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FACULDADE SANTA MARIA

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA


ESTADO E POLITICAS PUBLICAS

ANDRE DE LUNA COELHO FERNANDO


FERNANDO ARTHUR OLIVEIRA DE SOUSA
JORGE LUIZ SANTANA COELHO
MATEUS RODRIGUES DE LIMA

REVISÃO BIBLIOGRAFICA SOBRE A SAUDE DO TRABALHADOR E A


DESPROTEÇÃO SOCIAL

CAJAZEIRAS-PB
2018
ANDRE DE LUNA COELHO FERNANDO
FERNANDO ARTHUR OLIVEIRA DE SOUSA
JORGE LUIZ SANTANA COELHO
MATEUS RODRIGUES DE LIMA

REVISÃO BIBLIOGRAFICA SOBRE A SAUDE DO TRABALHADOR E A


DESPROTEÇÃO SOCIAL

Trabalho de Estado e Políticas do Curso de Bacharelado em


Psicologia, da Faculdade Santa Maria, referente a 40% do
segundo processo de avaliação.

CAJAZEIRAS-PB
2018
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho se trata de uma análise interpretativa do artigo de Ferreira e Amaral


(2014), no qual os autores abordam questões relativas a saúde do trabalhador no capitalismo
contemporâneo e as consequências do atual sistema econômico neoliberal para o seu bem-
estar e sua inseguridade social através das desconstrução consentida pelo o Estado Brasileiro
das leis trabalhistas.
Ferreira e Amaral (2014) trazem uma reflexão sobre o desenvolvimento do trabalho sobre
uma concepção marxista, no qual afirmam que o desgaste do trabalhador se deu com o
advento e o desenvolvimento do capital, onde os mesmos eram submetidos a grande jornadas
de trabalho e como consequência havia um comprometimento na sua saúde física e
psicológica.
A mais-valia foi um termo criado por Marx (1867) para explicar como se dava a
exploração da burguesia sobre a força de trabalho do proletariado, que consiste na ampliação
e intensificação da jornada para a produção de capital excedente. Com essa ampliação
segundo os autores é o que dá início ao esgotamento prematuro da força de trabalho e
contribuindo para uma redução no tempo de vida útil do trabalhador.
Podemos observar que o desenvolvimento do capital afetou de forma significativa a
dinâmica social e cultural dos países que adotaram o capitalismo, especialmente dos países
em desenvolvimento, tendo como consequência uma reestruturação nos sistemas de produção,
na circulação e na área sócio-política e institucional acarretando novas exigências do
trabalhador e com isso a sua desproteção social, no qual serão abordadas pelo os autores nos
respectivos tópicos, Constituição do Estado Brasileiro, políticas de proteção social e
desconstrução dos direitos sociais, a desarticulação da seguridade social e as tendências de
retração dos direitos sociais e por ultimo entre o trabalho e a garantia de direitos: tensões e
tendências para a saúde do trabalhador.
2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Constituição do Estado Brasileiro, políticas de proteção social e desconstrução dos


direitos sociais.
O que caracteriza o período de desenvolvimento da industrialização no Brasil na
década de 30 segundo os autores, é a crescente mudança política e estrutural no Estado
brasileiro e a criação de políticas de proteção e a desconstrução dos direitos sociais, na qual se
dá com o advento da base urbano-industrial na estrutura produtiva, colocando dessa forma as
novas classes burguesas empresário-industriais em posição hegemônica (Ferreira & Amaral,
2014).
Segundo os autores, a inserção das novas classes no contexto urbano, não elimina
totalmente as classes proprietárias rurais, pois a exigência do novo contexto econômico do
capital Brasil exigia dos trabalhadores qualidade, dessa forma a mistura dos modos arcaicos
com o novo modelo industrial servia para a expansão do capital no país e a nível mundial.
Sobre essas condições, a forma como se processou o desenvolvimento das indústrias
no país, através da exploração excessiva da força do trabalho do trabalhador assalariado, e
consequente o desgaste na sua saúde, começou-se a pensar na proteção social e em assegurar
os direitos dos mesmos, desta forma, mediante a legislação do trabalho como uma maneira de
assegurar os direitos, na qual tinha o Estado o dever de mediar esses conflitos para estruturar a
economia no país.
Levando em consideração Netto (2001) ele irá trazer uma mesma perspectiva do autor
na qual afirma que o capitalismo monopolista, pelas suas dinâmicas e contradições, cria
condições tais que o Estado por ele capturado, ao buscar legitimação política através do jogo
democrático, é permeável a demandas das classes subalternas, que podem fazer incidir nele
seus interesses e suas reivindicações imediatos, dessa forma podemos fazer uma mediação de
conflitos e assim cria um cenário favorável para seu crescimento e consequentemente a
desproteção social dos trabalhadores.
O Fator decisivo para as conquistas dos trabalhadores dos seus direitos foram os
movimentos que se fizeram com as discussões nas fabricas e o surgimento dos sindicatos, este
por sua vez, se caracteriza por fiscalizar se os direitos trabalhistas estão sendo efetivados,
sendo assim observa-se uma crescente luta para a realização da proteção social dos
trabalhadores nesse período histórico, entretanto com as mudanças ocorridas na década de 70
com a reestruturação produtiva, e nos anos de 1990, período em que se consolidava no país a
constituição de 88, que afirmava um legado de direitos no âmbito do trabalho e na seguridade
social, (Yazbek, 2010)
No entanto, afirma Mota e Amaral (2008) nesse contexto de desenvolvimento em que
vivia o Brasil e o resto do mundo, crescia uma idéia e um novo movimento econômico
denominado de neoliberalismo, este por sua vez, se define por propagar a idéia de estado
mínimo, isso implicaria segundo os autores na desproteção social dos trabalhadores, os quais
os direitos mínimos que foram garantidos pela a constituição cidadã são ameaçados, e que
cunhos ideológicos como a competência e a eficiência no setor privado.
Surge assim o que se denomina precarização no trabalho, que se caracteriza na falta de
oportunidades devido a não capacitação do trabalhador para atingir a nova exigência do novo
mercado de trabalho, e como consequência surge o desemprego, devido a não acolher o
trabalhador na sua posição em quanto não qualificado para o mercado, (Alves 2011; Antunes
2003; Druck 2013)
Para concluir, nessas analises realizadas pelo os autores, as formas precárias de
trabalho e emprego são causadas pela a mudança estrutural sócio-econômica que ocorram no
Brasil, e que de certa forma o Estado assume nas políticas sociais, uma posição consentida, e
que isso acarretara consequências profundas na saúde do trabalhador e na sua proteção, ,
(Alves 2011; Antunes 2003; Druck 2013).

2.2 A desarticulação da seguridade social e as tendências de retração dos direitos sociais


Ferreira e Amaral (2014) colocam que os mecanismos de limitação das políticas de
seguridade social têm suas raízes nas diretrizes internacionais de organismos multilaterais que
passam a sugerir as mudanças no âmbito da proteção social. Expressam que as mudanças em
Estados Nacionais são comandadas pela burguesia, que tendem a mercantilizar os direitos
sociais e redirecioná-los a parcelas especificas da sociedade.
Através disso busca-se ressignificar a idéia de universalidade através de propostas
jurídicas que conferem a legitimidade necessária pára as mudanças, configurando uma
realidade que aposta na desregulamentação dos direitos sociais na Política de Seguridade
Social, sob comando do Estado.
Boschetti (2009) caracteriza as reformulações brasileiras como inovadoras, porem, a
idéia de constituir um sistema de ampla proteção social foi dando espaço a um sistema hibrido
que possui direitos derivados e dependentes do trabalho, como é o caso da previdência, de
caráter universal, como a saúde, e direitos seletivos, como os programas de assistência social.
Para autora as Leis não estão totalmente materializadas e integradas, o que resulta num
proteção parcial do trabalhador.
Ferreira e Amaral (2014) notam que a falta de integração pode ser identificada no
âmbito da saúde justamente pela falta de repostas dos serviços públicos as necessidades da
saúde. Do ponto de vista da Atenção a Saúde, o tratamento pode ser muitas vezes
inviabilizado por conta de uma inexistência estrutural, que muitas vezes não atentedem as
demandas da sociedade. Na Previdência Social podemos notar a dificuldade dos trabalhadores
do mercado informal para acessar os benefícios da previdência ou para mantê-lo em caso de
incapacidade física. Na área da Assistência Social o estado passa a operar apenas em
programas de alivio a pobreza como forma de combater os problemas gerados pelo
desemprego.
Tudo isso pode ser constatado nos estudos feitos por Mota (2008) onde ele afirma que
os segmentos de Políticas de Seguridade Social não se articulam para conseguir promover
criar um sistema de proteção efetivo, e que na realidade há um aumento nas praticas de
mercantilização e a privatização da Saúde e Previdência, com a Assistência Social voltado ao
combate das desigualdades sociais, sendo visto agora como principal mecanismo de proteção
social. As ações de Seguridade Social tendem ao uso de ações compensatórias e de inserção,
que geram apenas novos requisitos de acesso aos benefícios sociais.
Autores como Gomez e Lacaz (2005) estão de acordos com as idéias anteriores e alem
disso considera os mecanismos de controle social tal como estão, ineficazes, muitas vezes
diminuindo os debates sobre questões cruciais de enfrentamento no mundo do trabalho.
Constatam que não é um problema especifico da área fazendo necessária uma reflexão
profunda sobre fundamentos conceituais, políticos e sociais que deram origem ao problema
para que tenhamos uma real efetividade no futuro.

2.3 Entre o trabalho e a garantia de direitos: tensões e tendências para a saúde do


trabalhador
Ferreira e Amaral (2014) realizaram uma pesquisa no espaço sócio-ocupacional de
saúde, em um hospital universitário, com um grupo de trabalhadores afastados de suas
atividades por limitações físicas e na condição de segurados da previdência social. A pesquisa
foi operacionalizada através do método de entrevista semi-estruturada, com conteúdo focado
na vivencia do trabalhador na situação de desemprego, as dificuldades encontradas para o
tratamento e para garantia do direito a previdência, a expectativa de retorno ao trabalho, as
repostas as demandas do contexto do tratamento de saúde e o direito social e as formas de
enfrentamento dos trabalhadores para garantia da proteção social.
Na análise dos dados, concebendo que o adoecimento do trabalhador é parte inerente e
sócio-histórica do sistema capitalista, na visão marxista, e com base nas entrevistas dada pelos
trabalhadores, foi traçado seu perfil: baixa escolaridade, renda mínima, idade avançada de
envelhecimento para o capital, trabalho pesado, polivalente e repetitivo, posições
inadequadas, trabalho perigoso e grandes jornadas de trabalho. Esses foram traços comuns aos
entrevistados.
Os entrevistados, majoritariamente, consideraram que só havia espaço para eles em
trabalhos que exigiam muitas funções, que despendiam muito esforço físico ou/e com longas
horas de trabalho.
Levando em consideração que a competitividade gera desemprego entre os menos
qualificados, trabalhadores em idade avançada e que exerceram função numa mesma
ramificação da empresa, são postos em segundo plano em função da produção flexível do
atual mercado de trabalho.
Face ao que foi citado, entende-se que a posição desses trabalhadores aumenta a
possibilidade de eles serem descartados sob a ótica das atuais exigências do modelo de
produção. Marx usava o termo “peso morto para o capital”, à forma como esses trabalhadores
são considerados.
Percebe-se também sequelas a nível social: a vida e o cotidiano modificam-se como
consequência da falta de perspectiva, medo e humilhação pós-acidente. O núcleo familiar
também é alterado e desestruturado, e isso está diretamente ligado a necessidade de reparação
da perda de saúde para o trabalho.
As problemáticas apresentadas pelos trabalhadores da pesquisa sugerem que torna-se
difícil a sua reinserção no sistema capitalista face a perda da saúde no trabalho. Como
decorrência eles são inclinados a aceitarem condições mais precárias, inadequadas e
desprotegidas pelo Estado.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destarte, fica notório a vontade do projeto de poder capitalista em moldar tudo ao seu
jeito e trabalhar para a lavagem cerebral do trabalhador, para que esses concordem com o que
não lhe favorece. Tal projeto remete a idéia de que tudo deve ser levado a privatização, para
que o trabalhador se torne cada vez mais dependente desse sistema nefasto.Em conseguinte, é
feita uma tentativa constante na redefinição das políticas públicas, essas medidas retira
direitos, deixando-os desprotegidos socialmente.
No capitalismo moderno, essas mudanças comprometem a saúde e a vivência social do
proletário, essas vontades ficam interligadas com os desejos de declínio de direitos para
buscar uma maior exploração, na qual o trabalhador deva trabalhar muito mais, ganhando
muito menos, para que quando esteja incapaz ou com alguma enfermidade ele seja dispensado
normalmente como se fosse algo descartável, análogo ao lixo hospitalar.
Ademais, a precariedade no ambiente empregatício, que tem efeito direto na saúde do
trabalhador, é mais uma forma dos capitalistas para ajustar suas necessidades de aprimorar
seus privilégios as custas do trabalhador, pois, em caso de privatização da saúde em conjunto
com reformas trabalhistas, os patrões podem se desprender de responsabilidades com os seus
empregados.
Tais formas de tratar o trabalhador constituem formas de explorações gravíssimas,
porque, o projeto de poder dos empresários tendem a comandar todo o estado para que não
haja amparo ao trabalhador. Desse modo, a única forma de amparar o trabalhador na
instituição do estado fica inerte, haja vista que está nas mãos dos “grandes”. Assim sendo, o
trabalhador pode ser demitido por não estar produzindo como o desejo dos patrões.
Os trabalhadores sabem que a sua valorização está pautada na força de trabalho, em
que havendo uma diminuição dessas habilidades ele será vítima fácil do capital. Assim, o que
sobra para o trabalhador é o amparo previdenciário, para que possa viver quando não houver
possibilidades de trabalhar. A forma de assegurar ao trabalhador uma melhor vivência quando
não estiver inapto é boa, porém, está com os seus dias contados, porque ela faz parte dos
planos de desmonte do amparo ao trabalhador. Em teoria a proteção previdenciária é muito
bonita pois assegura direitos sociais. Desse modo, os servidores raramente tem seus direitos
atendidos quando encontram um sistema de saúde totalmente sucateado.
Adiante disso, esse sucateamento do sistema de saúde em conjunto com a destruição
da previdência deixa o servidor sem saída diante dos problemas, pois, além da precariedade
do sistema de saúde, o trabalhador tem seus direitos negados, quando é determinada uma
grande dificuldade burocrática para se ter assistência.
Fica notório, portanto, que é preciso politizar os trabalhadores, formando fóruns de
debate para que haja luta na tentativa de assegurar os direitos de saúde e previdenciários.
Lutando sempre por uma proteção do meio social mais desprotegido. Dessa forma, a luta de
classes deve se tornar constante para que assim sejam mantidos e aumentados os direitos e
não perdidos. Só desse modo será garantido a calmaria aos trabalhadores, derrotando os
empresários na luta.
4. REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO
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