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Universidade do Porto (Org.) Trabalho Forçado Africano: experiências coloniais comparadas.
Porto: Campo das Letras, 2005. pp. 171-194.
!
O cativo fujão no Brasil escravista: história e representações”.
!
Mário Maestri*
!
Sumário: “A fuga constituiu uma das principais formas de resistência do trabalhador
escravizado. O combate pelos escravistas da tentativa de fuga e da fuga do cativo
determinou a economia, a legislação, o comportamento, a arquitetura, etc. das
sociedades escravistas. Quanto ao escravismo colonial brasileiro, o fenômeno
precedeu a própria introdução maciça de africanos escravizados nas colônias luso-
americanas, a partir de 1560, constituindo-se a seguir fenômeno endêmico até o final
da instituição. A fuga dos cativos das fazendas cafeiculturas paulistas pôs fim à
instituição.
!
!
I. Sentidos, objetivos e conseqüências da fuga do trabalhador escravizado
!
O escravizador retinha o sobre-trabalho do trabalhador escravizado. Com o seu
esforço, o cativo financiava a inversão inicial, realizada pelo escravizador ao
comprá-lo; seus meios de subsistência e a renda escravista, natural ou monetária.1
1
! Cf. GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Ática, 1985. pp.165-85.
! Cf. LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. São Paulo: IPE-USP, 1981. p. 130 et
2
seq.
! 3 Cf. FREITAS, Décio. Insurreições escravas. Porto Alegre: Movimento, 1976. p. 69 et seq; REIS, João
José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos males (1835). São Paulo: Brasiliense, 1986,
p. 148; LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e senhores. São Paulo: IPE-USP, 1981. p. 130
et seq.
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Universidade do Porto (Org.) Trabalho Forçado Africano: experiências coloniais comparadas.
Porto: Campo das Letras, 2005. pp. 171-194.
Como na Antiguidade, no escravismo colonial, o trabalhador escravizado não
tinha condições históricas de propor explicitamente um mundo sem escravidão.4
quilombos de Palmares.6
!
O medo do castigo
O principal fator coercitivo da sociedade escravista colonial era o medo – e
não o controle ideológico ou os escassos e extraordinários incentivos e concessões
materiais e morais. A ameaça permanente de castigo ou o castigo, ministrado em
forma homeopática ou servido em doses cavalares, impregnaram cada segundo do
quotidiano servil. A escravidão não se manteria um dia sequer, sem a ameaça de
castigo e o castigo, que procuravam manter o cativo na submissão e impulsioná-lo
no trabalho.7
Ao lado dos cativos que buscavam com afinco e algumas vezes obtiveram a
manumissão, muitos outros – empregados em trabalhos rústicos; sem recursos
4
! Cf. STAERMAN, E.M. La caida del regimen esclavista. BLOCH, Marc et al. La transición del
esclavismo al feudalismo. 4 ed. Madrid: Akal, 1981. pp. 59-107.
5
! Cf. REIS, J.J. & GOMES, Flávio dos Santos. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996; MOURA, Clóvis (Org.). Os quilombos: na dinâmica social
do Brasil. Maceió: EdUFAL, 2001; FIABIANI, Adelmir. Mato, palhoça e pilão: o quilombo, da
escravidão às comunidades remanescentes [1532-2004]. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
6
! Cf. entre outros: ALVES FILHO, Ivan. Memorial dos Palmares. Rio de Janeiro: Xenon, 1988; ENNES,
Ernesto. As guerras nos Palmares: Subsídios para a sua história. 1. vol. 1687-1709. São Paulo: CEN,
1938; CARNEIRO, Edison. O quilombo dos Palmares. 4 ed. São Paulo: CEN, 1988; FREITAS,
Décio. Palmares: A guerra dos escravos. 5 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1984; PÉRET,
Benjamin. O quilombo dos Palmares. Edi. e introd. MAESTRI & PONGE. Porto Alegre: EdUFRGS,
2002.
! Cf., entre outros: GOULART, José Alípio. Da palmatória ao patíbulo. Rio de Janeiro: Conquista; INL,
7
1971; LIMA, Solimar Oliveira. Triste pampa: resistência e punição de escravos em fontes jurídicas no
RS/1818 - 1833. Porto Alegre: IEL: EdiPUCRS, 1997; MAESTRI, Mário. “O ganhador, o alforriado, o
bacalhau: breves considerações sobre o caráter subordinado da escravidão urbana e outros problemas
teóricos da historiografia do escravismo brasileiro". VERITAS, PUCRS, Porto Alegre, v.35, n. 140,
dez. 1990, pp. 695 – 705.
! Cf., entre outros: SIMÃO, Ana Regina F. Resistência e acomodação: a escravidão urbana em Pelotas
8
(1822-1850). Passo Fundo: EdiUPF Editora, 2002. pp. 69 et seq. [Malungo, 9]; LIMA, Solimar
Oliveira. Braça forte: trabalho escravo nas fazendas da nação no Piauí [1822-1871]. Porto Alegre:
EdiUPF, 2005. pp. 39 et seq. [Malungo, 4]; KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de
Janeiro (1080-1850). São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 439 et seq.
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individuais; brutalizados pela produção, etc. – procuravam apenas viver a escravidão
da melhor forma possível. Em geral, resistiram ao cativeiro votando ao trabalho o
escasso interesse e o ritmo lento que determinaram profundamente a produção
escravista. 9 À margem das situações excepcionais, cativos diligentes e aplicados ao
! 9 Cf., entre outros: VEGETTI, Mario [Org]. Marxismo e società antica. Milano: Feltrinelli, 1977;
BLOCH, Marc et al. La transición del esclavismo al feudalismo. 4 ed. Madrid: Akal, 1981; PETIT, P.
et al. El modo de producción esclavista. Madrid: Akal, 1986; MAESTRI, Mário. Deus é grande, o
mato é maior: trabalho e resistência escrava no Rio Grande do Sul. Passo Fundo: UPF, 2002.
[Malungo, 5] pp. 13-30; GORENDER, Jacob. "Questionamentos sobre a teoria econômica do
escravismo colonial". ESTUDOS ECONÔMICOS, São Paulo: IPE-USP, 1(1983): 7-39. jan./abr.;
EISEMBERG, Peter. Escravo e proletário na história do Brasil. Estudos Econômicos, 13 (1): 55-69 pp.
São Paulo, jan./abr. 1983.
! 10 Cf. GORENDER. “Trabalho escravo e alto custo de vigilância”. O escravismo colonial. Ob.cit. Pp. 58
et seq.
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apresamento e o valor das jornadas não trabalhadas. Para os exploradores de
centenas de trabalhadores, a fuga de um ou mais cativos significaria um quase
inevitável e previsível acidente de produção. Para escravistas remediados ou
duramente atingidos pelo fenômeno, podia significar até mesmo a ruína.
Diversos trabalhadores fugiam ao mesmo tempo ou sucessivamente a um
mesmo escravizador, devido às excepcionalmente duras condições de trabalho; ao
afrouxamento da vigilância; às condições conjunturais excepcionais, etc. O sucesso
de um fujão motivava seus companheiros a tentarem a mesma aventura. Fugas e
suicídios eram também ações contagiosas. Em Minas Gerais, em 1769, escaparam
ao capitão Manoel do Vale Amado nada menos do que vinte cativos.11
etc. eram aplicados ao fujão, que passava a portar correntes, gargalheiras, calcetas,
etc., como castigo e para dificultar novas fugas. 14 Em maio de 1852, jornal O Echo
!
Castigo duro
Sobretudo se o fujão era responsável por atos tidos como mais graves, como
a morte ou o ferimento de proprietários, capatazes e homens livres, podia ser
executado, quando ou após a prisão. Em setembro de 1821, o africano Antônio
fugira após matar o capataz que queria obrigá-lo a açoitar um companheiro, quando
estavam cortando lenha nas margens do rio Gravataí, nas cercanias de Porto Alegre.
No processo instaurado sobre sua morte encontra-se anexado o "auto de
11
! GUIMARÃES, Carlos Magno. Uma negação da ordem escravista: quilombos em Minas Gerais no
século XVIII. P. 39.
12
! FREYRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. 2 ed. São Paulo:
CEN, 1979. P. 55.
13
! Arquivo Histórico Porto Alegre. Atas da Câmara Municipal Porto Alegre. Vereanças. 1794 a 1804.
1.1.1.4. p. 112 bis. Cópias 4, p. 111; MACHADO FILHO, Aires de Mata. O negro e o garimpo em
Minas Gerais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. p. 13.
! FALCI, Miridan Britto Knox. Escravos do sertão: demografia, trabalho e relações sociais. Teresina:
15
Fundação cultural Monsenhor Chaves, 1905. p. 224.
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reconhecimento" da cabeça do africano que um capitão-do-mato trouxera do assalto
ao quilombo.16
Os cativos que retornavam por decisão própria aos escravistas, não raro,
procuravam a proteção de um ou mais padrinhos ou madrinhas que rogassem por
eles, no momento em que se apresentavam. Esperavam assim que os escravizadores
aliviassem a mão ou até mesmo perdoassem a esperada novena. Como veremos, a
quase normalidade de sinais de castigos nos fujões procurados sugere que, não raro,
essa estratégia não alcançava, ao menos totalmente, os objetivos almejados.
Alguns escravizadores levavam anos para reaver um trabalhador fugido. Em
1847, foram presos em um quilombo do município de Rio Pardo, no Rio Grande do
Sul, homens e mulheres que tinham escapado havia um, cinco, seis e dezesseis anos
aos seus exploradores. 18 A captura de um fujão já velho, com força de trabalho
16
! Cf. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul [APERGS], Porto Alegre. Processo-crime. 1824,
n° 179, maço 7, estante 3.
17
! Apud GOULART. Da fuga ao suicídio. Ob.cit. p. 30.
! 19 Cf. MAESTRI, Mário. O escravismo antigo. 20 ed. São Paulo: Ática, 1995. pp. 78 et seq.;
GUIMARÃES. Uma negação da ordem escravista. Ob.cit. pp. 63 et seq.
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Os direitos mínimos de tomadia eram regulados pelas autoridades e extensivos
a qualquer homem livre que aprisionasse o fujão. Em Minas Gerais, e de acordo com
a distância entre a residência do homem-do-mato e o local da captura, o direito de
tomadia podia chegar à bela soma de vinte e cinco oitavas de ouro. Em 1759, a
câmara de Vila Rica implorou às autoridades a redução dos valores, já que a
"decadência" em que estavam as minas os tornava "intoleráveis". Em 1783, a
câmara de Mariana apresentou o mesmo pedido e as mesmas razões.20
não raro, também o senhor penava nas mãos do capitão-do-mato, que mantinha o
fujão aprisionado, para beneficiar-se de seu trabalho; mentia sobre a distância do
aprisionamento, para cobrar benefícios mais elevados; acusava cativo que
desempenhava normalmente seu trabalho, longe do escravista, para poder cobrar a
taxa e os gastos de captura. 24
!
Cativos desvalorizados
Além de ocupar o capitão-do-mato, a caça ao fujão constituía possível fonte de
ganho para qualquer homem livre. Em seu célebre conto "Pai contra mãe", Machado
de Assis relatava como o prêmio de captura voltava contra os fujões uma inteira
multidão de homens, de todas as cores, livres e libertos, com posses, remediados ou
20
! Cf. RODRIGUES, José Honório. "A rebelião negra e a abolição". História e historiografia. Petrópolis:
Vozes, 1970, p. 72; GUIMARÃES. Uma negação da ordem escravista. Ob.cit. pp. 32 et seq.;
BARBOSA, Waldemar. Negros e quilombos em Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1972. p. 58
21
! Cf. HANDELMMANN, H. História do Brasil. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos; INL, Brasília, 1978. l
p. 306.
22
! Cf. DEAN, Warren. Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura, 1820-1920. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1977. P. 90; RODRIGUES. "A rebelião negra e a abolição". História e historiografia.
Ob.cit. p. 72.
! Cf. COSTA, Emilia Viotti da. Da senzala à colônia. São Paulo: Ciências Humanas, 1982. p.303.
23
! ALGRANTI, Leila Mezan. O feito ausente. Estudo sobre a escravidão urbana no Rio de Janeiro.
24
Petrópolis: Vozes, 1988. p. 182.
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miseráveis, por princípios ideológicos, por simples rapacidade ou por necessidade de
ganho extra. 25
25
! Cf. ASSIS, Machado. Pae contra mãe. In: Relíquias de casa velha. v.1. São Paulo, 1946. pp. 11-30.
26
! Cf. HANDELMANN. História do Brasil. Ob.cit. l. p. 308 e 366; DEAN. Rio Claro. Ob.cit. p. 90;
MACHADO DE ASSIS. Relíquias da casa velha, l. São Paulo, Jackson, 1946.
! 27 Cf. MALHEIRO, Perdigão. A escravidão no Brasil: Ensaio histórico, jurídico, social. 3 ed. Petrópolis:
Vozes; Brasília: INL, 1976. V. I. p. 73 e 81.
! Cf. MALHEIRO. A escravidão no Brasil. Ob.cit. p. 81; BARBOSA. Negros e quilombos em Minas
28
Gerais. Ob.cit. p. 52; CONRAD, R. Os últimos anos da escravatura no Brasil Ob.cit. p. 60.
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marcado o prazo de 40 dias para ser o dito preto reclamado, sob pena de se proceder
como bens de evento.” 29
!
III. Razões da fuga do trabalhador escravizado
!
Debate-se sobre as razões profundas das intenções, tentativas e objetivações de
fugas. Para a historiadora francesa Kátia de Queirós Mattoso, os cativos fugiriam
por "inadaptação" ao cativeiro: "[...] a fuga é, na verdade, a expressão violenta da
revolta interior do escravo inadaptado. O escravo 'em fuga' não escapa somente de
seu senhor ou da labuta, elide os problemas de sua vida cotidiana, foge de um meio
de vida, da falta de enraizamento no grupo dos escravos e no conjunto da
sociedade." 30 A fuga seria portanto a ruptura do cativo incapaz de se adaptar à
escravidão!
Em inícios do século 18, o padre Antonil também lembrava que pouca comida,
trabalho em demasia e castigos excessivos eram causas de fuga, suicídios e atos de
sangue. Em Da fuga ao suicídio, José Alípio Goulart extrema essa constatação, ao
propor a fuga como conseqüência dos castigos, injustiças, humilhações, excesso de
trabalho e maus tratos. Os maus tratamentos teriam sido "as principais causas e
razões mais comuns para as fugas de escravos”. Para Goulart, no “cômputo das
evasões, minimíssimas foram, posto as houvesse, as [fugas] de escravos que
gozassem de tratamento humano [...]”.31
29
! ZANETTI, Valéria. Calabouço urbano: escravos e libertos em Porto Alegre (1840 – 1860). Passo
Fundo: UPF, 2002. p. 211. [Malungo, 6]
30
! MATTOSO, Kátia de Queiros. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 153.
! Cf. ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos; Brasília: INL,
31
1976. p. 91; GOULART, J. A. Da fuga ao suicídio. Ob.cit. p. 25.
! SILVA, Eduardo & REIS, João. Negociações e conflitos: a resistência negra no Brasil escravista. São
32
Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 67.
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“com igual intensidade aos negros e pardos já agora desamparados da assistência
patriarcal das casas-grandes e privados do regime alimentar das senzalas.” 33
!
Ele e seus companheiros
A documentação sugere que as duras condições médias de existência
necessárias à extração de sobre-trabalho de produtor escravizado fossem as
principais causas da vontade de fugir, das tentativas de fuga e das fugas, por parte de
um cativo consciente de que sua exploração apoiava-se na sujeição pessoal. Em
1886, em São Paulo, ao ser interrogado, Erasmo dissera que fugira por temer a
ameaça de sua escravizadora de ser vendido para “fazendeiro” com “fama de mau”.
Ao ser inquirido se “era maltratado por sua senhora ou pelo administrador”,
“respondeu que não só era maltratado, ele, [...] como todos os seus companheiros”.
34
33
! FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sobre [sic] o regime da
economia patriarcal. 47 edição revista. São Paulo: Global, 2003. p. 109.
34
! SANTOS, Ronaldo Marcos dos. Resistência e superação do escravismo na província de São Paulo.
(1885-1888). São Paulo: IPE/USP, 1980. p. 47.
! 35 SCHWACZ, Lília Moritz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no
final do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 146.
!
IV. O perfil do trabalhador escravizado em fuga
37
! DOUGLASS, Frederick. Ricordi di uno schiavo fuggiasco. Milano: Il Saggiatore, 1962. p.106.
38
! Cf. QUEIROZ, Suely R. R. de. Escravidão negra em São Paulo: um estudo das tensões provocadas
pelo escravismo no século XIX. Rio de Janeiro: José Olímpio; Brasília, INL, 1977. p. 135 et seq.
! 40 Cf. GOMES, Flávio dos Santos. “Jogando a rede, revendo as malhas: fugas e fugitivos no Brasil
escravista”. Tempo, Rio de Janeiro, vol. 1, 1996, p. 6 e 8. [destacamos]
"Catando cipó”. O cativo fujão no Brasil escravista: história e representações. CEA -
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Porto: Campo das Letras, 2005. pp. 171-194.
!
A análise da documentação do Império – alvarás, provisões, inventários,
ordens régias, correspondência policial, processos judiciários, anúncios de fugas de
cativos, etc. – sugere como era difundida a intenção, a tentativa e o ato de fuga de
cativos de ambos os sexos, de todas as profissões, de todas as idades e de todas as
nacionalidades. Fugiam os crioulos como fugiam, em grande número, africanos, de
múltiplas origens, sobretudo enquanto o tráfico negreiro internacional despejou
levas de infelizes nas costas do Brasil. Segundo Mary Karasch, entre 1826 e 1831,
mais de oitenta por cento dos cativos presos, sobretudo por fuga, eram africanos. 41
branco e negro, em fins do século 19, em São Paulo, a maioria dos cativos fugia em
“forma isolada”, “pertencia ao sexo masculino, estava na faixa etária adulta (15 a 50
ano) e em geral trabalhava na lavoura”. 43 Sobretudo nessa época, era enorme a
41
! Cf. CONRAD, Robert Edgar. Tumbeiros: o tráfico escravista para o BrasiL. São Paulo: Brasiliense,
1985.
42
! Cf. ALMADA, Vilma Paraíso Ferreira de. Escravismo e transição: o Espírito Santo, 1850-1888. Rio de
Janeiro: Graal, 1984. p. 161; KARASCH. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1080-1850). Ob.cit.
p. 399.
43
! SCHWARCZ, Lília M.. Retrato em branco e negro. Ob.cit. p. 137.
o século 18, a Coroa espanhola, reconhecia formalmente como livres os cativos que
entravam fugidos em seus territórios, também carentes de braços trabalhadores.
Cativos fugidos do Brasil tornaram-se destemidos soldados nos exércitos de Artigas,
que prometeu liberdade aos cativos e terra aos gauchos.
Entre as razões do intervencionismo do Brasil no Plata, em 1850, estava a
reclamação dos fazendeiros escravistas da fuga de cativos para o Uruguai. Rio-
grandenses desrespeitavam as fronteiras do Uruguai e da Argentina para caçarem
cativos e afro-descendentes livres vivendo naquelas regiões. As operações negreiras
no norte do Uruguai – califórnias – celebrizaram o oficial sulino Francisco Pedro de
Abreu (1802-1892), o Moringue, que se destacara na Guerra dos Farrapos ao
massacrar a infantaria negra republicana, desarmada pelo comandante supremo
farrapo. 47
Silnei Petiz anota que, dos 944 cativos arrolados, em fins de 1840, em toda
a província, como fugidos para o Uruguai, quando da Guerra Civil, 541 teriam
escapado sozinhos – 57,3% – e 403 acompanhados – 42,6%. O alto número de fugas
coletivas deve-se certamente à desorganização da repressão pela guerra civil. A
imensa maioria dos fugidos era de homens – 94,7% e, dentre os 944 cativos, 274
tinham profissões declaradas, destacando-se, em forma dominante – 73,8% – as
profissões ligadas às lides pastoris – campeiros, domadores, ginetes, cavaleiros. 49
46
! Cf. BRAZIL, Maria do Carmo. Fronteira negra: dominação, violência e referência escrava em Mato
Grosso (1718 – 1888). Passo Fundo: UPF, 2002. [Malungo, 5]; PALERMO, Eduardo R. Banda Norte:
una historia de la frontera oriental: de índios, misioneros, contrabandistas y esclavos. Rivera: Yatay,
2001. pp.207 et seq.
47
! Cf. CONRAD, R. Os últimos anos da escravatura no Brasil Ob.cit.. p. 20; MAESTRI Mário. O
escravo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST; Caxias do Sul, EDUCS, 1984. pp. 130 et. seq; Echo
do Sul. Rio Grande. 1859-66; ISOLA, Ema. La esclavitud en el Uruguay: desde sus comienzos hasta
su extinción. (1743-1852). Montevideo: Monteverde, 1975. p. 265; FLORES, Moacyr. Negros na
Revolução Farroupilha: traição em Porongos e farsa em Ponche Verde. Porto Alegre: EST, 2004;
BANDEIRA, L.A. Moniz. O expansionismo brasileiro e a formação dos Estados da bacia do Prata :
Argentina, Uruguai e Paraguai – da colonização à Guerra da Tríplice Aliança. 2. ed. São Paulo: Ensaio;
Brasília, UnB, 1995.
! 49 PETIZ, S. de S. “Buscando a liberdade: as fugas de escravos da província de São Pedro para o além-
fronteira (1815-1851). Porto Alegre: PPGH UFRGS, 2001. [Dissertação de mestrado.
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Farroupilha e importante número de crianças entre os fugidos.50 Relatório do
presidente da província de São Paulo de 1872 registra a fuga naquele ano de 349
cativos. 51
!
!
V. Para onde fugir? As condições gerais do trabalhador escravizado em fuga
!
Os fujões permaneciam comumente no território nacional e, não raro, nas
proximidades do local onde haviam conhecido o cativeiro. Podiam temer serem
presos na arriscada busca de uma fronteira. Nascidos e criados em uma fazenda,
pouco conheciam além das regiões circunvizinhas. Preferiam manter-se onde tinham
relações, conhecidos, amigos e parentes e podiam movimentar-se, devido ao
conhecimento do terreno.
Em sua História do Brasil, Heinrich Handelmann lembrava que ao cativo
crioulo, conhecedor da língua portuguesa e dos hábitos locais, era muitas vezes
suficiente dar "costas à sua terra; onde não era conhecido [...] calçar-se e passava
tão bem por um liberto ou nascido livre como qualquer outro [...]". Visão algo
otimista, considerando-se a incessante vigilância exercida pela sociedade escravista
sobre a população afro-descendente, livre, liberta e escravizada, tão bem expressa
nas posturas municipais do século 19. 52
!
Frágil situação
A cidade era outro refúgio tradicional. Um cativo podia dizer-se livre e viver
semi-escondido no meio de população urbana em geral predominantemente mulata e
negra. Muitos cativos eram capturados nas aglomerações, onde a informação
50
! Cf. WEIMER, Günter. O trabalho escravo no RS. Porto Alegre: Sagra, Editora da UFRGS, 1991.
51
! QUEIROZ. Escravidão negra em São Paulo. Ob.cit. p. 138.
! Cf. HANDELMANN. História do Brasil. Ob.cit.. V I, p. 307; SALLES, Vicente. O negro no Pará: sob
52
o regime da escravidão. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, UFP, 1971. p. 203 et seq; SAINT-
Hilaire, A. Viagem ao Rio Grande do Sul. (1820-1821). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,
1972. pp. 32 e 39; DEAN, Rio Claro: Ob.cit.. p. 21 e 91; MAESTRI, Mário. O Cativo e o sobrado :
arquitetura urbana erudita no Brasil escravista: o caso gaúcho. Passo Fundo: EdiUPF, 2001.
! 53 REIS. Escravos e coiteiros no quilombo do Oitizeiro. REIS, J.J. & GOMES, Flávio dos Santos.
Liberdade por um fio. Ob.cit. pp. 332-71.
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circulava com facilidade e os segredos eram guardados com dificuldade. Uma
enorme quantidade de escapados procurava o refúgio das matas, dos serros, de ilhas
vizinhas às unidades produtivas de onde fugiam ou dirigiam-se para regiões agrestes
e desabitadas mais distantes, onde viviam isolados ou formavam minúsculas,
pequenas, médias e grandes comunidades de cativos alçados. Não temos ainda
tentativa de arrolamento da incidência de quilombos no Brasil, que certamente
contaram-se pelas dezenas de milhares. Essas comunidades de fugitivos
desempenharam essencial papel na história do Brasil. 54
Souza lembra que possivelmente “a fuga de escravos para assentar praça” aumentou
durante o confronto, mas que, “destacar jubilosamente a desesperada atitude de seres
que fugiam ao submundo da escravidão e pintá-la como consciência do valor pátrio
do escravo” é ingenuidade. 57 Durante e após o confronto, o Estado deliberou sobre
54
! MAESTRI, Mário. Terra e liberdade: as comunidades autônomas de trabalhadores escravizados no
Brasil. AMARO, Luiz Carlos & MAESTRI, Mário. Afro-brasileiros: história e realidade. Porto Alegre:
Est, 2005. pp. 85-113.
55
! FALCI. Escravos do sertão. Ob.cit. p. 225; COSTA, Emilia Viotti da. Da senzala à colônia. São Paulo:
Ciências Humanas, 1982. p.302.
56
! SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1990.
! SOUSA, Jorge Prata de. Escravidão ou morte: os escravos brasileiros na Guerra do Paraguai. Rio de
57
Janeiro: Mauad: ADESA, 1996. p. 72.
59
! Cf. GATTIBONI, Rita. “A escravidão urbana na cidade de Rio Grande”. Dissertação de Mestrado,
PUCRS, junho de 1993. p. 115.
! FREYRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. 2 ed. aum. São
60
Paulo: CEN: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1979.
! Id. Casa grande & senzala. Ob.cit. 2 t.; Sobrados e mucambos: a continuação de Casa Grande &
61
Senzala. 9 ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.
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‘abugalhados’, ‘apitombados’ [...].” Expressão, para o autor, de “personalidades
deformadas: de distúrbios ao mesmo tempo físicos e psíquicos.” 62
!
VI. Quantos foram, os fujões? Avaliações sobre a dimensão da fuga e tentativa
de fuga
!
Em geral, a historiografia diverge sobre a amplidão e os resultados das
tentativas e das fugas dos cativos, sem votar, como assinalado, maior importância à
tensão introduzida na instituição sobre a própria vontade não realizada de fuga. Em
seu clássico História da escravidão, de 1955, Maurílio de Gouveia pouca atenção
dedicou à fuga individual, que propôs ter agravado a “situação” da população
escravizada.63 Como vimos, José Alípio Goulart reservou parte do seu livro Da fuga
62
! FREIRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. Ob.cit. 26, 23, 60.
63
! GOUVEIA, Maurílio de. História da escravidão. Rio de Janeiro: Tupy, 1955. p. 70.
64
! GOULART, J. A. Da fuga ao suicídio. Ob.cit. p. 26
! 65 KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850). São Paulo: Companhia das
Letras, 2000. p. 399.
! 66 Cf. ALGRANTI, Leila Mezan. O feitor ausente. Estudo sobre a escravidão urbana no Rio de Janeiro.
1808-1822. Petrópolis: Vozes, 1988. p. 180.
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Em sua pesquisa sobre a escravidão no Espírito Santo, na segunda metade do
século 19, Vilma de Almada propõe igualmente que, naquela região, “o número de
fugitivos foi muito grande”. 67 O mesmo sugere Luiza Volpato, ao pesquisar a vida
!
Do Norte ao Sul
Segundo Vicente Salles, em O negro no Pará, naquela região, a “fuga de
escravos tornou-se um processo contínuo, rotineiro, incontrolável”, que explodiu
quando da Cabanagem.69 Parece ser da mesma opinião Walter Piazza, em seu
Ou seja, fugas no estilo de, eu caio no mato, mas volto, se as coisas ficarem um
pouco melhor par mim!
Em Negociação e conflito, de 1989, João Reis e Eduardo Silva propuseram
sobre as fugas “reivindicativas”: “As fugas reivindicatórias não pretendem um
rompimento radical com o sistema, mas são uma cartada – cujos riscos eram mais ou
menos previsíveis – dentro do complexo negociação/resistência. Correspondem, em
termos de hoje, a uma espécie de ‘greve’ por melhores condições de trabalho e vida,
ou qualquer outra questão específica [...].” 72 Cremos impertinente a analogia entre a
67
! Cf. ALMADA. Escravismo e transição: o Espírito Santo. Ob.cit. p. 157.
68
! VOLPATO, Luiza Rios. Cativos do sertão: vida cotidiana e escravidão em Cuiabá em 1850-1888. São
Paulo: Marco Zero; Cuiabá, UFMG, 1993. pp. 161-2.
69
! SALLES, Ricardo. O negro no Pará: sob o regime da escravidão. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, Serviço de Publicações [e] Universidade Federal do Pará, 1971. p. 208.
70
! Cf. PIAZZA, Walter F. O escravo numa economia minifundiária. Santa Catarina: UDESC, 1975. p.
113.
! FLORENTINO, Manolo. “A cultura da submissão”. Folha de São Paulo, MAIS! 30 de janeiro de 2005.
71
! SILVA, Eduardo & REIS, João. Negociações e conflitos: a resistência negra no Brasil escravista. São
72
Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 63.
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diverso nível possível de consciência, de cultura, de organização, de reivindicação e
de autonomia dos trabalhadores nas duas formas de produção.
Sempre segundo essa visão, as “fugas reivindicativas” seriam mais numerosas,
se comparadas às “fugas-rompimentos”, em geral, significativamente menos comuns
do que se supõe, sobretudo devido, não à violência da repressão mas às concessões
dos escravizadores e à aculturação dos cativos. Manolo Florentino propôse em artigo
escrito na grande imprensa: “[...] em geral baixos, os índices de fugas eram ainda
menores quando se tratava de abandonar definitivamente a escravidão”. Para esse
autor, não superariam, possivelmente, um a dois por cento da população cativa.
Para Florentino, as “poucas evasões” expressariam “a multissecular
estabilidade do cativeiro, por força dos mecanismos de controle e, em especial, da
aculturação que mitigava parte da opressão. No limite, [as poucas evasões]
resultavam da afirmação de uma cultura escrava ansiosa [sic] pelo trabalho, por
tarefas e [por] o desfrute de tempo para se engajar em atividade autônomas”. 73 Ou
! Id.ib.
73
! Apud MACEDO, Sérgio D.T. Crônica do negro no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1974. p. 84.
74
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expectativas. Nas crises políticas que permitiram aos cativos um significativo nível
de autonomia, eles tomaram o rumo das fronteiras, penetraram sem medo os matos,
armaram-se por espontânea vontade contra a ordem escravista, e jamais em sua
defesa.
A confederação dos quilombos dos Palmares foi conseqüência direta das
ondas de fugas propiciadas pela chamada Invasão Holandesa [1632] e, a seguir, pela
Insurreição Pernambucana [1645-56]. Em 1822, a independência unitária,
centralizada, autoritária e monárquica, em torno do herdeiro real português, nasceu
sobretudo da consciência dos grandes escravistas regionais de que a escravidão não
sairia incólume de longos e duros confrontos, por um lado, com a coroa portuguesa,
quando de ruptura radical e, por outro, entre as facções regionais, devido à definição
dos limites das repúblicas surgidas do eventual esfacelamento do Reino do Brasil.
Nos dois casos, os cativos aproveitariam os conflitos para fugir, revoltar-se e aderir
às facções em luta. 75
!
Momentos excepcionais
As demais revoltas do período regencial, sobretudo a Cabanada, Balaiada e
Cabanagem, não apenas desorganizaram profundamente a produção, com o
aquilombamento de cativos, como chegaram a ameaçar a própria ordem escravista,
com a formação de importantes grupos de cativos armados, que intervieram nesses
conflitos, em forma autônoma ou não, tudo isso há poucas décadas da vitória dos
75
! Cf. MAESTRI, Mário. A escravidão e a gênese do Estado nacional brasileiro. ANDRADE, Manuel
Correia de. [Org.] Além do apenas moderno: Brasil séculos XIX e XX. Pernambuco: Fundação
Joaquim Nabuco; Massangana, 2001. pp. 49-77.
! 76 Cf. MAESTRI, Mário. Quilombos no Rio Grande do Sul. REIS & GOMES. Liberdade por um fio.
Ob. Cit., pp. 291331.
! Cf. PETIZ, S. de S. “Buscando a liberdade [...]”. Ob.cit.; MAESTRI, Mário. Deus é grande, o mato é
77
maior! Ob.cit. pp. 167-180.
"Catando cipó”. O cativo fujão no Brasil escravista: história e representações. CEA -
Universidade do Porto (Org.) Trabalho Forçado Africano: experiências coloniais comparadas.
Porto: Campo das Letras, 2005. pp. 171-194.
trabalhadores escravizados no Haiti.78 Como assinalado, as fugas em massa dos
Karasch, 1901 cativos haviam passado pela mesma prisão, onde haviam sido
açoitados, sobretudo fujões. 82 Em maio de 1876, no calabouço de Salvador,
78
! DIAS, Claudete Maria Miranda. Balaios e bem-te-vis : a guerrilha sertaneja. Teresina: Fundação
Cultural Monsenhor Chaves, 1996; FLORES, Moacyr. Negros na Revolução Farroupilha: traição em
Porongos e farsa em Ponche Verde. Porto Alegre: EST, 2004; LEITMAN, Spencer L. Raízes sócio-
econômicas da Guerra dos Farrapos: um capítulo da história do Brasil no século XIX. Rio de Janeiro:
GRAAL, 1979; PAOLO, Pasquale Di. Cabanagem: a revolução popular da Amazônia. 3 ed. Belém:
CEJUP, 1990; SERRA, Astolfo. A Balaiada. Rio de Janeiro: Badeschi, 1946; BEZERRA NETO, José
Maia. Ousados e insubordinados: protesto e fugas de escravos na província do Grão-Pará – 1840/1860.
Topoi, Rio de Janeiro, março de 2001. pp. 73-112.
79
! Cf. CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira; Brasília, INL, 1975. p. 319 et seq; PIÑEIRO, Théo L. Crise e resistência no escravismo
colonial: os últimos anos da escravidão na província do Rio de Janeiro. Passo Fundo: EdiUPF, 2002.
[Malungo, 2]
80
! Cf. DEAN, Warren. Rio claro. Ob.cit. p. 90.
81
! Cf. CONRAD, R. Os últimos anos da escravatura no Brasil. Ob.cit. p. 20-1.
!
* Mário Maestri é professor do Programa de Pós-Graduação em História da UPF. E-
mail: maestri@via-rs.net
!
!
!
! 84GEBARA, Ademir. Escravos: fuga e controle social. ESTUDOS ECONÔMICOS, IPE, São Paulo,
1988, V. 18, pp. 103-146.