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RESUMO
Este artigo tem como objetivo fazer uma breve análise sobre a concepção similar entre a
cultura popular e a obra de Luiz Beltrão, especificamente relacionada com a Teoria da
Folkcomunicação. Intenciona-se delinear uma epistemologia sintética dos dois temas.
O presente estudo utilizará a metodologia qualitativa com base documental e
bibliográfica. Conclui-se que, apesar das divergências entre correntes teóricas díspares,
há similitudes que apontam para convergência entre a folkcomunicação de Luiz Beltrão
e os Estudos Culturais, tanto ingleses como na abordagem latino-americana.
INTRODUÇÃO
1
Jornalista graduado pela FAI - Faculdades Adamantinenses Integradas. Pós-graduado em Comunicação
Empresarial pela Unitoledo Araçatuba. Mestre e Doutor em Comunicação Social pelo Programa de Pós-
Graduação da Universidade Metodista de São Paulo. E-mail: xagurgel@yahoo.com.br.
Apesar de assimilar outras teorias, é na Teoria Crítica com fulcro no pensamento
gramsciano que a Folkcomunicação solidifica suas bases. Destarte, a maioria das
críticas se faz a partir da utilização do pressuposto teórico do modelo funcionalista do
fluxo comunicacional em duas etapas, esquecendo-se da apropriação que Beltrão faz da
tese de Edison Carneiro embasada na teoria hegemônica gramsciana. É justamente
baseado na teoria de Antonio Gramsci que os conceitos de Luiz Beltrão sobre a
folkcomunicação mais se aproximam dos Estudos Culturais.
Como referencial dos estudos culturais trabalha sua base com os cultural studies, teoria
surgida entre os anos 50 e 60 na Inglaterra, em torno do Centre of Contemporary
Cultural Studies de Birmingham com seus principais expoentes: Richard Hoggart,
Raymond Williams, E. P. Thompson e Stuart Hall.
Já na América Latina os Estudos Culturais serão retratados pelos pesquisadores Néstor
García Canclini, Jesus Martín-Barbero e José Marques de Melo.
A partir do exposto, o estudo então busca apontar possibilidades e limitações da relação
Estudos Culturais e Folkcomunicação em Beltrão.
Ressalta-se que, por sua característica e especificidade do objeto, a folkcomunicação
emprega uma diversidade de métodos de acordo com a situação de pesquisa, o que se
constitui em um desafio metodológico para os pesquisadores do campo.
Hibridismo teórico, superposição metodológica, pluralismo conceitual ou ecletismo,
quaisquer desses conceitos são inerentes à Folkcomunicação.
Por fim, apesar das diferenças conceituais, as aproximações teóricas com os Estudos
Culturais fazem parte da construção e sedimentação da Teoria da Folkcomunicação.
OS ESTUDOS CULTURAIS
Pode-se fixar dois grandes ‘planos’ superestruturais: o que pode ser chamado de
‘sociedade civil’ (isto é, o conjunto de organismos chamados comumente de
‘privados’) e o da ‘sociedade política ou Estado’, que correspondem à função de
‘hegemonia’ que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e àquela de
‘domínio direto’ ou de comando, que se expressa no Estado ou governo
‘jurídico’. (GRAMSCI, 1995, p.10-11)
Com isto, Gramsci além de dizer que as ideias da sociedade decorriam da classe
dominante, imputava aos intelectuais o exercício das funções da hegemonia social e do
governo político, garantindo assim o consenso político e a coerção. A hegemonia pela
intelectualidade em Gramsci é concebida pelo conceito do “intelectual orgânico”, ou
seja, aquele que diretamente ligado a uma classe ou grupo social, atua em nome dessa
classe. Porém, Gramsci faz distinção entre dois tipos de intelectuais: o instituído
socialmente, representante de grupos sociais e o popular que, embora não atue para
impor suas ideias, sabe enfrentar as adversidades. É justamente do intelectual popular
que se ocupam os Estudos Culturais.
Os conceitos de hegemonia e de intelectual orgânico serão amplamente utilizados nos
Estudos Culturais britânicos desde sua fundação até os dias atuais.
Para além dos Estudos Culturais britânicos, há também o enfoque de culturalistas latino-
americanos que forjaram uma concepção de cultura popular e folclore similar à ideia de
Luiz Beltrão em sua Teoria da Folkcomunicação. Porquanto, várias pesquisas em
Folkcomunicação fundam seu referencial teórico nas obras de culturalistas latinos como
Jesus Martín-Barbero e Néstor García Canclini. O livro Dos Meios às Mediações:
Comunicação, Cultura e Hegemonia de Martín-Barbero é a primeira contribuição para o
debate sobre a função dos meios de comunicação de massa nas sociedades latino-
americanas modernas.
Uma vez que tomemos como ponto inicial de observação não o processo linear
de progresso social crescente, mas “mestiçagens”, no sentido de continuidades
na descontinuidade e reconciliações entre ritmos de vida que são mutuamente
excludentes, então nós podemos começar a compreender as complexas formas
culturais e significados que passaram a existir na América Latina: a mistura de
índios nativos na cultura camponesa, o rural no urbano, a cultura folclórica nas
culturas populares e o popular na cultura de massa. (MARTÍN-BARBERO,
1987, p.88)
O autor conceitua a mestiçagem como dentro de uma realidade cultural complexa que
deve ser levada em conta quando se analisam práticas e expressões culturais.
Além de Martín-Barbero, o antropólogo mexicano Néstor Garcia Canclini também se
destaca como um dos mais significativos analistas culturais da América Latina. Por seu
turno, Canclini analisou em sua obra as transformações culturais na América Latina e a
consequente construção da modernidade. O título de sua obra mais importante, Culturas
Híbridas, refere-se ao conceito que Canclini tem sobre a cultura latino-americana onde o
autor aponta novas realidades culturais sob as quais as novas massas vivem. O livro
expõe uma análise de Canclini sobre os estudos culturais da atualidade na América
Latina. Há contudo, a aproximação do conceito de Culturas Híbridas de Canclini com os
postulados de teóricos britânicos como aponta Thomas Tufte.
A FOLKCOMUNICAÇÃO
Há uma literatura que, ausente por inteiro das bibliotecas e livrarias de seu
tempo, foi contudo o que tornou possível para as classes populares o trânsito do
oral ao escrito, e na qual se produz a transformação do folclórico em popular.
Refiro-me àquela literatura que se tem chamado na Espanha de cordel e na
França de colportage. Literaturas que inauguraram uma outra função para a
linguagem: a daqueles que, sem saber escrever, sabem contudo ler. Escritura
portanto paradoxal, escritura com estrutura oral. (MARTÍN-BARBERO, 2008,
p.149).
Martín-Barbero explica que muitos não sabem escrever, mas sabem ler; por isso, o
cordel é escrito em forma de linguagem oral e que, a literatura oral é um meio que busca
os leitores na rua. Assim o autor conforma a literatura oral também como mediação,
aproximando-se da Folkcomunicação ao sugerir um estudo do folclore como matriz
histórica da mediação de massa.
Convergimos então com o pensamento de José Marques de Melo quando afirma que
Da mesma forma, o popular não se define por uma essência a priori, mas pelas
estratégias instáveis, diversas, com que os próprios setores subalternos
constroem suas posições, e também pelo modo como o folclorista e o
antropólogo levam à cena a cultura popular para o museu ou para a academia,
os sociólogos e os políticos para os partidos, os comunicólogos para a mídia.
(GARCÍA CANCLINI, 2008, p. 23)
Por fim, tanto os processos de “hibridização cultural” coligidos por García Canclini,
como a passagem dos “meios às mediações” de Martín-Barbero, corroboram com os
estudos de recepção na América Latina. Inclusas aqui pesquisas da folkcomunicação.
Assim, os Estudos Culturais tanto britânico como latino-americanos mantém uma certa
aproximação com a Teoria da Folkcomunicação de Luiz Beltrão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
TUFTE, Thomas. Estudos de mídia na América Latina. In: Comunicação & Sociedade
n° 25. São Bernardo do Campo: Umesp, 1996