A análise do comportamento sempre foi acusada por outras áreas da
psicologia de deixar de lado temas como sentimentos, emoções, “processos mentais”, memória etc. e priorizar apenas comportamentos visíveis. Porém, na literatura comportamental é possível ver a preocupação de Skinner em tirar o teor mentalista desses assuntos tão relevantes para a psicologia e tentar encaixá-los em uma explicação mais lógica e racional.
É necessário antes de tudo entender que para a Análise do
comportamento esses temas perdem essa roupagem mística que ao longo do tempo lhe vestiram e são analisados também como comportamentos e não como frutos de entidades mentais. Um desses temas é Memória.
Memória no senso comum refere-se a capacidade de lembrar de algo
que já foi vivido. Se o sujeito lembra nos mínimos detalhes de algo vivenciado diz-se que ele tem boa memória. É imprescindível que se saiba que memória para a análise do comportamento nada mais é do que um conceito, um termo e não um comportamento e, é exatamente essa uma das primeiras questões a serem debatidas. Segundo Woodworth ( 1921, apud Catania, 1999) para que debates sejam evitados esse termo memória deveria ser substituído por “ lembrar”, visto que isso sim seria uma atividade do sujeito e evitaria conclusões ou suposições mentalistas sobre tal assunto.
Deparamo-nos com três principais questões na psicologia no que diz
respeito ao estudo da memória: o armazenamento, a retenção e a recuperação.
Para falar acerca do armazenamento é necessário que seja solucionada
a questão de como algo “entra” na memória para ser armazenado. Segundo Catania (1999) o lembrar irá depender de como o material a ser lembrado é codificado. Existem dois tipos principais de codificação que é a elaboração e a substituição. Na substituição alguns termos podem ser substituídos por outros que sejam mais fáceis de ocasionarem a resposta lembrar. Na elaboração uma sequencia sem sentido é transformada em frase ou palavra que tenha sentido para o sujeito e assim será codificada mais facilmente. Depois que determinado item for codificado pelo sujeito ele então pode ser armazenado e quanto melhor o item for codificado maior a probabilidade de ele ser lembrado.
Depois de ser codificado e armazenado um determinado item pode ser
recuperado, mas entre o armazenamento e a recuperação existe algo chamado retenção que é a possibilidade de algo ser lembrado. Durante a retenção o material a ser lembrado pode sofrer alterações, por esse motivo os estudos sobre memória consideram o lembrar como um processo reconstrutivo e não reprodutivo. “Um ponto crucial a ser lembrado sobre o lembrar é que ele é uma reconstrução, e não uma reprodução” (Catania, 1999, p. 335).
Algumas variáveis podem afetar no lembrar entre elas estão: a questão
da deterioração que de acordo com Arantes, Mello e Domenícone (2012) seria a própria influencia da passagem do tempo no esquecimento do que se foi aprendido. Na interferência um conteúdo novo aprendido pode interferir no antigo ou vice-versa de modo que “memoria não é simplesmente um registro permanente e imutável de eventos, a ser recuperado intacto quando necessário, como um arquivo em um computador, mas um registro maleável das experiências de alguém, sujeito a alterações de acordo com diferentes ocorrências, como a simples passagem do tempo.” Morgan, Riccio (1998), apud Arantes, Mello e Domenícone (2012).
Para que determinado item seja recuperado da memória é necessário
que haja algo no ambiente que o faça emergir. A codificação de um item é seletiva e por isso algo nunca pode ser lembrado em sua completude apenas algumas propriedades dos estímulos são processadas com maior intensidade e isso envolve a questão da percepção e atenção. Determinado item só pode ser lembrado se houver no ambiente algum estímulo relacionado a ele. Segundo Arantes, Mello e Domenícone (2012) podemos lembrar de alguém mesmo sem ter intenção devido à presença de estímulos sutis no ambiente de ocorrências vividas com essa pessoas e esses estímulos podem até mesmo não ser conscientes.
O olhar analítico-comportamental sobre memória é desmistificador e
volta a colocar a memória não como um processo mental complexo, mas sim como um comportamento que é mantido sob controle de estímulos e pode ser explicado dentro do modelo skinneriano de contingências.
Nesse sentido, dizer que algo foi memorizado significa dizer
que o comportamento foi colocado sob controle de determinados estímulos que, com alguma probabilidade, irão controlar as respostas da mesma classe em situações futuras. Se as contingencias de reforçamento modificam nossa maneira de responder aos estímulos presentes no ambiente, também serão responsáveis pelas mudanças que ocorrerão no futuro, quando retomarmos o comportamento — o que seria descrito como lembrar. (Arantes, Mello e Domeníconi, 2012, p. 70).
Nesse sentido a análise do comportamento busca por meio empírico
discutir o tema memória para que equívocos sejam evitados e o tema não seja tragado pelo teor mentalista e explicações circulares através de suposições de entidades mentais. Bibliografia
Catania, A. Charles Aprendizagem: comportamento, linguagem e
cognição, 4.ed. - Porto Alegre : Artes Medicas Sul, 1999.
Arantes, A.K.L., Domenícone, C., Mello, E.L (2012). Temas clássicos de
Psicologia sob a ótica da análise do comportamento (pp. 56-73). Rio de Janeiro: Guanabara koogan