A metafísica é parte mais abstrata daquela que é por si só a mais
abstrata das disciplinas que trabalham o conhecimento humano: a filosofia. A metafísica estuda problemas que são compartilhados com várias outras disciplinas filosóficas e também com outras ciências como a física, tendo assim limites de investigação flexíveis, todavia, a forma como estes problemas são abordados por cada disciplina diferenciam-se da abordagem dada pela metafisica. A metafísica foi a primeira das disciplina filosóficas, dando origem ao impulso científico dos pré-socráticos. Entretanto, não foi chamada assim inicialmente, mas de filosofia natural ou filosofia primeira. A origem e uso do termo metafísica se deu com a organização das obras de Aristóteles, feita por Rhodes, onde ele colocou as obras de filosofia primeira após as obras de física, surgindo assim, o termo metafísica (depois da física). Ao longo da história a metafisica teve vários altos e baixos como disciplina investigativa, com os gregos clássicos, ela foi o ápice do surgimento da ciência, porém, depois desenvolveu um perfil místico com Plotino e só retornou aos moldes clássicos na escolástica, depois foi fortemente criticada por Hume e por Kant, e chegou ao século xx sendo vista com maus olhos por parte de filósofos empiristas e lógicos como Wittgestein, que a viam como mística. Na história da metafísica, houveram várias interpretações sobre sua essência e sua relevância, tendo altos e baixos, porém, com a característica de sempre sobreviver, devido aos novos problemas que são frequentemente descobertos e aos antigos não solucionados. Não existe um acordo entre os filósofos sobre o que é ou sobre os procedimentos da metafísica, podemos definir quatro perspectivas sobre isso; na primeira, a metafísica se diferencia das outras disciplinas do conhecimento pelo objeto que estuda; na segunda, a característica que distingue a metafísica está no seu método; na terceira perspectiva, o que diferencia a metafísica está no seu fim; e por último, a distinção se encontra no tipo de conhecimento que a metafísica nós dá. Na definição da metafísica pelo seu objeto de estudo, temos três posições fundamentais; na primeira o objeto da metafísica é o ser enquanto ser (ontologia); na segunda seu objeto é Deus (teologia); e por último, os primeiros princípios (Filosofia natural). Segundo uma das divisões da metafísica, há a metafísica geral cujo objetivo é a caracterização e identificação das categorias. Aristóteles propôs que existem dez categorias, e que elas são usadas para classificar os seres. Porém, tal abordagem trouxe alguns problemas, tais como; se uma categoria seria primitiva ou derivada de outra, ou se a lista de categorias deveria incluir coisas como saltos, sombras ou relações. Se tornando assim uma discussão sobre o que existe ou não. Essa discussão vem gerando vários pontos diferentes ao longo da história da filosofia. Outro ponto de controvérsias dentro da metafísica é sobre as noções de particulares e universais. Por exemplo; quando atribuímos alguma propriedade a algo, dizendo que esse algo é alguma coisa, como no exemplo: “Platão é humano” estamos supondo uma distinção entre o particular “Platão” e a propriedade de ser “humano”. Estamos assim afirmando uma relação, dessa forma, o particular é o que tem a propriedade e que não pode ser propriedade do que for. Outra diferença é que os particulares não são ubíquos ao passo que as propriedades parecem ser. A propriedade humano pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Sendo assim, as propriedades são universais. Porém isso leva a vários problemas, como; o que seria humano? E se a propriedade “humano” existe realmente ou se é apenas um artifício linguístico. Umas das saídas propostas, chamada de aristotelismo aceita que as propriedades são universais, e que estas existem nesse mundo nos próprios particulares que possuem as propriedades em causa. Contudo, os problemas dentro da metafísica não param por ai, outra questão advém da tese de que as classificações que fazemos do mundo refletem semelhanças objetivas entre as coisas, essa tese tem sido discutida ao longo do tempo surgindo duas posições contrarias; o nominalismo, que busca uma explicação para a concordância dos atributos que não faça referência a entidades compartilhadas(semelhanças), negando a existência dos universais, e por outro lado, o realismo metafísico, que defende que ao invés de falar de coisas compartilhando uma forma eles dizem que as coisas instanciam(exibem) uma única propriedade. Uma das principais objeções dos nominalistas é que; a exemplificação mútua levaria a incoerência, devido ao fato de particulares diferentes exemplificarem um e o mesmo universal. Há vários argumentos que contrapõem isso e o debate prossegue. A metafísica apesar de ser bem antiga e tratar de problemas abstratos, está hoje com uma vivacidade jovial, pois como foi mostrado, existem vários problemas que ainda não foram solucionados e que tem vários pontos de vista defendidos por filósofos ao longo de mais de dois milênios. E com os avanços nas ciências naturais como a física, a metafísica se faz cada vez mais útil devido à sua abordagem conceitual, no trabalho de analisar e buscar entender o funcionamento da realidade, principalmente agora, que já sé adentrou até o nível quântico. Portanto, a metafísica, foi atacada, e foi até mal vista ao longo da história, teve vários momentos de descredito, mas sempre sobreviveu e ficou mais forte. E deverá continuar assim, pois, onde houver uma indagação filosófica, haverá lugar para uma interpretação metafísica de tal. O que mostra que acima de tudo, a metafísica é uma ferramenta filosófica indispensável para o avanço do conhecimento humano.