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TOLSTÓI, Lev. A morte de Ivan ILitch.

1ª edição
EDITORA 34, 2006.
“A morte de Ivan Ilitich” relata a vida dos últimos anos de vida de Tolstói, que morreu
aos 82 anos de idade na estação ferroviária de Astapovo. Imerso numa reclusão, voltado
para a natureza e contemplação religiosa, atitude que seguia à revelia de familiares e
amigos. Nesse período, o autor resolveu escrever a história do burocrata Ivan Ilitch
Golovin, uma pessoa que não soube viver e morrer, mas tentou encontrar respostas para
a morte durante o longo processo de agonia que enfrentou.
A morte de Ivan Ilitch, ocorre no primeiro capítulo, sendo comentada pelos amigos,
colegas de trabalho e carteado. A morte de Ivan na verdade era apenas um detalhe, seus
falsos amigos e colegas de trabalho discutiam vagas, promoções em razão do
falecimento de uma peça da engrenagem (Ilitch). E assim que Tolstói percorre
inicialmente esse mundo de homens e mulheres desprovidos de mínima consciência e
movidos a interesses, apertos de mãos com objetivos estratégicos bem definidos, que
tiram a poeira dos tapetes das repartições em que Ivan viveu e trabalhou. O restante do
romance é dedicado não à morte de Ivan, mas à sua vida.
Ivan Ilitch acreditava ser um homem diferente e especial. Apesar de saber que a morte
era inev, tinha umitável, tinha um compromisso inadiável com a vida em razão de sua
ascensão profissional e seu reconhecido status financeiro, um funcionário público do
sistema judiciário da Rússia czarista. Vive uma vida totalmente despreocupada, que é
“mais simples e mais comum. Sua ascensão social acontece de modo tranquilo.
Seu casamento com uma mulher muito exigente é o caminho para se dedicar ao trabalho
até ser um magistrado. Seu trabalho é o refúgio que ele encontra para evitar sua família.
Quando Ivan estava pendurando as cortinas em sua casa nova, ele cai sem jeito e se
machuca. Embora ele não pensasse na dor que sentia, seu corpo começa a acusar. Um
imenso desconforto aparece, seu comportamento para com a família começa a ficar
mais irritável. Sua esposa insiste para que ele visite um médico. Os médicos não
conseguem obter um diagnóstico satisfatório.
“A Morte de Ivan Ilitch” é uma reflexão poderosa sobre a morte. Muitas vezes quando
ela se apresenta diante de nossos olhos, ela se torna algo inaceitável e injusto, como se a
morte necessitasse de algum tipo de justificativa para ocorrer. Ivan Ilitch se esquecera
da indiferença da morte frente à sua vontade, seus desejos e sonhos.
Pensar a morte é pensar a própria existência humana, essa nossa condição irremediável
de estarmos lançados numa coisa chamada vida e que tem um fator limitador, que é a
experiência da morte. A morte possibilita uma compreensão de novas formas de sentido
e diferentes formas de pensar e agir.
Morremos tentando nos proteger da vida. Criamos em nossas existências regras que
acreditamos poder controlar. Tal controle não passa de uma ilusão para nos sentirmos
seguros e tranquilos. Quando algo ocorre que mostre a fragibilidade dos sistemas que
criamos, rompendo nossas estruturas de sentido, surge a angústia.
A morte é um fim que não tem mais começo, é o término definitivo. Ao negarmos a
morte, acreditamos que assim seremos mais felizes. Por isso nos defendemos dela, sem
percebermos que da tragicidade da vida a morte é a sua grande aliada. Esquecemos que
viver é morrer todos os dias, que viver é principalmente morrer. Com isso esquecemos
de viver, seguindo o pensamento de Tolstói, os momentos de nossa existência de forma
mais verdadeira.
"A Morte de Ivan Ilitch" tem muito a ensinar sobre o significado da vida, das diversas
dimensões da doença, e muito mais. Apesar de ter acesso aos médicos mais famosos,
nenhum deles pareceu de fato se importar sobre como Ivan se sentia. Na verdade, nem
mesmo seus familiares e amigos passaram a ele alguma impressão diferente da que ele
estava incomodando, com exceção de seu filho e de seu empregado camponês
Gerassim.
Através da obra, Tolstói nos faz perceber o que o próprio Ivan percebeu ao adoecer, nos
apresenta a experiência peculiar de incompreensibilidade, e nos faz questionar se
estamos buscando a felicidade ou apenas seguindo um roteiro. Além de nos fazer refletir
sobre a humanização no setor da saúde. Os médicos que Ivan procurou não o viam
como um paciente, eles se limitavam à doença e não se importavam em fazê-lo
compreender o que ele tinha e tampouco se importavam com o sofrimento do paciente,
levando o leitor a pensar no impacto positivo que os médicos poderiam ter tido no
sofrimento de Ivan, caso tivessem enxergado o paciente por completo.
Tornar-se médico pode ser bastante atraente e socialmente louvável, isso é inegável.
Porém, as tecnologias estão tornando os diagnósticos e procedimentos mais precisos e
rápidos, ser médico requer mais do que os longos anos de formação acadêmica, requer
investir em adquirir outras competências, como a empatia, e compreender as múltiplas
dimensões da doença ou, melhor, do que se entende por saúde. A agonia de Ivan
termina quando ele tem um "momento de iluminação" em seus instantes finais. Não fica
claro de que se trata a "coisa certa" a ser feita, mas subentende-se que Ilitch para de
sofrer quando para de olhar para si mesmo, para a sua dor, e passa a olhar para o outro,
para a angústia e o sofrimento que ele estava causando em sua família, mais
especificamente em seu filho.
Por mais humana que a medicina devesse ser, ao longo de nossa formação o caminho é
tão longo e extenso que, muitas vezes, nos perdemos no processo. Esquecemos que o
objetivo final é cuidar, é o paciente, é o outro. Ficamos tão preocupados em curar a
doença que nos esquecemos do vínculo com o doente. Aliás, essas blindagens
emocionais que aprendemos a criar, na verdade, nos fazem esquecer de nós mesmos, de
nossa humanidade.

Aluna: Isabela Pereira Fernandes

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