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Resenha Crítica

REFERÊNCIAS

DO AMARAL, Helena Kerr. Desenvolvimento de competências de servidores na administração


pública brasileira. Revista do Serviço Público, Brasília, DF, v. 57, n. 4, p. 549-563, 2006

MCADAM, Rodney; HAZLETT, Shirley-Ann; CASEY, Christine. Performance management in


the UK public sector: addressing multiple stakeholder complexity. International Journal of
Public Sector Management, USA, v. 18, n. 3, p. 256-273, 2005.

Diego Fillipe de Souza

Mestrando em Administração Pública pela


Universidade Federal de Pernambuco

O artigo intitulado “Desenvolvimento de competências de servidores na


administração pública brasileira” de autoria de Helena Kerr do Amaral, publicado em 2006
na Revista do Serviço Público (Brasília) trata dos desafios de desenvolver as competências
dos servidores, impactando assim na capacidade do governo de gerenciamento de políticas
públicas no Brasil. O principal marco é o Decreto 5.707/2006 que “Institui a Política e as
Diretrizes para o Desenvolvimento de Pessoal da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional, e regulamenta dispositivos da Lei no 8.112, de 11 de dezembro
de 1990.”
Na introdução a autora retrata um pouco da Administração Pública brasileira,
levantando a percepção do cidadão quanto à qualidade e funcionamento do serviço público
prestado. Alega haver uma ineficiência administrativa em suas funções, mas, acredita que
é possível contornar a situação, ao investir esforços no principal recurso: o servidor.
Demonstra que o servidor capacitado poderá alterar esta realidade, e irá demonstrar isso
analisando o contexto que a administração pública foi constituída e apontando as
prioridades de desenvolvimento de competências como fonte propulsora de capacitação
estratégica. Para isso demonstra as características da Administração Pública e o conceito
de gestão de competências, sua importância e relação o Decreto 5.707/2006.
Ao desenvolver o texto, encontra-se inicialmente a definição de três dimensões que
ajudaram no entendimento das características da Administração Pública brasileira, são
elas: o modelo híbrido de carreiras de servidores, o tipo de federalismo brasileiro e o
ambiente em que opera a administração marcado por grande heterogeneidade social e
econômica. A primeira dimensão busca criticar os dois tipos de regimentos dos servidores,
porém, não leva em consideração os tipos de empresa e as relações jurídicas que as regem.
Empresas estatais (sociedades de economia mista e empresas públicas) e algumas
fundações públicas possuem personalidade jurídica baseadas de Direito Privado, devido a
sua configuração econômica; já as demais formas de organizações públicas possuem
personalidade jurídica de Direito Público, devido a sua configuração social. Sendo o foco
da autora as políticas públicas, a atenção deveria ser voltada exclusivamente para as
organizações públicas regidas pelo Direito Público. Seria mais conveniente citar a
alteração realizada na Emenda Constitucional 19/1998 que extinguiu o Regime Jurídico
Único, admitindo que as organizações regidas pelo Direito Público pudessem realizar
contratações através de concurso público de pessoal efetivo pelo regime celetista. Como o
artigo é de 2006, seria impossível citar a decisão do Supremo Tribunal Federal em 2007
pela proibição deste tipo de contratação, voltando assim para aplicação exclusiva do
Regime Jurídico Único. A segunda dimensão é bem coerente, devido a atuação
intergovernamental na aplicação das políticas públicas, faz-se necessário uma atuação
harmônica e responsável de todas as esferas, tornando-se um fator crítico para o sucesso
das ações. A terceira dimensão determina que o acentuado grau de desigualdade
econômica e social aumenta a responsabilidade da gestão administrativa da área pública,
pois são necessárias políticas acolhedoras capazes de contemplar essas diferenças. A partir
disso, observa-se a atenção (ou falta dela) que a Administração Pública tem dado ao
quadro de servidores e suas principais dificuldades, sugerindo que é necessária uma maior
motivação para o quadro atual, e uma das formas que deve ser aplicada é a capacitação
permanente destes.
A capacitação permanente é algo considerado primordial, e para fomentá-la foi
instituído o Decreto 5.707/2006, sob o qual o artigo se desenvolve. Entende-se a
fundamental importância da capacitação, assim como as ferramentas e escola (ENAP)
criada pelo governo como principal multiplicadora de conhecimento. A política e
estratégias são retratadas no texto, porém, há uma falha ao acreditar que oferecer
unicamente a capacitação é a melhor forma de motivar o servidor público. Os benefícios de
ser servidor público são claros, dentre eles destaca-se a estabilidade é o que mais dá
segurança ao seu trabalho. Como sugestão, acredito que o texto poderia associar a
motivação e capacitação a outras legislações fundamentais: o Regime Jurídico Único, que
trata com discricionariedade afastamentos para Estudo (Mestrado, Doutorado e Pós-
Doutorado); a legislação dos cargos, que deve fomentar a capacitação com incentivo
(como ocorre com as carreiras de docentes e técnicos, leis 12.772/08 e 11.091/05); e
regimentos internos dos órgãos, associando a capacitação aos cargos de confiança. O texto
se preocupa com a explicitação de como a administração por competências é válida,
porém, faz-se necessário um campo prático, além do teórico. A autora conclui reafirmando
a necessidade da gestão por competências, colocando os princípios da equidade e
democracia como os principais a serem desenvolvidos, assim como a compreensão e
tratamento devido da sociedade heterogênea (principalmente nas questões racial e de
gênero).
A ideia central do texto, importância da gestão de competências como ferramenta
para aumento de capacidade de gerenciamento, é compartilhada por diversos autores.
Destaco a pesquisa realizada por MCADAM et al. (2005), aplicada no setor público de
uma empresa do Reino Unido, o autor destacou a necessidade da vinculação de elementos
motivacionais, como recompensa e reconhecimento, para efetivação de mudanças na
aplicação da gestão por competências. Desta forma, a aplicação de uma gestão por
competências desacompanhada de outros elementos não é fator motivacional. O texto
trouxe grandes esclarecimentos para época em que foi publicado, devido a atualidade do
tema, assim como a abordagem da gestão por competências aplicada a área pública. Porém,
ao acreditar que o servidor público se sentirá motivado apenas pela existência de cursos de
capacitação e qualificação, reduz a validade do texto. Ao mesmo tempo, estimula o leitor a
realizar uma pesquisa científica a partir destes fundamentos.

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