Resenha Crítica do Capítulo Começa a Revolução Capitalista Brasileira do livro A Construção Política do Brasil: sociedade, economia e Estado desde a independência
Resenha Crítica do Capítulo Começa a Revolução Capitalista Brasileira do livro A Construção Política do Brasil: sociedade, economia e Estado desde a independência
Resenha Crítica do Capítulo Começa a Revolução Capitalista Brasileira do livro A Construção Política do Brasil: sociedade, economia e Estado desde a independência
O capítulo “Começa a Revolução Capitalista Brasileira” publicado em 2015 no
livro A Construção Política do Brasil: sociedade, economiza e Estado desde a independência, propõe explicitar a relação do Estado e da Sociedade em um momento de crise e dicotomia entre o neoliberalismo e o desenvolvimentismo. Para isso é realizada uma contextualização histórica de acontecimentos principalmente na Governo Vargas (1930-1945) e a sua relação com a crise de 1929 e a Revolução de 1930. A estrutura do artigo não obedece necessariamente uma ordem cronológica, mas parte de pontos de coesão e coerência para entendimento do contexto nacional da revolução capitalista e sua relação com a sociedade e o mundo. A síntese abordada pelo autor da revolução capitalista é a partir da capacidade do Estado manter a unidade nacional, equilibrando as forças sociais e dirigindo a nação acima das oligarquias regionais através principalmente da promoção da industrialização. Este fato ocorreu basicamente pelo posicionamento do governante atual, Getúlio Vargas, que liderou com habilidade, estabelecendo os indícios iniciais do desenvolvimentismo no pais. Para o autor, o posicionamento político de Getúlio Vargas estava motivado na crise mundial, iniciada com a crise de 1929 (crash da Bolsa de Nova York). A compreensão da gravidade e repercussões deste fato direcionou o governo para um aumento de investimentos na industrialização. A visão do governo também foi fundamentada por uma mudança no cenário político, pois houve uma transferência de poder político para a classe média que era constituída de empresários e tecnoburocratas (políticos, militares e intelectuais). O autor caracterizou esta mudança de poder como “o fim do Estado oligárquico e o início do Estado nacional-desenvolvimentista”. Este fato permitiu assim o desenvolvimento do Estado burguês, visto que a burguesia, parte integrante do processo produtivo, estava com o controle governamental. A principal característica econômica decorrente da Revolução Capitalista, conforme elucida o texto, é a estratégia da industrialização que encontrou apoio na sociedade para a sua implementação. Segundo o autor, os fatores que contribuíram para este apoio foram: a queda dos preços do café e forte depreciação da taxa de câmbio; Oportunidade econômica para investimentos industriais; e a Revolução de 1930. Para que a industrialização produzisse impactos positivos, foi necessária uma maior intervenção governamental na economia, assim houve um direcionamento de investimentos, principalmente em novos setores industriais. Corroborou para esse fato a criação de um decreto que proibia a importação de maquinarias para todas as indústrias, protegendo assim, o avanço local. Ao relatar a fonte de recurso que financiou a criação e desenvolvimento das indústrias, o autor traz uma contradição, afirma que o café viabilizou a indústria, principalmente porque os empresários originavam-se das famílias do café. Ao mesmo tempo, remete a uma pesquisa realizada por Bresser-Pereira em 1962, que demonstra que 78,4% destes empresários informaram que a origem dos recursos não derivou das rendas do café, mas sim de fundos próprios ou familiares. Todas estas medidas possibilitaram o surgimento da nova classe média profissional, formada por profissionais liberais, técnicos, administradores, assessores, auxiliares da indústria e do comércio, operários especializados, e uma infinidade de outras profissões. Esta classe possuía uma estrutura social diversificada, sendo separada em: inferior, média inferior, média, média superior e superior. O impacto do Governo Vargas não ficou limitado a economia e desenvolvimento social, houve também uma reforma na administração pública, aplicando traços de uma administração burocrática em detrimento a patriarcal. O autor destaca que houve uma organização no Estado, a partir do incentivo com pessoal e mecanismos que possibilitariam a aplicação de uma política nacional desenvolvimentista. Para isso foram criados diversos órgãos que objetivavam a estruturação da industrialização, como por exemplo, Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Conselho Nacional do Café, SENAI, Coordenação da Mobilização Econômica e o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). O destaque, conforme elucida o texto, foi a criação do DASP, visto que funcionou como órgão de apoio e controle do serviço público. O DASP corroborou para grandes contribuições como ingresso no serviço público por concurso, critérios gerais e uniformes para cargos, organização de serviço de pessoal, administração orçamentária, padronização de compras, entre outros. Neste período houve uma constante luta de classes entre o liberalismo econômico e o desenvolvimentismo. Os alicerces da primeira classe eram que o papel do Estado se limitava basicamente a garantia da propriedade e manutenção das contas do Estado. Já o desenvolvimentismo determinava que uma das funções do Estado era a participação ativa na economia, garantindo assim uma política econômica estável. O capítulo abordado possui grande relevância, pois contextualiza a atuação do Estado e da Administração Pública sobre uma ótica desenvolvimentista. Para Leal (2006) o período da República velha até 1980 foi marcado por pequenos avanços e recuos da Administração Pública. Ao citar isso o autor foi superficial, pois verificamos no texto as mais variadas contribuições do Governo Vargas para a Administração Pública, com traços que perduram até a atualidade, como a burocracia em determinados setores/entidades e até mesmo a continuidade de órgãos criados na época. O título desta obra é autoexplicativo, e este capítulo demonstrou um pouco da construção política do Brasil, com suas evoluções e involuções a partir da luta constante entre o liberalismo econômico e o desenvolvimentismo. Esta luta de classes foi caracterizada por Bauman e Bordoni (2014) como antipolítica, visto que o liberalismo se opusera as práticas da política desenvolvimentista. Outro fator importante foi a industrialização, que permitiu o Brasil criar uma nova classe social, e sair da crise industrial causada principalmente pela crise de 1929 e impactos econômicos locais. Bauman e Bordoni (2014) corrobora com a ideia de crise industrial, gerada pelo crash da Bolsa de Nova York em 1929, destacando que houve forte aplicação mundial dos ideais de Keynes sobre o intervencionismo estatal e a industrialização. Apesar desta explicitação o autor não foi enfático no estabelecimento do capitalismo, gerado principalmente pela detenção do poder pela burguesia. Além disso, houve pouco destaque para Keynes, responsável pela teoria econômica que tinha por base o intervencionismo estatal aplicado fortemente na época relatada. O livro é de autoria de Luiz Carlos Bresser-Pereira, doutor em Economia pela Faculdade de Economia e Administração, FEA, da USP. Possui vasta experiência profissional, tendo atuações importantes em cargos públicos nacionais como o de Ministro da Fazenda (1987) e Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, MCTI (1999). Atualmente atua como pesquisador Fundação Getúlio Vargas e a sua principal linha de pesquisa é direcionado para o novo desenvolvimentismo. Além disso, é Presidente do Centro de Economia Política (CEP) e editor da Revista de Economia. É detentor de uma pluralidade de publicações, entre elas mais de 40 livros, destacando-se como mais atuais o livro Macroeconomia Desenvolvimentista (2016) e A Construção Política do Brasil (2015). . DIEGO FILLIPE DE SOUZA Mestrado Profissional em Administração Pública – PROFIAP Semestre 2016.1
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. BORDONI, Carlo. Estado de Crise. Zahar editora: Rio de Janeiro, 2014
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A construção política do Brasil - sociedade, economia e
estado desde a independência. Editora 34: São Paulo, 2015 LEAL, Rogério Gesta. Estado, Administração Pública e Sociedade. Novos paradigmas. Livraria do Advogado Editora. Porto Alegre, 2006.