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ALTERAÇÕES LEGISLATIVA DO ANO DE 2019

SEPARADAS POR MATÉRIA/TEMAS

LEIS1 PUBLICADAS ATÉ 09/06/2019

Material elaborado por Ana Carolina Barbosa Pereira (@civileprocessocivil;


anacarolinabpce@gmail.com). Caso encontre algum equívoco ou queira sugerir
alterações, gentileza entrar em contato. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.

DIREITO CIVIL

• MP 871, de 18 de janeiro de 2019 (quanto ao dispositivo abaixo, entrou em


vigor na data da publicação - D.O.U de 18/01/2019)

Trouxe mais uma exceção à regra de impenhorabilidade do bem de família. De


acordo com o inciso VII do art. 3º da Lei 8.009/90, a impenhorabilidade do bem de
família não será oponível para cobrança de crédito constituído pela Procuradoria-Geral
Federal em decorrência de benefício previdenciário ou assistencial recebido
indevidamente por dolo, fraude ou coação, inclusive por terceiro que sabia ou deveria
saber da origem ilícita dos recursos.

Dentre as críticas ao novo dispositivo, uma delas é no sentido de que Medida


Provisória não poderia tratar de matéria processual, por expressa vedação contida no
art. 62, § 1º, I, “b”, da CF/88. Há, no entanto, quem defenda que a matéria não tem
natureza processual. Para estes, trata-se de matéria cível (de direito material), não
existindo vedação na CF para a edição de MP. Por outro lado, também existem vozes
no sentido da inconstitucionalidade por gerar restrição indevida ao direito social à
moradia (art. 6º, CF/88).

• Lei nº. 13.825, de 13 de maio de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação - D.O.U de 14/05/2019)

Alterou a Lei 10.098/200 (Lei de Acessibilidade - art. 6º) para estabelecer que os
eventos organizados em espaços públicos e privados em que haja instalação de
banheiros químicos deverão contar com unidades acessíveis a pessoas com
deficiência ou com mobilidade reduzida. A nova lei estabeleceu, ainda, que o número
mínimo de banheiros químicos acessíveis corresponderá a 10% (dez por cento) do
total, garantindo-se pelo menos 1 (uma) unidade acessível caso a aplicação do
percentual resulte em fração inferior a 1 (um).

1 Leis que possuem incidência em concursos públicos, notadamente para Magistratura, Defensoria
Pública e Ministério Público Estaduais. Para consultar todas as leis, sugiro a pesquisa junto ao site do
Planalto: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-1/leis-ordinarias.

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• Lei nº. 13.811, de 12 de março de 2019 (entrou em vigor na data da
publicação - D.O.U de 13/03/2019)

De acordo com o art. 1.517 do CC, o homem e a mulher com 16 anos podem
casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais,
enquanto não atingida a maioridade civil. Caso não haja autorização, poderá ocorrer o
suprimento judicial.

O art. 1.520 permitia, excepcionalmente, o casamento daqueles que ainda não


haviam alcançado a idade núbil, para evitar imposição ou cumprimento de pena
criminal ou em caso de gravidez. Agora, com a redação dada pela Lei n. 13.811, de
12/03/2019, não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem ainda não
atingiu a idade núbil.

A prof. Maria Berenice Dias é uma das estudiosas que já criticava a permissão.
Para ela, em nenhuma das hipóteses há justificativa para autorizar um menor -
normalmente uma mulher (ou menina?) de se casar. Continua: “sem voltar ao passado,
em que a preservação da família se sobrepunha ao interesse do Estado de punir a
prática de um crime, em boa hora foi afastada a transformação da mulher em
excludente da criminalidade. As duas hipóteses previstas na lei penal (CP 107, VII e
VIII), que identificam o casamento como causa de extinção da punibilidade nos delitos
“contra os costumes”, foram revogadas. Admitir o casamento do réu com a vítima como
forma de evitar a imposição ou o cumprimento de pena criminal nada mais significava
do que chancelar o estupro, absolvendo o autor de crime hediondo, agravado pelo fato
de ser a vítima uma adolescente. Com essa salutar alteração na lei penal, há se de
reconhecer já ter ocorrido a derrogação tácita de parte do art. 1.520 do CC”.

Em suma, para a autora, já não poderia se admitir o casamento antes dos


16 anos para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal. A alteração na
lei penal já havia provocado modificação na lei civil.

E em caso de gravidez? A mesma autora afirma que “a gravidez, que pode


ocorrer de relacionamento sexual ou até de inseminação artificial, não deveria autorizar
o casamento de menor de 16 anos de idade. Não se encontra justificativa a tal
possibilidade. Nem para “legitimar” os filhos cabe permitir o casamento, até porque não
existe prole ilegítima. Ao depois, não há mais qualquer discriminar social contra filhos
havidos foram do casamento” (Manual de Direito das Famílias, p. 270).

A propósito, de acordo com o Professor e Defensor Público Federal Caio Paiva,


a nova lei está de acordo com o Direito Internacional dos Direitos Humanos e cumpre
com recomendação dos Comitês sobre os Direitos da Criança e sobre Eliminação de
Discriminação Contra a Mulher, além de constar na Revisão Periódica Universal Sobre
o Brasil. Segundo ele, o tema decorreu - de recomendação da Suécia.

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DIREITO NOTARIAL

• Lei nº. 13.838, de 04 de junho de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação – D.O.U de 05/06/2019)

Altera a Lei de Registros Públicos para dispensar a anuência dos confrontantes


na averbação do georreferenciamento de imóvel rural (art. 176, § 13, Lei 6.015/1973).

DIREITO EMPRESARIAL
• Lei nº. 13.792, de 03 de janeiro de 2019 (entrou em vigor na data da
publicação – D.O.U de 04/01/2019)

Essa lei alterou o quórum de destituição de sócio nomeado administrador no


contrato social de sociedade de responsabilidade limitada (art. 1.063, §1º, Código Civil).

ANTES ATUALMENTE
Exigia-se no mínimo 2/3 do capital social, Agora exige-se quórum correspondente à
salvo disposição em sentido contrário no mais da metade do capital social, salvo
contrato social. disposição em sentido contrário.

Também houve alteração em disposição sobre a resolução de sociedade quanto


aos sócios minoritários (art. 1.085, parágrafo único, Código Civil)

REDAÇÃO ANTERIOR NOVA REDAÇÃO


A exclusão somente poderá ser determinada Ressalvado o caso em que haja apenas
em reunião ou assembléia especialmente dois sócios na sociedade, a exclusão de
convocada para esse fim, ciente o acusado um sócio somente poderá ser determinada
em tempo hábil para permitir seu em reunião ou assembleia especialmente
comparecimento e o exercício do direito de convocada para esse fim, ciente o acusado
defesa. em tempo hábil para permitir seu
comparecimento e o exercício do direito de
defesa.

• Lei nº. 13.806, de 10 de janeiro de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação – D.O.U de 11/01/2019)

Alterou a Lei nº. 5.764, de 16/12/1971, que define a Política Nacional de


Cooperativismo, institui o regime jurídicos das sociedades cooperativas. Em síntese, o
art. 21 desta Lei tem mais um inciso (XI). Segundo a redação, o estatuto da cooperativa

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deverá indicar, dentre os requisitos legais, se a cooperativa tem poder para agir como
substituia processual de seus associados.

O art. 88-A, por sua vez, dispõe que “a cooperativa poderá ser dotada de
legitimidade extraordinária autônoma concorrente para agir como substituta processual
em defesa dos direitos coletivos de seus associados quando a causa de pedir versar
sobre atos de interesse direto dos associados que tenham relação com as operações
de mercado da cooperativa, desde que isso seja previsto em seu estatuto e haja, de
forma expressa, autorização manifestada individualmente pelo associado ou por meio
de assembleia geral que delibere sobre a propositura da medida judicial.”

• Lei nº. 13.818, de 24 de abril de 2019

Essa legislação altera a Lei das Sociedades Anônimas.

REDAÇÃO ANTERIOR NOVA REDAÇÃO


Art. 289. As publicações ordenadas pela Art. 289. As publicações ordenadas por esta
presente Lei serão feitas no órgão oficial da
Lei obedecerão às seguintes condições:
União ou do Estado, conforme o lugar em I – deverão ser efetuadas em jornal de
que esteja situada a sede da companhia, e
grande circulação editado na localidade em
em outro jornal de grande circulação editado
que esteja situada a sede da companhia, de
na localidade em que está situado a sede da
forma resumida e com divulgação simultânea
companhia. da íntegra dos documentos na página do
mesmo jornal na internet, que deverá
Art. 294. A companhia fechada que tiver p r o v i d e n c i a r c e r t i f i c a ç ã o d i g i t a l d a
menos de vinte acionistas, patrimônio autenticidade dos documentos mantidos na
líquido inferior a R$ 1.000.000,00 (um página própria emitida por autoridade
milhão de reais), poderá: certificadora credenciada no âmbito da
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras
(ICP-Brasil);
II – no caso de demonstrações financeiras, a
publicação de forma resumida deverá conter,
no mínimo, em comparação com os dados do
exercício social anterior, informações ou
valores globais relativos a cada grupo e a
respectiva classificação de contas ou
registros, assim como extratos das
informações relevantes contempladas nas
notas explicativas e nos pareceres dos
auditores independentes e do conselho fiscal,
se houver.
(entrará em vigor em 01/01/2022)

Art. 294. A companhia fechada que tiver


menos de 20 (vinte) acionistas, com
patrimônio líquido de até R$ 10.000.000,00
(dez milhões de reais), poderá:
(…)
(entrou em vigor na data da publicação -
D.O.U de 25/04/2019)

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

• Lei nº. 13.793, de 03 de janeiro de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação – D.O.U de 04/01/2019)

Promoveu alterações no Estatuto da OAB (Lei nº. 8.906, de 04/07/1994), na Lei


de Informatização do Processo Judicial (Lei nº. 11.419, de 19/12/2006) e no Código de
Processo Civil (Lei nº. 13.105, de 16/03/2015).

No Estatuto da OAB houve acréscimo quanto à impossibilidade de acesso do


advogado SEM PROCURAÇÃO, a autos de processo em segredo de justiça. A redação
anterior tratava apenas do processo “em sigilo”, deixando de mencionar o “segredo de
justiça”, embora, na prática, não era permitido o acesso de processos em segredo a
advogados que não fossem habilitados nos autos. Lembre-se: “segredo de justiça” é a
própria lei que determina (ex.: procedimentos da infância e juventude). “Sigilo” ocorre
por alguma deliberação (ex.: processo criminal em que se decreta a prisão temporária
no curso das investigações).

Veja como ficou a nova redação: [é direito do advogado] “examinar, em qualquer


órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração Pública em geral,
autos de processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, quando não
estiverem sujeitos a sigilo ou segredo de justiça, assegurada a obtenção de cópias,
com possibilidade de tomar apontamentos” (art. 7º, XIII).

Também houve acréscimo do §13 ao art. 7º para dizer que esse direito se
estende a processos e a procedimentos eletrônicos, inclusive investigativos,
ressalvadas as vedações legais.

Na Lei nº. 11.419/2006 (Lei de Informatização do Processo Judicial), foram


acrescidos dois parágrafos ao art. 11:

§ 6º Os documentos digitalizados juntados em processo eletrônico estarão


disponíveis para acesso por meio da rede externa pelas respectivas partes
processuais, pelos advogados, independentemente de procuração nos
autos, pelos membros do Ministério Público e pelos magistrados, sem
prejuízo da possibilidade de visualização nas secretarias dos órgãos
julgadores, à exceção daqueles que tramitarem em segredo de justiça.
§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos
devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério
Público cadastrados, mas não vinculados a processo previamente
identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos
processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado
interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em
segredo de justiça.

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No Código de Processo Civil foi feito um acréscimo de um parágrafo ao art.
107, que trata dos direitos dos advogados, apenas para explicitar que o direito previsto
no inciso I se aplica integralmente a processos eletrônicos.

Art. 107. O advogado tem direito a:


“I – examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem
procuração, autos de qualquer processo, independentemente da fase de
tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações,
salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado
constituído terá acesso aos autos.
[...] §5º. O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente
a processos eletrônicos.”

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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

• Lei nº. 13.798, de 03 de janeiro de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação – D.O.U de 04/01/2019)

Acrescentou o art. 8º - A ao Estatuto da Criança e do Adolescente. O dispositivo


institui a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, que será
realizada anualmente na semana que incluir o dia 1º de fevereiro, com o objetivo de
disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a
redução da incidência da gravidez na adolescência. As ações destinadas a concretizar
esse dispositivo ficarão a cargo do poder público, em conjunto com organizações da
sociedade civil, e serão dirigidas prioritariamente ao público adolescente.

• Lei nº. 13.812, de 16 de março de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação - D.O.U de 18/03/2019)

Institui a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, cria o Cadastro


Nacional de Pessoas Desaparecidas e altera o ECA. Neste, a alteração foi a seguinte:

REDAÇÃO ANTERIOR NOVA REDAÇÃO


Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente
para fora da comarca onde reside, menor de 16 (dezesseis) anos poderá viajar
desacompanhada dos pais ou responsável, para fora da comarca onde reside
sem expressa autorização judicial. desacompanhado dos pais ou dos
§ 1º A autorização não será exigida quando: responsáveis sem expressa autorização
a) tratar-se de comarca contígua à da judicial.
residência da criança, se na mesma unidade
da Federação, ou incluída na mesma região § 1º A autorização não será exigida quando:
metropolitana; a)tratar-se de comarca contígua à da
b) a criança estiver acompanhada: residência da criança ou do adolescente
1) de ascendente ou colateral maior, até o menor de 16 (dezesseis) anos, se na mesma
terceiro grau, comprovado documentalmente o unidade da Federação, ou incluída na mesma
parentesco;
 região metropolitana;
2 ) d e p e s s o a m a i o r, e x p r e s s a m e n t e
autorizada pelo pai, mãe ou responsável. b) a criança ou o adolescente menor de 16
(dezesseis) anos estiver acompanhado:

1) de ascendente ou colateral maior, até o
terceiro grau, comprovado documentalmente o
parentesco;

2 ) d e p e s s o a m a i o r, e x p r e s s a m e n t e
autorizada pelo pai, mãe ou responsável.

Sugestão de leitura para aprofundamento:

https://s3.meusitejuridico.com.br/2019/03/184b0171-breves-comentarios-a-
lei-13812-2019.pdf

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• Lei nº. 13.824, de 09 de maio de 2019 (entrou em vigor na data da
publicação - D.O.U de 10/05/2019)

Essa lei modificou o ECA para alterar a forma de recondução dos Conselheiros
Tutelares.

ANTES ATUALMENTE
Art. 132. Em cada Município e em cada Art. 132. Em cada Município e em cada
Região Administrativa do Distrito Federal Região Administrativa do Distrito Federal
haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar
como órgão integrante da administração como órgão integrante da administração
pública local, composto de 5 (cinco) pública local, composto de 5 (cinco)
membros, escolhidos pela população local membros, escolhidos pela população local
para mandato de 4 (quatro) anos, permitida para mandato de 4 (quatro) anos, permitida
1(uma) recondução, mediante por novo recondução por novos processos de
processo de escolha. escolha.

Na prática essa lei permite a recondução ilimitada dos conselheiros tutelares.


Por isso, muito cuidado em prova. Se por acaso uma assertiva indicar que “é vedada a
recondução de conselheiros tutelares, mediante novo processo de votação”, ela estará
INCORRETA.

• Lei nº. 13.840, de 5 de junho de 2019 (com prazo de vacatio de 90 dias a


contar da publicação - D.O.U de 06/06/2019)

No ECA foi inserido o art. 53-A para estabelecer ser dever da instituição de
ensino, clubes e agremiações recreativas e de estabelecimentos congêneres assegurar
medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de
drogas ilícitas.

DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL

• Lei nº. 13.796, de 03 de janeiro de 2019 (entrou em vigor 60 dias após a data
da publicação – D.O.U de 04/01/2019).

Alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394, de


20/12/1996), acrescentando o art. 7º-A. Esse dispositivo prevê, em síntese, que “ao
aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de
qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de
crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de
prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião,
seja vedado o exercício de tais atividades”. Para compensar, a instituição de ensino
deve adotar uma das seguintes alternativas, sem custos para o aluno:

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1. Fazer prova ou aula de reposição em data alternativa, no turno de estudo
do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.
2. Fazer trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com
tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição.

A lei esclarece que a implementação das providências necessárias para a


aplicação dessa alteração se dará de forma progressiva, no prazo de 2 (dois) anos
(mas a legislação entra em vigor 60 dias após a publicação!)
Não há aplicação dessa alteração ao ensino militar!

• Lei nº. 13.797, de 03 de janeiro de 2019 (entrou em vigor após 90 dias da


publicação oficial – D.O.U de 04/01/2019)

Essa lei permite que, a partir do exercício de 2020, ano-calendário de 2019, a


pessoa física realize doações, em espécie, aos fundos controlados pelos Conselhos
Municipais, Estaduais e Nacional do Idoso diretamente em sua Declaração de Ajuste
Anual do Imposto de Renda. A doação poderá ser deduzida até o percentual de 3%
(três por cento) aplicado sobre o imposto de renda devido apurado na declaração e
está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto de renda devido apurado na
declaração.

A lei não se aplicará, contudo, às pessoas físicas que: utilizarem o desconto


simplificado, apresentarem a declaração do IRPF em formulário ou entregarem a
declaração fora do prazo.

• Lei nº. 13.803, de 10 de janeiro de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação – D.O.U de 11/01/2019)

Alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, inserindo como


incumbência dos estabelecimentos de ensino “notificar ao Conselho Tutelar do
Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30%
(trinta por cento) do percentual permitido em lei” (art. 12, VIII).

Já havia essa previsão na redação anterior, mas com TRÊS diferenças:


determinava-se a notificação do juiz e do MP, e as faltas eram comunicadas quando
ultrapassassem 50% do percentual permitido em lei. Agora somente o Conselho deve
ser notificado pelo estabelecimento de ensino e já quando o aluno superar 30% das
faltas permitidas.

• Lei nº. 13.826, de 13 de maio de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação - D.O.U de 14/05/2019)

Promoveu mais uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional.

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ANTES ATUALMENTE
Art. 44. A educação superior abrangerá os Art. 44. A educação superior abrangerá os
seguintes cursos e programas: seguintes cursos e programas:

I - cursos seqüenciais por campo de saber, de I - cursos seqüenciais por campo de saber, de
diferentes níveis de abrangência, abertos a diferentes níveis de abrangência, abertos a
candidatos que atendam aos requisitos candidatos que atendam aos requisitos
estabelecidos pelas instituições de ensino, estabelecidos pelas instituições de ensino,
desde que tenham concluído o ensino médio desde que tenham concluído o ensino médio
ou equivalente; ou equivalente;
II - de graduação, abertos a candidatos II - de graduação, abertos a candidatos
que tenham concluído o ensino médio ou que tenham concluído o ensino médio ou
equivalente e tenham sido classificados equivalente e tenham sido classificados
em processo seletivo; em processo seletivo;
III - de pós-graduação, compreendendo III - de pós-graduação, compreendendo
programas de mestrado e doutorado, cursos programas de mestrado e doutorado, cursos
de especialização, aperfeiçoamento e outros, de especialização, aperfeiçoamento e outros,
abertos a candidatos diplomados em cursos abertos a candidatos diplomados em cursos
de graduação e que atendam às exigências de graduação e que atendam às exigências
das instituições de ensino; das instituições de ensino;
IV - de extensão, abertos a candidatos que IV - de extensão, abertos a candidatos que
atendam aos requisitos estabelecidos em atendam aos requisitos estabelecidos em
cada caso pelas instituições de ensino. cada caso pelas instituições de ensino

§ 1º. Os resultados do processo seletivo § 1º O resultado do processo seletivo


referido no inciso II do caput deste artigo referido no inciso II do caput deste artigo
serão tornados públicos pelas instituições será tornado público pela instituição de
de ensino superior, sendo obrigatória a ensino superior, sendo obrigatórios a
divulgação da relação nominal dos divulgação da relação nominal dos
classificados, a respectiva ordem de classificados, a respectiva ordem de
classificação, bem como do cronograma classificação e o cronograma das
das chamadas para matrícula, de acordo chamadas para matrícula, de acordo com
com os critérios para preenchimento das os critérios para preenchimento das vagas
vagas constantes do respectivo edital. constantes do edital, assegurado o direito
do candidato, classificado ou não, a ter
acesso a suas notas ou indicadores de
desempenho em provas, exames e demais
atividades da seleção e a sua posição na
ordem de classificação de todos os
candidatos.

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ANTES ATUALMENTE
Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o Art. 63. Ao proferir a sentença, o juiz
juiz decidirá sobre o perdimento do decidirá sobre:
produto, bem ou valor apreendido, I - o perdimento do produto, bem, direito
seqüestrado ou declarado indisponível. ou valor apreendido ou objeto de medidas
assecuratórias; e
II - o levantamento dos valores
depositados em conta remunerada e a
liberação dos bens utilizados nos termos
do art. 62.
§ 1º Os valores apreendidos em
decorrência dos crimes tipificados nesta § 1º Os bens, direitos ou valores
Lei e que não forem objeto de tutela apreendidos em decorrência dos crimes
cautelar, após decretado o seu perdimento tipificados nesta Lei ou objeto de medidas
em favor da União, serão revertidos assecuratórias, após decretado seu
diretamente ao Funad. perdimento em favor da União, serão
revertidos diretamente ao Funad.
§ 2º Compete à Senad a alienação dos
bens apreendidos e não leiloados em § 2º O juiz remeterá ao órgão gestor do
caráter cautelar, cujo perdimento já tenha Funad relação dos bens, direitos e valores
sido decretado em favor da União. declarados perdidos, indicando o local em
que se encontram e a entidade ou o órgão
em cujo poder estejam, para os fins de sua
destinação nos termos da legislação
vigente.

§ 3º A Senad poderá firmar convênios de § 3º A Senad poderá firmar convênios de


cooperação, a fim de dar imediato cooperação, a fim de dar imediato
cumprimento ao estabelecido no § 2º deste cumprimento ao estabelecido no § 2º deste
artigo. artigo.

§ 4º Transitada em julgado a sentença § 4º Transitada em julgado a sentença


condenatória, o juiz do processo, de ofício ou condenatória, o juiz do processo, de ofício ou
a requerimento do Ministério Público, a requerimento do Ministério Público,
remeterá à Senad relação dos bens, direitos remeterá à Senad relação dos bens, direitos
e valores declarados perdidos em favor da e valores declarados perdidos em favor da
União, indicando, quanto aos bens, o local União, indicando, quanto aos bens, o local
em que se encontram e a entidade ou o em que se encontram e a entidade ou o
órgão em cujo poder estejam, para os fins de órgão em cujo poder estejam, para os fins de
sua destinação nos termos da legislação sua destinação nos termos da legislação
vigente. vigente.

§ 5º (VETADO).

§ 6º Na hipótese do inciso II do caput,


decorridos 360 (trezentos e sessenta) dias
do trânsito em julgado e do conhecimento
da sentença pelo interessado, os bens
apreendidos, os que tenham sido objeto
de medidas assecuratórias ou os valores
depositados que não forem reclamados
serão revertidos ao Funad.

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Foram inseridos mais dois dispositivos sobre as medidas assecuratórias e
restituição de bens apreendidos:

“Art. 63-A. Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o


comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz determinar a prática
de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores.”

“Art. 63-B. O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens,


direitos e objeto de medidas assecuratórias quando comprovada a licitude
de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores
necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de
prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal.”

• Lei nº. 13.840, de 5 de junho de 2019 (com prazo de vacatio de 90 dias a


contar da publicação - D.O.U de 06/06/2019)

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação inseriu mais uma foi inserido o


inciso IX ao art. 12 para estabelecer que os estabelecimentos de ensino, respeitadas
as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: IX -
promover ambiente escolar seguro, adotando estratégias de prevenção e
enfrentamento ao uso ou dependência de drogas.

DIREITO PENAL

• Lei nº. 13.804, de 10 de janeiro de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação – D.O.U de 11/01/2019)

Essa lei alterou o Código de Trânsito, inserindo o art. 278-A, com a seguinte
redação:

Art. 278-A. O condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de


receptação, descaminho, contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
condenado por um desses crimes em decisão judicial transitada em
julgado, terá cassado seu documento de habilitação ou será proibido de
obter a habilitação para dirigir veículo automotor pelo prazo de 5 (cinco)
anos.

§ 1º O condutor condenado poderá requerer sua reabilitação, submetendo-


se a todos os exames necessários à habilitação, na forma deste Código.

§ 2º No caso do condutor preso em flagrante na prática dos crimes de que


trata o caput deste artigo, poderá o juiz, em qualquer fase da investigação
ou da ação penal, se houver necessidade para a garantia da ordem
pública, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar,
em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.

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Comentários do Professor Rogério Sanches (Meu Site Jurídico) sobre a
inclusão:

“A receptação, o descaminho e o contrabando representam certamente parte


muito significativa das infrações penais cometidas atualmente no Brasil. São, com
efeito, alarmantes os números relativos a veículos e suas peças, eletrônicos e outros
produtos furtados e roubados que acabam sendo receptados e vendidos em
estabelecimentos comerciais regulares e irregulares. Em 2017, somente no Estado de
São Paulo foram registrados 104.829 furtos e 67.964 roubos de veículos, além de
10.584 roubos de carga. É evidente que a receptação facilitada é a grande causa dos
altos índices de furto e roubo, pois a maioria dos produtos é subtraída com destinação
certa: o mercado paralelo ilegal. São também impressionantes os números
relacionados ao contrabando e ao descaminho. Estima-se que, em conjunto, entre
2015 e 2017 ambos causaram prejuízos em torno de 345 bilhões de reais.

Em razão disso, diversas medidas têm sido adotadas para inibir a prática de tais
crimes. Descaminho e contrabando são combatidos sobretudo com a fiscalização do
trânsito nas fronteiras brasileiras, especialmente com o Paraguai e com a Bolívia. O
combate à receptação pode envolver medidas que impliquem maior formalidade e
fiscalização mais intensa em estabelecimentos comerciais, como se verifica no Estado
de São Paulo, que, por meio da Lei 15.276/14, obriga as empresas do ramo de
desmontagem de veículos e de comercialização das respectivas partes e peças a
solicitar credenciamento junto ao DETRAN – o que pressupõe, dentre outros requisitos,
a apresentação de atestado de antecedentes criminais e certidão de distribuições
criminais dos sócios-proprietários –, a comunicar ao DETRAN a entrada de veículo em
seu estabelecimento para fins de desmontagem e a implementar sistema de controle
que permita o rastreamento de todas as etapas do processo de desmontagem, desde a
origem das partes e peças, incluindo a movimentação do estoque, até a sua saída.
Estas providências facilitam a fiscalização, que pode facilmente detectar se o comércio
é irregular.

Mas, dada a gravidade da situação, providências devem ser adotadas em outras


frentes. A Lei 13.804/19 surge para somar esforços ao estabelecer punição
administrativa a quem for flagrado cometendo receptação, descaminho ou contrabando
por meio de veículo automotor. A lei insere no Código de Trânsito Brasileiro o art. 278-
A, cujo caput dispõe: “O condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de
receptação, descaminho, contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), condenado por um
desses crimes em decisão judicial transitada em julgado, terá cassado seu documento
de habilitação ou será proibido de obter a habilitação para dirigir veículo automotor pelo
prazo de 5 (cinco) anos.”

Busca-se atingir de forma mais severa o motorista que se dedica a transportar


para o Brasil produtos proibidos ou sobre os quais não há o recolhimento dos tributos

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devidos, bem como aquele que se presta a transportar de um lugar a outro mercadorias
furtadas e roubadas.

Controvérsia que, acreditamos, pode surgir, diz respeito à aplicação da


penalidade a motoristas profissionais, que, tendo a habilitação cassada, não podem
mais exercer a profissão que lhes proporciona o sustento.

A nosso ver, é inquestionável a possibilidade de aplicar a cassação, a exemplo,


aliás, do que já ocorre com a suspensão da habilitação para motoristas profissionais
envolvidos em crimes culposos de trânsito. Há quem sustente que a pena de
suspensão não pode ser aplicada contra o motorista profissional, mas o STJ se orienta
em sentido diverso: “O fato de o agravante ser motorista profissional não impede
a aplicação da pena acessória de suspensão da habilitação, pois é justamente tal
categoria que deveria agir com maior prudência no trânsito. 5. De acordo com a
jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, os motoristas profissionais – mais do
que qualquer outra categoria de pessoas – revelam maior reprovabilidade ao
praticarem delito de trânsito, merecendo, pois, a reprimenda de suspensão do direito
de dirigir, expressamente prevista no art. 302 do CTB, de aplicação cumulativa com a
pena privativa de liberdade. Dada a especialização, deles é de se esperar maior
acuidade no trânsito” (AgRg no REsp 1.744.154/CE, j. 23/10/2018).

Ora, se a suspensão da habilitação é possível até mesmo em crimes de


resultado involuntário, com muito mais razão deve ser admitida a cassação nas
situações em que o motorista faz de sua profissão um meio para a prática de delitos.

No mais, o § 2º do art. 278-A admite uma espécie de suspensão cautelar da


habilitação do motorista preso em flagrante pelo cometimento de um dos citados
delitos. Em caso de necessidade de garantir a ordem pública, a medida pode ser
decretada em qualquer fase da investigação ou da ação penal, de ofício, a
requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.
Inibe-se, com isto, a situação recorrente do motorista que, preso em flagrante, logo é
solto e volta a conduzir veículos com o mesmo propósito. Embora possa parecer de
pouca utilidade à primeira vista, a medida pode dificultar a ação de organizações
criminosas que buscam conferir aparência de legalidade ao transporte, o que
pressupõe motoristas aptos e sobre os quais não recaia suspeita imediata.

Finalmente, transcorrido o prazo de cinco anos, o condenado poderá requerer


sua reabilitação, desde que se submeta a todo o procedimento estabelecido no Código
de Trânsito para a habilitação de motoristas”.

Página 14 de 33
• Lei nº. 13.827, de 13 de maio de 2019 (entrou em vigor na data da
publicação - D.O.U de 14/05/2019)

Promoveu dois acréscimos à Lei Maria da Penha:

“Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à


integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar,
ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar,
domicílio ou local de convivência com a ofendida:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca;
ou
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não
houver delegado disponível no momento da denúncia.
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será
comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em
igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada,
devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade
da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória
ao preso.”

“Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva


de urgência.

Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em


banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de
Justiça, garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria Pública e
dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à
fiscalização e à efetividade das medidas protetivas.”

Comentários do Professor Rogério Sanches (Meu Site Jurídico) sobre a


inclusão:

“Nota-se, inicialmente, que o novo dispositivo cria situação em que a atualidade


ou a iminência de risco à vida ou à integridade física da vítima impõe a concessão
imediata da medida protetiva de afastamento do lar. Risco atual é o que está em curso,
como no caso de uma lesão corporal que pode se reiterar. Iminente é o risco que está
prestes a ocorrer, como em uma ameaça em que haja elementos indicando a
possibilidade concreta de que o agente pode cometer o mal injusto e grave que
promete.

O advérbio imediatamente não deixa dúvida: constatada a atualidade ou a


iminência do perigo à vida ou à integridade física, a medida protetiva deve ser
concedida no mesmo instante, sem nenhuma perda de tempo. Por isso, uma vez
registrada a ocorrência, deve a autoridade policial providenciar incontinenti a remessa
do pedido de medida protetiva à autoridade judicial, não se aplicando o prazo de
quarenta e oito horas estabelecido no art. 12, inc. III. Da mesma forma, a autoridade
judicial deve decidir imediatamente, não dentro do prazo de quarenta e oito horas que

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estabelece o art. 18. De fato, não faria sentido inserir na lei um dispositivo que
determina a imediata concessão da medida se o trâmite do pedido devesse
permanecer submetido à regra existente anteriormente. Desta forma, os mencionados
prazos de quarenta e oito horas se aplicam apenas às situações em que não se trata
de perigo atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher vítima de violência
doméstica e familiar.

Além disso, o art. 12-C permite que outras autoridades além da judicial
concedam a medida protetiva de afastamento do lar ou da convivência com a ofendida.
Não se trata, todavia, de atuação simultânea, mas sim subsidiária, como se extrai
claramente do dispositivo legal.

Com efeito, no caso de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da


vítima, a lei estabelece que, em primeiro lugar, a autoridade judicial aplique a medida
de afastamento. Caso o local não seja sede de comarca, isto é, caso se trate de um
município (normalmente de pequeno porte) que não conte com varas judiciais e faça
parte de comarca instalada em outro município, a medida pode ser concedida pelo
delegado de polícia, que, aliás, ao receber a comunicação do crime tem mais
condições de avaliar, ainda que superficialmente, as condições físicas e psicológicas
da vítima e a real situação a que está submetida. Finalmente, caso o município não
seja sede de comarca e, por alguma circunstância, não haja delegado disponível no
momento da comunicação do crime, a medida pode ser concedida pelo policial.

Neste ponto, indaga-se: qual a extensão do vocábulo policial empregado pela


lei?

Não há nenhuma dúvida de que o policial civil (investigador ou quem exerce


função semelhante) está inserido na permissão legal. Trata-se, afinal, da primeira figura
que se apresenta naturalmente ante a ausência do delegado de polícia. Mas, dado o
caráter genérico da expressão adotada pelo legislador, e tendo em vista a situação de
extrema urgência que fundamenta a concessão da medida, é razoável concluir que
qualquer policial civil ou militar (ou mesmo federal, embora dificilmente ocorra) que
tome conhecimento do crime poderá determinar o afastamento do lar, respeitada,
evidentemente, a ordem de subsidiariedade a que já nos referimos.

Esta conclusão se reforça pelo disposto no § 1º do art. 12-C, segundo o qual a


medida decretada pelo delegado de polícia ou pelo policial deve ser comunicada em no
máximo vinte e quatro horas ao juiz, que, em igual prazo, deve decidir se a mantém ou
se a revoga. Nota-se, portanto, que a decisão tomada pela autoridade policial ou por
quem a substitui não se torna definitiva sem o aval quase imediato da autoridade
judicial competente, o que minimiza os riscos de que uma medida eventualmente
equivocada prejudique gravemente quem foi afastado do lar. Deve-se ter em mente que
a situação de que trata o art. 12-C traz uma distinção de gravidade em relação à já
normalmente delicada situação de violência doméstica e familiar: o atual ou iminente
perigo para a vida ou a integridade física da vítima, o que nos auxilia a compreender
por que o legislador decidiu atribuir a diversos agentes públicos o poder de impor

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imediatamente o afastamento do agressor do lar conjugal. A premência da situação
justifica o diferimento da análise judicial.

Não obstante, certamente haverá quem sustente a inconstitucionalidade do


dispositivo em virtude da violação da reserva de jurisdição que deve ser observada em
atos que podem acarretar grave limitação ao exercício de direitos fundamentais. Não
nos parece razoável afirmar, no entanto, que o dispositivo contraria a ordem
constitucional, pois agentes policiais praticam rotineiramente – e de acordo com a lei,
evidentemente – atos que restringem direitos fundamentais de cidadãos. Policiais civis
e militares efetuam prisões em flagrante e, até que o delegado de polícia avalie a
situação e decida sobre a lavratura do auto de prisão, o indivíduo tem sua liberdade
restringida. O próprio delegado de polícia, quando conclui que se trata de situação de
flagrância, limita gravemente a liberdade do indivíduo. Mas nem por isso se cogita
arguir a inconstitucionalidade desta prática, em primeiro lugar porque a urgência
decorrente do crime que está sendo ou acaba de ser cometido justifica a pronta
atuação policial, e, em segundo lugar, porque a decisão tomada pela autoridade policial
não é soberana, na medida em que o auto de prisão deve ser submetido ao juiz no
prazo de vinte e quatro horas, exatamente como determina a lei em relação à
concessão da medida protetiva.

O § 1º do art. 12-C estabelece ainda que, ao decidir sobre a manutenção ou a


revogação da medida aplicada, deve o juiz, concomitantemente, dar ciência ao
Ministério Público, o que nos leva à conclusão de que, embora seja recomendável, não
se exige parecer do Ministério Público sobre a manutenção ou a revogação da medida
imposta. O juiz decide se ratifica ou revoga o afastamento do lar e cientifica o órgão
ministerial a respeito da decisão.

O § 2º traz, a nosso ver, disposição inútil ao estabelecer que nos casos de risco
à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência não
será concedida liberdade provisória ao preso. É inútil porque se o agente está preso e
sua soltura é um risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida, não
seria mesmo o caso de lhe conceder a liberdade provisória segundo o que já dispõem
as regras para a decretação da prisão preventiva no Código de Processo Penal. Aliás,
ressalte-se que, conforme já decidiu o STJ (cf. Informativo 632), a prática de
contravenções penais no âmbito doméstico e familiar contra a mulher não dá ensejo à
prisão preventiva porque os artigos 312 e 313, inciso III, do CPP fazem menção apenas
a crime, e não é possível estender o alcance de tais dispositivos a contravenções
penais. A situação permanece a mesma, pois o art. 12-C não altera as regras de
decretação da prisão preventiva, que devem ser extraídas exclusivamente do Código
de Processo Penal.

Finalmente, a Lei 13.827/19 inseriu na Lei Maria da Penha o art. 38-A, que
determina ao juiz que providencie o registro da medida protetiva de urgência. O
registro, segundo o parágrafo único, deve ser promovido em banco de dados mantido e
regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do Ministério

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Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência
social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas”.

• Lei nº. 13.836, de 4 de junho de 2019 (com prazo de vacatio de 90 dias a


contar da publicação - D.O.U de 05/06/2019)

Promoveu o acréscimo do inciso IV ao art. 12, § 1º, da Lei Maria da Penha:

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a


mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar,
de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos
no Código de Processo Penal:
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação
a termo, se apresentada;
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de
suas circunstâncias;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado
ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas
de urgência;
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e
requisitar outros exames periciais necessários;
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha
de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão
ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao
Ministério Público.
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e
deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela
ofendida.
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com
deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou
agravamento de deficiência preexistente.

• Lei nº. 13.840, de 5 de junho de 2019 (com prazo de vacatio de 90 dias a


contar da publicação - D.O.U de 06/06/2019)

Acrescentou ao art. 306 do Código de Trânsito - que trata do crime de


embriaguez ao volante - a possibilidade de o exame de alcoolemia ser realizado por
qualquer aparelho homologado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia - INMETRO.

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• Lei nº. 13.840, de 5 de junho de 2019 (com prazo de vacatio de 90 dias a
contar da publicação - D.O.U de 06/06/2019)

Promoveu diversas alterações na lei de drogas, tanto no âmbito das políticas


públicas, quanto no âmbito do procedimento criminal (nesse ponto vale a leitura
especialmente para as provas de segunda fase de sentença criminal).

A Lei, em síntese, “autoriza a internação compulsória de dependentes químicos,


sem a necessidade de autorização judicial. A norma estabelece ainda que a internação
involuntária deverá ser feita em unidades de saúde e hospitais gerais, com aval de um
médico e prazo máximo de 90 dias, tempo considerado necessário à desintoxicação.

A solicitação para que o dependente seja internado poderá ser feita pela família
ou responsável legal. Não havendo nenhum dos dois, o pedido pode ser apresentado
por servidor da área da saúde, assistência social ou de órgãos integrantes do Sistema
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad).

A lei também inclui no Sisnad as comunidades terapêuticas acolhedoras. No


entanto, a permanência dos usuários nesses estabelecimentos de tratamento deve
ocorrer apenas de forma voluntária, devendo o paciente formalizar por escrito a
vontade de ser internado.

O texto estabelece que esses locais devem servir de “etapa transitória para a
reintegração social e econômica do usuário de drogas”. Ainda que o paciente manifeste
o desejo de aderir às comunidades, será exigido uma avaliação médica prévia do
dependente” (CONJUR).

Também trouxe outras alterações na CLT, ECA e CTB (estas lançadas nas
matérias respectivas).

ANTES ATUALMENTE
Art. 50-A. A destruição de drogas Art. 50-A. A destruição das drogas
apreendidas sem a ocorrência de prisão em apreendidas sem a ocorrência de prisão em
flagrante será feita por incineração, no prazo flagrante será feita por incineração, no prazo
máximo de 30 (trinta) dias contado da data da máximo de 30 (trinta) dias contados da data
apreensão, guardando-se amostra necessária da apreensão, guardando-se amostra
à realização do laudo definitivo, aplicando- necessária à realização do laudo
se, no que couber, o procedimento dos §§ definitivo.
3º a 5º do art. 50.

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ANTES ATUALMENTE
Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Art. 60. O juiz, a requerimento do Ministério
Ministério Público ou mediante representação Público ou do assistente de acusação, ou
da autoridade de polícia judiciária, ouvido o mediante representação da autoridade de
Ministério Público, havendo indícios polícia judiciária, poderá decretar, no curso do
suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e
inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias nos casos
outras medidas assecuratórias relacionadas em que haja suspeita de que os bens,
aos bens móveis e imóveis ou valores direitos ou valores sejam produto do
consistentes em produtos dos crimes crime ou constituam proveito dos crimes
previstos nesta Lei, ou que constituam previstos nesta Lei, procedendo-se na
proveito auferido com sua prática, forma dos arts. 125 e seguintes do
procedendo-se na forma dos arts. 125 a Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
144 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de 1941 - Código de Processo Penal.
outubro de 1941 - Código de Processo
Penal.

§ 1º Decretadas quaisquer das medidas § 1º (Revogado).


previstas neste artigo, o juiz facultará ao
acusado que, no prazo de 5 (cinco) dias,
apresente ou requeira a produção de provas
acerca da origem lícita do produto, bem ou
valor objeto da decisão.
§ 2º Provada a origem lícita do produto, bem § 2º (Revogado).
ou valor, o juiz decidirá pela sua liberação.

§ 3º Nenhum pedido de restituição será § 3º Na hipótese do art. 366 do Decreto-


conhecido sem o comparecimento pessoal Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 -
do acusado, podendo o juiz determinar a Código de Processo Penal, o juiz poderá
prática de atos necessários à conservação determinar a prática de atos necessários à
de bens, direitos ou valores. conservação dos bens, direitos ou
valores.
§ 4º A ordem de apreensão ou seqüestro de § 4º A ordem de apreensão ou sequestro de
bens, direitos ou valores poderá ser suspensa bens, direitos ou valores poderá ser suspensa
pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando
a sua execução imediata possa comprometer a sua execução imediata puder comprometer
as investigações. as investigações.

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ANTES ATUALMENTE

Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção Art. 61. A apreensão de veículos,
da prova dos fatos e comprovado o interesse embarcações, aeronaves e quaisquer outros
público ou social, ressalvado o disposto no meios de transporte e dos maquinários,
art. 62 desta Lei, mediante autorização do juízo utensílios, instrumentos e objetos de qualquer
competente, ouvido o Ministério Público e natureza utilizados para a prática dos crimes
cientificada a Senad, os bens apreendidos definidos nesta Lei será imediatamente
poderão ser utilizados pelos órgãos ou pelas comunicada pela autoridade de polícia
entidades que atuam na prevenção do uso judiciária responsável pela investigação ao
indevido, na atenção e reinserção social de juízo competente.
usuários e dependentes de drogas e na § 1º O juiz, no prazo de 30 (trinta) dias contado
repressão à produção não autorizada e ao da comunicação de que trata o caput, determinará
tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no a alienação dos bens apreendidos, excetuadas as
interesse dessas atividades. armas, que serão recolhidas na forma da
legislação específica.
Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre § 2º A alienação será realizada em autos
veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz apartados, dos quais constará a exposição sucinta
ordenará à autoridade de trânsito ou ao do nexo de instrumentalidade entre o delito e os
equivalente órgão de registro e controle a bens apreendidos, a descrição e especificação
expedição de certificado provisório de registro e dos objetos, as informações sobre quem os tiver
licenciamento, em favor da instituição à qual tenha sob custódia e o local em que se encontrem.
deferido o uso, ficando esta livre do pagamento de § 3º O juiz determinará a avaliação dos bens
multas, encargos e tributos anteriores, até o apreendidos, que será realizada por oficial de
trânsito em julgado da decisão que decretar o seu justiça, no prazo de 5 (cinco) dias a contar da
perdimento em favor da União. autuação, ou, caso sejam necessários
conhecimentos especializados, por avaliador
nomeado pelo juiz, em prazo não superior a 10
(dez) dias.
§ 4º Feita a avaliação, o juiz intimará o órgão
gestor do Funad, o Ministério Público e o
interessado para se manifestarem no prazo de 5
(cinco) dias e, dirimidas eventuais divergências,
homologará o valor atribuído aos bens.
§ 5º (VETADO).
§ 6º Os valores arrecadados, descontadas as
despesas do leilão, serão depositados em conta
judicial remunerada e, após sentença
condenatória transitada em julgado, serão
revertidos ao Funad.
§ 7º No caso da alienação de veículos,
embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à
autoridade ou ao órgão de registro e controle a
expedição de certificado de registro e
licenciamento em favor do arrematante, ficando
este livre do pagamento de multas, encargos e
tributos anteriores, sem prejuízo da cobrança de
débitos fiscais, os quais permanecem sob
responsabilidade do antigo proprietário.
§ 8º Nos casos em que a apreensão tiver recaído
sobre dinheiro, inclusive moeda estrangeira, ou
cheques emitidos como ordem de pagamento
para fins ilícitos, o juiz determinará sua conversão
em moeda nacional corrente, que será depositada
em conta judicial remunerada, e, após sentença
condenatória com trânsito em julgado, será
revertida ao Funad.

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ANTES ATUALMENTE

Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e Art. 62. Comprovado o interesse público na
quaisquer outros meios de transporte, os utilização de quaisquer dos bens de que trata o art.
maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de 61, os órgãos de polícia judiciária, militar e
qualquer natureza, utilizados para a prática dos rodoviária poderão deles fazer uso, sob sua
crimes definidos nesta Lei, após a sua regular responsabilidade e com o objetivo de sua
apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de conservação, mediante autorização judicial, ouvido
polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão o Ministério Público e garantida a prévia avaliação
recolhidas na forma de legislação específica. dos respectivos bens.

§ 1º Comprovado o interesse público na utilização de § 1º Comprovado o interesse público na utilização de


qualquer dos bens mencionados neste artigo, a qualquer dos bens mencionados neste artigo, a
autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso, autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso,
sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua
conservação, mediante autorização judicial, ouvido o conservação, mediante autorização judicial, ouvido o
Ministério Público. Ministério Público.

§ 2º Feita a apreensão a que se refere o caput deste § 2º A autorização judicial de uso de bens deverá
artigo, e tendo recaído sobre dinheiro ou cheques conter a descrição do bem e a respectiva avaliação
emitidos como ordem de pagamento, a autoridade e indicar o órgão responsável por sua utilização.
de polícia judiciária que presidir o inquérito deverá,
de imediato, requerer ao juízo competente a
intimação do Ministério Público.

§ 3º Intimado, o Ministério Público deverá requerer § 3º O órgão responsável pela utilização do bem
ao juízo, em caráter cautelar, a conversão do deverá enviar ao juiz periodicamente, ou a qualquer
numerário apreendido em moeda nacional, se for o momento quando por este solicitado, informações
caso, a compensação dos cheques emitidos após a sobre seu estado de conservação.
instrução do inquérito, com cópias autênticas dos
respectivos títulos, e o depósito das
correspondentes quantias em conta judicial,
juntando-se aos autos o recibo.

§ 4º Após a instauração da competente ação penal,


o Ministério Público, mediante petição autônoma, § 4º Quando a autorização judicial recair sobre
requererá ao juízo competente que, em caráter veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz
c a u t e l a r, p r o c e d a à a l i e n a ç ã o d o s b e n s ordenará à autoridade ou ao órgão de registro e
apreendidos, excetuados aqueles que a União, por controle a expedição de certificado provisório de
intermédio da Senad, indicar para serem colocados registro e licenciamento em favor do órgão ao qual
sob uso e custódia da autoridade de polícia tenha deferido o uso ou custódia, ficando este livre
judiciária, de órgãos de inteligência ou militares, do pagamento de multas, encargos e tributos
envolvidos nas ações de prevenção ao uso indevido anteriores à decisão de utilização do bem até o
de drogas e operações de repressão à produção trânsito em julgado da decisão que decretar o seu
não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, perdimento em favor da União.
exclusivamente no interesse dessas atividades.

§ 5º Excluídos os bens que se houver indicado para


os fins previstos no § 4º deste artigo, o § 5º Na hipótese de levantamento, se houver
requerimento de alienação deverá conter a relação indicação de que os bens utilizados na forma deste
de todos os demais bens apreendidos, com a artigo sofreram depreciação superior àquela
descrição e a especificação de cada um deles, e esperada em razão do transcurso do tempo e do
informações sobre quem os tem sob custódia e o uso, poderá o interessado requerer nova avaliação
local onde se encontram. judicial.

§ 6º Requerida a alienação dos bens, a respectiva § 6º Constatada a depreciação de que trata o § 5º, o
petição será autuada em apartado, cujos autos terão ente federado ou a entidade que utilizou o bem
tramitação autônoma em relação aos da ação penal indenizará o detentor ou proprietário dos bens.
principal.
§§ 7º a 11 REVOGADOS POR ESTA LEI

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DIREITO CONSTITUCIONAL
• Lei nº. 13.810, de 8 de março de 2019 (com prazo de vacatio de 90 dias a
contar da publicação - D.O.U de 08/03/2019)

A lei dispõe sobre o cumprimento de sanções impostas por resoluções do


Conselho de Segurança das Nações Unidas, incluída a indisponibilidade de ativos de
pessoas naturais e jurídicas e de entidades, e a designação nacional de pessoas
investigadas ou acusadas de terrorismo, de seu financiamento ou de atos a ele
correlacionados; e revoga a Lei n. 13.170, de 16 de outubro de 2015.

ATENÇÃO: a Lei anterior, de 2015, já previa o bloqueio dos bens, porém


dependia de uma ordem judicial, o que foi criticado pelas Nações Unidas por tornar a
medida demorada. Com a nova lei, a anterior foi revogada.

DIREITO ADMINISTRATIVO
• Lei nº. 13.821, de 03 de maio de 2019 (entrou em vigor na data da
publicação - D.O.U de 06/05/2019)

Alterou a lei 11.107/2005, que trata das normas gerais de contratação de


consórcios públicos. Houve apenas acréscimo de um parágrafo ao art. 14.

Art. 14. A União poderá celebrar convênios com os consórcios públicos,


com o objetivo de viabilizar a descentralização e a prestação de políticas
públicas em escalas adequadas.
Parágrafo único. Para a celebração dos convênios de que trata o
caput deste artigo, as exigências legais de regularidade aplicar-se-ão
ao próprio consórcio público envolvido, e não aos entes federativos
nele consorciados.

"De acordo com o texto, as exigências tributárias, fiscais e previdenciárias para a


celebração dos convênios só podem ser cobradas do consórcio em si — e não mais
dos entes que compõem a parceria. Assim, um consórcio público adimplente pode ser
contratado para prestar serviços, mesmo que os municípios ou estados que o integram
estejam em débito com a União.

A norma surgiu a partir de um projeto de lei do Senado (PLS 196/2014),


apresentado pelo então senador Pedro Taques. Na justificativa, o parlamentar
argumentava que a proposição “corrige uma prática administrativa frequente, porém já
considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal”. “Por mais rigor que se
pretenda conferir às transferências voluntárias de recursos da União, é mister
reconhecer que tais exigências não têm amparo em qualquer dispositivo de lei, sendo
atos de mera discricionariedade”, afirmou. O texto foi aprovado pelos senadores em
2015 e seguiu para a Câmara, onde recebeu o aval dos deputados em abril deste
ano” (Fonte: Senado)

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• Lei nº. 13.822, de 03 de maio de 2019 (entrou em vigor na data da
publicação - D.O.U de 06/05/2019)

Complementando a alteração anterior, promoveu modificação na Lei dos


Consórcios Públicos para estabelecer que o consórcio público, com personalidade
jurídica de direito público ou privado, observará as normas de direito público no que
concerne à realização de licitação, à celebração de contratos, à prestação de contas e
à admissão de pessoal, que será regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

Antes, a lei limitava aos consórcios de direito privado a contratação de pessoal com
base na CLT.

DIREITO DO CONSUMIDOR
• Lei nº. 13.828, de 13 de maio de 2019 (entrou em vigor na data da
publicação - D.O.U de 14/05/2019)

Altera a Lei nº 12.485, de 12 de setembro de 2011, que dispõe sobre a


comunicação audiovisual de acesso condicionado, incluindo como direito dos
assinantes a possibilidade de cancelamento dos serviços de TV por assinatura
pessoalmente ou pela internet.

• Lei nº. 13.835, de 04 de junho de 2019 (entra em vigor 180 dias após a
publicação - D.O.U de 05/06/2019)

Altera a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, para assegurar às pessoas


com deficiência visual o direito de receber cartões de crédito e de movimentação de
contas bancárias com as informações vertidas em caracteres de identificação tátil em
braile.

“Art. 21-A. Às pessoas com deficiência visual será garantido, sem custo
adicional, quando por elas solicitado, um kit que conterá, no mínimo:
I - etiqueta em braile: filme transparente fixo ao cartão com informações em
braile, com a identificação do tipo do cartão e os 6 (seis) dígitos finais do
número do cartão;
II - identificação do tipo de cartão em braile: primeiro dígito, da esquerda
para a direita, identificador do tipo de cartão;
III - fita adesiva: fita para fixar a etiqueta em braile de dados no cartão;
IV - porta-cartão: objeto para armazenar o cartão e possibilitar ao portador
acesso às informações necessárias ao pleno uso do cartão, com
identificação, em braile, do número completo do cartão, do tipo de cartão,
da bandeira, do nome do emissor, da data de validade, do código de
segurança e do nome do portador do cartão.

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Parágrafo único. O porta-cartão de que trata o inciso IV do caput deste
artigo deverá possuir tamanho suficiente para que constem todas as
informações descritas no referido inciso e deverá ser conveniente ao
transporte pela pessoa com deficiência visual.”

DIREITO ELEITORAL

• Lei nº. 13.831, de 17 de maio de 2019 (entrou em vigor na data da


publicação - D.O.U de 20/05/2019)

Promoveu diversas alterações na Lei dos Partidos Políticos.

ANTES ATUALMENTE
Art. 3º É assegurada, ao partido político, Art. 3º É assegurada, ao partido político,
autonomia para definir sua estrutura interna, autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e funcionamento. organização e funcionamento.

Parágrafo único. É assegurada aos § 1º. É assegurada aos candidatos,


candidatos, partidos políticos e coligações partidos políticos e coligações autonomia
autonomia para definir o cronograma das para definir o cronograma das atividades
atividades eleitorais de campanha e executá- eleitorais de campanha e executá-lo em
lo em qualquer dia e horário, observados os qualquer dia e horário, observados os
limites estabelecidos em lei. limites estabelecidos em lei.
§ 2º É assegurada aos partidos políticos
autonomia para definir o prazo de duração
dos mandatos dos membros dos seus
órgãos partidários permanentes ou
provisórios.
§ 3º O prazo de vigência dos órgãos
provisórios dos partidos políticos poderá
ser de até 8 (oito) anos.
§ 4º Exaurido o prazo de vigência de um
órgão partidário, ficam vedados a extinção
automática do órgão e o cancelamento de
sua inscrição no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica (CNPJ).

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ANTES ATUALMENTE
Art. 32. O partido está obrigado a enviar, Art. 32. O partido está obrigado a enviar,
anualmente, à Justiça Eleitoral, o balanço anualmente, à Justiça Eleitoral, o balanço
contábil do exercício findo, até o dia 30 de contábil do exercício findo, até o dia 30 de
abril do ano seguinte. (…) abril do ano seguinte. (…)
§ 4º Os órgãos partidários municipais que § 4º Os órgãos partidários municipais que
não hajam movimentado recursos financeiros não hajam movimentado recursos financeiros
ou arrecadado bens estimáveis em dinheiro ou arrecadado bens estimáveis em dinheiro
ficam desobrigados de prestar contas à ficam desobrigados de prestar contas à
Justiça Eleitoral, exigindo-se do responsável Justiça Eleitoral e de enviar declarações de
partidário, no prazo estipulado no caput, a isenção, declarações de débitos e créditos
apresentação de declaração da ausência de tributários federais ou demonstrativos
movimentação de recursos nesse contábeis à Receita Federal do Brasil, bem
período. como ficam dispensados da certificação
digital, exigindo-se do responsável partidário,
no prazo estipulado no caput deste artigo, a
apresentação de declaração da ausência de
movimentação de recursos nesse período.
(…)

Acréscimos:
§ 6º A Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil reativará a inscrição dos
órgãos partidários municipais referidos no
§ 4º deste artigo que estejam com a
inscrição baixada ou inativada, mediante
requerimento dos representantes legais da
agremiação partidária à unidade
descentralizada da Receita Federal do
Brasil da respectiva circunscrição
territorial, instruído com declaração
simplificada de que não houve
movimentação financeira nem
arrecadação de bens estimáveis em
dinheiro.
§ 7º O requerimento a que se refere o § 6º
deste artigo indicará se a agremiação
partidária pretende a efetivação imediata
da reativação da inscrição pela Secretaria
Especial da Receita Federal do Brasil ou a
partir de 1º de janeiro de 2020, hipótese
em que a efetivação será realizada sem a
cobrança de quaisquer taxas, multas ou
outros encargos administrativos relativos
à ausência de prestação de contas.
§ 8º As decisões da Justiça Eleitoral nos
processos de prestação de contas não
ensejam, ainda que desaprovadas as
contas, a inscrição dos dirigentes
partidários no Cadastro Informativo dos
Créditos não Quitados do Setor Público
Federal (Cadin).

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Ainda foram promovidos os seguintes acréscimos:

“Art. 37 (…)
§ 15. As responsabilidades civil e criminal são subjetivas e, assim como
eventuais dívidas já apuradas, recaem somente sobre o dirigente partidário
responsável pelo órgão partidário à época do fato e não impedem que o
órgão partidário receba recurso do fundo partidário.”

Art. 42. (…)


§ 1º O órgão de direção nacional do partido está obrigado a abrir conta
bancária exclusivamente para movimentação do fundo partidário e para a
aplicação dos recursos prevista no inciso V do caput do art. 44 desta Lei,
observado que, para os demais órgãos do partido e para outros tipos de
receita, a obrigação prevista neste parágrafo somente se aplica quando
existir movimentação financeira.
§ 2º A certidão do órgão superior, ou do próprio órgão regional e municipal,
de inexistência de movimentação financeira tem fé pública como prova
documental para aplicação do art. 32 desta Lei, sem prejuízo de apuração
de ilegalidade de acordo com o disposto no art. 35 desta Lei.”

“Art. 55-A. Os partidos que não tenham observado a aplicação de


recursos prevista no inciso V do caput do art. 44 desta Lei nos exercícios
anteriores a 2019, e que tenham utilizado esses recursos no financiamento
das candidaturas femininas até as eleições de 2018, não poderão ter suas
contas rejeitadas ou sofrer qualquer outra penalidade.”

“Art. 55-B. Os partidos que, nos termos da legislação anterior, ainda


possuam saldo em conta bancária específica conforme o disposto no § 5º-
A do art. 44 desta Lei poderão utilizá-lo na criação e na manutenção de
programas de promoção e difusão da participação política das mulheres
até o exercício de 2020, como forma de compensação.”

“Art. 55-C. A não observância do disposto no inciso V do caput do art. 44


desta Lei até o exercício de 2018 não ensejará a desaprovação das
contas.”

“Art. 55-D. (VETADO).”

Atenção: as disposições desta Lei terão eficácia imediata nos processos


de prestação de contas e de criação dos órgãos partidários em andamento, a
partir de sua publicação, ainda que julgados, mas não transitados em julgado
(previsão expressa).

Sugestão de leitura: http://costaadvogados.adv.br/as-10-principais-


alteracoes-da-lei-no-13831-2019-na-lei-dos-partidos/

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• Lei nº. 13.834, de 04 de junho de 2019 (entrou em vigor na data da
publicação - D.O.U de 05/06/2019)

Altera o Código Eleitoral para tipificar o crime de denunciação caluniosa com


finalidade eleitoral.

“Art. 326-A. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo


judicial, de investigação administrativa, de inquérito civil ou ação de
improbidade administrativa, atribuindo a alguém a prática de crime ou ato
infracional de que o sabe inocente, com finalidade eleitoral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve do
anonimato ou de nome suposto.
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de
contravenção”.

Comentários do Professor Rogério Sanches (Meu Site Jurídico) sobre a


inclusão:

A denunciação caluniosa é há muito tipificada no art. 339 do Código Penal como


a conduta consistente em dar causa à instauração de investigação policial, de processo
judicial, de investigação administrativa, de inquérito civil ou de ação de improbidade
administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente.

Trata-se de um crime contra a administração da Justiça, impulsionada inútil e


criminosamente; em segundo lugar, protege-se a honra da pessoa inocente a quem se
imputa o ilícito penal.

A Lei 13.834/19 inseriu no Código Eleitoral um tipo muito semelhante, que se


diferencia sobretudo pelo propósito sob o qual atua o agente: a finalidade eleitoral. O
tipo está no art. 326-A e consiste no seguinte: “Dar causa à instauração de investigação
policial, de processo judicial, de investigação administrativa, de inquérito civil ou ação
de improbidade administrativa, atribuindo a alguém a prática de crime ou ato infracional
de que o sabe inocente, com finalidade eleitoral”

E, assim, como no art. 339 do CP, há dois parágrafos. O primeiro contém causa
de aumento de pena para as situações em que o agente se serve do anonimato ou de
nome suposto; o segundo diminui a pena se a imputação é de prática de contravenção.
A pena abstratamente cominada é idêntica à do Código Penal: reclusão de dois a oito
anos, além da multa.

Vejamos a seguir a síntese dos elementos relativos à nova tipificação.

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(A) Sujeitos do delito

O crime é comum, isto é, pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive por
advogado e pelas autoridades titulares dos procedimentos elencados no tipo. Por
exemplo, o promotor de Justiça eleitoral que denunciar alguém para fins eleitorais o
sabendo inocente pratica o delito.

Ao tratar do art. 339 do CP, a doutrina, de forma quase unânime, alerta que nas
hipóteses em que o delito falsamente imputado ao inocente depender de queixa ou
representação da “vítima” somente esta (ou seu representante legal) poderá praticar o
crime. Assim, por exemplo, uma denunciação caluniosa versando sobre ameaça só
pode ser praticada pela falsa “vítima” (ou seu representante), titular do direito de
representação, condição para o início das investigações e da ação penal. Esta
limitação não incide no tipo do art. 326-A, porque todos os crimes eleitorais são de
ação penal pública incondicionada (art. 355).

Sujeito passivo é o Estado, atingido na fiel administração da Justiça Eleitoral.


Figura, ainda, como vítima secundária, a pessoa inocente denunciada.

(B) Conduta

O novo tipo penal pune a conduta daquele que dá causa (provoca), direta ou
indiretamente (por interposta pessoa) a instauração de procedimento oficial, imputando
a determinada pessoa, sabidamente inocente, a prática de crime ou ato infracional.

Há uma nota distintiva, neste ponto, no tipo da denunciação caluniosa eleitoral: a


menção expressa ao ato infracional, inexistente na redação do art. 339 do CP. Assim,
se no crime tipificado no Código Penal pode haver discussão sobre a possibilidade de
que alguém cometa a denunciação caluniosa imputando falsamente um crime a alguém
menor de dezoito anos (que, a rigor, não pode ter contra si um crime imputado), na
denunciação caluniosa eleitoral a dúvida é absolutamente afastada.

Pode-se ainda imputar falsamente uma contravenção penal, caso em que a


pena é diminuída (§ 2º).

Trata-se de infração de execução livre (não há formas preestabelecidas por lei),


cuja ação nuclear consiste em dar causa, não importando se pela palavra escrita ou
oral – já que a delactio criminis pode ser ofertada oralmente ou por escrito –, desde que
seja falsa. São abrangidos pelo tipo os seguintes procedimentos:

→ Investigação policial: o tipo começa punindo aquele que, mediante notícia


mentirosa, dá causa à instauração de investigação policial. A simples leitura do tipo
incriminador nos conduz à conclusão de que se dispensa a instauração de inquérito
policial para que o crime se caracterize. Basta que a falsa imputação acarrete
investigação policial simples e informal (movimentação da autoridade no sentido de
apurar os fatos). A propósito: “Para a configuração do crime previsto no artigo 339 do

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Código Penal, é necessário que a denúncia falsa dê ensejo à deflagração de uma
investigação administrativa, sendo prescindível, contudo, que haja a formalização de
inquérito policial ou de termo circunstanciado.” (STJ: HC 433.651/SC, DJe 20/03/2018).

→ Processo judicial: em seguida, pune-se o agente que, imbuído de má-fé, dá causa


à instauração de processo judicial. Adverte a doutrina que somente será objeto do
delito em questão o processo penal, considerando-se instaurado no momento do
recebimento da inicial;

→ Investigação administrativa: o denunciante imputa a outrem fato que, além de


infração administrativa, constitui ilícito penal e dá ensejo a investigação na esfera
apropriada;

→ Inquérito civil: trata-se do procedimento investigatório disposto na Lei da Ação Civil


Pública (Lei 7.347/85) que serve ao Ministério Público (titular exclusivo) para apurar
lesão ou perigo de lesão a interesses difusos e coletivos indisponíveis. Da mesma
forma que na alínea anterior, o denunciante deve imputar ao inocente, juntamente com
a violação de qualquer norma, fato penalmente tipificado;

→ Ação de improbidade administrativa: aqui, como nas duas hipóteses precedentes,


o fato injustamente imputado ao terceiro deve estar definido também como ilícito penal.

Ressalte-se que nem todos os atos de improbidade administrativa são tipificados


criminalmente. Se na denunciação por falso ato de improbidade não houver crime, o
agente incorrerá somente nas penas previstas no art. 19 da Lei 8.429/92 (“constitui
crime a representação por ato de improbidade contra agente público ou terceiro
beneficiário quando o autor da denúncia o sabe inocente”).

E se o agente imputar falsamente um ilícito penal já atingido pela extinção da


punibilidade? Há ainda assim denunciação caluniosa?

A circunstância extintiva da punibilidade impede, sem dúvida, a investigação


criminal ou o processo penal, mas não inibe, por si só, a instauração dos demais
procedimentos oficiais (administrativos) referidos no tipo, isto é, a investigação
administrativa, o inquérito civil ou a ação de improbidade. Dentro desse espírito, a
injusta imputação de um crime já prescrito a alguém que se sabe inocente pode, ainda
assim, ensejar a instauração de procedimento investigatório extrapenal, configurando o
delito de denunciação caluniosa.

(C) Voluntariedade

O dolo se consubstancia na vontade consciente de o agente dar causa à


instauração de um dos procedimentos oficiais elencados no caput, imputando a outrem
um ilícito penal, sabendo ser ele inocente. Entende-se, ante o texto da lei, que o dolo
será apenas o direto, não se admitindo dolo eventual, pois o tipo exige a ciência da
inocência da vítima: “Consoante a jurisprudência desta Corte Superior, para

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caracterização do crime de denunciação caluniosa é imprescindível que o sujeito ativo
saiba que a imputação do crime é objetivamente falsa ou que tenha certeza de que a
vítima é inocente.” (STJ: RHC 106.998/MA, j. 21/02/2019)

Não obstante, parece-nos perfeitamente possível o dolo eventual, especialmente


no caso de o agente imputar a determinada pessoa, que sabe inocente, a prática de
um crime narrando para um terceiro a notícia mentirosa e assumindo o risco de que o
ouvinte a transmita à autoridade policial, culminando na instauração de inquérito
policial. Está claro que a expressão “saber inocente” liga-se à consciência do agente,
podendo a vontade de realizar o crime ser direta (dolo direto) ou indireta (dolo
eventual).

Não se admite, evidentemente, o dolo superveniente. Assim, aquele que, de


boa-fé, no estrito exercício do direito constitucional de petição (art. 5º, XXXIV, a, da
CF), noticia um crime que pensa praticado pela pessoa indicada, não pratica
denunciação caluniosa, ainda que tempos depois descubra que sua iniciativa foi
equivocada.

Por fim, no art. 326-A do Código Eleitoral se acrescenta um elemento especial: a


finalidade eleitoral, que normalmente se identifica em ataques contra a honra e a
imagem pública de adversários políticos, especialmente em períodos que antecedem
imediatamente as eleições.

(D) Consumação e tentativa

Consuma-se o delito com a iniciação das diligências investigativas ou dos


demais procedimentos elencados no caput.

Na denunciação caluniosa do Código Penal há certa controvérsia de que não


está imune o novo tipo penal. Há quem sustente que para o Ministério Público propor a
ação penal contra o autor da denunciação é necessário aguardar a conclusão do
procedimento a que o agente injustamente deu causa, pois, do contrário, há o risco de
conflito entre decisões (Hungria e Bento de Faria). Mirabete (Manual de direito penal, v.
3, p. 395), seguindo as lições de Fragoso, com razão, discorda e logo explica: “Não é
pressuposto da instauração de ação penal o arquivamento de inquérito policial aberto a
pedido do indigitado autor do crime de denunciação caluniosa para só então valer
aquele como peça de informação à persecutio criminis do Estado. Assim tem-se
decidido, inclusive no STF (RT 568/373, 536/283, 390/69). Isso porque a prova da
inocência da pessoa que foi acusada falsamente pode ser qualquer uma”. A respeito, já
decidiu o STJ: “A alegação de que seria indispensável o arquivamento formal do
inquérito policial indevidamente instaurado, para só depois se processar o crime de
denunciação caluniosa, não merece prosperar, quando evidenciado que foi no próprio
inquérito policial instaurado para apurar o crime de abuso de autoridade, indevidamente
imputado à vítima, que se verificou tratar-se de atribuição falsa de crime a pessoa
sabidamente inocente.” (RHC 50.672/SP, j. 18/09/2014)

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A tentativa é admitida nos casos em que, apesar da imputação, a autoridade
policial não inicia procedimento investigatório, ou ainda nos casos em que os demais
procedimentos não são iniciados por circunstâncias alheias à vontade do agente.

(E) Majorante e minorante de pena

O § 1º do art. 326-A aumenta a pena de sexta parte “se o agente se serve de


anonimato ou de nome suposto”. Como bem explica Hungria (Comentários ao Código
Penal. Rio de Janeiro, v. 9, p. 469) ao comentar o art. 339 do CP: “O indivíduo que se
resguarda sob o anonimato ou nome suposto é mais perverso do que aquele que age
sem dissimulação. Ele sabe que a autoridade pública não pode deixar de investigar
qualquer possível pista (salvo quando evidentemente inverossímil), ainda quando
indicada por uma carta anônima ou assinada com pseudônimo; e por isso mesmo, trata
de esconder-se na sombra para dar o bote viperino. Assim, quando descoberto, deve
estar sujeito a um plus de pena.”

O § 2º prevê causa de diminuição de pena pela metade se o agente imputa ao


denunciado a prática de contravenção.

(F) Competência

Antes da inserção do 326-A no Código Eleitoral, quem cometesse denunciação


caluniosa no contexto eleitoral respondia penalmente como incurso no art. 339 do CP,
cuja competência era da Justiça Federal, pois, afetada a administração da Justiça
Eleitoral, considerava-se prejudicado um interesse da União (art. 109, inc. IV, da
Constituição Federal). Agora, com a nova tipificação específica, a competência passa a
ser da Justiça Eleitoral.

(G) Veto presidencial

O projeto de lei aprovado contemplava um terceiro parágrafo com uma forma


equiparada do delito. Segundo o dispositivo, incorreria nas mesmas penas do caput o
indivíduo que, ciente da inocência do denunciado e com finalidade eleitoral, divulgasse
ou propalasse, por qualquer meio ou forma, o ato ou fato que lhe havia sido falsamente
atribuído.

Ocorre que o art. 324, § 1º, do Código Eleitoral pune conduta semelhante
(propalar ou divulgar a calúnia eleitoral) com pena muito menor (detenção de seis
meses a dois anos), o que tornaria desproporcional a pena do novo tipo equiparado: “A
propositura legislativa ao acrescer o art. 326-A, caput, ao Código Eleitoral, tipifica como
crime a conduta de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral. Ocorre que o crime
previsto no § 3º do referido art. 326-A da propositura, de propalação ou divulgação do
crime ou ato infracional objeto de denunciação caluniosa eleitoral, estabelece pena de
reclusão, de dois a oito anos, e multa, em patamar muito superior à pena de conduta
semelhante já tipificada no § 1º do art. 324 do Código Eleitoral, que é de propalar ou
divulgar calúnia eleitoral, cuja pena prevista é de detenção, de seis meses a dois anos,

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e multa. Logo, o supracitado § 3º viola o princípio da proporcionalidade entre o tipo
penal descrito e a pena cominada.””

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