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VITAMINA C E PERFORMANCE: UMA REVISÃO

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Rafael Longhi
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VITAMINA C E PERFORMANCE: UMA REVISÃO

Luciana de Quadros1
Rafael Longhi Sampaio de Barros1

RESUMO ABSTRACT

Objetivo: Apresentar uma revisão sobre as Vitamin c and performance: a review


evidências que embasam o consumo de
vitamina C para desportistas e atletas que Aim: To present a review of the evidences that
visam a melhoria da performance. Síntese de supports the consumption of vitamin C for
dados: A vitamina C é um micronutriente sportsmen and athletes aiming improvement in
essencial com várias funções biológicas performance. Data synthesis: Vitamin C is an
importantes. Além de ser considerado um essential micronutrient with several and
potente antioxidante que elimina espécies important biological functions. In addition to
reativas de oxigênio e nitrogênio. Dentre being considered a potent antioxidant that
outras funções, a vitamina C reduz os eliminates reactive oxygen and nitrogen
sintomas das gripes e resfriados, acelerando o species. Among other functions, vitamin C
processo de recuperação e tem um efeito reduces the symptoms of colds and flu,
anticatabólico. Esse efeito tem importância accelerating the recovery process and has an
fundamental para os praticantes de atividade anti-catabolic effect. This effect has
física. Considerando-se que a vitamina C fundamental importance for the physically
participa como cofator na biossíntese de active. Considering that vitamin C participates
carnitina, hormônios esteróides e as a cofactor in carnitine biosynthesis, steroid
neurotransmissores, estabeleceu-se a ideia de hormones and neurotransmitters, it has been
que a necessidade desse nutriente estaria established the idea that the need for this
aumentada em pessoas engajadas em nutrient would increase for people engaged in
exercícios físicos intensos ou estresse strenuous exercise or frequent stress. Because
frequente. Devido a isso, essa revisão visa of this, this paper aims to investigate the role of
investigar a atuação desse micronutriente na this micro-nutrient in performance. Data
performance. Fontes de dados: Foi realizada sources: A literature review on the topic was
revisão bibliográfica sobre o tópico, tendo sido held, having been consulted articles selected
consultados artigos selecionados a partir das from references of books, Scielo, Nutrire,
bases de livros, Scielo, Nutrire, Pubmed, The Pubmed, The American Journal of Clinical
American Journal Of Clinical Nutrition, Nutrition, Brazilian Society of Sports Medicine.
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Conclusion: The importance of vitamin C in the
Conclusão: A importância da vitamina C na diet is indisputable, but more research is
alimentação é indiscutível, porém mais needed to clarify whether supplementation of
pesquisas são necessárias para esclarecer se this micro-nutrient actually leads to
a suplementação desse micronutriente performance optimization.
realmente acarreta na otimização da
perfomance. Key words: Ascorbic Acid. Bioavailability.
Oxidative Stress. Supplementation. Toxicity.
Palavras-chave: Ácido Ascórbico.
Biodisponibilidade. Estresse Oxidativo.
Suplementação. Toxicidade. 2-Professor do Centro Universitário Metodista -
IPA/RS, Pesquisador do Laboratório de
Neurociências do Departamento de
Bioquímica-UFRGS, Rio Grande do Sul, Brasil.
1-Nutricionista pela Universidade de Caxias do
Sul-UCS, Pós-graduanda em Nutrição Clínica
e Esportiva pelo Instituto de Pesquisas, Ensino E-mail dos autores:
e Gestão em Saúde-IPGS, Rio Grande do Sul, luci.quadros@gmail.com
Brasil. rafael@longhinutricaoesportiva.com.br

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INTRODUÇÃO e atletas, que visam a melhoria da


performance e como critérios de exclusão,
A prática regular de atividade física artigos que não utilizaram o exercício como
associada a uma dieta balanceada pode ser parte da metodologia e não citavam vitamina C
importante fator na promoção da saúde. como critério de análise.
Todavia, a frequente realização de exercícios
físicos de alta intensidade ou exaustivos pode O papel da vitamina C
aumentar a suscetibilidade a lesões, promover
a fadiga crônica e overtraining, parcialmente Uma dieta rica em alimentos fonte de
em razão da elevada síntese de espécies vitamina C baseia-se em frutas cítricas/ácidas
reativas de oxigênio (Cruzat e colaboradores, ou seus sucos (acerola, laranja, abacaxi, caju,
2007). goiaba, manga, maracujá, limão), frutas
A busca pela melhora na performance vermelhas, pimentões verdes e vermelhos,
de atletas e desportistas vem sendo discutida tomate, brócolis e vegetais folhosos, como o
a fim de encontrar nutrientes que otimizem os espinafre (Rique e colaboradores, 2002).
resultados sem provocar toxicidade ao A recomendação de vitamina C é fácil
usuário. de ser alcançada desde que se consuma um
A vitamina C é um micronutriente alimento fonte diariamente. As RDA’s de
essencial com várias funções biológicas vitamina C são de 90 mg para homens e 75
importantes, sendo cofator para a biossíntese mg para mulheres. A absorção de vitamina C é
do colágeno, cartinina, neurotransmissores e cerca de 70% a 90% da ingestão quando a
também de hormônios peptídicos (Carr e quantidade ingerida está na faixa de 30 a 180
colaboradores, 2013). mg/dia. Entretanto, quando a quantidade é em
Segundo Guimarães Neto (2009), a torno de 1gr, a absorção é reduzida em 50%
vitamina C tem efeito anticatabólico e acelera (Vitolo, 2008).
a recuperação muscular (Guimarães Neto, As recomendações mais recentes de
2009). vitamina C, de acordo com a National
Dessa forma, esse artigo apresenta Academy of Sciences, são de 75mg para
uma revisão sobre a atuação da vitamina C no mulheres e 90mg para homens, sendo que
organismo e seu possível efeito no aumento fumantes podem requerer 35mg extras. O
da performance de praticantes de atividade consumo máximo tolerado pelo organismo
física. diariamente é de 2.000 mg (Rique e
colaboradores, 2002).
MATERIAIS E MÉTODOS Deruelle (2008), relata que a dose
diária recomendada (RDA) de vitamina C é
O presente trabalho foi uma revisão menor do que as necessidades corporais. Na
criteriosa a partir de artigos científicos verdade, ele parece não garantir a proteção da
nacionais e internacionais, todos indexados saúde verdadeira e parece difícil de alcançar
entre os anos de 2000 e 2015, além de livros uma dose eficaz de vitamina C só através do
especializados da área. Foram utilizadas às consumo de alimentos (Deruelle, 2008).
bases de dados Pubmed, Scielo, Lilacs, Segundo Gomes, a vitamina C
Bireme, para a busca das referências citadas. também é um agente redutor forte, devido à
Para a pesquisa os conectores “and”, sua facilidade em doar elétrons, com
“or” e “not” foram relacionados com as propriedades antioxidantes importantes. Ela
seguintes palavras-chave, na língua inglesa e pode inativar uma grande variedade de
em português: “ácido ascórbico” (ascorbic espécies reativas de minimizar os danos para
acid), “biodisponibilidade” (bioavailability), os tecidos do corpo. (Gomes e colaboradores,
“estresse oxidativo” (oxidative stress), 2012).
“performance” (performance), “radicais livres” A vitamina C, dentre outros efeitos,
(free radicals), “suplementação” reduz os sintomas das gripes e resfriados,
(supplementation), “toxicidade” (toxicity), acelerando o processo de recuperação e tem
“vitamina C” (vitamin C). um efeito anticatabólico. Esse efeito
Os critérios de inclusão utilizados anticatabólico tem importância fundamental
foram estudos que avaliaram o consumo e a para os praticantes de musculação
suplementação de vitamina C por desportistas (Guimarães Neto, 2009).

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A vitamina C como antioxidante exercício, a produção de espécies reativas


ocorre principalmente através da contração
O ácido ascórbico é considerado um muscular (esquelético e cardíaco), outros
potente antioxidante, que elimina espécies mecanismos, tais como, processos
reativas de oxigênio e nitrogênio (Lira e inflamatórios e aumento da liberação de
colaboradores, 2012). catecolaminas, que podem ocorrer com o
Os antioxidantes são substâncias que exercício, também desempenham um papel
contribuem para a redução dos efeitos do importante na geração de espécies reativas
estresse e da falta de oxigênio provocadas (Gomes e colaboradores, 2012).
pelo exercício, formando complexos que Em relação ao exercício agudo, tanto
diminuem as reações produtoras de radicais exercício aeróbio e anaeróbio pode resultar
livres (Navas e colaboradores, 2000). em produção aumentada de radicais livres,
Os radicais livres são moléculas mas o estresse oxidativo agudo nem sempre
instáveis, sem um par de elétrons nas suas pode ser visto.
órbitas exteriores e são altamente reativos, A produção de espécies reativas de
podendo causar processos traumáticos nos oxigênio é positivamente dependente da carga
tecidos provocados por diversas reações. O (intensidade×duração) do exercício. Sugere-se
exercício físico intenso e continuo é que elevadas espécies reativas de oxigênio
acompanhado pela produção de radicais produzidas por ataques agudos de exercício,
livres, podendo provocar danos musculares podem ser prejudiciais para o sistema imune.
seguidos pelo processo inflamatório, No entanto, o exercício crônico produz
restringindo a função muscular (Navas e adaptações fisiológicas capazes de regular o
colaboradores, 2000). sistema antioxidante (Gomes e colaboradores,
Estudos experimentais sugerem um 2012).
papel fundamental do estresse oxidativo na
aterogênese: danos mediados por radicais A vitamina C relacionada ao estresse
livres induzem alterações oxidativas nas oxidativo
partículas de colesterol de baixa densidade
que iniciam e promovem alterações A vitamina C controla uma substância
ateroscleróticas. Este processo pode ser produzida pelo organismo denominada
prevenido ou revertido através da utilização de cortisol. Esse é um hormônio liberado, quando
antioxidantes (Sarmento e colaboradores, uma pessoa entra em estresse e também
2013). quando elevados esforços físicos são
Considerando-se que o ácido realizados, como um treinamento pesado.
ascórbico participa como cofator na Esse hormônio é antagonista à testosterona.
biossíntese de carnitina, hormônios esteroides De fato, a liberação de cortisol suprime
e neurotransmissores, estabeleceu-se a ideia a testosterona natural produzida em nosso
de que os requerimentos desse nutriente organismo. Inicia-se então, uma disputa entre
estariam aumentados entre pessoas esses dois hormônios; enquanto o cortisol tem
engajadas em exercícios físicos intensos ou um efeito catabólico, a testosterona tem um
estresse frequente. Mas parece que não há efeito anabólico (Guimarães Neto, 2009).
evidências para acreditarmos nessa hipótese Ao analisar a literatura disponível,
(Vitolo, 2008). existem alguns resultados diferentes em
relação às taxas de estresse oxidativo como o
Atividade física e consumo de resultado de desempenho do exercício. Isso é
antioxidantes compreensível, porque a variedade de fatores
pode influenciar a taxa oxidativa, tais como os
As causas do aumento da produção grupos musculares recrutados, os modos de
de radicais livres durante o exercício não contração, a intensidade do exercício, a
foram totalmente esclarecidas. Apesar de duração do exercício, bem como a população
vários mecanismos identificados, ainda há se exercitar (Gomes e colaboradores, 2012).
uma falta de compreensão de como cada um
deles contribui para a quantidade total de
estresse oxidativo produzido. Por exemplo,
embora o consenso geral seja que, durante o

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Suplementação de vitamina C não diferiram entre os grupos (Thompson e


colaboradores, 2003).
Segundo o Deruelle (2008), a literatura A vitamina C, também é conhecida
mostra que a ingestão de vitamina C mais para regenerar outros antioxidantes, tais como
elevada do que a RDA é segura. Por vitamina E, glutationa, de volta para o seu
conseguinte, a fim de conquistar saúde e estado de redutor. Assim, ocorre a
evitar uma série de doenças, sugere-se que, manutenção de uma rede equilibrada de
na presente situação, a suplementação de antioxidantes (Rietjens e colaboradores,
vitamina C é necessária. 2002).
De acordo com a literatura atual, o Com base no estudo realizado por
autor enfatiza que, para garantir um subsídio Carr e colaboradores (2013), os resultados
ideal de vitamina C, aconselha 1gr diária de encontrados demonstraram que o uso deste
suplementação de vitamina C, acompanhado nutriente dentro das recomendações diárias
por uma dieta rica em frutas e legumes preestabelecidas foi suficiente para saturar o
(Deruelle, 2008). tecido muscular, sendo a suplementação não
Palmer e colaboradores (2003), dietética desnecessária para a reposição diária
verificaram que a suplementação com (Carr e colaboradores, 2013).
1.500mg de vitamina C/dia por sete dias antes Estudos têm demonstrado
e durante uma ultramaratona não atenuou o recentemente que a suplementação com
estresse oxidativo após a prova (Palmer e antioxidantes pode interferir com a sinalização
colaboradores, 2003). celular induzida pelo exercício nas fibras
Thompson e colaboradores (2001), a musculares esqueléticas. Por exemplo, Furlan
partir de uma sessão de exercício não e Pastor-Valero (2004) investigaram se a
habitual, avaliaram o efeito de duas semanas doses elevadas de vitamina C afeta a
de suplementação com vitamina C sobre a adaptação ao exercício físico de resistência
recuperação. O grupo suplementado recebeu tanto em um animal e um modelo humano
duas doses de 200mg de vitamina C/dia e, (1000 mg/dia do estudo humano; participantes
duas semanas após o início da do sexo masculino).
suplementação, os indivíduos foram Curiosamente, o desempenho de
submetidos a um protocolo de exercício resistência aumentou em maior medida nos
intenso e prolongado. animais tratados com o placebo, em
A concentração de CK e de mioglobina comparação com os animais tratados com
não foi alterada pela suplementação. Todavia, vitamina C.
a suplementação atenuou a dor muscular, Assim, a suplementação com altas
beneficiando a recuperação da função do doses de vitamina C e E parece diminuir
músculo (Thompson e colaboradores, 2001). algumas das adaptações induzidas pelo
Em outro trabalho, Thompson e treinamento de endurance dos músculos-
colaboradores (2003), investigaram o efeito da esqueléticos. Sugerimos que altas doses de
suplementação pós-exercício com vitamina C antioxidantes isolados devem ser usadas com
sobre a recuperação, a partir da realização de precaução em indivíduos que são
uma sessão de exercício intenso, prolongado simultaneamente envolvidos em treinamento
e não habitual. Imediatamente após a de resistência (Paulsen e colaboradores,
atividade, o grupo suplementado ingeriu 2014).
200mg de vitamina C. Essa intervenção Higashida e colaboradores (2011),
nutricional foi repetida mais uma vez no estudaram o efeito da combinação vitamina C
mesmo dia e na manhã e noite dos dois dias (750 mg /kg de peso corporal/dia) e vitamina E
seguintes. (150 mg kg de peso corporal/dia)
A concentração de vitamina C no suplementada sobre as respostas adaptativas
plasma do grupo suplementado aumentou induzidas pelo treinamento de mitocôndrias
uma hora após o término do exercício e musculares e sensibilidade à insulina em
permaneceu elevada durante três dias pós- ratos.
exercício. As concentrações de CK e Com base nos resultados deste
mioglobina, entretanto, não foram afetadas estudo, a suplementação de vitamina C e E
pela suplementação, sendo que tanto a dor, não tem um efeito inibitório ou um efeito
quando a recuperação da função muscular, promotor sobre as respostas adaptativas

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relacionadas com mitocôndrias e metabolismo dos ensaios foi realizado exercício agudo na
da glicose do músculo esquelético ao exercício bicicleta (1h em 65% de potência máxima),
crônico (Higashida e colaboradores, 2011). antes e após 12 semanas de treino
Ryan e colaboradores (2010), explorou progressivo exercício de resistência.
os efeitos da estimulação elétrica crônica, O estresse oxidativo, avaliado pela
juntamente com suplementação de vitamina C concentração de proteína do plasma, foi em
e vitamina E na homeostase e função geral mais elevado no VT em comparação
muscular em ratos jovens (7 machos por grupo com o grupo de PL. Em conclusão, os
etário até 3 meses) e ratos velhos (7 machos resultados indicam que, embora a
por grupo com idades até 30 meses). Os ratos suplementação de vitamina C e E possa
não treinados foram submetidos a 80 ações atenuar os aumentos em plasma da IL-6,
máximas concêntrico-excêntricas por sessão, induzidos pelo exercício, não há efeito aditivo
três vezes por semana durante 4,5 semanas. claro quando combinado com o treinamento de
A suplementação de vitamina C (20 resistência (Yfanti e colaboradores, 2012).
g/kg de peso corporal/dia) e vitamina E (30 g No estudo de Theodorou e
kg de peso corporal/dia) suplementação colaboradores (2011), um grupo de homens
começou uma semana antes da primeira recebeu suplementação via oral diária de
sessão de estimulação eléctrica. Em resumo, vitamina C e vitamina E (n = 14) e o grupo
a suplementação de vitamina C e E resultou placebo (n = 14) por 11 semanas (iniciado 4
na redução do estresse oxidativo induzido por semanas antes do teste de esforço pré-
estimulação elétrica e um melhor trabalho treinamento e continuou até o teste de
concêntrico em ratos velhos, mas não nos exercício pós-treino).
ratos jovens (Ryan e colaboradores, 2010). Após o teste de linha de base, os
Um estudo determinou os efeitos de sujeitos realizaram uma sessão de exercício
quatro semanas suplementando vitamina C excêntrico 2 vezes/semana, durante 4
(1000 mg/dia) no desempenho de humanos semanas. Antes e após o exercício excêntrico
moderadamente treinados (7 homens no grupo crônico, os indivíduos foram submetidos a uma
placebo com idades entre 23 anos e 8 homens sessão de exercício excêntrico agudo.
do sexo masculino no grupo suplementado Medidas fisiológicas foram realizadas e foram
com idade de 21 anos). Foi implementado um coletadas amostras de sangue e amostras de
protocolo de corrida intervalado de alta biópsia muscular. Os resultados não apoiaram
intensidade com duração de quatro semanas. qualquer efeito da suplementação
O nível de vitamina C antes e após a antioxidante. A completa falta de qualquer
suplementação não foi determinada. O efeito sobre as medidas de resultados
treinamento melhorou tanto o VO2 máximo e fisiológicos e bioquímicos utilizados, levanta
desempenho, medidos por vários testes de questões sobre a validade do uso de
aptidão física. Além disso, e como seria de suplementação antioxidante oral como um
esperar, o treinamento aumentou a taxa de modulador redox do músculo e do estado
oxidação de gordura e diminuição da taxa de redox em humanos saudáveis (Theodorou e
oxidação de carboidratos durante o exercício colaboradores, 2011).
agudo. Em conclusão, a suplementação de
vitamina C durante quatro semanas de Toxicidade da vitamina C
treinamento intervalado não afetou melhorias
induzidas pelo treinamento no desempenho do Acredita-se que, em função do
exercício de seres humanos (Roberts e excesso ser excretado, o consumo excessivo
colaboradores, 2011). é inócuo. Não há evidências comprovadas de
Outro estudo analisou o efeito de que a ingestão de vitamina C é cancerígena e
vitaminas antioxidantes sobre a teratogênica. Revisão sobre o assunto
regulamentação da expressão de interleucina- mostrou que altas doses de vitamina C têm
6 nos músculos e na circulação em resposta baixa toxicidade.
ao exercício agudo antes e depois de alta Foram demonstrados efeitos adversos
intensidade de treinamento de endurance. com doses bem elevadas, acima de 3 gr/dia,
Vinte e um homens jovens saudáveis foram os quais incluem diarreia, distúrbios
divididos em dois grupos: VT (vitamina C e E, gastrintestinais, aumento da excreção de
n = 11) e grupo placebo (PL, n = 10). Em um oxalato, formação de cálculo renal e aumento

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na excreção urinária de ácido úrico, efeitos ingestão de vitamina C e/ou E no desempenho


pró-oxidativos e efeitos de abstinência (esse de exercícios e da homeostase redox, uma
efeito refere-se ao fato de a pessoa regular o suplementação permanente de doses de
sistema para absorver pequena parte das altas vitamina C e/ou E pode não ser recomendada
doses disponíveis; quando a pessoa para de para praticantes de atividade física (Michalis e
tomar as altas doses, o organismo não colaboradores, 2012).
absorve a quantidade pequena que passa a Embora estudos demostrem a eficácia
ser ingerida) (Vitolo, 2008). dos antioxidantes para atenuar o estresse
A atividade física de alta intensidade oxidativo associado ao exercício, muito ainda
e/ou duração pode gerar radicais livres a partir precisa ser esclarecido. Como tal, a
do aumento do consumo de oxigênio pelas suplementação de altas doses de vitamina C,
mitocôndrias. Acredita-se que esse excesso não é recomendada aos atletas submetidos a
de radicais livres possa levar a dano nas exercícios de resistência, no entanto uma
membranas musculares. Entretanto, o adequada ingestão dietética de vitamina é
organismo humano possui vários mecanismos necessária para a função muscular normal
endógenos de defesa para neutralizar os (Carr e colaboradores, 2013).
radicais livres como as enzimas: superóxido- A vitamina C pode ter pouco ou
desmutase, glutationa peroxidase e catalase. nenhum efeito de suplementação; todavia, a
Além disso, a atividade física regular redução de seus estoques corporais pode
aumenta a efetividade desses mecanismos contribuir para o aumento do estresse
endógenos, colaborando para que, mesmo oxidativo (Cruzat e colaboradores, 2007).
após atividade física extenuante, não ocorra Por que há tanta divergência entre os
dano oxidativo. estudos sobre o efeito da vitamina C em
Mesmo assim, é prática comum entre adaptações de exercícios? Acredita-se que o
atletas o uso de doses extras de vitaminas, principal motivo é a própria singularidade de
principalmente C e E, por suas propriedades cada estudo, em termos de tipo de exercício
antioxidantes. Estudo realizado em São Paulo (aeróbio ou anaeróbio), espécies (ratos ou
com universitários de uma instituição privada humanos), idade (jovem ou velho), tecido
mostrou que 30,4% dos entrevistados usavam (sangue ou músculo), oxidante biomarcador e
produtos vitamínicos (Alves e Lima, 2009). pontos de extremidade de formação
A importância da vitamina C como examinados. Outros fatores que poderiam
antioxidante é bem estabelecida, explicar a diversidade de resultados incluem a
considerando-se as doses recomendadas, nutrição, sujeitos, características do exercício
geralmente alcançadas por meio da e do erro experimental que decorrem da
alimentação. complexidade das técnicas utilizadas nas
Além da captação de radicais livres, análises. Finalmente, a falta de consenso pode
estudos em cultura de células demonstram ser parcialmente explicado pela variabilidade
que a vitamina C pode alterar a expressão de biológica (Michalis e colaboradores, 2012).
genes envolvidos na resposta inflamatória, Com base nas evidências conflitantes
apoptose e diferenciação celular (Cerqueira e sobre os efeitos da maior ingestão de vitamina
colaboradores, 2007). C no desempenho de exercícios e
Existe controvérsia em relação aos homeostase, uma entrada permanente de
resultados associados com a vitamina C e E, doses não fisiológicas de vitamina C não deve
dois nutrientes antioxidantes populares. ser recomendada para indivíduos saudáveis.
Evidências recentes sugerem que a Isto não deve ser confundido com uma alta
administração exógena destes antioxidantes ingestão de frutas e legumes, que é
pode ser prejudicial ao desempenho. Os considerada segura e benéfica (Michalis e
estudos disponíveis que empregaram modelos colaboradores, 2012).
animais e humanos fornecem resultados
conflitantes sobre a eficácia da suplementação CONCLUSÃO
de vitamina C e E, pelo menos em parte
devido a diferenças metodológicas na Diante disso, percebe-se a importância
avaliação de estresse oxidativo. do consumo adequado e regular de vitamina C
Com base nas evidências pela dieta, porém mais pesquisas são
contraditórias sobre os efeitos da maior necessárias para esclarecer se a

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suplementação desse micronutriente 10-Lira, F. A. S.; e colaboradores. Influência


realmente acarreta na otimização da da vitamina C na modulação autonômica
perfomance. cardíaca no repouso e durante o exercício
isométrico em crianças obesas. Revista
REFERÊNCIAS Brasileira de Saúde Materno Infantil. Vol. 12.
Núm. 3. p. 259-267. 2012
1-Alves, C.; Lima, R. V. B. Uso de
suplementos alimentares por adolescentes. J 11-Michalis, G. Nikolaidis, Chad M. Kerksick,
Pediatr. Vol. 85. Núm. 4. p.287-294. 2009. Manfred Lamprecht, Steven R. McAnulty. Does
Vitamin C and E Supplementation Impair the
2-Carr, A. C.; e colaboradores. Human skeletal Favorable Adaptations of Regular Exercise?
muscle ascorbate is highly responsive to Oxid Med Cell Longev. 2012.
changes in vitamin C intake and plasma
concentrations. Am J Clin Nutr. Vol. 97. p.800- 12-Navas, F. J.; e colaboradores. Os radicais
807. 2013. livres e o dano muscular produzido pelo
exercício: papel dos antioxidantes. Revista
3-Cruzat, V. F.; Rogero, M. M.; Borges, M. C.; Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 6.
Tirapegui, J. Rev Bras Med Esporte. Vol. 13. Núm. 5. 2000.
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Endereço para correspondência:


Luciana de Quadros.
Rua Ernesto Marsiaj, 172, apto 503.
Bairro Petrópolis. Caxias do Sul-RS.
CEP: 95070-530.
Telefone: (54) 91843362

Recebido para publicação em 07/11/2014


Aceito em 24/06/2015

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