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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
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I
Picciol\ario Brasilia'n o·Portuguez e Poriuguez-Br a,s'iliano. ria" para() Colleg,io Pedrot 11 (e ,da
(Publicação comm~ntada de manuscriptô-$ inéditos 1
q,uat não tenho exemplar) pedi e
da Bibliotheca Nacional). , ' encareci a necessidade <[e tt:mª ça··
âeira da lingua indigena mais i1n.-
Em preparQ: portante que se f allou no Brasil.
N ingU{3m nz,e ouviu.
Termos de origem tupi na linguagem popular do Brasil.
SãQ Paulo ignora naturalmente
(Contribuição aos Diccionarios da Lingua Portu- 1
essa inutil iniciativa sem exito.
·g ueza). ,
Alegro-me por_ vel-a realisàda na
Os suffixos tupis.
terra que, melhor cuidç, da educação
' ' nacional.
I
\
... ' ' JOÃO RIBÊIRO .
'
(Do "O Estado de S. Paitlo" de 1-9-3~)
·.
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I ......
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,
PARA O LEITOR.
' . . '"·""'·'"'
blicadas pelçi jornal official do_· Estado, e' me-
riecera'11'i das mai.t longinqu,as cidad~ do! inte-
rior . applaus.os t:ealniJente e:ccessivüs. ·
'
''
'
•
Diante das ,solicitações ~e innumeros ou-
vintes, e das consultas dos leitores do "Jornal
do Estado", sobre si o_ texto alli impresso es.-
tava e..xacto .e. completo., resolvenio'S reunir es-
tas prelecções em volume. Corrigimos agó;a os
erros inevitaveis n'uma folha diaria, e junta-
mos um vocabulario: ~e exemplqs, para escla-
. .
r;ecer çi parte gra·
m
'
matical. ~ ,
"'\
. / '
Prelecções eleme1J;tarissim.as
. J
nada
• . ,
têm de . EMFIM ...
e
novo para os tupinólogos; são ·apençi,,s a artilha
da. lingua. Não alteramos a f eicçãp de ·confe..
1
1
1
. '
10 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 11
. , .
ram, ie novos Varnhagens vieram.,!. e tudo ficou como uma lingua extranha. que a gente ouve dizer que e mui-
<lantes: os sabios de um lado, e os poderosos de outro. to dif f icil, mas que a gente tambem quasi adivinha que
,Si sempre fôra assin1, porque se 111ão havia de <;S- é bonita, talvez por saber que' já foi nossa.··
p~rar qu~ assi~ continuas~<:~ ser. E continuou. Mas já E assim, como em tempos idos se reuniam nos pa-
nao continuara, desde hoJe, sem uma excepção feliz a ços reaes os pl"incipes ide pról em armas e cultura, as
princezas esbeltas e elegantes, senhores brâzo~d~s, gen-
• •
pasm~celr1a centenar1a; já se não dirá que é!· gente t;ova .1
de Sao Paulo, da antiga gente do Brasil desdenha e ol- te toda f·idalga e culta, para ouvir um cam1nhe1ro que
vida . . Houve' alguem, d•e' largo .:idescortinio mental. de no alforge modesto trazia, á:& vezes, gemmas raras do
profµnda, visão ,patríoti'.c.a, que ouviu, que acalent~u o
1
·oriente e contava, •em termos ru<les; lendas ' antigas ide
sonho, que se propô~ realisal-o, que o -r-ealisa, tom es- pÓVios de outras 1ban·das, assim vôs reun'ís taro.bem, num
panto do sot1hador e com surpreza de seus patricios. movimento de bondade curiosa, para.. ouvir complacen-
Quando se fallava, ha annos,' em ensinar duas pa- temente o caminheiro que chegou, ·que não conheceis, e
lavras de tupi, os propr ios 1e'studiosos ·do tupi, sorria1n ;1
1 que traz apenas, para distrair as vossas horas de lazer,
mas quando eu f allei a Sud Mennucci da. possibilidade n-oticias pouco sabidas do povo e <la lingua tupis.
<le um curso, embóra abbreviado, elle não sorriu, elle Não duvideis de seu relato. Tudo quanto ell«~ vôs
não titubeou, elle não se envolveu em phrasies amaveis !dissér, foi lido nos livros grandes dos registros histori-
e negativas. Elle a-penas disse, e textualmente, que era cos. Nada augmentou ou diminÜiu; por entre as pai- ·
minha obrigação realisai-o. 'Essa no.breza de atitude, xões <le uns e as vaidades de outros, traçou o seu ca-
essa resolução rapida e fecunda, e :esse .poder notavel minho, tão recto e tão plano quanto pôd'e e quiz.
de pertepção etn assumpto que lhe. réra extranho, .trot1- Si o rumo 11em sempre o levou aonde os outros ca-
xeram-me até aqui~ ie aqui estou, não para ensinar, tt).ão minheiros ·queriam que .o levasse, culP:a delle não é, e
~:ra. fazer obra ?ova, não, par~ ex'bib,i r ,erudição ~que se
·nem da róta, mas delles, qu•e de~le· e. <lêl}a ·a·Í.astar:am. . ("'
"nao tenho, não pata ~vôs · maraV:ilhar com bolhâs <le sa-' bos . que esctieveram• 'as chronicàs
'
aos Íivr{)s,
'
,: não'·
.
. ~ (; .·.~ .;a
!i"~i
·
.b~, que se enchem coin 1sopr~ alheio, não· pa~a me en,.. ·h á citar os· nomes, e nem o'S trechos, p.0.rque··de nenhum. '
va1deeer, ma:s para t~cordar, 1 par.a suggerir, para con.. · adoptou as ideias toths e os 1?receitos, sin~· ~e todos
versar tonvosco~ sobre :um Po'\TD que viveu outr'ora; f'ez a obra que relata.
11u1nas florestas muito grandes e perigosas, que fa.llava E, óra ahi está, como pretendo iniciá.r estâs pales-
'
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:t.
12 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI
I ,
HABITANTES DO BRASIL
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,., PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 17
16 PRIMEI~AS NOÇOES DE TUPI
exigir grandes esfórços ou caminhadas, não se trans-
caram ao pastoreio, passando á terceira phase da evo- portavam para outras bandas.
lução para o progresso, a agricultura. E não foram pas- Plantavam o milho, o cará, a batata e a mandioca
tores porque não havia no paiz animal algum que pas- na pro~rção somente das nec~ssidades, como para pro-
torear; não se encontravam aqui o boi, o carneiro e o vill}ento subsidiaria á alin1entação da tribu.
cavallo, e nem a lhama ~ :nem a vicunha. :Conhecendo o fogo, delle uzavam em todos os mul-
·Contrariando, as nórmas cíassicas, dedicavam-se
1
tiplos aspectos da vida, óra pa,r-a supprir ~ falta tde ins-
concomitantemente á caça: e pesca e á agricultura, por- tru·m,entos na fabricação <le canôas ou no preparo da.s
qu·e 0s rios e as .florestas (!f:arn ~a:~undantes, e porque a " , roc;as, óra para aquecimento ou preparo da carne :do$
'terr.a era 1p roductiva e vasta~ ,peixes· e de outros animaes. ·
1
•
O. ambiente ob~igava-os a: proceder assim, ·e assit11 Quando a ciyilisação européa interrompeu brusca."4
procediam pelos annos em f óra, gastando a vida na ru- IlJ.ente a ·s ua marcha, talvez nlillenar, par.a o progresso
deza de seus mistéres primitiv9s e na formosa alegria ou para o barbarismo, conheciam tambem rudimentos
de sua itnmensa lib·~rdade. de ceramica, e produziam panellas e igaçaibas em que
coziam os seus alimentos, e em que guardavam as suas
A floresta que lhes dava grande parte da alimen-
.bebidas fermentadas. .
tação, dava-lhes tambem todos os elen1entos para cons-
A falta <le palavras no seu vocabulario, para de-
tituir o seu trem -domestico e o seu arsenal :d~ guerra.
signar com precisão o ferro, o ouro, a prata e outros
Della tiravam o arco e a flexa, as pennas e o cordáme,
·n1etaes, denuncia claramente que não c-011heciam o seu
o tronco para as igáras e as cascas .p ara as ubás, os jun-
cos flexíveis para as est·eiras e as cannas longas e fin~s .. uzo, e muito menos o seu valor.
Nesse primitivismo, n,ó primeiro 1degráu da civili-
para a pesca, .a folhagem 1pa,ra a cobertur!a. das cabanas,
sação, é natu1ial que todos os seus uzos .e. costumes fos.-
e.st~cas e galha.~as para o cêrco das aldei3;.s, e as pélles ~e • ' t '
t
,;;,
18 PRIMEIRAS
'
N9ÇOES DE TUPI
'.PRIMEIRAS "'
NOÇOES DE TU'PI 19
As r~xas entre tribus confrontantes, obrigavam-nos a _,,. ·
l
confeccionar instrumentos aggressivos e defensivos, a 1
pecial, toda para uzo particular <l~ uma .qu si~ algumas
imaginar processos ef f icientes d~ luta, a viver apresta- tri bus ..
1
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. .
22 PRIMEIRAS NOÇÕES o:g TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 23
requintes de linguagem por certos chronistas, em que para &r urnia vaga ideia d·o achi~calhe e da dor; do
•
appar<ecem os selvagens com'O demonios, saltitando fu- despotismo e da infamia, <la trahição e da violencia que
nambuh~scamente em torno de um cadaver ensanguen- soffreram, como cond·errma,<los pelo crime de ser inge-
tado, famintos de carne humana, são visões de peza- nuos e de ser leaes.
1dello, lendq.s que se crearam para determinados fins, Mas não recordemos miserias passadas ..•
phan.tasias de viajantes mentiroso§ ~ assustadiços.
Nunca, positivamente nunca, o i,n dio matou quem ·O indio1 a não ser nos poucos momentos <le folga,
quer que f ôsse, apenas pelo desejo de saborear a carne -dedie:a.va-se iµteriramente á sua ·família ~ ao seu Iabôr.
ide seu semelhante. Aos que ·descrevem, tren1ul'OS, os Amava os filhos 'teX'.trem,ecidamente, jamais pe~mittindo
:detalhes ·desses suppostos banquetes anthropophagicos, ' que se lhes applicassem castigos physicos ; domestica~a
seriia interelSSainte perguntar como era possível ·que à com :p atiencia ·evangelica, papagaios e aráras, saguis e
carne de u1n prisioneiro morto bastasse para alimentar, porcos do matto; esmerav'l--se na confecçã:o ide armas
durante um dia que fôsse, toda uma tribu composta, em e ob jectos ; pintava o corpo com tintas vegetaies, não só
geral, <le mais de um milhar de individuos. para se tornar bonito, mas tambem para proteger a epi-
'A mórte do condemnado foi sempre, e essa é a <lerme contra os raios do sól e <las picadas <los insectos ;·
verdade pura, um acto solemne de vingança e un1 -ne- furava, ás vezes, o labio inferior e as faces; e~rcita
cessario castigo exemplari. S:i após a chegada. do euro- va-se, desde criança, na arte ·da pesca, da caça e <la
peu invasor mataram pé!idres e def1ensores seus, a culpa guerra; banhava-se constantemente e alimentava-s•e com
não lhes cabe <lessa injustiça; cumpria-se nas terras no- notavel sobriedade; curava-se de suas enfermidades por
vas do Brasil, tam,bem, o destino dos iooocentes que , processos proprios, v.alendo-se <lq fogo, de f'°lhas e
·desgraçadamente pagam pelos peccadores .. } raízes me<lic~Q.aes; dormia pouco, em rêdes ~u esteiras,
Acoimar os nossos indios de anthropophagos, de sob a protecção do tecto commum á toda "uma. família.
. lbarbaros, de bestas-férias, é ti1na iqjustiçai e um desa-
1 ;E is, en1 traços muito rapidos, os ~lementos neces- ·
ifôro. si elles tivessem podido escrever a sua tragedia., ·sayios á i<liealisação da vida do aborigen~ brasileiro.
qu1e se iniciou no anno de 1500 e que se p·rol?f1ga do,.. Tudo muito e:Xpontaneo, tudo muito natúral, tudo sim-
lorosamentei até hoje, não teriam encontra.ido, mesmo ples, tudo !de accôr<lo com o ambiente em que vivia.
na c~vilisada língua portugueza, termos ib astante asperos Aquelle indio-symbolo que anda por ahi descr:ipto,
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24 PRIMEIRAS NOCÕES
~
DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 25
pintado e esculpido, todo solemne ina sua carnavalesca resistente, com suas raizes monosyllabicas rigidas e in-
feição de rei selvatico, coberto de plumas coloridas e de regraes.
collares funebres, arma.do de tacape h-orrorisante, não ·O nosso incola não foi mais, portanto, que um sim-
passa-, tambem, de uma caricatura perversa., de uma ples depositaria do immenso e valioso patrimonio lm-
phantasia de i>Oetas, da manifestação d~ ignorancia dos ' guistico, que entregou quasi intacto aos seus suéceisso-
•
artistas de "boulevards". res no don1inio ·d a terra.
:Com s eus ·uzos e costumes pr9p·rios, foram, com
1 Não tivessem, as línguas, ainda perfeitas as suas
taras excepções, uns bons caboclos :br.asileir-os, e nada raizés, tivessem •essas já, como compo~.entes das pala-
. \ ' .
mais. vras se 'am0Jda:do umas ás outras em franca agglut1na- ,
(
Mas si eram assim, direis, como podia1n dispôr de Mas quantas linguas eram falladas no Brlclsil? Fal-
uma língua que os jesuítas comparava1n á grega, e que la~m-se varias, subdivididas em dialectos. O colonisa-
na expressão do Padre Figueira, era "suave sim, ·e ele- dor é' que se limitou, nos primeiros tempos, a fallar
gante, mas extranha e copiosa"? apenas uma, aquella que mais serviço lhe prestava nas
Em verdade seria notavel esse facto si não se con- relações com o aborígene, aqu1ella que com pequenas
si,d erassem dois outros, dos quaes -o primeiro é simples differençaS era entendida ao longo ,d e tôda a costa. Das
resultante. ·O idioma por elle.s. fallado na costa, não era outras, f alladas pelas tribus do interiorf, sabia apenas
•
creação sua, não se havia constitui.do apenas que' eram linguas dif f iêeis de aprender, travardas 1e as-
. . em virtu-
·de de necessidades in1mediatas ·do mo·mento ~ do am- peras. O mesmo succedeu com o missionatio : 1não ten-
1
~ ' bien.te; •provinha, con10 üS indios; de u1n f óco primitivo do 11+ecessidade, para os :Serviços de eatechese, :de língua
iritadiador, onde a cultura iintellectual de seus ha:bitan- diversa. da que éra geral na ór13i ma11itima, a ella se de-
tes deveria ser in,discutivelmente superior. E não per- dicou inteiramente, legando-nos vocabularios, gramma-
deu as suas qualidades, e não regrediu como os que o ticas •e textos. Quando se pôde iniciar o estudo das
pratic.avam, porque se achava num periodo evolutivo outras, já o predonúnio <lo tupi conitituia um facto con-
'
' ,
' (
•
não soffreram solução de continuidade. O homem que fixação tão rigorosa quanto possivel ~a estructura
,
veio ipara colonisar e o pad.re que veio para catechisar, grammatical das línguas, e na comparação dos elemen-
pelo antagonismo de ideaes, cumprindo cada qual o s~u tos fixa~os.
destino, provocaram a ·divisão e a dispersão das -tribus, Como fossem deficientes os vocabularios conheci-
e crearam um ambiente á elles mesmos hostil, cheio de dos, Von den Steinein, aconselhou que se comparassem
perigos ~ de d esconfianças.
1
entre si os nomes das partes do cor·po humano, ell1. ge-
ral de f acil obtenção, e .. em geral tambe!I\ inalteraveis
• 1 nas diversas tribus. bom o auxilio delles de·scobrir-se-
,
' '
CLASSIFICAÇA:O DAS T·R IBUS ia~n os prefixos pronominaes que quasi semprre os acom-
'
panham;_e mais, que se comparassemJ quando .possível,
A grau.de dif f erença e:xistente entre ~ linguai ge-
1
·os nomes que indicam as relações de família e os graus
ral e as outras falladas no sertão, levou os invasores a de p~rentesco. ,
classificar todos os aborigene~ em :dois grand·es grupos : Os nomes de plantas e de anim,aes .deveriam ser
' o grupo tupi e o grupo tajiuia. Pertenciam ao primeiro excluídos, em vista da variação espantosa que soffrem
todos aquelles que f allavan1 a língua geral ou tupi,e·"'º de uma para outra região. O estudo dos vocabularios
segundo todos os que não a fallavam, ou melhor, todos teve por isso singular relevancia, porque, diz Rodolpho
que fallavam línguas diversas, :travadas, como diziam. Garcia, "da comparação entre elles foi facult:ado apu-
Com o correr dos tempos ie com o progressivo rar as affinidades por V'entura existentes, deduzir ~
avassalamento dos sertões, essa classificação inteira- evolução effectuada desde a dispersão do grupo primi-
mente 'a rbitraria foi perdendo o seu valor. Sentira1n os tivo, e reconstituir, ao menos approximádamente, a lín-
sábios dedicados á ethnographia brasileira, que apezar
, t gua matriz que o dominava".
'
da enorme confusão reinante, er:a possível gru.par, sf.- . 11artius, seguindo essa orientação,' '.~e1n que pre-
'
gundo nórmas regul~res, , a~ velhas e novas familias tendesse · solucionar o 'complexo ;proble1na, ·apresentou
aborígenes. Lançadas a,.s bases da classificação, 1nil e um quadro . das populações primitivas, Lllelle incluindo
uma dif ficuldades surgiram, como é facil imaginar. pela. primeira vez, os Tapuias. A chave __dessa classifi-
Martius, Von den .Steinen, Ehrenreich ~ poucos
cação é a seguinte:
mais, .adaptaram, porêm, ·wn systhema que consistia na
..
' PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 31
30 PRIMEIRAS NOÇÕES bE TUPI
•
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•
,..,
32 PRIMEI~AS NOÇOES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TuPí 33
•
A 4IN.G UA GERAL :do seculo XVIII "a. proporção entre a~ duas lingaas
falla<las na colonia éra, . mais QU menos, de três para
A lingua tupi, a doptada pelos catechistq$ e . colo- . ,,
:u·m, <lo tup1 para o portuguez .
nisadores como valioso instrumento de approximação U sa<la ~ssim por tanto tempo, e por tanta gente
e dominio, não se tornou geral ,como bem fez ,~otar
1
,
extranha, acostumada a fallar línguas europeas, nao
-
Theodoro Sampaio, pela força de expansão da raça pôde o tupi furtar-se ás influencias do portuguez, co-
primitiva que q. fallava, mas pela acção dos proprios mo este tambem ·se não ·furtou á influencia <lo fallar
conquistadores. Embóra praticada, na data do desco- indígena. E é por isso que o tupi das grammaticGts e
. brimento, por: todo o litoral e em algumas regiões inte':" dos vocabularios dos jesuitas, não deve ser cónsiderado
riores, foram os bandeirant1ês, principaln1e11te, q.ue a
1
' '
"
34 PRIMEIRAS NOÇÕES ó~ TUP! • PRIMEI~AS NOÇÕES DE . TUPI 35
phases distintas na apreciação da lingua, a partir ·d o ' .
2.º ·as denominações ·geographicas, âs ·dos an1-
p rimeiro c-ontacto com o portuguez : durante a primei- maes, plantas ·etc., são rigorosamente des-
ra, ella é apenas ouvida pelo invasor, na plenitude de • criptivas, isto é, traduzem aspectos notaveis
suas características phonicas ; na segunda elJa é f aJ,lada dos lugares; habitos, f·eitios ou vozes dos
pelos colonos e catechistas, sof frendo as naturaes a:lte- animaes ; cheiro, côr ou propriedades das
raç&es de pronuncia, e na terceira é escripta pelos je- plantas e fructos;
suítas que, alêm de registrarem aquellas alterações de 3.º as leis que régem a formação das palavras
pronuncia, g:rapham mal as palavras por impossibili- e pbrases, são claras e defin·i das, ·e não de-
dades sônicas dos ij.lphab etos latinos que uzam.
1
vem ser· desobe<liecidas;
Por felicidade nossa e da língua, até os dias que 4.º a lingua tupi, como qualquer outra lingua,
correm ainda podem ser encontrados agrupamentos in- não a<lmitte malabarismos etymologicos,
dígenas que, do idioma primitivo, guardam a pronuncia adaptações oriundas de méros caprichos pes-
e a modulação especiaes. .S erá, portanto, á quem •
... soaes, e nem interpretações por extensão de
estudar o tupi pelas grammaticas e vocabularios, facul- ideias alêm de um certo limite.
t(\.do o praz er de, com .relativ~ facilidade, ouvir . na .pra-
1
' ' '
tica a pronuncia correcta das suas palavras. .Cingindo-nos 1 á essas 11órmas, poderemos estudar
Mas não iremos tão longe; contentar-nos-emos con1 e comprehe~der a ,razão ·d e certas denon1inações que, a
os ensinamentos theoricos, bastantes para satisfazer os principio, nôs parecem arbitrarias e inexpressivas. Ve-
nossos modestos desejos. O tupi que vamos estudar é o remos, mais, que muita ver.dade existe na :phrase de Fi-
da terceira phase, já codificado e adaptado ás normas gueira: a lingua tupi é suave sim, e elegante, ma.s ex-
grammaticaes, amoldado, por assim dizer, ao mo.do bra- f,ranha e copiosa.
sileirq de .f allar o portuguez. Apezar de ser assim, não )
'
, .
vaidosamente. ' que é termo tupi puro, e que diz: o ventó~ o ar, o cli-
Para o estudioso, a dócumentação antiga quie- nos ma. Logicamente, portanto, botucatü dirá: o clima bom,
veio dos seculos passados é de grande valor, porque lá os bons· ares.
estão gra·phados innumeros termos, embóra por varios Mas ha alterações de toda especie ·nos termos tu-
modos, mas tal como os ouviram os of f iciaes das Ca- pis. E' muito corrente hoje a pronuncia itaquaquicêtu-
maras, os juizes, os meirinhos e os tabelliães. ba, com i inicial, quando na 1ealidade devêra ser taqua-
quicetwba apenas. Ess.e i, anteposto talvez para lem-
T<;>dos conhecem, p-0.r iexemplo, a expressão butan· brar a .p alavra itá, póde confundir que~ procure inv~r
tan; uma analyse rapida permittirá dividil-a em duas pretar o sentido verdadeiro da:quella denominação.
partes distintas: bu e tantán. A segun<la,~tan~án2 qual- Taquaquicêtuba se deiompôe, naturalmente, e1n :
quer ·diccionario da linguá' informará que significa - taquá, que é a taquára ou bambú, quicê que significa a
duro,
,.
firme,_ etc.; bu, porêm, não poderá ~er· encoµtra-
'
..
.,
... . . .., ,..
38 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI .' PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 39
lamina cortante ou a faca, e tuba que· exprime a i<leia proprios, aliás muito ·b em sonantes : Simão de Tyba e
de abundancia ou de lugar que produz alguma cousa João de Tyba .•.
em abundancia; sendo assim, a ex.pressão composta di- De tudo isso se conclue, que somente o estudo cau-
rá: lugar em que ha muita taquaquicê, isto é, lugar em , teloso e o conhecimento <la índole da língua, poderão
que ha muita taquara; cortante que serve como faca. evitar os absurdos e as tolices que andam por ahi tr-i-
Levado en1 conta -o i init!al, deveríamos chegar á se- duzindo e inter.p retando termos que, muitas vezes, nem
•
guinte tradução, visivelmente apsurda: lugar ·e m que pertencem ao idioma dos tupis.
ha pontas de pedra como· lan1inas. )
I E como si não bastassem, para difficultar estu-
ú
E isso mesm<:>, fazénd·o vista, gr.'ossa sobr~ a diff e.-
- - -
1
<lo da lingu4, os quatrocentos aan·ós' de a<laptações e
, rença que existe .
. entre qua ·~ qua, pois. itaqua, .
e nao ita- deturpações, continúa, ella ainda a ser· uma especie 'de
quá, !é que significa ponta de. pedra... Cremos que "terra de ninguem'', onde etymologistas de fancaria
esses exe1nplos bastam. armam as suas barracas para ex-piorar a curiosidade
Apenas por curiosidade, e para demonstrar a que publica, exipondo em frangalhos, iem postas e em reta-
ponto chêgam as alterações <los infelizes termos tupis, lhos ignobeis, o idioma que Anchieta guardou no escri-
vamos r elembrar mais dois, bastante conhecidos : pa- I
nio de ouro de sua "Arte", e nos versos simples de
ranã e sernambytyba. seus canticos christãos.
A palavra paranã, que nós hoje dizemos paraná. Para que. os associados deste Centro <le cultura
por defeito <le pronuncia, passou a ser parnã e pernã possam avaliar a •belleza da língua tupi, a firmeza qe
na bocca dos portuguezes, e f ernã na dos .f rance·zes. E sua . éstructura e a malleabilidade de suas phrases, e
foi assim que se -consagrou a denominação Pernambu- tambem a ousadia e a ignoran.c ia dos que a exploram
> • '
co, esquecendo a fórma verdadeira: Pa.ranãmbuco. e deturpat;rl por vaidade ou por .t ommercio:, é que aqui
., ".
O casq. de serna1nbytyba é, porêm, mais interes- :nôs achamos, com .Q intuito de .r elembrar, tão resumida-
• A 1 ,
•
sante; n1ais interessante porque de u1n termo que mo- n1ente quanto possível, alguns principió.~ basicos de sua
destan1ente designa ·o lugar em que se encontram as
1 • grammatica e alguns termos de seu voca:bulario.
• • •
conchas chama:das sernainby, fizeram-s•e dois nomes Si puderdes, meus generosos ouvintes, dedicar um
• •
. pouc-o de vossa si.tten9ão a este pequenino curso d~ lin-
,
I
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'
O l!lphabeto. Substantivo• e adjectivos•
'
Uma dâs maiores diffieuldades para quetn se ini-
cia no estudo do tupi, é, sem duvida, a diversidade de
graphias que encontra ie·m grammaticas e vocabulatios.
Cada. autor escreve &S palavras brasilicas de accôrdo
com o alphabeto d e sua lingua materna, e adopta u1na
1
..
' 1 '
•
•
42 NOÇÕES
•
gue·zes para graphar os termos tupis, óra é um autor com facilidade e rapidez. Os detalhes, os segredos .de
allemão que 'escreve em portuguez e em latitn, e que ~ronuncia, a analyse rigorosa da~ Pª!-ªv~.~s~ a .pesqui~a.
' ' '
escreve, não se sabe como, os vocabulos da lingua ,ge- .das raiz'e·s, as interpretações var1ave1s e a leutura dos
ral. E ha liyr-0s valiosissimos escriptos em he-spanhol, te~tos, tudo isso ficará para depois, para quandQ fôr
em inglez, em allemão, em francez e em outras lin- possivel ou opportuno.
guas ... As modificações de pronuncia de algumas de nos-
Claro é que o leitor, mettido nessa Babel para
aprender tupi, não póde sem grande esforço e muit.o
sas letras nós as consignamos, somente porque quere-
, '
pela indole propria da Iingu~ e 1por Í.!1fluencias diver- ·$eculos ipteiros de má pronuncia, deviam, de facto,
sas, ha letras que· se substituem, vogaes que se ab~~n ter estragado um pouco o idioma dos \ibrasis. Mas v'3-
dam ou se confundem com outras, consoante·s que se in- mos aos substantivos.
1
~ tercalam ou se iliqem. .
O dithongo mb, que nada mais representa que o b •
SU·B STANTIVOS
?asai, no uzo corrente óra se reduz a b, óra a m, e por
isso,, tanto :e diz burity como murity, magé ou bagé, Os substantivos tupis, para facilidade apenas de
meru e beru. Correntre tambem é a confusão das labiaes exposição, pódem s·er divididos em duas grandes clas-
b, nt e p. Uzam-se indifferentemente bereba e pereba, ses : substantivo,s sin·iples ou primitivos ~ compvstos ou
paranã e maranã, nt.agé, pagé ou bagé. Outras pequenas derivados. Os primitivos, como se percebe logo, são em
observações poderiamos fazer, mas essas :bastam por en- pequeno nurnerot exprimem ideias fundamentaes, ie ser-
quanto. viram .p ara denominar as cousas ou seres directamente
Antés de passarmos ao estudo dos substantivos se-
1
ligados aos povos .que primeiro fallaram a lingua. São
rá bom lembrar' que não só ado;ptamos o alphabeto ~or express~es contractas, iem ~eral monosyllabicas, qu~
. tuguez? conJO tambe~ toda a gaipima de sons que se vêm do fundo ·de um p~.ssado l,onginqu~. e .orno tae~ ~. '
o~tem de suas v?gaes, por meio dos accevtos agudq· e podemos considerar as seguintes : ,
circunflexo. .
y - a agua, o rio, Q liquido.
No tupi antigo não eram conhecidos os sons cor- •
respondentes ás letras f, j, l, v e z. Foi por in-fluencia. A - a semente, a bóla, a cabeça, a raiz.
' •
C'ô - a roça, a pla,ntação .
•
J '
•
• '
I
o nar1~.
. T , • "' Yj.Í)..Â.;tJ.-IF '( _,.J:/ ;<°f
lracema e ira acema - ~..,~o. ~ ·
j , ., , . ~
Eçá - os olhos. Pirapitínguy e pira pe tinga y
• /
Paraguassú é pará guassú~ ~ ~- · ,
Os derivados ou compostos, iem numero illimita- Tatúapé é tatú apé - °' ~:~ ~ r.~ ,t.~7 ~
é.. tatá rana- ~
,
do, são os que ~e formaram_desses primitivos juxtapos-
Tatarana Y · ·a ·,
Tabajara é taba jára - /j-~ el~ ,,,,e er-t!<Yv~
tos uns a~~ oµtros, reunidos. a adjectivos e a verbos,
ou modific}ldos por suffixos. Rigor0sãlllente não deve-
riam ser considerados · como palavras, mas corno phra~
o
que nôs levou a con.s iderar como
I
essas . pa~s
phrases, foi o habito de as escrever ligadas umas ás
ses, pois as suas partes componentes, iem ge.ral, não se outras, o que evidentemente não é de todo correcto. Ha-
fundem na composição perdendo os seus significados bito infelizmente muito antigo para ser abandonado
proprios em :beneficio de um significa-do novo, trlaS ao ,
agora.
'
•
. ;
. 48 PRIMEI~AS NOÇÕES DE TUPí PRIMEIAAS NOÇÕES b:E TVI'! 49
•
dra, caverna; Tupána, Oeus e óca, casa, •dão Tupanaró- ·6.º - suff~açãq de um verbo.
ca, casa de Deus, a Igreja.
Ex.: soróc, rasgar, e cába, suffixo, dão sorocaba
-- - )
4. 0
suffixação de um sullstantii',o. ·
Tupanaróca ·- cas~ de Deus, Igteja. ª
-
Araranga'ba - marca do tempo, o reJogio.
Ex.: curi, o"pinhão, o pinheiro, e tyba, suffixo Caraybebê - creatura illustre que vôa, -o anjo.
que ~á ideia, <lre abundancia, formam curityba, abun- M ocabaiára - dono da arma, senhor 9a espin-
dancia de pinheiros, o pinheiral; acanga, cabeça, e o '· .. garda, ~ soldado..
>
rportuguez; iellas como que correspondem ás t ermina- phicas, segundo o nosso modo de ·pensar, um tanto di-
ções al e ad a de nossa lingua. Para se ver que esta as- verso do de illustres tupinologos, não significa rigoro-
1 ,
serção é justa, basta lembrar que guirá, sem a,ccrescimo sa e simplesmente ab'undancia de. q,lgu1na cousa, mas
~in1 fJ lugar, a região 1q1te produz çilguma_ cousa · em
' ' 1
nesse detalhe leva vantagepi o portuguez sobre o tupi. araçatuba - lugar em que ha muito araçá -
1 araçasal.
•
' '
54 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 55
'
4 ba dregal.
- lugar em que ha muito pinheiro -
pinheiral.
SU·PERLATIVO.
rerityba - lugar em que, ha muita ()Stra - os- ' caá, o matto, e guaçú, dão caáguaçú., ü matto
•
treira. grande, o mattão. '
potyrendaba - c,ollecção de flores - Q jardim, abá, o homem, e guaçú, dão abaguaçú, o homen-
,,.
zarao.
irareya - bando de abelhas - 9 enxame de
pará, o mar, e guaçú, dão paraguafú, o mar. lar-
abelhas.
go, 'O oceano.
igára, a canôa, e açú, dão igaraçú, o canoão, o
Sem difficuldade alguma poderão ser traduzidas, 1batelão.
como vêem os nossos generosos ouvintes, as palavras turi, a fogueira, ~ (JÇÚ, dão tu:ri{içú, fogueira
que terminem em tyba ou tuba, rendába ou reíya. Sem grande ,incendio.
<lifficuldades, dissemos, e até com prazer, poderemos
accrescentar, p orque nessas traducções se descobrem Em·alguns casos especiaes, a repetição do proprio
cousas curiosas, modds interessantes <le interpretar f a- ,s, ubstantivo ou do suffixo qu~ junto delle exprimía
ctos e acci·dentes banaes, syntheses surprehendentes e abund,ancia, serve tambem para formar o grq.u augme11-
tativo. Mas não passemos das generalidaides. ,
coloridos novos nas ideias.
O grau diminuitivo, como o augmentativo, fórma-
Infelizmente não nos é permittido mostrar, nem de se ainda pela posposição de um suffixo: mirim. Este
longe, esse immenso thesouro, mas podemos garantir • •
mirtm communmente se reduz a miri, a im e ~ i, como
que elle é inexgotavel e accessivel. se vê no~ exemplos seguintes :
• '
56 PRIMEIRAS NOÇÕES DE . TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 57
itámi-rim, itamiri e itaí, ·signi.f icam todos - pe- matta realmente, ·v erdadeira, a matta n1uitissimo bôa,'
, '
drinhas. super!ativamente.
pirá e i, dão piraí - peixe pequ·eno, peixinho.
taquara e í, dão taqua.rí - taquara pequena, ta- NOTAS
quara fina, taquarinha.
\
Quando, nos exemplos citados anteriorn1ente, dis-
Esses d-ois graus, poden1 ser ainda reforçados, isto se111os que Tupana.r6ca queria dizer casa ·de De·us, não
é, podem ser levados ao superlativo. Para isso, existem explicatnos porque razão tambem ·não poderia signif i-
dois proc~~os especiaes : '
car Dieus .da casa. Nada appaiientemen<t:~ il11pedia que
p'
assim se traduzisse, como nada impediu a traducção
1.0 -~osposição ao substantivo de dois suf-
casa de Deus. I sso, porêm, é muito simples. E' regra
lfixos.
geral da lingua: quando utna palavra fôr çonstituida de
2.0 - -repetição do suffixo empregad-0 para o dois substantivos, o que estiver em primeiro lugar func-
gráu at~gmentativo ou diminuitivo. ciona como possuidor e Q segundo como possuído. Por
isso se traduz:
Para exemplo do P\imeiro caso, potlemós , citar a ' .'"•
palavra myra, que signifita gente, povo, etc. ·O seu . di-
abáiiheên, a falla do homem, a falla <la gente.
minuitivo será, como já sabe1nos, myramiri, que d iz: 1
•
• '
, ~
mento em que se falla, abacwéra está no passado, isto meraes, oràinaes, possessivos, de1nonstrativos ,.e indefi-
é, significa o homem que não o é mais, que já foi ho- ni~os. Sem grande preoccupação de estudo es.ch·~mati
mem, e abáráma está no futuro, exprimindo o hom1~m co, vamos no entanto, para facilitar, seguir mais ou rne- .
que ainda ha de ser, que ainda não é. Os termos muito nos as normas de todas as grammaticas.
conhecidos : tapéra, acangoéra, anhçz,nguéra e peaçágoéra, Os adjectivos qualificativos em tupi, como os subs-
não são mais que f órmas do preterito de tába, acánga, tantivos, são invariaveis quanto ao genero ~ q.o nume-
anhánga e peafá, e que significam respectivamente: a ro. Assim: ,
aldêa, a cabeça, o espírito máu, e o porto.. Logo, a tra-
ducção natural 1daquelles termos será: a aldêa q,ntiga, a catú. significa <bom, •boa, bons, hoas
,
•
aldêa qwe foi, a aldêa em r~inas; a cabeça que foi ca- una ,, preto, preta, pretos, pretas,
••
beça, ~ caveira,· o phantasnw, Q vulto do- Diabo, do e~- piranga ,, verm·elho, vermelha, vermelhos,
'
pirito, máu; Q porto qu,e já não é porto, o embarcaidou- vermelhas
ro antigo.. . "
poranga ,, ,bonito, bonita, , 1bonitos, bonitas
E si qui~rnls ' innumeros outros exemplos, é .só júba ,, amarello, ama;r'ella, amarellos,
passarmos os olhos por um ma;ppa do Brasil ou pelas , amarellas
paginas de um jornal moderníssimo de hoje. Já deveis tinga branco, branca, ·brancos, brancas
" , , , ,
estar concordando com () ·bondoso Padre Figueira: o. puchi mau, ma, maus, mas.
'
•
60 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI \
·,
61
Esses adj•ectivos, siniples ou primarios, são em nu- duas mãos. D·uas mãos e 1tm pé valiam naturalmente
mero limitado como é natural, <ladas as condições ru- qui~ze, e as duas mãos e os dois pés não podiam deixar
dimentares da vida de nossos selvicolas. A lingua, po- de ser vinte. Os numeras intermediarias seriam com
rêm, con1 seus in1mensos recursos, pó de fornecer copia muita logict:t: a mão e um, a mão e dois, a m.âQ 1e três e
variadíssima de adjectivos para satisfazer as maiores assim .por diante. O quadro dos seus numeros era, por-
exigencias do p·ensa1nento. Ç)s suf fixos oéra e rapi.xá- -1~ tanto, apenas este' J
ra applicados aos substantivos, ?éra e ceráne á outros ' '
'
/~
'
·- -
Os nuni.eraes uzados, .t1ã9 eram niais do que qua- • • •
iepêuara - o primeiro.
tro apenas. As necessidades db 'incola pouco exigialn,
moçapirauára - o terceiro, .
os seus calculos eram ·m~destissimos. E' sa:bi·do que
quando queriam exprinii.r- a ideia <le cinco, mostravam
1
a mão, isto é, os cinco ·d edos; 'p ara o numero dez, as
t:. assim por diante, facil, elegant~ e praticamente.
'
I
'
62 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI
pe1or.
.Nãb ·ha. commentarios á faze-t ~h~ elles por en- P.~ránga .bônito - porangapira, mais bonito:.
' "6 - .,,
quanto; sãq o~ seguintes; . catú, bqm - catúetê, muito bon1, realmente bo1n,
1bonissill}o.
•
iepe -
A
um, um .certo, um tal
amô - alguns, uns certos
po.ranga
...---,. . bonito - porangaetê, .r ealmente bani-
to, ·bonitissimo.
cetá - muitos, varios, diV1ersos
opá, opabinhé, opacatú - todos Si applicarmos esse mesmo su ff 1xo • ete aos a d'ye- .,1.....
A
1-.•
oiepêguaçú - todos juntos, um grupo ttivos que por si dão ideia de grandeza ou <le pequenez,
nã (mostrando os dedos) -:-- itantos tQbteremos um gráu mais alto ou mais baixo dessa mes-
cuá - estes, esses ma idei~. Mirim, por ~mplo, que serviu para formar
auá - aquelles, aquellasJ ~· 1,. o <liminuitivo dos substantivos, como vimos, com o si-
gnificado de p equeno, si ligado a. ,etê, dará miri.etê que
' . '·
'
.diz: .realme~te pequeno, pequenis.simo . .Quanto a guriçú,
GRAUS · COMPARATlVO ~- SUrP.ERLATIVO o mesmo se dá; guaçúetê significa~~ o qué. é r:ealment~
I .1 ' 1
grande, grandíssimo. . ~ '
Falta-nos agota, para copcl,u ir este esboço rapidis- ·O utros detalhes, outro$ informes, maís claras no-
• t • •
. .
64 PRIMEirlAS NOÇÕES DE TtJP1
( 17 - agosto - 33)
'
• Pretendemos hoje, •num rapido bosquejo, tratar
dos pronomes, dos verbos, das preposições, dos adver-
bios e das conjunções. Parece vasto demais o nosso
·programma, e realmente o seria si não nos limitasse-
mos ás mais importantes genier~lidades. Vamos ver,
contudo, si nestes quarenta minutos conseguiremos re-
sumir o qua.gto desejamos, sem prejuízo dos conheci-
mentos geraes que devemos dar.
1 '
PRO<;NóMES
A.a orê~ primeira 1pessoa «lo.plural, não. se dá tod: e ,da mesma. forma para todos os outros.
a latitude ,do nós portuguez, pois qu~ndo dizemos ore, Quan.d o se quizer applicar as relações de mim, 'àe ·
o fazemos excluindo sempre arguem, isto é, ton10 q~e ti, dé n~s, delle,' ~e vós, etc'., é mister certo' ~uidado, pois .N
·d eterminamos nós oiitros apenas,,. e n.ã o nós to;d'o1• .Para iellas exigem prefixos espec1aes, que se antepôem ao the-(
exprimir todos, sem excepção, diremos ianê. Por isso ma tegente. Na palavra.. Tupanaróca, que conhecemos
.'
Ja, o r que apparece anteposto á 6ca, não é sinão 0 pre-
é freq'uente encontrar-se em grammaticas as duas fór- •
nms da primeira p·essoa ·do plural. Para facilita!, nas fixo denunciador do genitivo, da relação de posse.
conjugações dos verbos vamos uzar sempre uma das Nem sempre, porêm, isso ge <lá, como vimos tam-
f órmas, orê, por exemplo. bem no exemplo que então citamos : itaóca, a casa de
O s pronomes possessivos que -correspondem aos pedra;. aqui a relação do genitivo se expressou pela só
adjectivos tambem possessivos, como dissemos na pre- posposição da palavra óca á itá. Não podendo entrar em
detalhes, valha o aviso de que é preciso cuidado no uzo
lecção ,p assada, decorrem dos pronomes pessoaes, como da:quellas relações de possessão ou de genitivo. A rela-
A
i - ( elle) - séu, sua. que, qual, os quaes, cujo, que, etc. Ao co9trario <lo
ü
orê - (nós) - nosso, nossa. que se -dá em portuguez, esse pronome é sempre collo-
pê - (vós.) - vosso, vossa. cado no final da phrase.
i ~ ( elles) - seus, delles, dellas.
\
68 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUP! PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 69
Auá, como pronome interrogativo pessoal, o é por que sigtl:-ifica ter, possuir, etc., são empregados as vezes
excellencia, e equivale a: quem? qual! quaes? que pes- como auxiliares, porêm não obrigatoriamente.
soa? M aá ou má é um interrogativ-0 neutro, e tem os Quando se diz : chê catú, eu bom, sente-se logo
seguintes correspondentes em nossa lir.gua: · que? que que a ideia :de -9ier está implicita, isto é, que a phrase
cousa ? qual?. Ambos se empregam sem·p re no começo completa será - eu sou bom. Num ou noutro caso, é
da phrase. natural, poderá surgir alguma duvida ·q ue o sentido da
conversa não .possa esclarecer, mas ahi então é que tem
VERBQS
.en1prego os verbos çiicô e recô, ou qu,aesquer outros, co-
O capitulo mais complexo' <la grammatica tupi é, mo auxiliares.
'
sem duvida alguma, o que trata -dos verbos em geral. N-0s verbos do portuguez uzatn-se terminações .di-
'
Taes ie tantas são as regras e as excepções citadas pelos versas ~ara cada pessoa e para cada tempo; ~o tupi, ao
compendios antigos que, positivamen:te, só um estudo contrar1~, uza~-se partículas fixas que se antepôem
sempre a voz nua ·d o verbo, ou á ella. acompanhada dos
muito sério e exhaustivo permittirá comprehendel-as e
necessarios suffixos, tambem sempre eguaes para quasi
applical-as com segurança e justeza. ·
todos. os. tie~pos e modos. Um simples exemplo dará
Os autores, em geral, perderam-se em detalhes,
perfeita 1de1a desse mechanismo caracteristico <la lin-
quizeram arrolar todas as variações subtis que conhe-
gu~. O verbo jucá, matar, q ue é desde Anchieta 0 pre-
ciam nas vozes verbaes, e dahi o crearem um verdadei-
f er1do para exemplificações, assim se conjugará, em
ro cáhos que h oje nos embaraça e nôs dá a impressão confronto com o seu correspondente portuguez:
de problema quasi insoluvel. Mas não desanimemos ;
eu mat-o > chê a-jucá
com un1 pouco de boa vontade, deixando os detalhes de
1
sas vozes.
. -- .vos mat-aes penhê pe-jucá
• elles mat-am i o-jucá
Antes de mais nada poderemos dar uma noticia
Como se vê, a,s terminações o, as, a, amos, aes, am
confortadora: não existem verbos auxiliares na língua
do portuguez, parecem éorresponder ás iniciaes a, re,
geral. Os verbos aicô ou icô, que significa estar, e recô,
'
<
,., ,.,
70 PRIMEIRAS NOÇOES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇOES DE TUPI 71
•
o, O'rô, pê, o do tupi, mas não cori:espondiem absoluta- Pôr diant e de vossos olhos o quadro geral da con-
mente. Vejamos o f uturo dos mesmos verbos : jugação de um verbo, é o melhor meio, cremos nós.,, de
• • , tornar •bem .p atente quaes as partículas de que se serve
eu mat-are1 chê a-Jucane
,
ndê
. , a lingua, •ê o modo de applical-as ás f órmas verbaes.
tu mat-aras re-Jucane
• • , Vamos seguir as nórmas classicas de nossas grammati-
; ne mat-ará 1 O-Jucane
, cas portuguezas, tomapdo pa,ra exemplo o mesmo vdl
nós mat-ar·emos
A A •
ore oro-Jucane
1
• , bo jiJicá, matar.
vós mat-areis penhê pe-Jucane
. 1
ielles mat-..ttt:ãt> 1 'o-jucáne
Nota-se ahi; claramente, que para formar o futuro, MODO IN·D ICAtfIV·O
houve a intervenção da particula. ne, invariavel, conser-
vando-se ainda as mesmas inicia1es, a) re, o, orô, pê) o,
como no pre~ente do indicativo.
E stas particulas iniciaes não são, portanto, índices
de presente ou de futuro do verbo, mas apenas cara-
cterísticas dos pronomes pessoaes eu, tu elle, nós, vós,
1,
)
----x. z 5
72 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI i3 .
MODO IMP·ERATIVO
Pret. perfeito
. , Presente ..
•
a1ucauman eu matei . ,
. ,
re1ucauman tu mataste e1uca
,
mata tu
. , . ,
mate elle
OJUcauman elte matou tOJUta
. ,. , . . ,
·t1a1uca matemos nós
oroJucauman nos matamos . ,
. , ,
.pe1uca matae vós.
p·e1ucauman ~os matastes .
. , tOJUCa
~
1natem elles
OJucauman elles mataram
Futuro
. ,
aJucamoma - mate eu Pret. perf. e mais que perf.
. , ,,,
re1ucamoma mates tú . , ,.,
. , aJucaumamo já eu teria morto
. ,
,.,
OJUcamoma
,.,
mate ell·e
reJ.ucaumamo
, - já tú terias morto
oroJ ucamoma
. , - matemos nós
. , . , -
OJUCaumamo já elle teria morto
peJucamoma mateis vos . , -
. , -
OJUCamoma matem elles
oroJucaumamo
. , -
já nós teríamos morto
peJucaumamo já vós terieis m'Orto
. , ,.,
OJUcaumamo já elles teriam morto
MOD,O PERMISSIVO
Presente
Futuro
;
I . , matarei eu en1bora
tajucá ma.te eu · taJUcane
. ,
tereJuca . mat<i!s tú
. ,
tereJuca11ie
,
mataras tu
,
. ,
tojucá 1nate elle toJucane matará oelle
t . , matare1nos nos /
torojucá matemos nós t-0roJ ucane
. . , . ,
tapejucá mateis vós ta;peJucar:i1e matareis vos
. , . ,
.toJucane matarão elles
tOJUca matem tlles
'
•
76 PRIMEIRAS ""'
NOÇOES DE TUPI l?RIMEIRAS ºNOÇÕES DE tUPI 77
MODO CONJu;NTIVO Participip_ passivo
Pres., Imperf., Pret., Mais que Per/. e Futuro ijucápyrama para se matar, cousa que ha de
ser morta, dignél de ser morta.
jucáréme (quando, porque, como, se) eu
mato, matava, matei, matá-
Gerundio, ~ Supino '
ra, matasse, matar. Etc.
jucábo a matar, para matar, e matando
.,
• •
,.,
78 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇOES OE TUPI 79
Para o futuro, ainda do INDICATIVO, accres- O quadro completo da conjugação .p ela negativa
centa-se, alêm do n inicial e do i final, a syllaba zo ou encontra-se, como dissemos, em Anchieta e Figueira,
zoé antes de ne, signal do futuro na f órn1a af f irmativa. não h avendo pois necessidade de dar maiores detalhes.
Assim: • Vamos ver agóra como será p<>ssivel passar da vóz acti-
va para a voz passiva. Nada mais sin1ples, porque é ne-
ajucáne, eu matarei - najucáixoén•e, eu não matarei.
cessario apenas que, entre a inicial indicadora da pes-
.. soa, se popha a particula nhê ou ie :
O IMPERATIVO nega-se com ~ .particula umé,
que dá: .ejucáumé, não mate's tú. Pàra a formação do l
OP'I'A1"\IVO de negação, alê1n da syllaba zoé, accres- · ·de aim onhang, eu façó - 'deduz-se. - · anhemonhang,
l '
e mé;\is tempos seguintes,, co~ .eyma. Assim : D9s , irregulares mais uzados 'podemos destacar. os se-
gu.i~tes: aê, dizer, ajúr, vir, a.júb, estar <leitado, aín, es-
jucáeyme, (quando, porque, como, se) eu não tar se.n tado, an1anô, morrer, aicô, estar, aikê, entrar,
mato, etc. aityc, derrubar, ajár, t omar, açô, ir e araçó, levar. Co1no
jucáeyma, não matar, etc. se p·ercebe logo, todos esses verbos estão, precedidos do
'
\
•
•
80 PRIMEIRAS NOÇÕES DE . TUPt PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 81
,._. ..... . •
$2 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TtJf>I 83
•
E' evidente que essas formações de particípios no- za: tietêguára. Da mesn1a fórn1a são pauloguára, ta-
nimaes, são fontes inexgotavieis de palavras, capazes de tuiguára) taubatêguárçi e baurúguára) designarão o Pfl-U-
avolumar formidavelmente o riquíssimo vocaibulario <los lista, o tatuiense, o taubateano, e Q baur,úense.
tupis. Bem claro está que a traducção dessas expressões,
De outros .suffixos, de. muitos outros mais, não nôs en1 rigor, deveria ser : aquelle que cóniie enii Tíetê, aquel-
\ podemos occupar :no momento ; tomar-nôs-iam muito le que é co~dpr nessa cidade, aquelle que se alimenta,
tempo, e nôs levariam para alêm do nosso modesto P.r o- q~e cóme e_m S& Paulo, e1n Tatui, em Baurrú) etc.
gramma. E quando se diz, tamben1, .j',Úm,,~fJ.Uf!J, para desi-
f1tis uns dois ou três, porêm, vamos citar ain·d a ~gnar o companheiro·, o fUlligo que vive jtp:~.to, 0 c~ega,
porque são <le grande utilidade. Bóra, por exemplio, li- d,iz-se, na realida.de: Q que é comedor junto, aquetle'. que.
gado aos verbos, indica a pessôa que 'eXerce habitual- come em companhia d.e outro. Disso S'e conclue, que a
'
mente a acção. Si canhen ·q uer dizer f-wgilr, canhen-bór(l mania extremamente feia de ligar a ideia -de comida á
ou canhembóra dirá: aqu~le que f óge continuament e, <le camaradagem, tão generalisada hoje, não éra para
que tem o habito de fugir, o fujão 'e'm fim. os nossos i,u.genuos selvicolas sinão uma f órma vaga de
Com o suf fixo pyra, formam-se particípio~ pas,fa-- ·expressão com sentido estrictamente familiar. . . Mas
dos adjectivaes, com toda. f~cilidade: não citemos mais porque, de citação em citação iriamos
muito longe, e de longe, e1n geral, a gente enxerga n1e-
de çaiçú, amar, faz-se içaiçupyra, amado, querido.
nos ; contentem-se os meus paci•e'ntes ouvintes com essas
<le jucá, matar, faz-se íjucápyra, môrto.
"pintas" de ouro, signaes apenas, 1nas evid~tes, da
r ·O verbo u, que significa cÓmer, alimentar-se·, dará mina exhuberante que espera. a vossa visita e a luz de
como já ié sabido, o particípio nominal uára ou guára, vossa cultura.
que diz naturalmente': o comedor. Pois bem, e:sse ipar-
1
•
,.,
.. PRIMEIRAS
;..
NOÇOES DE 'I'UPI PRIMEIRAS NOÇOES DE TUPI 85
•
Para evitar confusões e para evitar tambem que a Çuí - corresponde ao ex latino, ou a
~educçãü do assumpto nôs leve para commentarios lon- de, do, da, de nossa lingua. Ex.
gos e .descabidos no momento, vamos citar tão rapid.a- Acêm óca çuí, sahiu de casa.
n1ente quanto possivel, as principaes posposições, das ,
, çup1 - vale aexpressão latina, secun-
estudadas por Figueira, e apenas um exemplo elucida-
dum, ou como, com, conforme.
tivo sobre o en1prego ·dellas nas phrases.
A ltera-se, ás vezes, pa.r a rupt.
São as seguintes :
Ex. Chê rupi, commigo, segun-
mô ou bô - significa. o m~sn10·, que per em la- do meu modo de pensar ou de
.
tim, isto é, por, Pie lo, pela. ' Ex. agir. . '•
Açô caábo, eu vou pelo matto, poçe --. significa. co1n, commígo, mas tra-
A
tuguez. 'Ex.- Jtaçoçê, sobre as pe- reçê - por caus~ de, por amor d.e, j;or,
dr~$, por cima das pedras. peZo, etc. Ex. Santa Curuç(i ran-
tobakê - em presença de, déante de, etc. gába recê, pelo signal da Santa
•
Ex. cherobakê, deante de mim, Cruz; Tupã reçê, por amor de
' D eus, juro por ;Deus.
em minha presença.
)
86 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 87
, . ,
coty - e o mesmo que v ersus, isto e, Os mais conhecidos 'é uzados são :
contra, ·em contrario,. Ex. hê e de mvdo - ecatú, •b em; meo.án, mal ; yauê, as-
coty, contra mim. sim; mahy, como.
i - corresponde a ad ~ circa <los la- de lagar - ikê, aqui; m.ime, alli; apê, longe;
tinos. Ex. Ajuri, isto é, ajúr-i, apê-catú, lá longe.
ao pescoço. de tempo - mairarê, amanhã; ariry, depois;
ra~hê, ainda.
pupe -
A
CONJUNÇõES
os adverbias de 'O ut ras linguas, elles se classificam em
adver.bios d e tempo, de n1odo, de quantidade, de lugar, As conjunções podem, em tupi, como em p ortu-
etc. I sso sabem todos. guez, ser: copulativas, adversativas, causa•es, etc. Nada
..
88 PRIMEIRAS NOÇÕES DE ·TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 89
existe de complexo no sieu estudo, ou applicação, que nos estes meus éonceitos muito fracos, estas minhas lições
obrigue a prolongar por mais .t empo ainda estas mono- vertiginosas de alguma for1na chegaram até voss~ ahna,
tonas e ásperas e..."'Cplicações. Citemos algun1as ao accaso : e vos convenceram da facilidade desta língua, muito ga-
nhamos nós, eu querendo ensinar, e vós com1nigo apren-
mahy - como, porque. dendo.
A O
QUARTA PALESTRA
, .
Construeção da phrnise tupl. In'ter'priet'a~ão de termo& da fim&,
f·nu.n,q e geogrnphfa do Bnl.911•
• I
'
•
,.,
92 PRIMEIRAS NOÇOES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 93
são, é o emprego obrigatorio de certas partículas, ad- ses, a resalva de sua responsabilidade sobre a veracida-
verbios e preposições, no final das phrases. O modo de de do que narrava ou referia, dizendo: contam ... di-
traduzir as ideias influem tambem no meneio das ora- zem. . . fallam ...
ções, e nôs dá impressão de phraseado inc-01npleto ou Elle, narrador, nada garantia; os outros, os anti-
-demasiadamente synthetico. Pura impressão que se des- gos, ·esses é que contavam, fallavam, diziam. Mas não
faz por inteiro, logo após nôs termos habituado a ouvir nos desviemos do assumpto. Em resumo, e ·de accôrdo
ou lêr a língua. 1 ' com traducção quasi literal, a lenda diz assim:
Por isso, em lugar de repetir ·o .que todos os com-
pend'ios consignam em relaçã9 á synthaX1e' pre.fe.. "No cotneço não ·h avia noite; só o dia rei-
. -
rimos vôs apresentar um f ragm.et}to de len:d a tupi, es.:. nava SQbre a te'I".r a; a noite est~va, a<lormeci·da
cripto ein tupi, e ond•e todas aquellas a-egras que dén~os no fundo dos rios. Não havia tan1bem animaes
em aulas passadas, e todas as que ·deixamos <le dar ago- porque todas. as cousas e seres fallavam. N es-
ra, estão evidentemente applicadas de modo a .per1nittir se tempo, a filha do Cobra-gr~nde casara-se
immediata comprehensão. Ahi se percebem, alêm das com um rapaz que tinha três criados muito
regras, um pouco da índole <la. lingua e da caract~'risti fieis. Uim dia elle chamott os criados e disse:
ca maneira de traduzir ideias. Pertence elle á uma das ide pass·e·a r porque minh.a esposa não quer dor-
mais rbellas historietas ou l·endas selvagens, colhidas 1nir commigo. Os famulos foram-se, e elle len1-
.pelo General Couto de Magalhães <la propria bocca <los brou á companheira que deviam dorn1ir. A fi-
incolas. O facto de se achar escripto en1 tupi moderno lha do Cobra-grande respon.d eu :
ou nheengatú, em nada altera o fim que temos e~ vis- - Ain·d a não é noite.
ta, isto é, mostrar a organisação das phrases. - Mas não ha noite, rcl.isse o .rapaz, so-
Tem, como ' se verá, qualquer cousa dos versículos 1nertte existe dia.'
bíblicos, n1as é ,p rofundamente ,original ha vestidura dos ,E ntão a iespb·s a f aliou : n1eu pae tem a noi-
pensamentos que o i~tegralisam. E' de notar-se, tam- te ein casa delle; si queres dormir, manda bus-
bem, que o aborígene, quando contava algun1 caso ou cai-a. E' só seguir o .grande rio. .Q moço cha-
repetia alguma de suas lendas antigas, punha sempre, mou os três f amulos, e a moça os mandou á
.1ns1stentemente,
. .
capri.ch0.same~te, pelo meio das phra-
,
casa de seu pae para que trouxessem um ca-
'
94 PRIMEIRAS
..
NOÇOES DE TUPI PRIMEIRAS
,..,
NOÇOES DE TUPI 95
I
roço de tucuman. Partiram, êhegaram á casa Cobra-grande disse: vou agora, para sempre,
do Cobra-grande, e ieste lhes entregou o caro- separar o dia da noite, e enrolando um fio fez
ço que continha a noite. Mas cuidado, avisou ' um cujubim d•e cabeça branca como a ta:batin-
o velho, não o abram pelo caminho porque tu- ga. E disse ao passaro : cantarás para todo o
·do se perde·r á. E com cuidado vin.ham os re- sempre, quando a manhã vier raiando. Depois,
ma·dores de retôt,µo, 'eis sinão ·quando ouvem de outro fio, sobre o qual jogou u·m punhado
, . <lentro da semente da noite um barulho assim: de cinza, fez a inan1bú <lizendo: tú cantarás á
ten, ten, ten, xi. . . Era o barulho dos g.rillos · tarde, quando a noite vier surgindo.
'
e dos sa:pos que canta1n de noi.te. E continua- {
De então para cá todos -0s passaros cati-
•
ra1n a viagem, remando f o.i:te. De repente, não tam ein horas proprias, ·e d'e madrugada, para
mais suportando a curiosidade de saihe'r que ' alegrar o nascer do dia.
barulho era aquelle, reuniram-se no meio da Quando os três !amulos chegaram, o mo-
, canôa, f izeram fogo, der.r eteram o breu que fe- ço assim fallou: fôstes inf ieis, soltastes a noite
chava o caroço e . . . e tudo escurece·u violenta- e tudo .se transformou e perdeu. Vós agora,
mente. A noite tinha sahi<lo do caroço <le tu- transmudados em macacos, andareis para todo
cuman. Nesse insta11te, longe, lá na cabana o sempre pelos gal1hos dos páus. F-0i assim que
nupcial, souberam os que esperavam as som- se enchieu o mundo, contam, de peixes, <le pa-
bras para dormir, que a semente fôra aberta. tos, de passaros e de macacos."
,
Elles soltaram a noi.te, disse a moça offe-
Em tupi, as primeiras phrases dessa lenda, ·que tem
gante, vamos agora esperar o amanhecer. E
talvez relações com o caso de Adão e Eva, diz-se assim:
n1al dizia essas palavras, todas as cousas que
'
' estavam espalhados pelo rio se
transformaram ' I upirungáua ramê intimahã pitúna ; ára
em peixes e ein outros ani~aes aquaticos. ·U m . anhum opaim ára opê. Pitúna okér:i oikô y ri-
'
pipe. Intimahã çoôetá ;. opaim mahã onh·eên.
pescaidor e ·sua. canôa viraram pato. Da cabeça
do pescador sahiu a cabeça do pato, da canôa, Boiauçú membira, ipahá, oiumendáre iepê curu-
. , .,
m1n-uçu irumo.
o corpo do pato, e dos remos, as ·pernas do pato. I
'
• •
Mas afinal raiou a manhã, e a filha do Quahá curumin--uçú orekô moç~p1ra mia-
'
\
•
96 PRIMEIRAS NOÇÕES DE. TUPl · t>RIMEI~AS NOÇÕES DÊ - Tui'i 91
çúa catúretê. Oiepê ára upê ocenôim moçapira não dormir quer eu com. Os famulos foram-se. Então
miaçúa onheên aetá çupê : Pecôim peoatá; ce- elle chamou sua mulher dormir .p ara elle com. Sua mu-
remirecô inti okéri putári ce irúmo. lhier respondeu: não ainda noite. Não ha noite: dia so-
Miaçúa oço-ãna. Aramê ahê ocenôim xc- mente. Meu pae tem noite. Dormir queres se eu com tu
mericô okiéri arã1na ahê irún10. mandes buscar ella, .r io pelo. Elle chamou os tres criél;-
Xemirecô oçuaxára : dos ; sua mulher mandou elles de seu .p ae casa á, irem
- Inti raim pitúna. buscar para, um de tucumã caroço. Elles chegaram
- Intimahã pitúna; ára ãnhum. 1
quando do Cobra-grande casa, em, este deu elles ·u m de
- Ce rúba orekô pit,úna. , 'Rekéri p'u tári · tucumã caroço, fechado vertdadeirament:e, disse : aqui es-
ramê c~ irúmo- . remundú .piâmo ahê, .p aranâ ru- tá; levae; mas não o abraes. . . Abrirdes se o, vos per-
pi. A1hê ocenôin1 moçapira miaçúa; xemirekõ ·dereis. Os criados foram-se, ouviram barulho do tu-
omundú aetá i rúba óca pyri, oçô opiámo arã- cumã caroço deritro: ten, ten, ten, ten, xi ...
' ma iepê tucumã tain·ha. Aetá ocyca ramê Boia- Eis ahi. Com este pequeno exemplo de :texto tupi
)
uçú óca upê, quahá omeheê aetá oiepê tucumã moderno, estão os meus bondosos ouvintes habilitados a
rainha, 0 iucikináu retê, onheên. Kuçulcúí ãne; affirmar que a língua de nossos antepassados não éra
reraçô; tenhê, curí .p e pirári ! .. Pepirári ramê uma lingua barbara, não éra a "língua de bugre", como
pecanhyma curí. desdenhosamente dizem, entre sorrisos ironicos, os que
Miaçúa oçô ãna, ocel].ã teapú tucumã rai- se ·envaidecem de f allar muito mal em f rancez ·de res-
1
nh~ pupê: ten, ten, ten, ten, xi. . . etc., etc. ,taurante, ou de traduzití ignobilmente o que os artistas
'
• de cin.ema microphonam em inglez. . . depois que appa-
Isto, traduzido, palavra por palavra, será: O prin- rece q providencial letreiro em portuguez. Emfin1, nós
cipio durante não navia. noite; dia son1ente todo tempo sabe·mos um pouco de tupi e é quanto basta.
·e·m. A noite adorllJ.ecida está da: agua no f undó. Não ha-
1
N·oço
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PRIMEIRAS .,...E
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., TU"t
J;'
Pll!MEIRAS NOÇÕES DE TUPI 99
'
grammatica ç da indole da lingua, s~ te.n ha. sempre ~m Óra, quem se qfastar dessa orie~tação, quem quizex:
vista 0 primitivismo da vi•d á de nos~o abor1ge~e, a sua. emp!'~star ao in<lio ideias que elle não tinha, traduzil-as
rudhnentarissima cultura e o seu modo particular de ·d e modo diV"erso do seu, chegará a interpreitações que po-
denominar as cousas, os seres, e os lugares. dem ser muito bonitas, muito inspiradas, mas que posi-
o indio sempre descrevia ou salientava os taracte- tivamente não dirão a verdade, que não passarão de
r:isticos marcantes da cousa ou do sêr que d~nominava, simples phantasias .etymologicas ou lit!erarias. Ou nós
característ icos que 0 eram sob o seu exclusivo ponto de ;nôs collocamos no plano cultural e na época do aborttge-
vista, muito diverso, ás vezes,. ~o nosso actual. Ha um ne para comprehen·d ermos o seu pensament0 e 0 seu
ex emplo extre1namente frisante, citado. por Affon.s o de' ' módo de V·e r as ·cousas, ou erraremos lamentavelme·nte
Freitas, que convem relembrar; o bot, como se sabe, con1n1ettendo verdadeiros attentaidqs contra a sua lingua'
chegou ao Brasil annos após a descoberta, e receb~u, co- e a sua índole. ·
mo é natural, uma d enominação <lada pelos abortgen:s,
Toda palavra ou phrase tupi tem forçosamente
que como sempre, reflecte todos os d~t~l·hes,.. de uma agu-
díssima observação. Viram que o boi era tao corpul:nto - .
um(! traducção expontanea, clar.a, facil '<: logica; si ella
nao se apresenta desde logo, é porque a palavra está
' ' quanto 0 maior animal de nossfs selvas, a a~ta ; v1x:an1 ,, ~dultera<la p_e.l o u.zo de seculos ii~teiros, inal gi-aRhada,
'qu.e , 'c omo 0 veado, o boi mastig.a,va e. remast1g~va, .isto 1
· ou. porque nao .f 01 composta e: uzaida pelo indio. Eri1 re-
é, ruminava; assignalaram a ex1stenc1a dos ch1f fries, e su1no: toda interpiietação ou t raducção de tern1os tupis,
fizeram notar que éria animal vindo de fóra, extranho quando .obtida á Gusta de considerações longas, de elas-
ao paiz. Todas essas observações traduzidas. em ~~a ticas cadeias de ideias ou de apenas provaveis habitas
vras de sua língua, deram em resultado : .J.a:é_?raçuuaç,a- in<ligenas é, pode-se af firmar, 11e·d ondamente falsa.
,
uára nome brasiEco do boi. U ára, no final da palavra, E' mil v ezes preferivel não traduzir, não interpre-
~--'
.[ . .de
r educção de relamauára, ·q ue ·diz : de outra patr1a: ta:, á ..interpretar ou traduzir! con1 falsida:de. Si no pro- ·
fóra, etc. Dess.~ , n1e~ma fórma, com esse mesmo cuida- ,pr10 portuguez, a inda hoje, ha um sen1 nun1ero de pala-
do, sob •e sse mesmo criterio, foran1 co1npostas todas as vras cuja etymologia os grand1e·s grammaticos não expli-
phras~s que nós hoj e cha1namos palavras, e qW:
sie-rve:- cam, porque 1have1nos nós ,de nôs darmos á vaidade to·
para nomear rios, montanhas, aldeas, aves, peixes, a líssima <le querer traduzir todos os .t ermos de uma lin-
vores, etc. gua, cujas raizes primaciaes muitas vtzes -não se per-
"
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org •
cebem, e que soffreu toda sorte de deturpaçõe's e de in- que a palavra media <la expressão seja pãu ou pan-hu, que
fluencias as mais variadas. significa e~actamente aquillo que fica no meio, entre ou- •
Os mel~Jes guias, conven?1mo-nos disso, para a tras cousas. Tudo assim singelamente observado, como
'
boa intetip~ção, devem ~r agora e sempre: o conhe- se fosse pe'lo .p roprio índio, chega-se mathematicamente
cimento eral da grammatica, üs velhos documentos es- .á fórma: Itá-pãu-apina ou á ltapanhuapi.na, que diz:
cr.i t'M q e nos legaram os que ;d irectamente trataram pedra limpa do meio, o rochedo central. Só o conheci-
l cfm os ·ndios, 0 conhecimento dos caracteristicos dos mento do local e as graphias, embóra erradas dos velhos
o.bjectos, dos sêres e dos locae.s denominados e, s?br~ 1documentos, podiam permittir essa traducção que, sup ..
tudo, 0 bom senso, que nôs lembrará sempre que o 1nd10 pômos con,victamente, é a vierdadeira, porque é sim·ples
. . . .
era pouquissimo culto n;i<LS m~it1ss1mo perspicaz. e expontanea.
Vejamos um exemplo: que significará a .e xpressão Ha, em todo caso, outras expressões que se apre-
tapanhapináa, tapinhoapind'a ou tapanhapi.na~ Sen1 sa- seµtam integraes, cuja interpretação não apresenta dif-
·b ermos de que se trata, dif ficil será qualquer interpreta- ficuldadre alguma, desde que aquelles preceitos citados
ção, pois evi<len,temente o vocabulo iestá adulterado, co- sejam levados em bôa conta.
mo provam a~ três graphias diversas. Paranapiacaba é um exemplo notavel, denominan-
Mas eu vos digo que assim se denomina uma gran- do como denomina aquelle ponto mais alto <la Serra de
de ;p edra inteiramente despida de V1egetação, e que cons- Santos, de onde se descortina, como é sabido, um dos
titue um p onto, notavel entre o·s mais, de uma serra dos • mais bellos panoramas do mundo. Que se vê d·e' mais
arrabaldes <le Cananéa. · taracteristico quando se attinge o ponto ·c ulminante da
'
.Si se trata de uma pedra, é provavel qu~ em luga~ serrania? O mar, o .immenso mar azul, como o maior
<le ta, inicial, se possa dizer itá, que signifi:a p~d~çc;, st dos rios, estendido desde a praia longínqua até a linha
essa pedra é inteiramente despida de vegetaçao, s1 e n~a, 1 • \longínqua {lo horizonte, esbatida erri nevoas claras. E o
si é como que lavrada, é .possiv1Cl que o fina~ da terce~ra que diz a expressão Paranapiaca;ba, , tão linda e .p ura-
fórn1a graphica seja Q vetidadeiro, porque pina ou a.pin.a mente tupi? ·D iz com toda p. sua singeleza :1 lugar de on-
exprime com rigor aquillo que é Jimpo, que é lav~ado; de se vê o nwr ... Paranã é o mar, apiáca é o verbo ver,
si a pedra está ·de facto saliente e central, no meto de e cába é. o suf fixo conhecido que indica. o logar em que
outras pedras n1enores, como de facto está, é quasi certo se realiza~ acção do vetbo. Paranapiacaba, lugar de on-
•
102 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 103
de se avista o n1ar, q miranwr, con10 elegantemente lem- de itá-apê-tininga, <lirá a pedra chata s&ca ou o cami-
bra Baptista Caetano. Nada ma.is simples e nem mais nho de pedra, enxuto; itamaracá é o chocalho <le madei-
bello. ra dura ou de metal, o guizo, nem mais nem menos ; ita-
E, si paranã é o mar ou o rio grande. Paranãpane- curuçá, sendo curuçá a maneira tupi de pronuncia1i a pa-
ma ha de ser o rio iinpre·stavel, o rio encachoeirado, que lavra portuguie-za - cruz-, será a cruz de pedra, o cru-
não se prestq. para. a navegação ; paranaguassú ou para- zeiro, tão commum á frente <las· capellinhas coloniaes;
guassú, o rio grandíssimo, o mar largo, o oceano ; para- itambé ou itá-aimbé, é somente a pedra. ponteaguda, a
naguá, o seio do mar, 'a ens1ea.da, a bahia, e paranapucú agulpeta de pedra; itatyba, si tyba é suffixo que denota ·
o mar comprido, o braç~ de mar, o cahal maritimo. abundancia, dirrá o pe1d regal, o sitio em que ha tnuita:
Si ytú ·diz a .agua que cahe, a queda da agua, a ca- pedra; itaúna, vê-se logo, .é a pedra preta, talvez o ferro;
choei11a, .ytuporanga dirá naturalment~ a cachoeira boni- itapetinga, de itá-péba-tinga, diz naturalmente pedra cha-
ta; ytutinga, a cachoeira de aguas brancas, de espuma- ta branca, lage branca; itapeceryca ou itá-peba-ceryca
rada 1branta; ytupéva ?U ytupéba será a cachoeira bai- que, palavra a palavra, exprime a pedra chata escorre-
xa, rasteira, a corredeira, emf im; ytuverava ou ytube- gadia ou o lagedo escorregadio; itapari e itaparica, nada
raba, a cachoeira resplendente, a qu1e br\ilha aos raios do mais significam sinão o cercado de pedra, a barragem de
sol. pedra, porque pari ér a exactamente o cerco de apanha.r
Si itá diz a pedra., o objecto duro, o metal, itatinga peixe, a pequena barragem q uie se fazia. para prender os
dirá a pedra branca, o metal branco, a prata, por exem- peixes; itaypú, sendo ypú a agua que borbóta, que sahe
plo ; itajúba, sen·do a pedra amarella ou o ouro, itajubá da pedra, a agua da pedra, a fonte, a nascente; itaçocê é
será o capaz de ouro, o que produz ouro, a mina de apenas o modo de dizer: sobre as pedras, por_ cima das
ouro, portanto; itaporanga é simplesmente a pedra. boni- pedras ; itararé ha de ser a. pedra escondida, a pedra
ta,' corno itapirç, ou ita'Çira 6 a pedra erguida, a ped'r a le-
. 1
submersa.
·varitada; it.amirim é a pedra ,p~quena e itaguaçú é a pe-
'. Si ta tá quer ·dizer o fogo,. tatáp·óra' ou catápóra 4iz
tlra grande~ itdpemirim não' é mais 'que itá-péba-mirim, o fogo interno, o calor que vem <le dentro, ,e tatárana' ou
isto é, pedra chata 'P'equena ou lage pequena, a laginha;
tatorana, simplesm e·n te aquillo que parece fogo, que
1
prime sen1elhança, parecença ou tambe1n falso, imitado~ se estabelecer um alphabeto especial para o tupi, com-
etc, , pletamente livre de. ligações com o portuguez, não se con-
Si y quer <lizer agua, rio ou liquido, jacare~y e o seguirá evitar essas lamentaveis confusões. Mas siga-
ri-0do jacaré, tatuhy o rio do :tatú, pirapeti1ffJUY o rio dos
.
pira:petingas, dos peixes chamados p1raP'.et1ngas,
. .
11:- mos em noss<i estudo.
Si pirá quer dizer· peixe, piratininga dirá o peix'~
diahy o rio dos peixes jundiás, pacuhy o rio ·dos P cu~, secco, o seccadouro de peixe; pirarucú o peixe vern1e-
mucúry 0 rio das mucús ou das gambás, ypanema o rio lho como o urucú; pirapóra, o viveiro do peixe, o logar
ou a agua ruim, ,ycatú o rio ou a agua bôa, ypiranga o do rio onde o ,p eix'e' se amoita ; piramboiâ é o peixe co-
ri'O de aguas avermellia<las ou barrentas; si ymiritn é o bra, o peixe comprido como cobra, a 1engttia; piracêma
rio pequeno, o corrego ou o riacho, ygua.ssú é o rio :o- tlirá a sahida do .peixe, isto é, a época em que o peixe
lumoso, 0 rio grande e yetê ou tietê é o rio verdadeiro, sabe em cardumes; piraçicaba é o logar em que se apa-
0 rio grandie em sentido abstracto, isto é, util, navegavel, ,n ha .o peixie tom facilidade, o logar que retem o peixe;
•
•
p1scoso. . . pirai é o peixe péqueno, o peixinho; piracanjúba ou pi-
Muitas vezes, a dif ficuldade de pronunciar o y tup1, rá-acánga-juba é o peixe de cabeça. amarella, ·pois acan-
fez com que se grapl).assem varias palavras com u, e p~r ga quer dizer cabeça ,e· jwb{J; ou iuba, amarella ; pirajú ou
isso apparece111 uber(l;ba em 1ogar de yberaba que quer di-
' \ 1 '
'
'
'
'
•
108 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI t>RIMEI~AS NOÇÕES OE TUP-i 109
boia, giráu, guaraná, guarantan, guatambú, içá, jacá, ja- Em tupi, peteca ou peteg, significa apenas bater,
raráca, nwnguari, mingáu, 1ninhoca, moranga, momba- golpear com a mão ; em nossa linguagem popular, pet,eca
va, mondéo, moqueca, muquirana, nheên-nheên, paçoca, é tambem a creatura que é atirada, <le um lado para ou-
pararáca, pari, pereréca, per.qba, peteca, peteleco·, piá, tro, que anda á matroca. Esposa que se su.bmette sem
t
piassaba, pichainJ picunian, pinàahyba, pipoca, piquira, protestos ás exigencias do marido, que v~e para onde
pirajá, pirão, piririca, pitanga, pium, piúva, pororóca, ielle ordena que vá, essa é, para o povo, uma petéca.
potirão ou muchi:ão, purunga, pururúca, quirera, sacy, Da mocinha que frequenta todos os bailes, que falla
samburá, sapé, sarará, sauva, siri, soror:óca, suan, suru- corri todo o mundo, que se enfeita em demasia, <liz-se
que e uma sapecq, ou, mais gen.erosam~te, U:ma sape-
# • •
'
'
110 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 1 PRIMEin.ÃS NOÇÕES ÔÊ TUPI 111
designar qualquer cousa ou pessôa que tem aquella pro- nos permittiu o tempo inexoravel que nãÕ espera, que
priedade. Tanto póde ser o pião pereréca, como o meni- não pára, que nã·o attende. Direis por certo que nada
,
' no perereca. vôs disse sobre as expressões Anhangabahu, Ta:man-
Guarápa é um adjectivo tupi que· significa o revol- duatehyJ e sobre esta e sobre aquella, 1e sobre uma mul-
vido, o remexido. Guarapa, pana nós, alêm da. bebida ti-dão de palavras que estão nos vossos labios, que es-
refrigerante, traduz tambem facilidade em obter-se tão nos jornaes de hoje, que estão nas f>lacas das ruas
1
qualquer objecto ou vantagens. Diz-se commumente: em que residís. . . mas que havia eu <le fazer? Si me
aquillo foi uma guarápa, oh·e:guei, fallei com ·o homem e demorasse , em justificar as traducções dos termos e
'
,tudo se arranjou no mesn1ô dia'~ ·Não s·ei. porque dizemos > ·phra:ses de constituição complexa, · nãQ <teria idb a,lêtrt
garápa em luga'r ·d e guarapá . ..· · de duas ou tres noticias. E nosso programma exige mui-
CuéraJ suf fixo muito conhecido, póde significar: o to em pouco tempo. Despresei por isso os detalhes, evi_.
esperto, o sabído, o velhaco. Nós .todos sabemos bem o tei divagações inuteis, procurei no vasto acervo voca-
que é um sujeito citéra ... Mingáu é puro tupi, com a bular <lo tupi, apenas os termos que pudessem vôs in-
simples mudança de accento, deslocado por nosso povo. teréssar majs jmmediatamente; pão disse nada de novo
Si dissermos mingaúJ lembramos o comer empapado. que levantasse d'uvidas p·erigosas, não palmilhei sinão
Cateretê, que é catira-etê, <liz o bailado verdadeiro. caminhos abertos pelos mestres da língua, e, assim, res-
o que Anchieta permittiu que os índios .p raticassem nas peitando rigorosamente os intuitos deste nobre Centro
procissões 11e'ligiosas. De pichaini, que diz o emmaranha- de cultura, não passei das primeiras n·oções indisp'c n-
nhado, o encaracolado; de bib.qca que é yby-boc, a terra ,saveis para uma ideia geral do idioma bra:silico.
fendida, ou yby-b-óca, a casa de terra; de muquirána; Assim terminamos, certos ·de que em vosso espiri-
que significa o semelhante ,ao piolho, que parece piolho, ta 1
. .
ficou ao menos a certeza da •existencia d.e uma lin-·
todos conhecem a applicação e o sentido popular. gua .que é "elegante sim, mas extranha e copiosa". E
. ' \
1
• 1
. Mas precisam·os terminar, precisamos dar ao vos- si essa certeza ·ié para vós uma satisf,ação, para mim é
~ ' .
so· cereb1:o um pouco de {h~scanço. Do muito que que-
' \
o melhor e o unico p'l1emio que podia esperar merecer,
riamos dizer, das centenas de palavras que nos surgiam · de quem tanto já de mim merecia.
pedindo uma referencia nestas ·b revíssimas notas de
hoje, só pudemos aproveitar algumas tantas, quantas (31 - agosto - 1933)
, ,
,
• ..
QUIN:TA PALESTRA
• '
"
•
1
'
Dos varios dialectos, mais ou menos assemelhaveis,
fallados no Bra.sil e ·em algumas .outras regiões da Ame-
r ica <lo Sul, os da grande familia tupi, foram incontes-
tavelmente os que mereceram maiores estudos, e são
tambem os que mais directamente nôs devem interes-
sar.
Sem que haja necessidade de entrar em detalhes,
·pode-se acceitar a ori•entação de L uci.en Adam, e deno-
minar Abanheenga, d'e fórma generica., os arttigos dia-
• 1
1
'
114 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPl PRIMEIRAS NOÇÔES DÊ TUPI 115 '
o tupi que nqs énsinam Anthieta e Figueira, e o velho As variações de pronuncia e ·g raphia entre o tupi
. ' 1
.guarani que no~ 'e nsina Montoya. . ant~g,o .e o nheengat·ú , einbóra 'bastante sensivreis ein a1- ·
Alguns autores preferem chamar o guarani, guns phonemas, rião são de molde a impedir, á quern
Aba:nheenga ·do Sul, e dar ao tupi, que uzualmen~e cha- estude um delles, a comprehensão immediata do outro.
mamos Lingua Geral, a designação <le Abanheenga do Ma's, para o estudo die cada um daquelles grupos,
Nórte. De uma fórma, porém, ou de outra, a verdade é ha um certo numero <le obras que se podem considerar
que os principaes dialectos <la fan1ilia tupi, em quatro classicas, e que nós, apen,a s para conhecimento de nos-
grandes ramos se podem dividir ou cla$sif icar:
. . '. .
. sos generosos ouvintes, vamos ,c itar ·se1n commentar1os
• ,, 1
'
•te pel~s. car~cteris. ticas diale~taes, muito pequenas ,aliá,s, 'matica da Eingua mais uzada' na costa dQ, Bra,sil, edi-
. ·0 µ pelas- a.1teraçõ<rs' que ,ca,d a un1 delles sof freu. atravez . l· tada em 1595 e Arte dá Granvm;âtica da Li11g'lia do..Br~
tados Q Dialectus Vulgaris de ·Martius, o Selvagem de tuitos varios, .foram obrigados a aprender e a faltar a ~ l v··•l'!:>'I
j'.
·C outo de Magalhães, The Brasilian language · and its lingua dos abot}genes, desde que com elles 1entraram em
agglutination de Amaro Cavalcanti, ~ a Poranduba relações.
Amazonense de Barbosa Rodrigues. E aprenderam-na, e fallaram-na por longas deze-
Eis ahi, nessa pequena resenha de obras e de au- nas de annos, adoptando as suas vozes nas denomina-
tores, o quanto é estrictamente necessario para um es- ções toponymicas, uzando de seus vocabulos syntheti-
tudo eleva.do e honesto, destinado a produz.ir -0s fructôs
1
cos, mesmo quando se exprimiam no idioma portuguez.
·que .u1n espirito culto possa desejar. · Por isso, a lingua indígena da costa tornou-se em pou-
Em verdade, não são -Obras para principiantes, não co tempo a lingtia mais praticada entre os diversos nu-
são livros didaticos, não se aconselham para os primei- cleos ·de população, a. lingua geral, emfim. Devem á
ros passos, com excepção talvez do livro de Couto .de esse facto, os colonisadores e os catechistas, todas as
Magalhães. Os seus autores são, porêm, _o s mais abali- f acilidad es que encontraram para a catechese e para o
1
sados, os mais profundos conhecedores da lingua, e commercio. Fosse a faixa litorana habitada por povos
precisam, por isso, estar sempre á mão para as consul-. de linguas completamente diversas, e é certo que a co-
tas indispens.~veis. , · · .' , lonisação se processaria com diffi~uldades imp0ssivet~
. Lingi'.td que· teve neste C~ntro u1na primeira t~ú- de se "ima'gina'r. o mesmo jesuíta que 'propagava a íé '
tativa de curso elementar, não pôde ainda ·di~pôr de no extremo nórte do Paiz, podia, sem outras preoccupa~
compendios e d e obras elementares. Dentre os moder·
1 ções, vir propagai-a no Rio de Janeiro ou em São Pau-
•
nos cultores do tupí, varios poderiamas indicar, mas lo ; o mesmo commerciante que se entendia com os tu-
, não queremos ferir susceptibilidades, esquecendo uns pinambás do nórte, fallava e se 1entendia na mesma lin-
para. lembrar outros. O que ha de mais alto, de mais gua com os tamoyos ou guayanás do sul.
p\,\ro ~ çle. i:na.is valia, la, ~stá naquella singela rel.ação, e Mas, dessa formosíssima lingua geral, desse im-
~
' ' ' '' ~ "'.\ " 1 •• • , •
<lo Anchieta, Figueira e -Montoya? Teria restado ape- esteios mais fortes de nossa nacionalidade, o inimigo
nas, como restara.m de outras línguas ditas tapuias, va- maior do portuguez violeµto e escravisador do incola
gas rembranças sem vida, em vagas denominações geo- indefeso, os unicos salvadores do riquíssimo ·p atrimonio
graphicas sem valor. linguistico da America do Sul.
Se foi o colono, si foi {) aventureiro, si foi o ban- Nada mais tive'ssem f1eito, tivessem apenas nôs le-
/
deit:ante, principalmente, que tornou geral a lingua dos gado as obras preciosas que nos legaran1, e ainda assim
:brasís da costa, levando-a c9n1 sua ambição e com o seu mereceriam as nossas maiores homenagens e o nosso
•
ideal aos mais longínquos ri~1cões do contipente, failan- ,profundo reconhecimento. Si muitos nomes fulguram
,do-a sob os céos de todos os quadrantes, e impondo-a nessa en1preza toda dedicada á defensã,o das línguas
pela força de suas armas e pelo prestigio ·de sua pre- am~ricanas, três somente queremos ,lembrar, porque são
sença de gigantes, aos aécidentes da terra brasileira, foi como vertiêes illuminados de um immenso triangulo,
o jesuita, no silencio de suas noites de vigília, no rê- cuja área imn1ensa contém um ·dos mais bellos panora-
• • • • •
cesso de seus mosteiros pr1m1t1vos, nos poucos momen- mas idiomaticos do mundo: Anchieta, Figueira e Mon-
tos de calma e de descanço que, previdente e sabio, toya.
idiealista e generoso, colheu e recolheu, buscou e rebus- O primeiro, resumindo nas poucas paginas de sua
cou, guardou e protegeu as vózes maviosas da língua, "Arte" toda a riqueza do tupi sulino, Figueira consi-
para que murmurassem e se unissem em phrases cheias gnando característicos do fallar do nórte, e Montoya
.de harmonia e de belleza, não ·p ara en.canto de seus ou- carreando todas as gemmas do guarani para o seu "'1'e-
vid.os de ascetas, mas para a per·p etuidade da rembran- soro", confundem-se, amoldam-se, completam-se para
ça de um povo que nada mais podia. offerecer sinão sua erguer bem alto, os dois esgalhos mais virentes de um
'
lingua, espelho esple·n dido de sua alma ingenua e cari- tronco linguístico, perdido nas sombras densas dos se-
nhosa. ·. t çulos sem tradiçãp.
' Abnegados em quasi' todas as suas attitudes, super-. E de tal arte se unificam,. que: qualquer estudo so-
r 1
hotnens em quasi todos os seus trabalhos d•e ca.techese bre o tupi ou guarani;ha' de forçoSanJente se !ba:sear nas
' .
e ·d e protecção incondicional ao índio, foram aind~, os obras desses tres jesuítas, que são tres mestres 1insus-
jesuítas, por mais que os desestimem os. que nelles que- 1 peitos e, prof icientissimos. ~
ren1 apenas ver os filhos çle uma ordem religi-0sa, os Nenhum delles •era verdadeiro .philologo, diz Ber- r
"
r
'120 PRifvIEIRAS NOÇÕES DE TUPI , · PRIMEIRAS NOÇÕES DE, TUPI I 121
' 1
,
toni, mas para o fim que se propunham não havia ne- sil, desembarcou, na Bahia, um moço de roupeta negra,
cessidade in<lispensavel de o ser. Bastava que fossem pallido e encurvadD, de olhar sereno e de gestos meigos.
fieis e exactos, e foram. Si no estudo philologico da Viéra :em busca de sa,ude fugidia, e deixára, na
lingua não se mostram taes com-o á muitos -parece que 1nodesta trajectoria dé seus 19 annos, gizada eµtre as
se deviam mostrar, issq foi apenas porque a linguística, ·Canarias e Coimbra, pontos cheios de luz e fulguraçÕ{!S
sciencia essencialmente comparativa, com esse caracter extranhas de predestinado. Sem prever, jamais, que vi-
ainda não havia nascido ... ria passar no Brasil os dilatados dias de sua vida, en-
Só quem se dedicar com amor ao estudo .do idio- tre os vicios ,.desenfreados do colono e a nudez inno-
1
ma brasili.co, poderá avaliar a grandeza e a· ·honestidade cente düs indígenas, quasi criança ainda, diante· de: um
das Dbras ·desses precursores. Mas não nos alonguemos. altar, erguendo os olhos humildes para o céo, jurou
em elogios inteiramente· inuteis, aos que três seculos castidade eterna, para que seu corpo não se mar;chasse
consagraram -p or mil f órmas diversas. nunca na vertigem da éarrre f rag~l e na loucura dos im-
Para qu1e possamos, de algl)m modo, prestar uma
. .
petos traiçoeiros. •. .
'
,
1
pequenina homenagem á todos os que se empenhar:im E ch.ega'va assim, na púreza do ,corpo trazendo a
em nôs legar os thesouros que hoje acabamos de des- pureza christalina da alma. . . E viu o Brasil immenso,
vendar em parte, escolhamos o nome ·d e um só, o da- ignoto e rude, em toda plenitude de sua pujança ·b ar-
quelle que em nossa terra foi o patriarcha dos profes- bara, sorrindo e cantando no chilreio dos passaros e no
\o I
sores , paulistas, o primeiro gramn1aticô da· lingua tupi, rmurmurio das fontes, gritando 1e inrprecando, no fr-agor
a maior figura de São Paulo e, tambem, Q mais humil- ,dos rios oceanicos, que tombam em cachoeiras vertigi-
de e o melhor <los defensores de nossos desgraçadDS nosas, e na arrancada cyclopica das pororócas tremen- ·
a borigenes, das, convidando e desafiando a pequenez e a ambição
... dos ho1nen,s pela grandeza brutal das florestas cheiro-
'
sas, e ,pelo verde limpido dás esmeraldas de sonh<>. ,
1
AN·CfIIETA. r
E Anchieta, vendo e ouvindo, mal percebe, mal an-
tevê a vastidão da empreza que o espera e a amplitude
Aos 8 de julho de 1553, da nlesma náu imponente do campo que havia de lavrar.
·do Snr. D. D.u ar.te da Costa,. governador;.-geral ,do ~ra-
'
Vae começa.r o seu apostolado, .vão os se.u s p~sso·s
122 PRIMEIRAS -
NOÇOES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 123
marcar no adusto caminho de sua vida, os primeiros qu e illuminassen1 mais tarde, numa floração extra~ha
1
signaes de sua gloria. e divina, o éerebro inculto de seus filhos <las selvas e
Deus o destinára a São Paulo, Deus o queria nas QS corações embrutecidos dos seus irmãos europêus.
planuras hen1ditas de Piratininga. E veio, para gloria E preparava' assim, junto mesmo do sertão inhos-
nossa, cotn vinte annos incompletos, nitnbado pelo ideal P.ito, o ninho· para os futuros condores das "bandeiras",
de ser bon1 e de ser util, e embálou nos braços, carinho- para os que haviam de de'ixar o lar acanhado e pobre
s.amente, este São Paulo que ajudara a baptisar naquel- de Piratininga e ir bater, nos rincões afastados do con-
le ·dia .n1emoravel de 25 de janeiro de 54. Pata uma tinente, as estacas definitivas, de1narcadoras dos limi·
\
Patri~ q\te n~scia ·no al_!o, .par.a áquen1 das escatpas tes de um(.\. patria ·d igna delles, de ·u ma patria tão gran-
• •
agrestes da ,Serra do Mar, longe da trafica1,1ça e das in- de que pudesse conter um dia, no seu coração enorm'e o
trigas da costa, 'sobre uma1
terra, virgem e sob ·um céo . ·orgulh-o justo de seus feitos, e no solo vasto os seus
escampo, não havia padrinho melhor e nem braços mais cqrpos de gigantes.
puros. E São Paulo, que começou a viver naquelle dia, São Paulo e Anchieta; unidos ·p ara as glorias e pa-
desde aquelle dia até hoje, nunca mais ·e·squeceu o seu ra as desgraças, começaram a viver não só para o pre-
maior amigo e o seu maior -protector. sente qu'e é sempre .banal e utilitario, mas para o futu-
Quem lêr as Cartas de Anchieta, quem com elle ,
ro, que e sempre uma esperança e um~ promessa.
vier d1e São Vicente e parar alli, no alto da collina, no
Pateo do Collegio antigo, e lembrar que alli mesmo es- E a villa crescia, e os in<lios bons em torno <lella
teve, numa cabana hu1nillima, o berço hu1nilde de São se aldeavam. Da capellinha ,branca o sino repicava em
Paulo entregue á sua guarda ·e ao seu carinho, e l'e·m - festas nos dias claros de 'Paz, e nas horas solemnes das
•
brar que nessa mesma casinha $em confôrto elle, o mo- preces. Jesuitas, colonos ·e incolas, v:iart1 pelas encostas
ço, Al)chieta, abriu a prim~ira escola e, ensinou as 'pri- ,. .ensombradas do . Tamanduatehy e · do Anhangal;>ahu.,
. '
.1
'
meíras. letras ·aos primeiros' alumnos paulistas, no. mes- surgirem as ·p 'rim~iras lavo.uras ',e rutilarem a.o "Sol 1 bs
' ! li' '
1
Como um santo, antes de semear para o corpo, menteira 'que fez e ·que regou tom o seu suór, brotar e
semeava para o espírito, atirando sementes de luz para rebentar em flor o grão ·bemdito do trigo que é alimen-
,
1
... '
-.' '
124 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TU'l?I 115
to no lar, e h'Ostia alva e santa flO templo. E São Paulo <le todos, no alto de sua colli~a, sem .p ensar no soccorro
, :de ninguem, não pelo orgulho pretenc!oso de sentir-se
era apenas um templo e um lar .••
Mas os annos passam; aos dias calmos de labor forte, mas pela convicção certa ie fria, terrível e positi-
succedem-se os dias tôrvos das af flicções. va <la impossibilidade de o receber.
A inveja que é o apanagio dos impotentes, o odio Anchieta, nesse dia tragico de 10 de junho de 1562,
que é a sombra dos perverso~, e a sêde de destruição quando todos já repousavam DO socegq quasi perdido
que é o ideal dos incapaze~, , corvejam, rondam, fare- de seus tectos, devêra ter entrado para o seu Collegio
jam a villa traball:i~dora do planalto. E vem o ataque ,'~ ~?,, ·. co~ ·São Paulo no coração.
um ·dia, 'e são tamoyos dirigidos por vó~es e gestos in1':. · · ' ~;
1
Ligado tlef initivamente á terra que aceiibava <le de-
J . ' '
per~eptiveis, guayanás r~bellados· por insidias mesqui- . fender, ama,ndo-a e querendo-a cada vez maior, não
111has, extrangeiros que premeditam devastar o que não ' poupa sacrifícios, não se furta aos ma.is arriscados tra-
.p uderam construir. ·balhos para engrandecei-a ie eximil-a de yexarnes e de
Para a defesa nossa havia ap•enas os muros f ra- desditas.
geis do Collegio, a cruz humilde da capella, o corpo Não podemos, nestes poucos instantes que fogem
mirrado d e Anchieta e a lealdade insubornavel de Ti- 1
céleres, recordar toda q. vida e toda a obra do homem
biriçá. Era pouéo, não ha duvida, mas era o bastante que floriu quasi um seculo com sua bondade, e que ha
para succumbirmos com honra.
de ainda florir um altar com o seu nome.
E ·o assalto se effectuou, e o cerco da villa se fez,
Lembremo-nos, porêm, de Y peroig, daquelles me-
, mas Anchieta não cedeu, Tibiriçá não cedeu, São Pau-
zes infindaveis de seu captiveiro voluntario entre os ta-
lo não cedeu ...
moyos de U·batuba, desc~iptos co.m tanta leveza ingenua
Os que dçfendiam 'Os seus lares, as suas roças, as
,. ·p or elle.. mesmo, e recordad9s ha pouco por Torres de
suas crenças, barram, retêm e anniquillan1 o imp·eto vio-
, ,. 1: t. Qlivieira., em conferenciq. · çommemorati:va· de . seus qua-1
' . ••
'
126 PlUMEIRAs NOÇÕES DE TUPl J?RIM~IRAS NOÇÕES DE TúPI 127
iriam, em ascensão gloriosa, <lesfazer-se em petalas e la- · a mais valiosa das homenagens, e o premio melhor que
grirnas no cóllo virgem da Virgem-Mãe, no Céo ... poderia esperar de nós.
• Lembremos as horas de seus dias no inferno da- Mas lembremos ainda a sua obra, modesta e peque-
quellas paragens, no bulício suspeito daquellas selvas, nina, synthese formosa de uma lingua, a sua "Arte" de
no a1nbien,te largo ~ traiçoeiro daquelle dese.r to litoral; grammatka tupi, o livro maximo para todos !.J:ÓS, o es-
lembremos, e lembremos que as torturas moraes que crinio mais bello e mais valioso em .q ue se guardam as
'
sof freu, que as ,vigílias assombradas que curtiu, que as · perolas mais ricas da lingua do ma.is infeliz e desgra.,.
1
maguas corp.oraes que supportbu, era1n o preço por ·que , çado dos póv.os ...
1 '
comprava o socego de São Paulo, o trabalho fecundo de · ~ Si o Destino quiz , que os 'aborigenes brasileiros
' I
'
São Paulo; ·a vida mesma <le S~o P'a ulo ... f ossêm ma,ssacrados, ,sevi<:iados, atiràdos ás gargalhei-
E lembre~os a f11ndação· do Rio de Janeiro, que . ras da escravidão ; que Ds seus lares fossem transf or-
assistiu, os empestados da esquadra de Vald'ez, que am- n1ados em prostibulos e as suas tradisões em phantas-
parou, os indios que salvou da tn?rte, os colonos que magorias ridículas e perversas ; que os seus musculos
salvou das traições inevitaveis, as villas, os portos, as de ferrQ fosem algemas para seus semelhantes; que
choupanas que visitou como pae, as chagas sangrentas seus arcos fossem ~atapultas mercenarias, quiz tambem,
que curou, os alimentos que deu aos necessitados, os na sua exquisita sabedoria, que o mais fraco dos ho-
corpos nús que vestiu, as almas que purificou, a extre- mens fosse seu mais forte protector, que a alma mais
ma-uncção que deu aos moribundos. pura velass·e por sua hopra espesirrha<la, e que um san-
l r
E l·embremo-nos dos meninos que instruiu, dos 1
to escrevesse e guardasse a sua lingua •.•
versos singelos que aompôz, dos autos innqcerI;tes '
que' ,
.
escrev.eu, dos ·documeqtos ins.ubstituiveis', que· deixou, ·
<la. lealda:de con1 que
.
' .qu·e sempre viveú, 'do ·am~r infit;if? que aos companhe~-
rüs s~mpre dedicou, da se'renida:de com que morreu, em,
Reritiba, naquelle anno triste <le
' .
1597·..• {
t
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•
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VOCABULARIO
,.
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•
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-
As palavras que consignamos neste resun1idissimo
vocabulario, são as que haviamas escolhido para escla-
recimento de nossas pal!estras semanaes. A escassez
absoluta <le tempo não permittiu, entretanto, que f os-
sem todas citadas. O leitor curioso poderá agóra, sem
grandes difficuldades, applicar em casos varios as re-
gras grammaticaes expostas, 'f3 verificar as profu~das
alterações que soffreram alguns vocabulos tupis.
Para as interpretações que damos, seguimos quasi
sempre os ensinamentos de Baptista Caetano, contidos
no monumental "Voca·? ulario" publicado no vol. VII
dos Annaes da Biblioth•e·ca Nacional.
'
. 'Muito.s <;los vocabulos tupis admíttem mais de uma
traducção, e p0r isso não devem os nossos leitores sup-
p-Or que só a que acceitámos é a, verdadeira; outras,
< •
, talvez mais claras, e que melhor interpretem os caracte-
rísticos do sêr ou d'o local denominado, podem ser en..
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
vocabularjo.
•
Acã - (acanga) - .,a cab.e~a. o caroço, a bola, a
cousa parecida com a cabeça.
AcMmbú --. (áca-ye)llbú) - o co,rrego dos chif!res
o ieor1
1
1•eg-0 •que se bifur~. que ,se 'e sgal\ha.
Acangnerussú - (a,câng~-Oléra-u,ssú) -;- a cave!i ra.
grande, ·o esqueleito gr~.nde. Pode ser tambem: os cabe-
çais-g.randes, os cabeçudos.
Acarahú - Vid. Acarahy.
Acarahy - (acará-hy) --'rio dos acarás, dos peixes
chamados acarás ou cascudos.
Acú - (acúba) - quente, cálido, febril, veneno,
o que produz calor.
Aguapé - (aguá-peba) - a planta redonda: e cha-
ta, o guapé.
Aguapehú - Vid. Aguapehy.
Agu.apehy - (a.g uaPé-hy) - rio dos aguapés,, das ·
·plantas redondas ' e chatas.
1
Ajuhá - - {a-iuá) - a friueta .d.e espinho, .a ifructa
. ,~
esp1nho:s a,· o juá. .
1 • '
· . Alambari. _.:._ .(arambé-:r-f) ~ o rb ichinho, O' ·peix!-
_ _ _ _ _. . . . _-::........,. • ' ! ' ' ' •
•
134 PRIMEIRAS ~ÕES DE TUPI
NOÇÕES DE TUPI 135 •
•
dayás. Correarond-e á €xpressão ln-dayátuba. Pode provir
de anday.á-ty, e nesse <:aso será -o rio -Oas andayás, o rio Araçapeba - (araçá-péba) - o araçá chato, a~ha.
que corre na zona das andayás. tado . .rtfadeira do sul do Estado, tambem chamada Araça-
Angatuba - (ingá-tuba) - o sitio em que ha abun.. peva.
dancia de ingá.s. d<>s 1'.ructos cbamados ingás. ~a~p~ - (arára~anga-'guá) - o pouso, a mo-
Anhangabahú - (anhánga-yba-ú ou an'hánga-yba.- rad~ das araracangas, a en'Seada das araracangas, es-
hy) - rio da arvore do ·-veado • .Anhánga, a alma que pec1e de aráras.
corre, a sombra ·que · passa, -éra materialmente represen· Araçari~uama - (ai:açari-guama) - '· o comedouro,
tada pelo veado, o 'm~is v-eloz· dos ani,m aes. brasilicos. ,• o luga.r em ique vêm comer os araiçaris, os tucanos cha·
M~smo no centro da Jloje cidade ·4e '8. ,paulo, hav:ia mui..
·'. -~ado~ ,~aparf,s, ·
to veado como é sabido. A' cuvit}~ga., seu. alimento pre.. t.·1' ~-- .Ara: · ba - (a,r açá-.t uba) o sitio dos araÇ~s, o
dUecto éra >tambem abundante, ·éra a arvóTe do v:,e ado, "· lugar. q e iproduz araçás, o á:ráç:asal.
som duvida. A traducção corre"nte: rio. idas diabruras. ... ' , . . Araçoiâba - (.ára-aiçoyaba) - o que encobre ou
positivamente não satisfaz. esconde o dia, o q·uo .f az tSombra, os iµo.n tes, as mon-
Anhanga.hy - (anhánga-hy) - rio ou agu~a dos tanhas de f ór,ma geral.
veadoe.. ... Ar - ( ariá-guá) - o valle, a baixada, a ên-
Anhangoára - (anhánga·quâra) - o esconderijo, sea s.
a tóca do veado. ~; palavra que imita a voz da ave assim de-
Anbauguéra. - (anhánga-oéra) - o espectro, a al· nominada.·
ma velhaca, esperta, sabida. ~:6 - Vid. Araira!by.
Anhemby - (anh~ga ou an.han-by) - rio do vea..- ~hY, - (arára-hy) - o rio ou aguada d<l.s
do, rio em cujas margens eram encoú.t ta,diços os veados.
.a raras.
Anhúrnas - (án-úm) - a sombr~. ·o vulto, a visão
Arar~pfra
- (arára-apira) - o cume da-s araras,
~ - topo .d o morro ond.e vivem as araras. .
;~·lf.' w~ Ara~~ª - (arár'a -quara) - a moita, ·o re;fugio
. ~·~" .elas ara~~'" 'Q h1abitácplo das araras. .· · ·
. • ~ ~ .., ~ A ib·~ . . .. . .
~~'. .: . ·~ · ,r:;.. D ·- (~t:át-·Y'há.) . .., a fructa das ' araras·, a
~... as araras comem~ '
.., f>r\cta . u ·· i ·
;:.; ;•••.ut.~. .:~~~":···' · . . . . .,.'
A;r/ - ( arâra-úna) - a ararà 'escura a arara
.. , .A:rWt·!~-Y
~ Vid. Arac~hy. , · ~.' ·negra, que se .encontx:a na Amázonia, "Goy~:, etc.
em
,,,..~~.!!iY ~- (araiquai-'hY) - rio .d os auneis, doa tor·
•n&fos, rio -doe curso cheio de .c µrvas.
.- . Ar'4ca - (á,r a-taca) - que -êstra11a cahindo. Es.
pecie doe armadilha. .
136 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 137
',
Aricanduva - (aricánga-tuba) - o lugar em que Aytinga - (ay-tinga) - a preguiça, o bicho pre-
ha a·bundancia de palmeiras chamadas arlcanga ou guaTl- guiça de J)e'llo claro. Pode ser Ytinga, isto té, o rio de
canga, o sitio que produz essas palmeiras. aguas claras.
Ariranha - (irára-rana) - o animal que se parece
com a irára, semelhante a irára. Uma especie de lontra. .Bacaetava - (mbaê-cái-taiba) - lugar onde as
Aririaia - (airi-aia) - os palmitos macios, JS cousas se .queimam, ª- fogueira, a quein1ada,
airis bons de comer. Airi é u.ma .palmeira. Jlacuruvú - (ybá-eurú-ú) - fructo aspero e pre-
Airiró - (airi-iróba) - .o ·p almito amargo, a pal- to. E' a vagem que 'contem a semente preta conhecida
nieira airi que tem palmito amargo. por F~.va divina. A' ar;vore tambem se dâ o nome de
A.'11.ry - (aryry) - nome de um co~~i-eiro de haste Gua:peruvú. '
es~in'hosa. D~s suas ·fibr as fazem-se ' ;Và~souras, cor-
1
Bacury - (ybá-curi) - a fructa apressada, a Jfru-
das, etc. " . cta que se !forma rapidamente, ·
Arujá - (arú-yá) o viveiro dos arús, dos :pei- Bagua.ssú - (yba-gua:ssµ) - a arvóre grande, a ai':..
xes tambem chamados ·g uarús ou barrigudinbo~. vore grossa, alta. Talvez o coq1ueiro Guaguas:sfJ.
Assacoéra - (açá-goéra) - a vereda antiga, o cru- Banharão :__ (mbaê-nh-arón) - a cousa alegre, o
zamento rdo caminho ve1ho, o itril!ho abandonado. Vid. que é alegre, aprasivel, o que. pare~ bem, o que en-
oe.nta.
Peaçagoera.
Assunguy - ( a-çugui-y) - rio do sanp&. Talvez Buqa.iruv6 - Vid. Bacuruvú.
·o rio de aguas av~rm-elhadas que léUlbram o ...,,gue. 'Baracéa - (mbará-acêm) - a eahida do mar ou
Atibaia - (ty-b-aia) - o rio mansa, 4- ~uas do rio, o extravasamento,, a enchente, a maré alta.
tranquillas, de aguas agradaveis ao J>aladar. Bariry - (mba:ê-riri) - a cousa t remulante, agi-
Avahy _ (abá-hy) - o rio da gente, o rio de todos, tada. Desi·g na as corredeiras.
o rio dos homens. ' Barqueçaba - (mbará-keçaba) - o ninho ou o
Avanhandava ......,... (abá-nhan-da•)
, - lugar da cor- pouso do mar, 10 lugar e.m que o ·mal'l '·:é calmo,.1 ,em que
rida da gente, lugar em que a gente corre, lugal'I e.m parece répousado: : '
que a a,'g ua leva a ge·nt'6 de corrida~ A corredeira, o· $alto Baruery ~ •Vtd. Bariry. ·
Ba~yra - ( potyra') __, .a flor, a bónina.
' dos xios. '
Avar§ - (abá-ré) - homem 'div·e r:so, distinto, ami- Bathé , - (ybaté) - alto, el~v~do, erguido, .cume,
go. O catechista, o padre. no alto, em cima, o céo. ·
Avarémauduava - (abaré-mand·uar-ába) - o lu.. Banrú - (ybá-urú) - o continente de ' fructas, o
gar ql,le recorda o padre, a l embrança do padre, em samburá ou o cesto de fructas.
memoria do cateehista. ~ Beritiba - (tp iri-tuba) - Vid. Pirituba.
•
' •
'
138 PRifvlEIRAS NOÇÕES DE TUPI L 1 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 139
Buquira - (mboquira) - o broto, a :ponta, o grel- qúe se queima, que arde, ª queimada. Tambem Caocala
lo, o enfeite, o que é tenro, e Cau.cá .
. o que é macio. Cajoby (caá.-oby) - a folha azulada, a folha.
Duritama - (]>ury-retáma) - ~ patria, a rreg.tão
das burys, das palmeira: burys. anilada, o anil.
Burity - ( bury-ty) - agua da :palmeira, a pal- Oajurú - ( caá-jurú) - a bocca do matto, a entra-
meira aquosa de cujo caule ·Se extrae um liquido .que da do matto, a borda do matto.
serv-e como bebida. Altera-se em MuritY:, Mlrity ,e Mo- Oamapuan - (cama.,puan) o seio redondo, os
·rtty. xnamillos, os comoros, eminenciai) ·do it erreno que lem-
,B urú - (mburú) - revolto, agitado, tran.s torna-' 'bta~ seios. , l ' . •
.. ' ~ \ 1 •
11
'.~ Oapituba - (caá•pii-tuba), -:-'
o lµgar ' I
Oahtetuba - (ca:\'."e.t ê-tuba) - o lugar 1em que se ·, . ·capim, a ~on~ que pr'Oduz capim, o caplnsal.
a
j • ' ! 1
j
e,ncontra a matta ViT;gem,. a matta verdad-eira, zona. • ' Oapivara - ( ca·á -pii-·uâra) - o comedo.r d·e 'captm,
que é propi.c ia á formação d~ .m .attas reaes.
o que se alimenta de ·h ervas.
~ssú - Vid,. Caáguassú.
Qa~varú - Vid. Gapivary.
1
•
•
•
142 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TtJ'PÍ 143
r
.
'
.~ Emboaçava ._:. (mbo-açâ-ába) . - . Iuga·r que ,faz ;pas-
'
Catupiry - (catú-pyri) - . excelleinte, optimo, ex- sar; qú·e perm'i tte pasaar de um .l ado. para ôutro, ·o ~tra-
cellentemente. t ·
'
vessadouro. ' 1
'
'
JCipó - ( ici·pó) - lia11a, ,t repadeira, o cipó conhe- Enguaguassú - (y1guá-guassú) - a. en.s eada gratl-
cido, a .f ibra que pega, que se enro.sca. de, o espraiado grande de agua, a ba.h ia, o lagamar.
...,,
'
'
• •
144 PRIMEIRAS NÓÇÔES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 145
Ga:mbá - (guá.-mbá) - o ventre Oco, o vent.Te Gnaporanga - (guá-p?ranga) .::._ a enseada bonita,
aberto. o lagamar bonito.
Gerivá - (yari-ybá) - fr-uctM de cacho, fructas Guapira - (guá-apira) - a parte alta do valle, a
em cacho. Nome , de um coqueiro. Tam:bem Geribá. cabeceira.
Gel1il>atnba - (~-eribá-tuba) - lugar em que ha Guará - (.guag-rá) - pennas ou plumas para,
coqueiros gerivá:s, a zona em que nascem em abun·d·a ncia. adorno. E' nome tupi da garça v·e rmelha.
Gib<>~ - · (gi-boya) -:- a .cobra das rãs, a cobra qull
•
· Guaracy - (guá.ra-cy) - a mãe l'ªs creaturais, <>'
come rãs. que dá vida ás creaturas, o sol. Tam• .m .coaTacy.
' '
Goiaba - (a-côiaba) - ,a reunião de caroços, oa Guar.a.cyaba - (guara·cy-á:ba) - ca.bellos do sol, os,
".\
"
.c aroços ' unidos, grudados. .rai.o s do sol. Tambem Coaracyaba. .
1 '
( guar.áo.!by) ~ o rio ou agua-O.a doe:
1 '
Guabiroba ...:__ (guabi-iról;la). - ~ ' c~sca amar•gosa,~ Guarahú -
, 1 o que amar:ga ao 'Paladar. 1.
guarás. 1
. /' , 1
• ••
Guaclúndu.)a - (guachin-tu.ba) - o sitio das vas- Guarat#.Jan
•
- (guára-antán) - a madeira .compri-
•
souras, o que l)roduz a planta chamada 'vusoura. mi<la, a madeira dura , r ija .
Guamerim - (gua-mirim) - a en,eada :pequena, a ; , Guarapiranga - (guá.ra-piranga) - . a made ira.
1
lagoa. -vermelha ou avermelha da.
Guanabara - (guã.-nã-pará) - a enseada seme- Ouararema - (guára-rema) - a madeira fedoren-
l lhante ao mar, a bahia que parece um mar. ta, de mau cheiro. E' o pau d'alho.
ou,nhanhã - (guã-nhan-nhan) - o que ~rre mui- GuaraUnguetá - (guirá.-tinga-etá) - muitos pas-
to, o que vive correndo, o corre-corre, o corr-edor. Nome saras brancos, bando de garças, as garças.
de ,uma ,t ribu selvagem. Guarat11ba - (guará-tu·ba) - o lugar em que ha
Gua.pará - (,g uá-pará) - o Tio das enseadas, o muitos guará~ , o s itio em 1que vivem os guarás.
rio que forma 1pequenas bahias. Pode ser tambem o rio Gua.rehy - ( gua ri-hY) - rio .d os guaris, dos .m a-
que nasce numa enseada, rio da enseada. ~ caces guaris ou guaribas.
Quapeva - (.guá-peba) - a enseada raza, de pou- Gua.riba - (glJál'-aiba) - a creatura ruim, ·fein.
co fuhdo . ,Como designação da Fava de s. Ignacio, ·d irá: ·certa
} . oo.pecie de maca-cos. ~ '
'
'
I
•
,.,,
146 PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇQES DÉ TDPI 147
Guarujá - (guarú-yá) - a moita., o pouso dos gua- tieula -p luralisante, a expressão dirá: os paus, as ma-
:rús., dos peixes chamados guarús, ou barrigudlnhos. deiras.
Guarrulhos - (guarú) - os comedores, os glu- ' lbitinga - (yby-tinga) - a .terra esbranquiçaba, o
tões, os barrigudos. Nome de uma tTibu. barro branco.
Gua.ssú - ( guassú, assú, ussú, guaçú, etc.) - Ibitirama - (ybytyr-râma) - a montanha, a ele-
grande, grosso, volumoso. vação consideravel de rtrerra.
Guatarnbú - (guá-atan-mbú) __, madeira dura e lbitiruna - (ybytyr-úna) - a montan!ha ou a ser-
sonora, madeira e-0mpacta. ra negra. Altera-se em Butur•una e Boturuna.
Guaviroba - Vid. Guabiroba. lbity - (ypy-ti) - a terra er.g uida em ponta, o
1
• . '
·~·xistem .r atos, a r~gião dôS •rátos, onde ~.lles at>;parecem
'
\
'" Icem .__ (y-cem) - a sáhida' da aguai· a conflue-ncia
em abundancia. ' '
. ' de aguas, á nasc.e nte, a fonte. ·
'
'
mexida. "Pode ·ser nome de umft fructa. · . · lumoso. o..: ' /.1\
Ibimba~ · - (ybi-mb,a:ê) - , o que .tem fibra~ 9 fi- · · lmbYJ'llS~ú - Vid. Em'b irassú. . '\ ·
bro~o, /filamentoso, o que ~e ·desfia. • ,." · Indayá - ~andá.-Y'á) ·- · côcó.s que .cahem, . 1, ue a·e
\~ 1
lbirá - (ybyr.- á) - P,au, madeira, arvore', vara, ·de·s pencam. Nome de ·u ma .p almeira. Tambem Anda)'a.
viga. " lndayátuba - (andayá-tuba) --..:, o lugar em que .ha
IbirapuéJ."a - · (yby·r á-poéra) - - as madeiras, 013 paus ·a ndayás, onde nascem as andayás.
ve1hos, a floresta antiga. 1Si po~ra, funccionar co.mo IPaT- lngaby - (lngá-hy) - rio ou aguada ,dos ingás.
'
• •
' '
•
148 PRIMEIRAS NOÇÕES DE , .,tUPI PRIMEIRAS NOÇÕES og TUPt
Inhoahyba - (nh1l-ayba) - o campo, o pasto cheia de limo que se empasta, que se torna visguento, a
ruim. resina da pedra. Pode ser tambem itá-ycy, e então dirá:
Ipanema - (y-panema) - o rio impresf~vel, que não
-
tem peixe, a agua que nao iPresta.
~)
*' a fileira de pedl'as, a ála de pedras, a successão de ;pedras.
Itaipú - (ltá-ypú) - a agua .que borbo.ta da pedra,
Ipatinga - {ypaú-tinga) - a lagoa clara, de aguas a fonte, a nascente da pedra.
claras, a neega de agua transparente. Itajahy - (taiá-hy) - I"io ou aguada dos ta.li&
Ipaussú - (ypaú-ussú) - a lagoa grande, o lago. ou das taio bas.
Ipê - (ipê) - a casca., de arvore, a cortiça, a ar- ·· Itajoby. - (itá-oby) - a pedra azul ou esverdea-
1 ,
• vore cascuda. da, o v.ardet.e, a esmeralda. ·
~r.~.r~r.4 :· 1 ;rperojg - (iperú-yg) 7"'" ,aguada 40 tu.b arão, a izona. JtaJ6. - ,(itá-yu.b ) .- ·JJ. pedra ·amare.n a, ô ineto.1
ri :,:t ~ '!'.a. . . ' 1, , I ,•
•
'
• Itaplra - . (itá-apira) - a pedra erguida ou le- Jtinga - ( y.Jtin·g a) - a agua clara, a agua bran·ca.
vantada, a p~dra alta. Tambem Itabira. ltlnguassú - (y-tinga-assú) - rio claro grande,
Itapirapuan - (itá-apira.- puan) - a pedra levan· volumoso.
,t ada redonda. a pedTa redon.da do alto. lt;oby - (y-t-oby) - o rio verde, de·agua. esverdea·
Itapitanguy - (itá-piranga-by) - rio ou agua da da, esmeraldina.
pedra vermelha ou aver.m elhada. It11pararanga - (ytú-pararanga) - o salto baru-
Itapoi;anga - (itá-poranga) - a pedra bonita. lhento, a qued,ra d'agua rumorosa, estrondejante.
Itapura - ( ttá-apira ou itárbúra) - a iPedra le- ltupeva - (ytú~peba) - a cachoeira chata, de pe·
vantada, a pedra emergente. quena altura, a cascatlnha, a corredeira.
'
IU,lquaquecetuba (.t~quá.-quic'ê-tuba) - lugar ond.e
' + ; ~ ••
Ituverava - (ytú-beraba) - o salto brilhante, a
ha taqua·qUicê, isto é, taq·u ara cortante de que se faoom cachoeira resplendenit e.
facas. Deve ser Taquaquicetuba e não Jtaquaqulcetuba. Ityrapina - (ybytYl"·apina) - o morro limpo, la.-
ltaquairy - (ta·quara-1) - a taquara fina, o taqua. ( ' vrado,se.m vegetação, o morro P.ellado.
~ . ·f.. \ '
· ri commum. Si fosise Ytaquary dever-se-la traduzir; o ta...·. Ivaporanduva - ·( ybá-p.o ran-tuba) . - . o .lugar das
quari do rio, que cresce' perto da agua, nos brejaes. f ructas bonitas, onde existem balias fructa.s.
Itáquera - (itá-cuera) - muitas .p edras, os ro-
·chedos, a pe.d reira. Jabora.p~y - (Y.á-mbo,..r-yandy) - fructa que faz
Itararé - (itá-raré) - .pedra escavada, pedra Oca; oleo, que contem oleo, que 1>roduz azeite. ~ "
diz-se das pedras cavrula:s pela agua, das lapas formadas Jaboticaba- (yá-mbo-ti-caba) - o fructo feito pon-
;pela ·aigua. 1
• tas ou botões., o f~ucto abotoado, ,q ue nasce grudado aos
' ' J,. • '' I
Itatyba - (itá-tuba) - o local em que ha muitas ramos. ''
"
, pedr•: (yechá-cal'lé) - o que ol.ta de lado, de
... o pedregal, a jazida de pedras.
Jacaré -
ltatinga - ,(itá-tinga) - a pedra branca, a. pedra soslaio, o mirador, o ol•h ador.
esbranqui~ada, o ·gesso, a pedra de cal. · . · .Jac~eguava......., (j81caré-guaba) -r1- comida:. de jacaré'.,
Itatinguy - (itá~ing-y) - o rio da pedra branca, o comedouro ' do jacaré. · · .
o rio da zona calcarea. , Jacarehy - (jacaré-hy) - o rio ou a aguada do
ltatim - . (itá-tim), - o nariz de pedi:a, o piço\ a agu- ja~ré . . , ,
~ , ' , I t
'
'
.'
152 PRIMEIRAS ""'
NOÇOES DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 153
Jacutlnga - (jacú~tiniga) - o jacú branco. A ex- juri - (yurú) - a .bocca, a garganta, a sntrada,
J>ressão potle designar tambem o barro branco, a rocha. a barra, o desfilBldeiro.
argilosa. Jussara - (Yú-çara) o -que tem espinhos, o es-
• Jagoary - Vid. Jaguary. pin:hento. Nome de uma palmeira de espinho.
Jaguarnirnbaba - (yaguár-mtm:bába) - o jaguar
domestico, a onça mansa, o cachorro. Macahuba - ( macá-yba) - a a;rvore da macaba,
Jaguaquara - (yaguár-quára) - o buraco, a toca, do fructo chamado macaba.
da onça. Mambuca - Vi·d. Mombuca.
Jaguaretê - ( yaguár-(-ltê) - a onça ver~adeita, á.1 Mandihú - (mandiy-hy) - rio do bagre, rio do
1
onça bravia. mandy.
J~ry ....:_ (ya.guár-hy) ·1·~ o rio ' ou a aguad~ da .. · Mandy ~ ( mandiy) - nome ·d ado aos bagres e à
onça. outros ·peixes de pelle.
Ja.bú - (yá-ú) - o que come', o que ·d evora. Nome Maracahy - ( maracá-l.ly) - rio do maracá.
de um peixe. Maracanã - (maracâ-nã) - semelhante ou que
J' '
Jaraguâ - (yara-guá) - a baixada, o valle, a en. imita o maracá, o chocalho. Nome generico de papagaios
seada do dono, do senhor. gritadores.
Jataby - (yá-atã-yba) - arvore do fructo duro. Maranduba (mará-y-tuba) - o lugar em que so
Joá - Vid. Juá. aocumulam as aguas, as encbentes, as maréa grandes.
Juá - (yú-á.) - a fructa espinhosa, a fructa. de Marapé - (mará-apê) - o caminho do mar, o ca-
ee,plnho. minho proximo do mar, que corre a _beira-mar, o que
Joatuba - Vid. Juatuba. leva ao maT.
' JuatuJ:>a - (juã-tuba) - o sitio dos juáai, o lugar Mboy - designação generica da cobra, da 6erpenta,
em ·q ue nascem os juaseiros, ,º juasal. do oPhidio.
Jundiahy - (yundiá-hy) --:- o rio idos jundiáai, dos Mocóca - (mbo-cóg) - fazer ou dar roça, ipre-
peixes jundiâs. parar a xoQa para outrem, ajudar .a fazer roça.
.Juquery - (y?quy-r-y) - a agua de sal, a is'a1m~u-
1
, , -·, Moóca - (mbo ou mo..óca,) - fa ~er casa, .pous"J,
1. ra; ·a . arvore de .q ue o gentio tirava uma eirpecie ·de .sal
mk~: · · , . .
.. ~, , . " >' telhe.irq ou barl)i;tCas. ,.
./ ·
.para ·t empero. E' o nome communi das; Mimosaceas. ' Moema ·- (mo-e:m) -- ta.-zer sahiT, e·s vair, e:J$:haurir.
• \o .,
Juquiá - nome de uma .especie de covo de bocca Pode ser: a -exhausta, a exangue, como nome -de mulher.
1
lariga. .. , Mogy - (mboy-g-y) - rio das cobras, aguada das
Juribatuva - V'id. Geribatuba. cobras.
lurubatg.ba - Vi<J. Gerlbatqpa.,
•
\
•
'
154 PRIMEIRAS . NOÇOES - DE TUPI PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 155
• 1
Para.byb~ - (1parâ-aybaJ o rio 'ruim, impree- Pii\Çaba - (PYÃ:-açaba) -"- · tecer .pàssando, tran-
tavel, seip peixes, não navega ~el. ·' ç.ar, a trança, o alllarril'h-0, a atadura. ,
' .\
Pa1·ahYbUJla - (.para-hy-uni;t) -- o rio das a·g uas , Piauhy .- ( piáu-hy) - rio dos piáu.s., dos peixes
escuras ou negras. "'d e pelle manchada ou pintada.
• PiMsabussú - (peacaba-~ssú) - , Q porto, o embar-
•
'
'
.'
••
156 PRIMEIRAS NOÇÕES . DE TUPI '
.PRIMEIRAS NOÇÕES DE TUPI 157
•
cadouro grande. Si fôr piassabussú, dirá: a piaçaba gran- Pirajú - (.pirá-yuba) - o peixe amarello, o pei:te
de, a palmeira piaçaba grossa. dourado, o dourado.
Piassaguéra - (pe-açá-goéra) - a travessia antiga. Pirajuhy - (1>irajú-hy) - rio doe pirajúav dos dou-
o caminho velho, o porto .velho. rados.
Piatan - (pe-a!tan) - o caminho batido, o cami- Piram.boia} - (:pirá-mboya) - o peixe cobra, o
nho de terra dura:, empedra.do. Si fôr py-atan dirá: o de peiXe comprido como cobra, a enguia.
pés fortes, o vigoroso. Pirapetinga - (pirá-peba-ting.a) - o peixe chato-
Pindahyba - (piudá-yba) - ,a , vara do anzol, o ca- ' branco. Nome de um peixe.
niço de pes.ca. Pirapetinguy - (pirá-peba-tinga-y) - rjo ilos pi-
'Pip.daÍnpnh.a ngaba - (pindá-mon•h ang-;á ba) - o 11.J-. rà.petingas, õ,os peixes chatos e brancos. .
gar eml
que~ se · fazem 'a nz.ó es; os gancho si de pe~car; a
f. ,
' Pirapora - (1i:drá-'1>'ór) - íh'aver peixe, . oride' ha pei-
.pesGaria á anz<;>l. ~ ' 'Xe, ·o , rio .Piscoso. i
Pindorama - ' (pindo-retama) a zona, a região, Pi1•assm1unga - (ipirá-cynynga) -- o ronco ou o ba-
a patria ·d as palmeiras. . rulho de peixe, o peixe roncador.
\
l
Pinduassú - (p1ndô-assú) - a palmeira grande, a Piratinlnga - (.pirã.Jtininga) - o peixe secco, o
palma grande. 11eccadouró de peixe.
Piqueroby - (pi-quyr-oby) - o pi•q uira verde, Q Pirituba - (piri-tuba) - o lugar em que ha abun-
.Peixinho verde. <lancia de piris, de }unco chamado piri, o lugar em ·q ue
Piquira - (pi-quyr) - a pelle tf;lnra, o pequenino, nasce o piri, o juncal. Altera-se em Pirituva a Biritiba..
o tenrinho. Nome de varios peixes pequenos. Porangaba - (porang-ába) - o enfeito, o ad"f>rno,
l>iracata - (ipirá-quá) - a affluencia de peixes, a belleza, a graça. Vid. Morangaba.
o pouso dos ,peixes. Potim- (po-tim) - as mãos farpadas, o camarão,
Piracicaba - (pirá-cycaba) - lugar, tempo ou as farpas, as barbas, as antennas.
modo de cercar ou apanhar peixe, lugar ~m que apanha ( Potribú - (potyr-ybú) - a agua que bórbota, en-
facilmente o peixe. ' / tre flp:res, a fonte das !flores. ,
Piracoama - (.pirá-guáma) ,~ o comedouro dos · Potyre;ndaba - (pqtyr-rendaba) - a reuni&:o, a,
,p~bçes.
'
1
.. '
1 ,11' '
•
" PJragibú - (pirá-Yiba-0) - . a barbatana preta.
'
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.• ..
·:i: •
'
•
158 PRIMEIRAS NOÇÕES PE TUPI P~IMEIRAS NOÇÔES DE TU.P I 159
Quirera - ( qui-r-éra) - os restos, os retalhos, o Tahimbé - Vid. Itambé.
bagaço, o farello. Tamanduatehy - (tamandetá-lby) - rio de multas
Quiriri (1quiriri) - silente. silenrioeo, quieto, voltas, cheio de meandros.
socegado. Tambahú - (tambá-ü) - a ostra, -0 marisco, o me-
I xilhão negro.
Sabaána - ( tambá-una) - a concha preta. Tamoyo - (tamuia) - os avós, os ante,pas.sados.
Saboó - ( çapô-tS) - a raiz encorpada, mui to grossa. Tanaby - (tá-nambi). - a borboleta, a .mariposa.
, Sahy - ( ç.á-y) - agua dos olhos, a lagrima. ;-, ·T apanhoapinda - Vid. ltapanhoapinda.
{,, , Sapé - (çá-pé) - o que allumia, o que \clareio..
'
· 1~ • Tapap.hon - (itâ-pãu) --:- . a .pedra do 1;neio, a pe- .
Graminea que servia p~ra fa:zer ·~fachos que allu:miaVaIJl, .dra( c~µtral, entr·e -pedras. ·
' ' ·" '
PJ' o ~esmo Ba1)é,· que tambem .s~rv~ ;para ~?berturas. '. ·~ ·i \ 1Ttl~~~ _ ·( tarba-oéra) _:_ a aldeia que·.foi, ·a aldeia
Sapucahy - (çapucf\ia-"hy~ - rio das ,sap.ucaias. ;a bandonada, a ruina, a casa velha. ' '
~rapuby ~ ( çarap0•1íy) ~ riô do.a sara pós, dos pei- 1
Tapina ~ (itá-pina) -- a pedra lavrada, ·a .pedra.
xes chamados earapós. llni~a. núa.
Sorocaba - (çoroo-caba.) - o rasgão, o córte, a Tapiratyba - (tapii-rá-t~ba) lugar onde ha
ruptura. muitas animaes semelhantes ao tapir, bois ou vaccas.
Sucury - (çuú-curi) - morde ou co:me a.Pressada, Taquaqulcetuba - Vid. ltaquaquicetuba.
rapidamente, morte no bóte que dá. • Taquara - (taquar-á) - o furado, o que é Oco,
Sussuby - (çuú-çuú-hy) - rio do que rumina, rio ta.qua.ra.
do veado. Taquarancblm - (ta.quara-achim) - a taquaTa.
crespa~ ·
Tabaljara . - (taba-yara) - o dono, o senhor da Taquaritinga - (taquara-i-t inga) - a taquara fina
aldeia. branca:, o taquari branco.
~ Tabapuan - (taba-puan) - ·a aldeia alta, a villa. Taquary - (taquaira.-1) - o rio ou aguada das ta-
de cima, da montauha, (lo plai;ialto. < qua.r as. .Si fo.r ta.quari dirá.: a taquara tina, delgada.
, " Taba~inga --- (tabá-tinga) ~ o ' barro branco, a ár- . Taquacetubp. .!-.. Vkl. lttlquaquicetuba. ,, . ,
.gjl!a . esbrà.nquiçada, a Jabtttin·g à. ; ~· .1 ' , ~ ~.. Taq:ua'Xtnduvq. , -: (taiquar:a-acliim~tuba_} - lu~~r
I f ' 1 • " )
ha'
·· · ei:P, .que· multa taqq.arachlm, ·µ iuita taquara cres:pa,
1 .1
1 Tabatingoéra - (tabati.nga-oéra) r_._ as .~abatinga.s.,
' ~.'..
as Jazidas .d e barro b~anco. Oéra f·uncciona --como .parti- " Tatu . - (ta-tú) •- o caeco duro, a couraça.
, '
cula plurallsante. Tatuapé - (~tú-apê) - a vereda, o trilho do ta,tt\.
Taboca - (t·a bóc) · - }Q cerco, a p-r otecção, ' CO· Tatuby - (tatú-1) _: o it atú pequeno, o .tatusinho.
bertura das al'deias. ·· ._
Si for- taltú·hy dirá: rio do tatd..
'
..
•
•
'
Tatupeva - (tat-0.-peba) o tatú chato, de cas· jando, o raio, a faisca electrica. Depois da chegada dos
co a®atado. jesuítas, passou a designar Deus. Tambem Tupana.
Taubaté - (taba-etê) - ~ taba, o aldeamento prin- Tupa:wµooca - (tuPana-r-óca) - a casa de Deus,
cipal, legitimo, a residencla do chefe. -0 tem;plo, a igreja.
Tayampeba - ('taiá-peba) - o taiá chato, o tu. Tupy - (tupi) - o elevado, o de cima, o da primei-
berculo achatado. ra geração, o primitivo.
Tayassúi - (talá-assú) - o taiá. g,r ande, grosso, Turiassú - (tory-assú) - o tac:no grande, o fa-
volumoso. Pode ser tiy·ass~ o dente grande, o porco. cho que illumina muito, a fogueira, o incendio.
Tayassupeba - (t~lá~ú-peba) -
••• 1
o ta.tá grande 1
achatado, chato. Pode ser. tãyassú-peba., o •p orco chato; Ubarana - (yba\.. rana) - parocido com 1pau, como
'
·baixote, canastrão. · ' 1 1
1 se ;fosf?e pau. Notne de um pei,xe.
Tayoba. __, (taiá-oba) - á folha dó 'talá. Ubatuba - ( uybá-tu'ba) - o local em que nas-
Tayuva ·- (ta-yuba) ..:_ o ;pau, o; caule amarello. ' cem, onde ha abundancia de ca1n1ços de tlexas, proprloa
•
Tibireçá - (tyby-r-eçá) o principal da terra, para .flexas.
o vigia da terra. Una - (una) - negro, preto, -escuro.
Tietê ~ ( ty-etê) ,.._ o rio verdadeiro, legitimo. Uparoba - (yba-iroba) - ' o pau amargo, a arvore
prestadio, o rio de valor. de casca amargosa, a peroba.
'
Tijuca - (ty-yuc) - o brejo, a lama, a agua po- Urussanga - (y-roiçanga) - a agua fria.
dre, o lamaçal.
TJmbopeba - (timbó-~ba) - o timbó clhato. cuja Votorantim - Vid. Boturantim.
haste ou vara é achatada. Tlmbó é uma especi~ de cipó. Voturuna - Vid. Boturuna.
Toryba - (toryba) - alegrar, a alegria, o facho •
que alegra allumiand9. Vid. Turiassú. . (xi-riri) - nome onomatopaico de al-
Xiririca -
,
Tremembé - (.tirl-mempé) - o alagadiço, o é~· , gans cucos. Pode ser voz imitativa d~ a.gua :que corre
•
charcado, o que vaza mollemente, ,d_evaga1\ " rapida por entre seixos.
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• 162 PRIMEIRAS NOÇOES DE TtJPl
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avermelhadas ou barrentas.
Yporanga - -
(y-poranga) - a agua bonita, o rio ' ..
bello. INDICE
Ytú - (y-tú) - a agua que cahe, a queda d'aaua, •
a cachoeira.
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PARA O LEITOR • • • • • • • 7
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Ps habitantes
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do Brasil em 1500. U21os, cootumes
'
1 e lingu~s. Colon'i sadores ~ cathechistas. Clas-
sificação das tribus. A linha geral. Antigas
denominações tupis. Exemplos 13
O alphabeto. Substantivos ~ adjectivos ., 41
l
• Pronomes, verhos, preposições, adverbios e con-
( 3unçoes
• N
. 65
Construcção da phrase tupi. Interpretação de ter- •
•
•
mos da flora, fauna e geographia do Brasil . 91 ' e
1
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I '' ' ~rand~~·· mestres do tu pi e do guarani. Os jesuitas.
' Ancbieta.
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C0.nclusão .
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Biblioteca Digital 'Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
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