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INSTITUTO NACIONAL PESQUISAS DA AMZÔNIA - INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTRA NO TRÓPICO


ÚMIDO – PPG-ATU
ATU 031 - AGROECOLOGIA

DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO EM UM


AGROSSISTEMA NA LOCALIDADE “RAMAL DO PAU-ROSA”

Rafael Cunha dos Santos¹

Manaus, 2019

¹Mestrando em Agricultura no Trópico Úmido.


Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

1
RAFAEL CUNHA DOS SANTOS

DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO EM UM


AGROSSISTEMA NA LOCALIDADE “RAMAL DO PAU-ROSA”

Dr. Luiz Augusto Gomes de Souza

Relatório de excursão
elaborado para avaliação como
parte dos requisitos da
disciplina de Agroecologia.

Abril, 2019

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Sumário
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
OBJETIVOS.............................................................................................................. 5
2.1. Objetivo Geral ........................................................................................................ 5
2.2. Objetivos Específicos ............................................................................................ 5
METODOLOGIA ..................................................................................................... 6
3.1. Área de Estudo ....................................................................................................... 6
3.2. Método Utilizado ................................................................................................... 6
RELAÇÃO FAMÍLIA – ESTABELECIMENTO .................................................... 7
4.1. Abordagem sistêmica ............................................................................................. 7
SISTEMA DE OPERAÇÕES ................................................................................... 8
5.1. Sistema de Comando ............................................................................................. 8
5.1.1 Subsistema de Cultivo ................................................................................ 9
5.1.2 Subsistema de criação ............................................................................... 10
5.1.3 Subsistema extrativista ............................................................................. 11
AGROBIODIVERSIDADE DO ESTABELECIMENTO AGRÍCOLA ................ 11
6.1. Espécies Vegetais ................................................................................................ 12
6.2. Espécies Animais ................................................................................................. 13
6.3. Fluxo de Processos............................................................................................... 14
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS ......................................................................... 14
7.1. Cultivos ................................................................................................................ 14
7.2. Criações ............................................................................................................... 16
CONCLUSÃO ........................................................................................................ 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 18
APÊNDICES .......................................................................................................... 20

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INTRODUÇÃO

O presente relatório tem como objetivo a sistematização dos dados coletados em


campo para a caracterização e descrição do agrossistema durante a visita na propriedade
rural, na excursão realizada ao ramal do “Pau-Rosa” como parte componente da disciplina
de Agroecologia, ministrado pelo Dr. Luiz Augusto Gomes de Souza.

Conhecer o processo de ocupação e evolução da agricultura regional, é de


fundamental importância no planejamento do desenvolvimento rural local, na elaboração
de politicas públicas direcionadas ao setor que abastece a mesa da população, bem como
na adequação ao meio de vida que estabeleça o equilíbrio entre a produção que garanta
dignidade aos agricultores e harmonizem com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado.

A evolução do sistema agrário impõe mudanças socioeconômicas e ambientais


decorrentes da ocupação humana. A compreensão dessas relações e evolução do sistema
agrário é complexa, pois é necessário conhecer a dinâmica local e o processo de tomada
de decisão dos agricultores, tal entendimento deve preceder qualquer diretriz ou
intervenção, que leve ao processo de desenvolvimento rural sustentável (Simões 2011).
Para compreender melhor está dinâmica local, é necessário relembrar alguns fatos
históricos.

A Amazônia Brasileira permaneceu praticamente intacta a ação do homem até fins


da década de 1960. No início de 1970, o governo brasileiro preocupado com a integração
da região ao restante do país adota uma política de ocupação e povoamento para referida
região. Foi implementada, através do Programa de Integração Nacional (PIN), a rodovia
Transamazônica, com o objetivo de integrar o Nordeste brasileiro à Amazônia, outra
finalidade foi movida por fins econômicos, baseados na expansão da fronteira agrícola do
país. (Ribeiro et al. 2003; Venturieri 2003).

As histórias das transformações ecológicas, sociais e econômicas de determinada


região explicam a diversidade das explorações do ecossistema e conferem às diferentes
microrregiões certa unidade no seu sistema agrário. A história agrária, como uma
modalidade de história social da agricultura, constituída sob a ótima de apropriação do
uso do solo, pelo estatuto jurídico e social dos trabalhadores rurais (produtores diretos),
é à base do estudo dos sistemas agrários, a partir das relações de produção e tipologias
agrárias (Linhares et al. 1997 apud Simões et al. 2011).

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A agricultura familiar é caracterizada por pequenas propriedades onde todos os
membros da família se dedicam às atividades produtivas sincronizadas. A agricultura
familiar não pode ser compreendida como um modelo único, pois não há uma
uniformidade desta categoria e sim, uma diversidade de formas, que se desenvolve em
diferentes situações. Mas, recentemente, a FAO definiu esta categoria como: organização
agropecuária onde predominam a interação entre a gestão e o trabalho, a direção do
processo produtivo pelos proprietários e o trabalho familiar complementado pelo
assalariado (FAO 1994).

O Funcionamento do estabelecimento agrícola é uma sequência de tomadas de


decisão, dentro de um conjunto de vantagens e desvantagens, que busca atingir um ou
vários objetivos através da mobilização de alguns instrumentos (ferramentas, produtos,
animais, etc.), dos diversos fluxos (informação, materiais, trabalho, dinheiro) dentro do
estabelecimento e em relação ao meio externo, levando a obtenção de produtos e
consequentemente de uma renda (De Reynal et al. 1996).

A necessidade de conhecer, estudar e entender os meios de vida, produção e


sucessão familiar, embasam a realização do referido diagnóstico. Tendo em vista que a
aproximação dos discentes com a compreensão do modo de vida desempenhado pela
família, pode-se mais eficientemente elaborar sugestões que garantam manutenção,
permanência e perpetuidade social da família no estabelecimento agrícola.

OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

. Realizar o diagnóstico da propriedade rural denominada Sítio Água Viva,


analisando os aspectos socioeconômicos e realizando o levantamento da composição
florística do estabelecimento, bem como o modo que está arranjado os sistemas
agroflorestais.

2.2. Objetivos Específicos

• Analisar o histórico de formação da família e evolução da agricultura praticada na


propriedade, identificando as principais trajetórias dos agricultores e seus reflexos
na paisagem atual;
• Identificar e caracterizar os principais tipos de sistemas de cultivos e criações
adotados;

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• Sugerir, através das especificidades de produtores e sistemas de produção,
possibilidades de intervenção, com vistas no desenvolvimento rural sustentável.

METODOLOGIA

3.1. Área de Estudo

Distando cerco da 30 km da zona urbana do município de Manaus, o estudo foi


desenvolvido na propriedade denominada de “Sítio Água Viva”, na localidade rural
conhecida como Ramal do “Pau Rosa”, que tem acesso pelo Km 21 da BR 174 (Manaus
- Boa Vista/RR), Assentamento Tarumã-mirim, município de Manaus, Amazonas, nas
coordenadas geográficas 02º 47’ 43,7’’ S e 60º 02’ 18,3’’ W (Machado 2016).

3.2. Método Utilizado

Para o levantamento de dados socioeconômicos, foi utilizado a metodologia do


Diagnóstico Rural Participativo (DRP) por meio da aplicação de questionário
semiestruturado, elaborado previamente pelos responsáveis que realizaram o
levantamento dos dados.

O DRP é um conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as comunidades


façam o seu próprio diagnóstico e a partir daí comecem a autogerenciar o seu
planejamento e desenvolvimento. Desta maneira, os participantes poderão compartilhar
experiências e analisar os seus conhecimentos, a fim de melhorar as suas habilidades de
planejamento e ação (Verdejo 2006).

No DRP a participação dos moradores na diagnose das demandas da comunidade,


origina em comprometimento dos comunitários no sucesso da aplicação e
estabelecimento de medidas que visam solucionar os entraves diagnosticados. Essa
metodologia estabelece os produtores como os atores principais no processo de tomada
de decisão, o que eleva o sentimento de importância do indivíduo, muitas vezes
marginalizado pela sociedade.

A entrevista foi realizada com o chefe da família, onde as questões abordadas


foram a cerca da composição familiar, suas origens, aspectos produtivos, econômicos e
culturais.

A caracterização da composição florística foi obtida a partir do inventário


botânico da área total ocupada pela propriedade, sendo incluso, além do quintal
agroflorestal, outras formas de ocupação da propriedade. Onde foi realizado o registro em

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planilha das espécies de fácil identificação que compõem a fitofisionomia da paisagem
local, para identificação das mais complexas, realizou-se a captura fotográfica para
posterior análise e identificação.

RELAÇÃO FAMÍLIA – ESTABELECIMENTO

4.1. Abordagem sistêmica

Sistemas agrícolas são complexos, apresentam como característica uma grande


variedade de componentes com funções especializadas, que constituem a lógica de
sistema inserido em um sistema abrangente, sendo esses organizados por níveis de
hierarquia, onde é mantido numerosos e diversificadas ligações ou interrelações, que não
são lineares (Wünsch 2010).

Para Schmitz e Mota (2008) um estabelecimento agrícola familiar pode ser


caracterizado como uma unidade completa onde a administração é realizada pela família,
englobando todo o sistema de produção e seus subsistemas de cultivo, criação,
extrativismo, beneficiamento e consumo. Os estabelecimentos agropecuários são
agrupados em quatro categorias: assentado, exclusivamente familiar, familiar com
contratado, não familiar (Kageyama 2013).

Considerando todas as tipologias, o que vem sendo observado é o largo


predomínio da agricultura familiar no Brasil, entre 70% e 90% dos estabelecimentos,
integrando mais da metade do pessoal ocupado na agropecuária (Kageyama 2013).

A família estudada é caracterizada como exclusivamente familiar, pois apresenta


sua constituição por laços sanguíneos. Na propriedade reside o casal de proprietários, seus
filhos e uma neta. No quando 01 é possível visualizar a composição da família.

Quadro 01: Composição da família.

Principal
Parentesco Idade Residência
ocupação
Agricultor e
Patriarca 78 No lote
Comerciante
Agricultora e
Matriarca 63 No lote
dona de casa
Filho 46 Agricultor No lote
Filho 39 No lote
Filho 28 No lote
Neta 09 Estudante No lote

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A família mudou-se para a comunidade no ano de 1997 quando adquiriram a
propriedade, ela possui as dimensões de 150m de frente por 1.070m de fundo, que totaliza
uma área de aproximadamente 16 ha, nas coordenadas geograficamente dispostas em
2°44'24.50"S 60°09'31.60"O. Anteriormente a família residia na zona urbana do
município de Manaus-AM.

A principal fonte de renda família provém da aposentadoria do casal e não


recebem nenhum outro tipo de benefício social, também não acessam a crédito rural. O
patriarca também complementa a renda com o comércio que mantem dentro de sua
propriedade, onde é comercializado produtos não perecíveis e alguns frutos que são
colhidos no lote, tendo como sua principal fonte de ocupação.

A família possui boa relação de vizinhança, criando fortes laços de amizade e


companheirismo. O comércio é um local de encontro onde sempre para alguém para
conversar quando vão comprar seus produtos.

A noção de tempo, passado e futuro, é essencial para compreender o


funcionamento de um estabelecimento. Aos objetivos de longo prazo corresponderão
escolhas "estratégicas". Sua realização passará por escolhas "táticas" para o médio ou o
curto prazo (Bourgeois 1995).

SISTEMA DE OPERAÇÕES

5.1. Sistema de Comando

O sistema de operações ou de produção tem a função de colocar em prática o


conjunto de operações necessárias à gestão dos processos produtivos: gestão dos fluxos
de matéria, de trabalho, de equipamentos, de moeda, e de informações, que o
estabelecimento importa ou retém, estoca, transforma, ou transporta e que ele exporta ou
restitui ao meio ambiente (Wünsch 2010). Além disso, caracteriza-se pela presença de
interdependência entre os elementos, a existência de fronteiras mais ou menos permeáveis
com o meio envolvente, sua estrutura, ou seja, a combinação de seus elementos em
diferentes subsistemas, a existência de diferentes fluxos de energia, produtos e
informações, tanto entre os subsistemas como entre o sistema de produção e o meio
envolvente e suas finalidades (Silva 2013).

É o sistema que direciona o futuro da família, o responsável pela tomada de


decisão com base nos objetivos que forem sendo estabelecidos, podendo ser de curto,
médio ou longo prazo. Tendo um reflexo direto na necessidade de conhecer o

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funcionamento dos demais subsistemas que compõe o estabelecimento agrícola no intuito
de ajudar na construção do processo de decisão.

As decisões em um estabelecimento agrícola familiar estão sempre diretamente


ligadas ao meio envolvente, que envolve aspectos do meio biofísico, como: solo,
topografia, clima, recursos hídricos, precipitações pluviométricas, bem como do meio
socioeconômico, que envolvem relações financeiras, de vizinhança, além de associações,
cooperativas, sindicatos, igrejas, postos de saúde, etc.

Ao sistema de decisão tem por função gerar as decisões que irão orientar e
assegurar o comando do sistema de operação em função das finalidades e objetivos de
condução (Wünsch 2010).

A propriedade é composta por diversas instalações necessárias ao bom


funcionamento do estabelecimento, o que garante a dignidade e soberania familiar no seu
sistema de produção. Foi observado duas casas na área do lote, uma do casal (principal)
e a outra de um dos seus filhos, poço para abastecimento da residência e fornecimento de
água para as criações, galinheiro para aves maiores e outro para os pintos, viveiro de patos
e dois tanques de criação de peixe.

5.1.1 Subsistema de Cultivo

É o subsistema onde as culturas cultivadas na propriedade estão agrupadas.


Quando a família adquiriu a propriedade, o lote era todo composto por capoeirão, o que
possibilitou a família introduzir as espécies de interesse comercial e para subsistência.

As atividades do subsistema de cultivo do estabelecimento, baseiam-se na


produção culturas perenes como a mari (Poraqueiba sericea) e o cupuaçu (Theobroma
grandiflorum), dentre outras de menor ocorrência que compõem o quintal agroflorestal
como pupunha (Bactris gasipaes), castanha-do-Pará (Bertholletia excelsa), beribá
(Rolinia mucosa), rambutan (Nephelium lappaceum L.), maracujá-do-mato (Passiflora
nitida), maracujá (Passiflora edulis), mangueira (Mangifera indica), primenta-do-reino
(Piper nigrum), limão comum (Citrus lemon), açaí-de-touceira (Euterpe oleraceae), além
disso, a pesquisa identificou que o sistema de produção da família está diretamente ligado
em atender as demandas de complementação de renda do núcleo familiar.

O principal cultivo existente na propriedade é a cultura do mari, sendo o mais


representativo em termos de produção e retorno econômico. Foi implantado pelo patriarca
da família, na época do plantio, foram estabelecidos 720 mudas, atualmente possui bem

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mais, o produtor não soube precisar o tamanho da área está ocupada pelo mari. A
comercialização é feita nas feiras do município de Manaus, porém quando chega o
período de safra e ocorre superprodução, o preço cai e não conseguem vender no
comércio, o excedente é passado para um atravessador.

Outra cultura de destaque no subsistema de cultivo da família é o cupuaçu, que


outrora já possuiu mais expressividade nos cultivos explorados pela família.
Anteriormente era feito a extração da polpa do fruto para comercialização, porém devido
à instabilidade do abastecimento de energia elétrica, ocasionando sucessivas interrupções
na distribuição, comprometia a qualidade do produto, que precisa ser mantido resfriado.
Atualmente a família optou em comercializar somente o fruto in natura no próprio
estabelecimento da família.

A produção do cupuaçu ainda é baixa, muito provavelmente em decorrência do


severo ataque da doença vassoura-de-bruxa causada pelo fungo Moniliophtora
perniciosa, o que ocasiona grande limitação no potencial produtivo da planta. Não é
realizado nenhum tipo de manejo fitossanitário para controle da doença, é relatado a falta
de acompanhamento técnico e assistências como fator chave, tendo em vista o
desconhecimento das formas de controle.

Na propriedade ainda possui uma área coberta por capoeira, mas ela não é mais
utilizada para plantação de roçados de lavoura branca, o produtor relata a idade avançada
que não o permite realizar as tarefas de manutenção dos seus cultivos. O filho do patriarca
da família colabora com mão-de-obra em alguns cultivos, mas o seu foco principal é na
criação de galinhas.

Para complementação da alimentação familiar, são comprados alguns vegetais que


não são produzidos no lote, como maçã e pera, e algumas hortaliças quando estão em falta
no lote.

5.1.2 Subsistema de criação

Nesse subsistema estão agrupadas as espécies criadas na propriedade rural e suas


diferentes formas de manejo. É um subsistema bastante diverso, pode-se destacar a
presença de cães, galinhas, patos e peixes.

A criação de galinhas dispõe de dois galinheiros, sendo um apenas para os animais


na forma jovem, de pintos até frangos(as) e outro para os adultos. As instalações se
apresentam em boas condições de uso higiênico-sanitárias, com serragem sobre o chão

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para manter o ambiente mais seco, iluminação adequada, fornecimento de ração e água
em estruturas apropriadas para os animais.

A criação é manejada pelo filho do patriarca, e tem por finalidade a produção de


ovos e corte, a comercialização é realizada no próprio sítio. A ausência do seu filho no
momento da entrevista, dificultou o maior detalhamento desse subsistema. Deste modo,
no estabelecimento agrícola em estudo, o fluxo de energia (trabalho) é realizado com mão
de obra familiar.

O sítio possui dois viveiros de psicultura onde são manejados peixes das espécies
tambaqui, tilápia e pirarucu. A tilápia é usada na alimentação dos dois exemplares de
pirarucu que possui, o tambaqui é utilizado na alimentação da família e tem o excedente
da produção comercializada.

Apesar de possuir boa estrutura para a criação de patos, o viveiro encontra-se em


boas condições, mas devidos a fatores como alimentação e doenças a atividade não recebe
mais tanta atenção da família.

5.1.3 Subsistema extrativista

Atualmente a propriedade possui uma área de mata que tem a finalidade de reserva
legal em cumprimento ao que estabelece a Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, o novo
Código Florestal Brasileiro. Dela não é realizado nenhum tipo de manejo ou extração,
apesar de possuir madeira de valor econômico, tem por função a manutenção dos recursos
hídricos disponíveis no lote.

AGROBIODIVERSIDADE DO ESTABELECIMENTO AGRÍCOLA

O agrupado de espécies presentes no agrossistema estudado é constituído


essencialmente de plantas cultivadas, nativas ou exóticas. Com base na grande
diversidade de espécies encontradas, percebe-se que a utilização da área foi bastante
aproveitada, tornando a otimização do espaço explorado mais eficiente.

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6.1. Espécies Vegetais

Quadro 02: Espécies vegetais visualizadas no sítio.

Nome científico Nome popular Família Formas de uso


Ambelania acida Pepino da mata Apocynaceae Alimentícia
Anacardium occidentale Caju Anacardiaceae Frutífera
Aniba canelilla Preciosa Lauraceae Medicinal
Aniba rosaeodora Pau rosa Lauraceae Óleo essencial
Artocarpus heterophyllus Jaca Moraceae Frutífera
Astrocaryum aculeatum Tucumã Arecaceae Frutífera
Averrhoa carambola Carambola Oxalidaceae Frutífera
Bactris gasipaes Pupunha Arecaceae Frutífera
Bambusa vulgaris Bambu Poaceae Ornamental
Bertholletia excelsa Castanha-do-Pará Lecythidaceae Alimentícia
Bixa orellana Urucum Bixaceae Condimentar
Byrsonima sp. Muruci do mato Malpighiaceae Frutífera
Caesalpinia ferrea Jucá Fabaceae Medicinal
Caliandra carbonaria Caliandra Fabaceae Ornamental
Carapa guianensis Andiroba Meliaceae Madeira/óleo
Carica papaya Mamão Caricaceae Frutífera
Caryocar villosum Piquiá Caryocaraceae Frutífera
Cassia fastuosa Chuva de ouro Fabaceae Ornamental
Citrus lemon Limão Rutaceae Frutífera
Citrus aurantium Laranja da terra Rutaceae Frutífera
Citrus sinensis Laranja Rutaceae Frutífera
Cocos nucifera Coco Arecaceae Frutífera
Coffea arábica Café Rubiaceae Alimentícia
Couepia bracteosa Pajurá Chrysobalanaceae Frutífera
Desmodium heterocarpon Desmolion Fabaceae Forrageira
Dinizia excelsa Angelim pedra Fabaceae Madeira
Dipterix odorata Cumaru Fabaceae Medicinal/Madeira
Endopleura uchi. Uxi Humiriaceae Frutífera
Eschweilera sp. Mata mata Lecythidaceae Madeira
Euterpe oleracea Açaí Arecaceae Frutífera
Euterpe precatoria Açaí Juçara Arecaceae Frutífera
Fortunella sp. Laranjinha Rutaceae Frutífera
Geissospermum laeve Quina-Quina Apocynaceae Medicinal
Hevea brasiliensis Seringueira Euphorbiaceae Madeira/Latex
Himatanthus sucuuba Sucuúba Apocynaceae Medicinal
Inga alba Ingá-Turi Fabaceae Alimentícia
Inga cinnamomea Ingá chinelo Fabaceae Alimentícia
Inga edulis Ingá Fabaceae Frutífera
Lippia alba Cidreira Verbenaceae Medicinal
Mangifera indica Manga Anacardiaceae Frutífera
Manihot esculenta Crantz Macaxeira Euphorbiaceae Alimentícia
Mauritia flexuosa Buriti Arecaceae Frutífera
Mimosa spruceana Rabo de camaleão Fabaceae
Morinda citrifolia Noni Rubiaceae Medicinal

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Musa paradisiaca Banana Musaceae Frutífera
Nephelium lappaceum Rambutã Sapindaceae Frutífera
Oenocarpus minor Bacabinha Arecaceae Frutífera
Parkia pendula Visgueiro Fabaceae Ornamental
Passiflora edulis Maracujá Passifloraceae Frutífera
Passiflora nítida Maracujá do mato Passifloraceae Frutífera
Persea americana Abacate Lauraceae Frutífera
Plectranthus barbatus Boldo Lamiaceae Medicinal
Plinia cauliflora Jaboticaba Myrtaceae Frutífera
Poraqueiba sericea Mari Icacinaceae Frutífera
Pouteria caimito Abiu Sapotaceae Frutífera
Rolinia mucosa Beribá Annonaceae Frutífera
Rubus sp. Amora Rosaceae Frutífera
Syzygium jambolanum Azeitona preta Myrtaceae Alimentícia
Syzygium malaccense Jambo Myrtaceae Frutífera
Tabebuia sp. Ipê amarelo Bignoniaceae Madeira
Talinum triangulare Cariru Portulacaceae Alimentícia
Theobroma grandiflorum Cupuaçu Malvaceae Frutífera

6.2. Espécies Animais

Quadro 03: Espécies animais visualizadas no sítio.

Nome científico Nome popular Destinação


Anas platyrhynchos Pato Alimentação/
domesticus
Comercialização

Canis lupus familiaris Cachorro Estimação

Gallus gallus domesticus Galinha Alimentação/


Comercialização

Numida meleagris Galinha da angola Alimentação

Anser sp. Ganso Estimação

Arapaima gigas Pirarucu Alimentação

Colossoma macropomum Tambaqui Alimentação/


Comercialização

Oreochromis niloticus Tilápia Alimentação

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6.3. Fluxo de Processos

Os fluxos de interações existentes nos ecossistemas são a base para o


estabelecimento e análise de um agrossistema agrícola, entender como funciona essa
dinâmica desde a produção primária onde origina a cadeia alimentar, assimilando energia
de fontes abióticas para disponibilizar aos sistemas através dos organismos consumidores
e daqueles decompositores de matéria orgânica, integrando os ciclos biogeoquímicos é
de fundamental importância para manutenção da estabilidade dos solos e da
biodiversidade dos ambientes.

Figura 01: Fluxo de entradas e saídas do sítio.

RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS

Apesar do pouco tempo para realizar a pesquisar fazer as devidas observações, foi
possível diagnosticar alguns problemas de fácil solução que não requerem muitos gastos
e com capacidade de causar excelentes efeitos benéficos na produção. Também foi
observado problemas maiores que necessitariam de mais tempo para serem estudados e
elaboradas propostas mais consolidadas para a resolução.

7.1. Cultivos

O plantio de mari, cultura de maior expressão dentro do agrossistema, encontra-


se muito adensado, seria interessante propor um desbaste seletivo no intuito de melhorar
a entrada de luz no sistema e diminuir a competição por nutrientes do solo,
concomitantemente realizar plantio de espécie leguminosa como o feijão guandu (ajanus
cajan) para produção de biomassa a ser adicionada ao solo, bem como disponibilizar
nitrogênio para o sistema. Nesta mesma área encontra-se alguns indivíduos de

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pupunheira, como é uma palmeira, tolera bem o consorciamento, por isso sugere-se que
realize o plantio de mais mudas dessa cultura para enriquecer o agrossistema e
consequentemente otimizar o uso dos recursos disponíveis para maior produção.

O cupuaçuzeiro tem sofrido forte ataque da vassoura-de-bruxa, é recomendado


realizar podas de limpeza e eliminação de ramos afetados da planta, e posteriormente
queimar os restos vegetais retirados, para diminuir os níveis de infestação e
consequentemente aumentar a produção. Recomenda-se realizar análise de solo para
verificar as deficiências nutricionais da planta, pois a planta em bom estado nutricional
dificulta o ataque de fitopatógenos. Sendo uma cultura exigente em ternos nutricionais,
boa alternativa seria adubação orgânomineral para suprir tais deficiências.

O sítio possui uma área aberta, apenas com uma espécie forrageira que mantem a
estabilidade do solo, porém é uma área subutilizada na propriedade. Logo, recomenda-se
a inserção de espécies leguminosas para melhorar as características físico-químicas do
solo para posteriormente a inserção de novos plantios a baixos custos de implantação.
Nesta área pode-se introduzir a cultura do rambutan, visto que é uma espécie nativa e com
alta aceitação no mercado consumidor ou até mesmo a expansão cultura do biribá, que
conforme relatado pelo patriarca da família, possui alto valor agregado e comercialização
facilitada pelo mercado consumidor.

Percebeu-se que a propriedade não dispõe de nenhum viveiro de mudas, o que


dificultaria o processo de enriquecimento e novos plantios, diante disso, a instalação de
um viveiro, seja temporário ou permanente, surge como boa alternativa para mitigar esse
entrave. Levando em consideração os recursos disponíveis na propriedade, como espécies
arbóreas que possam oferecer madeira para a estrutura física e palha de palmeiras para a
cobertura do viveiro, justifica-se a implantação como fonte de material vegetal de
qualidade constante dentro dos subsistemas de

Com a instalação de um viveiro, além de propiciar mudas de espécies vegetais


sistematicamente, isso irá requerer uma fonte de substrato para a produção das mudas,
logo pode ser recomendado realizar a compostagem para produção de substrato, pois a
propriedade já possui uma rica fonte de nitrogênio proveniente da cama de aviário
produzida pelas aves manejadas no sítio, assim como uma densa serapilheira formada
sobre solo no quintal agroflorestal, dessa forma, limitando as saídas e reduzindo as perdas
de energia que são transformadas no sítio.

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Durante avaliação, foi constatado um canteiro de produção de hortaliças, porém
ele apresentava poucas espécies convencionais. A revitalização do canteiro é uma
alternativa de renda extra para a família, pois mesmo que seja apenas para o
abastecimento da família, isso diluiria os custos destinados a aquisição desses produtos
de fora do sítio. Cabendo ainda a utilização na horta do composto produzido.

7.2. Criações

Entre tantos fatores que influenciam para a baixa produtividade, um de destaque,


mas poucas vezes tido como importante, é a presença de polinizadores ativos para as
culturas. A instalação de colmeias de abelhas sem ferrão é uma excelente estratégia para
minimizar esses efeitos além de disponibilizar o mel como produto que pode ser
comercializado, agregando receita para a família.

Foi constatado nos viveiros de psicultura que a qualidade da água pode está
limitando a produção do sistema, devido ao alto nível de sedimentos em suspensão no
espelho d’água, assim como a reciclagem de água, sendo está o principal insumo na
criação de peixes, é importante manter constante renovação de água para melhorar a
aeração, o microclima, criando um ambiente adequado para a produção do pescado.

Recomenda-se a instalação de sistemas que permitam a constante renovação da


água dos viveiros, poderia vir da instalação de canalização da água do poço até o viveiro
ou aproveitamento do recurso disponibilizado pelo igarapé

Para o manejo da criação é necessário a revitalização do berçário para a recepção


dos alevinos assim que foram adquiridos, pois sua alimentação difere dos indivíduos
adultos, bem como a ocupação do espaço em diferentes formas de desenvolvimento.

Vale salientar que a criação de tilápia necessita de prévia autorização do órgão


ambiental competente, tendo em vista ser uma espécie exótica que se inserida no meio
ambiente, pode causar sérios distúrbios nos ecossistemas naturais da Amazônia.

Para a criação de galinhas, sendo que a viveiro dos patos está sendo subutilizado,
recomenda-se expandir a construção de mais dois galinheiros para realizar diferenciação
de galinhas de corte e de postura, isso facilitaria o manejo e aumentaria a produtividade,
já que se utilizaria espécies adequadas para cada finalidade.

Sugere-se adoção do manejo alimentar dos animais baseados em grãos, podendo-


se utilizar sobras da produção que não foram comercializadas e nem aproveitadas para

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alimentação da família. Também é importante alertar sobre o manejo sanitário dos
animais, onde a vacinação é ponto crucial na produtividade e sanidade dos animais.

CONCLUSÃO

A excursão contribui com o auxílio na compreensão dos meios de


desenvolvimento e reprodução familiar, com base nas análises de produção, dos fluxos e
suas regulações, rentabilidade dos subsistemas presentes na propriedade e como isso é
aplicado de forma a garantir a sustentabilidade da família.

Através do presente estudo foi possível destacar e caracterizar os sistemas de


cultivo, criação e extrativistas existentes no sítio. Sendo possível elucidar as questões
sobre quais atividades conferem maiores ganhos econômicos e quais os responsáveis pelo
sustento das famílias. Observar os níveis de organização da família, tendo nele a sua
fortaleza a união do casal nas decisões em prol de uma continuidade da família de forma
próspera e harmoniosa.

Praticar agricultura na Amazônia Central de forma sustentável, exige da cadeia


envolvida conhecimentos complexos sobre os processos ocorrentes na floresta, pois a
sustentabilidade do sistema depende de como são manejados os recursos disponíveis,
diferentemente de uma agricultura convencional dependente de insumos externos que
tende a levar a degradação dos ecossistemas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

De Reynal, V.; Muchagata, M. G.; Cardoso, A. 1996. Funcionamento do estabelecimento


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APÊNDICES

Figura 02: Entrada do sítio Figura 03: Nome do sítio.

Figura 04: Acesso. Figura 05: Parte do quintal agroflorestal.

Figura 06: Formação de serapilheira. Figura 07: Epífita.

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Figura 08: Quintal agroflorestal. Figura 09: Plantas ornamentais.

Figura 10: Transição entre vegetação. Figura 11: Área de mata.

Figura 12: Tanque de psicultura seco. Figura 13: Tanque de psicultura.

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Figura 15: Galinheiro. Figura 16: Divisão dos pintos.

Figura 17: Interior do viveiro de patos. Figura 18: Viveiro dos patos.

Figura 19: Nascente de água. Figura 20: Piscina natural.

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Figura 21: Pepino do mato. Figura 22: Rambutan.

Figura 23: Desmodium sp. Figura 24: Flor do maracujá.

Figura 26: Galinheiro.

Figura 25: Igarapé.

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