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VI – as empresas individuais de responsa- de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo

bilidade limitada. dispuser de modo diverso.


§ 1o  São livres a criação, a organização, a Parágrafo único.  Decai em três anos o direito
estruturação interna e o funcionamento das de anular as decisões a que se refere este artigo,
organizações religiosas, sendo vedado ao poder quando violarem a lei ou estatuto, ou forem
público negar-lhes reconhecimento ou registro eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.
dos atos constitutivos e necessários ao seu fun-
cionamento. Art. 49.  Se a administração da pessoa jurídica
§ 2o  As disposições concernentes às associa- vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer
ções aplicam-se subsidiariamente às sociedades interessado, nomear-lhe-á administrador pro-
que são objeto do Livro II da Parte Especial visório.
deste Código.
§ 3o  Os partidos políticos serão organiza- Art. 50.  Em caso de abuso da personalidade
dos e funcionarão conforme o disposto em lei jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade
específica. ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público
Art. 45.  Começa a existência legal das pessoas quando lhe couber intervir no processo, descon-
jurídicas de direito privado com a inscrição siderá-la para que os efeitos de certas e determi-
do ato constitutivo no respectivo registro, pre- nadas relações de obrigações sejam estendidos
cedida, quando necessário, de autorização ou aos bens particulares de administradores ou de
aprovação do Poder Executivo, averbando-se sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
no registro todas as alterações por que passar indiretamente pelo abuso.
o ato constitutivo. § 1o  Para fins do disposto neste artigo, desvio
Parágrafo único.  Decai em três anos o direito de finalidade é a utilização dolosa da pessoa
de anular a constituição das pessoas jurídicas de jurídica com o propósito de lesar credores e para
direito privado, por defeito do ato respectivo, a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
contado o prazo da publicação de sua inscrição § 2o  Entende-se por confusão patrimonial
no registro. a ausência de separação de fato entre os patri-
mônios, caracterizada por:
Art. 46.  O registro declarará: I – cumprimento repetitivo pela sociedade
I – a denominação, os fins, a sede, o tempo de obrigações do sócio ou do administrador
de duração e o fundo social, quando houver; ou vice-versa;
II – o nome e a individualização dos funda- II – transferência de ativos ou de passivos
dores ou instituidores, e dos diretores; sem efetivas contraprestações, exceto o de valor
III – o modo por que se administra e repre- proporcionalmente insignificante; e
senta, ativa e passivamente, judicial e extraju- III – outros atos de descumprimento da au-
dicialmente; tonomia patrimonial.
IV – se o ato constitutivo é reformável no § 3o  O disposto no caput e nos § 1o e § 2o
tocante à administração, e de que modo; também se aplica à extensão das obrigações de
V – se os membros respondem, ou não, sub- sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
sidiariamente, pelas obrigações sociais; § 4o  A mera existência de grupo econômico
VI – as condições de extinção da pessoa ju- sem a presença dos requisitos de que trata o
rídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso. caput não autoriza a desconsideração da per-
sonalidade da pessoa jurídica.
Art. 47.  Obrigam a pessoa jurídica os atos dos § 5o  Não constitui desvio de finalidade a
administradores, exercidos nos limites de seus mera expansão ou a alteração da finalidade
Código Civil

poderes definidos no ato constitutivo. original da atividade econômica específica da


pessoa jurídica.
Art. 48.  Se a pessoa jurídica tiver administra-
ção coletiva, as decisões se tomarão pela maioria 51
Art. 51.  Nos casos de dissolução da pessoa per si, na atribuição da qualidade de associado
jurídica ou cassada a autorização para seu ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição
funcionamento, ela subsistirá para os fins de diversa do estatuto.
liquidação, até que esta se conclua.
§ 1o  Far-se-á, no registro onde a pessoa ju- Art. 57.  A exclusão do associado só é admissí-
rídica estiver inscrita, a averbação de sua dis- vel havendo justa causa, assim reconhecida em
solução. procedimento que assegure direito de defesa e
§ 2o  As disposições para a liquidação das de recurso, nos termos previstos no estatuto.
sociedades aplicam-se, no que couber, às demais Parágrafo único. (Revogado)
pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3o  Encerrada a liquidação, promover-se-á Art. 58.  Nenhum associado poderá ser impe-
o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. dido de exercer direito ou função que lhe tenha
sido legitimamente conferido, a não ser nos
Art. 52.  Aplica-se às pessoas jurídicas, no que casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto.
couber, a proteção dos direitos da personalidade.
Art. 59.  Compete privativamente à assembleia
geral:
CAPÍTULO II – Das Associações I – destituir os administradores;
II – alterar o estatuto.
Art. 53.  Constituem-se as associações pela Parágrafo único.  Para as deliberações a que
união de pessoas que se organizem para fins se referem os incisos I e II deste artigo é exi-
não econômicos. gido deliberação da assembleia especialmente
Parágrafo único.  Não há, entre os associados, convocada para esse fim, cujo quorum será o
direitos e obrigações recíprocos. estabelecido no estatuto, bem como os critérios
de eleição dos administradores.
Art. 54.  Sob pena de nulidade, o estatuto das
associações conterá: Art. 60.  A convocação dos órgãos delibera-
I – a denominação, os fins e a sede da as- tivos far-se-á na forma do estatuto, garantido
sociação; a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de
II – os requisitos para a admissão, demissão promovê-la.
e exclusão dos associados;
III – os direitos e deveres dos associados; Art. 61.  Dissolvida a associação, o remanes-
IV – as fontes de recursos para sua manu- cente do seu patrimônio líquido, depois de
tenção; deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações
V – o modo de constituição e de funciona- ideais referidas no parágrafo único do art. 56,
mento dos órgãos deliberativos; será destinado à entidade de fins não econô-
VI – as condições para a alteração das dispo- micos designada no estatuto, ou, omisso este,
sições estatutárias e para a dissolução; por deliberação dos associados, à instituição
VII – a forma de gestão administrativa e de municipal, estadual ou federal, de fins idênticos
aprovação das respectivas contas. ou semelhantes.
Código Civil e normas correlatas

§ 1o  Por cláusula do estatuto ou, no seu si-


Art. 55.  Os associados devem ter iguais direi- lêncio, por deliberação dos associados, podem
tos, mas o estatuto poderá instituir categorias estes, antes da destinação do remanescente re-
com vantagens especiais. ferida neste artigo, receber em restituição, atu-
alizado o respectivo valor, as contribuições que
Art. 56.  A qualidade de associado é intrans- tiverem prestado ao patrimônio da associação.
missível, se o estatuto não dispuser o contrário. § 2o  Não existindo no Município, no Estado,
Parágrafo único.  Se o associado for titular de no Distrito Federal ou no Território, em que a
quota ou fração ideal do patrimônio da associ- associação tiver sede, instituição nas condições
52 ação, a transferência daquela não importará, de indicadas neste artigo, o que remanescer do seu
patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, da, submetendo-o, em seguida, à aprovação da
do Distrito Federal ou da União. autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único.  Se o estatuto não for ela-
borado no prazo assinado pelo instituidor, ou,
CAPÍTULO III – Das Fundações não havendo prazo, em cento e oitenta dias,
a incumbência caberá ao Ministério Público.
Art. 62.  Para criar uma fundação, o seu insti-
tuidor fará, por escritura pública ou testamento, Art. 66.  Velará pelas fundações o Ministério
dotação especial de bens livres, especificando Público do Estado onde situadas.
o fim a que se destina, e declarando, se quiser, § 1o  Se funcionarem no Distrito Federal ou
a maneira de administrá-la. em Território, caberá o encargo ao Ministério
Parágrafo único.  A fundação somente poderá Público do Distrito Federal e Territórios.
constituir-se para fins de: § 2o  Se estenderem a atividade por mais de
I – assistência social; um Estado, caberá o encargo, em cada um deles,
II – cultura, defesa e conservação do patri- ao respectivo Ministério Público.
mônio histórico e artístico;
III – educação; Art. 67.  Para que se possa alterar o estatuto da
IV – saúde; fundação é mister que a reforma:
V – segurança alimentar e nutricional; I – seja deliberada por dois terços dos com-
VI – defesa, preservação e conservação do petentes para gerir e representar a fundação;
meio ambiente e promoção do desenvolvimento II – não contrarie ou desvirtue o fim desta;
sustentável; III – seja aprovada pelo órgão do Ministério
VII – pesquisa científica, desenvolvimen- Público no prazo máximo de 45 (quarenta e
to de tecnologias alternativas, modernização cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Minis-
de sistemas de gestão, produção e divulgação tério Público a denegar, poderá o juiz supri-la,
de informações e conhecimentos técnicos e a requerimento do interessado.
científicos;
VIII – promoção da ética, da cidadania, da Art. 68.  Quando a alteração não houver sido
democracia e dos direitos humanos; aprovada por votação unânime, os administra-
IX – atividades religiosas; e dores da fundação, ao submeterem o estatuto ao
X – (Vetado). órgão do Ministério Público, requererão que se
dê ciência à minoria vencida para impugná-la,
Art. 63.  Quando insuficientes para constituir se quiser, em dez dias.
a fundação, os bens a ela destinados serão, se de
outro modo não dispuser o instituidor, incor- Art. 69.  Tornando-se ilícita, impossível ou
porados em outra fundação que se proponha inútil a finalidade a que visa a fundação, ou
a fim igual ou semelhante. vencido o prazo de sua existência, o órgão do
Ministério Público, ou qualquer interessado,
Art. 64.  Constituída a fundação por negócio lhe promoverá a extinção, incorporando-se o
jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a seu patrimônio, salvo disposição em contrário
transferir-lhe a propriedade, ou outro direito no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra
real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, fundação, designada pelo juiz, que se proponha
serão registrados, em nome dela, por mandado a fim igual ou semelhante.
judicial.

Art. 65.  Aqueles a quem o instituidor cometer TÍTULO III – Do Domicílio


Código Civil

a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do


encargo, formularão logo, de acordo com as suas Art. 70.  O domicílio da pessoa natural é o
bases (art. 62), o estatuto da fundação projeta- lugar onde ela estabelece a sua residência com
ânimo definitivo. 53
Art. 71.  Se, porém, a pessoa natural tiver di- Art. 76.  Têm domicílio necessário o incapaz, o
versas residências, onde, alternadamente, viva, servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. Parágrafo único.  O domicílio do incapaz é o
do seu representante ou assistente; o do servidor
Art. 72.  É também domicílio da pessoa natural, público, o lugar em que exercer permanente-
quanto às relações concernentes à profissão, o mente suas funções; o do militar, onde servir,
lugar onde esta é exercida. e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede
Parágrafo único.  Se a pessoa exercitar do comando a que se encontrar imediatamente
profissão em lugares diversos, cada um deles subordinado; o do marítimo, onde o navio es-
constituirá domicílio para as relações que lhe tiver matriculado; e o do preso, o lugar em que
corresponderem. cumprir a sentença.

Art. 73.  Ter-se-á por domicílio da pessoa na- Art. 77.  O agente diplomático do Brasil, que,
tural, que não tenha residência habitual, o lugar citado no estrangeiro, alegar extraterritoria-
onde for encontrada. lidade sem designar onde tem, no país, o seu
domicílio, poderá ser demandado no Distrito
Art. 74.  Muda-se o domicílio, transferindo Federal ou no último ponto do território bra-
a residência, com a intenção manifesta de o sileiro onde o teve.
mudar.
Parágrafo único.  A prova da intenção resulta- Art. 78.  Nos contratos escritos, poderão os
rá do que declarar a pessoa às municipalidades contratantes especificar domicílio onde se exer-
dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se citem e cumpram os direitos e obrigações deles
tais declarações não fizer, da própria mudança, resultantes.
com as circunstâncias que a acompanharem.

Art. 75.  Quanto às pessoas jurídicas, o do- LIVRO II – Dos Bens


micílio é: TÍTULO ÚNICO – Das Diferentes Classes
I – da União, o Distrito Federal; de Bens
II – dos Estados e Territórios, as respectivas CAPÍTULO I – Dos Bens Considerados em
capitais; Si Mesmos
III – do Município, o lugar onde funcione a SEÇÃO I – Dos Bens Imóveis
administração municipal;
IV – das demais pessoas jurídicas, o lugar Art. 79.  São bens imóveis o solo e tudo quanto
onde funcionarem as respectivas diretorias e se lhe incorporar natural ou artificialmente.
administrações, ou onde elegerem domicílio
especial no seu estatuto ou atos constitutivos. Art. 80.  Consideram-se imóveis para os efeitos
§ 1o  Tendo a pessoa jurídica diversos esta- legais:
belecimentos em lugares diferentes, cada um I – os direitos reais sobre imóveis e as ações
deles será considerado domicílio para os atos que os asseguram;
nele praticados. II – o direito à sucessão aberta.
Código Civil e normas correlatas

§ 2o  Se a administração, ou diretoria, tiver


a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio Art. 81.  Não perdem o caráter de imóveis:
da pessoa jurídica, no tocante às obrigações I – as edificações que, separadas do solo, mas
contraídas por cada uma das suas agências, o conservando a sua unidade, forem removidas
lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que para outro local;
ela corresponder. II – os materiais provisoriamente separados
de um prédio, para nele se reempregarem.

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SEÇÃO II – Dos Bens Móveis SEÇÃO V – Dos Bens Singulares e Coletivos

Art. 82.  São móveis os bens suscetíveis de Art. 89.  São singulares os bens que, embora
movimento próprio, ou de remoção por força reunidos, se consideram de per si, independen-
alheia, sem alteração da substância ou da des- temente dos demais.
tinação econômico-social.
Art. 90.  Constitui universalidade de fato a plu-
Art. 83.  Consideram-se móveis para os efeitos ralidade de bens singulares que, pertinentes à
legais: mesma pessoa, tenham destinação unitária.
I – as energias que tenham valor econômico; Parágrafo único.  Os bens que formam essa
II – os direitos reais sobre objetos móveis e universalidade podem ser objeto de relações
as ações correspondentes; jurídicas próprias.
III – os direitos pessoais de caráter patrimo-
nial e respectivas ações. Art. 91.  Constitui universalidade de direito o
complexo de relações jurídicas, de uma pessoa,
Art. 84.  Os materiais destinados a alguma dotadas de valor econômico.
construção, enquanto não forem empregados,
conservam sua qualidade de móveis; readquirem
essa qualidade os provenientes da demolição CAPÍTULO II – Dos Bens Reciprocamente
de algum prédio. Considerados

Art. 92.  Principal é o bem que existe sobre si,


SEÇÃO III – Dos Bens Fungíveis e abstrata ou concretamente; acessório, aquele
Consumíveis cuja existência supõe a do principal.

Art. 85.  São fungíveis os móveis que podem Art. 93.  São pertenças os bens que, não consti-
substituir-se por outros da mesma espécie, qua- tuindo partes integrantes, se destinam, de modo
lidade e quantidade. duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformose-
amento de outro.
Art. 86.  São consumíveis os bens móveis cujo
uso importa destruição imediata da própria Art. 94.  Os negócios jurídicos que dizem res-
substância, sendo também considerados tais peito ao bem principal não abrangem as per-
os destinados à alienação. tenças, salvo se o contrário resultar da lei, da
manifestação de vontade, ou das circunstâncias
do caso.
SEÇÃO IV – Dos Bens Divisíveis
Art. 95.  Apesar de ainda não separados do
Art. 87.  Bens divisíveis são os que se podem bem principal, os frutos e produtos podem ser
fracionar sem alteração na sua substância, di- objeto de negócio jurídico.
minuição considerável de valor, ou prejuízo do
uso a que se destinam. Art. 96.  As benfeitorias podem ser voluptuá-
rias, úteis ou necessárias.
Art. 88.  Os bens naturalmente divisíveis po- § 1o  São voluptuárias as de mero deleite ou
dem tornar-se indivisíveis por determinação recreio, que não aumentam o uso habitual do
da lei ou por vontade das partes. bem, ainda que o tornem mais agradável ou
sejam de elevado valor.
Código Civil

§ 2o  São úteis as que aumentam ou facilitam


o uso do bem.
§ 3o  São necessárias as que têm por fim con-
servar o bem ou evitar que se deteriore. 55
Art. 97.  Não se consideram benfeitorias os LIVRO III – Dos Fatos Jurídicos
melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao TÍTULO I – Do Negócio Jurídico
bem sem a intervenção do proprietário, pos- CAPÍTULO I – Disposições Gerais
suidor ou detentor.
Art. 104.  A validade do negócio jurídico re-
quer:
CAPÍTULO III – Dos Bens Públicos I – agente capaz;
II – objeto lícito, possível, determinado ou
Art. 98.  São públicos os bens do domínio naci- determinável;
onal pertencentes às pessoas jurídicas de direito III – forma prescrita ou não defesa em lei.
público interno; todos os outros são particulares,
seja qual for a pessoa a que pertencerem. Art. 105.  A incapacidade relativa de uma das
partes não pode ser invocada pela outra em
Art. 99.  São bens públicos: benefício próprio, nem aproveita aos cointeres-
I – os de uso comum do povo, tais como rios, sados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível
mares, estradas, ruas e praças; o objeto do direito ou da obrigação comum.
II – os de uso especial, tais como edifícios ou
terrenos destinados a serviço ou estabelecimento Art. 106.  A impossibilidade inicial do objeto
da administração federal, estadual, territorial não invalida o negócio jurídico se for relativa,
ou municipal, inclusive os de suas autarquias; ou se cessar antes de realizada a condição a que
III – os dominicais, que constituem o patri- ele estiver subordinado.
mônio das pessoas jurídicas de direito público,
como objeto de direito pessoal, ou real, de cada Art. 107.  A validade da declaração de vontade
uma dessas entidades. não dependerá de forma especial, senão quando
Parágrafo único.  Não dispondo a lei em con- a lei expressamente a exigir.
trário, consideram-se dominicais os bens per-
tencentes às pessoas jurídicas de direito público Art. 108.  Não dispondo a lei em contrário,
a que se tenha dado estrutura de direito privado. a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição,
Art. 100.  Os bens públicos de uso comum transferência, modificação ou renúncia de direi-
do povo e os de uso especial são inalienáveis, tos reais sobre imóveis de valor superior a trinta
enquanto conservarem a sua qualificação, na vezes o maior salário mínimo vigente no País.
forma que a lei determinar.
Art. 109.  No negócio jurídico celebrado com a
Art. 101.  Os bens públicos dominicais podem cláusula de não valer sem instrumento público,
ser alienados, observadas as exigências da lei. este é da substância do ato.

Art. 102.  Os bens públicos não estão sujeitos Art. 110.  A manifestação de vontade subsiste
a usucapião. ainda que o seu autor haja feito a reserva mental
de não querer o que manifestou, salvo se dela o
Código Civil e normas correlatas

Art. 103.  O uso comum dos bens públicos destinatário tinha conhecimento.


pode ser gratuito ou retribuído, conforme for
estabelecido legalmente pela entidade a cuja Art. 111.  O silêncio importa anuência, quando
administração pertencerem. as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não
for necessária a declaração de vontade expressa.

Art. 112.  Nas declarações de vontade se aten-


derá mais à intenção nelas consubstanciada do
que ao sentido literal da linguagem.
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Art. 113.  Os negócios jurídicos devem ser CAPÍTULO III – Da Condição, do Termo e
interpretados conforme a boa-fé e os usos do do Encargo
lugar de sua celebração.
Art. 121.  Considera-se condição a cláusula
Art. 114.  Os negócios jurídicos benéficos e a que, derivando exclusivamente da vontade das
renúncia interpretam-se estritamente. partes, subordina o efeito do negócio jurídico
a evento futuro e incerto.

CAPÍTULO II – Da Representação Art. 122.  São lícitas, em geral, todas as con-


dições não contrárias à lei, à ordem pública ou
Art. 115.  Os poderes de representação confe- aos bons costumes; entre as condições defesas
rem-se por lei ou pelo interessado. se incluem as que privarem de todo efeito o ne-
gócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio
Art. 116.  A manifestação de vontade pelo re- de uma das partes.
presentante, nos limites de seus poderes, produz
efeitos em relação ao representado. Art. 123.  Invalidam os negócios jurídicos que
lhes são subordinados:
Art. 117.  Salvo se o permitir a lei ou o repre- I – as condições física ou juridicamente im-
sentado, é anulável o negócio jurídico que o possíveis, quando suspensivas;
representante, no seu interesse ou por conta de II – as condições ilícitas, ou de fazer coisa
outrem, celebrar consigo mesmo. ilícita;
Parágrafo único.  Para esse efeito, tem-se III – as condições incompreensíveis ou con-
como celebrado pelo representante o negócio traditórias.
realizado por aquele em quem os poderes hou-
verem sido subestabelecidos. Art. 124.  Têm-se por inexistentes as condições
impossíveis, quando resolutivas, e as de não
Art. 118.  O representante é obrigado a provar fazer coisa impossível.
às pessoas, com quem tratar em nome do repre-
sentado, a sua qualidade e a extensão de seus Art. 125.  Subordinando-se a eficácia do ne-
poderes, sob pena de, não o fazendo, responder gócio jurídico à condição suspensiva, enquanto
pelos atos que a estes excederem. esta se não verificar, não se terá adquirido o
direito, a que ele visa.
Art. 119.  É anulável o negócio concluído pelo
representante em conflito de interesses com o Art. 126.  Se alguém dispuser de uma coisa
representado, se tal fato era ou devia ser do sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer
conhecimento de quem com aquele tratou. quanto àquela novas disposições, estas não terão
Parágrafo único.  É de cento e oitenta dias, a valor, realizada a condição, se com ela forem
contar da conclusão do negócio ou da cessação incompatíveis.
da incapacidade, o prazo de decadência para
pleitear-se a anulação prevista neste artigo. Art. 127.  Se for resolutiva a condição, enquanto
esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico,
Art. 120.  Os requisitos e os efeitos da repre- podendo exercer-se desde a conclusão deste o
sentação legal são os estabelecidos nas normas direito por ele estabelecido.
respectivas; os da representação voluntária são
os da Parte Especial deste Código. Art. 128.  Sobrevindo a condição resolutiva,
extingue-se, para todos os efeitos, o direito a
Código Civil

que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio


de execução continuada ou periódica, a sua
realização, salvo disposição em contrário, não
tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde 57
que compatíveis com a natureza da condição Art. 136.  O encargo não suspende a aquisi-
pendente e conforme aos ditames de boa-fé. ção nem o exercício do direito, salvo quando
expressamente imposto no negócio jurídico,
Art. 129.  Reputa-se verificada, quanto aos pelo disponente, como condição suspensiva.
efeitos jurídicos, a condição cujo implemento
for maliciosamente obstado pela parte a quem Art. 137.  Considera-se não escrito o encargo
desfavorecer, considerando-se, ao contrário, ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo
não verificada a condição maliciosamente le- determinante da liberalidade, caso em que se
vada a efeito por aquele a quem aproveita o seu invalida o negócio jurídico.
implemento.

Art. 130.  Ao titular do direito eventual, nos CAPÍTULO IV – Dos Defeitos do Negócio


casos de condição suspensiva ou resolutiva, é Jurídico
permitido praticar os atos destinados a con- SEÇÃO I – Do Erro ou Ignorância
servá-lo.
Art. 138.  São anuláveis os negócios jurídicos,
Art. 131.  O termo inicial suspende o exercício, quando as declarações de vontade emanarem
mas não a aquisição do direito. de erro substancial que poderia ser percebido
por pessoa de diligência normal, em face das
Art. 132.  Salvo disposição legal ou conven- circunstâncias do negócio.
cional em contrário, computam-se os prazos,
excluído o dia do começo, e incluído o do ven- Art. 139.  O erro é substancial quando:
cimento. I – interessa à natureza do negócio, ao ob-
§ 1o  Se o dia do vencimento cair em feria- jeto principal da declaração, ou a alguma das
do, considerar-se-á prorrogado o prazo até o qualidades a ele essenciais;
seguinte dia útil. II – concerne à identidade ou à qualidade
§ 2o  Meado considera-se, em qualquer mês, essencial da pessoa a quem se refira a declaração
o seu décimo quinto dia. de vontade, desde que tenha influído nesta de
§ 3o  Os prazos de meses e anos expiram no modo relevante;
dia de igual número do de início, ou no imedi- III – sendo de direito e não implicando re-
ato, se faltar exata correspondência. cusa à aplicação da lei, for o motivo único ou
§ 4o  Os prazos fixados por hora contar-se-ão principal do negócio jurídico.
de minuto a minuto.
Art. 140.  O falso motivo só vicia a declara-
Art. 133.  Nos testamentos, presume-se o pra- ção de vontade quando expresso como razão
zo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em determinante.
proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se
do teor do instrumento, ou das circunstâncias, Art. 141.  A transmissão errônea da vontade
resultar que se estabeleceu a benefício do credor, por meios interpostos é anulável nos mesmos
ou de ambos os contratantes. casos em que o é a declaração direta.
Código Civil e normas correlatas

Art. 134.  Os negócios jurídicos entre vivos, Art. 142.  O erro de indicação da pessoa ou da


sem prazo, são exequíveis desde logo, salvo se coisa, a que se referir a declaração de vontade,
a execução tiver de ser feita em lugar diverso não viciará o negócio quando, por seu contexto
ou depender de tempo. e pelas circunstâncias, se puder identificar a
coisa ou pessoa cogitada.
Art. 135.  Ao termo inicial e final aplicam-se,
no que couber, as disposições relativas à con- Art. 143.  O erro de cálculo apenas autoriza a
dição suspensiva e resolutiva. retificação da declaração de vontade.
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Art. 144.  O erro não prejudica a validade do com base nas circunstâncias, decidirá se houve
negócio jurídico quando a pessoa, a quem a coação.
manifestação de vontade se dirige, se oferecer
para executá-la na conformidade da vontade Art. 152.  No apreciar a coação, ter-se-ão em
real do manifestante. conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais
circunstâncias que possam influir na gravidade
SEÇÃO II – Do Dolo dela.

Art. 145.  São os negócios jurídicos anuláveis Art. 153.  Não se considera coação a ameaça do
por dolo, quando este for a sua causa. exercício normal de um direito, nem o simples
temor reverencial.
Art. 146.  O dolo acidental só obriga à satisfa-
ção das perdas e danos, e é acidental quando, a Art. 154.  Vicia o negócio jurídico a coação
seu despeito, o negócio seria realizado, embora exercida por terceiro, se dela tivesse ou deves-
por outro modo. se ter conhecimento a parte a que aproveite, e
esta responderá solidariamente com aquele por
Art. 147.  Nos negócios jurídicos bilaterais, o perdas e danos.
silêncio intencional de uma das partes a respeito
de fato ou qualidade que a outra parte haja ig- Art. 155.  Subsistirá o negócio jurídico, se a
norado, constitui omissão dolosa, provando-se coação decorrer de terceiro, sem que a parte
que sem ela o negócio não se teria celebrado. a que aproveite dela tivesse ou devesse ter co-
nhecimento; mas o autor da coação responderá
Art. 148.  Pode também ser anulado o negócio por todas as perdas e danos que houver causado
jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem ao coacto.
aproveite dele tivesse ou devesse ter conheci-
mento; em caso contrário, ainda que subsista o
negócio jurídico, o terceiro responderá por todas SEÇÃO IV – Do Estado de Perigo
as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
Art. 156.  Configura-se o estado de perigo
Art. 149.  O dolo do representante legal de uma quando alguém, premido da necessidade de
das partes só obriga o representado a responder salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave
civilmente até a importância do proveito que dano conhecido pela outra parte, assume obri-
teve; se, porém, o dolo for do representante gação excessivamente onerosa.
convencional, o representado responderá soli- Parágrafo único.  Tratando-se de pessoa não
dariamente com ele por perdas e danos. pertencente à família do declarante, o juiz de-
cidirá segundo as circunstâncias.
Art. 150.  Se ambas as partes procederem com
dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o ne-
gócio, ou reclamar indenização. SEÇÃO V – Da Lesão

Art. 157.  Ocorre a lesão quando uma pessoa,


SEÇÃO III – Da Coação sob premente necessidade, ou por inexperiência,
se obriga a prestação manifestamente despro-
Art. 151.  A coação, para viciar a declaração porcional ao valor da prestação oposta.
da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente § 1o  Aprecia-se a desproporção das presta-
Código Civil

fundado temor de dano iminente e considerável ções segundo os valores vigentes ao tempo em
à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. que foi celebrado o negócio jurídico.
Parágrafo único.  Se disser respeito a pessoa § 2o  Não se decretará a anulação do negócio,
não pertencente à família do paciente, o juiz, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a 59
parte favorecida concordar com a redução do à manutenção de estabelecimento mercantil,
proveito. rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor
e de sua família.

SEÇÃO VI – Da Fraude contra Credores Art. 165.  Anulados os negócios fraudulentos,


a vantagem resultante reverterá em proveito do
Art. 158.  Os negócios de transmissão gratuita acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso
de bens ou remissão de dívida, se os praticar o de credores.
devedor já insolvente, ou por eles reduzido à Parágrafo único.  Se esses negócios tinham
insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser por único objeto atribuir direitos preferenciais,
anulados pelos credores quirografários, como mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua
lesivos dos seus direitos. invalidade importará somente na anulação da
§ 1o  Igual direito assiste aos credores cuja preferência ajustada.
garantia se tornar insuficiente.
§ 2o  Só os credores que já o eram ao tempo
daqueles atos podem pleitear a anulação deles. CAPÍTULO V – Da Invalidade do Negócio
Jurídico
Art. 159.  Serão igualmente anuláveis os con-
tratos onerosos do devedor insolvente, quando a Art. 166.  É nulo o negócio jurídico quando:
insolvência for notória, ou houver motivo para I – celebrado por pessoa absolutamente in-
ser conhecida do outro contratante. capaz;
II – for ilícito, impossível ou indeterminável
Art. 160.  Se o adquirente dos bens do devedor o seu objeto;
insolvente ainda não tiver pago o preço e este III – o motivo determinante, comum a ambas
for, aproximadamente, o corrente, desobrigar- as partes, for ilícito;
se-á depositando-o em juízo, com a citação de IV – não revestir a forma prescrita em lei;
todos os interessados. V – for preterida alguma solenidade que a lei
Parágrafo único.  Se inferior, o adquirente, considere essencial para a sua validade;
para conservar os bens, poderá depositar o preço VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
que lhes corresponda ao valor real. VII – a lei taxativamente o declarar nulo,
ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
Art. 161.  A ação, nos casos dos arts. 158 e 159,
poderá ser intentada contra o devedor insolven- Art. 167.  É nulo o negócio jurídico simulado,
te, a pessoa que com ele celebrou a estipulação mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for
considerada fraudulenta, ou terceiros adquiren- na substância e na forma.
tes que hajam procedido de má-fé. § 1o  Haverá simulação nos negócios jurídi-
cos quando:
Art. 162.  O credor quirografário, que receber I – aparentarem conferir ou transmitir di-
do devedor insolvente o pagamento da dívida reitos a pessoas diversas daquelas às quais re-
ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em almente se conferem, ou transmitem;
Código Civil e normas correlatas

proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar II – contiverem declaração, confissão, con-
o concurso de credores, aquilo que recebeu. dição ou cláusula não verdadeira;
III – os instrumentos particulares forem an-
Art. 163.  Presumem-se fraudatórias dos direi- tedatados, ou pós-datados.
tos dos outros credores as garantias de dívidas § 2o  Ressalvam-se os direitos de terceiros
que o devedor insolvente tiver dado a algum de boa-fé em face dos contraentes do negócio
credor. jurídico simulado.

Art. 164.  Presumem-se, porém, de boa-fé e Art. 168.  As nulidades dos artigos antecedentes


60 valem os negócios ordinários indispensáveis podem ser alegadas por qualquer interessado,
ou pelo Ministério Público, quando lhe couber de ofício; só os interessados a podem alegar, e
intervir. aproveita exclusivamente aos que a alegarem,
Parágrafo único.  As nulidades devem ser salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.
pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do
negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encon- Art. 178.  É de quatro anos o prazo de deca-
trar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, dência para pleitear-se a anulação do negócio
ainda que a requerimento das partes. jurídico, contado:
I – no caso de coação, do dia em que ela
Art. 169.  O negócio jurídico nulo não é sus- cessar;
cetível de confirmação, nem convalesce pelo II – no de erro, dolo, fraude contra credores,
decurso do tempo. estado de perigo ou lesão, do dia em que se
realizou o negócio jurídico;
Art. 170.  Se, porém, o negócio jurídico nulo III – no de atos de incapazes, do dia em que
contiver os requisitos de outro, subsistirá este cessar a incapacidade.
quando o fim a que visavam as partes permi-
tir supor que o teriam querido, se houvessem Art. 179.  Quando a lei dispuser que determi-
previsto a nulidade. nado ato é anulável, sem estabelecer prazo para
pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a
Art. 171.  Além dos casos expressamente de- contar da data da conclusão do ato.
clarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I – por incapacidade relativa do agente; Art. 180.  O menor, entre dezesseis e dezoito
II – por vício resultante de erro, dolo, coa- anos, não pode, para eximir-se de uma obri-
ção, estado de perigo, lesão ou fraude contra gação, invocar a sua idade se dolosamente a
credores. ocultou quando inquirido pela outra parte, ou
se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
Art. 172.  O negócio anulável pode ser con-
firmado pelas partes, salvo direito de terceiro. Art. 181.  Ninguém pode reclamar o que, por
uma obrigação anulada, pagou a um incapaz,
Art. 173.  O ato de confirmação deve conter se não provar que reverteu em proveito dele a
a substância do negócio celebrado e a vontade importância paga.
expressa de mantê-lo.
Art. 182.  Anulado o negócio jurídico, restituir-
Art. 174.  É escusada a confirmação expressa, se-ão as partes ao estado em que antes dele se
quando o negócio já foi cumprido em parte achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão
pelo devedor, ciente do vício que o inquinava. indenizadas com o equivalente.

Art. 175.  A confirmação expressa, ou a execu- Art. 183.  A invalidade do instrumento não


ção voluntária de negócio anulável, nos termos induz a do negócio jurídico sempre que este
dos arts. 172 a 174, importa a extinção de todas puder provar-se por outro meio.
as ações, ou exceções, de que contra ele dispu-
sesse o devedor. Art. 184.  Respeitada a intenção das partes, a
invalidade parcial de um negócio jurídico não o
Art. 176.  Quando a anulabilidade do ato re- prejudicará na parte válida, se esta for separável;
sultar da falta de autorização de terceiro, será a invalidade da obrigação principal implica a das
validado se este a der posteriormente. obrigações acessórias, mas a destas não induz
a da obrigação principal.
Código Civil

Art. 177.  A anulabilidade não tem efeito an-


tes de julgada por sentença, nem se pronuncia

61
TÍTULO II – Dos Atos Jurídicos Lícitos sume de fatos do interessado, incompatíveis
com a prescrição.
Art. 185.  Aos atos jurídicos lícitos, que não
sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que Art. 192.  Os prazos de prescrição não podem
couber, as disposições do Título anterior. ser alterados por acordo das partes.

Art. 193.  A prescrição pode ser alegada em


TÍTULO III – Dos Atos Ilícitos qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem
aproveita.
Art. 186.  Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar Art. 194. (Revogado)
direito e causar dano a outrem, ainda que ex-
clusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 195.  Os relativamente incapazes e as pes-
soas jurídicas têm ação contra os seus assistentes
Art. 187.  Também comete ato ilícito o titular ou representantes legais, que derem causa à
de um direito que, ao exercê-lo, excede mani- prescrição, ou não a alegarem oportunamente.
festamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons Art. 196.  A prescrição iniciada contra uma
costumes. pessoa continua a correr contra o seu sucessor.

Art. 188.  Não constituem atos ilícitos:


I – os praticados em legítima defesa ou no SEÇÃO II – Das Causas que Impedem ou
exercício regular de um direito reconhecido; Suspendem a Prescrição
II – a deterioração ou destruição da coisa
alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover Art. 197.  Não corre a prescrição:
perigo iminente. I – entre os cônjuges, na constância da so-
Parágrafo único.  No caso do inciso II, o ato ciedade conjugal;
será legítimo somente quando as circunstân- II – entre ascendentes e descendentes, du-
cias o tornarem absolutamente necessário, não rante o poder familiar;
excedendo os limites do indispensável para a III – entre tutelados ou curatelados e seus tu-
remoção do perigo. tores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

Art. 198.  Também não corre a prescrição:


TÍTULO IV – Da Prescrição e da I – contra os incapazes de que trata o art. 3o;
Decadência II – contra os ausentes do País em serviço pú-
CAPÍTULO I – Da Prescrição blico da União, dos Estados ou dos Municípios;
SEÇÃO I – Disposições Gerais III – contra os que se acharem servindo nas
Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 189.  Violado o direito, nasce para o titular
a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, Art. 199.  Não corre igualmente a prescrição:
Código Civil e normas correlatas

nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. I – pendendo condição suspensiva;


II – não estando vencido o prazo;
Art. 190.  A exceção prescreve no mesmo prazo III – pendendo ação de evicção.
em que a pretensão.
Art. 200.  Quando a ação se originar de fato
Art. 191.  A renúncia da prescrição pode ser que deva ser apurado no juízo criminal, não
expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem correrá a prescrição antes da respectiva sentença
prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se definitiva.
consumar; tácita é a renúncia quando se pre-
62
Art. 201.  Suspensa a prescrição em favor de SEÇÃO IV – Dos Prazos da Prescrição
um dos credores solidários, só aproveitam os
outros se a obrigação for indivisível. Art. 205.  A prescrição ocorre em dez anos,
quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

SEÇÃO III – Das Causas que Interrompem a Art. 206. Prescreve:


Prescrição § 1o  Em um ano:
I – a pretensão dos hospedeiros ou forne-
Art. 202.  A interrupção da prescrição, que cedores de víveres destinados a consumo no
somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: próprio estabelecimento, para o pagamento da
I – por despacho do juiz, mesmo incompe- hospedagem ou dos alimentos;
tente, que ordenar a citação, se o interessado a II – a pretensão do segurado contra o segura-
promover no prazo e na forma da lei processual; dor, ou a deste contra aquele, contado o prazo:
II – por protesto, nas condições do inciso a)  para o segurado, no caso de seguro de
antecedente; responsabilidade civil, da data em que é citado
III – por protesto cambial; para responder à ação de indenização proposta
IV – pela apresentação do título de crédito em pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este
juízo de inventário ou em concurso de credores; indeniza, com a anuência do segurador;
V – por qualquer ato judicial que constitua b)  quanto aos demais seguros, da ciência do
em mora o devedor; fato gerador da pretensão;
VI – por qualquer ato inequívoco, ainda que III – a pretensão dos tabeliães, auxiliares
extrajudicial, que importe reconhecimento do da justiça, serventuários judiciais, árbitros e
direito pelo devedor. peritos, pela percepção de emolumentos, custas
Parágrafo único.  A prescrição interrompida e honorários;
recomeça a correr da data do ato que a inter- IV – a pretensão contra os peritos, pela ava-
rompeu, ou do último ato do processo para a liação dos bens que entraram para a formação
interromper. do capital de sociedade anônima, contado da
publicação da ata da assembleia que aprovar
Art. 203.  A prescrição pode ser interrompida o laudo;
por qualquer interessado. V – a pretensão dos credores não pagos
contra os sócios ou acionistas e os liquidantes,
Art. 204.  A interrupção da prescrição por um contado o prazo da publicação da ata de encer-
credor não aproveita aos outros; semelhante- ramento da liquidação da sociedade.
mente, a interrupção operada contra o codeve- § 2o  Em dois anos, a pretensão para haver
dor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais prestações alimentares, a partir da data em que
coobrigados. se vencerem.
§ 1o  A interrupção por um dos credores § 3o  Em três anos:
solidários aproveita aos outros; assim como a I – a pretensão relativa a aluguéis de prédios
interrupção efetuada contra o devedor solidário urbanos ou rústicos;
envolve os demais e seus herdeiros. II – a pretensão para receber prestações ven-
§ 2o  A interrupção operada contra um dos cidas de rendas temporárias ou vitalícias;
herdeiros do devedor solidário não prejudica os III – a pretensão para haver juros, dividendos
outros herdeiros ou devedores, senão quando ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis,
se trate de obrigações e direitos indivisíveis. em períodos não maiores de um ano, com ca-
§ 3o  A interrupção produzida contra o prin- pitalização ou sem ela;
cipal devedor prejudica o fiador. IV – a pretensão de ressarcimento de enri-
Código Civil

quecimento sem causa;


V – a pretensão de reparação civil;

63
VI – a pretensão de restituição dos lucros ou Art. 210.  Deve o juiz, de ofício, conhecer da
dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo decadência, quando estabelecida por lei.
da data em que foi deliberada a distribuição;
VII – a pretensão contra as pessoas em segui- Art. 211.  Se a decadência for convencional, a
da indicadas por violação da lei ou do estatuto, parte a quem aproveita pode alegá-la em qual-
contado o prazo: quer grau de jurisdição, mas o juiz não pode
a)  para os fundadores, da publicação dos suprir a alegação.
atos constitutivos da sociedade anônima;
b)  para os administradores, ou fiscais, da
apresentação, aos sócios, do balanço referente TÍTULO V – Da Prova
ao exercício em que a violação tenha sido pra-
ticada, ou da reunião ou assembleia geral que Art. 212.  Salvo o negócio a que se impõe for-
dela deva tomar conhecimento; ma especial, o fato jurídico pode ser provado
c)  para os liquidantes, da primeira assem- mediante:
bleia semestral posterior à violação; I – confissão;
VIII – a pretensão para haver o pagamento II – documento;
de título de crédito, a contar do vencimento, III – testemunha;
ressalvadas as disposições de lei especial; IV – presunção;
IX – a pretensão do beneficiário contra o V – perícia.
segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso
de seguro de responsabilidade civil obrigatório. Art. 213.  Não tem eficácia a confissão se pro-
§ 4o  Em quatro anos, a pretensão relativa à vém de quem não é capaz de dispor do direito
tutela, a contar da data da aprovação das contas. a que se referem os fatos confessados.
§ 5o  Em cinco anos: Parágrafo único.  Se feita a confissão por um
I – a pretensão de cobrança de dívidas líqui- representante, somente é eficaz nos limites em
das constantes de instrumento público ou par- que este pode vincular o representado.
ticular;
II – a pretensão dos profissionais liberais Art. 214.  A confissão é irrevogável, mas pode
em geral, procuradores judiciais, curadores e ser anulada se decorreu de erro de fato ou de
professores pelos seus honorários, contado o coação.
prazo da conclusão dos serviços, da cessação
dos respectivos contratos ou mandato; Art. 215.  A escritura pública, lavrada em notas
III – a pretensão do vencedor para haver do de tabelião, é documento dotado de fé pública,
vencido o que despendeu em juízo. fazendo prova plena.
§ 1o  Salvo quando exigidos por lei outros
requisitos, a escritura pública deve conter:
CAPÍTULO II – Da Decadência I – data e local de sua realização;
II – reconhecimento da identidade e capaci-
Art. 207.  Salvo disposição legal em contrário, dade das partes e de quantos hajam comparecido
não se aplicam à decadência as normas que ao ato, por si, como representantes, interveni-
Código Civil e normas correlatas

impedem, suspendem ou interrompem a pres- entes ou testemunhas;


crição. III – nome, nacionalidade, estado civil, pro-
fissão, domicílio e residência das partes e de-
Art. 208.  Aplica-se à decadência o disposto mais comparecentes, com a indicação, quando
nos arts. 195 e 198, inciso I. necessário, do regime de bens do casamento,
nome do outro cônjuge e filiação;
Art. 209.  É nula a renúncia à decadência fi- IV – manifestação clara da vontade das partes
xada em lei. e dos intervenientes;

64
V – referência ao cumprimento das exigên- a legitimidade das partes, as declarações enun-
cias legais e fiscais inerentes à legitimidade do ciativas não eximem os interessados em sua
ato; veracidade do ônus de prová-las.
VI – declaração de ter sido lida na presença
das partes e demais comparecentes, ou de que Art. 220.  A anuência ou a autorização de
todos a leram; outrem, necessária à validade de um ato, pro-
VII – assinatura das partes e dos demais var-se-á do mesmo modo que este, e constará,
comparecentes, bem como a do tabelião ou sempre que se possa, do próprio instrumento.
seu substituto legal, encerrando o ato.
§ 2o  Se algum comparecente não puder ou Art. 221.  O instrumento particular, feito e as-
não souber escrever, outra pessoa capaz assinará sinado, ou somente assinado por quem esteja na
por ele, a seu rogo. livre disposição e administração de seus bens,
§ 3o  A escritura será redigida na língua na- prova as obrigações convencionais de qualquer
cional. valor; mas os seus efeitos, bem como os da ces-
§ 4o  Se qualquer dos comparecentes não sou- são, não se operam, a respeito de terceiros, antes
ber a língua nacional e o tabelião não entender o de registrado no registro público.
idioma em que se expressa, deverá comparecer Parágrafo único.  A prova do instrumento
tradutor público para servir de intérprete, ou, particular pode suprir-se pelas outras de ca-
não o havendo na localidade, outra pessoa ca- ráter legal.
paz que, a juízo do tabelião, tenha idoneidade
e conhecimento bastantes. Art. 222.  O telegrama, quando lhe for con-
§ 5o  Se algum dos comparecentes não for testada a autenticidade, faz prova mediante
conhecido do tabelião, nem puder identificar-se conferência com o original assinado.
por documento, deverão participar do ato pelo
menos duas testemunhas que o conheçam e Art. 223.  A cópia fotográfica de documento,
atestem sua identidade. conferida por tabelião de notas, valerá como
prova de declaração da vontade, mas, impug-
Art. 216.  Farão a mesma prova que os ori- nada sua autenticidade, deverá ser exibido o
ginais as certidões textuais de qualquer peça original.
judicial, do protocolo das audiências, ou de Parágrafo único.  A prova não supre a ausên-
outro qualquer livro a cargo do escrivão, sendo cia do título de crédito, ou do original, nos casos
extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por em que a lei ou as circunstâncias condicionarem
ele subscritas, assim como os traslados de autos, o exercício do direito à sua exibição.
quando por outro escrivão consertados.
Art. 224.  Os documentos redigidos em língua
Art. 217.  Terão a mesma força probante os estrangeira serão traduzidos para o português
traslados e as certidões, extraídos por tabelião para ter efeitos legais no País.
ou oficial de registro, de instrumentos ou do-
cumentos lançados em suas notas. Art. 225.  As reproduções fotográficas, cine-
matográficas, os registros fonográficos e, em
Art. 218.  Os traslados e as certidões conside- geral, quaisquer outras reproduções mecânicas
rar-se-ão instrumentos públicos, se os originais ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova
se houverem produzido em juízo como prova plena destes, se a parte, contra quem forem
de algum ato. exibidos, não lhes impugnar a exatidão.

Art. 219.  As declarações constantes de docu- Art. 226.  Os livros e fichas dos empresários


Código Civil

mentos assinados presumem-se verdadeiras em e sociedades provam contra as pessoas a que


relação aos signatários. pertencem, e, em seu favor, quando, escritura-
Parágrafo único.  Não tendo relação direta, dos sem vício extrínseco ou intrínseco, forem
porém, com as disposições principais ou com confirmados por outros subsídios. 65
Parágrafo único.  A prova resultante dos li- PARTE ESPECIAL
vros e fichas não é bastante nos casos em que a LIVRO I – Do Direito das Obrigações
lei exige escritura pública, ou escrito particular TÍTULO I – Das Modalidades das
revestido de requisitos especiais, e pode ser ilidi- Obrigações
da pela comprovação da falsidade ou inexatidão CAPÍTULO I – Das Obrigações de Dar
dos lançamentos. SEÇÃO I – Das Obrigações de Dar Coisa
Certa
Art. 227. (Revogado)
Parágrafo único.  Qualquer que seja o valor Art. 233.  A obrigação de dar coisa certa abran-
do negócio jurídico, a prova testemunhal é ad- ge os acessórios dela embora não mencionados,
missível como subsidiária ou complementar da salvo se o contrário resultar do título ou das
prova por escrito. circunstâncias do caso.

Art. 228.  Não podem ser admitidos como Art. 234.  Se, no caso do artigo antecedente, a
testemunhas: coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da
I – os menores de dezesseis anos; tradição, ou pendente a condição suspensiva,
II – (Revogado); fica resolvida a obrigação para ambas as partes;
III – (Revogado); se a perda resultar de culpa do devedor, respon-
IV – o interessado no litígio, o amigo íntimo derá este pelo equivalente e mais perdas e danos.
ou o inimigo capital das partes;
V – os cônjuges, os ascendentes, os descen- Art. 235.  Deteriorada a coisa, não sendo o
dentes e os colaterais, até o terceiro grau de devedor culpado, poderá o credor resolver a
alguma das partes, por consanguinidade, ou obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu
afinidade. preço o valor que perdeu.
§ 1o  Para a prova de fatos que só elas co-
nheçam, pode o juiz admitir o depoimento das Art. 236.  Sendo culpado o devedor, poderá o
pessoas a que se refere este artigo. credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa
§ 2o  A pessoa com deficiência poderá tes- no estado em que se acha, com direito a recla-
temunhar em igualdade de condições com as mar, em um ou em outro caso, indenização das
demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos perdas e danos.
os recursos de tecnologia assistiva.
Art. 237.  Até a tradição pertence ao devedor a
Art. 229. (Revogado) coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos,
pelos quais poderá exigir aumento no preço; se
Art. 230. (Revogado) o credor não anuir, poderá o devedor resolver
a obrigação.
Art. 231.  Aquele que se nega a submeter-se a Parágrafo único.  Os frutos percebidos são
exame médico necessário não poderá aprovei- do devedor, cabendo ao credor os pendentes.
tar-se de sua recusa.
Art. 238.  Se a obrigação for de restituir coisa
Código Civil e normas correlatas

Art. 232.  A recusa à perícia médica ordenada certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder
pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e
obter com o exame. a obrigação se resolverá, ressalvados os seus
direitos até o dia da perda.

Art. 239.  Se a coisa se perder por culpa do


devedor, responderá este pelo equivalente, mais
perdas e danos.

66
Art. 240.  Se a coisa restituível se deteriorar sem obrigação; se por culpa dele, responderá por
culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual perdas e danos.
se ache, sem direito a indenização; se por culpa
do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239. Art. 249.  Se o fato puder ser executado por
terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar
Art. 241.  Se, no caso do art. 238, sobrevier à custa do devedor, havendo recusa ou mora
melhoramento ou acréscimo à coisa, sem des- deste, sem prejuízo da indenização cabível.
pesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, Parágrafo único.  Em caso de urgência, pode
desobrigado de indenização. o credor, independentemente de autorização
judicial, executar ou mandar executar o fato,
Art. 242.  Se para o melhoramento, ou aumen- sendo depois ressarcido.
to, empregou o devedor trabalho ou dispêndio,
o caso se regulará pelas normas deste Código
atinentes às benfeitorias realizadas pelo possui- CAPÍTULO III – Das Obrigações de Não
dor de boa-fé ou de má-fé. Fazer
Parágrafo único.  Quanto aos frutos percebi-
dos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto Art. 250.  Extingue-se a obrigação de não fazer,
neste Código, acerca do possuidor de boa-fé desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne
ou de má-fé. impossível abster-se do ato, que se obrigou a
não praticar.

SEÇÃO II – Das Obrigações de Dar Coisa Art. 251.  Praticado pelo devedor o ato, a cuja
Incerta abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele
que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua
Art. 243.  A coisa incerta será indicada, ao me- custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
nos, pelo gênero e pela quantidade. Parágrafo único.  Em caso de urgência, po-
derá o credor desfazer ou mandar desfazer, in-
Art. 244.  Nas coisas determinadas pelo gê- dependentemente de autorização judicial, sem
nero e pela quantidade, a escolha pertence ao prejuízo do ressarcimento devido.
devedor, se o contrário não resultar do título
da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior,
nem será obrigado a prestar a melhor. CAPÍTULO IV – Das Obrigações
Alternativas
Art. 245.  Cientificado da escolha o credor,
vigorará o disposto na Seção antecedente. Art. 252.  Nas obrigações alternativas, a escolha
cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
Art. 246.  Antes da escolha, não poderá o deve- § 1o  Não pode o devedor obrigar o credor
dor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda a receber parte em uma prestação e parte em
que por força maior ou caso fortuito. outra.
§ 2o  Quando a obrigação for de prestações
periódicas, a faculdade de opção poderá ser
CAPÍTULO II – Das Obrigações de Fazer exercida em cada período.
§ 3o  No caso de pluralidade de optantes, não
Art. 247.  Incorre na obrigação de indenizar havendo acordo unânime entre eles, decidirá
perdas e danos o devedor que recusar a pres- o juiz, findo o prazo por este assinado para a
tação a ele só imposta, ou só por ele exequível. deliberação.
Código Civil

§ 4o  Se o título deferir a opção a terceiro, e


Art. 248.  Se a prestação do fato tornar-se im- este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá
possível sem culpa do devedor, resolver-se-á a ao juiz a escolha se não houver acordo entre
as partes. 67
Art. 253.  Se uma das duas prestações não I – a todos conjuntamente;
puder ser objeto de obrigação ou se tornada II – a um, dando este caução de ratificação
inexequível, subsistirá o débito quanto à outra. dos outros credores.

Art. 254.  Se, por culpa do devedor, não se Art. 261.  Se um só dos credores receber a pres-
puder cumprir nenhuma das prestações, não tação por inteiro, a cada um dos outros assistirá
competindo ao credor a escolha, ficará aquele o direito de exigir dele em dinheiro a parte que
obrigado a pagar o valor da que por último se lhe caiba no total.
impossibilitou, mais as perdas e danos que o
caso determinar. Art. 262.  Se um dos credores remitir a dívida,
a obrigação não ficará extinta para com os ou-
Art. 255.  Quando a escolha couber ao credor tros; mas estes só a poderão exigir, descontada
e uma das prestações tornar-se impossível por a quota do credor remitente.
culpa do devedor, o credor terá direito de exigir Parágrafo único.  O mesmo critério se obser-
a prestação subsistente ou o valor da outra, com vará no caso de transação, novação, compensa-
perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas ção ou confusão.
as prestações se tornarem inexequíveis, poderá
o credor reclamar o valor de qualquer das duas, Art. 263.  Perde a qualidade de indivisível a
além da indenização por perdas e danos. obrigação que se resolver em perdas e danos.
§ 1o  Se, para efeito do disposto neste artigo,
Art. 256.  Se todas as prestações se tornarem houver culpa de todos os devedores, responde-
impossíveis sem culpa do devedor, extinguir- rão todos por partes iguais.
se-á a obrigação. § 2o  Se for de um só a culpa, ficarão exo-
nerados os outros, respondendo só esse pelas
perdas e danos.
CAPÍTULO V – Das Obrigações Divisíveis e
Indivisíveis
CAPÍTULO VI – Das Obrigações Solidárias
Art. 257.  Havendo mais de um devedor ou SEÇÃO I – Disposições Gerais
mais de um credor em obrigação divisível, esta
presume-se dividida em tantas obrigações, iguais Art. 264.  Há solidariedade, quando na mes-
e distintas, quantos os credores ou devedores. ma obrigação concorre mais de um credor, ou
mais de um devedor, cada um com direito, ou
Art. 258.  A obrigação é indivisível quando a obrigado, à dívida toda.
prestação tem por objeto uma coisa ou um fato
não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por Art. 265.  A solidariedade não se presume; re-
motivo de ordem econômica, ou dada a razão sulta da lei ou da vontade das partes.
determinante do negócio jurídico.
Art. 266.  A obrigação solidária pode ser pura e
Art. 259.  Se, havendo dois ou mais devedo- simples para um dos cocredores ou codevedores,
Código Civil e normas correlatas

res, a prestação não for divisível, cada um será e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar
obrigado pela dívida toda. diferente, para o outro.
Parágrafo único.  O devedor, que paga a dívi-
da, sub-roga-se no direito do credor em relação
aos outros coobrigados. SEÇÃO II – Da Solidariedade Ativa

Art. 260.  Se a pluralidade for dos credores, Art. 267.  Cada um dos credores solidários tem
poderá cada um destes exigir a dívida inteira; direito a exigir do devedor o cumprimento da
mas o devedor ou devedores se desobrigarão, prestação por inteiro.
68 pagando:
Art. 268.  Enquanto alguns dos credores soli- considerados como um devedor solidário em
dários não demandarem o devedor comum, a relação aos demais devedores.
qualquer daqueles poderá este pagar.
Art. 277.  O pagamento parcial feito por um
Art. 269.  O pagamento feito a um dos credores dos devedores e a remissão por ele obtida não
solidários extingue a dívida até o montante do aproveitam aos outros devedores, senão até à
que foi pago. concorrência da quantia paga ou relevada.

Art. 270.  Se um dos credores solidários fale- Art. 278.  Qualquer cláusula, condição ou obri-
cer deixando herdeiros, cada um destes só terá gação adicional, estipulada entre um dos deve-
direito a exigir e receber a quota do crédito que dores solidários e o credor, não poderá agravar
corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo a posição dos outros sem consentimento destes.
se a obrigação for indivisível.
Art. 279.  Impossibilitando-se a prestação por
Art. 271.  Convertendo-se a prestação em per- culpa de um dos devedores solidários, subsiste
das e danos, subsiste, para todos os efeitos, a para todos o encargo de pagar o equivalente;
solidariedade. mas pelas perdas e danos só responde o culpado.

Art. 272.  O credor que tiver remitido a dívida Art. 280.  Todos os devedores respondem pe-
ou recebido o pagamento responderá aos outros los juros da mora, ainda que a ação tenha sido
pela parte que lhes caiba. proposta somente contra um; mas o culpado
responde aos outros pela obrigação acrescida.
Art. 273.  A um dos credores solidários não
pode o devedor opor as exceções pessoais opo- Art. 281.  O devedor demandado pode opor
níveis aos outros. ao credor as exceções que lhe forem pessoais
e as comuns a todos; não lhe aproveitando as
Art. 274.  O julgamento contrário a um dos exceções pessoais a outro codevedor.
credores solidários não atinge os demais, mas
o julgamento favorável aproveita-lhes, sem pre- Art. 282.  O credor pode renunciar à solidari-
juízo de exceção pessoal que o devedor tenha edade em favor de um, de alguns ou de todos
direito de invocar em relação a qualquer deles. os devedores.
Parágrafo único.  Se o credor exonerar da
solidariedade um ou mais devedores, subsistirá
SEÇÃO III – Da Solidariedade Passiva a dos demais.

Art. 275.  O credor tem direito a exigir e receber Art. 283.  O devedor que satisfez a dívida por
de um ou de alguns dos devedores, parcial ou inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-
totalmente, a dívida comum; se o pagamento devedores a sua quota, dividindo-se igualmente
tiver sido parcial, todos os demais devedores por todos a do insolvente, se o houver, presu-
continuam obrigados solidariamente pelo resto. mindo-se iguais, no débito, as partes de todos
Parágrafo único.  Não importará renúncia da os codevedores.
solidariedade a propositura de ação pelo credor
contra um ou alguns dos devedores. Art. 284.  No caso de rateio entre os codeve-
dores, contribuirão também os exonerados da
Art. 276.  Se um dos devedores solidários fa- solidariedade pelo credor, pela parte que na
lecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigação incumbia ao insolvente.
Código Civil

obrigado a pagar senão a quota que correspon-


der ao seu quinhão hereditário, salvo se a obri- Art. 285.  Se a dívida solidária interessar ex-
gação for indivisível; mas todos reunidos serão clusivamente a um dos devedores, responderá
este por toda ela para com aquele que pagar. 69
TÍTULO II – Da Transmissão das que, no momento em que veio a ter conheci-
Obrigações mento da cessão, tinha contra o cedente.
CAPÍTULO I – Da Cessão de Crédito
Art. 295.  Na cessão por título oneroso, o ce-
Art. 286.  O credor pode ceder o seu crédito, dente, ainda que não se responsabilize, fica
se a isso não se opuser a natureza da obrigação, responsável ao cessionário pela existência do
a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma
proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao responsabilidade lhe cabe nas cessões por título
cessionário de boa-fé, se não constar do instru- gratuito, se tiver procedido de má-fé.
mento da obrigação.
Art. 296.  Salvo estipulação em contrário, o
Art. 287.  Salvo disposição em contrário, na cedente não responde pela solvência do devedor.
cessão de um crédito abrangem-se todos os
seus acessórios. Art. 297.  O cedente, responsável ao cessionário
pela solvência do devedor, não responde por
Art. 288.  É ineficaz, em relação a terceiros, a mais do que daquele recebeu, com os respectivos
transmissão de um crédito, se não celebrar-se juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da
mediante instrumento público, ou instrumento cessão e as que o cessionário houver feito com
particular revestido das solenidades do § 1o do a cobrança.
art. 654.
Art. 298.  O crédito, uma vez penhorado, não
Art. 289.  O cessionário de crédito hipotecá- pode mais ser transferido pelo credor que tiver
rio tem o direito de fazer averbar a cessão no conhecimento da penhora; mas o devedor que
registro do imóvel. o pagar, não tendo notificação dela, fica exone-
rado, subsistindo somente contra o credor os
Art. 290.  A cessão do crédito não tem eficácia direitos de terceiro.
em relação ao devedor, senão quando a este
notificada; mas por notificado se tem o devedor
que, em escrito público ou particular, se declarou CAPÍTULO II – Da Assunção de Dívida
ciente da cessão feita.
Art. 299.  É facultado a terceiro assumir a
Art. 291.  Ocorrendo várias cessões do mesmo obrigação do devedor, com o consentimento
crédito, prevalece a que se completar com a expresso do credor, ficando exonerado o de-
tradição do título do crédito cedido. vedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da
assunção, era insolvente e o credor o ignorava.
Art. 292.  Fica desobrigado o devedor que, an- Parágrafo único.  Qualquer das partes pode
tes de ter conhecimento da cessão, paga ao cre- assinar prazo ao credor para que consinta na
dor primitivo, ou que, no caso de mais de uma assunção da dívida, interpretando-se o seu si-
cessão notificada, paga ao cessionário que lhe lêncio como recusa.
apresenta, com o título de cessão, o da obrigação
Código Civil e normas correlatas

cedida; quando o crédito constar de escritura Art. 300.  Salvo assentimento expresso do de-
pública, prevalecerá a prioridade da notificação. vedor primitivo, consideram-se extintas, a partir
da assunção da dívida, as garantias especiais por
Art. 293.  Independentemente do conhecimen- ele originariamente dadas ao credor.
to da cessão pelo devedor, pode o cessionário
exercer os atos conservatórios do direito cedido. Art. 301.  Se a substituição do devedor vier a
ser anulada, restaura-se o débito, com todas as
Art. 294.  O devedor pode opor ao cessionário suas garantias, salvo as garantias prestadas por
as exceções que lhe competirem, bem como as terceiros, exceto se este conhecia o vício que
70 inquinava a obrigação.
Art. 302.  O novo devedor não pode opor ao SEÇÃO II – Daqueles a Quem Se Deve Pagar
credor as exceções pessoais que competiam ao
devedor primitivo. Art. 308.  O pagamento deve ser feito ao credor
ou a quem de direito o represente, sob pena de
Art. 303.  O adquirente de imóvel hipotecado só valer depois de por ele ratificado, ou tanto
pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito quanto reverter em seu proveito.
garantido; se o credor, notificado, não impugnar
em trinta dias a transferência do débito, enten- Art. 309.  O pagamento feito de boa-fé ao cre-
der-se-á dado o assentimento. dor putativo é válido, ainda provado depois que
não era credor.

TÍTULO III – Do Adimplemento e Extinção Art. 310.  Não vale o pagamento cientemente


das Obrigações feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor
CAPÍTULO I – Do Pagamento não provar que em benefício dele efetivamente
SEÇÃO I – De Quem Deve Pagar reverteu.

Art. 304.  Qualquer interessado na extinção Art. 311.  Considera-se autorizado a receber


da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se o pagamento o portador da quitação, salvo se
opuser, dos meios conducentes à exoneração as circunstâncias contrariarem a presunção daí
do devedor. resultante.
Parágrafo único.  Igual direito cabe ao tercei-
ro não interessado, se o fizer em nome e à conta Art. 312.  Se o devedor pagar ao credor, apesar
do devedor, salvo oposição deste. de intimado da penhora feita sobre o crédito,
ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o
Art. 305.  O terceiro não interessado, que paga pagamento não valerá contra estes, que poderão
a dívida em seu próprio nome, tem direito a constranger o devedor a pagar de novo, ficando-
reembolsar-se do que pagar; mas não se sub- lhe ressalvado o regresso contra o credor.
roga nos direitos do credor.
Parágrafo único.  Se pagar antes de vencida
a dívida, só terá direito ao reembolso no ven- SEÇÃO III – Do Objeto do Pagamento e Sua
cimento. Prova

Art. 306.  O pagamento feito por terceiro, com Art. 313.  O credor não é obrigado a receber
desconhecimento ou oposição do devedor, não prestação diversa da que lhe é devida, ainda
obriga a reembolsar aquele que pagou, se o de- que mais valiosa.
vedor tinha meios para ilidir a ação.
Art. 314.  Ainda que a obrigação tenha por
Art. 307.  Só terá eficácia o pagamento que objeto prestação divisível, não pode o credor
importar transmissão da propriedade, quando ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar,
feito por quem possa alienar o objeto em que por partes, se assim não se ajustou.
ele consistiu.
Parágrafo único.  Se se der em pagamento Art. 315.  As dívidas em dinheiro deverão ser
coisa fungível, não se poderá mais reclamar do pagas no vencimento, em moeda corrente e
credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos
ainda que o solvente não tivesse o direito de subsequentes.
aliená-la.
Código Civil

Art. 316.  É lícito convencionar o aumento


progressivo de prestações sucessivas.

71
Art. 317.  Quando, por motivos imprevisíveis, ocorrer aumento por fato do credor, suportará
sobrevier desproporção manifesta entre o valor este a despesa acrescida.
da prestação devida e o do momento de sua
execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da Art. 326.  Se o pagamento se houver de fazer
parte, de modo que assegure, quanto possível, por medida, ou peso, entender-se-á, no silên-
o valor real da prestação. cio das partes, que aceitaram os do lugar da
execução.
Art. 318.  São nulas as convenções de paga-
mento em ouro ou em moeda estrangeira, bem
como para compensar a diferença entre o valor SEÇÃO IV – Do Lugar do Pagamento
desta e o da moeda nacional, excetuados os casos
previstos na legislação especial. Art. 327.  Efetuar-se-á o pagamento no do-
micílio do devedor, salvo se as partes conven-
Art. 319.  O devedor que paga tem direito a cionarem diversamente, ou se o contrário re-
quitação regular, e pode reter o pagamento, sultar da lei, da natureza da obrigação ou das
enquanto não lhe seja dada. circunstâncias.
Parágrafo único.  Designados dois ou mais
Art. 320.  A quitação, que sempre poderá ser lugares, cabe ao credor escolher entre eles.
dada por instrumento particular, designará o
valor e a espécie da dívida quitada, o nome do Art. 328.  Se o pagamento consistir na tradi-
devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o ção de um imóvel, ou em prestações relativas a
lugar do pagamento, com a assinatura do credor, imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.
ou do seu representante.
Parágrafo único.  Ainda sem os requisitos Art. 329.  Ocorrendo motivo grave para que se
estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se não efetue o pagamento no lugar determinado,
de seus termos ou das circunstâncias resultar poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo
haver sido paga a dívida. para o credor.

Art. 321.  Nos débitos, cuja quitação consista Art. 330.  O pagamento reiteradamente feito
na devolução do título, perdido este, poderá o em outro local faz presumir renúncia do credor
devedor exigir, retendo o pagamento, declaração relativamente ao previsto no contrato.
do credor que inutilize o título desaparecido.

Art. 322.  Quando o pagamento for em quotas SEÇÃO V – Do Tempo do Pagamento


periódicas, a quitação da última estabelece, até
prova em contrário, a presunção de estarem Art. 331.  Salvo disposição legal em contrário,
solvidas as anteriores. não tendo sido ajustada época para o pagamen-
to, pode o credor exigi-lo imediatamente.
Art. 323.  Sendo a quitação do capital sem re-
serva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 332.  As obrigações condicionais cum-
Código Civil e normas correlatas

prem-se na data do implemento da condição,


Art. 324.  A entrega do título ao devedor firma cabendo ao credor a prova de que deste teve
a presunção do pagamento. ciência o devedor.
Parágrafo único.  Ficará sem efeito a quitação
assim operada se o credor provar, em sessenta Art. 333.  Ao credor assistirá o direito de cobrar
dias, a falta do pagamento. a dívida antes de vencido o prazo estipulado no
contrato ou marcado neste Código:
Art. 325.  Presumem-se a cargo do devedor I – no caso de falência do devedor, ou de
as despesas com o pagamento e a quitação; se concurso de credores;
72
II – se os bens, hipotecados ou empenha- respectivas despesas, e subsistindo a obrigação
dos, forem penhorados em execução por outro para todas as consequências de direito.
credor;
III – se cessarem, ou se se tornarem insu- Art. 339.  Julgado procedente o depósito, o
ficientes, as garantias do débito, fidejussórias, devedor já não poderá levantá-lo, embora o
ou reais, e o devedor, intimado, se negar a re- credor consinta, senão de acordo com os outros
forçá-las. devedores e fiadores.
Parágrafo único.  Nos casos deste artigo, se
houver, no débito, solidariedade passiva, não se Art. 340.  O credor que, depois de contestar a
reputará vencido quanto aos outros devedores lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levan-
solventes. tamento, perderá a preferência e a garantia que
lhe competiam com respeito à coisa consignada,
ficando para logo desobrigados os codevedores
CAPÍTULO II – Do Pagamento em e fiadores que não tenham anuído.
Consignação
Art. 341.  Se a coisa devida for imóvel ou cor-
Art. 334.  Considera-se pagamento, e extingue po certo que deva ser entregue no mesmo lu-
a obrigação, o depósito judicial ou em estabe- gar onde está, poderá o devedor citar o credor
lecimento bancário da coisa devida, nos casos para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser
e forma legais. depositada.

Art. 335.  A consignação tem lugar: Art. 342.  Se a escolha da coisa indeterminada


I – se o credor não puder, ou, sem justa causa, competir ao credor, será ele citado para esse
recusar receber o pagamento, ou dar quitação fim, sob cominação de perder o direito e de ser
na devida forma; depositada a coisa que o devedor escolher; feita
II – se o credor não for, nem mandar receber a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no
a coisa no lugar, tempo e condição devidos; artigo antecedente.
III – se o credor for incapaz de receber, for
desconhecido, declarado ausente, ou residir em Art. 343.  As despesas com o depósito, quando
lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; julgado procedente, correrão à conta do credor,
IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva le- e, no caso contrário, à conta do devedor.
gitimamente receber o objeto do pagamento;
V – se pender litígio sobre o objeto do pa- Art. 344.  O devedor de obrigação litigiosa exo-
gamento. nerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar
a qualquer dos pretendidos credores, tendo
Art. 336.  Para que a consignação tenha for- conhecimento do litígio, assumirá o risco do
ça de pagamento, será mister concorram, em pagamento.
relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo,
todos os requisitos sem os quais não é válido Art. 345.  Se a dívida se vencer, pendendo litígio
o pagamento. entre credores que se pretendem mutuamente
excluir, poderá qualquer deles requerer a con-
Art. 337.  O depósito requerer-se-á no lugar do signação.
pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o
depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo
se for julgado improcedente. CAPÍTULO III – Do Pagamento com Sub-
rogação
Código Civil

Art. 338.  Enquanto o credor não declarar que


aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o Art. 346.  A sub-rogação opera-se, de pleno
devedor requerer o levantamento, pagando as direito, em favor:
73
I – do credor que paga a dívida do devedor putar o pagamento, se aceitar a quitação de
comum; uma delas, não terá direito a reclamar contra
II – do adquirente do imóvel hipotecado, a imputação feita pelo credor, salvo provando
que paga a credor hipotecário, bem como do haver ele cometido violência ou dolo.
terceiro que efetiva o pagamento para não ser
privado de direito sobre imóvel; Art. 354.  Havendo capital e juros, o pagamento
III – do terceiro interessado, que paga a dívi- imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e
da pela qual era ou podia ser obrigado, no todo depois no capital, salvo estipulação em contrá-
ou em parte. rio, ou se o credor passar a quitação por conta
do capital.
Art. 347.  A sub-rogação é convencional:
I – quando o credor recebe o pagamento de Art. 355.  Se o devedor não fizer a indicação
terceiro e expressamente lhe transfere todos os do art. 352, e a quitação for omissa quanto à
seus direitos; imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e
II – quando terceira pessoa empresta ao de- vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem
vedor a quantia precisa para solver a dívida, todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a
sob a condição expressa de ficar o mutuante imputação far-se-á na mais onerosa.
sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

Art. 348.  Na hipótese do inciso I do artigo CAPÍTULO V – Da Dação em Pagamento


antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão
do crédito. Art. 356.  O credor pode consentir em receber
prestação diversa da que lhe é devida.
Art. 349.  A sub-rogação transfere ao novo
credor todos os direitos, ações, privilégios e Art. 357.  Determinado o preço da coisa dada
garantias do primitivo, em relação à dívida, em pagamento, as relações entre as partes regu-
contra o devedor principal e os fiadores. lar-se-ão pelas normas do contrato de compra
e venda.
Art. 350.  Na sub-rogação legal o sub-rogado
não poderá exercer os direitos e as ações do Art. 358.  Se for título de crédito a coisa dada
credor, senão até à soma que tiver desembolsado em pagamento, a transferência importará em
para desobrigar o devedor. cessão.

Art. 351.  O credor originário, só em parte Art. 359.  Se o credor for evicto da coisa recebi-
reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, da em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação
na cobrança da dívida restante, se os bens do primitiva, ficando sem efeito a quitação dada,
devedor não chegarem para saldar inteiramente ressalvados os direitos de terceiros.
o que a um e outro dever.

CAPÍTULO VI – Da Novação
Código Civil e normas correlatas

CAPÍTULO IV – Da Imputação do
Pagamento Art. 360.  Dá-se a novação:
I – quando o devedor contrai com o credor
Art. 352.  A pessoa obrigada por dois ou mais nova dívida para extinguir e substituir a anterior;
débitos da mesma natureza, a um só credor, II – quando novo devedor sucede ao antigo,
tem o direito de indicar a qual deles oferece ficando este quite com o credor;
pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. III – quando, em virtude de obrigação nova,
outro credor é substituído ao antigo, ficando o
Art. 353.  Não tendo o devedor declarado em devedor quite com este.
74 qual das dívidas líquidas e vencidas quer im-
Art. 361.  Não havendo ânimo de novar, ex- Art. 371.  O devedor somente pode compensar
presso ou tácito mas inequívoco, a segunda com o credor o que este lhe dever; mas o fiador
obrigação confirma simplesmente a primeira. pode compensar sua dívida com a de seu credor
ao afiançado.
Art. 362.  A novação por substituição do de-
vedor pode ser efetuada independentemente Art. 372.  Os prazos de favor, embora consagra-
de consentimento deste. dos pelo uso geral, não obstam a compensação.

Art. 363.  Se o novo devedor for insolvente, Art. 373.  A diferença de causa nas dívidas não
não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva impede a compensação, exceto:
contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé I – se provier de esbulho, furto ou roubo;
a substituição. II – se uma se originar de comodato, depósito
ou alimentos;
Art. 364.  A novação extingue os acessórios e III – se uma for de coisa não suscetível de
garantias da dívida, sempre que não houver esti- penhora.
pulação em contrário. Não aproveitará, contudo,
ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a Art. 374. (Revogado)
anticrese, se os bens dados em garantia perten-
cerem a terceiro que não foi parte na novação. Art. 375.  Não haverá compensação quando as
partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no
Art. 365.  Operada a novação entre o credor e caso de renúncia prévia de uma delas.
um dos devedores solidários, somente sobre os
bens do que contrair a nova obrigação subsistem Art. 376.  Obrigando-se por terceiro uma pes-
as preferências e garantias do crédito novado. soa, não pode compensar essa dívida com a que
Os outros devedores solidários ficam por esse o credor dele lhe dever.
fato exonerados.
Art. 377.  O devedor que, notificado, nada
Art. 366.  Importa exoneração do fiador a no- opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos
vação feita sem seu consenso com o devedor seus direitos, não pode opor ao cessionário a
principal. compensação, que antes da cessão teria podido
opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não
Art. 367.  Salvo as obrigações simplesmente tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário
anuláveis, não podem ser objeto de novação compensação do crédito que antes tinha contra
obrigações nulas ou extintas. o cedente.

Art. 378.  Quando as duas dívidas não são


CAPÍTULO VII – Da Compensação pagáveis no mesmo lugar, não se podem com-
pensar sem dedução das despesas necessárias
Art. 368.  Se duas pessoas forem ao mesmo à operação.
tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compen- Art. 379.  Sendo a mesma pessoa obrigada por
sarem. várias dívidas compensáveis, serão observadas,
no compensá-las, as regras estabelecidas quanto
Art. 369.  A compensação efetua-se entre dívi- à imputação do pagamento.
das líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.
Art. 380.  Não se admite a compensação em
Código Civil

Art. 370.  Embora sejam do mesmo gênero as prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se
coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não torne credor do seu credor, depois de penhorado
se compensarão, verificando-se que diferem na o crédito deste, não pode opor ao exequente a
qualidade, quando especificada no contrato. 75
compensação, de que contra o próprio credor TÍTULO IV – Do Inadimplemento das
disporia. Obrigações
CAPÍTULO I – Disposições Gerais

CAPÍTULO VIII – Da Confusão Art. 389.  Não cumprida a obrigação, respon-


de o devedor por perdas e danos, mais juros e
Art. 381.  Extingue-se a obrigação, desde que atualização monetária segundo índices oficiais
na mesma pessoa se confundam as qualidades regularmente estabelecidos, e honorários de
de credor e devedor. advogado.

Art. 382.  A confusão pode verificar-se a res- Art. 390.  Nas obrigações negativas o devedor
peito de toda a dívida, ou só de parte dela. é havido por inadimplente desde o dia em que
executou o ato de que se devia abster.
Art. 383.  A confusão operada na pessoa do
credor ou devedor solidário só extingue a obri- Art. 391.  Pelo inadimplemento das obrigações
gação até a concorrência da respectiva parte no respondem todos os bens do devedor.
crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao
mais a solidariedade. Art. 392.  Nos contratos benéficos, responde
por simples culpa o contratante, a quem o con-
Art. 384.  Cessando a confusão, para logo se trato aproveite, e por dolo aquele a quem não
restabelece, com todos os seus acessórios, a favoreça. Nos contratos onerosos, responde
obrigação anterior. cada uma das partes por culpa, salvo as exceções
previstas em lei.

CAPÍTULO IX – Da Remissão das Dívidas Art. 393.  O devedor não responde pelos preju-
ízos resultantes de caso fortuito ou força maior,
Art. 385.  A remissão da dívida, aceita pelo se expressamente não se houver por eles res-
devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo ponsabilizado.
de terceiro. Parágrafo único.  O caso fortuito ou de força
maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos
Art. 386.  A devolução voluntária do título da não era possível evitar ou impedir.
obrigação, quando por escrito particular, prova
desoneração do devedor e seus coobrigados, se
o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz CAPÍTULO II – Da Mora
de adquirir.
Art. 394.  Considera-se em mora o devedor
Art. 387.  A restituição voluntária do objeto que não efetuar o pagamento e o credor que
empenhado prova a renúncia do credor à ga- não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma
rantia real, não a extinção da dívida. que a lei ou a convenção estabelecer.
Código Civil e normas correlatas

Art. 388.  A remissão concedida a um dos Art. 395.  Responde o devedor pelos prejuízos a


codevedores extingue a dívida na parte a ele que sua mora der causa, mais juros, atualização
correspondente; de modo que, ainda reservando dos valores monetários segundo índices oficiais
o credor a solidariedade contra os outros, já regularmente estabelecidos, e honorários de
lhes não pode cobrar o débito sem dedução da advogado.
parte remitida. Parágrafo único.  Se a prestação, devido à
mora, se tornar inútil ao credor, este poderá en-
jeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.

76
Art. 396.  Não havendo fato ou omissão im- efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
putável ao devedor, não incorre este em mora. disposto na lei processual.

Art. 397.  O inadimplemento da obrigação, Art. 404.  As perdas e danos, nas obrigações


positiva e líquida, no seu termo, constitui de de pagamento em dinheiro, serão pagas com
pleno direito em mora o devedor. atualização monetária segundo índices oficiais
Parágrafo único.  Não havendo termo, a mora regularmente estabelecidos, abrangendo juros,
se constitui mediante interpelação judicial ou custas e honorários de advogado, sem prejuízo
extrajudicial. da pena convencional.
Parágrafo único.  Provado que os juros da
Art. 398.  Nas obrigações provenientes de ato mora não cobrem o prejuízo, e não havendo
ilícito, considera-se o devedor em mora, desde pena convencional, pode o juiz conceder ao
que o praticou. credor indenização suplementar.

Art. 399.  O devedor em mora responde pela Art. 405.  Contam-se os juros de mora desde
impossibilidade da prestação, embora essa a citação inicial.
impossibilidade resulte de caso fortuito ou de
força maior, se estes ocorrerem durante o atra-
so; salvo se provar isenção de culpa, ou que o CAPÍTULO IV – Dos Juros Legais
dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse
oportunamente desempenhada. Art. 406.  Quando os juros moratórios não
forem convencionados, ou o forem sem taxa
Art. 400.  A mora do credor subtrai o devedor estipulada, ou quando provierem de determi-
isento de dolo à responsabilidade pela conser- nação da lei, serão fixados segundo a taxa que
vação da coisa, obriga o credor a ressarcir as estiver em vigor para a mora do pagamento de
despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o impostos devidos à Fazenda Nacional.
a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia esta- Art. 407.  Ainda que se não alegue prejuízo, é
belecido para o pagamento e o da sua efetivação. obrigado o devedor aos juros da mora que se
contarão assim às dívidas em dinheiro, como às
Art. 401.  Purga-se a mora: prestações de outra natureza, uma vez que lhes
I – por parte do devedor, oferecendo este esteja fixado o valor pecuniário por sentença
a prestação mais a importância dos prejuízos judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.
decorrentes do dia da oferta;
II – por parte do credor, oferecendo-se este a
receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos CAPÍTULO V – Da Cláusula Penal
da mora até a mesma data.
Art. 408.  Incorre de pleno direito o devedor na
cláusula penal, desde que, culposamente, deixe
CAPÍTULO III – Das Perdas e Danos de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.

Art. 402.  Salvo as exceções expressamente Art. 409.  A cláusula penal estipulada conjun-


previstas em lei, as perdas e danos devidas ao tamente com a obrigação, ou em ato posteri-
credor abrangem, além do que ele efetivamente or, pode referir-se à inexecução completa da
perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. obrigação, à de alguma cláusula especial ou
simplesmente à mora.
Código Civil

Art. 403.  Ainda que a inexecução resulte de


dolo do devedor, as perdas e danos só incluem Art. 410.  Quando se estipular a cláusula pe-
os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por nal para o caso de total inadimplemento da
77
obrigação, esta converter-se-á em alternativa a ras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as
benefício do credor. arras, em caso de execução, ser restituídas ou
computadas na prestação devida, se do mesmo
Art. 411.  Quando se estipular a cláusula penal gênero da principal.
para o caso de mora, ou em segurança especial
de outra cláusula determinada, terá o credor o Art. 418.  Se a parte que deu as arras não exe-
arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, cutar o contrato, poderá a outra tê-lo por des-
juntamente com o desempenho da obrigação feito, retendo-as; se a inexecução for de quem
principal. recebeu as arras, poderá quem as deu haver o
contrato por desfeito, e exigir sua devolução
Art. 412.  O valor da cominação imposta na mais o equivalente, com atualização monetária
cláusula penal não pode exceder o da obrigação segundo índices oficiais regularmente estabele-
principal. cidos, juros e honorários de advogado.

Art. 413.  A penalidade deve ser reduzida equi- Art. 419.  A parte inocente pode pedir inde-
tativamente pelo juiz se a obrigação principal nização suplementar, se provar maior prejuí-
tiver sido cumprida em parte, ou se o montante zo, valendo as arras como taxa mínima. Pode,
da penalidade for manifestamente excessivo, também, a parte inocente exigir a execução do
tendo-se em vista a natureza e a finalidade do contrato, com as perdas e danos, valendo as
negócio. arras como o mínimo da indenização.

Art. 414.  Sendo indivisível a obrigação, todos Art. 420.  Se no contrato for estipulado o direito
os devedores, caindo em falta um deles, incor- de arrependimento para qualquer das partes, as
rerão na pena; mas esta só se poderá demandar arras ou sinal terão função unicamente inde-
integralmente do culpado, respondendo cada nizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á
um dos outros somente pela sua quota. em benefício da outra parte; e quem as recebeu
Parágrafo único.  Aos não culpados fica re- devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos
servada a ação regressiva contra aquele que deu os casos não haverá direito a indenização su-
causa à aplicação da pena. plementar.

Art. 415.  Quando a obrigação for divisível,


só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do TÍTULO V – Dos Contratos em Geral
devedor que a infringir, e proporcionalmente CAPÍTULO I – Disposições Gerais
à sua parte na obrigação. SEÇÃO I – Preliminares

Art. 416.  Para exigir a pena convencional, não Art. 421.  A liberdade de contratar será exer-
é necessário que o credor alegue prejuízo. cida em razão e nos limites da função social do
Parágrafo único.  Ainda que o prejuízo exceda contrato, observado o disposto na Declaração
ao previsto na cláusula penal, não pode o credor de Direitos de Liberdade Econômica.
exigir indenização suplementar se assim não Parágrafo único.  Nas relações contratuais
Código Civil e normas correlatas

foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale privadas, prevalecerá o princípio da interven-
como mínimo da indenização, competindo ao ção mínima do Estado, por qualquer dos seus
credor provar o prejuízo excedente. poderes, e a revisão contratual determinada de
forma externa às partes será excepcional.

CAPÍTULO VI – Das Arras ou Sinal Art. 422.  Os contratantes são obrigados a


guardar, assim na conclusão do contrato, como
Art. 417.  Se, por ocasião da conclusão do em sua execução, os princípios de probidade
contrato, uma parte der à outra, a título de ar- e boa-fé.
78
Art. 423.  Quando houver no contrato de ade- Parágrafo único.  Pode revogar-se a oferta
são cláusulas que gerem dúvida quanto à sua pela mesma via de sua divulgação, desde que
interpretação, será adotada a mais favorável ressalvada esta faculdade na oferta realizada.
ao aderente.
Parágrafo único.  Nos contratos não atingidos Art. 430.  Se a aceitação, por circunstância
pelo disposto no caput, exceto se houver dispo- imprevista, chegar tarde ao conhecimento do
sição específica em lei, a dúvida na interpretação proponente, este comunicá-lo-á imediatamente
beneficia a parte que não redigiu a cláusula ao aceitante, sob pena de responder por perdas
controvertida. e danos.

Art. 424.  Nos contratos de adesão, são nulas as Art. 431.  A aceitação fora do prazo, com adi-
cláusulas que estipulem a renúncia antecipada ções, restrições, ou modificações, importará
do aderente a direito resultante da natureza nova proposta.
do negócio.
Art. 432.  Se o negócio for daqueles em que
Art. 425.  É lícito às partes estipular contratos não seja costume a aceitação expressa, ou o
atípicos, observadas as normas gerais fixadas proponente a tiver dispensado, reputar-se-á
neste Código. concluído o contrato, não chegando a tempo
a recusa.
Art. 426.  Não pode ser objeto de contrato a
herança de pessoa viva. Art. 433.  Considera-se inexistente a aceitação,
se antes dela ou com ela chegar ao proponente
a retratação do aceitante.
SEÇÃO II – Da Formação dos Contratos
Art. 434.  Os contratos entre ausentes tornam-
Art. 427.  A proposta de contrato obriga o pro- se perfeitos desde que a aceitação é expedida,
ponente, se o contrário não resultar dos termos exceto:
dela, da natureza do negócio, ou das circuns- I – no caso do artigo antecedente;
tâncias do caso. II – se o proponente se houver comprometido
a esperar resposta;
Art. 428.  Deixa de ser obrigatória a proposta: III – se ela não chegar no prazo convenci-
I – se, feita sem prazo a pessoa presente, não onado.
foi imediatamente aceita. Considera-se também
presente a pessoa que contrata por telefone ou Art. 435.  Reputar-se-á celebrado o contrato
por meio de comunicação semelhante; no lugar em que foi proposto.
II – se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver
decorrido tempo suficiente para chegar a res-
posta ao conhecimento do proponente; SEÇÃO III – Da Estipulação em Favor de
III – se, feita a pessoa ausente, não tiver sido Terceiro
expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV – se, antes dela, ou simultaneamente, che- Art. 436.  O que estipula em favor de terceiro
gar ao conhecimento da outra parte a retratação pode exigir o cumprimento da obrigação.
do proponente. Parágrafo único.  Ao terceiro, em favor de
quem se estipulou a obrigação, também é per-
Art. 429.  A oferta ao público equivale a pro- mitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às con-
posta quando encerra os requisitos essenciais dições e normas do contrato, se a ele anuir, e o
Código Civil

ao contrato, salvo se o contrário resultar das estipulante não o inovar nos termos do art. 438.
circunstâncias ou dos usos.
Art. 437.  Se ao terceiro, em favor de quem se
fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe 79
a execução, não poderá o estipulante exonerar Art. 444.  A responsabilidade do alienante
o devedor. subsiste ainda que a coisa pereça em poder do
alienatário, se perecer por vício oculto, já exis-
Art. 438.  O estipulante pode reservar-se o tente ao tempo da tradição.
direito de substituir o terceiro designado no
contrato, independentemente da sua anuência Art. 445.  O adquirente decai do direito de ob-
e da do outro contratante. ter a redibição ou abatimento no preço no prazo
Parágrafo único.  A substituição pode ser de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano
feita por ato entre vivos ou por disposição de se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já
última vontade. estava na posse, o prazo conta-se da alienação,
reduzido à metade.
§ 1o  Quando o vício, por sua natureza, só
SEÇÃO IV – Da Promessa de Fato de puder ser conhecido mais tarde, o prazo con-
Terceiro tar-se-á do momento em que dele tiver ciência,
até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em
Art. 439.  Aquele que tiver prometido fato de se tratando de bens móveis; e de um ano, para
terceiro responderá por perdas e danos, quando os imóveis.
este o não executar. § 2o  Tratando-se de venda de animais, os
Parágrafo único.  Tal responsabilidade não prazos de garantia por vícios ocultos serão os
existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta,
dependendo da sua anuência o ato a ser prati- pelos usos locais, aplicando-se o disposto no
cado, e desde que, pelo regime do casamento, parágrafo antecedente se não houver regras
a indenização, de algum modo, venha a recair disciplinando a matéria.
sobre os seus bens.
Art. 446.  Não correrão os prazos do artigo
Art. 440.  Nenhuma obrigação haverá para antecedente na constância de cláusula de garan-
quem se comprometer por outrem, se este, de- tia; mas o adquirente deve denunciar o defeito
pois de se ter obrigado, faltar à prestação. ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu
descobrimento, sob pena de decadência.

SEÇÃO V – Dos Vícios Redibitórios


SEÇÃO VI – Da Evicção
Art. 441.  A coisa recebida em virtude de con-
trato comutativo pode ser enjeitada por vícios Art. 447.  Nos contratos onerosos, o alienante
ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao responde pela evicção. Subsiste esta garantia
uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor. ainda que a aquisição se tenha realizado em
Parágrafo único.  É aplicável a disposição hasta pública.
deste artigo às doações onerosas.
Art. 448.  Podem as partes, por cláusula ex-
Art. 442.  Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o pressa, reforçar, diminuir ou excluir a respon-
Código Civil e normas correlatas

contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar sabilidade pela evicção.


abatimento no preço.
Art. 449.  Não obstante a cláusula que exclui
Art. 443.  Se o alienante conhecia o vício ou a garantia contra a evicção, se esta se der, tem
defeito da coisa, restituirá o que recebeu com direito o evicto a receber o preço que pagou pela
perdas e danos; se o não conhecia, tão somente coisa evicta, se não soube do risco da evicção,
restituirá o valor recebido, mais as despesas do ou, dele informado, não o assumiu.
contrato.

80
Art. 450.  Salvo estipulação em contrário, tem SEÇÃO VII – Dos Contratos Aleatórios
direito o evicto, além da restituição integral do
preço ou das quantias que pagou: Art. 458.  Se o contrato for aleatório, por dizer
I – à indenização dos frutos que tiver sido respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de
obrigado a restituir; não virem a existir um dos contratantes assuma,
II – à indenização pelas despesas dos contra- terá o outro direito de receber integralmente o
tos e pelos prejuízos que diretamente resultarem que lhe foi prometido, desde que de sua parte
da evicção; não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada
III – às custas judiciais e aos honorários do do avençado venha a existir.
advogado por ele constituído.
Parágrafo único.  O preço, seja a evicção total Art. 459.  Se for aleatório, por serem objeto dele
ou parcial, será o do valor da coisa, na época coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco
em que se evenceu, e proporcional ao desfalque de virem a existir em qualquer quantidade, terá
sofrido, no caso de evicção parcial. também direito o alienante a todo o preço, desde
que de sua parte não tiver concorrido culpa,
Art. 451.  Subsiste para o alienante esta obri- ainda que a coisa venha a existir em quantidade
gação, ainda que a coisa alienada esteja dete- inferior à esperada.
riorada, exceto havendo dolo do adquirente. Parágrafo único.  Mas, se da coisa nada vier
a existir, alienação não haverá, e o alienante
Art. 452.  Se o adquirente tiver auferido van- restituirá o preço recebido.
tagens das deteriorações, e não tiver sido con-
denado a indenizá-las, o valor das vantagens Art. 460.  Se for aleatório o contrato, por se
será deduzido da quantia que lhe houver de referir a coisas existentes, mas expostas a ris-
dar o alienante. co, assumido pelo adquirente, terá igualmente
direito o alienante a todo o preço, posto que a
Art. 453.  As benfeitorias necessárias ou úteis, coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no
não abonadas ao que sofreu a evicção, serão dia do contrato.
pagas pelo alienante.
Art. 461.  A alienação aleatória a que se refere
Art. 454.  Se as benfeitorias abonadas ao que o artigo antecedente poderá ser anulada como
sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alie- dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro
nante, o valor delas será levado em conta na contratante não ignorava a consumação do risco,
restituição devida. a que no contrato se considerava exposta a coisa.

Art. 455.  Se parcial, mas considerável, for a


evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão SEÇÃO VIII – Do Contrato Preliminar
do contrato e a restituição da parte do preço
correspondente ao desfalque sofrido. Se não Art. 462.  O contrato preliminar, exceto quanto
for considerável, caberá somente direito a in- à forma, deve conter todos os requisitos essen-
denização. ciais ao contrato a ser celebrado.

Art. 456. (Revogado) Art. 463.  Concluído o contrato preliminar,


com observância do disposto no artigo ante-
Art. 457.  Não pode o adquirente demandar cedente, e desde que dele não conste cláusula
pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou de arrependimento, qualquer das partes terá
litigiosa. o direito de exigir a celebração do definitivo,
Código Civil

assinando prazo à outra para que o efetive.


Parágrafo único.  O contrato preliminar de-
verá ser levado ao registro competente.
81
Art. 464.  Esgotado o prazo, poderá o juiz, a CAPÍTULO II – Da Extinção do Contrato
pedido do interessado, suprir a vontade da parte SEÇÃO I – Do Distrato
inadimplente, conferindo caráter definitivo ao
contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a Art. 472.  O distrato faz-se pela mesma forma
natureza da obrigação. exigida para o contrato.

Art. 465.  Se o estipulante não der execução Art. 473.  A resilição unilateral, nos casos em
ao contrato preliminar, poderá a outra parte que a lei expressa ou implicitamente o permita,
considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. opera mediante denúncia notificada à outra
parte.
Art. 466.  Se a promessa de contrato for uni- Parágrafo único.  Se, porém, dada a natureza
lateral, o credor, sob pena de ficar a mesma do contrato, uma das partes houver feito inves-
sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela timentos consideráveis para a sua execução, a
previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for denúncia unilateral só produzirá efeito depois de
razoavelmente assinado pelo devedor. transcorrido prazo compatível com a natureza
e o vulto dos investimentos.

SEÇÃO IX – Do Contrato com Pessoa a


Declarar SEÇÃO II – Da Cláusula Resolutiva

Art. 467.  No momento da conclusão do contra- Art. 474.  A cláusula resolutiva expressa opera


to, pode uma das partes reservar-se a faculdade de pleno direito; a tácita depende de interpe-
de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos lação judicial.
e assumir as obrigações dele decorrentes.
Art. 475.  A parte lesada pelo inadimplemen-
Art. 468.  Essa indicação deve ser comunicada à to pode pedir a resolução do contrato, se não
outra parte no prazo de cinco dias da conclusão preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo,
do contrato, se outro não tiver sido estipulado. em qualquer dos casos, indenização por perdas
Parágrafo único.  A aceitação da pessoa no- e danos.
meada não será eficaz se não se revestir da mes-
ma forma que as partes usaram para o contrato.
SEÇÃO III – Da Exceção de Contrato Não
Art. 469.  A pessoa, nomeada de conformidade Cumprido
com os artigos antecedentes, adquire os direitos
e assume as obrigações decorrentes do contrato, Art. 476.  Nos contratos bilaterais, nenhum dos
a partir do momento em que este foi celebrado. contratantes, antes de cumprida a sua obrigação,
pode exigir o implemento da do outro.
Art. 470.  O contrato será eficaz somente entre
os contratantes originários: Art. 477.  Se, depois de concluído o contrato,
I – se não houver indicação de pessoa, ou se sobrevier a uma das partes contratantes dimi-
Código Civil e normas correlatas

o nomeado se recusar a aceitá-la; nuição em seu patrimônio capaz de comprome-


II – se a pessoa nomeada era insolvente, e ter ou tornar duvidosa a prestação pela qual se
a outra pessoa o desconhecia no momento da obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que
indicação. lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe
compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.
Art. 471.  Se a pessoa a nomear era incapaz ou
insolvente no momento da nomeação, o contra-
to produzirá seus efeitos entre os contratantes
originários.
82
SEÇÃO IV – Da Resolução por Onerosidade sem efeito o contrato se esta não vier a existir,
Excessiva salvo se a intenção das partes era de concluir
contrato aleatório.
Art. 478.  Nos contratos de execução conti-
nuada ou diferida, se a prestação de uma das Art. 484.  Se a venda se realizar à vista de amos-
partes se tornar excessivamente onerosa, com tras, protótipos ou modelos, entender-se-á que
extrema vantagem para a outra, em virtude de o vendedor assegura ter a coisa as qualidades
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, que a elas correspondem.
poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Parágrafo único.  Prevalece a amostra, o pro-
Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão tótipo ou o modelo, se houver contradição ou
à data da citação. diferença com a maneira pela qual se descreveu
a coisa no contrato.
Art. 479.  A resolução poderá ser evitada, ofe-
recendo-se o réu a modificar equitativamente Art. 485.  A fixação do preço pode ser deixa-
as condições do contrato. da ao arbítrio de terceiro, que os contratantes
logo designarem ou prometerem designar. Se o
Art. 480.  Se no contrato as obrigações coube- terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem
rem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear efeito o contrato, salvo quando acordarem os
que a sua prestação seja reduzida, ou alterado contratantes designar outra pessoa.
o modo de executá-la, a fim de evitar a onero-
sidade excessiva. Art. 486.  Também se poderá deixar a fixação
do preço à taxa de mercado ou de bolsa, em
Art. 480-A.  Nas relações interempresariais, é certo e determinado dia e lugar.
lícito às partes contratantes estabelecer parâme-
tros objetivos para a interpretação de requisitos Art. 487.  É lícito às partes fixar o preço em
de revisão ou de resolução do pacto contratual. função de índices ou parâmetros, desde que
suscetíveis de objetiva determinação.
Art. 480-B.  Nas relações interempresariais,
deve-se presumir a simetria dos contratantes e Art. 488.  Convencionada a venda sem fixação
observar a alocação de riscos por eles definida. de preço ou de critérios para a sua determinação,
se não houver tabelamento oficial, entende-se
que as partes se sujeitaram ao preço corrente
TÍTULO VI – Das Várias Espécies de nas vendas habituais do vendedor.
Contrato Parágrafo único.  Na falta de acordo, por
CAPÍTULO I – Da Compra e Venda ter havido diversidade de preço, prevalecerá
SEÇÃO I – Disposições Gerais o termo médio.

Art. 481.  Pelo contrato de compra e venda, Art. 489.  Nulo é o contrato de compra e venda,
um dos contratantes se obriga a transferir o quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma
domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe das partes a fixação do preço.
certo preço em dinheiro.
Art. 490.  Salvo cláusula em contrário, ficarão
Art. 482.  A compra e venda, quando pura, as despesas de escritura e registro a cargo do
considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde comprador, e a cargo do vendedor as da tradição.
que as partes acordarem no objeto e no preço.
Art. 491.  Não sendo a venda a crédito, o ven-
Código Civil

Art. 483.  A compra e venda pode ter por ob- dedor não é obrigado a entregar a coisa antes
jeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará de receber o preço.

83
Art. 492.  Até o momento da tradição, os riscos auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre
da coisa correm por conta do vendedor, e os do que se litigar em tribunal, juízo ou conselho,
preço por conta do comprador. no lugar onde servirem, ou a que se estender a
§ 1o  Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes sua autoridade;
no ato de contar, marcar ou assinalar coisas, que IV – pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens
comumente se recebem, contando, pesando, de cuja venda estejam encarregados.
medindo ou assinalando, e que já tiverem sido Parágrafo único.  As proibições deste artigo
postas à disposição do comprador, correrão estendem-se à cessão de crédito.
por conta deste.
§ 2o  Correrão também por conta do com- Art. 498.  A proibição contida no inciso III do
prador os riscos das referidas coisas, se estiver artigo antecedente, não compreende os casos de
em mora de as receber, quando postas à sua dis- compra e venda ou cessão entre coerdeiros, ou
posição no tempo, lugar e pelo modo ajustados. em pagamento de dívida, ou para garantia de
bens já pertencentes a pessoas designadas no
Art. 493.  A tradição da coisa vendida, na falta referido inciso.
de estipulação expressa, dar-se-á no lugar onde
ela se encontrava, ao tempo da venda. Art. 499.  É lícita a compra e venda entre cônju-
ges, com relação a bens excluídos da comunhão.
Art. 494.  Se a coisa for expedida para lugar
diverso, por ordem do comprador, por sua conta Art. 500.  Se, na venda de um imóvel, se es-
correrão os riscos, uma vez entregue a quem tipular o preço por medida de extensão, ou se
haja de transportá-la, salvo se das instruções determinar a respectiva área, e esta não corres-
dele se afastar o vendedor. ponder, em qualquer dos casos, às dimensões
dadas, o comprador terá o direito de exigir o
Art. 495.  Não obstante o prazo ajustado para complemento da área, e, não sendo isso possí-
o pagamento, se antes da tradição o comprador vel, o de reclamar a resolução do contrato ou
cair em insolvência, poderá o vendedor sobres- abatimento proporcional ao preço.
tar na entrega da coisa, até que o comprador lhe § 1o  Presume-se que a referência às dimen-
dê caução de pagar no tempo ajustado. sões foi simplesmente enunciativa, quando a
diferença encontrada não exceder de um vi-
Art. 496.  É anulável a venda de ascendente a gésimo da área total enunciada, ressalvado ao
descendente, salvo se os outros descendentes e o comprador o direito de provar que, em tais
cônjuge do alienante expressamente houverem circunstâncias, não teria realizado o negócio.
consentido. § 2o  Se em vez de falta houver excesso, e o
Parágrafo único.  Em ambos os casos, dis- vendedor provar que tinha motivos para igno-
pensa-se o consentimento do cônjuge se o re- rar a medida exata da área vendida, caberá ao
gime de bens for o da separação obrigatória. comprador, à sua escolha, completar o valor
correspondente ao preço ou devolver o excesso.
Art. 497.  Sob pena de nulidade, não podem § 3o  Não haverá complemento de área, nem
ser comprados, ainda que em hasta pública: devolução de excesso, se o imóvel for vendido
Código Civil e normas correlatas

I – pelos tutores, curadores, testamenteiros e como coisa certa e discriminada, tendo sido
administradores, os bens confiados à sua guarda apenas enunciativa a referência às suas dimen-
ou administração; sões, ainda que não conste, de modo expresso,
II – pelos servidores públicos, em geral, os ter sido a venda ad corpus.
bens ou direitos da pessoa jurídica a que ser-
virem, ou que estejam sob sua administração Art. 501.  Decai do direito de propor as ações
direta ou indireta; previstas no artigo antecedente o vendedor ou
III – pelos juízes, secretários de tribunais, o comprador que não o fizer no prazo de um
arbitradores, peritos e outros serventuários ou ano, a contar do registro do título.
84
Parágrafo único.  Se houver atraso na imissão Art. 507.  O direito de retrato, que é cessível e
de posse no imóvel, atribuível ao alienante, a transmissível a herdeiros e legatários, poderá ser
partir dela fluirá o prazo de decadência. exercido contra o terceiro adquirente.

Art. 502.  O vendedor, salvo convenção em Art. 508.  Se a duas ou mais pessoas couber o


contrário, responde por todos os débitos que direito de retrato sobre o mesmo imóvel, e só
gravem a coisa até o momento da tradição. uma o exercer, poderá o comprador intimar
as outras para nele acordarem, prevalecendo
Art. 503.  Nas coisas vendidas conjuntamente, o pacto em favor de quem haja efetuado o de-
o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição pósito, contanto que seja integral.
de todas.

Art. 504.  Não pode um condômino em coi- SUBSEÇÃO II – Da Venda a Contento e da


sa indivisível vender a sua parte a estranhos, Sujeita a Prova
se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O
condômino, a quem não se der conhecimento Art. 509.  A venda feita a contento do compra-
da venda, poderá, depositando o preço, haver dor entende-se realizada sob condição suspen-
para si a parte vendida a estranhos, se o requerer siva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e
no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de não se reputará perfeita, enquanto o adquirente
decadência. não manifestar seu agrado.
Parágrafo único.  Sendo muitos os condômi-
nos, preferirá o que tiver benfeitorias de maior Art. 510.  Também a venda sujeita a prova
valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão presume-se feita sob a condição suspensiva de
maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte que a coisa tenha as qualidades asseguradas
vendida os comproprietários, que a quiserem, pelo vendedor e seja idônea para o fim a que
depositando previamente o preço. se destina.

Art. 511.  Em ambos os casos, as obrigações


SEÇÃO II – Das Cláusulas Especiais à do comprador, que recebeu, sob condição sus-
Compra e Venda pensiva, a coisa comprada, são as de mero co-
SUBSEÇÃO I – Da Retrovenda modatário, enquanto não manifeste aceitá-la.

Art. 505.  O vendedor de coisa imóvel pode Art. 512.  Não havendo prazo estipulado para
reservar-se o direito de recobrá-la no prazo a declaração do comprador, o vendedor terá
máximo de decadência de três anos, restituindo direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicial-
o preço recebido e reembolsando as despesas do mente, para que o faça em prazo improrrogável.
comprador, inclusive as que, durante o período
de resgate, se efetuaram com a sua autorização
escrita, ou para a realização de benfeitorias SUBSEÇÃO III – Da Preempção ou
necessárias. Preferência

Art. 506.  Se o comprador se recusar a rece- Art. 513.  A preempção, ou preferência, impõe


ber as quantias a que faz jus, o vendedor, para ao comprador a obrigação de oferecer ao ven-
exercer o direito de resgate, as depositará ju- dedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em
dicialmente. pagamento, para que este use de seu direito de
Parágrafo único.  Verificada a insuficiência do prelação na compra, tanto por tanto.
Código Civil

depósito judicial, não será o vendedor restituído Parágrafo único.  O prazo para exercer o di-
no domínio da coisa, até e enquanto não for reito de preferência não poderá exceder a cento
integralmente pago o comprador. e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois
anos, se imóvel. 85
Art. 514.  O vendedor pode também exercer o Art. 523.  Não pode ser objeto de venda com
seu direito de prelação, intimando o comprador, reserva de domínio a coisa insuscetível de ca-
quando lhe constar que este vai vender a coisa. racterização perfeita, para estremá-la de outras
congêneres. Na dúvida, decide-se a favor do
Art. 515.  Aquele que exerce a preferência está, terceiro adquirente de boa-fé.
sob pena de a perder, obrigado a pagar, em con-
dições iguais, o preço encontrado, ou o ajustado. Art. 524.  A transferência de propriedade ao
comprador dá-se no momento em que o pre-
Art. 516.  Inexistindo prazo estipulado, o direi- ço esteja integralmente pago. Todavia, pelos
to de preempção caducará, se a coisa for móvel, riscos da coisa responde o comprador, a partir
não se exercendo nos três dias, e, se for imóvel, de quando lhe foi entregue.
não se exercendo nos sessenta dias subsequentes
à data em que o comprador tiver notificado o Art. 525.  O vendedor somente poderá executar
vendedor. a cláusula de reserva de domínio após constituir
o comprador em mora, mediante protesto do
Art. 517.  Quando o direito de preempção for título ou interpelação judicial.
estipulado a favor de dois ou mais indivíduos
em comum, só pode ser exercido em relação à Art. 526.  Verificada a mora do comprador,
coisa no seu todo. Se alguma das pessoas, a quem poderá o vendedor mover contra ele a compe-
ele toque, perder ou não exercer o seu direito, tente ação de cobrança das prestações vencidas e
poderão as demais utilizá-lo na forma sobredita. vincendas e o mais que lhe for devido; ou poderá
recuperar a posse da coisa vendida.
Art. 518.  Responderá por perdas e danos o
comprador, se alienar a coisa sem ter dado ao Art. 527.  Na segunda hipótese do artigo an-
vendedor ciência do preço e das vantagens que tecedente, é facultado ao vendedor reter as
por ela lhe oferecem. Responderá solidariamente prestações pagas até o necessário para cobrir
o adquirente, se tiver procedido de má-fé. a depreciação da coisa, as despesas feitas e o
mais que de direito lhe for devido. O excedente
Art. 519.  Se a coisa expropriada para fins de será devolvido ao comprador; e o que faltar lhe
necessidade ou utilidade pública, ou por in- será cobrado, tudo na forma da lei processual.
teresse social, não tiver o destino para que se
desapropriou, ou não for utilizada em obras ou Art. 528.  Se o vendedor receber o pagamento
serviços públicos, caberá ao expropriado direito à vista, ou, posteriormente, mediante financia-
de preferência, pelo preço atual da coisa. mento de instituição do mercado de capitais, a
esta caberá exercer os direitos e ações decorren-
Art. 520.  O direito de preferência não se pode tes do contrato, a benefício de qualquer outro.
ceder nem passa aos herdeiros. A operação financeira e a respectiva ciência do
comprador constarão do registro do contrato.

SUBSEÇÃO IV – Da Venda com Reserva de


Código Civil e normas correlatas

Domínio SUBSEÇÃO V – Da Venda sobre


Documentos
Art. 521.  Na venda de coisa móvel, pode o
vendedor reservar para si a propriedade, até Art. 529.  Na venda sobre documentos, a tra-
que o preço esteja integralmente pago. dição da coisa é substituída pela entrega do seu
título representativo e dos outros documentos
Art. 522.  A cláusula de reserva de domínio exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste,
será estipulada por escrito e depende de registro pelos usos.
no domicílio do comprador para valer contra Parágrafo único.  Achando-se a documenta-
86 terceiros. ção em ordem, não pode o comprador recusar
o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade coisa, em sua integridade, se tornar impossível,
ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito ainda que por fato a ele não imputável.
já houver sido comprovado.
Art. 536.  A coisa consignada não pode ser
Art. 530.  Não havendo estipulação em con- objeto de penhora ou sequestro pelos credores
trário, o pagamento deve ser efetuado na data do consignatário, enquanto não pago integral-
e no lugar da entrega dos documentos. mente o preço.

Art. 531.  Se entre os documentos entregues Art. 537.  O consignante não pode dispor da


ao comprador figurar apólice de seguro que coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser
cubra os riscos do transporte, correm estes à comunicada a restituição.
conta do comprador, salvo se, ao ser concluído
o contrato, tivesse o vendedor ciência da perda
ou avaria da coisa. CAPÍTULO IV – Da Doação
SEÇÃO I – Disposições Gerais
Art. 532.  Estipulado o pagamento por inter-
médio de estabelecimento bancário, caberá a Art. 538.  Considera-se doação o contrato em
este efetuá-lo contra a entrega dos documentos, que uma pessoa, por liberalidade, transfere do
sem obrigação de verificar a coisa vendida, pela seu patrimônio bens ou vantagens para o de
qual não responde. outra.
Parágrafo único.  Nesse caso, somente após
a recusa do estabelecimento bancário a efetuar Art. 539.  O doador pode fixar prazo ao donatá-
o pagamento, poderá o vendedor pretendê-lo, rio, para declarar se aceita ou não a liberalidade.
diretamente do comprador. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça,
dentro dele, a declaração, entender-se-á que
aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.
CAPÍTULO II – Da Troca ou Permuta
Art. 540.  A doação feita em contemplação do
Art. 533.  Aplicam-se à troca as disposições merecimento do donatário não perde o caráter
referentes à compra e venda, com as seguintes de liberalidade, como não o perde a doação
modificações: remuneratória, ou a gravada, no excedente ao
I – salvo disposição em contrário, cada um valor dos serviços remunerados ou ao encargo
dos contratantes pagará por metade as despesas imposto.
com o instrumento da troca;
II – é anulável a troca de valores desiguais Art. 541.  A doação far-se-á por escritura pú-
entre ascendentes e descendentes, sem consen- blica ou instrumento particular.
timento dos outros descendentes e do cônjuge Parágrafo único.  A doação verbal será válida,
do alienante. se, versando sobre bens móveis e de pequeno
valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.

CAPÍTULO III – Do Contrato Estimatório Art. 542.  A doação feita ao nascituro valerá,


sendo aceita pelo seu representante legal.
Art. 534.  Pelo contrato estimatório, o consig-
nante entrega bens móveis ao consignatário, Art. 543.  Se o donatário for absolutamente
que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se
o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo trate de doação pura.
Código Civil

estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada.


Art. 544.  A doação de ascendentes a descen-
Art. 535.  O consignatário não se exonera da dentes, ou de um cônjuge a outro, importa adi-
obrigação de pagar o preço, se a restituição da antamento do que lhes cabe por herança. 87
Art. 545.  A doação em forma de subvenção Parágrafo único.  Se desta última espécie for
periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o encargo, o Ministério Público poderá exigir
o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas sua execução, depois da morte do doador, se
não poderá ultrapassar a vida do donatário. este não tiver feito.

Art. 546.  A doação feita em contemplação Art. 554.  A doação a entidade futura caducará


de casamento futuro com certa e determinada se, em dois anos, esta não estiver constituída
pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por regularmente.
terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que,
de futuro, houverem um do outro, não pode ser
impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem SEÇÃO II – Da Revogação da Doação
efeito se o casamento não se realizar.
Art. 555.  A doação pode ser revogada por
Art. 547.  O doador pode estipular que os bens ingratidão do donatário, ou por inexecução
doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver do encargo.
ao donatário.
Parágrafo único.  Não prevalece cláusula de Art. 556.  Não se pode renunciar antecipada-
reversão em favor de terceiro. mente o direito de revogar a liberalidade por
ingratidão do donatário.
Art. 548.  É nula a doação de todos os bens
sem reserva de parte, ou renda suficiente para Art. 557.  Podem ser revogadas por ingratidão
a subsistência do doador. as doações:
I – se o donatário atentou contra a vida do
Art. 549.  Nula é também a doação quanto à doador ou cometeu crime de homicídio doloso
parte que exceder à de que o doador, no mo- contra ele;
mento da liberalidade, poderia dispor em tes- II – se cometeu contra ele ofensa física;
tamento. III – se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV – se, podendo ministrá-los, recusou ao
Art. 550.  A doação do cônjuge adúltero ao seu doador os alimentos de que este necessitava.
cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge,
ou por seus herdeiros necessários, até dois anos Art. 558.  Pode ocorrer também a revogação
depois de dissolvida a sociedade conjugal. quando o ofendido, nos casos do artigo anterior,
for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda
Art. 551.  Salvo declaração em contrário, a doa- que adotivo, ou irmão do doador.
ção em comum a mais de uma pessoa entende-se
distribuída entre elas por igual. Art. 559.  A revogação por qualquer desses
Parágrafo único.  Se os donatários, em tal motivos deverá ser pleiteada dentro de um ano,
caso, forem marido e mulher, subsistirá na to- a contar de quando chegue ao conhecimento
talidade a doação para o cônjuge sobrevivo. do doador o fato que a autorizar, e de ter sido
o donatário o seu autor.
Código Civil e normas correlatas

Art. 552.  O doador não é obrigado a pagar


juros moratórios, nem é sujeito às consequências Art. 560.  O direito de revogar a doação não
da evicção ou do vício redibitório. Nas doa- se transmite aos herdeiros do doador, nem pre-
ções para casamento com certa e determinada judica os do donatário. Mas aqueles podem
pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo prosseguir na ação iniciada pelo doador, con-
convenção em contrário. tinuando-a contra os herdeiros do donatário,
se este falecer depois de ajuizada a lide.
Art. 553.  O donatário é obrigado a cumprir
os encargos da doação, caso forem a benefício
88 do doador, de terceiro, ou do interesse geral.
Art. 561.  No caso de homicídio doloso do do- Art. 568.  O locador resguardará o locatário
ador, a ação caberá aos seus herdeiros, exceto dos embaraços e turbações de terceiros, que
se aquele houver perdoado. tenham ou pretendam ter direitos sobre a coi-
sa alugada, e responderá pelos seus vícios, ou
Art. 562.  A doação onerosa pode ser revoga- defeitos, anteriores à locação.
da por inexecução do encargo, se o donatário
incorrer em mora. Não havendo prazo para o Art. 569.  O locatário é obrigado:
cumprimento, o doador poderá notificar ju- I – a servir-se da coisa alugada para os usos
dicialmente o donatário, assinando-lhe prazo convencionados ou presumidos, conforme a
razoável para que cumpra a obrigação assumida. natureza dela e as circunstâncias, bem como
tratá-la com o mesmo cuidado como se sua
Art. 563.  A revogação por ingratidão não pre- fosse;
judica os direitos adquiridos por terceiros, nem II – a pagar pontualmente o aluguel nos pra-
obriga o donatário a restituir os frutos percebi- zos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o
dos antes da citação válida; mas sujeita-o a pagar costume do lugar;
os posteriores, e, quando não possa restituir em III – a levar ao conhecimento do locador
espécie as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio as turbações de terceiros, que se pretendam
termo do seu valor. fundadas em direito;
IV – a restituir a coisa, finda a locação, no
Art. 564.  Não se revogam por ingratidão: estado em que a recebeu, salvas as deteriorações
I – as doações puramente remuneratórias; naturais ao uso regular.
II – as oneradas com encargo já cumprido;
III – as que se fizerem em cumprimento de Art. 570.  Se o locatário empregar a coisa em
obrigação natural; uso diverso do ajustado, ou do a que se destina,
IV – as feitas para determinado casamento. ou se ela se danificar por abuso do locatário,
poderá o locador, além de rescindir o contrato,
exigir perdas e danos.
CAPÍTULO V – Da Locação de Coisas
Art. 571.  Havendo prazo estipulado à duração
Art. 565.  Na locação de coisas, uma das partes do contrato, antes do vencimento não poderá o
se obriga a ceder à outra, por tempo determina- locador reaver a coisa alugada, senão ressarcin-
do ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, do ao locatário as perdas e danos resultantes,
mediante certa retribuição. nem o locatário devolvê-la ao locador, senão
pagando, proporcionalmente, a multa prevista
Art. 566.  O locador é obrigado: no contrato.
I – a entregar ao locatário a coisa alugada, Parágrafo único.  O locatário gozará do di-
com suas pertenças, em estado de servir ao uso reito de retenção, enquanto não for ressarcido.
a que se destina, e a mantê-la nesse estado, pelo
tempo do contrato, salvo cláusula expressa em Art. 572.  Se a obrigação de pagar o aluguel
contrário; pelo tempo que faltar constituir indenização
II – a garantir-lhe, durante o tempo do con- excessiva, será facultado ao juiz fixá-la em bases
trato, o uso pacífico da coisa. razoáveis.

Art. 567.  Se, durante a locação, se deteriorar Art. 573.  A locação por tempo determinado
a coisa alugada, sem culpa do locatário, a este cessa de pleno direito findo o prazo estipulado,
caberá pedir redução proporcional do aluguel, independentemente de notificação ou aviso.
Código Civil

ou resolver o contrato, caso já não sirva a coisa


para o fim a que se destinava. Art. 574.  Se, findo o prazo, o locatário con-
tinuar na posse da coisa alugada, sem oposi-
ção do locador, presumir-se-á prorrogada a 89
locação pelo mesmo aluguel, mas sem prazo poderão dar em comodato, sem autorização
determinado. especial, os bens confiados à sua guarda.

Art. 575.  Se, notificado o locatário, não res- Art. 581.  Se o comodato não tiver prazo con-
tituir a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu vencional, presumir-se-lhe-á o necessário para o
poder, o aluguel que o locador arbitrar, e respon- uso concedido; não podendo o comodante, salvo
derá pelo dano que ela venha a sofrer, embora necessidade imprevista e urgente, reconhecida
proveniente de caso fortuito. pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa em-
Parágrafo único.  Se o aluguel arbitrado for prestada, antes de findo o prazo convencional,
manifestamente excessivo, poderá o juiz reduzi- ou o que se determine pelo uso outorgado.
lo, mas tendo sempre em conta o seu caráter
de penalidade. Art. 582.  O comodatário é obrigado a con-
servar, como se sua própria fora, a coisa em-
Art. 576.  Se a coisa for alienada durante a lo- prestada, não podendo usá-la senão de acordo
cação, o adquirente não ficará obrigado a res- com o contrato ou a natureza dela, sob pena de
peitar o contrato, se nele não for consignada a responder por perdas e danos. O comodatário
cláusula da sua vigência no caso de alienação, constituído em mora, além de por ela responder,
e não constar de registro. pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for
§ 1o  O registro a que se refere este artigo arbitrado pelo comodante.
será o de Títulos e Documentos do domicílio
do locador, quando a coisa for móvel; e será o Art. 583.  Se, correndo risco o objeto do como-
Registro de Imóveis da respectiva circunscrição, dato juntamente com outros do comodatário,
quando imóvel. antepuser este a salvação dos seus abandonando
§ 2o  Em se tratando de imóvel, e ainda no o do comodante, responderá pelo dano ocorrido,
caso em que o locador não esteja obrigado a ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou
respeitar o contrato, não poderá ele despedir o força maior.
locatário, senão observado o prazo de noventa
dias após a notificação. Art. 584.  O comodatário não poderá jamais
recobrar do comodante as despesas feitas com
Art. 577.  Morrendo o locador ou o locatário, o uso e gozo da coisa emprestada.
transfere-se aos seus herdeiros a locação por
tempo determinado. Art. 585.  Se duas ou mais pessoas forem si-
multaneamente comodatárias de uma coisa,
Art. 578.  Salvo disposição em contrário, o lo- ficarão solidariamente responsáveis para com
catário goza do direito de retenção, no caso de o comodante.
benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias
úteis, se estas houverem sido feitas com expresso
consentimento do locador. SEÇÃO II – Do Mútuo

Art. 586.  O mútuo é o empréstimo de coisas


Código Civil e normas correlatas

CAPÍTULO VI – Do Empréstimo fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao


SEÇÃO I – Do Comodato mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo
gênero, qualidade e quantidade.
Art. 579.  O comodato é o empréstimo gra-
tuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a Art. 587.  Este empréstimo transfere o domínio
tradição do objeto. da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta
correm todos os riscos dela desde a tradição.
Art. 580.  Os tutores, curadores e em geral
todos os administradores de bens alheios não Art. 588.  O mútuo feito a pessoa menor, sem
90 prévia autorização daquele sob cuja guarda es-
tiver, não pode ser reavido nem do mutuário, Art. 595.  No contrato de prestação de serviço,
nem de seus fiadores. quando qualquer das partes não souber ler, nem
escrever, o instrumento poderá ser assinado a
Art. 589.  Cessa a disposição do artigo ante- rogo e subscrito por duas testemunhas.
cedente:
I – se a pessoa, de cuja autorização necessi- Art. 596.  Não se tendo estipulado, nem chega-
tava o mutuário para contrair o empréstimo, o do a acordo as partes, fixar-se-á por arbitramen-
ratificar posteriormente; to a retribuição, segundo o costume do lugar, o
II – se o menor, estando ausente essa pessoa, tempo de serviço e sua qualidade.
se viu obrigado a contrair o empréstimo para
os seus alimentos habituais; Art. 597.  A retribuição pagar-se-á depois de
III – se o menor tiver bens ganhos com o prestado o serviço, se, por convenção, ou cos-
seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do tume, não houver de ser adiantada, ou paga
credor não lhes poderá ultrapassar as forças; em prestações.
IV – se o empréstimo reverteu em benefício
do menor; Art. 598.  A prestação de serviço não se poderá
V – se o menor obteve o empréstimo mali- convencionar por mais de quatro anos, embora o
ciosamente. contrato tenha por causa o pagamento de dívida
de quem o presta, ou se destine à execução de
Art. 590.  O mutuante pode exigir garantia da certa e determinada obra. Neste caso, decorridos
restituição, se antes do vencimento o mutuá- quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda
rio sofrer notória mudança em sua situação que não concluída a obra.
econômica.
Art. 599.  Não havendo prazo estipulado, nem
Art. 591.  Destinando-se o mútuo a fins eco- se podendo inferir da natureza do contrato, ou
nômicos, presumem-se devidos juros, os quais, do costume do lugar, qualquer das partes, a seu
sob pena de redução, não poderão exceder a arbítrio, mediante prévio aviso, pode resolver
taxa a que se refere o art. 406, permitida a ca- o contrato.
pitalização anual. Parágrafo único.  Dar-se-á o aviso:
I – com antecedência de oito dias, se o salário
Art. 592.  Não se tendo convencionado expres- se houver fixado por tempo de um mês, ou mais;
samente, o prazo do mútuo será: II – com antecipação de quatro dias, se o sa-
I – até a próxima colheita, se o mútuo for lário se tiver ajustado por semana, ou quinzena;
de produtos agrícolas, assim para o consumo, III – de véspera, quando se tenha contratado
como para semeadura; por menos de sete dias.
II – de trinta dias, pelo menos, se for de di-
nheiro; Art. 600.  Não se conta no prazo do contrato o
III – do espaço de tempo que declarar o mu- tempo em que o prestador de serviço, por culpa
tuante, se for de qualquer outra coisa fungível. sua, deixou de servir.

Art. 601.  Não sendo o prestador de serviço


CAPÍTULO VII – Da Prestação de Serviço contratado para certo e determinado trabalho,
entender-se-á que se obrigou a todo e qual-
Art. 593.  A prestação de serviço, que não es- quer serviço compatível com as suas forças e
tiver sujeita às leis trabalhistas ou a lei especial, condições.
reger-se-á pelas disposições deste Capítulo.
Código Civil

Art. 602.  O prestador de serviço contratado


Art. 594.  Toda a espécie de serviço ou trabalho por tempo certo, ou por obra determinada, não
lícito, material ou imaterial, pode ser contratada se pode ausentar, ou despedir, sem justa causa,
mediante retribuição. 91
antes de preenchido o tempo, ou concluída a serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber
obra. durante dois anos.
Parágrafo único.  Se se despedir sem justa
causa, terá direito à retribuição vencida, mas Art. 609.  A alienação do prédio agrícola, onde
responderá por perdas e danos. O mesmo dar- a prestação dos serviços se opera, não importa
se-á, se despedido por justa causa. a rescisão do contrato, salvo ao prestador opção
entre continuá-lo com o adquirente da proprie-
Art. 603.  Se o prestador de serviço for despe- dade ou com o primitivo contratante.
dido sem justa causa, a outra parte será obrigada
a pagar-lhe por inteiro a retribuição vencida, e
por metade a que lhe tocaria de então ao termo CAPÍTULO VIII – Da Empreitada
legal do contrato.
Art. 610.  O empreiteiro de uma obra pode
Art. 604.  Findo o contrato, o prestador de ser- contribuir para ela só com seu trabalho ou com
viço tem direito a exigir da outra parte a decla- ele e os materiais.
ração de que o contrato está findo. Igual direito § 1o  A obrigação de fornecer os materiais
lhe cabe, se for despedido sem justa causa, ou se não se presume; resulta da lei ou da vontade
tiver havido motivo justo para deixar o serviço. das partes.
§ 2o  O contrato para elaboração de um pro-
Art. 605.  Nem aquele a quem os serviços são jeto não implica a obrigação de executá-lo, ou
prestados, poderá transferir a outrem o direi- de fiscalizar-lhe a execução.
to aos serviços ajustados, nem o prestador de
serviços, sem aprazimento da outra parte, dar Art. 611.  Quando o empreiteiro fornece os
substituto que os preste. materiais, correm por sua conta os riscos até
o momento da entrega da obra, a contento de
Art. 606.  Se o serviço for prestado por quem quem a encomendou, se este não estiver em
não possua título de habilitação, ou não satis- mora de receber. Mas se estiver, por sua conta
faça requisitos outros estabelecidos em lei, não correrão os riscos.
poderá quem os prestou cobrar a retribuição
normalmente correspondente ao trabalho exe- Art. 612.  Se o empreiteiro só forneceu mão
cutado. Mas se deste resultar benefício para a de obra, todos os riscos em que não tiver culpa
outra parte, o juiz atribuirá a quem o prestou correrão por conta do dono.
uma compensação razoável, desde que tenha
agido com boa-fé. Art. 613.  Sendo a empreitada unicamente
Parágrafo único.  Não se aplica a segunda de lavor (art. 610), se a coisa perecer antes de
parte deste artigo, quando a proibição da pres- entregue, sem mora do dono nem culpa do
tação de serviço resultar de lei de ordem pública. empreiteiro, este perderá a retribuição, se não
provar que a perda resultou de defeito dos ma-
Art. 607.  O contrato de prestação de serviço teriais e que em tempo reclamara contra a sua
acaba com a morte de qualquer das partes. Ter- quantidade ou qualidade.
Código Civil e normas correlatas

mina, ainda, pelo escoamento do prazo, pela


conclusão da obra, pela rescisão do contrato Art. 614.  Se a obra constar de partes distintas,
mediante aviso prévio, por inadimplemento ou for de natureza das que se determinam por
de qualquer das partes ou pela impossibilida- medida, o empreiteiro terá direito a que também
de da continuação do contrato, motivada por se verifique por medida, ou segundo as partes
força maior. em que se dividir, podendo exigir o pagamento
na proporção da obra executada.
Art. 608.  Aquele que aliciar pessoas obrigadas § 1o  Tudo o que se pagou presume-se ve-
em contrato escrito a prestar serviço a outrem rificado.
92 pagará a este a importância que ao prestador de
§ 2o  O que se mediu presume-se verificado mo do preço global convencionado, poderá este
se, em trinta dias, a contar da medição, não ser revisto, a pedido do dono da obra, para que
forem denunciados os vícios ou defeitos pelo se lhe assegure a diferença apurada.
dono da obra ou por quem estiver incumbido
da sua fiscalização. Art. 621.  Sem anuência de seu autor, não pode
o proprietário da obra introduzir modificações
Art. 615.  Concluída a obra de acordo com o no projeto por ele aprovado, ainda que a exe-
ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obriga- cução seja confiada a terceiros, a não ser que,
do a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o por motivos supervenientes ou razões de ordem
empreiteiro se afastou das instruções recebidas técnica, fique comprovada a inconveniência ou
e dos planos dados, ou das regras técnicas em a excessiva onerosidade de execução do projeto
trabalhos de tal natureza. em sua forma originária.
Parágrafo único.  A proibição deste artigo não
Art. 616.  No caso da segunda parte do artigo abrange alterações de pouca monta, ressalvada
antecedente, pode quem encomendou a obra, sempre a unidade estética da obra projetada.
em vez de enjeitá-la, recebê-la com abatimento
no preço. Art. 622.  Se a execução da obra for confiada a
terceiros, a responsabilidade do autor do projeto
Art. 617.  O empreiteiro é obrigado a pagar respectivo, desde que não assuma a direção ou
os materiais que recebeu, se por imperícia ou fiscalização daquela, ficará limitada aos danos
negligência os inutilizar. resultantes de defeitos previstos no art. 618 e
seu parágrafo único.
Art. 618.  Nos contratos de empreitada de edi-
fícios ou outras construções consideráveis, o Art. 623.  Mesmo após iniciada a construção,
empreiteiro de materiais e execução responderá, pode o dono da obra suspendê-la, desde que
durante o prazo irredutível de cinco anos, pela pague ao empreiteiro as despesas e lucros re-
solidez e segurança do trabalho, assim em razão lativos aos serviços já feitos, mais indenização
dos materiais, como do solo. razoável, calculada em função do que ele teria
Parágrafo único.  Decairá do direito asse- ganho, se concluída a obra.
gurado neste artigo o dono da obra que não
propuser a ação contra o empreiteiro, nos cento Art. 624.  Suspensa a execução da empreitada
e oitenta dias seguintes ao aparecimento do sem justa causa, responde o empreiteiro por
vício ou defeito. perdas e danos.

Art. 619.  Salvo estipulação em contrário, o Art. 625.  Poderá o empreiteiro suspender a


empreiteiro que se incumbir de executar uma obra:
obra, segundo plano aceito por quem a enco- I – por culpa do dono, ou por motivo de
mendou, não terá direito a exigir acréscimo no força maior;
preço, ainda que sejam introduzidas modifica- II – quando, no decorrer dos serviços, se
ções no projeto, a não ser que estas resultem de manifestarem dificuldades imprevisíveis de
instruções escritas do dono da obra. execução, resultantes de causas geológicas ou
Parágrafo único.  Ainda que não tenha havido hídricas, ou outras semelhantes, de modo que
autorização escrita, o dono da obra é obrigado a torne a empreitada excessivamente onerosa, e
pagar ao empreiteiro os aumentos e acréscimos, o dono da obra se opuser ao reajuste do preço
segundo o que for arbitrado, se, sempre presente inerente ao projeto por ele elaborado, obser-
à obra, por continuadas visitas, não podia igno- vados os preços;
Código Civil

rar o que se estava passando, e nunca protestou. III – se as modificações exigidas pelo dono da
obra, por seu vulto e natureza, forem despropor-
Art. 620.  Se ocorrer diminuição no preço do cionais ao projeto aprovado, ainda que o dono
material ou da mão de obra superior a um déci- se disponha a arcar com o acréscimo de preço. 93
Art. 626.  Não se extingue o contrato de em- houver motivo razoável de suspeitar que a coisa
preitada pela morte de qualquer das partes, foi dolosamente obtida.
salvo se ajustado em consideração às qualidades
pessoais do empreiteiro. Art. 634.  No caso do artigo antecedente, última
parte, o depositário, expondo o fundamento da
suspeita, requererá que se recolha o objeto ao
CAPÍTULO IX – Do Depósito Depósito Público.
SEÇÃO I – Do Depósito Voluntário
Art. 635.  Ao depositário será facultado, outros-
Art. 627.  Pelo contrato de depósito recebe o sim, requerer depósito judicial da coisa, quando,
depositário um objeto móvel, para guardar, até por motivo plausível, não a possa guardar, e o
que o depositante o reclame. depositante não queira recebê-la.

Art. 628.  O contrato de depósito é gratuito, Art. 636.  O depositário, que por força maior
exceto se houver convenção em contrário, se houver perdido a coisa depositada e recebido
resultante de atividade negocial ou se o depo- outra em seu lugar, é obrigado a entregar a se-
sitário o praticar por profissão. gunda ao depositante, e ceder-lhe as ações que
Parágrafo único.  Se o depósito for oneroso no caso tiver contra o terceiro responsável pela
e a retribuição do depositário não constar de restituição da primeira.
lei, nem resultar de ajuste, será determinada
pelos usos do lugar, e, na falta destes, por ar- Art. 637.  O herdeiro do depositário, que de
bitramento. boa-fé vendeu a coisa depositada, é obrigado
a assistir o depositante na reivindicação, e a
Art. 629.  O depositário é obrigado a ter na restituir ao comprador o preço recebido.
guarda e conservação da coisa depositada o
cuidado e diligência que costuma com o que lhe Art. 638.  Salvo os casos previstos nos arts. 633
pertence, bem como a restituí-la, com todos os e 634, não poderá o depositário furtar-se à res-
frutos e acrescidos, quando o exija o depositante. tituição do depósito, alegando não pertencer a
coisa ao depositante, ou opondo compensação,
Art. 630.  Se o depósito se entregou fechado, exceto se noutro depósito se fundar.
colado, selado, ou lacrado, nesse mesmo estado
se manterá. Art. 639.  Sendo dois ou mais depositantes,
e divisível a coisa, a cada um só entregará o
Art. 631.  Salvo disposição em contrário, a res- depositário a respectiva parte, salvo se houver
tituição da coisa deve dar-se no lugar em que entre eles solidariedade.
tiver de ser guardada. As despesas de restituição
correm por conta do depositante. Art. 640.  Sob pena de responder por perdas
e danos, não poderá o depositário, sem licen-
Art. 632.  Se a coisa houver sido depositada ça expressa do depositante, servir-se da coisa
no interesse de terceiro, e o depositário tiver depositada, nem a dar em depósito a outrem.
Código Civil e normas correlatas

sido cientificado deste fato pelo depositante, Parágrafo único.  Se o depositário, devida-
não poderá ele exonerar-se restituindo a coisa mente autorizado, confiar a coisa em depósito
a este, sem consentimento daquele. a terceiro, será responsável se agiu com culpa
na escolha deste.
Art. 633.  Ainda que o contrato fixe prazo à
restituição, o depositário entregará o depósito Art. 641.  Se o depositário se tornar incapaz,
logo que se lhe exija, salvo se tiver o direito de a pessoa que lhe assumir a administração dos
retenção a que se refere o art. 644, se o objeto bens diligenciará imediatamente restituir a coisa
for judicialmente embargado, se sobre ele pen- depositada e, não querendo ou não podendo o
94 der execução, notificada ao depositário, ou se depositante recebê-la, recolhê-la-á ao Depósi-
to Público ou promoverá nomeação de outro Art. 649.  Aos depósitos previstos no artigo
depositário. antecedente é equiparado o das bagagens dos
viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde
Art. 642.  O depositário não responde pelos estiverem.
casos de força maior; mas, para que lhe valha Parágrafo único.  Os hospedeiros responde-
a escusa, terá de prová-los. rão como depositários, assim como pelos furtos
e roubos que perpetrarem as pessoas emprega-
Art. 643.  O depositante é obrigado a pagar ao das ou admitidas nos seus estabelecimentos.
depositário as despesas feitas com a coisa, e os
prejuízos que do depósito provierem. Art. 650.  Cessa, nos casos do artigo antece-
dente, a responsabilidade dos hospedeiros, se
Art. 644.  O depositário poderá reter o depósi- provarem que os fatos prejudiciais aos viajantes
to até que se lhe pague a retribuição devida, o ou hóspedes não podiam ter sido evitados.
líquido valor das despesas, ou dos prejuízos a
que se refere o artigo anterior, provando ime- Art. 651.  O depósito necessário não se presu-
diatamente esses prejuízos ou essas despesas. me gratuito. Na hipótese do art. 649, a remu-
Parágrafo único.  Se essas dívidas, despesas ou neração pelo depósito está incluída no preço
prejuízos não forem provados suficientemente, da hospedagem.
ou forem ilíquidos, o depositário poderá exigir
caução idônea do depositante ou, na falta desta, Art. 652.  Seja o depósito voluntário ou neces-
a remoção da coisa para o Depósito Público, até sário, o depositário que não o restituir quando
que se liquidem. exigido será compelido a fazê-lo mediante prisão
não excedente a um ano, e ressarcir os prejuízos.
Art. 645.  O depósito de coisas fungíveis, em
que o depositário se obrigue a restituir objetos
do mesmo gênero, qualidade e quantidade, re- CAPÍTULO X – Do Mandato
gular-se-á pelo disposto acerca do mútuo. SEÇÃO I – Disposições Gerais

Art. 646.  O depósito voluntário provar-se-á Art. 653.  Opera-se o mandato quando alguém


por escrito. recebe de outrem poderes para, em seu nome,
praticar atos ou administrar interesses. A pro-
curação é o instrumento do mandato.
SEÇÃO II – Do Depósito Necessário
Art. 654.  Todas as pessoas capazes são aptas
Art. 647.  É depósito necessário: para dar procuração mediante instrumento par-
I – o que se faz em desempenho de obriga- ticular, que valerá desde que tenha a assinatura
ção legal; do outorgante.
II – o que se efetua por ocasião de alguma § 1o  O instrumento particular deve conter
calamidade, como o incêndio, a inundação, o a indicação do lugar onde foi passado, a qua-
naufrágio ou o saque. lificação do outorgante e do outorgado, a data
e o objetivo da outorga com a designação e a
Art. 648.  O depósito a que se refere o inciso I extensão dos poderes conferidos.
do artigo antecedente, reger-se-á pela disposição § 2o  O terceiro com quem o mandatário
da respectiva lei, e, no silêncio ou deficiência tratar poderá exigir que a procuração traga a
dela, pelas concernentes ao depósito voluntário. firma reconhecida.
Parágrafo único.  As disposições deste artigo
Código Civil

aplicam-se aos depósitos previstos no inciso II Art. 655.  Ainda quando se outorgue mandato
do artigo antecedente, podendo estes certifica- por instrumento público, pode substabelecer-se
rem-se por qualquer meio de prova. mediante instrumento particular.
95
Art. 656.  O mandato pode ser expresso ou Art. 664.  O mandatário tem o direito de reter,
tácito, verbal ou escrito. do objeto da operação que lhe foi cometida,
quanto baste para pagamento de tudo que lhe
Art. 657.  A outorga do mandato está sujeita à for devido em consequência do mandato.
forma exigida por lei para o ato a ser praticado.
Não se admite mandato verbal quando o ato Art. 665.  O mandatário que exceder os pode-
deva ser celebrado por escrito. res do mandato, ou proceder contra eles, será
considerado mero gestor de negócios, enquanto
Art. 658.  O mandato presume-se gratuito o mandante lhe não ratificar os atos.
quando não houver sido estipulada retribui-
ção, exceto se o seu objeto corresponder ao Art. 666.  O maior de dezesseis e menor de
daqueles que o mandatário trata por ofício ou dezoito anos não emancipado pode ser man-
profissão lucrativa. datário, mas o mandante não tem ação contra
Parágrafo único.  Se o mandato for oneroso, ele senão de conformidade com as regras gerais,
caberá ao mandatário a retribuição prevista em aplicáveis às obrigações contraídas por menores.
lei ou no contrato. Sendo estes omissos, será ela
determinada pelos usos do lugar, ou, na falta
destes, por arbitramento. SEÇÃO II – Das Obrigações do Mandatário

Art. 659.  A aceitação do mandato pode ser Art. 667.  O mandatário é obrigado a aplicar


tácita, e resulta do começo de execução. toda sua diligência habitual na execução do
mandato, e a indenizar qualquer prejuízo cau-
Art. 660.  O mandato pode ser especial a um sado por culpa sua ou daquele a quem subs-
ou mais negócios determinadamente, ou geral tabelecer, sem autorização, poderes que devia
a todos os do mandante. exercer pessoalmente.
§ 1o  Se, não obstante proibição do mandante,
Art. 661.  O mandato em termos gerais só con- o mandatário se fizer substituir na execução do
fere poderes de administração. mandato, responderá ao seu constituinte pelos
§ 1o  Para alienar, hipotecar, transigir, ou pra- prejuízos ocorridos sob a gerência do substituto,
ticar outros quaisquer atos que exorbitem da embora provenientes de caso fortuito, salvo
administração ordinária, depende a procuração provando que o caso teria sobrevindo, ainda
de poderes especiais e expressos. que não tivesse havido substabelecimento.
§ 2o  O poder de transigir não importa o de § 2o  Havendo poderes de substabelecer, só
firmar compromisso. serão imputáveis ao mandatário os danos causa-
dos pelo substabelecido, se tiver agido com culpa
Art. 662.  Os atos praticados por quem não na escolha deste ou nas instruções dadas a ele.
tenha mandato, ou o tenha sem poderes sufici- § 3o  Se a proibição de substabelecer constar
entes, são ineficazes em relação àquele em cujo da procuração, os atos praticados pelo substa-
nome foram praticados, salvo se este os ratificar. belecido não obrigam o mandante, salvo rati-
Parágrafo único.  A ratificação há de ser ex- ficação expressa, que retroagirá à data do ato.
Código Civil e normas correlatas

pressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá § 4o  Sendo omissa a procuração quanto ao
à data do ato. substabelecimento, o procurador será responsá-
vel se o substabelecido proceder culposamente.
Art. 663.  Sempre que o mandatário estipular
negócios expressamente em nome do mandante, Art. 668.  O mandatário é obrigado a dar contas
será este o único responsável; ficará, porém, o de sua gerência ao mandante, transferindo-
mandatário pessoalmente obrigado, se agir no lhe as vantagens provenientes do mandato, por
seu próprio nome, ainda que o negócio seja de qualquer título que seja.
conta do mandante.
96
Art. 669.  O mandatário não pode compensar Art. 676.  É obrigado o mandante a pagar ao
os prejuízos a que deu causa com os proveitos mandatário a remuneração ajustada e as des-
que, por outro lado, tenha granjeado ao seu pesas da execução do mandato, ainda que o
constituinte. negócio não surta o esperado efeito, salvo tendo
o mandatário culpa.
Art. 670.  Pelas somas que devia entregar ao
mandante ou recebeu para despesa, mas em- Art. 677.  As somas adiantadas pelo mandatá-
pregou em proveito seu, pagará o mandatário rio, para a execução do mandato, vencem juros
juros, desde o momento em que abusou. desde a data do desembolso.

Art. 671.  Se o mandatário, tendo fundos ou Art. 678.  É igualmente obrigado o mandante a


crédito do mandante, comprar, em nome pró- ressarcir ao mandatário as perdas que este sofrer
prio, algo que devera comprar para o mandante, com a execução do mandato, sempre que não
por ter sido expressamente designado no man- resultem de culpa sua ou de excesso de poderes.
dato, terá este ação para obrigá-lo à entrega da
coisa comprada. Art. 679.  Ainda que o mandatário contrarie
as instruções do mandante, se não exceder os
Art. 672.  Sendo dois ou mais os mandatários limites do mandato, ficará o mandante obrigado
nomeados no mesmo instrumento, qualquer para com aqueles com quem o seu procurador
deles poderá exercer os poderes outorgados, se contratou; mas terá contra este ação pelas per-
não forem expressamente declarados conjuntos, das e danos resultantes da inobservância das
nem especificamente designados para atos dife- instruções.
rentes, ou subordinados a atos sucessivos. Se os
mandatários forem declarados conjuntos, não Art. 680.  Se o mandato for outorgado por duas
terá eficácia o ato praticado sem interferência de ou mais pessoas, e para negócio comum, cada
todos, salvo havendo ratificação, que retroagirá uma ficará solidariamente responsável ao man-
à data do ato. datário por todos os compromissos e efeitos do
mandato, salvo direito regressivo, pelas quantias
Art. 673.  O terceiro que, depois de conhecer que pagar, contra os outros mandantes.
os poderes do mandatário, com ele celebrar
negócio jurídico exorbitante do mandato, não Art. 681.  O mandatário tem sobre a coisa de
tem ação contra o mandatário, salvo se este que tenha a posse em virtude do mandato, di-
lhe prometeu ratificação do mandante ou se reito de retenção, até se reembolsar do que no
responsabilizou pessoalmente. desempenho do encargo despendeu.

Art. 674.  Embora ciente da morte, interdição


ou mudança de estado do mandante, deve o SEÇÃO IV – Da Extinção do Mandato
mandatário concluir o negócio já começado,
se houver perigo na demora. Art. 682.  Cessa o mandato:
I – pela revogação ou pela renúncia;
II – pela morte ou interdição de uma das
SEÇÃO III – Das Obrigações do Mandante partes;
III – pela mudança de estado que inabilite o
Art. 675.  O mandante é obrigado a satisfazer mandante a conferir os poderes, ou o manda-
todas as obrigações contraídas pelo mandatário, tário para os exercer;
na conformidade do mandato conferido, e adi- IV – pelo término do prazo ou pela conclusão
Código Civil

antar a importância das despesas necessárias à do negócio.


execução dele, quando o mandatário lho pedir.

97
Art. 683.  Quando o mandato contiver a cláu- Art. 690.  Se falecer o mandatário, pendente
sula de irrevogabilidade e o mandante o revogar, o negócio a ele cometido, os herdeiros, tendo
pagará perdas e danos. ciência do mandato, avisarão o mandante, e
providenciarão a bem dele, como as circuns-
Art. 684.  Quando a cláusula de irrevogabi- tâncias exigirem.
lidade for condição de um negócio bilateral,
ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse Art. 691.  Os herdeiros, no caso do artigo an-
do mandatário, a revogação do mandato será tecedente, devem limitar-se às medidas conser-
ineficaz. vatórias, ou continuar os negócios pendentes
que se não possam demorar sem perigo, regu-
Art. 685.  Conferido o mandato com a cláusula lando-se os seus serviços dentro desse limite,
“em causa própria”, a sua revogação não terá efi- pelas mesmas normas a que os do mandatário
cácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer estão sujeitos.
das partes, ficando o mandatário dispensado
de prestar contas, e podendo transferir para si
os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, SEÇÃO V – Do Mandato Judicial
obedecidas as formalidades legais.
Art. 692.  O mandato judicial fica subordinado
Art. 686.  A revogação do mandato, notificada às normas que lhe dizem respeito, constantes
somente ao mandatário, não se pode opor aos da legislação processual, e, supletivamente, às
terceiros que, ignorando-a, de boa-fé com ele estabelecidas neste Código.
trataram; mas ficam salvas ao constituinte as
ações que no caso lhe possam caber contra o
procurador. CAPÍTULO XI – Da Comissão
Parágrafo único.  É irrevogável o manda-
to que contenha poderes de cumprimento ou Art. 693.  O contrato de comissão tem por obje-
confirmação de negócios encetados, aos quais to a aquisição ou a venda de bens pelo comissá-
se ache vinculado. rio, em seu próprio nome, à conta do comitente.

Art. 687.  Tanto que for comunicada ao man- Art. 694.  O comissário fica diretamente obri-
datário a nomeação de outro, para o mesmo gado para com as pessoas com quem contratar,
negócio, considerar-se-á revogado o mandato sem que estas tenham ação contra o comitente,
anterior. nem este contra elas, salvo se o comissário ceder
seus direitos a qualquer das partes.
Art. 688.  A renúncia do mandato será comu-
nicada ao mandante, que, se for prejudicado Art. 695.  O comissário é obrigado a agir de
pela sua inoportunidade, ou pela falta de tempo, conformidade com as ordens e instruções do
a fim de prover à substituição do procurador, comitente, devendo, na falta destas, não poden-
será indenizado pelo mandatário, salvo se este do pedi-las a tempo, proceder segundo os usos
provar que não podia continuar no mandato em casos semelhantes.
Código Civil e normas correlatas

sem prejuízo considerável, e que não lhe era Parágrafo único.  Ter-se-ão por justificados
dado substabelecer. os atos do comissário, se deles houver resultado
vantagem para o comitente, e ainda no caso em
Art. 689.  São válidos, a respeito dos contra- que, não admitindo demora a realização do ne-
tantes de boa-fé, os atos com estes ajustados em gócio, o comissário agiu de acordo com os usos.
nome do mandante pelo mandatário, enquanto
este ignorar a morte daquele ou a extinção do Art. 696.  No desempenho das suas incumbên-
mandato, por qualquer outra causa. cias o comissário é obrigado a agir com cuidado
e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo
98 ao comitente, mas ainda para lhe proporcionar
o lucro que razoavelmente se podia esperar do Art. 704.  Salvo disposição em contrário, pode
negócio. o comitente, a qualquer tempo, alterar as instru-
Parágrafo único.  Responderá o comissário, ções dadas ao comissário, entendendo-se por
salvo motivo de força maior, por qualquer pre- elas regidos também os negócios pendentes.
juízo que, por ação ou omissão, ocasionar ao
comitente. Art. 705.  Se o comissário for despedido sem
justa causa, terá direito a ser remunerado pelos
Art. 697.  O comissário não responde pela in- trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido
solvência das pessoas com quem tratar, exceto pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa.
em caso de culpa e no do artigo seguinte.
Art. 706.  O comitente e o comissário são obri-
Art. 698.  Se do contrato de comissão constar gados a pagar juros um ao outro; o primeiro
a cláusula del credere, responderá o comissário pelo que o comissário houver adiantado para
solidariamente com as pessoas com que houver cumprimento de suas ordens; e o segundo pela
tratado em nome do comitente, caso em que, mora na entrega dos fundos que pertencerem
salvo estipulação em contrário, o comissário ao comitente.
tem direito a remuneração mais elevada, para
compensar o ônus assumido. Art. 707.  O crédito do comissário, relativo a
comissões e despesas feitas, goza de privilégio
Art. 699.  Presume-se o comissário autorizado geral, no caso de falência ou insolvência do
a conceder dilação do prazo para pagamento, comitente.
na conformidade dos usos do lugar onde se
realizar o negócio, se não houver instruções Art. 708.  Para reembolso das despesas feitas,
diversas do comitente. bem como para recebimento das comissões
devidas, tem o comissário direito de retenção
Art. 700.  Se houver instruções do comitente sobre os bens e valores em seu poder em virtude
proibindo prorrogação de prazos para pagamen- da comissão.
to, ou se esta não for conforme os usos locais,
poderá o comitente exigir que o comissário Art. 709.  São aplicáveis à comissão, no que
pague incontinenti ou responda pelas conse- couber, as regras sobre mandato.
quências da dilação concedida, procedendo-se
de igual modo se o comissário não der ciência
ao comitente dos prazos concedidos e de quem CAPÍTULO XII – Da Agência e Distribuição
é seu beneficiário.
Art. 710.  Pelo contrato de agência, uma pessoa
Art. 701.  Não estipulada a remuneração devida assume, em caráter não eventual e sem vínculos
ao comissário, será ela arbitrada segundo os de dependência, a obrigação de promover, à con-
usos correntes no lugar. ta de outra, mediante retribuição, a realização
de certos negócios, em zona determinada, ca-
Art. 702.  No caso de morte do comissário, ou, racterizando-se a distribuição quando o agente
quando, por motivo de força maior, não puder tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.
concluir o negócio, será devida pelo comitente Parágrafo único.  O proponente pode conferir
uma remuneração proporcional aos trabalhos poderes ao agente para que este o represente na
realizados. conclusão dos contratos.

Art. 703.  Ainda que tenha dado motivo à dis- Art. 711.  Salvo ajuste, o proponente não pode
Código Civil

pensa, terá o comissário direito a ser remunera- constituir, ao mesmo tempo, mais de um agente,
do pelos serviços úteis prestados ao comitente, na mesma zona, com idêntica incumbência;
ressalvado a este o direito de exigir daquele os nem pode o agente assumir o encargo de nela
prejuízos sofridos. 99
tratar de negócios do mesmo gênero, à conta Parágrafo único.  No caso de divergência en-
de outros proponentes. tre as partes, o juiz decidirá da razoabilidade do
prazo e do valor devido.
Art. 712.  O agente, no desempenho que lhe foi
cometido, deve agir com toda diligência, atendo- Art. 721.  Aplicam-se ao contrato de agência e
se às instruções recebidas do proponente. distribuição, no que couber, as regras concer-
nentes ao mandato e à comissão e as constantes
Art. 713.  Salvo estipulação diversa, todas as de lei especial.
despesas com a agência ou distribuição correm
a cargo do agente ou distribuidor.
CAPÍTULO XIII – Da Corretagem
Art. 714.  Salvo ajuste, o agente ou distribuidor
terá direito à remuneração correspondente aos Art. 722.  Pelo contrato de corretagem, uma
negócios concluídos dentro de sua zona, ainda pessoa, não ligada a outra em virtude de man-
que sem a sua interferência. dato, de prestação de serviços ou por qualquer
relação de dependência, obriga-se a obter para
Art. 715.  O agente ou distribuidor tem direito a segunda um ou mais negócios, conforme as
à indenização se o proponente, sem justa causa, instruções recebidas.
cessar o atendimento das propostas ou reduzi-lo
tanto que se torna antieconômica a continuação Art. 723.  O corretor é obrigado a executar a
do contrato. mediação com diligência e prudência, e a prestar
ao cliente, espontaneamente, todas as informa-
Art. 716.  A remuneração será devida ao agente ções sobre o andamento do negócio.
também quando o negócio deixar de ser reali- Parágrafo único.  Sob pena de responder por
zado por fato imputável ao proponente. perdas e danos, o corretor prestará ao cliente
todos os esclarecimentos acerca da segurança
Art. 717.  Ainda que dispensado por justa cau- ou do risco do negócio, das alterações de valo-
sa, terá o agente direito a ser remunerado pelos res e de outros fatores que possam influir nos
serviços úteis prestados ao proponente, sem resultados da incumbência.
embargo de haver este perdas e danos pelos
prejuízos sofridos. Art. 724.  A remuneração do corretor, se não
estiver fixada em lei, nem ajustada entre as
Art. 718.  Se a dispensa se der sem culpa do partes, será arbitrada segundo a natureza do
agente, terá ele direito à remuneração até então negócio e os usos locais.
devida, inclusive sobre os negócios pendentes,
além das indenizações previstas em lei especial. Art. 725.  A remuneração é devida ao corretor
uma vez que tenha conseguido o resultado pre-
Art. 719.  Se o agente não puder continuar o visto no contrato de mediação, ou ainda que este
trabalho por motivo de força maior, terá direito não se efetive em virtude de arrependimento
à remuneração correspondente aos serviços das partes.
Código Civil e normas correlatas

realizados, cabendo esse direito aos herdeiros


no caso de morte. Art. 726.  Iniciado e concluído o negócio dire-
tamente entre as partes, nenhuma remuneração
Art. 720.  Se o contrato for por tempo indeter- será devida ao corretor; mas se, por escrito, for
minado, qualquer das partes poderá resolvê-lo, ajustada a corretagem com exclusividade, terá o
mediante aviso prévio de noventa dias, desde corretor direito à remuneração integral, ainda
que transcorrido prazo compatível com a natu- que realizado o negócio sem a sua mediação,
reza e o vulto do investimento exigido do agente. salvo se comprovada sua inércia ou ociosidade.

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Art. 727.  Se, por não haver prazo determinado, SEÇÃO II – Do Transporte de Pessoas
o dono do negócio dispensar o corretor, e o
negócio se realizar posteriormente, como fruto Art. 734.  O transportador responde pelos da-
da sua mediação, a corretagem lhe será devida; nos causados às pessoas transportadas e suas
igual solução se adotará se o negócio se realizar bagagens, salvo motivo de força maior, sendo
após a decorrência do prazo contratual, mas por nula qualquer cláusula excludente da respon-
efeito dos trabalhos do corretor. sabilidade.
Parágrafo único.  É lícito ao transportador
Art. 728.  Se o negócio se concluir com a in- exigir a declaração do valor da bagagem a fim
termediação de mais de um corretor, a remune- de fixar o limite da indenização.
ração será paga a todos em partes iguais, salvo
ajuste em contrário. Art. 735.  A responsabilidade contratual do
transportador por acidente com o passageiro
Art. 729.  Os preceitos sobre corretagem cons- não é elidida por culpa de terceiro, contra o
tantes deste Código não excluem a aplicação de qual tem ação regressiva.
outras normas da legislação especial.
Art. 736.  Não se subordina às normas do con-
trato de transporte o feito gratuitamente, por
CAPÍTULO XIV – Do Transporte amizade ou cortesia.
SEÇÃO I – Disposições Gerais Parágrafo único.  Não se considera gratuito o
transporte quando, embora feito sem remunera-
Art. 730.  Pelo contrato de transporte alguém ção, o transportador auferir vantagens indiretas.
se obriga, mediante retribuição, a transportar,
de um lugar para outro, pessoas ou coisas. Art. 737.  O transportador está sujeito aos
horários e itinerários previstos, sob pena de
Art. 731.  O transporte exercido em virtude responder por perdas e danos, salvo motivo
de autorização, permissão ou concessão, rege- de força maior.
se pelas normas regulamentares e pelo que for
estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do Art. 738.  A pessoa transportada deve sujeitar-
disposto neste Código. se às normas estabelecidas pelo transportador,
constantes no bilhete ou afixadas à vista dos
Art. 732.  Aos contratos de transporte, em ge- usuários, abstendo-se de quaisquer atos que
ral, são aplicáveis, quando couber, desde que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros,
não contrariem as disposições deste Código, os danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam
preceitos constantes da legislação especial e de a execução normal do serviço.
tratados e convenções internacionais. Parágrafo único.  Se o prejuízo sofrido pela
pessoa transportada for atribuível à transgres-
Art. 733.  Nos contratos de transporte cumu- são de normas e instruções regulamentares, o
lativo, cada transportador se obriga a cumprir juiz reduzirá equitativamente a indenização,
o contrato relativamente ao respectivo percur- na medida em que a vítima houver concorrido
so, respondendo pelos danos nele causados a para a ocorrência do dano.
pessoas e coisas.
§ 1o  O dano, resultante do atraso ou da inter- Art. 739.  O transportador não pode recusar
rupção da viagem, será determinado em razão passageiros, salvo os casos previstos nos regu-
da totalidade do percurso. lamentos, ou se as condições de higiene ou de
§ 2o  Se houver substituição de algum dos saúde do interessado o justificarem.
Código Civil

transportadores no decorrer do percurso, a


responsabilidade solidária estender-se-á ao Art. 740.  O passageiro tem direito a rescindir
substituto. o contrato de transporte antes de iniciada a
viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor 101
da passagem, desde que feita a comunicação ao Parágrafo único.  O transportador poderá
transportador em tempo de ser renegociada. exigir que o remetente lhe entregue, devidamen-
§ 1o  Ao passageiro é facultado desistir do te assinada, a relação discriminada das coisas
transporte, mesmo depois de iniciada a via- a serem transportadas, em duas vias, uma das
gem, sendo-lhe devida a restituição do valor quais, por ele devidamente autenticada, ficará
correspondente ao trecho não utilizado, desde fazendo parte integrante do conhecimento.
que provado que outra pessoa haja sido trans-
portada em seu lugar. Art. 745.  Em caso de informação inexata ou
§ 2o  Não terá direito ao reembolso do valor falsa descrição no documento a que se refere
da passagem o usuário que deixar de embarcar, o artigo antecedente, será o transportador in-
salvo se provado que outra pessoa foi transporta- denizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a
da em seu lugar, caso em que lhe será restituído ação respectiva ser ajuizada no prazo de cento
o valor do bilhete não utilizado. e vinte dias, a contar daquele ato, sob pena de
§ 3o  Nas hipóteses previstas neste artigo, decadência.
o transportador terá direito de reter até cinco
por cento da importância a ser restituída ao Art. 746.  Poderá o transportador recusar a
passageiro, a título de multa compensatória. coisa cuja embalagem seja inadequada, bem
como a que possa pôr em risco a saúde das
Art. 741.  Interrompendo-se a viagem por qual- pessoas, ou danificar o veículo e outros bens.
quer motivo alheio à vontade do transportador,
ainda que em consequência de evento imprevi- Art. 747.  O transportador deverá obrigato-
sível, fica ele obrigado a concluir o transporte riamente recusar a coisa cujo transporte ou
contratado em outro veículo da mesma cate- comercialização não sejam permitidos, ou que
goria, ou, com a anuência do passageiro, por venha desacompanhada dos documentos exi-
modalidade diferente, à sua custa, correndo gidos por lei ou regulamento.
também por sua conta as despesas de estada
e alimentação do usuário, durante a espera de Art. 748.  Até a entrega da coisa, pode o reme-
novo transporte. tente desistir do transporte e pedi-la de volta,
ou ordenar seja entregue a outro destinatário,
Art. 742.  O transportador, uma vez executado pagando, em ambos os casos, os acréscimos de
o transporte, tem direito de retenção sobre a despesa decorrentes da contraordem, mais as
bagagem de passageiro e outros objetos pessoais perdas e danos que houver.
deste, para garantir-se do pagamento do valor
da passagem que não tiver sido feito no início Art. 749.  O transportador conduzirá a coisa ao
ou durante o percurso. seu destino, tomando todas as cautelas necessá-
rias para mantê-la em bom estado e entregá-la
no prazo ajustado ou previsto.
SEÇÃO III – Do Transporte de Coisas
Art. 750.  A responsabilidade do transportador,
Art. 743.  A coisa, entregue ao transportador, limitada ao valor constante do conhecimen-
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deve estar caracterizada pela sua natureza, valor, to, começa no momento em que ele, ou seus
peso e quantidade, e o mais que for necessário prepostos, recebem a coisa; termina quando
para que não se confunda com outras, devendo é entregue ao destinatário, ou depositada em
o destinatário ser indicado ao menos pelo nome juízo, se aquele não for encontrado.
e endereço.
Art. 751.  A coisa, depositada ou guardada
Art. 744.  Ao receber a coisa, o transportador nos armazéns do transportador, em virtude de
emitirá conhecimento com a menção dos dados contrato de transporte, rege-se, no que couber,
que a identifiquem, obedecido o disposto em pelas disposições relativas a depósito.
102 lei especial.

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