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C V R lOSAS,
E NECESSÁRIAS
S I L.
DAS COVS AS DO
Pelo P. SIM AM DE V A S C O N C E L L O S
da C o m p a n h ia de I esvs,
E M L I S B O A.
NaOfficinade l O A M D A C O S T A .
Ê45--&Í3- 'fiâS?■E
8&3-&ÍS- ' -E
5&?íaó? -£í>
3-e^
COM ÂS L I C E N f A S NECESSÁRIAS.
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AO SENHOR C A PITA M
FRANCISCO GIL DE AR AVIO,
' Bemfeitor inßgne^ & ßngular P roteilor da
Companhia de lejus no Eßudo
do Braßt,
Simão de Vafconcelos.
A O S 'G^VE L E R E Á 4.-
: S Prologomenos , que cm dousi
...I
iiuros fiz ao primeiro Tomo das
Chronieas da (Companhia de lefus na
Prouincia do Brafil, compoem' a mate
ria defte pequeno volume.- nam encare-
,ço o quanto feja goftora fua liçam,por
que quitD dci-sar a cxperienciade quern
ler o abono defta verdade,que no meu
juizo ferà furpeitofa, & noalheofincera.
Quiz o Senhor (Capitam Francifco Gil
dc Araujo, fe eftampaíTe em tomo di-
ftiníTo da Chronica , pera com maior
facilidade fe dàr a'conhecer a todbsefta
parte da America, deuendo por efte
modo ao zelofo intento defte Senhor
os Leitores o paííatcpo,o Brafil a fama.
Correrão finalmente as defpezas de ro
do o cufto por conta de feu mefmo Pa
trono, pera afíim fc dizer rodo feu por
juftiça, ôc por eleição- moftrandofe de-
' * iij- fta
fta forte a todos, quanto jhe deua nefta
Prouincia a Companhia de leíus , por
qualquer mottuo que a poffa fazer agra
decida a tantòs benefícios, quantos com
ella tem difpendido a libera mão ddle
feu infigne Proteâ:on I
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'Í3! A O P R O T E C T O R DESTE L IV R O
01^ que pera fazer ao Brafil mais conhecido,
o mandou imprimirem Tom o
mais pequeno.
D É C IM A .
I m i n u i r m a i s crecer
I i
D O mejmo fogeito implica^
Sjie quem diminuefica
Muito à quem de maiorfer:
M as íflo uem a Vencer
O Brafil fmorecido
D e njos^ pois quando fiolidò
D quereis ao mor louuoty
Fasseis que em Tomo menor
Qreça empr mais conhecido,
Taxam eíle Lluro em dous toftoês em papel. Lisboa 15. de Março de i «4í 8. ^‘
L I V R O P R I ME I R O
notícias
C V R I o S A S.
- E NECESSÁRIAS
DAS COVSAS DO
ASI L
IN T K O D V C ^ A M ,
SV M M A .
1
C
Ontemsße Uurpo defcohrmtnto âdmWéuel
ão Nouo mundõ'^ dffipvrpdrtp daldpua Eß-
panha, comoporparte do Braßl, O modofom que fe
' repanio entre osdous Rejs de P m a g a l^ ß a ß
tella.
LiuTG Î, d as 1^0tid a s
ulU. A d^fcr'îpçdÿ^^ \dcmarcàçat geographica de
Jkas terrasj coflas ^ riosy portos^ cabosy enjèadas ,
; ferraniasfronteiras ao md^.E a rejoluçaõ de al
ga as daaidas curioJaSy a faber: Quemforao os
meiros progenitores dos índios} Em cpae tempo en-
m
frarao nejle Nouo mundo} De ejue pafte‘uierao}
ID e que nação erao} Por onde, ^ de q ue maneira
fú ; entrdrao} Qomomão conferuaraoJuas coresylíngua,
p & cojjumesyfeus defeenderites^
D a s coufas do ^ra[il.
ar o liomem, formar Paraífo cerreno(feguná®
opinião mais comum) aurorizalla cora Patri-
archas , cabeças dosviuentes racionaes *, Ôco
que mais h e, com íua diuina pretença feita
humana, luz verdadeira de nolTa bemauen-
turança. Porém a outra parte da terra, outro
mundo igual, n^o menos apraziuel, da quaJ
diíferao mefmo Criador, c]|ue era muito boa;
deixoua ficar em eíquecimento,fem Paraíío, |
íèm Patriarchas ,fem lua diuina prelençahu
manada, íem luz da Fé , & íaluaçao ; té que
iii: depois de corridos os feculos de 6691- an nos,
deu ordem como appareceífe eíte nouo, ôc
encuberto mundo, ác toi a íeguinte.
2» Ibíaquella parte de Anduluzia aonde cha- Oijco^rtTncntoad-
m ío o Codado de Niebla,hauia hCi homem
de profiílao Piloto, léu nome era AíFonío Sâ- ^ . qaede^onfoi
r 1 T *11 T 1 /I chamada^ Noua
ches, natural da villa de Guelua; trataua eite Ei}at?ha,
em nauegar ás ilhas da Canaria, dcftasa ilha
da Madeira, onde carregaua de aíTucares,con-
feruas , & outros frutos da terra , para Efpa-
!^r. Antonio da
nha ffuppofto que outros querem que foífe PiTÍfica^áo
pjrt das Chroni-
na i.
Î- ' A if o To dc Otialic
|ia deicenden hojc os Almirantes das Indias hi (t. ele Clii!Ii 1 b
1 4. cap. 4 . (-íoiiçalo
de Gaftella com titulq de Duques dc Beragu'a ^ 1MeTcas part, a
H ift. i^oiuif F. I
PouGos annos' depoes voltou Colon por di- ; H .A . g e r a l das liv
! d as 1lU c S ; J 11íio
uerfas ve zes, &c foy defcobrindo a ten a firme: !fo!. 2 2 b. f rancifco
(jonzag.a Fo! i i v g
de cujos ^uceíTós, deícripçoês, pouoaç3cs,&: OHuierrera ed o 1i u. 2. c. 2 5
Dt c.ada i.
grandezas deita parte do Nono mundo,íe po crb is na dcFcripyío
iiíi. I. c 8. Tluritr.
111 H iítoria, nâo foi níeiios marauilhofo, nem d?.sa-rm. c.'o Fraílb
bti 1. c .8. T l i c a t r .
ioi Capitap Vaíço^da^Gama, efcollieo pera eíte 1OIi co n55-o 1.2 Icronymo
p 64
■v:j B ij effeito
Liuro /. iduN otícm s
Parte Pedro At~ eíteito a Pedro A lucres Gabral, Português,
’tarei C abral em
M ar ^0 de 1^00. varáo nobre, de valor, & reíoliiçao. O qwal
partindo de Lisboa peraaquellas partes da ín
dia com hüa frota de treze naos em M arço do
anno de 1500 . chegou com profpera viagem
as ilhas das Canarias: porem paíTadas eílas, foi
arrebatado de força de ventos tempeftuoíos,
ôc derrotados feus nauios. Hum dclles, o do
Capitao Luls Pires , deftroçado , tornou a
arribar a Lisboa : os outros doze engolfa
dos demaíiadamente em o Oceano Auftral,
depois de quafi hum mesde derroca, aos 14.
de Abril fegunda Oicauade Pafchoa (fegundo
o computo de loao de Barros, Luis Coelho,
Ôc outros) vieraoa ter villa de húa terra nun
ca dances labida de outro marcante : efta re •
putárao por ilha ao principio, mas depois de
Inauegarem algils dias junto a fuas praias,aue-
riguârâo fer terra firme.
8 Foi increíuel a alegria de toda a Armada
porque naquella altura jamais viera aopenía-
mcnto que podia^ hauer terra . Puzeraolhe
a proa, êc mandoü Cabral ao meílre^ da Capi
tania que entraíTe no batei , & folie iniièíli-
gar o fitio, & a natureza da terra; tornou aie*
gre
coufts do Bra/IL P:>x
gre, & referio que era terra fertil,amena,vei
tida deerua, &amoredo , & cortada de rios^,
& que vira andar junto áspraias hús homens
10
niis, que tirauao de vermelhos, cabello cor-
redio, com arco , &: frechas nas maòs. Naò
fao cridas da primeira vez as coulas grandes:
tornou a mandar Capitaés, òc fizerao elles
ri ■ '
■*' I certo tudo o refejido \ porque trouxeráo
-■ 'li configo doLís pefeadores, que apanliàrao em i
húa jangada junto ápraia; entrados nanào,|
^4| vinhao a vellos com efpanto, com oam onf-j
■i'i tros da natureza : & como nem elles com!
noícojnem nós com elles podiamos fcillar,por
acenos, ôc finaes procuramos tirar noticias;
porém de balde; porque fua rudeza, & o me
do com que ellauâo, era taí, que a nada acu-
diâo. O que vendo Cabral, mandou que os
veíliíTem, ôclançaíTem em terra com bom
tratamento com que forâo contentes aos feus,
■\l ôc lhes contàrao o que virão, & faciliráraô o
trato.
9 Lançou a Armada ferro pera deícaníàiCa}7ia ferrou Âr
da viagem, ôc experimentar juntamente ter ■nada
':çuro.
em porto
Â
D a s coufas ãoBraJÍL 23
7
]I
iiicm os Caftdhanos nuiita terra, nao por fiollanosaígtiaíey
ra^ f>ertev(inteà
cofta, mas dentro do fertao : como fe pòde demarcarão do
iCO BrafiL
ver claramente na demarcação de algiias
cartas, que defta nofla parte ailcntao aigus lu
gares da Prouincia de Buenos ayres, Para
guay, CordoLia,ôc outras. ]
17 Pella opinião dos que dáo trinta Sc 14tores deflaso^i
nioens.
cinco graos por cofta,fe pode ver o Autor do
:iri
noLio liuro intitulado Theatrum orbis,na ta
boa do Brafil,com Niculaode Oliiidraahi ci
tado. E dizem aííi: ímmmjumit ( id ejl Brafi-
lia) k Parky cjhx Ponugallornm arx ejl in ajiíí-
ano miximi jltuminis dy^ma:^onum Jitb ipfb pene
aqHãtore jitai ^ dcjínitin trigejimo quinto gradu
ab ^quatorc verfus Àuflru: quem ingentem terra-
rum trafíum Portugalli fuijuris ejp proftentun
O mefmo tem Gotofredo na fua Archonta
f/il;i I logia cofmica folhas trezentas Sc dozoito.
Pclla opinião dos que dáo quarenta Sc cinco
Í'!,! graos, éftâ MaíPeo no liuro íegundo da H i-
ftòria da Índia, no principio v aonde fallan-
do daProuincia do Brafil, disaili: H^ca duo-
■•jpi
.«‘ i bus ab aquacore gradibus, partibufque ad gradus j
quin- •
24 LAuro L das N otici'ts
'í
quíncjuCy ^ q^iadragintd in /dujlrum excurrit.O
li
mefmo Ic^ue Oilandino nas Clironicas da
Companhiade I e s v liu. 9 . num 86- E o dou-
tiííimo Pedro Nunes ja citado , no cap i.i. òc
.diz aíli.A Prouinciado Braíilcomeça a cor
rer junto do Rio dasAlmazonas,onde le prin
cipia o Norte da linha da demarcaçao,&: re
partição [falia da no (Ta, que corta olertaodo
Brafil] Ôc vai correndo pcllo fertaô defta Pro-
uincia ate quarenta & cinco graos, pouco j
naaisou menosralliíe fixou marco pclla C o - |
roa de PortugaL
D'utme'Yoi* tey i8 O D iâm etro,ou l a tOi r a da terra ^ do
ra d o B ra fil.
Brafil,pende tambera das opinioés reteridas:,
porque as que apartao mais da cofta do mar
perao Poente aquella linha do fercao, conte-
guintemente dao maior extenlao de largura^
as que menos, menor. Porém ainda, fegun-
do o computo que leuamos, nao he facil
aucriguar largura
L certa, por refpeito da varia
diíporiça6,& figura da terra. O que parece
verifimel, he, que terà em partes de largo du
zentas, em parte trezentas, quatrocentas, ôc
maislegoas, por regiões atè hoje inhabkadas
de Europeos, pofto que fecundas de gentili-
dade.
D 04coufos do J&raflL 25
•s i
V ‘
ueltigandofeusrcconcauos, achou cm hum
I
delles, ditto Paraguaçii, duas naos Franceías,
que tinháo entrado a reígatar com a gente da
terra. Chegou perto a ellas, eílranhoulhe o
feito ; lendo aquellas terras do dom inio, òc
-.. I'
conquiíla delRey do Portugal,ôc elles eftran-
geiros : & reípondendo os Franceíes fober-
:;!i bos moítrando acçao de reíiltir, os meteu
i:t- no fundo COni gente, ôcfazenda, empena de
Mete» duns naos
íêu atreuimento.' E depões de tempo coníi- Francefas n ofun
do.
■ Al derauel,vários diícuríos, & noticias da coita, Maris Dialog. 5.
Chron. de Port.
voltou a Portugal^ & deu conta de tudo a liu.}.cap.i.
D iij íc
30 L m ro J.das N o licia s
Defte rio vejaó'**. fc paíTcm em filencio. Sáo como ciuas cha-
ASraháo Horrelio
& Ttieatrum orbis
nas caboas do íjra
ues de prata, ou de ouro, que fechao a terra
fil» & tnuico em cf-
pecial a relaçiõ do
do Braíil. Ou lao como duas columnas de li
Padre Chriftouaõ
da Cunha da Có quido cryítal, que a demarcáo entre nós, ôc
panhiade I e í v .
Caltella, nao íó por parte do maritimo^mas
cambem do terreno. Podem também cha-
maríe dous gigantes, que a defendem, òc de
marçao em co m p rim en to,circu ito, como
veremos. Porque he couíaaucriguada,ôc pra
ticada entre os naturaes do interior do íèrrao,
queeftes dous rios, na íómente prefidemao
mar com a vaftidao de feus corpos, & bocas;
mas também com aexteníao de feus braços
abarcao acircunterencia toda da terra do Bra-
fil, fazendo nella por húa parte hum femicir- k
culo de mais de mil,&: quinhentas legoas; &
por outra mais ao largo , outro ,de mais de
duas mil, com tao deluíàdas marauilhas, co
IJ ‘i mo logo veremos,
He 0 Emj>erador
ddt fios do mundo. 13 O das Almazonas por outro nome
Grao Pará, femexageraçao algúa , he o Em
perador de todos os rios do mundo;& qual
quer dos que celebra a antiguidade, à vifta
dcfte fica fendo hum pequeno pigmeo em l-
II
D 04 coufos do Brasil. 31
4p>
D a s coíífas' do^ rapl. 33
I ,
' il iH if I
i outra
-i
\ 'A
V?
D a s cotifas do Brajit. 37
4
V
-
outra ca ÇI montefi nha,
l'in*
30 Q ae as niçoéscjuehabitauao a circun
ferência do rio, &fcus grandes braços, nao
podiao contaila,na6fó peliosdedos das maos,
'A ôc dos pés, por ondecoftumao contar ,mas
V. nem ainda com os feixos da praia: 6c indo
wlil- nomeando algúas, paflkiáo de «50. fóas de
ul- lingoas diíFerentes: & fora maior a multidão j Kofnes das v a-
illl> de gête, a naô fer a guerra cocinua,& infacia- I dejlasgentes.
\ Lagjnnris, Mueu'
uel quetrazê entre li. Dos nomes de algüas nè M,)piaius.A{]ui
naiV.Hurunàs.Wi
iii deftas naçoês porei exemplos*, porém íéra â riXeiaiiaS)
ruàs, Samaruàs»
Signiàs»
aK-i margem, por nao caufarfaftio; porque feria Gonaporír, Mupi,
V : enfadonho lé quizellè contar todas as naçoês turla i s , Macugàs,
Macipias. Andurà,
Sagiiariiv, Marai-
iüíi' deitas gentes. Hm luas guerras contao algús niumas . Ganaris»
Cucíiigoaràs, Cu,
îiOi! deli es hum modo gracioío, de que vlauao os niayans, Guatjuia-
menos poderoíbs , quando queriao euitar o ris Curucurü^/ioa
raneis, Mutuanis,
Cmíncjütà ( eftes
W O! encontro; que comoordimiriamcnte viuem que (30 os gigantes de
Jogo diremos)
iiliS! em ilhas, ou ribeiras do rio, òc víaô de cano »/IS
Garaganás.Pofoa
Vrayans.Goa-
li as mui leues; no tempo que hao de fer aco »às ^>oacara^àt,
nriis, Cotoceria
Ororupinis Gui-
rnettidós, paííao a outra parte do rio, & lo g o »acuinis, TuinJ-
»'aii)ài,Aragoanai
iC tomando as canoas às coitas, asvaoeíconder »aSjMarigudariás,
* ^ríharas, y^areua'
0^ em algum dos muitos lagos que ha entre as g»'iç»s,Cumaruui
. Caniçoaris,
mattas, & fogem, deixando os contrários Va----s- —
fiuílrados; & idos eltes,tornào a rcftitiiiríè a
fuas terras com asmefmas canoas.
E iií 21 Di-
L íííy o I. d í s N o t i c i a s
' I t ^ r t - ^ I I
D a s coufas do Brafil. 4j
G r a o P ara ; p o rq u e a b a ix o d e f le , a n en h ú J
‘■aÍo o u tro d o m u n d o ced e.A íT i o ju lg a o jà h o je
:.y .I o s q u e tem m e lh o r n o tic ia das terras. O A u
fio,' to r d a G e o g r a p h ía do m u n d o , in titu la d o
r iie a tr u m o r b is , n a ta b o a i5 > . d o P a ra g u a y ,
d iz afli; Pofl flauipím Àma:?^omm , m lli totms
ÍIl-; terramm orbis flumini magnitudíne cedit, a
fo r a 0 rio das A lm a z o n a s , a n e n h u m o u tro 1
d o o r b e c e d e . E m íèu b o jo co m p re h e n d e
m u itas, & g ra n d e s ilh a s, to d as a m e n a s ,& e n
[•fv I
feita d a s d a n atu reza.
U
O; 37 Seus arredores fa o Ê e rtiliííim o s,ca p in a s
>.h| e fte n d id a s, ate can far os o lh o s , ca p a zes de íe-
áras,vin h as,fru taes,& : de to d a a lo rte de p la n
■?Ü
l' tas, e r u a s , & flores de E uropa; ô c d e t a o e x
IO* o r b ita n te c o p ia de g a d o , q u e c h e g a a n á o ter
e ftim a a lg ú a . N a o ía o m e n o re s as riq u eza s
Sti^s tninxs.
de ourO :,prata, 6c p edraria , q u e v e m d efeo -
'■ 'i'
1 D a s c o u fk s d o B r a ftl, 45
■ VJs. ‘
D a s coujas do BrafiL 47
4 Rio acct.
canoas ate onde ajudou a marè, encràráo por
hum braço aílima chamado M andij, & de-
fte caminhando por terra vinte legoas com
0,1! o rofto a LoéÍLiduéfte , foráo dar em hua ala-
iH ÍÍ goa, a que o gentio chamaua Boca do Man
a dij, grande, & fundai da qual nafce hum bra
!Ítí ço, que vai entrar no Rio doce. Defta alagoa
íffl- corre o rio a Locfte, & delle a quarenta le *
goas fe defpenha de húa temeroía cachoeira.
Andou efta gente ao longo do rio,que íae da
alagoa, melhor de trinta legoas: daqui vol
V
tou caminho de quarenta dias o rofto a Loé-
fte, & no fim delles chegou a hum lugar,an-
'deefte fe encorpóra com o Rio doce (dizem
que andariáo neftes quarenta dias como fet-
tenta legoas.)
f 5t Chegados jà outra vez ao Rio doce,
fizerao alli embarcaçoens de cafc^s de amo
res,.p0iFantes algúas de até vinte homens; na-
it negàrao com eftas pella corrente do rio afli-
ma,. até paragem em que vai meterfe em ou
i(í' tro, chamado Acecíy peilo qualíobindoqtia-
Jfl H tro
53- Liuro L.das ISIoticias
tro legoaSjdeíembarcàráo, òí forâo por terra
li- I rofto ao Noroérte eípaço de onze dias , òc ífl-
atraueílando o Acccí, andàráomais fincoeii. Cl)'!
ta Icgoas ao longo delle, da banda do Sul trin
Mineraes de pe ta dellas^ Aqui defcobríráo então vários mir
d ras 'Verdes , ó ?
,onro neracs de pedras verdoengas , que tomauâo foL
de azuly & parecem turqueícas lhes affir-
mou o gentio circumuezinho, que no alto do li
mote fe dcícobriâo pedras de mais fino azul>.
ôc que outro hauia que tinha em íi copia de :â
metalaniarello (aíli chamâo o ouro.) jií
55 Ao paíTar do A cccí a derradeira vez,
diftancia de finco,ou feis legoa^pera abanda
!. :doNorte,defcobi-io Sebaftiáo Fernandes hua
i ^grande,, &: fermoía pedreira de efmeraldas,&
Efmemlíiíis, jOutra de íaphiras, que eftáo junto a húa ala-"
fítphiras- g o a : & feirenta, ou fettenta legoas da barra cn
I do Rio doce pera o fertâo ao redor do m e t áiii
; mo rio, vierap a dar com hüas íerras cheas de
aruoredo, onde também achàrao pedras ver-
des. Correndo mais aflima quatro, ou finco
' legoas pera a parte do Sul dérâo em outra
ferra, onde Ihesaffirmou o gentio, hauia pe
Pedras verdes, (5» dras verdes, & vermelhas de comprimento tlS'
verm elhas.
'I : de hum dedo, Sc outras azues, todas reíplan- oC
decentes.
-tv
D a s coufa s do BrafiL 59
decentes. D eftaferra correndo ao Lefte pou'
CO mais de legoa, derao em outra de fino Serra de cryftal.
|o$: H iij Tü
tr
i
61 L ia ro /. dûA ISlolictãs
m 64 X^íiivo /, N oticias
onde a natureza lhe concedeo íahida , .em
altura de vinte 6c hum graos, 6c tres quartos. I
Faz grande numero de ilhas de maçapè fi- li
niirimo , cubertas de aruoredo, que íobe ao
ceo. Podèra daquella barra peradentrofun-
daríe hum Reyno, a íer ella capaz de embar-
caçoens maiores. Todo o diftrito que corre
de Rcritygba ( outro rio diftante quinze le-
goasdo Eípirito fanro) ao Sul, até o Gabo de
S. 1 home, cra fenhoreado de tres nações de
gente faluagera, que cOniiinhao em genero ií
CoMitMcazer.
Goaitacamopí, Goaitacáguaçh, Goaitacája-' :1H )
corito , que andauao em continuas gu?rras,
& íe comiao huns aos outros, com mais von
tade , que as feras da caça : habitauâo húas
campinas, chiamadas de feu nome,6c poderão i*'
chamaríe Campos Elyíios, nafermofura^ gra- "10
deza, 6c fertilidade. Deftes pera o íèrtao ha
bitauâo caftas de gentes innumeraueis, Ta-
puyas todos, 6c todos intrataueis; porém pella
parte marítima partia o gentio Goaitacá com
os Tamoyos da banda do S u l, 6c da banda
do Norte com Tobayaràs,6c Tupinaquís,com
quem traziao guerra.
^o D o Cabo frio , dezoito legoas Léfte
.1
Oéfte >. I
D a s coufas do B r a ß I, 6i
Gannnia^
Iro, calaim, dz íalitre, ate o Rio Cananèa : ôc i
j difta eíle de S, Vicente trinta legoas, quafi
.•rêc'>
; / •»
jNordcfte, Suduèíle. Eftâem altura de vinte
ôc íinco graos, dz m eio: Iie abundante toda
h<:>. fcLi diifricode copiofas alagoas , & rios férteis
H<i de pelcado, òc a terra de caca, ôe todo o gene^ ;3K
ro de mantimento Bralilico. Tem grande
>i:=a
boca, ôt delia pera dentro húafermoíà abra, liO
'• V i
capaz de toda a forte de nauios ; & ate aqui
V.é chegâo hoje as pouoaçoensdos Portuguefes.
if
6r Do Rio Cananea ao Rio da prata-vai
outra fermoíã parte da terra do- Brafil cora-
M Uoo.legoaspor colla,que comprehende cou- í
! ias grandes, em que eu não poíTo determe: í
m <1 porem em fumma, tem vinte rios caudalofos
-m if
eftas vitimas praias. Hum dos principaes lie o iti^i
m
RioS.Francifíi),
Rió S. Franciico: d tà em vinte 6c íbis graos,
& dous terços; tem na boca tres ilhas: he ca-
,i«i!
,paz de nauios ordinários , muito m aníb, de
' li'M
Elij
grandes pefcarías: feus arredores ferteis de ca-
||
I'll
s » .
^ t . •»Ss.. I I t
D ^ s cohJI^.s' do ^ ra fil, 6 j
: ça, àL aptos pera toda a planta Braíilica. Hc j
poLioado de Índios Carijòs, a melhor nacao ®
do Braíil.
Outro he o R io que cliamao dos pa
tos, em toda a cofta celebre. Eftà em altura
de vinte òc oito graos: he mui caudalolo ; a |
á- que pagao tributo outros menores. Tem por
m ci fronteira a fua barra a ilha de S. Cathetina, Ilha de S. Cathe-
rina,
que vai fazendo abrigo à terra a modo de híía
lij fermoía eníeada , de comprimento de oko,
. . . ii
**' I
1i
ate dez legoas*, fertiliíTima, cuberta de amo-
Ke| redo, retalhada de correntes de agoas, po-
e! uoadade feras fomente, dc em tanta quanti
viJl dade de veados , que parece coutada de al
i gum grande Rey ; ôc fenaôforaó os tigres
.1
que os comem., íeriâo infinitos. Parece hum
n viueiro,de peixe, & mariíco pera todo o cem
po , òc de toda a forte. Daqui dizem foi le-
iTi5:| uado aquelle cafco de oftra, no qual hum Ca
I
v:- r 'Vs.. \ r í r
D a s c o u ß s ã oB ra fiL 71
cíigiofas montanhas, que aíTima Jiílemos lhes* |
îi aiuiltauâo de mar em fora : & nao-era rezao j
ficaife em íilencio coufatâo nocauel,& a pri
meira que viráo neítas partes. Eftas monta
nhas deícreuemos por extenfo na Hiftoria da
vida do Veneraucl Padre loáo de Almeida
fítui no Ifara quarto por todo o capitulo i» 5. & 4.
II
Ö0) pello que trataremos fomente aqui do que
iq'i virão aquelles Exploradores, quanto às appa-
iXos! rendas externas, que de força pede a H ifto-
ria;
10 íe 6g Com eçào a^ apparecer eftas monta Defcripfãâ do ex
terior das ferras
nhas aos que vào correndo a cofta, da Capi- marítimas da co-
ß a do Braßt.
tanía^dos llheos pera o Sul. Tem feu princi T emfeu principio
pio poucas legoas andadas do fitio davillade das Geaitaràcas.
S. lorge, aonde chamao as ferras dos Aim o
‘;D,[ rés, por outro nome as Goaitaràcas ; Ôc vâo -
correndo daqui continuadas todas como por
.ií corda, por toda a cofta do Brafiljà-vifta fempre
:i!i
dos naueo;antes, ora metidas mais no fertâo
.íi- Gouíà de oito, dcz^ ou quinze legoas , ora lo-
branceiras ao meímo mar , que em-paragens
■Ílío
Ihes laua ospes, caminhando quaíi ate o Rio
da pratas que vem a fèf de comprimento paft
fante de quatro centas leg-oas. -Onde pareí^e
S' . . defcan-
li fii
ill 72 "L 'turo /. das N o ticia s
yi\
1 dcícaníou a natureza hum pouco, Òí rornoù Hi
I logo a continuar com aiabrica defta maqui-
m j na fatal do terreno , correndo com ellas na &
meima direitura ( paiiado como por falto a-
quclle grande rio) pellos Reynos de Chillgr
IQuito, Peru> 6c Granada, por eípa ço de mais t
, de mil legoasjalêm das noíTas quatro cotas, t:
efta he aquella affamada Cordilheira, affi cha-;
mada dos Caftelhaíios 5 da qual fazem men-, ILJ
'.çâo Antonio Herrera na Hiftoria daslndias,
tomo 3. década 5. ôc o Padre AíFoníb de Oual
il ; U:
de Ja Companhia de Í esv na Hiftoria de
Chilli, liuro primeiro do capitulo quinto por.
diante. Tratem aquelles embora da parte que
lhes toca, que nòs tratamos aqui do que ca-'
be às,noílasquatrocentas legoas, quenâofao:
menos prodjgioías. ^
A îtnm .
69 A immenfa altura deites informes
montes, he femelhante proporcionalmente a
íèu comprimento : parece querem competir,
com o Çeo; nem Pyrincos, nem Alpes, nem
outros que faibamos, podem correr parelha
com elles;.as nuuens ficaolhes feruindo de fa-
que cingem pello meip aquelles grandes
,corpos j ficanclo a paitte/uperior izenta dosil
vapores
IL
if •
L)a.s coufa^ do BrafiL 73
•faoi) vapores, ôc exalaçoens terrenas. Os que fo-
'f bem a elles, pizâo nuuens do meio por dian
te : & quando chegao ao cum e, parecelhes
[oa. -andarem fobre a terra as mefmas nuuens: as
chuuas, os ventos, as tempeílades, os arcos
da íris, exalaçoens, ôe impreíToés meteoroló
ii. í gicas , tudo eftáo vendo de fima íuperiores,
ull- gozando elles no meímo tempo S o l, &: bo
^çü- nança ; ficáo como em outro m undo, & co-
yiSj m oizentosdajurifdiçao do§tempos*,qualdo
ciimc do monte Olympo cantao os Poetas»
iè He certo occaíiao pera louuar ao Creador,
por alli os olhos no Ceo, que como entao fe
vèmaisliure dos impedimentos, que íoemen-
;C3-| cobrillo , apparece mais puro , ôcfermoío.
)íió Quando vao defenfaixandofe as nuuens, ôe' ^raMueis»
enxergandofe entre ellas os meios corpo%
■Hiu que eftauaocubertos, lie coufa, de grande re-
creaçan ir vendo do-mar aquelies agigantados
’ã] cumes, as figuras, òc apparencias que formão
de ferpentes, gigantes, cauallos, leoês, cida
•fcl des, çaftellos, ôctorres , que arrebatâo avifta
^fa* a o s ju a u e g a n te s c o m mais* rezao o fariâo^r
4ps Explpradpres re!Sae;s, i>ouos nas taes vi-*
foePS.: ' s
K Le-
m f! : ; i
74 'Lvd.YQ I. das N a ticia s
D o s co u p a do Ë r a p L
I 1 r I' 1•yvsv-rySTT
Da^s coupts do Brafil, 7
m
1« .
D a s coufas do "BrafiL
4 & ih iex cu fa a ignorancia d efies, tanto por
íua natural rudeza, como por falta de arthi-
LIOS.
^'c'^
D a^coufas doB raßL 8s
4iie
das lingoas, diziao, cpecom o diicurib dos
'líi- tempos, variedade de lugares, & diuizoes que
tinhao feito entre fi, por cauíà de feus odios,
& guerras, fòrao forçados chegar a eícjneceríè
dos vocaoulos pátrios y & ajudarle de outros
de nouoinuenrados.
; S.L Quanto à religião conuinhao os In
ITradífa^eonßa-^
dios de todas as naçocns, aíTi de h ú a , como te entre os índios
fo- de outra parte da America, que hauia tradi da vinda do Afo-
ßolo S. Thome fs
ção entre elles aiitiquiílima de pays a filhos, eßa America.
que muicos feculos depois do diluuio andàráo iqion^
por íuas terras liuns homens brancos, vefti
dos,.ôc com barba, que diziao couías de hum
'O ^
Deos, & da outra vida, hum dos qgaes fe cha-
maua Sumé, que quer dizer Thome; & que
eíies náo forâo admitidas ^e feus antepaifa-
dos, òc fe acolherão pera outras partes do mu
do; eníinandolhes com tudd primeiro o mo
do de plantar , 6<: colher ofitito doprineipal
mantimento de que vifao, chamado mandio
ca, finalmente acerca da bondade da terra Repoffa ridieula
dos Índios yfícerca
fe eíj:>raiauãomais; aqui mollrauâo con: lon da bondade d a
terra»
gas hiftorias, & exemplos, asdcfcripçoés das
couías, que a feu modo tinhao por de maior
momento ; como a de feus arcos, & frechas,
i L ii| das
L iu ro A das JSIoiicias
Depois Jo ãiluuio
po paflarao a cftas partes, os primeiros ponoa-
jfèraldas gentes^ cíores dellas. O que fe.vc claramente : porque
heiKcertojm c^ue
ii ■ tempo paffarao ít hiins dizem ^que feu primeiro pouoador.foi
eflaspartes os prí-
meirospouoadores Ophir Indico , filho de deíStan , neto de He-
dellas,
I, Opinião. ber,aquelle de quem £rl!a a íagrada Eferirura
O primeiro pono-
aeíor da America
no capir.io. do Geneíis,& aquem eoube pe-
foi Gphir Indico. ^a fenliorear o vitimo da cofta da Índia O ri
ental. Defte pois dizem, que paílbu daqui a
pouoar , & fenliorear a região da America, =
entrando pella partedoPeru, &: Mexico , ôt
L íu,4. cap.ifi. fül.
»IX. dilatando por alli feu Império . Affi o traz o
In Phaleg.cap.p.
Padre loao de Pineda da Companhia de le- ‘ 7-Btol
fu de rebus Salom onis, onde refere por elta Et
opinião Arias Montano. E vem mui a pro-
pofito efta entrada de Ophir Indicoj porque
defte íeu primeiro pouoador (fe he que o foij f
deuiao de tomar .o nome de índios os mora ■ >'i
dores da America , & toda a região da índia í;■ f'
Occidental. £ por reípeitodo mefmo nome Cl
diíTerao muitos (como logo veremos) que a 5
America era o meímo que o Ophir tao ce > -
lebrado na fagrada Eferitura. E legundo cfta 4,,.-
opiniao, o principio da pouoa^çao deita terra J
foi pcllos annos da creaçaó do mundo de
1700. quarenta & finco depois do diluuio, Sc
D a sco u 'fks do BrajU.
líO M aates da vitida de Chrifto ao mimdo 2.08S.
annos.
S6 Outrostiuerao pera ii, que os primei Sigunda ópiniao.
§lueforSo alguns
He- ros pouoadores defta America ibrao daquel- dos que pretc'nde-
Ml les, de que falla o Texto diuino no capitulo rão edificar a tOT' .
re de BabeL
onze do Geneiis,que pretenderão edificar a
flii-l torre chamada dc Babel, cujas ameas queriao
juial que chegaflem ao Ceo. Porque deftes dizem
tu,j alguns, que vendoie fruilrados, 6c confundi
I dos por Deos nas lingoas, porque não fe en-
,jio| tendeíTem na obra, eípalhados depois por di-
,le- uerfas terras, vieraô habitar eftanoíla Ameri
Ú ca. E fe afli he,fa6 muito antigos eftes Douoa-
dores 5 porque a hiftoria da torre paílbu aos
cento ôc trinta dc hum annos depois do di-
M /l luuio, na era dc 17 88. da criação do mundo,
.Ofi' ^174. antes da vinda de Chrifto a elle.
87 Outros diíTerão, que eftes primeirospo- Terceira opiilião,
^ini! uoadoresforão daquellas gentes dos Hebreos, Slue forão das
gentes dos Hebrc-
as quaes o íabio Salamáo coftumaua eniiiar ( es, que i fn tempo
de Sa.amão fa~
■‘CÍ' em íiias naosdo mar Vermelho, à região cha ({ z,iao 'viagern em
-ft mada deO phir, em bufca deouro, paospre- Ophir. de ouro a
bufca
, O Se
106 L iu r o 'I.d a f ISloticias
P a re c e r ão A a t c r! lo t Se heide dizeroquefintonefta opk
d a obra.
1niao tâo dilcutida da illia de Atlanre,confef*
Toque faz algüa força a meg cntcndunento,
nao fd O feguilla Platâo , homem de tanta
autoridade , chamado naquelles tempos p©r
antonomafia, O Diuino,luzde toda a Philo-
fofia, ôe de todos feus iegredos , & ta6 ferio
em todo feu dizer; mas tambem o modo com
que falla, qu^ando a iegue, deicreuendoa c6
todas fias particularidades, d a grandeza da
. 'I terra, fertilidade dos iitios,ieus bolqaes, ieus
rios, fuas fontes, fuas gentes, feus coftumes,
fias façanhas, fuas cidades, feus ííimptuoíos
i'- edifîciosj ôe fînalmentc osReys^que nella ie-
nhoreauaoj em parte délia elRey Atlante, &
na outra parte outro feu irmao , chamado
Guadiro. Tu do ifto parece d tà metendo me
do a duuidarde hum homem tao ièrio,, pera
fe poder cuidar delle que efcreueo patranhas.:
Alguns com tudo regeitâo efta doutrina da
ilha Atlantica como fabuloia: outros por in
certa, oupor impoilîuel: & por iffopropuz erri
primeiro lugar as outras Opinioés atsiba: cada
quai figa o que lhe parecer.
I' 105 Reftao outras quatro perguntas dos
Portu-
D os coufa^ do BraJlL io7
Porcugiiefcs aos Indios. Era a primeira délias: ‘ erguntafe a re-
como nâo conferuàrao as cores ? Porque ne* dus csres.
nlium dos feus primeiros pays teria cor de
m quaiî vermellio toftado , quai lie a dos In
fôf dios da America. Narepofta que derâo ac-
i!o tribuiao a mudança das cores ao demafiado
:fia calor que fere fuas carnes. E parece fallàraõ Sfgundo (í plnlo-
‘^(/hia,r.rocededíi
oui! conforme a Philofoíía5& experiencia; porque troporfão das 4.
/(
VO: os Philofofos concordáo , que a cor branca qualidades.
èi procede de fumma fnaldade , como fe vè na
neue: ôc a negra de fummo calor, como fe vc
no pez. Por ilfo Ariftoteles attribue a bran
cura do cifne, à frialdade do ventre da mây,&
a negrura do coruo , ao calor do ventre da
mefiiia. E deftes dous extremos fe tirao as
cores entremeias, vermelha,amarela, verde,
&c. fegundo diuerfaintenfaô de calor,ou fdo:
quanto mais participao do calor , tanto mais
fechegao ao preto ; ôe quanto mais do frio,
tanto mais ao branco: aíTique foi opinião dos
índios, conforme a Philofofia. E foi também Experieniid-
conforme a experiencia-, porque fegundo ifto,
vem os, lançando os. olhos por todos os cli
mas do mundo, tanta differença de cores nos
homensi itudo nafee do temperamento di
O ij uer-
Lf/fyo L da^ N oticia s
iierfo Je que gozão- Os Europeos, quanto
mais chegados ao Polo gelado , canto. mais
brancos íad j como OlandwZes, Flamcno'osj
Alemães.E pello contrario os Africanos^A^fia-
nos, Americanos, quanto mais chegados ao
toiiiao daZona, onde mais predomina o ca
lor, tanto mais pretos íao, E daqui vem que til
huns naícem aluiííimos, outros mais baços, if
outros coitados, outros íuluos, outros verme
f
lhos, outras pretos^outros íobre o preto aze-
1?
uichados. i
io i nao ob liante todaeíladou^
DijfciiidAíífi. f
trina, nemos índios, nem os Philoíofos,nem
• • .-V ^ '
I
t « S s .. I I xA 5v
D a s c o u fa s ‘ d o ^ r a f lL 113
-poistre frio , & produzira fempre preto o ventre
calido. E coratudovemosporexperienciao
contrario: porque a mulher branca, de bran
co pare branco, òc de negro mulato ; feja
'd; quente, ou fria a difpofição do ventre Donde
rij fc tira manifeftamentc, que nao eftà fomente i
4í- no ventre a virtude do grao do frio, ou calor !
:iK| .neceíTario ; fe nao na virtude feminaria, que I
!■ depende de ambos os générantes : porque fe 1
3l»C ambos tem virtude fria, gérao branco ; fe am- j
i I t I I vȒs.
D a s coufas ã o B ta fiL
rural aos PortuguefeSj como chamando aíTo- 1
mado ao areierado , ou irado , tomando a |
metafora dosquetazem a conta em foma, 6c
nao por miudoj porque o aifomado nao lan
ça conta ao que faz por miudo. D a mefma
maneira chamamos abelhudo ao que anda
,y,.apreíTado, tomando a metafora da abelha: 6c
3‘lj lampeiro ao que faz a coufa ante tempo, to-
í| mando a metafora dos figos lampos; talludo
ao que he jà crefcido, pella metafora das al
faces. E defte genero fao grande quantida
de. Ajudou além ditto pera a mudança da
lingoa Portugueía ainuençao de vocábulos
proprios, ou tomados das naçoens com que
communicauâo, como fe pode ver cm Duar
te Nunes de Leâojà citado. Conclufae dA du~
114 Agoravindaao noíTo intento. Aííi
como a lingoa Portuguefa por corrupção de
diuns vocábulos, & introdução de outros, ve
io a deixar de íer lingoa Latina , 6c ficou lin
goa Portugueía : 6c como antes de chegar ao
; eftado' em que hoje a vemos, teue tantas mu
danças de lingoas , que hoje náo fao enten
didas: porque acabou nos Portugu>eíés a lii>- Conforme a Du-j
arte Nunes de Le-J
íToa primeka, quefallauaó em tempo de Tu- aõ aÆma. {
------ — --------- — —
'4
Ks... | r
Z)<^/ coufas' do Braßte up
«fu o a m e n o d e feus b o íq u e s , a riq u e z a J e -fe u s
I .
th e fo u ro s, & a d e lic ia de feus ares, clim as;
■4(0 íe m d u u id a q u e ju lg a ria , q u e à m e d id a d c
ta o b e m a d o r n a d o p a la c io faria o S e n h o r a
- e fc o lh a d o s .h o m e n s , q u e o lia u ia o de h a b i
n tar: q u a l l i e fc o lh e o h u m A d a o , 6c E ua á
■ pl m e d id a d o rerreal P a ra ífo , q u e pera-elles pre
parara. S en ã o q u e tudo^^vcrà nrmito ao c o m
\x\il trariow^ L a n ç a r á os o lh o s -p o r effes ca m p o s,
iCOf' p o r eíTas brenhasj^por. elfa sferran íasv 6c verá.
nellas e fp e d e s de g e n te s in n u m era u eisy q u ê
i^do v iu em a m o d o d e h r a s , 6c c o m o taes c o n te n
ÜIO': tes c o m o to fc o das b r e n h a s 6 c fo lid a o da
í.wr p e n e d ía , d e fp re z a u d o to d o o p o lid o dos p a
lá c io s , cid a d e s, 6c g ra n d e za s d e to d as as m ais
p artes d o m u n d o .'
E m fu a gentiíi-
I \6 T o d a s eíbas n a ç o e n s d e g e n t e s ,. fa h dadenaSttmhu'
wanidade , mm
'i; la u d o em g e r a l , 6c em q u a n to h a b ita o feus fé ,m m le y i ntm
I r , .-vs.
D 04 coufoo do Brofil. u$
Coflutnct dt^Çetii
Cftjkmentos. IJJ Em Íèuscaíaraeníosnáoha.reípei-
.to a Jerenteícos por viafeminina ; antes a fi
lha da irmáahe commummente amulher do
tio, ou a mulher qque foi do irm______
- - __ ão defunto.
_
Xoraáo muitas mulheres; Sccomo entre elles
nao fe trata de dote, cuidáo quefazemmuita
graçâ emcaiarem com ellas. Nem leu amor
he tal, que por qualquer deígofto que tenhap UH(
as Çtoi
Í
h :K£'»^TTv^TL^'k. f 'ts- » r
D ^ s coHpis do ^ rafil.
^*C'
£ )as coufa^ do Brafil. 141
W '
• . » \ j
P ■
D a s coi^^Jas do Bf'afll. 14.9
14, 147 He fingalarmente fero'entre eita j
ffenre o modo de íurar as orelhas, faces,ôc bei- \ faces-,
>-|-i 1 j 1 ^ O' vcifos*
ços. 1 omao o pobre m oço padecente,kuao-
l]í' no como em prociílao entre cantos, dc dan
ças i ôc chegando ao lugar deítinado , hum
dos mais nobres feiticeiros amarrao de pés,&:
mâos, de maneira que nâo poíTamoueríe : ôc
^ili logo entra outro feiticeiro, ôc com humpao
^ ro -, 5c agudo lhe fura as orelhas, faces, ou
b eiço s, íegundo o que pedem os parentes,
ou íuas boas obras merecem; pranteando en^
tretanto as mãysà vifta do tormento dos fi
lhos; porém leuando tudo em bem,porfer ac
ill ção de gloria, 5c honra da familia,
Sò ao^ue hePrin
148 O que he Principal dosTapuyashe ctpal de todàs he
conhecido entre os outros, porque traz o licito trazer loz,a
doo cabello a m o
cabèllo tozado a modo de coroa, 5c as vnhas do aecoroa, ds
vnhas dos dedos
dos dedos polegares muito compridas; infi- p l gares copspri-
gnia que pertence fomente ao Principe, 5z das.
nenhum lae ouíado trazer. Os mais parentes
feus, & os que fao famofos na guerra , tem
priuilegib d'e vnhas compridas nos mais de-^
dos das m áos, porém nao no polegar. Das
crianças dos Tapuyasíe diz , que dentro em
noue fomanas começao juntamente a andar,
‘ ' T iij 6c
150 L íuyo /. das N oticias
L iw o L das M otictas
Das boas partes
da na^ão dos Bo-
rao fempre Indios de valor,* 6c íe fizerao efti-
'igoares. inar pellas armas, que por Icngos annosmo-
uerao contra os Tobayaras : nas quaes tiuerao
encontros dignos de liiftoria*, porém nao me
poilo deter era contallos : hcaraopera quern
de protdio tratar das coulas do Braiil. Senho-
rearao principalmente da .Capitania' de Per
nambuco, ÔCItamaraca pera baixo por eoftas,
ôcpello fertao , grande efpagoatc as ferras de-
Copaoba, onde punhao em campo.vinte,ate
trinta mil arcos. O terceiro lugar na valentiay
I
■sr
D j s cvtifas dol&raJU. 157
4 por inim iga, & eomo tal chamada Tapuya:
uK). a fa b er, naçao contraria. Tem muito mais
íí;
copia de gente, que algùa das outras naçoés-,
in£ & àlguns cuidao que maisque todas juntas.
Foráo fempre a(Ti, como mais feras,mais afifei-
iû- çoadas as entranhas das brenhas, & delertos.-
P{[. Ordinariamente quafi todaseftas fuas naçoés
1
^. andao corn guerra entre fi ; porque como o
feu mais eftimado pafto feja carne humana,
p o r cfta via pretendem hauello.
'f«c
.WÏI<
tr I li ftW ii
159
LIVRO SEGVNDO
DA S '
V R I G S A S,
E NECESSARIAS í
DAS COVSAS-DO!
B R A S I L-
s V M M A.
r '
parte da rejoluçao das peif '
C
‘ Ontem ovtm
,g^nf as CHviopts das coujas dos Indior, Se
çh^gou a degenerar algna de ^í40$ naçoens^de ma”
rL
neira qaei pçrdfjp Qfisp 4e humana f ^tie Relig^-ao
'W I
160 Liuro Ij.dits bictictds
feguem} Sf he certo que Veio aejlaspartesS^Tho^
W , ou outro ^pojlolode Chrtfio ? Se ejiando na
ignorância de Çua gentiltâade , podidoJaluarje al
guns delles} Trata da bondade da terra do Brajtl}
Defende efla daS calumnias que os antiguos lhe
impunhao de TLona tórrida^ ^ inhabitauel: ^por
fim mofira a bondade do clima, ^ duuidayji ncUe
plantou D COS0 Paraijo Terreal}
' V'
O s T R A MO S no lÍLiro antece
dente os coftumes dos índios,
3fp em quanto liabitáo feus ícrtoés,
&rfeguein ííia gcntilicLidc E he
bem que conhcçâo elles, ôco
mundo as monftrofidades de íua natureza,
pera que dellas mais admirem a ctíicacia,
com que a ley de Deos jde tolcas pedras faz
filhos de Abrahao , & d e rudes, Ôc bárbaros,
homens racionaes; porque he couíà certa,
que com a virtude, & boa criaçao defta íanta
/Í C ftA fa io d d v é r -
\dddeirapoltc$ad* ley entre os Portuguefes , tem vifto oBrafíl
^'e de Chriflo,t tm
feiro nos Indtoi
mudanças mui notaucis nas naçoens defta ^
I \grandes mudan- gente. Deftas mudanças iremos vendo luc-
S fAs decofiumes.
ceíTos dignos de hiftoria em íèus lugares,quan
do venha apropofiro de noííb intento, efpe»
cialmen-
A' . ;j
w
Diíis coufks do Bra/íL i6i
m
a
y.
I:
ftufos veftigiosde hua Exceliçncia.fuperior, a
que chamaoTnpa , que quer dizer Excellen-
cia eipantofa ; 6c defta moftrao que depen
-■‘s
dem *, pella qual rezao tern grande medo dos
Ltrouoens, 6c relampagos, porque dizem-que
vfao eff^itos defteTiipa fuperiot: por iflo cha-
mao ao troiiao Tupà.çanunga, que quer dizer
eftrpjndo feito pella Excelleneia fuperior j Sc
ao
D a s coufa s do BraJtL \yj
M i
Da^ coufas^do Bra/iL i3i
go, & fixando ínaterrá duas forciúiilhas, amar
rou fortemenüe íobre ellas híía claua, oii ma
ca de pao,<]ue he íua eípadá^ &: chãmao tán*
gapemá, toda galanteada de peiinas de paíTa-
ros variadas em cores/ Dèpõis cjué teue'amar-
■ rada aclailã, cõnuocou a muitos dosíèus pé-
la que dançalTem, &f cantáíTem aò redor dél
lá: òc acabadas íuasdanças, òí cantos,come
çou o mefmo feiticeiro a fazer'as ílias pet fi
lo, & ao redor da meímamáçáj acreícentan-
do a ellas ri Jiculas ceremonias, momos ^ ôc
eígâres;^ Feicoifto •, chegandoíe á^eíjaada, ou
maça, diífe entre dentes cèrtâs paláuras mal
pronunciadas, òí peor entendidas; ^&: ditas
eftas ^ íoprando alemYÍeHas'^ tres vezes íobre
a>erpada,‘deimpromfo ficou efta foita das li
gaduras em que eftaua, faltou fora dasforqúi-
lh as, &^fòi voando péllos' àres coin aflas de .< t)
m e fm o t e o r d e íu a s a g o a s,q u e r de v e r a 6 ,q u e r
d e in u e r n o ,,íe m 'q u e re d u n d e p o r m ais c h a
uas q u e h a j a , ^ íem q u e d eix e d e e fta r chea^
p o r m ais ca lm as q u e a b r a z e m a terra; O i n
tros f in a lm e n t e , p o rq u e cu ra milagroíamert-^
te c o m £uas a g o a s a to d o o v e n e r o >de e n fe r -
• T T O
m ídades.
it h c o <Jtie d iz e m . E u d irei o
que II
v i c o m m eu s o lh o s , ôc o q u e p a re c e m a is v e
_____ _ r iíim ii,
^Dascoufas do B r afil.
coufm do B ra fd . Í95
cm occaíiáo em que os índios reíiftiao à dou
tój|
trina, que alli lhespregaua: ôdlies quiz mo-
lt!i: írrar com efte exemplo , que quando os pe
nedos fe deixauáo penetrar da palaura deDeos
íeusduros coraçoês reíiftiao, mais obftinados
que as duras penhas.
também digna de notar aqui a Cantinho de Sao
1 'hcme milagrofe
hiftoria de Mairape, lugar diftante como dez
legoas no interior do recoiicauo defta cida
de. He hum caminho feito cfe area folida, ^
pura,.de comprimento de meia legoa pello
mar dentro *, & a-tradiçao delle he , que io i
feito milagroíaménte por S, Thom e, quan
do andando nefta Bahiapregando aos índios
daquella paragem , elles fe amotinarão con
tra, o Santo, ao qual, fugindo-daiuria.de feus
>arcos, foi leuantando o mar aquella eftrada
por onde paifaiTe a pé enxuto à viftafua,co
brindo Jogo o principio delia de agoa, por- j
que nao podeíTem feguillo os Gentios, que |
na praia ficarao admirados de .couíatáo ex-
^aordinaria ôc chamarão dalli em -diante
aquella eftrada milagroía,Maírapé,que vai o
meímo .em lirlgoa dos Brafis,que caminho de
JjQmem branco: ^ãífi .cliamauáo a -S. Thame,
* Bb por
ré gad a do j^po i8 Na altura da cidade dc Paraíba em
IobS. Íhomoia lete graos da parte do Sul pera o fertao , em
fiirniba.
hum lugar hojç defertOj Ôcfolitario, fe veou-
tro^pencdo com duas pegadas de hum home
maiois & outras'de-outro mais pequeno v ôc
certas letras efculpidas na pedra. Efte lugar he
achado cadapaíTo dos índios, que de íuas aU
deas váo à caçav ôctem pera íi,.que aquellas
pegadas íao de Si Thom e : ÕCifegundo o que
affirmaS* Chrifoftomo , ôc S.Thom asy que^
acompanhaua a S.Thome hum dos Difcipu-
los de Chriftoi as fegundas pegadas menores-
deuem' de ferdefte. As letras pretenderão os
Jndios arremedar aos noíTos Padtes nas al-
deas, mas náo íe-enteiuieo atégorafua:fignifi^
caçaoi
1 ^ Nâo fó no B rafil, mas por toda eíTa-
Sinaas (h-'Apojlo’
lo S. Thome na NouaEfpanha ha noticias admiraueis: direi
Notid 'Efpanhdtt
as de mòr conta. Er. loacHim Brulio na M i-
floria do Pèrú de íua Ordem de S..Agoílinho
liuro primeiro, capitulo quinto refere, que
no mar do Sul, em hua aldea chamada Gua-
tuleo , tinhao aquelles Jndios feus naruraesii ■I’d
$
nâo
S'
4s?
m
D a s coufas dç BrajiU 19y
■**':í nâo fópor tradição antiquiffimajefeus ante-
i' paíIàdoS; mas ainda por efcrito em certas pin
ani,I turas, de que víàuâo em lugar de letras; que
etD
: diüa Cruz que alli adorauâo com fumma ve -
311.1
) neraçâo, lhes fora dada por S. Thom e , cuja
íi:1 im agem , ôc proprio .nome tinhâo efculpido
em pedra viuaem huarocha 5 pera memória
perpetua.de couíatáofanta. O mefmo refere
o Padre Gregorio Garcia, liuro quinto , capi
tulo quinto,, onde^acreícenta, que efta Cruz
he a meíma que pretendeo queimar aquelle
iníígne herege FranciícoDraqjiie,quaiido deC
cobrio o Eíireito de Magalhaês; .mas fem ef-
1 feito, 6c com exemplo .de hum portento ma
rauilhoío: porque a Cruz lançadanas chamas
nâo íç queimou; antes por tfes vezes fruíhou
i a pérfida intenção do herege, que por outras
tantas intentou coníumilla com fogo, cuber-
ta dç^pez, 6c alcatrão. E finalmente efta mi-
lagroíà Cruz trefladou , andados os tempos,
pera Guaxàca, hum Prelado ;zeloío, loáo de
Ceruanjcesv 6^ he venerada naquellelugar com
c multida6.de milagres.
30 Fr. Be.rçbolameu de lasCafas, Varao
n ó , Biipo.de Chiapa,, depois de tirada [
B b ij graue!'
4
\9& Liuro 1 /. das N oticias
graue informa çao Ao caío , affirm a em húa
lha Apologia , que confia por antiquiffima
j Díadiçao dbs índios daquclias partes,, que'em
I ; tempos antiguos foraô annunciados a íeiis-
! -ados os M yjhrioi
n ^ ^ ' f At f r / ^^ f
i auós os Myftcrios da Santiffima Trindade,
^ ^ ^
ii
D a s coufas do B ra ßl, 201
I^^SCOH^US 203
Chrifoil.hom.ytf.
mo, S. Gregorio Papa, Euthimio^ Theophi- fiipra Math. Eu
ch.m & T h e o p h .
■ Ia;tO;l n o s lugares cita d o s a m a rg e m , c o m g ra fup. Math.X4.
d e n u m e ro d e E x p o fito re s m o d e rn o s. E m
iparti^ular E u th im io c ita d o te m pcra í i , que
d e n t r o e m e íp a ç o d e v in te até trin ta an n o s
p ré g à ra a os A p o ft o lo s a L e y de C h r ifto p o r
to d o o m u n d o . O E uan geH fta S . Marcos
íq u a n d o GOíripoí. o íèu E u a n g e lh o ^ d izia jà
'cnEaoy qn^ eftaiaa d iu u lg ad a a le y d e C h r ift o
,1
l(!^ pelIos A p o ft p lo s em, to d as as partes d o m u n -
' do : fe n d o afli q u e
■I.. I o fi.ntQ;.Euang.elift;ai e íc re u e o íéu E u aiagelh o
C c ij dozíc
Líuro ILdas Notícias
’ doze annos fomente depois da Morte dc
C^cfar Raro», a , Chr í f t o , fcguíido O diz Cèíat Baronio.^ Sao
an. GÍU'. 45 *P«m!
ad Col.n aj.
Paulo fallando do feu tempo diz, que jaeir-
tao eftáua pregado o Euançclho a toda a cria
tura, que liaBita debaixo do Ceo; Pr^dicatum
::í!
ejí Eudngelium in omni CíeatuYa;^qudjuh ccdo efi.
E quê negara que eíVà a noíTa America debai
xo do Ceo?' Sòosque lhe negaoom efm o
Ceo, como depois veremos.
Seguefe de todos eftes argumentos: que al
gum dos (agrados Apoftolos paíTou a efta
■í
quarta parte db mundo,que chamamos Ame
rica , a promulgar a Ley da graça. Confta
(também, que efte Apoftolo nao foiS Pedra»
nem S. Paulo» rtem algum dos que referi af-
fimav com oíe vè na relaçao de íuas vidas; dc
porque nao ha Autor que o diga, refta logo,
Conduefje. qpiS- o queeftefoiTe o Aportolo S. Thom c. Parece
S ,T h o -
mepajjopt a A~ que aíli o quizeraô fignificar S.Chriíbftòmò
íTierica.
homil. 61. dc S. Thomas em fua Catena iní
Ioannem cap.il. aonde dizem : Thomas infir-
mior eraty^ infidelíor alijs; pofiea omntbus for^
tiorfactus ejl^ & irreprehenjihilis y quifolusten
rarum orhom percuYrity ^ in medijs plebihus vo/-
uebatUT n/olentibus eum interficere. Ném frz
contraií
Das'coti'fas ãoB rafiL 105
contra efta doutrina a expofiçao de algute >Ma! donat; Cornei
Doutores, qae dizem , que os iantos Apofto- àlap.Lorinus.
los, nem era5 obrigados x correr^ iiem com
effeito correraq por ii mefmos o mundo vni-
uerioj que iflb parecia impolTmeb, fendo tao
poucoSj, dc tm tab breue tempo. Porque efta^
1•
111
expofiçao íe entende ( fegundo os mefmos
X' Doiltores bem eftudados) que nao correrão
os fantos Apoftolos ovniuerib mundo, quan
to a lugares particulares, õcindiuiduos; o que
he verdade, èc depois fe fez , & vai fazendo
1
[ x i i m e r a g e n t d }~
^reflaria ; ^ehe.cfta, a da faluaçao dçftes Iii- 1 d (id e .
01 dÍ9 &: iSe no meio de,íua g^tiüdade íié podiaõ,
Del i ou
y\
212 Lm ro II. das N oticias
ou p^dem íaluar alguns delles?- ou fc todos fè
r. ■
perdam ?■ Na verdade que quando toúiei a
penna.^pera tratar efta duuida, me pareceo
que igualmente a tomaua pcra tratar de hua
Apologia em defeníao damifericordiade n o f
fo grande D eos; porque íem duuida , dura
COLI&parece'aquella voz commua^ de que to
da eftaimmenía vaftidao de almas de hum
í mundo inteiro, ^ por efpaço de tâtos feculos
de cinco mil,feis mih&fetemilannos depois
defua creaçao , ate-a-vinda dos Pregadores
Euangelicos, houueffe de perderfe todá'; fen
do certo que morreo Chrifto por falualiasj
quer Deos que todas fe faluem. Ora Eu,, de
pois de conÜiderar a duuida*, &vercom eui- ICl.
dadoos Padres, &: Doutores íàgradosj tenho*
concebido , que tem hauido grandes miíerí-^
~cordias dàbondade diuinafoBre efta deíèm«
paradagente.
E digo emprimeiro Iugar,que na con* ti:
jiV íj meto de fux
gentilidade
fufao detantos feculos , quando amda a terra
j titterao , tem
l^gnorancia inue-
da America eftaua efeondida, &antes que a jif
cim l d a Bè. ellapafláífeo Apoftólo S: Thome, ououtros
Pregadoresi os homens deftas partes nas tre- íüfi:
«as de feu gentilifmo viuiao, ordinariamen
te
D a s coufas do BrafiL
Ü i|
^ a $ coufas do BraJiL %i^
defte nome ; nao fern algum abatimento da
im pofiçáodo primeiro, lubftituiiidofe àquel-
le Madeiro .vermelho com o Sangue de Chri-
ttOi
fto , ôc preço de noíTa Redem pçao, outro
vinadeiro , que fo tem de langue a cor, &de
preciofo o.aparente da cobiçados homens.
í!J|
C om rezao íè queixa defta mudança o Hi*
ftoriador Português na Década citada, & Pe
dro de Maris em feus Diálogos. N o quarto 4 * [ndia Occi- }
lugar chamafe índia O ccidétaf ou porque foi dent^il, i
defcLiberta no mefmo tempo que a Oriental,
\ ou pella femelhança que ha entre os índios
!■
de hüa, & outra parte. Aífi o cuidou o Autor
do liuro intitulado Theatrum orbis, na def- '
cripçao da America. O u também do nome
de OfirIndo, primeiro íeu pouoador,íègun-
Outros lhe quize-
do a opmiao que atras puzemos. Outros cu- raopor nou'A Ln-
rioíbs lhe quizerao também acomodar o no- fitanta.
x^e>deNoua Lufitania, àimitaçao do de No-
ua Eípanha: nao era mal acomodado^ porem
;naq ;yqmos que efteja em víb.
48 Quanto a íuílancia, hauia muito que
dÍ2íer em defenfaó, & abono da terra do Bra-
ífi.h.ôc mi^içQ w i s de toda a America : porém
por efcqfaç gíapdjesjprqçaíl^b 4h'ci ia-
E e ij men-
I'' li
nho emprouar que o Ceo cerca coda aterra« lib }, diuin. inftit.
cap.14.S Aguft.in
Genef.capi j .
E Oque lie mais, que duuidouS. Agoftinho
nefta materia, taogrande Philolofojôc Aftro-
Cl
logo> corn ellas palauras *. Quid ad me permet
Viràm cœlum^ficut IpherUy vndi^ue concludat ter-
ram in media mundi mole libratam , an earn ex
traque parte defuper yVclut difcus, operiat } A.
miin que me pertencefe a Ceo como esfera
cerca a terra y ou fomente a cobre por fima
jcomo tedlo ? Sobre tudo' Procopio affirma, Procop. fup. Gc-
nef.cap.a.Sc 7.
'Í
■ *? P terreftrei por fer efta a parte do mlmdo niais
.temperada , deleiroíà, ôí amena peraa vida
Immana, Ifto clamauao jà tanto dantes eftes
f : Autores; porém nao eraó cridos. E ainda que
eu agora nao me aproueite do que acrefcen
tão do Paraífo; nao mep.affa com tudo por al
to pera quando for tempo. Por entretanto
.nao poíTo deixar de agradecerlhes o reco-
I mhecérem neftas partes tal temperamento, Jé
M tao íiiaue^ que fejao forçados apaflàrpera el-
las o inefmo Paraífo da terra.
Refutafearezao 59 Nao be .ballante a bomens de bom
contrários. entendimento ver, experimentar: íobre tu
do fera gofto fáber a rezao fundamental de
coufas tao notaueis, êc ouuir confutar os ma I
iores Sábios dos fecLilos, O Achilles de fuas
rezoens he elle; O Sol quanto maisvde perto
fere, Sc quanto com raios mais direitos, ôc a-
perpendiculo, tanto com mais violência
quehta, ôí feca : logo ferindo a efta noíla re
gião de muito mais perto que as outras^& com
raios direitos, que depois reflediem íobre íi,
& íè encontrao huns com outros, he força
intendao o calor, aquentem, fequem, re-
queímem , ôeabrazem a terra. Fracas íàb-as
forças
D a s coufks do Brajíl^ 231
■íil
forças defte Achilles, fem fer ncceílario feril-
lopclla planta, do pé , conao fingiao os Poe
tas: com o engano d^ fuas mefmas rezoens,
:: o venceremos. Os homens que Iiabitao a
parte do Sul do Brafif, que chamao Rio de T en 4 do R ío de
laneiro cjuxnto
laneiroyveem por experieiicia,que namòrau- mais aufente do
Sol,t&ntõfeca: Cÿ*
íencia do’Sol, Si quando lie ferida com raios
;:o rfuanto rnais[v^.
I mais obliquas, então- eftà mais feca, falta de fente, m au humi
da.
chuLias, Si humidades; òc pello contrario, em
oreíènça do Sob, quando-mais ferida com
eus raios d ire ito se n tã o eftà mais húmida,
abundante de cliuuas, Si vapores : logo aqui
i.í'
nao he verdadeiro aquelle feu principio , que
quanto o Sol fere mais. de perto, éí quanto
Gom raios mais direitos tanto mais aquenta,
Si feca^ Si pòr confegiiinte nem daquiformaô
bom argumentor, que feja a terra do R io de
laneno feca,; tórrida, requeimada >Si inhafch
jtauel aos homens.
éo A catiía he muito digna de aduertir- R etão do fohre^
dito.
fe, Si. com 'o exemplo-itfe- hum;aíaaibiqlíe C oílal.a.c.7.
4« Propriedade.
aqui julgou a terra por Eoa : Producat terra
animam viuentem in generefuoyjumenta.^ ^ reptir-
lia^ & befiias terra fecundumJpedesJuas', ftfi vtdit
Deus quòd effiei honum Ex a quarta proprieda
de, que produza a terra os animaes, ôcbeílas
■ ■
delia em varias eípeciesj produzio,ôe vioDeos
ii- que era boa.
i:- ^5 Daqui íe vè, que nâo pode aterra dei
*i; xar de íer boa , em que houuer eftas quatro
^ ■'
< ,■: propriedades*, nem poderá deixar de fer de>
‘I
^ I feóluoía
i
i;
-Ô ':;
m
D as coufa s do BrafiL
feóluofa aqiiella, em quefaltaremtodas qua
tro, ou parte dellas* Pois agora irei moftian-
do todas eftas quatro propriedades por exccl-
lenciana terra do Brafil; &depois dellas vi-
ftas, tiraremos então aconícqueiicia. E pera
que vamos por ordem, ponhamos a primeira
reiolução»
Primeira refoluçao. He aterra do Bra- A teíta ào "Brafil
hepor excdltncta
filpor excellencia íempre verde , chea de er- fempre verde en
L ia s , aruoredos de vários generös, entre to do mundo k
tre todas a$ terras
pella
D as CGt4
>fM do B rafit. 27 9
1 ^
■r
lil
é‘
O
jH
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ji-
Ooij INDI-
N D I CE
BAS NOTICIAS
B R A S IL-
.................F
FeitiçaHas dos índiosyVm. i,
Exemplo dedosj liu.i,n, i j .
I
G
Covarde Lemos parte aEortugal lenar.noticios do Brafdy
. liíi.i, n .ii.
GoaiíacafeSyliííoi,
H
Pode 0 homem por mais tofco que Jèja por força de criação
politico faz^erfe politicOy liu.2.. n,^.
Pode 0 leite , ^ criaçoo agrefie fa%er que 0 homem pareça
brutOy cls'nao que 0Jèja, liu.z. n.2^
.Nao ha homem que naoJèja doente, liu, 1. n,^ r.
■' ■ 'I
Os que tem 'ignorando inuenciuel de Deos, pellospeceados
que commetemnão merecem pena do inferno, fenao
temporal,liu,i. n.^c{^
Os índios do Braftl tiuerao , ^ tem gêralmcnte ignoran^-
cia inuenciuel de JDeosnomeio de fua gentilidade.
liu.z, n,i\z,
Pp Eem
I n d i•<ce
M
Mandioca, liu.t.n.yi.
Deliafe faz farinha de trescaßas, liu. 2. ».72^
De outros vfos, ^proueítos, liu.i .n.yy
Maracujá, ^fua defcripcao, liu,2.. n.yZ,
Seu fruto, ^ propriedades, liu.2,> n»19 *
Pp ij Marcos
Inãíce ■
Manos de Ar^ttedo, quarto Dcfcohridor dos mineraes das
cfineraldíiSj liu. i. ^r.
U meracs depedras, liu, i. y2,.
De ejmeraldas , faphy as, pedras verdes, vermelhas' ■
cryjial,
Mmfiros marinhos, .
Montanhas do Brafil, Im.i.n-Bç,
I Apparenciasexteriores dellas. Ibidcm.
Suafrefcura, ^ agoas,liuA. ^.70.-
Seus animaes,iiu
Aruoredos, ^ mineraes dellas, liu. i.n.jx.
Mundo nouo dijlingueje notauclmente do mundo antiguos 1
liu.i.n.i.
S.CUdefccbnmemo fellarfarte que foi chamada Noua E f
panha,liu.i. n.z.
Seu defcohrimentopelUparte do Brafil, liu. un.j,
Se he ilha, ou terrafrme? liu. \.n.9^,
RefoluçaQfohreefleponto,liu i.n.^C<,~
Oph
.1. vi. .,t
D as Noticias do BraJlL
O
Opinioens dosprimeiros Pouoadarcs da America, liu, i.do
pordiante.
I)iffi,culdadecontra ejlas opinioensyliuA.n.^r^.
<
í
\■
S
Sebajliao Fernandes Tourinho, Defcobridor das minas do
Rio doce,liu.un.^i^
! Serras maritimasdacojladoBrafd,é^feufrincifio,Ui.n.6%
T
Tamoyos, feu natural, liuA ,n.^ ^7.
Tapuyasfio inimigosgerais de todas as mcoem, Li,n* 14
Ethymologia defeu nome, liu.i </í»i $7,
Seus cofiumes, liu,\. n.i4^»
Modo defias caças, liu, n.i 4^.
Tobayaras,fias boas fartes, liu. i. n. i^6i
S. Fhome veio a America, liu.t. n. 18.
Sinaesde S.Thome no Cabofrio,liu,z. n.zC.
! Sinaes na NouaEfianha, liu.^, n.2g,
! Suas fégadàs emS. Vicente, Itafoa, noFoque 'Toque, liu,
2. n.\%. 19. 10.
Suaspegadas na Paraíba, liu. z. n.'i- 8.
T>efias pegadasfe con\e6Íura nafcer hua fonte mila^o^
fa, liu. z. n.z4<
Caminho milagrofodoS. Apoflolo, liu.z.n 17»
Proua/e comre%oens de Dercito vir S, Thome a America^
liu.z^do n,\4*ate on.\(),
^ Tadicao
,*3?i '