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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE ENGENHARIA ELÉTRICA MECÂNICA E DE COMPUTAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

GABRIEL MENDONÇA DE PAIVA

DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO


CONECTADO À REDE A PARTIR DAS CARACTERÍSTICAS
DE INCLINAÇÃO E ORIENTAÇÃO DOS MÓDULOS
FOTOVOLTAICOS

Goiânia
2016
GABRIEL MENDONÇA DE PAIVA

DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO


CONECTADO À REDE A PARTIR DAS CARACTERÍSTICAS
DE INCLINAÇÃO E ORIENTAÇÃO DOS PAINÉIS SOLARES

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e de
Computação da Escola de Engenharia Elétrica,
Mecânica e de Computação da Universidade Federal
de Goiás. Linha de pesquisa: Sistemas Eletro-
Eletrônicos. Tema de Pesquisa: Sistemas Fotovoltaicos
Conectados à Rede.

Área de concentração: Engenharia Elétrica.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Bernardo Pinheiro de


Alvarenga
CO-ORIENTADORES: Prof. Dr. Sérgio Pires Pimentel
Prof. Dr. Enes Gonçalves Marra

Goiânia
2016
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do
Programa de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UFG.

Mendonça de Paiva, Gabriel


Dimensionamento de um sistema fotovoltaico conectado à rede a partir
das características de inclinação e orientação dos módulos fotovoltaicos
[manuscrito] / Gabriel Mendonça de Paiva. - 2016.
cv, 105 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Bernardo Pinheiro de Alvarenga; co


orientador Dr. Sérgio Pires Pimentel; co-orientador Dr. Enes Gonçalves
Marra.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Goiás, Escola de
Engenharia Elétrica (EEEC), Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Elétrica e de Computação, Goiânia, 2016.
Bibliografia.
Inclui siglas, abreviaturas, símbolos, tabelas, lista de figuras, lista de
tabelas.

1. sistemas fotovoltaicos conectados à rede. 2. fator de


dimensionamento do inversor. 3. inclinação. 4. ângulo azimutal. I.
Pinheiro de Alvarenga, Bernardo, orient. II. Título.

CDU 621.3
GABRIEL MENDONÇA DE PAIVA

DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO


CONECTADO À REDE A PARTIR DAS CARACTERÍSTICAS
DE INCLINAÇÃO E ORIENTAÇÃO DOS MÓDULOS
FOTOVOLTAICOS

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção


do título de Mestre em Engenharia Elétrica e aprovada
em sua forma final pelo Orientador e pela Banca
Examinadora.

Orientador: ____________________________________
Prof. Dr. Bernardo Pinheiro de Alvarenga, UFG

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Wilson Negrão Macêdo, UFPA – Examinador Externo

Prof. Dr. Carlos Augusto Guimarães Medeiros, PUC-GO – Examinador Externo


(Suplente)

Prof. Dr. Enes Gonçalves Marra, UFG – Examinador Interno

Prof. Dr. Sérgio Pires Pimentel, UFG – Examinador Interno

Coordenador do PPGEE: _______________________________

Prof. Dr. Gelson da Cruz Júnior

Goiânia, 3 de Junho de 2016.


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Euler e Enilza, que incentivam cada etapa do meu
crescimento pessoal e profissional, independente dos sacrifícios a serem superados. A família
é a base para a luta diária perante os obstáculos da vida e a evolução do ser humano.
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, irmãos e amigos que estiveram presentes nos momentos bons e ruins
da caminhada até aqui.
À Universidade Federal de Goiás e à Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de
Computação que disponibilizaram a oportunidade de desenvolver este estudo com todo
suporte necessário e as exigências de uma instituição de ensino de excelência.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
suporte financeiro a este estudo.
Ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), por meio da Seção de
Armazenamento de Dados Meteorológicos (SADMET), pelo provimento de dados
meteorológicos para a pesquisa.
Ao meu orientador, Bernardo Pinheiro de Alvarenga e co-orientadores Sérgio Pires
Pimentel e Enes Gonçalves Marra, pela confiança depositada e pelos conhecimentos
partilhados durante os dois anos de desenvolvimento desta pesquisa.
Aos companheiros do PEQ, Andersom Gomes, Alexandre Souza, Daniel Accattini e
Luciano pela amizade, pelos trabalhos e seminários desenvolvidos em parceria durante o
Mestrado.
“Agradeço todas dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As
facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito.”
Chico Xavier
SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................. X
ABSTRACT ....................................................................................................................... XI
LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... XII
LISTA DE TABELAS ...................................................................................................... XV
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ......................................................................XVI
LISTA DE SÍMBOLOS................................................................................................XVIII
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 20
1.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 22
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 23
1.3 PUBLICAÇÕES RELACIONADAS .......................................................................... 23
2 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE RADIAÇÃO SOLAR ........................................... 24
2.1 ENERGIA SOLAR. .................................................................................................... 24
2.2 COMPONENTES DA IRRADIÂNCIA SOLAR ........................................................ 26
2.3 GEOMETRIA SOLAR. .............................................................................................. 29
2.4 TEMPO SOLAR E EQUAÇÃO DO TEMPO. ............................................................ 31
2.5 IRRADIAÇÃO EXTRATERRESTRE NO PLANO HORIZONTAL .......................... 32
2.6 IRRADIAÇÃO TOTAL NO PLANO INCLINADO ................................................... 34
2.7 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 36
3 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE..................................... 37
3.1 GERADOR FOTOVOLTAICO .................................................................................. 38
3.2 INVERSOR SOLAR .................................................................................................. 47
3.3 FATOR DE DIMENSIONAMENTO DO INVERSOR ............................................... 52
3.4 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 56
4 ANÁLISE DO FATOR DE DIMENSIONAMENTO DO INVERSOR COM
DADOS CLIMÁTICOS EM GOIÂNIA ..................................................................... 58
4.1 ANÁLISE DOS DADOS CLIMÁTICOS ................................................................... 59
4.2 DETERMINAÇÃO DA IRRADIAÇÃO TOTAL NO PLANO INCLINADO ............. 63
4.3 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS DE SAÍDA DO
GERADOR ................................................................................................................. 66
4.4 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS DE SAÍDA DO
INVERSOR ................................................................................................................ 69
4.5 FATOR DE DIMENSIONAMENTO DO INVERSOR PELO MÉTODO DE
LIMITE DE PERDAS POR LIMITAÇÃO DE POTÊNCIA ....................................... 71
4.6 FIGURAS DE MÉRITO NO CONTEXTO DE ANÁLISE DO FDI............................ 74
4.7 ANÁLISE FINANCEIRA NO CONTEXTO DA ANÁLISE DO FDI ......................... 79
4.8 COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISE DO FDI ......................................... 87
4.9 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 88
5 ESTUDO DE CASO: SFCR DA EMC-UFG............................................................... 89
5.1 CONSIDERAÇÕES DE DIMENSIONAMENTO ELÉTRICO DE UM SFCR REAL 90
5.2 CONSIDERAÇÕES DE PROTEÇÃO EM SFCR ....................................................... 94
5.3 CONSIDERAÇÕES DE QUALIDADE DA ENERGIA ............................................. 95
6 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 98
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 100
RESUMO

DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO CONECTADO À REDE A


PARTIR DAS CARACTERÍSTICAS DE INCLINAÇÃO E ORIENTAÇÃO DOS
MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Este estudo tem como objetivo avaliar o dimensionamento de um sistema fotovoltaico


conectado à rede (SFCR) de acordo com o posicionamento dos módulos que compõem o
gerador quanto ao ângulo de inclinação e ao ângulo azimutal em Goiânia, Goiás. Para isso foi
realizada uma revisão da literatura quanto às principais metodologias de análise do fator de
dimensionamento do inversor (FDI) aplicado a SFCRs. A partir de uma base de dados em
intervalos horários de medições climáticas de Goiânia desenvolveu-se um algoritmo para
busca do FDI ideal para a localidade, considerando o uso de módulos de silício policristalino
(p-Si). Os parâmetros utilizados na análise foram os parâmetros fornecidos pelos fabricantes
dos componentes utilizados no SFCR em instalação da Escola de Engenharia Elétrica,
Mecânica e de Computação (EMC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), cuja potência
nominal é de 33,84 kWp. Os métodos de análise do FDI foram comparados e foi considerado
mais adequado neste estudo o método das perdas máximas anuais por limitação de potência
no inversor. A faixa de FDI obtida para uma variação de -90° a +90° no ângulo azimutal e de
0° a 90° no ângulo de inclinação foi da ordem de 0,54 a 0,77. O potencial de aprimoramento
de indicadores financeiros por meio do FDI foi verificado e foi estimada uma potencial
redução acima de 10% do custo da energia produzida comparando o aperfeiçoamento do FDI
com um FDI unitário.

Palavras-chave: sistemas fotovoltaicos conectados à rede, fator de dimensionamento do


inversor, inclinação, ângulo azimutal.
ABSTRACT

DESIGN OF A GRID-CONNECTED PHOTOVOLTAIC SYSTEM FROM THE FEATURES


OF GENERATOR TILT ANGLE AND ORIENTATION

This study aimed to evaluate the design of a grid-connected photovoltaic (PV) system
according to the positioning of the modules which compose the generator depending on tilt
and azimuth angles in Goiânia, Goiás. In that purpose, a review of the literature was carried
out concerning the main methods of inverter sizing ratio analysis applied to grid-connected
PV systems. Starting from an hourly average climate measurement database from Goiania, an
algorithm was developed to search for the ideal local inverter sizing ratio, considering the
use of polycrystalline module technology. The parameters used in the analysis were provided
by the manufacturers of the componentes used in the grid-connected PV system in installation
at the Electrical, Mechanical and Computational Engineering School (EMC) from Federal
University of Goias (UFG), which nominal power is 33.84 kWp. An inverter sizing ratio band
of 0.54 to 0.77 was obtained for a -90° to +90° azimuth angle variation and 0° to 90° tilt
angle variation. The potential of financial indicators improvement was verified and it was
estimated a potential reduction in the levelized cost of energy above 10% comparing the
inverter sizing ratio improved system to an unitary inverter sizing ratio system.

Key words: grid-connected photovoltaic systems, inverter sizing ratio, tilt angle, azimuth.
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Distribuição espectral da irradiância extraterrestre ...............................................25


Figura 2.2 Distribuição espectral da irradiância sob efeito da massa de ar .............................26
Figura 2.3 Variação da irradiância extraterrestre ao longo do ano. ........................................27
Figura 2.4 Ângulos característicos da radiação solar e das superfícies dos módulos. .............29

Figura 2.5 Nascer do sol (azul), pôr-do-sol (vermelho) e duração da radiação solar (verde)
em Goiânia no tempo padrão de Brasília (GMT -3) ao longo do ano. ..............32
Figura 2.6 Irradiação Extraterrestre no plano horizontal em Wh/m² nos solstícios de verão
e inverno em Goiânia. .....................................................................................33

Figura 2.7 Irradiação Extraterrestre no plano horizontal em Wh/m² nos solstícios de verão
e inverno em Nova York. ................................................................................34
Figura 3.1 Módulo de silício monocristalino Yingli série PANDA 60. ..................................39
Figura 3.2 Gráfico de evolução da eficiência de células solares em escala laboratorial.. ........40

Figura 3.3 Curvas Corrente x Tensão e Potência x Tensão de uma célula fotovoltaica de
silício 156x156mm. ........................................................................................42
Figura 3.4 Curvas características V-I de associações série e paralelo de células. ...................42
Figura 3.5 Curvas I-V e P-V com influência da Irradiância. ..................................................45
Figura 3.6 Curva I-V com influência da Temperatura na célula.............................................46

Figura 3.7 Classificação de inversores solares para SFCR quanto à configuração do


sistema............................................................................................................47

Figura 3.8 Classificação de inversores solares para SFCR quanto ao número de estágios de
processamento de potência. .............................................................................49

Figura 3.9 Curva de eficiência total pela relação Potência de entrada CC / Potência
nominal CC de um inversor solar. ...................................................................51

Figura 3.10 Curvas de eficiência total de inversores pela potência nominal CC para
diferentes níveis de tensão Vmp. ......................................................................52
Figura 3.11 Relação ótima entre potência nominal CC do gerador e potência nominal CA
calculada para 0,5% de perdas por limitação de potência para Florianópolis. ..54

Figura 3.12 Otimização do FDI do ponto de vista da produtividade do sistema e do custo


da energia produzida. ......................................................................................55

Figura 3.13 Comportamento elétrico e térmico de um inversor de conexão à rede para


diferentes FDIs. ..............................................................................................56
Figura 4.1 Fluxograma de análise do FDI com uso da base de dados locais. ..........................59

Figura 4.2 Comparação mensal da Irradiação solar média diária por diferentes bases de
dados. .............................................................................................................60

Figura 4.3 Comparação mensal da Irradiação solar média diária mínima, média e máxima
do INMET. .....................................................................................................60
Figura 4.4 Curvas de percentual de disponibilidade da Irradiação para cada faixa de
Irradiância determinadas por medições (primeira) e distribuição sintética
(segunda) no Brasil. ........................................................................................61

Figura 4.5 Curvas de percentual de disponibilidade da Irradiação para cada faixa de


Irradiância para base de dados do INMET (primeira) e distribuição sintética
da base de dados da NASA (segunda) para Goiânia. .......................................62
Figura 4.6 Irradiação global horizontal, direta e difusa para o dia 21 de Dezembro de 2002. .63

Figura 4.7 Irradiação total no plano inclinado de 20° para diferentes orientações, para um
dia de verão com céu limpo. ...........................................................................65
Figura 4.8 Curvas Tensão, Corrente e Potência do módulo 235Wp ao longo de um dia de
verão. .............................................................................................................68
Figura 4.9 Curva de eficiência dos inversores da linha Eltek THEIA 2.0 a 4.4HE-t UL.........70
Figura 4.10 Curvas de FDI em função do ângulo azimutal de superfície para diferentes
ângulos de inclinação do gerador para o inversor solar Eltek THEIA 4.4
HE-t UL. ........................................................................................................71

Figura 4.11 Curvas de PFV/PINV em função do ângulo azimutal de superfície para diferentes
ângulos de inclinação do gerador para o inversor solar Eltek THEIA 4.4
HE-t UL. ........................................................................................................72

Figura 4.12 Pico de perda de geração por limitação de potência para o posicionamento de
20° de inclinação e 0° ângulo azimutal. ...........................................................73
Figura 4.13 Geração média anual para o inversor 4.4 quando a) FDI unitário e b) FDI ideal
e produtividade YF do sistema quando c) FDI unitário e d) FDI ideal. .............75
Figura 4.14 Perdas no inversor por conversão CC-CA e limitação de potência. .....................76

Figura 4.15 Fator de Capacidade do SFCR simulado na condição de FDI ideal em a)


relacionado à potência CC do gerador e b) relacionado à potência CA do
inversor. .........................................................................................................78
Figura 4.16 Curva de garantia de eficiência do módulo Yingli PANDA 60 células Série 2. ...80
Figura 4.17 Fluxo de Caixa do SFCR de 4,5 kWp simulado na condição de FDI unitário......81
Figura 4.18 VPL e TIR do SFCR na condição de FDI ideal. .................................................83
Figura 4.19 VPL e TIR do SFCR na condição de FDI ideal. .................................................84

Figura 4.20 Custo da energia produzida em US$/kWh nas condições de FDI unitário e FDI
ideal................................................................................................................85
Figura 4.21 Custo da energia produzida em R$/MWh na condição de FDI ideal. ..................86
Figura 4.22 Custo da energia produzida em US$/kWh em função do FDI. ............................87
Figura 5.1 Vista aérea do Bloco B da Escola de Engenharia da UFG. ...................................89
Figura 5.2 Vista da secção transversal da cobertura do bloco B da Escola de Engenharia. .....90
Figura 5.3 Diagrama multifilar do subsistema Eltek THEIA 2.9 HE-t UL.. ...........................92
Figura 5.4 Diagrama multifilar do subsistema Eltek THEIA 4.4 HE-t UL. ............................93
LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 Parâmetros elétricos do módulo Yingli série PANDA 60. ....................................43
Tabela 3.2 Parâmetros técnicos de uma linha de inversores centrais ......................................50
Tabela 4.1 Irradiações global, direta e difusa anuais no plano horizontal e picos de
irradiação global horizontal horária de Goiânia para diferentes períodos. ........64
Tabela 4.2 Fatores de transposição da irradiação global horizontal em planos com
diferentes inclinações e ângulos azimutais. .....................................................66
Tabela 4.3 Dados de placa do módulo fotovoltaico e do inversor solar utilizados nas
simulações. .....................................................................................................66
Tabela 4.4 Perdas percentuais por limitação de potência em diferentes períodos para 20°
inclinação dos módulos e 0° ângulo azimutal. .................................................72
Tabela 4.5 Empreendimentos vencedores no 1° LER 2015: Características técnicas
básicas. ...........................................................................................................78
Tabela 4.6 Custos de componentes e serviços de SFCR para microgeração distribuída. ........79
Tabela 4.7 Custo Marginal da Expansão para diferentes fontes de energia em 2014. .............86
Tabela 5.1 Resultados da otimização do dimensionamento gerador-inversor do SFCR da
UFG. ..............................................................................................................92
Tabela 5.2 Requisitos mínimos do ponto de conexão da micro e minigeração distribuída. .....94
Tabela 5.3 Faixa de tensão de operação CA em regime permanente admissível de um
SFCR. .............................................................................................................96
Tabela 5.4 Limites de distorção harmônica de corrente aplicáveis a SFCR............................96
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a-Si Silício Amorfo


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABSOLAR Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica
ACR Ambiente de Contratação Regulada
AM Air Mass
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
c-Si Silício Cristalino
CA corrente alternada
CC corrente contínua
CdTe Telureto de Cádmio
CELG-D Companhia Energética de Goiás - Distribuidora
CIGS Disseleneto de Cobre Índio e Gálio
CIS Disseleneto de Cobre e Ìndio
CRESESB Centro de Referência para as Energias Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito
DPS Dispositivo de Proteção Contra Surtos
EE Energia Específica
EMC Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação
EPE Empresa de Pesquisa Energética
EPIA European Photovoltaic Industry Association
FC Fator de Capacidade
FDI Fator de Dimensionamento do Inversor
FF Fill Factor
fp Fator de potência
FT Fator de Transposição
FV Fotovoltaica(o)
GD Geração Distribuída
GMT Greenwich Mean Time
HFT High Frequency Transformer
Ibecon Instituto Brasileiro de Economia e Finanças
IGP-M Índice Geral de Preços do Mercado
II Investimento Inicial
INMET Instituto Nacional de Meteorologia
IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
LER Leilão de Energia de Reserva
LFT Low Frequency Transformer
m-Si Silício Monocristalino
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
NASA National Aeronautics and Space Administration
NBR Norma Brasileira
NOCT Nominal Operating Cell Conditions
OM Operação e Manutenção
ONS Operador Nacional do Sistema
p-Si Silício Policristalino
PR Performance Ratio
PRODIST Procedimentos de Distribuição
PV Photovoltaic
SFCR Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede
SFI Sistema Fotovoltaico Isolado
SFV Sistema Fotovoltaico
SPDA Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas
SPPM Seguimento do Ponto de Potência Máxima
STC Standard Test Conditions
SWERA Solar and Wind Energy Resource Assessment
TD Taxa de Desempenho
TIR Taxa Interna de Retorno
TMA Taxa de Mínima Atratividade
UC Unidade Consumidora
UFV Usina Fotovoltaica
VPL Valor Presente Líquido
LISTA DE SÍMBOLOS

A Ampére
cm² centímetro quadrado
eV elétron-Volt
GW Gigawatt
Hz Hertz
Imp corrente de Máxima Potência
ISC corrente de Curto-Circuito
J Joule
J.s Joule segundo
J/m² Joule por metro quadrado
kW kilowatt
kWh kilowatt-hora
kWh/m² kilowatt-hora por metro quadrado
kWp kilowatt pico
m/s metro por segundo
mm² milímetro quadrado
MW Megawatt
PMP Potência de Máxima Potência
R$ Real
US$ Dólar Americano
V Volt
VCC Volt em corrente contínua
Vmp tensão de Máxima Potência
VOC tensão de Circuito Aberto
W Watt
W/m² Watt por metro quadrado
Wh/m² Watt-hora por metro quadrado
Wh Watt-hora
Wp Watt pico
β Ângulo de Inclinação
μm micrometro
ηSPPM eficiência do SPPM
Ωm Ohm metro
γs Ângulo azimutal de superfície
°C grau Celsius
20

1 INTRODUÇÃO

A adoção de sistemas fotovoltaicos (SFV) é uma forma de aproveitar um dos recursos


renováveis disponíveis para a geração de energia elétrica. Em função disso e da diminuição
dos custos associados à sua utilização, verificou-se um aumento da sua capacidade instalada
ao longo das duas últimas décadas. De acordo com um relatório da Associação Européia da
Indústria Fotovoltaica, do ano 2000 ao ano de 2013, houve um crescimento exponencial na
potência instalada global de SFV, impulsionado principalmente pela Europa, indo de 1 GW a
139 GW no mesmo período. Tal crescimento da potência instalada global tende a permanecer
no futuro, chegando em torno de 321GW a 430 GW em 2018 (EPIA, 2014).
Dentre os SFV, os sistemas conectados à rede (SFCR) correspondem à aplicação de
maior destaque em termos de potência instalada atualmente no Brasil e no mundo frente aos
sistemas fotovoltaicos isolados (SFI), cuja utilização ainda se limita a áreas não atendidas pela
rede elétrica, pois seu custo de implantação e manutenção é consideravelmente superior ao
custo dos SFCR (VILLALVA e GAZOLI, 2015). Na Europa os SFI correspondem a algo em
torno de 1% da potência instalada de SFV. Nos EUA eles eram aproximadamente 10% da
potência instalada em 2009 e tem reduzido desde então com o crescimento dos SFCR (EPIA,
2014).
Dentre as vantagens da conexão de sistemas fotovoltaicos à rede, destacam-se a
possibilidade de redução do percentual de contribuição das fontes primárias (hidráulica ou
térmica), possibilidade de adiamento de construção de novas usinas e linhas de transmissão,
redução da demanda de pico atual dos grandes centros de consumo (por volta das 15 horas), a
segurança do fornecimento de energia, o aumento do nível de tensão e redução de perdas nos
sistemas de distribuição e transmissão (ZILLES et al., 2012; ALBUQUERQUE et al., 2012;
DIAS, 2006; RODRIGUEZ, 2002).
A Alemanha registrou em 2014 uma participação de 6,85% da produção de energia
elétrica no país proveniente da geração fotovoltaica, além de 9% por geração eólica. Por meio
desta medida, o país reduziu a geração de base de 10% da geração nuclear e 30% da geração
por carvão com a inclusão de fontes renováveis no sistema de distribuição (BURGER, 2014).
Seguindo uma tendência global de inserção da energia solar e outras fontes
renováveis nos sistemas de energia elétrica tradicionalmente radiais, a Resolução Normativa
482 da ANEEL, instituída no Brasil desde 2012, veio como um marco regulatório que
possibilitou a entrada dos SFCR e outras formas de Geração Distribuída (GD) no sistema
21

elétrico brasileiro. Desde então, qualquer consumidor em território nacional, atendido em


baixa ou média tensão, pode reduzir sua fatura de energia elétrica por meio do sistema de
compensação de energia (net metering), no qual o consumo mensal em kWh da Unidade
Consumidora (UC) é compensado pela geração de energia na própria UC ou em outra UC do
mesmo consumidor, situada na mesma área de concessão (ANEEL, 2012).
O sistema de compensação de energia consiste na instalação de um micro ou
minigerador na própria UC. Esses sistemas de geração apresentam um investimento inicial
para instalação, além de custos de manutenção. Tais investimentos serão retornados por meio
da redução da fatura de energia. Desta forma, o principal atrativo dos SFCR para os
consumidores e investidores são indicadores financeiros atrativos do ponto de vista de
investimento. Quanto mais atrativo financeiramente, mais viável se torna a implantação de
SFCR na prática.
Apesar de considerar particularidades como aspectos estruturais e estéticos de cada
projeto, o dimensionamento de um SFCR sempre está relacionado ao melhor custo-benefício
do ponto de vista de investimento e é dividido em duas etapas: dimensionamento do gerador
fotovoltaico (conjunto de módulos) e do inversor solar. Historicamente o
subdimensionamento do inversor foi identificado como uma possibilidade de redução de
custo de um SFCR, por meio da conexão do gerador a um inversor solar de menor potência,
sem significar em perdas significativas para o sistema (ZILLES et al., 2012).
Essa possibilidade se justifica tecnicamente pelo fato de que um SFV opera apenas
ocasionalmente em condições de pico. Isso porque a geração de energia por esses sistemas
depende principalmente da irradiância incidente no plano dos painéis e da temperatura
ambiente. Na prática, os módulos são normalmente submetidos a níveis mais elevados de
temperatura que os nominais, variável que reduz a potência de saída do gerador, e que
depende da localidade.
O Fator de Dimensionamento do Inversor (FDI), definido como a razão entre a
potência do inversor e do gerador, é uma variável de projeto que pode ser avaliada por meio
de simulação numérica, utilizando-se dados horários de irradiância e temperatura, de modo a
representar a melhor relação custo-benefício (CRESESB, 2014).
A análise do FDI é uma pauta importante de projetos de SFCR devido ao fato de que
o subdimensionamento do inversor pode reduzir o custo da energia produzida,
potencializando a viabilidade de implantação desses sistemas. Por outro lado, o
subdimensionamento excessivo submeterá o inversor a níveis prolongados de temperatura
mais elevada, podendo reduzir a vida útil do equipamento (ZILLES et al., 2012).
22

A análise do FDI é particular para cada localidade, haja vista que irradiância e
temperatura apresentam valores típicos do clima local. Além disso, os níveis de irradiância
incidente nos módulos fotovoltaicos dependem de variáveis de posicionamento dos mesmos
quando integrados às construções: inclinação em relação ao plano horizontal e orientação em
relação ao norte geográfico, ou ângulo azimutal. Dentre os desafios encontrados para análise
do FDI, destaca-se a indisponibilidade de dados climáticos em pequenos intervalos de tempo
para diferentes localidades (KHATIB, MOHAMED e SOPIAN, 2013). Isto normalmente é
solucionado com geração sintética de dados climáticos horários à partir de dados diários ou
mensais para fins de simulações.
Resultados diferentes de análise do FDI são obtidos de acordo com a qualidade dos
dados e com o intervalo das medições. Medições em médias horárias de irradiância podem
desprezar picos que resultariam em maiores perdas por limitação de potência no inversor, uma
vez que a potência de entrada do inversor seria maior que a sua potência nominal (ZILLES et
al., 2012; BURGER e RÜTHER, 2006).
Considerando os pontos destacados, pretende-se por meio desta pesquisa analisar
numericamente o FDI para a localidade de Goiânia, capital de Goiás, dentro de possíveis
variações de inclinação e orientação, considerando as tecnologias mais presentes no mercado
brasileiro de sistemas fotovoltaicos.
Aspectos de Radiação Solar que influenciam na geração dos SFCR são abordados no
Capítulo 2. Os conceitos básicos e os equipamentos que constituem a topologia padrão de um
SFCR são discutidos no Capítulo 3. Os procedimentos metodológicos e resultados obtidos são
apresentados no Capítulo 4. No Capítulo 5 é apresentado um estudo de caso com base nos
parâmetros do SFCR em instalação na Escola de Engenharia Elétrica Mecânica e de
Computação. Por fim serão apresentadas as conclusões gerais do trabalho.

1.1 OBJETIVO GERAL

Dada a contextualização deste trabalho, ele tem como objetivo geral avaliar o FDI
aplicado a SFCR em Goiânia, Goiás, dentro de possíveis variações nos ângulos de inclinação
e azimutal dos módulos que compõem o gerador fotovoltaico integrado a construções.
23

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Revisar as metodologias de análise do Fator de Dimensionamento do Inversor


presentes na literatura.
Construir um modelo para simulação e análise de SFCR com base em dados de
medições locais.
Avaliar os índices de desempenho de SFCRs no estado de Goiás considerando
variações de FDI, ângulo azimutal e inclinação do gerador fotovoltaico.
Avaliar diferentes bases de dados climáticos para o estado de Goiás.
Realizar o estudo de caso para o Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede em
instalação na EMC, UFG.

1.3 PUBLICAÇÕES RELACIONADAS

PAIVA, G. M.; PIMENTEL, S. P.; MARRA, E. G.; ALVARENGA, B. P. Photovoltaic


energy prediction analysis considering tilt and azimuthal orientation in Brazil. Proceedings of
the Solar World Congress 2015.

PAIVA, G. M.; PIMENTEL, S. P.; MARRA, E. G.; ALVARENGA, B. P. Análise de


previsão de geração fotovoltaica considerando inclinação e orientação de módulos em Goiás.
Anais do 12° Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão – CONPEEX, 2015.

PAIVA, G. M.; PIMENTEL, S. P.; MARRA, E. G.; ALVARENGA, B. P. Análise do Fator


de Dimensionamento do Inversor para sistemas fotovoltaicos conectados à Rede com uso de
medições climáticas locais em Goiás. Anais do VI Congresso Brasileiro de Energia Solar,
2016.
24

2 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE RADIAÇÃO SOLAR

Neste capítulo são abordados conceitos sobre radiação solar pertinentes à


metodologia proposta de análise do FDI. Dessa forma, são discutidos os conceitos relativos ao
espectro eletromagnético da radiação solar, componentes da irradiância na atmosfera e
geometria solar aplicada a SFCR.

2.1 ENERGIA SOLAR

A luz solar pode ser compreendida pela dualidade onda-partícula, ou seja, como onda
eletromagnética e como partícula (fóton). Desta forma, por se tratar de uma onda
eletromagnética, a energia solar está associada à freqüência e ao comprimento de onda da
radiação, por meio da equação de Planck-Einstein:

E  hf (2.1)

Sendo E a energia da onda expressa em J ou eV, f a frequência da onda expressa em


Hz e h a constante de Planck, que vale aproximadamente 6,63 . 10-34 J.s ou 4,14 . 10-14 eV
(HALLIDAY et al., 2009). A freqüência da onda se relaciona por sua vez com o comprimento
de onda (λ) em m e a velocidade da luz (c) em m/s por meio da Equação 2.

cf (2.2)

As ondas eletromagnéticas vindas do Sol compõem na verdade um espetro Solar com


diferentes comprimentos de onda. A Figura 2.1 apresenta a distribuição espectral padrão
(ASTM E-490) da irradiância extraterrestre, ou seja, antes de a radiação solar sofrer influência
da atmosfera terrestre. A irradiação solar extraterrestre é composta em termos energéticos de
aproximadamente 53% de radiação invisível, com uma pequena parcela de luz infravermelha
(valores de λ maiores que 0,69 μm) e uma grande parcela de luz ultravioleta (valores de λ
menores que 0,39 μm). Os outros 47% correspondem à radiação visível, cujos valores de λ
estão entre 0,39 e 0,69 μm (VILLALVA e GAZOLI, 2015).
25

Figura 2.1 Distribuição espectral da irradiância extraterrestre.


Fonte: Solar Engineering of Thermal Processes (DUFFIE e BECKMAN, 2013).

A irradiância solar e sua distribuição espectral sofrem uma atenuação em diferentes


níveis, de acordo com o comprimento de onda da radiação, à medida que os raios solares
atravessam a atmosfera nos diferentes pontos do globo terrestre.
A massa de ar (AM) é a grandeza que representa a espessura da camada de ar
atravessada pelos raios solares na atmosfera e sua conseqüente atenuação. A massa de ar pode
ser calculada pela Equação 2.3, sendo θz o ângulo zenital dos raios solares, que será discutido
em maior detalhamento na seção 2.3.

1
AM  (2.3)
cos z

A Figura 2.2 mostra um exemplo de distribuição espectral da irradiância sobre efeito


da massa de ar quando AM = 0 e 1.5. Sendo que AM = 0 corresponde ao espectro da
irradiância extraterrestre. Quanto maior a camada da atmosfera que a radiação atravessa,
maior a redução da irradiância solar. Em cada região do planeta a radiação solar sofre efeitos
diferentes ao cruzar a atmosfera. A distribuição espectral AM1,5 corresponde ao
comportamento médio da radiação solar ao longo de um ano em países temperados do
hemisfério norte, localizados entre o trópico de Câncer e o círculo Ártico. A massa de ar
AM1,5 tornarou-se padrão para o estudo e a análise dos sistemas fotovoltaicos, pois a
26

tecnologia fotovoltaica surgiu e desenvolveu-se em países do hemisfério norte, principalmente


na Europa e Estados Unidos (VILLALVA e GAZOLI, 2015).

Figura 2.2 Distribuição espectral da irradiância sob efeito da massa de ar.


Fonte: Solar Energy: Fundamentals, Technology, and Systems (JÄGER et al., 2014)

2.2 COMPONENTES DA IRRADIÂNCIA SOLAR

Conforme terminologia proposta na NBR 10899, a Irradiância Solar (G), é definida


como a taxa na qual a radiação solar incide em uma superfície, por unidade de área desta
superfície, normalmente medida em W/m². A Irradiação Solar (I ou H) é definida como a
irradiância solar integrada durante um intervalo de tempo especificado, normalmente 1 h ou 1
dia, medida em Wh/m² ou J/m². A irradiação solar é representada por I quando é integrada em
1 h ou por H quando é integrada no tempo de 1 dia (NBR 10899, 2013).

2.2.1 Irradiância Extraterrestre (Gon)

A Irradiância Extraterrestre corresponde à potência da radiação solar antes de atingir


a atmosfera e ela sofre dois tipos de variações: variação na radiação emitida pelo Sol e
variação pela distância Sol-Terra ao longo do ano. Para cálculos de engenharia, a energia
emitida pelo Sol pode ser considerada constante, já a variação anual decorrida da distância
Sol-Terra considerada é de aproximadamente ±3,3%. A Equação 2.4 estabelece o
comportamento da Irradiância Extraterrestre ao longo do ano (DUFFIE e BECKMAN, 2013).
27

360𝑛
𝐺𝑜𝑛 = 𝐺𝑆𝐶 ∙ 1 + 0,033 ∙ cos (2.4)
365

Sendo GSC a constante solar, que equivale a 1367 W/m², e n o dia do ano contado à
partir do dia 1 de Janeiro. A Figura 2.3 ilustra o comportamento da irradiância extraterrestre
ao longo do ano. A variação da irradiância extraterrestre ao longo do ano independe do
hemisfério em análise e ocorre apenas em função da trajetória elíptica em torno do Sol.

Figura 2.3 Variação da irradiância extraterrestre ao longo do ano.


Fonte: Solar Engineering of Thermal Processes (DUFFIE e BECKMAN, 2013).

Por meio da integração da Irradiância Extraterrestre, pode-se obter a Irradiação


Extraterrestre no período de uma hora (I 0) ou um dia (H0).

2.2.2 Irradiância na Superfície Terrestre

Até atingir as diferentes superfícies na Terra, a Irradiância Solar é influenciada por


diferentes fenômenos como atenuação da atmosfera, reflexão por partículas da atmosfera e
reflexão por superfícies adjacentes. Desta forma a Irradiância Solar incidente em uma
superfície é normalmente decomposta em três componentes distintas, definidas como (ABNT,
2013):

 Irradiância direta (GDIR): é a irradiância solar incidente em uma superfície, proveniente


diretamente do disco solar e da região circunsolar, podendo ser normal ou horizontal.
28

 Irradiância difusa (GDIF): potência radiante do céu, recebida em uma unidade de área
em uma superfície horizontal, excluída a irradiância direta.
 Albedo (GALB): índice relativo à fração da irradiância solar, recebida em uma unidade
de área, devido à refletância dos arredores e do solo onde está instalado um
dispositivo. Varia de acordo com a refletância de cada superfície específica.

Outras duas formas comuns da Irradiância Solar habitualmente adotadas em cálculos


de Engenharia de SFV são:

 Irradiância Global (GHOR): potência radiante solar, recebida em uma unidade de área
em uma superfície horizontal, sendo igual à soma da irradiância direta no plano
horizontal com a irradiância difusa no plano horizontal.
 Irradiância Total (GTOT): potência radiante solar total com as componentes direta,
difusa e de albedo, recebida em uma unidade de área em uma superfície com
inclinação qualquer.

Além dos diferentes tipos de irradiância, é comum também o uso do Índice de


Limpeza (kT), em inglês clearness index. O índice de limpeza relaciona a irradiação global no
plano horizontal com a irradiação extraterrestre no plano horizontal, podendo representar um
valor em diferentes intervalos de tempo (normalmente horário ou diário). A Equação 2.5
representa o índice de limpeza em intervalo de tempo horário e a Equação 2.6 representa o
índice de limpeza em intervalo de tempo diário.

𝐼
𝑘𝑇 = (2.5)
𝐼0

𝐻
𝐾𝑇 = (2.6)
𝐻0

É bom ressaltar que valores de KT próximos de 1 representam dias de céu limpo e


valores de KT próximos de 0 representam dias de céu nublado. O mesmo raciocínio é
aplicável em intervalos horários.
29

2.3 GEOMETRIA SOLAR

Importantes relações angulares são necessárias para que sejam caracterizados os níveis
de irradiação a que os módulos fotovoltaicos estão submetidos quando fixados em
determinada superfície na Terra. A Figura 2.4 ilustra alguns dos ângulos utilizados no estudo
da geometria solar, os quais são definidos abaixo (DUFFIE e BECKMAN, 2013):

 Ângulo azimutal da superfície (γs): é o desvio da projeção da normal à superfície em


relação ao meridiano local, sendo zero ao Sul, ângulos negativos à Leste e positivos à
Oeste. Desta forma γ varia de -180° a +180°.
 Inclinação (β): é o ângulo entre o plano do módulo e a superfície terrestre. A
inclinação varia de 0° a 90°, sendo a inclinação nula correspondente ao painel paralelo
à superfície terrestre.
 Latitude (φ): localização angular a Norte ou Sul do Equador, sendo positivo a Norte e
negativo a Sul. A latitude varia de -90° a +90°.

Figura 2.4 Ângulos característicos da radiação solar e das superfícies dos módulos.
Fonte: Solar Engineering of Thermal Processes (DUFFIE e BECKMAN, 2013).

 Ângulo horário (ω): é o deslocamento do Sol a leste ou oeste do meridiano local


devido à rotação da Terra em seu próprio eixo a 15° por hora, sendo negativo no
30

período da manhã e positivo à tarde. Desta forma ω varia de -90° a +90°. O ângulo
horário é calculado pelo Tempo Solar, que é discutido em detalhes na seção 2.4.
 Ângulo de incidência (θ): é o ângulo entre a radiação direta do Sol em uma superfície
e a normal à superfície. Os valores de θ são negativos quando os raios solares não
incidem na parte frontal do módulo. A Equação 2.7 estabelece a relação entre o ângulo
de incidência e os demais ângulos característicos.

cos 𝜃 = sin 𝛿 sin 𝜙 cos 𝛽 − sin 𝛿 cos 𝜙 sin 𝛽 cos 𝛾 + cos 𝛿 cos 𝜙 cos 𝛽 cos 𝜔
+ cos 𝛿 sin 𝜙 sin 𝛽 cos 𝛾 cos 𝜔 + cos 𝛿 sin 𝛽 sin 𝛾 sin 𝜔 (2.7)

 Ângulo zenital (θz): é o ângulo entre a vertical e a radiação direta do Sol. O zênite
equivale ao ângulo de incidência da radiação direta em uma superfície horizontal,
paralela ao solo. O zênite varia de 0° a 90°. Para calcular o zênite, basta a substituição
de β por 0 na Equação 2.7, gerando a equação abaixo.

cos 𝜃𝑧 = cos 𝜃 cos 𝛿 cos 𝜔 + sin 𝜃 sin 𝛿 (2.8)

 Altura solar (αs): é o ângulo entre a horizontal e a radiação direta do Sol, ângulo
complementar ao zênite. A altura solar varia de 0° a 90°.
 Declinação solar (δ): ângulo de vértice no centro da Terra, formado pelas semirretas
definidas pela direção do Sol e pelo plano do Equador, com faixa de variação -23,45°
a +23,45° e, por convenção, positivo quando estiver no hemisfério Norte. A
declinação solar δ pode ser encontrada pela equação de Cooper (1969), expressa por
meio da Equação 2.9, sendo n o dia do ano à partir de 1 de Janeiro.

284 +n
δ = 23,45. 360. (2.9)
365

 Ângulo horário de pôr-do-Sol (ωs): simétrico ao ângulo horário de nascer do Sol trata-
se do ângulo equivalente ao pôr-do-Sol no Tempo Solar.

cos ω𝑠 = − tan ϕ tan 𝛿 (2.10)


31

2.4 TEMPO SOLAR E EQUAÇÃO DO TEMPO

O Tempo Solar é o tempo usado nas relações de ângulos solares e é necessária uma
conversão entre o tempo padrão dos relógios convencionais e o Tempo Solar, dada pela
Equação 2.11. A conversão considera duas correções no tempo padrão: uma correção
constante que relaciona a longitude local ao meridiano local, considerando que o Sol demora
4 minutos para percorrer 1° de longitude; e uma correção variável definida pela Equação do
Tempo (Equação 2.12), que considera perturbações na velocidade de rotação da Terra, que
por sua vez influenciam o tempo pelo qual o Sol atravessa o meridiano do observador. O valor
de E é obtido em minutos e se trata da Equação do Tempo. O parâmetro B provê a maior
acurácia na estimativa da irradiância, de acordo com a literatura (DUFFIE e BECKMAN,
2013).

𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑆𝑜𝑙𝑎𝑟 − 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑃𝑎𝑑𝑟ã𝑜 = 4. 𝐿𝑝𝑎𝑑𝑟 ã𝑜 − 𝐿𝑙𝑜𝑐𝑎𝑙 + 𝐸 (2.11)

𝐸 = 229,2 . (0,000075 + 0,001868 cos 𝐵 − 0,032077 sin 𝐵


− 0,014615 cos 2𝐵 − 0,04089 sin 2𝐵) (2.12)

360
𝐵 = 𝑛 − 1 . 365 (2.13)

Por meio deste equacionamento e com o uso da Equação 2.10 é possível, por exemplo,
calcular o horário de nascer e pôr-do-sol em Goiânia ao longo do ano, que se tratam do
horário em que a irradiação solar começa a aumentar e se extingue, respectivamente. A Figura
2.5 ilustra o comportamento do nascer do Sol (linha azul) e do pôr-do-sol (linha vermelha) ao
longo do ano no fuso horário local (GMT -3) e desconsiderando o período de vigência do
horário de verão. A linha verde ilustra o tempo de duração do Sol ao longo do ano, cujo pico
de 13 horas ocorre do dia 18 ao dia 24 de dezembro e o vale de 11 horas ocorre do dia 19 ao
dia 25 de junho. Tais períodos coincidem com os solstícios de verão e de inverno,
respectivamente, no hemisfério Sul.
32

Figura 2.5 Nascer do sol (azul), pôr-do-sol (vermelho) e duração da radiação solar (verde) em
Goiânia no tempo padrão de Brasília (GMT -3) ao longo do ano.
Fonte: Elaboração própria.

2.5 IRRADIAÇÃO EXTRATERRESTRE NO PLANO HORIZONTAL

Os modelos de cálculo de radiação solar para projetos de geração fotovoltaica


normalmente trabalham com a irradiação no plano horizontal, de forma a compará-la com a
máxima irradiação possível de ser obtida naquela localidade desconsiderando o efeito da
massa de ar, ou seja, a irradiação extraterrestre no plano horizontal.
A Irradiância extraterrestre no plano horizontal é obtida pela Equação 2.14.

360𝑛
𝐺0 = 𝐺𝑠𝑐 1 + 0,033 cos cos 𝜃𝑧 (2.14)
365

Integrando a Irradiância em intervalos de tempo horários ou diários, obtém-se a


Irradiação extraterrestre no plano horizontal horária I 0 (Equação 2.15) ou diária H0. Os valores
de ω1 e ω2 na Equação 2.15 podem representar intervalos diferentes de uma hora, sendo ω 2 o
ângulo horário maior.
33

12 . 3600 360 𝑛
𝐼0 = 𝐺𝑠𝑐 1 + 0,033 cos . cos 𝜃 cos 𝛿 sin 𝜔2 − sin 𝜔1 +
𝜋 365

𝜋(𝜔2−𝜔1)180sin𝜃sin𝛿
(2.15)

A Figura 2.6 ilustra a Irradiação extraterrestre I 0 nos dias 22 de Dezembro e 21 de


Junho em Goiânia, que são os solstícios de verão e inverno, respectivamente. O solstício de
verão se trata do dia mais longo do ano e o solstício de inverno o dia mais curto. É possível
observar a diferença dos níveis de irradiação entre verão e inverno. Ao longo do ano, os
valores de Irradiação são valores intermediários aos apresentados na figura.

Figura 2.6 Irradiação Extraterrestre no plano horizontal em Wh/m² nos solstícios de verão e
inverno em Goiânia.
Fonte: Elaboração própria.

A Figura 2.7 ilustra a Irradiação extraterrestre I 0 nos dias 22 de Dezembro e 21 de


Junho em Nova Iorque, uma cidade localizada no hemisfério Norte, cuja latitude é 40,7°
Norte e longitude 74° Oeste. É possível notar que no hemisfério Norte há uma maior redução
da Irradiação incidente do verão para o inverno, devido à inclinação do globo terrestre em
relação ao Sol. É possível notar também que o pico de Irradiação no verão em Nova Iorque
chega à ordem de 1250 Wh/m², enquanto que em Goiânia chega ao pico da ordem de 1400
Wh/m². Já no inverno, o pico de irradiação extraterrestre em Nova Iorque chega a 600 Wh/m²
enquanto que em Goiânia chega a 1000 Wh/m².
34

Figura 2.7 Irradiação Extraterrestre no plano horizontal em Wh/m² nos solstícios de verão e
inverno em Nova Iorque.
Fonte: Elaboração própria.

2.6 IRRADIAÇÃO TOTAL NO PLANO INCLINADO

Para se determinar a Irradiação total em um plano inclinado com ângulos azimutal


de superfície (γs) e de inclinação específicos (β), é necessário primeiramente determinar as
parcelas da Irradiação global horizontal correspondentes às componentes direta e difusa no
plano horizontal. Dentre as correlações presentes na literatura, há a correlação de Erbs et al.
(1982) definida pelo sistema de equações 2.16 e a correlação de Orgill e Hollands (1977) que
também produz resultados próximos aos de Erbs et al. Ambas são bastante utilizadas como
aponta (DUFFIE e BECKMAN, 2013).

1 − 0,09𝑘𝑡 𝑝/ 𝑘𝑡 ≤ 0,22
𝐼𝑑
= 0,9511 − 0,1604𝑘𝑡 + 4,388𝑘𝑡2 − 16,638𝑘𝑡3 + 12,336𝑘𝑡4 𝑝/ 0,22 < 𝑘𝑡 ≤ 0,8
𝐼
0,165 𝑝/𝑘𝑡 > 0,8
(2.16)

Obtida a relação da componente difusa I d com a componente global I, pode-se obter


os valores horários da Irradiação difusa no plano horizontal multiplicando os valores obtidos
35

por I. Para se obter os valores horários da Irradiação direta I b no plano horizontal, basta
utilizar a Equação 2.17.

𝐼𝑏 = 𝐼 − 𝐼𝑑 (2.17)

A variável Rb pode ser definida agora (Equação 2.18), que se trata da relação entre a
Irradiância direta no plano inclinado e a Irradiância direta no plano horizontal. Sendo θ o
ângulo de incidência da radiação direta e θz o ângulo zenital da radiação solar, definidos pelas
Equações 2.7 e 2.8, respectivamente.

𝐺𝑏 ,𝑇 𝐺𝑏 ,𝑛 .cos 𝜃 cos 𝜃
𝑅𝑏 = = = (2.18)
𝐺𝑏 𝐺𝑏 ,𝑛 .cos 𝜃𝑧 cos 𝜃𝑧

Vários modelos matemáticos podem ser encontrados na literatura para determinação


da Irradiação global no plano inclinado à partir da global no plano horizontal e eles se diferem
na forma como é determinada a componente difusa. Para determinar ITOT à partir de IHOR foi
considerado neste estudo o modelo de céu anisotrópico de Hay-Davies (1980), que considera
que uma parte da Irradiação difusa incide no plano dos módulos na mesma direção da
Irradiação direta, gerando um índice de anisotropia (Ai) que é calculado pela razão entre
Irradiação direta (Ib) e Irradiação extraterrestre no plano horizontal (I0). O modelo de Perez
(1990) é considerado por alguns autores como uma melhoria do modelo de Hay-Davies,
gerando estimativas maiores na ordem de 0 a 2%, entretanto seu cálculo não convergiu
durante as análises realizadas. Ambos os modelos são utilizados em aplicações da Engenharia.
A Irradiação ITOT é determinada neste estudo pela Equação 2.19 (Modelo Hay-
Davies), sendo ρg o índice de reflexão da radiação solar das superfícies adjacentes à instalação
do SFCR. Valores de ρ g da ordem de 0,2 são normalmente adotados para áreas urbanas
(DUFFIE e BECKMAN, 2013).

1+ cos 𝛽 1−cos 𝛽
𝐼𝑇𝑂𝑇 = 𝐼𝑏 + 𝐼𝑑 𝐴𝑖 𝑅𝑏 + 𝐼𝑑 1 − 𝐴𝑖 + 𝐼𝜌𝑔 (2.19)
2 2
36

2.7 CONCLUSÕES

Foram introduzidos neste capítulo os principais conceitos e as principais variáveis que


descrevem fisicamente e quantitativamente a radiação solar. Estes conceitos e cálculos serão
utilizados na simulação do sistema fotovoltaico conectado à rede para análise do FDI. Foram
apresentadas as principais componentes de Irradiância presentes na atmosfera: difusa e direta.
Foi apresentada também a máxima Irradiação incidente em um plano horizontal para uma
dada latitude, desconsiderado o efeito de atenuação da atsmofera: Irradiação Extraterrestre no
plano horizontal. Foi demonstrado por meio das equações presentes na literatura como a
Irradiância varia ao longo do dia e do ano, assim como a própria duração do dia, como
prevista, maior no solstício de verão e menor no solstício de inverno. Por fim foram
apresentados modelos de cálculo para estimativa da Irradiação total no plano inclinado em
intervalos horários à partir da Irradiação global horizontal.
São discutidos à seguir os principais conceitos, tecnologias existentes e operação
referentes aos componentes que formam a topologia padrão de um Sistema Fotovoltaico
Conectado à Rede (SFCR): módulos fotovoltaicos e inversor solar.
37

3 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE (SFCR)

Este capítulo abordará os principais conceitos sobre os SFCR pertinentes à análise de


FDI: componentes de um SFCR, fatores que influenciam a geração de energia, aspectos de
dimensionamento de um SFCR e metodologias de análise do FDI.
Os SFCR se baseiam em uma tecnologia modular de geração de energia. Desta forma,
sistemas de diferentes tamanhos podem ser projetados desde poucas dezenas de W à ordem de
centenas de MW. Os SFCR podem ser classificados em três tipos de geração, de acordo com a
Resolução Normativa 567 da ANEEL:

 Microgeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência instalada


menor ou igual a 75 kW e que utilize cogeração qualificada, conforme regulamentação
da ANEEL, ou fontes de energia elétrica, conectada na rede de distribuição por meio
de instalações de unidades consumidoras (ANEEL, 2015).

 Minigeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência instalada


superior a 75 kW e menor ou igual a 3 MW para fontes hídricas ou menor ou igual a 5
MW para cogeração qualificada, conforme regulamentação da ANEEL, ou para as
demais fontes renováveis de energia elétrica, conectada na rede de distribuição por
meio de instalações de unidades consumidoras (ANEEL, 2015).

 Usinas Fotovoltaicas (UFV): potência acima de 5 MW.

Os SFCR de micro e minigeração distribuída foram inicialmente regulados no setor


elétrico pela Resolução Normativa 482-2012 da ANEEL, que trouxe a possibilidade de
inserção da GD na matriz energética brasileira por meio de um sistema de compensação de
energia, onde um consumidor, seja ele atendido em baixa ou alta tensão, pode reduzir sua
fatura de energia elétrica inserindo micro ou minigeradores na unidade consumidora ou outra
unidade consumidora de propriedade do mesmo consumidor, abatendo o consumo em kWh
com a micro ou minigeração de energia.
A partir de 1° de Março de 2016 passou a vigorar a Resolução Normativa 687-2015 da
ANEEL, que altera a Resolução Normativa 482-2012 aumentando as possibilidades da GD no
Brasil. Dentre as mudanças, foi aumentada a potência máxima de 1 MW para 5 MW para a
38

microgeração distribuída, passou a ser regulamentada a geração compartilhada, onde


consumidores dentro da mesma área de concessão ou permissão reúnem-se em um projeto de
micro ou minigeração por meio de consórcio ou cooperativa e foi aumentado o tempo de
duração dos créditos de energia ativa de 36 para 60 meses.
As UFVs são inseridas na matriz como uma geração centralizada sob despacho do
Operador Nacional do Sistema (ONS), como é o caso dos leilões de energia estaduais e
nacionais. Destaque pode ser dado para o 6º Leilão de Energia de Reserva (LER), realizado
em 31 de outubro de 2014, quando 1048 MW de potência de UFVs foram contratados no
primeiro leilão federal de contratação da fonte solar no Ambiente de Contratação Regulada
(ACR) (ABSOLAR, 2014). Novamente em 2015 foram contratados 1043,7 MW de potência
de UFVs no Brasil por meio do 1° Leilão de Energia de Reserva de 2015. O preço médio de
venda da energia fotovoltaica foi de 301,79 R$/MWh, um aumento de 40,3% em relação ao
LER/2014 quando a energia fotovoltaica foi negociada a um preço médio de 215,12 R$/MWh
(EPE, 2015). Essa variação ocorreu principalmente devido à variação cambial do dólar e pelo
ajuste nas condições de financiamento para esse tipo de projeto.

3.1 GERADOR FOTOVOLTAICO

Um SFCR é composto basicamente pelo gerador fotovoltaico, o inversor solar e a rede


elétrica local (ZILLES et al., 2012). Isso ocorre por que um SFCR opera em paralelismo com
a rede de distribuição e dispensa sistema de armazenamento de energia (existem SFCR
híbridos com sistema de armazenamento de energia). Além do gerador e do inversor solar,
componentes auxiliares são necessários para a composição completa de um SFCR, de acordo
com seu tamanho ou sua aplicação específica. Dentre os componentes auxiliares destacam-se:
estruturas de fixação, cabeamento CC, cabeamento CA, dispositivos de proteção, dispositivos
de supervisão e controle, dispositivos de aquisição e armazenamento de dados e equipamentos
de transformação de tensão (CRESESB, 2014).
Os geradores de SFCRs são compostos por associações de módulos fotovoltaicos. Os
módulos fotovoltaicos por sua vez são compostos por células fotovoltaicas conectadas em
arranjos para produzir tensão e corrente suficientes para a utilização prática da energia ao
mesmo tempo em que promove a proteção das células (CRESESB, 2014).
As células são fabricadas, em sua maioria, com lâminas de silício mono e
policristalino, com dimensões normalmente de 125x125mm ou 156x156 mm. A corrente das
células é diretamente relacionada à área útil das células. As células de 156x156 mm
39

apresentam correntes de curto-circuito entre 8 e 9 A em condições nominais e as células de


125x125 mm entre 5,2 e 5,8 A. Para células de silício, a tensão de circuito aberto está
normalmente em torno de 0,6 V (BRAGA, 2014). A Figura 3.1 ilustra um módulo
fotovoltaico da Yingli Solar® de tecnologia de silício monocristalino. Este módulo é
composto de um arranjo de 60 células conectadas em série que resultam em uma potência
nominal de 260 a 280 Wp.

Figura 3.1 Módulo de silício monocristalino Yingli série PANDA 60.


Fonte: Datasheet Yingli PANDA 60 células Série 2 (YINGLI SOLAR, 2015)

Inúmeras células fotovoltaicas já foram produzidas com o uso de diferentes materiais e


processos de fabricação. A Figura 3.2 apresenta os recordes de eficiência das células
fotovoltaicas de diferentes tecnologias em escala laboratorial, sendo as linhas azuis
correspondentes a células de silício cristalino (c-Si), as linhas verdes correspondentes a
células de filme fino, as linhas roxas correspondentes a células de multijunção (camadas de
diferentes materiais são sobrepostas umas às outras) e as linhas vermelhas correspondentes a
outros tipos de células como as células orgânicas, células inorgânicas, ou as de corantes.
40

Figura 3.2 Gráfico de evolução da eficiência de células solares em escala laboratorial.


Fonte: NREL cell efficiency chart 2015 (NREL, 2015).

Há uma diferença na eficiência de células fotovoltaicas para os módulos fotovoltaicos,


quando perdas adicionais pela associação das células reduzem a eficiência do nível celular.
Em nível celular os recordes de eficiências são de 25,6% para células de silício
monocristalino (m-Si), 21,3% para células de silício policristalino (p-Si), 21% para células de
CIGS (Disseleneto de Cobre, Índio e Gálio), 21% para CdTe (Telureto de Cádmio) e 13,6%
para silício amorfo (a-Si). Em nível modular os recordes de eficiência passam para 22,9%
para módulos m-Si, 19,2% para módulos p-Si, 17,5% para CIGS, 18,6% para CdTe e 10,9%
para a-Si (ISE, 2016).
Há uma diferença também entre eficiências de células e módulos em nível laboratorial
para as eficiências de células e módulos comerciais. Os módulos comerciais c-Si, por
exemplo, normalmente apresentam eficiências da faixa de 13 a 16% e os módulos de filme
fino entre 10 e 12% para módulos rígidos e 8 a 10% para módulos flexíveis (BRAGA, 2014).
Por fim, a eficiência média global dos módulos pode sofrer variações percentuais quando os
mesmos são submetidos a sol real em relação a condições padrões de testes. Em BRAGA
(2014) foram obtidas variações de até 21% na eficiência global de módulos submetidos a sol
real em relação ao dado de placa de fabricantes de módulos comerciais.
41

Apesar das várias tecnologias disponíveis, os módulos c-Si dominam o mercado


mundial de módulos fotovoltaicos. Em 2011, a tecnologia c-Si correspondia a 87% dos
módulos disponíveis comercialmente no mundo (sendo 30% de m-Si e 57% de p-Si),
enquanto que os outros 13% correspondiam a módulos de filme fino, como CdTe, a-Si, CIS,
CIGS, e outros tipos de módulos (ZILLES et al., 2012). É estimado um cenário para 2017
com participação de 82% de capacidade de produção em MW correspondentes à tecnologia c-
Si, 13% de filmes finos, 4% para módulos de alta eficiência e 1% para módulos com
concentração e módulos orgânicos (EPIA, 2013).
Basicamente, a vantagem competitiva das células de silício frente às outras tecnologias
é a grande abundância do silício na superfície terrestre, além de a microeletrônica ter
aperfeiçoado progressivamente ao longo do tempo a tecnologia do silício (ZILLES et al.,
2012). Os módulos de filme fino são denominados por muitos autores como tecnologia de
módulos de segunda geração, sendo os módulos de silício cristalino a primeira geração. Os
módulos de filme fino surgiram como alternativa para reduzir os custos de produção dos
mesmos, uma vez que são produzidos em uma única etapa, apresentando também as
vantagens de menor redução de rendimento por efeito da temperatura e a possibilidade de uso
de módulos flexíveis (CRESESB, 2014). Na prática o custo-benefício de módulos de silício
ainda é superior, devido à alta escala de produção mundial.

3.1.1 Operação de Células e Módulos Fotovoltaicos

As células fotovoltaicas possuem uma faixa de operação de tensão e corrente CC que


pode ser representada pela curva característica I-V, ilustrada na Figura 3.3 (linha azul).
Quando o módulo é conectado a uma carga, ela irá determinar o ponto de operação da curva I-
V, sendo ISC a corrente de curto-circuito e máxima corrente que a célula é capaz de suprir e
VOC a tensão de circuito aberto da célula, máxima tensão que ela é capaz de produzir. No caso
dos SFCR, o ponto de operação específico do módulo é condicionado pelo Inversor Solar, que
é dotado de um algoritmo de busca do ponto de máxima potência P MP chamado SPPM
(Seguimento do Ponto de Máxima Potência) que faz com que os módulos operem sempre no
ponto de máxima potência. A linha vermelha representa a curva P-V, cujo pico é o ponto PMP.
42

Figura 3.3 Curvas Corrente x Tensão e Potência x Tensão de uma célula fotovoltaica de
silício 156x156 mm.
Fonte: Manual de Engenharia Fotovoltaica (CRESESB, 2014).

Os módulos fotovoltaicos, assim como as células, podem ser conectados em série ou


em paralelo para alcançarem os níveis de potência desejados em um SFCR. A Figura 3.4
ilustra como as duas associações de células alteram a curva V-I do gerador fotovoltaico.
Quando conectadas em série, a corrente que atravessa as células é a mesma, predominando a
menor delas e as tensões são somadas. Quando conectadas em paralelo, a tensão que as
células estão submetidas é a mesma, somando-se as correntes. O módulo da Figura 3.1 é
formado pela associação em série de 60 células m-Si.

Figura 3.4 Curvas características V-I de associações série e paralelo de células.


Fonte: Manual de Engenharia Fotovoltaica (CRESESB, 2014).

Os fabricantes de módulos devem disponibilizar em suas fichas técnicas os parâmetros


elétricos e térmicos dos mesmos. A Tabela 3.1 ilustra os parâmetros elétricos de um módulo
fotovoltaico da Yingli Solar®.
43

Tabela 3.1 Parâmetros elétricos do módulo Yingli série PANDA 60.


Fonte: Datasheet Yingli Solar PANDA 60 células Série 2 (YINGLI SOLAR, 2015).

Os módulos fotovoltaicos em todo mundo disponibilizam os parâmetros de geração em


condições padrões de teste ou STC (Standard Test Conditions) de forma que seja possível
comparar diferentes tecnologias e fabricantes dentro das mesmas condições de teste, que no
caso se trata de uma Irradiância de 1000 W/m² incidente no painel, temperatura na célula de
25°C e distribuição espectral AM 1.5. A potência nominal do módulo é o produto de Vmp por
Imp em STC, que são a tensão de máxima potência e a corrente de máxima no ponto P MP. A
Tabela 2.1 mostra ainda a variação dos parâmetros característicos na condição de temperatura
nominal de operação da célula ou NOCT (Nominal Operating Cell Temperature) que se trata
de uma outra condição de teste na qual o módulo é submetido. Em NOCT, os parâmetros do
módulo são dados em uma condição de 800 W/m² de Irradiância incidente, temperatura
ambiente de 20 °C e velocidade do vento de 1 m/s.
A eficiência do módulo fotovoltaico (ηfv) está relacionada à área que o SFCR terá que
cobrir em uma superfície para gerar a demanda de energia de um projeto. A Equação 3.1
demonstra o conceito de eficiência de um módulo fotovoltaico, assim como sua relação com a
área total do gerador de um SFCR (CRESESB, 2014). Sendo ISC a corrente de curto-circuito
44

do módulo, VOC a tensão de circuito aberto, FF o fill factor ou fator de ocupação, A a área e G
a Irradiância incidente.

𝑃 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑎 𝐼𝑠𝑐 . 𝑉𝑜𝑐 . 𝐹𝐹 𝑉𝑚𝑝 . 𝐼𝑚𝑝


𝜂𝑓𝑣 = = = (3.1)
𝑃 𝑖𝑛𝑐𝑖𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐴. 𝐺 𝐴. 𝐺

3.1.2 Influência da Irradiância e da Temperatura

A geração de energia solar fotovoltaica é influenciada principalmente por dois fatores


do clima local: Irradiância e Temperatura. Na Tabela 2.1 já foi apresentada a diferença da
máxima potência gerada por um módulo em STC e NOCT, que caiu de 280 W para 204,2 W
respectivamente. A corrente ISC é influenciada pela Irradiância de acordo com a Equação 3.2 e
pela temperatura na célula de acordo com a Equação 3.3, já a tensão VOC é influenciada pela
temperatura na célula de acordo com a Equação 3.4 (TOFOLI et al., 2014).


𝐼𝑆𝐶
𝐼𝑆𝐶 𝐺 = . 𝐺𝑒𝑓𝑓 (3.2)
𝐺∗

∗ 𝑑𝐼 𝑆𝐶
𝐼𝑆𝐶 𝑇𝐶 = 𝐼𝑆𝐶 + (𝑇𝐶 − 𝑇𝐶∗ ) ∙ (3.3)
𝑑𝑇 𝐶

∗ 𝑑𝑉 𝑂𝐶
𝑉𝑂𝐶 𝑇𝐶 = 𝑉𝑂𝐶 + 𝑇𝐶 − 𝑇𝐶∗ . (3.4)
𝑑𝑇 𝐶

Sendo o símbolo (*) correspondente a valores em STC, G eff a Irradiância efetiva ou


incidente na célula, TC a temperatura na célula, dISC / dTC, ou αIsc, o coeficiente de
temperatura da corrente de curto circuito da célula e dVOC / dTC, ou βVoc, o coeficiente de
temperatura da tensão de circuito aberto da célula, que é normalmente negativo (alguns
módulos de filme fino podem apresentar β Voc positivos). A Temperatura TC por sua vez é
influenciada pela temperatura ambiente e pela Irradiãncia, de acordo com a Equação 3.5.

𝑇𝐶 = 𝑇𝐴 + 𝐶𝑡 . 𝐺𝑒𝑓𝑓 (3.5)

𝑁𝑂𝐶𝑇 °𝐶 − 20
𝐶𝑡 = (3.6)
800𝑊/𝑚²
45

A Figura 3.5 ilustra o comportamento das Curvas I-V e P-V de um módulo de 235 Wp
de p-Si considerando a variação da Irradiância de 200 a 1000 W/m² em escala de 200 W/m²,
onde a temperatura na célula TC é mantida constante em 25 °C.

Figura 3.5 Curvas I-V e P-V com influência da Irradiância.


Fonte: Elaboração própria.

A Figura 3.6 ilustra o comportamento da Curva I-V mantendo constante a Irradiância


a 1000 W/m² e variando TC de 25 °C a 65 °C, é possível notar a forte queda de tensão devido
ao aumento da temperatura em módulos de silício cristalino.
46

Figura 3.6 Curva I-V com influência da Temperatura na célula.


Fonte: Elaboração própria.

Normalmente quando se consideram módulos c-Si, a variação de ISC é da ordem de


+0,01 %/°C e de VOC da ordem de -0,37 %/°C. Quando se analisa o coeficiente resultante da
potência máxima, valores da ordem de -0,4 a -0,5 %/°C são obtidos. Em algumas análises
envolvendo a tecnologia c-Si o coeficiente da tensão βVmp é considerado igual ao coeficiente
da potência máxima γmp, desprezando a influência da temperatura na corrente I mp que é
praticamente nula, como demonstra o Equacionamento abaixo.

𝑃𝑚𝑝 = 𝑉𝑚𝑝 ∙ 𝐼𝑚𝑝

𝑑𝑃𝑚𝑝 𝑑𝑉𝑚𝑝 𝑑𝐼𝑚𝑝


= 𝐼𝑚𝑝 + 𝑉𝑚𝑝
𝑑𝑇 𝑑𝑇 𝑑𝑇

𝑑𝑃𝑚𝑝 𝑑𝑉𝑚𝑝
= 𝐼𝑚𝑝
𝑑𝑇 𝑑𝑇

𝑑𝑃𝑚𝑝 𝑑𝑉𝑚𝑝
𝐼𝑚𝑝
𝑑𝑇 𝑑𝑇
=
𝑃𝑚𝑝 𝑉𝑚𝑝 𝐼𝑚𝑝
47

𝛾𝑚𝑝 = 𝛽𝑉𝑚𝑝

Nas placas a-Si, valores da ordem de -0,3 %/°C são obtidos ao coeficiente da potência
máxima, devido a um maior aumento na corrente pela temperatura da ordem de +0,1 %/°C
(CRESESB, 2014).

3.2 INVERSOR SOLAR

Os Inversores Solares são dispositivos eletrônicos que possuem dupla função nos
SFCR: conversão da potência CC em potência CA e seguimento do P MP do gerador
fotovoltaico, ou SPPM (ZILLES et al., 2012).
De um modo geral os inversores solares para SFCR podem ser classificados em quatro
diferentes configurações do ponto de vista da configuração do sistema: inversor central (a),
inversor string (b), inversor multistring (c) e módulo CA (d) (KJAER et al., 2005;
CRESESB, 2014). As quatro configurações estão ilustradas na Figura 3.7.

Figura 3.7 Classificação de inversores solares para SFCR quanto à configuração do sistema.
Fonte: A Review of Single-Phase Grid-Connected Inverters for Photovoltaic Modules (KJAER et al.,
2005).
48

Na configuração de inversor central, há um único inversor de conexão à rede e os


módulos formam vários strings conectados em paralelo para a obtenção de elevados níveis de
potência. As desvantagens desta configuração são as maiores perdas devido a um único
sistema SPPM, maiores perdas por descasamento das características elétricsa dos módulos e
perdas nos diodos dos strings. Os inversores string são amplamente utilizados, pois além de
reduzir perdas quando comparado ao inversor central, é uma configuração que possibilita
produção em larga escala, reduzindo o custo do equipamento. Os inversores multistring
apresentam a vantagem de reduzir os custos com o uso de mais de um inversor string e
diferentemente dos inversores centrais, apresentam um sistema SPPM para cada string,
reduzindo as perdas neste processo. Os módulos CA são uma aposta para se extrair o máximo
de potência de cada módulo, conectando um inversor a cada painel, entretanto o desafio de se
amplificar a baixa tensão do mesmo pode reduzir a eficiência total e aumentar o preço por
Wp.
Os inversores solares podem ser classificados em dois diferentes tipos quanto ao
número de estágios de processamento de potência (KJAER, PEDERSEN e BLAABJERG,
2005; NEMA, NEMA e AGNIHOTRI, 2011) inversor de estágio único de processamento de
potência (Figura 3.8 - a) e inversor de múltiplos estágios de processamento de potência
(Figura 3.8 - b, c). No inversor de estágio único, apenas um inversor comum é responsável
pela conversão CC-CA, sistema de SPPM, sincronização com a rede e controle de corrente
com amplificação de tensão. Nos inversores de múltiplos estágios, conversores CC-CC são
conectados aos inversores para aplicações onde a faixa de operação de tensão não é adequada
para inversores de estágio único. Os inversores de múltiplos estágios são usados em
aplicações que necessitam de uma maior faixa de operação de tensão com potência elevada e
alta eficiência.
49

Figura 3.8 Classificação de inversores solares para SFCR quanto ao número de estágios de
processamento de potência.
Fonte: Inverter Topologies and control structure in photovoltaic applications: A review (NEMA et al.,
2011)

Outras construções de inversores solares são possíveis com o uso de transformadores


de alta ou baixa freqüência. O uso de transformadores nos inversores solares tende a diminuir
a eficiência de conversão CC-CA, entretanto, eles isolam eletricamente o lado CC da rede de
distribuição.

3.2.1 Operação de Inversores Solares

O dimensionamento de um inversor solar depende da potência nominal e dos


parâmetros elétricos do gerador FV, pois cada inversor apresenta uma faixa de operação de
tensão e potência. Vale ressaltar que tal faixa deve ser compatível com a faixa de operação do
gerador nas condições de Irradiância e Temperatura do local. A Tabela 3.2 apresenta alguns
dos dados técnicos de uma linha de inversores centrais da Eltek®. A máxima potência que o
inversor é capaz de injetar na rede é a potência nominal CA. A faixa de operação ideal de
tensão do SFV para este inversor é a faixa de tensão de funcionamento do SPPM, de 230 a
500 V. A máxima tensão CC de 600 V se trata da máxima tensão VOC que o gerador
fotovoltaico pode atingir (menor temperatura T A do local).
50

Tabela 3.2 Parâmetros técnicos de uma linha de inversores centrais.


Fonte: Datasheet Eltek THEIA HE-t UL (ELTEK, 2015).

A eficiência de conversão de um inversor solar pode ser calculada pela Equação 3.7. A
eficiência relaciona a energia obtida no lado CA com a energia na entrada CC do inversor.

𝑡
𝐸𝐶𝐴 𝑃 .𝑑𝑡
𝑡 0 𝐶𝐴
𝜂𝑖𝑛𝑣 = = 𝑡 (3.7)
𝐸𝐶𝐶 𝑃
𝑡 0 𝐶𝐶 .𝑑𝑡

A eficiência de placa de um inversor solar se trata da máxima eficiência do mesmo,


entretanto ela depende da potência e da tensão CC de entrada do inversor. A Figura 3.9
apresenta uma típica curva de eficiência de inversores solares em função da potência CC de
entrada do inversor. É possível notar que quando o inversor é sobrecarregado (P MPP/Pnom> 1),
sua eficiência reduz linearmente com o aumento da potência CC, isto ocorre pelo efeito de
limitação de potência do inversor, pois o mesmo limita a potência processada em sua potência
nominal CA, mesmo que o gerador seja capaz de fornecer uma potência mais elevada.
Quando há perdas adicionais pela limitação por temperatura no inversor, a redução de
eficiência se torna ainda maior, deixando de se tratar de uma redução linear. A curva tracejada
apresenta o comportamento da tensão Vmp, que é deslocada no sentido da tensão VOC da curva
51

I-V do gerador fotovoltaico, mantendo a potência de entrada no limite da potência nominal do


inversor. Este comportamento é denominado limitação de potência de um inversor solar.

Figura 3.9 Curva de eficiência total pela relação Potência de entrada CC / Potência nominal CC
de um inversor solar.
Fonte: Inverter sizing of grid-connected photovoltaic systems in the light of local solar resource distribution
characteristics and temperature (BURGER e RÜTHER, 2006).

3.2.2 Influência da tensão

Além da potência, a eficiência de inversores solares varia com a tensão de entrada,


dependendo da topologia de circuito eletrônico do inversor e se é um inversor com
transformador (HFT ou LFT). A Figura 3.10 ilustra a variação da curva de eficiência total de
diferentes inversores solares comerciais em diferentes níveis de tensão CC a que são
submetidos.
52

Figura 3.10 Curvas de eficiência total de inversores pela potência nominal CC para diferentes
níveis de tensão Vmp.
Fonte: Adaptado de “Estudo de Características Elétricas e Térmicas de Inversores para Sistemas Fotovoltaicos
Conectados à Rede” (RAMPINELLI, 2010).

É possível notar na Figura 3.10 que o inversor Sunny Boy 3800 apresenta eficiência
máxima em 25% da potência nominal, submetido a uma tensão V mp do gerador de 200 V. O
inversor Sunways NT 4000 apresenta eficiência máxima em torno de 60% da potência
nominal e opera em maior eficiência a uma tensão V mp de 400 V. O inversor Fronius IG 40
apresenta eficiência máxima próximo à potência nominal, operando em maior eficiência a
uma tensão Vmp de 280 V. E o inversor Fronius IG 30 apresenta eficiência máxima em torno
de 60% da potência nominal, operando em maior eficiência a uma tensão de 280 V. A
influência da tensão na curva de eficiência de um inversor solar é importante para a
determinação do arranjo do gerador, quanto às conexões série ou paralelo.

3.3 FATOR DE DIMENSIONAMENTO DO INVERSOR

O FDI é uma importante variável de análise de dimensionamento de SFCR, pois


relaciona em termos de potência elétrica o gerador fotovoltaico e o inversor solar, por meio da
53

Equação 3.8. Sendo PNca a potência nominal de saída CA do inversor e P FV a potência


nominal do gerador fotovoltaico. Um FDI de 0,9, por exemplo, significa que a potência
nominal CA do inversor é 90% da potência nominal do gerador fotovoltaico.

𝑃 𝑁 𝑐𝑎 (𝑊)
𝐹𝐷𝐼 = (3.8)
𝑃 𝐹𝑉 (𝑊𝑃 )

Por meio da análise do FDI, é possível se obter uma relação ideal de número de
módulos para determinado inversor, sem prejudicar sua integridade física. Diferentes
metodologias de análise e otimização do FDI podem ser encontradas na literatura. Uma
metodologia comum, utilizada por softwares de mercado como PVsyst® e também
encontrada em Burger e Ruther (2006) encontra a relação PFV / PNca (inverso do FDI) por
meio da aplicação de um limite percentual de perda anual de energia por limitação de
potência no inversor.
A Figura 3.11 apresenta os resultados de Burger e Rüther para a otimização de
PFV/PNca em Florianópolis. O uso de uma base de dados para simulação de médias horárias de
Irradiância e Temperatura (primeiro gráfico) resultou em relações P FV / PNca diferentes das
obtidas para simulação em médias por minuto (segundo gráfico).
54

Figura 3.11 Relação ótima entre potência nominal CC do gerador e potência nominal CA
calculada para 0,5% de perdas por limitação de potência para Florianópolis.
Fonte: Inverter sizing of grid-connected photovoltaic systems in the light of local solar resource distribution
characteristics and temperature (BURGER e RÜTHER, 2006).

Em MACÊDO (2006) a relação FDI é obtida à partir da otimização de duas variáveis:


maior produtividade anual do sistema (YF) em kWh/kWp e menor custo da energia produzida
em US$/kWh. A Figura 3.12 ilustra os resultados obtidos pelos dois métodos, que são
próximos, porém distintos. O estudo considerou a avaliação em intervalos de irradiância
horários em um ano. O estudo concluiu ainda que as grandezas analisadas podem se tornar
mais influenciadas pela escolha do fabricante do que pela escolha da relação FDI
propriamente dita.
55

Figura 3.12 Otimização do FDI do ponto de vista da produtividade do sistema e do custo da


energia produzida.
Fonte: Análise do Fator de Dimensionamento do Inversor aplicado a Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede
(MACÊDO, 2006).

O FDI pode ser analisado também pelo monitoramento das grandezas elétricas de
geração de um SFCR em operação como em (MACÊDO, 2006; DIAS, 2006) e do ponto de
vista das grandezas elétricas e térmicas do inversor como em (RAMPINELLI, 2010). A
Figura 3.13 apresenta o comportamento de um inversor solar em processos de limitação de
potência por sobrecarga e por sobreaquecimento, submetido a diferentes FDIs.
56

Figura 3.13 Comportamento elétrico e térmico de um inversor de conexão à rede para diferentes
FDIs.
Fonte: Estudo de Características Elétricas e Térmicas de Inversores para Sistemas Fotovoltaicos Conectados à
Rede (RAMPINELLI, 2010).

3.4 CONCLUSÕES

Foram apresentados os principais componentes de SFCR: módulos e inversores


solares, as principais tecnologias de módulos fotovoltaicos presentes em escala comercial e
laboratorial, as principais topologias construtivas de inversores, fatores que mais influenciam
a geração do ponto de vista dos dois componentes: irradiação incidente e temperatura das
células em relação aos módulos e potência de entrada e tensão de entrada CC em relação aos
57

inversores. Foram apresentadas também as principais metodologias de análise do FDI


presentes na literatura, que sempre relacionam o FDI ideal ao melhor custo-benefício
financeiro ou maiores níveis de geração de energia ou produtividade de forma a não
comprometer a vida útil e segurança do inversor.
São discutidos à seguir a metodologia adotada para análise do FDI, a análise da base
de dados utilizada e os resultados obtidos nas simulações.
58

4 ANÁLISE DO FATOR DE DIMENSIONAMENTO DO INVERSOR

COM DADOS CLIMÁTICOS LOCAIS EM GOIÂNIA

Como foi discutido anteriormente, a análise do FDI deve buscar maior produtividade
com menores custos. Resultados diferentes de análises são obtidos de acordo com a qualidade
dos dados de simulações, portanto é essencial o conhecimento de diferentes bases de dados
para análises mais confiáveis de sistemas fotovoltaicos. Neste capítulo será apresentada a
análise dos dados de medição da radiação solar, a metodologia proposta de análise do FDI
com dados climáticos locais, bem como os resultados obtidos da mesma.
A ferramenta utilizada neste estudo foi o software MS Excel 2010. Foi adotada esta
ferramenta devido à familiaridade com o software, à fácil verificação de cada etapa do
algoritmo e devido à adoção de uma análise que não envolve modelagem dinâmica.
É utilizado neste estudo um algoritmo para simulação de SFCR no contexto da análise
do FDI para diferentes inclinações e orientações do gerador fotovoltaico, uma vez que
sistemas integrados a construções nem sempre possibilitam uma orientação ideal do ponto de
vista de inclinação e orientação dos painéis para geração solar fotovoltaica. O algoritmo
utilizou uma base de dados de doze anos de medições locais de Irradiação global no plano
horizontal e temperatura ambiente em Goiânia, referentes ao período de 2002 a 2013. A base
de dados foi provida pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que possui estação solarimétrica instalada na
cidade de Goiânia. Dessa forma, os dados utilizados não são obtidos por interpolação de
estações existentes ou de satélites, mas de dados locais.
O algoritmo utilizado pode ser compreendido por meio da Figura 4.1, que apresenta o
fluxograma de etapas para a análise do FDI por meio de modelagem matemática dos
principais componentes. O FDI foi analisado pela perspectiva do limite de perdas anuais por
limitação de potência, e outros indicadores.
Um primeiro modelo é utilizado para determinação de valores horários de I TOT no
plano inclinado à partir da latitude, longitude, ângulo de inclinação em relação ao plano
horizontal, ângulo azimutal da superfície e Irradiação global no plano horizontal.
Um segundo modelo é utilizado para determinação dos parâmetros elétricos de saída
horários de um gerador fotovoltaico p-Si, considerando como entrada ITOT obtida pelo modelo
1 e temperatura ambiente.
59

Figura 4.1 Fluxograma de análise do FDI com uso da base de dados locais.

Por fim um terceiro modelo é utilizado para determinação da potência de saída do


inversor e perdas de energia por limitação de potência, nos intervalos horários, utilizando
como entrada a potência CC. Desta forma o FDI pode ser obtido e é possível também calcular
os índices de desempenho ou figuras de mérito do sistema e avaliá-los no contexto da análise
do FDI.

4.1 ANÁLISE DOS DADOS CLIMÁTICOS

A Figura 4.2 apresenta um comparativo mensal de Irradiação global horizontal para


Goiânia de acordo com as medições obtidas pelo INMET e diferentes referências. As bases de
dados apresentadas são todas médias mensais. Assim, em termos mensais, é possível notar
uma grande variação para as diferentes bases de dados, entretanto as médias anuais são
próximas. Em termos anuais foram obtidos 5 kWh/m².dia pela Sundata (CRESESB, 2016),
5,08 kWh/m².dia pelo INMET, 5,28 kWh/m².dia pela NASA, 5,07 pelo Atlas Brasileiro de
Energia Solar, Projeto SWERA (PEREIRA et al., 2006) e 5 kWh/m².dia pelo Atlas
Solarimétrico do Brasil (TIBA e FRAIDENRAICH, 2000).
60

Figura 4.2 Comparação mensal da Irradiação solar média diária por diferentes bases de dados.
Fonte: Elaboração própria.

Analisando agora apenas a base de dados das medições do INMET, Figura 4.3, pode-
se constatar novamente grandes variações mensais. Essa variação se torna menor em termos
anuais, quando uma média de 5,08 kWh/m².dia alcançou um máximo 5,28 kWh/m².dia em
2003 e um mínimo de 4,91 kWh/m².dia em 2009.

Figura 4.3 Comparação mensal da Irradiação solar média diária mínima, média e máxima do
INMET.
Fonte: Elaboração própria.
61

Foi mencionado anteriormente que dentre os desafios encontrados para análise do


FDI, destaca-se a indisponibilidade de dados climáticos em pequenos intervalos de tempo
para diferentes localidades (KHATIB, MOHAMED e SOPIAN, 2013). Considerando agora
bases de dados horários para simulações, muitas vezes essa indisponibilidade de dados em
pequenos intervalos é solucionada por meio de geração sintética de dados horários a partir de
dados diários ou mensais. A Figura 4.4 ilustra a diferença entre uma base de dados gerada por
meio de distribuição sintética de Irradiação global horária obtida de uma base de dados em
maior intervalo de tempo e uma base de dados gerada por meio de medição da Irradiação
global horária ao longo de quinze anos. É possível notar diferenças da ordem de 4% para
determinadas faixas de Irradiação em determinadas localidades. Neste caso uma análise de
FDI provavelmente geraria resultados diferentes para cada base de dados.

Figura 4.4 Curvas de percentual de disponibilidade da Irradiação para cada faixa de Irradiância
determinadas por medições (primeira) e distribuição sintética (segunda) no Brasil.
Fonte: Palestra Ricardo Ruther ISSE (RÜTHER, 2015).

A Figura 4.5 ilustra a comparação entre a média dos dados de medições de doze anos
do INMET para Goiânia e da base de dados da NASA para a mesma localidade obtida por
62

meio do software PVsyst. Diferenças da ordem de 1,5% foram obtidas em algumas faixas. A
diferença mais significativa se encontra nas faixas de maior Irradiância, indo de 900 a 1250
W/m², onde as estimativas da distribuição sintética da NASA são mais elevadas que as
medições reais.

10%
Irradiação INMET(%)

8%
6%
4%
2%
0%
450
500

900
100
150
200
250
300
350
400

550
600
650
700
750
800
850

950

1300
1000
1050
1100
1150
1200
1250
50

10%
Irradiação NASA(%)

8%

6%

4%

2%

0%
10…
10…
11…
11…
12…
12…
13…
50

200

350

500

650

800

950
100
150

250
300

400
450

550
600

700
750

850
900

2,0%
Diferença INMET-NASA(%)

1,0%

0,0%

-1,0%

-2,0%
150

700
100

200
250
300
350
400
450
500
550
600
650

750
800
850
900
950
50

1250
1000
1050
1100
1150
1200

1300

Irradiância (W/m²)

Figura 4.5 Curvas de percentual de disponibilidade da Irradiação para cada faixa de Irradiância
para base de dados do INMET (primeira) e distribuição sintética da base de dados da NASA
(segunda) para Goiânia.
Fonte: Elaboração própria.
63

Ao analisar as bases de dados de medições locais e demais referências pode-se


constatar que a Irradiação global horizontal tende a uma média anual similar, mas que em
termos mensais apresenta grandes variações, devido à própria variação natural que pode
ocorrer em diferentes períodos. Já em termos horários para simulação, no caso da localidade
em análise pode-se perceber um comportamento similar da distribuição sintética e a real, mas
que as estimativas da distribuição sintética podem ser quase 2% distintas, com destaque às
faixas mais elevadas de Irradiância, que representam os picos de irradiância que vão resultar
em perdas por limitação de potência. Os mesmos apresentaram-se um pouco acima do real
histórico no período de doze anos de medições.

4.2 DETERMINAÇÃO DA IRRADIAÇÃO TOTAL NO PLANO INCLINADO

Para se determinar a Irradiação total em um plano inclinado com ângulos azimutal de


superfície e de inclinação específicos, é necessário primeiramente determinar as parcelas da
Irradiação global horizontal correspondentes às componentes direta e difusa da radiação solar.
Para isso, utilizou-se a correlação de Erbs et al. (1992), definida pelo sistema de equações
2.16 e 2.17. Sendo kt o índice de claridade horário determinado pela Equação 2.5.
A Figura 4.6 apresenta um exemplo de cálculo das componentes da Irradiação
horizontal em Wh/m² em um solstício de verão. Aproximadamente 33% da Irradiação global
horizontal corresponderam à componente difusa e 67% à componente direta.

Figura 4.6 Irradiação global horizontal, direta e difusa para o dia 21 de Dezembro de 2002.
Fonte: Elaboração própria.
64

A Tabela 4.1 apresenta os valores anuais de Irradiação global, direta e difusa no plano
horizontal obtidos para cada ano para a base de dados do INMET por meio da correlação de
Erbs et al. A Tabela 4.1 apresenta ainda os picos de Irradiação horária em Wh/m² das
medições em cada ano.

Tabela 4.1 Irradiações global, direta e difusa anuais no plano horizontal e picos de irradiação
global horizontal horária de Goiânia para diferentes períodos.
Fonte: Elaboração própria.
IHOR anual IDIR anual IDIF anual
Pico IHOR(Wh/m²)
Período (kWh/m²) (kWh/m²) (kWh/m²)
2002 1919,70 1120,28 1127,62 792,09
2003 1926,09 1119,17 1129,10 796,99
2004 1823,59 1133,06 1016,56 807,03
2005 1878,73 1162,22 1047,40 831,33
2006 1797,61 1122,97 956,97 840,64
2007 1901,08 1109,04 1089,64 811,44
2008 1803,76 1084,43 960,81 842,95
2009 1795,09 1135,89 964,05 831,04
2010 1890,58 1158,24 1078,23 812,35
2011 1837,25 1118,68 1024,96 812,29
2012 1884,35 1122,41 1072,65 811,69
2013 1792,97 1162,76 961,44 831,53
Média 2002-2013 1854,23 1129,09 1035,79 818,45

A Irradiação ITOT foi determinada pelo Modelo Hay-Davies, dado pela Equação 2.19.
A Figura 4.7 apresenta os gráficos de Irradiação incidente no plano inclinado 20° em relação
ao plano horizontal com ângulos azimutais -90°, 0° e +90°, para um dia de verão com céu
limpo. É possível notar como a Irradiação se desloca para o sol da manhã quando γ s é igual a
-90° e se desloca para o sol da tarde quando γs é igual a 90°.
65

Figura 4.7 Irradiação total no plano inclinado de 20° para diferentes orientações, para um dia de
verão com céu limpo.
Fonte: Elaboração própria.

Aplicado o modelo a cada intervalo horário, é possível determinar o fator de


transposição (FT) total da Irradiação, que significa o fator de redução ou aumento de I TOT no
período considerado (que é de 12 anos) em relação à Irradiação IHOR, para determinado ângulo
de inclinação β e ângulo azimutal de superfície γ. A Tabela 4.2 apresenta os valores de FT
obtidos para a totalidade dos doze anos de medição. Os fatores obtidos anualmente se
distinguem dos valores da Tabela 4.2. Ângulos azimutais negativos correspondem a uma
rotação no sentido horário (partindo-se do norte geográfico) e ângulos azimutais positivos
correspondem a uma rotação no sentido anti-horário.
66

Tabela 4.2 Fatores de transposição da irradiação global horizontal em planos com diferentes
inclinações e ângulos azimutais.
Fonte: Elaboração própria.

Ângulo azimutal do plano dos módulos ϒs


Inclinação
90° 75° 60° 45° 30° 15° 0° -15° -30° -45° -60° -75° -90°
β
0° 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
10° 0,98 0,99 1,00 1,01 1,02 1,03 1,03 1,03 1,03 1,03 1,02 1,01 1,00
20° 0,94 0,97 0,99 1,01 1,02 1,03 1,04 1,04 1,04 1,03 1,01 1,00 0,97
30° 0,89 0,92 0,95 0,98 1,00 1,02 1,03 1,03 1,02 1,01 0,99 0,97 0,94
40° 0,83 0,87 0,90 0,93 0,96 0,98 0,99 0,99 0,99 0,97 0,95 0,92 0,89
50° 0,76 0,80 0,84 0,87 0,90 0,92 0,93 0,93 0,93 0,91 0,89 0,86 0,82
60° 0,69 0,73 0,76 0,79 0,82 0,84 0,85 0,86 0,85 0,84 0,82 0,79 0,75
70° 0,62 0,66 0,69 0,71 0,73 0,74 0,76 0,76 0,76 0,76 0,74 0,72 0,68
80° 0,55 0,58 0,60 0,62 0,63 0,64 0,65 0,66 0,66 0,66 0,66 0,64 0,60
90° 0,48 0,51 0,52 0,53 0,53 0,54 0,55 0,55 0,56 0,57 0,57 0,56 0,53

4.3 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS DE SAÍDA DO GERADOR

O módulo fotovoltaico simulado foi o módulo da Sun Earth de 235 Wp de potência e


os inversores solares Eltek THEIA 2.9 e 4.4 HE-t UL. A Tabela 4.3 apresenta os dados de
placa fornecidos pelos fabricantes utilizados na simulação.

Tabela 4.3 Dados de placa do módulo fotovoltaico e do inversor solar utilizados nas simulações.
Fonte: Elaboração própria.
Eltek THEIA 2.9 HE-t Eltek THEIA 4.4 HE-t
Sun Earth p-Si 235Wp
UL UL
Vmp(STC) 30 V PnomCA 2900 W PnomCA 4450 W
Imp(STC) 7,83 A VMPPT 230 - 500 V VMPPT 230 - 500 V
γmp (-)0,42%/°C Imax(CC) 13,5 A Imax(CC) 21 A

De posse do modelo de determinação de ITOT horária no plano inclinado e da


temperatura ambiente em Goiânia, pode-se determinar Vmp, Imp e Pmp horários do módulo
descrito com o uso das Equações 4.5, 4.6 e 4.7. Sendo βVmp o coeficiente de temperatura da
tensão de máxima potência. A temperatura na célula foi obtida pela Equação 3.4.

𝑉𝑚𝑝 = 𝑉𝑚𝑝 (𝑆𝑇𝐶) + 𝑇𝐶 − 𝑇𝐶 𝑆𝑇𝐶 . 𝛽𝑉𝑚𝑝 (4.5)


67

𝐼𝑚𝑝 (𝑆𝑇𝐶 )
𝐼𝑚𝑝 = . 𝐼𝑇𝑂𝑇 (4.6)
1000

𝑃𝑚𝑝 = 𝑉𝑚𝑝 . 𝐼𝑚𝑝 𝜂𝑆𝑃𝑃𝑀 (4.7)

Foi considerado este modelo em que o coeficiente de temperatura da tensão βVmp é


igual ao coeficiente de temperatura da potência γmp, desprezando a influência da temperatura
na corrente Imp, como foi discutido na seção 3.1.2. Em alguns casos os coeficientes de
temperatura da tensão e da potência são de fato equivalentes, como é o caso da série YGE-48
da Yingli Solar (YINGLI SOLAR, 2016).
Quando o produto Vmp por Imp é feito, é obtida a mesma relação para a potência
adotada por Macêdo (2006) para análise do FDI, expressa pela Equação 4.8, o modelo de
Evans, sendo PFV0 a potência do módulo fotovoltaico de referência, γ mp o coeficiente de
temperatura da potência no ponto de máxima potência, Ht,β a Irradiância incidente no plano do
gerador, TC a temperatura de operação das células, ηSPPM é a eficiência do seguimento do
ponto de máxima potência do inversor e o sub-índice ref indica as condições de referência. A
vantagem de separar a estimativa da potência em tensão e corrente é a obtenção de
estimativas para as perdas no cabeamento CC, que é função da corrente Imp, dada pela
Equação 4.10. Foram consideradas 1% de perdas no SPPM.

0 𝐻 𝑡,𝛽
𝑃𝑀𝑃 = 𝑃𝐹𝑉 1 − 𝛾𝑚𝑝 (𝑇𝐶 − 𝑇𝐶,𝑟𝑒𝑓 ) 𝜂𝑆𝑃𝑀𝑃 (4.8)
𝐻 𝑟𝑒𝑓

As Equações 4.5, 4.6 e 4.7 permitem obter as curvas tensão, corrente e potência de
saída do gerador ao longo do período de medições. A Figura 4.8 apresenta, por exemplo, a
curva tensão, corrente e potência de um módulo 235 Wp inclinado 20° em relação ao plano
horizontal e orientado exatamente para o norte geográfico, durante um dia típico de verão.
68

Figura 4.8 Curvas Tensão, Corrente e Potência do módulo 235Wp ao longo de um dia de verão.
Fonte: Elaboração própria.

Para a determinação da potência CC de entrada do inversor foi considerada uma


resistência no cabeamento CC que resulta em perdas por efeito Joule. As perdas no
cabeamento foram calculadas pelas Equações 4.9 e 4.10, sendo ρ a resistividade do cobre, que
equivale a aproximadamente 1,67x10-8 Ωm, l o comprimento do cabo em metros, e A a área
da secção transversal do mesmo. Por meio da Equação 4.9, considerou-se que cada string é
conectada ao inversor por meio de cabos solares de seção 4 mm² na extensão de 30 m. A
resistividade do cobre depende da temperatura, desta forma a resistência foi obtida como
função da temperatura ambiente (TA) pela Equação 4.11, sendo α o coeficiente de temperatura
da resistividade. No caso do cobre este iquivale a 0,0039 °C-1 (CRESESB, 2014).
69

𝜌.𝑙
𝑅= (4.9)
𝐴

𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 = 𝑅. 𝐼 2 (4.10)

𝑅𝑇1 = 𝑅𝑇0 [1 + 𝛼 𝑇1 − 𝑇0 ] (4.11)

A análise do FDI considerou a configuração do arranjo do gerador com um string para


o inversor 2.9 e dois strings em paralelo para o inversor 4.4, haja vista que se todos módulos
são conectados em série a este inversor, a tensão do arranjo ultrapassa o limite de 500 VCC do
sistema SPPM do inversor. Caso sejam utilizados três strings, a tensão do arranjo alcança
valores menores que o limite inferior do sistema SPPM de 230 VCC.

4.4 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS DE SAÍDA DO INVERSOR

O modelo utilizado para determinação da potência de saída do inversor foi o modelo


de Schmidt et al. (1992) que possibilita calcular a potência de saída do inversor para qualquer
valor de potência de entrada CC. O modelo de Schmidt et al. (1992) define o cálculo da
potência de saída do inversor pelo sistema de equações 4.12, sendo psaída a potência de saída
normalizada com relação à potência nominal do inversor, P inv0 a potência nominal do
inversor. O parâmetro k0 representa as perdas independentes do carregamento do inversor,
que são as perdas por autoconsumo. O parâmetro k 1 representa as perdas linearmente
dependentes da potência de operação (coeficiente de queda de tensão: diodos, dispositivos de
comutação, etc) e o parâmetro k2 representa as perdas dependentes do quadrado da potência
(coeficiente de perdas ôhmicas: cabos, bobinas, resistências, etc) (MACÊDO, 2006). A
primeira equação de 4.12 apresenta a limitação de potência de saída à potência nominal CA.

𝑚𝑎𝑥 𝑚𝑎𝑥
𝑃𝑠𝑎í𝑑𝑎 = 𝑃𝑖𝑛𝑣 … … … 𝑠𝑒 𝑃𝑠𝑎í𝑑𝑎 ≥ 𝑃𝑖𝑛𝑣
0
𝑃𝑆𝑎í𝑑𝑎 = 0 … … … 𝑠𝑒𝑃𝐹𝑉 ≤ 𝑘0 𝑃𝑖𝑛𝑣 (4.12)
0 0 𝑚𝑎𝑥
𝑃𝑆𝑎í𝑑𝑎 = 𝑝𝑆𝑎í𝑑𝑎 𝑃𝑖𝑛𝑣 … … … 𝑠𝑒𝑘0 𝑃𝑖𝑛𝑣 < 𝑃𝑆𝑎í𝑑𝑎 < 𝑃𝑖𝑛𝑣

O parâmetro PSaída por sua vez é obtido pela solução da Equação 4.13, sendo os
parâmetros k1, k2 e k3 determinados pelas Equações 4.14 a 4.16, sendo ηinv1 a eficiência do
inversor a 100% da potência nominal, ηinv0,5 a eficiência a 50% da potência nominal e ηinv0,1 a
eficiência a 10% da potência nominal.
70

2
𝑘0 − 𝑝𝐹𝑉 + 1 + 𝑘1 𝑝𝑠𝑎í𝑑𝑎 + 𝑘2 𝑝𝑠𝑎í𝑑𝑎 =0 (4.13)

1 1 1 1 5 1
𝑘0 = − + (4.14)
9 𝜂 𝑖𝑛𝑣 1 4 𝜂 𝑖𝑛𝑣 0,5 36 𝜂 𝑖𝑛𝑣 0,1

4 1 33 1 5 1
𝑘1 = − + − − 1 (4.15)
3 𝜂 𝑖𝑛𝑣 1 12 𝜂 𝑖𝑛𝑣 0,5 12 𝜂 𝑖𝑛𝑣 0,1

20 1 5 1 5 1
𝑘2 = − + (4.16)
9 𝜂 𝑖𝑛𝑣 1 2 𝜂 𝑖𝑛𝑣 0,5 18 𝜂 𝑖𝑛𝑣 0,1

A potência de saída do inversor para os intervalos horários da simulação foram então


obtidos por meio do modelo de Schmidt et al. (1992) descrito acima e com o uso da curva de
eficiência do inversor da linha Eltek THEIA, que pode ser visualizada na Figura 4.9.

Figura 4.9 Curva de eficiência dos inversores da linha Eltek THEIA 2.0 a 4.4HE-t UL.
Fonte: Datasheet Eltek THEIA (ELTEK, 2015).
71

4.5 FATOR DE DIMENSIONAMENTO DO INVERSOR PELO MÉTODO DE LIMITE


DE PERDAS POR LIMITAÇÃO DE POTÊNCIA

Com os modelos matemáticos para simulação do sistema na base de dados horários,


foi possível obter os valores de FDI. A Figura 4.10 ilustra os resultados da análise do FDI
pelo método de perda anual de energia máxima de 0,5% por limitação de potência. Os
mesmos resultados são obtidos para todos inversores da linha THEIA, uma vez que eles
apresentam a mesma curva de eficiência - um dos fatores determinantes para a análise do FDI.

Figura 4.10 Curvas de FDI em função do ângulo azimutal de superfície para diferentes ângulos
de inclinação do gerador para o inversor solar Eltek THEIA 4.4 HE-t UL.
Fonte: Elaboração própria.

Uma forma de expressar de maneira mais intuitiva o resultado da análise do FDI é


calculando o seu inverso, ou seja, a razão entre potência nominal do gerador pela potência
nominal CA do inversor solar. A razão PFV/PINV (correspondente à relação 1/FDI) significa o
fator pelo qual a potência do gerador pode ser aumentada em relação à potência do inversor,
de acordo com o posicionamento (inclinação e orientação) do gerador sem resultar em
grandes perdas por limitação de potência. Este fator está representado na Figura 4.11.
Os valores obtidos consideraram uma perda de energia máxima de 0,5% por limitação
de potência do lado CC na simulação, no intervalo de tempo considerado (doze anos) nas
72

medições. Entretanto as perdas percentuais anuais resultaram em valores diferentes dos totais,
como mostra a Tabela 4.4.

Figura 4.11 Curvas de PFV/PINV em função do ângulo azimutal de superfície para diferentes
ângulos de inclinação do gerador para o inversor solar Eltek THEIA 4.4 HE-t UL.
Fonte: Elaboração própria.

Tabela 4.4 Perdas percentuais por limitação de potência em diferentes períodos para 20° de
inclinação e 0° de ângulo azimutal dos módulos.
Fonte: Elaboração própria.
Perda por limitação de potência
Período
(%)
Média 2002 - 2013 0,47
2002 0,62
2003 0,85
2004 0,71
2005 0,46
2006 0,28
2007 0,37
2008 0,26
2009 0,37
2010 0,41
2011 0,44
2012 0,45
2013 0,33
73

Na Tabela 4.4 são exibidos os valores estimados de perdas por limitação de potência
anuais e total para o posicionamento do gerador a 20° de inclinação e orientação de 0°. Este
resultado é importante, pois reforça a necessidade de se possuir uma base de dados com um
período longo de observação para a análise de dimensionamento de um SFCR. Isso porque
enquanto em um período foi estimado um percentual de perdas de 0,26% por limitação de
potência, em outro período obteve-se um percentual de 0,85% dois anos antes.
Outro ponto observado se refere aos picos de perda de geração por limitação de
potência. Eles ocorreram nos dias em que foram registradas as maiores perdas no inversor no
processo de limitação de potência. A Figura 4.12 apresenta o dia crítico para a inclinação de
20° e orientação sentido norte geográfico (posicionamento ótimo de geração anual), trata-se
do dia 12 de março de 2004. No período entre 12 e 13 horas, estimou-se que
aproximadamente 19,7% da potência de entrada CC seria perdida por limitação de potência
no inversor, o que equivaleria a 908 Wh no período de uma hora. É possível observar na
Figura 4.12 também os níveis de potência CC de entrada do inversor caso o FDI fosse
unitário, ou seja, potência do gerador igual à potência do inversor solar. Mesmo no horário de
pico de Irradiação relativo ao período de 12 anos, a potência CC de entrada não alcançaria a
máxima potência de processamento do inversor solar, o que também justifica a vantagem de
envolver o FDI na etapa de dimensionamento.

Figura 4.12 Pico de perda de geração por limitação de potência para o posicionamento de 20° de
inclinação e 0° ângulo azimutal.
Fonte: Elaboração própria.
74

4.6 FIGURAS DE MÉRITO NO CONTEXTO DA ANÁLISE DO FDI

Há algumas variáveis utilizadas em análises de geração de sistemas fotovoltaicos


difundidas na literatura, também conhecidas como figuras de mérito. Elas permitem analisar o
funcionamento de um SFCR do ponto de vista da produção de energia, recurso solar, perdas e
custos financeiros de modo a orientar o dimensionamento ou analisar uma planta em
operação. Dentre elas destacam-se: Fator de Capacidade (FC), Energia Específica (EE),
Produtividade (YF), Taxa de Desempenho (TD) ou Performance Ratio (PR) e custo da energia
produzida. O custo da energia produzida, assim como as demais variáveis financeiras, é
abordado na seção 4.7.
De acordo com Macêdo (2006), em aplicações de energia solar fotovoltaica, a EE
normalmente é analisada na forma da Produtividade (YF), dada pela Equação 4.17, que
relaciona a energia gerada em um período com a potência nominal do gerador fotovoltaico.
Esta variável é muito utilizada para comparar a geração anual de energia de um sistema em
diferentes regiões, avaliando, portanto, qual região é mais atrativa para a instalação de um
sistema fotovoltaico, do ponto de vista do potencial de geração em kWh/kWp.

𝑡2
𝑃
𝑡1 𝑆𝑎 í𝑑𝑎
𝑑𝑡
𝑌𝐹 = 0 (4.17)
𝑃𝐹𝑉

A Figura 4.13 apresenta uma análise dessa variável para o inversor Eltek THEIA 4.4
HE-t UL a) a geração anual média de energia em kWh/ano quando o FDI é unitário, b) a
geração anual média de energia em kWh/ano quando o FDI é ideal, c) a produtividade do
sistema em kWh/kWp.ano quando o FDI é unitário e d) a produtividade do sistema em
kWh/kWp.ano quando o FDI é ideal. Quanto mais distante do ponto ideal de posicionamento,
neste caso β = 16,7° e γs = 0°, maior é o potencial ganho energético anual do sistema pelo
ajuste do FDI. Foram consideradas para as estimativas de geração perdas de 5% na captação
da Irradiação na superfície dos módulos por acúmulo de poeira para se estimar melhor o uso
da energia solar, tal qual ocorreria em um sistema prático. Este fator não foi considerado para
análise do dimensionamento por que o dimensionamento deve atender tanto a uma condição
de painéis submetidos à sujeira como painéis submetidos à manutenção preventiva constante.
Foram consideradas também 2% de perdas por degradação dos módulos pela luz ou Light
Induced Degradation (LID) e 1% de perdas por possível descasamento dos parâmetros reais
dos módulos ou efeitos de sombreamento parcial. Estes fatores podem ser calculados de
75

outras formas, mas esta seria uma estimativa simples e padrão que pode ser adotada em
softwares existentes como PVsyst.

Figura 4.13 Geração média anual para o inversor 4.4 quando a) FDI unitário e b) FDI
ideal e produtividade YF do sistema quando c) FDI unitário e d) FDI ideal.
Fonte: Elaboração própria.

A Figura 4.13 apresenta a produtividade do sistema nas duas condições de


dimensionamento gerador-inversor. É possível observar um comportamento pouco
influenciável pela relação FDI, resultando em um pequeno decréscimo na produtividade com
o aumento da potência do gerador. A produtividade do sistema é máxima para valores de FDI
entre 1 e 1,1, o que resultaria em um subdimensionamento do inversor, enquanto que a análise
financeira do mesmo sistema indica para um sobredimensionamento, como é apresentado na
seção 4.7. Este comportamento foi obtido devido à alta eficiência do inversor mesmo em
baixos níveis de potência CC de entrada. Ao ser submetido a 10% da potência nominal CC, o
inversor já apresenta eficiência de conversão CC-CA da ordem de 94%. Desta forma, as
variações nas perdas por limitação de potência se tornam mais representativas com relação à
produtividade que as variações nas perdas na conversão CC-CA. Isto se torna evidente
observando a Figura 4.14, que ilustra as perdas na conversão CC-CA, por limitação de
76

potência e total no inversor em função do FDI no caso β = 20° e γ s = 0°. Uma perda mínima
de 3,7% foi registrada para um FDI próximo de 1,1.

Figura 4.14 Perdas no inversor por conversão CC-CA e limitação de potência.


Fonte: Elaboração própria.

A Taxa de Desempenho ou Performance Ratio, definida pela Equação 4.18, analisa


um sistema fotovoltaico do ponto de vista das perdas totais do sistema. Nesta análise se torna
evidente o desempenho do sistema do ponto de vista das perdas e não da geração de energia
propriamente dita.

𝑌𝐹
𝑃𝑅 = 𝑡2 (4.18)
𝑡1 𝐻 𝑡,𝛽 𝑑𝑡
𝐻 𝑟𝑒𝑓

Um exemplo desta análise pode ser encontrado em AYOMPE et. al (2011), que
apresenta a PR sazonal medida de um sistema fotovoltaico de 1,72 kWp na Irlanda. Durante o
inverno, no qual temperaturas mais baixas são registradas, foram obtidas PRs da ordem de
85%, enquanto que no verão ela atinge valores próximos a 79%. Isto evidencia as perdas por
temperatura no gerador, que são a principal causa de decréscimo da PR, principalmente de
sistemas fotovoltaicos que utilizam a tecnologia de silício cristalino, dado que o seu
coeficiente de temperatura é elevado. A Performance Ratio se manteve praticamente
77

constante com variações na inclinação e ângulo azimutal na faixa de 79% a 82%, sendo um
pouco maior para orientações a Leste, que beneficiam o Sol matutino, quando temperaturas
mais baixas são registradas. Uma vez que depende da produtividade, a PR também esteve
praticamente constante em função do FDI.
O Fator de Capacidade, dado pela Equação 4.19, relaciona a produção real ou
estimada de energia de um sistema de geração em um intervalo de tempo (t2 – t1) com a
energia que seria gerada na potência nominal durante o mesmo intervalo de tempo. Sendo PG0
a potência nominal do gerador a STC, igual a PFV.

𝑡2
𝑃
𝑡1 𝑆𝑎 í𝑑𝑎
𝑑𝑡
𝐹𝐶 = (4.19)
𝑃𝐺0 (𝑡 2 −𝑡 1 )

Em outras palavras, o FC representa o percentual de horas que uma usina de geração


de energia opera sob condições nominais, normalmente relativo ao período de um ano. O FC
de usinas solares fotovoltaicas é baixo se comparado a fontes tradicionais como hidráulica,
térmica e nuclear, principalmente devido à própria indisponibilidade de Irradiação ao longo de
todo o dia e às perdas do sistema já abordadas anteriormente.
Pelo fato de os SFCR serem supostamente projetados com potências nominais
distintas entre gerador e inversores, é possível que sejam obtidos valores de FC que
relacionam a produção de energia com a potência nominal do gerador ou também com a
potência nominal do inversor. É o caso das usinas contratadas no 1º LER de 2015 (EPE,
2015). A Tabela 4.5 apresenta, dentre outras informações de projetos de algumas das usinas
contradas, os FCs estimados com relação à Potência CC do gerador e com relação à Potência
CA dos bancos de inversores, também chamada Potência Habilitada. Conforme os dados
apresentados, aproximadamente 93% dos empreendimentos utilizaram como tecnologia de
placas o silício monocristalino ou policristalino e apenas duas usinas, correspondentes a 7%
dos projetos, utilizaram módulos de filme fino. São estimados valores de FC entre 18% e 24%
para as usinas contratadas, sendo que a maioria adotará sistema de rastreamento do Sol, para
aumento da Irradiação total incidente nos planos dos módulos. Os FDIs das usinas contratadas
variaram de 0,74 a 0,93.
78

Tabela 4.5 Empreendimentos vencedores no 1º LER 2015: Características técnicas básicas.


Fonte: Expansão da Geração: 1º Leilão de Energia de Reserva de 2015 (EPE, 2015).

A Figura 4.15 apresenta o FC estimado para o sistema simulado na análise do FDI


relacionado à Potência nominal CC do gerador (STC) e à potência CA do inversor de acordo
com o posicionamento do gerador quanto à inclinação e orientação dos painéis. Na
configuração de maior geração anual, foi estimado um FC superior a 17% em relação à
potência do gerador e 22% em relação à potência do inversor.

Figura 4.15 Fator de Capacidade do SFCR simulado na condição de FDI ideal em a) relacionado
à potência CC do gerador e b) relacionado à potência CA do inversor.
Fonte: Elaboração própria.
79

4.7 ANÁLISE FINANCEIRA NO CONTEXTO DA ANÁLISE DO FDI

Uma vez que o FDI deve convergir à melhor relação custo-benefício do ponto de
vista de investimento, torna-se necessário analisar o impacto da análise do FDI dos SFCR
integrados a construções do ponto de vista financeiro. As variáveis financeiras analisadas aqui
serão: o Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e custo da energia
produzida.
A Tabela 4.6 apresenta o custo de sistemas de microgeração solar fotovoltaica com
base em orçamentos de mercado em Novembro de 2015, considerando o mesmo fabricante
dos componentes para diferentes tamanhos de sistemas. Foi considerada uma taxa de 15% do
Investimento Inicial (II) para os custos administrativos e de instalação do SFCR. Foi
considerada também uma conversão de 1 US$ = 3,8 R$, câmbio do dólar referente ao mesmo
período do orçamento. Os acessórios se tratam de estruturas de fixação, cabeamento e quadro
de proteção CC. A soma dos custos resulta no valor do II total do SFCR em análise.

Tabela 4.6 Custos de componentes e serviços de SFCR para microgeração distribuída.


Fonte: Elaboração própria.

Custos (US$/kWp)
Pot. do Sistema 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 6,0
Gerador 864,81 864,81 864,81 864,81 864,81 864,81 864,81 864,81 864,81
Inversor 912,46 737,89 639,37 471,84 452,78 408,68 397,89 389,26 372,72
Acessórios 369,30 362,50 254,00 225,88 236,47 219,01 194,68 175,21 175,79
Administração 321,98 294,78 263,73 234,38 233,11 223,88 218,61 214,39 212,00

Ao se analisar financeiramente os SFCR em longo prazo, deve-se considerar a vida


útil do sistema. Apesar de haver relatos de sistemas com durabilidade de 30 anos (FRIESEN,
2014), considerou-se neste documento uma vida útil de 25 anos dos módulos fotovoltaicos.
Tal escolha se justifica pelo fato dos fabricantes de painéis normalmente fornecerem dados de
garantia de eficiência considerando a degradação dos módulos em um horizonte de até 25
anos, como pode ser visto na Figura 4.16. Foi considerada na presente análise uma
degradação anual linear de 0,8% correspondente à garantia fornecida pela Sun Earth referente
ao módulo p-Si 235 Wp. Considerando a geração anual estimada do primeiro ano e a
degradação anual, é possível obter a estimativa de geração anual média de energia no
horizonte de 25 anos.
80

Figura 4.16 Curva de garantia de eficiência do módulo Yingli PANDA 60 células Série 2.
Fonte: Datasheet Yingli PANDA 60 células Série 2 (YINGLI SOLAR, 2015)

De posse do II e da estimativa de geração do SFCR em 25 anos, é necessário


transformar a estimativa de geração anual em receita anual (US$). A economia financeira
anual será equivalente ao produto da geração média anual pela tarifa de energia no mesmo
período. Prever o valor da tarifa de energia da concessionária é uma tarefa complexa, uma vez
que historicamente a variação do preço da energia elétrica não apresentou comportamento
linear, mas sim comportamento atrelado a fatores econômicos diversos. Uma forma de
simplificar a análise financeira de SFCR é considerar que a mesma variação na tarifa de
energia elétrica em um período de observação histórico será mantido pelos próximos 25 anos.
Um estudo publicado pelo Instituto Brasileiro de Economias e Finanças (Ibecon)
comparou índices de 31 distribuidoras com mercado atendido acima de 1 TWh/ano com a
inflação em 10 anos e constatou que a energia elétrica sofreu um aumento superior aos dos
índices acumulados de inflação medidos pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) e
pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). O estudo aponta que foi registrado no
período de 2003 a 2014 um reajuste total na tarifa da Companhia de Energia de Goiás CELG-
D de +75,6% para consumidores atendidos pela tarifa verde (COELHO e COUTO, 2014).

4.7.1 Fluxo de Caixa

Uma vez que o valor final se relaciona com o valor inicial em um sistema submetido
a juros compostos pela Equação 4.20, a taxa anual de reajuste da energia pode ser encontrada
81

pela Equação 4.21, pela qual é possível concluir que em 11 anos o aumento foi de 5,25% aa.
Foi considerado este reajuste anual para a análise financeira deste estudo.

𝑉𝐹 = 𝑉𝐼(1 + 𝑖)𝑛 (4.20)

𝑛 𝑉𝐹
𝑖= (4.21)
𝑉𝐼

Os dados apresentados permitem a construção do Fluxo de Caixa do SFCR em


estudo. O Fluxo de Caixa é um diagrama que apresenta em escala temporal os investimentos
anuais e receita estimada gerada pelo mesmo. No caso dos SFCR, torna-se evidente o alto
valor de investimento e a receita ao longo do horizonte de 25 anos. A Figura 4.17 apresenta o
Fluxo de Caixa de um SFCR instalado em Goiás baseado nas estimativas realizadas
anteriormente e considerando o histórico de aumento de energia elétrica. Foi considerado um
custo anual de operação e manutenção (OM) de 2% do II, idêntico ao adotado por MACÊDO
(2006). A tarifa de energia utilizada nos cálculos foi o valor da tarifa residencial da CELG-D
no período do orçamento dos componentes de SFCR, que era 0,67 R$/kWh = 0,17 US$/kWh.
Os custos adicionais a cada 10 anos correspondem às substituições dos inversores, que
normalmente apresentam vida útil estimada em 10 anos.

Figura 4.17 Fluxo de Caixa do SFCR de 4,5 kWp simulado na condição de FDI unitário.
Fonte: Elaboração própria.
82

4.7.2 Valor Presente Líquido (VPL)

O Fluxo de Caixa é uma importante ferramenta para análise financeira de


investimentos. Entretanto, de forma a se avaliar o investimento de forma mais realística, deve
ser considerado o custo de oportunidade do dinheiro investido. O investimento no SFCR deve
ser comparado com outro investimento com baixo grau de risco, disponível para aplicação do
capital em análise, ou seja, a uma Taxa de Mínima Atratividade (TMA) (HIRSCHFELD,
2009; CLEMENTE e SOUZA, 2008).
O VPL, dado pela Equação 4.22, é uma técnica de análise de investimentos na qual
todos os custos e lucros são concentrados na data inicial do investimento, considerando uma
taxa de desconto no valor do dinheiro futuro igual à TMA. Na Equação 4.22, i corresponde à
taxa de desconto e n o ano em que o custo ou lucro está localizado à partir do II. Foi
considerada uma taxa de desconto de 12% para este estudo, idêntica à utilizada por MACÊDO
(2006). Se o VPL for positivo significa que o projeto recupera o investimento inicial e
remunera também aquilo que teria sido ganho se o capital tivesse aplicado à TMA. Do ponto
de vista financeiro, se o VPL é positivo, o investimento merece continuar sendo analisado. A
TIR é obtida quando o VPL é igualado a zero e significa, em outras palavras, a taxa de retorno
do investimento, ou seja, a taxa na qual o capital é incrementado durante o período do
investimento.

𝑛
𝑉𝑃𝐿 = 0 𝑉𝐹𝑛 (1 + 𝑖)−𝑛 (4.22)

O custo da energia produzida pode ser obtido pela Equação 4.23 (MACÊDO, 2006).
Por outro lado, há outro equacionamento fornecido pelo CRESESB e é apresentado na
Equação 4.24, na qual CAPEX corresponde ao custo de investimento do sistema fotovoltaico,
VP(OPEX) ao valor presente de custos de OM ao longo da vida útil da instalação e VP(EP) o
valor presente da energia produzida ao longo da vida útil da instalação. Vale ressaltar que em
ambas as referências é evidenciada a relação entre o FC e o custo da energia produzida. Os
mesmos parâmetros foram utilizados para o VPL, a TIR e o custo da energia produzida pelo
SFCR simulado.

𝑟(1+𝑟)𝑛 𝐼𝐼
𝐶= + 𝑂𝑀 (4.23)
(1+𝑟)𝑛 −1 87,6𝐹𝐶
83

𝐶𝐴𝑃𝐸 𝑋+𝑉𝑃 𝑂𝑃𝐸𝑋


𝐶𝐸 = (4.24)
𝑉𝑃 (𝐸𝑃)

4.7.3 Resultados e análise

A Figura 4.18 apresenta o comportamento do VPL e da TIR do sistema na condição


de FDI unitário. Foi obtida uma Taxa Interna de Retorno da ordem de 18,31% para o sistema
no ponto ótimo de geração, significa que o investimento tem potencial competitivo mesmo
sem ajuste do FDI, uma vez que esta é uma boa taxa de rendimento para SFCR, por se tratar
de um investimento de baixo risco.

Figura 4.18 VPL e TIR do SFCR na condição FDI unitário.


Fonte: Elaboração própria.
84

A Figura 4.19 apresenta o comportamento do VPL e da TIR do sistema na condição


de FDI ideal pelo método do limite de perdas por limitação de potência. Foi obtida uma Taxa
Interna de Retorno da ordem de 20,32% para o sistema no ponto ótimo de geração (β = 20° e
γs = -15°), o que indica um aumento de 10,9% na taxa de retorno do investimento,
aumentando a atratividade financeira do investimento.

Figura 4.19 VPL e TIR do SFCR na condição de FDI ideal.


Fonte: Elaboração própria.
85

A Figura 4.20 apresenta o comportamento do Custo da energia produzida em


US$/kWh do sistema nas condições de FDI unitário e FDI ideal do ponto de vista de perdas
por limitação. Também houve um decréscimo no custo da energia produzida acima de 10%
pelo ajuste ideal do tamanho relativo gerador-inversor.

Figura 4.20 Custo da energia produzida em US$/kWh nas condições de FDI unitário e FDI ideal.
Fonte: Elaboração própria.
86

O custo da energia produzida permite a comparação do custo da geração de SFCR


com outras fontes de energia elétrica. A Tabela 4.7 apresenta o Custo Marginal da Expansão
elaborado pela EPE por diferentes fontes em 2014 e 2015. É possível notar um aumento no
custo marginal da expansão em todas fontes (em termos de geração centralizada) com exceção
das UFVs, o que evidencia o aumento de competitividade do setor de energia solar
fotovoltaica no cenário energético.

Tabela 4.7 Custo Marginal da Expansão para diferentes fontes de energia em 2014 e 2015.
Fonte: Custo Marginal da Expansão CME 2014 e CME 2015 (EPE, 2014; EPE, 2015).
CME 2014 CME 2015
Fonte de Energia
(R$/MWh) (R$/MWh)
Hidrelétrica 128,4 134,7
PCH 150,1 161,2
Eólica 128,3 138,2
Biomassa 134,9 164,4
Gás Natural 146,2 190,5
Solar 300,0 220,6

A Figura 4.21 apresenta o custo da energia produzida convertido para R$/MWh do


SFCR simulado na condição de FDI ideal. É possível observar que a energia solar
fotovoltaica no ambiente da microgeração se torna cada vez mais competitiva com relação às
fontes tradicionais do ponto de vista de investimento, no caso desta análise, chegando a 187
R$/MWh no ponto ótimo de geração.

Figura 4.21 Custo da energia produzida em R$/MWh na condição de FDI ideal.


Fonte: Elaboração própria.
87

4.8 COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISE DO FDI

A Figura 4.22 apresenta o custo da energia produzida em função do FDI para o


sistema simulado na configuração de ótimo ideal na escala de 5°, que se trata de β = 20° e γs =
0°. Esta curva pode ser obtida para todas configurações de inclinação e orientação. É possível
observar os pontos da curva nos quais o FDI é otimizado para o custo da energia produzida
(primeiro marcador à esquerda), para a produtividade (último marcador à direita) e pela
análise de perda máxima por limitação de potência (marcador central).
A curva demonstra que o ajuste do FDI pela máxima produtividade não converge
para melhores indicadores financeiros, sugerindo a um subdimensionamento do inversor. Do
contrário, o ajuste pelo menor custo da energia não contempla o tempo a que o inversor estará
submetido a sobrecarga.
Entendemos que a análise pelo método de perdas máximas por limitação de potência
seja uma forma de orientação do FDI considerando um limite de submissão do inversor à
sobrecarga elétrica, uma vez que perdas adicionais por temperatura de operação do inversor e
possível redução de vida útil podem inviabilizar o sobredimensionamento excessivo do
inversor.

Figura 4.22 Custo da energia produzida em US$/kWh em função do FDI.


Fonte: Elaboração própria.
88

4.9 CONCLUSÕES

A análise do FDI com o algoritmo apresentado agregou a vantagem de controle dos


parâmetros de simulação fornecidos pelos fabricantes de SFCR, o que nem sempre é possível
com uso de ferramentas existentes de análise de SFV, entretanto é notório o desafio de
modelagem envolvendo as n variáveis de análise de SFCR.
A análise com uso de base de dados em 12 anos permitiu observar uma variação
natural na irradiação global horizontal para uma mesma localidade e, consequentemente, uma
variação anual nos indicadores de geração. Uma orientação do dimensionamento com base
nos indicadores como perdas por limitação de potência deve considerar que o comportamento
do sistema é variável ano a ano e, portanto, uma simulação em vários ciclos anuais agrega
confiabilidade à análise do dimensionamento. A análise da base de dados locais em
comparação a uma distribuição horária sintética indicou neste caso que a última resultou em
estimativas superiores que a primeira principalmente na faixa de maior irradiância, indo de
900 W/m² a 1250 W/m².
A hipótese inicial de aprimoramento de indicadores financeiros por meio da análise
do FDI é comprovada e quantificada, resultando em reduções da ordem de 10% no custo da
energia produzida e aumento da ordem de 10% na TIR do investimento. Dentre as
metodologias de análise do FDI, conclui-se que o método de perdas máximas por limitação de
potência seja o método mais apropriado dentre os considerados no estudo, uma vez que
converge para melhores indicadores financeiros, mas também considera um limite de
operação a sobrecarga durante o período analisado. Os autores sugerem que a segurança do
inversor quanto à sobrecarga seja testada experimentalmente.
89

5 ESTUDO DE CASO DO SFCR DA EMC - UFG

O SFCR deste estudo de caso será instalado no Bloco B da Escola de Engenharia da


UFG por meio do Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) UFG-Espora e trata-se de
um sistema de potência nominal de 33,84kWp composto por 144 módulos p-Si da Sun
Earth® de 235 Wp. Os inversores utilizados são da linha Eltek® THEIA de diferentes
potências nominais, que são os modelos 2.9 e 4.4 apresentados na Tabela 2. Os inversores são
classificados como inversores centrais, pois possuem um único sistema SPPM e apresentam a
possibilidade de conexão de até três strings em paralelo.
A Figura 5.1 apresenta a vista aérea do telhado do Bloco B, onde será instalado o
SFCR do Projeto de P&D. O telhado é composto de uma área total de 273 m² com ângulo
azimutal de superfície igual a 15° e outros 273 m² com ângulo azimutal de superfície igual a -
165° (PIMENTEL, 2014).

Figura 5.1 Vista aérea do Bloco B da Escola de Engenharia da UFG.


Fonte: Relatório técnico do projeto P&D UFG-Espora Ano 1 – mês 4 (PIMENTEL, 2014).

A Figura 5.2 apresenta a secção transversal da cobertura do Bloco B. É possível


visualizar a inclinação estimada de 10° para ambas as faces norte e sul do telhado. É possível
observar também que as platibandas geram sombreamento em parte das faces em diferentes
momentos do ano. Este sombreamento não é considerado na análise do dimensionamento, ele
90

apenas influencia na área útil do telhado para a instalação do SFCR. A análise do impacto
desse sombreamento pode ser abordada em um eventual trabalho futuro.

Figura 5.2 Vista da secção transversal da cobertura do bloco B da Escola de Engenharia.


Fonte: Relatório técnico do projeto P&D UFG-Espora Ano 1 – mês 4 (PIMENTEL, 2014).

5.1 CONSIDERAÇÕES DE DIMENSIONAMENTO ELÉTRICO DE UM SFCR REAL

Foi abordada nos capítulos anteriores a análise do FDI, uma variável de


dimensionamento de SFCR a ser analisada que permite a obtenção de melhores indicadores
financeiros do sistema. Entretanto outros aspectos técnicos do ponto de vista elétrico devem
ser atendidos para que este sistema de fato resulte em bons rendimentos reais e para que seja
realizada uma conexão segura e adequada.
O casamento gerador-inversor deve ocorrer não apenas do ponto de vista da
potência, mas também do perfil tensão-corrente do gerador e do inversor. Do ponto de vista
da tensão, o arranjo de gerador deve atender às Equações 5.1 e 5.2, sendo V mp-min a tensão de
máxima potência na maior temperatura que os módulos podem atingir durante o dia para a
localidade em análise, VMPPT-min a tensão mínima que o gerador deve alcançar para que o
algoritmo de SPPM do inversor opere, Vmp-max a tensão de máxima potência na menor
temperatura que os módulos podem antigir durante o dia para a localidade em análise e VMPPT-
max a tensão máxima que o gerador pode alcançar para que o algoritmo de SPPM do inversor
opere. Caso as Equações 5.1 e 5.2 não sejam satisfeitas integralmente, perdas adicionais serão
obtidas pois o gerador não irá operar em máxima potência nesses períodos.

𝑛º𝑚ó𝑑𝑢𝑙𝑜𝑠𝑠é𝑟𝑖𝑒 𝑥 𝑉𝑚𝑝 −𝑚𝑖𝑛 > 𝑉𝑀𝑃𝑃𝑇 −𝑚𝑖𝑛 (5.1)

𝑛º𝑚ó𝑑𝑢𝑙𝑜𝑠𝑠é𝑟𝑖𝑒 𝑥 𝑉𝑚𝑝 −𝑚𝑎𝑥 < 𝑉𝑀𝑃𝑃𝑇 −𝑚𝑎𝑥 (5.2)


91

Além das condições de SPPM, o inversor normalmente apresenta um limite de


tensão CC a que pode ser submetido, ou seja, a Equação 5.3 também deve ser satisfeita, sendo
VOC-max a tensão de circuito-aberto na menor temperatura que os módulos podem atingir
durante o dia para a localidade (obtido pela Equação 3.3) e VCC-max a tensão CC máxima que o
inversor pode ser submetido. Esta condição deve ser satisfeita por que em determinados
períodos, principalmente nas manhãs de inverno, a tensão do gerador pode se elevar devido às
baixas temperaturas, mas o inversor pode não estar conectado à rede devido aos baixos níveis
de Irradiância incidentes no plano dos módulos.

𝑛º𝑚ó𝑑𝑢𝑙𝑜𝑠𝑠é𝑟𝑖𝑒 𝑥 𝑉𝑂𝐶−𝑚𝑎𝑥 < 𝑉𝐶𝐶−𝑚𝑎𝑥 (5.3)

Do ponto de vista da corrente, há também uma corrente máxima CC que o inversor


pode ser submetido e então o sistema deve satisfazer também a Equação 5.4, sendo I mp-max a
corrente de máxima potência na maior Irradiância obtida para o plano dos módulos para a
localidade em análise e ICC-max a corrente máxima CC de entrada do inversor.

𝑛º𝑠𝑡𝑟𝑖𝑛𝑔𝑠𝑝𝑎𝑟𝑎𝑙𝑒𝑙𝑜 𝑥 𝐼𝑚𝑝 −𝑚𝑎𝑥 < 𝐼𝐶𝐶−𝑚𝑎𝑥 (5.4)

A análise do FDI foi aplicada aos inversores para as duas configurações possíveis (γ
= 15° e γ = -165°), o que permite obter o número de módulos que cada inversor permite
operar em segurança com geração de energia aprimorada para o projeto descrito. Os
parâmetros do inversor são apresentados na Tabela 2. A análise permite definir também a
otimização do arranjo de módulos para cada inversor, caso o gerador seja instalado na face
norte ou sul, considerando também aspectos relacionados à tensão e corrente de entrada CC.
Os resultados dessa análise são apresentados na Tabela 5.1.
92

Tabela 5.1 Resultados da otimização do dimensionamento gerador-inversor do SFCR da UFG.


Fonte: Elaboração própria.

2.9 HE-t UL 4.4 HE-t UL


Face Norte Face Sul Face Norte Face Sul
FDI aprimorado 0,7664 0,7594 0,7666 0,7604
Total de módulos 15 15 24 24
Arranjo 1 fileira 1 fileira 2 fileiras 2 fileiras
Vmp de Operação 362 - 485V 361 - 485V 290 - 388V 289 - 388V
Voc-max 588 V 588 V 470 V 470 V
Imp-max 9,16A 9,08A 18,32A 18,17A
Perdas (limitação) 0,08% 0,09% 0,26% 0,24%
Perda (pico) 417,5Wh 450 Wh 858,7Wh 895,6Wh

O arranjo para o inversor de modelo 4.4 é otimizado exclusivamente pela análise de


FDI, resultando em 24 módulos divididos em 2 strings em paralelo, para a tensão de operação
do gerador não exceder o limite superior da tensão SPPM do inversor. O arranjo para o
inversor modelo 2.9 deve possuir apenas 15 módulos em série, apesar de a análise de FDI
permitir 16. Isso ocorre por que a conexão de 16 módulos em série resulta na ultrapassagem
da tensão superior de SPPM do inversor que é de 500 VCC e também da tensão máxima CC
que o mesmo pode ser submetido. Caso sejam utilizados duas ou três fileiras a corrente
máxima de entrada CC do inversor é ultrapassada. As Figuras 5.3 e 5.4 apresentam os
diagramas multifilares dos subsistemas 2.9 e 4.4 para conexão à rede.

Figura 5.3 Diagrama multifilar do subsistema Eltek THEIA 2.9 HE-t UL.
Fonte: Elaboração própria.
93

Figura 5.4 Diagrama multifilar do subsistema Eltek THEIA 4.4 HE-t UL.
Fonte: Elaboração própria.

Uma vez que fica submetido ao tempo e a intempéries, o cabeamento CC deve ser
específico para aplicações de energia solar fotovoltaica, resistente também à radiação
ultravioleta. O dimensionamento de condutores deve atender aos critérios de capacidade de
condução de corrente e de queda de tensão admissível (ABNT, 2004). Pelo critério de
capacidade de condução de corrente, os condutores devem satisfazer à Equação 5.5, sendo
Iprojeto a corrente considerada de projeto, Icircuito a corrente calculada do circuito, IZ a
capacidade de condução de corrente do condutor, FCT o fator de correção por temperatura e
FCNC o fator de correção por número de circuitos. Deve ser considerado no critério de
capacidade de corrente o método de instalação.
Pelo critério de queda de tensão admissível, os condutores devem satisfazer à
Equação 5.6, sendo ρ a resistividade do cobre, d o comprimento do circuito de corrente
contínua, I a corrente máxima que passa pelo condutor e ΔV a queda de tensão em V tolerada
no cabeamento.

𝐼
𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑖𝑡𝑜
𝐼𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑜 = (𝐹𝐶𝑇𝑥𝐹𝐶𝑁𝐶 < 𝐼𝑍 (5.5)
)

𝜌 .𝑑 .𝐼
𝑆 𝑚𝑚2 = (5.6)
ΔV
94

5.2 CONSIDERAÇÕES DE PROTEÇÃO EM SFCR

Os requisitos para conexão de micro ou minigeradores à rede de distribuição podem


ser visualizados na Tabela 5.2 (ANEEL, 2012). As funções de proteção exigidas são
normalmente desempenhadas pelos inversores, com destaque para a proteção anti-ilhamento,
que deve cessar o fornecimento de energia à rede por meio da abertura do elemento de
desconexão da GD em até 2 segundos em caso de perda da rede (CELG, 2014).

Tabela 5.2 Requisitos mínimos do ponto de conexão da micro e minigeração distribuída.


Fonte: PRODIST Módulo 3 (ANEEL, 2012).

O dimensionamento dos fusíveis e disjuntores para proteção a sobrecorrente deve


satisfazer à Equação 5.7, ou seja, a corrente I N nominal do dispositivo de proteção deve ser
maior que a corrente de projeto do circuito I B e menor ou igual à capacidade de condução de
corrente do condutor. No caso do circuito que contém o SFCR, a corrente de projeto é igual à
máxima I mp estimada nas simulações. Para o SFCR similado, tratam-se dos valores de I mp
máximos apresentados na Tabela 5.1.

𝐼𝐵 < 𝐼𝑁 ≤ 𝐼𝑍 (5.7)
95

É uma exigência das concessionárias o uso de dispositivo de proteção contra surtos


DPS tanto do lado CC quanto do lado CA dos inversores, como foi apresentado nos
diagramas dos subsistemas simulados. Uma vez que o inversor é o componente mais sensível
de um SFCR, as proteções do lado CC e CA e dispositivos de seccionamento para cada parte
do circuito para eventuais manutenções devem operar corretamente.
Aplica-se a instalações com micro ou minigeradores também a proteção contra
descargas atmosféricas. O sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) deve
proteger a área onde o gerador fotovoltaico está instalado e a estrutura de abrigo dos
dispositivos de condicionamento de potência. Os módulos, assim como o inversor e os DPS
devem ser aterrados, como é apresentado nos diagramas das Figuras 48 e 49. A forma como
se dimensiona o SPDA está fora de escopo deste trabalho e não requer ser descrito.

5.3 CONSIDERAÇÕES DE QUALIDADE DA ENERGIA

Com a finalidade de contextualizar critérios e requisitos de inserção de uma fonte


de energia elétrica nos sistemas de distribuição, são abordados em caráter informativo os
critérios de qualidade que os inversores solares devem ser capazes de atender para se
conectarem a rede. O inversor deve ser capaz de atender a estes critérios e de interromper o
fornecimento caso os mesmos não sejam atendidos, são eles:

5.3.1 Tensão em Regime Permanente

O inversor deve permanecer conectado à rede quando a tensão da rede está nos
limites dispostos na Tabela 5.3 (CELG, 2014), caso contrário o SFCR deve interromper o
fornecimento de energia à rede. Este requisito se faz necessário para sistemas monofásicos,
bifásicos ou trifásicos. Além disso, é recomendável que o valor de queda de tensão verificado
entre o ponto de instalação do sistema de GD e o padrão de entrada da unidade consumidora
não exceda 3%.
96

Tabela 5.3 Faixa de tensão de operação CA em regime permanente admissível de um SFCR.


Fonte: Elaboração própria.

Tensão no ponto de Tempo máximo de


conexão comum desligamento
V < 80% 0,4 s
80% ≤ V ≤ 110% Regime de Operação
110% < V 0,2 s

5.3.2 Fator de Potência

Quando o SFCR está injetando potência ativa superior a 20% da potência nominal
do gerador ele deve ser capaz de operar dentro das seguintes faixas de fator de potência (FP)
(CELG, 2014). O sistema deve atingir estes limites em até 10 segundos.

 Sistemas com potência nominal menor ou igual a 3 kW: FP igual a 1 com tolerância
de trabalhar na faixa de 0,98 indutivo até 0,98 capacitivo;

 Sistemas com potência nominal maior que 3 kW e menor ou igual a 6 kW: FP


ajustável de 0,95 indutivo até 0,95 capacitivo;

 Sistemas com potência nominal maior que 6 kW: FP ajustável de 0,9 indutivo até 0,9
capacitivo.

5.3.3 Injeção de Componente CC

O SFCR deve parar de fornecer energia à rede também quando a injeção de


componente CC na rede for superior a 0,5% da corrente nominal do SFCR, no tempo máximo
de 1 s.

5.3.4 Distorção harmônica

Uma vez que se trata de um equipamento de condicionamento de potência, o


inversor solar pode produzir elevados níveis de distorção harmônica da corrente, entretanto a
distorção harmônica total de corrente deve ser inferior a 5% na potência nominal do SFCR.
Além disso, cada harmônico de corrente individual deve ser limitado aos valores apresentados
na Tabela 5.4.
97

Tabela 5.4 Limites de distorção harmônica de corrente aplicáveis a SFCR.


Fonte: Elaboração própria.

Harmônicos Ímpares Limite de Distorção


3ª a 9ª < 4,0%
11ª a 15ª < 2,0%
17ª a 21ª < 1,5%
23ª a 33ª < 0,6%
Harmônicos Pares Limite de Distorção
2ª a 8ª < 1,0%
10ª a 32ª < 0,5%

5.3.5 Faixa operacional de frequência

A normativa da concessionária local estabelece quanto à freqüência de operação


que o inversor deve cessar o fornecimento de energia à rede na ocasião desta assumir valores
abaixo de 57,5 Hz e acima de 62 Hz em um tempo de até 0,2 s e somente deve voltar a operar
quando a freqüência atingir a faixa de 59,9 Hz para variação de freqüência abaixo da nominal
e 60,1 Hz para variação de freqüência acima da nominal.
Quando a freqüência da rede ultrapassar 60,5 Hz e permanecer abaixo de 62 Hz, o
SFCR deve reduzir a potência ativa injetada na rede de acordo com a Equação 5.8, sendo ΔP
a variação da potência ativa injetada em relação à potência ativa injetada no momento em que
a freqüência excede 60,5 Hz, frede a freqüência da rede, fnominal a freqüência nominal da rede e
R a taxa de redução desejada da potência ativa injetada (em %/Hz), ajustada em -40%/Hz.

ΔP = frede − fnominal + 0,5 R (5.8)


98

6 CONCLUSÕES

Este estudo se propôs a avaliar o Fator de Dimensionamento do Inversor aplicado a


Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede integrados a construções em Goiás a partir da
premissa de que a análise desta variável é particular para cada localidade e no pequeno
número de estudos específicos relacionados ao tema na literatura, justifica-se a análise aqui
abordada.
Critérios técnicos e econômicos estão relacionados à análise do FDI, uma vez que
seu estudo se justifica pelo potencial de aprimoramento de indicadores financeiros de SFCR
do ponto de vista de investimento. Entretanto várias considerações técnicas devem ser
observadas para permitirem uma conexão segura de micro ou minigerador em unidades
consumidoras do sistema de distribuição.
Uma revisão da literatura permitiu levantar os fatores relacionados a geração de
energia por SFCR que influenciam a análise do FDI e permitiu levantar também as diferentes
metodologias de orientação do FDI. Dentre os fatores que influenciam o FDI destacam-se:
tecnologia do módulo do gerador, característica Irradiância e Temperatura local e curva de
eficiência do inversor.
Um modelo foi adotado para simular SFCRs, desde a estimativa da Irradiância
incidente no plano dos módulos a partir de uma base de dados de doze anos de medições
locais de Irradiação global horizontal e temperatura, até a estimativa de potência de saída do
gerador e do inversor solar. As diferentes variáveis utilizadas na literatura para orientação de
dimensionamento de SFCR puderam ser analisadas e a partir dos resultados, concluiu-se que
o método de limite de perdas por limitação de potência no inversor corresponda à melhor
proposta para orientação do FDI, uma vez que considera que o sobredimensionamento do
inversor resulta em melhores indicadores financeiros mas que a submissão do equipamento a
longos períodos de sobrecarga pode acarretar em perdas adicionais por sobreaquecimento,
podendo estas reduzir a vida útil do mesmo.
As análises da base de dados e da simulação do sistema permitiram observar a
importância de análises de SFCR considerando longos períodos, inclusive do ponto de vista
de dimensionamento, uma vez que perdas por limitação de potência variam para cada ciclo
anual. Uma comparação com base de dados com distribuição horária sintética da Irradiação
resultou em estimativas mais elevadas nas faixas de Irradiância acima de 900 W/m² para a
mesma em relação as medições locais.
99

Uma faixa de FDI variando de 0,54 a 0,77 foi obtida considerando variações de
inclinação de 0 a 90° e de ângulo azimutal de -90 a +90°. Este ajuste de potência relativa
gerador-inversor resultou em possível ganho da ordem de 10% nos indicadores financeiros
analisados (VPL, TIR e custo da energia produzida). A análise financeira demonstra ainda
que os SFCR já apresentam potencial competitivo do ponto de vista de investimento, por
ofertarem boas taxas de retorno aliadas ao baixo risco do investimento em SFCR.
Sugestões de trabalhos futuros:

 Estudo dos impactos no valor do FDI considerando as perdas por limitação de


temperatura;
 Análise financeira considerando a isenção da CPMF para sistemas de microgeração;
 Impacto das regiões de sombreamento na análise do FDI;
 Análise do FDI pela comparação simulação – monitoramento real;
 Estudo do comportamento das perdas específicas de cada fenômeno em SFCR no
Brasil;
 Estudo do potencial da inserção de SFCR na matriz energética do ponto de vista de
planejamento da expansão do Sistema Interligado;
 Estudo do FDI em sistemas híbridos (conectados à rede com possibilidade de operação
ilhada para fornecimento da unidade consumidora);
 Análise do FDI para aplicações que o inversor opere como elemento compensador
harmônico/reativo em períodos de baixa irradiância solar;
 Análise do FDI considerando o fator de potência do inversor;
 Análise do FDI com bases de dados com tempos de integração de 1 minuto.
100

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