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ISSN 1413-9928

(versão impressa)

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

CONCRETOS ESPECIAIS

2003
Departamento de Engenharia de Estruturas
Escola de Engenharia de São Carlos – USP
Av. do Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro
13566-590 – São Carlos – SP
Fone (16) 273-9455 Fax (16) 273-9482
http://www.set.eesc.usp.br

ISSN 1413-9928
(versão impressa)
SUMÁRIO

Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho


Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya 1

Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e


endurecido e aplicação em pré-moldados leves
Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr. 27

Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento com


concreto de alto desempenho
Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai 59

Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob


flexo compressão reta
Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo 81

Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à


compressão simples
Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo 107

Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de concreto


de alta resistência armado com fibras de aço e armadura transversal de pinos
Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai 131

Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras


metálicas submetidos à compressão centrada
Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo 167
ANÁLISE EXPERIMENTAL DE PILARES
DE CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

Flávio Barboza de Lima1, José Samuel Giongo2 & Toshiaki Takeya3

RESUMO

Em função das características do material o uso do concreto de alto desempenho no


Brasil torna-se irreversível; as resistências à compressão são superiores àquelas
comumente usadas nas estruturas de edifícios de concreto armado. Este trabalho
apresenta um estudo teórico-experimental desenvolvido para analisar o comportamento
de pilares moldados com concreto de alta resistência, solicitados à compressão
centrada e à flexão normal composta. Para a compressão centrada ficou caracterizado
que o estado limite último dos pilares foi atingido por ruptura da seção transversal
mais solicitada e comprovado que as rupturas ocorrem quando o núcleo, definido pelo
perímetro caracterizado pelos eixos dos estribos se rompem. Próximo do colapso os
pilares têm os seus cobrimentos rompidos definindo, a partir daí, situações de
resistências dos núcleos. Na flexão normal composta os resultados dos ensaios
mostraram que as hipóteses de distribuição de tensões na seção transversal (relações
constitutivas) utilizadas para concreto de resistência Classe I não devem ser
consideradas para concreto de alta resistência (Classe II). O trabalho propõe relação
tensão x deformação e apresenta resultados comparativos com trabalhos realizados por
outros autores. As forças normais determinadas experimental e teoricamente ficaram
iguais, enquanto que para os momentos fletores os valores experimentais ficaram muito
acima dos teóricos.

Palavras-chave: concreto de alto desempenho; pilares; experimentação.

1 INTRODUÇÃO

O termo concreto de alto desempenho é atribuindo ao concreto que apresenta


características especiais de desempenho, às quais não poderiam ser obtidas se
fossem usados apenas os materiais convencionais, com procedimentos usuais de
mistura, lançamento e adensamento. Neste trabalho o atributo principal foi a alta
resistência à compressão, que foi obtida adotando-se mistura com baixo fator
água/cimento, adição de sílica ativa e aditivo superplastificante para possibilitar
condições de lançamento e adensamento.

1
Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Estrutural - EES-CTEC-UFAL, fblima@ctec.ufal.br
2
Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas - EESC-USP, jsgiongo@sc.usp.br
3
Professor Assistente do Departamento de Engenharia de Estruturas - EESC-USP, totakeya@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


2 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

O uso de concreto de alta resistência à compressão se constitui em tendência


irreversível, em função das vantagens que apresenta, em relação aos concretos de
resistência Classe I, segundo a NBR 8953/92, principalmente na execução de pilares
de edifícios, pois, as áreas das seções transversais podem ser reduzidas com várias
vantagens econômicas. AGOSTINI(1992) apresenta um estudo experimental de
pilares de concreto de alta resistência com sílica ativa, solicitados a compressão
centrada, no qual foi constatado a necessidade de armadura transversal de
confinamento afim de ductilizar a ruptura frágil observada nos ensaios iniciais. Os
pilares estudados apresentavam seção transversal quadrada de 120mm x 120mm e
altura de 720mm, com armaduras longitudinais de diâmetro igual a 6,3mm e
transversais de diâmetro igual a 4,2mm. Nas extremidades foram colocadas placas de
aço de 5,0mm de espessura com a finalidade de proteger esses locais da ruptura
prematura por efeito de ponta das barras longitudinais.
PAIVA(1994), estudou o comportamento de pilares de concreto de alta
resistência de seção transversal retangular solicitados à compressão simples; as
dimensões empregadas foram 80mm x 40mm x 1480mm e 80mm x 120mm x 480mm,
concluindo que para taxas de confinamento lateral de 2,20% (armadura transversal) e
taxa de armadura longitudinal de 3,20%, obtém-se ductilidade no pilar sendo o núcleo
resistente definido por estas armaduras.
Analisando os resultados das pesquisas de AGOSTINI (1992) e PAIVA
(1994), percebeu-se a necessidade de realizar ensaios em pilares com dimensões
maiores, solicitados à compressão simples, com seções transversais quadradas e
retangulares, com o objetivo de se verificar a formação do núcleo resistente de
concreto, definido pelas armaduras, e qual a forma de ruptura.
No Brasil um primeiro estudo experimental de pilares de concreto de alta
resistência sob ação de flexão normal composta foi apresentado por
AGOSTINI(1992), que buscava obter informações sobre o comportamento da
armadura de confinamento. Os dois pilares ensaiados tinham seção transversal
quadrada com 12cm de lado e 72cm de altura com taxas volumétricas, em relação a
área da seção transversal total, de armadura longitudinal de 5,29% e transversal de
1,5%. Segundo AGOSTINI(1992) a taxa de armadura de confinamento de 1,5% foi
suficiente para garantir uma ruptura dúctil, porém, sugerindo estudar novos critérios
para definição da armadura de confinamento.
Neste trabalho estudaram-se experimentalmente pilares sendo que, a partir
da análise das possibilidades de execução, em função das altas ações envolvidas e
limitações da estrutura de reação, bem como da preocupação com a extensão dos
resultados para pilares de dimensões usuais em edifícios, optaram-se por seções
transversais de 20cm x 20cm, 15cm x 30cm e 12cm x 30cm, com alturas de 120cm,
90cm, 174cm e 247cm, respectivamente, também limitadas pelos dispositivos de
ensaio. Na compressão centrada foi mantida a mesma relação entre a menor
dimensão e altura dos modelos ensaiados por aqueles autores. A resistência média à
compressão estabelecida foi de 80MPa.
Em uma primeira parte foi desenvolvida metodologia para a dosagem dos
materiais, seguida ao longo do trabalho, para a obtenção deste nível de resistência,
com os materiais da região de São Carlos, definindo-se o traço usado, que foi
caracterizado e controlado quando da execução dos modelos.

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 3

2 EXPERIMENTAÇÃO

2.1 Materiais utilizados

Optou-se pela utilização do cimento Portland de alta resistência inicial CP V


ARI e sílica ativa não densificada, SILMIX ND que para fins de dosagem, seguindo
indicação do fabricante, considerou-se massa específica de 2222kg/m3.
Foi utilizado aditivo superplastificante RX 1000A, com densidade de
1,21kg/dm3.
Como agregado miúdo foi usado areia de origem quartzosa. Em função do
módulo de finura, a areia era classificada como grossa, portanto, adequada para
concreto de alto desempenho. O agregado graúdo usado foi pedra britada de origem
basáltica com diâmetro nominal de 12,5mm.
A resistência média fixada para o concreto foi de 80MPa aos 15 dias, tempo
escolhido para realização dos ensaios, imaginando-se que já estivesse se
desenvolvido, em sua maioria, a reação pozolânica da adição mineral e também por
questões de programação dos ensaios no Laboratório. Seguem os consumos de
materiais resultantes dos ajustes efetuados principalmente na relação água/cimento e
teor de superplastificante, valores em kg/m3 : cimento CP V ARI, 480,00; sílica ativa,
48,00; areia, 577,92; pedra britada, 1198,09, superplastificante, 17,43 e água, 160,60.
Como pode ser observado o consumo de sílica ativa foi de 10%, valor também
recomendado por outros autores. A relação água/cimento resultante foi de 0,36. Deve
ser observado que o teor de superplastificante foi de 3% do consumo de cimento, que
pode ser considerado um valor muito alto.
No consumo da água era descontada a água contida no aditivo admitida ser
de 70% da massa. Caso se considere relação água/material cimentante chega-se a
0,33. O procedimento de cura usado foi manter os modelos úmidos durante os sete
primeiro dias.
A tabela 1 apresenta as características geométricas e mecânicas das barras
das armaduras utilizadas, sendo as áreas e os diâmetros efetivos obtidos a partir da
massa de um comprimento conhecido, sendo a massa específica do aço de
7850kg/m3.

TABELA 1 - Resultados experimentais dos ensaios de tração das barras de aço

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4 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

2.2 Modelos ensaiados

2.2.1 Modelos ensaiados à compressão centrada

Foram ensaiadas 4 séries com 3 pilares cada, houve uma repetição da


primeira série de ensaios, perfazendo um total de 15 ensaios de modelos de pilares
solicitados à compressão simples.

Foram projetadas fôrmas de madeira compensada plastificada de 12mm de


espessura, de tal modo a possibilitar a moldagem dos três modelos de cada série em
uma só operação de concretagem.

Os modelos foram moldados verticalmente e os adensamentos foram feitos


usando vibrador de agulha. As séries 1 e 2 necessitaram de duas operações de
mistura do concreto em função da capacidade da betoneira, as demais apenas uma.

Em cada moldagem foram executados 6 corpos-de-prova cilíndricos (100mm


x 200mm), que eram ensaiados 2 com 7 dias, para se ter uma idéia do progresso da
resistência, e os demais no dia do ensaio, sendo 2 com controle de força e 2 com
controle de deformação radial, os resultados estão apresentados na tabela 2.

Foram tomados todos os cuidados com os posicionamentos das armaduras


nas fôrmas, garantindo-se os cobrimentos especificados por espaçadores de
argamassa e também de nylon.

Após a moldagem os pilares permaneciam nas fôrmas, sendo curados com


uso de manta de espuma de borracha molhada e cobertos com lona plástica, durante
7 dias. Em seguida eram desmoldados e colocados no ambiente do Laboratório até as
datas dos ensaios.

A estrutura de reação era um pórtico espacial metálico convenientemente


ancorado, por meio de tirantes, na laje de reação em concreto armado do Laboratório
de Estruturas do Departamento de Engenharia de Estruturas, EESC-USP. O pórtico
era composto de 4 colunas e uma grelha horizontal fixada por meio de parafusos. A
capacidade nominal era de 5000kN e permitia a movimentação da grelha ao longo da
altura das colunas, possibilitando a variação da altura dos modelos estudados.

A aplicação de forças foi efetuada por meio de macaco hidráulico com


capacidade nominal de 5000kN, acionado por bomba hidráulica de ação manual ou
elétrica, de mesma capacidade. Como a massa do macaco hidráulico era de 700kg,
optou-se por deixá-lo apoiado na laje de reação. A célula de carga por sua vez foi
fixada nas vigas centrais da grelha, por meio de uma placa de aço parafusada nas
mesmas.

Para se evitar ruptura fora da área de estudo, um trecho de 20cm nas


extremidades dos pilares foram confinadas por meio de um conjunto de chapas
metálicas com 13mm de espessura parafusadas, além de que, nestas regiões, o
espaçamento entre os estribos também foi reduzido.

A partir do valor da força última prevista, aplicaram-se incrementos de 10%


dessa força, com um escorvamento efetuado na segunda etapa de carga.

Tentando evitar ao máximo o aparecimento de excentricidades durante os


ensaios de compressão centrada, os modelos eram aprumados em cima do macaco e

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 5

a extremidade superior devidamente nivelada, colando uma chapa de aço com massa
plástica. Mesmo com o ensaio cercado de cuidados na sua execução, pequenas
excentricidades foram observadas em todos os ensaios, que foram desprezadas por
ocasião da análise dos resultados.

O controle das forças foi feito por célula de carga com capacidade nominal de
5000kN. As medidas de deformações e deslocamentos foram feitos por
extensômetros elétricos, tipo strain gage, e transdutores de deslocamentos a base de
strain gages.

Os pilares eram instrumentados internamente, nas armaduras, com strain


gage KFG 5, para as barras longitudinais e nos quatro ramos do estribo posicionado
na metade da altura. Externamente, nas quatro faces, na mesma posição do estribo
instrumentado mediam-se as deformações no concreto com strain gage do tipo KFG
10.

Instalaram-se, também, quatro conjuntos formados por bases coladas, haste


metálicas e transdutor de deslocamento, um em cada face do pilar, medindo-se o
encurtamento, observado para cada etapa de carga, e posteriormente, dividindo-se
este pelo comprimento da haste, obtinham-se as deformações do pilar. Todas as
leituras, em cada incremento de força, foram feitas automaticamente com um sistema
de aquisição de dados, que registrava, em disquete e por meio de impressora, os
valores das ações, dos deslocamentos e das deformações.

O sistema era controlado por computador e, após a execução dos ensaios, os


dados gerados eram convertidos em planilha que, posteriormente, era lida e
manipulada pelo software Excel 5.0 da Microsoft, para geração de relatórios e
diagramas.

A figura 1 apresenta o esquema estático e instrumentação de um dos


modelos ensaiados e as seções transversais com a configuração de estribo adotada.
Na figura 1a observa-se o pilar posicionado sobre o macaco hidraúlico, a célula de
carga na parte superior, os conjuntos montados para medir as deformações no pilar, o
confinamento utilizado nas extremidades e as chapas de aço com 20mm de
espessura posicionadas entre o modelo e o macaco e entre o modelo e a rótula da
célula de carga para uniformização da ação aplicada. Esta figura corresponde aos
modelos das séries 1 e 2 com altura do pilar de 120cm nas séries 3 e 4 a altura foi de
90cm.

Na figura 1b observam-se as dimensões da seção transversal e detalhamento


do estribo usado nos modelos das séries 1 e 2 alterando-se apenas o espaçamento,
vêem-se ainda o posicionamento de strain gages na armadura longitudinal que são 1,
2, 3 e 4; e no concreto A, B, C e D. Mesmas características são apresentadas na
figura 1c para os modelos das séries 3 e 4. Um resumo de todas as características
dos modelos ensaiados pode ser observado na tabela 3. Maiores detalhes sobre os
ensaios realizados são encontrados em GIONGO, LIMA & TAKEYA (1996).

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6 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

TABELA 2 - Características dos modelos ensaiados a compressão centrada e força última


experimental observada

TABELA 2 – continuação

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 7

b) Seção transversal e estribo dos modelos da


séries 1 e 2.

c) Seção transversal e estribo dos modelos da


séries 3 e 4

a) Esquema estático e instrumentação

Figura 1 - Características dos pilares ensaiados à compressão simples


( dimensões em milímetros )

2.2.2 Modelos ensaiados à flexão normal composta

Foram ensaiadas 5 séries com 2 modelos de pilares cada solicitados à flexão


normal composta.

A tabela 3 apresenta os resultados das resistências médias à compressão, os


módulos de elasticidade tangente e as deformações correspondentes às resistências
máximas dos concretos de cada modelo. Estes valores foram determinados em
ensaios em corpos-de-prova cilíndricos de 100mm x 200mm nos dias dos ensaios dos

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8 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

modelos. Os procedimentos para as curas foram manter os modelos úmidos durante


os sete primeiro dias.

TABELA 3 - Resultados dos ensaios de compressão em corpos-de-prova

Os modelos foram moldados horizontalmente em função dos alargamentos


das extremidades para possibilitarem as excentricidades das ações e, também, pelo
fato da concentração das armaduras adicionais de confinamento na base e no topo.

Na montagem do ensaio o eixo do modelo era deslocado até o valor da


excentricidade, com relação à linha que passava pelo eixo do macaco e da célula de
carga, de tal forma que as forças aplicadas nas chapas atuavam de forma excêntrica
nas duas extremidades do pilar. Optou-se por não utilizar um cilindro nas
extremidades para aplicação da ação por causa das dificuldades de posicionar o
modelo e por medida de segurança. Os ensaios se desenvolveram com
acompanhamento de deformações e de deslocamentos no monitor do sistema de
aquisição de dados, sendo observada perfeita simetria em relação aos deslocamentos
próximos das extremidades e no centro. Foi detectada também coerência entre as
deformações e a posição da força aplicada que provocava compressão maior em um
dos lados do pilar e menor no outro, característica de flexão normal composta com
pequena excentricidade.

A tabela 4 apresenta as características geométricas e mecânicas,


identificando-se as diferenças entres os modelos ensaiados. Na figura 2 observa-se o
esquema estático dos ensaios e a instrumentação utilizada. As seções transversais
foram retangulares de 15cm x 30cm e de 12cm x 30cm com alturas de 174cm e
247cm, respectivamente.

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 9

TABELA 4 - Características geométricas dos modelos ensaiados

b h ℓ Ac Arm. As ρℓ fy ρw E
Pilar estribo
cm cm cm cm2 longit. cm2 % MPa % mm
P5/1 30 15 174 450 8φ12,5 10,16 2,26 543,3 2,52 6,3c/5 15
P5/2 30 15 174 450 8φ12,5 10,16 2,26 543,3 2,52 6,3c/5 15
P6/1 30 15 174 450 8φ16 15,54 3,45 710,5 2,52 6,3c/5 15
P6/2 30 15 174 450 8φ16 15,54 3,45 710,5 2,52 6,3c/5 15
P7/1 30 15 174 450 8φ10 5,69 1,26 681,2 1,68 6,3c/7,5 15
P7/2 30 15 174 450 8φ10 5,69 1,26 681,2 1,68 6,3c/7,5 15
P8/1 30 15 174 450 8φ10 5,69 1,26 681,7 1,68 6,3c/7,5 25
P8/2 30 15 174 450 8φ10 5,69 1,26 681,2 1,68 6,3c/7,5 25
P9/1 30 12 247 360 8φ10 6,03 1,67 676,4 2,73 6,3c/6 30
P9/2 30 12 247 360 8φ10 6,03 1,67 676,4 1,32 6,3c/12 30

Figura 2 - Esquema estático e instrumentação dos pilares ensaiados

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10 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 Compressão centrada

Na tabela 2 podem ser observadas além das características dos modelos


ensaiados à compressão centrada os valores das forças últimas experimentais
registradas visualmente no monitor de controle do sistema de aquisição de dados. Os
ensaios se estenderam de maio a agosto de 1996. Após cada etapa de aplicação de
força havia, além da gravação em disquete, a impressão dos dados lidos.

A partir dos dados lidos e arquivados pelo sistema de aquisição, foram


elaboradas planilhas e em seguida diagramas força x deformação e força x
deslocamento para cada modelo.

Estão apresentados, nas figuras de 3 a 6, os diagramas obtidos a partir das


médias das deformações medidas, nos modelos de cada série submetidos a ação de
compressão centrada. São apresentados um diagrama com curvas força x
deformação do pilar, em seguida força x deformação medida apenas no concreto e
finalmente força x deformação na armadura longitudinal.

4000 4000
3500 3500
3000 3000
2500 P1/3r 2500
Força - kN
Força - kN

2000 P1/2r
2000
P1/3 P 2/3
1500 1500
P1/2 P 2/2
1000 1000
P1/1
500 500 P 2/1
0 0
0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6
Deformação do pilar - %o Deformação do pilar - %o

4000 4000
3500 3500
3000 P1/3r 3000
2500 P1/2r 2500
Força - kN

Força - kN

2000 P1/3 2000 P 2/3


1500 P1/2 1500 P 2/2
1000 P1/1 P 2/1
1000
500 500
0 0
0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6
Deformação no concreto - %o Deformação no concreto - %o

4000
4000
3500
3500
3000
3000
2500 P1/3r
Força - kN

2500
Força - kN

2000 P1/2r
2000 P 2/3
1500 P1/3
P1/2 1500 P 2/2
1000 P 2/1
P1/1 1000
500
500
0
0 1 2 3 4 5 6 0
0 1 2 3 4 5 6
Deformação %o (arm. longitudinal)
Deformação %o (arm. longitudinal)

Figura 3 - Diagramas força x deformações Figura 4 - Diagramas força x deformações


médias dos pilares da série 1 médias dos pilares da série 2

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 11

Neste trabalho experimental os ensaios foram feitos em idades inferiores a 28


dias e com ações que puderam ser consideradas de curta duração, existindo apenas
a resistência medida nos corpos-de-prova cilíndricos de 100mm de diâmetro da base
e 200mm de altura, para avaliar a resistência do concreto da estrutura. A correlação
entre a resistência do concreto do modelo e a determinada para os corpos-de-prova
foi feita por meio do coeficiente kmod = 0,90, com base na bibliografia e ensaios de
correlação efetuados durante o estudo de dosagem desenvolvido.

4000 4000
3500 3500
3000 3000
2500 2500
Força - kN

Força - kN
2000 2000
P3/3
1500 1500 4/3
P3/2
1000 P3/1
1000 4/2
500 500 4/1
0 0
0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5 6
Deformação do pilar - %o Deformação do pilar - %o

4000 4000
3500
3500
3000
3000
2500
Força - kN

2500
Força - kN

P3/3
2000
2000 4/3
1500
1500 P3/2 4/2
1000
1000 P3/1 4/1
500
500
0
0 0 1 2 3 4 5 6
0 1 2 3 4 5
Deformação no concreto - %o
Deformação no concreto - %o

4000
4000 3500
3500 3000
3000 2500
Força - kN

2500 2000
Força - kN

2000 1500 4/3


1500 P3/3
1000 4/2
1000 P3/2
500 4/1
500 P3/1 0
0 0 1 2 3 4 5 6
0 1 2 3 4 5 Deformação %o (arm. longitudinal)
Deformação %o (arm. longitudinal)

Figura 5 - Diagramas força x deformações Figura 6 - Diagramas força x deformações


médias dos pilares da série 3 médias dos pilares da série 4

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12 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

Desta forma para análise em estado limite último dos valores teóricos
calculados a resistência à compressão no concreto foi assumida como 0,90fc , sendo
fc a resistência média do concreto no dia do ensaio, obtida em ensaios de corpos-de-
prova cilíndricos de 100mm x 200mm.

3.1.1 Análise da seção resistente

A verificação da força última em modelos de pilares solicitados por compressão


simples pode ser feita pela expressão (1):

Fu = (Ac-As).fc + As.fy (1)

onde:

fc = resistência média do concreto no dia do ensaio, obtida a partir do ensaio de


corpos-de-prova;

fy = resistência média de escoamento da armadura longitudinal, obtida a partir do


ensaio de tração;

As = soma das áreas das barras da armadura longitudinal;

Ac = área total da seção transversal do pilar.

Quando se considera apenas a área da seção transversal do núcleo tem-se (2):

Fun = (Acn-As).fc + As.fy (2)

onde:

Acn = área total da seção transversal do núcleo do pilar, região limitada pelo eixo da
armadura transversal mais externa.

A análise dos resultados dos pilares ensaiados à compressão simples foi feita
observando-se a tabela 5, onde Fteo e Fteo,n foram calculados usando as equações 1 e
2 respectivamente e apresentam-se relações entre as forças teóricas e a força última
experimental obtida nos ensaios.

A relação entre a força última experimental e a força última calculada


considerando-se a área total foi sempre menor que 1, independente do tipo de seção
ou taxa de armadura. Quando se compara com valores obtidos considerando-se
apenas a área do núcleo confinado, definida como a área calculada pelo perímetro
formado pelos eixos do estribo mais externo, encontram-se valores maiores ou iguais
a unidade, ou seja, presume-se que nos pilares de concreto de alta resistência
(80MPa ), a seção resistente é a seção transversal do núcleo de concreto.

Confirmam-se, desta forma, conclusões de AGOSTINI(1992) e PAIVA(1994),


lembrando que neste trabalho os pilares têm dimensões mais próxima das usuais.
Esta conclusão também foi encontrada por CUSSON e PAULTRE (1993).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 13

TABELA 5 - Análise teórico-experimental dos modelos ensaiados a compressão centrada


[LIMA(1997)]

Ac Acn fc 0,90fc As fy
Modelo
cm2 cm2 MPa MPa cm2 MPa
P1/1 400 251,9 83,8 75,4 10,16 543,3
P1/2 400 251,9 83,8 75,4 10,16 543,3
P1/3 400 251,9 83,8 75,4 10,16 543,3
P1r/2 400 251,9 85,1 76,6 10,16 543,3
P1r/3 400 251,9 85,1 76,6 10,16 543,3
P2/2 400 251,9 87,4 78,7 10,16 543,3
P2/3 400 251,9 92,0 82,8 10,16 543,3
P3/1 450 257,9 94,9 85,4 10,16 543,3
P3/2 450 257,9 94,9 85,4 10,16 543,3
P3/3 450 257,9 94,9 85,4 10,16 543,3
P4/1 450 257,9 80,5 72,5 10,16 543,3
P4/2 450 257,9 80,5 72,5 10,16 543,3
P4/3 450 257,9 80,5 72,5 10,16 543,3

TABELA 5 - continuação

Fexp Fteo Fteo,n Fexp / Fexp /


Modelo
kN kN kN Fteo Fteo,n
P1/1 2630 3492 2375 0,75 1,11
P1/2 2701 3492 2375 0,77 1,14
P1/3 2834 3492 2375 0,81 1,19
P1r/2 3063 3538 2403 0,87 1,27
P1r/3 2820 3538 2403 0,80 1,17
P2/2 2950 3618 2454 0,82 1,20
P2/3 3210 3780 2554 0,85 1,26
P3/1 3415 4309 2668 0,79 1,28
P3/2 3750 4309 2668 0,87 1,41
P3/3 3230 4309 2668 0,75 1,21
P4/1 3000 3739 2347 0,80 1,28
P4/2 2650 3739 2347 0,71 1,13
P4/3 2610 3739 2347 0,70 1,11

3.1.2 Capacidade resistente segundo COLLINS et al. (1993)

Analisaram-se os valores teóricos das forças usando expressão apresentada


por COLLINS et al. (1993) para a determinação da capacidade resistente de pilares
de concreto de alto desempenho. Segundo COLLINS et al. (1993), a capacidade de
absorver força axial em pilares com estribos ou com espirais e com cobrimento, pode
ser expressa por:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


14 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

Fteo = k 3fc' (A c − A s ) + f yA s (3)

onde:

Ac = área da seção transversal do pilar;

fy = resistência de escoamento das barras da armadura longitudinal;

As = área da seção transversal das barras da armadura longitudinal.

O fator k3 leva em conta as diferenças nos tamanhos e formas entre o pilar de


concreto armado e o corpo-de-prova, considerando as diferenças nas moldagens do
concreto, vibração e cura e as diferenças nas velocidades de carregamentos. Os
pilares são carregados tipicamente muito mais lento do que os cilindros.

Os valores de k3 são obtidos a partir de uma expressão que aproxima a


tendência de resultados experimentais de vários autores, e varia com a resistência do
concreto. Essa expressão é:

10
k 3 = 0,6 + ' ; f’c em MPa e k3 ≤ 0,85 (4)
fc

Para averiguação, os modelos ensaiados à compressão centrada também


foram analisados utilizando as equações (3) e (4). Observa-se que a expressão da
equação (3) permite a consideração da seção integral do pilar.

Como nos ensaios a resistência do concreto foi determinada a partir de


ensaios de compressão em corpos-de-prova cilíndricos de 100mm de diâmetro da
base por 200mm de altura, foi adotada uma redução de 0,95fc como correlação para
corpos-de-prova de 15cm x 30cm, respectivamente.

A tabela 4 apresenta a análise efetuada para cada pilar ensaiado, como


também os valores de k3 calculados com a equação (4) usando o valor da resistência
reduzida. Os demais valores necessários para a utilização da equação (3) são obtidos
na tabela 2.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 15

TABELA 6 - Análise dos modelos ensaiados segundo COLLINS et al. (1993)

Fexp 0,95fc Fteo


Modelo k3 Fexp /Fteo
kN MPa kN

P1/1 2630 78,9 0,727 2788 0,94

P1/2 2701 78,9 0,727 2788 0,97

P1/3 2834 78,9 0,727 2788 1,02

P1r/2 3063 80,8 0,724 2832 1,08

P1r/3 2820 80,8 0,724 2832 1,00

P2/2 2950 83,0 0,720 2882 1,02

P2/3 3210 87,4 0,714 2985 1,08

P3/1 3415 90,1 0,711 3370 1,01

P3/2 3750 90,1 0,711 3370 1,11

P3/3 3230 90,1 0,711 3370 0,96

P4/1 3000 76,5 0,731 3012 1,00

P4/2 2650 76,5 0,731 3012 0,88

P4/3 2610 76,5 0,731 3012 0,87

A média das relações entre os valores experimentais divididos pelos teóricos,


calculados a partir das expressões apresentadas por COLLINS et al. (1993), resultou
igual a 1.

Deste modo os resultados obtidos por GIONGO, LIMA & TAKEYA(1996),


considerando apenas os núcleos confinados dos pilares, e por COLLINS et al. (1993)
são iguais, confirmando o modelo adotado.

3.2 Flexão normal composta

Na verificação da segurança das estruturas, no estado limite último de ruptura


do concreto, admite-se que possa atuar a tensão de compressão igual a 0,85fcd.
Como explicado por FUSCO (1995), trata-se da aplicação de um coeficiente de
modificação kmod = 0,85, que é resultante do produto de três outros, que levam em
conta o acréscimo de resistência do concreto após os 28 dias de idade, a resistência
medida em corpos-de-prova cilíndricos de 15cm x 30cm é superestimada, pois se
sabe que a resistência medida em corpos-de-prova de tamanho maior seria menor,
por haver menos influência do atrito do corpo-de-prova com os pratos da prensa de
ensaio e, finalmente, o efeito deletério da ação de cargas de longa duração.

Em se tratando de concreto de alta resistência a evolução da resistência a


partir da idade de 28 dias é menor provavelmente pela menor quantidade de água
livre que permita o prosseguimento da hidratação. PINTO JUNIOR (1992) apresenta
um diagrama para a evolução da resistência com a idade para concretos com

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


16 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

resistências variando de 40MPa a 80MPa medida em corpos-de-prova cilíndricos de


100mm por 200mm onde se observa que esta evolução após os 28 dias é
insignificante. No estudo de dosagem desenvolvido nesta pesquisa experimental, para
escolha do traço que foi usado na confecção dos pilares, observou-se uma relação de
1,04 para a idade de 63 dias e de 1,07 para 92 dias, em relação a idade de 28 dias.
Portanto o coeficiente kmod,1 pode ser reduzido para 1,1 ou até mesmo 1,0.
A resistência à compressão medida em corpos-de-prova cilíndricos de 100mm
por 200mm, que se apresenta como alternativa para controle da resistência em
função da capacidade dos equipamentos disponíveis, superestima o valor em relação
aos cilindros padronizados. CARRASQUILLO et al. (1981) estudou este efeito e
encontrou um coeficiente próximo a 0,90 para a conversão independente da
resistência que variou de 20MPa a 80MPa e da idade de ruptura. METHA et al. (1994)
apresenta um gráfico do qual se determina uma relação de 0,95 para a conversão. No
estudo de dosagem desenvolvido observou-se uma correlação de 0,96 entre
resistências medidas em corpos-de-prova cilíndricos de 15cm x 30cm e 10cm x 20cm,
desta forma pode-se admitir uma redução de 5% no coeficiente kmod,2 passando a ser
de 0,90.
Segundo PINTO JUNIOR (1992), nos concretos de alta resistência
submetidos a carregamento de longa duração, a redução da resistência é da ordem
de 15% a 20%, se for assumido uma redução de 20% o coeficiente kmod,3 passa a ser
de 0,80.
Desta forma, para concreto de alta resistência, o coeficiente de modificação
seria alterado para 0,72. Para este trabalho, observa-se que, em geral, os ensaios
foram feitos a idades inferiores a 28 dias e para ações de curta duração, sendo,
portanto, desprezados os coeficientes kmod,1 e kmod,3 existindo apenas a relação entre a
resistência medida nos corpos-de-prova cilíndricos de 100mm x 200mm e a estrutura
expressa pelo coeficiente kmod,2 = 0,90.
Desta forma para análise da situação última dos valores experimentais
obtidos a resistência à compressão do concreto foi assumida como 0,90fc sendo fc a
resistência média do concreto no dia do ensaio.
A análise dos resultados dos ensaios dos modelos submetidos a esforços
oriundos da compressão excêntrica consistiu na determinação da força e momento
fletor resistentes, a partir dos valores das deformações medidas em uma determinada
seção e das características mecânicas do aço da armadura e do concreto também
determinados experimentalmente. Os valores dos esforços resistentes foram então
comparados com os respectivos valores experimentais.
Por hipótese admitiu-se que as seções planas permaneciam planas depois de
deformadas assim, conhecido o valor das deformações nas faces 1 (menos
comprimida) e 2 (mais comprimida), pode-se determinar a variação ao longo da altura
h da seção transversal do pilar. A maneira de considerar os valores das deformações
definiu duas outras situações para análise.
Em uma ( situação 1 ), a partir dos valores médios das deformações medidas
nas faces dos pilares, utilizando-se extensômetros elétricos e conjuntos formados por
transdutores de deslocamento e hastes metálicas, permitiu determinar a variação das
deformações na seção transversal pela expressão 5.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 17

ε −ε 
ε ( x) =  c1 c2  x + ε c2 (5)
 h 

onde:

εc2 = deformação média medida na face mais comprimida, em valor absoluto;

εc1 = deformação média medida na face menos comprimida, em valor absoluto;

h = altura da seção transversal, em metro.

Na tabela 7, apresentam-se os valores das deformações médias obtidas nas


barras de aço calculadas a partir da equação 5, tomando por base as deformações
medidas nas faces dos pilares, para a etapa onde atuava a força última.

TABELA 7 - Variação das deformações na seção transversal na situação 1

Pilar εs1 εs2 εc1 εc2 ε (x)

P5/1 0,001670 0,0026300 0,001139 0,00232 -0,007870x+0,00232

P5/2 0,001481 0,0026530 0,001220 0,00230 -0,007200x+0,00230

P6/1 0,001695 0,0024365 0,000979 0,00216 -0,007870x+0,00216

P6/2 0,001780 0,0032600 0,001450 0,00250 -0,007000x+0,00250

P7/1 0,001730 0,0023800 0,001388 0,00220 -0,005410x+0,00220

P7/2 0,001910 0,0033600 0,001915 0,00292 -0,006730x+0,00292

P8/1 0,001700 0,0029400 0,001419 0,00269 -0,008467x+0,00269

P8/2 0,001830 0,0025700 0,001310 0,00272 -0,009400x+0,00272

P9/1 0,001260 0,0025240 0,000864 0,00230 -0,011960x+0,00230

P9/2 0,001317 0,0025220 0,000910 0,00287 -0,016330x+0,00287

A outra situação ( situação 2 ) a análise das deformações consistiu em


considerar apenas as medições feitas nas armaduras, admitindo-se que estas eram
mais confiáveis que as medições no concreto; com as deformações médias das
armaduras determinam-se a variação da deformação ao longo da seção pela equação
6.

ε −ε  ε .d − εs1.d'
ε (x) =  s1 s2  x + s2 (6)
 d − d'  d − d'

onde:

εs2 = deformação média medida na armadura mais comprimida, em valor absoluto;

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18 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

εs1 = deformação média medida na armadura menos comprimida, em valor absoluto;


d = altura útil do pilar em metro;
d’ = altura da seção transversal menos a altura útil, em metro.
Na tabela 8, apresentam-se os valores das deformações médias obtidas em
cada ensaio e sua respectiva variação a partir da equação 6, além dos valores das
deformações médias medidas nas armaduras, para a etapa onde atuava a força
última.

TABELA 8 - Variação das deformações na seção transversal para a situação 2

Pilar εs1 εs2 εc1 εc2 εs (x) para εc

P5/1 0,001670 0,0026300 0,001305 0,003000 -0,01130x+0,003000

P5/2 0,001481 0,0026530 0,001030 0,003100 -0,01380x+0,003100

P6/1 0,001695 0,0024365 0,001383 0,002750 -0,00911x+0,002750

P6/2 0,001780 0,0032600 0,001150 0,003880 -0,01820x+0,003880

P7/1 0,001730 0,0023800 0,001500 0,002610 -0,00740x+0,002610

P7/2 0,001910 0,0033600 0,001399 0,003870 -0,01650x+0,003874

P8/1 0,001700 0,0029400 0,001261 0,003379 -0,01412x+0,003379

P8/2 0,001830 0,0025700 0,001665 0,002930 -0,008430x+0,00293

P9/1 0,001260 0,0025240 0,000577 0,003210 -0,02194x+0,003210

P9/2 0,001317 0,0025220 0,000665 0,003175 -0,02092x+0,003175

3.2.1 Esforços resistentes na compressão excêntrica

Conhecendo-se a variação das deformações ao longo da seção transversal, e


admitindo-se uma relação tensão x deformação para o concreto, foi estabelecida a
variação da tensão normal ao longo da altura da seção em estudo do pilar, podendo-
se, por integração, obter o esforço normal resistente teórico e o respectivo momento
fletor, usando as equações de equilíbrio 7 e 8.

N = ∫ σ cdA + ∑ A siσ si (7)


A i

M= ∫ σc xdA + ∑ A siσsi xi (8)


A i

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 19

A figura 8 apresenta as hipóteses admitidas para a distribuição das


deformações e das tensões nos pilares ensaiados e submetidos a compressão
excêntrica com a força aplicada ao longo do eixo paralelo à menor dimensão.

Figura 8 - Hipótese de distribuição de deformações e de tensões nos pilares

Aplicando-se as equações de equilíbrio 7 e 8 para a seção transversal da


figura 8 têm-se:

h
N u = b ∫ σ c ( x)dx + A s1σ s1 + A s2 σ s2 (9)
0

h h h
M u = b ∫ σ c ( x). ( − x)dx + (A s2σ s2 − A s1σ s1). ( − d ' ) (10)
0 2 2

Considerando as situações estabelecidas, em função da distribuição de


deformações admitida ao longo da seção, foram determinados a força normal e
momento fletor resistentes, para uma relação tensão x deformação proposta e outra
apresentada por COLLINS et al. (1993).

3.2.2 Proposta de relação tensão x deformação do concreto [LIMA(1997)]

Para cada modelo foram feitos ensaios de corpos-de-prova cilíndricos de


100mm x 200mm, para determinação da resistência à compressão e correspondente
deformação e o módulo de elasticidade. Os ensaios dos corpos-de-prova de concreto
foram realizados no Laboratório de Mecânica das Rochas do Departamento de
Geotécnia, EESC-USP. Eram ensaiados 2 corpos-de-prova com controle de força
axial obtendo-se os parâmetros já citados e mais 2 com controle de deformação
radial. Observaram-se grande dispersão nos resultados dos ensaios com controle de
deformação, sendo que os valores da tensão máxima eram sempre menores.
A proposta de relação tensão x deformação, consistiu em uma aproximação
da relação tensão x deformação obtida no ensaio por uma função polinomial de 3.o
grau. A equação que representa a curva teórica proposta tem a seguinte forma:

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20 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

y = k 1x 3 + k 2 x 2 + k 3 x

A partir das condições de contorno, determinaram-se os valores das


constantes k1, k2 e k3, e tem-se como relação tensão (σc) x deformação (εc) do
concreto a equação 11.

σc =
(− 2 fc + Ecεc0 ) ε3 + (3fc − 2Ecεc0 ) ε2 + E ε (11)
c c c c
ε c30 ε c20

A tabela 9 apresenta as características mecânicas do concreto e do aço


utilizados nos ensaios, sendo que estes elementos são necessários para a análise
dos resultados experimentais obtidos para a força última. Considerando-se a proposta
de relação tensão x deformação da expressão 11 e substituindo-se εc pela
correspondente variação da deformação apresentada nas tabelas 7 para a situação 1
e 8 para a situação 2 e, aplicando-se as equações 9 e 10, calcularam-se os valores de
Fteo e Mteo cujos resultados são apresentados na tabela 10, que apresenta também
comparações entre valores experimentais e teóricos nas diversas situações.

TABELA 9 - Características mecânicas do concreto e do aço utilizados

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 21

TABELA 10 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação proposta
[LIMA(1997)]

Pilar Fexp Mexp Fteo,a, Mteo,a Fexp / Mexp / Fteo,b, Mteo,b Fexp / Mexp /
kN kN.cm kN kN.cm Fteo,1 Mteo,1, kN kN.cm Fteo,2 Mteo,2
P5/1 2842 4263 2818 2106 1,01 2,02 3197 2239 0,89 1,90
P5/2 2806 4209 2790 1993 1,01 2,11 3008 2787 0,93 1,51
P6/1 3227 4840 2842 2293 1,13 2,11 3383 2158 0,95 2,24
P6/2 3218 4827 3452 2287 0,93 2,11 3688 2917 0,87 1,65
P7/1 3012 4518 2837 1374 1,06 3,28 3110 1585 0,97 2,85
P7/2 3118 4677 3772 1335 0,84 3,12 3672 1785 0,85 2,62
P8/1 3252 8130 3127 1896 1,04 4,29 3251 2456 1,00 3,31
P8/2 3250 8125 3414 1856 0,95 4,37 3619 1506 0,90 5,39
P9/1 2388 7164 2263 1920 1,05 3,73 2513 2875 0,95 2,49
P9/2 2143 6438 2428 1891 1,01 3,40 2115 2287 1,01 2,81

3.2.3 Análise considerando a relação tensão x deformação indicada por


COLLINS et al. (1993)

A mesma análise para os esforços resistentes relativa às duas situações


estabelecidas de deformações foi desenvolvida para se averiguar os resultados
obtidos com a relação constitutiva indicada por COLLINS et al. (1993), que pode ser
escrita pela expressão 12.

nf c
σc = εc (12)
ε co ( n − 1 + ( ε c / ε 'c ) nk )

Na tabela 9 podem ser obtidos os valores de 0,90fc e de ε’c que corresponde a


εco; os valores de k, indicados por COLLINS et al. (1993) para considerar a variação
das resistência, resultaram todos iguais a 1, pois, observaram-se que εc é menor do
que εco , exceto nas etapas de ações últimas dos pilares P6/2, P7/1, P8/1 e P9/2 para
os quais foram feitas aproximações no valor de k.
Na tabela 11, seguindo mesma seqüência utilizada nas análises dos pilares
considerando a relação tensão x deformação proposta, estão apresentadas as
análises efetuadas com o modelo de COLLINS et al. (1993).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


22 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

TABELA 11 - Análise dos resultados dos esforços solicitantes [ COLLINS et al. (1993) ]

Mexp Fteo,a, Mteo,a Fexp / Mexp / Fteo,b, Mteo,b Fexp / Mexp /


Fexp,
Pilar
kN KN.cm kN kN.cm Fteo,1 Mteo,1 kN kN.cm Fteo,2 Mteo,2
P5/1 2842 4263 2690 2194 1,06 1,94 3110 2465 0,91 1,73
P5/2 2806 4209 2658 2089 1,06 2,01 2022 2808 1,39 1,50
P6/1 3227 4840 2649 2305 1,22 2,10 3226 2368 1,00 2,04
P6/2 3218 4827 3308 2442 0,97 1,98 3603 3210 0,89 1,50
P7/1 3012 4518 2663 1452 1,13 3,11 2969 1771 1,01 2,55
P7/2 3118 4677 3679 1584 0,85 2,95 3577 2074 0,87 2,26
P8/1 3252 8130 3018 2052 1,08 3,96 3156 2745 1,03 2,96
P8/2 3250 8125 3271 2134 0,99 3,80 3511 1809 0,93 4,49
P9/1 2388 7164 2089 4662 1,14 1,54 2385 6205 1,00 1,15
P9/2 2143 6438 2048 4659 1,05 1,38 2047 5061 1,05 1,27

Para as forças normais as relações entre Fexp / Fteo são praticamente iguais a
unidade (variando entre 1,01 e 1,09) quando se considera o modelo com a
distribuição de tensões na seção transversal indicado por COLLINS et al. (1993).
Quando comparados com os valores médios, obtidos pelo modelo adotado
por LIMA, tabela 10 os de COLLINS ficaram muito pouco acima; média de 1,05 com
as expressões de COLLINS e 0,97 com as expressões dos Autores.
Para as análises das relações entre os valores dos momentos fletores
experimentais e teóricos, pode-se perceber que os resultados obtidos com o modelo
de COLLINS são melhores que os apresentados pelos Autores. As médias entre
todos os valores de Mexp / Mteo resultaram iguais a 3,06 (LIMA) e 2,64 (COLLINS).
Os valores apresentados nas tabelas 10 e 11 indicam que, para qualquer
análise considerando ação de colapso ou 80% do valor desta e situações diferentes
das deformações - casos 1 e 2, há consistência nos resultados. Pode-se observar que
as mesmas tendências observadas quando se usaram as indicações do Autor se
comparam com as de COLLINS et al. (1993).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de dosagem desenvolvido, com escolha cuidadosa dos materiais


componentes, levou à obtenção do concreto com a alta resistência desejada, ou seja,
resistência média à compressão de 80MPa aos 15dias. Para isto, o consumo de
cimento foi de 480kg/m3 e o de sílica ativa igual a 10% deste. Estes valores são
inferiores aos adotados por outros pesquisadores para resistências equivalentes.
Analisando a tabela 5 pode-se perceber que, para todos os modelos
ensaiados à compressão centrada, as relações entre a força última experimental e a
força última teórica, considerando a seção do núcleo, resultou em média 1,21;
variando entre 1,11 e 1,41. Com isto pode-se afirmar que a seção resistente é

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 23

formada pelo núcleo, ou seja, a região limitada pelo eixo da armadura transversal
mais externa. Estes resultados confirmam as conclusões obtidas por
AGOSTINI(1992), CUSSON & PAULTRE(1994) e PAIVA(1994).
Um dos objetivos deste trabalho era analisar o efeito do aumento da seção
transversal e o confinamento do núcleo, já que AGOSTINI(1992) e PAIVA(1994)
trabalharam com seções transversais de menor área. Cabe ressaltar que as taxas de
armaduras longitudinais e transversais adotadas neste trabalho são menores do que
as indicadas nas conclusões daqueles Pesquisadores. Quanto a preocupação que se
tinha de que ao mudar a seção transversal de quadrada para retangular haveria
alteração no comportamento do núcleo, analisando a tabela 5, modelos 1 e 2 -
quadrados e 3 e 4 - retangulares, não são identificadas grandes alterações no
comportamento dos pilares.
A simples diminuição do espaçamento entre estribos, mantendo-se o seu
diâmetro, não interferiu de maneira significativa na relação Fu,exp /Fun , indicando que é
melhor arranjar os estribos de forma a evitar a flambagem das barras longitudinais,
conforme indicado na figura 9.
O valor médio das relações entre a força última experimental e a força última
teórica, sem considerar a área do núcleo resultaram igual a 0,79 ( ver tabela 5 ), com
variação entre 0,70 e 0,87.
O modelo apresentado por COLLINS et al. (1993) expressa bem a capacidade
resistente de pilares de concreto de alto desempenho solicitados por ação centrada e
permite a consideração da seção integral do pilar.
A média das relações entre os valores experimentais divididos pelos teórico,
calculados a partir das expressões apresentadas por COLLINS et al. (1993), resultou
igual a 1, o que confirma a eficiência do uso do coeficiente k, que permite analisar a
resistência do pilar considerando a área integral da seção transversal e as
resistências da classe II, segundo a NBR 8953/92.
Deve ser ressaltado que para análise dos resultados não se considerou o
efeito da deformação lenta por serem os ensaios realizados com ação de curta
duração.
Analisando os valores das deformações nas barras da armadura longitudinal,
para uma mesma ação aplicada, para os modelos das séries 1 e 2, ( figuras 3 e 4 )
observam-se que permaneceram praticamente iguais enquanto as taxas de armadura
transversal dobraram. Este fato deve-se aos ainda baixos valores da taxa de
armadura transversal adotados, fica claro que para aumentar a ductilidade deve-se
aumentar tanto a taxa de armadura transversal quanto a longitudinal.

Figura 9 - Configurações de estribos para seções quadradas e retangulares que possibilitam


um melhor confinamento

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


24 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

Comparando as deformações últimas dos modelos ensaiados, com os


resultados de AGOSTINI(1992) e PAIVA(1994), observam-se que os valores são
semelhantes, lembrando que as taxas de armaduras adotadas por estes
pesquisadores eram de 3,55% e 4,44% - longitudinal e 1,5% a 3,5% - transversal,
portanto, superiores as aqui utilizadas ( tabela 2 ). Aqueles Autores afirmam que deve
ser adotada uma taxa de 2,2% de armadura transversal e 3,5% longitudinal para
garantir ductilidade.

Os resultados dos ensaios feitos nesta pesquisa mostram que a ductilidade foi
alcançada com menores taxas de armaduras, como pode ser confirmado nos ensaios
dos modelos da série 4 ver figura 6.

Para os modelos ensaiados a flexão normal composta observou-se que as


análises foram feitas considerando as variações de tensões no concreto nas seções
transversais dos pilares com as equações propostas por LIMA(1997) e por COLLINS
et al. (1993). Assim optou-se para justificar a consistência dos resultados
experimentais obtidos tanto em etapas distintas dos colapsos do modelo proposto
quanto por processos de análise indicados.

Analisando a tabela 10, modelo proposto pelos Autores, pode-se perceber


que ambas as relações entre os valores das forças experimentais e teóricas
resultaram praticamente idênticas, tanto para o caso das deformações medidas
durante os ensaios (situação 1), quanto para a situação 2, onde as deformações no
concreto foram calculadas a partir das deformações medidas nas barras de aço.

Os valores das relações Fexp / Fteo , para as duas situações de etapas de


aplicação de forças e para as duas situações de deformações, foram tais que, para a
hipótese 2 de consideração de deformações, os valores resultaram menores que
quando se considerou a hipótese 1. Isto mostra que houve consistência na
determinação experimental das deformações nas barras da armadura e no concreto
nas faces externas dos pilares.

As relações entre os momentos fletores experimentais e teóricos, em qualquer


situação, ficaram muito acima da unidade. Evidencia-se assim que as excentricidades
geométricas, medidas antes dos inícios dos ensaios, que caracterizavam os
momentos fletores experimentais atuantes nas seções transversais de meias alturas
dos pilares não ocorreram na sua integridade.

Condições de vinculações diferentes consideradas nos modelos teóricos,


junto as extremidades, ocorreram durante os ensaios realizados. Isto se deu pelo fato
de terem ocorrido engastes parciais dos pilares nas faces inferiores junto ao macaco
hidráulico. Nas faces superiores dos pilares, junto a célula de carga, por deficiência na
rótula, devem ter sido introduzidas ações horizontais.

Para as várias situações analisadas nas tabelas 10 e 11, embora os


resultados não estejam de acordo com o esperado, pode-se perceber que as relações
médias ficaram das mesmas ordens de grandeza indicando consistência nos
resultados.

Cumpre ressaltar que os modelos da série 8, como pode ser visto na tabela
10, não apresentaram momentos fletores teóricos compatíveis com os resultados dos
demais modelos. Isto alterou de modo significativo a relação Mexp / Mteo , modificando
para mais os valores médios. Quando não se considerou os resultados dos modelos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho 25

da série 8 os valores médios foram sempre menores, em ambos modelos da série


observaram descolamentos de extensômetros, sendo que no modelo 8/1 os dois
extensômetros colados na armadura menos comprimida foram perdidos, o critério
adotado de estimar o valor da deformação a partir da deformação na outra face não
surtiu o efeito desejado, coincidentemente estes modelos apresentavam
excentricidades maiores que os anteriores.
Porém, é preciso notar que há consistência nos resultados apresentados
pelas tabelas 10 e 11 pois, com considerações de deformações diferentes - situações
1 e 2, e na etapa em que ocorreu o colapso e para uma ação igual a 80% da ação
última, as relações entre Mexp / Mteo foram praticamente idênticas.

5 AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, por Auxílio à


Pesquisa, processo número 95/2458-4, à Coordenadoria de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, pela concessão de bolsa PICD, ao Grupo Camargo Corrêa
S. A e à Reax Indústria e Comércio Ltda.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1992). NBR 8953 – Concreto


para fins estruturais: classificação por grupos de resistência. Rio de Janeiro.

AGOSTINI, L. R. S. (1992). Pilares de concreto de alta resistência. São Paulo. Tese


(Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

CARRASQUILLO, R. L.; NILSON, A . H.; SLATE, F. O . (1981). Properties of high


strength concrete subject to short-term loads. Journal of A.C.I., v. 78, n. 3, p. 171-178,
May-June.

COLLINS, P. M.; MITCHELL, D.; MACGREGOR, J. (1993). Structural design


consideratios for high-strength concrete. Concrete International, p. 27-34, May.

CUSSON, D.; PAULTRE, P. (1994). High-strength concrete columns confined by


rectangular ties. Journal of Structural Engineering, ASCE, v.120 n.3, p.783-804,
Mar.

FUSCO, P. B. (1989). O cálculo de concreto armado em regime de ruptura.. In:


SIMPÓSIO EPUSP SOBRE ESTRUTURAS DE CONCRETO. Anais. São Paulo.
Escola Politécnica – USP. v. 1.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


26 Flávio Barboza de Lima, José Samuel Giongo & Toshiaki Takeya

GIONGO, J. S.; LIMA, F. B.; TAKEYA, T. (1996). Estudo experimental de pilares de


concreto armado de alto desempenho solicitados à compressão simples e flexão
normal composta. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos – USP.
(Relatório apresentado à FAPESP).

LIMA, F. B. (1997). Pilares de concreto de alto desempenho: fundamentos e


experimentação. São Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São
Carlos, USP.

METHA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. (1994). Concreto: estrutura, propriedade e


materiais. São Paulo, Pini.

PAIVA, Nadjara M. B. (1994). Pilares de concreto de alta resistência com seção


transversal retangular solicitados à compressão simples. Campinas. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas.

PINTO JR., N. O. (1992). Flexão de vigas de concreto de alta resistência. São


Paulo. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 1-26, 2003.


CONCRETO COM AGREGADO GRAÚDO
RECICLADO: PROPRIEDADES NO ESTADO
FRESCO E ENDURECIDO E APLICAÇÃO EM
PRÉ-MOLDADOS LEVES

Luciano M. Latterza 1 & Eloy Ferraz Machado Jr. 2

Resumo

Este trabalho relata a influência do agregado graúdo, reciclado de entulhos de


construção e demolição, nas propriedades físicas e mecânicas do concreto fresco e
endurecido, observada durante a investigação do potencial de utilização de rejeitos de
obras, como agregado graúdo no preparo de concretos de baixa e média resistências.
O agregado reciclado utilizado na pesquisa foi resultante da trituração de entulhos de
obra, na Estação de Reciclagem de Entulhos da cidade de Ribeirão Preto-SP. Foi
utilizada a graduação Dmáx igual a 9,5 mm. Para isto foram analisados concretos com
substituição de 100% e 50% de agregado graúdo natural, utilizado no concreto de
referência. Ensaios de perda do abatimento, massa específica no estado fresco,
resistência à compressão, com determinação do módulo de elasticidade, tração na
compressão diametral e tração na flexão, mostraram a influência do reciclado no
desempenho, frente ao concreto de referência. Comprovou-se, também, a resistência à
abrasão em função da dureza superficial dos concretos. Por fim, o material concreto
com agregados reciclados foi utilizado em uma aplicação prática, na fabricação de
painéis leves de vedação, avaliando-se seu desempenho estrutural à flexão. Tanto o
programa experimental para a realização dos ensaios, quanto os resultados obtidos,
são também apresentados. Concluiu-se, assim, pela viabilidade do emprego de
agregado graúdo reciclado em substituição, total ou em parte, ao equivalente natural
em concretos estruturais de baixa e média resistências.

Palavras-chave: agregados reciclados; resíduos de construção e demolição;


reciclagem de entulhos; concreto com agregados graúdos reciclados.

1 INTRODUÇÃO

A não muito distante conscientização, por parte da indústria da Construção


Civil, do conhecido problema do desperdício nas obras civis, tem estimulado ações no
sentido da implantação de programas de gestão da qualidade, que procuram acabar,

1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP
2
Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, efemacjr@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


28 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

ou diminuir, a geração de rejeitos decorrentes da construção. Por outro lado, a


estabilidade econômica tem provocado um considerável crescimento na produção e
comercialização de materiais de construção, fato que tem sido divulgado nas matérias
econômicas da imprensa brasileira. Notadamente, o crescimento na comercialização
vem se verificando no pequeno e médio varejo, localizado, na maior parte, na periferia
urbana dos municípios de grande e médio porte.
Conseqüentemente, apesar dos programas de gestão da qualidade e de
gestões ambientais, a geração de resíduos sólidos inertes, popularmente conhecidos
como entulhos de obra, tem crescido assustadoramente, refletindo-se na perda da
qualidade ambiental dos espaços urbanos, através do descarte clandestino dos
rejeitos em terrenos baldios, nas margens de pequenos cursos d’água e ao longo das
vias públicas periféricas. Além da degradação ambiental, tais descartes oneram as
administrações municipais com o custo do gerenciamento das disposições irregulares,
traduzido pelo espalhamento, transporte e combate às zoonoses que proliferam nos
ambientes propícios das “montanhas” de entulho.
Recentemente, algumas administrações de municípios de médio e grande
porte estão procurando equacionar o problema instalando usinas de processamento
de entulhos, para o reuso do material reciclado em pavimentação urbana, fabricação
de blocos de vedação e outras aplicações. De acordo com PINTO (1997), a
participação dos resíduos de construção no total dos resíduos sólidos urbanos,
tomados em massa, pode chegar a valores entre 50% e 80%, em cidades de grande e
médio porte. Parte de todo este material, reciclado em estações de processamento,
pode significar uma fonte emergente de agregado para a Construção Civil,
notadamente àquela destinada à população de baixa renda.
Mostrar a viabilidade da utilização da fração graúda, do reciclado, como
material de construção para concretos estruturais de baixa e média resistências, e
consequentemente, sua influência nas propriedades do concreto fresco e endurecido,
e também a aplicação deste material em painéis leves de vedação, constitui-se o
propósito desse trabalho.

2 IMPORTÂNCIA DA PESQUISA

Ao contrário do volume crescente de resíduos gerados pela construção e


demolição, as jazidas de agregados naturais, para concreto, estão se tornando muito
escassas, fazendo com que se busque este material em lugares cada vez mais
distantes, aumentando seus custos de produção e comercialização. O reflexo no
custo total da construção é considerável, incidindo com maior peso nas obras
destinadas às faixas de menor renda. Estimulando, ainda mais, o reuso do entulho
reciclado, está a constatação de que o custo da reciclagem, por tonelada, é menor
que o custo para gerenciar as disposições irregulares. Procurando definir usos para
os reciclados graúdos, como agregado para concreto de baixa e média resistências,
com os devidos cuidados e restrições, a pesquisa pretende formular sugestões e
recomendações técnicas para a aplicação deste novo material de construção.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 29

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Com o objetivo inicial de investigar a influência do agregado graúdo reciclado,


proveniente de entulho de construção e demolição, nas propriedades físicas e
mecânicas do concreto fresco e endurecido, três concretos foram preparados para a
graduação 0 (Dmáx = 9,5 mm), da NBR 7211/83. Em cada concreto variou-se o tipo de
agregado graúdo, tendo-se assim, um concreto de referência, com 100% de agregado
graúdo natural, um com 100% de agregado graúdo reciclado e outro com metade de
agregado graúdo natural e metade reciclado.

4 MATERIAIS

4.1 Agregados naturais

Os agregados, miúdo e graúdo, naturais utilizados no trabalho foram obtidos


na região de São Carlos-SP. O agregado miúdo era uma areia, de origem quartzosa,
proveniente do rio Mogi-Guaçu, com módulo de finura (MF) igual a 2,34 e dimensão
máxima característica (Dmáx) igual a 2,4 mm, classificada como areia fina a média.
Para o concreto de referência foram utilizados agregados graúdos de origem
basáltica, com Dmáx igual a 9,5 mm.
As características físicas, determinadas de acordo com as normas NBR
7251/82, NBR 7810/83 e NBR 9776/87, são apresentadas na Tabela 1, e as curvas
granulométricas dos agregados estão mostrados nas Figuras 1 e 2:

TABELA 1 - Características físicas dos agregados miúdo e graúdo naturais

Características físicas areia natural agregado graúdo


Dmáx = 2,4 mm Dmáx = 9,5 mm
Massa unitária estado solto (kg/dm3) 1,46 1,34
3
Massa unitária estado compactado (kg/dm ) - 1,53
3
Massa específica (kg/dm ) 2,60 2,92

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


30 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

100
90
80
Porc. retida acumulada

70
60
50
40
30
20
10
0
0 0.15 0.3 0.6 1.2 2.4 4.8
Abertura das peneiras (m m )

Figura 1 - Curva granulométrica do agregado miúdo

100
90
Porc. retida acumulada

80
70
60
50
40
30
20
10
0
2.4 4.80 6.30 9.50 12.5
Abertura das peneiras (m m )

Figura 2 - Curva granulométrica do agregado graúdo natural, Dmáx = 9,5 mm

4.2 Agregados reciclados

A Estação de Reciclagem de Entulho de Ribeirão Preto-SP, em operação


desde o final de 1996, produz agregados reciclados oriundos de rejeitos de
construção e demolição, sem peneiramento, em bica corrida. Diversas amostras
foram analisadas a partir do início das operações, podendo-se afirmar que,
aproximadamente, 50% do reciclado é material miúdo, passante na peneira 4,8 mm, e
aproximadamente 70% do material graúdo está compreendido entre as peneiras 19,0
mm e 4,8 mm.
O material graúdo é composto por pedaços de argamassa, pedaços de
concreto, britas, cerâmica porosa e cerâmica lisa, tendo-se, também, observado na
sua composição, entre 0,5 % e 1,0 % de outros materiais como: papéis, farpas de
madeira e isopor. As Figuras 3 e 4 mostram a curva granulométrica do reciclado em
bica corrida e a natureza da composição, respectivamente:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 31

100
90
Porc. retida acumulada
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0.00 0.15 0.30 0.60 1.20 2.40 4.80 6.30 9.50 12.50 19.00 25.00 32.00 38.00
Abertura das Peneiras (m m )

Figura 3 - Curva granulométrica do agregado graúdo reciclado, bica corrida

Outros
Cerâmica 0.5%
15.0%

Argam
Brita 47.9%
22.5%

Concreto
14.1%

Figura 4 - Composição característica do agregado graúdo reciclado,bica corrida

Os agregados graúdos, reciclados, utilizados neste trabalho foram os


passantes na peneira 9,5 mm e retidos na 4,8 mm, caracterizados como graduação 0
da NBR 7211/83. Esta escolha deve-se ao fato que além de estarem entre a maior
parcela do graúdo reciclado, as britas 0 são bastante utilizadas em concretos para
pré-moldados de pequena espessura.
Os agregados reciclados, assim classificados, foram submetidos à análise
granulométrica e natureza da composição e suas características físicas foram
determinadas de acordo com as normas brasileiras pertinentes.
A Tabela 2 mostra as propriedades físicas determinadas e as Figuras 5 e 6
mostram as curvas granulométricas dos reciclados e a natureza da composição.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


32 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

TABELA 2 - Características físicas dos agregados graúdos reciclados

Características físicas agregado graúdo


Dmáx = 9,5 mm
Massa unitária estado solto (kg/dm3) 1,10
Massa unitária estado compactado (kg/dm3) 1,26
Massa específica (kg/dm3) 2,36

100
90
80
Porc. retida acumulada

70
60
50
40
30
20
10
0
2.4 4.8 6.3 9.5 12.5
Abertura das peneiras (m m )

Figura 5 - Curva granulométrica do agregado graúdo reciclado, Dmáx = 9,5 mm

Outros
Cerâmica 2%
12%

Brita
16%

Argam
58%

Concreto
12%

Figura 6 - Composição característica do agregado reciclado, Dmáx = 9,5 mm

5 CONCRETO NO ESTADO FRESCO

Em pesquisa anteriormente realizada utilizando-se os mesmos materiais,


naturais e reciclados, do trabalho aqui apresentado, foram preparadas misturas para
uma resistência característica, do concreto de referência, de 15 MPa. Os ensaios,
então realizados, mostraram que a simples substituição, em massa, dos agregados
graúdos naturais pelos reciclados, com pequeno acréscimo na água de

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 33

amassamento, produziram concretos moldáveis, mas com abatimento praticamente


nulo.
Nesta fase tinha-se como objetivo inicial a investigação da influência do
agregado reciclado nas propriedades do concreto fresco e endurecido. A partir das
misturas anteriores todos os concretos foram, então, ajustados para um abatimento
de (60 ± 10) mm, para um mesmo fator água/cimento, ainda com fck = 15 MPa para o
concreto de referência.
A Tabela 3 mostra as quantidades de materiais, em massa, por metro cúbico
de concreto fresco, adotadas neste trabalho:

TABELA 3 - Quantidade de materiais utilizado em cada concreto

Quantidades de Materiais

Dmáx tipo de agregado cimento areia natural agregado graúdo água


graúdo CP II F-32
( kg/m3 ) ( kg/m3 ) ( kg/m3 ) ( kg/m3 )

natural 358 909 755 269

9,5 mm 50% natural + 360 882 734 266


50% reciclado

100% reciclado 344 843 702 261

5.1 Perda do abatimento (NBR 10342/88)

Sucintamente, o ensaio consiste em se determinar o abatimento, pelo método


do tronco de cone, a cada 15 minutos a partir da primeira determinação. O ensaio é
considerado encerrado quando o concreto apresentar abatimento de (30 ± 10) mm.
Nestes ensaios, devido a pequena quantidade de materiais, os concretos
foram misturados manualmente em amassadeira de chapa.
Os resultados estão representados graficamente, como tempo decorrido
contra percentagem da perda de abatimento, em relação à primeira leitura.
Os ensaios foram conduzidos até um abatimento de (20 ± 10) mm, com o
objetivo de se ter um maior número de pontos para o traçado das curvas. A Figura 7
mostra os resultados individuais e a comparação entre eles, para cada concreto com
agregado graúdo Dmáx = 9,5 mm.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


34 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

abatimento em relação a primeira 100


natural 100
100% reciclado

90

abatimento em relação a primeira


90

80 80

70 70
leitura(%)

leitura (%)
60 60

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
tempo (min) tempo (min)

50% natural + 50% reciclado 100


100
90 natural
abatimento em relação a primeira
abatimento em relação a primeira

90
80 reciclado
80

70 70 50% rec e 50% nat


60
leitura(%)

60
leitura(%)

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
tempo (min) tempo (min)

Figura 7 - Curvas de perda do abatimento individuais e comparação entre as curvas.


Concretos com agregados graúdos com graduação 4,8mm < D < 9,5mm

5.2 Massa específica do concreto fresco (NBR 9833/87)

O ensaio consiste na determinação da massa por unidade de volume do


concreto fresco através da divisão da massa de concreto, em recipiente, adensado de
acordo com a norma, pelo volume do recipiente, normalizado e compatível com a
dimensão máxima característica do agregado graúdo.
Os ensaios foram realizados com os mesmos concretos da moldagem dos
exemplares utilizados na pesquisa, portanto, devido a maior quantidade de materiais
envolvidos, as misturas foram mecânicas.
Os resultados podem ser vistos na Tabela 4:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 35

TABELA 4 - Massa específica do concreto fresco e condições ambiente durante o ensaio

Dmáx tipo de agregado temperatura umidade abatimento massa


graúdo ambiente relativa inicial específica
( ºC ) (%) ( mm ) ( kg/dm3 )
natural 28,9 57 49 2,292
9,5 mm 50% natural + 28,9 55 68 2,250
50% reciclado
100% reciclado 29,1 54 75 2,192

5.3 Análise dos resultados e comentários

Como pode-se perceber da análise das curvas individuais de perda do


abatimento, para os concretos com Dmáx igual a 9,5 mm, apesar de apresentarem
inclinações das curvas maiores, e portanto, perda mais rápida, os concretos com
reciclados tiveram comportamento semelhante ao concreto de referência. O ensaio
encerrou-se com abatimento de 18 mm para o concreto de referência, após 121
minutos da adição de água; com 21 mm, após 96 minutos, para o concreto com 100%
de substituição e com 20 mm, após 93 minutos, para o concreto com 50% de
substituição. Estes abatimentos representam, respectivamente, 29%, 34% e 31% da
leitura inicial.
Comparando-se as curvas, para um tempo próximo a 100 minutos, o
abatimento representa 38% para o concreto de referência contra 34% e 31% para os
outros dois.
Os resultados constatam, com clareza, a influência da maior absorção do
agregado graúdo reciclado na perda do abatimento do concreto fresco,
comportamento semelhante ao observado nos concretos com agregados graúdos
leves.
Com relação à massa específica no estado fresco, pode-se constatar a
influência da menor densidade do agregado reciclado nos resultados obtidos. A
massa específica do concreto com 100% de agregados reciclados está situada nas
proximidades do limite superior dos concretos leves e no limite inferior dos concretos
normais. A massa específica no estado fresco, estabelecendo uma analogia com os
concretos leves NEVILLE (1997), pode ser uma boa aproximação para o cálculo do
peso próprio de concretos com agregados graúdos reciclados.

6 CONCRETO NO ESTADO ENDURECIDO

6.1 Ensaios realizados e número de exemplares

Para estabelecer a influência do agregado reciclado no comportamento


mecânico do concreto endurecido foram programados ensaios para determinação da
resistência à compressão axial, com determinação do módulo de elasticidade
tangente, resistência à tração na compressão diametral e módulo de ruptura à flexão.
Os exemplares eram cilíndricos, de (100 x 200) mm, para realização dos ensaios de

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


36 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

compressão axial e diametral, e prismáticos, de (150 x 150 x 750) mm, para os


ensaios de flexão.
A Tabela 5 mostra o número de exemplares, por ensaio, para cada concreto
analisado:

TABELA 5 - Número de exemplares para cada tipo de ensaio

Número de Exemplares por Tipo de Ensaio


Dmáx tipo de compressão compressão módulo de módulo de
agregado axial diametral ruptura à elasticidade
graúdo flexão
7d 28 d 28 d 28 d 28 d
natural 2 3 3 2 3
9,5 mm 50%natural + 3 3 3 2 3
50% reciclado
100% reciclado 3 3 3 2 3

Os concretos foram misturados mecanicamente, sem que tenha havido


imersão prévia dos agregados graúdos reciclados, que estavam secos ao ar. A
técnica para lançamento do material na misturadora foi a mesma adotada para os
agregados naturais. Após a adição total da água os concretos foram misturados
durante três minutos. Todos os exemplares foram moldados sob as mesmas
condições de temperatura ambiente e umidade relativa, tendo sido adotado o
adensamento mecânico, com vibrador de agulha, de acordo com a NBR 5738/84.
Após 24 horas da moldagem os exemplares foram desmoldados e mantidos imersos
em água até a data dos ensaios.

6.2 Resistência à compressão e módulo de elasticidade (NBR 5739/80)

A Tabela 6 mostra os resultados médios, obtidos com os concretos ensaiados,


para resistência à compressão e módulo de elasticidade:

TABELA 6 - Resistência à compressão e módulo de elasticidade

Dmáx tipo de agregado resistência à compressão módulo de elasticidade


graúdo ( MPa ) ( Gpa )
7d 28 d 28 d
natural 16,0 24,7 (1,00) 13,1
9,5 mm 50% natural +
21,3 29,2 (1,18) 12,8
50% reciclado
100% reciclado 21,0 29,0 (1,17) 13,4

6.2.1 Análise dos resultados e comentários

O concreto de referência atingiu a resistência de dosagem prevista aos 28


dias. Entre os concretos com agregados reciclados, não houve diferenças
significativas, no entanto, superaram os valores de resistência do concreto de

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 37

referência em 17% e 18%. Isto se deve à quantidade de água retirada, da água de


amassamento, pela alta absorção do agregado reciclado. A água retida nos poros
destes agregados não está disponível para a hidratação do cimento, mas na fase de
endurecimento da pasta, provavelmente, a água no interior do agregado reciclado
contribui para a hidratação, como se fosse uma “cura úmida interna”, conforme
descreve NEVILLE (1997), ao se referir aos concretos de agregados leves de alto
poder de absorção.
Quanto ao módulo de elasticidade, não se observou variação entre o concreto
de referência e os contendo 100% e 50% de graúdos reciclados; isto pode ser devido
à pasta que penetra nos poros superficiais dos reciclados, garantindo maior interação
entre a pasta e o agregado. A “cura úmida interna” também pode favorecer a
aderência entre a matriz de cimento e o agregado.
Para Dmáx = 9,5 mm o comportamento, quanto às propriedades elásticas, foi
semelhante para os três concretos, como pode-se observar na Figura 8:

40.00
Dmáx.= 9,5mm

32.00
TENSÃO AXIAL (MPa)

24.00

16.00
Agreg.graúdo
100% reciclado
Agreg.graúdo
natural
8.00
Agreg.graúdo 50
%nat.+50% rec.

0 2.50 5.00 7.50 10.00

DEFORM.AXIAL (mstr)

Figura 8 - Gráfico Tensão × Deformação

6.3 Resistência à tração (NBR 7222/83 e ASTM C 78-94)

Para avaliar o desempenho frente ao concreto convencional de mesma


classe, quanto à resistência à tração, foram realizados ensaios à compressão
diametral, em corpos-de-prova cilíndricos e à flexão, com carregamento nos terços do
vão, em corpos-de-prova prismáticos.
Os ensaios foram conduzidos de acordo com as prescrições da NBR 7222/83
(compressão diametral) e da ASTN C 78-94 (flexão com carregamento nos terços).
Os resultados, apresentados pelos valores médios, são mostrados na Tabela
7. A Figura 9 ilustra o ensaio de flexão:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


38 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

TABELA 7 - Resistência à tração

Resistência à Tração
Dmáx tipo de por compressão na flexão
agregado diametral
graúdo ( MPa ) ( MPa )
28 d 28 d
natural 2,3 3,3
9,5 mm 50% natural + 2,5 3,4
50% reciclado
100% reciclado 2,2 3,3

Figura 9 - Aparato para ensaio à flexão

6.3.1 Análise dos resultados e comentários

No ensaio de compressão diametral a ruptura ocorre por tração horizontal


através do fendilhamento segundo o plano diametral vertical do carregamento. A
teoria da elasticidade bi-dimensional fornece a expressão da tensão de tração
horizontal, em um elemento plano, infinitesimal, do diâmetro vertical do corpo-de-
prova, como sendo:
2P
ftD =
πDL
onde:

P = força máxima no ensaio;


L = altura do corpo-de-prova;
D = diâmetro do corpo-de-prova.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 39

No ensaio de flexão, com carregamento nos terços, a tensão de tração


máxima na face tracionada do corpo-de-prova é dada pela teoria elementar da flexão,
e é conhecida como módulo de ruptura.
PL
A ASTM C 78-94 prescreve o cálculo do módulo de ruptura como , se a
bd 2
ruptura ocorrer no terço médio. Se a ruptura ocorrer fora do terço médio, não mais
3 Pa
que 5% do vão, o módulo é calculado como
bd 2
sendo:

P = força máxima no prisma;


L = vão;
b = largura da seção transversal;
d = altura da seção transversal;
a = distância média da linha de ruptura, na face tracionada, ao apoio mais próximo.

Analisando a Tabela 7, percebe-se que a qualidade do agregado graúdo não


influenciou os resultados dos ensaios na graduação estudada. Os concretos com
agregados reciclados tiveram desempenho igual, ou ligeiramente superior, caso do
concreto com 50% de substituição. Este fato, certamente, é devido à boa aderência
entre a pasta e o agregado, anteriormente comentada. Reforçando essa hipótese,
pode-se citar que durante os ensaios, tanto de compressão diametral, quanto de
flexão, observou-se que as rupturas davam-se através dos agregados.
As relações teóricas, baseadas em resultados de ensaios, entre resistência à
tração direta (ftT) ( considerada o valor real da tensão de tração no concreto),
resistência à tração na compressão diametral (ftD), resistência à tração na flexão (ftF) e
resistência à compressão (fc), encontradas por RAPHAEL (1984), como também as
propostas de revisão da NB1/78, comprovam que os concretos com agregados
graúdos reciclados seguem as mesmas leis. Uma constatação gratificante, verificada
durante a comparação entre os resultados experimentais e teóricos, é que a
resistência à tração na compressão diametral, quando o ensaio é bem conduzido,
pode representar, ela mesma, a resistência à tração direta do concreto. A Tabela 8
apresenta as comparações entre os resultados experimentais e os teóricos de
Raphael e, em seguida, apenas para a resistência à tração por compressão diametral,
esses valores são também comparados com os da proposta de revisão da NB1/78,
Tabela 9:

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40 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

TABELA 8 - Relações entre valores teóricos e experimentais

Valores de Resistência à Tração


EXPERIMENTAL TEÓRICO (Raphael)
Dmáx tipo de fc ftD ftF ftF = ftT= ftT=
agregado 2/3 2/3
0,44 fc 0,33 fc 0,75 ftF
graúdo
(mm) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa )
natural 24,7 2,3 3,3 3,7 2,8 2,5
9,5 50% natural +
29,2 2,5 3,4 4,2 3,1 2,6
50% reciclado
100% reciclado 29,0 2,2 3,3 4,2 3,1 2,5

onde:

fc = resistência à compressão axial aos 28 dias


ftD = resistência à tração por compressão diametral
ftF = resistência à tração na flexão (módulo de ruptura)
ftT = resistência à tração direta

TABELA 9 - Resistência à tração aos 28 dias - Comparação entre os valores experimentais de


resistência à tração por compressão diametral, RAPHAEL e proposta da revisão da NB-1/78

Valores de Resistência à Tração


EXPERI- TEÓRICO
MENTAL
Dmáx tipo de compressão Raphael Revisão da NB - 1/78
agregado diametral
graúdo ftD ftT = ftT = ftT = ftT = ftT =
0,75 ftF 0,33 fc 0,9 ftD 0,7 ftF 0,3 fc 2/3
2/3

(mm) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa ) ( MPa )


natural 2,3 2,5 2,8 2,1 2,3 2,5
9,5 50% natural +
2,5 2,6 3,1 2,3 2,4 2,8
50% reciclado
100% reciclado 2,2 2,5 3,1 2,0 2,3 2,8

Observa-se na tabela 9 que os valores de resistência à compressão diametral,


obtidos experimentalmente, são praticamente idênticos aos propostos pela revisão da
NB-1/78, tomando-se a resistência à tração direta em relação à resistência à tração
na flexão (módulo de ruptura). Para melhor visualização, apresentamos esses valores
separadamente na Figura 10:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 41

4,00
3,80
3,60
3,40

Resistência à Tração (MPa)


3,20 ftD Experim
3,00 ftT=0,7 ftF (Rev.NB-1)
2,80 2,6 ftT=0,75 ftF (Raphael)
2,5 2,5 2,5
2,60
2,3 2,3 2,4 2,3
2,40
2,2
2,20
2,00
1,80
1,60
1,40
1,20
1,00
Natural 50% + 50% 100%

Figura 10 - Gráfico comparativo de resistência à tração- Dmáx = 9,5 mm

A atual, e ainda em vigor, NB-1/78 estabelece uma relação de 0,85 entre os


valores de resistência à tração direta e os obtidos por compressão diametral, para
concretos. Mesmo propondo alteração deste coeficiente de 0,85 para 0,90 (vide
Tabela 9), estes valores ainda se mantêm conservadores. A proposição da RILEM
(1993), (Tabela 10-reproduzida aqui para melhor visualização), propõe que a relação
entre tração direta e tração por compressão diametral, mesmo que para concretos
com agregados reciclados, seja diretamente proporcional (relação 1:1). Este fato pôde
ser verificado e constatado pelos resultados obtidos, também para concretos que
utilizaram agregados reciclados em suas misturas.

TABELA 10 - Coeficientes de relação propostos por RILEM (1993)

Valores de Projeto Tipo I Tipo II Tipo III


resistência à tração 1 1 1
módulo de elasticidade 0,65 0,8 1

6.4 Resistência à abrasão do concreto com agregado graúdo reciclado

Para avaliar indiretamente a resistência à abrasão dos concretos com


agregados reciclados, valeu-se da relação direta entre a abrasão e a dureza
superficial, SADEGZADEH, M.; KETTLE, R. (1986). Foram, portanto, realizados
ensaios esclerométricos, com finalidade apenas comparativa, no concreto de
referência e nos concretos com reciclados.
Os exemplares para execução do ensaio foram os prismas utilizados nos
ensaios de flexão. No total foram realizados seis ensaios esclerométricos nos
concretos com Dmáx igual a 9,5 mm.
Os resultados da avaliação, conduzidos segundo a NBR 7584/95, estão
apresentados na Tabela 11:

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TABELA 11 - Valores dos índices esclerométricos

Dmáx tipo de agregado no do idade índice


graúdo prisma (dias) esclerométrico
natural 1 29 18,9
2 29 19,1
50% natural + 3 29 22,6
9,5 mm 50% reciclado 4 29 22,8
100% reciclado 5 29 20,8
6 29 20,6

6.4.1 Análise dos resultados e comentários

A uniformidade dos valores, para cada grupo, demonstra a homogeneidade


do concreto dos exemplares ensaiados.
Os resultados maiores, nos concretos com reciclados, correspondem à maior
resistência à compressão dos mesmos e indicam dureza superficial, no mínimo, igual
aos concretos de referência.

7 APLICAÇÃO DO CONCRETO COM AGREGADO RECICLADO NA


FABRICAÇÃO DE PAINÉIS LEVES DE VEDAÇÃO

A fim de dar uma aplicação prática aos estudos até agora conduzidos e,
dados os bons resultados apresentados pelo material reciclado, nesta fase propôs-se
um modelo de painel nervurado com o objetivo de se realizar ensaios para análise do
desempenho à flexão. Os painéis confeccionados com concreto utilizando-se
agregado graúdo reciclado, foram avaliados comparando o seu desempenho frente a
um painel de referência moldado com concreto confeccionado com agregados
naturais.
O componente utilizado faz parte de um ante-projeto para confecção de
painéis leves pré-moldados para construção de habitações populares. As
configurações construtivas para o posicionamento do painel em uma parede são
apresentadas mais adiante.
Os fundamentos teóricos utilizados na análise dos painéis foram os fornecidos
pela Teoria Elementar da Flexão. O dimensionamento das peças foi realizado para o
estado limite último e as verificações para o estado limite de utilização compreendem
determinação do momento fletor de fissuração e do estado de deformação excessiva.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 43

7.1 Teoria elementar da flexão

Por simplificação, os painéis foram considerados, como se fossem vigas


submetidas a um carregamento uniforme. Utilizando-se o Princípio dos Trabalhos
Virtuais (PTV), pode-se determinar o deslocamento no meio do vão de uma viga.
A seguir são dadas as expressões finais do deslocamento no meio do vão
para uma viga simplesmente apoiada, de comprimento L com força uniformemente
distribuída, e também com força concentrada aplicada nos terços do vão:

- Viga com carregamento uniformemente distribuído q ao longo do


comprimento L do vão. Para o deslocamento tem-se:

5qL4
δ=
384 EI

- Viga com carregamento concentrado F/2 aplicado nos terços do vão teórico.
Para o deslocamento tem-se:
23FL3
δ=
. EI
1296

7.2 Dimensionamento dos painéis

No dimensionamento dos painéis nervurados foi utilizada a teoria usual do


concreto armado, considerando-se a seção transversal de maneira simplificada com
relação à sua geometria.
As hipóteses de cálculo utilizadas foram as prescritas pela NBR 6118/78
“Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado”.
Para o Estado Limite de Utilização, são feitas as verificações considerando-se
os carregamentos, ou seja, as solicitações de serviço, previstos para o uso normal de
peças do tipo das estudadas neste trabalho. As hipóteses de cálculo utilizadas são as
mesmas adotadas para peças fletidas de concreto armado prescritas pela NBR
6118/78.

7.3 Programa experimental

Os painéis foram submetidos a ensaios de flexão, aos 7 dias, com


carregamento aplicado nos terços do vão até que eles atingissem a ruptura. Corpos-
de-prova para ensaios de resistência à compressão, resistência à tração,
determinação do módulo tangente de elasticidade, absorção, índice de vazios e
massa específica do concreto endurecido, foram moldados para cada tipo de
agregado graúdo utilizado nas misturas.

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7.4 Dimensões dos componentes

Os painéis possuem dimensões de 400 mm de largura e 2.500 mm de


comprimento, definindo-se um vão teórico de 2.450 mm. A espessura total do painel é
de 50 mm, sendo a mesa com 20 mm e a parte das nervuras acrescidas de 30 mm.
Os componentes adotados possuem 3 nervuras; 2 nas extremidades laterais com 20
mm de largura e uma na parte central com 40 mm de largura final.
Na Figura 11 é apresentada a seção típica do painel utilizado contendo as
dimensões totais e das nervuras. Em seguida, na Figura 12, apresentam-se as
configurações do sistema construtivo, inicialmente proposto para construção de
habitações populares, mostrando o posicionamento do painel nos encontros de
parede:

Figura 11 - Dimensões do painel e da seção típica

(a) (b)
Figura 12 - Posicionamento do painel: (a) encontro no meio da parede; (b) encontro no canto
da parede

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Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 45

7.5 Fôrmas e armaduras para os painéis

Para a moldagem dos painéis, foram utilizadas fôrmas metálicas. No


dimensionamento das peças de concreto utilizou-se uma força total distribuída de 58
N/m, considerando-se a utilização de um concreto classe C-15 e uma taxa de
armadura de 60 kg/m3.
Adotou-se 1 fio de aço, do tipo CA 60 - B, com diâmetro de 3,2 mm colocado
na parte inferior e superior das nervuras, e 2 fios de mesmo diâmetro colocados na
mesa para efeito de distribuição. Os estribos foram espaçados a cada 25 cm. O
cobrimento mínimo das armaduras foi de 6 mm. O alojamento das armaduras e o seu
arranjo está mostrado na Figura 13:

N 1 = 11 0 3,2 c/25 L = 250,4


174,4
38 38

8 0 3,2 L = 248
6 10,8

38 24,2

6 15
150 150
6 14 5 5 5
11,6 16,8 11,6

2500

250 250 250 250 250 250 250 250 250 250

Figura 13 - Arranjo da armadura no painel

7.6 Materiais utilizados nos ensaios

Os agregados reciclados utilizados para confecção dos painéis foram os


coletados na estação de reciclagem de Ribeirão Preto em meados de abril de 1997.
Devido às pequenas dimensões do painel, adotou-se agregado graúdo com dimensão
máxima característica Dmáx = 9,5 mm (brita 0).
Os painéis foram moldados com concreto preparado na proporção 1:2,83:2,33
para agregado natural e, a partir deste, os traços foram ajustados para agregados
reciclados, tentando-se manter as mesmas proporções e fator água/cimento (em torno
de 0,68). O cimento utilizado foi o CP II E- 32, com um consumo de cimento da ordem
de 335 kg/m3 de concreto. Como agregado miúdo utilizou-se a areia natural do rio
Mogi-Guaçu, na região de São Carlos.

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7.7 Ensaio à flexão dos painéis

Os agregados graúdos natural e reciclado, e o agregado miúdo, utilizados


para confecção dos painéis, foram submetidos a ensaios para determinação da
absorção, índices de vazios e massa específica no estado seco e saturado superfície
seca, tendo suas características apresentadas anteriormente.
Apresenta-se a seguir como foram realizados os ensaios à flexão e as
diversas etapas envolvidas.

7.7.1 Moldagem, adensamento e cura

A Figura 14 mostra a seqüência de moldagem dos painéis. O adensamento foi


realizado através de mesa vibratória. O painel permaneceu em cura úmida por 24
horas, na fôrma. Após a desforma foi curado ao ar, em ambiente protegido. Todos os
ensaios foram realizados com idades de 7 dias.

(a) (b) (c)


Figura 14 - (a) fôrma do painel com armadura alojada; (b) preenchimento das nervuras;
(c) fôrma totalmente preenchida

7.7.2 Esquema estático e de carregamento

Os protótipos foram submetidos à ação de uma força concentrada, aplicada


de cima para baixo, substituindo-se a força uniformemente distribuída por 2 forças
concentradas, aplicadas aproximadamente nos terços do vão, segundo o esquema
estático e de carregamento mostrado na Figura 15.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 47

F/2 F/2

816,7mm 816,7mm 816,7mm

2450 mm

Figura 15 - Esquema estático e de carregamento do painel

A força atuante foi aplicada através de um cilindro hidráulico de capacidade


200 kN acoplado a uma bomba hidráulica de acionamento manual, Figura 16:

Figura 16 - Aparelhagem para aplicação de força

7.7.3 Instrumentação

Para se fazer aplicação e medição da força utilizou-se uma célula de carga


com capacidade de 50 kN.
Os deslocamentos transversais do painel foram medidos por meio de
transdutores elétricos com sensibilidade de 0,5 mm e curso de 100 mm, posicionados
em 4 pontos ao longo do painel: 2 na seção transversal média e 2 junto aos apoios,
como mostrado na Figura 17:

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F/2 D3 F/2
D1 D4
D2

2500
Planta
D1 F/2 F/2 D4

D2

816,7 816,7 816,7


2450

Figura 17 - Localização dos transdutores elétricos no painel ensaiado

7.8 Ensaio de avaliação do comportamento à flexão dos painéis

Durante a aplicação da força, foram registrados os deslocamentos ocorridos e


os valores relativos a elas. Um sistema de aquisição de dados computadorizado
registrou as leituras indicadas pela célula de carga e pelos transdutores. No decorrer
dos ensaios foram anotadas as forças responsáveis pela primeira fissura e o
surgimento das fissuras posteriores conforme os acréscimos de carregamento. A
Figura 18 mostra o aparato de ensaio utilizado (a) e um detalhe do apoio móvel (b).
O valor da força total para execução do ensaio foi de 1080 N. Os incrementos
de carga foram da ordem de 100 N.

(a)

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 49

(b)

Figura 18 - Aparato de ensaio à flexão com detalhe do apoio móvel

A seguir são apresentados os resultados dos ensaios à flexão realizados nos


painéis e comentários são efetuados.

8 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

8.1 Considerações gerais

É importante observar que os estudos realizados nos painéis foram efetuados


logo no início das pesquisas, quando do recebimento do material em abril de 1997.
Assim, as determinações de algumas das características físicas dos agregados foram
concluídas posteriormente à data da realização dos ensaios nos painéis.
As quantidades de materiais utilizadas nos concretos dos painéis foram
apenas substituídas em massa, em função dos ensaios iniciais, acrescentando-se
mais ou menos água à mistura, sem que houvesse ajuste nos traços. A Tabela 12
apresenta os valores do abatimento e fator água/cimento para os concretos utilizados
nos painéis:

TABELA 12 - Fator água/cimento e abatimento dos concretos dos painéis

tipo de concreto natural 50% natural + 100% reciclado


(Dmáx = 9,5 mm) 50% reciclado
abatimento (mm) 7 12 29
fator a/c 0,64 0,68 0,74

Para o concreto com 100% de agregados graúdos reciclados, devido aos


estudos preliminares, acrescentou-se mais água à mistura, resultando um fator
água/cimento maior.
Para o concreto utilizando-se agregados naturais, foi estimado um valor de
3% para a umidade da areia, diminuindo-se da mistura a quantidade de água

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


50 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

equivalente. Pode-se explicar, em decorrência deste fato, o menor abatimento deste


concreto em relação aos outros.

8.2 Análise dos resultados e comentários

Juntamente com a moldagem dos painéis, corpos-de-prova cilíndricos de 10


cm de diâmetro e 20 cm de altura, correspondentes a cada tipo de concreto, foram
submetidos a ensaios de compressão, axial e diametral, determinando-se as
resistências médias e o módulo de elasticidade na data dos ensaios dos painéis e aos
28 dias.
Os resultados dos ensaios nos corpos-de-prova correspondentes aos
concretos dos painéis com agregados naturais e reciclados podem ser vistos na
Tabela 13:

TABELA 13 - Corpos-de-prova cilíndricos. Média dos resultados

idade tipo de compressão compressão módulo de elast.


concreto axial diametral tangente
(dias) (Dmáx = 9,5 mm) (MPa) (MPa) (MPa)
natural 21,0 (1,00) 2,35 (1,00) 9.826 (1,00)
7 50% natural + 20,0 (0,95) 2,12 (0,90) 11.349 (1,15)
50% reciclado
100% reciclado 16,0 (0,76) 1,29 (0,55) 8.725 (0,89)
natural 32,8 (1,00) - 16.948 (1,00)
28 50% natural + 27,4 (0,84) - 15.323 (0,90)
50% reciclado
100% reciclado 21,2 (0,65) - 12.295 (0,73)

Observando-se a Tabela 13 pode-se perceber que a resistência à


compressão aos 7 e aos 28 dias, para o concreto com 100% de agregado graúdo
reciclado, chegou a um valor médio em torno de 16 MPa e 21,2 MPa, ficando 24% e
35% abaixo dos valores do concreto de referência. O concreto com 50% de reciclados
apresentou-se 5% e 16% menor, aos 7 e aos 28 dias.
A resistência à tração do concreto com 100% de agregado graúdo reciclado,
medida no ensaio por compressão diametral, foi aproximadamente a metade dos
outros dois concretos.
Os valores dos módulos de elasticidade foram aproximadamente iguais para
os três tipos de concretos, aos 7 dias, e com valores decrescentes em relação ao
concreto de referência, aos 28 dias, como era esperado.
Para o concreto endurecido, foram também efetuados ensaios, aos 28 dias,
para determinação da absorção, índice de vazios e massa específica, segundo a NBR
9778/87 “Argamassa e Concreto Endurecidos - Determinação da Absorção de Água
por Imersão - Índice de Vazios e Massa Específica”, e os resultados estão
apresentados na Tabela 14:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 51

TABELA 14 - Absorção, índice de vazios e massa específica dos concretos

tipo de absorção índice de γs γsss γ


concreto vazios
(%) (%) (kg/m3) (kg/m3) (kg/m3)
natural 5,23 (1,00) 11,82 (1,00) 2.259 (1,00) 2.377 (1,00) 2.562 (1,00)
50% natural + 6,51 (1,24) 13,92 (1,18) 2.139 (0,95) 2.278 (0,96) 2.485 (0,97)
50% reciclado
100% reciclado 8,04 (1,54) 16,19 (1,37) 2.013 (0,89) 2.175 (0,92) 2.402 (0,94)

onde:
γs = massa específica da amostra seca;
γsss = massa específica da amostra saturada superfície seca;
γ = massa específica real.

Observa-se na Tabela 14 que a absorção e o índice de vazios do concreto


com 50% de agregado graúdo reciclado foram, respectivamente, 1/4 e 1/5 maiores
que o de referência, dobrando a relação para o concreto com 100% de substituição.
A massa específica seca do concreto contendo 100% de agregado reciclado
(2.013 kg/m3), está situada no limite superior dos concretos leves (γs=1.900 kg/m3), e
inferior dos concretos normais (γs=2.100 kg/m3). O concreto com 100% de agregado
graúdo reciclado, apresentou absorção de 8%, que é o máximo admissível para tubos
de concreto armado segundo a NBR-9794/87 e postes de concreto armado pela NBR-
8451/85.
O desempenho, à flexão, dos painéis moldados utilizando-se concreto
preparado com agregado graúdo reciclado, frente ao painel de referência, pode ser
avaliado através das curvas Força X Deslocamento transversal, que estão
apresentadas na Figura 19:

2500

2000
Força (N)

1500

1000 natural

100% reciclado
500
50% natural +
0 50% reciclado
0 20 40 60 80 100
Deslocamento (mm)

Figura 19 - Gráfico força x deslocamento transversal, aos 7 dias

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


52 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

O painel preparado com agregados naturais apresentou início de fissuração


visível com uma força de aproximadamente 350 N, conferindo uma flecha
experimental de 8 mm. Para os concretos com 50% e 100% de reciclados, a
fissuração visível deu-se para forças de 400 N e 200 N, conferindo flechas respectivas
de 10 mm e 4 mm. A fase de fissuração pode ser notada graficamente (Figura 19)
pela mudança de inclinação logo no início das curvas.
Após a fissuração, para os 3 tipos de concretos, as curvas apresentaram um
comportamento praticamente linear, até as forças de 1.150 N, 1.400 N e 1.000 N,
para concretos com agregados naturais, 50% reciclados e 100% reciclados, com
flechas de aproximadamente 50 mm, 47 mm e 41 mm respectivamente, onde
presume-se, pela nova mudança de inclinação das curvas, que houve escoamento da
armadura.
O desempenho inferior do painel com 100% de agregado graúdo reciclado,
está de acordo com os resultados apresentados na Tabela 13, relativos aos ensaios
de resistência à compressão e tração. As curvas obtidas, estão perfeitamente de
acordo com os respectivos módulos de elasticidade, na data dos ensaios dos painéis
aos 7 dias.
Os momentos fletores últimos obtidos experimentalmente foram comparados
com os momentos fletores últimos teóricos calculados utilizando-se aproximação de
concreto armado convencional. Nesta aproximação a armadura nas nervuras é
assumida escoada por causa dos altos deslocamentos últimos obtidos nos painéis.
Para painéis rompidos à flexão, a aproximação com concreto convencional parece
predizer a capacidade última à flexão com razoável acuidade.
É apresentado na Tabela 15 a comparação entre os valores dos momentos
fletores de fissuração experimentais, teóricos com valores de ft7 experimental e
teóricos de projeto, bem como os valores experimentais e teóricos de projeto para os
momentos fletores últimos. A comparação entre os valores das flechas, seguindo a
mesma sistemática, encontra-se na Tabela 16:

TABELA 15 - Comparação entre os momentos fletores teóricos e experimentais

tipo de Momento fletor de fissuração Momento fletor último


concreto (kN.cm) (kN.cm)
Dmáx = 9,5 mm experimental teórico com teórico experimental teórico de
valores de projeto
experimentais projeto
natural 14,29 (0,50) 28,72 13 46,96 (1,23) 38,27

50% natural + 16,33 (0,64) 25,66 13 57,17 (1,49) 38,27


50% reciclado
100% 8,17 (0,50) 16,36 13 40,83 (1,07) 38,27
reciclado

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 53

TABELA 16 - Comparação entre as flechas experimentais e teóricas

tipo de FLECHA para momento FLECHA para momento


concreto fletor de fissuração fletor último
(mm) (kN.cm)
Dmáx = 9,5 mm experimental teórica com teórica de experimental teórica de
valores projeto projeto
experimentais
natural 8 (0,67) 12,0 2 50 (1,30) 38,5
50% natural + 10 (0,65) 15,3 2 47 (1,22) 38,5
50% reciclado
100% reciclado 4 (0,13) 31,5 2 41 (1,06) 38,5

Para o painel contendo concreto com agregados naturais e com 100% de


agregado reciclado, os valores dos momentos fletores de fissuração atingiram a
metade dos momentos fletores teóricos com valores experimentais. Para o concreto
com 50% de reciclados o momento ficou 36% menor do que o valor teórico utilizando-
se ft7 experimental. Em relação ao momento último os valores experimentais
superaram os valores teóricos de projeto em todos os casos.
Quanto aos valores das flechas, os painéis atingiram 67% e 65% dos valores
teóricos utilizando-se ft7 experimental, para concreto com agregados naturais e 50%
de substituição. Para o concreto com 100% de graúdo reciclado a flecha ficou 87%
menor. Todos os valores de flechas para momento fletor último atingiram valores
maiores do que os teóricos de projeto.
As curvas Tensão × Deformação do concreto sob compressão, estão
apresentadas na Figura 20 (a) e (b), aos 7 e aos 28 dias, respectivamente. As curvas,
para todos os concretos são lineares até aproximadamente 0,0007 mm . As curvas
Tensão × Deformação para concretos contendo agregado reciclado estão próximas
daquelas do concreto de controle.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


54 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

35
25
natural natural
50% natural + 50% reciclado 50% natural + 50% reciclado
30
100% reciclado 100% reciclado
20

25

Tensão (Mpa)
Tensão (MPa)

15
20

15
10

10

5
5

0 0
0 0.001 0.002 0.003 0.004 0 0.001 0.002 0.003

Deformação (mm/mm) Deformação (mm/mm)

a) b)
Figura 20 - Gráficos Tensão x Deformação: (a) aos 7 dias ; (b)aos 28 dias

Os gráficos apresentam-se semelhantes para ambos os casos. Aos 7 dias, as


curvas demonstram-se coincidentes até aproximadamente 12 MPa onde a curva, para
concreto com 100% de agregado reciclado, começa a desviar-se das demais. Para os
concretos contendo 50% de reciclados e materiais naturais, as curvas Tensão ×
Deformação, começam a se afastar próximo aos valores de 17 MPa.
Nos ensaios realizados aos 28 dias, apesar da curva para concreto com 100%
de agregado reciclado possuir, inicialmente, maior valor de tensão, para uma mesma
deformação, a inclinação da curva apresentou-se menor em relação às outras duas,
conferindo menor valor para o módulo de elasticidade, como pode ser verificado na
Tabela 13 reproduzida a seguir para melhor apreciação:

TABELA 13 - Corpos-de-prova cilíndricos. Média dos resultados

idade tipo de compressão compressão módulo de elast.


concreto axial diametral tangente
(dias) (Dmáx = 9,5 mm) (MPa) (MPa) (MPa)
natural 21,0 (1,00) 2,35 (1,00) 9.826 (1,00)
7 50% natural + 20,0 (0,95) 2,12 (0,90) 11.349 (1,15)
50% reciclado
100% reciclado 16,0 (0,76) 1,29 (0,55) 8.725 (0,89)
natural 32,8 (1,00) - 16.948 (1,00)
28 50% natural + 27,4 (0,84) - 15.323 (0,90)
50% reciclado
100% reciclado 21,2 (0,65) - 12.295 (0,73)

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Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 55

8.3 Sugestões e recomendações

Baseados nos resultados experimentais deste estudo, o entulho reciclado


usado como agregado graúdo para concreto pôde prover resistências próximas
àquelas do concreto com agregado natural. Entretanto, a fim de melhor compreender
seu desempenho, é recomendado que ensaios de durabilidade e características de
fluência dos concretos contendo agregados reciclados sejam desenvolvidos.

9 CONCLUSÕES

9.1 Considerações finais

Este estudo foi conduzido para investigar o potencial do entulho reciclado


como agregado graúdo na confecção de concreto. Ensaios para determinação das
características físicas foram desenvolvidos nos agregados reciclado e natural e os
resultados foram comparados. Para determinação da resistência à compressão
simples e compressão diametral foram conduzidos ensaios em corpos-de-prova
cilíndricos, e, para determinação da resistência à flexão foram realizados ensaios em
painéis, utilizando-se concretos com 50% de agregados graúdos reciclados em
substituição ao agregado natural e em concretos com 100% de entulho reciclado
como agregado graúdo. Os resultados foram comparados com aqueles concretos
contendo agregados naturais.
Os resultados mostram, sem sombra de dúvidas, a viabilidade técnica e
econômica de se empregar reciclados, de construção e demolição, como agregados
graúdos para concretos de baixa e média resistências.
Os resultados deste estudo incluem melhor compreensão do comportamento
do “novo” concreto confeccionado com agregados de entulho reciclado pelo processo
de britagem. Este conhecimento reduz significativamente o risco associado ao uso de
tal concreto na prática, e irá encorajar mais profissionais da área a utilizarem esse
material em obras de concreto de média e baixa resistências com as devidas
restrições que lhes cabem.

9.2 Conclusões

Baseado nos resultados das investigações conduzidas, as seguintes


conclusões podem ser obtidas:
A utilização dos agregados graúdos provenientes da reciclagem do entulho de
construção e demolição apresenta-se totalmente viável no tocante ao preparo de
concretos classe C-15, com agregados na graduação “brita 0” da NBR-7211/83.
Dadas as suas características físicas apresentadas, o agregado graúdo
reciclado pode ser considerado, com certa aproximação, como sendo um agregado
leve.
A absorção e índice de vazios influem significativamente na trabalhabilidade
do concreto preparado com agregado reciclado. Esta influência se dá pelo aumento
da velocidade de perda do abatimento, constatada nos estudos e que, pelos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


56 Luciano M. Latterza & Eloy Ferraz Machado Jr.

resultados apresentados, pode-se considerar que um concreto permaneça com boa


trabalhabilidade durante, apenas 60 min. Por outro lado, este fenômeno diminui a
água livre da mistura, conferindo com isto um aumento na resistência à compressão,
contribuindo ainda para uma “cura interna” do concreto.
A “procedência” do agregado (natural ou reciclado) não influencia a
resistência à tração, conferindo ao concreto reciclado um comportamento que
obedece as mesmas relações nas propriedades mecânicas entre resistência à tração
por compressão diametral, à tração na flexão e resistência à compressão simples, que
os concretos convencionais de mesma classe.
A massa específica do concreto é influenciada pela massa específica menor
do agregado reciclado, fazendo com que o concreto situe-se no limite entre concretos
leves e convencionais.
Não houve diferenças significativas entre o módulo de elasticidade do
concreto com agregados reciclados e naturais, entretanto o concreto com reciclados
pode apresentar valores de deformações bem mais elevados.
A dureza superficial, que possui uma relação direta com a resistência à
abrasão dos concretos, apresentou-se, neste caso, semelhante à dos concretos
convencionais, de mesma classe de resistência.
A teoria de concreto armado convencional usada para painéis com agregado
graúdo graduação brita 0, prediz a capacidade do momento último com limites
razoáveis.
O material entulho reciclado possui um grande potencial de utilização, porém
estudos mais profundados devem ser conduzidos. A continuidade das pesquisas
certamente fornecerá o respaldo final para utilização em larga escala deste material
alternativo de construção.
Finalmente podemos concluir que ao se investir numa conscientização para
reutilização dos resíduos de uma forma geral, e mais especificamente para utilização
de agregados graúdos reciclados em concretos estruturais de baixa e média
resistências, estar-se-á contribuindo com a qualidade ambiental, considerando-se a
não deposição clandestina do entulho na malha urbana e ainda podendo significar a
redução de custos nas obras destinadas às classes sociais de baixa renda.

10 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao DERMURP e à Estação de Reciclagem de Entulhos


de Ribeirão Preto, S.P., pelo fornecimento do entulho reciclado.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


Concreto com agregado graúdo reciclado: propriedades no estado fresco e endurecido... 57

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Moldagem e cura de corpos de prova de concreto, cilíndricos ou prismáticos.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1980). NBR 5739 - Ensaios


de compressão de corpos de prova cilíndricos de concreto.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983). NBR 7211 - Agregado


para concreto.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1982). NBR 7251 - Agregado


em estado solto. Determinação da massa unitária.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983). NBR 7810 - Agregado


em estado compactado seco. Determinação da massa unitária.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1987). NBR 9776 -


Agregados - Determinação da massa específica de agregados miúdos por meio
do frasco de Chapman.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1987). NBR 9937 -


Agregados - Determinação da absorção e da massa específica de agregado
graúdo.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1988). NBR 10342 -


Concreto fresco. Perda de abatimento.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1987). NBR 9833 - Concreto


fresco - Determinação da massa específica e do teor de ar pelo método
gravimétrico.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1995). NBR 7584 - Concreto


endurecido - Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983). NBR 7222 -


Argamassas e concretos - Determinação da resistência à tração por compressão
diametral de corpos de prova cilíndricos.

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (1994). C 78 - Standard test


method for flexural strength of concrete (using simple beam with third- point
loading).

DERMURP (1997). Diagnóstico da central de reciclagem de resíduo de construção


civil de Ribeirão Preto, S.P.

GIONGO, J.S. (1991). Argamassa armada: exemplo de cálculo de uma viga calha.
São Paulo, ABCP.

KHALOO, A. R. (1995). Crushed tile coarse agregate concrete. Cement, Concrete


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LATTERZA, L.M. (1998). Concreto com agregado graúdo proveniente da


reciclagem de resíduos de construção e demolição: um novo material para

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


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NEVILLE, A. M. (1997). Propriedades do concreto. 2..ed. São Paulo, Pini.

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RAPHAEL, J. M. (1984). Tensile strength of concrete. ACI Journal, v. 81, n. 2, p. 158-


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UNICAMP.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 27-58, 2003.


REFORÇO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO
POR MEIO DE ENCAMISAMENTO COM
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO

Adilson Roberto Takeuti1 & João Bento de Hanai2

RESUMO

Apresentam-se os resultados de uma investigação experimental realizada por TAKEUTI


(1999), constituída de três séries de ensaio, cada uma envolvendo dois modelos: um
pilar básico de concreto armado, representando o pilar a ser reforçado e um pilar
básico reforçado por camisas de concreto de alto desempenho com várias
características. Tem-se ainda uma quarta série envolvendo pilares de concreto de
resistência de 25 MPa a 35 MPa. Os pilares foram submetidos à compressão axial por
meio de uma máquina universal hidráulica servo-controlada. A fim de realizar os
ensaios com controle de deslocamento foi adotada uma velocidade de 0,005mm/s.
A força aplicada e a deformação continuaram sendo medidos após o alcance da força
de ruína para avaliar o comportamento pós-pico, até uma força residual de cerca de
50% da força de pico. Modelos teóricos de cálculo da resistência última dos pilares
reforçados foram analisados. Também foram testados modelos de análise do
confinamento e da ductilidade para os elementos reforçados.

Palavras-chave: concreto de alto desempenho; pilares; reforço; encamisamento; fibras


de aço.

1 INTRODUÇÃO

De tempos em tempos a comunidade técnica se depara com casos de ruína


de pilares por falha de projeto, de execução ou de uso, chegando-se às vezes à
medida extrema de implosão de prédios. Uma solução para esse tipo de incidente
poderia eventualmente ser o reforço das estruturas, para o que seria imprescindível o
conhecimento mais preciso possível do comportamento estrutural dos reforços, para
se chegar a uma solução viável e principalmente segura.
Contudo, os métodos e técnicas de reabilitação das estruturas de concreto,
apesar do rápido desenvolvimento, ainda se baseiam na experiência empírica
acumulada, devido ao caráter artesanal e incomum dos processos de reabilitação,
uma vez que cada problema enfrentado tem suas próprias características.
1
Mestre em Engenharia de Estruturas, Aluno de Doutorado na EESC-USP, atakeuti@sc.usp.br
2
Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jbhanai@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.


60 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

Visando contribuir à melhor compreensão do comportamento estrutural das


estruturas reabilitadas, o presente trabalho enfatiza o estudo de pilares de concreto
armado reforçados por meio de encamisamento com concreto de alto desempenho,
procurando-se explorar os atributos de alta resistência à compressão dos concretos
com adição de sílica ativa ou de maior tenacidade no caso de concretos com fibras de
aço.

Utilizou-se o reforço de elementos estruturais com concreto armado pelo fato


dele ser um material muito empregado devido às suas vantagens econômicas e
rapidez de execução. Porém, possui, dentre outras desvantagens, a de produzir
elementos finais de dimensões muito superiores às iniciais, previstas no projeto. No
entanto, o uso do concreto de alto desempenho no reforço, pode resultar na adoção
de uma espessura da camisa relativamente pequena, não alterando muito as
dimensões iniciais do pilar.

2 ANÁLISE EXPERIMENTAL

Utilizou-se dois modelos para a análise experimental, sendo o primeiro um pilar


de referência de dimensões (15x15x120)cm, com armadura longitudinal de 4 barras
de 8 mm de diâmetro e estribos de 6,3 mm de diâmetro espaçados a cada 9 cm. O
segundo modelo trata-se de um pilar idêntico ao de referência, reforçado com camisas
de 3 e 4 cm de espessura, utilizando-se uma ou duas camadas de tela soldada como
armadura transversal e 4 barras de 8 mm de diâmetro como armadura longitudinal.
Apresenta-se na Figura 1 um esquema da armação dos modelos ensaiados.

PILAR DE REFERENCIA PILAR REFORÇADO


15 4 15 4
20
20

15

23

23
12.0
Armadura longitudinal
5
12.0

4 Ø 8,0mm c=117cm
80

Estribos
Armadura de fretagem
Armadura longitudinal 22.0
4 Ø 8,0mm c=117cm 9 Ø 6,3 c/ 9cm c=58cm 8
22.0
80

Estribos
20

40 Ø 6,3 c/ 1,5cm c=104cm

TELAS DA ARMADURA DE REFORÇO


11

1 camada 2 camadas
11 3.0 2.5 2.5 3.0 Malha - EQ120(Ø 2,76mm) Malha - EQ120(Ø 2,76mm)
20

20 19
Armadura de fretagem
19

54 Ø 6,3 c/ 2cm c=70cm


19
20
20

19
altura 117cm
20 largura 57cm
Obs.: medidas em cm
20
altura 117cm
20

20

largura 60cm
20

Figura 1 - Dimensões e armaduras dos elementos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.


Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 61

Foram ensaiadas 4 séries de modelos, perfazendo no total 18 ensaios de


pilares solicitados à compressão axial, sendo 11 pilares de referência e 7 pilares
reforçados por meio de encamisamento com concreto de alto desempenho, conforme
consta do resumo apresentado na Tabela 1.

Empregou-se Cimento Portland da classe CP-II-E-32, proveniente da


Companhia Eldorado, para o concreto com resistência aproximada de 18 MPa aos 14
dias. No caso do concreto de alto desempenho, empregou-se o Cimento Portland
CPV-ARI-PLUS da fábrica CIMINAS.
O superplastificante empregado foi o REAX-1000A da Reax Indústria e
Comércio Ltda, e a sílica ativa foi cedida pela Camargo Correâ Cimentos S.A.

Foi utilizado como agregado graúdo no concreto de alto desempenho,


pedrisco proveniente da região de Ribeirão Preto-SP, e no concreto de resistência
normal, pedra britada número 1 da região de São Carlos. A areia utilizada foi
proveniente do Rio Mogi-Guaçú.
As fibras empregadas nos modelos foram a fibra de aço do tipo DRAMIX RL
45/30 BN, doada pela BEMAF- Belgo-Mineira/Bekaert Arames Finos Ltda, sendo
utilizada uma taxa de 0,5% do volume de concreto.

TABELA 1 - Descrição das séries

SÉRIES MODELOS
1
utiliza-se uma camisa de reforço S1C1R e S1C2R: pilares de referência
com espessura de 3cm e 1 ou 2 (15x15)cm.
camadas de telas soldadas, sem S1C1S e S1C2S: pilares reforçados (21x21)cm.
adição de fibras.
2
utiliza-se uma camisa de reforço S2C1R e S2C2R: pilares de referência
com espessura de 4cm e 1 ou 2 (15x15)cm.
camadas de telas soldadas, sem S2C1S e S2C2S: pilares reforçados (23x23)cm.
adição de fibras.
3
utiliza-se uma camisa de reforço S3C1S: utiliza só armadura longitudinal sem
de concreto de alta resistência qualquer tipo de armadura transversal
com fibras metálicas e de (23x23)cm;
espessura de 4cm. S3C2S: utiliza 1 camada de tela soldada
(23x23)cm;
S3C3S: utiliza armadura transversal mínima
para pilares (23x23)cm.

4
trata-se de uma série S4C1R/S4C2R: utilizam concreto de resistência
complementar de pilares fcm = 25 MPa.
(15x15)cm de concretos de S4C3R/S4C4R: utilizam concreto de resistência
resistência fcm = 25 e 35 MPa, fcm = 35 MPa.
com o objetivo de observar o
comportamento de concretos com
resistência próxima aos limites do
concreto de alta resistência.

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62 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

Partindo-se de um traço base e após várias correções, obteve-se um concreto


com resistência à compressão aos 7 dias da ordem de 65 MPa e um índice de
consistência de cerca de 250mm para o concreto do reforço. Pode-se observar na
Tabela 2 o consumo de materiais ( em kg/m3).

Na Série 3, foram adicionadas fibras de aço ao concreto, com volume relativo


de 0,5%, sendo apenas modificada a relação a/c para 0,40, mantendo-se os demais
valores e obtendo-se uma boa trabalhabilidade.
Para a determinação do traço a ser empregado na execução do pilar a ser
reforçado, partiu-se de um traço base em que se utiliza brita número 1 como agregado
graúdo, para obtenção de um concreto com resistência à compressão aos 14 dias em
torno de 25 MPa. Após várias correções e traços testados, obteve-se um traço de
concreto com resistência à compressão aos 14 dias da ordem de 20 MPa e um índice
de slump de cerca de 170mm. Pode-se observar na Tabela 2 o consumo de materiais
( em kg/m3).

TABELA 2 - Descrição dos traços de concreto utilizados

Material Traço Traço Traço com fibras


(Kg/m3) Pilar de referência Camisa de reforço Camisa de reforço
Cimento CP V ARI Plus - 627,00 627,00
Cimento CP II E 32 271,00 - -
Areia 813,00 627,00 627,00
Brita 1 1219,50 - -
Pedrisco - 940,50 940,50
Água 172,15 262,08 250,80
Sílica Ativa - 62,70 62,70
Superplastificante 2,71 18,81 18,81
Fibras de Aço - - 39,25
DRAMIX RL 45/30 BN
Total 2490,49 2538,10 2566,06

Cabe ressaltar que para a execução do pilar reforçado não se escarificou o


pilar de referência (núcleo), para evitar a introdução de uma variável difícil de
controlar, que é a dimensão final do núcleo.
Para que a aplicação da carga ocorresse simultaneamente no núcleo original
e no reforço, foram feitas chapas de aço com contenções laterais posicionadas nas
extremidades de topo e base do modelo, conforme a Figura 2. Para a regularização
da superfície foi aplicada massa plástica polimérica de endurecimento rápido (massa
de funileiro) a fim de garantir uma deformação simultânea do conjunto.

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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 63

VISTA SUPERIOR
barra quadrada CORTE A-A
chapa barra quadrada
A A solda
chapa
núcleo
200mm camisa
massa plástica barra quadrada
200mm

2 176 2 chapa
barra quadrada
chapa ( 200 x 200 x 25,4)mm

Figura 2 - Detalhe das chapas de aço nas extremidades dos modelos

Para facilidade de execução dos modelos foram preparadas fôrmas com


enchimento lateral para os pilares de referência a serem reforçados (Foto 1a). Para os
pilares reforçados, adotou-se como processo construtivo a moldagem da camisa com
uso de fôrmas, com enchimento pelo topo (Foto 1b). Em ambas as moldagens as
fôrmas foram fixadas a uma mesa vibratória.

( 1a ) ( 1b )
Fotos 1a e 1b - Fôrmas utilizadas

A instrumentação do modelo reforçado consistiu na utilização de 8


extensômetros elétricos de resistência modelo KFG-S-120-C1-11 da marca KYOWA,
instalados em algumas barras longitudinais e transversais, e transdutores de
deslocamento marca KYOWA com curso nominal de 10 mm e resolução de 0,01 mm,
nas quatro faces do elemento. No pilar de referência a única diferença em relação aos
pilares reforçados, foi a utilização de apenas 4 extensômetros elétricos de resistência.

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64 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

A instrumentação utilizada nos dois elementos ensaiados pode ser vista no esquema
da Figura 3.

Máquina de
ensaio

Sistema de
Aquisição de
Modelo dados

Foto 2 - Esquema de ensaio

O ensaio das séries foi feito com o controle de deslocamento do topo da peça,
utilizando-se a máquina de ensaio servo-hidráulica INSTRON modelo 8506, com
controle digital por computador, com capacidade máxima de 2500 kN e espaço de
ensaio de (822x514x4000) mm, a qual pode ser observada na Foto 2.
A medição das deformações foi feita por meio de extensômetros elétricos,
com o emprego do sistema de aquisição de dados SYSTEM 5000, da Measurements
Group.
Os ensaios iniciaram-se aplicando-se a força com uma velocidade de
deslocamento de 0,005 mm/s até o ponto de 80% da força de ruptura estimada, daí
mudando-se a velocidade para 0,003 mm/s até o final do ensaio, para que se pudesse
estudar o comportamento dos modelos anteriormente e posteriormente à ruptura.

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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 65

Pilares de referência Pilares reforçados

12 D D 12
5
C
1 11
11 9
1 9
4 3 8
A 4 3
7 A
2 2
C

10 B
6
1 10 B
extensômetros longitudinais 2 1 5
extensômetros longitudinais 2 6
extensômetros transversais extensômetros transversais
3 4
9 10 11 12 9 10 11 12
3 4
7 8
transdutores de deslocamento transdutores de deslocamento

canal 1: barra longitudinal canal 1: barra longitudinal/núcleo


canal 2: barra longitudinal canal 2: barra longitudinal/núcleo
canal 3: estribo canal 3: estribo/núcleo
canal 4: estribo canal 4: estribo/núcleo
canal 9: face externa A canal 5: barra longitudinal/camisa
canal 10: face externa B canal 6: barra longitudinal/camisa
canal 11: face externa C canal 7: tela soldada/sentido transversal
canal 12: face externa D canal 8: tela soldada/sentido transversal
canal 9: face externa A
canal 10: face externa B
canal 11: face externa C
canal 12: face externa D

Figura 3 - Esquema da instrumentação

3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Na Tabela 3 podem ser observados os valores das forças últimas


experimentais registradas pelo sistema de aquisição de dados, bem como a
resistência à compressão dos concretos utilizados nos modelos e as datas de ensaio.
Para a obtenção dos valores da resistência das barras e telas de aço, foram
executados ensaios com controle de deformação em cada amostra de material,
obtendo-se curvas tensão versus deformação, sendo possível avaliar com precisão a
parcela de resistência oferecida pelas barras e telas em cada ensaio.
No trabalho experimental os ensaios foram executados em idades inferiores a
28 dias e com ações de curta duração, e as resistências dos concretos foram medidas
em corpos-de-prova cilíndricos de 100 mm de diâmetro da base e 200 mm de altura.

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A correlação entre a resistência do concreto do modelo e a determinada para os


corpos-de-prova foi feita através do coeficiente k = 0,90, conforme indicações da
bibliografia. Os valores contidos na Tabela 3 já foram convertidos.

TABELA 3 - Dados experimentais obtidos para cada modelo ensaiado

Modelo fc (núcleo) fc (camisa) fy (barra) fy (tela) Ruína


MPa MPa MPa MPa (kN)
S1C1R 18,39 - 427,8 - 488
S1C1S 18,39 68,35 441 672,8 1540
S1C2R 16,89 - 548,5 - 483
S1C2S 16,89 63,34 401,8 649,7 1749
S2C1R 17,43 - 470 - 517
S2C1S 17,43 67,21 566,9 733,5 1850
S2C2R 15,55 - 548,5 - 422
S2C2S 15,55 65,57 384,5 636,5 1840
S3C1R 17,34 - 441 - 512
S3C1S 17,34 68,66 401,8 - 2200
S3C2R 13,67 - 427,8 - 421
S3C2S 13,67 60,94 463,0 685,3 1920
S3C3R 12,92 - 410,4 - 490
S3C3S 12,92 68,95 384,5 - 2210
S4C1R 23,03 - 463,1 - 651
S4C2R 23,03 484,1 - 639
S4C3R 33,64 - 441,1 - 749
S4C4R 33,64 - 470,1 - 715

A partir dos dados obtidos pelo sistema de aquisição, foram elaboradas


planilhas e em seguida diagramas força x deformação (Figura 4 e Figura 5) e força x
deslocamento para cada modelo ensaiado.

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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 67

800
S4C3R
Gráfico Força x Deformação S1C1R
S1C2R
S4C4R Pilares de Referência
S2C1R
S2C2R
600 S4C2R
S3C1R
S3C1R
Força Aplicada (kN)

S4C1R S3C2R
S3C3R
S1C2R S4C1R
S1C1R S4C2R
400
S4C3R
S4C4R
S3C2R
S2C1R S2C2R

200
S3C3R

0
0 2 4 o
6 8
Deformação ( /oo)

Figura 4 - Diagrama força x deformação dos pilares de referência

S3C1S Gráfico Força x Deformação


S1C1S
Pilares reforçados
2000 S1C2S
S2C1S
S2C2S
Força Aplicada (kN)

S3C1S
1500 S3C2S
S3C3S
S3C3S

1000
S2C1S
S3C2S
S1C1S
500 S1C2S
S2C2S

0
0 2 4 6 8o 10 12 14
Deformação ( /oo)

Figura 5 - Diagrama força x deformação dos pilares reforçados

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68 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

Nos gráficos dos pilares de referência (Figura 4), verifica-se que os modelos
de uma mesma classe de resistência apresentaram comportamento semelhante.
Verifica-se também a influência da resistência do concreto no comportamento dos
modelos, salientando-se que os modelos com a maior resistência do concreto
apresentam uma queda mais acentuada na força residual do que os modelos de
menor resistência.

No caso dos pilares reforçados, pode-se constatar na Figura 5 o


comportamento semelhante dos modelos reforçados com 1 camada de tela soldada,
nos quais se verifica uma queda acentuada da força residual. O mesmo ocorreu no
modelo S3C1S, que não apresentava armadura transversal de reforço, mas conta
com concreto com fibras de aço na camisa.

Nos pilares reforçados com 2 camadas de telas observou-se um


comportamento semelhante para todos, notando-se que ocorreu uma queda menos
acentuada em relação aos modelos com 1 camada de tela, o que evidencia a
influência direta da armadura transversal no comportamento mais dúctil dos modelos.
Apesar da máquina de ensaios ter-se desligado automaticamente no final do ensaio
do modelo S3C3S, verifica-se que provavelmente seria um modelo mais dúctil em
relação aos modelos com 2 camadas, devido à maior taxa de armadura transversal.

Observa-se nas Fotos 3a até a 3g o modo de ruína dos pilares reforçados,


sendo possível descrever para cada série o que ocorreu em seus ensaios:
• na Série 1, o pilar S1C1S apresentou fissuras inclinadas e um destacamento do
cobrimento após uma queda acentuada da força aplicada depois de atingir a
força máxima de ensaio. O pilar S1C2S apresentou após atingida a força
máxima de ensaio uma queda na força aplicada lenta, mostrando um
comportamento dúctil do modelo, e ocorreu um destacamento do cobrimento na
extremidade superior do pilar e as fissuras surgiram na direção vertical, o que
representa a predominância da compressão no ensaio;

• na Série 2, o modelo S2C1S apresentou fissuras inclinadas na seção média


caracterizando a existência de flexão no ensaio, e ocorreu a queda acentuada
da força aplicada após a força máxima de ensaio. O pilar S2C2S ocorreram
quedas súbitas da força aplicada em alguns trechos, conforme Figura 5, fato
este talvez ocasionado pelo rompimento de alguns trechos de tela que foram
detectados após o ensaio.

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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 69

( 3a ) S1C1S ( 3b ) S1C2S ( 3c ) S2C1S

( 3d ) S2C2S ( 3e ) S3C1S ( 3f ) S3C2S ( 3g ) S3C3S

Fotos 3a até 3g - Modo de ruína dos pilares reforçados

• Na Série 3, no pilar S3C1S o colapso foi ocasionado pela flambagem das barras
longitudinais, devido a não existência da armadura transversal, o que ocasionou
uma queda acentuada da força aplicada. No modelo S3C2S ocorreram fissuras
inclinadas na seção média, indicando a presença de flexão. No pilar S3C3S
ocorreram fissuras inclinadas na extremidade superior, após a queda da força
aplicada, neste ensaio a máquina se desligou automaticamente, devido ao
aquecimento da bomba hidráulica, prejudicando a fase final do ensaio.

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70 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Capacidade resistente

A questão do cálculo da capacidade resistente em pilares reforçados é


problemática, pois os pilares são elementos estruturais que absorvem ações oriundas
de diversos pavimentos e na maioria das vezes não é possível aliviar o pilar destas
ações.
No trabalho experimental simulou-se o pilar descarregado na introdução do
reforço, na tentativa de identificar os mecanismos resistentes dos modelos.

Para determinar a capacidade resistente dos pilares reforçados, utilizou-se a


equação de equilíbrio das forças verticais, supondo-se a perfeita solidariedade entre o
concreto e a armadura:

Fu = Accadfccad+Acfcnu+Asbfyb+Astfyt

onde:
Fu = capacidade resistente do modelo;
Accad = área de concreto da camisa de reforço;
fccad = resistência à compressão do concreto da camisa de reforço;
Ac = área de concreto do pilar original;

fcnu = resistência à compressão do concreto do pilar original;


Asb = área das armaduras longitudinais do pilar original e camisa de reforço,
considerando só as barras de aço;
fyb = resistência do aço medida no gráfico tensão x deformação das barras de aço;
Ast = área das telas de reforço no sentido longitudinal;

fyt = resistência do aço medida no gráfico tensão x deformação das telas de aço.

No caso de uso de concreto de alta resistência na camisa de reforço,


conforme outros estudos realizados, pode-se também considerar apenas a área
confinada pela armadura transversal de reforço:

Fun = Acconffccad+Acfcnu+Asbfyb+Astfyt

onde Acconf é a área confinada da camisa, delimitada pela armadura transversal de


reforço.

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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 71

Os valores obtidos pelas duas hipóteses de cálculo são apresentados na


Tabela 4, onde constam também as relações entre valores teóricos e experimentais.

TABELA 4 - Comparação dos resultados teóricos e experimentais da capacidade resistente dos


modelos reforçados

Modelo Fexp (kN) Fu (kN) Fun (kN) Relação Relação


(I) ( II ) ( III ) ( I / II ) ( I / III )
S1C1S 1540 2104,7 1305,0 0,73 1,18
S1C2S 1749 1997,5 1256,4 0,87 1,39
S2C1S 1850 2709,1 1842,1 0,68 1,01
S2C2S 1840 2594,3 1748,5 0,71 1,05
S3C1S 2200 2634,7 -* 0,83 -
S3C2S 1920 2390,4 1604,2 0,80 1,20
S3C3S 2210 2524,2 1634,7 0,87 1,35
* Obs.: o modelo não apresentava armadura transversal

Observa-se que nas Séries 1 e 3, os modelos apresentam valores


experimentais bem superiores aos do modelo teórico considerando a seção delimitada
pela armadura transversal do reforço. Isto pode ser conseqüência de uma
configuração de seção resistente diferenciada no caso de camisas de espessura de 3
cm, no caso da Série 1. Na Série 3, pode-se talvez atribuir a esta diferença a uma
participação das fibras curtas de aço na resistência, ou ao aumento da seção
resistente dos pilares.
Para os pilares de referência foram obtidos os seguintes valores apresentados
na Tabela 5.

TABELA 5 - Comparação dos resultados teóricos e experimentais da capacidade resistente dos


pilares de referência

Modelo fcj Força de ruína Valor do Modelo de Relação


(kN/cm2) experimental (kN) Cálculo Total (kN) (I/II)
(I) ( II )
S1C1R 1,839 488 495,7 0,984
S1C2R 1,689 483 486,3 0,993
S2C1R 1,743 517 482,7 1,071
S2C2R 1,555 422 456,5 0,924
S3C1R 1,734 512 474,9 1,078
S3C2R 1,367 421 390,4 1,078
S3C3R 1,292 490 370,2 1,324
S4C1R 2,303 651 606,2 1,074
S4C2R 2,303 639 610,4 1,047
S4C3R 3,364 749 838,4 0,893
S4C4R 3,364 715 844,2 0,847

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72 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

Ao analisar a capacidade resistente dos pilares de referência, verificou-se que


o modelo de cálculo utilizando a seção integral dos modelos, foi eficiente na maioria
dos casos. Porém nos modelos S4C3R e S4C4R, observou-se uma variação
significativa, da ordem de 15%, o que pode talvez caracterizar um comportamento
intermediário entre os concretos de resistência normal e os concretos de alta
resistência, sendo preciso uma pesquisa mais detalhada sobre pilares de concreto
com resistência à compressão na faixa de 35 MPa.

Traçando-se um gráfico comparativo da capacidade resistente experimental


dividida pela teórica versus a resistência à compressão dos concretos dos pilares
(Figura 6), verifica-se que, à medida que se aumenta a resistência à compressão dos
concretos, o cálculo teórico em que se considera a seção integral de concreto passa a
fornecer valores cada vez mais contra a segurança.

1,4
Relação (Experimental/Teórica)

1,3

1,2

1,1

0,9

0,8
10 15 20 25 30 35
Resistência à compressão (MPa)

Figura 6 - Gráfico comparativo da capacidade resistente dos pilares de referência

4.2 Confinamento

O efeito de confinamento nos pilares reforçados foi calculado conforme os


modelos de CUSSON & PAULTRE(1993), SAATACIOGLU & RAZVI(1992) e
FRANGOU et al.(1995). Todos estes modelos levam em consideração as
características das armaduras longitudinais e transversais, sendo que os valores
obtidos devido ao confinamento dos pilares é avaliado considerando a distribuição de
pressões laterais fl produzidas pelas armaduras as quais são apresentadas na Figura
7.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.


Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 73

CONCRETO

k.fl
CONCRETO NÃO CONFINADO

Asfymáx Asfymáx
real média equivalente

= =
fl k.fl

Figura 7 - Configuração da pressão lateral

Resolveu-se adotar duas áreas de concreto confinado, conforme Figura 8,


sendo a primeira considerando-se o efeito da armadura de reforço (Área 1) e a outra
considerando-se o confinamento da armadura do pilar original (Área 2).

ÁREA 1

ÁREA 2

( a ) seção transversal ( b ) vista tridimensional

Figura 8 - Áreas de confinamento adotadas para o pilar reforçado

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74 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

Os valores obtidos pelo efeito de confinamento, exercido pelas armaduras


transversais e longitudinais existentes nos pilares, foram somados com o valor da
capacidade resistente obtida pelo modelo de cálculo considerando a área delimitada
pela armadura transversal, e os valores finais para cada modelos são apresentados
em forma gráfica na Figura 9.

EXPERIMENTAL CUSSON & PAULTRE SAATCIOGLU & RAZVI FRANGOU et al.


2500

2210
1944

1920
1908
1877
2000

1850

1850
1840

1804
1801

1795
1749

1703
1684

1688
1645

1647
1540

1376

1376

1500
1338

1339
Força (kN)

1305
1287

1000

500

0
S1C1S S1C2S S2C1S S2C2S S3C2S S3C3S

Figura 9 - Diagrama de comparação dos modelos de confinamento

Observando-se o gráfico da Figura 9 verifica-se que não ocorreu um aumento


significativo da resistência por efeito de confinamento, o que era esperado devido à
utilização de pequenas taxas de armadura transversal na camisa de reforço e no pilar
de referência. Porém ao se aplicar o processo de cálculo para os pilares de
referência, conforme Figura 10, notou-se a validade do uso dos modelos de cálculo na
quantificação do efeito de confinamento para os pilares ensaiados.

Ruína CUSSON & PAULTRE SAATCIOGLU & RAZVI FRANGOU et al.


900,00

800,00

700,00

600,00
Força (kN)

500,00

400,00

300,00

200,00

100,00

0,00
S1C1R S1C2R S2C1R S2C2R S3C1R S3C2R S3C3R S4C1R S4C2R S4C3R S4C4R

Figura 10 - Diagrama comparativo do efeito de confinamento nos pilares de referência

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Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 75

4.3 Ductilidade

Ductilidade é uma medida da capacidade de absorção de energia de um


elemento, e por este motivo é usada para caracterizar a capacidade de deformação
plástica do elemento estrutural após a força última. Não existem normas específicas
para calcular, quantificar e avaliar o comportamento da ductilidade dos elementos de
concreto armado. No entanto, existem normas como a ACI 544.2R-89 (1989), ASTM
C1018-94 (1994) e JSCE SF5 (1984), que calculam índices de tenacidade para os
concretos armados com fibras de aço em peças solicitadas à flexão.

Pilar de referência ou reforçado


Area OABG
A Modelo Elasto-plástico I5 =
Fu B
Area OAH
Area OABCF
C I 10 =
Area OAH
D Area OABCDE
I 30 =
Area OAH
Força

Aref

O H G F E
δ 3δ 5,5δ 15,5δ
Deslocamento

Figura 11 - Adaptação do modelo da ASTM C1018(1994)

Na avaliação da ductilidade dos modelos ensaiados, fez-se uma adaptação do


modelo utilizado pela ASTM C1018(1994), que originalmente consiste no cálculo de
índices de tenacidade (I5, I10, etc.) obtidos pela divisão da área do gráfico força versus
deslocamento em pontos de deslocamento pré-definidos. O modelo original é utilizado
na determinação da tenacidade de peças fletidas executadas com concreto com
adição de fibras. A adaptação ocorreu na consideração do deslocamento
correspondente à primeira fissura como sendo aquele que corresponde ao final do
trecho elástico linear do gráfico força x deslocamento de um modelo elasto-plástico
linear, traçado a partir do trecho linear do modelo, conforme a Figura 11.

Aplicando o modelo adaptado da ASTM C1018 (1994), obteve-se os


resultados da Tabela 6.
Analisando os resultados, tem-se:

• os modelos S1C1S, S2C1S, S3C1S e S3C2S não apresentaram condições


para o cálculo dos índices de ductilidade, o que pode classificá-los como
modelos frágeis;

• ao avaliar os modelos S1C2S, S2C2S e S3C3S, verifica-se que os índices de


ductilidade calculados são coerentes com os gráficos força x deformação dos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.


76 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

elementos. No caso do modelo S1C2S, verifica-se os maiores valores, o que se


confirma no seu gráfico força x deformação, tendo sido o modelo com maior
capacidade de deformação dos ensaios. Já no modelo S3C3S, a sua avaliação
foi prejudicada por um problema de desligamento automático da máquina de
ensaio, sendo que o modelo poderia apresentar ótimos índices de ductilidade;

• verifica-se que a adaptação feita no modelo da ASTM para o cálculo dos índices
de ductilidade, nos pilares reforçados, mostra-se coerente com os gráficos de
força x deformação dos modelos.

TABELA 6 - Índices de ductilidade dos pilares reforçados

Modelo I5 I10
S1C1S -o- -o-
S1C2S 4.40 7.41
S2C1S -o- -o-
S2C2S 4.17 6.20
S3C1S -o- -o-
S3C2S -o- -o-
S3C3S 3.87 -o-

5 CONCLUSÕES

A utilização de camisas de reforço de pequena espessura, com emprego de


concretos de alto desempenho, mostrou-se interessante e merecedora de maior
atenção, uma vez que com um acréscimo relativamente pequeno das dimensões dos
pilares, aumentou-se consideravelmente a sua capacidade resistente. No entanto,
observou-se também que alguns cuidados devem ser tomados para que se consiga,
nos pilares reforçados, adequados níveis de resistência e de ductilidade.
Nos modelos ensaiados, observou-se um aumento da capacidade resistente
dos pilares reforçados em torno de 3 a 5 vezes o valor obtido para os pilares de
referência, para um aumento da largura do pilar de 15cm para 21 cm ou 23 cm.

Ao se analisar a eficiência dos arranjos de armaduras de reforço, confirmando


informações dadas por outros pesquisadores, constatou-se a grande influência da
taxa de armadura transversal na resistência e na deformabilidade dos pilares. O uso
de maiores taxas de armadura transversal, adequadamente disposta, proporciona um
melhor confinamento da parte interna da seção, que inclui a seção do pilar original, a
qual continua a contribuir na capacidade resistente, pelo menos neste estudo em que
não se considera o efeito de pré-carregamento.
Ao avaliar a capacidade resistente dos pilares ensaiados por meio dos
diversos modelos teóricos, verificou-se que:
• a consideração da seção resistente como sendo apenas a área de concreto
delimitada pelas armaduras transversais de reforço, fornece os valores mais
conservativos, isto é, sempre a favor da segurança;

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.


Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 77

• os modelos da Série 1 apresentam valores teóricos ainda mais inferiores, o que


pode ser um efeito da pequena espessura, sendo que neste caso a seção
resistente real poderia estar sendo maior que a teórica;

• na Série 3, verifica-se que a diferença entre os valores experimentais e teóricos


estimados foi maior do que na Série 2, mesmo tratando-se de modelos
semelhantes, o que pode estar evidenciando um aumento da seção contribuinte
devido à presença das fibras de aço;

• a aplicação dos modelos de cálculo que levam em consideração o efeito de


confinamento mostraram resultados que em geral podem ser considerados
bons.

A adição de fibras de aço ao concreto da camisa de reforço apresentou


resultados que ainda não se mostram satisfatoriamente esclarecedores, sugerindo a
realização de outros ensaios, visto que:
• observou-se uma tendência de aumento da capacidade resistente dos pilares
reforçados com CAF, considerando-se que o modelo S3C2S mostrou uma
capacidade resistente maior que a do seu similar S2C1S, de concreto sem
fibras, embora este último apresentasse concretos de resistências superiores às
do primeiro, tanto no núcleo como na camisa;

• verificou-se também que a capacidade resistente calculada pelos modelos


teóricos, no caso de camisas de CAF, mostrou-se sempre menor que a
observada experimentalmente;

• por outro lado, não se verificou um melhor desempenho quanto à ductilidade,


talvez pela utilização de uma taxa pequena de fibras, ou por um direcionamento
das fibras, decorrente da pequena espessura de camisa.

Na análise da ductilidade, verificou-se que:


• os índices obtidos pelo método baseado na ASTM C1018-94 apresentaram
valores coerentes, quando analisados em conjunto com os gráficos força x
deformação dos modelos reforçados.

6 SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS

O campo de estudo sobre reforço de pilares é complexo e sujeito a um grande


número de variáveis e difíceis condições de realização, mas importantes avanços têm
sido alcançados nos últimos anos, e algumas sugestões de pesquisas futuras são
resumidas a seguir:

• estudo da introdução do reforço em pilares onde não ocorre o


descarregamento, a fim de avaliar o comportamento nesta situação, que é a
mais próxima da situação real de execução;

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.


78 Adilson Roberto Takeuti & João Bento de Hanai

• análise da interferência das deformações dependentes do tempo tais como


retração e fluência do concreto no elemento estrutural reabilitado como um
todo. Estes fatores podem afetar a eficiência do reparo ou reforço, pois a
estrutura a ser reabilitada normalmente já foi submetida a carregamentos que
geram deformações, enquanto os materiais utilizados no reforço ainda não
sofreram estes tipos de solicitações e acomodações, devendo-se ainda
considerar a diferença de qualidade, interação e do tempo de carregamento dos
diversos materiais;

• análise de reforços parciais, ou seja, em uma, duas ou três faces, sem o efeito
de confinamento;

• variação da forma da seção tranversal, estudando-se os efeitos de


confinamento produzido pelas camisas de reforço;

• estudo da influência de diversas taxas de fibras de aço;

• aprimoramento de modelos de avaliação da ductilidade no caso de pilares;

• estudo das ligações laje/viga/pilar, analisando-se o efeito interação de esforços


nesta ligação.

7 AGRADECIMENTOS

Os autores manifestam sua gratidão à FAPESP-Fundação de Amparo à


Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo financiamento dos ensaios realizados, e ao
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela
concessão de bolsa de estudo, às empresas Reax Indústria e Comércio Ltda,
Camargo Corrêa Cimentos S.A. e à BEMAF- Belgo-Mineira/Bekaert Arames Finos
Ltda., pela doação dos materiais para execução dos ensaios.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Committee 544 (1989). ACI 544.2R-89:


Measurement of properties of fiber reinforced concrete. Detroit, USA. 11p.

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Standard test method for flexural toughness and first crack strength of fiber reinforced
concrete. Book of ASTM Standards. ASTM, Philadelphia.

CUSSON, D. ; PAULTRE, P. (1993). Confinement model for high-strength concrete


tied columns. Universtity of Sherbrooke, SMS-93/02, October. 54p.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.


Reforço de pilares de concreto armado por meio de encamisamento... 79

FRANGOU, M.; PILAKOUTAS, K; DRITSOS, S.E. (1995). Structural


repair/strengthening of R.C. columns. Construction and Building Materials, v. 9, n.5,
p.259-265.

JAPAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS (1984). Method of test for compressive


strength and compressive toughness of steel fiber reinforced concrete. JSCE-
SF5. Concrete Library of JSCE. Part III-2 Method of tests for steel fiber reinforced
concrete. N. 3, June p-63-66.

SAATCIOGLU, M.; RAZVI, S. R. (1992). Strength and ductility of confined concrete.


Journal of Structural Engineering, v. 118, n. 6, p.1590-1607.

TAKEUTI, A. R. (1999). Reforço de pilares de concreto armado por meio de


encamisamento com concreto de alto desempenho. São Carlos. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 59-79, 2003.


ANÁLISE EXPERIMENTAL DE PILARES DE
CONCRETO ARMADO DE ALTA RESISTÊNCIA SOB
FLEXO COMPRESSÃO RETA

Romel Dias Vanderlei1 & José Samuel Giongo2

RESUMO

Com este projeto obtiveram-se informações sobre o comportamento de pilares sob


compressão excêntrica, executados com concreto de alta resistência, com resistência
média à compressão de 80MPa. Os pilares tinham seção transversal retangular 15cm x
30cm com comprimento livre de 174cm. Foram analisados seis pilares, onde as
variáveis foram as taxas de armaduras transversais e longitudinais. Os pilares foram
ensaiados sob a ação de duas forças aplicadas de modos independentes. Uma força era
aplicada na direção do eixo longitudinal do pilar e outra, paralela a esse, com
excentricidade definida. Foram montados dispositivos de vinculações e sistema de
transferências de forças nos pilares, procurando aproximar as situações de ensaios às
do modelo teórico pretendido. Os pilares com menores taxas de armadura transversal,
tiveram ruptura frágil da seção transversal central com flambagem das barras das
armaduras longitudinais. Os pilares com maiores taxas de armadura transversal,
apresentaram ruptura com ductilidade e esmagamento do concreto do lado mais
comprimido. As deformações lidas nas barras posicionadas no lado mais comprimido,
no instante da ruptura, ficaram entre 2,3‰ e 3‰. Utilizaram-se modelos teóricos
propostos na literatura para obter os valores estimados das forças últimas e momentos
fletores últimos, e comparou-os com os encontrados experimentalmente.

Palavras-chave: concreto de alta resistência; pilares; flexo compressão.

1 INTRODUÇÃO

O conceito de Concreto de Alta Resistência - CAR - tem variado ao longo dos


anos, o que pode ser confirmado no boletim 197 CEB-FIP(1990), no qual consta a
evolução na máxima resistência de projeto, sendo recomendado como limite superior
da resistência característica do concreto à compressão 80MPa, no entanto, nas
normas brasileiras, os modelos de verificação da segurança apresentados são válidos
para resistência de até 50MPa. Após o advento da sílica ativa, o cimento deixou de
ser o fator limitante para a obtenção de maiores resistências, que passam a depender

1
Professor Assistente do Depto. de Engenharia Civil da UEM, Doutorando EESC-USP, romel@sc.usp.br
2
Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jsgiongo@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


82 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

mais diretamente das propriedades dos agregados, que variam de região para região,
em função da grande variabilidade das rochas existentes.
Nos Estados Unidos e países da Europa, considera-se um concreto como de
alta resistência, se apresentar uma resistência característica à compressão entre
40MPa e 85MPa. No Brasil, conforme a NBR 8953 (1992), seriam os concretos C40 e
C50 de Classe I, e Classe II ( C55 - C80).

A obtenção do CAD com tais níveis de resistências requer um programa rígido


de qualidade que inclui a seleção prévia dos materiais, execução adequada e perfeito
controle.
Os pilares se destacam no estudo da aplicação de concreto de alta
resistência, pois são elementos estruturais utilizados para transpor as ações dos
pavimentos das estruturas para as fundações, solicitadas basicamente à tensões
normais de compressão, sob ação de força centrada ou excêntrica. São de extrema
importância na construção de edifícios, pois todas as ações atuantes nas lajes e vigas
são sustentadas pelos pilares, tornando-se, quando muito solicitado, de grandes
dimensões. O uso de concreto de alta resistência nesses elementos vieram solucionar
essa questão, podendo-se construir elementos submetidos à compressão com
pequenas dimensões otimizando o espaço arquitetônico.
As crescentes aplicações destes concretos, conduzem à necessidade de
revisões nos parâmetros para implementação dos modelos de cálculo, e
recomendações construtivas indicadas nas normas atuais ou, até mesmo, elaboração
de novas normas que reflitam melhor o comportamento destes materiais.

2 OBJETIVOS DA PESQUISA

Analisaram-se os comportamentos de pilares moldados com CAR submetidos


à esforços oriundos da flexo compressão reta, para que se possa futuramente, chegar
a conclusões que podem ser utilizadas na rotina de projetos estruturais que garantam
confiabilidade e segurança às estruturas feitas com CAD.
Para isso, viabilizou-se modelo experimental de pilar, em concreto de alta
resistência (fc = 80MPa), submetido à flexo compressão reta, de tal modo a se
obterem resultados experimentais compatíveis com os resultados teóricos.
Com relação à análise teórica, o modelo de verificação de equilíbrio da seção
transversal para pilares de CAR, é o mesmo adotado para Concreto de Resistência
Usual - CRU. A forma do diagrama tensão x deformação para o CAR difere do CRU,
então, um dos objetivos era verificar a segurança da seção transversal, adotando os
diagramas obtidos em ensaios de corpos-de-prova com o mesmo material dos
modelos.

Sabe-se que os pilares em CAR podem apresentar colapso frágil. Sendo


conveniente que a ruína apresente características dúcteis, é necessário que se
verifiquem os valores das taxas de armaduras longitudinais e transversais.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 83

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

3.1 Modelos ensaiados

Em pesquisa desenvolvida por VANDERLEI (1999), foram ensaiados um total


de 6 modelos, todos tinham seção transversal retangular 15cm x 30cm com
comprimento livre de 174cm e resistência média à compressão do concreto aos 15
dias de idade era de aproximadamente 80MPa. Os ensaios foram divididos em três
séries, onde para cada uma destas, pretendeu-se avaliar o comportamento dos
modelos com relação às armaduras adotados para cada pilar. A tabela 1 traz os
detalhes dos modelos de pilares que se adotaram neste trabalho, com as respectivas
resistências médias à compressão do concreto (fc) medida em corpos-de-prova
cilíndricos de 10cm de diâmetro e 20cm de altura, taxas de armaduras longitudinais
(ρL) e transversais (ρt), quantidades e diâmetros das barras das armaduras
longitudinais e os diâmetros e espaçamentos dos estribos. Os modelos são
identificados pela sigla Pi/j, onde i = número da série, e j = número do pilar na série.

TABELA 1 - Características dos modelos

b h L fc ρL Arm. ρt
Pilar Estribo
cm cm cm MPa % Longit. %
P1/1 30 15 174 88,9 2,26 8φ12,5 1,58 φ6,3c/5
P1/2 30 15 174 85,7 2,26 8φ12,5 0,79 φ6,3c/10
P1/3 30 15 174 82,6 2,26 8φ12,5 0,53 φ6,3c/15
P2/1 30 15 174 90,1 1,26 8φ10,0 0,79 φ6,3c/10
P2/2 30 15 174 89,6 1,26 8φ10,0 1,58 φ6,3c/5
P3/1 30 15 174 87,4 3,45 8φ16,0 0,79 φ6,3c/10

Como exemplo, o detalhamento da armadura e do pilar P1/1 é mostrado na


figura 1.
Armadura de
fretagem

Armadura de
Fretagem - Ø6,3
Armadura de
fretagem

Estribos - Ø6,3
medidas em centímetros

Figura 1 - Detalhes do modelo P1/1

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84 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

Como armadura transversal, foram utilizados dois estribos superpostos para


melhorar o confinamento do núcleo dos pilares. A armadura de fretagem foi usada nas
extremidades dos pilares, em função da grande concentração de tensões nessas
regiões, onde foi adotado arranjo de armadura proposto por LIMA, GIONGO &
TAKEYA (1997), que mostrou grande eficiência, ou seja, não houve ruptura ou
fissuração excessiva nas extremidades dos modelos.

Inicialmente foi feito um modelo piloto para se ter idéia de como seria seu
comportamento com relação às deformações das barras de aço, do concreto e os
deslocamentos, além de se verificar as dificuldades que se teria na construção,
moldagem, montagem no pórtico de reação e instrumentação do modelo.

Com a série 1 teve-se o objetivo de definir taxa de armadura transversal que


promovia melhor ductilidade dos modelos para uma taxa de armadura longitudinal de
2,26%; com isto moldaram-se três modelos com diferentes taxas de armadura de
confinamento.

Na série 2, utilizou-se a taxa de armadura de confinamento mais efetiva da


série 1 e verificou-se a sua eficiência com a diminuição da taxa de armadura
longitudinal para 1,26%, sendo, para isto, ensaiados dois modelos com taxas de
armaduras transversais diferentes.
Na série 3 aumentou-se a taxa de armadura longitudinal para 3,45%, e usou-
se a melhor taxa de armadura transversal encontrada para as séries 1 e 2.
As moldagens foram feitas com fôrmas de madeira posicionadas na
horizontal, com adensamento por meio de mesa vibratória e adotou-se cobrimento de
concreto nas armaduras transversais de 2cm de espessura. As curas dos modelos
foram feitas envolvendo-os com esponja embebida em água por sete dias, logo após
faziam-se as desformas onde os modelos eram secos no ambiente do laboratório até
o dia do ensaio que se dava com 15 dias de idade.
Para determinar a resistência média à compressão do concreto, moldaram-se
corpos-de-prova cilíndricos de 10cm x 20cm, usando para adensamento mesa
vibratória. Um dia depois da moldagem, os corpos-de-prova eram desmoldados e
submersos em água até o sétimo dia de idade, onde eram retirados da água e
colocados para secar no ambiente do laboratório. Eram feitos ensaios de compressão
axial aos 7 dias e 15 dias; de compressão diametral aos 15 dias e também com
deformação controlada para se determinar o módulo de deformação longitudinal do
concreto e a deformação correspondente a tensão máxima de compressão.

3.2 Propriedades dos materiais

Os materiais utilizados para obtenção do concreto foram caracterizados


segundo as normas da ABNT. Para alguns materiais foram seguidas as
especificações dos fabricantes.

Foi utilizado o cimento Portland de alta resistência inicial CP V ARI pela


possibilidade de realização de ensaios dos elementos com idades menores. A sílica
ativa utilizada foi a não densificada, SILMIX ND; seguindo indicação do fabricante, a
massa específica era de 2222kg/m3. O aditivo superplastificante usado foi o RX 3000,
com densidade de 1,16g/cm3.

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Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 85

Foram escolhidos agregados, miúdo e graúdo, disponíveis na região de São


Carlos, por meio de ensaios de granulometria, massa específica e massa unitária. A
areia utilizada foi do tipo quartozita, classificada como média, com módulo de finura
de 2,4, dimensão máxima característica igual a 2,4mm, a massa específica de
2,68kg/dm3 e a massa unitária igual a 1,44 kg/dm3. O agregado graúdo adotado foi
pedra britada de origem basáltica, a massa específica foi de 2,86kg/dm3, massa
unitária de 1,48kg/dm3 e dimensão máxima característica de 19mm.
Utilizaram-se como armadura longitudinal, barras de aço de diâmetro nominal
de 10,0mm, 12,5mm e 16,0mm. Como armadura transversal, foram usadas barras de
6,3mm de diâmetro. A tabela 2 apresenta a caracterização das barras das armaduras
utilizadas.

TABELA 2 - Caracterização das armaduras

φnominal As Es fy εy fu
mm cm2 MPa MPa ‰ MPa
6,3 0,31 194.674 595,6 3,37 877,7
10,0 0,78 194.060 623,0 3,47 725,7
12,5 1,23 168.841 502,1 2,99 826,5
16,0 2,01 194.388 622,8 3,26 851,2

3.3 Método de ensaio

Baseados nos ensaios realizados por IBRAHIM & MAC GREGOR (1996),
AZIZINAMINI & KEBRAEI (1996) e LIMA et al. (1997), elaborou-se sistema de ensaio
que possibilitou a aplicação de duas forças independentes com excentricidade
definida em relação ao eixo longitudinal do pilar, facilitando assim a aplicação e o
controle das forças para que a distribuição de tensões fosse de acordo com o
esperado no modelo teórico adotado.
Para a aplicação das forças foram criados dois consolos, um no topo e outro
na base dos modelos. Estes tiveram que ser projetados de modo que não ocorressem
rupturas, pois o elemento que seria ensaiado era o pilar, e não o consolo. O
detalhamento é mostrado na figura 2.

medidas em centímetros

Figura 2 - Detalhamento do consolo

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


86 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

A força centrada foi aplicada no eixo longitudinal do pilar, por meio de atuador
hidráulico com capacidade de 5000kN agindo na base do pilar, acionados por bomba
elétrica. A reação era dada por uma estrutura metálica na qual os modelos eram
posicionados. A força excêntrica era aplicada nos consolos por dois atuadores
hidráulicos de 300kN cada, acionados por bomba manual, e a ação era transmitida de
um consolo para o outro por duas cordoalhas de aço de 12,5mm de diâmetro cada,
como mostra a figura 3. Estas, atravessavam os consolos por meio de furos deixados
na estrutura utilizando tubos de pvc de diâmetro de 19mm. Para facilitar o transporte
do modelo foi deixado um furo na parte superior, localizado próximo ao centro de
massa do pilar, para que se pudesse passar uma barra de aço por esse e assim içá-lo
com ponte rolante.

Célula de Carga Ancoragem


5000kN da Cordoalha
Apoio Elástico
4000kN

Cordoalha
Ø12,5mm

Atuador
Apoio Elástico
Hidráulico
4000kN
300kN
Atuador Hidráulico
5000kN Célula de Carga
300kN

Figura 3 - Sistema de ensaio

Em se tratando da vinculação, era considerado no modelo teórico, pilar


rotulado na base e no topo. Para se ter isso em laboratório, foram adotados aparelhos
de apoio usados comumente para apoios em pontes, com capacidade de 4000kN,
posicionados na base e no topo do pilar.

As forças foram aplicadas em etapas onde a força excêntrica era 5% da força


centrada. O pilar recebia ações conjuntas de modo que os esforços de flexão atuavam
desde o início do ensaio procurando-se, assim, reproduzir situação real de edifícios
onde os esforços normais e os momentos fletores atuavam simultaneamente e de
forma gradual.

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Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 87

3.4 Instrumentação

As forças foram controladas por células de carga, uma com capacidade de


5000kN e outras duas com capacidade de 300kN para medirem as forças aplicadas
pelos atuadores de mesma capacidade.

As medidas das deformações e deslocamentos foram feitas por


extensômetros elétricos de resistência, e transdutores de deslocamentos à base de
extensômetros elétricos de resistência. As barras das armaduras longitudinais
escolhidas foram as quatro centrais e o estribo era o que ficava na metade da altura
do pilar, figura 4. As quatro barras longitudinais foram escolhidas na região central da
seção transversal, onde esperava-se melhor distribuição das tensões nessa região,
não se preocupando com eventuais excentricidades que causariam flexão oblíqua.
As deformações no concreto foram medidas com extensômetros elétricos de
resistência, posicionados na seção central do pilar, nas faces mais e menos
comprimidas. Em cada face foram colocados dois extensômetros no sentido
longitudinal do pilar, na mesma posição dos colados nas barras longitudinais, para
que se pudessem comparar os resultados. Foram colocados também extensômetros
no sentido transversal, nas mesmas posições dos instalados nos estribos, como
mostra a figura 4.

Célula de Carga
5000KN

Defletômetro

LVDT
Extensômetro

Extensômetro nos
estribos

Células de Carga
300KN

Figura 4 - Detalhamento da instrumentação do pilar

A deformação do pilar foi medida por meio de defletômetros, onde a região


observada media 57cm. Os deslocamentos horizontais na região superior, inferior e
no meio do pilar; e os verticais nas extremidades dos consolos foram medidos com
transdutores de deslocamentos - LVDT, figura 4.

Todas as leituras, em cada etapa do ensaio, foram feitas automaticamente


utilizando um sistema de aquisição de dados, que registrava os valores das ações,
dos deslocamentos e das deformações.

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88 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

4 RESULTADOS DOS ENSAIOS

Foram obtidos nos ensaios dos modelos valores das forças máximas
centradas e excêntricas, bem como as deformações correspondentes a tais forças,
lidas nas armaduras longitudinais. O momento experimental (Mexp) foi tomado igual a
força máxima excêntrica vezes a excentricidade geométrica de 38cm. A força máxima
excêntrica (Fexc), resultava da soma das duas forças aplicadas nas extremidades dos
consolos no instante da ruptura. A força máxima centrada (Fexp), resultava da soma da
força máxima excêntrica com a força máxima aplicada no eixo longitudinal do pilar.
Considerou-se que a força aplicada excentricamente encaminhou-se para o segmento
de pilar de 70cm de altura, atuando de forma conjunta com a força aplicada no eixo
longitudinal.
A tabela 3 apresenta os valores das forças máximas centradas e excêntricas,
bem como as deformações correspondentes a tais forças, lidas nas armaduras
longitudinais. Os pilares Piloto e P1/1 foram excluídos da análise dos resultados em
função da grande quantidade de problemas que aconteceram durante sua execução,
não sendo possível aquisição de dados confiáveis para estes modelos.

TABELA 3 - Deformações, força centrada e excêntrica de ruptura e momento experimental de


ruptura

εs1 εs2 Fexp. Fexc. Mexp.


Pilar
(‰) (‰) (kN) (kN) (kNcm)
P1/1R 1,402 2,983 3.157,0 156,0 5.928,0
P1/2 1,374 2,354 2.825,8 125,8 4.780,4
P1/3 2,481 2,481 2.967,8 117,8 4.476,4
P2/1 1,2905 2,524 2.788,9 189,9 7.216,2
P2/2 1,407 2,292 2.902,2 153,2 5.821,6
P3/1 1,3705 2,922 3.307,6 157,6 5.988,8

Foram montados diagramas relacionando a força total aplicada, ou seja, a


soma da força aplicada no eixo longitudinal e a força aplicada excentricamente, com
as deformações lidas nas armaduras longitudinais e transversais, no concreto e no
pilar; também foram relacionadas com os deslocamentos dos pilares.
Os comportamentos das barras das armaduras longitudinais do modelo P1/2
podem ser vistos com o diagrama força x deformação apresentado na figura 5. Os
canais 3 e 4 mediam as deformações nas armaduras do lado menos comprimido,
enquanto que os canais 5 e 6 mediam as deformações nas armaduras do lado mais
comprimido. Observou-se que as deformações das armaduras do lado menos
comprimido apresentaram deformações bem próximas e de pequena intensidade,
enquanto que as barras instrumentadas do lado mais comprimido, apresentaram
deformações bem próximas, mas com grande intensidade, caracterizando assim, caso
de flexo compressão reta com pequena excentricidade. Observou-se também que os
canais 3 e 4 apresentaram leituras quase que idênticas, o mesmo aconteceu com os
canais 5 e 6, notando-se assim um efeito muito pequeno, ou quase nulo, de flexão
oblíqua. A deformação média das barras da armadura, do lado mais comprimido do
pilar P1/2, correspondente a força última, foi 2,35‰. Percebeu-se também em todos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 89

os modelos, uma pequena descontinuidade na curva dos diagramas, como por


exemplo no modelo P1/2, onde isto ocorreu quando a força estava próxima de
1400kN, que correspondia a aproximadamente 50% da força última alcançada pelo
pilar.

A figura 6 mostra o diagrama força x deformação medida no concreto das


faces do pilar, este apresentou deformações coerentes com as deformações das
barras da armadura. Os dois extensômetros apresentaram deformações compatíveis
até o fim do ensaio.

3000 3000

2700 2700

2400 2400

2100 2100

Força - kN
1800 3 1800 9
Força - kN

4 10
1500 1500
5 11
1200 6 1200 12

900 900

600 600

300 300

0 0
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3,0 0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3,0
Deformações -‰ Deformações - ‰

Figura 5 - Diagrama força x deformação Figura 6 - Diagrama força x deformação


na armadura longitudinal do modelo P1/2 longitudinal no concreto do modelo P1/2

As figuras 7 e 8 mostram os diagramas força x deformação das barras da


armadura longitudinal do modelo P2/2. Estes confirmam os efeitos da flexo
compressão reta, e apresentam uma pequena acomodação da estrutura no início do
ensaio. A deformação das barras da armadura, do lado mais comprimido,
correspondente a força última, foi 2,30‰. A descontinuidade na curva dos diagramas
ocorreu quando a força estava próxima de 1600kN, que correspondeu a
aproximadamente 55% da força máxima alcançada pelo pilar.

3000
3000
2700
2700
2400
2400
2100
2100
Força - kN

1800 3
Força - kN

4 1800 9
1500 10
5 1500
1200 6 11
1200 12
900
900
600
600
300
300
0
0
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3,0 3,3
Deformações -‰
Deformações - ‰

Figura 7 - Diagrama força x deformação Figura 8 - Diagrama força x deformação


na armadura longitudinal do modelo P2/2 longitudinal no concreto do modelo P2/2

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


90 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

A figura 9 apresenta o diagrama força x deformação do estribo de maior


comprimento localizado na metade da altura do pilar do modelo P1/1R. A figura 10
mostra o diagrama força x deformação transversal do concreto medida nas faces do
modelo P1/1R. No entanto, percebeu-se que quando a força se aproximou de
2600kN, o extensômetro colocado na face do modelo do lado mais comprimido, canal
14, começou a perder aderência, ficando suas leituras seguintes prejudicadas. Para o
modelo P1/1R, a descontinuidade observada nos diagramas aconteceu quando a
força estava próxima de 57% da força última, e a deformação máxima das barras da
armadura longitudinal, do lado mais comprimido, foi de 2,98%.

3200 3200

2800 2800

2400 2400

2000 2000

Força - kN
Força - kN

7 13
1600 1600
8 14

1200 1200

800 800

400 400

0 0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
Deformações - ‰ Deformações - ‰

Figura 9 - Diagrama força x deformação Figura 10 - Diagrama força x deformação


na armadura transversal do modelo P1/1R transversal no concreto do modelo P1/1R

A relação entre a força e a deformação medida no estribo e nas faces do


modelo P1/2 são mostradas nas figuras 11 e 12. Se comparadas as deformações nos
estribos dos modelos P1/1R e P1/2, observa-se consistência nos resultados. Na figura
12 pode-se observar problema ocorrido no extensômetro do canal 14, apresentando
grandes deformações a partir da força de 2200kN, tornando incompatíveis com as
deformações dos estribos.
3000
3000
2700
2700
2400
2400
2100
2100
Força - kN

1800
Força - kN

1800 13
7 1500
1500 14
8
1200
1200
900
900
600
600
300
300
0
0
0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Deformações - ‰
Deformações - ‰

Figura 11 - Diagrama força x deformação Figura 12 - Diagrama força x deformação


na armadura transversal do modelo P1/2 transversal no concreto do modelo P1/2

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Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 91

Os resultados das deformações do pilar podem ser vistos no diagrama força x


deformação, figura 13, onde os extensômetros apresentaram uma acomodação do
modelo no início do ensaio, mas mostrando características de flexo compressão reta.
Os deslocamentos horizontais da parte inferior, central e superior do pilar, foram lidas
pelos canais 19, 20 e 21 respectivamente, de acordo com figura 14, onde percebe-se
que as extremidades do modelo sofreram pequenos deslocamentos, quase
desprezíveis, enquanto que o deslocamento da seção transversal central aumentou
com a aplicação da força.
3000 3000
2700 2700
2400 2400
2100 2100
15

Força - kN
1800
Força - kN

1800 19
16
1500 1500 20
17
1200 21
1200 18
900 900
600 600
300 300

0 0
-0,2 0,2 0,6 1,0 1,4 1,8 2,2 2,6 3,0 3,4 -4,0 -3,5 -3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5

De formação - ‰ Deslocamentos - mm

Figura 13 - Diagrama força x deformação Figura 14 - Diagrama força x deslocamentos


do pilar modelo P2/2 do pilar P2/2

5 FORMA DE RUPTURA DOS MODELOS

Os modelos ensaiados tiveram formas de rupturas diferentes em função das


taxas de armaduras adotadas, como ilustradas na figura 15 e descrita na tabela 4.

P1/1R P1/2 P1/3

P2/1 P2/2 P3/1


Figura 15 - Modo de ruptura dos modelos

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92 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

A análise da forma de ruptura dos modelos levou a confirmar que esta


depende do trabalho conjunto das armaduras transversais e longitudinais, e quanto
maior a taxa de armadura mais dúctil se torna o modelo. No entanto, a quantidade de
ensaios realizados foram insuficientes para maiores conclusões sobre as taxas
mínimas de segurança.

TABELA 4 - Forma de ruptura dos modelos e suas taxas de armaduras

fc ρL Arm. ρt
Pilar Estribo Forma de Ruptura
MPa % Longit. %
P1/1 88,9 2,26 8φ12,5 1,58 φ6,3c/5 destacamento do cobrimento
P1/2 85,7 2,26 8φ12,5 0,79 φ6,3c/10 destacamento do cobrimento
P1/3 82,6 2,26 8φ12,5 0,53 φ6,3c/15 colapso da seção
P2/1 90,1 1,26 8φ10,0 0,79 φ6,3c/10 colapso da seção
P2/2 89,6 1,26 8φ10,0 1,58 φ6,3c/5 destacamento do cobrimento
P3/1 87,4 3,45 8φ16,0 0,79 φ6,3c/10 destacamento do cobrimento

6 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DO CONCRETO

As características mecânicas do concreto utilizado nos modelos, foram


analisadas para se ter um comparativo com os resultados obtidos com as expressões
indicadas em artigos e normas técnicas internacionais.
A resistência média à compressão do concreto (fc) dos modelos, foi tomada
como média de 6 corpos-de-prova, três de cada mistura, para a idade de 15 dias.

6.1 Resistência à tração

A resistência à tração experimental (ft), foi obtida com corpos-de-prova


cilíndricos de 10cm x 20cm, ensaiados à compressão diametral.

As normas técnicas NBR 6118/78, MC90 CEB-FIP/91, NS 3473E/92 e o artigo


publicado por CARRASQUILLO et al. (1981), trazem expressões que estimam a
resistência à tração na falta de dados experimentais.
Apesar da resistência à tração não ter sido usado nesta pesquisa, procurou-
se fazer uma análise entre os valores obtidos experimentalmente, e os encontrados
nas expressões das referências citadas. Os resultados das resistências à tração estão
expostos na tabela 5.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 93

TABELA 5 - Valores da resistência à tração experimental e sugeridos pelas bibliografias.

fc ft NBR CEB NS Carrasquillo


Modelos
(MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
Piloto 89,61 5,25 6,08 6,01 4,45 5,11
P1/1 81,00 5,17 5,56 5,62 4,19 4,86
P1/1R 88,89 4,52 6,03 5,98 4,43 5,09
P1/2 85,68 5,42 5,84 5,83 4,33 5,00
P1/3 82,61 4,75 5,66 5,69 4,24 4,91
P2/1 90,07 4,72 6,10 6,03 4,47 5,12
P2/2 89,61 5,2 6,08 6,01 4,45 5,11
P3/1 87,41 4,64 5,94 5,91 4,39 5,05

Para melhor avaliar a precisão dos valores teóricos fornecidos pelas


expressões indicadas pelos vários Autores consultados, fez-se a relação entre o valor
experimental e o teórico, onde está exposto na tabela 6.

TABELA 6 - Relação entre os valores experimentais e teóricos da resistência à tração do


concreto.

Modelos NBR CEB NS Carrasquillo


Piloto 0,86 0,87 1,18 1,03
P1/1 0,93 0,92 1,23 1,06
P1/1R 0,75 0,76 1,02 0,89
P1/2 0,93 0,93 1,25 1,08
P1/3 0,84 0,83 1,12 0,97
P2/1 0,77 0,78 1,06 0,92
P2/2 0,86 0,87 1,17 1,02
P3/1 0,78 0,79 1,06 0,92

A comparação dos valores da resistência à tração, também podem ser feita


pela figura 16.

6
Resistência à tração - MPa

5
Experimental
4 NBR
CEB
3 NS
Carrasquillo
2

0
Piloto

P1/1

P1/1R

P1/2

P1/3

P2/1

P2/2

P3/1

Modelos

Figura 16 - Valores teóricos e experimentais da resistência à tração do concreto

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


94 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

De acordo com os valores da tabela 6 e a figura 16, pode-se avaliar a


precisão das expressões propostas. Observa-se que as expressões da NBR 6118/78
e do MC90 CEB-FIP/91 apresentam a mesma precisão, com valores bem próximos
um do outro, entretanto, um pouco acima dos valores obtidos experimentalmente. A
NBR 6118/78 ainda não foi revisada, e sua expressão não foi elaborada para
concretos de alta resistência, por isso, a diferença encontrada. No entanto, o CEB-
FIP/91 está atualizado, e a expressão para a resistência à tração é válida para
concretos de alta resistência até fc = 80MPa, logo, sua expressão não apresentou, em
nossa pesquisa, bons valores para a resistência à tração, sendo de baixa precisão.
Os valores da expressão proposta pela NS 3473E/92 foram, em sua maioria,
menores que os valores encontrados experimentalmente. Esta norma é bem
atualizada e mostrou-se um pouco conservativa para os resultados encontrados nesta
pesquisa.
A expressão proposta por CARRASQUILLO et al. (1981), apresentou boa
precisão em relação aos valores experimentais. Pode ser indicada, como a melhor
expressão para se prever valores da resistência à tração, quando utilizados os
procedimentos de mistura e materiais com características semelhantes ao adotados
nesta pesquisa. A expressão que prevê a resistência à tração do concreto proposto
por CARRASQUILLO et al. (1981) é :

f tk = 0,54 fck (MPa)

6.2 Módulo de deformação longitudinal

O módulo de deformação longitudinal (Ec), foi obtido em ensaios de


compressão axial, com deformação controlada, em corpos-de-prova cilíndricos de
10cm x 20cm.

As normas técnicas NBR 6118/78, ACI 318/94, MC90 CEB-FIP/91, NS


3473E/92 e o artigo publicado de CARRASQUILLO et al. (1981), trazem expressões
que estimam o módulo de deformação longitudinal, na falta de dados experimentais.
Procurou-se analisar a eficiência das expressões das referências
bibliográficas, comparando-se com os valores obtidos experimentalmente. Os
resultados dos módulos de deformação longitudinal estão expostos na tabela 7.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 95

TABELA 7 - Módulos de deformação longitudinal experimental e propostos nas bibliografias

fc Ec NBR ACI CEB NS Carrasquillo


Modelos
(MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
Piloto 89,61 43.017,00 63.685,73 44.775,39 55.251,75 36.595,74 38.327,97
P1/1 81,00 36.492,00 60.669,76 42.570,00 53.576,94 35.503,33 36.780,00
P1/1R 88,89 39.728,00 63.439,01 44.595,15 55.115,56 36.507,28 38.201,46
P1/2 85,68 41.915,00 62.327,21 43.782,53 54.500,05 36.106,67 37.631,08
P1/3 82,61 41.797,00 61.245,01 42.990,99 53.898,08 35.713,58 37.075,49
P2/1 90,07 41.931,00 63.842,85 44.890,17 55.338,41 36.652,00 38.408,53
P2/2 89,61 45.988,00 63.685,73 44.775,39 55.251,75 36.595,74 38.327,97
P3/1 87,41 41.645,00 62.928,85 44.222,34 54.833,49 36.323,86 37.939,78

Os resultados teóricos provenientes das expressões das referências citadas,


foram avaliados por meio da relação entre o valor experimental e o teórico, tabela 8,
como feito para as expressões da resistência à tração.

TABELA 8 - Relação entre os valores experimentais e teóricos do módulo de deformação


longitudinal

Modelos NBR ACI CEB NS Carrasquillo


Piloto 0,68 0,96 0,78 1,18 1,12
P1/1 0,60 0,86 0,68 1,03 0,99
P1/1R 0,63 0,89 0,72 1,09 1,04
P1/2 0,67 0,96 0,77 1,16 1,11
P1/3 0,68 0,97 0,78 1,17 1,13
P2/1 0,66 0,93 0,76 1,14 1,09
P2/2 0,72 1,03 0,83 1,26 1,20
P3/1 0,66 0,94 0,76 1,15 1,10

A comparação dos valores da resistência à tração, também podem ser feita


pela figura 17.

De acordo com os valores da tabela 8 e da figura 17, pode-se avaliar a


precisão das expressões propostas.

Constatou-se que a expressão da NBR 6118/78, apresentou valores bem


acima dos obtidos experimentalmente, cerca de 30% a 40%. Isto se dá, pois esta
norma ainda não foi revisada, e sua expressão não foi elaborada para concretos de
alta resistência.

Os valores resultantes da expressão proposta pelo MC90 CEB-FIP/91, não


apresentaram boa precisão, com valores superando o experimental em torno de 30%.
Logo, sua expressão não apresentou, em nossa pesquisa, bons valores para o
módulo de deformação longitudinal, sendo de baixa precisão.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


96 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

Os valores das expressões propostas pela NS 3473E/92 e por


CARRASQUILLO et al. (1981), tiveram boa precisão e apresentaram valores bem
próximos entre si. Estas expressões apresentaram valores ligeiramente menores que
os valores encontrados experimentalmente, sendo consideradas satisfatória, para
pesquisas feitas com procedimentos de mistura e materiais com características
semelhantes aos adotados nesta pesquisa.

70.000
Módulo de eslaticidade - MPa

60.000

50.000 Experimental
NBR
40.000 ACI
30.000 CEB
NS
20.000
Carrasquillo
10.000

0
Piloto

P1/1

P1/2

P1/3

P2/1

P2/2

P3/1
P1/1R

Modelos

Figura 17 - Valores teóricos e experimentais do módulo de deformação longitudinal

A expressão proposta pelo ACI 318/94, apresentou boa precisão em relação


aos valores experimentais. Esta pode ser indicada como a melhor expressão para se
prever valores do módulo de deformação longitudinal, quando utilizados os
procedimentos de mistura e materiais com características semelhantes aos adotados
nesta pesquisa. A expressão prevê o módulo de deformação longitudinal do concreto
proposto pelo ACI 318 é:

E c = 4730 f ck (MPa)

7 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para análise dos valores últimos experimentais, a resistência à compressão


do concreto foi assumida como 0,90fc, sendo o coeficiente 0,90 adotado para levar
em conta as relações entre resistências à compressão, determinados em corpos-de-
prova cilíndricos de 10cm x 20cm e 15cm x 30cm e, entre estes e o modelo.

As características geométricas e físicas dos modelos ensaiados e analisados


estão apresentadas na tabela 9.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 97

TABELA 9 - Características dos modelos analisados

b h fc 0,90fc εc Ec As fy Es ρL ρt
Pilar
cm cm MPa MPa (‰) MPa cm2 MPa MPa % %
P1/1 30 15 88,9 80,0 2,61 39.728 9,84 502,1 168.841 2,26 1,58
P1/2 30 15 85,7 77,1 2,32 41.915 9,84 502,1 168.841 2,26 0,79
P1/3 30 15 82,6 74,3 2,31 41.797 9,84 502,1 168.841 2,26 0,53
P2/1 30 15 90,1 81,0 2,35 41.931 6,28 623,0 194.060 1,26 0,79
P2/2 30 15 89,6 80,7 2,49 45.988 6,28 623,0 194.060 1,26 1,58
P3/1 30 15 87,4 78,7 2,39 41.645 16,08 622,8 194.388 3,45 0,79

Para análise dos resultados, foram determinadas as forças e momentos


fletores resistentes a partir dos valores das deformações medidas na seção
intermediária, e das características mecânicas do aço da armadura e do concreto
obtidas em ensaios.
A análise teórica do modelo foi feita em duas fases de aplicação de forças,
uma considerando a ação última, onde foi possível se medirem as deformações
próximo ao colapso, e outra considerando cerca de 80% da força última, onde a
estrutura encontrava-se em serviço.
Os valores experimentais obtidos para força normal e momento aplicado,
tanto para a força última quanto para 80% desta, estão mostrados na tabela 10.

TABELA 10 - Forças normais e momentos aplicados nos modelos

Força última 80% força última


Modelo Fexp, cent Fexp, exc Mexp Fexp, cent Fexp, exc Mexp
kN kN kN.cm kN kN kN.cm
P1/1 3.157,0 156,0 5.928,0 2.539,0 138,0 5.244,0
P1/2 2.825,8 125,8 4.780,4 2.253,9 106,9 4.062,2
P1/3 2.967,8 117,8 4.476,4 2.364,1 116,1 4.411,8
P2/1 2.788,9 189,9 7.216,2 2.165,5 161,5 6.137,0
P2/2 2.902,2 153,2 5.821,6 2.350,3 146,3 5.559,4
P3/1 3.307,6 157,6 5.988,8 2.681,8 131,8 5.008,4

7.1 Análise das deformações

Admitindo-se hipótese de que as seções planas permaneciam planas depois


de deformadas, pôde-se determinar a variação da deformação ao longo da altura h da
seção transversal do pilar. Para isso, foi preciso saber o valor das deformações nas
barras da armadura junto as faces 1 (face menos comprimida) e 2 (face mais
comprimida) e utilizar a expressão 1.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


98 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

ε −ε  ε ⋅ d − ε s1 ⋅ d ′
ε( x ) =  s1 s 2 x + s 2 (1)
 d − d′  d − d′

onde:

εs1 = deformação média medida na armadura menos comprimida;

εs2 = deformação média medida na armadura mais comprimida;

d = altura útil do pilar;


d’ = altura da seção transversal menos a altura útil.
As deformações médias obtidas em cada ensaio, e sua respectiva variação a
partir da equação 1, tanto para a força última quanto para 80% da força última, podem
ser vistas , respectivamente, na tabela 11.

TABELA 11 - Variação das deformações

Força última 80% força última


Modelo εs1 εs2 εs1 εs2
(‰) (‰) ε(x) (‰) (‰) ε(x)
P1/1R 1,402 2,983 -0,014373x + 0,003270 1,117 1,963 -0,007695x + 0,002117

P1/2 1,374 2,354 -0,008909x + 0,002532 1,075 1,665 -0,005364x + 0,001772

P1/3 2,481 2,968 -0,010036x + 0,002682 1,680 2,364 -0,005941x + 0,001799


P2/1 1,291 2,524 -0,011214x + 0,002748 1,084 1,595 -0,004641x + 0,001688
P2/2 1,407 2,292 -0,008050x + 0,002454 1,068 1,673 -0,005500x + 0,001783
P3/1 1,371 2,922 -0,014109x +0,003205 1,077 1,878 -0,007277x + 0,002024

7.2 Esforços resistentes

Conhecendo-se as variações das deformações ao longo da altura da seção


transversal do pilar, mostrada na tabela 11, as características da seção do pilar, do
concreto e da armadura, mostradas na tabela 9, e admitindo-se uma relação tensão x
deformação para o concreto, pode-se utilizar as expressões 2 e 3, para calcular os
esforços normais resistentes teóricos e os respectivos momentos fletores, das seções
dos modelos ensaiados.

h
N u ,teo = b ∫ σ x ( x)dx + As1σ s1 + As 2σ s 2 (2)
0

h
h  h
M u ,teo = b ∫ σ x ( x) ⋅  − x dx + ( As 2σ s2 − As1σ s1 ) ⋅ ( − d ′) (3)
0 2  2

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 99

As análises foram feitas considerando-se as variações das tensões nas


seções transversais dos pilares com as expressões propostas por LIMA et al. (1997) e
por COLLINS et al. (1993).

7.3 Relação tensão x deformação proposta por LIMA et al. (1997)

Relação tensão x deformação:

(− 2 f c + Ec ε co ) (3 f c − 2 Ec ε co )
σc = ε c3 + ε c2 + E c ε c (4)
ε 3
co ε 2
co

Os esforços resistentes bem como suas relações entre os valores


experimentais e teóricos, são mostrados na tabela 12.

TABELA 12 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação proposta
por LIMA et al. (1997)

Força última 80% força última


Modelo Fteo Mteo Fexp / Mexp / Fteo Mteo Fexp / Mexp /
kN kN.cm Fteo Mteo kN kN.cm Fteo Mteo
P1/1 3.538,0 2.282,0 0,89 2,60 2.438,0 2.420,0 1,04 2,17
P1/2 2.821,0 1.850,0 1,00 2,58 2.377,0 1.833,0 0,95 2,21
P1/3 3.020,0 2.054,0 0,98 2,18 2.751,0 1.764,0 0,86 2,50
P2/1 2.994,0 2.140,0 0,93 3,35 2.489,0 1.642,0 0,87 3,72
P2/2 2.980,0 1.785,0 0,97 3,24 2.468,0 1.795,0 0,95 3,08
P3/1 3.801,0 2.289,0 0,87 2,62 3.198,0 2.668,0 0,84 1,88

Os valores das relações Fexp / Fteo , para as duas situações de etapas de


aplicação de forças, ficaram próximo da unidade, indicando que os valores teóricos
fornecidos pela equação de equilíbrio dos esforços normais resistentes, utilizando a
relação tensão x deformação proposta por LIMA et al. (1997), representam, com boa
precisão, os valores obtidos experimentalmente. As relações Mexp / Mteo , ficaram
acima da unidade, com isso, pode-se concluir que a excentricidade responsável pelos
momentos experimentais atuantes nas seções transversais de meia altura dos pilares,
não ocorreram na sua integridade, podendo ter existido excentricidades acidentais
que geravam momentos fletores contrários aos aplicados pelas forças excêntricas.

7.4 Relação tensão x deformação proposta por COLLINS et al. (1993)

Relação tensão x deformação:

fc ε c n
= (5)
fc′ ε ′c ε 
nk

n − 1+  c 
 ε ′c 

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100 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

onde k é igual a 1 quando εc/ε’c é menor que 1, e quando εc/εc’ excede1, k é um


número maior que 1 dado por:

f c′ f c′
k = 0,67 + (MPa) e n = 0,8 + (MPa) (6)
62 17

Para a relação proposta por COLLINS et al. (1993), a análise foi feita usando
os valores experimentais da deformação do concreto (εc) correspondente à força
máxima nos corpos-de-prova, tabela 9. Os valores dos esforços resistentes bem como
suas relações entre os valores experimentais e teóricos, são mostrados na tabela 13.
Os valores das relações Fexp/Fteo, são praticamente iguais a unidade, tendo, a
relação de COLLINS et al. (1993), uma excelente previsão para os valores
experimentais. As relações Mexp/Mteo, também ficaram acima da unidade, concordando
com os valores obtidos utilizando a relação proposta por LIMA et al. (1997),
mostrando assim consistência dos resultados.

TABELA 13 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação proposta
por Collins et al. (1993)

Força última 80% força última


Modelo Fteo Mteo Fexp / Mexp / Fteo Mteo Fexp / Mexp /
kN kN.cm Fteo Mteo kN kN.cm Fteo Mteo
P1/1 3226,0 4625,0 0,98 1,28 2793,0 2569,0 0,91 2,04
P1/2 2725,0 1888,0 1,04 2,53 2160,0 2111,0 1,04 1,92
P1/3 2483,0 3749,0 1,19 1,19 2726,0 1751,0 0,87 2,52
P2/1 2806,0 1670,0 0,99 4,28 2338,0 1699,0 0,93 3,60
P2/2 2852,0 2158,0 1,02 2,70 2240,0 1921,0 1,05 2,88
P3/1 3370,0 2196,0 0,98 2,72 3066,0 2833,0 0,87 1,77

Os valores das relações Fexp/Fteo, são praticamente iguais a unidade, tendo, a


relação de COLLINS et al. (1993), uma excelente previsão para os valores
experimentais. As relações Mexp/Mteo, também ficaram acima da unidade, concordando
com os valores obtidos utilizando a relação proposta por LIMA (1997), mostrando
assim consistência dos resultados, sugerindo que algum problema poderia ter
ocorrido com o sistema de ensaio.
A tabela 14 apresentada as relações entre os valores experimentais e os
teóricos dos esforços resistentes, bem como seus valores médios.

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Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 101

TABELA 14 - Análise dos esforços resistentes para as relações tensão x deformação proposta
LIMA (1997 e COLLINS et al. (1993)

LIMA (1997) LIMA (1997) COLLINS et al. COLLINS et al.


Força última 80% força (1993) (1993)
Modelo última força última 80% força última
Fexp / Mexp / Fexp / Mexp / Fexp / Mexp / Fexp / Mexp /
Fteo Mteo Fteo Mteo Fteo Mteo Fteo Mteo
P1/1R 0,89 2,60 1,04 2,17 0,98 1,28 0,91 2,04
P1/2 1,00 2,58 0,95 2,21 1,04 2,53 1,04 1,92
P1/3 0,98 2,18 0,86 2,50 1,19 1,19 0,87 2,52
P2/1 0,93 3,35 0,87 3,72 0,99 4,28 0,93 3,60
P2/2 0,97 3,24 0,95 3,08 1,02 2,70 1,05 2,88
P3/1 0,87 2,62 0,84 1,88 0,98 2,72 0,87 1,77
Média 0,94 2,76 0,92 2,59 1,03 2,45 0,95 2,45

7.5 Relação tensão x deformação proposta pelo Código Modelo - MC90


CEB-FIP (1991)

O CEB-FIB (1991) sugere para relação tensão x deformação de CAR um


diagrama parábola-retângulo, cujas expressões, são:

  ε   ε 2 
σ cd = 0,85 f cd 2 ⋅  c  −  c   (7)
  ε c1   ε c1  

 50 
ε c1 = 0,002 e ε cu = 0,0035 ⋅   (MPa) (8)
 f ck 

A análise dos esforços resistentes para a força última é mostrada na tabela


15.

TABELA 15 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação sugerida
pelo MC90 CEB-FIP (1991)

Fteo Mteo Fexp / Mexp /


Modelo
kN kN.cm Fteo Mteo
P1/1R 1.543,0 4.314,0 2,05 1,37
P1/2 1.995,0 4.311,0 1,42 1,11
P1/3 1.795,0 4.252,0 1,65 1,05
P2/1 1.832,0 4.626,0 1,52 1,56
P2/2 2.063,0 4.635,0 1,41 1,26
P3/1 1.882,0 3.638,0 1,76 1,65

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102 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

Os valores das relações Fexp / Fteo , estão abaixo dos valores experimentais
encontrados. Como essa relação é adotada para cálculo, pode-se considerá-la a favor
da segurança, mas com pouca precisão. Com relação aos momentos fletores Mexp /
Mteo, são também conservativas, ficando abaixo dos valores experimentais
encontrados. No entanto, esta análise não leva em conta a excentricidade acidental
detectada nos ensaios, podendo essas relações terem valores menores.

7.6 Relação tensão x deformação proposta pelo ACI 318 – M89

O diagrama retangular de tensões assumido pelo ACI, é definido por dois


parâmetros α1 e β1. O parâmetro α1 é assumido para um valor constante de 0,85. O
parâmetro β1 é igual a 0,85 para resistência do concreto até 30MPa, e é reduzido
continuamente a uma taxa de 0,08, para cada 10MPa que excede 30MPa. O
parâmetro β1 não pode ser menor que 0,65.

A análise dos esforços resistentes para a força última é mostrada na tabela


16.

TABELA 16 - Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação sugerida
pelo ACI 318 - M89, para a ação última

Fteo Mteo Fexp / Mexp /


Modelo
kN kN.cm Fteo Mteo
P1/1R 1.989,0 969,6 1,59 6,11
P1/2 1.917,1 934,6 1,47 5,11
P1/3 1.848,5 901,2 1,61 4,97
P2/1 2.015,3 982,5 1,38 7,34
P2/2 2.005,1 977,5 1,45 5,96
P3/1 1.955,9 953,5 1,69 6,28

O diagrama simplificado sugerido pelo ACI 318, apresenta valores para os


esforços normais, abaixo dos encontrados experimentalmente, como também para os
momentos fletores. Mas, por causa da sua simplicidade, tais valores podem ser
considerados muito bons para utilizar em escritórios de projetos estruturais. Ressalva
deve ser feita com relação aos momentos fletores, que apresentam valores muito
abaixo dos obtidos experimentalmente. No entanto, essa análise não levou em
consideração a provável excentricidade acidental encontrada nos modelos, podendo-
se assim tornar essas relações bem menores.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto armado de alta resistência sob flexo... 103

7.7 Relação tensão x deformação proposta por DINIZ apud


VASCONCELOS (1998)

DINIZ apud VASCONCELOS (1998) propõe um diagrama retangular, onde as


análises dos esforços resistentes para as forças últimas são mostradas na tabela 17.

TABELA 17- Análise dos esforços resistentes para a relação tensão x deformação proposta por
DINIZ, para a ação última

Fteo Mteo Fexp / Mexp /


Modelo
kN kN.cm Fteo Mteo
P1/1R 2.079,4 1.185,2 1,22 4,42
P1/2 2.004,2 1.142,4 1,12 3,56
P1/3 1.932,5 1.101,5 1,22 4,01
P2/1 2.106,9 1.200,9 1,03 5,11
P2/2 2.096,2 1.194,9 1,12 4,65
P3/1 2.044,8 1.165,5 1,31 4,30

Os valores das relações Fexp / Fteo e Mexp/Mteo, apresentaram resultados muito


bons, levando em conta a sua simplicidade. Tais valores se mostraram mais preciso
que os apresentados pelo ACI, podendo ser adotados em projetos estruturais em
CAR.
Com relação aos momentos fletores estarem bem abaixo dos experimentais,
deve-se as mesmas explicações do item anterior.

8 CONCLUSÃO

Os diagramas que relacionaram as forças aplicadas com as deformações dos


pilares, apresentaram, de maneira geral, resultados coerentes com os esperados em
ensaios deste tipo. Os efeitos da flexão oblíqua não foram sentidos nos ensaios, em
função, provavelmente, da proximidade dos pontos onde se fazia a leitura das
deformações longitudinais. Para isso, seria necessário instrumentar as barras da
armadura longitudinal localizadas nas extremidades da seção do pilar, tendo assim,
as prováveis diferenças de deformações e uma situação mais real do que estava
acontecendo na seção.

As deformações últimas de compressão do concreto, na face mais


comprimida do pilar, variaram entre 2,3‰ e 3‰, tendo média de 2,59‰. Confirmando,
assim, a alteração proposta para o diagrama de domínios de deformação, quando se
trata de concreto de alta resistência.

Um ponto interessante na análise dos gráficos força x deformação, foi com


relação as mudança na inclinação da curva, quando a força alcançava em média 55%
da força última. Este fato pode ser proveniente do início do destacamento do
cobrimento de concreto que envolvia a armadura, ocasionando uma acomodação da
estrutura.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


104 Romel Dias Vanderlei & José Samuel Giongo

A análise da variação das taxas de armadura mostrou que a ductilidade da


seção transversal é função das taxas de armadura transversal e longitudinal e o
aumento dessas taxas torna o pilar mais dúctil. Sugere-se maior número de ensaios
para análise mais precisa a respeito disto.

Na análise dos esforços resistentes, observou-se que as relações Fexp / Fteo


são praticamente iguais a unidade, tanto para a relação tensão x deformação
proposta por LIMA et al. (1997), quanto para a proposta por COLLINS et al. (1993). As
relações Mexp / Mteo, ficaram acima da unidade, podendo-se concluir que a
excentricidade geométrica, que era responsável pelos momentos experimentais
atuantes nas seções transversais de meia altura dos pilares, não ocorreram na sua
integridade, podendo existir também excentricidades acidentais que geravam
momentos contrários ao aplicado pelas forças excêntricas. Percebeu-se que os
valores obtidos utilizando a relação tensão x deformação proposta por COLLINS et al.
(1993), apresentou resultados mais próximos do experimental do que a relação
proposta por LIMA et al. (1997), tanto para esforços normais quanto para momentos
fletores. No entanto, as duas propostas apresentam excelente precisão para os
esforços normais.

9 AGRADECIMENTOS

Aos órgãos de fomento à pesquisa, CAPES - Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, e FAPESP - Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo, pelas bolsas de mestrado concedidas; às
empresas CAMARGO CORRÊA CIMENTOS S. A., REAX INDÚSTRIA E COMÉRCIO
LTDA e PROFIP, pelos materiais cedidos para as construções dos modelos.

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1992). NBR 8953 - Concreto


para fins estruturais: classificação por grupos de resistências. Rio de Janeiro.

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execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro.

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May. Proceedings. p.863-871.

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strength concrete subject to short-term loads. ACI Materials Journal, p.171-181, May-
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state of the art report. CEB Bulletin d’Information, n.197, Ago.

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consideration for high-strength concrete. Concrete International, p. 27-34, May.

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strength concrete columns. ACI Structural Journal, v. 93, n. 5, Sep.-Oct.

LIMA, F.B.; GIONGO, J.S.; TAKEYA, T. (1997). Pilares de concreto de alto


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São Paulo, 5-8 agosto. São Paulo, IBRACON, 1997. v.2, p.505-519.

LLOYD, N. A.; RAGAN, B. V. (1996). Studies on high-strength concrete columns under


eccentric compression. ACI Structural Journal, v. 93, n. 6, Nov.-Dec.

NS 3473 E (1992). Concrete structures: design rules. 4 ed. Oslo, Norway, Nov.

VANDERLEI, R. D. (1999). Análise experimental de pilares de concreto armado de


alta resistência sob flexo compressão reta. São Carlos. Dissertação (Mestrado) -
Escola de Engenharia de São Carlos - USP.

VASCONCELOS, A. C. (1998). Concreto de alto desempenho – CAD. / Material


divulgado na Palestra “A prática de projetos estruturais usando concreto de alto
desempenho” e “Pontos relevantes no Congresso da FIP/98 em Amsterdam -
Holanda” ministrada no Departamento de Estruturas – EESC – USP, em 16/09/1998.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 81-105, 2003.


ANÁLISE EXPERIMENTAL DE PILARES DE
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO SUBMETIDOS
À COMPRESSÃO SIMPLES

Marcos Vinícios M. de Queiroga1 & José Samuel Giongo2

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi obter subsídios para o projeto de pilares de concreto de alta
resistência, submetidos à compressão simples, com concreto de resistência média à
compressão de 60MPa. O projeto faz parte de um plano mais amplo onde já se têm
resultados experimentais que traduzem o comportamento de pilares moldados com
concreto de resistência média à compressão de 80MPa. Nestes constatou-se a
participação isolada do núcleo de concreto definido pelo eixo das barras da armadura
transversal como seção resistente dos pilares. Na etapa experimental foram ensaiados
pilares com seções transversais quadradas de 200mm x 200mm e retangulares de
150mm x 300mm. As alturas dos pilares eram iguais a 1200mm e 900mm,
respectivamente. Nos modelos de seção quadrada, o valor médio das relações entre
forças últimas experimentais e forças últimas teóricas, considerando a seção total,
resultou igual a 0,82, indicando que a seção resistente não é a seção total. Por outro
lado, a média das relações entre as forças últimas experimentais e as forças últimas
teóricas, considerando apenas a área do núcleo limitada pelo eixo dos estribos,
resultou igual a 1,21, mostrando que a seção resistente pode ser considerada, no
Estado Limite Último, como a seção do núcleo.

Palavras-chave: concreto de alto desempenho; pilares; experimentação.

1 INTRODUÇÃO

1.1 Histórico da pesquisa

No Brasil, pesquisas com pilares de CAR foram desenvolvidas por AGOSTINI


(1992), realizando estudo experimental de pilares de seção quadrada submetidos à
compressão simples, e PAIVA (1995), que estudou pilares de seção retangular
também sujeitos à compressão simples. No âmbito da EESC-USP já foram realizados,
e estão em andamento, diversos trabalhos experimentais com elementos moldados

1
Mestre em Engenharia de Estruturas na EESC-USP, m_queiroga@yahoo.com.br
2
Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jsgiongo@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.


108 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

com concreto de alta resistência. Dentre eles citam-se o estudo de pilares de concreto
de alta resistência submetidos à compressão simples e à flexo-compressão, realizado
por GIONGO, LIMA e TAKEYA (1996), que possibilitou a tese de LIMA (1997).

1.2 Análises já realizadas

CLAESON et al. (1996) observaram que, para pilares de CAR, a área de


concreto efetivamente confinada pela armadura é menor do que a área normal do
núcleo limitada pelo perímetro dos estribos e varia em função da configuração e
espaçamento da armadura transversal. A forma do núcleo é, aproximadamente, a da
figura 1.

Figura 1 - Forma aproximada do núcleo resistente de concreto

O comportamento de pilares de CAR submetidos à compressão simples pode


ser descrito por meio do diagrama da figura 2, e apresenta as seguintes
particularidades, quando comparado ao de pilares de concreto de baixa resistência,
como, por exemplo, 20MPa: maior módulo de elasticidade e linearidade do trecho
ascendente do diagrama força x deformação; ruptura frágil, exigindo grandes taxas de
armadura transversal para se obter ductilidade; ruptura prematura do cobrimento;
apresentam menores incrementos de resistência quando comparados a pilares de
concreto de baixa resistência, AL-HUSSAINI et al. (1993).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 109

Figura 2 - Diagrama força x deformação para pilares de CAR

O trecho OA do diagrama é praticamente linear, tornando-se curvo a partir do


início da ruptura do cobrimento. No ponto A do diagrama todo cobrimento já se
encontra destacado do núcleo definido pelas armaduras longitudinais e transversais.
Percebe-se, então, queda na resistência do pilar até o ponto B. Segundo CUSSON e
PAULTRE (1992), o decréscimo de resistência no trecho AB variou de 10% a 15% do
valor máximo da força em A. A partir daí podem se distinguir três comportamentos
distintos para o elemento estrutural, determinados pela eficiência da armadura
transversal:

• baixa eficiência: caracteriza a ruptura frágil. A armadura transversal não é


suficiente para promover acréscimos à resistência do concreto do núcleo; a
armadura transversal não atinge a resistência de escoamento fy;

• média eficiência: a armadura transversal atinge o patamar de escoamento,


propiciando pressões de confinamento no núcleo, figura 3. O pilar ganha
ductilidade;

• alta eficiência: substanciais acréscimos de resistência são obtidos, podendo o


pilar atingir forças superiores à correspondente ao ponto A do diagrama.

Concreto em estado Pressão lateral de


triaxial de tensões confinamento oriunda
(acréscimos de da resistência da
resistência) armadura à expansão
lateral do concreto -
Efeito Poisson

Figura 3 - Pressões laterais de confinamento

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.


110 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

Das observações de CUSSON e PAULTRE (1994) enumeram-se as


seguintes:
(a) pressão de confinamento diretamente proporcional à quantidade de
armadura transversal;
(b) menor expansão lateral do CAR em relação ao concreto de baixa
resistência, o que se traduz em menor eficiência do confinamento. Os acréscimos de
resistência em pilares com eficiente armadura de confinamento foram maiores em
pilares de CRN do que em pilares de CAR. Ganhos de resistência de 50% e 100% a
mais do que o concreto não confinado, foram observados para os modelos bem
confinados moldados com concreto de 100MPa e 50MPa, respectivamente;

(c) ductilidade do concreto inversamente proporcional ao acréscimo de


resistência. Acréscimos em ductilidade de 10 e 20 vezes foram observados em
modelos bem confinados de CAR de 100MPa e 50MPa, respectivamente;

(d) a importância da configuração adotada para a armadura transversal na


determinação da área de concreto efetivamente confinada, figura 4.
(e) o menor espaçamento entre estribos garante maior área para a seção
crítica do núcleo efetivamente confinado e reduz o risco de flambagem localizada das
barras da armadura longitudinal. A seção crítica do núcleo, situada à meia distância
entre estribos sucessivos, tem sua área definida em função do espaçamento adotado
(figura 5).

Núcleo de
concreto
(área
efetivamente
confinada)

Cobrimento de
concreto

Figura 4 - Efeito da configuração e espaçamento da armadura transversal sobre o


confinamento do núcleo: (a) Configuração de estribos com grande espaçamento; (b)
Configuração de estribos mais eficiente, com pequeno espaçamento, CUSSON e PAULTRE
(1994)

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 111

Figura 5 - Efeito do espaçamento entre estribos para a definição da área de concreto


efetivamente confinada, seção crítica, Aec, SHEIKH e UZUMERI (1982)

CUSSON e PAULTRE (1992) concluíram que, para o cálculo da seção


resistente de pilares moldados em CAR, o cobrimento pode ser desprezado e apenas
a área do núcleo definida pela linha-de-centro dos estribos mais externos pode ser
considerada para a contribuição na resistência axial total. O cobrimento, nestes casos,
figura apenas como proteção física da armadura contra a corrosão e o fogo.
Quanto à perda prematura do cobrimento, CUSSON e PAULTRE (1993)
sugerem a seguinte explicação: a baixa permeabilidade do CAD possibilita que
apenas o concreto do cobrimento possa secar-se, enquanto o núcleo permanece
úmido. Em conseqüência disto, tensões de tração se desenvolvem no cobrimento
devido a retração em torno do núcleo impermeável, figura 6(a). Além disso,
considerando a tendência da armadura de impedir a retração do concreto, formam-se
fissuras axiais em torno das barras da armadura longitudinal, figura 6(b). A soma
destes efeitos contribui para o aspecto final da seção, figura 6(c), e conseqüente
perda do cobrimento.

Figura 6 - Causas da ruptura do cobrimento, CUSSON e PAULTRE (1993)

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112 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

Quanto à forma de ruptura de pilares de CAR observou-se que:


- Nos modelos "bem confinados" (suficiente taxa de armadura transversal),
ocorreu ruptura dos estribos situados no terço intermediário da altura do pilar,
CUSSON e PAULTRE (1992);
- Nos modelos com insuficiente taxa de armadura transversal ocorreu
flambagem localizada das barras da armadura;
- Formação de superfícies de cisalhamento dividindo o núcleo em duas
cunhas. A inclinação da superfície de cisalhamento com o plano vertical (θ) variou de
25o para modelos com baixo confinamento, até 45o, para modelos com alto
confinamento, CUSSON e PAULTRE (1992).

2 PILARES DE CAR SUBMETIDOS À COMPRESSÃO SIMPLES


ENSAIADOS PELOS AUTORES

2.1 Estudo de dosagem

A dosagem inicial foi adaptada de estudo de DAL MOLIN (1995), que avaliou
a influência da sílica ativa nas diversas propriedades do concreto. Após várias
tentativas, obteve-se uma dosagem (Dosagem 1) que proporcionou concreto com
resistência média à compressão próxima de 60MPa aos 15 dias. A dosagem proposta
por DAL MOLIN (1995) para 60MPa foi 1:0,86:2,44, com fator a/(c+sa) igual a 0,32 e
teor de sílica ativa de 10%. A Dosagem 1, obtida experimentalmente usando os
materiais disponíveis na região de São Carlos, foi de 1:0,9:2,8. O fator água/materiais
cimentantes foi de 0,35. O consumo de sílica ativa foi fixado em 10% do consumo de
cimento, conforme indicado por DAL MOLIN (1995); LIMA (1997). O consumo de
superplastificante correspondia a 1,5% do consumo total de material aglomerante
(cimento + sílica ativa). A tabela 1 traz o consumo de materiais para a Dosagem 1.

Com esta dosagem foram moldados dois modelos com seção transversal
quadrada (Pilares P1 e P2) e doze corpos-de-prova. Em função da reduzida
trabalhabilidade da mistura (slump = 3cm), uma nova dosagem foi estudada
(Dosagem 2), procurando melhorar esta característica do concreto, tabela 2. O ponto
de partida para a segunda dosagem foi a adição de superplastificante em teor de
2,5% (superior ao da dosagem anterior, 1,5%). A tabela 5.2 traz os resultados do
ensaio à compressão para as duas primeiras dosagens. Com a Dosagem 2
moldaram-se todos os demais modelos. O abatimento do cone ficou em torno de 8cm
para a Dosagem 2.

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 113

TABELA 1 - Consumo unitário de Materiais (Dosagem 1)

Material Consumo (kg/m3)


Cimento 430,0
Sílica ativa 43,0
Areia 435,2
Pedra britada 1324,4
Água 165,6
Superplastificante 7,1
TOTAL 2405,2

TABELA 2 - Consumo unitário de Materiais (Dosagem 2)

Material Consumo (kg/m3)


Cimento 430,0
Sílica ativa 43,0
Areia 435,2
Pedra britada 1324,4
Água 165,6
Superplastificante 11,8
TOTAL 2410,0

2.2 Características dos modelos

Foram utilizados pilares com seção transversal quadrada (20cm x 20cm) e


retangular (15cm x 30cm) com altura igual a 120cm e 90cm, respectivamente (seis
vezes a menor dimensão da seção transversal). A escolha destas dimensões para os
modelos foi uma forma de aproximá-las às dimensões usuais dos pilares de edifícios,
uma vez que, nas pesquisas anteriores, por causa das limitações dos aparelhos de
ensaio, as dimensões dos modelos eram bem reduzidas.
A armadura dos pilares ensaiados foi estabelecida de tal forma que séries
sucessivas tinham taxas geométricas de armadura transversal (ρw) crescentes,
obtidas por menores espaçamentos, ficando o diâmetro das barras inalterado em
todos os modelos. O objetivo destes acréscimos era avaliar qual a taxa mínima de
armadura transversal que garantisse a ductilização do pilar. A armadura longitudinal
(ρsl) não variou nos modelos de mesma seção. A tabela 3 traz as características das
armaduras empregadas.

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TABELA 3 - Características dos modelos

Concreto de resistência média de 60MPa aos 15 dias


Dimensões da seção
Pilares Estribos
b (cm) h (cm)
P1 20 20 φ6,3c/15
SÉRIE 1
P2 20 20 φ6,3c/15
P3 20 20 φ6,3c/10
SÉRIE 2
P4 20 20 φ6,3c/10
P5 20 20 φ6,3c/5
SÉRIE 3
P6 20 20 φ6,3c/5
P7 15 30 φ6,3c/15
SÉRIE 4
P8 15 30 φ6,3c/15
P9 15 30 φ6,3c/10
SÉRIE 5
P10 15 30 φ6,3c/10
P11 15 30 φ6,3c/5
SÉRIE 6
P12 15 30 φ6,3c/5

Os modelos foram ensaiados na máquina de ensaios INSTRON adquirida


pelo Laboratório de Estruturas da EESC - USP, com recursos de Projeto Integrado
FAPESP coordenado pelo professor João Bento de Hanai. Esta máquina hidráulica,
servo-controlada e computadorizada de última geração, pode ser empregada em
ensaios estáticos ou dinâmicos. Possui capacidade de 2.500kN (força estática
máxima), altura útil de ensaio de 4m. A utilização da INSTRON permitiu a aplicação
de deslocamentos com velocidade controlada (mm/s), variando-se a mesma à medida
que as forças últimas teóricas previstas para os modelos se aproximavam.
A aquisição de dados dos instrumentos de medida de deformação (extensômetros) e
deslocamento (relógios comparadores), foi realizada, para a Série 1, por meio do
sistema SYSTEM 4000, e, nas séries seguintes, com o sistema SYSTEM 5000.

Figura 7 - Visão parcial da máquina INSTRON com pilares de seção quadrada e retangular
posicionados para os ensaios

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 115

Figura 8 - Detalhe da aparelhagem utilizada nos ensaios

2.3 Instrumentação utilizada

a. Na armadura

As deformações nas barras das armaduras foram medidas por extensômetros


elétricos fixados à meia altura das barras da armadura longitudinal e nos ramos dos
estribos situados na seção média do pilar, como mostram as figuras 9 e 10.

Figura 9 - Detalhe da seção instrumentada

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116 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

extensômetros 1 a 4 - armadura longitudinal


extensômetros 5 a 8 - armadura transversal

extensômetros 1 a 4 - armadura longitudinal


extensômetros 5 a 8 - armadura transversal

Figura 10 - Localização dos extensômetros

b. No concreto

Nas faces dos modelos as deformações no concreto foram medidas por


extensômetros elétricos, nas quatro faces do pilar, situados à altura da seção
transversal da armadura instrumentada. Dois extensômetros foram colados por face,
perpendiculares entre si, de tal forma a se determinarem as deformações longitudinais
e transversais no concreto, figura 11.

Figura 11 - Detalhe do posicionamento dos extensômetros em uma face do pilar

A medição dos deslocamentos realizou-se com de defletômetros


posicionados nas quatro faces do pilar, figura 12.

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 117

a) Defletômetros – vista lateral b) Extensômetros – vista superior

c) Vista geral da instrumentação

Figura 12 - Esquema de instrumentação do pilar

2.4 Execução das armaduras

a. Armadura longitudinal

Era composta por oito barras de 12,5mm de diâmetro, dispostas como mostra
a figura 13. Utilizaram-se espaçadores de argamassa para garantir o cobrimento da
armadura.

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118 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

a) Modelos com seção quadrada b) Modelos com seção retangular

Figura 13 - Detalhe das armaduras

b. Armadura transversal

Era composta por estribos a 90o com bitolas e espaçamentos escolhidos para
proporcionar diferentes valores para ρw (taxa volumétrica de armadura transversal). A
tabela 4 traz os valores para ρw. As configurações para os estribos nos modelos de
seção transversal quadrada e retangular podem ser vistas na figura 14.

Figura 14 - Configurações para os estribos dos modelos de seção transversal quadrada e


retangular

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 119

TABELA 4 - Taxa geométrica de armadura transversal (ρw)

Concreto de resistência média de 60MPa aos 15 dias


Dimensões da
Pilares seção Estribos Cobrimento ρw (%) ρsl (%)
(cm)
b (cm) h (cm)
P1 20 20 φ6,3c/15 1,75 0,34 2,5
SÉRIE 1
P2 20 20 φ6,3c/15 1,75 0,34 2,5
P3 20 20 φ6,3c/10 1,75 0,51 2,5
SÉRIE 2
P4 20 20 φ6,3c/10 1,75 0,51 2,5
P5 20 20 φ6,3c/5 1,75 1,03 2,5
SÉRIE 3
P6 20 20 φ6,3c/5 1,75 1,03 2,5
P7 15 30 φ6,3c/15 2,00 0,34 2,2
SÉRIE 4
P8 15 30 φ6,3c/15 2,00 0,34 2,2
P9 15 30 φ6,3c/10 2,00 0,51 2,2
SÉRIE 5
P10 15 30 φ6,3c/10 2,00 0,51 2,2
P11 15 30 φ6,3c/5 2,00 1,03 2,2
SÉRIE 6
P12 15 30 φ6,3c/5 2,00 1,03 2,2

c. Armadura de fretagem

Foi disposta nas extremidades dos pilares com a finalidade de proteger estes
locais da ruptura prematura por efeito de ponta das barras da armadura longitudinal
(figura 15). As extremidades dos modelos, por serem zonas de aplicação de forças, se
constituem em regiões descontínuas, ou regiões de regularização de tensões,
segundo o princípio de Saint-Venant.

Figura 15 - Armadura de fretagem

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3 RESULTADOS E ANÁLISE

3.1 Seção resistente de concreto

Os resultados dos ensaios mostraram que, para forças próximas à força


última, o núcleo de concreto definido pelos eixos dos estribos participa isoladamente
como seção resistente do pilar. Os valores das forças últimas obtidas nos ensaios
(Fexp) situam-se entre os obtidos teoricamente, considerando-se: (1) seção íntegra de
concreto (Fteo), e (2) seção do núcleo de concreto (Fteo,n). Portanto, constata-se que:
Fexp/Fteo <1 e Fexp/Fteo,n >1, conforme indicado na tabela 5. A figura 16 mostra alguns
modelos após a ruína.

a) b)
Figura 16 - Aspectos dos modelos após a ruína: a) P2 e b) P6

TABELA 5 - Resumo dos resultados dos ensaios

Pilar fc fy Fteo (kN) Fteo,n (kN) Fexp Fexp/Fteo Fexp/Fteo,n


P1 59,6 502 2594,1 1769,3 2278 0,88 1,29
P2 64,4 502 2760,8 1870,3 2292 0,83 1,23
P3 53,4 502 2376,4 1637,5 1835 0,77 1,12
P4 53,4 502 2376,4 1637,5 1864 0,78 1,14
P5 55,9 502 2464,2 1690,6 2158 0,88 1,28
P6 55,9 502 2464,2 1690,6 2312 0,94 1,37
P7 66,9 502 3151,3 2086,1 2373 0,75 1,14
P8 66,9 502 3151,3 2086,1 2496 0,80 1,20
P9 63,9 502 3031,7 2014,6 2446 0,81 1,21
P10 63,9 502 3031,7 2014,6 2440 0,80 1,21
P11 65,5 502 3094,7 2052,3 2288 0,74 1,11
P12 65,5 502 3094,7 2052,3 2497 0,81 1,22

MÉDIA 0,82 1,21

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 121

Da observação dos resultados pode-se concluir que, para pilares de concreto


de alta resistência, no caso em torno de 60MPa, a seção resistente é a seção
transversal correspondente ao núcleo de concreto. Desta forma verificam-se as
observações feitas por AGOSTINI (1992), PAIVA (1994), CUSSON e PAULTRE
(1993) e LIMA, GIONGO e TAKEYA (1997) para pilares com concreto de resistência
média à compressão de 80MPa.

3.2 Capacidade resistente segundo COLLINS et al. (1993)

Segundo COLLINS et al. (1993) a capacidade resistente de pilares de


concreto com estribos ou barras espirais, com cobrimento, pode ser expressa por:

( )
F = k 3 ⋅ fc, ⋅ A g − A st + fy ⋅ A st

onde:
Ag - área da seção transversal do pilar; Ast - área da seção transversal das barras da
armadura longitudinal; fy - resistência de escoamento das barras da armadura
longitudinal; fc' - resistência à compressão do concreto; k3 - coeficiente igual a:

10
k3 = 0,6 + e k3 ≤ 0,85.
fc,

Desta forma, COLLINS et al. (1993) utilizam a seção íntegra para o cálculo da
capacidade resistente do pilar e inserem o coeficiente de redução k3 para considerar a
não participação do cobrimento na seção resistente de concreto. Os resultados
obtidos com a expressão proposta por COLLINS et al. (1993) ficaram próximos dos
valores experimentais, como indicado na tabela 6.

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122 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

TABELA 6 - Resultados com os valores obtidos através da equação proposta por COLLINS et
al. (1993)

Pilar fc (MPa) 0,95fc (MPa) k3 Fteo (kN) Fexp (kN) Fexp/Fteo


P1 59,60 56,62 0,78 2217,0 2278 1,03
P2 64,35 61,13 0,76 2322,6 2292 0,99
P3 53,40 50,73 0,80 2079,2 1835 0,88
P4 53,40 50,73 0,80 2079,2 1864 0,90
P5 55,90 53,11 0,79 2134,8 2158 1,01
P6 55,90 53,11 0,79 2134,8 2312 1,08
P7 66,90 63,56 0,76 2620,0 2373 0,91
P8 66,90 63,56 0,76 2620,0 2496 0,95
P9 63,88 60,69 0,76 2544,2 2446 0,96
P10 63,88 60,69 0,76 2544,2 2440 0,96
P11 65,47 62,20 0,76 2584,1 2288 0,89
P12 65,47 62,20 0,76 2584,1 2497 0,97

MÉDIA 0,96

Os resultados revelam a excelente aproximação obtida com a sugestão de


COLLINS et al.(1993). Além disto está a facilidade em se considerar na formulação do
modelo, a seção total de concreto, sem a necessidade de determinação da área do
núcleo. Recomenda-se, portanto, este método como referência para a previsão da
força última de ruptura em pilares moldados em CAR.

3.3 Ductilidade

Define-se ductilidade como a capacidade do material ou do elemento


estrutural de se deformar inelasticamente sem perda brusca de resistência. Na
presente pesquisa, após a extensa revisão bibliográfica sobre o assunto e com os
resultados dos ensaios realizados, verificou-se a importância do confinamento,
proporcionado pela armadura transversal, para o aumento da capacidade de
deformação do pilar, isto é, a ductilização do mesmo, especialmente em pilares
moldados em CAR. A menor deformação transversal do CAR quando comparado aos
concretos de baixa resistência, proporciona menor solicitação da armadura
transversal, portanto, as tensões laterais resultantes são inferiores. A eficiência do
confinamento e, consequentemente, a ductilidade dos pilares, podem ser avaliadas
segundo os indicadores: Índice de Eficiência do Confinamento e comportamento do
diagrama força x deformação dos pilares.

3.3.1 Índice de eficiência do confinamento

Na avaliação da eficiência do confinamento utilizou-se o índice proposto por


CUSSON e PAULTRE (1993) e calculado pela fórmula a seguir:

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 123

f
I.E.C. = le ,
fco

onde;

f  A shx + A shy 
fl - pressão lateral de confinamento: fl = hcc  ,
s  cx + cy 

onde:

fhcc é a tensão na armadura transversal correspondente à resistência máxima do


concreto confinado; s é o espaçamento entre estribos; Ashx e Ashy são as seções
transversais totais das barras laterais perpendiculares aos eixos x e y,
respectivamente; cx e cy são das dimensões do núcleo de concreto paralelas aos
eixos x e y, respectivamente, figura 17.

Figura 17 - Variáveis geométricas para o modelo sugerido por CUSSON e PAULTRE (1993)

fle - pressão efetiva de confinamento;

fle = K e ⋅ fl , onde;

Ke - Coeficiente de confinamento efetivo;

 ∑ w i  
2 ,   , 
 1 − s  ⋅ 1 − s 
 1 − ⋅
 6c x ⋅ c y   2c x   2c y 
     
Ke =
(1 − ρ c )

onde;

Σwi2 é a soma dos quadrados de todos as distâncias livres entre as barras adjacentes
da armadura longitudinal na seção retangular; s' é a distância livre entre estribos
adjacentes; ρc é a taxa de armadura longitudinal na seção do núcleo. Note que, caso
s' ≥ 2cx ou s' ≥ 2cy, a armadura de confinamento torna-se inefetiva. De acordo com
este índice três diferentes classes são definidas (tabela 7). A figura 18 mostra o
esquema para cálculo da pressão lateral de confinamento.

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124 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

TABELA 7 - Classificação segundo a eficiência do confinamento, CUSSON e PAULTRE (1993)

f
Classe 1 (baixo confinamento) 0% < le < 5%
fco
f
Classe 2 (médio confinamento) 5% < le < 20%
fco
fle
Classe 3 (alto confinamento) > 20%
fco

Figura 18 - Esquema para cálculo da pressão lateral de confinamento (fl)

Os resultados para o I.E.C. para os modelos ensaiados estão apresentados


na tabela 8.

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Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 125

TABELA 8 - Índice de Eficiência do Confinamento para os modelos

Pilar s (cm) ρw (%) fc (MPa) Ke Fl I.E.C. (%) Classe


P1 15 0,34 59,60 0,26 0,44 0,23 I
P2 15 0,34 64,35 0,26 0,49 0,24 I
P3 10 0,51 53,40 0,44 1,81 1,73 I
P4 10 0,51 53,40 0,44 2,32 2,22 I
P5 5 1,03 55,60 0,65 4,73 6,48 II
P6 5 1,03 55,90 0,65 4,73 6,48 II
P7 15 0,34 66,90 0,26 0,16 0,07 I
P8 15 0,34 66,90 0,26 0,15 0,06 I
P9 10 0,51 63,88 0,30 2,80 1,55 I
P10 10 0,51 63,88 0,30 2,34 1,29 I
P11 5 1,03 65,47 0,49 6,30 5,49 II
P12 5 1,03 65,47 0,49 6,30 5,49 II

Observa-se dos resultados que os modelos com taxas de armadura


transversal iguais a 0,34 e 0,51 apresentam baixa eficiência do confinamento (Classe
I), logo, as respectivas taxas de armadura não conferem acréscimos de resistência e
ductilidade aos pilares.

3.3.2 Diagrama força x deformação dos pilares

De acordo com o comportamento do diagrama força x deformação, ilustrado na


figura 2, pode-se avaliar a eficiência da armadura transversal no confinamento. Para
isto deve-se verificar o trecho descendente do diagrama, isto é, verificar o
comportamento do pilar após o primeiro "pico" de força, correspondente ao ponto A do
diagrama da figura 2. Caso o pilar apresente acréscimos de resistência, caracterizado
por um trecho "pós-pico" horizontal ou ascendente, fica claro que as armaduras
laterais estão proporcionando consideráveis pressões no núcleo. Um trecho
descendente íngreme revela a ineficiência do confinamento para a ductilização da
ruptura do pilar.
Para exemplificar este fato, são mostrados três diferentes comportamentos
para os diagramas força x deformação, verificados a partir dos ensaios dos pilares de
seção quadrada, P1, P4 e P6, figura 19, e retangular, P7, P9 e P12, figura 20. Para
espaçamento entre estribos de 15cm (P1, P7), 10cm (P4, P9) e 5cm (P6, P12), os
aspectos das curvas força x deformação dos pilares assumiram as configurações
correspondentes à baixa e média eficiência da armadura de confinamento.

a. Modelos com seção transversal quadrada

Para o pilar P2 observa-se que, após a força máxima ter sido atingida, não
houve acréscimos de resistência para o modelo. O confinamento não foi suficiente
para promover ruptura dúctil, levando o pilar à ruptura antes que as armaduras
transversais tivessem alcançado o patamar de escoamento. A não existência do
trecho descendente para P1, P2, P7 e P8, todos com ρw = 0,34%, torna a armadura
transversal adotada (φ6,3c/15) não recomendável à pilares de CAR com mesma

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126 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

seção, com resistência média à compressão do concreto de 60MPa. O pilar P4


apresentou trecho descendente pouco suave, porém a armadura transversal atingiu a
resistência fy e garantiu ruptura dúctil ao modelo. Para o pilar P6 observa-se o trecho
descendente aproximando-se da horizontal, caracterizando, portanto, a eficiência da
armadura lateral no confinamento do núcleo. A ruptura foi dúctil. Estas observações
concordam com os resultados para o Índice de Eficiência do Confinamento: 0,24%
(P1); 2,22% (P4) e 6,48% (P6).

P i la r P 2 P ila r P 4
2500 2000

1800
2000 1600

1400

força (k N )
fo rç a (k N)

1500 1200

s = 15cm 1000
s = 10cm
1000 ρl = 2,5% 800
ρl = 2,5%
ρw = 0,34% 600
ρw = 0,51%
500 fc = 64,35MPa 400
fc = 53,40MPa
Fu = 2292kN 200
Fu = 1864kN
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
d e fo rm a ç ã o (m m /m ) d e form ação (mm/m )

P ila r P 6
2500

2000
fo rç a (k N)

1500
s = 5cm
ρl = 2,5%
1000
ρw = 1,03%
fc = 55,90MPa
500
Fu = 2312kN

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
d e fo rm a ç ã o (m m /m )

Figura 19 - Diagramas força x deformação para os pilares P2, P4 e P6 (valores médios)

b. Modelos com seção transversal retangular

Para os modelos de seção retangular, as observações são semelhantes às


dos modelos de seção quadrada. Para o pilar P7 não se observaram ganhos de
resistência e ductilidade, o que traduz a ineficiência do confinamento. O pilar P9
apresentou patamar para a força máxima e trecho descendente pouco suave, mas
com comportamento dúctil. Para o pilar P12 observa-se o trecho descendente
aproximando-se da horizontal, assim como no pilar P6, caracterizando assim
comportamento dúctil e eficiência da armadura lateral. As observações concordam
portanto com os resultados para o Índice de Eficiência do Confinamento: 0,23% (P7);
1,55% (P9) e 5,49% (P12).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 127

P il a r P 7 P ila r P 9
2500
3000

F o rça (k N ) 2000 2500

2000

F o rça (k N )
1500
s = 10cm
s = 15cm 1500 ρl = 2,2%
1000 ρl = 2,2% ρw = 0,51%
1000
ρw = 0,34% fc = 63,88MPa
500 fc = 66,90MPa 500 Fu = 2446kN
Fu = 2373kN
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

D e form ação (m m /m) D e fo rm ação (mm/m)

P ila r P 12
3000

2500

2000
F o rça (k N )

1500 s = 5cm
ρl = 2,2%
1000
ρw = 1,03%
500
fc = 65,47MPa
Fu = 2497kN
0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

D e fo rma çã o (m m /m)

Figura 20 - Diagramas força x deformação para os pilares P7, P9 e P12

3.4 Armaduras mínimas

A partir do exame dos itens anteriores, pode-se verificar a taxa volumétrica de


armadura transversal (ρw) que garantiu ruptura dúctil ao pilar. Segundo AGOSTINI
(1992), para taxas de armadura longitudinal de 2,54% e transversal de 1,03%, os
pilares apresentaram ruptura dúctil. Na presente pesquisa, para conseguir ruptura
dúctil nos pilares foram necessárias taxas de armadura longitudinal de 2,50% (seção
transversal quadrada) e 2,20% (seção retangular) e transversal superiores a 0,51%,
para pilares de seção quadrada e retangular correspondendo a espaçamento entre
estribos de 10cm.
Para os modelos de seção quadrada, observou-se que a configuração simples
de estribos, apesar de contar com oito barras longitudinais, não proporcionava Índices
de Eficiência do Confinamento superiores a 20% (Classe 1), necessitando de
pequenos espaçamentos entre estribos para situarem-se na Classe 2 (média
eficiência), no caso, os modelos das Séries 3.
No caso dos modelos com seção retangular, a configuração sugerida também
não proporcionou resultados satisfatórios. Apenas os modelos da série 6 (P7 e P8)
atingiram I.E.C. superior a 5% (média eficiência do confinamento).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.


128 Marcos Vinícios M. de Queiroga & José Samuel Giongo

Segundo a NBR 6118 (1978), as barras da armadura lateral que não tiverem
suporte lateral, devem estar afastadas de, no máximo, 20φt, onde φt é o diâmetro do
estribo principal. Para os modelos de seção retangular ensaiados, as barras da
armadura longitudinal apresentavam-se afastadas de 7,8cm < 20φt = 20 × 0,63 =
12,6cm. Logo, segundo a norma em vigor, não seria necessário dispor o estribo
adicional utilizado nos modelos das séries 4 a 6. Esta recomendação, para pilares de
CAR apresenta-se contra a segurança, uma vez que se traduz em perda de
resistência e ductilidade do elemento estrutural.
Para todos os modelos comprovou-se então a necessidade de configurações
mais eficientes para a armadura transversal.

4 CONCLUSÃO

Diante dos resultados e análises feitas até então, torna-se necessário pensar
na possibilidade de mudança dos critérios de detalhamento de pilares, especialmente
no tocante aos valores mínimos para armadura transversal e espaçamentos
máximos. Para a utilização racional do CAR nas edificações, toda tradição de projeto
deve ser revista, uma vez que as exigências até então em vigor, estão baseadas no
comportamento de pilares de concreto de baixa resistência (resistência média à
compressão inferior a 40MPa).

Os pilares ensaiados apresentaram pequenas excentricidades que foram


observadas de imediato pela leitura dos extensômetros posicionados nas armaduras
longitudinais. Em todos os modelos a força última de ruptura (Fexp) ficou situada entre
a força última teórica (para a seção íntegra, Fteo) e a força última teórica para o núcleo
definido pela linha-de-centro dos estribos, Fteo,n.
Pode-se observar que a taxa de armadura transversal que garantiu ruptura
dúctil para os pilares foi ρw = 0,51%, com φ6,3c/10, adotada nos modelos da Série 2 e
5. Este valor é inferior ao valor 2,2% proposto por AGOSTINI (1992) e PAIVA (1994).

A pesquisa mostrou também a importância de uma configuração eficiente da


armadura transversal para garantir acréscimos de resistência e ductilidade ao pilar.
Quanto à eficiência da armadura transversal para o confinamento do núcleo, percebe-
se que melhores resultados seriam obtidos com o emprego de outras configurações
para a armadura. A configuração de estribos adotada na pesquisa não levou a
acréscimos substanciais de resistência e ductilidade, mostrando-se eficaz apenas
com reduzido espaçamento. Configurações de estribos como as mostradas na figura
21 podem vir a ser mais eficientes quanto a produzir maiores acréscimos de
resistência e ductilidade nos pilares.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 107-130, 2003.


Análise experimental de pilares de concreto de alto desempenho submetidos à ... 129

Figura 21 - Configurações alternativas para os estribos

Os resultados da pesquisa também puseram em relevo a necessidade de


taxas de armadura transversal, superiores às empregadas em pilares de concreto de
baixa resistência. Espaçamentos superiores a 15cm, dependendo da configuração
adotada para estribos, deveriam ser evitados.

5 AGRADECIMENTOS

Aos órgãos de fomento à pesquisa, CAPES - Fundação de Aperfeiçoamento


de Pessoal de Nível Superior e FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (processo número 97/13378-7), pelas bolsas de mestrado
concedidas.

Às empresas CAMARGO CORRÊA CIMENTOS S.A., e REAX INDÚSTRIA E


COMÉRCIO LTDA., pelos materiais doados que permitiram a realização da etapa
experimental do trabalho.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. (Orientador: Péricles
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1978). NBR 6118 - Projeto e


execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro.

CLAESON, C.; GYLLTOFT, K.; GRAUERS, M. (1996). Experiments and numerical


analyses of reinforced high strength concrete columns. In: INTERNATIONAL
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experimentação. São Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São
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LIMA, F.B.; GIONGO, J.S.; TAKEYA, T. (1997). Análise experimental de pilares


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RESISTÊNCIA E DUCTILIDADE DAS LIGAÇÕES
LAJE-PILAR EM LAJES-COGUMELO DE CONCRETO
DE ALTA RESISTÊNCIA ARMADO COM FIBRAS DE
AÇO E ARMADURA TRANSVERSAL DE PINOS

Aline Passos de Azevedo1 & João Bento de Hanai2

RESUMO

Analisa-se a resistência à punção e a ductilidade das ligações laje-pilar em doze


modelos de lajes-cogumelo de concreto armado, nas quais se efetuam combinações de
emprego de concreto de alta resistência, diferentes volumes de fibras de aço e uso de
armadura transversal na forma de conectores de aço tipo pino. Todas as lajes são
quadradas com 1160mm de lado e 100mm de espessura. A armadura de flexão foi
composta de barras de aço de 10mm espaçadas de tal forma a resistir a um momento
fletor único em ambas direções. Os conectores, quando utilizados, foram dispostos
radialmente e compostos de barras de aço de 6.6mm soldadas a segmentos de ferro
chato nas duas extremidades. Para avaliar a capacidade resistente dos modelos de
ligação laje-pilar e observar o ganho de ductilidade que as fibras proporcionam, foram
ensaiados segmentos-de-laje, os quais representam uma faixa destes modelos de
ligação laje-pilar. Foi utilizado um sistema de ensaio dotado de atuador hidráulico
servo-controlado, programado para ensaio com deformação controlada e aquisição
contínua dos dados, o que permitiu a avaliação do comportamento pós-pico de
resistência e a realização de medições de resistência residual. Várias hipóteses de
cálculo foram utilizadas para avaliar a resistência última das ligações laje-pilar.
Empregou-se um critério de classificação para caracterizar o tipo de ruptura em:
punção ou flexão predominante ou uma combinação de punção-flexão. Constatou-se
que o emprego de concreto de alta resistência, juntamente com armadura transversal,
aumenta substancialmente a resistência da ligação laje-pilar, e quando combinado com
fibras de aço, consegue-se um considerável aumento da ductilidade.

Palavras-chave: concreto de alta resistência; lajes-cogumelo; punção; ductilidade;


fibras de aço; armadura transversal.

1 INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento cultural, científico e econômico, foram surgindo


diversos processos na construção de edifícios de múltiplos andares, entre eles o
sistema estrutural constituído de lajes apoiadas diretamente em pilares.

1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP
2
Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jbhanai@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


132 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

Quanto às vantagens que as lajes-cogumelos apresentam em relação às


estruturas tradicionais (laje-viga-pilar), destacam-se:

• adaptabilidade a diversas formas ambientais;

• simplificação na execução de fôrmas, armaduras e concretagem;

• armaduras mais simples, possibilitando o emprego de telas soldadas;

• maior facilidade no lançamento, adensamento e desforma do concreto;

• diminuição dos revestimentos;

• redução da altura total do edifício;

• simplificação das instalações.

Com a simplificação e a racionalização das tarefas e dos materiais utilizados,


o sistema estrutural de lajes-cogumelo ou de lajes sem vigas pode melhorar as
condições de execução e utilização de um edifício, como também reduzir o custo da
obra e facilitar uma manutenção futura.
Pode-se ainda notar avanços recentes no sistema construtivo, com o emprego
de novos materiais. A protensão com cordoalhas engraxadas e plastificadas vem
ganhando adeptos na construção de sistemas estruturais constituídos de lajes-
cogumelo. A cordoalha é envolvida por uma graxa especial que permite a proteção
contra a corrosão, além de uma excelente lubrificação entre a cordoalha e a capa
plástica, reduzindo consequentemente a perda por atrito (coeficiente de atrito – 0,24
para bainhas metálicas e 0,07 no caso de capa plástica). Este sistema de aplicação
tem também como vantagens: maior facilidade e rapidez na colocação das cordoalhas
na fôrma, maior excentricidade possível e ausência da operação de injeção de pasta
de cimento (CAUDURO, 1997).
Não basta, no entanto, que as qualidades e as possibilidades de vantagens
sejam enumeradas para que elas sejam obtidas. É necessário que projetistas e
construtores assimilem toda a tecnologia de projeto e execução, bem como que haja
treinamento de engenheiros, desenhistas, tecnólogos e, principalmente, da mão-de-
obra empregada na execução.
As lajes-cogumelo, entretanto, não devem ser vistas como um tipo de
estrutura que pode ser empregada em qualquer situação. Nos edifícios residenciais,
geralmente a disposição dos pilares não é regular, podendo acarretar situações
antieconômicas.
No caso de edifícios altos, a ausência de vigas diminui a estabilidade global
diante de ações horizontais. Portanto, a eficiência de um sistema estrutural laje-pilar
sempre será inferior à de um sistema aporticado, ou seja, de estruturas convencionais
tipo laje-viga-pilar, sendo necessário vincular as lajes sem vigas a núcleos rígidos ou
paredes estruturais, responsáveis pela absorção das ações laterais.

O deslocamento transversal no meio do vão (flechas) das lajes sem vigas é


maior do que aquele encontrado nas lajes sobre vigas. A ocorrência destes

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 133

deslocamentos que ultrapassem determinados limites pode causar desconforto aos


usuários, danos a elementos não-estruturais e interferência no funcionamento da
própria estrutura. Conforme SILVANY (1996), os deslocamentos transversais podem
ser decorrentes de uma série de fatores, tais como: ações de serviço e história do
carregamento, retração e fissuração do concreto, fluência, resistência do concreto,
processo construtivo, entre outros.

Uma outra desvantagem, como já se afirmou, refere-se ao puncionamento da


laje na ligação laje-pilar decorrente da concentração de tensões nesta região.
Por serem apoiadas diretamente sobre os pilares, as lajes-cogumelo têm sua
resistência limitada pela resistência à punção nas seções em torno dos pilares, de
cargas concentradas ou de reações de apoio. Portanto, a ligação laje-pilar torna-se
uma região crítica neste sistema estrutural.
Para garantir que não ocorra ruptura por punção, estas lajes são
dimensionadas em função, justamente, da resistência à punção nas ligações com os
pilares. Logo, é importante que seja dada ênfase ao estudo, não somente da
resistência, mas também da ductilidade desta ligação particular.

Com intuito de aliviar a grande concentração de tensões nas áreas


carregadas e aumentar a resistência ao puncionamento, são empregadas algumas
técnicas, como: utilização de capitéis, aumento da espessura das lajes e utilização de
armadura específica para o cisalhamento.
As armaduras de combate à punção aumentam a resistência da ligação laje-
pilar e alguns tipos proporcionam uma certa ductilidade nesta região, mas, para o seu
perfeito desempenho, elas devem contar com efetiva ancoragem nas duas
extremidades e não devem interferir na colocação das outras armaduras, como as de
flexão da laje e as do pilar. Neste trabalho, serão utilizadas armaduras transversais
denominadas de conectores tipo pino, recomendadas pelo Texto-base de revisão da
NB-1 e comentários (1997), em disposição radial, pois, além de obedecerem às
exigências descritas, eles são de fácil instalação, aumentam a resistência e também
conferem ductilidade à ligação, conforme observado em pesquisas anteriores.

Estudos recentes (ZAMBRANA VARGAS, 1997) demonstraram que a


resistência à punção pode também ser aumentada pelo uso de concreto de alta
resistência e de concreto com fibras curtas de aço.

A utilização de concretos de alto desempenho constitui uma alternativa de


grande interesse, particularmente no que diz respeito ao atributo de alta resistência.
Para o caso de estruturas em lajes-cogumelo, o emprego do concreto de alta
resistência pode prejudicar, a princípio, o mecanismo secundário de engrenamento
dos agregados e entre as faces fissuradas na resistência ao cisalhamento. Afinal, a
ruptura por cisalhamento em peças de concreto de alta resistência normalmente se dá
com superfícies lisas que cortam os agregados, ao contrário do caso de concreto de
resistência normal, em que ela é áspera e irregular, contornando os agregados
graúdos, geralmente mais resistentes que a argamassa.
Outro atributo de concretos de alto desempenho a ser explorado é a maior
tenacidade, que pode ser alcançada pela adição de fibras de aço ao concreto.

“A idéia de se reforçar a matriz de concreto e torná-la mais homogênea e mais


dúctil vem desde o século passado, ganhando maior impulso após 1960. A introdução

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


134 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

de fibras curtas melhora as características de ductilidade, a resistência ao impacto e à


fadiga, o controle de fissuração, o comportamento pós-fissuração, tornando menos
súbita a ruptura do material e, em alguns casos, possibilita o aumento da resistência à
tração” (FURLAN, 1995). Por isso, o grande interesse de se utilizar o concreto de alta
resistência reforçado com fibras de aço, para o caso da punção, reside no fato de que
a ruptura por punção via de regra ocorre bruscamente, havendo necessidade de
aumentar a ductilidade da ligação para que seja possível a redistribuição de esforços
ou a tomada de certas providências antes da ruína total.

Entretanto, por ser descontínua, a fibra é menos eficiente que a armadura


contínua de fios e barras na função de resistir aos esforços de tração e de
cisalhamento. Todavia, a partir de determinadas taxas de fibras e em função do
espaçamento reduzido entre elas, sua atuação como obstáculo ao desenvolvimento
das fissuras é superior. Ao interceptar as microfissuras que surgem durante o
endurecimento da pasta, as fibras impedem sua progressão e evitam o aparecimento
prematuro de macrofissuras, inclusive diminuindo a permeabilidade do concreto e
conseqüentemente melhorando as condições de durabilidade. Quando combinadas
com armadura contínua, ambas se tornam mais eficientes, pelo efeito sinergético.
Além de “costurar” as fissuras, as fibras melhoram a aderência do concreto com a
armadura contínua, inibindo a fissuração na região de transferência de forças. Desta
forma, ao invés de substituir a armadura contínua, as fibras podem constituir um
reforço adicional (BENTUR & MINDESS, 1990).
Ficou clara, portanto, a necessidade de se pesquisar a ligação laje-pilar em
lajes-cogumelo, reforçando esta ligação com armadura transversal e utilizando
concreto de alta resistência com fibras de aço juntamente com a armadura de flexão.

2 OBJETIVOS

Esta pesquisa tem como objetivo investigar o comportamento resistente de


lajes-cogumelo de concreto armado, analisando-se as possibilidades de melhoria de
desempenho com relação ao fenômeno de punção, pelo emprego de concreto de alta
resistência, pelo reforço com fibras de aço e pelo uso de armaduras transversais de
combate à punção, por meio de ensaios de modelos de lajes-cogumelo que
representam a ligação laje-pilar para o caso de pilar interno.
Os ensaios foram realizados com deformação controlada, a fim de se obter
uma avaliação mais precisa da ductilidade da ligação laje-pilar, além da utilização de
um sistema de aquisição contínuo de dados (força, deformações e deslocamentos)
para que se pudesse fazer medições de resistência residual.
Procurou-se também obter indicações quanto à melhoria de desempenho das
lajes-cogumelo em função da variação do volume de fibras de aço a ser adicionado,
para se determinar a influência que este produz.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 135

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

O programa experimental constituiu-se do ensaio de doze modelos de lajes-


cogumelo quadradas de 1160mm de lado e 100mm de espessura. Todas as lajes
foram submetidas a um carregamento aplicado no centro da superfície superior
através de uma placa de aço quadrada de lados iguais a 80mm e espessura de
37mm.
Para determinação da resistência à flexão dos modelos de lajes-cogumelo e
avaliação de quanto as fibras influenciam a ductilidade na flexão, foram ensaiados
seis segmentos-de-laje de dimensões 1160mm de comprimento e 330mm de largura,
representando então uma faixa da laje-cogumelo. Estes segmentos-de-laje foram
distribuídos em dois grupos de três, onde um grupo era moldado com concreto de
baixa resistência e o outro com concreto de alta resistência, variando a porcentagem
de fibras em cada grupo de 0%; 0,75% e 1,50% (Tabela 1)

TABELA 1 - Características dos modelos de ligação laje-pilar e segmentos-de-laje

Série Laje-pilar Asw Vf (%) Segmento-de-laje Vf (%)


A OSC.S1 - 0 V1 0
A OSC.S2 - 0,75 V2 0,75
A OSC.S3 - 1,50 V3 1,50
A OSC.S4 Asw 0
A OSC.S5 Asw 0,75
A OSC.S6 Asw 1,50
B HSC.S1 - 0 V4 0
B HSC.S2 - 0,75 V5 0,75
B HSC.S3 - 1,50 V6 1,50
B HSC.S4 Asw 0
B HSC.S5 Asw 0,75
B HSC.S6 Asw 1,50
Série A : OSC – Ordinary Strength Concrete (concreto de baixa resistência)
Série B : HSC – High Strength Concrete (concreto de alta resistência)
Vf: volume de fibras, calculado através do peso específico do aço vezes a porcentagem de fibras no
concreto.

A princípio, os segmentos-de-laje deveriam representar os modelos de ligação


laje-pilar também em termos de resistência do concreto para que fosse possível
utilizar o momento fletor último experimental diretamente, para efeito de classificação
do modo de ruptura. Com isso teríamos uma avaliação direta da carga de ruptura por
flexão virtual para cada modelo e assim, poder compará-la com a carga última obtida
no ensaio à punção. Contudo, não houve similaridade entre os concretos referentes
aos segmentos-de-laje e aos modelos de lajes-cogumelo, pois nestes últimos o
concreto foi moldado em misturador planetário, obtendo-se uma mistura mais
homogênea e de melhor qualidade, logo havendo um acréscimo significativo na
resistência do concreto. Os concretos dos segmentos-de-laje foram moldados em
betoneira estacionária, tal qual foi efetuado no período de estudos de dosagem,
obtendo-se as resistências desejadas de 30 e 60 MPa, mas que se mostraram
maiores quando a mistura foi feita no misturador planetário.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


136 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

Como não foi possível aplicar diretamente o valor experimental da carga


última de flexão para avaliar a ductilidade da peça, efetuou-se uma adaptação de
cálculo com a aplicação da fórmula desenvolvida por Hallgren (1996) para cálculo
teórico da carga última de flexão do modelo, sem a influência das fibras, como se
apresenta mais adiante na análise dos resultados.

4 MATERIAIS

4.1 Armaduras

As lajes foram armadas de tal forma que as armaduras da zona tracionada


nas duas direções resistissem a um momento fletor único, utilizando-se para isso 17
barras numa direção x e 20 barras na direção perpendicular, ambas com diâmetro de
10mm (CA-50). Na zona comprimida foram utilizadas 9 barras de 5mm (CA-60) de
diâmetro nas duas direções (Figura 1).
A armadura transversal escolhida foi o conector tipo pino, recomendado pelo
TB NB-1/97, composta de barras de 6.6mm (CA-25) soldados a segmentos de ferro
chato. Os conectores tipo pino estão em disposição radial a um ângulo de 40º. A taxa
de armadura de flexão dos modelos de lajes-cogumelo é de 1,57%.

Armadura superior Armadura inferior


17 φ 10.0mm
9 φ 5.0mm

9 φ 5.0mm 20 φ 10.0mm

Seção transversal

14 cm
8 cm
10 cm

2.3 5.6

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 137

Obs.: laje moldada na posição inversa.

Figura 1 - Distribuição da armadura de flexão nos modelos de lajes-cogumelo

Os segmentos-de-laje foram armados na zona tracionada com uma malha


composta de 6 φ 10.0mm na direção longitudinal e 20 φ 10.0mm na outra direção,
enquanto que na zona comprimida foram colocadas 3 φ 5.0mm e 9 φ 5.0mm,
representando justamente uma faixa da laje-cogumelo (Figura 2).

Superior Inferior

Seção transversal
17 φ 10.0mm

14 cm
9 φ 5.0mm

10 cm

5.6

3 φ 5.0mm 6 φ 10.0mm

Figura 2 - Distribuição das armaduras dos segmentos-de-laje

4.2 Concreto

Empregou-se Cimento Portland Composto de classe CP II F-32, proveniente


da “Companhia de Cimento Portland Itaú” para o concreto de baixa resistência. Para o
concreto de alta resistência empregou-se Cimento Portland de Alta Resistência Inicial
da classe CPV ARI-PLUS da fábrica “CIMINAS”.

O superplastificante utilizado empregado foi o REAX-3000A da “REAX


Indústria e Comércio Ltda.” e a sílica ativa foi a Sílica Fume – SILMIX ND da
“Camargo Corrêa Metais S.A.” (Tabela 2).

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138 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

A mistura do concreto foi feita em betoneira estacionária de eixo inclinado


para moldagem dos segmentos-de-laje e em misturador planetário para os modelos
de lajes-cogumelo devido ao alto volume de material. O adensamento do concreto foi
realizado com auxílio da mesa vibratória, em ambos os casos (Figura 3).

4.3 Fibras de aço

A fibra empregada foi a RC 65/30 BN da DRAMIX. Esta fibra é reta com


ganchos nas duas extremidades, de comprimento total igual a 30mm, diâmetro de
0,45mm, portanto com relação de aspecto (ℓ/d) igual a 67.

5 INSTRUMENTAÇÃO

As deformações da armadura de flexão e da armadura de cisalhamento foram


medidas através de extensômetros de resistência elétrica, os quais foram conectados
a um sistema de aquisição de dados.
Quanto aos modelos de lajes-cogumelo foram posicionados extensômetros
elétricos a fim de observar as deformações nas armaduras de flexão em pontos
distintos, conforme Figura 4.

TABELA 2 - Composição dos concretos

• Concreto de baixa resistência (aos 14 dias)


Traço : 1:1,8:2,5 a/c = 0,50

Componentes Consumo (kg/m3)


Cimento CP II F-32 423,15
Areia 760,56
Brita 1 1056,30
Água 211,30

• Concreto de alta resistência (aos 14 dias)


Traço : 1:1,8:2,0 a/c = 0,40

Componentes Consumo (kg/m3)


Cimento CPV-ARI 479,07
Sílica ativa 47,91
Areia 862,41
Brita 1 958,33
SP (3000A) 14,45
Água 187,96

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 139

Figura 3 - Fotografias de moldagem dos modelos de laje-cogumelo

Nos conectores tipo pino foram colados extensômetros ao meio da barra de


6.6mm, ou seja, na metade da altura dos conectores, trecho provavelmente
responsável pelo combate à punção, a fim de observar as deformações nestes
conectores e compará-las com as deformações observadas no ensaio de tração da
barra isolada e no ensaio de avaliação da resistência da solda.

Os transdutores de deslocamento foram posicionados no centro da laje com a


finalidade de registrar as flechas, e ao longo dos apoios em forma de octógono para
verificação dos deslocamentos nestes pontos. Esta forma de octógono foi escolhida
com a finalidade de eliminarmos os momentos volventes encontrados nos cantos dos
modelos, apesar desta solução não ter sido confirmada. Optou-se por esta
instrumentação, com transdutores de deslocamento, pois assim não há interferência
da deformação do pórtico, já que ela independe deste, podendo-se então comprovar a
eficiência do sistema de reação utilizado nos ensaios. Os transdutores também são
conectados a um sistema de aquisição para coleta e registro dos dados.

1160 mm

170 170
110 100
50 30
1160 mm

80

9 10 11
50

30

1 2 3
110

100

5 13
170

170

6 14
4 12
7 15
8 16

80

Zona tracionada Zona comprimida


Figura 4 - Instrumentação das armaduras de flexão nos modelos de lajes-cogumelo

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


140 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

6 SISTEMA DE ENSAIO

O sistema de ensaio adotado para os segmentos-de-laje está representado na


Figura 5. Este sistema foi constituído basicamente de dois conjuntos de apoio
formados por blocos de concreto e perfis metálicos, e dois conjuntos compostos por
duas placas e um rolete formam uma rótula que permite a rotação do segmento-de-
laje. A carga foi aplicada por um atuador hidráulico servo-controlado e transmitida
para o segmento-de-laje através de uma viga metálica posicionada no meio deste.

atuador servo-hidráulico

célula de carga

viga I metálica

almofadas de borracha segmento-de-laje

perfil metálico
rótula

perfil metálico

bloco de concreto

Figura 5 - Sistema de ensaio e aplicação do carregamento para os segmentos-de-laje

O pórtico utilizado para o ensaio dos modelos de lajes-cogumelo foi o mesmo


utilizado para os segmentos-de-laje. O apoio do modelo de ligação laje-pilar é
constituído por um quadro de vigas de aço formando um quadrado de 1160mm de
lado e reforços nos cantos, apoiado em blocos de concreto, disposição esta
empregada com intuito de caracterizar uma linha de apoio poligonal, mais próxima da
circunferência (Figura 6). A aplicação da carga foi transmitida através de uma placa
quadrada de aço de 80mm de lado, posicionada no centro da laje.

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 141

atuador servo-hidráulico

célula de carga

laje testada chapa


chapa de apoio

viga I metálica

bloco de concreto

Figura 6 - Sistema de ensaio e aplicação do carregamento para os modelos de ligação laje-


pilar (esquemático)

No procedimento do carregamento tanto para os segmentos-de-laje como


para os modelos de lajes-cogumelo, aplicou-se uma força concentrada por meio de
um atuador hidráulico servo-controlado, controlando-se a velocidade de deslocamento
do pistão. Com este tipo de ensaio, com deformação controlada, pretendeu-se obter
uma curva Força x Deslocamento que permitisse a avaliação da energia absorvida.
Com isso, buscou-se avaliar a ductilidade da ligação laje-pilar, para diferentes
combinações de armaduras transversais e teores de fibras de aço, para o caso das
lajes e a ductilidade que as fibras proporcionam, para o caso dos segmentos-de-laje.

7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

7.1 Segmentos-de-laje

Como foi visto anteriormente, os segmentos-de-laje estão representando uma


parte do modelo de laje-cogumelo ensaiado, no sentido de determinar sua resistência
à flexão. Os resultados experimentais e teóricos estão apresentados na Tabela 3.
Para análise da influência das fibras no acréscimo de carga, no momento
último e na ductilidade que ela fornece, utiliza-se o gráfico da Figura 7. Com isso,
observa-se que:

• À medida que aumenta o volume de fibras no concreto há um aumento da


energia absorvida pela peça, ou seja, ela torna-se mais dúctil;

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142 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

TABELA 3 - Resultados experimentais e teóricos dos segmentos-de-laje

Modelo fc ft Fu Mu,exp. Mu,eq. Mu,H Modo de


(MPa) (MPa) (kN) (kN.m) (kN.m) (kN.m) ruptura
V1 29,98 2,67 83,0 22,0 20,2 20,3 Flexão
V2 33,92 3,37 88,6 23,5 20,7 20,8 Flexão
V3 36,40 4,64 86,9 23,0 21,0 21,0 Flexão
V4 66,77 3,63 90,9 24,1 22,5 22,3 Flexão
V5 64,79 5,42 96,5 25,6 22,5 22,2 Flexão
V6 67,28 7,50 99,0 26,3 22,6 22,3 Flexão
Fu: carga de ruptura dos segmentos-de-laje;
Mu,exp.: momento último experimental;
Mu,eq.: momento último calculado pelas equações (diagrama retangular);
Mu,H: momento último calculado conforme equações utilizadas por HALLGREN (1996).

Figura 7 - Curva carga x deslocamento dos segmentos-de-laje

• Comparando duas peças com mesmo volume de fibras, embora moldadas com
concretos diferentes, isto é, os segmentos-de-laje V1 com V4, V2 com V5 ou
V3 com V6, o aumento da resistência do concreto acarreta o aumento do
momento fletor último observado, enquanto que os deslocamentos finais
permanecem aproximadamente os mesmos;

• Para o concreto tipo A, a carga de ruptura aumentou em 6,8% com adição de


0,75% de fibras e 4,7% com 1,50% de fibras. Já a energia absorvida teve um
acréscimo 88,1% com 0,75% de fibras e 117,2% para 1,50% de fibras, quando
calculada a área sob a curva de cada modelo;

• Para o concreto tipo B, a carga de ruptura aumentou em 6,2% com adição de


0,75% de fibras e 8,9% com 1,50% de fibras. A energia absorvida teve um
acréscimo de 62,0% e 103,7%, para os segmentos-de-laje com 0,75% e 1,50%
de fibras, respectivamente;

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 143

• Considerando-se apenas o aumento da resistência à compressão simples do


concreto e mantendo-se o volume de fibras, observa-se que a carga última
aumentou em 8,9% para 0,75% fibras e 13,9% para 1,50% de fibras,
mostrando então que o uso de concretos de alta resistência traz melhores
resultados quando eles estão combinados com volumes maiores de fibras;

• Analisando os resultados experimentais e teóricos dos momentos fletores


últimos, observa-se que há uma certa proximidade entre estes valores. Com
isso, pode-se empregar a equação utilizada por HALLGREN (1996) para
determinar a capacidade resistente à flexão dos modelos de ligação laje-pilar,
embora ela não leve em consideração a presença das fibras (Tabela 3).

Observa-se então que a adição de fibras nos concretos de resistência


convencional e alta resistência aumentam, significativamente, o deslocamento final da
peça, mostrando a ductilidade que elas fornecem, proporcionando às peças uma
considerável deformabilidade antes do colapso.

7.2 Modelos de lajes-cogumelo

7.2.1 Capacidade resistente

A princípio, faz-se uma comparação dos valores experimentais da carga


última com os valores teóricos calculados segundo as expressões normativas. Avalia-
se também a influência das fibras, da presença da armadura de cisalhamento e do
aumento da resistência do concreto no acréscimo da capacidade resistente do
modelo.

• TB NB-1 (1997)

Pelo gráfico da Figura 8, verifica-se que o TB NB-1/97 superestima a


capacidade resistente destes modelos de laje-cogumelo, chegando a 16%, para o
caso de concreto de baixa resistência e 24% para o caso de concreto de alta
resistência. Evidencia-se portanto, em quanto as expressões deste código estão
contra a segurança, para este caso em particular. Apesar de que MELGES (1995),
comparando os resultados experimentais de GOMES (1991) com os valores teóricos
calculados pelo TB NB-1/97, também observou uma superestimação da carga última
em 14% entre estes valores, no caso de concreto de baixa resistência.

Na formulação teórica não se considera a contribuição das fibras, porém pelos


resultados experimentais, percebe-se que ao introduzi-las no concreto, a capacidade
resistente aumenta, conseguindo ultrapassar a carga prevista em até 26%.

• CEB/90 (1991)

Para o caso do CEB/90, a diferença entre os valores teóricos (Pu,t) e os


experimentais (Pu) se estabelecem, no máximo, em 15%, para o caso de concreto de
baixa resistência e 23%, para o concreto de alta resistência. Esta discrepância se
encontra com valores bem próximos aos valores encontrados pelo TB NB-1/97 devido
à similaridade entre as expressões fornecidas por estes códigos (Figura 9).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


144 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

Nos modelos onde foram introduzidas fibras de aço no concreto, percebe-se


que há um aumento considerável na carga última experimental, chegando a ser maior
que a carga última teórica em 27%, no caso da HSC.S3.

1,4

1,2

1,0
Pu / Pu,t

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0
OSC.S1 OSC.S2 OSC.S3 OSC.S4 OSC.S5 OSC.S6 HSC.S1 HSC.S2 HSC.S3 HSC.S4 HSC.S5 HSC.S6

Modelos ensaiados
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Figura 8 - Comparação dos resultados observados com os estimados

1,4

1,2

1,0
Pu / Pu,t

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0
OSC.S1 OSC.S2 OSC.S3 OSC.S4 OSC.S5 OSC.S6 HSC.S1 HSC.S2 HSC.S3 HSC.S4 HSC.S5 HSC.S6

Modelos ensaiados

Figura 9 - Comparação dos resultados observados com os estimados

• EUROCODE N.2 (1992)

Pela Figura 10, observa-se que para os modelos com concreto de baixa
resistência, as expressões normativas fornecidas por este código estão a favor da
segurança, pois os valores experimentais apresentaram-se superiores aos valores
teóricos.

Entretanto, no caso de modelos com CAR, estas expressões superestimam


em até 21% os valores experimentais. Esta superestimação também foi observada
por HALLGREN & KINNUNEN (1996) e por RAMDANE (1996), o qual encontrou 32%
de discrepância para concreto com resistência à compressão de 101,6 MPa.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 145

• ACI 318 (1995)

Pelo gráfico da Figura 11, observa-se que as expressões normativas


subestimam a carga última observada, alcançando 57% para os modelos sem fibras.
RAMDANE (1996) observou que para taxa de armadura de 1,28% o cálculo teórico
subestima os valores experimentais, enquanto que para taxa de armadura de 0,58%
os valores calculados estão contra a segurança. Com isso, percebe-se que a dedução
destas expressões deve incluir uma taxa de armadura previamente fixada, com a qual
o valor experimental se aproxima do valor teórico, já que esta variável nem é
introduzida nas expressões empregadas. GOMES (1991) também observou uma
considerável subestimação dos valores experimentais quando comparados com os
teóricos.

2,0

1,8

1,6

1,4

1,2
Pu / Pu,t

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0
OSC.S1 OSC.S2 OSC.S3 OSC.S4 OSC.S5 OSC.S6 HSC.S1 HSC.S2 HSC.S3 HSC.S4 HSC.S5 HSC.S6

Modelos ensaiados
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Figura 10 - Comparação dos resultados observados com os estimados

2,4

2,2

2,0

1,8

1,6

1,4
Pu / Pu,t

1,2

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0
OSC.S1 OSC.S2 OSC.S3 OSC.S4 OSC.S5 OSC.S6 HSC.S1 HSC.S2 HSC.S3 HSC.S4 HSC.S5 HSC.S6

Modelos ensaiados
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Figura 11 - Comparação dos resultados observados com os estimados

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


146 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

Como visto anteriormente, são analisadas as capacidades resistentes de cada


modelo em função dos seguintes fatores: volume de fibras, presença da armadura
transversal e resistência do concreto.

Na Tabela 4 são mostrados os valores da carga última observada nos


ensaios. Pode-se constatar que para todos os casos há um acréscimo da carga última
ao introduzir fibras no concreto, sendo este acréscimo mais acentuado ao empregar
também a armadura de cisalhamento.

TABELA 4 - Resultados experimentais

Modelo Vf fc ft Pu
(%) (MPa) (MPa) (kN)
OSC.S1 0 43,73 3,76 176,48
OSC.S2 0,75 46,42 4,40 191,96
OSC.S3 1,50 30,80 4,89 197,61
OSC.S4 0 38,84 2,16 270,44
OSC.S5 0,75 37,02 3,51 292,79
OSC.S6 1,50 39,72 4,44 329,56
HSC.S1 0 86,65 3,94 190,72
HSC.S2 0,75 81,85 6,08 206,81
HSC.S3 1,50 79,30 6,85 293,93
HSC.S4 0 82,74 5,35 293,35
HSC.S5 0,75 73,49 6,14 388,67
HSC.S6 1,50 71,46 7,73 439,07

Como a divergência entre os valores das resistências dos concretos


empregados nos diversos modelos se mostrou bastante acentuada, efetua-se uma
análise em que a carga de ruptura é normalizada em função da variável fc,
procedimento este também empregado nos estudos realizados por HARAJLI et al.
(1995). Entretanto, neste trabalho desconta-se somente a resistência do concreto na
mesma proporção em que ela é empregada nas expressões fornecidas pelo TB NB-
1/97.
Com esta normalização da carga de ruptura, pode-se avaliar, com maior
precisão, o aumento da resistência à punção devido ao volume de fibras adicionado
ao concreto e à presença da armadura de cisalhamento (Tabela 5 e Figura 12).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 147

TABELA 5 - Valores das resistências últimas à punção normalizadas


Resistência última à punção
Modelo Vf (%) normalizada
Pu / 3 fc
OSC.S1 0 50,09
OSC.S2 0,75 53,41
OSC.S3 1,50 63,04
OSC.S4 0 79,86
OSC.S5 0,75 87,85
OSC.S6 1,50 96,59
HSC.S1 0 43,10
HSC.S2 0,75 47,63
HSC.S3 1,50 68,42
HSC.S4 0 67,32
HSC.S5 0,75 92,79
HSC.S6 1,50 105,81
Rexp: relação da resistência última experimental à punção e da resistência
do concreto conforme apresentada na formulação dada pelo TB NB-1/97.

• Considerando-se o efeito da armadura transversal, nos modelos com CBR, há


um acréscimo da carga de ruptura em 59% para os modelos sem fibras, 64%
com 0,75% de fibras e 53% com 1,50% de fibras. No caso de CAR, o
acréscimo devido à armadura transversal apresentou-se em proporção maior
no caso de 0,75% de fibras (95%), enquanto que para os modelos sem fibras e
com 1,50% de fibras, o acréscimo permaneceu na mesma proporção – 56% e
55%, respectivamente;

• Analisando-se o acréscimo da carga última em função da adição das fibras,


percebe-se que nos modelos com concreto de baixa resistência e armadura de
punção, o aumeto da carga de ruptura tem um comportamento praticamente
linear à medida que se introduz volumes maiores de fibras. Quando empregado
CBR sem armadura de punção, o acréscimo da carga de ruptura é mais
significativo ao aplicar-se 1,50% de fibras (6,6% para 0,75% de fibras e 26%
para 1,50% de fibras em relação ao modelo sem fibras).

• Os acréscimos da carga de ruptura devidos ao incremento do volume de fibras


apresentam-se maiores quando empregados CAR e 1,50% de fibras, com uma
carga de ruptura acrescida em 59% para o modelo sem armadura transversal e
57% para o modelo com armadura transversal. Para uma adição de 0,75% de
fibras, a carga de ruptura cresce em 11% e 38% para os modelos de concreto
de alta resistência sem e com Asw, respectivamente;

• A introdução das fibras é mais eficiente quando utilizada com concreto de alta
resistência, pois observa-se que as curvas de CAR sempre ultrapassam as
curvas de CBR.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


148 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

110

100

90

Carga de ruptura normalizada


80

70

60

50

40 CBR
CBR + Asw
30 CAR
CAR + Asw
20
0,00 0,75 1,50
Volume de fibras (%)

Figura 12 - Influência do volume de fibras na carga de ruptura

Para se tentar equacionar a carga última em função direta do volume de


fibras, aplicou-se a mesma análise utilizada anteriormente, porém independentemente
de mais algumas variáveis, como: perímetro da superfície de ruptura, o qual depende
do local da ruptura e a altura útil da seção transversal. Com isso, a resistência última
à punção normalizada transforma-se numa grandeza adimensional, independente
destes parâmetros.
Este procedimento só pode ser aplicado para o caso dos modelos sem a
armadura transversal, pois no cálculo da capacidade resistente dos modelos a parcela
da Asw não é fator direto da resistência do concreto, portanto estes parâmetros não
podem ser diretamente retirados da expressão empregada para cálculo da carga
última normalizada. Na Tabela 6 são mostrados os valores encontrados ao aplicar
este procedimento, empregando-se para isto, a expressão fornecida pelo TB NB-1/97.
De posse destes resultados, encontra-se uma equação linear que relaciona a
carga de ruptura com o volume de fibras adicionado através da melhor aproximação
encontrada segundo estes valores (Figura 13).

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 149

TABELA 6 - Valores das resistências últimas à punção normalizadas

Resistência última à punção


Modelo Vf (%) normalizada
  20  3 
  1 +  ⋅ f c 
  d  
Pu / u ⋅ d ⋅ 
 10 
 
 
Rexp Rteo
OSC.S1 0 0,18 0,21
OSC.S2 0,75 0,20 0,21
OSC.S3 1,50 0,23 0,21
OSC.S4 0 - -
OSC.S5 0,75 - -
OSC.S6 1,50 - -
HSC.S1 0 0,16 0,21
HSC.S2 0,75 0,17 0,21
HSC.S3 1,50 0,25 0,21
HSC.S4 0 - -
HSC.S5 0,75 - -
HSC.S6 1,50 - -
Rexp: relação da resistência última experimental à punção e das variáveis
contidas na expressão dada pelo TB NB-1/97;
Rteo: relação da resistência última teórica à punção e das variáveis
contidas na expressão dada pelo TB NB-1/97.

Porém, esta equação é limitada para o tipo e a geometria das fibras utilizadas
nos modelos ensaiados na corrente pesquisa.
A equação que resulta dessa aproximação é portanto:

20 3
(1 + ) ⋅ fc
d
Pu (kN) = (0,17 + 0,05 ⋅ Vf ) ⋅ [u ⋅ d ⋅ ] (1)
10

onde Vf é em %, u e d em cm e fc em MPa.

7.2.2 Fissuração

Primeiramente, surgiram fissuras radiais, que partem da face do pilar e se


estendem em direção às bordas e cantos dos modelos, e após determinado
carregamento, apareceram fissuras tangenciais, indicando a formação de uma fissura
inclinada para cada modelo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


150 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

0,50

0,45
CBR
0,40 CAR
Resistência última à punção

0,35

0,30
TB NB-1 / 97
0,25

0,20

0,15
melhor aproximação

0,10

0,05

0,00
0,00 0,75 1,50
Volume de fibras (%)

Figura 13 - Variação da resistência última à punção normalizada em função do volume de


fibras de aço

Nas Figuras 14 e 15 são apresentados todos modelos de laje-cogumelo


ensaiados nesta investigação experimental. Através delas, observa-se o aumento do
número de fissuras à medida que são empregados volumes maiores de fibras de aço
combinados com armadura transversal tipo pino.
Na Tabela 7 são mostrados os modos de ruptura observados
experimentalmente para cada modelo testado. A identificação preliminar do modo de
ruptura foi baseada nas deformações das armaduras de flexão, número de fissuras
formadas e formato da superfície de ruptura, além do acompanhamento da curva
força x deslocamento vertical durante os ensaios.

TABELA 7 - Modo de ruptura observado (classificação preliminar)

Modelo fc Asw Vf εs,max Pu Modo de ruptura


(MPa) (%) (o/oo) (kN)
OSC.S1 43,73 - 0 1,98 176,48 Punção
OSC.S2 46,42 - 0,75 2,24 191,96 Punção
OSC.S3 30,80 - 1,50 2,15 197,61 Punção
OSC.S4 38,84 Asw 0 4,16 270,44 Punção
OSC.S5 37,02 Asw 0,75 14,80 292,79 Flexão
OSC.S6 39,72 Asw 1,50 14,93 329,56 Flexão
HSC.S1 86,65 - 0 1,98 190,72 Punção
HSC.S2 81,85 - 0,75 2,48 206,81 Punção
HSC.S3 79,30 - 1,50 8,33 293,93 Punção
HSC.S4 82,74 Asw 0 13,20 293,35 Punção
HSC.S5 73,49 Asw 0,75 15,81 388,67 Flexão
HSC.S6 71,46 Asw 1,50 15,85 439,07 Flexão

εs.max: deformação máxima da armadura.

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 151

Modelo OSC.S1 – 0% fibras Modelo OSC.S2 – 0,75% fibras

Modelo OSC.S3 – 1,50% fibras Modelo OSC.S4 – 0% fibras + Asw

Modelo OSC.S5 – 0,75% fibras + Asw Modelo OSC.S6 – 1,50% fibras + Asw]

Figura 14 - Face tracionada dos modelos de laje-cogumelo com CBR

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152 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

Modelo HSC.S1 – 0% fibras Modelo HSC.S2 – 0,75% fibras

Modelo HSC.S3 – 1,50% fibras Modelo HSC.S4 – 0% fibras + Asw

Modelo HSC.S5 – 0,75% fibras + Asw Modelo HSC.S6 – 1,50% fibras+ Asw

Figura 15 – Face tracionada dos modelos de laje-cogumelo com CAR

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 153

7.2.3 Modo de ruptura

Para os modelos OSC.S1 e HSC.S1, o modo de ruptura foi observado como


de punção, pois além da ruptura ter ocorrido bruscamente, a deformação máxima da
armadura não alcançou a deformação de escoamento ocorrida no ensaio da barra de
aço. Já os modelos OSC.S2, OSC.S3 e HSC.S2, apesar da ruptura não ter ocorrido
bruscamente como para os casos sem fibras, a armadura não alcançou a deformação
de escoamento da barra.
No modelo HSC.S3, apenas uma armadura apresentou esta deformação
(8,33%0) e o número de fissuras encontradas permaneceu igual ao dos modelos que
romperam por punção. Nos modelos OSC.S4 e HSC.S4, a deformação máxima
ocorrida na armadura ultrapassou a deformação máxima ocorrida na barra, porém
pôde-se observar durante o ensaio, a falta de ductilidade que estes modelos
ofereceram, pois a ruptura ocorreu bruscamente.
Os outros modelos tiveram o modo de ruptura observado como de flexão, pois
durante o ensaio foi constatada uma considerável ductilidade à ligação laje-pilar, além
das armaduras de flexão deformarem bastante e o número de fissuras ter aumentado
consideravelmente.
Após a ruptura, todas os modelos foram investigados com objetivo de se
determinar a região que ocorreu a ruptura e as inclinações das superfícies de ruptura.
Com intuito de ilustrar esta inclinação, dois modelos foram cortados ao meio e, com
isso identificou-se claramente o ângulo formado pela fissura inclinada, conforme
ilustrado na Figura 16.
Para os outros modelos, o processo de determinação das superfícies de
ruptura foi realizado através da escarificação do concreto.

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154 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

Figura 16 - Superfície de ruptura (modelos OSC.S4 e HSC.S4)

7.2.4 Análise da ductilidade

Para uma análise qualitativa da ductilidade da ligação laje-pilar, analisa-se,


mais adiante, o gráfico força x deslocamento da Figura 17, através do qual se pode
observar o comportamento de cada modelo, e assim identificar o ganho de ductilidade
que cada ligação laje-pilar obteve com a introdução dos seguintes fatores: volume de
fibras e armadura transversal.
Entretanto, torna-se interessante analisar a ductilidade em termos
quantitativos, e para isto, são apresentados aqui alguns destes critérios.
A maior parte do trabalho total exercido para a ruptura do compósito reforçado
com fibras curtas reflete-se na energia dissipada na ruptura da aderência entre a fibra
e a matriz e posterior arrancamento das fibras. Com isso, utiliza-se a quantificação da
energia total absorvida pelo compósito, para avaliação do desempenho das fibras
como reforço, dando a esta energia o nome de tenacidade (BENTUR & MINDESS,
1990).
Hoje em dia, a tenacidade é interpretada como a área sob a curva Carga x
deslocamento vertical, onde o valor desta área é, na realidade, o trabalho exercido
sobre o material devido ao carregamento aplicado. Esta avaliação da tenacidade é
utilizada nas principais normas e recomendações para o concreto reforçado com
fibras de aço (ASTM C1018, 1994; JSCE SF4, 1984b e ACI 544.2R, 1989), através de
ensaio de tração na flexão com carregamento em quatro pontos e deformação
controlada.

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 155

7.2.4.1 Deslocamento central

Através dos resultados apresentados no gráfico da Figura 17, pode-se


observar qualitativamente o ganho de ductilidade que os modelos apresentam ao se
introduzir fibras no concreto.
Para o concreto de baixa resistência (CBR), na fase de pré-pico de
resistência, observa-se que ao se introduzir 0,75% de fibras, o modelo apresentou-se
menos rígido do que o modelo sem fibras e ao se introduzir 1,50% de fibras a rigidez
apresenta-se maior. Enquanto isso, no caso de concreto de alta resistência (CAR), os
modelos tornaram-se sempre mais rígidos à medida que foi introduzido volume maior
de fibras de aço, conforme esperado.
Percebe-se que os modelos sem fibras apresentaram um comportamento
bastante frágil quando comparados aos modelos com fibras, além da evidente
eficiência da armadura de cisalhamento, uma vez que a redução das flechas foi
sensível nos modelos com esta armadura, em mesmo nível de carregamento que os
modelos sem armadura de punção.
Procurando-se agora analisar a ductilidade das ligações laje-pilar de modo
independente da resistência alcançada em cada modelo, apresenta-se o gráfico da
Figura 18, onde os deslocamentos estão relacionados com a carga de ensaio dividida
pela carga de pico encontrada em cada ensaio.
Pelo gráfico da Figura 18, foram calculadas as energias absorvidas por cada
modelo, representada pela área sob cada uma das curvas, observando-se que, para
todos os casos, ao introduzir pelo menos 0,75% de fibras, o ganho da energia
absorvida foi maior do que 100%.
Analisando os modelos sem fibras, através da área sob as curvas, calcula-se
que o ganho de ductilidade é de 55% e 62% ao empregar armadura de punção, para
o caso de CBR e CAR, respectivamente.
Ao comparar o acréscimo de ductilidade devido aos parâmetros armadura
transversal e fibras, observa-se que há um maior ganho de ductilidade quando ambos
são aplicados juntamente.

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156 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

G ráfico Força x D eslocam ento efetivo do m odelo O SC.S1 - 43.73


O SC.S2 - 46.42
O SC.S3 - 30.80
O SC.S4 - 38.84
4 50
O SC.S5 - 37.02
O SC.S6 - 39.72
H SC.S1 - 86.65
3 75 H SC.S2 - 81.85
H SC.S3 - 79.30
H SC.S4 - 82.74
H SC.S5 - 73.49
3 00 H SC.S6 - 71.46
Força (kN)

2 25

1 50

75

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
D eslocam ento (m m )

Figura 17 - Deflexões no centro dos modelos

1,0 OSC.S1
OSC.S2
OSC.S3
OSC.S4
0,8 OSC.S5
OSC.S6
HSC.S1
HSC.S2
0,6
Fensaio / Rpico

HSC.S3
HSC.S4
HSC.S5
HSC.S6
0,4

0,2

0,0

0 5 10 15 20 25 30 35
Deslocamento (mm)

Figura 18 - Avaliação da ductilidade em termos adimensionais da carga de ruptura

7.2.4.2 Caracterização do modo de ruptura

O processo aqui utilizado para determinar a capacidade resistente à flexão é o


utilizado por HALLGREN (1996), onde o autor descreve os resultados desta
estimativa para sete vigas de referência e posteriormente para dez lajes-cogumelo de
concreto armado. A avaliação teórica do momento fletor resistente se baseia no CEB-
90, onde o valor pode ser obtido através da análise do diagrama simplificado
representando os principais esforços atuantes em uma seção retangular de concreto
armado à flexão.

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 157

O momento fletor último, para os segmentos-de-laje é dado pela Equação 2 e,


para os modelos de lajes-cogumelo, por unidade de comprimento, é dado pela
Equação 3, sendo ρ a taxa de armadura de flexão e α o fator de minoração da
resistência do concreto, igual a 0,85(1-fck/250). O coeficiente 0,85 deve ser
considerado no caso de situações próximas das estruturas reais, onde ocorrem
efeitos de ações de longa duração e condições de execução diferentes das do
laboratório.

 f ys 
M u = A s ⋅ f ys ⋅ d ⋅ 1 − 0,5 ⋅ ρ ⋅ 
 (2)
 α ⋅ f cc 

 f ys 
M u = ρ ⋅ f ys ⋅ d 2  1 − 0,5 ⋅ ρ ⋅  (3)
 α ⋅ f cc 

A carga de ruptura teórica na flexão para lajes armadas em duas direções se


baseia na Teoria das Linhas de Ruptura e tem seu valor de acordo com a Equação 4.

Pflex = 2 π Mu (4)

Utiliza-se a relação entre a resistência última observada e a resistência à


flexão calculada (Pu/Pflex = φ) para classificar o modo de ruptura. Esse artifício é
utilizado, nesta pesquisa, para estimar antecipadamente o tipo de ruptura na fase de
dimensionamento. O modo de ruptura é identificado como flexão predominante
quando φ>1, de punção predominante quando φ<1 e, se φ≅1 ± 0,1 as rupturas por
flexão e punção ocorrem quase que simultaneamente.
Comparando as Tabelas 7 e 8, verifica-se que o modo de ruptura estimado
segundo este critério corresponde aos observados, diferenciando apenas nas lajes
OSC.S5 e OSC.S6. A determinação preliminar do modo de ruptura baseou-se na
análise das deformações das armaduras e no número de fissuras encontradas, os
quais apresentaram-se bastante elevados. Devido à falta de uma definição mais
precisa do modo de ruptura, os modelos tiveram seu modo de ruptura caracterizados
em dois parâmetros – punção ou flexão.

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158 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

TABELA 8 - Modo de ruptura observado

Modelo fc Asw Vf Pu Pflex Pu Modo de


(MPa) (%) (kN) (kN) φ= ruptura
Pflex
OSC.S1 43,73 - 0 176,48 333,95 0,53 Punção
OSC.S2 46,42 - 0,75 191,96 336,26 0,57 Punção
OSC.S3 30,80 - 1,50 197,61 316,80 0,62 Punção
OSC.S4 38,84 Asw 0 270,44 328,88 0,82 Punção
OSC.S5 37,02 Asw 0,75 292,79 326,60 0,90 Punção - flexão
OSC.S6 39,72 Asw 1,50 329,56 329,87 1,00 Punção - flexão
HSC.S1 86,65 - 0 190,72 352,47 0,54 Punção
HSC.S2 81,85 - 0,75 206,81 351,58 0,59 Punção
HSC.S3 79,30 - 1,50 293,93 351,01 0,84 Punção
HSC.S4 82,74 Asw 0 293,35 351,75 0,83 Punção
HSC.S5 73,49 Asw 0,75 388,67 349,52 1,11 Flexão
HSC.S6 71,46 Asw 1,50 439,07 348,92 1,26 Flexão

Pela Tabela 8, pode-se concluir que, neste caso, a combinação de fibras com
armadura de punção garante à ligação laje-pilar uma certa ductilidade, principalmente
ao se empregar concreto de alta resistência, passando-se de uma ruptura por punção
para uma ruptura por flexão pura. Entretanto, observa-se também que para todos os
casos de adição somente de fibras ou presença da armadura de punção, a relação
entre as cargas de ruptura e de flexão aumenta, caracterizando-se um ganho de
ductilidade.
HARAJLI et al. (1995) observaram que nos modelos sem fibras a superfície de
ruptura apresentava um formato próximo do quadrado, e após adição das fibras este
formato aproximava-se de uma circunferência. Na corrente pesquisa, para o caso dos
modelos sem armadura de punção, esta transformação também é observada.
Entretanto, para os modelos com armadura de punção, a superfície de ruptura já tem
um formato circular, mesmo sem fibras, devido à sua distribuição radial, mas ainda
assim pôde-se notar uma circunferência bem mais definida ao se introduzir fibras.
Identificando-se as superfícies de ruptura dos modelos ensaiados, segundo a
nomenclatura dada por GOMES (1991), tem-se que:
• Os modelos OSC.S1 e HSC.S1 tiveram a superfície de ruptura identificada
conforme a Superfície B, partindo do ponto adjacente ao pilar;

• Os modelos OSC.S2, OSC.S3, HSC.S2 e HSC.S3 conforme a Superfície D,


com praticamente a mesma inclinação que a dos modelos sem fibras e sem
Asw, porém partindo de um ponto mais afastado do pilar;

• Os modelos OSC.S4 e HSC.S4 (com Asw) conforme a Superfície G, partindo do


ponto adjacente ao pilar, mas passando por baixo das armaduras de punção.
Foi desconsiderado o cobrimento, portanto na face de aplicação da carga a
superfície se formou além da região armada, medida esta utilizada para o
cálculo do ângulo de inclinação da superfície de ruptura;

• Os modelos OSC.S5, OSC.S6, HSC.S5 e HSC.S6 conforme a Superfície F,


partindo além da região armada.

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 159

7.2.4.3 Índices de tenacidade

A ductilidade das ligações laje-pilar também é analisada, neste trabalho,


segundo os critérios adaptados das recomendações das seguintes normas: ACI
544.2R (1989), ASTM C1018 (1994) e JSCE SF4 (1984).
Para a determinação de índices de tenacidade de concretos com fibras,
conforme os critérios originais, são ensaiados à flexão prismas com dimensões de
(100x100x350) mm3 , no caso das normas americanas (ASTM C1018 e ACI 544.2R),
e prismas de (150x150x500) mm3 ensaiados à compressão axial, para o caso da
norma japonesa (JSCE SF4), nesta última para ensaios de compósitos com fibras
com comprimento acima de 40mm.
Os resultados do ensaio, representados pela curva Carga x deslocamento
vertical permitem a caracterização da tenacidade através de índices derivados desta
curva.
Na Tabela 9 são apresentados os índices calculados para os ensaios das
lajes através destas formulações, e observa-se que há uma certa incoerência nestes
resultados, tais como:
• Para o caso de índices calculados conforme a ASTM C1018 e o ACI 544.2R,
os valores limites para cada índice de tenacidade (I5=5, I10=10, I20=20 e I30=30
para o modelo elasto-plástico perfeito) não devem ser empregados neste caso,
pois conforme visto nos resultados, se fossem considerados esses valores
limites todos os modelos ensaiados seriam considerados dúcteis. Deve-se
então, analisar a relação entre estes índices, para cada variação do volume de
fibras;

• Na maioria dos casos, à proporção que se introduziu volume maior de fibras,


houve um ganho de ductilidade, ou seja, o índice aumentou. Porém, em alguns
casos ocorreu o inverso, como nos modelos OSC.S5, HSC.S2 e HSC.S6;

• No caso de concreto de baixa resistência, o modelo com armadura de punção


e sem fibras mostrou-se mais dúctil que o modelo sem armadura de punção,
porém com 1,50% de fibras, caso também confirmado ao identificar o modo de
ruptura pela relação entre as cargas de ruptura e de flexão, porém pela análise
dos gráficos Força x deslocamento, observa-se o contrário;

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


160 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

TABELA 9 - Índices de tenacidade

Modelo ACI 544.2R ASTM C 1018 JSCE SF-4


I5 I10 I30 I5 I10 I20
OSC.S1 7,35 17,82 - 7,35 17,82 42,11 0,0105
OSC.S2 7,93 22,21 114,62 7,93 22,21 62,83 0,0125
OSC.S3 9,57 23,21 124,33 9,57 23,21 67,81 0,0133
OSC.S4 7,69 34,55 122,00 7,69 34,55 65,90 0,0159
OSC.S5 6,87 19,54 107,17 6,87 19,54 57,48 0,0145
OSC.S6 14,84 43,55 231,51 14,84 43,55 128,64 0,0185
HSC.S1 6,94 22,41 108,14 6,94 22,41 61,50 0,0113
HSC.S2 7,65 18,52 92,91 7,65 18,52 54,45 0,0141
HSC.S3 9,72 27,02 144,05 9,72 27,02 75,71 0,0176
HSC.S4 6,51 17,80 91,81 6,51 17,80 48,33 0,0181
HSC.S5 7,81 24,49 130,06 7,81 24,49 68,65 0,0194
HSC.S6 8,65 21,98 119,75 8,65 21,98 62,44 0,0193

• Também não se comprovou no ensaios a tendência dos índices de que, para


os CAR sem fibras, ao se introduzir a armadura transversal, a ligação laje-pilar
se apresenta menos dúctil que o modelo sem Asw (HSC.S1 e HSC.S4);

• Pela norma japonesa JSCE SF4, o índice de tenacidade sempre aumenta a


medida que se introduz fibras, mostrando o ganho de ductilidade, exceto no
caso do modelo OSC.S5.

Estas discrepâncias entre os valores podem estar acontecendo devido ao fato


de, nesta pesquisa, terem sido utilizados modelos reduzidos das lajes e não prismas
com dimensões pré-determinadas, como nas normas; e os modelos foram submetidos
a esforços totalmente diferentes. Acima de tudo isso, o instante da formação da
primeira fissura não corresponde, nas lajes, a uma alteração tão significativa no
comportamento das peças ensaiadas, como ocorre nos prismas sujeitos à flexão.
Assim, quando se tomou, para cálculo dos índices da ASTM C1018 e do ACI 544.2R,
uma área sob a curva correspondente ao comportamento elástico, ela se mostra com
valor relativamente pequeno ao restante da curva.
Buscando-se encontrar outros índices para quantificar a ductilidade dos
modelos, resolveu-se aplicar mais um modelo, denominado de Modelo Alternativo, em
que o deslocamento de referência não é o correspondente ao deslocamento para 1ª
fissura e nem o deslocamento elástico (Modelo ASTM C1018 Modificado), e sim os
deslocamentos correspondentes a frações da carga última (forças resistentes
residuais).
Foi idealizada uma relação entre as áreas sob as curvas Fensaio/Rpico x
deslocamento vertical do modelo experimental e do modelo elasto-plástico perfeito
(Figura 19).
Este método tem como objetivo avaliar a tenacidade do compósito através da
relação entre as áreas sob as curvas, para valores de relação Fensaio/Rpico iguais a 1,0,
0,8 e 0,6, valores estes correspondentes à força máxima resistente e a forças
resistentes residuais de 80% e 60% do valor máximo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 161

Area OBC Area OBEF Area OBHI


I100 = I80 = I60 =
Area OABC Area OADF Area OAGI

Procura-se então identificar o quanto o comportamento do modelo ensaiado


se aproxima de um modelo comportamento elasto-plástico perfeito, tendo este a
mesma resistência que o modelo ensaiado. Ilustrando estes cálculos, tem-se
conforme a Figura 19.

Fensaio / Rpico Modelo elasto-plástico perfeito

1.0 A B D IG

0. E

0.6 H

0.4

0.2
J C F I
I
O
Deslocamento vertical (mm)

Figura 19 - Critério para determinação da tenacidade (Modelo Alternativo)

Uma vez calculados os índices I100, I80 e I60, que correspondem à relação entre
o trabalho realizado pela força durante o ensaio e a energia acumulada de um modelo
elasto-plástico para forças resistentes residuais e força máxima, foram feitos os
diagramas mostrados na Figura 20.
Nos gráficos da Figura 20, observa-se que:
• Para 100% da carga máxima, a relação Área sob curva modelo / Área sob
curva elasto-plástico (I100) começa mais elevada e diminui ao introduzir 0,75%
de fibras, para CBR. Isso ocorre pois a fase elástica se mostra mais rígida para
os modelos sem fibras do que para os modelos com 0,75% de fibras, conforme
visto anteriormente. Quando se passa para 1,50% de fibras, essa relação
aumenta sensivelmente e, em proporções maiores, ao introduzir a armadura
transversal;

• Para 80% da carga máxima, as fibras contribuem na energia absorvida por


cada modelo, ou seja, a energia absorvida pelo modelo se aproxima da energia
absorvida pelo modelo elasto-plástico perfeito. Essa contribuição também é
bastante acentuada, neste caso, para volume maior de fibras com Asw;

• Para 60% da carga máxima, observa-se que o índice I60 se mostra alto nos
modelos sem fibras. Isso se deve à ruptura frágil que estes modelos tiveram,
pois houve uma queda bastante brusca da carga aplicada e, com isso a área
sob a curva em 100, 80 e 60% permanece na mesma relação. Mas, avaliando
os modelos com fibras, ainda pode-se confirmar o ganho de ductilidade ao

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


162 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

combinar CAR + Asw + 1,50% de fibras, pois as áreas calculadas sob a curva
deste modelo se aproximaram mais das áreas calculadas sob a curva do
modelo elasto-plástico correspondente.

Figura 20 - Influência das fibras na ductilidade de cada modelo

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Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 163

7.2.4.4 Deformação nas armaduras

Para análise das deformações nas armaduras dos modelos de laje-cogumelo


foram monitoradas algumas barras em pontos determinados. Avaliam-se as
deformações nas armaduras de flexão e de cisalhamento quanto aos seguintes
parâmetros: resistência do concreto, presença da armadura transversal e volume de
fibras adicionado.

Armadura de flexão
Observa-se que somente as armaduras dos modelos com adições de fibras
de aço chegaram ao escoamento, tanto para concreto de baixa resistência (CBR)
quanto concreto de alta resistência (CAR).
A armadura superior da zona tracionada atingiu a tensão de escoamento
somente quando foi empregada Asw. Enquanto isso, a barra inferior tracionada, apesar
da pequena deformação (cerca de 4o/oo para 0,75% de fibras e cerca de 9 o/oo para
1,50% de fibras), quando comparada às deformações atingidas pelas barras nos
modelos com Asw, alcançou a tensão de escoamento também para o modelo sem a
presença da armadura transversal.
As armaduras dos modelos com CAR tiveram maiores deformações que os
modelos com CBR.
As armaduras que tiveram maiores deformações foram as barras empregadas
nos modelos compostos por: concreto de alta resistência, armadura transversal e
adições de fibras.

Armadura de cisalhamento
Observa-se que as armaduras de cisalhamento atingiram a tensão de
escoamento somente quando foram empregados concreto de alta resistência e fibras
de aço.
Percebe-se que não há uma similaridade nas deformações dos conectores,
pois para o conector 1 as barras que mais deformaram foram as do modelo HSC.S6
(1,50% de fibras + Asw + CAR), enquanto que para o conector 2, elas não alcançaram
nem o escoamento. Porém, observa-se uma similaridade, pois os conectores que
alcançaram o escoamento foram os empregados nos modelos com armadura de
punção, fibras e CAR.

8 CONCLUSÕES

A presente pesquisa teve como princípio colaborar nos estudos referentes à


análise do comportamento da ligação laje-pilar em lajes-cogumelo. Com isso, foram
empregados concretos de diferentes resistências à compressão, volumes diferentes

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


164 Aline Passos de Azevedo & João Bento de Hanai

de fibras de aço e presença ou não da armadura transversal de combate à punção, a


fim de analisar as possibilidades de melhoria no comportamento deste elemento
estrutural.
• Nos modelos sem armadura transversal, a adição de fibras é mais eficiente nos
concretos de alta resistência do que nos concretos convencionais. O aumento
percentual da resistência à punção é maior nas lajes com CAR (59% para
1,50% de fibras) do que nos concretos convencionais – CBR (26% para 1,50%
de fibras), assim como observado por ZAMBRANA VARGAS (1997);

• Para 0,75% de fibras e CAR, o acréscimo da resistência à punção é


percentualmente maior nos modelos com armadura de punção (38%) do que
nos modelos sem Asw (11%), enquanto que para os modelos com 1,50% de
fibras, este acréscimo permaneceu na mesma proporção;

• Em todos os casos, ou seja, concreto de baixa e alta resistência com e sem


armadura transversal, observa-se que o comportamento da carga de ruptura
em função do volume de fibras é crescente, indicando que ao adicionar
volumes maiores de fibras, haverá um acréscimo da capacidade resistente das
lajes;

• O aumento da resistência do concreto influencia o valor da carga de ruptura,


principalmente ao utilizar armadura transversal de combate à punção.

É interessante determinar a carga de ruptura em função do volume de fibras,


já que esta variável ainda não se encontra nas formulações dadas pelas normas.
Tentou-se encontrar uma equação para determinar a carga de ruptura, para os
modelos sem armadura transversal, para o tipo e a geometria das fibras empregadas
nesta pesquisa, chegando-se à seguinte expressão:

  20  3 
 1 + ⋅ fc 
  d  
Pu (kN) = (0,17 + 0,05 ⋅ Vf ) ⋅ u ⋅ d ⋅  
 10 
 
 

No entanto, ressalta-se que esta expressão não reflete fielmente os


resultados observados nesta pesquisa, afinal é uma aproximação, e nem o conjunto
de dados obtidos por outros pesquisadores. Há necessidade, portanto, de estudos
mais aprofundados.
Com base nos valores das resistências últimas alcançadas, pode-se observar
que as fibras, exclusivamente, não têm tanta influência no acréscimo da carga de
ruptura quando comparadas à presença da armadura transversal e ao emprego de
concreto de alta resistência.
Apesar das fibras não influenciarem tanto na capacidade resistente dos
modelos, elas interferem sensivelmente na ductilidade destas ligações laje-pilar,
podendo até modificar o modo de ruptura de punção pura para uma ruptura

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 131-166, 2003.


Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de.concreto de alta... 165

combinada de punção-flexão, no caso de concreto convencional e Asw, e flexão


predominante no caso de concreto de alta resistência e Asw.
Através da energia absorvida pelos modelos, pode-se observar que a
presença exclusiva da armadura de punção não garante uma suficiente ductilidade
(62% no máximo) quando comparada à adição exclusivamente das fibras, que para
pelo menos 0,75% de fibras, em todos os casos o acréscimo maior que 100%. A
adição de 1,50% de fibras com armadura transversal e CAR proporciona ganhos de
ductilidade mais expressivos.
Não foi possível uma determinação quantitativa da ductilidade utilizando
índices de tenacidade, segundo as definições das normas empregadas. Nesta
pesquisa, foram utilizados modelos reduzidos e não prismas com dimensões
determinadas, além das peças estarem submetidas à punção e não à flexão, como
nas normas.
Utilizando-se o Modelo Alternativo, não é possível determinar
quantitativamente a ductilidade de cada ligação laje-pilar, porém para uma análise
entre a relação das áreas de cada modelo com as áreas do modelo elasto-plástico
correspondente, ela se mostrou coerente, apesar de ainda não ter sido totalmente
satisfatória.
Com base nas análises da capacidade resistente e da ductilidade, observa-se
que a presença da armadura transversal e o valor da resistência à compressão do
concreto interferem na carga última obtida em cada ligação laje-pilar, enquanto que a
presença das fibras interfere substancialmente na ductilidade deste. Ao aplicar CAR,
armadura transversal e 1,50% de fibras, o modelo torna-se mais resistente e mais
dúctil.

9 BIBLIOGRAFIA

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coderequirements for structural concrete (ACI 318-95) and commentary (ACI
318R95).Farmington Hills: ACI.

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Standard test method for flexural toughness and first-crack strength of fiber
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cogumelo de concreto armado com furos e armadura de cisalhamento. Relatório
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Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

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ANÁLISE DE PILARES DE CONCRETO DE ALTA
RESISTÊNCIA COM ADIÇÃO DE FIBRAS
METÁLICAS SUBMETIDOS À COMPRESSÃO
CENTRADA

Ana Elisabete Paganelli Guimarães1 & José Samuel Giongo2

RESUMO

O Concreto de Alto Desempenho (CAD) tem sido extensivamente estudado em muitos


centros de pesquisas porque seu uso tem aumentado de maneira significativa na
construção civil. Mas a fragilidade deste material, quando a resistência à compressão é
alta, tem levado os pesquisadores a estudar maneiras de diminuir esta característica,
como por exemplo aumentando as taxas de armaduras transversal e/ou longitudinal dos
elementos estruturais em concreto armado. Este trabalho trata do uso de fibras
adicionadas ao concreto para uso em pilares submetidos à compressão, visando dar
subsídios técnicos em outra maneira de se obter ductilidade em elementos de concreto
de alta resistência, utilizando taxas usuais de armadura transversal. Apresenta-se um
estudo experimental sobre pilares em concreto de alto desempenho com adição de
fibras metálicas, com seção transversal de 200mm x 200mm e altura de 1200mm,
submetidos à compressão centrada, onde o concreto apresenta uma resistência média à
compressão de 80 MPa. As taxas volumétricas de fibras foram de 0,25%; 0,50%, 0,75%
e 1,00%, adotaram-se taxas volumétricas de estribos de 0,55%, 0,82% e 1,63% e a taxa
geométrica de armadura longitudinal de 2,41% permaneceu a mesma para todos os
pilares. Percebeu-se que a ruptura dos pilares foi mais dúctil quanto maior era a
quantidade de fibras adicionadas ao concreto. Na análise teórica feita com os modelos,
constatou-se que somente a seção transversal do núcleo, ou seja, aquela delimitada
pelos eixos dos estribos, contribui para a resistência dos pilares, para pequenas taxas
de fibras adicionadas ao concreto.

Palavras-chave: concreto de alta resistência; concreto com fibras; fibras metálicas;


pilares; experimentação.

1
Professor Doutor da Faculdade de Engenharia Civil - UNICAMP, paganell@fec.unicamp.br
2
Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jsgiongo@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


168 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

1 INTRODUÇÃO

O intuito desta pesquisa foi estudar o comportamento dos pilares de concreto


de alto desempenho com adição de fibras metálicas quanto a sua ductilidade, quando
os mesmos estão submetidos à compressão centrada. Para este caso, o atributo
principal do concreto de alto desempenho foi a alta resistência, com resistência média
à compressão prevista para 15 dias, em torno de 80 MPa, obtida com adição de sílica
ativa e aditivos superplastificantes.
As quantidades de fibras utilizadas foram variadas, sem no entanto
ultrapassar as proporções limites indicadas pela literatura técnica, para que o
compósito não perdesse as características do concreto com fibras usuais. Outra
variação feita nesta pesquisa foi a taxa de armadura transversal, para que pudesse
ser estudada a influência das fibras no aumento de ductilidade dada pelos estribos e
quanto ao destacamento do cobrimento antes da ruptura do núcleo dos pilares.
Uma das preocupações foi de se trabalhar com os elementos estruturais
(pilares) o mais próximo possível das dimensões usuais dos edifícios, assim optando
pelas medidas de 20cm x 20cm para a seção transversal. A altura dos modelos foi
fixada em 120cm para que não houvesse o efeito de flambagem, visto que não era
objeto de estudo para este trabalho. Deste modo, a comparação dos resultados
obtidos com a de outros pesquisadores também se tornou viável.

Em princípio não foram estudadas outras formas de seções transversais, tais


como circulares e retangulares, nem pilares confinados por tubos metálicos, que
representam uma possível continuidade desta pesquisa.
O trabalho se torna de extrema importância para o meio técnico como uma
nova alternativa para construção de pilares de edifícios em concreto de alto
desempenho, baseado nos resultados dos ensaios e na bibliografia, referenciada e
indicada.

2 METODOLOGIA E DESCRIÇÃO DOS ENSAIOS

2.1 Obtenção dos CAR com fibras

Para a obtenção do concreto utilizado nesta pesquisa, foram atendidas as


seguintes etapas:
a) Escolha e caracterização dos agregados graúdo e miúdo, disponíveis na região
de São Carlos, com ensaios de granulometria, massa específica e unitária,
índice de forma e material pulverulento, realizados no Laboratório de
Construção Civil do Departamento de Arquitetura e Urbanismo – EESC-USP;

b) Estabelecimento de um traço inicial, baseado em trabalhos realizados


anteriormente por outros pesquisadores para obtenção de um CAD;

c) Aprimoramento da argamassa do traço inicial para que à mesma pudessem ser


adicionadas as fibras, sendo estudados:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 169

• abatimento do concreto, usando ensaio com cone de Abrams, para


garantir concreto com condições de lançamento nas fôrmas;

• séries de ensaios de compressão axial em corpos-de-prova cilíndricos de


100mm x 200mm, com variação das taxas de fibras metálicas e de
polipropileno nas proporções de 0,25%, 0,50%, 0,75%, 1,00%, nas idades
de 3, 7, 15 e 28 dias, para que pudessem ser medidas a resistência média
à compressão e o módulo de elasticidade do material aos 15 dias e,
portanto, possibilitar o cálculo dos índices de tenacidades. Estes ensaios
foram realizados no Laboratório de Mecânica das Rochas do
Departamento de Geotecnia da EESC-USP.

• execução de ensaios de tração nas barras de aço que foram utilizadas


como armaduras transversal e longitudinal nos modelos de pilares,
realizados no Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeira do
Departamento de Engenharia de Estruturas.

Além dos Laboratórios citados anteriormente, esteve envolvido, colaborando


para o andamento da pesquisa, outro setor da Escola de Engenharia de São Carlos, a
Oficina de Marcenaria, onde foram executadas as fôrmas de madeira para moldagem
dos modelos.

2.2 Experimentação com modelos de pilares

A seguir apresenta-se a metodologia seguida para execução dos ensaios com


os modelos de pilares:
a) Projeto do modelo de pilar;
b) Projeto e execução das fôrmas;
c) Montagem das armaduras, instrumentação das barras - longitudinais e transversais
- e posicionamento nas fôrmas;
d) Moldagem dos modelos, com respectivos lançamento do concreto, adensamento
com mesa vibratória e cura;

e) Desmoldagem dos pilares e posicionamento no pórtico de ensaio;


f) Controle do concreto, por meio de ensaios de compressão axial com controle de
força, com deformação controlada e ensaios de compressão diametral para
medição da resistência média à tração, em corpos-de-prova cilíndricos de 100mm x
200mm;

g) Ensaios em pilares pilotos solicitados à compressão simples, num total de 3


modelos;

h) Ensaios em 13 séries de pilares solicitados à compressão simples, mais uma série


refeita, somando 28 exemplares, onde foram variadas as taxas de fibras (0,25%,
0,50%, 0,75% e 1,00%), o tipo de fibra e os espaçamentos entre os estribos,
adotados de 5cm, 10cm e 15cm. Os ensaios pilotos e definitivos foram realizados
no Laboratório de Estruturas do Departamento de Engenharia de Estruturas –
EESC-USP;

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


170 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

i) A partir dos dados obtidos pelo sistema de aquisição, elaboração de planilhas com
respectivos diagramas Força x Deformação e Força x Deslocamento.
Foram escolhidas as idades de 15 e 16 dias para os ensaios dos pilares,
sendo que o concreto, na data do ensaio, deveria apresentar resistência média à
compressão em torno de 80MPa.

3 RESULTADOS DOS ENSAIOS

3.1 Ensaios dos modelos de pilares

3.1.1 Modelos Pilotos

• Piloto 1

O modelo de pilar de concreto contendo fibras de polipropileno, teve ruptura


sem desagregações, com o cobrimento sendo descolado no instante da ruptura. Este
permaneceu junto à armadura, sem se destacar completamente. Houve fissuração na
parte superior do pilar junto à face mais comprimida, visto que a força aplicada não
estava exatamente centrada. Esta fissuração ocorreu próxima à extremidade superior
do elemento, quando a força era de 2000kN.
Na figura 1 pode ser visto o comportamento da armadura longitudinal e
transversal por meio dos diagramas tensão x deformação para o pilar Piloto 1.
Os gráficos que estão posicionados na parte negativa do eixo das abscissas
são relativos às barras comprimidas, que foram as barras longitudinais, com os dados
lidos nos canais de 1 a 4, e os gráficos indicados na parte positiva do eixo das
deformações indicam os estribos, nos canais de 5 a 8.

120

100

80
Tensão (MPa)

Barras Estribo
60 1 5
2 6
3 7
40
4 8

20

0
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2
Deformação (mm/m)

Figura 1 - Diagramas Tensão x Deformação para o Aço - Piloto 1

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 171

Na figura 2 se apresentam os diagramas tensão x deformação para os canais


numerados de 9 a 12, colocados na face de concreto do pilar em questão. A seção
em que ocorreu a ruptura era próxima à metade da altura do pilar, com força última de
2.402kN e com deformação máxima do concreto de 2,72‰, em uma das leituras.

120

100

80
Tensão (MPa)

60
Concreto
9
40
10
11
20
12

0
0,5 0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0
Deformação (mm/m)

Figura 2 - Diagramas Tensão x Deformação para o Concreto - Piloto 1

• Piloto 2

O modelo de pilar de concreto de alta resistência contendo 0,50% de fibras


metálicas e taxa de armadura transversal de 1,63% não teve ruptura com
desagregação do material, mas o cobrimento foi separado da armadura no instante da
ruína. Próximo à etapa de força de 1900kN, houve fissuração na parte superior do
pilar, na região de aplicação da força, como pode ser visto na figura 3.

Figura 3 - Primeiras Fissuras - Piloto 2

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


172 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

Entretanto, a ruptura se deu em seção transversal próxima à metade da altura


do pilar, com força última de 2.216kN e deformação máxima do concreto, em uma das
leituras, de 2,14‰, com configuração final podendo ser vista na figura 4.

Figura 4 - Forma de Ruptura do Pilar Piloto 2

Os diagramas tensão x deformação da armadura longitudinal e transversal


para o pilar 2, podem ser vistos na figura 5.

Barras Estribo
1 5
120 2 6
3 7
100 4 8

80
Tensão (MPa)

60

40

20

0
-3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Deformação (mm/m)

Figura 5 - Diagramas Tensão x Deformação para o Aço - Piloto 2

Os diagramas tensão x deformação para o concreto, estão mostrados na


figura 6.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 173

120

100

80

Tensão (MPa)
Concreto
60 9
10
40
11
20 12

0
0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Deformação (mm/m)

Figura 6 - Diagramas Tensão x Deformação para o Concreto - Piloto 2

• Piloto 3

O modelo de pilar de concreto com taxa de fibras metálicas de 1,00% e taxa


de armadura transversal de 0,82% teve ruptura com um pouco de desagregação do
material, mas não houve estilhaçamento do cobrimento.
A força aplicada no pilar piloto 3 estava mais centrada que aquela aplicada
nos outros dois pilares, e na ruína houve a flambagem das barras da armadura
longitudinal na seção próxima à metade da altura. A configuração de ruptura do pilar 3
pode ser vista na figura 7.

Figura 7 - Ruptura do Pilar Piloto 3

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


174 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

A força última foi de 2.432kN e a deformação máxima do concreto foi de


2,38‰, em uma das leituras. Na figura 8 são mostrados os diagramas tensão x
deformação das barras longitudinais e dos estribos para o pilar piloto 3.

Barras Estribo
1 5
2 6
120
3 7
4 8
100

80
Tensão (MPa)

60

40

20

0
3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Deformação (mm/m)

Figura 8 - Diagramas Tensão x Deformação para o Aço - Piloto 3

Os diagramas tensão x deformação, observados com os defletômetros


mecânicos instalados nas faces de concreto do pilar, são mostrados na figura 9.

120

100

80
Tensão (MPa)

60 Concreto
9
40 10
20 11
12
0
0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Deformação (mm/m)

Figura 9 - Diagramas Tensão x Deformação para o Concreto - Piloto 3

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 175

• Resultados teóricos

Para se calcularem as forças últimas teóricas, utilizou-se a expressão 1.

Fun,teo = ( Acn − As ) f c + As f y (1)

onde:
Acn = área da seção transversal do núcleo do pilar;
As = área de armadura longitudinal;
fc = resistência média do concreto avaliada no dia do ensaio do modelo,
multiplicado por um coeficiente, adotado igual a 0,9, para se levar em conta as
relações entre as resistências obtidas nos corpos-de-prova e a real que atua
no concreto da estrutura.
fy = resistência média de escoamento do aço.

A tabela 1 mostra os resultados dos ensaios pilotos, comparando as forças


últimas experimentais com as teóricas.

TABELA 1 - Comparação de Fu/exp/Fu/teo

fcm ρw Acn Fu,exp Fun,teo Fu,exp


Pilar Fibra Vf (MPa) Estribos (%) (cm2) (kN) (kN) /Fun,teo
Piloto 1 Polip 0,50% 75,46 φ6,3c/5 1,63 236,24 2.402 2.075 1,16
Piloto 2 Aço 0,50% 71,07 φ6,3c/5 1,63 251,86 2.216 1.986 1,12
Piloto 3 Aço 1,00% 68,06 φ6,3c/10 0,82 245,55 2.432 1.924 1,26

Na figura 10, são mostradas as curvas tensão x deformação do concreto para


cada modelo piloto, com as deformações medidas nas faces dos pilares, onde se tem,
como conclusão parcial, que o concreto do pilar contendo mais fibras de aço (piloto 3)
se deformou mais que os outros pilares cujos concretos continham fibras metálicas
em menor quantidade e fibras de polipropileno.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


176 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

120

100

80
Tensão (MPa)

60

40 Piloto 1
Piloto 2
20
Piloto 3
0
0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0
Deformação (mm/m)

Figura 10- Diagramas Tensão x Deformação dos Concretos dos 3 Pilares Ensaiados

Na figura 11 podem ser vistos os diagramas Tensão x Deformação dos


pilares, com os respectivos deslocamentos lidos pelos defletômetros mecânicos.

120

100

80
Tensão (MPa)

60
Piloto 1
40 Piloto 2
Piloto 3
20

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Deformação (mm/m)

Figura 11- Diagramas Tensão x Deformação dos Pilares

Com os resultados obtidos com os ensaios pilotos, pôde-se chegar a algumas


conclusões quanto a necessidade de se fazerem algumas modificações para os
ensaios dos modelos das séries de pilares.

Uma delas foi que as fibras metálicas usadas nesta etapa, não funcionaram
adequadamente, pois percebeu-se a ruptura das mesmas junto com a ruína do

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 177

concreto. Escolheu-se portanto, fibras de comprimento e resistência mecânica


maiores para os modelos subseqüentes.
Outra modificação foi quanto ao posicionamento dos transdutores de
deslocamento.

3.1.2 Séries de pilares

A seguir serão mostrados os resultados dos ensaios com os corpos-de-prova


que foram moldados juntos com os pilares das séries principais, submetidos a ensaios
de compressão axial com controle de força, para que fosse medida a resistência
média à compressão, ensaios à compressão diametral, para que fosse medida a
resistência média à tração, e ensaios à compressão axial com controle de
deformação, para que fosse medido o índice de tenacidade do concreto com fibras, e
definido o módulo de elasticidade.

• Resistência média à compressão

Na tabela 2 pode ser visto um resumo dos valores médios obtidos nos ensaios
dos corpos-de-prova submetidos à compressão.
Esses testes foram feitos em máquina eletrônica, com controle de força, no
Laboratório de Engenharia de Estruturas, a menos dos corpos-de-prova das séries
P2a15 e P2a10, os quais foram testados no Laboratório de Construção Civil.
São mostradas nesta tabela as resistências médias à compressão dos corpos-
de-prova com 7 dias de idade e com 15 dias, data em que eram feitos os ensaios dos
pilares. O valor médio é resultados do ensaio de três corpos-de-prova.

TABELA 2 - Resistências Médias à Compressão das Séries de Pilares

Vf fcm (7 dias) fcm (15 dias)


Série (%) (MPa) (MPa)
P1a15 0,25 __ 81,03 (P1) 87,81 (P2)
P1a10 0,25 69,82 85,47
P1a05 0,25 68,51 80,68
P2a15 0,50 61,16 71,85
P2a15-r 0,50 54,75 66,46
P2a10 0,50 61,87 79,98
P2a05 0,50 63,58 77,63
P3a15 1,00 58,91 77,08
P3a10 1,00 48,87 65,02
P3a05 1,00 66,55 69,04
P4a15 0,75 66,47 79,87
P4a10 0,75 72,49 86,45
P4a05 0,75 63,74 75,54
P3p10 0,50 57,36 57,06

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


178 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

• Resistência média à tração

Na tabela 3, pode ser visto um resumo das resistências médias à tração do


concreto dos modelos e a relação entre a resistência média à tração e a resistência
média à compressão, ambos realizados aos 15 dias. As médias são relativas a três
corpos-de-prova.

Os ensaios dos corpos-de-prova submetidos a compressão diametral para


obtenção da resistência média à tração foram feitos no Laboratório de Estruturas, da
Escola de Engenharia de São Carlos, a menos das séries P2a15 e P2a10, cujos
corpos-de-prova foram ensaiados no Laboratório de Construção Civil.

Com os resultados mostrados na tabela 3, pode-se observar que a relação


entre a resistência média à tração e a resistência média à compressão aumenta com
o aumento da quantidade de fibras no concreto.

TABELA 3 - Resistências Médias à Tração das Séries de Pilares

Vf fctm (15 dias) fctm / fcm


Série (%) (MPa) (%)
P1a15 0,25 __ __
P1a10 0,25 5,35 6,26
P1a05 0,25 5,20 6,45
P2a15 0,50 5,87 8,17
P2a15-r 0,50 4,68 7,00
P2a10 0,50 6,27 7,84
P2a05 0,50 5,94 7,70
P3a15 1,00 8,58 11,13
P3a10 1,00 8,40 12,91
P3a05 1,00 7,90 11,45
P4a15 0,75 6,55 8,19
P4a10 0,75 7,98 9,25
P4a05 0,75 6,63 8,77
P3p10 0,50 4,89 8,56

• Ensaios com deformação controlada dos corpos-de-prova

Os valores foram obtidos com a média de quatro corpos-de-prova, a menos


do índice de tenacidade que foi obtido com a média de apenas três. Os ensaios com
os corpos-de-prova foram feitos no mesmo dia dos ensaios dos pilares, mas por
problemas de cronograma do Laboratório de Geotecnia, algumas vezes os ensaios
com os corpos-de-prova eram realizados posteriormente aos dos pilares, em questão
de dias. Por isso a diferença de resultados entre as resistências médias à compressão
da tabela 2 com os resultados mostrados na tabela 4, onde é possível encontrar as
resistências médias à compressão, o módulo de elasticidade médio, o coeficiente de
Poisson médio e o índice de tenacidade médio, seguindo a JSCE-SF5 (1984), para o
concreto de cada série de pilares.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 179

Os resultados indicam um aumento do índice de tenacidade com o aumento


da quantidade de fibras adicionadas ao concreto, mesmo nos ensaios à compressão
dos corpos-de-prova.

Para cada série de pilares foram ensaiados 4 corpos-de-prova com controle


de deformação, mas foram selecionados apenas três resultados para que fosse
medido o índice de tenacidade do material.

TABELA 4 - Ensaios com Deformação Controlada

Corpo Taxa de Resistência à Módulo de Coeficiente Índice de


- de - Fibras Compressão Elasticidade De Tenacidade
Prova (%) (MPa) (GPa) Poisson σc (MPa)
P1a15 0,25 __ __ __ __
P1a10 0,25 77,40 29,91 0,19 42,10
P1a05 0,25 76,24 28,81 0,11 43,21
P2a15 0,50 64,96 27,41 0,16 43,30
P2a15-r 0,50 __ __ __ __
P2a10 0,50 69,90 29,64 0,17 46,60
P2a05 0,50 86,97 29,18 0,12 52,86
P3a15 1,00 74,78 31,01 0,12 51,80
P3a10 1,00 69,18 28,17 0,16 55,60
P3a05 1,00 76,17 28,73 0,15 53,32
P4a15 0,75 85,57 30,10 __ 57,23
P4a10 0,75 92,30 29,41 0,21 60,25
P4a05 0,75 81,77 28,71 0,15 53,22
P3p10 0,50 63,69 23,86 0,17 35,56

As curvas força x deslocamento escolhidas para o cálculo dos índices de


tenacidade das séries P1a05, P1a10 e P1a15, cujo concreto tinha 0,25% de taxa
volumétrica de fibras de aço, são mostradas na figura 12.
A ruptura dos corpos-de-prova destas séries se mostraram um pouco bruscas,
em função da alta resistência do concreto e da quantidade de fibras, que foi a menor
utilizada na pesquisa. Nas outras séries a ruptura dos corpos-de-prova foi mais dúctil,
por causa do aumento gradativo da adição de fibras, e quanto maior era esta adição,
menos brusca era a ruptura dos corpos-de-prova.

Em GUIMARÃES (1999), é possível encontrar todos os resultados destes


ensaios, sendo as curvas mostradas isoladamente.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


180 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

Concreto com 0,25% de Taxa de Fibras de Aço


P1a05-10 P1a10-7 P1a15-4
1000 P1a05-8 P1a10-8 P1a15-5
900 P1a05-9 P1a10-9 P1a15-8
800
700
600
Força (kN)

500
400
300
200
100
0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
Deslocamentos (mm)

Figura 12 - Curvas Força x Deslocamentos P1a05, P1a10 e P1a15

Na figura 13 podem ser vistas as curvas dos corpos-de-prova das séries


P2a05, P2a10 e P2a15, que foram escolhidas para o cálculo do índice de tenacidade
das respectivas séries de pilares.

Concreto com 0,50% de Taxa de Fibras de Aço


P2a05-10 P2a10-10 P2a15-4
P2a05-8 P2a10-7 P2a15-5
1000
P2a05-9 P2a10-9 P2a15-7
900
800
700
Força (kN)

600
500
400
300
200
100
0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
Deslocamentos

Figura 13 - Curvas Força x Deslocamentos P2a05, P2a10 e P2a15

Na figura 14 estão as curvas usadas para o cálculo do índice de tenacidade


dos concretos das séries de pilares P3a05, P3a10 e P3a15.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 181

Concreto com 1,00% de Taxa de Fibras de Aço


P3a05-10 P3a10-10 P3a15-7
P3a05-7 P3a10-8 P3a15-8
1000 P3a05-9 P3a10-9 P3a15-9
900
800
700
600
Força (kN)

500
400
300
200
100
0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
Deslocamentos (mm)

Figura 14 - Curvas Força x Deslocamentos P3a05, P3a10 e P3a15

As curvas usadas para o cálculo do índice de tenacidade das séries P4a05,


P4a10 e P4a15 são mostradas na figura 15.

Concreto com 0,75% de Taxa de Fibras de Aço


P4a05-7 P4a10-10 P4a15-10
1000 P4a05-8 P4a10-7 P4a15-8
900 P4a05-9 P4a10-8 P4a15-9

800
700
600
Força (kN)

500
400
300
200
100
0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
Deslocamentos (mm)

Figura 15 - Curvas Força x Deslocamentos P4a05, P4a10 e P4a15

O concreto da última série de pilares ensaiada, P3a10, continha fibras de


polipropileno e as curvas dos ensaios dos corpos-de-prova submetidos à compressão
axial com deformação controlada são mostradas na figura 16.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


182 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

Concreto com 0,50% de Taxa de Fibras de Polipropileno


1000 P3p10-10 P3p10-7 P3p10-9
900
800
700
Força (kN)

600
500
400
300
200
100
0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
Deslocamentos (mm)

Figura 16 - Curvas Força x Deslocamentos P3p10

É possível perceber que com o aumento da adição de fibras, a parte


descendente da curva tensão deformação vai se aproximando do comportamento
elasto-plástico perfeito, mudando a característica do concreto de alta resistência de
um material frágil para um material dúctil.
Pode-se perceber ao comparar os índices de tenacidade do concreto com
fibras metálicas com o concreto com fibras de polipropileno contendo a mesma taxa
volumétrica de 0,50%, que o concreto contendo fibras metálicas, possuindo um valor
maior do índice e apresentado curvas com a parte descendente menos inclinada, é
capaz de absorver mais energia na etapa pós-pico, por conta da maior rigidez da
fibra.

• Resultados dos ensaios dos pilares

Na tabela 5 constam os resultados dos ensaios de pilares de todas as séries


que foram ensaiadas ao longo de aproximadamente um ano de trabalho no
Laboratório de Estruturas.
Como descrito anteriormente, as séries eram diferenciadas pela quantidade
de fibras, tipo e espaçamento entre estribos. A taxa de armadura longitudinal
geométrica, com a seção transversal total, foi constante e igual a 2,41%, e a área do
núcleo, pelo fato dos estribos terem sido dobrados em gabarito, foi a mesma para
todos os modelos, igual a 251,86cm2.
Para cada série de pilares foram ensaiados dois modelos num pórtico de
reação, e o controle da ação sobre os elementos era dado pelo controle de força.
Apenas os pilares da série P3p10 foram ensaiados com controle de deformação, em
máquina de ensaios universal da marca INSTRON, com capacidade para 3.000kN de
força estática.

A figura 17 mostra o comportamento das forças últimas dos pilares com as


taxas volumétricas de fibras que foram utilizadas neste trabalho. É possível notar que

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 183

não houve influência das fibras nas forças últimas dos pilares, nem com acréscimos,
nem com decréscimos. A variação da taxa de armadura transversal também não
provocou aumento na força resistente experimental. Os valores diferenciados para a
taxa de fibras de 0,50%, ocorreram por conta de fatores de ensaios.

TABELA 5 - Resumo dos Ensaios dos Pilares

Vf ρw 0,8Fu,exp ε0,8Fu,exp Fu,exp εu,exp


Pilar Fibras (%) Estribos (%) (kN) ‰ (kN) ‰
P1a15-1 Aço 0,25 φ6,3c/15 0,55 1.958 1,62 2.453 2,07
P1a15-2 Aço 0,25 φ6,3c/15 0,55 2.173 1,50 2.714 2,02
P1a10-1 Aço 0,25 φ6,3c/10 0,82 2.056 1,62 2.581 2,26
P1a10-2 Aço 0,25 φ6,3c/10 0,82 1.864 1,45 2.304 2,06
P1a05-1 Aço 0,25 φ6,3c/05 1,63 1.864 1,53 2.291 2,42
P1a05-2 Aço 0,25 φ6,3c/05 1,63 1.965 1,52 2.449 2,62
P2a15-1 Aço 0,50 φ6,3c/15 0,55 1.763 1,46 2.208 2,09
P2a15-2 Aço 0,50 φ6,3c/15 0,55 1.445 1,23 1.827 1,83
P2a15-1r Aço 0,50 φ6,3c/15 0,55 1.454 1,55 1.840 3,38
P2a15-2r Aço 0,50 φ6,3c/15 0,55 1.457 1,33 1.841 2,31
P2a10-1 Aço 0,50 φ6,3c/10 0,82 2.328 1,47 2.911 2,09
P2a10-2 Aço 0,50 φ6,3c/10 0,82 2.419 1,48 3.028 1,89
P2a05-1 Aço 0,50 φ6,3c/05 1,63 1.987 1,66 2.491 2,48
P2a05-2 Aço 0,50 φ6,3c/05 1,63 2.042 1,74 2.554 2,36
P3a15-1 Aço 1,00 φ6,3c/15 0,55 2.005 1,38 2.509 1,87
P3a15-2 Aço 1,00 φ6,3c/15 0,55 1.870 1,21 2.360 2,03
P3a10-1 Aço 1,00 φ6,3c/10 0,82 1.923 1,47 2.373 2,28
P3a10-2 Aço 1,00 φ6,3c/10 0,82 1.757 1,33 2.164 2,11
P3a05-1 Aço 1,00 φ6,3c/05 1,63 1.856 1,77 2.333 2,91
P3a05-2 Aço 1,00 φ6,3c/05 1,63 1.984 1,55 2.454 2,74
P4a15-1 Aço 0,75 φ6,3c/15 0,55 2.067 1,43 2.584 2,09
P4a15-2 Aço 0,75 φ6,3c/15 0,55 2.091 1,62 2.609 2,30
P4a10-1 Aço 0,75 φ6,3c/10 0,82 2.104 1,38 2.603 1,80
P4a10-2 Aço 0,75 φ6,3c/10 0,82 2.098 1,74 2.598 2,91
P4a05-1 Aço 0,75 φ6,3c/05 1,63 1.754 1,80 2.222 4,97
P4a05-2 Aço 0,75 φ6,3c/05 1,63 1.761 1,69 2.199 2,47
P3p10-2 Polip 0,50 φ6,3c/10 0,82 1.900 3,08 2.391 4,33

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


184 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

3500

3000

2500
c/05-1
2000 c/05-2
Força (kN)

1500
c/10-1
Fu

c/10-2
1000 c/15-1
c/15-2
500

0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25

Taxa de Fibras (%)

Figura 17 - Comportamento das Forças Últimas com as Taxas de Fibras

Na figura 18 é mostrado o comportamento das deformações dos pilares para


as forças últimas, com as diferentes taxas de fibras.
É possível notar a influência da taxa de armadura transversal nas
deformações últimas, indicando ductilidade dada pelos estribos, mesmo com
configuração simples. As fibras tiveram pouca influência quanto às deformações
últimas dos pilares submetidos à compressão axial, o que era esperado.

5,5
5,0
4,5
4,0
Deformação (mm/m)

3,5 c/05-1
3,0 c/05-2
2,5 c/10-1
Fu

2,0 c/10-2
1,5 c/15-1
1,0 c/15-2
0,5
0,0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25

Taxa de Fibras (%)

Figura 18 - Comportamento das Deformações para as Forças Últimas com as Taxas de Fibras

Para justificar as conclusões obtidas, é mostrado na figura 19 o


comportamento das deformações para força obtida à aproximadamente 80% da força
última, onde o pilar encontrava-se em serviço.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 185

2,50
2,25
2,00

Deformação (mm/m)
1,75
c/05-1
1,50 c/05-2

80% de Fu
1,25 c/10-1
1,00 c/10-2
0,75 c/15-1
0,50 c/15-2
0,25
0,00
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25

Taxa de Fibras (%)

Figura 19 – Comportamento das Deformações à 80% das Forças Últimas com as Taxas de
Fibras

É possível perceber, pela figura 19, um crescimento das deformações com o


aumento da taxa de armadura transversal, como foi mostrado na figura 18. Portanto a
influência das fibras em elementos de concreto submetidos à compressão está na
ductilidade dos mesmos, como se viu no comportamento dos pilares quando as
medidas de deformações foram feitas nas barras longitudinais e nas faces dos
mesmos.

• Curvas representativas dos resultados

Na tese de doutorado de GUIMARÃES (1999), no capítulo 4 da tese, são


mostrados os diagramas Força x Deformação, feitos com as leituras dos strain gages
colados nas barras longitudinais, nas faces do pilar na direção longitudinal, em um
estribo, nas faces do pilar na direção transversal, e dos transdutores de deslocamento
fixados verticalmente nas laterais.
Nos diagramas pode ser notado, nas séries P1a15, P1a10 e P1a05, que com
o aumento da taxa de armadura transversal, há aumento nas deformações tanto do
pilar quanto dos estribos. Nas séries P2a15, P2a10, o aumento das deformações não
foi significativo, mas na série P2a05 houve aumento das deformações em relação à
série P1a05.
Observe-se que as deformações ocorridas nos pilares das séries P3a15,
P3a10 e P3a05 foram maiores, e nestas séries a quantidade de fibras adicionadas ao
concreto foi a maior usada na pesquisa. Percebe-se que as barras das armaduras,
tanto longitudinal quanto transversal atingem o escoamento, havendo portanto bom
uso do material.
Na série P4a15 as deformações permaneceram no mesmo patamar que das
séries onde o espaçamento entre estribos era de 15cm, a menos da série P3a15, mas
as séries P4a10 e P4a05 tiveram deformações maiores, tanto dos pilares, quanto dos
materiais, onde o aço atingiu o patamar de escoamento das barras longitudinais e dos
estribos.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


186 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

Ficou evidenciado pelos diagramas que aumentando a ductilidade do concreto


com a adição de fibras, há um aumento significativo nas deformações conjuntas dos
materiais, aço-concreto. Note-se que com o aumento da quantidade de fibras, a
deformação nas barras longitudinais chegou ao escoamento, assim como a
deformação nos estribos, evidenciando melhor aderência aço-concreto.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Análise dos resultados experimentais

A tabela 6 mostra os resultados obtidos experimentalmente, os resultados


obtidos por meio de uma análise teórica, e a relação existente entre eles, onde Fu,exp é
a força última experimental, Fun,teo é a força calculada considerando a seção
transversal do núcleo e Fu,teo é a força calculada considerando a seção transversal
total dos pilares.

TABELA 6 - Análise Teórica dos Resultados dos Ensaios

Vf ρw 0,9fcm Fu,exp Fu,teo Fu,exp Fun,teo Fu,exp


Pilar (%) (%) (MPa) (kN) (kN) / Fu,teo (kN) / Fun,teo
P1a15-1 0,25 0,55 72,93 2.453 3.383 0,73 2.303 1,07
P1a15-2 0,25 0,55 79,03 2.714 3.621 0,75 2.451 1,11
P1a10-1 0,25 0,82 76,92 2.581 3.539 0,73 2.400 1,08
P1a10-2 0,25 0,82 76,92 2.304 3.539 0,65 2.400 0,96
P1a05-1 0,25 1,63 72,61 2.291 3.371 0,68 2.295 1,00
P1a05-2 0,25 1,63 72,61 2.449 3.371 0,73 2.295 1,07
P2a15-1 0,50 0,55 64,67 2.208 3.061 0,72 2.103 1,05
P2a15-2 0,50 0,55 64,67 1.827 3.061 0,60 2.103 0,87
P2a15-1r 0,50 0,55 59,82 1.840 2.871 0,64 1.985 0,93
P2a15-2r 0,50 0,55 59,82 1.841 2.871 0,64 1.985 0,93
P2a10-1 0,50 0,82 71,98 2.911 3.346 0,87 2.280 1,28
P2a10-2 0,50 0,82 71,98 3.028 3.346 0,91 2.280 1,33
P2a05-1 0,50 1,63 69,87 2.491 3.264 0,76 2.229 1,12
P2a05-2 0,50 1,63 69,87 2.554 3.264 0,78 2.229 1,15
P3a15-1 1,00 0,55 69,37 2.509 3.244 0,77 2.217 1,13
P3a15-2 1,00 0,55 69,37 2.360 3.244 0,73 2.217 1,06
P3a10-1 1,00 0,82 58,52 2.373 2.821 0,84 1.954 1,21
P3a10-2 1,00 0,82 58,52 2.164 2.821 0,77 1.954 1,11
P3a05-1 1,00 1,63 62,14 2.333 2.962 0,79 2.041 1,14
P3a05-2 1,00 1,63 62,14 2.454 2.962 0,83 2.041 1,20
P4a15-1 0,75 0,55 71,88 2.584 3.342 0,77 2.277 1,14
P4a15-2 0,75 0,55 71,88 2.609 3.342 0,78 2.277 1,15
P4a10-1 0,75 0,82 77,72 2.603 3.573 0,73 2.421 1,08
P4a10-2 0,75 0,82 77,72 2.598 3.573 0,73 2.421 1,07
P4a05-1 0,75 1,63 67,69 2.222 3.190 0,70 2.183 1,02
P4a05-2 0,75 1,63 67,69 2.199 3.190 0,69 2.183 1,01
P3p10-2 0,50 0,82 51,35 2.391 2.541 0,94 1.780 1,34

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 187

O fato da relação Fu,exp/ Fun,teo ser bem mais próxima de 1,00 do que a relação
Fu,exp/ Fu,teo , indica que a seção resistente do pilar é formada pelo núcleo da seção
transversal, como mostrado por outros pesquisadores, em experiências com pilares
de CAD.

Nesta pesquisa também ficou evidenciado que a resistência última do pilar é


definida pelo núcleo delimitado pelos estribos, quando se adicionam fibras ao CAD.

Para o cálculo da força resistente foi usada a expressão 1, considerando


apenas a seção transversal do núcleo dos pilares.
Para o cálculo da força resistente considerando a seção transversal total,
usou-se a expressão 2.

Fu ,teo = ( Ac − As ) f c + As f y (2)

onde:
Ac = área da seção transversal total do pilar.
COLLINS et al. (1993) propõe um coeficiente K3, multiplicando a parcela
resistente do concreto, para se levar em conta a seção transversal total do pilar,
sendo a fórmula descrita da seguinte maneira:

Fu ,teo = K 3 ( Ac − As ) f c + As f y (3)

onde:

10
K 3 = 0,6 + para fc’ em MPa. (4)
f c'

Na tabela 7 pode ser vista uma análise entre os valores obtidos para a força
resistente teórica, utilizando o coeficiente K3 proposto por COLLINS et al. (1993), com
os resultados experimentais.

A formulação indicada por COLLINS et al. (1993) é baseada na determinação


da resistência à compressão do concreto em ensaios de corpos-de-prova cilíndricos
de 15cm x 30cm. Como nos ensaios realizados para determinação da resistência
média à compressão fcm usaram-se corpos-de-prova de 10cm x 20cm, faz-se um
ajuste em fcm multiplicando-o com o coeficiente 0,95, que é para se levar em
consideração a diferença das dimensões dos corpos-de-prova.
Pode-se perceber pelos resultados que a indicação de COLLINS et al. (1993)
levou a valores contra a segurança, quando comparado com os resultados
experimentais obtidos nesta pesquisa.
A adição de fibras ao concreto diminui sua resistência à compressão, mas
como as taxas de fibras usadas para execução do concreto dos pilares ficaram nos
limites inferiores indicadas pela literatura técnica, não houve diferenciação de uma

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


188 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

resistência ou outra, em função da adição de fibras, sendo necessário um número


maior de ensaios para a indicação de outro coeficiente no lugar de K3 para o cálculo
da força resistente, considerando a seção transversal total e para que fosse levada
em conta a adição de fibras ao concreto

TABELA 7 - Análise Teórica Segundo COLLINS et al. (1993)

Vf 0,95fcm Fu,exp Fu,teo Fu,exp


Pilar (%) (MPa) K3 (kN) (kN) / Fu,teo
P1a15-1 0,25 76,98 0,730 2.453 2.730 0,90
P1a15-2 0,25 83,42 0,720 2.714 2.881 0,94
P1a10-1 0,25 81,20 0,723 2.581 2.828 0,91
P1a10-2 0,25 81,20 0,723 2.304 2.828 0,82
P1a05-1 0,25 76,65 0,730 2.291 2.720 0,84
P1a05-2 0,25 76,65 0,730 2.449 2.720 0,90
P2a15-1 0,50 68,26 0,747 2.208 2.527 0,87
P2a15-2 0,50 68,26 0,747 1.827 2.527 0,72
P2a15-1r 0,50 63,14 0,758 1.840 2.405 0,77
P2a15-2r 0,50 63,14 0,758 1.841 2.405 0,77
P2a10-1 0,50 75,98 0,732 2.911 2.707 1,08
P2a10-2 0,50 75,98 0,732 3.028 2.707 1,12
P2a05-1 0,50 73,75 0,736 2.491 2.655 0,94
P2a05-2 0,50 73,75 0,736 2.554 2.655 0,96
P3a15-1 1,00 73,23 0,737 2.509 2.643 0,95
P3a15-2 1,00 73,23 0,737 2.360 2.643 0,89
P3a10-1 1,00 61,77 0,762 2.373 2.374 1,00
P3a10-2 1,00 61,77 0,762 2.164 2.374 0,91
P3a05-1 1,00 65,59 0,753 2.333 2.464 0,95
P3a05-2 1,00 65,59 0,753 2.454 2.464 1,00
P4a15-1 0,75 75,88 0,732 2.584 2.704 0,96
P4a15-2 0,75 75,88 0,732 2.609 2.704 0,97
P4a10-1 0,75 82,13 0,722 2.603 2.851 0,91
P4a10-2 0,75 82,13 0,722 2.598 2.851 0,91
P4a05-1 0,75 71,76 0,739 2.222 2.606 0,85
P4a05-2 0,75 71,76 0,739 2.199 2.606 0,84
P3p10-2 0,50 54,21 0,785 2.391 2.197 1,09

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 189

4.2 Análise dos resultados experimentais e numéricos

4.2.1 Modelagem dos pilares

Foi utilizado o programa ANSYS (1997), que considera o método dos


elementos finitos, para fazer uma análise numérica do comportamento Força x
Deformação dos pilares.
Adotou-se um elemento finito sólido para representar o concreto, o solid45, e
um elemento de barra tridimensional representando as barras longitudinais e os
estribos, o beam3. As dimensões dos pilares foram as mesmas com a seção
transversal de 20cm x 20cm e altura de 120cm.
A vinculação escolhida para simular os ensaios experimentais foi de se
impedir todos os movimentos do elemento em uma das extremidades, ou seja
engastando-a, e na outra foi aplicado um deslocamento na direção paralela ao
comprimento do pilar e mais um impedimento nos 4 pontos que definem a seção
transversal do elemento, para que não houvesse flexão do pilar ao longo do processo
numérico de aplicação da ação.
Foi possível dar ao programa os dados experimentais dos materiais, como as
curvas Tensão x Deformação dos aços, barras de 12,5mm e 6,3mm que foram as
mesmas para todos os modelos, e do concreto, que variou de modelo para modelo.
Na figura 20a, é mostrada a discretização dos modelos de pilares contendo
espaçamento entre estribos de 5cm. A discretização em elementos finitos dos pilares
contendo espaçamento de 10cm entre estribos pode ser vista na figura 20b. E por
último a vista da discretização dos modelos de pilares com espaçamento entre
estribos de 15cm na figura 20c.
Na figura 21 pode ser vista a distribuição das tensões de compressão na
direção longitudinal (eixo z) do pilar representando a série P1a15. Para as outras
séries, a distribuição foi similar na figura citada.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


190 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

(a) (b) (c)

Figura 20 - Discretização dos Pilares conforme o Espaçamento entre Estribos

Na figura 22, mostra-se a composição da armadura, em barras longitudinais e


transversais, onde na figura 22a os estribos estão espaçados 5cm entre si.
A figura 22b mostra os arranjos onde os estribos tem espaçamento de 10cm e
na figura 22c, o espaçamento é de 15cm entre os estribos.

Figura 21 - Distribuição das Tensões - Ilustração Geral

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 191

(a) (b)

(c)

Figura 22 - Discretização da Armadura

4.2.2 Gráficos ilustrativos

As figuras de 23 a 34 mostram a análise entre os diagramas Força x


Deformação dos pilares obtidos experimentalmente e os resultados obtidos por
análise numérica.
Pode-se perceber que as forças resistentes obtidas com o procedimento
numérico ficaram sempre com valores acima das forças últimas experimentais. Isto
ocorreu porque o processo numérico foi feito considerando-se a seção total do pilar,
enquanto que na análise feita no item 4.1.1, percebeu-se que a seção resistente do
pilar é formada pelo núcleo da seção transversal.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


192 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

4000

3500

3000
Força (kN) 2500

2000
P1a05-1
1500 P1a05-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 23 - Análise Experimental e Numérica da Série P1a05

4000

3500

3000

2500
Força (kN)

2000
P1a10-1
1500
P1a10-2
1000 Numérico
500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 24 - Análise Experimental e Numérica da Série P1a10

4000

3500

3000

2500
Força (kN)

2000
P1a15-1
1500 P1a15-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0

Deformação (mm/m)

Figura 25 - Análise Experimental e Numérica da Série P1a15

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 193

4000

3500

3000

2500

Força (kN)
2000
P2a05-1
1500 P2a05-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0

Deformação (mm/m)

Figura 26 - Análise Experimental e Numérica da Série P2a05

4000

3500

3000

2500
Força (kN)

2000
P2a10-1
1500 P2a10-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 27- Análise Experimental e Numérica da Série P2a10

4000

3500

3000

2500
Força (kN)

2000
P1a15-1
1500
P1a15-2
1000 P1a15-1r
P1a15-2r
500
Numérico
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 28 - Análise Experimental e Numérica da Série P2a15

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


194 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

4000

3500

3000
Força (kN) 2500

2000
P3a05-1
1500 P3a05-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 29 - Análise Experimental e Numérica da Série P3a05

4000

3500

3000

2500
Força (kN)

2000
P3a10-1
1500 P3a10-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 30 - Análise Experimental e Numérica da Série P3a10

4000

3500

3000

2500
Força (kN)

2000
P3a15-1
1500 P3a15-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 31 - Análise Experimental e Numérica da Série P3a15

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 195

4000

3500

3000

2500

Força (kN)
2000

1500
P4a05-1
1000 P4a05-2
500 Numérico

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 32 - Análise Experimental e Numérica da Série P4a05

4000

3500

3000

2500
Força (kN)

2000
P4a10-1
1500 P4a10-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 33 - Análise Experimental e Numérica da Série P4a10

4000

3500

3000

2500
Força (kN)

2000
P4a15-1
1500 P4a15-2
1000 Numérico

500

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Deformação (mm/m)

Figura 34 - Análise Experimental e Numérica da Série P4a15

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


196 Ana Elisabete Paganelli Guimarães & José Samuel Giongo

5 CONCLUSÕES

Após a execução dos ensaios pilotos verificou-se que as fibras metálicas que
foram utilizadas no concreto, com 2,4cm de comprimento, não foram arrancadas e sim
rompidas. Optou-se então por trabalhar com fibras mais longas, de 6,0cm de
comprimento, seguindo indicação que o comprimento das fibras deveria ser de duas a
três vezes o diâmetro máximo do agregado graúdo. Com a mudança das dimensões
das fibras, o concreto passou a ter aumento de tenacidade, e isto foi verificado pela
forma de ruptura dos pilares, que foi mais dúctil, com as fibras sendo arrancadas e
não mais rompidas.
Nos ensaios com deformação controlada dos corpos-de-prova pôde ser
observado que, quanto maior a adição de fibras no concreto, maior o índice de
tenacidade e a resistência à tração também era maior nos ensaios feitos com
compressão diametral.
Isto também foi verificado nos ensaios dos pilares onde, com a
instrumentação colocada no concreto nas faces dos pilares, puderam ser medidas as
deformações na direção transversal. Foi observado que na proximidade da ruína
houve aumento das deformações nos estribos da mesma maneira que no concreto,
ou seja, na proporção crescente com a quantidade de fibras adicionadas ao concreto,
e ficando muito claro para as séries com maior taxa de fibras adotada na pesquisa
(1%), evidenciando assim a ductilização dos pilares.

O aumento da quantidade de fibras no concreto aumentou discretamente a


deformabilidade do pilar como um todo. O aumento das deformações ficou
evidenciado em função do aumento da taxa de armadura transversal.

Foi notado que a armadura longitudinal teve maiores deformações, no estágio


próximo à ruína, e para algumas séries também em serviço, do que as deformações
obtidas em LIMA (1997). Este aumento também pode ser notado comparando-se os
gráficos das séries de pilares desta pesquisa, com relação ao aumento da taxa de
fibras e da armadura transversal.
Percebeu-se nos ensaios que o cobrimento não é destacado antes da ruptura.
As fibras fizeram um elo de ligação não permitindo a ruptura do concreto do
cobrimento com uma força menor que a de ruína, como acontecia com os pilares de
concreto de alto desempenho sem adição de fibras, onde ocorria a ruptura do núcleo
depois da ruptura do cobrimento, como foi observado por AGOSTINI (1995),
CUSSON & PAULTRE (1994) e LIMA, GIONGO & TAKEYA (1997), nos ensaios de
pilares com concreto de alto desempenho, porém, sem adição de fibras.
O ângulo de ruptura do núcleo de concreto confinado varia de 25o a 45o,
dependendo da intensidade do confinamento do núcleo, sendo maior o ângulo quanto
menor o confinamento, e isto foi verificado nos ensaios desta pesquisa, com a maioria
dos casos ocorrendo com ângulos de 450. Isto pode ser observado em GUIMARÃES
(1999).

Assim, como foi verificado por outros pesquisadores, apenas o núcleo dos
pilares, delimitado pelos estribos, formou a seção resistente aos esforços normais de
compressão. Nos pilares feitos com concreto de alta resistência com fibras metálicas
a conclusão não foi diferente, ou seja, apenas o núcleo da seção transversal

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


Análise de pilares de concreto de alta resistência com adição de fibras metálicas... 197

contribuiu para absorver a força atuante. Isto pôde ser comprovado também na
análise numérica onde, considerando-se a seção transversal total dos modelos, a
força resistente obtida foi maior que a força última experimental, mostrado nos
diagramas Tensão x Deformação do capítulo 5.

Indica-se o uso de no máximo h/2 para o espaçamento entre estribos, onde h


é a altura da seção transversal do pilar, visto que para os pilares com espaçamento
entre estribos a cada 15cm houve ductilidade na ruptura apenas para a taxa de fibras
de 1%, assim mesmo com a flambagem da armadura longitudinal.
Pôde-se perceber, pelos diagramas das séries de pilares mostrados no
capítulo 4, que à partir da adição de 0,75% de taxa de fibras metálicas, houve ganho
nas deformações das armaduras, que chegaram ao patamar de escoamento.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGOSTINI, L. R. S. (1992). Pilares de concreto de alta resistência. São Paulo. Tese


(Doutorado) - EPUSP.

ANSYS (1997). version 5.4. Houston, USA.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1978). NB 1 – Projeto e


execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro.

COLLINS, M.P.; MITCHELL, D.; MacGREGOR, J.G. (1993). Structural design


considerations for high-strength concrete. Concrete International, v.15, n.1, p.27-34.

CUSSON, D.; PAULTRE, P. (1994). High-strength concrete columns confined by


retangular ties. Journal of Structural Engineering, ASCE, v.120, n.3, p.783-804, Mar.

GUIMARÃES, A.E.P. (1999). Análise de pilares de concreto de alta resistência


com adição de fibras metálicas submetidos à compressão centrada. São Carlos.
Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

LIMA, F.B. (1997). Pilares de concreto de alto desempenho: fundamentos e


experimentação. São Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo.

LIMA, F.B.; GIONGO, J.S.; TAKEYA, T. (1997) Análise experimental de pilares de


concreto de alto desempenho solicitados à compressão centrada. In: REUNIÃO DO
INSTITUTO BRASILEIRO DO CONCRETO, 39., São Paulo. Anais.

THE JAPAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS (1984). JSCE-SF5 - Method of tests


for compressive strenght and compressive toughness of steel fiber reinforced
concrete. Part III-2 Method of tests for steel fiber reinforced concrete, n.3, June.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, n. 21, p. 167-197, 2003.


CADERNOS DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS
(Números Publicados)
http://www.set.eesc.usp.br/cadernos
No. Ano
20 2002 ESTRUTURAS METÁLICAS
• MOTTA, L.A.C.; MALITE, M. Análise da segurança no projeto de estruturas: método dos
estados limites.
• ARAÚJO, E.C.; CALIL JR., C. Critérios de dimensionamento de tremonhas piramidais
para silos metálicos elevados.
• SOUZA, A.S.C.; GONÇALVES, R.M. Contribuição ao estudo das estruturas metálicas
espaciais.
• VENDRAME, A.M.; GONÇALVES, R.M. Análise numérica e experimental de estruturas
espaciais constituídas de barras de extremidades estampadas: estudo dos nós.
• MAIOLA, C.H.; MALITE, M. Análise teórica e experimental de treliças metálicas espaciais
constituídas por barras com extremidades estampadas.
• AGUIAR, E.O.; BARBATO, R.L.A. Análise da estrutura de cabos da cobertura do
pavilhão da Feira Internacional de Indústria e Comércio – Rio de Janeiro.
• JAVARONI, C.E.; GONÇALVES, R.M. Perfis de aço formados a frio submetidos à flexão:
análise teórico-experimental.
19 2002 ESTRUTURAS DE CONCRETO
• ALBUQUERQUE, A.T.; PINHEIRO, L.M. Viabilidade econômica de alternativas estruturais
de concreto armado para edifícios.
• PANIAGO, D.G.; HANAI, J.B. Análise estrutural de reservatórios enterrados de
argamassa armada com telas de aço soldadas.
• PRADO, J.F.M.A.; CORRÊA, M.R.S. Estruturas de edifícios em concreto armado
submetidas a ações de construção.
• NASCIMENTO NETO, J.A.; CORRÊA, M.R.S. Análise tridimensional de edifícios em
alvenaria estrutural submetidos à ação do vento.
• TEIXEIRA, P.W.G.N.; HANAI, J.B. Projeto e execução de coberturas em casca de
concreto com forma de membrana pênsil invertida e seção tipo sanduíche.
• OLIVEIRA, R.S.; CORRÊA, M.R.S. Análise de pavimentos de concreto armado com a
consideração da não-linearidade física.
• PINTO, R.S.; RAMALHO, M.A. Não-linearidade física e geométrica no projeto de edifícios
usuais de concreto armado.
• CRESCE, S.H.; VENTURINI, W.S. Internal force evaluation for Reissneir-Mindlin plates
using the boundary element method.
18 2002 ESTRUTURAS DE MADEIRA
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por chapas com dentes estampados.
• OKIMOTO, F.S.; CALIL JR., C. Pontes protendidas de madeira.
• STAMATO, G.C.; CALIL JR., C. Resistência ao embutimento da madeira compensada.
• LOGSDON, N.B.; CALIL JR., C. Influência da umidade nas propriedades de resistência e
rigidez da madeira.
• FERREIRA, N.S.S.; CALIL JR., C. Estruturas lamelares de madeira para coberturas.
17 2001 ESTRUTURAS DE CONCRETO PRÉ-MOLDADO
• ARAÚJO, D.L., EL DEBS, M.K. Cisalhamento na interface entre concreto pré-moldado e
concreto moldado no local em vigas submetidas à flexão.
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