Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Relatório Dos Treinamentos para Atualização em DST - HIV - AIDS e Controle Social de Políticas Públicas de Saúde Pelos Terreiros PDF
Relatório Dos Treinamentos para Atualização em DST - HIV - AIDS e Controle Social de Políticas Públicas de Saúde Pelos Terreiros PDF
Introdução:
As religiões de matrizes africanas, conforme sua origem na África, localização
geográfica no Brasil e interação com outros grupos não negros(índios e brancos)
tomam diversas denominações: Umbanda, Candomblé (em suas variações de angola,
ketu, jejê, ijexá), Tambor de mina, Tambor de caboclo, Terecô, Encantaria, Jurema,
Xangô, Xambá e Batuque.
O número de terreiros continua crescendo, e segundo pesquisadores já ultrapassam a
marca de 60 mil espalhados no país. Apesar da entrada dos brancos nessa tradição
religiosa e de pessoas da classe média, a população dos terreiros ainda é constituída,
em sua maioria, de negros e negras, de baixa renda, pouca ou nenhuma escolaridade,
moradores de subúrbios e periferia. Esse perfil da população dos terreiros certamente
interfere no processo saúde-doença, uma vez que a saúde e a doença são
determinadas pelo modo como cada sociedade se organiza, vive e produz, tendo uma
relação estreita com os determinantes sociais em saúde.
A saúde, também, sempre foi uma das preocupações do povo de terreiro pois sendo o
corpo a morada dos deuses e deusas, este deve estar sempre bem cuidado. Os
terreiros possuem conceitos de saúde e doença de acordo com a sua visão de mundo,
e, de acordo com a fala de Makota Valdina(V Seminário Nacional Religiões Afro-
Brasileiras e Saúde – João Pessoa, 2006), “a cura das doenças na perspectiva das
religiões afro-brasileiras envolve a ação dos dois mundos: material e imaterial, visível
e invisível, nessa tradição nada ocorre sem a interação desses dois mundos”.
Para o “povo de santo”, a doença é considerada um desequilíbrio energético, podendo
ser de ordem física, mental ou espiritual. “Apesar de sabermos que muitas doenças
precisam ser tratadas pela medicina dos cientistas, se a pessoa é iniciada, quase
sempre busca antes o terreiro para se curar e sempre busca a cura dos dois lados”,
lembra Makota Valdina (V Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde – João
Pessoa, 2006). Ela nos informa que as práticas terapêuticas dos terreiros não anula as
ações realizadas pela medicina hegemônica, muito pelo contrário, as práticas de saúde
e os saberes se complementam.
Nos encontros e reuniões realizados pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e
Saúde deparamos com iniciados nos terreiros que não foram bem acolhidas pelo
SUS/Sistema Único de Saúde, outros reclamam das filas para marcação das consultas
ou demora na realização dos exames, têm aqueles que desconfiam do atendimento e
guardam muitas histórias de descaso e desatenção para contar. Mesmo assim,
verificamos que uma grande parcela do povo de terreiro conta somente com os
serviços oferecidos pelo SUS e que garantir o acesso e a qualidade do atendimento e
dos serviços tem sido uma das preocupações da Rede Nacional de Religiões Afro-
Brasileiras e Saúde.
É importante destacar que o modelo de saúde praticado nos terreiros está alicerçado
em uma visão de mundo onde o cuidado, o acolhimento, a cumplicidade, a parceria, a
relação com a natureza, formam uma rede de atenção e promoção da saúde que pode
servir como base para as práticas de saúde no SUS/Sistema Único de Saúde.
Devido ao grande número de mulheres nos terreiros e ao fato dessa tradição religiosa
ter como prática o acolhimento das diversas orientações sexuais, foi consensuado com
os Núcleos que em todos os treinamentos convidaríamos os gestores locais para
apresentar o Plano de Enfrentamento da Feminização da Epidemia de Aids e Outras
DST, assim como o movimento gay da cidade apresentaria o Plano Nacional de
Enfrentamento da Epidemia de Aids e de Outras DST entre Gays, HSH e Travestis.
Essa pactuação tinha como finalidade facilitar a interlocução das lideranças dos
terreiros com os gestores e com as lideranças do movimento gay para além dos
treinamentos, estimulando inclusive ações em parceria.
A presença dos responsáveis pela Coordenação de DST/Aids foi muito importante para
que as lideranças de terreiro compreendessem a dinâmica e o impacto da epidemia em
seu local de origem, assim como as ações empreendidas pelas Secretarias de Saúde. O
fato dos treinamentos acontecerem nas capitais dos estados facilitou as presenças da
coordenação estadual e municipal de Aids. Essa fase pareceu-nos muito empolgante
para o povo de terreiro pois foram muitas perguntas, muitas dúvidas, situações
vivenciadas foram expostas, muitas propostas lançadas para os gestores. Em alguns
casos foram iniciados processos de ações em parcerias entre os terreiros e as
Secretarias de Saúde e como exemplos citamos as cidades de Belém, Maceió e Natal,
que incorporaram as recomendações do I Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras
e a Epidemia de HIV/Aids(realizado pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e
Saúde, Belém 2007) e incluíram também as demandas locais.
Nas oficinas Religiosidade Afro-
Brasileira, Corpo e Saúde foram
discutidas a construção simbólica do
corpo nas religiões de matrizes
africanas e as noções de saúde e
doença. Ficou evidente em cada oficina
realizada que a visão de mundo dos
terreiros não coincide com a visão de
mundo ocidental de corpo e de saúde.
Para os terreiros o corpo é parte do
sagrado e a noção de saúde está
relacionada ao equilíbrio do corpo com
o meio ambiente e a espiritualidade. A
doença seria uma ruptura entre o
mundo natural e sobrenatural causando
desequilíbrio nas pessoas.
Grande parte das lideranças dos
terreiros abordaram a dificuldade dos
profissionais de saúde no lidar com o
povo dos terreiros, na desqualificação
dessa tradição religiosa e na falta de compreensão das “quizilas”(restrição a
determinados procedimentos como por exemplo o uso de roupas pretas, alimentação
como abóbora e caranguejo, peixe de pele). Alguns reclamaram do desrespeito a
legislação que garante a presença de sacerdotes para visitar seus doentes nos
hospitais e a preferência dos profissionais de saúde por algumas religiões facultando o
acesso aos padres e pastores na visita aos doentes nos serviços de saúde e
dificultando o acesso de mães e pais de santo ao mesmo tipo de serviço.
Foi discutido também o conceito de cura que não pode ser estabelecido apenas como
não ter mais a doença ou o problema de saúde solucionado mas sim um equilíbrio de
energias vitais que permita uma vida com mais qualidade.
Os pais e mães de santo afirmaram que um estilo de vida mais saudável e o
fortalecimento do corpo com determinados rituais é fundamental para as pessoas
vivendo com HIV, mas reconhecem que o tratamento médico precisa ser estimulado
pois muitas pessoas abandonam os tratamentos, como é o caso de outras doenças
como por exemplo a tuberculose.
Em relação a
Participação e Controle
Social de Políticas
Públicas em HIV/Aids
verificamos que dos sete
núcleos que participaram
do treinamento somente
os núcleos Belém e
Manaus já tinham
alguma inserção
específica no tema pois
participam do Fórum
Ongs/Aids de seus
respectivos estados.
Os outros núcleos mostraram-se sensibilizados para uma atuação de monitoramento
das políticas públicas em HIV/Aids mas perceberam a necessidade de aprofundar seus
conhecimentos e organizar uma ação em rede que possibilite a entrada de outros
atores que já vem desenvolvendo estratégias para o controle social de políticas
públicas em HIV/Aids como é o caso das Ongs Aids, referências nesse tipo de atuação.
As lideranças de terreiros entenderam que esse treinamento que estava acontecendo
seria o primeiro passo para estimular o controle social de políticas públicas em
HIV/Aids e uma aproximação com os gestores, profissionais de saúde e ativistas de
Ongs/Aids facilitando o processo posterior.
Alguns terreiros expuseram que realizam ações de prevenção com palestras educativas
sobre o tema e funcionam como pólos de distribuição de preservativos para suas
comunidades porém necessitam de maior apoio logístico por parte do governo. Outros
reclamaram que fazer prevenção não é só distribuir camisinha e colocar cartazes nos
terreiros e na comunidade do entorno e que o governo têm a obrigação de realizar
mais do que isso. Em quase todos os núcleos comentou-se a necessidade da utilização
dos programas de rádio uma vez que existem muitos deles voltados para o povo de
terreiros e a realização de uma campanha educativa pelo rádio que esclarecesse as
dúvidas dos ouvintes, assim como abordando os direitos das pessoas soropositivas e
denunciando os serviços que não estão funcionando bem. Dos sete núcleos, apenas o
de Belém conta com ações de educação e prevenção no PPA da Secretaria Estadual de
Saúde, com financiamento garantido para executá-las em 2009.
Treinamento em Maceió
Treinamento em Manaus
Treinamento em Maceió
Primeiro dia
9:00h - As recomendações do I
Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e a Epidemia de
HIV/Aids
12:30h – Almoço
14h- Comunicações
Comunicação 1 - Plano Integrado de Enfrentamento da
Feminização da Aids e Outras DST
Comunicação 2 - Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de
Aids e de Outras DST entre Gays, HSH e Travestis
17h – Lanche
Segundo dia
11h - Encerramento
folder da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde
folder com dicas de prevenção do núcleo Belém da Rede
folder com dicas de prevenção do núcleo Piracicaba(SP) da Rede
folder com dicas de prevenção do núcleo São Luis(MA) da Rede