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Sobre o tema do milagre do Sol, os factos essenciais são:

• Lúcia, Jacinta e Francisco afirmam um total de 6 aparições em 1917: 13


de Maio, 13 de Junho, 13 de Julho, 19 de Agosto, 13 de Setembro e a
última a 13 de Outubro (o dia do famoso fenómeno “solar”)
• Lúcia (10 anos de idade, analfabeta) é entrevistada pelo Padre Manuel
Marques Ferreira no dia 14 de Julho de 1917
• A criança diz ao Padre Ferreira que, na véspera (data da 3ª aparição),
pediu a Nossa Senhora o seguinte:
◦ "Eu disse:
◦ – Faça um milagre para que todos se acreditem.
◦ – D'aqui a três mezes farei então com que todos acreditem.”
• Lúcia repete a previsão a 27 de Setembro de 1917, em sua casa, na
presença de várias testemunhas, entre elas o Cónego Formigão, e
as senhoras D. Adelaide Braancamp de Melo Breyner e D. Maria de
Jesus do Rosário, de Santarém:
◦ “(…) a Senhora que lhe aparecia tinha dito que no dia treze de
Outubro faria um sinal para que todo o povo acreditasse que
ela realmente aparecia”
• Nos meses de Julho, Agosto e Setembro espalha-se pelo país a notícia
de que um “milagre” (sem detalhes do que será) foi previsto pela
Lúcia para 13 de Outubro, a ocorrer ao meio-dia (hora solar) na
Cova da Iria
◦ Note-se que é uma previsão de data, hora e local
◦ Este pré-aviso de um “milagre” explica o aumento dramático do
número de pessoas:
▪ 50 a 70 pessoas na Cova da Iria a 13 de Junho
▪ 2.000 pessoas na Cova da Iria a 13 de Julho
▪ A 13 de Agosto não houve aparição, porque as crianças não
compareceram (estavam presas pelo Administrador de
Ourém, Artur de Oliveira Santos)
▪ 10.000 pessoas a 13 de Setembro
▪ Entre 50.000 e 70.000 pessoas a 13 de Outubro
• No Sábado, 13 de Outubro de 1917, por volta do meio-dia (hora solar)
tem início o “fenómeno”, que no entanto só começa logo a seguir
à indicação da Lúcia:
◦ Várias pessoas atestam esta previsão feita no próprio dia,
instantes antes de começar, sendo que desta vez a Lúcia
avisa explicitamente que o milagre vai ser no Sol:
◦ Por exemplo, Maria da Rosa Pereira: "Inclinando-se depois para a
mãe, que estava proximo, mas sem se voltar para o povo,
disse mais alto: "Diz Nossa Senhora que olhem para o sol, que
ella se quer manifestar nos astros.”"
◦ Este detalhe é interessante, porque fora da Cova da Iria, nenhuma
das testemunhas oculares esperava ver algo no Sol
◦ E mesmo na Cova da Iria, até ao aviso da Lúcia, feito instantes
antes de começar o fenómeno, também ninguém sabia que
seria algo que se veria no Sol
◦ Se fosse conhecido, três meses antes, que o fenómeno seria
visível no Sol, isso aumentaria a possibilidade de auto-
sugestão
• Chegaram aos nossos dias cerca de uma centena de depoimentos de
testemunhas presenciais, que estavam na Cova da Iria nesse dia
• O fotógrafo Judah Ruah recolheu 13 chapas fotográficas da multidão
(acompanhava o jornalista Avelino de Almeida, do jornal lisboeta “O
Século” - Avelino é uma das testemunhas que atesta e descreve o
fenómeno)
• Eis a síntese do que foi visto pelas testemunhas oculares:
◦ Choveu sem parar toda a manhã, as pessoas aguardavam na
lama, encharcadas, muitas desde as primeiras horas da
madrugada
◦ Por volta do meio-dia, e por três vezes, eleva-se uma coluna de
fumo perto das crianças (mas nada arde no local); há quem
diga que era comum suceder o mesmo nas aparições
anteriores
◦ Lúcia avisa em voz alta que se deve olhar para o Sol; a chuva
pára, todos fecham os chapéus de chuva; começa o
fenómeno, que pode ser “grosso modo” dividido em 3 fases
distintas:
◦ Fase 1:
▪ O Sol torna-se claramente visível e com forma nítida (“disco
de prata fosca”, conforme um testemunho) mas o céu
não está limpo
▪ É possível olhar para o Sol sem qualquer esforço para a vista
e sem ferir a retina
◦ Fase 2:
▪ O contorno do Sol (e não o Sol todo) dá a impressão de girar
sobre si mesmo, “faiscando”, como uma “roda de fogo-
de-artifício"
▪ Este fenómeno é multicolor, e as várias cores afectam a cor
da paisagem, dos objectos e das pessoas
◦ Fase 3:
▪ A certa altura, o Sol dá a impressão de aumentar
dramaticamente de tamanho, como se fosse cair sobre
Terra
▪ Este fenómeno repete-se algumas vezes, lançando o terror
sobre as pessoas
◦ As três fases, no seu conjunto, demoram entre 8 a 10 minutos
◦ Finalizado o fenómeno, o Sol volta ao seu estado normal,
descoberto, e nesta fase já não é possível olhar para ele sem
ferir a vista
◦ Várias pessoas relatam que as suas roupas, que estavam muito
molhadas, ficaram rapidamente secas
• Fenómenos preternaturais testemunhados por várias pessoas:
◦ Colunas de fumo (sem que nada ardesse no local)
◦ Ramos da azinheira pareciam pisados durante as aparições
◦ Zumbido imperceptível que foi ouvido durante a conversa de Lúcia
com a Senhora
◦ Queda de pétalas ou flocos
◦ Cheiro intenso a flores
◦ Relâmpagos/trovões no momento do início/fim das aparições

Segue-se a minha opinião sobre estes factos, que é defendida no meu


livro:

• Considero que o dito “milagre do Sol” é o acontecimento essencial para


podermos discutir a veracidade das aparições
◦ É preciso não esquecer que foi a própria Lúcia, criança de apenas
10 anos de idade, que “prometeu” com 3 meses de
antecedência um “milagre” para todos acreditarem
• Fala-se muito em repetições do milagre do Sol, mas eu nunca encontrei
um só relato de um fenómeno semelhante ao acima descrito
◦ Nenhuma das alegadas “repetições” foi prevista com
antecedência;
• A tese da “alucinação colectiva” não é adequada aos factos:
◦ Há testemunhas de todos os tipos na Cova da Iria (desde
analfabetos a universitários, desde adolescentes a idosos,
desde ateus a católicos, deste pessoas serenas até pessoas
agitadas)
◦ Há testemunhas fora da Cova da Iria, que estavam bem longe da
multidão:
▪ Em Alburitel (Inácio Lourenço Pereira, por exemplo)
▪ Em São Pedro de Moel (Afonso Lopes Vieira, por exemplo)
▪ Há ainda relatos indirectos (sem nomes nem depoimentos)
de testemunhas oculares em pelo menos: Leiria, Torres
Novas, Praia da Granja
• A tese das “retinopatias” (afecções do globo ocular causadas pela
exposição ao sol) não é adequada aos factos:
◦ 24% das testemunhas oculares relatam que era muito fácil olhar
para o Sol, que parecia emitir menos luz que a Lua, que não
feria a vista
• A tese “astronómica”, ou seja, de que o Sol saiu do seu curso, não se
adequa aos factos:
◦ Nada de anormal foi observado nos observatórios astronómicos
(por exemplo, o Observatório da Ajuda, em Lisboa, fez uma
nota a atestar este facto)
• Resta a tese “meteorológica”, defendida por cientistas como Diogo
Pacheco de Amorim (1960) e Stanley Jaki (1999), e que me parece
ser a melhor:
◦ As três fases acima descritas podem ser explicadas
cientificamente através do raro fenómeno das “lentes de ar”,
que explicam as complexas distorções do globo solar que
foram observadas pelas testemunhas oculares
◦ O fenómeno adicional da inversão térmica (súbita corrente de ar
descendente) explicaria a descida da “lente de ar” dando a
impressão de que o Sol iria cair sobre a Terra, e também
explicaria o secar rápido das roupas
◦ Mesmo assim, a estrutura complexa e exótica das três fases não
permite encaixar este fenómeno em nenhuma categoria
meteorológica conhecida (nunca se observou nada assim)
◦ Esta tese não explica, obviamente, que uma criança de dez anos,
analfabeta, tenha feito um pré-aviso 3 meses antes (sem
detalhes) e outro pré-aviso instantes antes (com o detalhe de
que teria a ver com o Sol)
◦ Esta tese não explica as colunas de fumo que são atestadas por
pelo menos uma dezena de pessoas, sendo que nada arde no
local

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