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Relatório dos Treinamentos para Atualização em

DST/HIV/AIDS e Controle Social de Políticas Públicas


de Saúde pelos Terreiros

Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde


Consultor: José Marmo da Silva
Relatório dos Treinamentos para Atualização em DST/HIV/AIDS
e Controle Social de Políticas Públicas de Saúde pelos Terreiros

Introdução:
As religiões de matrizes africanas, conforme sua origem na África, localização
geográfica no Brasil e interação com outros grupos não negros(índios e brancos)
tomam diversas denominações: Umbanda, Candomblé (em suas variações de angola,
ketu, jejê, ijexá), Tambor de mina, Tambor de caboclo, Terecô, Encantaria, Jurema,
Xangô, Xambá e Batuque.
O número de terreiros continua crescendo, e segundo pesquisadores já ultrapassam a
marca de 60 mil espalhados no país. Apesar da entrada dos brancos nessa tradição
religiosa e de pessoas da classe média, a população dos terreiros ainda é constituída,
em sua maioria, de negros e negras, de baixa renda, pouca ou nenhuma escolaridade,
moradores de subúrbios e periferia. Esse perfil da população dos terreiros certamente
interfere no processo saúde-doença, uma vez que a saúde e a doença são
determinadas pelo modo como cada sociedade se organiza, vive e produz, tendo uma
relação estreita com os determinantes sociais em saúde.
A saúde, também, sempre foi uma das preocupações do povo de terreiro pois sendo o
corpo a morada dos deuses e deusas, este deve estar sempre bem cuidado. Os
terreiros possuem conceitos de saúde e doença de acordo com a sua visão de mundo,
e, de acordo com a fala de Makota Valdina(V Seminário Nacional Religiões Afro-
Brasileiras e Saúde – João Pessoa, 2006), “a cura das doenças na perspectiva das
religiões afro-brasileiras envolve a ação dos dois mundos: material e imaterial, visível
e invisível, nessa tradição nada ocorre sem a interação desses dois mundos”.
Para o “povo de santo”, a doença é considerada um desequilíbrio energético, podendo
ser de ordem física, mental ou espiritual. “Apesar de sabermos que muitas doenças
precisam ser tratadas pela medicina dos cientistas, se a pessoa é iniciada, quase
sempre busca antes o terreiro para se curar e sempre busca a cura dos dois lados”,
lembra Makota Valdina (V Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde – João
Pessoa, 2006). Ela nos informa que as práticas terapêuticas dos terreiros não anula as
ações realizadas pela medicina hegemônica, muito pelo contrário, as práticas de saúde
e os saberes se complementam.
Nos encontros e reuniões realizados pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e
Saúde deparamos com iniciados nos terreiros que não foram bem acolhidas pelo
SUS/Sistema Único de Saúde, outros reclamam das filas para marcação das consultas
ou demora na realização dos exames, têm aqueles que desconfiam do atendimento e
guardam muitas histórias de descaso e desatenção para contar. Mesmo assim,
verificamos que uma grande parcela do povo de terreiro conta somente com os
serviços oferecidos pelo SUS e que garantir o acesso e a qualidade do atendimento e
dos serviços tem sido uma das preocupações da Rede Nacional de Religiões Afro-
Brasileiras e Saúde.
É importante destacar que o modelo de saúde praticado nos terreiros está alicerçado
em uma visão de mundo onde o cuidado, o acolhimento, a cumplicidade, a parceria, a
relação com a natureza, formam uma rede de atenção e promoção da saúde que pode
servir como base para as práticas de saúde no SUS/Sistema Único de Saúde.

As práticas terapêuticas dos terreiros tem como pressupostos: a escuta, o toque, o


aconselhamento e a solidariedade, mostrando um diferencial na qualidade de
atendimento, proporcionando bem estar e a vivência do acolhimento. Esses
pressupostos vivenciados nos terreiros certamente têm forte relação com a Política
Nacional de Humanização do SUS.
Os terreiros, foram durante muito tempo, um dos espaços privilegiados de acolhimento
para a população negra sendo considerados espaços de resistência cultural negra por
resguardar valores simbólicos e um dos mais importantes patrimônios culturais
brasileiros.
Os Terreiros e a Saúde da População Negra no Brasil

Para compreender a situação de saúde da população dos terreiros é preciso reconhecer


os impactos causados pelas desigualdades raciais e de gênero, uma vez que grande
parte dessa população é formada por mulheres e homens negros. É importante
ressaltar que por muitos anos os terreiros foram chefiados por mulheres negras e
somente nas últimas décadas apresenta a entrada de uma população branca e de
classe média mas ainda assim as desigualdades entre brancos e negros permanecem.
Essas desigualdades vem sendo pautada por diversos institutos e organizações de
pesquisa como : IBGE(Instituto de Geografia e Estatística), IPEA(Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), Dieese(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócio-econômicos) e Unifem(Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a
Mulher). Essas organizações têm divulgando indicadores sócio-econômicos que
mostram que em todos os campos da vida social brasileira existem diferenças raciais,
expondo a população negra a piores condições de existência e a situações de
vulnerabilidades. Em relação a mulher negra, a Unifem apresentou estudos e
pesquisas que mostram sua dupla condição de vulnerabilidade devido as desigualdades
de gênero e de raça. Essa realidade vai ter repercussão junto ao “povo de santo” que
como afirmamos anteriormente em sua maioria são negros e negras.
Em que pesem os esforços de iniciativas sociais governamentais e a criação da
SEPPIR/Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, em 2003,
pelo governo federal com o objetivo de articular ações de combate as desigualdades
raciais e o incremento de uma política de ações afirmativas, a população negra e a
população de terreiros continuam em piores condições quando analisamos renda,
estabilidade no emprego, escolaridade, saúde, violência, acesso a bens de consumo,
expectativa de vida, etc.
No campo especifico da saúde, a pressão social do Movimento Negro, do Movimento de
Mulheres Negras e afro-religiosos, resultou na Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra(PNSIPN) que foi aprovada em 2006 pelo Conselho Nacional de Saúde
e pactuada na Comissão Intergestores Tripartite(comissão de negociação formada
pelos três níveis de governo: federal, estadual e municipal) no início de 2008. Muitas
das políticas implementadas pelo governo carecem de continuidade, como também de
recursos alocados como é o caso da PNSIPN.
A PNSIPN tem como objetivo promover a equidade em saúde da população negra,
priorizando o combate ao racismo e a discriminação nas instituições e serviços do
Sistema Único de Saúde(SUS). É bom lembrar que o SUS adquire importância
significativa para a população negra e para a população de terreiros uma vez que estas
representam a grande parcela dos usuários do SUS.
Somente para visibilizar as diferenças raciais, e tomando como exemplo as mulheres
negras(pardas e pretas) que são em maior número nos terreiros, os dados do Saúde
Brasil 2007, uma análise da situação de saúde, publicado em 2008, pelo Ministério da
Saúde, mostram que as doenças cerebrovasculares foram a principal causa de morte
entre as mulheres de cor preta em 2005, com uma taxa de morte de 12,9 por 100 mil
mulheres em idade fértil. O risco de uma mulher preta morrer por esse tipo de causa
foi 2 vezes maior que as mulheres brancas.
A Aids e a segunda causa de morte entre mulheres negras e o risco de morte por
HIV/Aids foi de 2,6 vezes maior que entre as mulheres brancas de 10 a 49 anos de
idade. As doenças isquêmicas do coração e a hipertensão são respectivamente a
terceira e quarta causas de morte de mulheres negras no pais.
Em relação a morte materna, o Saúde Brasil 2007 apresenta uma redução de óbitos
em relação as mulheres brancas e um aumento nas mulheres negras. De acordo com
as informações do Painel de Indicadores do SUS número 3 (SEGEP/Ministério da Saúde
– outubro de 2007) a hipertensão foi um dos maiores responsáveis pela mortalidade
materna no país e as mulheres negras foram as principais vítimas. Essas informações
mostram as dificuldades existentes e a necessidade de reforçar políticas públicas de
saúde que assegurem para as mulheres negras maior expectativa de vida.
A situação de saúde da população negra apresentada acima evidencia as iniqüidades
em saúde e que as ações visando a equidade e promoção da igualdade racial ainda não
foram incorporadas pelo Sistema Único de Saúde. Essa situação requer um esforço da
sociedade civil que deve continuar pressionando e cumprindo um papel importante no
controle social de políticas publicas de saúde.

Os dados da epidemia de HIV/Aids no Brasil


Segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde(ano V n. 1 – janeiro
a junho de 2008) foram identificados 506.499 casos de Aids no Brasil(período 1980-
2008). Ao longo dos anos a razão por sexos vem diminuindo e se no inicio da epidemia
era 21 homens para 1 mulher, hoje temos 2 casos em homens para 1 caso em
mulheres, o que demonstra que a epidemia de HIV/Aids vem aumentando
significativamente entre as mulheres.
É importante observar as mudanças em relação a epidemia que torna-se mais
feminina e avança para o interior do país, que começa a atingir os mais velhos, os
mais pobres e a população negra.
O numero de casos de aids em indivíduos com 50 anos ou mais anos de idade também
vem aumentando, sendo maior na região sudeste do pais, e para ambos os sexos
dessa faixa etária a categoria de exposição sexual continua sendo a mais frequente.
Os dados em relação a raça/cor mostram que os casos de aids na população negra
também vem aumentando e de acordo com as pesquisas existem vários fatores de
vulnerabilidade da população negra frente a epidemia de HIV/Aids que explicam esse
aumento.
Os óbitos por aids no Brasil vem diminuindo o que pode ser reconhecido como um
reflexo do avanço das políticas
públicas em HIV/Aids no Brasil e da mobilização da sociedade civil no controle social
de políticas públicas de saúde. Atualmente podemos constatar também a diminuição
dos casos de aids entre trabalhadores do sexo e usuários de drogas injetáveis fruto de
uma política de prevenção e de redução de danos.

As ações realizadas pelo projeto

Foram realizadas 7 oficinas de treinamento de lideranças de terreiro nos meses e


núcleos da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde de acordo com a tabela
abaixo:

Mês Núcleo da Rede Estado


Maio 2008 Belém Pará
Junho 2008 Manaus Amazonas
Julho 2008 Fortaleza Ceará
Agosto 2008 Porto Alegre Rio Grande do Sul
Agosto 2008 Maceió Alagoas
Outubro 2008 Natal Rio Grande do Norte
Novembro 2008 Vitória Espírito Santo
Cada treinamento contou com apoio da UNFPA e das Secretarias de Saúde local, mas
em alguns casos foram acionados também outros parceiros como as Secretarias de
Cultura(em Belém e Maceió), Fórum ONGS-Aids (em todos os locais),
Universidades(em Porto Alegre), Assembléias Legislativa(Manaus), Coordenações de
Promoção de Igualdade Racial(Vitória). As parcerias locais mostraram a capacidade de
cada Núcleo em interagir com o poder público e privado, assim como a ampliação
dessa discussão para além dos espaços específicos da saúde.
Os dias, horários e locais dos treinamentos foram pactuados com as coordenações de
cada Núcleo da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde que se
responsabilizavam pelo apoio logístico (local do treinamento, alimentação dos
participantes, lanches , data-show, telão, computador, etc), assim como a tarefa de
convidar os participantes e as coordenações de DST/Aids local.

Devido ao grande número de mulheres nos terreiros e ao fato dessa tradição religiosa
ter como prática o acolhimento das diversas orientações sexuais, foi consensuado com
os Núcleos que em todos os treinamentos convidaríamos os gestores locais para
apresentar o Plano de Enfrentamento da Feminização da Epidemia de Aids e Outras
DST, assim como o movimento gay da cidade apresentaria o Plano Nacional de
Enfrentamento da Epidemia de Aids e de Outras DST entre Gays, HSH e Travestis.
Essa pactuação tinha como finalidade facilitar a interlocução das lideranças dos
terreiros com os gestores e com as lideranças do movimento gay para além dos
treinamentos, estimulando inclusive ações em parceria.

Em cada treinamento a presença da coordenação de DST/Aids foi fundamental para


realizar uma análise de conjuntura das políticas publicas em HIV/Aids no Brasil, trazer
os dados de cada estado sobre a epidemia de HIV/Aids, assim como os recursos
financeiros aplicados, os insumos e estratégias de prevenção e assistência,
informações sobre planejamento e orçamento para os estados referentes a
DST/HIV/Aids.

Nessa fase do treinamento as perguntas e demandas mais freqüentes foram:


- como garantir o direito a ter filhos mesmo vivendo com HIV/Aids,
- qual o motivo da falta de preservativos em alguns postos de saúde e porque esses
não são distribuídos durante os finais de semana,
- porque tanto controle de preservativos para a população jovem, uma vez que estão
em fase sexual ativa e alguns descobrindo a sexualidade,
- o que explica a falta de campanhas educativas direcionadas para o povo de terreiro
- como os terreiros que realizam trabalho de prevenção poderiam participar da
concorrência de projetos com recursos do governo
- qual o procedimento para que as lideranças de terreiros possam participar do Plano
de Ações e Metas(PAM)
- porque os dados sobre os recursos não estão disponibilizados para a sociedade em
alguns estados
- porque os dados referentes a recursos e insumos do governo federal repassados para
as Secretarias de Saúde não conferem com os dados apresentados pelas Secretarias,
- quais os motivos da epidemia de Aids hoje estar atingindo mais as mulheres
- porque as campanhas do governo não conseguem sensibilizar a população
- qual a razão da pequena quantidade de distribuição da camisinha feminina pelo
governo
- qual o motivo da não inclusão da população jovem como parceira na execução de
campanhas
- porque tanta demora na realização de exames e tratamentos quando estes já foram
indicados pelos médicos
- existe falta de remédios ou falta de logística do governo que garanta a compra e
distribuição
- porque existe ainda tanto preconceito entre os gestores e profissionais de saúde que
trabalham com HIV/Aids
- qual a dificuldade das coordenações em interagir com os diversos segmentos
religiosos uma vez que as lideranças religiosas são formadoras de opinião e poderiam
comprometer-se na luta contra o HIV/Aids,

A presença dos responsáveis pela Coordenação de DST/Aids foi muito importante para
que as lideranças de terreiro compreendessem a dinâmica e o impacto da epidemia em
seu local de origem, assim como as ações empreendidas pelas Secretarias de Saúde. O
fato dos treinamentos acontecerem nas capitais dos estados facilitou as presenças da
coordenação estadual e municipal de Aids. Essa fase pareceu-nos muito empolgante
para o povo de terreiro pois foram muitas perguntas, muitas dúvidas, situações
vivenciadas foram expostas, muitas propostas lançadas para os gestores. Em alguns
casos foram iniciados processos de ações em parcerias entre os terreiros e as
Secretarias de Saúde e como exemplos citamos as cidades de Belém, Maceió e Natal,
que incorporaram as recomendações do I Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras
e a Epidemia de HIV/Aids(realizado pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e
Saúde, Belém 2007) e incluíram também as demandas locais.
Nas oficinas Religiosidade Afro-
Brasileira, Corpo e Saúde foram
discutidas a construção simbólica do
corpo nas religiões de matrizes
africanas e as noções de saúde e
doença. Ficou evidente em cada oficina
realizada que a visão de mundo dos
terreiros não coincide com a visão de
mundo ocidental de corpo e de saúde.
Para os terreiros o corpo é parte do
sagrado e a noção de saúde está
relacionada ao equilíbrio do corpo com
o meio ambiente e a espiritualidade. A
doença seria uma ruptura entre o
mundo natural e sobrenatural causando
desequilíbrio nas pessoas.
Grande parte das lideranças dos
terreiros abordaram a dificuldade dos
profissionais de saúde no lidar com o
povo dos terreiros, na desqualificação
dessa tradição religiosa e na falta de compreensão das “quizilas”(restrição a
determinados procedimentos como por exemplo o uso de roupas pretas, alimentação
como abóbora e caranguejo, peixe de pele). Alguns reclamaram do desrespeito a
legislação que garante a presença de sacerdotes para visitar seus doentes nos
hospitais e a preferência dos profissionais de saúde por algumas religiões facultando o
acesso aos padres e pastores na visita aos doentes nos serviços de saúde e
dificultando o acesso de mães e pais de santo ao mesmo tipo de serviço.
Foi discutido também o conceito de cura que não pode ser estabelecido apenas como
não ter mais a doença ou o problema de saúde solucionado mas sim um equilíbrio de
energias vitais que permita uma vida com mais qualidade.
Os pais e mães de santo afirmaram que um estilo de vida mais saudável e o
fortalecimento do corpo com determinados rituais é fundamental para as pessoas
vivendo com HIV, mas reconhecem que o tratamento médico precisa ser estimulado
pois muitas pessoas abandonam os tratamentos, como é o caso de outras doenças
como por exemplo a tuberculose.

Para agilizar o processo as


apresentações do Plano
Integrado de Enfrentamento
da Feminização da Aids e
Outras DST foi junto com o
Plano Nacional de
Enfrentamento da Epidemia
de Aids e de Outras DST
entre Gays, HSH e
Travestis. Cada estado
apresentou o Plano Nacional
e seu respectivo
correspondente o Plano
Estadual. Verificamos que
muitos estados não
conseguem cumprir as propostas dos Planos, seja por falta de recursos humanos não
conseguindo dar conta das suas atividades planejadas, seja por falta de vontade
política em agir em outros espaços que ultrapassem os domínios das Secretarias de
Saúde. Observamos no entanto que em alguns estados do norte(Belém) e
nordeste(Fortaleza e Natal) faltam informações atualizadas, seja por parte do gestor,
seja por parte da população. Exemplo disso é o desconhecimento de algumas políticas
e programas empreendidas pelo Ministério da Saúde que em muito poderia beneficiá-
los, como a Área Técnica de Saúde da Mulher, assim como uma ação envolvendo
outros setores governamentais como por exemplo a Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres.
Outra informação importante é que somente uma gestora de Natal mostrou
conhecimento sobre o Programa Estratégico População Negra e Aids (Programa
Nacional de Aids) fazendo uma relação com a necessidade de discutir as questões
raciais, aproveitando os terreiros para iniciar essa discussão.
O povo de terreiros mostrou que tinha pouco conhecimento sobre o assunto sugerindo
um encontro com mulheres de terreiros para dar continuidade as discussões sobre o
Plano de Enfrentamento da Feminização da Aids e o II Plano Nacional de Políticas para
as Mulheres no ano de 2009.
Foi sugerido também que tanto o Ministério da Saúde como as Secretarias de Saúde
devem continuar dando suporte para os grupos gays e de lésbicas no enfrentamento
da epidemia. Ficou acertado a criação de grupos locais para monitorar o Plano de
Enfrentamento da Feminizacão da Epidemia e que os terreiros reforçariam a atuação
dos grupos gays no que se refere ao Plano de Enfrentamento entre Gays, HSH e
Travestis.
A grande polemica ficou por conta das mulheres lésbicas que não se sentiam
contempladas em nenhum dos dois planos e reclamavam que se os gays tem plano
próprio porque elas não tinham também. Em quase todos os treinamentos, exceto em
Vitória, essa foi um questão que gerou polemica. Em Porto Alegre, uma liderança de
grupo de mulheres negras lésbicas enfatizou que o preconceito, machismo e sexismo
se perpetuava inclusive nas ações e nos programas de Aids. Ela lembrou que essa
situação precisava mudar imediatamente pois impedia que as lésbicas se
identificassem com a situação e se achassem fora da epidemia, o que poderia ser
contabilizado no futuro como grandes perdas. As lideranças de terreiros ficaram de
aprofundar essa questão e propuseram algumas ações em parceria com os grupos de
mulheres lésbicas negras.

Em relação a
Participação e Controle
Social de Políticas
Públicas em HIV/Aids
verificamos que dos sete
núcleos que participaram
do treinamento somente
os núcleos Belém e
Manaus já tinham
alguma inserção
específica no tema pois
participam do Fórum
Ongs/Aids de seus
respectivos estados.
Os outros núcleos mostraram-se sensibilizados para uma atuação de monitoramento
das políticas públicas em HIV/Aids mas perceberam a necessidade de aprofundar seus
conhecimentos e organizar uma ação em rede que possibilite a entrada de outros
atores que já vem desenvolvendo estratégias para o controle social de políticas
públicas em HIV/Aids como é o caso das Ongs Aids, referências nesse tipo de atuação.
As lideranças de terreiros entenderam que esse treinamento que estava acontecendo
seria o primeiro passo para estimular o controle social de políticas públicas em
HIV/Aids e uma aproximação com os gestores, profissionais de saúde e ativistas de
Ongs/Aids facilitando o processo posterior.
Alguns terreiros expuseram que realizam ações de prevenção com palestras educativas
sobre o tema e funcionam como pólos de distribuição de preservativos para suas
comunidades porém necessitam de maior apoio logístico por parte do governo. Outros
reclamaram que fazer prevenção não é só distribuir camisinha e colocar cartazes nos
terreiros e na comunidade do entorno e que o governo têm a obrigação de realizar
mais do que isso. Em quase todos os núcleos comentou-se a necessidade da utilização
dos programas de rádio uma vez que existem muitos deles voltados para o povo de
terreiros e a realização de uma campanha educativa pelo rádio que esclarecesse as
dúvidas dos ouvintes, assim como abordando os direitos das pessoas soropositivas e
denunciando os serviços que não estão funcionando bem. Dos sete núcleos, apenas o
de Belém conta com ações de educação e prevenção no PPA da Secretaria Estadual de
Saúde, com financiamento garantido para executá-las em 2009.

Todos os treinamentos foram publicizados no Blog da Rede Nacional de Religiões Afro-


Brasileiras e Saúde(WWW.religrafosaude.blogspot.com).

Conclusão e possíveis desdobramentos:


Verificamos que as lideranças funcionam como formadores de opinião podendo servir
como importante recurso no combate ao HIV/Aids e a todas as formas de
discriminação e intolerâncias.
As lideranças de terreiros mostraram durante o treinamento, que apesar das
dificuldades encontradas, consideram estratégico dar continuidade a: ações de
prevenção, atividades que auxiliem na garantia dos direitos as pessoas vivendo com
HIV/Aids, a continuidade da qualificação das lideranças para o monitoramento de
políticas públicas em HIV/Aids e a realização de uma oficina para elaboração de
projetos que permita os terreiros concorrer aos convênios do governo em nível de
igualdade com as Ongs que já possuem essa experiência.
Foi sugerido pelos participantes o fortalecimento da área de comunicação da Rede
Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde com a elaboração de folhetos, boletins,
informes com atualizações sobre a epidemia de HIV/Aids. Também foi ressaltada a
utilização de rádios comunitárias e os programas de rádios direcionados para o povo
de terreiro, uma vez que são veículos difusores de informações e portanto devem ser
utilizados para divulgação de informações sobre HIV, dicas de saúde, direitos e saúde,
entrevistas com os responsáveis pela coordenação de DST/Aids e a população local
que utilizam os serviços do SUS para HIV/Aids, etc.
Ficou estabelecido que os núcleos também realizariam alguns encontros com a
juventude dos terreiros para discutir sexualidades e a participação dos jovens nas
políticas de saúde.
Do grupo de mulheres participantes nos treinamentos foi veiculada a proposta do I
Encontro Nacional Mulheres de Axé juntando lideranças femininas de vários estados
com a finalidade de discutir temas que dizem respeito as mulheres dos terreiros,
enfatizando as políticas para as mulheres e o papel e importância das mulheres de
terreiro em nossa sociedade.
Momentos dos treinamentos nos núcleos da Rede

Treinamento em Maceió

Treinamento em Manaus

Treinamento em Maceió

Treinamento em Porto Alegre


ANEXOS

Programa dos Treinamentos para


Atualização em DST/HIV/AIDS e
Controle Social de Políticas Públicas
de Saúde pelos Terreiros

Primeiro dia

8:30h - Mesa de Abertura e


apresentação dos participantes

9:00h - As recomendações do I
Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e a Epidemia de
HIV/Aids

9:30h – Uma análise de conjuntura brasileira em Políticas


Públicas para HIV/Aids
10:30h – Religiosidade Afro-Brasileira, Corpo e Saúde

12:30h – Almoço

14h- Comunicações
Comunicação 1 - Plano Integrado de Enfrentamento da
Feminização da Aids e Outras DST
Comunicação 2 - Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de
Aids e de Outras DST entre Gays, HSH e Travestis

17h – Lanche

Segundo dia

9h – Participação e Controle Social de Políticas Públicas em


HIV/Aids

11h - Encerramento
folder da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde
folder com dicas de prevenção do núcleo Belém da Rede
folder com dicas de prevenção do núcleo Piracicaba(SP) da Rede
folder com dicas de prevenção do núcleo São Luis(MA) da Rede

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