dos formandos em
OBSERVADAS COM DADOS RELACIONADOS outras graduações (Variável 2)?
O objetivo deste teste está identificar se a A hipótese nula a ser testada é de que não há
correlação entre as variáveis relacionadas são relação entre as variáveis 1 e 2 elencadas.

Tabela 16 – Correlação da amostras pareadas

Através da análise de correlação de Pearson, é de 0,064 o que equivale dizer que apenas
observa-se que somente o par 4 (formação 6,4% da variação na formação acadêmica é
acadêmica e Interesse em outra graduação) explicada pelo ingresso em outro curso, fato
apresentam pequena mas definida força de este que resulta em muito pouca utilidade
associação (r = 0,253) com significância prática para efeito de análise. HAIR (2005,
estatística que implica na rejeição de H0. p.316)
Contudo, seu coeficiente de determinação (R2)

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


78

Os demais pares analisados são significativos equivale a uma moderada força de associação
(p = 0,0001) rejeitando-se H0 e aceitando a (0,41 a 0,70) com proporção direta entre
hipótese alternativa de que há uma relação amadurecimento profissional e aplicação dos
entre as mesmas. Seus respectivos conhecimentos (r = 0,65), qualidade do curso
coeficientes de determinação são 0,4212 (par e satisfação com o curso (r = 0,673) e peso do
1), 0,453 (par 2) e 0,2926 (par 3) diploma no mercado e satisfação com a IES (r
representando um razoável percentual de = 0,541).
explicação das variações observadas. O que

Tabela 17 – Teste de amostras pareadas

O objetivo deste teste está em comparar o nível Deste modo, a hipótese nula é a que não há
de empregabilidade e ganhos financeiros dos relação entre tais níveis de empregabilidade e
formandos no momento inicial e final do curso. ganhos.

Tabela 18 – Teste de correlação de amostras pareadas

Com base na análise de correlação de Pearson A primeira faixa de renda (até um salário
(Tab.18) os resultados mostrados no quadro mínimo) apresenta correlação inversa quase
acima para o Par 1 – variável emprego no início imperceptível (r=-0,054) com grau de
e final do curso – mostram uma pequena, mas significação de 0,63, (aceita-se H0) atestando
definida correlação entre as variáveis (r = assim que os ganhos de renda dos
0,337) para um grau de significação de 0,002 acadêmicos empregados no início do curso
(rejeita-se H0), o que implica dizer que nesta faixa não influenciam nos ganhos desta
trabalhar no início do curso contribui para a mesma faixa ao final do curso. Na segunda
inserção do acadêmico no mercado de faixa (um a três salários mínimos), a correlação
trabalho ao final do curso. Contudo, como o é pequena, mas definida (r = 0,22), para um
coeficiente de determinação (R2) é de apenas grau de significação de 0,45 (rejeita-se H0) e
11,35%, a análise fica comprometida por coeficiente de determinação de 4,84%
apresentar pouca utilidade em termos práticos, resultando em conclusões análogas à faixa de
haja vista sua reduzida capacidade de renda anterior. Na terceira faixa de renda (de
explicação das variações. HAIR (2005, p.316) três a cinco salários mínimos) a correlação é
quase imperceptível (r = 0,159), entretanto, o
grau de significação por não ser expressivo (p

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


79

= 0,152) faz com que a hipótese nula seja concluir que não existe uma relação coerente
aceita. Evidenciando, assim, que não há e sistemática entre as variáveis ou; que a
relação entre ganhos de renda nesta faixa nos associação existente não têm natureza linear,
períodos sob análise. A quarta faixa de renda necessitando assim, considerar outros tipos de
(de cinco a dez salários mínimos) têm-se uma relação. Por outro lado, mesmo nos casos em
correlação inversa pequena mas definida (r = - que se verifica a significância estatística, isso
0,025) com grau de significação de 0,845 não implica dizer que têm significância (ou
(aceita-se H0). A conclusão segue o mesmo aplicabilidade) na prática.
padrão da análise desenvolvida na faixa de
renda anterior.
5.6 O PERFIL DA INSERÇÃO DOS
Por outro lado, somente na faixa de dez
FORMANDOS NO MERCADO DE TRABALHO
salários mínimos e acima ocorre uma alta
correlação (r = 0,703) entre a realidade inicial Os dados mostram que o nível de emprego dos
e conclusiva do curso. O teste revelou que há formandos no início do curso é de 41% do total
uma relação significativa entre os ganhos dos de ingressantes (Fig.5). As funções de
formandos situados nesta faixa de renda Assistentes predominam nos acadêmicos de
(rejeita-se H0). Em outros termos, pode-se Administração, Engenharia Civil e
concluir que formandos que ingressaram no Tecnológicos e representam 61% do total de
curso, já empregados e, auferindo uma formandos empregados. Atividades
elevada renda, tenderam a manter tal situação microempreendedoras (4,9%) e funções de
no decorrer do curso e expandir seus ganhos Direção (2,4%) e Presidência (4,9%), só foram
de renda ao final deste. Tal fato é corroborado verificadas nos acadêmicos de Direito. Cargos
ainda por um coeficiente de determinação de de gerência (4,9%) só manifestaram-se nos
49,42%. cursos de Administração e Tecnológicos.
HAIR (2005, P.316) observa que nos casos
onde a correlação for pequena, pode-se

Figura 5 – Mercado de Trabalho e Ciclo de Vida – 2007

Tal fato pode ser corroborado mediante uma de que a população de formandos já se
análise mais robusta com base nos dados encontra inserida no mercado de trabalho ao
levantados. Aplicou-se, portanto, o teste ingressar no curso superior. O nível de
univariado t de Student onde a hipótese nula é significância aceito é de 5% nas duas caldas.

Tabela 19 – Teste estatístico de uma Amostra

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


80

Os resultados (Tab.19) revelaram (p = 0,0001) de trabalho na fase conclusiva do curso. Com


que os formandos no início do curso não se significância de 5% realizou-se o teste t para
encontram significativamente – do ponto de os dados coletados.
vista estatístico – inseridos no mercado de
Os resultados mostram que mesmo estando no
trabalho (rejeita-se H0).
período conclusivo de sua formação, a
Com relação ao emprego no final do curso as inserção dos formandos no mercado de
análises mostraram que persiste ainda o trabalho ainda é pouco significativa (rejeita-se
cenário de baixa alocação no mercado de H0). Em termos percentuais, 61,4% dos
trabalho, conforme os dados a seguir. pesquisados declararam que estavam
trabalhando.
A hipótese nula é a de que a população de
formandos encontra-se inserida no mercado

Tabela 20 – Teste estatístico de uma Amostra

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS num potencial nicho mercadológico a ser


prospectado.
Com base nos dados e análises desenvolvidos
ao longo deste trabalho, pode-se destacar Quanto a sua formação, os formandos
alguns aspectos relevantes com respeito ao compreendem sua importância e acreditam
perfil dos formandos e suas perspectivas de que devem continuar investindo em sua
formação profissional e acadêmica. formação como instrumento de valorização e
qualificação profissional. Contudo, a pesquisa
No que concerne à empregabilidade dos
mostra que outras competências e habilidades
formandos, verificou-se que sua inserção no
que compõem a categoria empregabilidade
mercado não se dá imediatamente e/ou
necessitam ser trabalhadas em sua formação
predominantemente ao longo do curso. Isto
com vistas a elevar o índice de inserção no
também inclui as transformações em suas
mercado de trabalho após o término da
faixas de renda. Por outro lado, observa-se que
graduação com ganhos significativos de
a captação de acadêmicos oriundos de
renda.
empresas (turmas empresariais)
principalmente nos setores secundário Neste aspecto a pesquisa revelou que a pós-
(indústria) e terciário (comércio) constitui-se graduação representa um campo da formação

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


81

superior que deverá estar focado muito mais valorização profissional, expressos na
na área de formação acadêmica que nas credibilidade do diploma e na satisfação com
atuais funções desempenhadas pelos o curso e a Instituição de Ensino Superior (IES).
graduados no mercado de trabalho de modo Todavia, vale destacar que a satisfação com a
que a especialização como diferencial IES está vinculada a questões também
competitivo para o profissional torna-se mais administrativas que, por sua vez, influencia no
relevante que as adequações de sua formação conceito de qualidade da pós-graduação por
às atividades circunstancialmente parte dos acadêmicos da graduação. Isto
desempenhadas no mercado de trabalho. posto, a pesquisa revelou que fatores extra-
pedagógicos, mas que compõem a IES, tem
Outro ponto importante a ressaltar está na
papel decisivo para uma boa avaliação da
crença dos pesquisados que curso com
instituição.
qualidade reflete positivamente em sua

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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


82

CAPÍTULO 7
A PREPARAÇÃO DE GESTORES PARA ONGS: UM CAMPO
A SER EXPLORADO
Victor Cláudio Paradela Ferreira
Kamila Barbosa de Assis
Joana Aparecida de Oliveira
Rafaela Knaip Alves da Fonseca

Resumo: O presente artigo aborda os desafios envolvidos na preparação de gestores


para atuação nas organizações não governamentais (ONGs). A pesquisa foi
realizada no curso de graduação em Administração da Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF) e partiu do pressuposto que a formação oferecida não tem se
direcionado para esse tipo de organização, restringindo-se, basicamente, às
empresas privadas. Em uma primeira etapa, foram entrevistados os alunos,
levantando-se a representação social de ONGs por eles mantida, as percepções
sobre perspectivas de trabalho no terceiro setor e o quanto se percebiam aptos a
nele atuar. Em seguida, foram ouvidos os professores, buscando-se levantar se a
abordagem por eles adotadas nas disciplinas que ministram abrange as
especificidades desse tipo de organização e como têm sido trabalhada a
possibilidade de que os alunos nelas venham a atuar profissionalmente. Constatou-
se, então, que, por parte dos alunos, há um grande desconhecimento sobre as
possibilidades de atuação nas ONGs, a qual é percebida somente pela via do
voluntariado e não do trabalho profissional do Administrador. Já em relação aos
docentes, verificou-se que pouca ou nenhuma atenção têm dado à formação para
essas organizações e que tampouco têm estimulado os alunos a nelas pensar como
campo de atuação.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


83

1. INTRODUÇÃO curso mantido pela Universidade Federal de


Juiz de Fora, tendo sido entrevistados seus
As Organizações Não-Governamentais
discentes e docentes. Foi realizado o
(ONGs) têm crescido em importância na
mapeamento da representação social de
sociedade brasileira, expandindo suas áreas
ONGs mantida pelos estudantes, tendo em
de atuação e envolvendo um crescente
vista que as representações direcionam as
número de pessoas nas atividades que
percepções e os comportamentos dos grupos
desempenham. Essas instituições
sociais que as sustentam. Outras perguntas,
conquistaram um notório espaço devido, entre
apresentadas a ambos os grupos
outros fatores, à crescente preocupação com
pesquisados, buscaram levantar se os sujeitos
temas ligados a questões sociais, que tem
entrevistados percebem o potencial dessas
envolvido um grande número de projetos
organizações como campo de trabalho e o
desempenhados e de recursos utilizados.
quanto o curso estudado tem proporcionado
Deixaram, então, de ser apenas uma forma de
uma preparação adequada para esta
assistencialismo e tornaram-se entidades
finalidade.
capazes de influenciar o desenvolvimento
social do país. O artigo, que apresenta os principais
resultados alcançados, está dividido em cinco
Em consequência da expansão e da
seções, contando com esta introdução. A
diversificação das atividades que
próxima destaca o referencial teórico adotado.
desenvolvem, essas organizações passaram a
Depois, é apresentado o percurso
enfrentar um novo patamar de desafios
metodológico escolhido. Em seguida, são
gerenciais. Por vezes mobilizando muitas
expostos e analisados os resultados obtidos no
pessoas, entre financiadores, gestores,
campo. Por fim, apresentam-se as conclusões
funcionários e voluntários, e movimentando
a que foi possível se chegar.
volumosos recursos financeiros, tornam-se
mais complexas do que muitas empresas
privadas. Observa-se, no entanto, que essa
2. REFERENCIAL TEÓRICO
crescente complexidade não tem sido
acompanhada, nos níveis desejáveis, do A expressão Terceiro Setor, que designa as
desenvolvimento de teorias adaptadas às suas organizações privadas de interesse público,
peculiaridades nem tampouco da formação de começou a ser ampliada após crises e guerras
pessoal qualificado para enfrentar as que geraram uma necessidade de
especificidades gerenciais envolvidas. Os movimentação social favoráveis à população
administradores, profissionais mais marginalizada (ALBUQUERQUE, 2006). De
diretamente voltados para a ciência da gestão, acordo com Pressburger (1996), após a
pouco têm se preparado para assumir os segunda grande guerra, os países europeus,
desafios inerentes às ONGs, não apenas pela sensibilizados com os duros acontecimentos,
quase inexistência de disciplinas que os passaram a contribuir com o desenvolvimento
preparem para geri-las, mas também pela falta de suas antigas colônias. Todavia, devido à
de visão de que se trata de uma interessante complexidade entre as relações das nações,
opção em termos de mercado de trabalho. foi necessária a criação de organizações de
Esse tipo de organização representa uma cooperação vinculadas à sociedade civil como
oportunidade para quem deseja aliar sua solução para o repasse de recursos
carreira com o alcance de ideais de justiça, governamentais, sem a ligação com o Estado.
comprometidas com a busca do bem comum. Foi nesse contexto que surgiram as ONGs, que
O quadro atual tem dificultado, todavia, o representam uma importante parte do
aproveitamento desse potencial. chamado terceiro setor (PRESSBURGER,
1996; MELO, 1997).
Foram esses os pressupostos da pesquisa
cujos resultados estão aqui apresentados, que No Brasil, segundo Falconer (1999), o Terceiro
teve como objetivo geral identificar as Setor começou a ganhar mais força a partir dos
percepções de alunos e professores de um anos 1970, por meio dos movimentos sociais.
curso de graduação em administração sobre As ONGs, por sua vez, cresceram muito a
as possibilidades de atuação profissional dos partir da década de 1980 e assumiram um
administradores nas organizações não- papel de grande destaque e popularização
governamentais e o quanto a formação após a Conferência das Nações Unidas sobre
acadêmica ofertada está adequada para esse o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
tipo de instituição. O estudo foi realizado no conhecida como ECO-92 (FERREIRA, 2005) e

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


84

com o apoio do Banco Mundial, que as privada para um modelo mais característico do
apresentou como substitutas da ação setor público, devendo atuar de forma
governamental na esfera ligada ao transparente e iii) passar da resistência à
desenvolvimento social (SOUZA, 1992). Um proposta, ou seja, de uma ação contra o
exemplo disso é o fato da Associação Estado e à margem do mercado a uma ação
Brasileira de ONGs (ABONG) ter recebido participante.
financiamento de diversos doadores, como o
Isso fez com que houvesse uma crescente
Banco Interamericano de Desenvolvimento
necessidade de reformulação dos modelos
(BID), para explorar a possibilidade de criar
gerenciais, já que, normalmente, a gestão
uma fundação comunitária no Brasil voltada a
dessas organizações ocorre de forma simples
apoiar a consolidação dessas organizações
e amadora. Conforme destaca Tachizawa
(GARRISON, 2000).
(2002), esse fato decorre, principalmente, do
Cavalcante et al (2015) destacam que, entre as fato de que a qualificação possuída pela
décadas de 1960 a 1980, a maioria dos países maioria dos profissionais que atuam no campo
da América Latina estiveram sob regimes do terceiro setor concentra-se apenas nos
militares, marcados pela manutenção de aspectos técnicos relacionados ao cargo de
formas verticais de sociabilidade política e atuação, como atenção à saúde, por exemplo,
baixa participação civil. A redemocratização não gerando, portanto, uma preocupação com
que veio a seguir trouxe novas oportunidades a formação gerencial.
de participação da sociedade na busca de
Tenório (2005) destaca que as entidades do
resolução de seus principais problemas, os
terceiro setor não podem prescindir da busca
quais foram agravados por crises vivenciadas
de eficiência na condução das funções
na atuação estado, com o enfraquecimento do
básicas da administração: planejar, organizar,
modelo de welfare state (BRODHEAD, 1992).
dirigir e controlar, conforme definição clássica
DeLuiz et al (2016) realçam outro importante de Henri Fayol, um dos pioneiros dos estudos
papel desempenhado pelas ONGs após a sistemáticos da gestão. Assim como outros
redemocratização: a mediação entre coletivos tipos de organização, precisam também
de indivíduos organizados e o aparato estatal. preocupar-se com seu equilíbrio financeiro à
Em países com um sistema político pouco qual, entretanto, é acrescida, no caso das
consolidado, como o Brasil, esse papel se ONGs, de sustentabilidade política e social,
reveste de especial importância, tendo em sendo, portanto, mais complexos os desafios
vista as deficiências encontradas nos enfrentados.
mecanismos tradicionais de representação
Como realçam Da Silva Pereira et al (2013),
política. Tais organizações, entretanto, foram
outro característica que deve ser destacada
bem além da canalização de demandas
nas organizações sociais é que, em geral,
sociais, passando também a atuar diretamente
trabalham por projetos, com prazos e recursos
na oferta de serviços de interesse coletivo.
bem estabelecidos e a necessidade de
Nesse contexto, Merege (1997) destaca que, interação rica entre pessoas, setores e
devido ao importante papel desenvolvido públicos externos. Esse modelo de
pelas organizações do Terceiro Setor, há a gerenciamento tem sido difundido, nas
concordância sobre a possibilidade de organizações privadas, como eficiente e
geração de uma sociedade menos conflitante. favorável ao alcance de objetivos complexos.
Diminui-se, assim, a lacuna existente entre a
Conforme destaca Merege (1997), diversas
demanda e a oferta de serviços sociais e
características possuídas pelas ONGs fazem
permitindo ainda a criação de novos meios de
com que difiram substancialmente da lógica
trabalho.
administrativa típica das empresas privadas.
Diversas são, porém, as necessidades que Embora os conhecimentos sobre gestão
precisam ser supridas para que as ONGs construídos para um determinado tipo de
possam desempenhar a contento o relevante organização (as empresas, no caso), possam
papel social que delas se espera. De acordo ser transferidos para outras, esse movimento
com Feichas (1995), durante a década de não pode ser feito sem as devidas adaptações.
1990, essas organizações tiveram que
Dentre os aspectos favoráveis que costumam
enfrentar alguns desafios: i) passar do micro
ser encontrados na gestão das organizações
ao macro, contribuindo para o
não governamentais destaca-se a tendência a
desenvolvimento econômico e social de forma
manter uma atuação focada nas necessidades
mais ampla; ii) passar da lógica da gestão

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


85

dos públicos atendidos e flexível. Garrisson Essas constatações, encontradas na revisão


(2000) destaca ainda a maior facilidade que as da literatura efetuada, confirmaram os
ONGs manifestam para manter redes flexíveis pressupostos adotados, expostos na
e interconectadas reunindo organizações introdução, e reforçaram a relevância de que
congêneres e outros atores sociais. seja buscada uma melhor compreensão dos
motivos que levam ao pouco direcionamento
Vale destacar que a qualificação para o
da formação dos administradores para
trabalho dos gestores precisa ser específica
atuarem nas ONGs. A seguir, são expostos os
para as particularidades apresentadas por
procedimentos metodológicos seguidos na
essas instituições. Isso se dá pelo fato de que
pesquisa.
as ONGs possuem características distintas
das comumente vivenciadas nos setores
públicos ou privados. É necessário, portanto,
3.METODOLOGIA
prudência com a transferência de métodos
administrativos das empresas para as A pesquisa foi conduzida por uma abordagem
organizações sem fins lucrativos, para não de natureza qualitativa, tendo em vista que
gerar transtornos e prejuízos às características privilegiou a percepção dos sujeitos
dessas instituições (MEREGE, 1997). Sendo entrevistados. Contou com uma orientação
assim, é necessário alavancar essas ontológica construtivista, sendo desenvolvida
peculiaridades e valores para os possíveis de acordo com a abordagem
trabalhadores, já que elas estão voltadas para interpretacionista. Com base na classificação
uma ação social transformadora e não se proposta por Vergara (2014), a pesquisa
dedicam em administrar no sentido clássico realizada caracterizou-se, em relação aos fins,
(TENÓRIO, 2005). como descritiva, pois apresentou as opiniões e
percepções levantadas sem buscar
Jaeger e Fernandes (2011) destacam que a
estabelecer relações de causa e efeito e
educação superior tem um papel de grande
aplicada, tendo em vista que abordou um tema
relevância social: formar profissionais que não
da realidade concreta. Em relação aos meios,
sejam somente técnicos, agindo também como
usando a mesma taxonomia, pode ser
cidadãos que se colocam a serviço da
classificada como bibliográfica, por ter
comunidade e que buscam construir uma
envolvido a construção de um referencial
sociedade mais justa. Percebe-se, assim, que
teórico que lhe serviu de base; de campo, uma
a atuação em ONGs representa uma forma de
vez que foram realizadas entrevistas com
alcance desse objetivo.
membros do universo pesquisado e estudo de
A percepção do terceiro setor como uma caso, tendo em vista que enfocou
alternativa de campo de trabalho poderia especificamente o caso da UFJF.
também servir para amenizar as dificuldades
Conforme já destacado, a pesquisa buscou
enfrentadas de inserção profissional dos
suporte na Teoria das Representações Sociais,
administradores. Como destacam Andrade,
formulada originalmente por Serge Moscovici,
Souza e Pires (2013), o mercado de trabalho
psicólogo nascido na Romênia, que se
encontrado pelos egressos das universidades
naturalizou francês e desenvolveu sua carreira
brasileiras apresenta-se cada vez mais
naquele país. Tendo como origem os estudos
instável, exigente e fluido, refletindo mudanças
que desenvolveu em seu doutoramento,
observadas na sociedade global. Todavia, os
Moscovici publicou o livro LaPsychanalyse:
cursos de Administração, em geral, pouco
Son image et son public (MOSCOVICI, 1961),
enfatizam os aspectos referentes à formação
que logo alcançou grande repercussão,
de gestores para essas organizações.
tornando-se nos anos seguintes um dos
Questionamentos referentes à maneira como é
enfoques predominantes da Psicologia Social
dada a formação dos administradores acabam
na Europa Continental.
sendo constantes, como demonstram Pinto e
Salume (2013). Outro ponto de destaque é o As representações sociais podem ser
fato do direcionamento exclusivo para a gestão definidas como formas de conhecimento
de empresas privadas, principalmente as de socialmente elaboradas e partilhadas,
grande porte, realçado por Iizuka (2014). possuindo orientação prática e concorrendo
Poucas são as disciplinas referentes a outros para a construção de uma realidade comum a
tipos de organizações, que também merecem um determinado conjunto social. A
atenção devido às suas particularidades. representação de um dado objeto não se
constrói isoladamente; articula informações

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


86

que, na relação com os outros, a experiência apresentadas aos alunos, também de natureza
com aquele objeto aportou ao sujeito aberta, com foco no quanto as disciplinas e o
(JODELET, 2001). Sendo dinâmicas, elas curso estão direcionados para o trabalho nas
produzem comportamentos e influenciam organizações não governamentais.
relacionamentos, englobando ações que se
A próxima seção apresenta os principais
modificam umas às outras. Não são simples
resultados obtidos. Para manter a
opiniões a respeito de algo ou imagens de
confidencialidade das respostas, os
algum objeto. São verdadeiras teorias
respondentes são aqui identificados pelo
construídas coletivamente, destinando-se à
número da entrevista realizada (A1, A2... para
interpretação e à construção da realidade
os alunos e D1, D2... para os docentes).
(MOSCOVICI, 2004). Essa teoria revela-se,
portanto, uma importante opção para
pesquisadores no campo da Administração,
4. RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
pois facilita o entendimento das manifestações
sociais e dos processos de escolha individuais Na primeira etapa, mapeou-se, como
e coletivos. explicado na seção anterior, a representação
social de ONGs mantida pelos alunos. Apenas
O levantamento de dados, contou, em um
três categorias, a seguir comentadas
primeiro momento, com entrevistas junto a
constituíram o núcleo central. O fato de serem
alunos do curso estudado, começando pela
poucas indica, conforme Ferreira (2005), que a
técnica de evocação livre de palavras, sendo
representação em questão está bem
solicitado que dissessem o que lhes vinha à
consolidada, que há uma grande coesão de
mente quando ouviam a expressão “ONG”. Por
ideias a respeito do fenômeno investigado por
meio desta técnica, é possível mapear a
parte do grupo pesquisado.
representação social de um determinado
objeto de estudo, as ONGs, no caso. Em A categoria “ajuda/solidariedade” foi a de
seguida, foi solicitado aos entrevistados que maior frequência de citação. A elevada
estabelecessem uma hierarquia entre as importância que esse conceito apresentou na
palavras pronunciadas, atribuindo “1” àquela representação social estudada demonstra que
que considerava mais fortemente relacionada os alunos pesquisados relacionam as ONGs
ao conceito de “ONG”, “2” para a segunda mais com a prestação de apoio a pessoas
mais importante e assim sucessivamente. Esse carentes ou grupos fragilizados do que como
procedimento é relevante para a identificação promotoras de ações para a consolidação de
do núcleo central, que representa a parte mais condições sociais mais justas, conforme
importante da representação (VERGARA, defendem diversos dos estudiosos
2006). mencionados no referencial teórico.
Após a evocação livre de palavras, foram A categoria “ação social” reuniu diversas
apresentadas aos entrevistados quatro expressões relacionadas à contribuição para
questões abertas, cujos temas e respostas uma sociedade mais justa, tais como: “fazer o
estão expostas na seção que apresenta os bem”, “boa ação”, “social” e “prestação de
resultados obtidos. Buscou-se, nessa etapa, a serviço à comunidade”. Mais uma vez,
realização de um censo, sendo todos os percebe-se a visão de que as ONGs têm como
discentes do curso convidados a participar. objetivo principal auxiliar as pessoas,
Nem todos foram entrevistados, entretanto, por desempenhando, portanto, um papel mais
diversos motivos, como incompatibilidade de assistencialista.
horários e o fato de alguns alunos não
A terceira categoria, “trabalho voluntário”, foi
frequentarem mais disciplinas. Assim, dos 347
apontada como sendo a mais importante pelo
matriculados no curso, foram entrevistados
maior número de entrevistados. Um dos alunos
194 alunos.
(A40), afirmou que “as pessoas fazem isso sem
Na etapa seguinte, foram entrevistados os esperar nada em troca”. A despeito de parecer
professores do curso, restringindo-se a natural a lembrança do trabalho voluntário que,
pesquisa aos que ministram as disciplinas de fato, representa uma importante dimensão
diretamente relacionadas à formação das ONGs, seria desejável que os alunos
profissional. Tal escolha se deveu ao interesse percebessem essas organizações também
específico em investigar como tem se dado a como um campo propício à atuação
preparação para o trabalho em ONGs. A esses profissional.
foram formuladas perguntas similares á

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


87

Foi indagado, a seguir, se já tinham pensado ter pensado, muitos justificaram pelo fato de
em trabalhar na gestão de uma ONG. Dos 194 precisarem ter uma remuneração para se
entrevistados, 62 disseram que sim. Quando manter, indicandoque só enxergam o trabalho
indagados sobre o porquê, todavia, constatou- voluntário.
se que 8 desses referiam-se ao voluntariado. O
Na pergunta seguinte, foi indagado quais
A38, por exemplo, disse que “acho legal por
seriam as principais vantagens e facilidades
ser uma doação de tempo” e o A74 afirmou
que um gestor de ONGs encontra. Os
que “é legal fazer o bem sem receber nada em
resultados obtidos estão expostos na tabela a
troca”. Ou seja, da realidade apenas 54 alunos
seguir.
pensaram, de fato, em atuar profissionalmente
em uma ONG. Dentre os que afirmaram nunca

Tabela 1: Facilidades da gestão em ONGs


Vantagens e facilidades Fi
Oferecer contribuição à sociedade 35
Menor pressão por resultados 26
Facilidade no gerenciamento de pessoas, mais motivadas 25
Incentivos do governo e financiamento de empresas 24
Menor burocracia, maior flexibilidade e liberdade de ação 23
Oportunidade de desenvolvimento pessoal 18
Nenhuma 16
Realização pessoal 15
Status e reconhecimento social 10
Não sabe responder 6
Fonte: dados da pesquisa
A resposta de maior frequência, relacionada que afirmou que o gestor “não precisa ter um
ao papel social desempenhado pelas ONGs, conhecimento muito profundo, pois essas
pode ser considerada como previsível, dada a organizações carecem de qualquer suporte
natureza dessas organizações. Logo depois, gerencial”. Trata-se de mais uma ideia no
como se vê, surgiu a alegação de menor sentido de que as ONGs são pouco
pressão por resultados. Nos comentários profissionais e que o trabalho nelas
formulados pelos alunos que ofereceram essa desenvolvido é amador e na base da boa
resposta foi bastante destacada a ideia de vontade.
que, em empresas privadas, a busca pelo
Oportunidade de desenvolvimento pessoal foi
lucro tem gerado um estresse muito elevado.
relacionada à possibilidade de aprendizado,
Trata-se portanto, não de uma vantagem por si
mas alguns disseram claramente que seria
só e sim de um contraste com outro tipo de
apenas uma ponte para outros trabalhos, como
organização considerada pior. Muito citada
o A137 que afirmou que “o gestor ganha
também, a facilidade na gestão de pessoas é
experiência valorosa para trabalhos futuros”.
vista como decorrente de uma suposta boa
Realização pessoal foi relacionada ao
vontade de quem trabalha nesse tipo de
sentimento de estar fazendo algo útil para a
instituição. O A148 afirmou que “todos
sociedade, percebida pelos entrevistados
trabalham por vontade própria”, revelando
como algo enobrecedor. Embora tenha
uma visão, partilhada por diversos outros
alcançado menor frequência, a percepção de
entrevistados, de que a atuação em ONGs está
que trabalhar em uma ONG dá status chamou
sempre relacionada a boas intenções e não a
a atenção. Segundo o A96, “ganha-se
uma escolha profissional. Incentivos do
admiração e reconhecimento” e o A119
governo e apoio de empresas foi uma ideia
afirmou que “fica com fama de pessoa boa,
relacionada a uma suposta facilidade para
com credibilidade”. Três alunos explicitaram
captação de recursos a qual, todavia, quem
que tal trabalho seria bom para o currículo e
conhece mais de perto a realidade das
facilitaria a obtenção de outros empregos
organizações sociais, sabe que não ocorre. A
depois, uma vez que as empresas valorizam
resposta seguinte demonstrou uma percepção
quem tem sensibilidade social.
de que os modelos de gestão adotados são
mais flexíveis, menos burocráticos. Alguns A pergunta seguinte abordou os problemas e
alegaram que é mais fácil trabalhar em dificuldades que os alunos imaginavam que os
organizações menos estruturadas, como o A32 gestores das ONGs precisavam enfrentar,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


88

sendo obtidas as respostas demonstradas na


tabela a seguir.

Tabela 2: Dificuldades da gestão em ONGs


Problemas e dificuldades Fi
Dificuldades de obter apoio e recursos financeiros 128
Dificuldade em gerir pessoas 23
Preconceitos e falta de credibilidade 18
Gestão pouco profissional 7
Nenhuma 6
Baixa remuneração 5
Gestão mais complexa 5
Burocracia e leis restritivas 3
Não são geridas por resultados e tem menor pressão 2
Fonte: dados da pesquisa
Como se vê, a questão financeira é percebida absoluta diante de um mercado de trabalho
pela maioria como o problema por excelência muito restritivo como o atual. Gestão mais
do trabalho em ONGs, o que faz sentido e complexa foi relacionada ao fato de haver
representa, de fato, um grande desafio. O questões políticas envolvidas e a necessidade
segundo problema com maior número de de se obter legitimação social, percepção que
citações, a dificuldade para gerir pessoas, é coerente com a realidade desse tipo de
refere-se, principalmente, à visão restritiva instituição. Já burocracia e leis mais restritivas
manifesta pelos entrevistados que, conforme já demonstra desconhecimento do fato de que,
destacado, pensam apenas no trabalho do ponto de vista jurídico, as organizações
voluntário. O A49, por exemplo, afirmou que sociais são equiparadas ás empresas
“deve ser difícil trabalhar com quem não é privadas, não havendo limitações legais
remunerado”. Chamou a atenção também o diferenciadas. Por fim, os dois alunos que
significativo número de pessoas que afirmaram alegaram não ser bom trabalhar sobre pressão
haver preconceito em relação aos que atuam e cobrança de resultados revelaram que
nas organizações não governamentais. O A69 partilham da visão, muito difundida na gestão
afirmou que “as pessoas que estão na ONG empresarial atual, de que é preciso adotar
não são vistas como tão boas quanto aquelas metas ousadas e manter pressão por
que estão em empresas privadas”. O A109 resultados.
disse que “não é um trabalho valorizado”.
A última questão indagou: “Até que ponto você
Sobre os que responderam que a gestão
considera que o curso oferece uma
costuma ser pouco profissional, chama a
preparação adequada para atuar na gestão de
atenção que não considerem que o grau de
ONGs? Por que?” Assim como nas demais,
profissionalismo adotado depende,
não foram aqui oferecidas opções prévias de
fundamentalmente, do próprio gestor. Baixa
respostas, as quais, após categorizadas,
remuneração é uma alegação que parece
ficaram conforme exposto na figura 1.
fazer sentido, mas que não é uma verdade

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


89

Figura 1: o quanto o curso prepara para gerir ONGs

Fonte: dados da pesquisa

Como se vê, a maioria dos alunos considera por exemplo, disse que “Dá uma boa base,
que o curso não oferece nenhum preparo para porque ONG é considerada como uma
o gerenciamento das ONGs. Quase todos os empresa, então as práticas de gestão
que deram essa resposta comentaram que ensinadas são suficientes”. Nessa mesma
percebem que a formação é voltada apenas direção, disse o A140: “Sim, porque a ONG
para as empresas privadas. Alguns disseram não se difere muito de empresa privada. Ela
que o currículo não contempla disciplinas também possui custos e despesas, por
específicas e outros colocaram a exemplo, e também possui uma imagem a
responsabilidade nos docentes, como, por zelar” e ainda o A146 “Sim, pois na técnica
exemplo, o 116, que disse “Os professores não ambos (empresa privada e ONGs) exigem o
demonstram interesse em passar isso para os mesmo”. Trata-se, porém, de uma percepção
alunos”. que pode ser bastante questionada, uma vez
que, sabidamente, existem distinções
Os que consideram que prepara muito pouco
significativas entre os modelos de gestão
citaram, em sua maioria, que em algumas
típicos de uma empresa privada e os que se
disciplinas são feitos comentários gerais mas
revelam mais adaptados ao terceiro setor.
que não há um aprofundamento. Alguns
citaram que deveria haver disciplinas Após a conclusão da pesquisa com os alunos,
obrigatórias sobre esse tema, lembrando que passou-se à investigação com os professores.
há apenas algumas poucas eletivas que o Ao todo foram entrevistados 20 docentes do
abordam. curso, que representam o total dos que atuam
nas disciplinas de formação profissional.
Tanto os que deram respostas classificadas
como “mais ou menos” quanto os que Na primeira questão formulada, foi indagado
afirmaram que prepara disseram que a até que ponto os entrevistados consideravam
formação geral do administrador é suficiente que o curso oferece uma preparação
para atuação em qualquer tipo de adequada aos alunos para que atuem
organização. Ou seja, não se trata de uma profissionalmente na gestão das ONGs. Os
formação especificamente direcionada e sim resultados obtidos encontram-se na figura a
da possibilidade de adaptação, pelo aluno, do seguir:
que aprende sobre a gestão organizacional de
um modo geral ao universo das ONGs. O A7,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


90

Figura 2: preparação para gerenciar ONGs

Fonte: dados da pesquisa

Em comparação com o que foi levantado junto porém, em contradição, tendo depois afirmado
aos alunos, nota-se que os professores que não sabe opinar em relação à ONGs.
possuem uma visão um pouco mais favorável,
O D10 foi o único entrevistado que respondeu
pois a resposta com maior frequência foi
que o curso atende às necessidades. Ao
“parcialmente”. Nem por isso, entretanto, se
explicar seu posicionamento, afirma “ser uma
pode afirmar que os docentes consideram a
oportunidade de mercado e de carreira aos
preparação adequada, pois apenas um dos
universitários”. Não entrou, todavia, em mais
entrevistados respondeu que atende. O D8, ao
detalhes sobre a formação ou qualquer outro
responder que o curso atende parcialmente,
aspecto que pudesse respaldar sua opinião.
explicou que “não existem disciplinas
Dessa forma, não ficou claro o motivo da
específicas e divulgação do curso nessa
afirmação de que há um preparo adequado.
especialidade e que deveriam ter mais
professores engajados nesta área”. Três dos Na segunda questão, foi levantado se os
docentes afirmaram, entretanto, que a entrevistados incluíam, nas disciplinas em que
mudança curricular, ocorrida no ano de 2015, ministravam algum conteúdo especificamente
já prevê disciplinas na área, trazendo novos voltado para a gestão de ONGs. Verificou-se,
espaços para a área pública e terceiro setor e então, que a maioria dos respondentes (12
acreditam que as mudanças irão formar um pessoas) disseram que não abordam. Dois dos
profissional mais plural. entrevistados, ao responderem o porquê de
não mencionar questões sobre o assunto,
Dentre os sete entrevistados que responderam
mostraram desconhecer a realidade das
que o curso não oferece preparação, o D4
ONGs ou não terem proximidade com esse
afirmou que “a formação é voltada para a
assunto. Outros dois docentes destacaram
empresa privada”; o D16 disse que “O curso
que, apesar de não abordarem o tema em sala
oferece algumas informações, mas não no
de aula, existem alunos que se interessam e
nível necessário para ser gestor de ONGs” e o
buscam por conta própria sobre o assunto. O
D13 alegou que “não tem vocação para isso. O
D13 afirmou que “alunos fazem trabalhos
próprio corpo docente atual, pelo que
direcionados a ONGs, mas não chega a 2%, e
conhece, é voltado para a gestão empresarial;
mesmo os que fazem trabalho mostram
pouco se fala, pouco se discute e se conhece
completo desconhecimento. Escolhem uma
muito pouco”. Em relação a essa última fala,
ONG porque foi onde apareceu oportunidade
entretanto, levantou-se que dois dos
de investigar”. O D19, por outro lado, afirmou
professores do curso tiveram sim uma
“tive orientações de TCCs voltados às ONGs”.
preparação nessa área, pois um deles a
enfocou em sua dissertação de mestrado e Percebe-se que há interesse de alguns dos
outro em sua tese de doutorado. entrevistados que responderam não ter
abordado o tema em incorpora-lo de alguma
Em relação aos que não souberam opinar, vale
forma em suas disciplinas. Tais docentes
destacar o D3, que afirmou que “Não sabe dos
manifestaram o desejo de levar mais sobre
outros, mas no que lhe tange, trabalha gestão
esse assunto para o ambiente das aulas,
de processos que cabe em qualquer lugar”,
considerando ser um fato a ser discutido com
acreditando que sua disciplina tem
mais profundidade do que realmente é, e
aplicabilidade em qualquer contexto. Caiu,
pensam em tratá-lo nas próximas disciplinas.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


91

Em contraste aos anteriores, quatro dos em que os alunos desenvolvem pesquisa,


entrevistados afirmaram abordar o assunto em incluindo empresas do terceiro setor e com
sala de aula. O D1 disse que já teve a chance frequência ONGs apareceram como case”.
de dar uma disciplina relacionada ao tema e Outro docente (E10) afirmou “englobar todas
que “tem um gosto pela temática e foi até sua as oportunidades como exemplo”.
tese de mestrado”. Por outro lado, outro
A questão seguinte procurou conhecer se em
entrevistado afirmou que já incluiu o assunto
algum momento os professores já debateram
em uma disciplina, porém, no que diz respeito
com os alunos a possibilidade de atuarem
à ONGs, entende que “exige um debate mais
profissionalmente em ONGs. Metade dos
específico, por se tratar de uma lógica coletiva
entrevistados disse que sim, 8 afirmaram que
de gestão, uma gestão alternativa da
não e 2 que parcialmente. O D14 disse que não
empresarial”. Em contribuição, o D16 disse
debateu, mas considera um bom ponto a ser
que, em uma de suas disciplinas, “precisa
debatido. Já o D4 declarou que não debate,
demonstrar que o terceiro setor é mais
entretanto, aborda outras possibilidades de
competente para cumprir determinadas
atuação profissional, como por exemplo, os
missões sociais, mas faz isso no nível de
sindicatos. Essas respostas destoaram,
informação e não de formação”.
todavia, do que foi levantado junto aos alunos,
Com relação aos que responderam que indicaram, em grande maioria, não terem
“parcialmente”, quatro professores disseram discutido esse assunto em sala de aula.
que abordaram o assunto como estudos de
A quarta questão indagou quais seriam, na
caso ou como citado pelo D7, em uma de suas
percepção dos entrevistados, as facilidades e
disciplinas “ainda é possível que os alunos
vantagens encontradas, sendo mencionadas
possam exemplificar casos mais sociais”. O
as seguintes:
docente D11 mencionou que “projetos práticos

Tabela 3: Facilidades e vantagens de ONGs


Categoria Fi
Cooperação 5
Desenvolvimento profissional 4
Motivação 4
Defesa de uma causa 3
Não vê facilidades 2
Obtenção de recursos 2
Superior à gestão privada 2
Trabalho voluntário 2
Fonte: dados da pesquisa
Observa-se que a categoria “cooperação” nesse leque que o curso oferece possui a
esteve no topo das vantagens apresentadas vantagem de buscar um meio diferencial da
pelos respondentes. O E14, um dos que citou gestão privada (...). Para os estudantes amplia
essa vantagem, ressaltou que o o leque de possibilidades de atuação”.
cooperativismo manifesta-se pelo “senso de
A categoria “motivação” encampou
união em uma causa no grupo de pessoas que
expressões relacionadas ao prazer em estar
trabalham que não estão só pelo salário, estão
fazendo o que gosta. Alguns entrevistados
pela causa defendida”. O D9 compartilhou da
destacaram a importância dos membros das
mesma visão, afirmando que: “Pelo caráter de
ONGs estarem motivados e possuírem um foco
várias pautas de ordem social, vê como
menor no lucro/financeiro como um fator
vantagem o significado, mais sentido social,
positivo. A existência de visão mais
contribuição”. Parece natural, então, que os
humanizada foi também destacada como
entrevistados julguem encontrar tal
importante em relação à motivação.
característica como facilitadora do trabalho do
gestor nessas organizações. “Defesa de uma causa” enquadrou-se em três
características presentes nas respostas, sendo
Desenvolvimento profissional também está
elas: “maior sentido social” dito pelo D9, e
presente nos estudos sobre o terceiro setor
também como os D14 e D18 colocaram, luta e
que foram encontrados na revisão da literatura.
defesa por uma causa, dando origem à
O D2, um dos entrevistados que citou esse
categoria. Mais uma vez, a resposta obtida
conceito afirmou que “Um gestor formado

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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espelhou o que os estudiosos apresentam Na quinta pergunta, foi questionado quais


como intrínseco ao terceiro setor. dificuldades e problemas um gestor
provavelmente enfrenta nesse tipo de
As demais categorias tiveram poucas
organização. As respostas, categorizadas,
menções e não acrescentaram nada em
estão a seguir.
especial à análise aqui desenvolvida.

Tabela 4: Dificuldades e problemas na gestão das ONGs


Categoria fi
Captação de recursos 14
Gestão pouco profissionalizada 6
Profissionais pouco qualificados 4
Controle 4
Baixa remuneração 3
Autonomia 3
Dificuldades Estruturais 2
Burocracia 2
SOMA 38
Fonte: dados da pesquisa

A categoria “captação de recursos” obteve áreas fim nas quais as ONGs atuam, como, por
maior frequência de evocação, o que é exemplo, educação e saúde, a qualificação
relativamente fácil de compreender, tendo em costuma ser adequada. O que se percebe nas
vista as características das ONGs, que vivem, afirmações dos entrevistados, é que, na área
em geral, de doações e de convênios, de gestão são encontradas pessoas mais
necessitando constantemente lutar para captar “amadoras”, menos qualificadas.
os recursos para sua subsistência. Um dos
Na categoria “controle”, o D16 afirmou que se
que apontou essa dificuldade, o D9, ao
observa “falta de controle, pois, não existem
justificar sua resposta disse que “As ONGs têm
métricas adequadas para verificar eficiência,
dificuldade de acesso a recursos financeiros,
nem fiscalização adequada”. Percebeu-se
e isso até atrapalha, porque adota técnicas de
também nas entrevistas que o conceito de
gestão que não condizem com sua ação”. Ou
controle decorreu da associação às funções
seja, na percepção desse professor, há certo
administrativas, como forma de planejamento
amadorismo no gerenciamento dessas
estratégico, muito presente nas teorias
instituições que acaba por se revelar
administrativas. Conforme destacam diversos
incompatível com a necessidade premente de
estudiosos da gestão, é certo que as ações
captar recursos.
devem ser constantemente planejadas,
Como professores de administração, a organizadas, dirigidas e controladas pelos
temática da gestão dessas organizações gestores para o alcance dos objetivos. Vale
também foi citada como um problema. Com destacar, entretanto, que as organizações do
isso, criou-se a categoria “gestão pouco terceiro setor transcendem às formas de
profissionalizada.” O D16 disse que “quem controle tradicional. Fernandes (1994), afirma
está à frente da gestão costuma ser voluntário, que a força das ONGS provém das bases e
mostrando uma gestão pouco profissional”. O não dos dirigentes, por isso, não podem ser
D18 afirmou que se trata de “campo que controladas centralmente. Trata-se, portanto,
carece de gestores e ainda é muito pautado de uma necessidade que precisa ser atendida
nas práticas informais”. de forma distinta das soluções normalmente
adotadas pelas empresas.
A categoria denominada “profissionais pouco
qualificados” foi relacionada a citações sobre Três docentes afirmaram que uma das maiores
deficiências de formação dos trabalhadores e dificuldades em gerir ONGs seria a baixa
gestores que atuam nessas organizações. O remuneração. O D19 disse que nessas
D14, ao responder alegou que uma das organizações há “pouco retorno financeiro” e
maiores dificuldades é a “baixa qualificação ainda acrescentou, dizendo que “uma ONG é,
profissional em algumas áreas”. O D9 foi na maioria das vezes, trabalho voluntário, se o
categórico e disse que “falta mão de obra ele (gestor) almeja retorno financeiro, talvez
qualificada”. Entretanto, vale salientar que nas

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


93

não seja esse tipo de organização que ele vá as necessidades de gestão. Por outro lado, a
conseguir”. própria falta de profissionalização apontada
pelos docentes como um problema pode ser
A categoria “autonomia” foi criada com
causadora dessa deficiência.
expressões que correlacionam à dificuldade
das ONGs de autogoverno, o que, em uma Na questão seguinte, foram apresentadas aos
perspectiva institucional, pode comprometer a entrevistados as expressões evocadas pelos
sua própria existência. O D1 alegou que um alunos como componentes da representação
dos problemas dessas organizações é “saber social de ONGs. Não foi mapeada a
o que fazer para ser autônoma”; já a E6 afirmou representação específica dos docentes,
que “há dependência do lado cultural e de devido ao reduzido número de componentes
onde a ONG está estabelecida, isso pode desse universo na pesquisa realizada.
gerar impactos”. Na essência, uma ONG Conforme Ferreira (2005), o método de
precisa ser uma entidade autônoma, que se evocação de palavras com vistas ao
volta para determinados fins sociais e conta levantamento de uma representação social
com liberdade de atuação, ao contrário, por exige pelo menos 100 sujeitos.
exemplo, do que ocorre com organizações
Assim, optou-se por apresentar aos docentes
estatais (CARDOSO, 1997).
a relação de expressões evocadas pelos
A categoria “burocracia” foi associada às alunos (já categorizadas), sendo-lhes que
dificuldades que as ONGs possuem com enumerassem as cinco que consideravam
relação à legislação que precisam cumprir. A mais fortemente relacionadas ao conceito de
E14 declarou que um dos impasses seria a ONG, marcando-as em ordem de importância:
“lidar com uma burocracia grande para poder “1” a mais importante; “2” a segunda e assim
conseguir fundos que, às vezes, volta-se para sucessivamente. A pontuação apresentada na
a parte administrativa (funcionários e gestão)”. tabela foi calculada da seguinte forma: cada
Outro docente afirmou que a legislação é um marcação recebida por uma determinada
fato dificultador (D10). Vale dizer que esse expressão como sendo a mais importante
problema não é exclusivo desse tipo de correspondeu a “5” pontos. Marcações em
organização. segundo lugar ficaram com “4” pontos e assim
sucessivamente, atribuindo-se “1” ponto às
Por fim, a categoria “Dificuldades estruturais”
que foram consideradas como 5º lugar em
foi associada às questões de infraestrutura e
importância. Os resultados das expressões
de estrutural organizacional. O que se percebe
que receberam maior pontuação, sendo,
é que os recursos que são destinados às
portanto, os mais relevantes para os docentes
ONGs são, em geral, direcionados
pesquisados, estão descritos na tabela a
especificamente para as atividades fim
seguir:
desenvolvidas, não cobrindo adequadamente

Tabela 5: Visão de ONGs por grau de importância


Categorias 1 2 3 4 5 Fi Pontos
Ação social 4 3 1 3 1 12 42
Não Governamental/ terceiro setor 5 1 1 1 1 9 35
Defesa de uma causa 2 3 2 2 1 10 33
Sem fins Lucrativos 3 1 1 2 7 23
Pessoas 3 2 2 7 22
Responsabilidade 2 2 2 1 7 21
Públicos específicos 3 2 1 6 20
Trabalho voluntário 1 4 1 1 7 20
Fonte: dados da pesquisa

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


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Percebe-se, a expressão “ação social” que entendimento geral sobre ONG. Deve-se levar
obteve maior pontuação sendo, portanto, a em conta, porém, que a forte ênfase no
categoria que mais os professores consideram voluntariado apareceu associada à não
como associada ao conceito de ONGs. percepção das possibilidades de atuação
Consideravelmente, esta categoria na profissional dos administradores nessas
pesquisa com os alunos, esteve entre as mais organizações.
citadas, tendo-se assim uma ideia moldada
Vale destacar, por fim, que a expressão
destas organizações, tanto para um universo
“ajuda”, que compôs o núcleo central da
como para o outro. Percebe-se também como
representação social mantida pelos alunos,
entendimento dos docentes de que elas têm a
não foi considerada como uma das mais
finalidade de suprir as necessidades de um
relevantes pelos professores. Isso pode indicar
determinado grupo.
que esses mantém uma visão menos
A “não governamental/terceiro setor”, embora assistencialista sobre a natureza das ONGs do
muito citada, pouco acrescenta à que a que foi verificada entre os discentes. Da
compreensão da representação mantida, pois mesma forma, trabalho voluntário ficou bem
limita-se a reproduzir uma característica menos valorizado pelos docentes, deixando de
inerente às ONGs. O mesmo ocorre com “Sem ser uma das três mais relevantes expressões,
fins lucrativos” como se vê na tabela. Essa situação pode
indicar que os professores não ficam tão
Já “defesa de uma causa” aparece como uma
restritos ao voluntariado quando pensam nas
categoria dentre as mais citadas, e se mostrou
possibilidades de trabalho nas ONGs quanto
em maior grau de citação também na pesquisa
revelaram estar os estudantes.
anterior. Partindo-se do pressuposto de que as
ONGs buscam suprir necessidades não
atendidas pelo setor estatal. Percebe-se que
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
os professores, assim como os estudantes,
relacionam ONGs como detentoras de Conforme exposto na introdução, o objetivo
soluções sendo reconhecidas como almejado na pesquisa aqui apresentada foi
instituições de grande destaque. identificar as percepções de alunos e
professores do curso estudado sobre as
A categoria “pessoas” também esteve entre
possibilidades de atuação profissional dos
as mais citadas pelos alunos, por estarem
administradores nas organizações não-
relacionadas ao universo de atuação das
governamentais e o quanto a formação
ONGs, que, em geral, procuram ajudar os mais
acadêmica ofertada está adequada para esse
necessitados e suprir suas necessidades
tipo de instituição.
quando não feitas por órgãos privados. A
categorização face a pesquisa anterior, Sobre as possibilidades de trabalho nas
também levou em consideração pessoas que ONGs, ficou claro que os alunos possuem uma
trabalham nestas organizações, sendo visão muito restrita, limitando-se a considerar o
considerado e relacionado ao trabalho voluntariado e não percebendo que esse tipo
voluntario. de instituição requer também gestores
profissionalizados. Essa situação pode
Já em relação à “responsabilidades” houve
prejudicar o desenvolvimento de carreiras
uma forte diferença do que foi levantado nas
nesse setor, que, como destacado, tem
entrevistas com os alunos, quando somente
crescido e aberto oportunidades efetivas de
um levou em conta essa consideração
trabalho. Menos de um terço dos entrevistados
alegando essas organizações precisarem ter
consideravam a hipótese de atuar nessas
responsabilidade com o foco em sua atividade.
organizações e muitos desses, mesmo diante
“Públicos específicos” demonstra a relação da questão que indagava sobre envolvimento
entre a população em que a ONG está profissional, responderam pensando apenas
inserida, qual e o seu público alvo, dentre na atuação como voluntários.
esses estão minorias, crianças, idosos entre
Diante do que foi levantado na questão que
outros. Seu destaque, porém, pouco contribui
abordou as vantagens de se trabalhar em uma
para a compreensão das respostas obtidas.
ONG fica ainda mais clara a necessidade de
“Trabalho voluntário” foi também uma das que os discentes sejam despertados para essa
categorias que teve maior destaque na importante alternativa profissional, pois a visão
pesquisa com alunos, onde se percebe uma que manifestaram sobre a natureza dessas
importância dessa palavra para construção do organizações revela que eles as enxergam de

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


95

uma forma bastante positiva, embora por formação específica que poderia ser uma
vezes ingênua. As respostas de alguns alunos excelente opção para a inserção profissional
revelaram que eles não percebem que, a dos egressos do curso.
despeito de não visarem o lucro, as
Merece destaque também a ressalva feita por
organizações sociais também precisam gerar
alguns professores de que a nova grade
resultados e que seus gestores estão,
curricular, em fase de implantação, traz maior
consequentemente, sujeitos a pressões e
ênfase em outros tipos de organização que
cobranças. Também a percepção, manifesta
não as empresas privadas. Interessante ainda
por um significativo número de entrevistados,
observar que houve alunos que manifestaram
de que há bastante apoio por parte do governo
essa mesma percepção, demonstrando que
e de empresas parceiras, também sinaliza
há discentes envolvidos e atentos ao projeto
para um grande desconhecimento da
pedagógico do curso.
realidade enfrentada pelas ONGs.
Cabe, por fim, realçar que a Teoria das
Mais preocupante ainda foi a percepção da
Representações Sociais, utilizada como um
maioria dos estudantes de que não estão
dos suportes à pesquisa realizada,
sendo adequadamente preparados para
demonstrou possuir, de fato, um bom potencial
gerenciar outras organizações que não as
de emprego em investigações na área de
empresariais. Essa opinião foi confirmada
Administração. Sendo bastante comum em
pelos docentes entrevistados, que, em sua
estudos em outros ramos do conhecimento,
maioria, assumiram não tratar em sala de aula
como a educação e a saúde, é ainda uma
especificamente das ONGs ou de qualquer
metodologia pouco utilizada para tratar de
outro tipo de organização que não seja as
temas relativos à gestão organizacional. A
empresas privadas. A autocrítica feita por
espontaneidade que marca os resultados
diversos professores, que assumiram não se
obtidos na evocação livre de palavras
sentir preparados para incluir esse tema em
representa uma contribuição interessante. As
suas aulas revela que não se trata
expressões que foram identificadas como
simplesmente de uma falta de interesse.
parte do núcleo central da representação de
Vale destacar também alegações feitas tanto ONGs tiveram seu significado bem
por alunos quanto professores de que, embora compreendido e foram coerentes com o que foi
não exista um direcionamento específico, é levantado nas entrevistas.
possível adaptar os conhecimentos recebidos
Sendo este um estudo de caso, é sempre
para atuar nas ONGs pois seriam
válido ressalvar que o que foi encontrado
organizações como outras quaisquer. Esse é
refere-se exclusivamente ao curso enfocado,
um posicionamento questionável, tendo em
não refletindo a realidade dos cursos de
vista que são diversas as peculiaridades
Administração em geral. Por isso, como
dessas instituições e que proceder
sugestão de estudos futuros pode-se
adaptações por conta própria, em especial
mencionar a replicação da investigação em
para profissionais recém formados, não é uma
outras instituições de ensino.
tarefa simples. Da mesma forma, alegar que os
alunos podem direcionar seu TCC ou buscar
estágio em ONGs é uma forma de desobrigar
o curso e os professores de tratar dessa

REFERÊNCIAS
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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


97

Capítulo 8
SALA-AMBIENTE: ESPAÇO DE INTERAÇÃO E PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS INOVADORAS
Cintya Lopes do Rosario
Raimunda Maria Rodrigues Santos
Nataly Nunes Ferreira
Klayton Oliveira de Araújo
Stephanie Caroline da Rocha Mesquita

Resumo: Este artigo apresenta as percepções de estudantes da rede estadual de


ensino da cidade de Boa Vista - RR, cujas escolas são organizadas em salas-
temáticas (ou salas-ambiente). O objetivo da pesquisa foi conhecer, a partir da
vivência dos estudantes, a contribuição desse modelo de organização para o
desenvolvimento de práticas pedagógicas diferenciadas, e sua influência para a
aprendizagem de espanhol como língua estrangeira. Para tanto, recorreu-se aos
preceitos da pesquisa exploratória, por permitir a familiaridade com o problema e o
levantamento de hipóteses; da pesquisa bibliográfica, por aproximar o pesquisador
de estudos já realizados; além do método quali-quantitativo de análise. Como
instrumento de pesquisa utilizou-se um questionário semiaberto, distribuído a 80
alunos, que formaram a amostragem aleatória do estudo. Os resultados indicam que
a sala-ambiente configura-se como espaço em que, somando-se às condições de
infraestrutura física, à espacial e suadimensão social, desenvolvem-se práticas
pedagógicas alicerçadas na interação, na troca de experiência,nos princípios da
interdisciplinaridade e, em se tratando da sala-ambiente de E/LE, propicia momentos
de interculturalidade.

Palavras Chave: Sala-ambiente; ensino de espanhol; inovação

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


98

1. INTRODUÇÃO internacional. Com relação a esse aspecto,


Sedycias (2005, p. 35) alerta que “com o
Sabe-se, que nos dias atuais aprender uma
advento do Mercosul, aprender espanhol
língua estrangeira tornou-se de suma
deixou de ser um luxo intelectual para se tornar
importância, tendo em vista as relações
praticamente uma emergência. E [no caso do
econômicas, sociais e culturais entre os povos
Brasil] temos ao longo de nossa fronteira um
terem se intensificado a partir do último século.
enorme mercado, tanto do ponto de vista
Reconhecendo o domínio de uma segunda comercial como cultural”.
língua como habilidade necessária para o
A partir dessas informações e considerando
exercício profissional e para as interações em
que o espaço físico escolar pode ser
geral, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
determinante para o estado de ânimo, o
Nacional de 20 de dezembro de 1996 – (LDB
interesse e a motivação do aluno,
9394/96) determinou a oferta obrigatória de
consequentemente, irá favorecer sua
uma língua estrangeira moderna no currículo
aprendizagem e crescimento intelectual,
da educação básica, conforme descrito em
procede-se ao recorte do tema delimitando a
seu artigo 26, parágrafo 5º: “a parte
pesquisa à ação da Secretaria Estadual de
diversificada do currículo será incluído,
Educação de Roraima (SEED) de alterar a
obrigatoriamente, a partir da 5ª série, o ensino
organização do ambiente escolar de algumas
de pelo menos uma língua estrangeira
unidades em salas temáticas, também
moderna, cuja escolha ficará a cargo da
denominadas salas-ambiente.
comunidade escolar dentro das possibilidades
da instituição” (BRASIL, 1996) Dessa forma, objetiva-se verificar se a sala
ambiente/temática é uma ferramenta favorável
Atendendo a essa recomendação, foram
ao processo de ensino aprendizagem, levando
elaborados Parâmetros Curriculares Nacionais
em consideração sua organização e
(PCNs) pelo Ministério da Educação, dentre os
disposição de materiais. Com esse fito,
quais os PCNs de Língua Estrangeira
realizou-se um estudo a respeito das visões de
Moderna, no qual também se reconhece o
estudantes de quatro escolas públicas da rede
domínio de uma segunda língua como
estadual de ensino, localizadas na cidade de
“possibilidade de ampliação do universo
Boa Vista e organizadas em salas temáticas.
cultural do aluno, possibilitando-lhe o acesso e
a apropriação de conhecimentos de outras Ressalta-se que os resultados aqui
culturas”. apresentados são parte de um estudo
desenvolvido no Programa Institucional de
Neste trabalho o olhar recai sobre o ensino de
Bolsas de Incentivo a Iniciação Científica do
Espanhol como Língua Estrangeira (E/LE) em
Instituto Federal de Educação, Ciência e
escolas da rede de ensino estadual de
Tecnologia de Roraima (PIBICT/IFRR) que tem
Roraima, tendo como parâmetro o disposto na
como meta final aconstrução de uma proposta
lei n° 11.161, de 5 de agosto de 2005, que
de uma sala ambiente de E/LE para alunos da
instituiu oficialmente a oferta de E/LE na
Educação Básica na modalidade Educação de
Educação básica, tornando-a obrigatória no
Jovens e Adultos (EJA).
Ensino Médio e facultativa no Ensino
Fundamental do 6° ao 9° ano.
Cabe mencionar que em Roraima encontra-se 2. O ENSINO DE ESPANHOL COMO LÍNGUA
a fronteira do Brasil com a República ESTRANGEIRA
Bolivariana da Venezuela, país de língua
A língua espanhola incorporou-se pela
espanhola. Fato, esse, que determinou a
primeira vez na grade curricular de ensino
inserção desse idioma nos currículos
brasileiro no ano 1942, com o estabelecimento
escolares desse estado. Destaca-se, ainda,
da Lei Orgânica nº 4.244/42, conhecida como
que a importância de E/LE na formação dos
Reforma Capanema. A partir dela, o ensino
estudantes deve-se, também, ao crescimento
secundário dividiu-se em ciclo ginasial, com
desse idioma como língua comercial. Pois,
duração de quatro anos, e colegial, com três.
segundo relatório do Instituto Cervantes
Assim, o espanhol introduziu-se como
(2010), cerca de 450 milhões de pessoas no
disciplina ofertada pelo curso clássico e
mundo falam espanhol, além de ser a quarta
científico que compunham o ciclo colegial
língua do mundo por número de falantes e o
juntamente com outras línguas como o
segundo idioma utilizado para comunicação
português, latim, grego, francês e inglês.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


99

Com o advento da primeira Lei de Diretrizes e econômica que conduz ao exercício da


Bases da Educação (LDB) de 1961, criou-se o cidadania.
Conselho Federal que atribuiu aos Conselhos
Com relação especificamente ao ensino de
de Educação dos Estados (CEE) a
espanhol, os PCNs (1998, p.50) destacam que
responsabilidade de decidir sobre as matérias
“é também um meio de fortalecimento da
complementares, em que se enquadravam as
América Latina, pois seus habitantes passam a
línguas estrangeiras, e estas perderam seu
se (re) conhecerem não só como força cultural
caráter obrigatório. Nas palavras de Leffa
expressiva e múltipla, mas também política
(1999, p.9) “comparada à reforma Capanema
[...]”.
e à LDB que veio em seguida, a lei de 1961 é
o começo do fim dos anos dourados das Tanto a LDB quanto os PCNs demonstram
línguas [...] a LDB do início dos anos 60, claramente ou de maneira subjacente a
reduziu o ensino de línguas a menos de 2/3 do preocupação em o estudante desenvolver o
que foi durante a Reforma Capanema”. conhecimento de si próprio, consequente do
contato com o outro, com a interculturalidade,
Em 1971 foi publicada a LBD 5692/71 que, em
com a convivência harmônica entre os povos
relação a anterior, não apresentou grandes
mudanças no que se refere ao ensino de Nesse contexto, a Lei 11.161 de 5 de agosto
línguas estrangeiras, pois continuaram a ser de de 2005, contribuiu significativamente para a
caráter obrigatório, mas oferecidas somente expansão do ensino de E/LE nas escolas do
quando houvesse condições apropriadas para Brasil, a partir da regulamentação desse
o seu ensino. Essa realidade foi alterada com idioma como disciplina de oferta obrigatória no
a publicação da LDB 9394/96 que institui o ensino médio e facultativa para o ensino
ensino de línguas estrangeiras na Educação fundamental. A aplicação do disposto na
Básica e estabeleceu a obrigatoriedade do referida Lei deveria ocorrer no prazo de cinco
ensino de pelo menos uma língua estrangeira anos a partir de sua publicação, ou seja, até
moderna no Ensino Fundamental a ser definida 2010, ficando sob a responsabilidade dos
pela comunidade escolar. Conselhos Estaduais essa execução.
No tocante ao Ensino Médio, a LDB 9394/96, Outro ponto que vale mencionar é a
em artigo 36, parágrafo 3º, traz a seguinte publicação de um novo documento com
redação: “será incluída uma língua estrangeira diretrizes para o Ensino Médio: as Orientações
moderna como disciplina obrigatória, Curriculares para o Ensino Médio (OCME).
escolhida pela comunidade escolar, e uma Este traz recomendações importantes a
segunda, optativa, dentro das possibilidades respeito do currículo de línguas estrangeiras
do centro.” nesse nível de ensino. Por conseguinte, de
acordo com esse documento, ensinar
Como forma de ratificar o exposto na referida
espanhol pode “levar o estudante a ver-se e
lei, o Ministério da Educação lançou os
constituir-se como sujeito a partir do contato e
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
da exposição ao outro, à diferença, ao
com a finalidade de orientar os professores na
reconhecimento da diversidade” (BRASIL,
busca de novas abordagens e metodologias.
2006, p.133).
Os PCNs de língua estrangeira do ensino
fundamental (1998), por exemplo, defendem a Ainda conforme as OCME além do ensino da
inserção de uma língua estrangeira no língua estrangeira em si, como objetivo
currículo escolar, argumentando que se educacional busca-se a contribuir para a
constitui essência na construção do saber, formação de pessoas capazes de interagir em
prática cidadã, visto que ao se construir diferentes contextos.
conhecimentos é necessária a percepção da
Nos termos do documento: a disciplina
linguagem como um fenômeno social, bem
Línguas Estrangeiras na escola visa a ensinar
como sua compreensão e funcionamento.
um idioma estrangeiro e, ao mesmo tempo,
Além disso, o ensino de língua estrangeira
cumprir outros compromissos com os
configura-se em possibilidade de diálogos
educandos, como, por exemplo, contribuir
com outras culturas, costumes e valores,
para a formação de indivíduos como parte de
mobilizando aspectos que fomentam uma
suas preocupações educacionais (BRASIL,
ação reflexiva por parte dos estudantes a
2006, p, 91).
respeito da realidade social, política e

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


100

O crescimento do ensino do espanhol, saberes historicamente acumulados são


influenciado por questões sociais, políticas, “transmitidos”, compartilhados, sistematizados
económicas e geográficas ao longo dos e (re) significados, uma vez que sob a
últimos anos foi significativo indo além da perspectiva da ciência não existe verdade
educação básica. A propósito Moreno intocável. Enfim, a escola é o espaço
Fernández (2005, p. 22-23) explana que: destinado ao desenvolvimento do processo de
ensino e aprendizagem.
Uma das provas da crescente vitalidade do
espanhol no ensino básico e na universidade É unânime entre os pesquisadores estudados
brasileira é o número de candidatos que que a arquitetura dos edifícios escolares
realizan o exame vestibular, processo seletivo estabelece uma relação estreita com a
organizado pelas universidades para a percepção de educação daqueles que
escolha de novos estudantes. Em 1998 quase conduzem o processo educativo. Para Guerra
todas as universidades do país, federais e (2007, p. 85), por exemplo:
estaduais, públicas e privadas incluíam em
A filosofia de trabalho da escola é comunicada
seus processos seletivos o conhecimento do
visualmente pelas imagens apresentadas nas
espanhol, que chegou a ser a língua
bibliotecas, nas quadras de esportes, nos
estrangeira mais requisitada em algumas
pátios, nos centros de convivência e nas salas
universidades ao invés do inglês. (MORENO
de aula. Um dos mecanismos para verificar a
FERNÁNDEZ, 2005, p. 22 – 23, grifo nosso)
ação pedagógica consiste na disposição dos
Assim reconhece-se que o ensino de E/LE, a mobiliários e equipamentos nas salas e
partir de uma óptica menos instrumental, foge laboratórios.
do estereotipo de que se aprende uma
A estrutura física da escola sempre foi
segunda língua para ocupar melhores espaços
pensada priorizando a sala de aula, apesar
no mercado de trabalho, desmistifica-se a
das transformações ocorridas no decorrer do
visão reducionista do ensino da língua pela
tempo (PENIN, 2006). Em estudo sobre os
língua, pautada em regras e memorização de
espaços escolares entre as décadas de 1940-
formas gramaticais. Longe disso, pretende-se
1960, Iwaya (2005, p. 186) explica que a sala
que o processo de ensino permita ao aluno o
de aula desse período não era vista como lugar
domínio das quatro habilidades básicas da
de livre acesso para o estudante:
comunicação: ler, falar, ouvir e escrever em
língua estrangeira, de modo que esta, dentre Ele estava, sim, muito mais preso a este lugar,
outras coisas, possa contribuir “positivamente fixado a uma carteira, com os olhos voltados
na relação que os estudantes brasileiros para o professor, para o quadro negro e para
guardam com a própria língua, em especial a nuca do colega da frente. Seus movimentos
com a escrita” (BRASIL, 2006, p 131). eram controlados e regulados por sua própria
carteira. O tablado, além de melhorar o campo
visual do professor, facilitando-lhe a
3. SALA AMBIENTE manutenção da disciplina, ainda tinha a função
simbólica de evidenciar a distância que
O planejamento de um ambiente,
deveria existir entre professor e aluno.
independente da esfera da vida social a que
esteja relacionado, exige que o responsável Essa descrição revela que a escola, por muitos
pela ação pense não somente na divisão do anos, serviu como espaço de controle, de
espaço e na função a que ele se destina, mas avaliação, de aprendizagem social, onde
também na disposição dos móveis, os comportamentos desviantes são passíveis de
significados que os designs transmitirão aos punição. Ao mesmo tempo, essa instituição
usuários, visando despertar-lhes estabelece um jogo de recompensas e honras
“comportamentos específicos, distintas ações com seus estudantes, incutindo no imaginário
e diferentes atitudes” (GUERRA, 2007). Afinal, coletivo que “ser disciplinado” nesse ambiente
nas palavras de Penin (2006, p. 20), “os é compensador. Contudo, por traz do caráter
ambientes são cuidadosamente planejados disciplinador pode estar velada a intenção de
para invocar sensações e convocar as ações formar sujeitos dóceis, produtivos e obedientes
que de fato provocam”. ao sistema dominante. E a forma de
organização do ambiente escolar contribui
Em se tratando do ambiente escolar, foi
para o exercício desse controle, além de
institucionalizado para ser reconhecido como
revelar os preceitos teóricos que balizam a
o espaço do conhecimento, lugar em que os

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


101

prática pedagógica ali desenvolvida. Assim, de materiais didáticos ali disponíveis, além de
ainda hoje, as carteiras são dispostas em filas, favorecer o trânsito do professor entre os
a mesa do professor ocupa lugar de destaque, alunos. Guerra (2007, p. 86) defende que “ao
o bloco da administração é praticamente adquirir materiais alternativos e programar o
“sagrado” e a presença de alunos incomoda, uso dos espaços de forma diferenciada, as
como se a existência dos serviços ali instituições escolares podem aproveitar para
executados não estejam condicionados ao revisar metodologias, mas também promover o
processo de ensino. debate sobre os objetivos educacionais da
escola”.
Adotando uma concepção diferenciada da
prática ainda dominante, Moreira (2007) ensina Ressalta-se que organizar o espaço escolar
que o ambiente escolar deve configurar-se com salas-ambiente não é uma inovação da
como espaço socialmente construído pelas contemporaneidade. Nunes (2000) afirma que
interações entre alunos e professores e deles essa proposta surgiu durante a difusão dos
com as demais fontes materiais e simbólicas princípios da Escola Nova, na década de 1960.
do ambiente. Deve, portanto, ser organizado A ideia era transformar as salas de aula em
com a finalidade de promover oportunidades classes experimentais que foi bastante
de aprendizagem. E esta se dá não só pela difundida pelas escolas americanas em seus
“transmissão” de conteúdos, mas também pela ginásios polivalentes. Segundo Guerra (2007),
troca de experiências, pelo diálogo entre os uma das primeiras experiências inovadoras de
envolvidos nesse processo. Seguindo essa organização do espaço escolar ocorreu no
mesma linha de pensamento, Viñao (2005) Imperial Colégio de Pedro II, em meados do
afirma que a distribuição e uso dos espaços século XIX, com a implantação de laboratórios
são aspectos essenciais na configuração da especializados para atendimento de
cultura escolar de uma instituição educativa ao disciplinas específicas. Desde então, esse
lado da distribuição e usos do tempo, e os formato passou a ser bastante difundido no
discursos e as tecnologias de comunicação Brasil, sendo que a inserção das salas-
nela utilizados. ambiente começou a vingar apenas na década
de 1980.
Diante da proposta de ensino como interação,
a sala ambiente se configura como modelo de As salas-ambiente devem ser organizadas de
organização escolar diferenciado das salas de modo a promover a interface entre o professor,
aula tradicionais, pois de direciona o aluno e o conteúdo. Logo, de acordo com
especificamente a uma disciplina, com ênfase Penin (2006), são espaços favoráveis tanto
na disposição dos materiais para os professores, por lhes facilitar as
didáticospedagógicos, com o intuito de condições de trabalho, permitindo a
oferecer uma maior interatividade entre os organização de seus materiais didáticos em
discentes, de modo que possam construir um mesmo local e evitando o deslocamento
saberes vinculados à realidade: por diferentes salas, quanto para os
estudantes que passam a usufruir dos mesmos
É uma sala de aula na qual se dispõem
materiais, a contar com o auxílio de imagens na
recursos didático-pedagógicos que atendam
compreensão dos conteúdos e a dispor de
um fim educacional específico. A ideia é fazer
estímulos específicos da disciplina,
o aluno interagir com uma maior diversidade
propiciando-lhes uma maior análise dos
de recursos e materiais pedagógicos e ter
conteúdos estudados e garantindo-lhes
mais condições de estabelecer uma relação
também tempo para suas ações individuais.
entre o conhecimento escolar, a sua vida e o
mundo (MENEZES; SANTOS, 2002). Com relação à organização de uma sala-
ambiente destinada à disciplina de E/LE,
Essa perspectiva coaduna-se às
Guerra (2007) recomenda que seja organizado
recomendações de Zabala (2002) para quem
de forma a estimular o desenvolvimento das
é necessário que o aluno viva em um ambiente
habilidades de compreensão oral, leitura e
que favoreça seu crescimento, pois seu estado
escrita.
de ânimo, interesse e motivação são
influenciados pelo espaço físico escolar. Para Para tanto, é sugerida a inserção de uma
tanto, as aulas devem ser planejadas com variedade de materiais de leitura, como livros
previsão de uso diferenciado da sala de aula didáticos, livros de literatura clássica, poemas,
cuja organização permita a realização de jornais, revistas, panfletos e também
trabalhos em grupo, manuseio da diversidade dicionários, mapas, cartazes, cartões, figuras,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


102

quadro de avisos, murais, aparelho de som, Acrescenta-se que, quanto aos objetivos, a
gravador, TV, vídeo, retroprojetor, projetor pesquisa caracteriza-se como exploratória, por
multimídia, acesso à internet, fitas de vídeo, compreender a análise de exemplos de salas
fitas cassete, CDs, softwares e jogos. Além ambiente a partir da experiência efetiva de
disso, uma ampla variedade de material escrito alunos de escolas públicas, de modo que
deve ser garantida, uma vez que a escrita contribuiu para a identificação de problemas e
representa um apoio para o aprendizado da levantamento de hipóteses para estudos
língua estrangeira Guerra (2007, p. 95 - 96). posteriores (GIL, 2008, p. 27).
A organização do espaço escolar em salas- Para compor o universo da pesquisa, buscou-
ambiente não garantem a priori as mudanças se identificar as escolas da Educação Básica,
no processo de ensino e aprendizagem. Não pertencentes à rede estadual de ensino,
se restringe à distribuição do espaço físico, organizadas em salas-ambiente (denominadas
tampouco unicamente às mudanças na prática em nessa rede como salas temáticas). Apenas
pedagógica desenvolvida nesse contexto. É quatro escolas localizadas na cidade de Boa
preciso que as alterações sejam definidas de Vista encaixaram-se nesse perfil. Assim,
acordo com as necessidades e objetivos do delimitamos a amostragem em 20 estudantes
momento e conforme a natureza das de cada escola, totalizando 80 entrevistados.
disciplinas e perspectiva teórica seguida pelos Como método de análise, seguiu-se os
professores. Diz respeito a um conjunto de parâmetros da pesquisa qualitativa, buscando
alterações tanto na dimensão física quanto conhecer opiniões, crenças, expectativas dos
socialda escola. Comungando do pensamento estudantes à respeito da influência da
de Rosa (2006, p. 23) “na utilização da sala- organização do espaço escolar em salas-
ambiente, deve-se problematizar a realidade e ambiente no processo de ensino-
construir com os alunos pressupostos que lhes aprendizagem.
servirão de norteadores para que possam agir
Para garantir o sigilo e anonimato das escolas
como agentes transformadores no meio em
pesquisadas, serão utilizadas letras para
que estão inseridos”.
apresentar os resultados individualizados,
quando necessário.
4. METODOLOGIA
Este estudo baseou-se nos princípios da 5. RESULTADOS
pesquisa mista que, conforme Creswell (2010,
A pesquisa foi realizada em quatro escolas
p. 27), consiste em uma “abordagem de
públicas da rede estadual de ensino de Boa
investigação que combina ou associa as
Vista que funcionam com salas
formas qualitativa e quantitativa. Envolve
ambiente/temáticas. A escola A adota esse
suposições filosóficas [...] e a mistura de duas
sistema há oito anos; a escola B, há seis anos;
abordagens em um estudo”. Para conhecer as
e as escolas C e D, há seis meses.
percepções dos alunos da rede estadual de
ensino que estudam em salas-ambiente sobre A investigação envolveu com estudantes que
essa forma de organização do espaço escolar, cursam do 7° ao 9° ano do ensino fundamental
utilizou-se o questionário semiaberto por e do 1° ano do Ensino Médio. A escolha desse
permitir que se obtenha uma justificativa, público deveu-se ao fato de possuírem maior
contribuição ou parecer do sujeito/informante, maturidade para responder às questões
além da resposta fechada padrão. propostas.
Inicialmente, procedeu-se á revisão da Inicialmente procurou-se conhecer a visão dos
literatura, recorrendo aos princípios básicos da estudantes sobre a agrabilidade transmitida
pesquisa bibliográfica. Segundo Fachin (2003, pela organização da sala-ambiente. As
p. 125), esse tipo de pesquisa “tem como respostas apresentaram-se positivas, pois
finalidade fundamental conduzir o leitor a 81,25% dos entrevistados consideram que há
determinado assunto e proporcionar a conforto e sentem-se seguros em suas salas.
produção, coleção, armazenamento, Os estudantes das escolas A e C destacaram
reprodução, utilização e comunicação das que isso se deve ao fato das salas serem
informações coletadas para o desempenho da climatizadas, limpas e espaçosas, e pelo
pesquisa”. conforto proporcionado pelas mesas e
carteiras. Em contraposição 18,75%,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


103

matriculados nas escolas B e D, declararam de uma sala-ambiente, os estudantes


que as salas de aulas nãosão agradáveis e apontaram: a metodologia de ensino adotada
confortáveis, pois não são bem estruturadas, pelo professor, os materiais disponíveis na sala
nem todas são climatizadas, tornando o e a possibilidade de troca de conhecimento
ambiente quente e desagradável. proporcionada pela organização do espaço,
conforme gráfico abaixo.
Quanto aos elementos que os estudantes
consideram essenciais para o funcionamento

Gráfico 1: Fatores importantes na sala de aula

Fonte: Elaborado pelos autores

Nas respostas abertas, os estudantes Com essa compreensão inicial solicitou-se que
justificaram seu ponto de vista explicando que os alunos manifestassem sua percepção a
a sala - ambiente auxilia os professores em sua respeito da capacidade da sala ambiente em
docência. Declararam que lhes é permitida favorecer a aprendizagem. 72,5% dos
maior interação com os colegas e professores, estudantes afirmaram que a sala temática
enaltecem a oportunidade de ajuda mútua facilita o aprendizado. Acrescentando como
entre os alunos como ponto forte desse modelo justificativas para isso a possibilidade de uma
de organização do espaço escolar. A leitura do maior organização do ambiente, tornando-o
gráfico mostra, ainda, que 63,75% dos mais agradável e organizado, sendo uma
estudantes acreditam que os três aspectos maneira de o professor ter mais controle sobre
elencados na questão são de fundamental o andamento do conteúdo da disciplina que
importância no espaço da sala de aula, ministra, além do contato com os materiais que
salientando que todos eles facilitam o podem ser um suporte para a compreensão da
aprendizado. Reconhecem, pois, que não matéria e para aprendizagem dos alunos. Nas
basta priorizar a estrutura física para que se palavras do respondente 38: “[...] porque fica
tenham mudanças significativas no processo mais organizado tanto para mim quanto para o
de ensino e aprendizagem, é preciso que se professor! E ter cada exemplo na parede
inove também na condução desse processo, pintado também ajuda na aprendizagem”.
com metodologias inovadoras e práticas que
Quanto aos outros 27,5%, disseram que a sala
permitam a exploração de todos os recursos
temática não facilita o aprendizado. Segundo
disponíveis naquele espaço.
esse grupo não percebem diferenças entre

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


104

esse tipo de organização escolar e o modelo gostam dessa dinâmica, pois entendem que os
em que quem circula é o professor. Não alunos têm mais energia que os professores
reconhecem benefícios ao modelo de para ficarem se deslocando, além de terem
organização no qual se encontram tempo para ir ao banheiro e beber água. Já
matriculados, atribuindo o sucesso escolar ao 23,75% declararam que gostam, mas admitem
interesse, àvontade de aprender do aluno, ocorrer problemas no momento da troca de
essencialmente. salas, devido ao tamanho reduzido dos
corredores, aspecto que favorece colisões
Nesse ponto, cabe uma reflexão sobre a
entre os alunos e o atraso para outra aula. Os
efetividade do modelo adotado nas escolas
25% restantes disseram não gostar e
pesquisadas, pois a existência de estudantes
justificaram sua percepção pelo fato de ser um
com percepção que não difere os objetivos de
procedimento cansativo e demorado. Mantêm
cada modelo de organização do ambiente
a visão de que a troca deve ser realizada pelos
escolar pode ser um indicador de que as
professores e não pelos estudantes. Já 2,5%
mudanças implementas deram-se muito mais
preferiram não expressar suas opiniões.
na dimensão física que social da proposta da
sal-ambiente. Na sequência, os estudantes foram solicitados
a identificar os materiais que compõem as
Quanto ao rodízio realizado pelos alunos no
salas temáticas em que estudam, descritos no
intervalo de cada aula e a permanência do
gráfico 2.
professor em sala de aula, os resultados
mostram que 48,75% dos respondentes

Gráfico 2- Materiais presentes nas salas temáticas

Fonte: Elaborado pelos autores

Observa-se que há uma predominância de buscamos informações sobre a frequência


cartazes nas salas, haja vista que os diferentes com que professor utiliza os recursos em suas
tipos de quadro são próprios da natureza de aulas. Os resultados foram agrupados na
qualquer sala de aula. Por essa perspectiva, tabela 2.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


105

Tabela 2 – Materiais utilizados com mais frequência pelo professor


Materiais (%)
Quadro 92,5
Cartazes 22,5
Materiais Concretos 11,25
Data Show 18,75
Televisão 8,75
Pinturas nas paredes 10
Jogos 5
Trabalhos dos alunos 27,5
Outros 2,5
Fonte: Elaborado pelos autores

Os dados mostram que o recurso didático aprendizagem de E/LE. Associaram essa


pedagógico mais utilizado pelo professor escolha à importância do domínio de uma
continua sendo o quadro de giz o que vai de língua estrangeira no contexto econômico
encontro à proposta de inovação de uma sala atual. Para ilustrar, selecionamos a resposta do
- temática. Guerra (2007) alerta que, apesar de estudante 51: “nos ajuda a desenvolver
o uso que se faz dos recursos possuir relação palavras, conhecimentos de uma língua muito
direta com o estilo de cada docente e com a usada no mundo, [o aprendizado do idioma
especificidade de cada disciplina, também hispânico] pode servir no futuro”. Da mesma
reflete hábitos coletivos da organização forma, o entrevistado 30 justifica dizendo que
escolar, principalmente as concepções de a sala-ambiente “estimula o aprendizado,
ensino e aprendizagem, conforme indicação especificamente para o espanhol”. Os demais
dos 92,5% dos entrevistados. alunos declararam ser pouco significativo (21,
25) e nem um pouco significativo (8,75). O
Quanto ao potencial de interação, indagou-se
quantitativo de 30% de estudantes insatisfeitos
aos pesquisados se nas aulas de língua
com a dinâmica adotada nas aulas de E/LE
espanhola existe interatividade entre
revelam a necessidade de a escola adotar
professor/alunos e alunos/alunos. Como
medidas no sentido de revisar metodologias,
resultado evidenciamos que 86,25% vivenciam
visando integrar de forma consistente teoria e
essa dinâmica nas aulas de E/LE. Dentre as
experiências práticas, além de promover
justificativas mais comuns encontra-se a
debates entre professores e alunos sobre os
didática do professor como fator de estímulo
objetivos educacionais da escola, podendo,
da interação, conforme mostra o depoimento
então, superar a visão de escola segundo
do respondente 28: “Sim, porque o professor é
parâmetros convencionais e incorporar
divertido e a maneira dele ensinar é ótima”.
inovações tanto na dimensão física quanto na
Contudo, 13,75% dos respondentes disseram
social que permeia essa instituição.
não existir interação nas aulas de E/LE,
atribuindo essa ausência à falta de controle na Por fim, perguntou-se aos estudantes sobre as
gestão do convívio pelo professor. modificações que poderiam ser realizadas nas
salas-ambiente de espanhol. As respostas
A importância de estar em uma sala-ambiente
foram agrupadas em três categorias:
de língua espanhola foi questionada aos
modificações na prática docente, materiais
pesquisados, a fim de reafirmar a percepção e
disponíveis e organização do espaço,
o nível de aprovação desse sistema de
conforme tabela abaixo.
organização. 70% assinalaram que estudar em
uma sala-ambiente é muito significativo para a

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


106

Tabela 3 – Modificações desejadas nas salas-ambiente


Modificações
Prática docente Materiais Organização do espaço
Promover mais pesquisas com
dicionários;
Usar a sala de informática; Arrumar as salas;
Fazer coisas que abram mais a Substituir as mesas e cadeiras;
mente;
Mudar a disposição das
Mais trabalhos em grupo; cadeiras;
Expor material com alfabeto; Computadores, notebook, Confeccionar mais cartazes
tablete, data show; Mapas com temáticos;
Expor imagens associadas a países que falam espanhol,
nomes de profissões e animais; globos, objetos da cultura Confeccionar quadros com
hispânica, dicionários, livros, imagens de temas hispânicos;
Disponibilizar tabela de
conjugação de verbos; quadro de vidro Expor material com alfabeto;
Usar mais vídeos, filmes, Expor imagens associadas a
documentários sobre a língua nomes de profissões e animais;
espanhola;
Disponibilizar tabelas de
Utilizar mais jogos educativos e conjugação de verbos;
músicas;
Promover diálogos;
Fonte: Elaborado pelos autores

As respostas dos estudantes indicam os ênfase ao ensino de E/LE, a partir do olhar dos
gestores pedagógicos e professores estudantes. Acredita-se que esses atores são
necessitam discutir a aquisição e/ou capazes de avaliar a prática pedagógica e a
confecção de materiais inovadores. Os alunos dimensão física das salas-ambiente de modo
mencionam produções que poderiam ser que se possa dimensionar uma proposta
efetuadas por eles próprios, bastando para realmente inovadora e condizente com a faixa
isso o planejamento do professor. Além disso, etária dos alunos a serem atendidos com a
sentem a necessidade de aproximarem-se das execução da proposta.
novas tecnologias no desenvolvimento do
Percebeu-se que introduzir inovações
ensino e a escola deve se esforçar para
didáticas no fazer pedagógico que estimulem
acompanhar as inovações nessa área, caso
os estudantes não é tarefa fácil nem simples.
contrário, a organização em sala-ambiente
Exige que a gestão pedagógica e o corpo
acabará sucumbindo às velhas convenções
docente estejam dispostos a promover
pedagógicas, perdendo sua capacidade de
debates constantes a respeito dos objetivos
fazer diferente e concretizar uma práxis
educacionais, a realizarem planejamento
realmente inovadora.
participativo envolvendo todos os setores da
escola.
6 CONCLUSÕES Trabalhar em sala-ambiente pode tornar o
processo de ensino e aprendizagem
O interesse por este estudo surgiu do
prazeroso, dinâmico, com capacidade de
propósito de buscar subsídios para a
integrar de forma consistente conteúdos e
elaboração de um projeto de sala-ambiente
experiências práticas.
para o ensino de Espanhol como Língua
Estrangeira em turmas da modalidade EJA no A inovação na sala-ambiente torna-se requisito
IFRR. para necessário para o reconhecimento da
importância do domínio de uma segunda
Pretendeu-se conhecer as inovações didáticas
língua para os estudantes. Para tanto, faz-se
implementadas pelos professores de
necessário intensificar a reflexão sobre as
diferentes áreas do conhecimento, dando
práticas pedagógicas salas-ambiente e a

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


107

proposta formativa que se propunha com sua interdisciplinaridade e, em se tratando da sala-


utilização, sendo imperioso, pois, na ambiente de E/LE, propicia momentos de
continuidade da pesquisa, ouvir professores interculturalidade.
com experiência em implantação e utilização
Por se tratar de um estudo exploratório,
de salas-ambiente.
reconhece-se a necessidade da continuidade
As falas dos participantes evidenciaram a da pesquisa direcionando o foco para as
existência de aspectos positivos quando a percepções dos professores. Assim,
sala-ambiente é organizada com materiais comparando-se o olhar desses dois atores e
variados, destacando-se a praticidade embasados em referenciais que tratem sobre
oferecida ao professor; a economia de tempo a Educação de Jovens e Adultos, conseguir-
e de materiais no desenvolvimento das suas se-á desenhar a proposta de uma sala-
aulas; o contato do estudante com os recursos ambiente de E/LE para os estudantes dessa
didáticos; a ajuda de ilustrações referentes aos modalidade de ensino, tema que resultará em
temas estudados para a aprendizagem; além novas reflexões teóricas que permitirão
da interação entre os atores envolvidos. reconhecer nesse modelo de organização do
espaço escolar as especificidades que
Em suma, as salas-ambiente são descritas
garantam um ensino em sintonia com as
pelos alunos como lugar educativo em que,
demandas socioeconômicas e culturais da
somando-se às condições de infraestrutura
população a ser atendida, resultando em
física, à espacial e sua dimensão social, é
aprendizagens significativas.
possível desenvolver-se práticas pedagógicas
alicerçadas na interação, na troca de
experiência, nos princípios da

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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


109

Capítulo 9
UTILIZAÇÃO DE OBJETOS PEDAGÓGICOS PARA O
ENSINO DE FÍSICA EM ESCOLAS.
Caio Soares Santos
Gil Fernandes da Cunha
Juliana Spinelli e Silva
Saul Eliahú Mizrahi

Resumo: Dificuldades no ensino tem sido tema constante quando se fala de baixo
rendimento escolar. Segundo dados, 19,5% dos alunos do primeiro ano do Ensino
Médio reprovaram ou abandonaram a escola apenas em 2014 (QEDU). Isso mostra
a ineficácia do sistema de ensino em relação à capacidade de atrair e manter o
estudante em sala de aula. A dificuldade de professores em atrair o interesse de
alunos para conteúdos ministrados tem tornado-se um problema cada vez maior.
Percebendo que a introdução de aulas experimentais tem gerado resultados
positivos, a pesquisa do Artigo foi direcionada para esse tema. Lembrando que “a
aula experimental não deve ser vista apenas como uma demonstração da teoria já
trabalhada em sala de aula” (MACHADO et.al - 2014), foram estudadas formas de
passar o conteúdo proposto através de um objeto pedagógico. Depois de
observações, foi proposto um material relacionado a parte do conteúdo de física
apresentado no Ensino Médio, visando aprimorar o ensino, ao mesmo tempo que
avalia seu grau de eficiência.

Palavras Chave: Objetos - Pedagógicos - Física - Ensino - Aprendizagem

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


110

1 INTRODUÇÃO aulas práticas durante o Ensino Fundamental e


o Ensino Médio também são importantes para
Uma breve análise dos dados do Censo
estimular a produtividade do futuro
Escolar (INEP, 2010; 2015) para o Ensino
profissional, desenvolvendo suas capacidades
Médio regular, revela que o número de
de criação e de inovação. É importante
matrículas se reduziu em quase 10% entre
ressaltar que “a aula experimental não deve
2010 e 2015 ao passo que dados referentes ao
ser vista apenas como uma demonstração da
rendimento escolar em 2014 (QEDU) mostram
teoria já trabalhada em sala de aula”
que 19,5% dos estudantes foram reprovados
(MACHADO et al., 2014) porque, ainda que
ou abandonaram os estudos ao fim do primeiro
nem todos a compreendam, uma aula prática
ano do Ensino Médio. Comparando em valores
permitirá que alguns alunos absorvam a forma
absolutos, a redução de matrículas dos últimos
criativa que o professor escolheu para
cinco anos corresponde a um quantitativo
trabalhar a matéria. Pode-se destacar a
próximo a 710 mil, enquanto que quase 890 mil
argumentação de Araújo e Araújo (2009) que
estudantes estão compreendidos entre
“o aluno aprenderia a exercitar a sua
reprovações e abandonos. Isso mostra a
capacidade de imaginar, assim como fazer
ineficácia do sistema de ensino em relação à
algo imaginativamente, ligando intuitivamente,
capacidade de atrair e manter o estudante em
ou estabelecendo relações entre hipóteses
sala de aula. Além da falta de confiança que
aparentemente distintas.”. Mesmo não sendo o
muitos brasileiros têm a respeito da qualidade
planejado, o resultado comum das aulas
do ensino na maioria das instituições públicas,
experimentais é o interesse gerado, que muitas
existe também uma indiferença no que diz
vezes é maior daquele que ocorre em uma aula
respeito as disciplinas mais específicas como
puramente expositiva.
a Física, geralmente introduzida a partir do
Ensino Médio. A dificuldade que os Com esse intuito, muitos educadores procuram
professores têm em atrair o interesse dos ser mais criativos e inovar na maneira de
alunos para o conteúdo ministrado nessa apresentar suas ideias para seus alunos.
matéria contribui para os resultados negativos
e também para a falta de estímulo para o
estudo de outras disciplinas, o que vem se 2 OBJETIVO
tornando um problema cada vez maior.
O presente artigo tem por objetivo mostrar
Portanto, é importante que o docente procure como é possível apresentações práticas
por novas formas de apresentar o conteúdo de auxiliarem educadores na apresentação de
Física, tanto no âmbito expositivo quanto no conteúdos de Física para alunos do Ensino
experimental. Segundo os Parâmetros Médio.
Curriculares Nacionais (2015), o ensino de
Uma boa maneira de alcançar essa meta é
Física não é suficientemente atraente para
buscar uma “didática da invenção” (ARAÚJO;
muitos alunos por ser exposto de forma
ARAÚJO, 2009), que corresponde à procura
desarticulada e não correspondente à
do ensino por meio de estímulos criativos, o
realidade dos mesmos. Como observado por
que pode ser encontrado no emprego de
Machado et al. (2014), os jovens da era digital,
objetos pedagógicos, sendo objeto
por possuírem necessidades diferentes do
pedagógico tudo aquilo que pode ser utilizado
jovem de épocas anteriores, precisam de
para desenvolver ou estimular a
novos incentivos para ter interesse nos
aprendizagem. Tais objetos favorecem a
estudos.
obtenção do conhecimento ao mesmo tempo
Conteúdos de Física, em especial a área da em que concordam com o Artigo 36 II da LDB,
Mecânica, são considerados desinteressantes referente ao professor, que deverá adotar
por serem frequentemente apresentados por “metodologias de ensino e de avaliação que
meio de muitas fórmulas e conceitos abstratos. estimulem a iniciativa dos estudantes”. Um
A Mecânica é a área da Física onde existem as exemplo de que a adoção de tal técnica
maiores possibilidades de serem realizadas funciona é o que ocorre no Museu de
experiências práticas e com baixo custo de Astronomia e Ciências Afins (MAST), que na
produção, podendo “ser o espaço adequado edição de seu livro de aniversário trata sobre
para promover conhecimentos a partir de um educação e divulgação da ciência (VALENTE
sentido prático e vivencial macroscópico” ET al., 2015), reconhecendo que “o potencial
(PCN, 2015). Para Machado et al. (2014), as educativo dos instrumentos científicos dos

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


111

museus vem adensando a produção de uma uma correia estarão escritas informações e,
literatura sobre estudos que exploram o objeto com o decorrer do uso, estas serão reveladas:
como recurso de interpretação para a fórmulas e leis que representam a ação que
educação e a comunicação em ciências“. acabou de ser realizada pela engrenagem.
Araújo e Araújo (2009) afirmam que “a Trata-se de um processo de ação e reação que
imaginação é uma faculdade que ajuda a acaba por encorajar “a curiosidade, a
melhor entender as ideias abstratas veiculadas especulação, a observação, enfim, a prática
pelo ensino e pelos curricula que o sustentam” do método científico” (SIMÕES; GARCÍA -
porque, sem o auxilio desse tipo de 2014).
imaginação, muitas inovações não existiriam,
sendo importantes, também, no ensino da
Mecânica, objeto de nossa pesquisa. 4 METODOLOGIA
Nossa convicção coincide com o seguinte A elaboração do projeto foi iniciada com uma
lema apresentado no portal da Associação revisão bibliográfica, com destaque para os
Brasileira de Centros e Museus de Ciência Parâmetros Curriculares Nacionais, sobre os
(ABCMC) ”A educação não-formal, através de aspectos relacionados à aprendizagem de
seus processos livres e lúdicos, pode Física.
despertar os professores para novas
Entrevistas com professores e estudantes
possibilidades pedagógicas, assim como
foram realizadas. Foram ouvidos
novos talentos para a atividade científica”.
pesquisadores que demandam, para suas
equipes, profissionais ou estudantes com
conhecimentos em Física. As entrevistas
3 O KIT E A MECÂNICA
conjugadas com a revisão bibliográfica
Foi proposto o desenvolvimento de um kit, possibilitaram a identificação das dificuldades
ATRELANDO O FUTURO, cujo projeto foi de aprendizagem mais frequentes e, em um
pautado na promoção da aprendizagem passo a seguir, a proposição de alternativas
associada ao estímulo da curiosidade. para a superação dessas condições.
Buscou-se também que ele pudesse ter
Também foi feito um levantamento no
aplicação interdisciplinar, com uso intuitivo,
mercado, na busca de produtos existentes que
acessível e que auxiliasse na forma de
exercessem ou não a mesma função didática,
expressão do aluno para contribuir para o
além de se buscar adquirir um conhecimento
aumento da qualidade de ensino e do
mais aprofundado nos conceitos de Física a
aproveitamento escolar de alunos do Ensino
serem apresentados por nosso Kit.
Médio.
A seguir disso alguns objetos pedagógicos
O conteúdo é apresentado de forma objetiva e
foram conceituados pela equipe de
simples, porém criativa, “evitando-se
pesquisadores e após ampla discussão para
descrições detalhadas e abstratas de
se escolher a melhor solução foi realizado o
situações irreais, ou uma ênfase
detalhamento do seu projeto. Em seguida foi
demasiadamente matematizada” (PCN, 2015).
feita a produção de seu protótipo, o que
O projeto consiste em um painel desmontável possibilitou uma nova e melhor avaliação por
com um conjunto de engrenagens, de pesquisadores, professores e alunos, o que
diferentes tamanhos e diferentes números de resultou no retorno de uma série de
dentes, evidenciando a relação de transmissão observações que levou ao aprimoramento
de movimentos e forças existente entre elas. desses objetos.
Em seu funcionamento são explicitadas
relações entre a quantidade de movimento e
as causas de variação do próprio movimento, 5 COLETA DE DADOS
além de outros conceitos como: movimento
Existem diversos tipos de engrenagens que
circular uniforme, conservação de movimento,
foram estudadas com a finalidade de serem
energia, vetores, velocidade angular, rotações
selecionadas para a utilização no processo de
por minuto e geometria.
prototipagem do kit ATRELANDO O FUTURO,
Para auxiliar na promoção da aprendizagem, são elas:
além da atividade prática, será apresentado
Engrenagens de dentes retos: Frequentemente
conteúdo textual no próprio Kit. Através de
encontradas em formas cilíndricas ou de disco.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


112

Estas engrenagens são utilizadas para fazer motores, sendo usada em muitos campos
variações na força e na velocidade de rotação industriais.
de eixos.
Engrenagens cônicas: As engrenagens
Engrenagens helicoidais: Estes dispositivos cônicas retas têm a função de fazer a
são um dos mais conhecidos tipos de transmissão do movimento entre os eixos do
engrenagens industriais. Seus dentes são sistema, que geralmente ficam posicionados a
projetados para formar uma malha em um 90°, mas também podem atuar com eixos
ângulo adequado, com a intenção de criar uma colocados em outros ângulos.
carga de empuxo ideal, sendo assim
Em função da variedade de componentes da
comumente utilizadas para transportar cargas
mecânica, buscou-se no mercado Kits
pesadas, já que a área de contato entre os
didáticos que pudessem suprir as
dentes é maior do que em outros tipos de
necessidades de recursos de aprendizagem.
engrenagens.
A companhia de brinquedos MODELIX possui
Engrenagens sem-fim: Essa engrenagem diversos Kits que possibilitam o uso de
serve como um mecanismo de transporte, ela engrenagens de diversas formas criativas, o
pode ser usada para transmitir potência em que instiga a criatividade e amplia o
conhecimento por meio pratico.

Figura 1: Catavento simples MODELIX

Outro similar encontrado foi o Painel elementos instrumentos educacionais. O produto permite
de máquinas e mecanismos 1 - engrenagens, entendimento das seguintes matérias: física
polias e barra dentada EQ268A da empresa clássica, mecânica clássica, mecânica dos
CIDEPE, referência internacional em sólidos, estática, cinemática e dinâmica.

Figura 2: Painel com engrenagens e polias EQ268A

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


113

Também foi considerado um similar um projeto relação entre engrenagens de tamanhos


de Leonardo Da Vinci, reproduzido por vários diferentes.
estudantes desde então, que demonstra a

Figura 3: Painel de engrenagens de Leonardo Da Vinci (Reprodução)

Em seguida foram analisadas as informações Para demonstrar os efeitos da relação de


a fim de melhor formular uma solução que transmissão, seria necessário que as
concordasse com os objetivos do projeto. Para engrenagens estivessem à mostra, por isso foi
oferecer informações de forma clara e objetiva, proposta uma caixa que servisse apenas de
o kit ATRELANDO O FUTURO irá evidenciar a suporte para o eixo das engrenagens e que
relação de transmissão de oito engrenagens, fosse vazada para facilitar a troca de
seguindo os requisitos apresentados engrenagens de lugar. Depois, para a
anteriormente, ligadas através de um painel exposição de informações, foi pensado um
desmontável similar à experiência do inventor mecanismo que, com o girar das engrenagens,
Leonardo Da Vinci. Serão utilizadas revelasse aos poucos as informações por trás
engrenagens cilíndricas para as ações das ações, tais quais: fórmulas, leis, relações
propostas por serem exemplos de de transmissão.
engrenagens mais comuns no dia-a-dia e
Para ocorrer qualquer mudança na quantidade
apresentar a engrenagem cônica em
de rotação de uma engrenagem é necessário
funcionamento, por não ser tão conhecida.
que haja um atrelamento com outra
O produto final será projetado através dos engrenagem, que tenha quantidade de dentes
seguintes requisitos: possuir número limitado maiores do que a primeira. O kit, na versão
de engrenagens, demonstrar direta e protótipo, virá com oito engrenagens e o
indiretamente relações de transmissão; ser estudante terá total liberdade de trocar por
desmontável, para aumentar o grau de outras de diâmetros maiores ou menores, suas
integração com o aluno; passar informações localizações ou atrelar a elas uma polia para
de forma clara, simples e rápida; demonstrar que transmitam essa energia para algum outro
na prática as teorias expostas; estimular o lugar, de modo a utilizar todo o potencial de
interesse do aluno e ser de baixo custo. estudo de forma prática e lúdica.
As restrições encontradas pelo projeto são Para a confecção das engrenagens, foi
referentes aos materiais e processos utilizado o software de modelagem
disponíveis para fabricação de protótipos e tridimensional Rhinoceros 3D. Seguido do
modelos. envio do objeto modelado para equipamento
de impressão tridimensional, podendo ser
finalizado tanto em polímero ABS, material
6 MODELAGEM E PROTOTIPAGEM DOS usado na impressora, quanto em outro material
OBJETOS PEDAGÓGICOS caso mude a forma de produção. Para a
estrutura da caixa foram usados madeiras,
metais e acrílicos.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


114

Figura 4: Desenho em software (Rhinoceros 3D)

7 EXPERIMENTOS Foi estabelecida a ementa da aula, que tinha


por objetivo tratar de assuntos que tornassem
Durante o tempo de pesquisa, foi realizada
o aluno capaz de absorver o conteúdo
uma aula acerca do conteúdo compreendido
ministrado. Por se tratar de uma aula de Física
no uso do kit ATRELANDO O FUTURO, onde
com conteúdo referente à área da Mecânica,
foi aplicado um exercício teórico retirado do
foi feito um planejamento partindo-se do
livro Elementos de Máquinas (MELCONIAN,
conceito mais simples para o mais complexo,
2009). Logo após a teoria houve uma avaliação
sendo eles: Movimento Circular Uniforme,
de desempenho dos alunos. Em seguida,
Frequência, Torque e Força Tangencial. Foi
realizados experimentos práticos com a
proposto e aplicado como método de
utilização do kit, procedido de outra avaliação
avaliação um exercício que compreendesse
de aprendizagem.
todos esses conceitos.

Figura 5: Exercício selecionado para experimentação

Em seguida foram elaboradas quatro questões recomenda-se que, durante a avaliação, ele
para resolução do exercício, relacionando seja omitido.
conceitos de matemática com física. Apesar
Qual a velocidade angular do Pinhão (1)?
de ser apresentada com o gabarito aqui,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


115

Figura 6: Solução da questão A

Qual a frequência da polia um?

Figura 7: Solução da questão B

Qual o torque da polia um?

Figura 8: Solução da questão C

Qual a relação de transmissão?

Figura 9: Solução da questão D

8 MODELO DE AVALIAÇÃO Já a qualidade do ensino foi avaliada de duas


formas. A partir da comparação de notas
Foram estabelecidas dinâmicas para
obtidas em testes e provas realizadas antes e
apresentação e avaliação do kit ATRELANDO
depois da utilização do kit e através de uma
O FUTURO. Concomitantemente, uma série de
pesquisa onde os professores e alunos
quesitos de avaliação foi construída e dividida
puderam descrever os positivos e negativos do
em aspectos relacionados ao design e à
experimento.
aprendizagem, em seguida foi realizada uma
avaliação acerca do design e do ensino.
O design foi avaliado por quesitos como: 9 UTILIZAÇÃO EFETIVA
atração, segurança, dimensão e aparência.
Para parecer mais preciso do kit, foi feita uma
demonstração para um grupo de indivíduos de

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


116

diferentes graus de formação e área de desinteressados em física e todos declararam


conhecimento. Em seguida foi pedido a eles que o recomendariam para conhecidos.
que respondessem a um questionário cujos
No geral, sua qualidade foi elogiada, tanto pelo
quesitos levaram em consideração itens como
design inteligente quanto pela forma que
o tempo de uso, a qualidade e melhorias que
passa o conteúdo proposto, ainda que, para
pudessem ser feitas no kit.
alguns, haja necessidade dele ser mais bem
Analisando as respostas, pode-se concluir que explicado. Foi inquirido qual o impacto visual
o kit possui qualidades e defeitos que podem do kit para o grupo, que concordou ser um
ser mais bem estudados. A maioria do grupo produto interessante, bem elaborado e que
utilizou o kit de duas a três horas seguidas e o prova força. Apesar de alguns haverem
avaliou positivamente. Chegou-se a um declarado gostar de Física antes da utilização,
consenso no que diz respeito a capacidade do ainda o aprendizado foi um dos pontos
kit de motivar positivamente alunos negativos, declarou-se fraco em relação ao
proposto.

Figura 10: Uso de modelo por aluno do Ensino Médio

10 CONCLUSÃO utilização, ainda que resulte em melhor


desempenho em turmas onde os alunos
Ficou evidenciado que o kit ATRELANDO O
possuam uma maturidade maior. Isso
FUTURO, apesar de ainda possuir pontos
acontece por ser um objeto pedagógico que
onde pode melhorar, cumpriu com o objetivo
estimula a criatividade sendo, por esse motivo,
de ajudar no ensino de Física. Ficou em
um fácil meio de distração para o estudante.
evidência o aumento da capacidade cognitiva
dos alunos que utilizaram o kit, quando Por fim, acredita-se que estímulos a atividades
entenderam melhor o assunto e conseguiram semelhantes às expostas no presente artigo
resolver os exercícios propostos. Como tendem a melhorar o ensino e incentivar a
complemento às aulas teóricas o kit teve uma permanência em escolas, alem de direcionar o
boa recepção por parte dos estudantes e interesse de certos indivíduos para estudos
professores que o acharam um produto de fácil mais profundos de determinado assunto.

REFERÊNCIAS
[1]. ARAÚJO, A. F. & ARAÚJO, J. M. Imaginário [2]. MACHADO, ET AL. A Pesquisa Científica
educacional figuras e formas, Niterói, 2009, pp. 64- Como Linguagem e Praxis, Rio de Janeiro, 2014, pp.
74 50- 54

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


117

[3]. VALENTE, M. E. & CAZELLI, S. (Orgs.) brasilia-exposicao-interativa-mostra.html>


MAST: 30 anos de pesquisa. Educação e Acessado em: 05 Mai. 2016
Divulgação da Ciência, v. 2, Rio de Janeiro, 2015,
[10]. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E
pp. 299
PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA.
[4]. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros
[11]. Censo Escolar 2010 Disponível em:
Curriculares Nacionais do Ensino Médio, 2015, 58p.
<http://portal.inep.gov.br/basica-censo> Acessado
[5]. MELCONIAM, S Elementos de Máquinas, em: 09 Jun. 2016
Ed. 9, Brasil, 2009
[12]. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E
[6]. CAETANO, E. L. ET AL. Universidade Tuiuti PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA.
do Paraná, Lista de exercícios – Elementos de
[13]. Censo Escolar 2015 Disponível em:
máquinas, Curitiba, 2015, pp. 84-85
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[7]. CATAVENTO SIMPLES MODELIX em: 09 Jun. 2016
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[14]. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.ht
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Mai. 2016 [15]. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CENTROS
E MUSEUS DE CIÊNCIA, Programa Nacional de
[8]. PAINEL COM ENGRENAGENS E POLIAS
Popularização da Ciência, Disponível em:
EQ268A Disponível em: <http://www.cidepe.com.
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/sys/start.htm?infoid=39&sid=18> Acessado em: 10
elementos-de-maquinas-e-mecanismos-1-
de Jun. 2016
engrenagens-polias-e-barra-dentada-eq268a>
Acessado em: 04 Mai. 2016 [16]. QEDU Taxas de Rendimento, 2014.
Disponível em:
[9]. PAINEL DE ENGRENAGENS DE
<http://www.qedu.org.br/brasil/taxas-rendimento>
LEONARDO DA VINCI (REPRODUÇÃO) Disponível
Acessado em: 15 Jun. 2016
em: <http://blog.brasilacademico.com/2015/07/em-

ANEXO

Tabela 1: Relação de siglas e áreas temáticas

Siglas Áreas Temáticas

INT Instituto Nacional de Tecnologia

ABS Acrilonitrilo-butadieno-estireno

CIDEPE Centro Industrial de Equipamentos de Ensino e Pesquisa

MAST Museu de Astronomia e Ciências Afins

ABCMC Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


118

Capítulo 10
CONCEPÇÕES IMPLÍCITAS DE APRENDIZAGEM: UM
ESTUDO COM GRADUANDOS DO CURSO DE CIÊNCIAS
CONTÁBEIS DA UFBA
Ana Gabriela Moura Baqueiro
Mariana Almeida Ribeiro
Joséilton Silveira da Rocha
Catarina Salume Lusquinhos Almeida

Resumo: O objetivo do presente estudo foi identificar as concepções de


aprendizagem dos graduandos do curso de em Ciências Contábeis da Universidade
Federal da Bahia. Dentre as teorias implícitas da aprendizagem apresentadas, estas
foram classificadas em três: direta (ou realista), interpretativa e construtiva. A amostra
foi formada por 192 respondentes, o instrumento de coleta de dados formado por
analogias que buscou capturar as concepções implícitas de aprendizagem de
acordo com os processos denominados relação, fixação, organização e recuperação
do conhecimento. Os resultados indicaram respostas uniformes dentre as três teorias
para os estudantes, sendo que se imaginava o perfil dos estudantes de Ciências
Contábeis com uma tendência a teoria direta.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


119

1. INTRODUÇÃO uma característica do processo de


aprendizagem humano cuja sociedade é quem
A atual sociedade da convergência (diligência
cria as demandas e, consequentemente, as
e informação) exige cada vez mais das
mudanças necessárias ao ser humano. A
pessoas o uso e a interação dos diversos
capacidade de aprendizagem esta
conhecimentos em suas rotinas, as quais se
intimamente ligada ao ambiente cultural que a
tornaram mais aceleradas. Esse fato acaba
cerca, ou seja, cada sociedade cria suas
exigindo das pessoas, frequentemente,
próprias formas de aprendizagem (POZO,
aprendizagens de diversos saberes e
2002). Sendo assim, para que ocorram
domínios.
mudanças no processo de aprendizagem faz-
Apesar desse entendimento, Cunha (2007) se necessário uma reforma no ambiente
ressalta que as universidades utilizam de cultural.
metodologias de ensino centradas no
Considerando a ideia de que o aprendizado
conhecimento específico de cada disciplina,
está diretamente relacionado ao ambiente
tendo o aluno uma apreensão do
cultural em que o individuo está inserido, este
conhecimento de forma fragmentada. Essa
trabalho tem como objetivo identificar e
constatação talvez não seja consequência da
investigar quais concepções de aprendizagem
falta de interesse ou do fato do saber ou não
são evidenciadas nos graduandos em
ensinar dos professores, mas há a
Ciências Contábeis da Universidade Federal
probabilidade de que os cenários de
da Bahia?
aprendizagem talvez não estejam adequados
às características dos alunos e professores. As teorias implícitas da aprendizagem fazem
parte do contexto psicológico vinculado ao
De acordo com Pozo (2002) os programas das
construtivismo que consideram a
instituições ainda não são formatados para que
aprendizagem resultado da experiência
os alunos possam ter a oportunidade de
humana em seu ambiente natural. Três teorias
organizar os conhecimentos apreendidos na
implícitas sobre aprendizagem podem ser
escola aos seus conhecimentos cotidianos, o
apresentadas: a direta, a interpretativa e a
que acaba tornando estes desinteressantes.
construtiva.
Não haveria cabimento, ainda hoje, conceber
A partir de então, este estudo tomou como
um sistema de ensino baseado em uma
diretriz o princípio de que ainda hoje os
concepção bancária de aprendizagem, onde
estudantes do curso de Contabilidade se
se tem na figura do professor ativo e detentor
mantêm em teorias implícitas de
do conhecimento e o aluno passivo que retém
aprendizagem de natureza direta, ainda mais
esse conhecimento (FREIRE, 1987). A
considerando a natureza do Curso de Ciências
memorização como forma única de ensino e
Contábeis que não tem foco nas disciplinas
estudo por parte dos estudantes não pode
epistemológicas humanistas que tratam dos
mais ser aceita, mas sabe-se da importância
aspectos do ser humano como indivíduo e ser
da memória no processo de ensino-
social, tais como filosofia, psicologia,
aprendizagem, além de o estudante ser capaz
antropologia, pedagogia. Com isso a seguinte
de reter a informação, ele precisa
hipótese foi investigada: Os alunos do curso de
compreendê-la para que possa transformá-la
ciências contábeis caracterizam-se, em sua
em conhecimento e futuramente aplicá-lo.
maioria, por evidenciarem características da
Segundo Morin (2003), faz-se necessária uma
concepção direta da aprendizagem.
reforma do pensamento, onde estudantes e
professores mudem permanentemente suas A população total deste estudo foi composta
posturas. Os professores devem ter em mente por 559 graduandos matriculados no segundo
seu papel de facilitador na aprendizagem do semestre do ano de 2012, enquanto a amostra
aluno e como qualquer ser humano, em utilizada constituiu-se de 192 graduandos
essência inacabado, estar a todo o momento matriculados em disciplinas compreendidas
aptos a construir novos conhecimentos nessa em todos os períodos do curso.
interação com estes alunos. Ao mesmo tempo
Pesquisas anteriores foram realizadas com o
em que os alunos precisam assumir uma
intuito de investigar as concepções implícitas
postura mais ativa em seu processo de
de aprendizagem em estudantes
aprendizagem ao invés de esperar que o
universitários, dentre elas podem-se destacar
professor seja o responsável por tanto.
os trabalhos de Serrano (2007), Alves e
Essa reforma esta intimamente relacionada Portugal (2010), Portugal e Lima (2011).
com o ambiente cultural. Na verdade essa é Entretanto, nenhuma destas pesquisas

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


120

discutiu as concepções implícitas de dirigem a uma aprendizagem prática,


aprendizagem nos estudantes de Ciências expositiva, metacognitiva, clara, de fácil
Contábeis e este trabalho trouxe uma repetição e objetiva”. Sendo assim, a
importante contribuição para pesquisas de aprendizagem explicita é a que
educação na área. Este estudo de caráter tradicionalmente necessita de um mediador
exploratório traçou o perfil dos discentes de para o processo de aprendizagem, a exemplo
Ciências Contábeis e apresentou-se como a das escolas onde há a figura do professor e
primeira etapa de um projeto maior de aluno, como também em outras situações onde
investigação. não há a figura do professor como na leitura de
manuais, livros de receitas, etc.
Em virtude da inexistente formação
pedagógica, grande parte dos professores Já o processo implícito, foco desse estudo,
universitários brasileiros preparam suas aulas leva em consideração a crença e o ambiente
sem o conhecimento sobre estratégias e cultural em que acontece essa aprendizagem,
estilos de aprendizagem necessários ao de forma que as concepções implícitas de
ensino/aprendizagem de determinado aprendizagem fazem parte das experiências
conteúdo por parte dos alunos, muito menos pessoais sentidas e vivenciadas, difíceis de
programam suas aulas dando conhecimento serem compartilhadas e modificadas (ALVES E
ao estilo de aprendizagem do aluno que irá PORTUGAL, 2010).
assisti-la (PORTILHO, 2004). O conhecimento
O processo de aprendizagem é formado por
das teorias implícitas presentes nos alunos
um conjunto de sub-processos. Na
pode desencadear um processo reflexivo por
investigação de Serrano (2007) foram
parte do docente, com relação à importância
considerados quatro sub-processos (relação,
que ele exerce no processo de aprendizado do
fixação, organização e recuperação) em
aluno como também pode auxiliar os
virtude de exercerem influência na análise dos
professores de forma mais prática na
respondentes do questionário e por servirem
elaboração de suas aulas para que assim seja
para identificar a evolução de suas
alcançada qualidade de ensino e as
concepções implícitas de aprendizagem.
qualificações exigidas a esses profissionais.
As metodologias de ensino utilizadas se Segundo Serrano (2007), avaliar o processo
relacionam diretamente com a qualidade do relação implica construir uma evolução das
ensino, precisam ser sempre repensadas de concepções que os participantes teriam sobre
acordo com as exigências do ambiente o tipo de vínculo entre o novo conhecimento
(cultural, social, econômico e político) e não faz que estão aprendendo e o conhecimento
sentido então pensá-las de forma estática. existente em suas mentes. No caso do
Sendo assim, essa pesquisa contribuiu para processo organização, faz-se inferência às
uma melhora na qualidade do ensino superior representações que os participantes da
como também estimulou a realização de pesquisa têm sobre a disposição e distribuição
pesquisas futuras sobre a temática, visto que, do conhecimento que adquiriram no passado.
estas ainda são incipientes na literatura. Para o processo de fixação, o autor afirma que
pode ser entendido como aquele que resulta
na aprendizagem e questiona se este
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA resultado é uma cópia da realidade ou, pelo
contrario, se é um produto de processos
Ensino e aprendizagem são processos
individuais da construção de conhecimento. O
distintos, porém articulados entre si. A
processo de recuperação do conhecimento
aprendizagem é um processo individual que
está vinculado à memória, no qual os
se realiza quando o sujeito aprendiz mostra as
participantes deveriam ser capazes de replicar
mudanças que ocorrem na sua conduta.
os conhecimentos apreendidos no passado.
Ensinar, por sua vez, implica em criar
condições para que o aluno se relacione O estudo das Concepções Implícitas sobre o
sistematicamente com o meio, ou seja, implica ensino e aprendizagem vem sendo discutido
planejar e organizar circunstâncias sobre diferentes enfoques. Nesta pesquisa
apropriadas para que o aluno aprenda serão abordadas as concepções de
(OLIVEIRA E ROCHA, 2008). aprendizagem dos estudantes segundo a
visão das Teorias Implícitas estudadas por
O processo de aprendizagem do ser humano
Pozo (2002). Segundo essas ideias os
pode acontecer de duas maneiras: explícito e
processos de aprendizagem se dão baseados
implícito. O processo explícito que segundo
nas crenças em que cada ser humano possui
Portugal, Santos e Pereira (2011) “[...] se

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


121

uma conduta dependo dos sistemas de Sobre a teoria interpretativa, Silva, Fossatti e
crenças da sociedade. Sarmento (2011) comentam que apesar de
conceber condições as quais são necessárias
De acordo com Silva, Fossatti e Sarmento
para o processo de aprendizagem, elas não as
(2011) o sistema de crenças não costuma ser
explicam por si só. Faz-se necessária à
refletido pelo ser humano e são externalizados
atividade do aprendiz como meio essencial
de forma latente, como implicações do seu ser
para atingir os resultados esperados. Estes
e agir.
resultados continuam sendo uma cópia da
A partir de então se destaca as três teorias que realidade e dos modelos trabalhados pelos
explicam as concepções implícitas de professores. Sendo assim, nota-se que a
aprendizagem: a Direta (ou Realista), atitude do sujeito representaria uma diferença
Interpretativa e Construtiva. notável entre esta teoria e a direta.
Portugal, Santos e Pereira (2011) afirmam que Corroborado por Serrano (2007):
a teoria Direta assume uma posição
“En síntesis, la teoría interpretativa sigue
unidirecional da aprendizagem, não
siendo como la teoría directa, um modelo de
respeitando subjetividade, contexto e outras
relaciones causales de carácter lineal o
condições que estão incluídas no processo de
unidireccional. Aunque se puede admitir la
aprendizagem, de modo que ocorre uma
existencia de múltiples causas para el
relação passiva entre o sujeito que aprende e
aprendizaje, éstas no se interpretan como
aquele que transmite a aprendizagem.
parte de un sistema de interacciones. Así,
Em outras palavras, a teoria direta tem a muchos profesores concebirán la motivación
concepção da existência de uma realidade como causa del aprendizaje (o más bien de la
absoluta e de que o conhecimento é uma cópia falta de aprendizaje) pero difícilmente la
fiel da realidade. No campo pedagógico, situarán en el marco de un sistema de
segundo Silva Fossatti e Sarmento (2011), esta interacciones, de forma que no sólo puede ser
teoria baseia-se na concepção na qual a causa del aprendizaje sino también
exposição ao objeto de aprendizagem garante consecuencia de él (cuanto más aprende el
que seja alcançada a aprendizagem. Este alumno más se motiva y viceversa).”
resultado esperado seria assim uma
Para a teoria construtiva, o processo de
reprodução fiel da informação apresentada
aprendizagem se dá pela construção pessoal
pelo professor.
do conhecimento, ou seja, cada pessoa pode
A teoria Direta focaliza de maneira exclusiva os interpretar a realidade de maneira diferente, de
resultados da aprendizagem sem ter a acordo com seus próprios conhecimentos.
preocupação de contextualizá-los no
Segundo Silva, Fossatti e Sarmento (2011) “o
ambiente, nem vinculá-los à atividade de
conhecimento implica, necessariamente, uma
aprendiz (SILVA, FOSSATTI E SARMENTO,
transformação do conteúdo que se aprende e
2011).
também do próprio aprendiz que pode
A teoria interpretativa é apresentada como conduzir, inclusive, a uma inovação do
transição da direta para construtiva. Ela ainda conhecimento cultural”.
reconhece que o conhecimento humano reflete
Finalmente a teoria Construtiva valoriza o
a realidade percebida (teoria direta), mas
processo de construção da aprendizagem
passa a reconhecer o aprendizado, apesar de
considerando as realidades de cada individuo
sua forma linear, como um processo,
nesse processo. (PORTUGAL, SANTOS e
concebendo assim os resultados da
PEREIRA, 2011).
aprendizagem os quais produzem novos
estados de conhecimento, ideias estas mais A pesquisa relacionada às teorias implícitas de
próximas ao modelo da teoria construtiva. aprendizagem tem se mostrado crescente,
tendo em vista que os trabalhos apresentados
De acordo com Portugal, Santos e Pereira
a seguir discutiram-nas em diferentes cursos.
(2011), apesar da teoria interpretativa levar em
consideração a visão mais ativa do aprendiz e Serrano (2007) tem como objetivo estudar se
reconhecer as condições de espaço e estado as concepções implícitas de aprendizagem de
psicológico da mesma, esta ainda tem a ideia um grupo de estudantes universitários podem
de que existe uma forma única de relacionar o estar condicionadas ao seu nível de instrução
processo de ensino-aprendizagem. em teorias de aprendizagem. Sua investigação
foi subdividida em duas etapas: estudo 01 e
estudo 02. Para o estudo um, o autor criou um

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


122

questionário baseado em analogias na qual compreender as concepções de


constam oito perguntas que apresentam aprendizagem dos estudantes de licenciatura
situações de aprendizagem envolvendo as e do mestrado da Universidade Estadual de
variáveis independentes: o domínio do Feira de Santana (UEFS) e, como esta,
conhecimento das teorias implícitas, o encontrou-se atrelada às representações
contexto e o conteúdo e os processos de sociais de qualidade do ensino. Para compor a
aprendizagem. Com base nas situações, foi amostra, utilizou-se como critério a matrícula
solicitado ao participante selecionar duas das dos estudantes no penúltimo semestre dos
seis alternativas e essas analogias se cursos de licenciatura ou nos programas de
apresentaram em grupos de dois com as três Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado) em
concepções implícitas de aprendizagem. Letras, Biologia e Saúde da UEFS. Os
resultados demonstraram que a qualidade do
Os participantes da pesquisa foram
ensino se revelou dentro das concepções de
estudantes de diversos cursos da
aprendizagem dos estudantes nas diversas
Universidade de Madri e Barraquilla. Os
formas, tais como, nas afirmações de que a
resultados encontrados por Serrano (2007)
aprendizagem de qualidade não se limita ao
evidenciaram que das variáveis estudadas
espaço da sala de aula e que o estudante de
apenas a variável contexto não apresentou
qualidade é aquele que pesquisa outros
diferenças significativas entre seus valores. A
referenciais teóricos e faz associação com
fim de realizar uma análise mais refinada, o
outros conteúdos e disciplinas.
autor elaborou um segundo estudo com o
intuito de verificar se os resultados obtidos por A utilização de estratégias na elaboração e
estudantes do quarto ano de psicologia eram condução das aulas pelos docentes, como
devido ao conhecimento de teorias implícitas também na implementação do estudo por
ou se haveria outras variáveis que parte dos discentes, tem-se mostrado de
influenciassem os resultados. profunda relevância no contexto do ensino.
Frezatti e Silva (2012) discutiram a aplicação
No estudo dois, foram incorporadas outras
do método problem based learning (PBL)
variáveis: o domínio do conhecimento dos
como estratégia para manter o interesse dos
conteúdos de aprendizagem, a área de
alunos de uma disciplina, frente à tensão
formação e o nível de estudos. O questionário
prática versus incerteza. Nos resultados dessa
utilizado no primeiro estudo foi adaptado às
pesquisa, os autores identificaram que a
novas variáveis e os resultados sugeriram que
aplicação de estratégias ligadas à construção
estudantes de outros cursos apresentaram
do conhecimento e as metodologias
frequência de respostas homogêneas sobre as
associadas às teorias construtivistas
concepções de aprendizagem, diferente dos
motivaram os estudantes ao envolvimento e
estudantes de psicologia do quarto ano. Dessa
interesse pela disciplina, no entanto eles
forma o conhecimento de teorias implícitas de
afirmaram que os professores não podem se
aprendizagem apresentou-se como fator
acomodar, mas verificaram a necessidade de
determinante no estudo.
incluir outros elementos no planejamento e
Alves e Portugal (2010) avaliaram as gestão da disciplina da qual é responsável.
concepções de aprendizagem de estudantes Conforme Quintana (2006) se fez necessário
de licenciatura e de mestrado de diversos [...] conseguir ultrapassar as fronteiras das
cursos de uma Universidade Estadual do estratégias de repetição para as estratégias de
interior da Bahia. A pesquisa de natureza elaboração e organização do material de
qualitativa teve como instrumento de coleta aprendizagem. E esse movimento precisou ser
entrevistas semi-estruturadas. Os resultados realizado tanto pelos docentes quanto dos
mostraram que há uma diversidade de discentes.
perspectivas epistemológicas da cultura de
aprendizagem dos estudantes entrevistados,
ao que parece representar uma fase de 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
transição dessas representações de
A investigação caracterizou-se como pesquisa
aprendizagem as quais suas experiências
quantitativa. De acordo com Martins e
relatadas contradisseram algumas ideias
Theóphilo (2009), nesse tipo de pesquisa, o
teóricas apresentadas como resposta.
pesquisador dependendo da natureza das
Seguindo a mesma proposta de pesquisa, informações, dos dados e das evidências
Portugal e Lima (2011) também utilizaram levantadas, pôde empreender à respeito de
entrevistas semi-estruturadas para uma avaliação quantitativa, isto é: organizar,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


123

sumarizar, caracterizar e interpretar os dados Durante a coleta de dados o único curso de


numéricos coletados. graduação em Ciências Contábeis que não
estava no período de recesso em Salvador foi
Tendo como o objetivo identificar as
o da Universidade Federal da Bahia, assim a
concepções de aprendizagem dos
amostra foi composta apenas por graduandos
graduandos em Ciências Contábeis da
desta instituição de ensino. Para efeito de
Universidade Federal da Bahia foi utilizado
análise e segundo a proposta de Serrano a
como instrumento de coleta o questionário
amostra foi dividida em dois grupos: alunos do
elaborado por Serrano (2007) traduzido e
1º ao 3º semestre corresponderam ao grupo de
adaptado a realidade brasileira. A adaptação
alunos nos semestres iniciais (97
realizada no questionário disse a respeito do
respondentes) e alunos do 4º ao 8º semestre
fato a que este fez referência: alguns
representaram o grupo dos alunos nos
acontecimentos do contexto histórico espanhol
semestres finais (95 respondentes). A
que foram permutados por acontecimentos
população total foi composta por 559
históricos brasileiros de acordo com a
graduandos matriculados no segundo
realidade dos respondentes. Conforme
semestre do ano de 2012 e a amostra final
Serrano (2007) o processo de aprendizagem
totalizou 192 respondentes, sendo destes 99
não deve ser estudado como processo único e
do gênero masculino e 93 do gênero feminino.
sim como um conjunto de quatro processos
que ele subdivide em relação, fixação, Ante o exposto e a estrutura do instrumento de
organização e recuperação dos coleta de dados utilizado, as técnicas
conhecimentos. estatísticas eleitas para analisar os dados
coletados desta pesquisa foram a estatística
Deste modo, o questionário foi elaborado de
descritiva e o Teste T. O software estatístico
acordo com esses quatro processos de
utilizado para análise dos dados foi o SPSS
aprendizagem e buscou também investigar se
20.0 (Statistical Package for the Social
existe relação entre cada um desses
Sciences).
processos e as teorias implícitas de
aprendizagem. Foram apresentadas oito
situações correspondendo ao processo de
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
aprendizagem e seis analogias
correspondentes às teorias implícitas (direta, Na análise preliminar dos dados da amostra
interpretativa e construtivista). Destas seis pode-se observar que não houve variação
alternativas apresentadas, pediu-se aos significativa entre as teorias com relação ao
respondentes que identificassem duas total de respondentes, partindo do
respostas que melhor se adequassem ao pressuposto de que a probabilidade de
enunciado, segundo seu entendimento. Os respostas para cada um dos tipos de
processos de aprendizagem foram concepções era de 33,3%, tendo em vista que
apresentados de acordo com as seguintes são consideradas três concepções implícitas
questões: 1ª e 8ª organização; 2ª e 6ª fixação; de aprendizagem, podendo ser observadas na
3ª e 5ª relacionamento; e 4ª e 7ª recuperação. Tabela 1.

Tabela 1: Porcentagem geral de respostas para cada uma das categorias das concepções de
aprendizagem.
Frequência de Respostas

Concepção Concepção Concepção


Direta Interpretativa Construtiva

35% 34% 32%

Fonte: Elaboração própria (2013).

Constatou-se que a tendência de respostas a construtiva 32%. Esses dados divergiram


dos estudantes é relativamente uniforme. Na dos resultados encontrados na pesquisa de
amostra do estudo, a concepção realista Serrano (2007), que encontrou equilíbrio entre
apresentou um percentual de as respostas interpretativas e construtivas
aproximadamente 35%, a interpretativa 34% e (aproximadamente 45% cada uma delas), mas

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


124

em relação às realistas representou a metade sobre teorias implícitas de aprendizagem e o


das concepções anteriores (aproximadamente autor considerou este fato como relevante para
22%). os resultados de seu trabalho.
É preciso destacar que a pesquisa de Serrano A Tabela 2 abaixo apresenta a classificação
(2007) englobou estudantes de Psicologia e média por processo de aprendizagem
Direito, Engenharia e Comunicação Social, segundo cada uma das concepções implícitas
sendo que uma parte destes (estudantes de de aprendizagem.
Psicologia) possuía conhecimento prévio

Tabela 2: Classificação média por processo de aprendizagem para cada uma das concepções
implícitas de aprendizagem
Como o conhecimento é organizado
Q1 Med Des_Pad Q8 Med Des_Pad
Realista 0,466 0,343 Realista 0,367 0,322
Interpretativa 0,286 0,283 Interpretativa 0,341 0,298
Construtiva 0,247 0,289 Construtiva 0,292 0,300
Como o conhecimento é fixado
Q2 Med Des_Pad Q6 Med Des_Pad
Realista 0,180 0,261 Realista 0,198 0,280
Interpretativa 0,510 0,289 Interpretativa 0,422 0,297
Construtiva 0,310 0,292 Construtiva 0,380 0,317
Como o conhecimento é relacionado
Q3 Med Des_Pad Q5 Med Des_Pad
Realista 0,427 0,315 Realista 0,419 0,339
Interpretativa 0,206 0,267 Interpretativa 0,219 0,274
Construtiva 0,367 0,334 Construtiva 0,362 0,328
Como o conhecimento é recuperado
Q4 Med Des_Pad Q7 Med Des_Pad
Realista 0,357 0,318 Realista 0,346 0,313
Interpretativa 0,354 0,315 Interpretativa 0,352 0,290
Construtiva 0,289 0,291 Construtiva 0,302 0,298
Fonte: Elaboração própria (2013).

Comparando as médias dos quatro sub- sub-processos de organização e relação,


processos de aprendizagem pode-se observar acontecem de maneira realista, ou seja, os
que no processo de organização, as respostas conhecimentos transmitidos pelos professores
mais freqüentes foram as de concepção são assimilados pelos alunos de forma
realista, da mesma forma ocorreu no processo passiva, sem reflexão, como verdades
de relação. Sobre o processo de organização absolutas como também são organizados em
buscou-se entender como os participantes nossa mente de forma isolada, sem nenhum
dispunham os conhecimentos apreendidos no tipo de reflexão ou relação com conhecimentos
passado. Já com relação ao sub-processo de anteriores.
relação, este consistiu em avaliar as
Com relação ao processo de fixação verificou-
concepções dos participantes sobre o vínculo
se que as respostas mais freqüentes foram às
que se da entre o novo conhecimento
de concepção interpretativa. O processo de
apreendido e os conhecimentos que
fixação esta relacionado com a retenção do
possuímos em nossa mente. Nesse sentido os

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


125

conhecimento e que resulta na aprendizagem. ocorre segundo a teoria realista e


De acordo com esse resultado, os estudantes interpretativa.
da amostra apresentaram certa diferença em
Serrano (2007) encontrou evidencias de que
relação aos processos anteriores,
estudantes de outras áreas, em comparação
reconhecendo assim uma visão mais ativa do
com estudantes de psicologia, apresentaram
aprendiz e aceitando as condições de espaço
uma contínua transformação das concepções,
e estado psicológico do mesmo, mas ainda
que implicou em uma diminuição progressiva
tem a idéia de que existe uma forma única de
das respostas realistas e um aumento das
relacionar o processo de ensino-
respostas interpretativas. Os resultados do
aprendizagem, resquício da teoria realista.
processo de recuperação demonstraram que
Os resultados da comparação de médias para os estudantes de Ciências Contábeis podem
o processo de recuperação apresentaram apresentar este comportamento.
respostas distintas quanto às concepções
Efetuada a análise descritiva foi realizado o
implícitas, as médias mais relevantes
Teste T para as variáveis de gênero e período.
representaram a concepção realista e
O período foi segregado em dois intervalos:
interpretativa, como pode ser observado na
iniciais (1º à 3º semestre) e finais (4º à 8º
tabela 3. Esse processo diz respeito a como os
semestre). Com relação à variável gênero não
alunos recuperam os conhecimentos que
foram encontradas diferenças significativas na
possuem em suas mentes, segundo os
amostra, conforme evidencia a Tabela 3.
resultados mais significativos esse processo

Tabela 3: Comparação de médias do processo de aprendizagem e gênero


Como o conhecimento é organizado

Q1 Gênero N Med Des_Pad Test_t sig Q8 Gênero N Med Des_Pad Test_t sig

M 99 ,434 ,3246 - M 99 ,338 ,3016 -


Realista ,186 Realista ,202
F 93 ,500 ,3612 1,326 F 93 ,398 ,3423 1,279

M 99 ,318 ,2984 M 99 ,369 ,3079


Interpretativa 1,612 ,109 Interpretativa 1,326 ,186
F 93 ,253 ,2619 F 93 ,312 ,2847

M 99 ,25 ,271 M 99 ,29 ,286


Construtiva ,004 ,997 Construtiva ,060 ,952
F 93 ,25 ,309 F 93 ,29 ,316

Como o conhecimento é fixado


Q2 Gênero N Med Des_Pad Test_t sig Q6 Gênero N Med Des_Pad Test_t sig

M 99 ,16 ,256 M 99 ,19 ,292


Realista -,988 ,324 Realista -,305 ,760
F 93 ,20 ,267 F 93 ,20 ,268

M 99 ,520 ,2759 M 99 ,424 ,3061


Interpretativa ,483 ,630 Interpretativa ,114 ,910
F 93 ,500 ,3040 F 93 ,419 ,2883

M 99 ,318 ,2897 M 99 ,384 ,3181


Construtiva ,404 ,686 Construtiva ,163 ,871
F 93 ,301 ,2962 F 93 ,376 ,3184

Como o conhecimento é relacionado

Q3 Gênero N Med Des_Pad Test_t sig Q5 Gênero N Med Des_Pad Test_t sig

M 99 ,409 ,3143 M 99 ,384 ,3413 -


Realista -,815 ,416 Realista ,136
F 93 ,446 ,3168 F 93 ,457 ,3351 1,497

M 99 ,19 ,255 M 99 ,23 ,288


Interpretativa -,738 ,461 Interpretativa ,444 ,657
F 93 ,22 ,280 F 93 ,21 ,259

M 99 ,399 ,3349 M 99 ,389 ,3467


Construtiva 1,363 ,175 Construtiva 1,173 ,242
F 93 ,333 ,3324 F 93 ,333 ,3069

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


126

(continuação...)
Como o conhecimento é recuperado

Q4 Gênero N Med Des_Pad Test_t sig Q7 Gênero N Med Des_Pad Test_t sig

M 99 ,323 ,3057 - M 99 ,33 ,304


Realista ,132 Realista -,825 ,411
F 93 ,392 ,3284 1,513 F 93 ,37 ,323

M 99 ,37 ,314 M 99 ,348 ,2897


Interpretativa ,889 ,375 Interpretativa -,152 ,880
F 93 ,33 ,316 F 93 ,355 ,2910

M 99 ,303 ,2929 M 99 ,323 ,3139


Construtiva ,27 ,685 ,494 Construtiva 9 ,28 1,014 ,312
F 93 ,2904 F ,2804
4 3 0

Fonte: Elaboração própria (2013).

Os resultados dos testes T apresentados na encontrado nenhum valor de significância


Tabela 3 evidenciaram que a variável gênero inferior a 0,05.
não se mostrou relevante no processo de
Em seguida foi feita uma comparação entre o
aprendizagem. Não existiram diferenças
intervalo do período no curso do respondente
significativas entre o gênero masculino e
e as teorias implícitas nos quatro processos de
feminino e nas teorias implícitas nos quatro
aprendizagem. Os resultados podem ser vistos
processos de aprendizagem não foi
na Tabela 4.

Tabela 4: Comparação de médias do processo de aprendizagem e período


Como o conhecimento é organizado

Períod Des_Pa Test_ Períod Des_Pa Test_


Q1 N Med sig Q8 N Med sig
o d t o d t

Iniciais 97 ,474 ,349 ,74 Iniciais 97 ,402 ,343 0,13


Realista ,329 Realista 1,519
Finais 95 ,458 ,339 3 Finais 95 ,332 ,297 0

Interpretativ Iniciais 97 ,273 ,289 ,51 Interpretativ Iniciais 97 ,309 ,301 - 0,13
-,656
a Finais 95 ,300 ,277 2 a Finais 95 ,374 ,291 1,505 4

Iniciais 97 ,253 ,299 ,80 Iniciais 97 ,289 ,321 - 0,88


Construtiva ,250 Construtiva
Finais 95 ,242 ,281 3 Finais 95 ,295 ,278 0,140 9

Como o conhecimento é fixado


Períod Des_Pa Test_ Períod Des_Pa Test_
Q2 N Med sig Q6 N Med sig
o d t o d t

Iniciais 97 ,196 ,266 ,38 Iniciais 97 ,216 ,269


Realista ,867 Realista ,929 ,354
Finais 95 ,163 ,257 7 Finais 95 ,179 ,291

Interpretativ Iniciais 97 ,515 ,310 ,80 Interpretativ Iniciais 97 ,423 ,292


,244 ,038 ,970
a Finais 95 ,505 ,268 8 a Finais 95 ,421 ,303

Iniciais 97 ,289 ,296 - ,31 Iniciais 97 ,361 ,304


Construtiva Construtiva -,854 ,394
Finais 95 ,332 ,288 1,018 0 Finais 95 ,400 ,331

Como o conhecimento é relacionado


Períod Des_Pa Test_ Períod Des_Pa Test_
Q3 N Med sig Q5 N Med sig
o d t o d t

Iniciais 97 ,428 ,314 ,97 Iniciais 97 ,407 ,333


Realista ,033 Realista -,496 ,620
Finais 95 ,426 ,318 3 Finais 95 ,432 ,347

Interpretativ Iniciais 97 ,253 ,281 ,01 Interpretativ Iniciais 97 ,242 ,290


2,489 1,204 ,230
a Finais 95 ,158 ,245 4 a Finais 95 ,195 ,256

Iniciais 97 ,320 ,324 Iniciais 97 ,351 ,340


- ,04
Construtiva 9 ,41 Construtiva 9 ,37 -,488 ,626
2,009 6
Finais ,339 Finais ,318
5 6 5 4

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


127

(continuação...)
Como o conhecimento é recuperado

Períod Des_Pa Test_ Períod Des_Pa Test_


Q4 N Med sig Q7 N Med sig
o d t o d t

Iniciais 97 ,381 ,321 Iniciais 97 ,345 ,273


Realista 1,087 ,278 Realista -,044 ,965
Finais 95 ,332 ,315 Finais 95 ,347 ,350

Interpretativ Iniciais 97 ,345 ,301 Interpretativ Iniciais 97 ,361 ,277


-,391 ,696 ,447 ,655
a Finais 95 ,363 ,330 a Finais 95 ,342 ,303

Iniciais 97 ,273 ,306 Iniciais 97 ,294 ,304


Construtiva -,762 ,447 Construtiva -,387 ,699
Finais 95 ,305 ,276 Finais 95 ,311 ,293

Fonte: Elaboração própria (2013).

No caso da comparação de médias entre os distintas quanto às concepções implícitas e as


grupos de estudantes em períodos iniciais e médias mais relevantes representaram a
finais também não foi possível encontrar concepção realista e interpretativa.
associação. Pensava-se que no decorrer do
Os resultados dos testes T evidenciaram que
curso, com o amadurecimento, os alunos
não há diferenças significativas entre
estivessem habilitados a desenvolver uma
estudantes dos períodos iniciais (1º à 3º
maior autonomia em relação ao professor
semestre) e finais (4º à 8º semestre). O mesmo
(tornando-se mais ativos); entendessem o
foi constatado com relação à variável gênero,
contexto e as particularidades (descartar a
onde não houve diferenças significativas entre
verdade universal); e desenvolvessem uma
homens e mulheres.
postura mais crítica (pensamento crítico)
tendendo assim as concepções implícitas da A partir do perfil do discente traçado nesse
teoria construtivista. estudo, surgiu um questionamento: Será que o
docente do curso de Ciências Contábeis da
Universidade Federal da Bahia deve utilizar
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS metodologias de aprendizagem voltadas a
concepção realista? Seria esta a melhor
O presente estudo cumpriu com o objetivo de
maneira de lidar com a situação?
identificar as concepções de aprendizagem
dos graduandos em Ciências Contábeis na As implicações desse estudo impulsionam
Universidade Federal da Bahia. Numa análise uma reflexão por parte das instituições em
geral dos dados foi constatado que a relação à estrutura do curso e dos docentes
tendência de respostas da amostra é uniforme. em relação ao planejamento das disciplinas
A concepção realista apresentou um que ministram. Frezatti e Silva (2012)
percentual de aproximadamente 35%, a apontaram que propostas de aprendizagem
interpretativa 34% e a construtiva 32%. construtivistas podem beneficiar o processo
de ensino-aprendizagem na resolução de
Essa multiplicidade de concepções também
problemas do cotidiano, visto que o mercado
foi observada nos trabalhos de Serrano (2007),
exige uma postura proativa dos profissionais
Alves e Portugal (2010), Alves e Lima (2011) e
de Contabilidade.
estes a interpretaram que os entrevistados
estariam presenciando uma fase de A aplicação de metodologias construtivistas
transformação das representações de pode, num primeiro instante, não ser
aprendizagem. reconhecida como adequada tanto pelos
alunos quanto pelos professores do curso de
No que se refere aos processos de
Contabilidade, pois estes não foram
aprendizagem (organização, fixação, relação e
habituados aos parâmetros construtivistas.
recuperação) e as teorias implícitas de
Assim entende-se que a mudança deve
aprendizagem constatou-se que no processo
ocorrer de forma gradativa, apesar das
de organização as respostas mais frequentes
dificuldades que surgirão no decorrer do
foram as de concepção realista, da mesma
processo.
forma ocorreu no processo de relação. Com
relação ao processo de fixação verificou-se Apesar deste resultado ter-se mostrado
que as respostas mais frequentes foram as de diferente do esperado e com concepções
concepção interpretativa. Já no processo de construtivistas quase no mesmo patamar das
recuperação encontraram-se respostas diretas, ainda assim aponta o alto índice de

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


128

alunos que demonstraram concepções professores no planejamento de suas aulas,


implícitas de natureza direta apontando para também permite pensar em uma reforma
necessidade de repensar o ensino da educação superior no contexto de
contabilidade para que estes não se tornem globalização. As instituições de ensino
profissionais limitados no futuro e possam estar superior precisam perceber a necessidade de
aptos a atender as necessidades constantes e mudança desse perfil de aluno formado para o
mutantes da era da informação. mercado de trabalho. Cabe aos professores
repensarem suas metodologias de ensino,
O cenário global atual exige dos indivíduos
instituindo ações e atividades inovadoras que
maior capacidade crítica para solucionar
permitam aos estudantes uma nova forma de
problemas nos inúmeros aspectos da vida
pensar e de modo que estudantes e
social. As novas demandas surgem em todas
professores vivenciem dupla função de
as áreas do conhecimento, a economia passa
educando-educador no processo de
por transformações no que diz respeito à
aprendizagem.
preocupação com o desenvolvimento
sustentável, o mercado de trabalho não está Vale ressaltar que os dados dessa pesquisa
preocupado apenas com as qualificações não podem ser generalizados. Faz-se
técnicas dos profissionais, mas requisita necessária realização de novas pesquisas,
àqueles que possuem comprometimento com visto que, o número de pesquisas nessa área
a organização, criatividade, pro atividade, ainda se apresenta de forma incipiente. Para
capacidade de tomar decisões em situações estudos futuros sugere-se um comparativo
complexas, que tenham habilidades com estudantes de outros cursos, inclusive da
comunicativas e estejam abertos à área de psicologia, conhecedores das teorias
aprendizagem. implícitas de aprendizagem.
A discussão suscitada pelos resultados
alcançados nesta pesquisa, além de auxiliar os

REFERÊNCIAS
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de aprendizagem em estudantes universitários de 2011.
licenciatura e mestrado. In: VI Colóquio
[9]. PORTUGAL, L. G. ; LIMA, A. Aprendizagem
Internacional Educação e Contemporaneidade.
e Pesquisa: as concepções dos estudantes de
Laranjeiras – SE/ Brasil, 2010. ISSN 1982-3657.
licenciatura e mestrado da UEFS. In: XV SEMIC.
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Interdisciplinar na Sociedade Contemporânea. 2011.
Gestão Universitária, v. 7, p. 1-13, 2007.
[10]. POZO, J. I. Aprendizes e Mestres: a nova
[3]. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. cultura da aprendizagem. Trad. Ernani Rosa. – Porto
Rio de Janeiro, Paz e Terra 1987. Alegre: Artmed Editora, 2002.
[4]. FREZATTI, F.; SILVA, S.C. Prática versus [11]. PORTILHO, E. M. L. Aprendizaje
incerteza: Como diferenciar o aluno nessa tensão na Universitário: um enfoque metacognitivo. Tese de
implementação de disciplina sobre o prisma do Doutorado. Departamento de Psicología Evolutiva y
método PBL? In: Anais do 12º Congresso USP de de La Educación, Universidad Complutense de
Controladoria e Contabilidade. São Paulo, 2012. Madrid, 2004.
[5]. MARTINS, G. A.; THEÓPHILO, C. R. [12]. QUINTANA, M. S. A aprendizagem na
Metodologia da investigação científica para ciências percepção de alunos do ensino superior. In: II
sociais aplicadas. São Paulo: Atlas, 2009. Seminário Internacional De Educação: Pesquisa E
Políticas.São Paulo: Uninove, 2006. v. 01. p. 01-14.
[6]. MORIN, Edgar. A cabeça bem feita:
repensar a reforma, reformar o pensamento; [13]. SERRANO, J. A. A. Concepciones
tradução Eloá Jacobina. 8 ed. Rio de Janeiro: Implícitas Del Aprendizaje en Estudiantes
Bertrand Brasil, 2003. Universitarios. Tese de Doutorado. Departamento
de Psicología Básica, Universidad Autónoma de
[7]. OLIVEIRA, M. M.; ROCHA, J. S. O uso de
Madri. Diciembre de 2007.
atividades Lúdico-pedagógicas no ensino da
Perícia Contábil. In: 2º Congresso UFSC [14]. SILVA, S. A. FOSSATTI, P. SARMENTO, D.
Controladoria e Finanças. 2008. F. Teorias implícitas sobre o ensino e a
aprendizagem. Revista Semestral da Associação
[8]. PORTUGAL, L. G. SANTOS, T. L. S. B.
Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP.
PEREIRA, F. R. S. Concepções de Aprendizagem:
Vol. 15, N. 2, Julho/Dezembro 2011: 291-299.
representações de qualidade de estudantes da
UEFS. In: V Colóquio Internacional – Educação e

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


129

CAPÍTULO 11
O IMPACTO DOS ESTILOS DE APRENDIZAGEM NO
ENSINO DE CONTABILIDADE NO ICHS–UFF

Alessandra dos Santos Simão


Arlindo de Oliveira Freitas,
Júlio Cândido de Meirelles Júnior
Sandra Margareth Lopes Louzada de Camargo
Israel de Carvalho Drumond Araújo

Resumo: Entender como o futuro profissional contábil aprende torna-se uma


informação valiosa para melhorar as metodologias e técnicas de ensino e
aprendizagem, e assim compreender o processo de aprendizagem e planejar os
cursos em forma sistêmica e integrada. Assim, buscou-se identificar se os estilos de
aprendizagem impactam no desempenho acadêmico dos discentes de graduação
em Ciências Contábeis do ICHS-UFF. Desenvolveu-se um estudo de natureza
aplicada, de abordagem quantitativa, objetivo descritivo e exploratório baseado na
literatura especializada, com a aplicação Learning Style Inventory para identificar e
analisar os estilos de aprendizagem dos discentes. Nos resultados verificou-se a
presença dos 4 estilos propostos por Kolb (Acomodador, Assimilador, Convergente
e Divergente), com predominância dos estilos Assimilador com 38,7%, e Divergente
com 32,3%. Com o teste Qui Quadrado, no qual apresentou o resultado de p-valor
de 0,66, demonstra não existir relação entre o estilo de aprendizagem e o
desempenho acadêmico.

Palavras-Chave: Ensino, Ciências Contábeis, Estilos de Aprendizagem

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


130

1. INTRODUÇÃO desempenho acadêmico dos alunos do curso


de Ciências Contábeis do ICHS-UFF?
Nos últimos anos o ensino de contabilidade
sofreu evoluções a fim de atender as diversas Diante do exposto, define-se como objetivo
exigências e complexidades do ambiente geral: Analisar o impacto dos estilos de
empresarial, social e econômico. No atual aprendizagem no desempenho dos alunos de
contexto, exige-se profissionais qualificados, graduação do curso de ciências contábeis da
críticos e éticos, para atuar nos diversos ICHS-UFF.
campos do mercado.
Especificamente, o trabalho objetiva:
O profissional contábil acompanhou as
 Identificar os estilos de aprendizagem
mudanças exigidas, evoluindo em respostas
existentes no grupo de pesquisa;
às demandas de seu ambiente, a
 Verificar a existência de algum estilo
normatização e fiscalização da profissão, as
de aprendizagem predominante no grupo
novas tecnologias que alteraram
de pesquisa; e
significadamente todos os procedimentos e
 Analisar a existência de relação entre
rotinas contábeis, aliadas à globalização e ao
estilos de aprendizagem e o desempenho
crescimento da economia, fez com que a
acadêmico no grupo de pesquisa.
profissão contábil se tornasse multidisciplinar,
e imprescindível nas empresas. A proposição deste trabalho, com foco na área
educacional, vai de encontro às abordagens
O profissional moderno deve possuir um perfil
contemporâneas que tratam dos estilos de
mais amplo e capacitado. Devendo ao mesmo
aprendizagem no ensino superior, pois: i) No
tempo possuir características de
ambiente educacional percebe-se a existência
empreendedorismo, dinamismo,
de grupos com características semelhantes e
conhecimento técnico e sobre a normatização
que os canais de percepção e processamento
brasileira e mundial. Por consequência, pode
de informação não são os mesmos. Isso
atuar em diversos segmentos, tais como:
significa que os indivíduos possuem diferentes
contador, gestor, fiscal, analista, auditor,
preferências nas maneiras como perceber e
consultor, professor, escritor e ainda abrir sua
processar as informações, ou seja, estilos de
própria empresa contábil.
aprendizagem diferentes (SILVA e NETO,
Já as universidades como disseminadoras de 2010); ii) Conforme Dunn (1987) apud
conhecimento e informação, para atender a Cerqueira (2000, p.37) quando os estilos de
demanda por profissionais mais aprendizagem são conhecidos e respeitados,
especializados, devem implantar um novo proporcionam um processo de ensino e
modelo de ensino, com o planejamento aprendizagem harmonioso, que reduzem os
sistêmico e integrado, inovadores e problemas de indisciplina e aumentam o
incentivadores da participação ativa dos aproveitamento acadêmico; iii) A formação do
alunos, permitindo o desenvolvimento o contador é discutida por diversos organismos
conhecimento, a atitude e a habilidade da contábeis internacionais, com destaque para o
pesquisa. IFAC (International Federation of Accounting) e
a ONU – Organização das Nações Unidas, por
Diante deste novo paradigma, entender como
meio do ISAR (Intergovernmental Working
o futuro profissional contábil aprende torna-se
Group of Experts on International Standards of
uma informação importante para melhoria das
Accounting and Reporting), subordinado a
metodologias e técnicas de ensino e
UNCTAD (Intergovernmental Working Group of
aprendizagem em contabilidade. Os
Experts on International Standards of
indivíduos aprendem de forma diferente, e
Accounting and Reporting) (SILVA e SOUZA,
nesse contexto, a identificação das
2008, p. 2).
características inerentes aos estilos pode
propiciar a utilização das melhores estratégias
e as mais indicadas às necessidades de cada
2.REFERENCIAL TEÓRICO
grupo.
2.1. O ENSINO DE CONTABILIDADE NO
Dessa forma, levanta-se o problema de
BRASIL
pesquisa: Existe relação entre os Estilos de
Aprendizagem e o Desempenho Acadêmico? Segundo Hendriksen e Breda (1999, p.38): “a
Os estilos de aprendizagem interferem no Contabilidade desenvolveu-se em resposta a
mudanças no ambiente, novas descobertas e

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


131

progressos tecnológicos. Não há motivo para avaliar as implicações organizacionais com a


crer que a Contabilidade não continue a evoluir tecnologia da informação.
em resposta a mudanças que estamos
Atualmente o profissional contábil possui
observando em nossos tempos”.
importante aliada no desenvolvimento de suas
Já Cosenza (2001, p. 31) declara que “as atividades, a tecnologia. O contador se tornou
universidades terão que se esforçar por multidisciplinar e tornou-se peça chave no
implantar um modelo de ensino voltado para cenário de tomada de decisões, pois suas
ajudar o aluno a “aprender a aprender”, uma capacidades, habilidades e atitudes o
vez que somente assim esses futuros qualificam para exercer com autoridade várias
profissionais da área contábil terão condições funções como analista de custos e financeiro,
de sucesso nessa sociedade que estará auditor, analista de projetos e outros.
sempre em dinâmica mudança”. O ensino
superior terá que formar egressos além de
preparados para o mercado, com visão crítica 3. OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM
e conhecedores de todo esses movimentos de
O processo de aprendizagem não é idêntico
renovação das universidades em cumprir o
para todos os seres humanos. E para Kolb
seu papel de disseminadores de
(1984), autor no qual as ideias deste trabalho
conhecimento e informações (PELEIAS, 2006).
se baseiam, as estruturas psicológicas que
Dentre os desafios enfrentados pelas regem o aprendizado permitem emergir
Instituições de Ensino Superior, Peleias (2006) processos individuais adaptativos únicos, que
destaca: i) Ter uma visão integral dos tendem a enfatizar algumas orientações
problemas que afetam o ensino; ii) adaptativas.
Compreender o processo de aprendizagem;
Diversos autores (Kolb, Honey e Munford,
iii) Conhecer melhor o aluno como pessoa e
Felder e Silverman, Keef) definem estilos de
membro de uma comunidade; iv) Planejar os
aprendizagem de diferentes formas, cada qual
cursos em forma sistêmica e integrada; v)
influenciado por distintas teorias da psicologia.
Ensinar os alunos a estudar e aprender; iv)
Saber como introduzir inovações; vii) Incentivar Para Kolb (1984) estilo de aprendizagem é um
a participação ativa dos alunos (percebe-se, estado duradouro e estável que deriva de
atualmente, sensível melhora neste quesito); configuração consistente das interações entre
viii) Melhorar a comunicação professor/aluno; indivíduo e seu meio ambiente. A interação
ix) Desenvolver nos alunos a atitude e a ocorre quando o indivíduo percebe e processa
habilidade da pesquisa; x) Racionalizar a a informação por meio da experiência vivida.
avaliação; e xi) Criar unidades de apoio
Os estilos de aprendizagem podem ser
pedagógico.
definidos como um conjunto de condições por
Ainda é importante destacar, que conforme meio do qual os indivíduos concentram-se,
Diário Oficial da União, na Resolução nº10, de entendem, processam e transformam uma
16 de dezembro de 2004, que os cursos de informação em conhecimento, ou seja, são as
graduação devem proporcionar o predileções na forma de captar, organizar e
desenvolvimento de habilidades e transformar a informação para facilitar a sua
competências nos profissionais, como: i) compreensão (CERQUEIRA, 2000; SILVA,
utilizar adequadamente a terminologia e a 2006).
linguagem das Ciências Contábeis e Atuariais;
Cerqueira (2000) complementa que é a
ii) demonstrar visão sistêmica e interdisciplinar
maneira como o indivíduo percebe e capta as
da atividade contábil; iii) desenvolver, com
informações, assim como a maneira de
motivação e através de permanente
escolha para o processamento e retenção
articulação, a liderança entre equipes
deste conhecimento indica o estilo individual
multidisciplinares para a captação de insumos
de aprender.
necessários aos controles técnicos, à geração
e disseminação de informações contábeis, O estilo que um indivíduo manifesta quando se
com reconhecido nível de precisão; e iv) confronta com uma tarefa de aprendizagem
desenvolver, analisar e implantar sistemas de específica, afirmando que é, também, uma
informação contábil e de controle gerencial, predisposição do aluno em adotar uma
revelando capacidade crítico analítica para estratégia particular de aprendizagem,
independentemente das exigências

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


132

específicas das tarefas SCHMECK (1982, p. 80 (KOLB, 1984; CERQUEIRA, 2000; SILVA,
apud CERQUEIRA, 2000, p. 36). 2006).
Para Basílio e Vasconcelos (2011) a Além das definições, diversos autores criaram
identificação os estilos de aprendizagem instrumentos de diagnóstico (ou modelos), o
dominantes nos alunos, pode possibilitar ao Learning Styles Inventories, utilizados na
professor empregar estratégias, métodos e avaliação dos estilos de aprendizagem. Um
técnicas de ensino que favoreçam a modelo de estilos de aprendizagem procura
aprendizagem e incentivem o desenvolvimento identificar as formas como os alunos absorvem
de outros estilos, aumentando a capacidade e processam as informações a fim de melhorar
de adaptabilidade e flexibilidade. o processo de ensino-aprendizagem e não
somente a qualificação do indivíduo em um
Assim, pode-se entender que os estilos de
estilo.
aprendizagem podem facilitar o processo de
aprendizagem, pois de certa forma influenciam O Quadro 1 apresenta os principais modelos
a maneira como o indivíduo se relaciona com de estilos de aprendizagem de acordo com
as condições de aprendizagem. E esta seus respectivos autores, encontrados na
influência pode vir a determinar o sucesso ou literatura.
o fracasso na aprendizagem do discente
Quadro 1: Principais modelos de Estilos de Aprendizagem
Modelo Estilos de Aprendizagem Habilidades dominantes
Ativo - gostam de aprender fazendo; ter novas Criatividade, animação, inovação, improvisação, risco,
experiências; resolver problemas; mudar e variar renovação, espontaneidade, aventura, experiência,
as situações do dia-a-dia; dirigir debates e liderança, participação, diversão, competitividade, desejo
reuniões. de aprender e mudar, resolução de problemas, etc. São
aquelas pessoas que gostam de aprender fazendo; ter
novas experiências; resolver problemas; mudar e variar as
situações do dia-a-dia; dirigir debates e reuniões
Reflexivo - gostam de observar, escutar e pensar Observação, ponderação, análise, prudência, são pessoas
antes de agir, investigar detalhadamente a que gostam de escutar, observar e pensar antes de agir, etc
situação, revisar o que ouviu ou presenciou sem
pressão de tempo
Teórico - gostam de questionar; sentir-se Estruturação, metodicidade, ordem, objetividade,
pressionadas intelectualmente; encontrar um planejamento, disciplina, crítica, sistematização,
Honey-
modelo, um conceito ou uma teoria que tenha sintetização, logicidade, generalista; buscam hipóteses,
Alonso
relação com aquilo que escutou. teorias, modelos, perguntas, conceitos, finalidades claras,
racionalidade, etc. São pessoas que, para aprender gostam
de questionar; sentir-se pressionadas intelectualmente;
encontrar um modelo, um conceito ou uma teoria que tenha
relação com aquilo que escutou.
Pragmático - priorizam aprender coisas ou Técnica, experimentação, praticidade, eficácia, utilidade,
técnicas que apresentem vantagens práticas; realismo, rapidez, decisão, planejamento, atualização,
gostam de ter a possibilidade de experimentar o organização, capacidade para solucionar problemas,
aprendido e viver uma boa simulação de aplicação do aprendido, planejamento de ações, etc. São
problemas reais. aquelas pessoas que priorizam aprender coisas ou técnicas
que apresentem vantagens práticas; gostam de ter a
possibilidade de experimentar o aprendido; assim como de
viver uma boa simulação de problemas reais
Sensorial-intuitivo - baseada na teoria dos tipos
psicológicos, das formas como as pessoas Percepção
Felder
entendem o que ocorre ao seu redor
e
Visual-verbal - os canais pelos quais as pessoas
Silverm
recebem as informações podem ser divididos em
an(198
três tipos, o visual, o auditivo e o sinestésico. Assimilação
8)
Cada pessoa tem preferências próprias e tende a
captar mais as informações por um dos canais
Indutivo-dedutivo - os canais pelos quais as
pessoas recebem as informações podem ser
divididos em três tipos, o visual, o auditivo e o
Organização
sinestésico. Cada pessoa tem preferências
próprias e tende a captar mais as informações
por um dos canais

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


133

(continuação...)
Ativo-reflexivo- relacionado com o processo
mental pelo qual as informações percebidas
são convertidas em conhecimento e pode ser Processamento
dividido em duas categorias: ‘experimentação
ativa’ e ‘observação reflexiva’.
Sequencial-global - este estilo classifica as
pessoas pela forma como preferem abordar
um novo assunto. Enquanto algumas pessoas
preferem o encadeamento sequencial e lógico Compreensão
para o entendimento de um novo conceito,
outras se sentem perdidas até que tenham tido
uma ideia geral do que vai ser ensinado
Extrovertidos – Experimentam as coisas;
buscam interação no grupo
Orientação para a vida
Introvertidos – pensam sobre as coisas;
preferem trabalhar sozinhas.
Sensoriais – são práticos; focam nos fatos e
produtos; confortáveis com a rotina.
Intuitivos - são imaginativos e focam nos Percepção
significados e possibilidades; preferem
trabalhar em nível conceitual.
Myers –
Reflexivos – são objetivos e tendem a tomar
Briggs
decisões com base na lógica e regras.
Sentimentais – são subjetivos e tomam Julgamento das ideias
decisões com base em considerações
pessoais e humanísticas.
Julgadores – preferem seguir agendas e
possuem ações planejadas e controladas.
Perceptivos – possuem ações espontâneas e Orientação para o mundo externo
procuram adaptar-se de acordo com as
circunstâncias
Fonte: Elaborado pelos autores baseados em Felder e Silverman (1988); Nogueira (2012);

Para Kolb, o processo de aprendizagem é observar); iii) conceituação abstrata


cíclico, passando por 4 fases: i) experiência (generalização ou princípios, criação de
concreta (envolvimento); ii) observação ideias, teorias);
reflexiva (pensar sobre a experiência, ouvir,

Figura 1: Modelo esquemático de estilos de aprendizagem de Kolb

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


134

iv) experimentação ativa (testar o que foi Com esse ciclo, Kolb identificou quatro estilos
aprendido, tomar decisões) e que são inter- de aprendizagem com as habilidades
relacionadas no processo adaptativo do dominantes a cada estilo conforme o Quadro
aprendizado. 2.
Figura 1: Modelo esquemático de estilos de
aprendizagem de Kolb
Quadro 2: Os Estilos de Aprendizagem de David Kolb
Estilos Habilidades dominantes
Divergentes - aprendem experimentando, criando ideias e teorias, observando e Experiência Concreta e
escutando, e relacionando o conteúdo do curso com sua vivência. Capazes de Observação Reflexiva
analisar as situações em diferentes pontos de vistas e relacioná-los num todo
organizado.
Assimiladores - aprendem refletindo, ouvindo, observando e criando teorias e Conceituação Abstrata e
ideias, preocupam-se pouco com suas aplicações Observação Reflexiva
Convergentes - aprendem por ensaio e erro, e por aplicação prática de ideias e Conceituação Abstrata e
teorias. São hábeis para definir problemas e para tomar decisões. Utilizam Experimentação Ativa
raciocínio dedutivo
Acomodadores- aprendem por meio da experiência e aplicação do Experiência Concreta e
conhecimento em situações novas de aprendizagem Experimentação Ativa
Fonte: Kolb (1984)

O modelo de Kolb trabalha como um Assim, o trabalho foi desenvolvido em 2 fases.


instrumento para identificação individual do Inicialmente, desenvolveu-se um estudo
estilo de aprendizagem (Inventário de Estilos exploratório baseado na literatura
de Aprendizagem), o qual é aplicado neste especializada, com debates sobre o ensino de
estudo. A partir da classificação atribuída para ciências contábeis e teoria da aprendizagem,
cada sentença, o inventário mede a ênfase de com a definição do caso a ser estudado, e
cada indivíduo para cada uma das quatro definição dos procedimentos para coleta de
habilidades que considera no processo de dados.
aprendizagem (EC, OR, CA e EA) e por fim
Em um segundo momento, ocorre a aplicação
indica o grau em que o indivíduo prioriza a
do LSI (Learning Style Inventory) de David
abstração sobre a concretude (CA-EC) e a
Kolb, aplicado por Cerqueira (2000), para
experimentação ativa sobre a reflexão (EA-
identificar e analisar os estilos de
OR).
aprendizagem dos discentes do curso de
Ciências Contábeis do ICHS-UFF (Instituto de
Ciências Humanas e Sociais da Universidade
2.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Federal Fluminense).
O presente trabalho, pode ser classificado
O questionário foi aplicado presencialmente
como de natureza aplicada, de abordagem
para os alunos matriculados a partir do 2º
quantitativa e qualitativa e objetivo
período do curso de Ciências Contábeis do
exploratório.
ICHS no período de janeiro a fevereiro de 2016,
A natureza aplicada busca originar totalizando 75 questionários respondidos. E
conhecimentos para aplicação prática, que após coletar os dados, esses foram
envolvendo verdades e interesses universais. tabulados em planilha Microsoft Excel® e
Já o objetivo exploratório, busca conhecimento depois os dados foram analisados pelo
acerca do tema, de forma a proporcionar maior software estatístico PSPP versão 3,
familiaridade e torna-lo explícito (GIL, 1996; configurando-se dessa maneira a fase de
SILVA e MENEZES, 2005). análise e conclusão, apontada por Yin (2005).
Quanto à abordagem, a pesquisa quantitativa O questionário é composto de duas partes, a
considera que tudo pode ser quantificável, primeira objetiva verificar o perfil sócio
podendo traduzir em números opiniões e econômico do aluno com 11 questões de
informações para classificá-las e analisá-las. múltipla escolha. A segunda parte do
Já a pesquisa qualitativa, descreve o perfil dos questionário é composto do Inventário dos
entrevistados (SILVA e MENEZES, 2005). Estilos de aprendizagem de Kolb, com 12

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


135

questões, cada uma com 4 alternativas que 4.1. PERFIL DOS RESPONDENTES
completam uma sentença proposta, devendo
Inicialmente, apurou-se o perfil os
os respondentes classificar as opções
entrevistados de acordo com a idade, sexo,
fornecidas de acordo com o quanto eles
motivação para escolha do curso, renda, entre
refletem sua forma de aprender. Sendo a
outras. Caracterizando, dessa forma, uma
pontuação de 1 a 4, onde 1 para menor
pesquisa qualitativa, pois aborda o caráter
afinidade e 4 para maior afinidade.
descritivo dos alunos respondentes.
A partir do estilo de aprendizagem dos alunos
Quanto ao período de estudo dos
respondentes, determinou-o como a variável
respondentes, 30% está cursando o 4º
independente, a fim de verificar o seu impacto
período, seguido de 22% está cursando o 6º
no desempenho acadêmico do aluno,
período, no 8º período estão 13% dos
representado pelo Coeficiente de Rendimento
respondentes, 11% se encontra cursando 5º
(CR) que foi determinado como a variável
período e 10% cursa o 7ºperíodo. Os alunos do
dependente.
2º e 3ºperíodo totalizam 8%, sendo ainda
Assim, o trabalho pode ser classificado como encontrado 6% de alunos desperiodizados.
um Estudo de Caso que, caracteriza-se por Não foi aplicado em turmas do 1º período, visto
investigar um fenômeno contemporâneo que iniciaram o curso e ainda não possuem
dentro de seu contexto, especialmente quando CR.
os limites entre o fenômeno e o contexto não
Quanto a faixa etária dos respondentes,
estão claramente definidos. Em função de suas
observa-se que 63% dos respondentes possui
características apresenta pequena
a faixa etária de 17 a 22 anos, seguido por 24%
possibilidade de generalização no que se
na faixa etária de 23 a 28 anos. Pode-se dizer
refere aos resultados apurados.
que os alunos possuem um perfil jovem,
conforme o Gráfico 1.
4.ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Gráfico 1: Faixa etária dos respondentes

No que se refere a motivação dos discentes de amigos e familiares. Dentre os


em escolher o curso, conforme o Gráfico 2 36% respondentes que opinaram “Outros motivos”,
dos respondentes escolheram o curso por citaram para Empreender, Investimentos
Oportunidade para concurso público, 28% Futuros e Mercado de Trabalho.
escolheram por vocação e 27% por Influência

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


136

Gráfico 2: Motivação para escolha do curso

Quanto a questão de moradia, 59,7% declaram 42% responderam que “Não se aplica”, ou
que moram em casa ou apartamento com sua seja, não possuem atividade remunerada no
família, seguido por 14,9% que residem em momento da pesquisa. Dos respondentes que
habitação coletiva. exercem atividade remunerada, 27% estão em
Estágio, 9% é Funcionário Público e 13% é
Já ao perfil econômico, na questão sobre o
empregado no Setor Privado.
desenvolvimento de atividade remunerada,

Gráfico 3: Atividade Remunerada

Na questão “Qual sua renda mensal disseram possuir renda individual de 3 a 5


individual?” 46,3% declararam não possuir salários mínimos, 3% possui renda de 5 a 8
nenhuma renda, 43,3% responderam que salários mínimos e apenas 1,5% possuem
possuem renda de até 3 salários mínimos, 6% renda acima de 8 salários mínimos.

Gráfico 4: Renda mensal individualizada

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


137

Em relação a pergunta “Qual o principal meio sabendo que o bairro onde está localizado o
de transporte que você utiliza para chegar à ICHS é precário de transporte público.
Universidade?”, 54% dos respondentes
Ainda caracterizando os respondentes, foi
utilizam o transporte coletivo, seguido por 22%
perguntado “Onde frequentou o ensino
que utilizam transporte próprio. A questão visa
fundamental e ensino médio?”, com o objetivo
determinar o perfil social dos alunos da
de verificar o tipo de aluno que a universidade
universidade. Cabe ressaltar que a Instituição
recebe. De acordo com o Gráfico 5, 69% dos
possui transporte gratuito para os alunos,
respondentes estudaram o Ensino
facilitando o deslocamento dos alunos
Fundamental Todo em escola Pública.

Gráfico 5: Onde frequentou o Ensino Fundamental

No que se refere ao Ensino Médio, 58% dos em escola pública e 12% oriundos de escola
respondentes frenquentaram todo o ensino particular com bolsa.

Gráfico 6: Onde frequentou o Ensino Médio

Foi questionado aos alunos quais os fatores declaram que o Tempo dedicado aos estudos
que interferem no desempenho acadêmico, e é o fator que impacta no desempenho
conforme o Gráfico 7, 64% dos respondentes acadêmico.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


138

Gráfico 7: Fatores que interferem no desempenho acadêmico

Quanto ao desempenho acadêmico dos que os respondentes possuem um CR


discentes, verificou-se conforme a Tabela 1, (Coeficiente de Rendimento) entre 4,1 a 9,1.

Tabela 1: Coeficiente de Rendimento dos respondentes


Coeficiente de Rendimento %
4,1 a 5 1,49%
5,1 a 6 13,43%
6,1 a 7 26,87%
7,1 a 8 32,84%
8,1 a 9 7,46%
9,1 a 10 1,49%
Não respondeu 16,42%

De maneira geral, percebe-se o bom 4.2. OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM DOS


desempenho dos respondentes visto que RESPONDENTES
14,92% possuem CR abaixo de 6 (seis) que é
Com a segunda parte do questionário,
a média de aprovação nas disciplinas. Verifica-
aplicação do LSI, foi possível identificar no
se um grande percentual que não respondeu a
grupo pesquisado os quatro estilos de
questão. Vale ressaltar que no momento de
aprendizagem proposto por Kolb. De acordo
aplicação do questionário foi esclarecido que
com o Gráfico 8 verifica-se a maior
os dados fornecidos eram confidenciais e o
concentração dos estilos Assimilador com
formulário não estabelecia identificação do
38,7% e o estilo Divergente com 32,3%.
respondente.

Gráfico 8: Estilos de Aprendizagem dos Respondentes

Acomodadores 14,5%

Convergente 14,5%

Divergente 32,3%

Assimilador 38,7%

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0%

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


139

Com a apuração do estilo de aprendizagem Como se pode averiguar o Estilo de


individual de cada aluno e identificação do Aprendizagem Assimilador teve maior
respectivo Coeficiente de Rendimento (CR), concentração na faixa de CR de 7,1 a 8 (com
realizou-se uma análise descritiva das notas 17,74%) e o Estilo Divergente apresentou uma
dos alunos de acordo com seu estilo de maior concentração de alunos na faixa de CR
aprendizagem, demonstrado na Tabela 2. de 8,1 a 9,0 (com 9,68%).

Tabela 2: Estilos de Aprendizagem versus Coeficiente de Rendimento


Estilo / CR 4,1 a 5 5,1 a 6 6,1 a 7 7,1 a 8 8,1 a 9 9,1 a 10 Total
Assimilador 6,45% 11,29% 17,74% 1,61% 1,61% 38,71%
Divergente 1,61% 6,45% 6,45% 8,06% 9,68% 32,26%
Convergente 1,61% 6,45% 4,84% 1,61% 14,52%
Acomodadores 1,61% 8,06% 4,84% 14,52%
Total 1,61% 16,13% 32,26% 35,48% 12,90% 1,61%

Averígua-se que 14,51% dos respondentes H0: O desempenho acadêmico dos discentes
obtiveram o desempenho acadêmico (CR) não sofrem impactos pelos estilos de
entre 8,1 a 10. A partir da análise visual da aprendizagem.
Tabela 2, é possível perceber que
(As frequências observadas não são diferentes
aparentemente o Estilo Divergente apresentou
das frequências esperadas. Não existe
melhor desempenho que os demais estilos,
diferença entre as frequências (contagens)
visto que possui a maior concentração na faixa
dos grupos. Portanto, não há associação entre
de CR de 8,1 a 10. Outro ponto a ser
os grupos)
destacado é que o Estilo Acomodador não
possui desempenho na faixa de CR de 8,1 a H1: O desempenho acadêmico dos discentes
10. Entretanto, somente a análise visual não é sofrem impactos pelos estilos de
suficiente. aprendizagem.
Assim, elaborou-se o teste estatístico não (As frequências observadas são diferentes das
paramétrico chamado Qui Quadrado para frequências esperadas, portanto existe
constatar se a diferença do desempenho dos diferença entre as frequências. Portanto, há
alunos, de acordo com os Estilos de associação entre os grupos)
Aprendizagem de Kolb, são estatisticamente
Realizando o teste Qui Quadrado pelo PSPP,
significativas, ou seja, que as diferenças não
obteve-se o p-valor de 0,66, conforme
podem ser atribuídas ao acaso ou ao erro, ou
apresentado na Tabela 3. Dessa forma, o p-
aos fatores não controlados, mas sim aos
valor estando acima de 0,05 (nível de
efeitos maiores de alguns dos grupos ou dos
significância) indica que não há evidências de
tratamentos.
associação entre as variáveis Estilos de
Para realização do teste determinou-se como Aprendizagem e Coeficiente de Rendimento.
variável dependente o Coeficiente de
Assim, não é possível afirmar que o Estilo de
Rendimento (CR), para definir o desempenho
Aprendizagem exerce alguma influência no
acadêmico, e a variável independente o Estilo
desempenho acadêmico nos alunos EaD que
de Aprendizagem, que pode ser de 4 formas
participaram da pesquisa e desta forma aceita-
(Assimilador, Divergente, Convergente e
se “H0 – O desempenho acadêmico dos
Acomodador).
discentes não sofrem impactos pelos estilos de
O uso de teste estatístico para análise de aprendizagem”.
dados é uma abordagem quantitativa e para
tanto definiu-se duas hipóteses:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


140

Tabela 3: Teste do Qui Quadrado


Value df Asymp. Sig (2
tailed)
Pearson Chi-Square 92,57 102 0,66
Likelihood Ratio 92,99 102 0,73
Linear by Linear Association 0,48 1,00 0,49
N of valid cases 51,00

Não foi encontrado na literatura pesquisada predominante no grupo de pesquisa, ao


referência sobre a correlação entre o estilo de analisar os resultados apurados pela aplicação
aprendizagem e o desempenho do aluno, o do instrumento de coleta de dados pode-se
resultado da pesquisa corrobora com estudos verificar que a maior concentração dos estilos
anteriores em que demonstram não ocorrer Assimilador com 38,7% e estilo Divergente
influência dos Estilos de Aprendizagem sob o com 32,3%.
Desempenho Acadêmico, ou seja, são
Em referência ao objetivo específico: Analisar
variáveis independentes. Contudo, o bom
a existência de relação entre estilos de
desempenho do aluno pode estar relacionado
aprendizagem e o desempenho acadêmico no
a outros fatores não abordados neste trabalho,
grupo de pesquisa, com a realização do teste
tais como: fatores extrínsecos e intrínsecos.
Qui Quadrado, no qual apresentou o p-valor de
0,66, indica que as variáveis, Estilos de
Aprendizagem e o Coeficiente de Rendimento
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
(CR), não possuem associação, pois o
Segundo Kolb (1984) cada indivíduo possui resultado está acima de 0,05. Dessa forma,
seu próprio Estilo de Aprendizagem não é possível afirmar que o Estilo de
predominante, mas não imutável, pois ele pode Aprendizagem exerce influência no
variar de acordo com as circunstâncias e do desempenho acadêmico dos discentes
contexto em que vive o sujeito, assim fatores respondentes da pesquisa.
políticos, sociais, econômicos, biológicos ou
O objetivo geral deste trabalho foi “Analisar o
psicológicos podem influenciar na habilidade
impacto dos estilos de aprendizagem no
do sujeito reter o conhecimento.
desempenho dos alunos de graduação do
Diversos autores, como Kolb (1984) e Felder e curso de ciências contábeis da ICHS-UFF. Se
Silverman (1988), constatam a variedade de existe alguma relação dos estilos de
Estilos de Aprendizagem. Esses autores aprendizagem com o desempenho
conceituam os estilos de aprendizagem de acadêmico?”. Os resultados da pesquisa
formas diferentes, inspirados por diferentes apontam que o desempenho acadêmico
teorias da psicologia da aprendizagem. independe dos estilos de aprendizagem dos
alunos pesquisados.
Cada indivíduo possui seu próprio Estilo de
Aprendizagem predominante, mas não Assim, atendendo ao objetivo geral proposto,
imutável, pois ele pode variar de acordo com os resultados da pesquisa indicaram que não
as circunstâncias e do contexto em que vive o existe relação entre o Estilo de Aprendizagem
sujeito, assim fatores políticos, sociais, e o desempenho acadêmico, ou que pelo
econômicos, biológicos ou psicológicos menos a amostra estudada não permite chegar
podem influenciar na habilidade do sujeito à outra conclusão.
reter o conhecimento (KOLB, 1984).
Analisando visualmente a Tabela 2, percebe-
Especificamente, este trabalho objetivou: se que aparentemente o Estilo Divergente
Identificar os estilos de aprendizagem apresentou melhor desempenho (nas faixas de
existentes no grupo de pesquisa, foi possível CR 8,1 a 10) que os demais estilos, possuindo
identificar no grupo pesquisado os quatro maior concentração, e o Estilo Acomodador,
estilos de aprendizagem proposto por Kolb não apresenta desempenho, nas faixas de CR
(Divergente, Acomodador, Convergente e 8,1 a 10. Dessa forma, supõe-se que a não
Assimilador). relação pode estar relacionada à diversos
fatores, tais como os instrumentos de avaliação
Quanto ao objetivo específico: Verificar a
utilizados, inadequação do tempo para
existência de algum estilo de aprendizagem

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


141

dedicação ao curso, e fatores intrínsecos e


extrínsecos.

REFERÊNCIAS [8] Iudícibus, S. (2000) Teoria da


Contabilidade. 6ª ed. São Paulo: Atlas;
[1] Basilio, V. B.; Vasconcellos L. (2011) Estilos
de Aprendizagem e Desempenho Acadêmico: Um [9] Kolb, D. A. (1984) Experential Learning:
estudo dos alunos de administração da FEA – USP. Experience as the source of learning and
In: Encontro SEMEAD XIV, 2011, São Paulo. Anais... development. Pratice Hall;
São Paulo: Seminários em Administração da
[10] Nogueira, D. R. (2012) Desempenho
FEA/USP
acadêmico x estilos de aprendizagem segundo
[2] Brasil. Resolução Nº 10, DE 16 de Honey-Alonso: uma análise com alunos do curso de
Dezembro de 2004. Institui as Diretrizes Curriculares Ciências Contábeis. Revista Espaço Acadêmico –
Nacionais para o Curso de Graduação em Ciências nº37 – Outubro;
Contábeis, bacharelado, e dá outras providências.
[11] Peleias, I. R (org). (2006) Didática do
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 dez. 2004.
ensino da contabilidade - aplicável a outros cursos
Seção 1, pág. 15;
superiores. São Paulo: Atlas;
[3] Cerqueira, T. C. S. (2000) Estilos de
[12] Silva, D. M. (2006) O impacto dos estilos de
aprendizagem em universitários. Tese (Doutorado
aprendizagem no ensino de contabilidade na FEA-
em Educação) – Faculdade de Educação,
RP/USP. Dissertação de Contabilidade. FEA-
Universidade Estadual de Campinas. Campinas;
RP/USP;
[4] Cosenza, J. P. (2001) Perspectivas para a
[13] Silva, E. L.. Menezes, E. M. (2005)
profissão contábil num mundo globalizado: um
Metodologia da pesquisa e elaboração de
estudo a partir da experiência brasileira. RBC, n.
dissertação– 4. ed. rev. atual. – Florianópolis: UFSC;
130, Jul/Ago;
[14] Silva, D. M., Neto, J. D. O. (2010) O Impacto
[5] Felder, R. M; Silverman, L. K. (1988)
dos Estilos de Aprendizagem no Ensino de
Learning and teaching styles in engineering
Contabilidade. Contabilidade Vista & Revista, v. 21,
education. Engineering Education, v. 78, n. 7, p.
n. 4, p. 123-156;
674-681;
[15] Silva, A. C., Souza, J. W. C. (2008) Estudo
[6] GIL, Antônio Carlos. (1996) Como elaborar
Sobre o Ensino de Contabilidade Internacional nas
projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas;
Instituições de Ensino Superior do Estado de São
[7] Hendriksen, E. S.; Breda, M. F. V. (1999) Paulo. XXXII EnANPAD, Rio de Janeiro
Teoria da Contabilidade: ATLAS;

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


142

CAPÍTULO 12
TECNOLOGIA E A CARREIRA DOCENTE: UMA ADAPTAÇÃO
NECESSÁRIA

Anderson Ricardo Silvestro

Resumo: Neste artigo, pretende-se discutir o uso das tecnologias e das


necessidades de adequações dos professores frente a esta demanda na educação.
Socializar o conhecimento através de ferramentas tecnológicas, disponibilizadas
para o docente. Analisar os meios de tecnologia disponibilizados pelas instituições
de ensino Novas ferramentas desenvolvidas para aperfeiçoar e facilitar a didática do
corpo docente e se manter antenados as novas tendências da informação.
Mudanças necessárias para melhor prática do ensino e aprendizagem na educação
e melhor interação entre corpo docente e discente para que haja uma maior sintonia
entre o ensino da educação para os alunos e a aprendizagem, através de novas
didáticas disponibilizadas pelas tecnologias aplicadas no meio educacional.
Aprimoramento das novas tecnologias no campus institucional, para que o
profissional da educação consiga se adequar frente a este novo desafio para o
educador. Capacitação continuada aos professores para que tenham maiores
habilidades para enfrentar a nova evolução das ferramentas didáticas e atender as
necessidades desta geração extremamente tecnológica e virtual.

Palavras-chave: Tecnologias, Necessidade de adequações, Novas didáticas,


Tecnologia nos campus institucional, geração extremamente tecnológica

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


143

1. INTRODUÇÃO Por outro lado, a tecnologia em muitos


momentos, foi responsável pelo surgimento de
Com as constantes mudanças ocorridas no
novas formas de acesso ao conhecimento, nos
meio tecnológico e as ferramentas multimídias
próprios cursos de ensino superior, o uso de
nas novas gerações de alunos, o professor
tecnologia adequada ao processo de
necessita de uma adaptação radical em sua
aprendizagem e variada para motivar o aluno
didática de ensino, com o propósito de
não é tão comum, o que faz com que os novos
acompanhar as tendências virtuais e manter-
professores do ensino fundamental e médio,
se conectados as plataformas sociais.
ao ministrarem suas aulas, praticamente copie
O desafio destas mudanças para o docente, o modo de fazê-lo e o próprio comportamento
esta com os professores mais antigos, pois de alguns de seus professores de faculdade,
esta adequação é mais lenta, pelo fato da dando aula expositiva e, às vezes, sugerindo
didática utilizada vêm de um forte algum trabalho em grupo com pouca ou
enraizamento de trabalhos muito distante nenhuma orientação.
desta era tecnológica, com utilização de
Essa acepção torna-se mais plausível se
quadros de giz, mimeógrafos, retroprojetores,
tomado o conceito de tecnologia no sentido
etc.
adotado por Carneiro (2002, p. 49), que usa o
No entremeio, podem constituir novos formatos termo tecnologias referindo-se aos recursos já
para as mesmas velhas concepções de ensino amplamente utilizados na escola, como lousa,
e aprendizagem (Moran, 2004), inscritas em giz, livro didático, lápis, inclusive a linguagem
um movimento de modernização e a exposição oral e, ainda, a própria
conservadora, ou, ainda, em condições instituição escola.
específicas, instaurar diferenças qualitativas
Mas é importante frisar, que a tecnologia é uma
nas práticas pedagógicas (Barreto, 2001).
ferramenta de extrema importância para o
Fato é que a mudança precisa ocorrer, a aprendizado para estas novas gerações,
geração atual já esta neste meio da tecnologia, desde que utilizada com uma didática atrativa
se o corpo docente não acompanhar o ritmo, aos alunos. Exposições a meios tecnológicos
os alunos terão um baixo desempenho e como exemplo a utilização de Data show,
rendimento escolar, devido o retrocesso do Notebook, Tablet, Power Paint, lousas digitais,
seu ambiente natural evolutivo. pinceis, e quadros brancos são ferramentas
que inseridas a uma didática expositiva
É importante destacar a chamada revolução
criativa, haverá uma maior interação e
científico-tecnológica como extrapolação
comprometimento dos mesmos, perante as
conceitual indevida, motivada pelo
aulas. Uma forma criativa de prender a
determinismo tecnológico (Leher, 2000).
atenção dos alunos com o desenrolar de aulas
Assim, as tecnologias podem não ser vistas
que poderiam ser cansativas e rotineiras.
como produções histórico-sociais, sendo
deslocadas para a origem de mudanças que, Como que estes profissionais da educação,
por sua vez, sustentam a concepção de estão se preparando para enfrentar esta nova
“sociedade da informação”. geração totalmente atualizada com o mundo
tecnológico?
Não se trata aqui de utilizar as tecnologias a
qualquer custo, mas sim de acompanhar
consciente e deliberadamente uma mudança
2. OBJETIVOS
de civilização que questiona profundamente
as formas institucionais, as mentalidades e a Analisar as necessidades de adaptação dos
cultura dos sistemas educacionais tradicionais docentes frente às novas tecnologias.
e, sobretudo, os papéis de professor e de
Socializar o conhecimento através de
aluno (LÉVY, 2005, p. 172)
ferramentas tecnológicas, disponibilizadas
Masetto (2004, p. 133) problematiza o uso da para o docente.
tecnologia como mediação pedagógica no
Analisar os meios de tecnologia
processo de aprendizagem, começando pelo
disponibilizados pelas instituições de ensino.
fato de que, por muito tempo, acreditou-se que
educar significava transmissão de
conhecimento organizado e sistematizado de
diversas áreas e exigência de memorização e
reprodução de informações (nas provas).

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


144

2.1 ESPECÍFICOS melhor maneira possível, tendo em vista que


foram desenvolvidas para facilitar o nosso
Apresentar o impacto das mudanças na
acesso às informações e na busca pela melhor
profissão do professor.
forma de apresentar os trabalhos
Evidenciar as mudanças frente às instituições desenvolvidos, através de recursos
de ensino, perante a esta era tecnológica. tecnológicos que os jovens desta geração já
estão adaptados.
Não basta ao cidadão, hoje, só aprender a ler
3. JUSTIFICATIVA
e escrever textos na linguagem verbal. É
Este artigo pretende apresentar alguns necessário que ele aprenda a ler e as diversas
apontamentos e ideias que possam orientar a linguagens, e as suas representações que são
forma pelo qual os docentes e os alunos de usadas nas mais diversas áreas da revolução
uma forma geral, consigam desenvolver uma tecnológicas decodificadas como o
estratégia para lidar com estas mudanças. computador, os programas multimídias de
computação, os arquivos, os catálogo, os HD’s
Este novo mundo do conhecimento, não pode
dos computadores, os CD’s, DVD’s ou agora,
exonerar a educação formal que se sistematiza
os PEN DRIVES, os MP3, MP4, o projetor de
nas instituições de ensino, ainda que, estes
slides (Data show), etc.
alunos, sejam alvos de um numero muito
grande de informações em um curto espaço Todos estes aparatos tecnológicos têm um
de tempo e pelos mais diferentes meios de propósito para a sua criação, na educação é
comunicação, como a televisão, os rádios, discernir o conhecimento de forma didática
internet. que os professores conseguiram expor seus
trabalhos, assim, os alunos conseguiram
Relata Moacir Gadotti (2002), pelo avanço das
prender ficar mais focados nos estudos, são
novas linguagens tecnologias, precisam ser
artifícios utilizados com o intuito de distribuir
selecionadas, avaliadas, compiladas e
melhor os materiais desenvolvidos, afim de eu
processadas para que se transformem em
os alunos tenham maior aproveitamento dentro
conhecimento válido, relevante e necessário
das salas de aula.
para o crescimento do homem como ser
humano em um mundo alto sustentável. Por isto da importância do docente estar
antenado as mais diversas práticas
Pierre Lévy (2000) Complementa que as
tecnológicas, para mostrar e ensinar a
tecnologias intelectuais, assim chamadas por
utilização desta ferramenta em sua didática.
não serem simples instrumentos, mas por
Precisamos nos adequar a esta nova evolução,
influírem no processo cognitivo do indivíduo,
é importante saber que não é o mundo que
vão ser os parâmetros utilizados nessa busca
precisa nos adequar, mas sim nós se adequar
de compreensão da estrutura caótica social.
ao mundo, hoje o mundo é diferente do que era
Essas tecnologias sempre estiveram presentes a 20 (vinte) anos atrás.
em nosso meio, e, de certa forma é notório
Em um curto espaço de tempo, foi sofrida uma
dizer que, a presença das novas tecnologias
mudança drástica em nosso meio de trabalho,
nas mais diversas esferas da sociedade,
da mesma forma, precisou nos adaptar o mais
imprescindível, orientar os docentes para uso
rápido possível, para sentirmos menos
das novas ferramentas de comunicação e de
impacto em nossos meio de ensino, e também
informação, como tecnologias interativas em
para que os alunos não vejam que os
projetos políticos pedagógicos, tanto no seu
professores são resistentes as mudanças e
desenvolvimento contínuo, quanto na sua
buscam uma forma ser contrários a evolução,
prática em sala de aula.
para que não passemos este pensamento aos
Precisamos preparar estes jovens para usufruí- próprios alunos.
las, mas especialmente, para prepará-los
como leitores críticos e escritores conscientes
das mídias que servem de suporte a essas 4. METODOLOGIA DE PESQUISA
novas tecnologias de informação.
Trabalhar com fontes tecnológicas de forma
Estas fontes de conhecimento vêm para o interativa nas salas de aula requer a
nosso meio, para incrementar os trabalhos responsabilidade de aperfeiçoar as
realizados tantos pelos acadêmicos, quanto compreensões de alunos sobre o mundo atual.
pelo corpo docente. Precisamos utilizá-las da Faz-se, indispensável o desenvolvimento

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


145

destas ferramenta para interagir com os aprender a manusear as novas tecnologias e


alunos, pois esta geração esta aplicada dentro ajudar os alunos, e eles também, aprenderem
deste mundo tecnológico, desta forma, os como manipulá-las e não se permitirem serem
professores precisam acompanhar estas manipulados por elas. Mas para tanto,
tendências, e acompanhar estes jovens precisam usá-las para educar, saber de sua
atualizados. existência, aproximar-se das mesmas,
familiarizar-se com elas, apoderar-se de suas
Para conseguirmos alcançar os objetivos
potencialidades, e dominar sua eficiência e
traçados, fazem-se necessários os alunos, os
seu uso, criando novos saberes e novos usos,
professores e os meios ao qual interligam estas
para poderem estar, no domínio das mesmas
duas peças chaves, neste caso as instituições
e poderem orientar seus alunos a “lerem” e
de ensino, precisam passar por alguns
“escreverem” com elas.
processos de desenvolvimento,
incrementação e adaptação aos recursos Os professores não devem substituir as
disponibilizados a nosso meio. “velhas tecnologias” pelas “novas
tecnologias”, devem, antes de tudo, se
Os alunos precisam estar envolvidos neste
adequar das novas para aquilo que elas são
processo, pois ele é o receptor do
únicas e resgatar os usos das velhas em
conhecimento empregado pelos professores,
organização com as novas, isto é, usar cada
desta forma, a sua dedicação precisa ser
uma naquilo que ela tem de peculiar e,
exclusiva e aplicada sendo fundamental para
portanto, melhor do que a outra. O uso e
alcançarmos resultados favoráveis a
influência das novas tecnologias devem servir
educação.
ao docente não só em relação à sua atividade
A aprendizagem pode se dar com o de ensino, mas também na sua atividade de
envolvimento integral do indivíduo, isto é, do pesquisa continuada.
emocional, do racional, do seu imaginário, do
Os docentes devem construir e trabalhar em
intuitivo, do sensorial em interação, a partir de
conjunto com seus alunos não só para ajudá-
desafios, da exploração de possibilidades, do
los a aumentar capacidade, métodos, táticas
assumir de responsabilidades, do criar e do
para coletar e selecionar elementos, mas,
refletir juntos. (KENSKI,1996).
especialmente, para ajudá-los a
Os professores alem de realmente serem desenvolverem conceitos.
capacitados a estas novas ferramentas de
Com relação à formação adequada dos
ensino, precisa querem com que elas façam
professores, Kenski ressalta que os programas
parte do seu dia a dia escolar, mas para que
aligeirados de preparação docente para o uso
isso ocorra, faz-se necessário o correto
das TICs são falhos, instruem sobre o uso das
treinamento destes meios, buscarem instruir
máquinas sem outro tipo de apoio para criar
da melhor maneira e da forma mais rápida para
novas possibilidades pedagógicas, o que gera
adequação, pois temos professores em nosso
insatisfação tanto para professores como para
meio, que tem uma maior dificuldade de lidar
alunos. Ela cita estudos que apontam para um
com a tecnologia, devido o tempo que ficou
período de capacitação que compreende até
operando materiais ultrapassados.
quatro ou cinco anos para que o professor
É de suma importância um tratamento possa desenvolver novas habilidades de
diferenciado com eles, em virtude que eles ensino, utilizando a tecnologia como
serão os principais utilizadores destas ferramenta. Na sua opinião, não é suficiente os
ferramentas. É fato que cada professor tem a professores terem o conhecimento instrucional
sua didática, mas é fundamental que na de como operar novos equipamentos para
capacitação dos mesmos, precisam tecer utilizarem esse meio como auxiliar para
exemplos de apresentação e meios didáticos transformar a escola. Dada a complexidade do
que podem ser utilizados, para que os meio tecnológico, as atividades de
docentes consigam enxergar meios para aproximação entre docentes e tecnologia
desenvolver em seus trabalhos. devem ocorrer, de preferência, nas
licenciaturas e nos cursos de pedagogia
O papel dos professores tem que mudar
(KENSKI, 2003).
também, e os cursos superiores precisam
preparar esses novos docentes para não Considerando que o professor é o alicerce
perderem o controle das tecnologias digitais para a edificação do conhecimento, é
que são requeridas ou se dispõem a usar em necessário que seja repensado os métodos
suas salas de aulas. Os professores precisam docente a partir de uma maior valorização da

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


146

metodologia de interação e colaboração produz uma bagagem de conhecimentos,


mutua que devem estar presentes adquirida ao longo de aproximadamente
proporcionalmente na educação, escolha dezesseis anos de imersão em seu espaço de
metodológica tão discutida hoje em dia e que trabalho antes de começar a trabalhar
vem sendo exercitada por profissionais das formalmente como docentes. Para o autor, “Os
áreas mais variadas da educação. É muito alunos passam pelos cursos de formação de
inquietante como os professores estão se professores sem modificar suas crenças
afastando dessas práticas alternativas, anteriores sobre o ensino. E, quando começam
apresentando, com isso, muita oposição e a trabalhar como professores, são
resistência. principalmente essas crenças que eles
reativam para solucionar seus problemas.”
Mas todos estes esforços serão em vão se as
(TARDIF, 2002, p. 261)
instituições de ensino não tiverem todas as
suas estruturas reformuladas para este novo São educadores que viveram a vida inteira
mundo tecnológico. Digamos que as mesmas com fontes antigas de ensino, e neste século
são as ferramentas que serão operadas pelo XXI há esta mudança radical, pois surge uma
corpo docente, para atingir com o geração mais antenada com os meios
conhecimento o corpo discente e acalcar os tecnológicos, o receio pela mudança é algo a
resultados. ser encarado. Mudar todas as suas formas de
didáticas para atender a um mundo moderno,
Esta é a parte visível da introdução de novas
repleto de ferramentas que tendem a ajudar no
tecnologias na educação. A estrutura das
ensino, só que não aprimoradas pelos
salas de aula deverá mudar como já mudaram
docentes, em todo lugar que se faz necessário
em algumas instituições de ensino no Brasil e
mudar, trás consigo a resistência.
estão mudando em muitas regiões do mundo.
A implantação se inicia e continua com a Há pouco mais de uma década, Niskier (1993,
criação de certa infra-estrutura tecnológica e p. 100) apontava como principal motivo de
de um programa de utilização em que os resistência por parte dos professores à
professores sejam treinados possibilidade de eles serem substituídos pelos
operacionalmente, capacitados recursos tecnológicos: "O uso do computador
metodologicamente e filosoficamente para a na educação está em plena ascensão em
utilização dessas novas tecnologias na sua diversos países. O receio inicial de que a
prática pedagógica. máquina poderia vir a substituir o professor aos
poucos está sendo desmistificado".
A educação precisa repensar seus métodos
curriculares e preparar seus docentes tanto Hoje podemos dizer que os dois precisam
para se apropriarem das novas tecnologias de estar interligados, para atingir os objetivos da
informação e comunicação quanto para a educação. Possuímos ensino a distancia, só
prática da educação a distância que se vê que ainda faz necessário da pessoa que traz o
viabilizada. conhecimento para aplicar nas apresentações,
formulação de provas, trabalhos, estarem
presentes nos vídeos, etc. Desta forma, é uma
5. DESENVOLVIMENTO profissão que esta apenas se adequando as
novas fontes tecnológicas e se aperfeiçoando
Diante de todas estas mudanças ocorridas em
para acompanhar as tendências, e não que os
um curto espaço de tempo nos meios didáticos
mesmos serão substituídos.
do profissional da educação, a sua interação a
estes meios é inevitável, a necessidade de Uma década depois, Carneiro (2002, p. 23)
estar frente às novas tecnologias e também discute a história recente da criação e
desenvolvendo trabalhos com alunos já utilização dos computadores e a sua imagem
adaptados aos novos recursos, é um desafio associada aos objetivos bélicos e à automação
ainda maior para o docente, principalmente industrial, com o trabalho humano sendo
aos mais antigos, pois eles sentem uma substituído por enormes máquinas, gerando
rejeição maior perante as adequações desemprego.
necessárias.
A mudança é algo que ninguém gosta de
Tardif (2002) caracteriza os saberes sofrer, as pessoas já estão adaptadas àquele
profissionais dos professores como temporais, meio, depois precisa passar por mais um meio
ou seja, são adquiridos através do tempo. de alterações, isto sofre um processo normal
Nesse sentido, a história de vida escolar do ser humano, a resistência pela mudança.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


147

São mudanças necessárias para aplicarmos A maioria das escolas brasileiras, as


uma atualização no ensino educacional no tecnologias digitais de comunicação e de
Brasil e no mundo. Precisamos passar por informação "[...] são impostas, como estratégia
estas mudanças, pois os demais países que comercial e política, sem a adequada
são polos na educação já passaram e também reestruturação administrativa, sem reflexão e
da mesma forma, seus docentes precisaram sem a devida preparação do quadro de
se atualizar, então precisou acompanhar estas profissionais que ali atuam." (KENSKI, 2003,
tendências para não ficarmos obsoletos em um p.70)
ensino retórico e despreparado.
Então não adianta simplesmente cobrar os
O universo das tecnologias de informação e professores com as adaptações a novas
comunicação apresenta-se ou impõe-se nesse tecnologias, se as instituições de ensino não
momento, como um imenso oceano, ainda estão preparadas para suportar estas
inexplorado, desconhecido para muitos ferramentas, é preciso primeiramente se
educadores; fascinante e cheio de estruturar, disponibilizar os recursos
possibilidades para outros. Ponte (2000, p. 2) tecnológicos para que os docentes se
destaca que o processo de apropriação das preparem de forma mais harmônica com novas
TICs, além de ser necessariamente longo, tendências.
envolve duas facetas as quais não se podem
Cada meio precisa contribuir, para que ambos
confundir: a tecnológica e a pedagógica.
tenham bons resultados perante a estas
Assim, não são de admirar as atitudes dos frentes. É importante destacar que é preciso,
professores em relação às tecnologias de além da infraestrutura tecnológica, que o
informação e comunicação, alguns as olham propósito da escola seja revisto, que sejam
com desconfiança, procurando adiar o discutidas questões estruturais como: "Que
máximo possível o momento do encontro tipo de aluno vai ter acesso a esses meios?
indesejado. Outros as usam na sua vida diária, Com que finalidade? Ensinar computação ou
mas não sabem muito bem como as integrar ensinar com o auxílio do computador? Que
na sua prática profissional. Outros, ainda, alterações curriculares acarretarão essas
procuram usá-las nas suas aulas sem, transformações? Que formação será
contudo, alterar as suas práticas. Uma minoria necessária aos professores que vão atuar com
entusiasta desbrava caminho, explorando os novos meios?" (KENSKI, 2003, p. 75).
incessantemente novos produtos e ideias,
Ponte (2000, p. 6-7) problematiza a integração
porém defronta-se com muitas dificuldades
das TICs na escola e defende que, para além
como também perplexidades.
dos questionamentos sobre a relação entre
essas tecnologias e (i) os objetivos da escola,
(ii) as formas de aprendizagem, (iii) os novos
6. TECNOLOGIA VERSUS ESCOLA
modos de trabalho na escola, é preciso ir mais
A mudança vem para o melhor desempenho longe e questionar a escola com outro tipo de
da função de cada profissional, logicamente pergunta:
que todos precisam estar sincronizados a
(iv) de que modo as TIC alteram (ou podem
estas mudanças. Não adianta o docente se
alterar) a natureza dos objetivos educacionais
preocupar com as adequações, estar pronto e
visados pela escola? (v) de que modo alteram
treinado para as ferramentas no dia a dia de
as relações entre os alunos e o saber? (vi) de
trabalho, e até mesmo possuir várias fontes
que modo alteram as relações entre alunos e
tecnológicas, se o meio de trabalho não
professores? (vii) de que modo alteram o modo
acompanhar as tendências de evolução.
como os professores vivem sua profissão? (viii)
É importantíssimo que as escolas estejam a emergência da sociedade de informação
preparadas para atender as necessidades dos requer ou não uma nova pedagogia?
professores, através de laboratórios de
As questões estruturais estão diretamente
informática, computadores em sala de aula,
relacionadas com o modelo de educação
Data Show, louras brancas, internet disponível
tecnológica que a escola pretende oferecer
para todos desenvolverem pesquisas, portal
aos seus alunos. Essa definição, por sua vez,
docente e discente, para lançamento de notas,
passa por questões como: Tipo de
frequências, plano de ensino e envio de
equipamento a ser adquirido? Quantidade?
materiais. Tudo isso vem agregar o trabalho do
Condições de uso? Espaços? Apoios técnicos
professor em sala de aula, melhorando ainda
disponíveis? Manutenção e assistência técnica
mais a qualidade do ensino e aprendizagem.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


148

dos equipamentos? Ou seja, se a opção for tenhamos uma educação de qualidade, e que
pelo ensino com computador, segundo Kenski acompanhe as expectativas dos discentes,
(2003), essa escolha interferirá em toda a visto que eles já superaram esta fase com
lógica do ensino e da ação docente. muita naturalidade, é uma geração muito
tecnológica que precisa ser tratada como
Esta discussão sobre o papel da TI na
especiais.
educação, indo desde a utilização básica da
mesma até a função da informática no auxílio à São jovens antenados no mundo tecnológico
pesquisa, é recorrente no meio acadêmico que de certa forma, não ficam satisfeitos com
(GREEN, 2000). Para o autor, desde o aparatos antigos, precisam e se atualizam
computador até o wireless e os palmtops, a constantemente, por este motivo e muito outros
infusão massiva de instrumentos os profissionais da educação é mais uma
computacionais e da velocidade da internet profissão que precisa acompanhar as
tem melhorado a natureza do ensino, tendências.
principalmente, o superior. Ampliando as
Os alunos têm carência de ensino em nosso
considerações sobre este tema, Wang, Wu e
meio, precisamos suprir este necessidade
Wang (2009), destacam que o uso da TI pode
através de muito empenho, dedicação, amor
contribuir para incrementar a aprendizagem,
pela educação, aliada de ferramentas capazes
notadamente, quando aliada a um centro de
de incentivar os mesmos a pratica do estudo,
instrução, ou laboratório de tecnologia, para o
seja por meio de pesquisa via internet, ou
estudante.
pelos próprios ensinamentos vindos de
Esta também é a posição de Hanson, Burton e didáticas inovadoras e criativas, assim o
Guam (2006), os quais afirmam que a inserção profissional da área da educação conseguira
da tecnologia nas escolas proporciona a prender a atenção destes jovens, fazendo com
“abertura da mente” do estudante, a partir do que eles viagem no mundo do conhecimento e
momento em que ele começa a aprender se interage com as aulas.
conceitos e técnicas novas, possibilitando o
A importância da participação em sala com os
surgimento de boas oportunidades no futuro
alunos é importante para o seu
profissional.
desenvolvimento como ser humano, pois um
Desta forma, faz necessária a reestruturação dia ele será adulto e precisará utilizar desta
tecnológica nas escolas em geral, a partir desenvoltura para lidar com desafios do dia a
desta fase, disponibilizar ao corpo docente as dia. O seu amadurecimento começa em sala
ferramentas necessárias para a sua correta de aula, é perceptível aos alunos que são mais
utilização, até mesmo capacita-lo, pois se vê despojados em sala de aula, aqueles que são
muito nas universidades tanto publicas, quanto mais participativos, tem mais facilidades em
privadas, a utilização de portais de acesso, resolver problemas de exercícios que
para que o mesmo seja operado, conforme necessita do trabalho de lógica.
determina às instituições, o profissional
Estas ferramentas aliadas a uma boa didática
precisa passar por um treinamento juntamente
de ensino, um material que prenda a atenção
com a TI, aprimorando assim o conhecimento
dos alunos e que desenvolva a capacidade
no mesmo, nas suas ferramentas de trabalho.
intelectual de cada um em especifico,
O profissional tem certa dificuldade que certamente irá contribuir e muito para a
precisa ser sanada juntamente com as educação em nosso meio.
instituições, são problemas de fácil percepção
Não podemos esquecer que as instituições de
e de saneamento, o que falta é atitude para
ensino, sejam publicas ou privadas, precisam
demonstrar isso para os docentes, pois são
manter ferramentas que ajudem estes
eles quem utiliza no seu dia a dia, então se faz
profissionais a desenvolverem os melhores
necessário um suporte capacitado e que
trabalhos possíveis com estes jovens, pois
esteja disponível junto a estes profissionais.
estamos falando de uma geração muito
delicada em si tratando de tecnologia aliada à
educação. São jovens que preferem copiar um
7. CONCLUSÃO
resumo da internet, ao ler um livro da biblioteca
Diante dos fatos apresentados, esta geração é e desenvolver um texto através do que foi
desafiadora para os profissionais da compreendido.
educação, principalmente os mais antigos. É
Estas escolas adaptadas com recursos para
uma fase que precisamos superar para que
os professores desenvolverem seus materiais,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


149

facilitam e agilizam os trabalhos de ensino e conhecimento do professor, precisamos


aprendizagem com os alunos, estas quebrar estes paradigmas e superar estes
ferramentas aliadas as suas didáticas, pensamentos.
promovem uma educação de qualidade com
O educador precisa de ferramentas capazes
maior rapidez, na busca constante por uma
de aprimorar seus trabalhos desenvolvidos em
educação de primeiro mundo. É importante
sala de aula, e treinamentos específicos para
esta unção, pois quem ganha são os
as adequações necessárias, aos meios
professores e os alunos, com aulas mais
tecnológicos, pois tudo o que é novo para o
dinâmicas e televisivas.
qualquer profissional, precisa ser
Esse novo conhecimento exigido na apresentado, orientado, ensinado e treinado,
profissionalização docente nos leva a refletir não simplesmente jogas estas fontes para
sobre a necessidade de repensar tanto os estes professores e achar que ele ira descobrir
cursos de formação inicial quanto os como funciona.
programas aligeirados de formação
Assim, entende-se que os aspectos discutidos
continuada, pois as habilidades necessárias
no presente artigo constituem dados bastante
para a utilização dessas tecnologias como
relevantes para a elaboração de uma proposta
mediadoras na prática pedagógica exigem
de ação da escola, tanto no sentido de se
tempo de capacitação e apoio técnico
adequar às necessidades estruturais quanto
permanente.
de formação dos seus profissionais. Compete,
A utilização de tecnologias com fins entretanto, à comunidade escolar dessa
educacionais pode se tornar um recurso muito instituição decidir que formação quer
significativo para a escola e para a educação, proporcionar a seus alunos e que ações serão
desde que a instituição disponha de tais priorizadas para viabilizar o seu projeto político
recursos e apresente aos profissionais meios e pedagógico.
condições para que se atualize. Em geral há
uma crença no autodidatismo como opção de

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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


150

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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


151

Capítulo 13
O USO DO CELULAR NA APRENDIZAGEM: A ESCALA DE
VALORES DENTRO DO CONTEXTO ESCOLAR
Simone Silva Cunha

Resumo: Vivemos constantes mudanças na sociedade. São novas formas de


gerenciar, produzir bens, de se divertir e até de se relacionar; de ensinar e de
aprender. O ensino e a aprendizagem atuais, numa sociedade pautada pelos
paradoxos da modernidade, principalmente os tecnológicos, exigem mais
flexibilidade e objetivos educacionais mais claros, maior integração entre os atores
dos espaços escolares, mais pesquisa e abertura para comunicação. Assim, este
artigo foi tecido a partir de alguns fios que puxei das tramas que me constituem,
experiências de formação e de atuação profissional que me levaram a entrançar
questões relacionadas ao trabalho com valores e as tecnologias, principalmente o
celular, dentro dos espaços escolares. A educação pautada em valores é primordial
para a formação do sujeito porque permite vivenciar práticas e procedimentos
relacionados a imperativos legitimados socialmente, que contribuem para formar
cidadãos cientes de que a valorização das regras que regem a organização das
relações em grupo são os pilares para que a sociedade repense sua condição
humana. A utilização de algumas tecnologias como instrumento pedagógico tem se
constituído como ferramenta importante que tem contribuído para o desenvolvimento
do trabalho com valores, dada a possibilidade de proporcionar maior interatividade,
dinamismo e visibilidade do trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas. Utilizar
o celular/smartphone em sala de aula se transforma num elemento inovador de
prática pedagógica, considerando que este artefato tecnológico adequa-se ao meio
cultural do aluno, transformando o cotidiano do mesmo. No que se refere a
introdução do celular como meio para desenvolver o trabalho de valores, há um
deslocamento das concepções de ensino/aprendizagem dentro da escola em
direção a outras concepções, em que conhecimento, cultura e tecnologia se
aproximam, na medida em que são pensados novos parâmetros
teóricos/conceituais.

Palavras Chave: Celular - Valores - Tecnologia - Educação

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


152

1. INTRODUÇÃO pressuposto básico é a dominação e a


exploração do homem pelo homem, o ter em
Vivemos constantes mudanças na sociedade.
detrimento da essência humana, as relações
São novas formas de gerenciar, produzir bens,
familiares e a formação das pessoas ficam
de se divertir e até de se relacionar; de ensinar
cada vez mais comprometidas. Relega-se a
e de aprender. De acordo com os princípios
escola, como espaço de convivência
educacionais do artigo 2º da Lei de Diretrizes
comunitária, a responsabilidade dessa
e Bases da Educação Nacional - Lei nº
formação do indivíduo.
9394/96, o ensino a ser ministrado tem o foco
nos conteúdos acadêmicos e nos conteúdos Os debates sobre essa problemática não estão
éticos, emocionais, ou seja, um ensino que pautados apenas na definição de papeis em
contribua para que o educando construa sua relação à formação dos indivíduos, mas sobre
identidade, desenvolva habilidades de estratégias que possam contribuir para
compreensão, de partilha e de altruísmo. resgatar e alicerçar valores que contribuam
para práticas de autoconhecimento e de
A educação pautada em valores é primordial
convivência que irão possibilitar aos
para a formação do sujeito porque permite
educandos fazer suas próprias escolhas e
vivenciar práticas e procedimentos
nesse sentido, Werneck (2003, p.48) nos diz
relacionados a imperativos legitimados
que “noção de valor não se restringe, pois
socialmente, que contribuem para formar
somente à moral ou ao econômico; é muito
cidadãos cientes de que a valorização das
abrangente, podendo ser aplicada a tudo que
regras que regem a organização das relações
vale para o homem”.
em grupo são os pilares para que a sociedade
repense sua condição humana. A formação de valores busca construir novos
modelos de sociedade, através da lógica do
Sobre os valores essenciais para a formação
resgate da ética, da solidariedade, da justiça
do aluno, Sabini (2002, p.48) nos diz que “[...]
e, com isso, tornar os seres humanos mais
o individuo torna-se inteiramente humano
felizes, criativos e transformadores. Para
através das interações e do envolvimento com
Martinelli (1999, p.17):
outras pessoas [...]”. Tanto na área de lazer,
como na produção de trabalho e na vida em [...] os valores integram o conhecimento, a
comunidade o individualismo impera e esses família, a escola, e a vida em sociedade,
conceitos não são recomendáveis para a vinculam o ensinamento ministrado na escola
construção de um mundo pautado na verdade às circunstâncias da vida construindo uma
e na justiça social. Essa é uma problemática consciência da ética e da estética do bem.
sobre a qual a escola deveria também refletir.
O ensino e a aprendizagem atuais, numa
A introdução de valores no currículo escolar
sociedade pautada pelos paradoxos da
está relacionada com a melhoria do ensino.
modernidade, principalmente os tecnológicos,
Sob essa perspectiva, Alfayate (2002, p.50)
exigem mais flexibilidade e objetivos
nos diz que:
educacionais mais claros, maior integração
[...] relacionar educação com valores tem entre os atores dos espaços escolares, mais
muito a ver com a qualidade de ensino. pesquisa e abertura para comunicação. Não é
Qualidade não significa apenas mais salas de apenas a técnica de ensino que muda,
aula, mais bibliotecas, mais recursos incorporando uma nova tecnologia. É a própria
tecnológicos, mais laboratórios – aspectos concepção de ensino que precisa ser
estes quantitativos e mais caros -, mais repensada. De acordo com Moran (2000,
também uma educação em valores humanos, p.15):
embora seja a parte mais barata e às mais
Nosso desafio maior é caminhar para um
altruísta da educação.
ensino e uma educação de qualidade, que
O “ter” tornou-se primordial na vida de muitas integre todas as dimensões do ser humano.
pessoas. Os princípios de solidariedade, Para isso precisamos de pessoas que façam
cooperação e fraternidade estão cada vez essa integração em si mesmas no que
mais longínquos das formas de sociabilidade concerne aos aspectos sensorial, intelectual,
humana. Muitas dessas mudanças contribuem emocional, ético e tecnológico, que transitem
para que o ser humano isole-se cada vez mais. de forma fácil entre o pessoal e o social, que
Com essa dinâmica de vida pautada na lógica expressem nas suas palavras e ações que
de reprodução capitalista, na qual o

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


153

estão sempre evoluindo, mudando, Na sociedade contemporânea, a educação


avançando. escolar busca promover igualdades de
oportunidades, construir cidadania, formar a
Mas, como desenvolver um ensino em valores,
consciência crítica, desenvolver práticas
numa sociedade pautada pela ambição de
democráticas. No campo educacional, o
bens materiais, pela competitividade e para
professor deve significar as teorias através das
uma geração interconectada com
tecnologias e conhecer os recursos e fontes
equipamentos e recursos além dos disponíveis
destas ferramentas para que possa ajudá-lo na
na escola? Trabalhar com os alunos sob essa
reconstrução de seu conhecimento acadêmico
perspectiva é um desafio por exigir dos
de forma a favorecer novas práticas
professores uma formação que os permita
pedagógicas cotidianas.
ensinar os elementos que compõem a
estrutura da essência maior dos alunos, que os O desafio do professor num trabalho com
tornam seres humanos, diferente de outros valores é fazer uma reflexão sobre aspectos da
seres. É levar os professores a compreensão realidade e intervir para construir e transformar
de que a emoção, os sentimentos são valores as ações. Sobre o papel do professor, Cruz
que favorecem a ampliação da capacidade de (2005, p.69) afirma que:
percepção, libertam a pessoa de práticas de
[...] é importante que ele tenha consciência do
individualismo, dissolvem preconceitos e
poder que tem nas mãos e do uso que possa
diferenças, propiciam a fraternidade,
fazer disso. É necessário que ele passe por um
favorecendo a práxis pedagógicas que
processo de autoconhecimento, em que reveja
auxiliarão na construção de alunos
sua história pessoal, reavalie suas
conscientes e críticos, para além da
experiências, perceba suas limitações e
passividade que os recursos tecnológicos
virtudes para poder atuar com as crianças,
muito das vezes os levam. Sob essa
levando em conta a dimensão de cada uma
perspectiva, concordando com Martinelli
delas.
(1999, p.21):
Entendemos que o ensino pautado em valores
Os valores não devem ser encarados como
não deve ser introduzido na escola como uma
algo abstrato ou estanque, nem como um
disciplina, mas como uma conexão com temas
código de conduta imposto de fora para
e conteúdos ensinados. A socialização deve
dentro. A educação em valores na família e na
ocorrer à luz dos valores e as situações
escola deverá incrementar a capacidade de
vivenciadas, fazendo-se intercâmbios
discernimento dos alunos a conscientização
interdisciplinares e transdisciplinares com
da importância de suas escolhas. Assim, a
cada área do conhecimento, ampliando
educação consolida os valores e virtudes já
também para os temas transversais. É
existentes nos alunos e incentiva a superação
importante, também, analisar os diversos
de erros e defeitos.
aspectos da realidade com o intuito de fazer
Assim, este artigo foi tecido a partir de alguns novas criações. É preciso associar o
fios que puxei das tramas que me constituem, conhecimento pedagógico com a escala de
experiências de formação e de atuação valores. Martinelli (1999) sugere que o trabalho
profissional que me levaram a entrançar de valores não seja fragmentado, mas dentro
questões relacionadas ao trabalho com valores de uma proposta multidisciplinar:
e as tecnologias, principalmente o celular,
A disciplinaridade criou métodos dirigidos
dentro dos espaços escolares. Para Moran
para o conhecimento de assuntos bem
(2000, p.23) o aprendizado ocorre melhor
específicos. A interdisciplinaridade interliga
quando
métodos de uma disciplina a outra. A
[...] vivenciamos, experimentamos, sentimos. transdisciplinaridade é uma visão integrada do
Aprendemos quando relacionamos, conhecimento que amplia as dimensões dos
estabelecemos vínculos, laços, entre o que conteúdos de cada disciplina para uma
estava solto, caótico, disperso, integrando-o compreensão integral da vida. Ao enfocar um
em um novo contexto, dando-lhe significado, tema, o professor deve mostrar os elos de
encontrando um novo sentido. ligação com outras informações e áreas de
conhecimento, além de tratar a transcendência
e englobar as áreas de ciências, artes,
2. O DESAFIO DE FORMAÇÃO DE VALORES filosofia, permeando-as de valores (1999, p.21)
NUMA ESCOLA CONECTADA

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


154

As opções para adquirir conhecimentos além costumes e conhecimentos da sociedade em


do quadro branco, explanação do professor e que vivem.
livros didáticos são muitas. A explosão de
Segundo Bauman (2006, apud SILVA, 2007,
artefatos tecnológicos modernos contribuiu
p.6), o celular é “uma tecnologia emblemática
para facilitar os trabalhos quanto o
da compreensão espaço tempo denominado
entretenimento. Como a tecnologia já é uma
artefato simbólico da contemporaneidade ou
realidade, a maioria dos alunos, antes mesmo
artefato da “era da modernidade”. Apontado
de entrar na escola, já teve contato com
por esse mesmo autor como uma tecnologia
diversos equipamentos tecnológicos
de dominação, o celular pode ser
sofisticados, coloridos, que encantam e
caracterizado como um objeto cultural da era
contagiam, principalmente os celulares. Para
da instantaneidade. Douglas e Isherwood
os alunos, a relação com os celulares se torna
(2004, apud SILVA, 2007, p.8) afirmam que
prazerosa. Eles apresentam mensagens, de
esse artefato possui não somente caráter
modo que operam sensações imediatas de
simbólico, agregado a uma função utilitária,
alegria, de afeto, de sentimentos. Ao mesmo
mas significado em meios dos sistemas de
tempo, o celular, em especial os smartphones,
comunicação.
contribui para formas não convencionais de
educação. O contato com os celulares permite Moran (2005, p.1) assinala ser o celular a
que os alunos façam uma leitura de mundo e, tecnologia que mais tem surpreendido nos
quando chegam à escola, trazem experiências dias atuais, “[...] é o móvel que rapidamente
vivenciais concretas. incorporou o acesso à internet, à foto digital,
aos programas de comunicação (voz, TV), ao
Com a presença da tecnologia existente nos
entretenimento (jogos, músicas-mp3) e outros
celulares atuais, chamados de smartphones,
serviços”. Deve-se observar que o
constata-se a ocorrência de novas formas de
desenvolvimento tecnológico que se
convivência e assim sendo, é necessário que
processou nas empresas fabricantes de
a escola repense o processo de educação,
celulares não foi somente imenso, como
tendo por base acompanhar os novos valores
também por sua massiva produtividade
culturais que se encontram gerados no
conseguiram cotações abaixo do preço real de
contexto educativo contemporâneo, utilizando
mercado, possibilitando a quem não possuía
novas metodologias tanto na forma como na
grande poder aquisitivo adquiri-lo. Nesse
transmissão de conhecimentos.
sentido, como objeto de consumo, o celular
Nesse contexto, nos reportamos ao texto da promove uma “distinção de classes” dentro
Unesco (2011), em seu Relatório da Reunião dos espaços escolares. Seu valor é mensurado
de Consultoria Especializada, que recomenda não pela sua necessidade de uso, mas pelo
a máxima utilização do celular pelos “status” que dá aqueles que o possuem.
professores. Utilizar o celular/smartphone em Quanto mais moderno e mais cheio de
sala de aula se transformaria num elemento recursos (aplicativos), maior a exclusão criada
inovador de prática pedagógica, por ele. Mas como se dá a construção de
considerando que este artefato tecnológico se valores, sob a perspectiva da utilização do
adequa ao meio cultural do aluno, celular nos espaços escolares?
transformando o cotidiano do mesmo.
Werneck (2003, p.51) nos diz que “o processo
De acordo com Sayad (2005, p.6), os de busca e de apreensão do valor não ocorre,
parâmetros para uso do celular dentro dos no entanto de maneira objetiva. Nele interfere
espaços escolares favorecem a integração a subjetividade, intervindo nos seus fins”.
“educador e educando no desenvolvimento de Assim sendo, podemos dizer que o celular,
produtos de comunicação”, permitindo numa escala de construção de valores dentro
“múltiplos olhares do plano pedagógico da da escola, constitui-se não somente em uma
educação”. Martín-Barbero (2013) nos mostra ferramenta de exclusão social, sendo
que tais escolhas de procedimentos considerado o oposto, como ferramenta de
conduzem a melhoria da “gestão do ambiente inclusão social, auxiliando na democratização
escolar” a partir da ampla participação dos do saber. Ainda nos reportando a Werneck
educandos. Nessa perspectiva, o objetivo é (2003, p.50):
permitir que os alunos participem ativamente
O valor vem sempre unido a um ser singular
da construção do conhecimento. Dessa
que lhe serve de suporte, empana seu brilho e
interação adquirem valores, normas, crenças,
dificulta seu reconhecimento. É tarefa da

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


155

educação levar o educando a distinguir entre fazer competir e ascender profissionalmente. A


o valor, o não-valor e o contravalor e a buscar nossa sociedade é movida pela ambição dos
e apreender o que realmente vale, por bens materiais. A busca da felicidade está no
corresponder a sua necessidade. Pode-se acumulo de riqueza; os resultados desse
então dizer que o valor tem de ser descoberto cenário são injustiças, conflitos, guerras,
e reconhecido, já que se apresenta tristeza, egoísmo e desamor.
mascarado, disfarçado, encoberto e velado
Segundo pesquisa recente da Teleco,
pelo ser. Não sendo a necessidade de
empresa que presta serviços sobre
realização do sujeito satisfeita pelo ser, mas
Telecomunicações e Internet, o Brasil terminou
sim pelo valor, torna-se fundamental o
junho de 2015 com 282,5 milhões de celulares
aprendizado da sua busca e a distinção entre
e densidade de 138,23 celulares a cada 100
as duas instâncias.
habitantes. Sob esse prisma, a espantosa
Pautado nestes postulados, a escola não deve presença do aparelho em nossa sociedade é
ter apenas a intenção de ministrar o ensino de algo que ultrapassa os perfis modernos de
valores aos alunos, mas sim de resgatar uma “cultura de consumo” perfazendo uma
virtudes já existentes e incentivar práticas de presença utilitária agregada à identidade do
boa convivência, proporcionar a reflexão sobre próprio indivíduo.
uma consciência ética, pois os valores não são
Nesse cenário, o uso do celular dentro dos
impostos como um código de conduta, mas
espaços escolares, como já citamos, reforça a
como um incentivo a refletir para que os alunos
distinção de classes e a projeção de “status”
possam fazer melhor suas escolhas. O desafio
para aqueles que possuem os aparelhos mais
no ensino pautado em valores é a intervenção
modernos e repletos de aplicativos. Além
para construir e transformar ações.
dessa exclusão digital que os celulares
Se na maioria das vezes, a sociedade acabam promovendo, seu uso tornou-se um
apresenta limites quanto à política de inclusão grande problema dentro das escolas, pois os
digital, o valor do uso celular seria a mais alunos, de forma indiscriminada, passam não
efetiva ferramenta de socialização, somente a atender ligações em sala de aulas,
principalmente para os estudantes de escolas como também a produzir suas ligações,
públicas, proporcionando liberdade na infringindo a ética existente nos espaços
transmissão de dados e interação constante escolares. Se por um lado, a tecnologia serve
entre duas ou mais pessoas ou grupo na de apoio às ações educacionais, por outro o
própria sala de aula, arrefecendo assim a seu uso exacerbado se torna um empecilho.
perspectiva da prática de individualidade que
Diante desse panorama, em 2008, foi
muitas das vezes afasta os alunos do interesse
promulgada a lei nº 5.222 que proíbe o uso do
pelo universo escolar. Perante essa
celular nas salas de aula das escolas públicas
perspectiva, nos reportamos a Contijo et al
do Estado do Rio de Janeiro. O projeto de lei
(2008, p.51), que nos mostra que a nova
que originou a norma diz que o uso do celular
configuração do ensino pelo celular:
pode:
[...] aumenta a velocidade de transformações
 Desviar a atenção dos alunos;
de informações, de ideias [...], a capacidade
de dados possibilita a profusão de  Possibilitar fraudes durante as
armazenamento de dados possibilita a avaliações;
profusão da divulgação de textos na integra,
 Provocar conflitos entre professores e
acervos de museus, conteúdos catalogados
alunos, e alunos entre si, influenciando
de grandes bibliotecas, filmes, músicas, não
o rendimento escolar.
importando o tamanho dos arquivos.
O que temos, a partir da lei promulgada, é um
duplo contravalor no uso do celular. Se
3. A LEGISLAÇÃO VIGENTE E O possível democratizar o acesso a inclusão
CONTRAVALOR DO USO DO CELULAR digital pelos alunos oriundos de classes
sociais menos favorecidas, restringir seu uso,
Sabemos que o homem contemporâneo,
especialmente em escolas públicas, só
envolvido com tanta tecnologia e globalização,
favorece a exclusão dos que já se encontram
acaba declinando para os fatos nem sempre
excluídos na grande aldeia global que
importantes da vida cotidiana. Nossa
vivemos. De outra parte, nega a possibilidade
educação é pautada com o propósito de nos

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


156

da escola sair de si mesma, de extrapolar os 4. CONCLUSÕES


muros que a cercam na medida em que outros
A educação pautada em valores é primordial
saberes podem ser compartilhados na
para a formação do sujeito porque permite
interação e trocas entre os alunos, o que
vivenciar práticas e procedimentos
propicia um retrocesso nos padrões de ensino
relacionados a imperativos legitimados
que possibilitem a produção e o
socialmente, que contribuem para formar
compartilhamento de conhecimentos, através
cidadãos cientes de que a valorização das
da socialização entre eles.
regras que regem a organização das relações
Há diferenças entre a discussão das formas e em grupo são os pilares para que a sociedade
dos modos de fazer uso de tecnologias em repense sua condição humana.
espaços coletivos e sua exclusão. A escola
A inserção de valores humanos contribui para
tem o dever de humanizar e educar cidadãos,
a aprendizagem de condutas sociais. Nesse
posicionando-se por vezes no fio da navalha
sentido, é preciso ir além do desempenho
entre exercer a autoridade e ser autoritária.
técnico de ensinar. Associar conhecimento
Não imprescindível criar uma lei para
pedagógico e cultural com capacidade de
disciplinar o uso desses aparelhos nas
expressar sentimentos. No que se refere a
escolas, pois as determinações sobre essa
introdução do celular como meio para
questão podem constar do regimento interno e
desenvolver o trabalho de valores, há um
do projeto político-pedagógico.
deslocamento das concepções de
Devemos nos lembrar que o espaço da escola ensino/aprendizagem dentro da escola, nas
é um espaço público. A luta deveria ser, quais o livro e ela própria se configuram como
portanto, pela garantia do acesso igualitário, únicas possibilidades de aquisição de
ao consumo e uso reflexivo do celular, conhecimento e cultura em direção a outras
problematizando-se assim as representações concepções, em que conhecimento, cultura e
sociais nele existentes. Conforme afirma tecnologia se aproximam, na medida em que
Werneck (2003, p.55): “Quanto mais são pensados novos parâmetros
desenvolvido, mais educado, mais instruído, teóricos/conceituais.
mais decide o sujeito sobre a sua escala de
valores e, assim, sobre sua produção cultural”.

REFERÊNCIAS
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valores compartilhados no Projeto Educativo de mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 7ª
Centro. In: NIEVES, Alvárez María; et al. Valores e ed. Rio de Janeiro:UFRJ: 2013.
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[7] MARTINELLI, M. Conversando sobre
Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2002.
educação em valores humanos. 3ª ed. São Paulo:
[2] Brasil. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de Peiropólis, 1999.
1996. Brasília, 1996. Disponível em: <
[8] MORAN, J. M. Para onde caminhamos na
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http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/educa
[3] Contijo, S.; Pinho, M.; Monteiro, E.; cao_inovadora/caminhamos.pdf> Acesso em 04
D’ANGELO, M. A escola por dentro dos meios. Rio jun. 2016
de Janeiro: Planetapontocom, 2008.
[9] MORAN, J. M.; MASSETTO, M.T.;
[4] Cruz, M.; C. M. T. Para uma educação de BEHRENS, M.A. Novas tecnologias e mediação
sensibilidade: a experiência da Casa Redonda pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000.
Centro de Estudos. 2005. 194 f. Dissertação
[10] RIO DE JANEIRO. Lei nº 5.222 de 11 de
(Mestrado em Educação). Faculdade de Educação,
abril de 2008 que dispõe sobre a proibição do uso
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
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Disponível em: <
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http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27131
/tde-21052006- [11] SABINI, M.A. C. Construindo valores
humanos na escola. 2ª ed. São Paulo: Papirus, 2002.
[5] 233605/publico/AEDUCACAODASENSIBIL
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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


157

[12] SAYAD, A. L. V. Museu de Novidades – [14] TELECO. Estatísticas de celulares no


Comunicação, Educação e Participação para uma Brasil. Banco de dados, 2015 Disponível em:
educação pública de qualidade. In: Educomunicar, <http://www.teleco.com.br/ncel.asp> Acesso em 25
p.6-7, 2005. Disponível em: < abr.2016.
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[15] UNESCO. TICs acessíveis e ensino
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personalizado para alunos com deficiências: um
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diálogo entre educadores, indústria, governo e
[13] SILVA, B.N. S. O cinema na sala de aula: sociedade civil. Disponível em: <
um caminho para formação. In: Espaço Acadêmico, http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/
Maringá, PR, n. 93, fev 2009. Disponível em: < HQ/CI/CI/pdf/accessible_ict_students_disabilities_p
http://www.espacoacademico.com.br/093/93silva.h t.pdf> Acesso em 04 jun. 2016.
tm> Acesso em 10 maio. 2016.
[16] WERNECK, V. R. Cultura e Valor. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2003.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


158

Capítulo 14
METODOLOGIAS DE ENSINO PARA A MELHORIA DO
APRENDIZADO
Victor Ulisses Pugliese
Eduardo Noboru Sasaki

Resumo: O projeto tem por objetivo a pesquisa e o estudo sobre as técnicas de


apresentação verbal e gestual para trabalhos, seminários, exposições e/ou
simpósios. Assim, são apresentados fundamentos teóricos e práticos, que
caracterizam formas de comunicação, acompanhados por sugestão sobre como
utilizá-los em atividades educacionais, na área de exatas, para a melhoria do
processo ensino-aprendizagem ao educando, fazendo uso do estudo de caso do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus
Caraguatatuba.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


159

1 INTRODUÇÃO instituição educacional e a seus agentes


devem promover metodologias que almejam
O projeto tem por objetivo um estudo sobre as
resultados satisfatórios. Historicamente, a
técnicas de apresentação verbal, gestos e
Educação passou e passa por constantes
posturas para trabalhos, seminários,
mudanças em suas diretrizes e aplicações. O
exposições ou simpósios como ferramentas
aprendizado pode se tornar cada vez mais
para o processo ensino-aprendizagem. O
dinâmico e moderno conforme [WEINBERG
estudo baseou-se nos resultados de pesquisa
2005]: “Concentrar os recursos públicos no
de campo realizado com discentes e docentes
ensino fundamental – e não na universidade –
da região de Caraguatatuba/SP sobre tipos de
enquanto a qualidade nesse nível for sofrível”
metodologias de ensino aplicáveis, ou não,
e “ Investir em polos universitários voltados
dentro e fora da sala de aula.
para a área tecnológica”.
Com fundamentos teóricos e práticos, o
trabalho apresenta as diversas formas de
comunicação e a possibilidade de utilizá-las 2.2 JUSTIFICATIVA
nos trabalhos educacionais, no mercado de
A necessidade de aliar diferentes ferramentas
trabalho e em operações cotidianas de um
do processo pedagógico com a sua respectiva
cidadão brasileiro.
fundamentação, o “saber” e o “como
O projeto utiliza recursos multimídia como transmitir” de um profissional, levam a justificar
ferramentas de exposição e aplicação prática o projeto de Pesquisa e seus respectivos
de pesquisa e também tem por objetivo resultados, e este faz parte do projeto de
identificar diferentes técnicas de ensino e iniciação científica.
aprendizagem para a melhoria do processo
Por meio da comunicação, em suas variadas
ensino-aprendizagem ao educando.
formas, o trabalho foi submetido a estudos
sobre a elaboração de trabalhos escritos, orais
e demais formas, a fim de expô-los para a
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO
comunidade e contribuir no desenvolvimento
BIBLIOGRÁFICA
educacional e científico do Instituto Federal de
2.1 PENSADORES DA EDUCAÇÃO. Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
Campus Caraguatatuba.
A educação é um processo contínuo de
aprendizagem adquirida por meio de conflitos
cognitivos conforme cita [PIAGET 2010], na
3 MATERIAIS E MÉTODOS OU
qual nota-se a importância da participação do
METODOLOGIA
aluno no processo de ensino aprendizagem de
forma integral e com múltiplos conhecimentos, O projeto desenvolvido em março de 2014
conforme Gardner. A educação, segundo trouxe resultados significativos em suas duas
[FREIRE 2010], deve ser questionada, pois pesquisas de campo abordando quais as
tanto o educando quanto o educador principais ferramentas de metodologia de
compartilham conhecimentos e trocam ensino aprendizagem nas diferentes visões,
experiências durante o processo de corpo docente e discente da região de
aprendizagem, assim “Ninguém ensina nada a Caraguatatuba.
ninguém e as pessoas não aprendem
Pesquisa realizada com o corpo docente do
sozinhas”. Por meio desta socialização,
Instituto Federal de Educação, Ciência e
[VYGOTSKI 2010] afirma que a sociedade
Tecnologia de São Paulo (IFSP) –
molda o indivíduo, pois o educando não
Caraguatatuba, sobre quais as melhores
adquire características pré-determinadas e
ferramentas de ensino (Cerca de 15
sim as adquire com os desafios do dia-a-dia.
entrevistados e 20 perguntas). Abaixo são
Com este pensamento, [FERREIRO 2008]
listadas algumas das principais perguntas do
atribuiu responsabilidade à escola, da qual
questionário:
precisa estar estimulando sempre o aluno para
que haja aprendizado significativo. Assim, a

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


160

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


161

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


162

Pesquisa realizada com o corpo discente de melhores ferramentas de ensino (Cerca de 09


Tecnologia Em Análise e Desenvolvimento de entrevistados e 19 perguntas). A seguir são
Sistemas, 5º módulo, do Instituto Federal de listadas algumas das principais perguntas do
Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo questionário:
(IFSP) – Caraguatatuba, sobre quais as

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


163

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS submetidos a informações cada vez mais


DADOS OU RESULTADOS dinâmicas, deixando ferramentas como jornal
impresso e rádios menos usuais. Tais
Conforme os indicadores das pesquisas com o
informações devem ser trabalhadas pelo
corpo docente e discente do IFSP-
educador a favor da melhoria do conteúdo
Caraguatatuba, é possível afirmar que os
abordado em ambiente acadêmico com
modelos de ensino aprendizagem se
moderações, filtrando conteúdos que possam
modernizaram por meio de ferramentas como
prejudicar o ambiente com dados falsos,
computadores, eBooks, internet, Datashow,
imprecisos ou indevidos. Além disso, é
decorrentes de um mundo cada vez mais
importante o educador estar consciente sobre
globalizado. Os alunos estão cada vez mais
o uso da tecnologia, pois a interação humana
conectados às novas tecnologias e
é necessária e indispensável.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


164

Pode-se analisar uma coerência entre a Após análise de um período de trabalho no


resposta número 07 (sete) da pesquisa do Campus, entregou-se como produto final, um
docente com a resposta de número 16 artigo científico do projeto, que demonstra
(dezesseis) do discente, na qual o acesso às conscientização do quadro do processo
informações cada vez mais rápidas tende a educacional, na área de exatas, com as
solicitar por profissionais abertos no que se opiniões de agentes do processo de formação
refere a uma educação horizontal, pois ambos dos profissionais desta área. Além disso,
os lados (discente e docente) podem também houve melhoria na transmissão do
aprimorar o conteúdo em sala de aula. Por conhecimento do educando para a
outro lado, sabe-se que a limitação dentro da comunidade, com publicações em: 5º
rede de ensino pela pouca distribuição de Congresso de Iniciação Científica e
recursos tecnológicos a serviço dos Tecnológica do IFSP; Simpósio de Excelência
educadores, torna a pesquisa mais relevante em Gestão e Tecnologia AEDB; e capítulo
com os resultados dos indicadores. deste livro.
Agradeço e dedico este trabalho aos
professores do Instituto Federal de Educação,
5 CONCLUSÃO
Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo
– Campus Caraguatatuba.

REFERÊNCIAS
[1]. Domínio Público, “Paulo Freire Editado; ObraForm.do?select_action=&co_obra=205241,
2010”,http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ Junho de 2014.
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=205
[4]. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia,
216, Junho de 2014.
“O processo de alfabetização da criança segundo
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de 2014.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


165

Capítulo 15
MAPEAMENTO E GESTÃO DE PROCESSOS APLICADOS EM
UMA PRÓ-REITORIA PERTECENTE A UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO SUPERIOR BRASILEIRA
Andreia Lucila da Costa Schlosser
Daniele Estivalete Cunha
Daniele Medianeira Rizzetti
Andressa Hennig Silva
Gilnei Luiz de Moura

Resumo: A crescente competitividade, a globalização e as inovações tecnológicas


trouxeram diversas mudanças para as organizações, sejam elas públicas ou
privadas. Esta realidade não é diferente para as Instituições de Ensino, que estão
engajadas na adoção de novas práticas de melhoria contínua de seus serviços.
Neste sentido, ao observar a realidade em uma Secretaria pertencente a uma Pró-
Reitoria de uma Instituição Pública de Ensino Superior, percebeu-se a perda de
informações pela falta de registro das mesmas, ocasionando dificuldades na
execução das atividades. Dessa forma, buscou-se analisar a maneira como ocorrem
os processos em tal Secretaria e como simplifica-los e/ou melhora-los, visando
garantir a padronização e o aumento da sua eficiência organizacional. Tal estudo
apontou a necessidade de padronização, visando à melhoria da qualidade dos
serviços prestados.

Palavras-chave: Processos. Padronização. Pró-Reitoria.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


166

1. INTRODUÇÃO Secretaria; b) sistematizar as informações


levantadas e desenhar fluxogramas para cada
As organizações vivenciam um cenário de
processo; e, c) analisar os processos
crescente competitividade, devido às diversas
desenvolvidos na Secretaria, a fim de
mudanças ocorridas no mercado nos últimos
identificar possíveis “gargalos” responsáveis
anos, as quais foram responsáveis por
pelo desperdício de recursos e tempo e torná-
ocasionar a ruptura de diversos paradigmas:
los mais ágeis, eficientes e eficazes, focando
sociais, econômicos, técnicos e
na qualidade do serviço público.
organizacionais. Conforme Paludo (2012), a
globalização e as inovações tecnológicas Este estudo foi estruturado em etapas:
trouxeram diversas mudanças nas inicialmente apresenta-se o referencial teórico,
organizações, exigindo que as mesmas se possibilitando maior entendimento e
adaptem e evoluam para os padrões mundiais fundamentação a esta pesquisa; a segunda
de produção de bens e serviços. parte contempla a metodologia utilizada. A
terceira seção contempla os resultados da
Em virtude das mudanças no mercado, o setor
pesquisa e, por fim, apresenta-se a conclusão
público viu-se sob pressão para melhorar seu
do estudo. O desenvolvimento deste trabalho
desempenho e demonstrar transparência em
contribuiu para a padronização e agilização
suas atividades e resultados, o que resultou na
dos serviços prestados pela Secretaria, uma
busca de melhorias em sua forma de atuar. No
vez que por meio do Gerenciamento de
âmbito educacional não foi diferente, o
Processos a organização pode reduzir custos,
aumento da competição e a exigência dos
agilizar a prestação de serviços e melhorar a
consumidores também incentivaram a procura
qualidade dos mesmos.
de melhoramentos pelas instituições de
ensino. Devido a estas mudanças, as
instituições estão buscando constantemente o
2. REFERENCIAL TEÓRICO
aprimoramento de suas atividades por meio da
Gestão por Processos, que é a sincronia entre Este tópico aponta referenciais inerentes à
insumos, atividades, infraestrutura e sustentação teórica da pesquisa, quais sejam:
referências necessárias para adicionar valor processo, gestão por processos, mapeamento
para o ser humano. e notações para representação de processos.
O presente trabalho justificou-se, pois
promoveu o estudo dos processos
2.1 PROCESSO
desenvolvidos pela Secretaria, que é o setor
responsável pelo recebimento de solicitações Processo, palavra originária do latim –
de serviços de reparos, construções ou processu – que tem como significado “ato de
reformas na infraestrutura de todos os órgãos proceder, de ir por diante; maneira pela qual
da Instituição. se realiza uma operação, segundo
determinadas normas; método, técnica”
Dessa forma, o questionamento que se buscou
(FERREIRA, 1986, p. 1395). Gonçalves (2000,
responder neste trabalho foi: De que forma a
p. 8) diz que “todo trabalho importante
Gestão por Processos pode contribuir para
realizado nas empresas faz parte de algum
aperfeiçoar as tarefas executadas e
processo. Não existe um produto ou um
consequentemente os serviços realizados em
serviço oferecido por uma empresa sem um
uma Secretaria pertencente a uma Pró-Reitoria
processo empresarial”. Para Araujo (2009),
de uma Instituição Pública de Ensino Superior
todo processo é constituído de elementos e de
Brasileira? Para responder a este
objetivos. Há cinco tipos de elementos, a
questionamento definiram-se os seguintes
saber: insumos, recursos, atividades,
objetivos: a) identificar e mapear os processos
informações e tempo.
que compõem o ambiente de atividades da

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


167

Figura 1: Representação de um Processo.

Fonte: Biazzi (2007, p. 24)

Para Gonçalves (2000), os processos podem portanto, estar comprometida com modernas
ser divididos em basicamente três categorias: práticas de gestão, distanciando-se cada vez
mais do modelo burocrático presente no
Processos de Negócio (ou de cliente): são
serviço público.
aqueles que caracterizam a atuação da
empresa e são suportados por outros
processos internos da organização resultando,
2.2 GESTÃO POR PROCESSOS
assim, em um produto/serviço para um cliente
externo. A ABPMP – Associação de Profissionais de
Gerenciamento de Processos de Negócio –
Processos Organizacionais (ou de integração
(2009) define gestão por processos, como: um
organizacional): são centralizados na
enfoque disciplinado para identificar,
organização e viabilizam o funcionamento
desenhar, executar, documentar, medir,
coordenado de seus subsistemas, em busca
monitorar, controlar e melhorar processos de
de seu desempenho geral, garantindo suporte
negócio, automatizados ou não, para alcançar
aos processos de negócio da mesma.
resultados consistentes e alinhados com os
Processos Gerenciais: aqueles focados nos objetivos estratégicos da organização.
gerentes e nas suas relações; incluem ações
Analisar um processo não é tarefa fácil, pois
de medição e ajustes de desempenho da
requer experiência em diversos objetos que de
organização.
uma forma ou de outra estão presentes no
Além do exposto, Gonçalves (2000) faz outras desenvolvimento de qualquer procedimento.
classificações em relação aos processos, ou Ainda de acordo com Cruz (2010), existem
seja, quanto à sua tipificação processual, os alguns pontos básicos que podem guiar o
processos podem ser internos – quando aperfeiçoamento dos métodos, quais sejam:
iniciam e terminam dentro da própria
a) Qual o motivo da existência de cada
organização - ou externos – quando
atividade que compõe o processo?
extrapolam os limites da organização e
envolvem um ou mais stakeholders. Também b) Há alguma atividade sem motivo aparente
podem ser inter ou intraorganizacionais, ou para existir?
seja, quando envolvem diversas empresas
c) É possível eliminar alguma atividade? Existe
diferentes para a sua realização.
alguma possibilidade de juntar várias
Carneiro (2010, p. 2) explica que “no mundo atividades em uma única?
todo, países desenvolvidos ou em
d) É preciso criar alguma atividade nova?
desenvolvimento vêm buscando melhorar sua
administração pública por meio do uso de O mesmo autor confirma as informações
modelos e práticas típicas das empresas supramencionadas com a seguinte citação:
privadas”, essa preocupação com a qualidade
A análise do processo pode servir a inúmeros
nos serviços prestados reflete nas
propósitos. Podemos estar querendo apenas
transformações sociais e econômicas pelas
saber se o que está sendo feito é o mais
quais a administração pública vem passando,
conveniente, em termos de forma e de
de forma que se torna essencial que a mesma
conteúdo do processo, ou se existem
esteja apta para responder com agilidade e
qualidade aos novos usuários, necessitando,

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


168

discrepâncias que devam ser eliminadas processo de negócio por meio de pessoas,
(CRUZ, 2010, p. 127). máquinas, tarefas e sistemas, como também
inclui a descrição de custo, consumo dos
A gestão por processos tem como objetivo
recursos e tempo necessário para cada um
coordenar e controlar as atividades para que
desses componentes. As mudanças
bons resultados possam ser alcançados.
tecnológicas e a reestruturação do governo
Gerenciar bem significa localizar o problema e
motivam a transição da informática pública
analisar os processos com fatos e dados
para um patamar onde o objetivo é a
confiáveis, padronizar e estabelecer itens de
modernização e a melhoria dos serviços
controle para corrigir futuros erros.
prestados à sociedade. A figura 2 ilustra a
Para Smith e Fingar (2007), as ferramentas da gestão por processos:
gestão por processos não só descrevem o

Figura 2: Gestão por Processos.

Fonte: CADE Jr (2013).

A figura 2 representa as etapas da gestão por 2.3 MAPEAMENTO DE PROCESSOS


processos, onde ao passar por um
O mapeamento de processos, também
determinado processo, uma entrada (input) é
conhecido por modelagem de processos, é
transformada em uma saída (output),
uma ferramenta gerencial que consiste na
resultando em um produto ou serviço. No
construção de um modelo que demonstre os
entanto, demonstra que para que a gestão por
relacionamentos entre as atividades, pessoas,
processos ocorra são necessárias algumas
dados e objetos envolvidos na produção de
avaliações acerca do processo,
determinado bem ou serviço. Permite,
principalmente em relação: Quem são os
portanto, conhecer como são realizadas as
responsáveis pelo processo? Que meios são
operações, os negócios e as atividades na
utilizados? Que infraestrutura está disponível?
organização. A figura 3 demonstra os passos
Que regras são aplicadas/utilizadas? Quais
que devem ser seguidos para a adequada
indicadores de desempenho são utilizados?
construção da representação gráfica:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


169

Figura 3: Metodologia de implementação da Gestão por Processos.

Fonte: Pavani Júnior e Scucuglia (2011).

De acordo com as ideias de Alvarenga Netto O mapeamento também auxilia a instituição a


(2004), o elemento mais importante para a distinguir claramente os pontos fortes dos
Gestão por Processos é o seu mapeamento, pontos fracos (quais precisam ser melhorados
pois torna mais fácil determinar onde e como tais como: complexidade na operação, reduzir
melhorá-lo, do mesmo modo permite eliminar custos, gargalos, falhas de integração,
atividades que não adicionem valor, bem atividades redundantes, tarefas de baixo valor
como, reduzir a complexidade dos processos. agregado, retrabalhos, excesso de
Permite obter uma ampla visão da documentação e provações), além de ser uma
organização. excelente forma de melhorar o entendimento
sobre os processos e aumentar o desempenho
O CBOK® - Guia para o Gerenciamento de
do negócio.
Processos de Negócio - (2009) ainda enumera
alguns objetivos que justificam a modelagem De acordo com Pavani Junior e Scucuglia
de processos: (2011), para que os modelos de processos
sejam facilmente entendidos, objetivos e
 Documentar os processos;
claros, diversas metodologias (notações)
 Prover treinamento; foram desenvolvidas. Geralmente a escolha da
melhor notação leva em conta a cultura da
 Estabelecer padrões de trabalho;
empresa a ser modelada, dos níveis de
 Responder às mudanças; compreensão das partes interessadas em ler o
modelo e do nível de detalhe e informações
 Identificar oportunidades de melhoria;
exigidos para o objetivo do modelo. A seguir,
 Desenhar um novo processo; serão apresentadas as metodologias mais
utilizadas para a modelagem de processos.
 Comunicar;
 Definir requisitos para novas
operações;
 Medir o desempenho; 2.4 NOTAÇÕES PARA REPRESENTAÇÃO DE
PROCESSOS
 Automatização, e
Para que os processos possam ser
 Viabilizar simulação e análise de
representados graficamente (por meio de
impacto.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


170

mapas, fluxos ou diagramas), ou seja, setor e na elaboração do mapeamento dos


modelados – foram criadas diversas mesmos. Caracterizando assim, o estudo
metodologias com o intuito de permitir sua como qualitativo.
adequada visualização e compreensão. Tais
Já a terceira etapa esteve constituída de
modelos precisam ser fáceis de entender,
observação in loco, a qual teve como objetivo
objetivos e claros e seu nível de detalhamento
verificar o sequenciamento das atividades
dependerá de quem será o público que
realizadas pelo setor em questão assim como
necessita das informações (alto escalão,
propiciar o conhecimento da estrutura e o
programação de sistemas, analistas, etc.).
funcionamento básico do mesmo. A partir da
O objetivo da modelagem de processos é a sistematização dessas informações, foram
representação gráfica de um processo a fim de construídos fluxogramas para cada processo
permitir a sua compreensão às partes identificado, com o auxílio do software Visio.
interessadas. Os modelos de notação para
modelagem de processos mais utilizados, de
acordo com Pavani Junior e Scucuglia (2011), 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
são: BPMN (Business Process Management
Após realização de entrevista com os
Notation), Fluxogramas, Raias.
colaboradores da Secretaria da
Coordenadoria de Manutenção e observação
das atividades realizadas no setor, verificou-se
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS
a existência de 13 processos. Para cada
O presente trabalho foi desenvolvido na processo foi desenhado um fluxograma a fim
Coordenadoria de Manutenção, setor de ilustrar o passo a passo das rotinas, bem
responsável por planejar, coordenar, como a identificação dos agentes
supervisionar e executar os serviços de obras, responsáveis pelas etapas do processo. O
manutenção e serviços gerais nas diversas desenho dos fluxogramas foi feito com o auxílio
unidades e subunidades que compõe a do software Visio.
Instituição Pública de Ensino Superior. A
Neste estudo de caso, serão abordados três
Coordenadoria de Manutenção presta serviços
processos “Atendimento ao usuário”,
nos campos referentes à: hidráulica, elétrica,
“Elaboração das Ordens de Serviço” e
marcenaria, carpintaria, pintura, engenharia
“Organização e Controle das Ordens de
civil, serralheria, vidraçaria, paisagismo,
Serviço”, por se tratar de processos que foram
eletromecânica e máquinas.
identificados como de alta demanda diária.
Esta pesquisa foi constituída de três etapas.
Na Secretaria da Coordenadoria de
Na primeira foi realizada uma revisão de
Manutenção da Pró-Reitoria de Infraestrutura
literatura com a finalidade de reunir
da Instituição Pública de Ensino Superior, os
informações relevantes sobre o tema a ser
processos foram identificados como
estudado em livros, revistas, leis, pesquisas e
Organizacionais, uma vez que visam dar
publicações na área. O tipo de pesquisa
suporte ao funcionamento dos demais setores
empregada foi de caráter exploratório, mais
da instituição. Além disso, os processos são
especificamente em formato de estudo de
em sua maioria internos, já que iniciam e
caso, que, para Gil (2006) tem como objetivo
terminam dentro da própria organização.
principal o aprimoramento de ideias.
Porém algumas vezes, os processos também
A segunda etapa esteve composta por uma
podem ser tipificados como externos. Ao
entrevista semiestruturada, que foi aplicada no
mesmo tempo, a maioria dos processos pode
mês de outubro de dois mil e treze, aos cinco
ser reconhecida como intraorganizacional, ou
funcionários da Secretaria da Coordenadoria
seja, quando são realizados por mais de uma
de Manutenção da Pró-Reitoria de
unidade organizacional distinta.
Infraestrutura da Instituição Pública de Ensino
Superior e também ao chefe do setor com o A figura 4 apresenta a legenda adotada para a
intuito de fazer o levantamento das atividades confecção dos fluxogramas, onde os agentes
desenvolvidas por eles em suas tarefas diárias. responsáveis pelas atividades que compõem
Além disso, a entrevista contribuiu para a cada processo foram identificados por cores.
identificação dos processos executados no

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


171

Figura 4: Legenda referente aos símbolos utilizados para confecção dos fluxogramas de processos.

Fonte: Elaborado pelos autores.

4.1 ATENDIMENTO AO USUÁRIO manutenção (simples, que não envolva


nenhum tipo de orçamento) e (2) usuários que
O atendimento ao usuário na secretaria da
já solicitaram serviços ligam em busca de
Coordenadoria de Manutenção ocorre
informações acerca da situação de seu pedido
basicamente de duas formas: (1) atendimento
(realização do serviço).
presencial e (2) atendimento por telefone. O
atendimento presencial ocorre geralmente As solicitações de serviços recebidas são
quando um determinado setor solicita um organizadas de acordo com a data da
serviço – por meio de memorando – e o requisição do usuário e sua execução respeita
funcionário leva o documento em mãos até a a ordem cronológica das mesmas.
Coordenadoria de Manutenção por acreditar
As atividades que compõem esse processo
que o acolhimento de sua solicitação será
são apresentadas no fluxograma, conforme
priorizado. O atendimento por telefone ocorre
mostra a figura 5:
de duas maneiras distintas: (1) usuários
telefonam para solicitar algum serviço de

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


172

Figura 5: Fluxograma do processo Atendimento ao Usuário.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Observa-se que este fluxograma apresenta um No setor objeto de estudo deste trabalho, as
processo linear simples, uma vez que envolve Ordens de Serviço são elaboradas pela
a atuação direta de apenas dois responsáveis própria secretaria logo após o recebimento
na participação das atividades. das solicitações enviadas pelos demais
setores da Instituição Pública de Ensino
Superior. As solicitações podem ser enviadas
4.2 ELABORAÇÃO DE ORDENS DE SERVIÇO à secretaria da Coordenadoria de Manutenção
da PROINFRA por quatro meios diferentes: (1)
A Ordem de Serviço é um documento que tem
telefonema, (2) memorando, (3) fax ou (4) e-
por finalidade a emissão de um comunicado
mail. Para setores localizados na cidade de
interno em uma empresa, geralmente a
Santa Maria, as solicitações são aceitas
respeito de algum trabalho que necessita ser
somente por meio de telefonemas ou
realizado. Na Administração Pública, segundo
memorandos, já para aqueles localizados em
Portaria Normativa do MPOG Nº. 5, a Ordem de
outras localidades (Frederico Westphalen,
Serviço é classificada como Ato Normativo,
Palmeira das Missões ou Silveira Martins), são
uma vez que são expedidas por autoridades
aceitas solicitações por e-mail ou fax. As
administrativas, com a finalidade de dispor e
solicitações encaminhadas por outras cidades
deliberar sobre matérias específicas. A
são recebidas pelo chefe da coordenadoria de
emissão de Ordens de Serviço configura o Ato
Manutenção, uma vez que somente o
pelo qual os titulares de Coordenações,
Departamentos, Presidentes de Comissões, próprio tem acesso ao e-mail e repassadas à
além de outras autoridades de nível secretaria para a elaboração da Ordem de
hierárquico equivalente, determinam Serviço e demais procedimentos. As
providências a serem cumpridos por unidades atividades que envolvem este processo são
orgânicas e/ou servidores subordinados. apresentadas no fluxograma demonstrado na
figura 6:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


173

Figura 6: Fluxograma do processo Elaboração de Ordens de Serviço.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Observa-se que este fluxograma representa Ordens de Serviço ocorrem diversas vezes
um processo linear simples, envolvendo três durante o expediente, pois o volume de
responsáveis pela execução das atividades solicitações de reparos na Instituição é muito
que o compõem. amplo. Sendo assim, o colaborador da
secretaria deve lançar a ordem de serviço no
sistema (Word), seguindo uma numeração
4.3 ORGANIZAÇÃO E CONTROLE DAS (ordem cronológica), além disso, a
ORDENS DE SERVIÇO organização das Ordens de Serviço adota
certas separações: (1) por setor solicitante e
Para que os documentos permaneçam sempre
(2) por tipo de serviço a ser prestado, as quais
organizados de forma que seja possível lançar
estão devidamente organizadas em pastas
as Ordens de Serviço no sistema (Microsoft
(banco de dados) no sistema ( Microsoft
Office Word) sem que haja perda de tempo e
Windows). Um dos objetivos desta divisão é
para que os documentos sigam a ordem
obedecer a numeração dos documentos
cronológica devida, os mesmos precisam ser
criados (Ordens de Serviço), bem como
arquivados em um banco de dados no sistema
controlar e contabilizar a quantidade de
(Microsoft Windows).
serviços prestados. As atividades que
Na secretaria da Coordenadoria de envolvem este processo são apresentadas no
Manutenção, a organização e o controle das fluxograma demonstrado na figura 7:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


174

Figura 7: Fluxograma do processo Organização e Controle das Ordens de Serviço.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Observa-se que este fluxograma representa composta por cinco colaboradores e o chefe
um processo linear simples, envolvendo do setor. Distribuídos da seguinte forma: um
apenas um responsável pela execução das servidor público, dois funcionários
atividades que o compõem. terceirizados e dois menores aprendizes, além
do dirigente do setor, um engenheiro que
Para o desenvolvimento das atividades
também é servidor público. O seguinte quadro
administrativas, a Coordenadoria de
(Quadro 1) demonstra a distribuição dos
Manutenção possui uma secretaria, objeto de
funcionários que compõem o setor:
estudo do presente trabalho, a qual é

Quadro 1: Composição do quadro de funcionários da Coordenadoria de Manutenção da Instituição


Pública de Ensino Superior.
Servidores da Funcionários
Setor da Coordenadoria de Manutenção
Instituição Terceirizados
Coordenação e secretaria 10 08
Construção Civil 08 33
Hidráulica 02 15
Elétrica 05 17
Telefonia 03 04
Paisagismo 09 39
TOTAL 37 116
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados fornecidos pela Coordenadoria de Manutenção da
Instituição.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


175

Com base nos dados observados no quadro, reposição de pessoal desse nível, a
pode-se verificar que há uma grande Coordenadoria de Manutenção passará a ser
concentração de funcionários terceirizados composta somente por funcionários
prestando serviços na Coordenadoria de terceirizados.
Manutenção da Instituição. E, tendo em vista
Anualmente o número de solicitações de
que mais funcionários do quadro da
reparos tem crescido significativamente,
coordenadoria de manutenção deverão se
conforme demonstra o gráfico (Figura 8) a
aposentar nos próximos anos e que não
seguir:
haverá, de acordo com a atual legislação
vigente, novos concursos públicos para

Figura 8: Quantitativo de Ordens de Serviço de 2012 a julho de 2013.

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados fornecidos pela Coordenadoria de Manutenção .

5. CONCLUSÃO Num segundo momento, as informações


levantadas foram sistematizadas, o que
O questionamento que se buscou responder
permitiu a construção de fluxogramas, um para
neste trabalho foi o seguinte: “De que forma a
cada processo encontrado. A partir da
Gestão por Processos pode contribuir para
representação gráfica dos processos por meio
aperfeiçoar as tarefas executadas e
dos fluxogramas, foi possível analisar as
consequentemente os serviços realizados pela
atividades desenvolvidas na secretaria da
secretaria da Coordenadoria de Manutenção
coordenadoria de manutenção. Estes
de uma Instituição Pública de Ensino Superior
fluxogramas foram apresentados aos
Brasileira?”.
funcionários e ao chefe do setor para que os
Para responder a esta questão, inicialmente mesmos fossem validados. Após algumas
realizou-se uma entrevista com os servidores correções, todos restaram de acordo com a
do setor, com o objetivo de colher informações rotina de atividades do setor. Resultando
acerca das atividades por eles desenvolvidas. assim, no alcance do segundo objetivo
Como resultado dos dados levantados, proposto: sistematizar as informações
obteve-se a identificação e mapeamento dos levantadas e desenhar fluxogramas para cada
processos que compõem o ambiente de processo.
atividades da Secretaria da Coordenadoria de
Em seguida, realizou-se uma análise dos
Manutenção da Pró-Reitoria de Infraestrutura.
processos identificados com o intuito de
Cumprindo, dessa forma, o que foi proposto no
verificar se seria possível sugerir alguma
primeiro objetivo: identificar e mapear os
mudança na realização das atividades que
processos que compõem o ambiente de
pudesse trazer benefícios ao setor. Sendo
atividades da secretaria da coordenadoria de
assim, pode-se afirmar que o terceiro objetivo
manutenção da PROINFRA.
foi cumprido: analisar os processos

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


176

desenvolvidos na secretaria da Coordenadoria Outro processo que também poderia ter sua
de Manutenção da PROINFRA. rotina alterada caso o sistema (software) fosse
implantado, seria Organização e Controle das
Conforme se pôde observar nos documentos
Ordens de Serviço. Neste caso, não seria
do setor, o quadro de colaboradores da
necessário que a funcionária do setor
secretaria da coordenadoria de manutenção é
separasse as ordens de serviço em pastas (no
composto, em sua maioria, por funcionários de
Microsoft Windows), o sistema se encarregaria
empresa terceirizada, dessa forma, o Manual
de realizar esta tarefa.
de Processos e Rotinas poderá contribuir para
a melhoria nos serviços prestados, uma vez No entanto, para que as sugestões de
que padronizará e norteará as atividades e melhorias possam ser testadas, seria
rotinas a serem desenvolvidas pelos necessário o apoio da instituição, tanto
funcionários e por novos colaboradores que financeiro quanto administrativo, visto que
venham a ser lotados no setor. demanda do desenvolvimento de um software
para o adequado funcionamento das
Com base nas observações realizadas na
solicitações online.
secretaria e de análise dos fluxogramas
encontrados como resultado do mapeamento Pode-se salientar que no decorrer deste
verificou-se que há alguns processos que estudo, algumas limitações foram
podem ter sua rotina melhorada a fim de que encontradas:
os processos tornem-se mais ágeis.
a) baixa disponibilidade de trabalhos
O processo de Elaboração das Ordens de semelhantes com foco no setor público;
Serviço, por exemplo, possui um sistema muito
b) na realização das entrevistas, foi necessário
lento de tramitação. A secretaria recebe
explicar primeiramente alguns conceitos,
primeiramente a solicitação de serviço por
como por exemplo, a definição de processo e
telefone, memorando, fax ou e-mail para
atividade, com o intuito de familiarizar os
somente depois ser repassado para um
entrevistados com o foco da pesquisa e para
sistema onde a OS é criada, tendo seus dados
facilitar o entendimento entre entrevistados e
lançados manualmente e posteriormente é
entrevistador;
repassada aos setores da coordenadoria de
manutenção. Percebeu-se que a c) as sugestões para o melhoramento na
documentação troca frequentemente de execução dos processos não puderam ser
portador. Situação esta que pode ser testadas, visto que demandaria de muito mais
denominada como handoffs, ou seja, pontos tempo e envolveria o investimento na
em que os processos trocam de poder. tecnologia, por parte dos gestores (caso a
ideia fosse aprovada).
A implantação de um sistema de solicitações
online (internet), onde os próprios usuários A partir da análise dos processos mapeados,
pudessem criar a solicitação de serviço, feito verificou-se que este trabalho pode contribuir
por meio da internet e diretamente na página para criar um ambiente de maior agilidade nas
da Instituição, agilizaria os pedidos de reparos, atividades desenvolvidas pela secretaria, e
ficando a secretaria responsável apenas pela consequentemente na qualidade dos serviços
impressão dessas requisições e posterior prestados.
repasse aos setores competentes pelos
Após a realização deste estudo de caso,
serviços. Além disso, se o sistema fosse capaz
verificou-se que há possibilidades de
de permitir que os usuários acompanhassem
continuidade no estudo em questão, pois com
em tempo real a situação de sua solicitação,
o decorrer do tempo, novos processos
evitaria que inúmeras ligações fossem feitas
poderão surgir na secretaria da coordenadoria
por dia para a secretaria da coordenadoria de
de manutenção. Ou, mesmo os processos já
manutenção em busca de informações acerca
aqui elencados e identificados, poderão ser
de requisições de serviço.
reestudados, a fim de que novas melhorias
Devido à crescente demanda de solicitação de possam ser propostas, pois esse é o objetivo
serviços, um sistema para a efetivação de da Gestão por Processos: que as
requisições seria justificado, pois a instituição organizações verifiquem constantemente seus
ganharia tempo e recursos, uma vez que os processos, de forma a aperfeiçoá-los cada vez
usuários passariam a fazer seus próprios mais.
pedidos e a secretaria teria menos trabalho e
maior organização para atender à demanda.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


177

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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


178

Capítulo 16
PADRONIZAÇÃO DE PROCESSOS EM UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO SUPERIOR BRASILEIRA
Andreia Lucila da Costa Schlosser
Daniele Estivalete Cunha
Daniele Medianeira Rizzetti
Andressa Hennig Silva
Gilnei Luiz de Moura

Resumo: Nas últimas décadas, as organizações públicas têm feito uso de algumas
ferramentas da área da Administração Privada em busca de maior qualidade e
velocidade nos serviços prestados à comunidade. Neste sentido, uma das
ferramentas que vem despertando grande interesse por parte dos gestores de
organizações públicas é o mapeamento de processos, possibilitando maior
compreensão em como os produtos e os serviços são criados, mostrando claramente
os problemas e proporcionando benefícios, como a melhora na qualidade do
trabalho desenvolvido. Este estudo teve como objetivo apresentar uma proposta de
manual de padronização de processos e rotinas para um setor pertencente a uma
Instituição Pública de Ensino Superior Brasileira, por meio de uma pesquisa de
natureza aplicada, com abordagem qualitativa e exploratória em relação aos
objetivos, utilizando como método o estudo de caso. O presente trabalho contribuiu,
tanto para o meio acadêmico, com reflexões e sugestões para trabalhos futuros,
quanto para o setor alvo de estudo, pois ofereceu uma visão atual do mesmo. Ainda,
por meio da utilização do manual resultante deste estudo, poderá proporcionar: a
eliminação de atividades desnecessárias; o melhor aproveitamento do tempo em
atividades que, de fato, são relevantes; e, o treinamento e a disseminação de
conhecimento aos novos servidores, atuando como um guia prático para o
conhecimento da realidade deste local de trabalho.

Palavras-chave: Fluxograma; Mapeamento; Gestão por Processos.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


179

1 INTRODUÇÃO atividades envolvidas nos mesmos (PAVANI;


SCUCUGLIA, 2011).
A maneira de organizar e gerir instituições
influencia diretamente no impacto de suas Para Oliveira (2007), a gestão de processo é o
operações. Desta forma, as mesmas devem conjunto estruturado e intuitivo das funções de
desenvolver um comportamento gerencial planejamento, organização, direção e
mais integrado e abrangente que busque a avaliação das atividades sequenciais, que
efetividade em seus processos essenciais. E apresentam relação lógica entre si, com a
os gestores devem atentar continuamente para finalidade de atender e, preferencialmente,
a reavaliação de suas práticas administrativas, suplantar, com minimização dos conflitos
a fim de garantir vantagem competitiva interpessoais, as necessidades e expectativas
(DORICCI, 2010). dos clientes externos e internos das empresas.
Nas organizações públicas, a luta de forças se Sendo assim, a motivação para realização
manifesta entre o “novo e o velho”, ou seja, as desta pesquisa concentrou-se na seguinte
transformações e inovações das organizações problemática: de que modo os processos que
no mundo contemporâneo versus uma compõem o ambiente de atividade de um setor
dinâmica e uma burocracia arraigadas. É pertencente a uma Instituição Pública de
válido destacar que a burocracia se justifica Ensino Superior Brasileira podem ser
em parte, pois foi concebida para dificultar o mapeados, visando à divulgação, à
desvio de recursos que são provenientes da padronização e o melhor entendimento dos
própria população. Porém, é evidente que as mesmos? E teve como objetivo principal
organizações públicas se deparam com a propor um manual de padronização de
necessidade do novo, tanto em aspectos processos e rotinas para este setor. Para tanto,
administrativos quanto em políticos, para a teve os seguintes objetivos específicos: a)
obtenção das melhores estratégias (PIRES; identificar os processos que compõem o
MACEDO, 2006). ambiente de atividades do setor; b) levantar as
atividades de cada processo, sistematizando-
Para tanto, conforme Pavani e Scucuglia
as; c) mapear os processos que compõem o
(2011), a orientação para processos pode
ambiente de atividades do setor, desenhando
possibilitar a representação e compreensão
seus fluxogramas; e, d) propor sugestões de
em como a organização funciona,
melhorias nos fluxos dos processos
demonstrando estrangulamentos,
mapeados.
ambiguidades e redundâncias e
proporcionando possíveis otimizações nos O presente trabalho poderá proporcionar uma
mesmos, de maneira que a organização possa nova maneira de trabalhar no setor, a partir de
funcionar melhor. procedimentos e fluxogramas padrões
definidos. Além disso, atuará como um guia
Segundo Davenport (1994) os processos são
prático para o conhecimento da realidade
ordenações específicas das atividades de
deste local de trabalho, possibilitando maior
trabalho, no tempo e no espaço, com começo,
facilidade para o desempenho das atividades
fim, inputs e outputs claramente identificados;
diárias, auxiliando o treinamento de novos
enfim, uma estrutura para a ação. Já, Roberts
servidores e disseminando o conhecimento a
(1997 apud OLIVEIRA, 2009, p. 9) explica que
cada troca de gestão. A escolha de tal setor
processo é um conjunto de atividades
deveu-se pela importância do mesmo, por ser
interligadas que transformam insumos em
ele o responsável por gerenciar e operar o
produtos ou serviços, os quais representam
Sistema Federal que gera a folha de
soluções para os problemas dos clientes
pagamentos de todos os servidores da
internos e externos da empresa.
instituição.
O mapeamento desses processos é
extremamente importante para as
organizações, pois permite que as mesmas 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
conheçam, desenvolvam e aperfeiçoem suas
O referencial teórico está organizado da
rotinas de trabalho, possibilitando o alcance
seguinte maneira: conceituações sobre a
dos resultados pretendidos, com otimização
gestão pública no Brasil; as Instituições
do tempo, minimização de falhas, identificação
Públicas de Ensino Superior Brasileiras;
e eliminação de gargalos proporcionando
definições sobre a gestão por processos, que
também, a visão global de tais processos, à
englobam a conceituação, o mapeamento e a
medida que tornam públicas todas as
padronização de processos.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


180

2.1 GESTÃO PÚBLICA NO BRASIL para uma administração pública


profissionalizada, com a valorização e
Analisando a história da gestão pública no
carreiras sólidas; e, c) a baixa qualidade da
Brasil, percebe-se que o Estado patrimonialista
prestação de serviços, com a aplicação de
predominou até a década de 1930. O aparelho
avaliação de desempenho, controle de
estatal nada mais era que uma extensão do
resultados e inclusão de práticas de gestão do
poder do soberano e constituído pelas
setor privado, buscando a melhoria da
seguintes características: relações de lealdade
qualidade e do desempenho do serviço
pessoal; clientelismo, corrupção e nepotismo;
público.
ausência de carreiras e critérios de promoção;
fronteira nebulosa entre o público e o privado; Na década de 1990, verifica-se que o maior
casuísmo e particularismo de procedimentos desafio do setor público brasileiro
(SANTOS, 2003). caracterizou-se na identificação da busca por
melhores resultados, com foco no cidadão
Conforme explica Faoro (1996), no
(FERREIRA et al., 2008). De acordo com Jund
patrimonialismo trazido pelos ensinamentos de
(2008), nos últimos cem anos, o Brasil passou
Weber, os comandos proferidos pela
por duas reformas administrativas,
autoridade eram de características
caracterizadas pela mudança na forma da
eminentemente voltadas a valores, opiniões e
administração pública, passando do modelo
posições pessoais do senhor. A ordem era
chamado Patrimonialista para o Burocrático e
vertical, “de cima para baixo”; no topo estava
chegando ao atual, conhecido como
o chefe patrimonial e na base os súditos.
Gerencialismo.
Segundo Santos (2003), no final do século XIX,
Biazzi (2007) explica que, apesar das reformas
foram difundidas ideias weberianas de
administrativas que o País enfrentou, a
administração racional-legal ou administração
estrutura organizacional do setor público
burocrática, na qual o enfoque principal era a
brasileiro ainda apresenta como
escolha dos meios mais adequados e
características principais a
eficientes para a realização dos fins visados.
departamentalização no modo de organização
Nesse novo modelo de gestão se consagrou o
do trabalho, a forte resistência às mudanças e
formalismo, a impessoalidade, a divisão do
uma estrutura altamente burocratizada, com
trabalho, a hierarquia funcional, a competência
elevado número de níveis hierárquicos. Sendo
técnica baseada em um sistema de mérito e,
assim, para a autora, as evidências sugerem
ainda, um rígido controle dos procedimentos
que, se não se considerar a estrutura, a
adotados.
burocracia, o ambiente político e outras
Porém, esse modelo foi muito criticado, devido características específicas das organizações
a centralização excessiva do poder, a públicas, iniciativas de aperfeiçoamento
verticalização das estruturas, a ênfase na podem vir a falhar. Neste sentido, como o
posição e não na pessoa, o privilégio da norma presente estudo se dá em um setor
em detrimento da busca de resultados e, como pertencente a uma Instituição Pública de
consequência, a lentidão do processo Ensino Superior faz-se necessário uma
decisório, fato este que representa até os dias abordagem sobre a situação de tais
atuais a maior causa do desgaste da imagem instituições no Brasil.
do serviço público. Então, na segunda metade
do século XX, como resposta à ampliação das
funções econômicas e sociais do Estado, ao 2.2 INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO
desenvolvimento tecnológico e à globalização, SUPERIOR BRASILEIRAS
foi emergindo um novo modelo de
De acordo com Biazzi (2007), existem duas
Administração Pública, a Gerencial (BRESSER
categorias de Instituições Públicas de Ensino
PEREIRA; SPINK, 2007) ou Nova Gestão
Superior Brasileiras: as Instituições Federais,
Pública (New Public Management).
ligadas ao Ministério da Educação e Cultura
Fadul e Silva (2008) explicam que este modelo (MEC) e as Instituições Estaduais, ligadas aos
gerencial buscou combater: a) a crise fiscal e governos de cada Estado. E suas estruturas
a exaustão financeira, por meio da disciplina e apresentam as mesmas características das
controle dos recursos públicos, garantia dos organizações públicas brasileiras, isto é,
contratos e bom funcionamento dos mercados, estrutura altamente departamentalizada e
além de privatizações; b) a exaustão do processos formalmente instituídos e
modelo burocrático e o excesso de burocráticos (VIEIRA e VEIRA, 2003).
formalismos, por meio da melhor capacitação

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


181

Para Trosa (2001), os órgãos vinculados à Processos primários: São aqueles que tocam o
Administração Pública Federal estão cliente, onde qualquer falha, o cliente logo a
buscando aprimorar sua forma de gestão e as identifica.
universidades também seguem este ritmo,
Processos de apoio: São os que colaboram
considerando o avanço nos processos de
com os processos primários na obtenção do
gestão em todas as áreas do conhecimento.
sucesso junto aos clientes.
Ainda, Santigo et al. (2003) explica que a
universidade, particularmente a pública, Processos gerenciais: São aqueles que
depara-se com a necessidade de efetivar um existem para coordenar as atividades de apoio
modelo atual de gestão e por isso é desafiada e dos processos primários.
pela sociedade e pelo Estado. Para vencer
Neste contexto, Harrington (1993) apresenta a
este desafio, as transformações demandadas
hierarquia dos processos, na qual é
são profundas, refutando, portanto, ações
representado o nível de detalhamento com que
superficiais ou parcelares.
o trabalho está sendo abordado, conforme
A pressão por mudanças nas Instituições de exposto a seguir:
Ensino Superior é reforçada pelo fato de que
Macroprocesso: Envolve mais de uma função
as mesmas possuem a função de intermediar
na estrutura organizacional e a sua operação
o setor produtivo e, sendo assim, estarem
tem um impacto significativo no modo como a
atualizadas é fundamental para possibilitar aos
organização funciona.
seus egressos um perfil pró-ativo e inovador,
que se adapte às constantes alterações Processo: Conjunto de atividades seqüenciais
sociais, bem como às evoluções tecnológicas (conectadas), relacionadas e lógicas que
(HRUSCHKA et al., 2004). tomam um input com um fornecedor,
acrescentam valor a este e produzem um
Dessa forma, Bernardes (2006) defende que a
output para um consumidor.
universidade deve estar dirigida ao perfil
gerencial do administrador do futuro, que deve Subprocesso: Parte que, interrelacionada de
possuir algumas posturas indispensáveis forma lógica com outro subprocesso, realiza
como: iniciativa de ação e decisão, um objetivo específico em apoio ao
capacidade de negociação, competência e macroprocesso e contribui para a missão
autonomia para criar e inovar, capacidade de deste.
comunicação interpessoal, comprometimento
Atividade: Ação que ocorre dentro do
com o princípio ético e capacidade de
processo ou subprocesso, geralmente
trabalhar em grupo. Então, é imprescindível
desempenhada por uma unidade (pessoa ou
que os gestores universitários façam uso de
departamento) para produzir um resultado
instrumentos eficazes, tais como uma
particular, constitui a maior parte dos
orientação voltada para processos, para
fluxogramas.
ajudar a representar e compreender em como
de fato a organização funciona. Tarefa: Parte específica do trabalho é o menor
microenfoque do processo, podendo ser um
único elemento e/ou um subconjunto de uma
2.3 GESTÃO POR PROCESSOS atividade.
De acordo com Davenport (1994), um É válido destacar que, a partir do momento que
processo seria uma ordenação específica das os indivíduos realizam o trabalho por meio de
atividades de trabalho no tempo e no espaço, processos, eles contribuem para que a
com começo, um fim, inputs e outputs, organização atinja seus objetivos. Neste
claramente identificados. Eles são sentindo, um instrumento útil para atender a
identificados pelo conjunto de tarefas essa demanda é o mapeamento de processos
efetuadas para atender as necessidades de (PAVANI; SCUCUGLIA, 2011). O mapeamento
clientes específicos, sendo que em cada gera um mapa, um fluxo, que dispõe as
processo estão inseridas diversas atividades diversas interações da estrutura da
alinhadas para gerar resultados únicos organização, englobando as atividades da
(EVANGELISTA, 2000). totalidade da organização ou podendo
evidenciar apenas um processo
Para Cerqueira Neto (1994), os processos são
(ALBUQUERQUE e ROCHA, 2007).
agrupados conforme a seguinte
categorização: Alguns dos tipos de notação mais comumente
utilizadas em modelagem de processos são:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


182

Business Process Management Notation diminuir as perdas, sejam elas financeiras ou


(BPMN), Fluxogramas, Raias, Business intelectuais.
Process Execution Language (BPEL), Event
Quando se fala em eficiência no serviço
Process Chain (EPC), Unifield Modeling
público por meio da padronização de
Languages (UML), IDEF-0, Line of Visibility
processos, não se pode esquecer a
Engineering Method – Enhanced (LOVEM-E),
elaboração e o uso de manuais. Mendonça
Suplliers/Inputs/Process/Outputs/Constumers
(2010) explica que documentar os processos é
(SIPOC), Systems Dynamics, Value Stream
uma decisão que todas as organizações
Mapping e Cadeia de Valor. É valido
deveriam adotar, com o objetivo de manter
esclarecer que notação é uma sequência de
atualizados os registros que garantam a sua
passos representada por meio de elementos
sobrevivência e, ao mesmo tempo, permitam a
gráficos (retângulos, quadros, losangos,
execução de esforços visando a sua
setas), que representam o que irá ocorrer em
perpetuação.
um processo (PAVANI; SCUCUGLIA, 2011).
Desse modo, o mapeamento de processos, Para Cury (2000) manuais são documentos
conforme explicam Pavani e Scucuglia (2011), elaborados dentro de uma empresa com a
é a primeira etapa para a implementação de finalidade de uniformizar os procedimentos
uma gestão por processos, pois é por meio que devem ser observados nas diversas áreas
dele que ocorre o levantamento de de atividades. Então, verifica-se que a melhora
informações fundamentais para tomada de dos processos organizacionais, por meio do
decisões. mapeamento e da padronização, é fator
importante para o sucesso de qualquer
A gestão por processos ou BPM (Business
organização, seja ela pública ou privada. Para
Process Manager) pode ser entendida com o
tanto, é necessário que tal mapeamento e
uma abordagem sistemática de gestão e
padronização sejam realizados de maneira
melhoria de processos específicos (HARMON
sistematizada e compreensível a todos os
e WOLF, 2012). Barbosa (2013) corrobora com
colaboradores.
esse conceito ao afirmar que quando se fala
em gestão por processos, procura-se ver a
organização de forma mais ampla, com as
3 MATERIAIS E MÉTODOS
áreas se interrelacionando, vários processos
interagindo e a gestão monitorando isso como Neste estudo foi realizada uma pesquisa de
um todo, garantindo a satisfação do cliente. natureza aplicada e abordagem qualitativa,
bem como exploratória em relação aos
Sendo assim, as organizações que adotam
objetivos. Na pesquisa qualitativa, o
esse modelo de gestão, dentre inúmeros
pesquisador é um interpretador da realidade
benefícios, passam a ter o controle de tudo o
(BRADLEY, 1993). Além disso, Gil (2008)
que acontece internamente, ou seja, passam a
explica que um trabalho é de natureza
ter uma visão sistêmica da organização,
exploratória quando envolver levantamento
auxiliando no planejamento, organização,
bibliográfico, entrevistas com pessoas que
liderança, além de facilitar o trabalho e a
tiveram (ou têm) experiências práticas com o
comunicação entre todos os setores
problema pesquisado e análise de exemplos.
(GONÇALVES, 2000).
Para pautar o estudo, optou-se pelo método de
estudo de caso que, segundo Yin (2010)
2.3.1 PADRONIZAÇÃO DE PROCESSOS consiste em uma inquirição empírica que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro
Segundo, Cantidio (2012) quando se
de um contexto da vida real, quando a fronteira
padroniza um processo, reduzem-se
entre o fenômeno e o contexto não é
efetivamente as perdas, pois se almeja o
claramente evidente e onde múltiplas fontes de
máximo no desempenho das atividades; ao
evidência são utilizadas. Este trabalho foi
contrário, a falta de padrões leva ao
realizado conforme a Figura 1.
desperdício e falhas. Sendo assim, existe a
necessidade de se padronizar como forma de

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


183

Figura 1: Etapas da pesquisa


Etapas Ação Descrição
Escolha do tema, problema, Definição do tema a ser pesquisado, do problema de pesquisa,

objetivos e metodologia dos objetivos e da metodologia.
Construção e atualização do Levantamento bibliográfico por meio da revisão literária em

referencial teórico livros, revistas, artigos e sites especializados.
Elaboração do instrumento de coleta de dados para o
3ª Construção do formulário mapeamento de processos, fornecendo todos os
esclarecimentos necessários para o desenho dos fluxos.
Coleta de dados realizada por meio de entrevistas com os
4ª Aplicação de entrevistas
sujeitos da pesquisa.
Análise dos dados realizada com base nos formulários
Tratamento e análise dos
5ª devidamente preenchidos (um por processo), resultando nos
dados
fluxogramas.
Aplicação de novas entrevistas, Validação da análise dos dados realizada por meio de

validando dados entrevistas com os sujeitos pesquisados.
Construção do manual de processos e rotinas do setor
estudado. Nesta etapa, também foi realizado a redação das
7ª Construção do manual
considerações e apontamentos finais, bem como, foram
apontadas sugestões para trabalhos futuros.
Fonte: elaborada pelos autores.

O objeto de estudo foi um setor pertencente a A seguir, foram aplicadas entrevistas,


uma Instituição Pública de Ensino Superior previamente agendadas, evitando a perda de
Brasileira, que tem como objetivo informação relevante.
operacionalizar, manter e alimentar o Sistema
As entrevistas foram norteadas por meio de um
Integrado de Administração de Recursos
formulário estruturado, adaptado do modelo
Humanos (SIAPE), com todas as informações
utilizado por Scartezini (2009), que abordou os
necessárias, visando o pagamento dos
seguintes questionamentos sobre cada
servidores ativos e inativos da Instituição.
processo analisado: a) dados do processo:
Para a realização desta pesquisa, foi abrangendo itens como nome, sistema(s) de
selecionada uma amostra não-probabilística apoio, data do levantamento,
intencional ou por julgamento. Mattar (2005) entrevistado(a)(s), descrição, normativos e/ou
explica que a amostragem não-probabilística é legislação norteadores(as) e documentação
aquela em que a seleção dos elementos da necessária; b) Atividades e/ou tarefas do
população para compor a amostra depende ao processo: abordando a ordem e a descrição
menos, em parte, do julgamento do de cada atividade; e, c) Sugestões de
pesquisador ou do entrevistador no campo. E melhorias apontadas para cada processo ou
Schiffman e Kanuk (2000) complementam atividade específica.
afirmando que o pesquisador usa o seu
Os dados desta pesquisa foram dispostos em
julgamento para selecionar os membros da
fluxogramas, permitindo a compreensão do
população que são boas fontes de informação
todo e a construção da resposta ao problema
precisa.
de pesquisa. A notação escolhida para
Então, o critério para a escolha dos mapear os processos foi a de fluxogramas, por
entrevistados da presente pesquisa se deu por ser, de acordo com Pavani e Scucuglia (2011),
meio do julgamento dos autores, com base nos de fácil entendimento e interpretação pelos
conhecimentos, experiências e colaboradores da organização. Os processos
responsabilidades que tais indivíduos identificados foram mapeados utilizando o
possuem a respeito do processo ou rotina em software Bizagi Process Modeler, versão
estudo, totalizando 23 entrevistados. A coleta 2.6.0.4, de 30/09/2013.
de dados foi realizada inicialmente por meio da
Segundo ROSARIO (2013), ele é uma
pesquisa documental nos relatórios e planilhas
ferramenta para a criação de fluxogramas,
de controles utilizados no setor alvo do estudo.
mapas mentais e diagramas em geral, que

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


184

possibilita aos usuários organizarem problemas, apontando soluções para os


graficamente vários processos e as relações mesmos e tornando o processo compreensível
existentes em cada etapa. Essa estruturação é a todos os colaboradores da organização. A
uma maneira eficiente de visualizar um Figura 02 apresenta a notação utilizada nos
processo como um todo, identificando fluxogramas deste estudo:

Figura 02: Notação utilizada nos fluxogramas


Notação Descrição

Início do processo.

Fim do processo.

Decisão e/ou possíveis desvios para outros pontos do fluxograma.

Ação da atividade.

Informações adicionais para o leitor.

Indica a direção do fluxo de atividades.

Liga as informações adicionais às atividades do fluxo.

Fonte: adaptado de Pavani e Scucuglia (2011).

A seguir, são apresentados os principais Adicional de Insalubridade, Periculosidade,


resultados encontrados com a realização Irradiação Ionizante e Gratificação de Raios X
deste trabalho. ou Substâncias Radioativas;
Afastamento para Estudo ou Missão no Exterior
e Afastamento para Participação em Programa
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
de Pós-Graduação Stricto Sensu no País;
Neste capítulo, são apresentados os
Afastamento para Servir a Outro Órgão ou
resultados obtidos a partir da coleta,
Entidade (Cessão ou Cedência);
tratamento e análise dos dados, respondendo
ao problema de pesquisa proposto no início Alteração de Jornada/Regime de Trabalho;
deste estudo, assim como, ao objetivo geral e
Aposentadoria Voluntária;
aos objetivos específicos da seguinte maneira:
Aposentadoria Compulsória;
a ) Identificar os processos que compõem o
ambiente de atividades do setor: Aposentadoria por Invalidez;
A identificação dos processos foi realizada por Auxílio Natalidade, Auxílio Pré-Escolar e
meio de entrevistas com os servidores lotados Salário-Família;
neste setor, utilizando o formulário instrumento
Faltas não Justificadas;
de coleta de dados desse estudo. O trabalho
pretendeu identificar todos os processos do Férias;
setor, mas, provavelmente, alguns mais raros
Gratificação por Encargo de Curso ou
não foram lembrados pelos servidores e
Concurso;
acabaram sendo omitidos. A seguir
encontram-se os processos e rotinas Inclusão de Estagiários;
identificados, perfazendo um total de 27
Incentivo à Qualificação;
processos.
Inclusão de Residentes;
Abono de Permanência;

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


185

Inclusão de Servidor (Substituto, Temporário, organizados por ordem alfabética, para


Visitante e Efetivo); facilitar a localização de cada um, e
apresentam as seguintes informações: nome,
Isenção de IR;
descrição, legislação vigente, sistemas de
Licença para Capacitação; apoio, documentação necessária, sugestões
de melhorias e fluxograma. A seguir será
Progressão Funcional Docente;
exposto um dos processos identificados no
Progressão por Capacitação; setor, tal como se encontra no Manual.
Progressão por Mérito Profissional;
Promoção Funcional Docente; Progressão Por Capacitação
Redistribuição; Descrição
Remoção; É a mudança de nível de capacitação, no
mesmo cargo e nível de classificação,
Retribuição pelo Exercício de Função de
decorrente da obtenção pelo servidor de
Direção, Chefia e Assessoramento (FG, FCC
certificação em programa de capacitação,
ou FUC e CD);
realizado após o seu ingresso na instituição e
Retribuição por Titulação; e, compatível com o cargo ocupado, com o
ambiente organizacional e com a carga horária
Substituição da Função de Chefia.
mínima exigida, respeitado o interstício de 18
b) Levantar as atividades de cada processo, (dezoito) meses, nos termos da Lei.
sistematizando-as;
c) Mapear os processos que compõem o
Legislação
ambiente de atividades do setor, desenhando
seus fluxogramas; e, Lei 11.091, de 12/01/2005;
d) Propor sugestões de melhorias nos fluxos Lei 11.233, de 22/12/2005;
dos processos mapeados.
Decreto 5.824, de 29/06/2006;
O levantamento das atividades, as
Decreto 5.825, de 29/06/2006;
sistematizações, os mapeamentos e os
fluxogramas foram realizados por meio das Lei 11.784, de 22/09/2008;
informações obtidas no formulário utilizado
Portaria 39 MEC, de 14/01/2011; e,
como instrumento de coleta de dados. A
fluxogramação de cada processo foi validada Lei 12.772, de 28/12/2012.
com os entrevistados, para evitar erros e
confirmar que tais fluxos retratassem a
realidade organizacional, constituindo o Sistema(s) de Apoio
manual de padronização de processos e
SIAPE; e,
rotinas do setor. Tal documento almejou
identificar, mapear e sugerir melhorias aos SIE.
processos, visando à divulgação, à
padronização e o melhor entendimento dos
mesmos, eliminando atividades Documentação Necessária
desnecessárias e auxiliando no treinamento e
Requerimento/formulário do servidor;
na disseminação de conhecimento aos novos
servidores, atuando como um guia prático. Certificado expedido pelo órgão da Instituição;
e,
Ele foi constituído pelos seguintes capítulos:
Gestão por Processo, Institucional e Processos Se feito em instituição externa, certificado em
e Rotinas do Setor. Esta estrutura pretendeu que deverá constar nome da instituição, CNPJ
esclarecer alguns dos principais conceitos (informação não obrigatória), endereço,
sobre a Gestão por Processos, assim como, identificação das assinaturas respectivas,
apresentar o setor objeto de estudo e, conteúdo programático (informação não
finalmente, demonstrar os processos que obrigatória), carga horária, frequência mínima
fazem parte do ambiente de atividades deste e período de realização do curso.
setor, devidamente mapeados e com
Sugestões de Melhorias
sugestões de melhorias. Tais processos foram

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


186

Definição de tempo limite para permanência Criação de um sistema on-line para o processo
do processo nos setores envolvidos; de progressão por capacitação, evitando
assim o retrabalho, desperdícios de papel,
Determinação de data limite para envio do
morosidade no andamento do processo e
processo ao setor em estudo, caso deseje a
perda de documentação.
inclusão na folha de pagamento do mês
vigente. Por exemplo, até o dia 5 de cada mês;
e,

Figura 03: Fluxo do processo progressão por capacitação.

Fonte: Elaborado pelos autores, utilizando o software Bizagi Process Modeler, versão 2.6.0.4, de 30/09/2013.

5 CONCLUSÕES compõem o ambiente de atividades do setor,


desenhando seus fluxogramas; e, propor
O referido estudo teve como objetivo principal
sugestões de melhorias nos fluxos dos
propor um manual de padronização de
processos mapeados.
processos e rotinas de um setor pertencente a
uma Instituição Pública de Ensino Superior O primeiro objetivo específico “identificar os
Brasileira, para divulgação e melhor processos que compõem o ambiente de
entendimento. A pesquisa contou com a atividades do setor” foi sanado por meio da
delimitação dos seguintes objetivos realização de entrevistas com os servidores
específicos: identificar os processos que lotados neste setor, utilizando um formulário
compõem o ambiente de atividades do setor; estruturado. Apesar de o trabalho procurar
levantar as atividades de cada processo, identificar todos os processos do setor,
sistematizando-as; mapear os processos que provavelmente alguns processos mais raros

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


187

não foram lembrados, mas a grande maioria foi orientação para informatização; a redução do
levantada, perfazendo um total de 27 tempo do trâmite do processo; a melhoria no
processos. fluxo de informações a partir do conhecimento
do andamento do processo; a uniformização
Já, o segundo objetivo específico “levantar as
das etapas do processo com maior eficiência;
atividades de cada processo, sistematizando-
e, o maior conhecimento sobre cada processo.
as”; e o terceiro objetivo “mapear os processos
que compõem o ambiente de atividades do O presente trabalho também identificou
setor, desenhando seus fluxogramas”, foram algumas sugestões para trabalhos futuros, tais
alcançados a partir das informações obtidas como: identificação e mapeamento de
no formulário utilizado como instrumento de processos nos outros setores da Instituição;
coleta de dados desta pesquisa. Após a estudo das reais necessidades de novos
fluxogramação de cada processo, foi realizada servidores nos setores, com base na
a validação dos mesmos com os entrevistados, identificação dos tempos de execução dos
para confirmar que tais fluxos retratassem a processos; estudo, atualização e
realidade da organização. padronização dos requerimentos e/ou
formulários utilizados na Instituição, com intuito
No caso do quarto objetivo específico “propor
de excluir campos desnecessários e adicionar
sugestões de melhorias nos fluxos dos
informações relevantes; e, descrição de
processos mapeados”, as sugestões de
funções e atividades de cada cargo.
melhorias foram levantadas pelos próprios
entrevistados, a partir do formulário utilizado, Além disso, o desenvolvimento deste trabalho
assim como, pela análise dos fluxogramas trouxe muitas contribuições, tanto para a área
existentes pelos autores do presente trabalho. acadêmica, por meio de sugestões para
O alcance dos objetivos específicos pesquisas futuras, quanto para orientar outras
possibilitou sanar o objetivo geral deste Instituições. Por fim, este estudo teve como
trabalho, ou seja, a construção do manual de principais limitações: à ausência de pesquisa
padronização de processos e rotinas do setor mensurando o desempenho da utilização do
estudado. Sendo que, a utilização deste manual confeccionado e a não caracterização
manual poderá possibilitar ao setor envolvido e do perfil dos respondentes, podendo utilizar
à Instituição como um todo: a racionalização tais itens em estudos futuros.
dos processos; a definição de prioridades; a

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Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


190

Capítulo 17
LUDICIDADE NO ENSINO DE ESPANHOL COMO LÍNGUA
ESTRANGEIRA: PERCEPÇÕES DOS ALUNOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL DE ESCOLAS PÚBLICAS DE BOA VISTA -
RORAIMA

Klayton Oliveira de Araújo


Raimunda Maria Rodrigues Santos
Nataly Nunes Ferreira
Cintya Lopes do Rosario
Stephanie Caroline da Rocha Mesquita

Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma investigação a respeito da


percepção dos estudantes do Ensino Fundamental, da rede de ensino estadual da
cidade de Boa Vista, sobre o uso de atividades lúdicas no processo de ensino e
aprendizagem de Espanhol como Língua Estrangeira. Buscou-se conhecer as
ferramentas pedagógicas utilizadas por seus professores, evidenciando aquelas
consideradas pelos respondentes como capazes de tornarem as aulas mais
interessantes e facilitadoras de sua aprendizagem. Para tanto, recorreu-se aos
procedimentos da pesquisa exploratória, por aproximar o pesquisador do tema e
permitir-lhe a elaboração de hipóteses sobre o problema; da pesquisa bibliográfica,
entendida como processo pelo qual se conhecem estudos já realizados a respeito do
tema e propicia o referencial teórico necessário para a etapa de análise; além da
pesquisa quali-quantitativa, que associa procedimentos de naturezas distintas e revela
as justificativas dos respondentes sobre suas percepções. Como instrumento de
pesquisa utilizou-se um questionário semiaberto, aplicado a 80 estudantes,
selecionados aleatoriamente ou seguindo indicação dos professores. Os resultados
parciais revelam que os alunos comungam a percepção de que a ludicidade é capaz
de promover a articulação entre teoria e prática, mobiliza sentimentos de prazer,
motiva-os a aprenderem, a interagirem com os colegas.

Palavras Chave: Ludicidade - Ensino de Espanhol – Interação.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


191

1. INTRODUÇÃO ensino envolvendo a ludicidade favorece a


aprendizagem do estudante e o trabalho do
A oferta de língua espanhola como parte do
professor por ter suas aulas mais interativas e
currículo escolar tornou-se obrigatória com a
mais dinâmicas, uma vez que “a função
promulgação da LDB - 9394/96, cabendo à
educativa do jogo oportuniza a aprendizagem
comunidade escolar escolher as línguas,
do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e
conforme a localização geográfica e realidade
sua compreensão de mundo” (SANTOS, 1997,
social em que a escola se encontra inserida.
p. 9).
Essa proposta surgiu em um momento de
reconhecimento da importância da escola para Ressalta-se que, apesar de a oferta de E/LE ser
oportunizar o acesso da população a uma obrigatória e representar uma oportunidade de
língua estrangeira. os estudantes dominarem uma segunda
língua, os resultados nem sempre são
Ressalta-se que o fenômeno da globalização,
satisfatórios. Conforme afirmação de Santos
sinalizado como realidade que abarcaria até
(2001), percebe-se uma apatia dos estudantes
os locais mais longínquos do planeta,
em relação à disciplina de espanhol, havendo
apontava para a necessidade de as pessoas
a necessidade de se rever as metodologias
dominarem uma segunda língua, a fim de
adotadas e investir-se em ações que
estabelecerem novas relações pessoais e/ou
possibilitem uma nova postura desse público
comerciais e interagirem no mundo virtual.
em relação à aprendizagem dessa língua.
Em se tratando das relações entre o Brasil e os Seguindo essa linha de pensamento, torna-se
países hispanos, acrescenta-se a proximidade relevante investigar como a ludicidade
geográfica e fluxo turístico constante encontra-se presente no ensino de E/LE nas
interpaíses. Em Roraima, estado fronteiriço à escolas públicas da rede estadual, a partir da
República Bolivariana da Venezuela, o experiência dos estudantes, de modo que os
deslocamento entre os dois países exemplifica resultados possam indicar caminhos para a
essa afirmação. Realidade que desperta o reformulação da prática adotada, contribuindo,
interesse de pesquisadores de diferentes assim, para alterar a realidade do ensino dessa
áreas de conhecimento sobre fatos sociais, língua nas escolas de ensino fundamental em
culturais e linguísticos decorrentes desse Roraima.
movimento. Dentre os estudos já realizados,
encontramos aqueles que se propõem em
refletir sobre o processo de ensino e 2. LUDICIDADE: CONCEITOS E APLICAÇÕES
aprendizagem do Espanhol como Língua
A arte de jogar e de brincar está presente na
Estrangeira (E/LE) em escolas da rede pública
maioria das crianças, e dos indivíduos em
e/ou particulares da capital (Boa Vista) e da
geral. Associando essa capacidade inerente
fronteira (Pacaraima). Preocupam-se, em sua
ao ser humano às práticas pedagógicas
maioria com fenômenos decorrentes das
inovadoras, chega-se à ludicidade. Segundo
línguas em contato, restando ampliar os
Santos (2006, p. 9):
debates a cerca das possibilidades de
incentivo e desenvolvimento de metodologias A palavra lúdico vem do latim ludus e significa
que incidam sobre um ensino de qualidade. brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos,
brinquedos e divertimentos e é relativa
Por essa perspectiva, surgiu o interesse em
também à conduta daquele que joga que
realizar uma investigação a respeito da
brinca e que se diverte. Por sua vez, a função
percepção dos estudantes sobre o uso de
educativa do jogo oportuniza a aprendizagem
atividades lúdicas no processo ensino e
do individuo, seu saber, seu conhecimento e
aprendizagem de E/LE no Ensino
sua compreensão de mundo
Fundamental. Buscou-se conhecer as
ferramentas pedagógicas utilizadas por seus Entretanto, não se recomenda brincar por
professores, evidenciando aquelas brincar ou jogar por jogar. Para isso, tornase
consideradas pelos respondentes como necessário que o educador seja mediador e
capazes de tornarem as aulas mais responsável por elaborar e não deixar que
interessantes e facilitadoras de sua essas atividades se transformem em baderna
aprendizagem. nem sejam encaradas pelos estudantes como
uma simples recreação sem sentido. Rizzy e
Para fundamentar este trabalho, recorreu-se
Haydt vão ao encontro deste pensamento
aos conceitos de Vigostysk (1998) e Santos
quando afirmam que:
(2006) que defendem o ensino por meio de
atividades lúdicas. Segundo esses autores, o

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


192

[...] podemos verificar que não existe escola acompanhe a evolução tecnológica por
diferenciação para contrapor o trabalho ao ele experimentada em outros ambientes pelos
jogo, como também não existe oposição entre quais transita. E quando se trata de aulas de
atividade lúdica e “atividade séria”. O jogo língua estrangeira em escolas públicas,
pode se confundir por vezes com o próprio aumenta a importância de ferramentas que
trabalho, principalmente no caso do trabalho promovam aproximações com a realidade de
espontâneo, e a atividade lúdica pode se países falantes do idioma estudado. Como
revestir da mais profunda seriedade. (2002, p. afirmam os Parâmetros Curriculares Nacionais
10) (PCNs):
Para utilizar essas ferramentas nas aulas, o Embora seu conhecimento seja altamente
educador deve ter conhecimento de quatro prestigiado na sociedade, as línguas
elementos que, segundo Antunes (2008), estrangeiras, como disciplinas, se encontram
justificam e condicionam a aplicação dos deslocadas da escola. A proliferação de
jogos. São elas: cursos particulares é evidência clara para tal
afirmação. Seu ensino, como o de outras
 Capacidade de se constituir em um
disciplinas, é função da escola, e é lá que deve
fator de auto-estima do aluno: onde o autor ocorrer. (BRASIL, 1996, p. 19)
propõe que esses jogos não devem ser nem
tão fáceis para não se tornarem Torna-se, pois, evidente que a superação das
desinteressantes e nem muito difíceis a ponto dificuldades no ensino de E/LE passam pela
de superar a capacidade de solução por parte revisão das metodologias adotadas nesse
do aluno e proporcionar ao estudante a processo. Assim, segundo os PCNs, urge que
sensação de fracasso ou incapacidade. a organização escolar e curricular seja
repensada, com experiências que coloquem o
“[...] é importante que o professor possa aluno no centro do processo. Pois como
organizá-los para simbolizarem desafios mostram os PCNs:
intrigantes e estimulantes, mas possíveis de
serem concretizados pelos alunos, [...] o ensino de Língua Estrangeira não é visto
individualmente ou em grupo.” como elemento importante na formação do
aluno, como um direito que lhe deve ser
 Condições psicológicas favoráveis: o assegurado. Ao contrário, frequentemente,
autor aconselha que os jogos sejam utilizados essa disciplina não tem lugar privilegiado no
como métodos que combatam a apatia do currículo, sendo ministrada, em algumas
estudante e como ferramenta de inserção de regiões, em apenas uma ou duas séries do
indivíduos, ora isolados, nos grupos, e não ensino fundamental. Em outras, tem o status de
como mais um exercício ou atividade cheias de simples atividade, sem caráter de promoção
sanções. “O entusiasmo do professor e o ou reprovação. Em alguns estados, ainda, a
preparo dos alunos para um “momento Língua Estrangeira é colocada fora da grade
especial a ser propiciado pelo jogo” constitui curricular, em Centros de Línguas, fora do
um recurso insubstituível no estímulo para que horário regular e fora da escola. Fora, portanto,
o aluno queira jogar.” do contexto da educação global do aluno.
 Condições ambientais: O local onde se (BRASIL, 1996, p. 24)
realizará essas atividades deve ser propício e Diante dessa constatação, os professores
conveniente para que se possa obter sucesso passaram a se indagar sobre procedimentos
nas execuções dos jogos. pedagógicos capazes de tornar suas aulas
 Fundamentos técnicos: neste ultimo mais prazerosas e interessantes tanto para os
tópico o autor recomenda que o jogo precisa estudantes quanto para o professor. A
ser desenvolvido com um inicio, meio e fim; resposta vem carregada de diversão, jogos e
que não seja interrompido e que estimule nos brincadeiras: a Ludicidade. Mayrink (2002)
alunos, sempre que puder, a busca por seus afirma que as atividades lúdicas constituem-se
próprios caminhos. uma ferramenta bastante eficaz na motivação
dos alunos, principalmente quando tomam o
Destaca-se que com a disseminação lugar das tradicionais aulas expositivas e de
constante de novas tecnologias resultam na outros procedimentos metodológicos cujo
necessidade de novas metodologias de resultado final pretende ser unicamente que o
ensino. Isso porque os alunos tornam-se cada aluno receba e incorpore os conteúdos
vez mais exigentes quanto à maneira de o predeterminados pelo professor.
professor ministrar suas aulas, anseiam que a

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


193

A utilização de atividades lúdicas no processo planejamento também é apontado por Nunes


ensino-aprendizagem traz consigo uma nova (2004) como o momento de definição da
roupagem no que se diz respeito a viabilidade de uso da atividade lúdica para o
metodologias inovadoras. Os alunos deixam desenvolvimento de determinado conteúdo.
de ser meros receptores de informações e Em suas palavras:
passam a interagir mais com o educador. De
Os jogos devem ser utilizados como proposta
maneira geral, fazer a utilização dessas
pedagógica somente quando a programação
atividades desenvolve a criatividade e outros
possibilitar e quando puder se constituir em
processos mentais como a memória, a
auxílio eficiente ao alcance de um objetivo,
agilidade no pensamento, a segurança na
dentro dessa programação. De uma certa
tomada de decisões, a capacidade de
forma, a elaboração do programa deve ser
concentração, a socialização com o grupo e,
precedida do conhecimento dos jogos
além disso, desenvolve a habilidade espacial
específicos, e na medida em que estes
e a paciência (SANTOS, 2006).
aparecerem na proposta pedagógica é que
Diante disso, apesar de reconhecer que, em se devem ser aplicados, sempre com o espírito
tratando de atividades lúdicas com a finalidade crítico para mantê-los, alterá-los, substituí-los
de ensino não haver receitas prontas, Chaguri por outros ao se perceber que ficaram
(2009) propõe três categorias de jogos que distantes dos objetivos (NUNES, 2004).
facilitam a aprendizagem de E/LE por
Dessa forma, o lúdico no processo ensino-
permitirem o desenvolvimento de habilidades
aprendizagem só será eficaz quando usado na
linguísticas dos estudantes, são elas: jogos de
hora certa e planejado em conformidade com
vocabulários, jogos gramaticais e jogos de
o interesse dos estudantes, de modo a ser
expressão oral.
encarado como um desafio, e considerando-se
De acordo com este autor, o jogo de o objetivo a ser alcançado. Além disso, faz-se
vocabulário facilita a aprendizagem de necessário que haja uma conscientização das
expressões idiomáticas, permite que o aluno instituições de educação acerca do valor do
incorpore novos termos do léxico espanhol, elemento lúdico na formação do estudante,
além de envolver uma significativa carga devendo investir na aquisição de recursos que
semântica na aprendizagem do idioma. possibilitem o educador a inovar em sua
prática pedagógica.
Quanto ao jogo gramatical, independente do
enfoque pedagógico utilizado pelo professor,
será útil para a aprendizagem das estruturas
3. MATERIAIS E MÉTODOS
linguísticas pertinentes à língua estrangeira
trabalhada. Permite que o professor apresente Para realizar o estudo ora proposto recorreu-se
aos alunos as diferenças existentes entre a aos procedimentos metodológicos
gramática da oralidade e a gramatica da recomendados pelas pesquisas bibliográfica,
escrita, além de contribuir para a fixação “de exploratória e quali-quantitativa.
certos conteúdos já aprendidos, [...] certas
Acredita-se que saber como a ludicidade
regras gramaticais, tempos verbais, orações e
encontra-se presente no ensino de E/LE e
semânticas” (CHAGURI, 2009, p 85).
identificar as atividades lúdicas que promovem
Se tratando de jogo oral, Chaguri (2009, p. 86), a aprendizagem desse idioma poderá
concordando com Andrade, Sanches (2005) e contribuir para alterar a realidade do ensino
Szundy (2005), sugere que esse tipo de jogo dessa língua nas escolas de ensino
contribui para o desenvolvimento e/ou fundamental em Roraima. Contudo, para
aprimoramento da competência discursiva do confirmar ou refutar tal pressuposto, buscou-se
estudante, para a “produção de textos orais e aplicar os princípios da pesquisa exploratória,
escritos, o conhecimento do contexto uma vez que esse tipo de estudo proporciona
sociocultural em que se utiliza a língua ao pesquisador familiariadade com o problema
estudada e incluem a escrita e a expressão com vistas a torná-lo explícito ou a construir
real de fala”. hipóteses (GIL, 2002, p. 45).
Em relação aos aspectos metodológicos A pesquisa exploratória envolve levantamento
inerentes a cada tipo de jogo, Chaguri (2009) bibliográfico; entrevistas com pessoas que
recomenda que no planejamento sejam tiveram experiências práticas com o problema
indicados os seguintes campos: habilidades, pesquisado (GIL, 2002, p. 45). Sabendo disso,
estratégias, objetivo comunicativo, objetivo em um primeiro momento realizamos a
gramatical, nível linguístico e material. O pesquisa bibliográfica com o levantamento de

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


194

artigos, livros e outras fontes, visando obter a relação entre quantitativo e qualitativo (...)
“um apanhado geral sobre os principais não pode ser pensada como oposição
trabalhos já realizados, revestidos de contraditória (...) é de se desejar que as
importância” (MARCONI; LAKATOS, 2008, p. relações sociais possam ser analisadas em
158). Na sequência procedeu-se à leitura, seus aspectos mais 'concretos' e
análise e interpretação do material aprofundadas em seus significados mais
selecionado, observando os caminhos essenciais. Assim, o estudo quantitativo pode
percorridos pelos pesquisadores de modo a gerar questões para serem aprofundadas
evitar erros e repetição de procedimentos qualitativamente e vice-versa.
inadequados ao estudo do objeto. Nesse
Nesse sentido, entende-se que ambas podem
sentido, entende-se que a pesquisa
ser trabalhadas em conjunto, trazendo
bibliográfica auxilia o pesquisador na
elementos que se complementam,
“planificação do trabalho [...] e representa uma
corroborando para uma interpretação mais
fonte indispensável de informações, podendo
abrangente da realidade posta, propiciando
até orientar as indagações” (Idem).
uma análise dialética.
De posse das leituras, formularam-se
Cabe mencionar que este estudo traduz os
fichamentos e resenhas, construindo, assim, o
resultados parciais de pesquisa que pretende
aporte teórico necessário para a análise dos
coletar ideias para confecção de jogos e de um
dados. Estes foram coletados durante a
manual reunindo orientações sobre a
segunda etapa de execução deste projeto,
produção e uso em sala de aula, para
quando aplicamos aos alunos questionários
distribuição aos estudantes de Letras –
mistos com questões relativas ao uso de
Espanhol e Literatura Hispânica do Campus
material lúdico no ensino de E/LE e suas
Boa Vista e às escolas da rede estadual que
impressões a respeito dessa utilização.
oferecem E/LE como parte do currículo,
O universo previsto envolveu escolas de justificando, mais uma vez, o caráter
Ensino Fundamental da rede estadual de exploratório da pesquisa.
ensino, localizadas no município de Boa Vista -
RR, com a oferta de E/LE na matriz curricular.
Além disso, usou-se como critério de seleção 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
dos alunos participantes a indicação do
Segundo Negrine (apud CABRERA; SALVI,
professor do componente em questão e a
2005), é necessário que o adulto reaprenda a
manifestação do interesse dos alunos em
brincar, independente de sua idade. Brincar
participar da pesquisa. Dessa forma, a
não significa que o jovem ou o adulto volte a
amostragem foi composta por 80 alunos de
ser criança, mas sim que busca um meio de
quatro escolas. Como instrumento de pesquisa
integrar-se com os outros, consigo mesmo e
optou-se pelo questionário semiaberto, por
com o meio social.
permitir que se obtenham justificativas para as
respostas fechadas, contribuições para a Nas atividades lúdicas, as condições de
discussão do problema e o parecer do seriedade, compromisso e responsabilidade
informante a respeito do tema em foco. Ruiz não são perdidas, ao contrário, são sentidas,
(2006) explica que, “na técnica de valorizadas e, por consequência, ativam o
questionário, o informante escreve ou pensamento e a memória, além de gerar
responde por escrito a um elenco de questões oportunidades de expansão das emoções, das
cuidadosamente elaboradas”. Seguindo essa sensações de prazer e da criatividade.
recomendação, esse instrumento foi elaborado
Buscando conhecer a concepção dos alunos
a partir de informações coletadas na fase de
acerca de como eles avaliam as aulas de E/LE
revisão bibliográfica.
que envolvem ludicidade, usamos escores
A análise dos dados seguirá os princípios da qualitativos para a classificação das aulas. O
pesquisa quali-quantitativa, que consiste na gráfico 1 demonstra que 63% dos estudantes
conjugação do método quantitativo ao se identificam com atividades lúdicas,
qualitativo. Essa proposta segue a linha analisando-as como interessantes.
argumentativa de Minayo (2012) que assim
ensina:

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


195

Gráfico 1: Percepção dos alunos sobre aulas onde se faz uso de atividades lúdicas.

Na sequência, solicitou-se que justificassem respectivamente, à realização de aulas


sua resposta. Nas tabelas 1 e 2, apresentamos envolvendo ludicidade.
algumas falas favoráveis e desfavoráveis,

Tabela 1: Justificativa positiva dos alunos quando questionados o porquê da resposta dada à
questão 1.
ESTUDANTES JUSTIFICATIVAS
01 “Porque a aula fica dinâmica e interessante.”
02 “Porque é um modo mais interessante de nos ensinar, com jogos. Sem contar que todos
os alunos gostam de jogos e vão prestar mais atenção nas aulas.”
03 “Porque através de jogos e atividades diferenciadas o aluno interage melhor e a
aprender mais”.
04 “Porque ele usa um método diferente para ensinar os alunos.”
05 “Porque muda um pouco a rotina do dia-a-dia na sala de aula”.
06 “Porque a aula fica mais chamativa”.
07 “Porque a aula fica mais divertida e nós interagimos mais”.
08 “É um método mais divertido de aprender e até de ensinar”.
09 “Porque não torna as aulas como são todos os dias, isso ajuda no desempenho do
aluno.”
10 “Porque seria algo interessante, porém o professor nunca faz isso, são simplesmente
textos e mais nada.”
11 “Porque assim a aula não fica o todo tempo com uma mesma rotina que torna a aula
chata.”
12 “A aula fica dinâmica, como novos meios de aprender.”
13 “Porque não fica aquela aula de todos os dias e é sempre bom ter uma aula
diferenciada.”
14 “A aula fica bem mais interessante quando a professora faz isso, porém nem toda vez ela
faz isso.”

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


196

Tabela 2: Justificativa positiva dos alunos quando questionados o porquê da resposta dada à
questão 1.
ESTUDANTES JUSTIFICATIVAS
01 “Porque é chato e eu não gosto.”
02 “Porque não gosto desse tipo de aula.”
03 “Não acho nada de interessante nesse tipo de aula.”
04 “Porque não entendo muita coisa”

Destaca-se que, somando-se aqueles que intrapessoal e interpessoal, colabora com uma
consideram as aulas lúdicas como chatas e boa saúde mental, prepara para um estado
ruins, tem-se apenas 5% do total de alunos interior fértil, facilita o processo de
contrários ao desenvolvimento de atividades socialização, comunicação, expressão e de
lúdicas nas aulas de E/LE. Os demais, construção do conhecimento.
excetuando-se os que avaliaram como regular,
Insistindo na pergunta a respeito da
por considerarmos campo neutro, representam
contribuição das atividades lúdicas para o
90% dos respondentes, em uma
processo de aprendizagem, obteve-se
demonstração de que a ludicidade exerce
novamente 63% de respostas positivas para a
papel fundamental no seu processo de
inserção dessa prática nas aulas de E/LE. Os
aprendizagem de E/LE, confirmando o
resultados podem ser visualizados no gráfico
pensamento de Santos (2006, p. 12) ao dizer:
2.
O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a
aprendizagem, o desenvolvimento

Gráfico 2: Opinião dos estudantes quanto as atividades lúdicas ajudarem em seu aprendizado de
espanhol como LE.

Dentre os 87% (somando-se os que lúdicas como uma estratégia metodológica


responderam sim e em parte) selecionaram-se capaz de estimulá-los , despertar-lhes o prazer
algumas justificativas que reforçam a em aprender, conforme falas da tabela 2.
percepção dos estudantes das atividades

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


197

Tabela 3: Justificativa dos alunos sobre a relação entre as atividades lúdicas e seu aprendizado
ESTUDANTES JUSTIFICATIVAS
01 “Porque essas atividades servem para demonstrar o desempenho de todos.”

02 “Porque não fica uma aula somente teórica, podendo lá na frente o aluno esquecer de tudo
que o professor falou e havendo o jogo o aluno participando ele estará praticando, havendo
menos chance de esquecer”.

03 “Porque em algumas atividades e jogos aprendemos melhor.”

04 “Porque dando aula por meio de jogos facilita mais nosso entendimento”.

05 “Eu acho interessante. Faz com que eu entenda melhor”.

06 “A gente se esforça pra entender”.

07 “Porque é um modo mais fácil de se aprender e entender com mais clareza”.

08 “Porque vai ficar um pouco mais interessante.”

09 “Seria interessante, ele nunca fez isso. São simplesmente textos e mais nada.”

10 “Ajudam a termos um aprendizado melhor, a aula fica mais interessante.”

11 “Porque assim os alunos ficariam na sala para aprender e não sairiam da sala porque a aula tá
chata.”

Os que responderam “não” e “não faz ferramenta, mas não obtém o apoio dos
diferença” somam 13% dos respondentes. As alunos. Outros revelam nunca terem percebido
justificativas selecionadas divergem quanto às tal iniciativa por parte de seu professor. Fica a
razões de rejeitarem aulas lúdicas. Conforme dúvida se todos os respondentes estão se
se pode observar na tabela 3, para uns o referindo apenas às aulas de E/LE ou a
professor tenta usar a ludicidade como situações vivenciadas em diferentes aulas.

Tabela 4: Justificativa para rejeição às aulas envolvendo ludicidade


ESTUDANTES JUSTIFICATIVAS
01 “Porque tem horas que chega a ser muito chato.”
02 “Não gosto.”
03 “Não faz diferença porque ele não faz esse tipo de aula.”
04 “As vezes os alunos não permitem que o professor explique o jogo e por isso não adianta
nada.”
05 “Ajudaria se tivesse algum jogo.”

Independente da situação referida pelos em uma esfera cognitiva, também é uma forma
estudantes, evidencia-se a necessidade de o de interação e socialização entre os
professor criar espaços de ludicidade, estudantes. É oportunidade de educar para a
construir jogos, estabelecer regras de vida, ensinando-os a respeitar as diferenças,
convivência, de modo que as situações bem como a defender-se sem violência aos
vivenciadas permitam a participação preconceitos, discriminações e todas as
diversificada do educando em seu processo formas de bullyng1. Essa perspectiva é
de construção de conhecimento. endossada por Freidman (1996, p. 41) que diz:
Segundo Vygotsk (1994), os jogos fazem com Os jogos lúdicos permitem uma situação
que os educandos, além de aprenderem a agir educativa cooperativa e interacional, ou seja,

1
“Termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro
a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou de uma relação desigual de forças ou poder” (Disponível
físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem em: <
motivação evidente e são exercidas por um ou mais http://www.brasilescola.com/sociologia/bullying.htm>.
indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de Acesso em: 23 jun 2014.
intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


198

quando alguém está jogando está executando Sabendo da natureza diversa das atividades
regras do jogo e ao mesmo tempo, lúdicas, questionaram-se os estudantes sobre
desenvolvendo ações de cooperação e suas preferências em relação aos tipos de
interação que estimulam a convivência em atividades. Os resultados apontam que 63%
grupo. preferem aquelas que são desenvolvidas em
grupo.

Tabela 5: Preferências dos estudantes quanto à realização das atividades lúdicas.


Respostas Quantidades Porcentagem
de alunos
Porque é mais fácil e divertido 10 12%
Em equipe Por causa da interação e socialização com os colegas 41 51%
de classe.
Individualmente 11 14%
Não sei. Pois isso nunca aconteceu. 7 9%
Tanto faz. 11 14%
Total 80 100%

Os que são indiferentes à forma de execução aprenderem, a interagirem com os colegas,


das atividades representam 14% dos ajuda-os a perderem a timidez.
respondentes. Somados aos que preferem
Além disso, os resultados levaram-nos a refletir
em equipe representam 77%. Esse percentual
sobre a presença de “indisciplina”, “bagunça”,
demonstra que por meio dessas atividades o
indiferença nas aulas de E/LE envolvendo
relacionamento, a interação e a socialização
ludicidade. Em todas as questões há uma
entre os estudantes ocorrem de maneira
constância nas respostas dos estudantes,
inevitável (FREIDMAN, 1996). Nesse ponto,
dentre os quais destacam-se aqueles que
cabe enfatizar a recorrência de estudantes que
negam a existência dessa prática ou se
afirmam desconhecerem as tentativas do
declaram indiferentes às tentativas do
professor de E/LE em desenvolver atividades
professor em promover aprendizagens
lúdicas, aspecto que merece uma investigação
utilizando jogos, dinâmicas, músicas, dentre
específica em outro momento.
outros recursos permeados pelo caráter
lúdico. Com base no referencial teórico e dada
a natureza exploratória da pesquisa, esses
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
dados permitiram o levantamento de algumas
Com este trabalho de investigação pôde-se hipóteses a respeito da reação negativa dos
conhecer a percepção dos estudantes de estudantes: i) pode ser frutos do modelo
escolas da rede de ensino estadual da cidade tradicional enraizado no imaginário coletivo
de Boa Vista - RR sobre a importância da como o único existente para se desenvolver o
ludicidade como ferramenta no processo de ensino e se obter aprendizagem; ii) indica o
ensino e aprendizagem de E/LE. cansaço produzido pela atividade ou tédio por
resultados já conhecidos; iii) as atividades são
Constatamos que nem todos os alunos são introduzidas antes que o educando revele
afeitos às atividades lúdicas. Contudo, aqueles maturidade para superar o desafio a elas
que reconhecem importância para a inerentes; iv) fatores externos à sala de aula
aprendizagem, revelam a influência da estão interferindo na relação do estudante com
ludicidade para o desenvolvimento de suas a escola.
habilidades afetivas, motoras e cognitivas. Nas
conversas informais, após a aplicação dos Diante de tais hipóteses, percebemos que a
questionários, os entrevistados revelaram que, compreensão dos fatores que levam os
quando o professor consegue desenvolver estudantes a adotarem comportamentos
algum jogo, este promove a articulação entre considerados como rejeição às atividades
teoria e prática, mobiliza sentimentos de lúdicas só será possível por meio de uma nova
prazer, motivando os estudantes a investigação envolvendo os próprios
estudantes e com finalidade diversa da
desenvolvida neste trabalho.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


199

REFERÊNCIAS [9] MINAYO, M. C. de S. (org.); DESLANDES,


Suely Ferreira; GOMES, Romeu. Pesquisa Social –
[1] ANTUNES, C. Jogos para estimulação das Teoria, método e criatividade. 32. ed. Petrópoles RJ:
múltiplas inteligências. 15. ed – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012
Vozes, 2008.
[10] NEGRINE, A. Terapias corporais: a
[2] BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da formação pessoal do adulto. Porto Alegre: Edita,
Educação Nacional – LDB Lei nº 9394/96 1998.
[3] _______. Secretaria de Educação [11] NUNES, A. R. S. C. de A. O Lúdico na
Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : aquisição da segunda língua. (2004) Uniandrade:
terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Curitiba. Disponível em:
língua estrangeira / Secretaria de Educação <http://www.linguaestrangeira.pro.br>. Acesso em:
Fundamental. Brasília:MEC/SEF, 1998. 08 abr 2014.
[4] CABRERA, W.B.; SALVI, R. A ludicidade no [12] RUIZ, J. A. Metodologia científica : guia
Ensino Médio: Aspirações de Pesquisa numa
perspectiva construtivista. In: ENCONTRO para eficiência nos estudos. 6 ed. São Paulo: Atlas,
NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM 2006 SANTOS, S. M. P. Educação, arte e jogo.
CIÊNCIAS, 5. Atas , 2005.
Petrópolis: Vozes, 2006.
[5] FRIEDMANN, A. Brincar, crescer e
aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo: [13] ____________. A ludicidade como ciência.
[6] Moderna, 1996. Petrópolis: Vozes, 2001.

[7] GIL, A. C. Como elaborar projetos de [14] ____________. O Lúdico na Formação do


pesquisa. 7 ed., São Paulo: Atlas, 2002. Educador. Petrópolis: Vozes, 1997.

[8] MACEDO, L. de; PETTY, A. L. S. & PASSOS, [15] VIGOTSKY, L. S. Linguagem,


N. C. Aprender com jogos e situações-problema. desenvolvimento e aprendizagem. Trad.: Maria da
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. Penha Villalobos. São Paulo: Ícone – Editora da
Universidade de São Paulo, 1998.

Gestão e Tecnologia na Educação - Volume 1


Autores
AUTORES
ALESSANDRA DOS SANTOS SIMÃO
Graduada em Administração (2011) e Ciências Contábeis (2016) pela Universidade Federal
Fluminense; Especialização em Gestão Pública (2014) e Especialização em Planejamento,
Implementação e Gestão de EaD (2016) pela Universidade Federal Fluminense; Mestre em
Engenharia Civil (2017) pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é bolsista - tutor da
Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do RJ (CEDERJ) nas
disciplinas de Contabilidade Geral e Teorias da Administração Pública e Professora
Associação Educacional Dom Bosco. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa: Análise de Risco
e Controladoria Estratégica (ARCONTE). Atuando principalmente nos seguintes temas:
Educação à distância, Contabilidade Gerencial, Gestão de Custos, Finanças e Gestão de
Empreendimentos.

ALINE MARQUES MARINO


Advogada, Professora e Pesquisadora. Mestra em Direito, na Linha de Pesquisa "Direitos de
Titularidade Difusa e Coletiva". Especialista em Direito Administrativo. Especialista em Direito
Constitucional. Tem experiência na área jurídica e no ensino superior, presencial e a distância,
lecionando disciplinas de Direito no Curso de Administração da Universidade Federal de
Itajubá (UNIFEI) e participando dos Grupos de Pesquisa "Direito Ambiental" e "Ética e Direitos
Fundamentais". Contato: alinemarinoadv@gmail.com.
AUTORES

ANA GABRIELA MOURA BAQUEIRO


Possui graduação em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (2010) e
mestrado em Contabilidade pela Universidade Federal da Bahia (2014). Atualmente é
professora da Universidade Salvador, da Faculdade São Salvador e da União de Ensino
Superior, Pesquisa e Extensao Cenid. , atuando principalmente nos seguintes temas:
responsabilidade social corporativa, contabilidade social, disclosure social, vieses cognitivos
e divulgação socioambiental.

ANA LÚCIA MAGALHÃES


Doutora em Língua Portuguesa pela PUC-SP e pós-doutora em Retórica e Argumentação pela
mesma instituição. Professora das disciplinas de Comunicação Empresarial, Leitura e
Produção de Textos, Métodos da Produção do Conhecimento e Relações Públicas e
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Eventos na Faculdade de Tecnologia da
cidade de Cruzeiro (FATEC). Faz parte da ABC - Association for Business Communication
(EUA), ISHR - International Society for the History of Rhetoric (Alemanha) e SBR - Sociedade
Brasileira de Retórica.

ANDERSON RICARDO SILVESTRO


Mestre em Sistemas de Informação e Gestão do Conhecimento, pela Fundação Mineira de
Educação e Cultura - FUMEC/Belo Horizonte-MG, Pós-graduação em Auditoria e Perícia
Contábil pela Universidade de Sorriso UNIC-MT e Pós-graduado em Docência do Ensino
Superior pela Faculdade Pitágoras, campus Sinop/MT, é Graduado em Ciências Contábeis
pela Universidade de Sorriso UNIC-MT. Atualmente é Coordenador do Curso Técnico em
Comércio, Professor e Pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso (IFMT), Campus Barra do Garças/MT. Possui experiência na área de gestão
empresarial e no agronegócio, com ênfase em Sistema de Informação Gerencial e suas
Tecnologias. Seu interesse de pesquisa é aplicado a vantagem estratégica e competitiva,
aliada aos Sistemas de Informação e Tecnologia da Gestão Empresarial e no Agronegócio,
como insumo para a tomada de decisão.
ANDRÉIA LUCILA DA COSTA SCHLOSSER
Graduada em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Franciscano (2002). MBA
em Gestão de Recursos Humanos pela FACINTER (2009) - Especialização. Mestra em Gestão
de Organizações Públicas pela Universidade Federal de Santa Maria (2012 a 2014).
Funcionária Pública da Universidade Federal de Santa Maria. Tutora Presencial do Curso de
Especialização em Gestão Pública do Polo de Faxinal do Soturno - UAB (abril a agosto de
2011). Tutora à Distância do Curso de Especialização em Gestão Pública Municipal - UAB.
Tutora à Distância do Curso de Especialização em Gestão Pública - UAB (2012 a 2014).

ANDRESSA HENNIG SILVA


Professora Adjunta na Universidade Federal do Pampa. Atua como docente permanente no
PPGA (UNIPAMPA). Doutora em Administração (PPGA/UFSM). Mestre em Administração
(PPGA/UFSM)

ARLINDO DE OLIVERIRA FREITAS


Mestre em Gestão e Estratégia Empresarial pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Professor da Universidade Federal Fluminense. Graduado em Ciências Contábeis pela
Associação Brasileira de Ensino Universitário, em História pela Faculdade de Humanidades
Pedro II e em Ciências Jurídicas pela Universidade Gama Filho. Possui especialização em
AUTORES

Magistério Superior, em Direito Civil e Processo Civil e em Controladoria com Ênfase nas áreas
Tributárias e de Custos. Possui experiência na área de Ciências Contábeis, Administração,
Economia e Planejamento.

CAIO SOARES SANTOS


Graduado em engenharia mecânica pela universidade Estácio de Sá(2018), bolsista de
iniciação tecnológica no Instituto Nacional de Tecnologia(2018) com atuações em
desenvolvimento de produtos pedagógicos e pesquisa com materiais inteligente. Apresenta
interesses nas áreas de controle de qualidade e desenvolvimento de projetos mecânicos.

CATARINA SALUME LUSQUINHOS ALMEIDA


Mestrado em Ciências Contábeis pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Federal da Bahia-UFBA(2015). Possui especialização pela Universidade
Salvador - UNIFACS (2011) e pelo CEPPEV - Centro de Pós-Graduação e Pesquisa Visconde
de Cairu (2003). Graduada em Ciências Contábeis pela Fundação Visconde de Cairu (2001).
Atuou na iniciativa privada em instituição financeira e de ensino.

CÍNTIA FERNANDA DO PRADO


Graduanda em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo. Iniciações científicas
com bolsa de estudos nas áreas de ensino em engenharia, biocatálise e polímeros. Monitoria
nas disciplinas de química geral e gestão de negócios. Intercâmbio acadêmico e estágio
internacional nos EUA 2015/2016. Estágio em gestão da produção em indústria de bebidas
2017/2018.

CINTYA LOPES DO ROSARIO


Mestranda em Letras pela Universidade Federal de Roraima. Graduada em Letras - Espanhol
e Literatura Hispânica pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima
(2015). Professora de Língua Espanhola na Escola Estadual Olavo Brasil Filho
DANIELE ESTIVALETE CUNHA
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal de
Santa Maria na área de Sistemas e Mercado. Mestre em Administração pela Universidade
Federal de Santa Maria na área de Sistemas, Estrutura e Pessoas. Graduada em Administração
pela Universidade Federal de Santa Maria. Professora da Faculdade Integrada de Santa Maria-
FISMA.

DANIELE MEDIANEIRA RIZZETTI


Mestra em Gestão de Organizações Públicas pela Universidade Federal de Santa Maria -
UFSM - 2014, especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade de Tecnologia
Internacional - Fatec Internacional - 2012, graduada em Administração pela Universidade
Federal de Santa Maria - UFSM - 2004. Possui experiência na área de Administração,
principalmente em Recursos Humanos, e já atuou em atividades que envolveram os seguintes
temas: administração, gerência, coordenação, recrutamento, seleção, treinamento,
mapeamento, modelagem e otimização de processos. Atualmente é Coordenadora da
Coordenadoria de Planejamento Administrativo - COPLAD, da Pró-Reitoria de Planejamento -
PROPLAN, da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM.

DAYAN RIOS PEREIRA


AUTORES

Formação Técnica: Técnico em Telecomunicações pela Escola Técnica Federal do Pará em


29/11/1990.
Formação Acadêmica: Bacharel em Economia pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
em 15/08/1997.Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) em 29/10/2001. Especialista em Habilidades e Competências Docentes
pela Faculdade Ideal (Faci/PA) em 17/09/2010. Doutor em Ciência - Área de Desenvolvimento
Socioambiental pela Universidade Federal do Pará (UFPA) em 28/01/2013.

EDUARDO NOBORU SASAKI


Professor Eduardo Noboru Sasaki possui Graduação em Análise de Sistemas, Especialização
em Administração de Empresas – Núcleo Concentração em Análise de Sistemas e Mestrado
em Ciência da Computação. Trabalha como educador desde 1991 em escolas técnicas
profissionalizantes, centros de formação profissional e universidades. Atualmente é professor
do IFSP Campus Caraguatatuba e sócio-cotista da empresa Sasaki Informática e Cursos Ltda-
Me. Tem experiência na área de Ciência da Computação com ênfase em Realidade Virtual,
atuando principalmente nos seguintes temas: lógica de programação, realidade virtual, rede
de computadores, programação, gerenciamento de projetos em informática e tecnologia na
educação.

GIL FERNANDES DA CUNHA


Pesquisador da Divisão de Desenho Industrial do INT. Doutor em Design pelo Programa de
Pós-Graduação em Design da Escola Superior de Desenho Industrial/UERJ (2018). Mestre em
Engenharia de Produção pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia (2001). Desenvolve pesquisas e projetos na área de Desenho Industrial, com
ênfase em Desenho de Produto, atuando principalmente nos seguintes temas: embalagem,
equipamento industrial, equipamento médico hospitalar, ferramentas, mobiliário, transporte e
educação.
GILNEI LUIZ DE MOURA
Professor Associado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e atua no Curso de
Administração e no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da UFSM. Possui
Graduação em Administração (UFSM), Mestrado em Administração (UFSC) e Doutorado em
Administração (FEA/USP). Seus atuais interesses de pesquisa incluem inovação em gestão
estratégica, gestão estratégica e estrutura organizacional, gerenciamento de processos de
negócios e abordagens relacionadas às capacidades dinâmicas. É líder do Grupo de Pesquisa
em Mudança Organizacional, Inovação e Comportamento Organizacional - MUTARE.

HENRIQUE MARTINS ROCHA


Doutor em Engenharia Mecânica (na área de Engenharia de Produção) com estudos de pós-
doutoramento em Projetos/PDP; Mestre em Sistemas de Gestão; Especialista em Finanças
Corporativas; em Gestão Empresarial (MBA) e em Gestão Pública Municipal; Engenheiro
Mecânico, com aperfeiçoamento em Desenvolvimento de Produtos (Engineering Excellence)
pelo Rochester Institute of Technology. Experiência em funções executivas e técnicas em
empresas como Xerox, White Martins, Flextronics, Remington, CBV e Siemens por 27 anos, no
Brasil, USA e Canadá. Atua na área acadêmica desde 2001, como professor e coordenador
de cursos de graduação e pós-graduação e professor-tutor EaD e MOOC. Com orientação de
160+ trabalhos de conclusão (D.Sc., M.Sc., Especialização/MBA e Graduação) e IC; com
quase uma centena de artigos pubicados em periódicos e anais de eventos científicos + 28
AUTORES

capítulos de livro. Autorou dois livros, coautorou outros cinco, organizou um e fez revisão
técnica de 200+ capítulos de livros e participação em mais de 300 bancas de trabalhos de
conclusão e comissões avaliadoras. Elaborador, conteudista e revisor de materiais didáticos
nas áreas de Engenharia e Gestão. Consultor nas áreas de Projetos, Desenvolvimento de
Novos Produtos e Processos, Análise Estratégica e de Negócios,

HUMBERTO FELIPE SILVA


Administrador, mestre e doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo,
Consultor, Personal Mentor, Professor da Escola de Engenharia de Lorena - EEL-USP, da
Universidade de São Paulo - USP. Presidente do Instituto de Estudos Valeparaibanos - IEV,
Membro fundador da Academia Lorenense de Letras, foi coordenador de cursos de Logística
e de Administração, Foi avaliador de curso do INEP, consultor na área educacional. Preparou
cursos de graduação e acompanhou processo de submissão ao MEC, bem como orientou sua
implantação e efetivação. Tem desenvolvido trabalho e pesquisa com o tema Métodos Atívos
de Aprendizagem.

ISRAEL DE CARVALHO DRUMOND ARAÚJO


Graduado em Administração Pública (2014) e Ciências Contábeis (2017) pela Universidade
Federal Fluminense.É bolsista - tutor da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à
Distância do Estado do RJ (CEDERJ) nas disciplinas de Estágio Supervisionado Curricular I e
II para Administração Pública e trabalha como Coordenador financeiro da empresa Ecotronic,
em Pinheiral - RJ. Pesquisador do Grupo de Pesquisa: Análise de Risco e Controladoria
Estratégica (ARCONTE). Atuando principalmente nos seguintes temas: Educação à distância,
Contabilidade Gerencial, Gestão de Custos, Microfinanças, Contabilidade tributária e Teoria
da Contabilidade.

JOANA APARECIDA DE OLIVEIRA


Graduanda em Administração pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da
Universidade Federal de Juiz de Fora (FACC/UFJF), Bolsista de Iniciação Científica da UFJF e
membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Pessoas e Organizações (GEPPO).
JONATAS FONSECA PASSOS
Especialista em Gestão de Conteúdo em Comunicação - Jornalismo pela Universidade
Metodista de São Paulo(2017). Graduado em Tecnologia em Redes de Computadores pela
Fatec Cruzeiro - Prof. Waldomiro May (2011). Analista de Mídias Sociais na Fundação João
Paulo II desde 2014.

JOSÉILTON SILVEIRA DA ROCHA


Possui graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual da Paraíba (1986),
mestrado em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo (1996) e
doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003).
Atualmente Diretor da Faculdade de Ciências Contábeis da UFBA, professor Associado IV da
Universidade Federal da Bahia. Pesquisador do CNPq e Líder do Laboratório de Ensino da
Distância FCC/UFBA e do Grupo de Pesquisa Contabilidade e Controladoria UFBA, 2005/2003
respectivamente.

JULIANA SPINELLI E SILVA


Graduanda em Desenho Industrial pela Universidade Federal Fluminense. Já atuou como
auxiliar de produção de jóias de resina, bolsista de Iniciação Tecnológica e estagiária do
Instituto Nacional de Tecnologia. Atualmente atua como freelancer na área do Design Gráfico.
AUTORES

Possui interesse na Cenográfia ligada à area do Design de Produto.

JULIO CANDIDO DE MEIRELLES JUNIOR


Doutor em Ciência, Tecnologia e Inovação pelo Programa Binacional Brasil e Argentina, com
ênfase em Políticas Públicas Comparadas no Mercosul, da Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro, Mestre em Ciências Contábeis, Especialista em finanças, auditoria, engenharia de
produção, controladoria e metodologia do ensino superior, Graduado em Ciências Contábeis
e professor adjunto da Universidade Federal Fluminense. Possui experiência na área de
Ciências Contábeis, Administração, Economia e Planejamento. Detentor do Prêmio Ivan Carlos
Gatti. Membro da ACIN-Associação Científica Internacional Neopatrimonialista. Membro
Efetivo Perpétuo da Academia Mineira de Ciências Contábeis. Pesquisador-Líder do Grupo de
Pesquisa: Análise de Risco e Controladoria Estratégica (ARCONTE).

JULIO CESAR BATISTA


Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Brasília-UnB, mestre em
Engenharia Elétrica/Automação pela Universidade Estadual de Campinas-Unicamp e doutor
em Engenharia Mecânica na área de geração de energia pela Universidade Estadual Paulista-
Unesp. Pós-doutor no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica da Eletrobras-CEPEL.
Pesquisador do Laboratório de Combustão e Propulsão do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais-INPE. Vencedor da terceira edição do Prêmio Petrobrás de Tecnologia em Energia.

KAMILA BARBOSA DE ASSIS


Graduanda em Administração pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da
Universidade Federal de Juiz de Fora (FACC/UFJF), Bolsista de Iniciação Científica do CNPQ
e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Pessoas e Organizações (GEPPO).

KLAYTON OLIVEIRA DE ARAÚJO


Estudante de especialização em Docência em Língua Espanhola pelo Instituto Federal de
Roraima. Graduado em Letras - Espanhol e Literatura Hispânica pelo Instituto Federal de
Roraima(2015). Atualmente atua como professor na rede básica do estado de Roraima.
LAURA AMÂNCIO REZENDE
Graduanda em Engenharia de Produção pela USP. Black Belt Lean Six Sigma. Realizou
iniciação científica na área de métodos ativos de ensino em engenharia, intercâmbio
acadêmico na Universidade do Porto em Portugal e estágios profissionais em RH, processos
industriais e desenvolvimento de embalagens. Bolsista de mérito acadêmico Roberto Rocca
Education Program 2017/2018.

LIGIA MARIA FONSECA AFFONSO


Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Meio Ambiente (2014); especialista em Ativação
de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde (2015);
especialista em Educação na Saúde (2014); especialista em Gestão Pública Municipal (2012);
especialista em Gestão em Saúde (2011); especialista em Pedagogia Empresarial (2009);
Bacharel em Administração. Com experiência profissional voltada principalmente à gestão em
geral (nas áreas pública, de saúde, lazer/eventos e varejo). Professora- tutora na Fundação
Getúlio Vargas; professora-tutora na Universidade Federal Fluminense UFF/ CEDERJ na
disciplina Gestão de Pessoas no Setor Público e Seminário Temático em Saúde Pública;
professora-conteudista no Grupo A; 5 livros publicados; 28 capítulos de livro; 18 trabalhos
publicados em anais de congresso; participação em dezenas de bancas de especialização e
graduação.
AUTORES

MARIANA ALMEIDA RIBEIRO


Mestre em Contabilidade pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Federal da Bahia-UFBA. Possui graduação em Ciências Contábeis pela
Universidade Federal da Bahia- UFBA (2009). Atua em pesquisas nas seguintes áreas:
Controladoria, Contabilidade Comportamental, Educação e Finanças e Gestão Ambiental. Atua
também como docente na Faculdade Anísio Teixeira, em Feira de Santana-BA e no Centro
Universitário Jorge Amado em Salvador-BA.

MARIO ANIBAL SIMON ESTEVES


Engenheiro pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Economista pela
Faculdade de Ciências Econômicas Dom Bosco e mestre em Engenharia de Produção pela
Universidade Federal Fluminense. Trabalhou na indústria por mais de 18 anos, sendo sua
última função a gerência de suprimento corporativo da Clariant S.A. Exerceu o cargo de
Secretário de Educação Cultura e Esportes do Município de Resende. Foi o fundador e é o
atual diretor da Faculdade de Engenharia de Resende, tendo exercido diversas atividades na
área do ensino superior desde 1980.

MORUN BERNARDINO NETO


Morun Bernardino Neto possui Pós-doutorado em Genética e Bioquímica (2013), Doutorado
em Genética e Bioquímica (2011), Mestrado em Genética e Bioquímica (2006), Especialização
em Endodontia (2005) e Graduação em Odontologia (1998), todos pela Universidade Federal
de Uberlândia. Possui experiência em nível superior nas áreas: Bioquímica, Biologia Celular e
Molecular, Química Analítica, Toxicologia, Epidemiologia e Estatística. Professor Doutor no
Departamento de Ciências Básicas e Ambientais da EEL-USP. Suas áreas de atuação em
pesquisa são: Estabilidade de Complexos Organizacionais Anfifílicos, Toxicidade de
Pesticidas em Humanos, Método de Pesquisa e Investigação por meio de Questionário.
NATALY NUNES FERREIRA
Especialista em Formação Docente em Educação a Distância pela Escola Aberta Superior do
Brasil (2017). Graduada em Letras - Espanhol e Literatura Hispânica pelo Instituto Federal de
Roraima (2015) . Atualmente está como professora substituta e como tutora presencial do
Instituto Federal de Roraima, atuando principalmente em literaturas, ensino da língua
espanhola e formação docente.

RAFAELA KNAIP ALVES DA FONSECA


Pós-graduanda em Gestão de Pessoas pela PUC Minas (IEC Juiz de Fora) e graduada em
Administração pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade
Federal de Juiz de Fora (FACC/UFJF), onde foi Bolsista de Iniciação Científica do CNPq.

RAIMUNDA MARIA RODRIGUES SANTOS


Doutora em Ciências Socias pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2016); Mestra em
Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos (2011); Especialista
em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1998), Graduada
em Licenciatura em Letras pela Universidade Federal de Roraima (1995), é professora de
ensino básico, técnico e tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Roraima, e Coordenadora Adjunta da Ação Saberes Indígenas na Escola no Núcleo IFRR.
AUTORES

SANDRA MARGARETH LOPES LOUZADA DE CAMARGO


Graduada em Ciências Contábeis (2016) pela Universidade Federal Fluminense, pós
graduanda em Gestão Pública Municipal pela Universidade Federal Fluminense.

SAUL ELIAHÚ MIZRAHI


Pesquisador do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) desde 1984, realizando gestão de
projetos de desenvolvimento tecnológico e inovação. Líder do Grupo de Pesquisas
"Engenharia de Avaliações e de Produção" do INT. Atua na linha de pesquisa de Tecnologia
de Educação e Saúde para a Escola Inclusiva e na linha de pesquisa Disseminação do uso da
Inteligência Computacional no escopo da Engenharia de Produção, da Divisão de Engenharia
de Avaliações e de Produção (DIEAP), com desenvolvimento e aplicação de tecnologias de
gestão em Redes de Instituições de Ensino. Coordenador-substituto do Núcleo de Tecnologia
Assistiva do INT (Núcleo da Rede de Tecnologia Assistiva - MCTIC). Tem experiência nas áreas
de desenvolvimento de sistemas computacionais de gestão com ênfase em Redes de
Instituições de Ensino e Indústrias. Graduado em Engenharia Eletrônica pelas Faculdades
Reunidas Nuno Lisboa (1983). Mestre (1993) e Doutor (2011) em Engenharia de Produção pela
COPPE/UFRJ.

SIMONE SILVA CUNHA


Doutoranda em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP). Atualmente é
Coordenadora de Informática Educativa no Colégio Pedro II - Campus Humaitá I e Tutora na
Especialização em Tecnologias Educacionais para a Prática Docente no Ensino de Saúde na
Escola (ENSP/FIOCRUZ). É Mestra em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente (UNIAN).
Especialista em diversas áreas: Educação Tecnológica (CEFET/RJ); Planejamento,
Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF); Gestão Escolar Integrada ( FIJ);
Língua Portuguesa (FEUDUC). Fez cursos de aperfeiçoamento em Mídias na Educação (UFRJ)
e em Informática Educativa (FACIMOD). Possui graduação em Letras - Português/Inglês
(UNIGRANRIO) e em Pedagogia (UNINTER). Tem experiência na área de educação há mais
de 20 anos, tendo sido Professora Substituta na Faculdade de Educação da Baixada
Fluminense (FEBF/UERJ) e Tutora a Distância no Laboratório de Novas Tecnologias de Ensino
(LANTE/UFF). Foi docente em várias autarquias municipais (Prefeitura de Duque de Caxias;
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro; Prefeitura de São João de Meriti), assim como na rede
estadual de ensino do Rio de Janeiro (SEEDUC/RJ). Pesquisadora dos seguintes temas:
Informática Educativa, Tecnologias aplicadas à educação e Educação Tecnológica.

STEPHANIE CAROLINE DA ROCHA MESQUITA


Especialista em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira pelo Centro
Universitário Internacional UNINTER (2018). Graduada em Letras - Espanhol e Literatura
Hispânica pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (2015),
atualmente é servidora da Prefeitura de Boa Vista.

VICTOR CLÁUDIO PARADELA FERREIRA


Doutor em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da
Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV). É Professor Associado da Faculdade de
Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal de Juiz de Fora (FACC/UFJF) e
Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Pessoas e Organizações (GEPPO).

VICTOR ULISSES PUGLIESE


Possui Graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, MBA em Engenharia de
AUTORES

Software com Métodos Ágeis e participa do programa de Pós-Graduação em Engenharia


Eletrônica e Computação do ITA. Atuou por alguns anos na Secretaria Municipal de Educação
de Caraguatatuba, no apoio à tomada de decisão sobre informática educativa. Atualmente, é
analista de sistemas da empresa Compsis, em São José dos Campos. Tem experiência na
área de Ciência da Computação com ênfase, atuando principalmente nos seguintes temas:
lógica de programação, banco de dados, gerenciamento de projetos, educação e tecnologia
assistiva.

WAGNER PINA STOFFEL


Graduado em Ciências Militares, pela Academia Militar das Agulhas Negras, Especialista em
Técnicas de Ensino pelo Centro de Estudos de Pessoal, Psicopedagogia pela UFRJ, Gestão
de Recursos Humanos pela AEUDF e Design Instrucional pela UNIFEI. Mestre em
Comunicação e Cultura pela UFRJ. Atua em funções ligadas ao Ensino Superior desde 1995.

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