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TROCA IÔNICA

A troca iônica é um processo onde íons que estão mantidos juntos aos grupos funcionais
sobre a superfície de um sólido por forças eletrostáticas são trocados por íons de uma espécie
diferente na solução. Este tipo de tratamento tem crescido em importância no campo do tratamento
de água residuária.
Uma vez que a desmineralização completa é obtida pela troca iônica, é possível usar
processos de tratamento de divisão de corrente onde parte do efluente de entrada (afluente) é
desmineralizado e então combinado com o afluente secundário para produzir um efluente de
qualidade especificada.

1. Resinas Trocadoras de Íons:


Até 1940, zeólitas naturais eram as únicas resinas trocadoras de íons disponíveis. A capacidade
de troca era relativamente baixa, o que limitava sua prática econômica na área de tratamento de
efluentes líquidos. Desde então as zeólitas naturais estão sendo substituídas por resinas sintéticas
tais como o estireno e o divinil-benzeno. Estes são polímeros insolúveis para os quais grupos ácidos
ou básicos são adicionados por processos de reação química. Estes grupos são capazes de efetuar
troca reversível com os íons presentes em uma solução. O número total de grupos funcionais por
unidade de peso (ou de volume) de resina determina a capacidade de troca, enquanto que o tipo do
grupo funcional determina a seletividade e a posição de equilíbrio de troca. As partículas de resina
têm diâmetros aproximados de 0,5 mm e são empregadas em colunas empacotadas com vazões de
águas residuárias de 5-12 gal/min ft².
Pode-se construir curvas de ruptura para a troca iônica da mesma maneira como descrita
para o processo de adsorção de solutos em carvão ativado.

2. Mecanismo Básico de Troca Iônica: Trocadores Catiônicos e Aniônicos

Há dois tipos básicos de trocadores de íons: (a) trocador catiônico e (b) trocador aniônico.
(a) Trocadores Catiônicos: as resinas trocadoras de cátions removem os cátions de uma solução,
trocando-os por íons de sódio (ciclo de sódio) ou íons de hidrogênio (ciclo de hidrogênio). A
remoção é representada pelas seguintes equações:
Ciclo de sódio: Na2R + M2+ → MR + 2Na+ (1a)
ou
Ciclo de hidrogênio: H2R + M2+ → MR + 2H+ (1b)
Sendo que o R denota a resina e M2+ o cátion (por exemplo, Cu²+, Zn2+, Ni2+, Ca2+, Mg2+).

Cu²+, Zn2+, Ni2+, Ca2+ e Mg2+ são retidos sobre a resina e um efluente abrandado é
produzido. Este efluente, isento de dureza contém, principalmente, sais de sódio (se o ciclo de sódio
for empregado) ou ácidos (se o ciclo de hidrogênio for empregado).
Quando a capacidade de troca da resina estiver exaurida, ela deve ser regenerada. Antes da
regeneração, a coluna deve ser retrolavada para remover depósitos sólidos. A regeneração consiste
da passagem através da coluna ou com uma salmoura (NaCl para o ciclo de sódio) ou com uma
solução ácida, geralmente H2SO4 ou HCl (para o ciclo de hidrogênio).
As reações da regeneração para os ciclos de sódio e de hidrogênio são as seguintes:

Resina Regenerada Resíduo Regenerante


MR + 2NaCl → Na2R + MCl2 (2a)
MR + 2HCl (ou H2SO4) → H2R + MCl2 (ou MSO4) (2b)

As concentrações típicas de regenerante são de 2-5% em peso com vazões de 1-2 gal/min-
ft². Como indicado pelas equações (2a) e (2b), o resíduo regenerante consiste nos sais de cátion.
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Esta corrente de resíduo atinge cerca de 10-15% do volume de afluente tratado antes da ruptura. O
passo seguinte na regeneração do leito trocador é o enxágue com água para remover o regenerante
residual.
As reações do trocador catiônico e as direções dos escoamentos das diferentes correntes da
operação de um trocador catiônico são mostradas na Figura 1. As resinas de troca catiônica pelo
ciclo de hidrogênio são ácidos fracos ou fortes. A maioria das resinas ácida usadas na diminuição da
poluição de água é ácido forte.

Figura 1. Trocador catiônico: ― correntes residuárias; ----- correntes regenerantes; -∙-∙-∙ correntes
de enxágue.

(b) Trocadores Aniônicos: as resinas de troca aniônica removem ânions de uma solução, trocando-
os por íons hidroxila. A remoção é representada pela equação abaixo (onde A2- representa um
ânion):
R(OH)2 + A2- → RA + 2OH‾ (3)
2 2-
Os ânions, tais como SO4 , CrO4 , são, portanto, removidos da solução.

A regeneração é feita após a ruptura, geralmente precedida pela retrolavagem para remover
os depósitos de sólidos. Os regenerantes comumente usados são os hidróxidos de sódio ou amônio.
A reação de regeneração é:
Resina Regenerada Resíduo Regenerante
RA + 2NaOH → R(OH)2 + A2- (4)
ou [Na2A ou (NH4)2A]
2NH4OH
As concentrações típicas de regenerante são de 5-10% em peso.

Geralmente, os trocadores catiônicos e aniônicos são usados em série. Pela seleção adequada
dos trocadores iônicos, quase que qualquer problema de água residuária de natureza inorgânica
pode ser tratado. As resinas trocadoras aniônicas são tanto bases fortes como fracas. As reações de
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troca aniônica e a direção do escoamento para as diferentes correntes envolvidas na operação de um


trocador aniônico estão indicadas na Figura 2.

Figura 2. Trocador aniônico: ― correntes residuárias; ----- correntes regenerantes; -∙-∙-∙ correntes
de enxágue.

3. Projeto de Colunas de Troca Iônica

O primeiro passo no projeto de um sistema de troca iônica para uma água residuária
específica é realizar uma análise completa de cátion e ânion do afluente a ser tratado. Além disso,
os dados de sólidos totais dissolvidos, CO2 dissolvido, SiO2 e pH são obtidos.
As concentrações dos íons individuais presentes são expressas de duas formas:
(1) Em meq/L (miliequivalentes por litro), ou seja, para uma solução contendo 20 mg/L de Cu 2+, a
concentração em termos de meq/L é
20/(63,5/2) = 0,63 meq/L
onde 63,5 é o peso atômico de Cu e 2 é a sua valência.
(2) Em termos de equivalentes de carbonato de cálcio, ou seja, para uma solução contendo 20 mg/L
de Cu2+ = 0,63 meq/L de Cu2+ : 1 eq CaCO3 = 100/2 = 50g CaCO3, onde 100 é o peso molecular de
CaCO3. Portanto,
1 meq/L CaCO3 = 0,05 g/L CaCO3 = 50 mg/L CaCO3
e
0,63 meq/L CaCO3 = 0,63 x 50 = 31,5 mg/L CaCO3
Os parâmetros de projeto determinados por testes de laboratório antes do projeto de uma
coluna de troca iônica são:
(a) Capacidade de troca da resina: as capacidades de troca de cátion-ânion são geralmente
expressas como equivalentes de íon removido por unidade de volume de leito (ou seja,
equivalentes/litro de resina ou equivalentes/ft³ de resina). Elas podem ser expressas também
por unidade de peso de leito (isto é, equivalentes /lb de resina). As capacidades de troca
também são expressas em termos de peso de equivalente de CaCO3, tanto por unidade de
volume como por unidade de peso de leito (ou seja, lb CaCO3/ft³ de resina, lb CaCO3/lb de
resina).
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(b) Exigências quanto ao regenerante: essas são expressas em termos de peso por unidade de
volume de leito, isto é, lb H2SO4/ft³. O grau de capacidade teórica obtida (com relação à
resina pura) depende do peso de regenerante empregado. Um balanço econômico entre o
grau de capacidade teórica obtida e o peso de regenerante (lb/ft³ de volume de leito) é
levado em consideração. As curvas de desempenho para regenerantes (a capacidade de troca
da resina regenerada versus o peso de regenerante) determinadas de estudos laboratoriais
estão muitas vezes disponíveis pelos fabricantes de resina. A capacidade de troca da coluna
aumenta com o peso de regenerante utilizado.
(c) Exigências quanto à água de enxágue: Seguindo a regeneração, o leito trocador de íons é
enxaguado com água para remoção de regenerante residual. As exigências de enxágue,
também determinadas por estudos de laboratório, estão muitas vezes disponíveis pelos
fabricantes de resina. Elas são expressas em termos de galões de água por ft³ de resina (faixa
de 100-200 gal/ft³). As características das resinas trocadoras são avaliadas em unidades em
escala de bancada. A tabela abaixo apresenta dados típicos obtidos das unidades em escala
de bancada.
Cátion Ânion
Capacidade de troca 70 eq/ft³ de resina 3,5 lb CrO3/ft³ de resina
Regenerante H2SO4 NaOH
Exigência (lb/ft³ de resina) 11,0 (lb H2SO4) 4,7 (lb NaOH)
Concentração (%) 5,0 10,0
Vazão (gal/min ft²) 1,0 1,0
Exigências da água de enxágue 130,0 100,0
(gal/ft³ de resina)

Considerações adicionais relativas ao projeto de sistemas de troca iônica são as seguintes:


1. A recuperação de constituintes valiosos de águas residuárias, um importante fator na
2-
determinação da viabilidade econômica da troca iônica. Cromatos ( CrO 4 ) de uma água
residuária de uma instalação de galvanoplastia são tratados com trocador aniônico e
subsequentemente recuperados como ácido crômico (H2CrO4) em um trocador catiônico de
hidrogênio. Íons de níquel são reciclados de resíduos de instalações de galvanoplastia.
2. O cálculo da profundidade do leito. Altura livre adicional é fornecida para permitir a
expansão do leito para a retrolavagem e enxágue.

EXEMPLO

Projete um sistema de troca iônica para tratar 120.000 gal de água residuária por dia de uma
indústria de galvanoplastia. Os principais íons metálicos presentes são: cromo, equivalente a 120
mg/L de CrO3 (presente como cromato, ); 30 mg/L de Cu2+, 15 mg/L de Zn2+ e 20 mg/L de Ni2+.
Deseja-se remover Cu2+, Zn2+ e Ni2+ em um trocador de ciclo de hidrogênio (trocador catiônico n°1)
e em um trocador aniônico da corrente após o trocador catiônico. O trocador catiônico com ciclo de
hidrogênio é regenerado por uma solução a 5% de H2SO4. O trocador aniônico empregado para
remover os ânions cromato é regenerado com uma solução a 10% de NaOH. O efluente desta
regeneração contém cromato de sódio (Na2CrO4). O valioso é recuperado em outro trocador
catiônico de hidrogênio (trocador catiônico n°2) como ácido crômico (H2CrO4). Este trocador
catiônico também é regenerado com uma solução a 5% de H 2SO4. Os efluentes ácidos da
regeneração dos trocadores catiônicos n°1 e 2 são combinados, neutralizados e então descartados.
As características dos trocadores catiônicos e aniônicos a serem empregados estão apresentadas na
tabela apresentada na página anterior. Ambas as unidades de cátion e de ânion operam 6 dias entre
as regenerações. Projete os três trocadores no sistema e estime as exigências de regeneração e
enxágue.
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EXERCÍCIOS

1. Projete um sistema de troca iônica para tratar 220.000 gal de água residuária por dia de uma
estação municipal de tratamento de água e esgoto. Os principais íons presentes são: cálcio,
magnésio e sódio, com uma concentração total a 120 mg/L (4,8 meq/L) e nitrato, com concentração
igual a 16 mg/L (2,5 meq/L). A capacidade de troca da resina catiônica a ser empregada é de 2 eq/L
e a da aniônica igual a 1,14 meq/L. Para a regeneração e enxágue da resina catiônica empregue as
condições do exemplo anterior. Para a resina catiônica, a quantidade de NaOH 10% a ser
empregada é de 0,5 gpm/ft³ resina, e a quantidade de água igual a 60 gal/ft³ de resina.

2. Determine a massa e o volume requerido de resina para tratar 1200 m³ de água contendo 20 mg/L
do íon nitrato. Considerar a capacidade de troca da resina igual a 300 meq/kg. A densidade da
resina é 720 kg/m³.

3. Determinar as dimensões e o número de colunas de troca iônica, e calcular o total de água tratada
e o volume de resina necessário, tanto para coluna catiônica como aniônica, para as seguintes
condições:
Concentração de cátions: 29,25 g/gal Concentração de ânions: 29,25 g/gal
Capacidade de troca da resina catiônica: Capacidade de troca da resina aniônica:
11.000 g/ft³ 20.000 g/ft³
Quantidade de ácido sulfúrico para Quantidade de soda para regeneração:
regeneração: 5 lb/ft³ 5,3 lb/ft³
Quantidade de água para enxágue: 125 Quantidade de água para enxágue: 75
gal/ft³ gal/ft³
Água tratada deverá conter menos de 10 ppm de sólidos ionizáveis
Vazão da corrente residuária: 30 gpm – 24h/dia
Relação de fluxo de resina: 2 gal/ft³.min
Regeneração a cada 8 horas

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