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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE

PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

ANA PAULA ARAKAKI MIYASATO

O PROCESSO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO ATRAVÉS DOS SERVIÇOS

RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS: UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

MARÍLIA

2013
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

ANA PAULA ARAKAKI MIYASATO

O PROCESSO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO ATRAVÉS DOS SERVIÇOS

RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS: UMA PESQUISA BILIOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Programa de
Aprimoramento Profissional/SES,
elaborado na Faculdade de Medicina de
Marília, em Enfermagem em Psiquiatria e
Saúde Mental, sob a orientação do Prof.
Dr. Antonio Carlos Siqueira Junior.
Área: Saúde Mental.

MARÍLIA
2013
Miyasato, Ana Paula Arakaki
M685p O processo de desinstitucionalização através dos Serviços
Residenciais Terapêuticos: uma pesquisa bibliográfica. - -
Marília,SP: [s.n], 2013.

Orientador: Prof.Dr. Antonio Carlos Siqueira Júnior

Trabalho de Conclusão de Curso (Programa de


Aprimoramento Profissional) – Secretaria de Estado
da Saúde-Fundap, elaborado na Faculdade de
Medicina de Marília em Enfermagem em Psiquiatria e
Saúde Mental.
Área: Saúde Mental.

1. Desinstitucionalização. 2. Moradias assistidas. 3. Saúde


mental.

Desinstitucionalização
Desinstitucionalização
ANA PAULA ARAKAKI MIYASATO

O PROCESSO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO ATRAVÉS DOS SERVIÇOS


RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS: UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Programa de
Aprimoramento Profissional/SES-Fundap,
elaborado na Faculdade de Medicina de
Marília em Enfermagem em Psiquiatria e
Saúde Mental.
Área: Saúde Mental.

Comissão de Aprovação:

_______________________________
Prof. Dr. Antonio Carlos Siqueira Junior
Supervisor/Orientador

_______________________________
Profa. Camila Mugnai Vieira
Coordenador PAP (SES/Fundap) – Famema – Área: Saúde Mental

_______________________________
Profa. Dra. Roseli Vernasque Bettini
Coordenador PAP (SES/Fundap) – Famema

Data de Aprovação: _______________


Dedico a minha família que apoiou-me nesta caminhada de tantas alegrias e
sacrifícios e a todos que direta e indiretamente contribuíram para realização
desta pesquisa e a concretização deste curso.
AGRADECIMENTOS

A Deus por conceder-me força e disposição para realização deste


trabalho e pela trajetória caminhada durante todo o curso.
Aos meus pais, e toda minha família por me apoiarem em todos os
momentos, batalhando e lutando diariamente para que esse sonho fosse
realizado.
Ao meu orientador Prof Dr. Antonio Carlos Siqueira Junior, pelos
ensinamentos transmitidos durante o curso, pela sabedoria e paciência durante
todo o processo de construção deste trabalho.
A todos os aprimorandos que caminharam junto comigo durante o ano,
compartilhando vivências inesquecíveis, em especial aos aprimorandos
Elisângela, Fábio, Tânia e Mila que permaneceram sempre presente em todos
os momentos, seja nas alegrias ou nas dificuldades. Amizade eterna e
especial!
As coordenadoras do curso Prof. Dra. Roseli Vernasque Bettini e Prof.
Camila Mugnai Vieira por dispensar tempo, dedicação e paciência em
solucionar todas as pendências para que o curso fosse o melhor possível para
todos nós. Admiração pelo profissionalismo de vocês!
Aos professores da Enfermagem Psiquiátrica Márcia Aparecida Padovan
Otani e Adalberto Jesus Rosa da Silva por me acompanharem nos campos de
estágios e por transmitirem tantos ensinamentos contribuindo para minha
formação.
Aos supervisores de estágio e toda equipe pela assistência prestada
durante todo o estágio, permitindo minha atuação enquanto profissional.
Aos pacientes, que proporcionaram uma experiência única, ao longo do
curso. Obrigado pela confiança em meu trabalho!!!
Muito obrigada a todos que me incentivaram e lutaram junto comigo para
a concretização deste sonho!
“As imagens do inconsciente são apenas uma linguagem simbólica que o
psiquiatra tem por dever decifrar. Mas ninguém impede que essas imagens e
sinais sejam, além do mais, harmoniosas, sedutoras, dramáticas, vivas ou
belas, constituindo em si verdadeiras obras de arte”.
Mário Pedrosa
RESUMO

A criação dos Serviços Residenciais Terapêuticos são de suma importância


para a consolidação do sistema de emancipação e autonomia dos portadores
de transtornos mentais. O objetivo do presente estudo é realizar uma revisão
bibliográfica sobre Serviços Residenciais Terapêuticos através da literatura
disponível no período de 2002 a 2012. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica
de caráter qualitativo, em que foi realizado um levantamento de artigos
científicos na base de dados: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde) com as palavras serviço$ and residência$ and terap$
totalizando 25 trabalhos para análise de estudo. A análise dos resultados foi
baseada em três questões norteadoras : “Como é a experiência dos moradores
de um Serviço Residencial Terapêutico no processo da desinstitucionalização?”
“Qual a visão e como é o trabalho dos profissionais que acompanham os
moradores de um Serviço Residencial Terapêutico? “Quais os fatores positivos
e negativos no processo da desinstitucionalização encontrados nos Serviços
Residenciais Terapêuticos? Percebe-se a satisfação dos moradores com o
novo espaço de moradia proporcionando-lhes a oportunidade de conquistar
seu direito enquanto cidadão, e de reconquistar a autonomia. A maioria dos
profissionais que atuam nos SRTs valorizam essa mudança no contexto de
vida dos moradores salientando a lógica do cuidado baseado na proposta da
Reforma Psiquiátrica, tendo o SRT como dispositivo para reinserção social. A
promoção da reabilitação psicossocial por meio de habilidades para viver em
comunidade, resulta em melhora da qualidade de vida para os moradores. Em
contrapartida há a desarticulação entre as moradias com um modelo
terapêutico de referência, gestão centralizadora, resultando em uma clínica de
resistência instalada neste espaço. Portanto, há inúmeros desafios que ainda
precisam ser vencidos, mas as conquistas já alcançadas demonstram que a
desinstitucionalização é o caminho para a promoção das mudanças
necessárias e as RTs é um dos dispositivos que podem promover novas
estratégias de cuidado para a saúde mental.
Palavras-chaves: desinstitucionalização; moradias assistidas; saúde mental.
Abstract

The creation of therapeutic residential services are of paramount importance for


the consolidation of the system of emancipation and autonomy of people with
mental disorders. The aim of this study is to review literature on therapeutic
residential services through the available literature from 2002 to 2012. It is a
literature of qualitative character, which was a survey of scientific articles in the
database: LILACS (Latin American and Caribbean Health Sciences) with the
words service$ and residence$ and Therapeutic$ totaling 25 jobs for study
analysis. The analysis was based on three questions: "How is the experience of
the residents of a Therapeutic Residential Service in the process of
deinstitutionalization?” "What is the vision and how is the work of professionals
who follow the residents of a Therapeutic Residential Service? "What are the
positive and negative factors in the process of deinstitutionalization found in
therapeutic residential services? We can see the satisfaction of residents with
the new living space providing them the opportunity to earn your right as a
citizen, and to regain autonomy. Most professionals working in SRTs value this
change in the context of life for residents stressing the logic of care based on
the proposal of the Psychiatric Reform, and the SRT as a device for social
reintegration. The promotion of psychosocial rehabilitation through skills for
community living, resulting in improved quality of life for residents. In contrast
there is a disconnection between the villas with a therapeutic model of
reference, centralizing management, resulting in a clinical resistance installed in
this space. So there are still many challenges that must be overcome, but the
gains already achieved demonstrate that deinstitutionalization is the way to
promote the necessary changes and RTs is one of the devices that can
promote new strategies for mental health care.

Keywords: deinstitutionalization, care homes, mental health


LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Identificação dos estudos analisados - 2002- 2012..........................17


Tabela 2 - Principais palavras – chaves dos artigos selecionados ...................25
Tabela 3 - Principais descritores dos artigos selecionados ..............................26

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Distribuição dos artigos conforme Ano de Publicação.....................22


Gráfico 2 - Disposição dos artigos de acordo com a categoria profissional dos
principais autores dos artigos estudados ....................................................... 23
Gráfico 3 - Formação acadêmica do primeiro Autor dos Artigos ......................24
Gráfico 4 - Classificação quanto a metodologia dos artigos .............................25
LISTA DE SIGLAS

AIH Autorização Internação Hospitalar

BA Bahia

BVS Biblioteca Virtual em Saúde

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

ESF Estratégia Saúde da Família

EUA Estados Unidos da América

GM Gabinete do Ministro

HPRP Hospital Estadual de Ribeirão Preto

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

MT Mato Grosso

PNASH Programa Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar

PRH Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar

PSF Programa Saúde da Família

RN Rio Grande do Norte

RS Rio Grande do Sul

RT Residência Terapêutica

SRT Serviço Residencial Terapêutico

SUS Sistema Único de Saúde

UBS Unidade Básica de Saúde


SUMÁRIO

1. Introdução .................................................................................................... 11

2. Objetivo ........................................................................................................ 15

3. Metodologia .................................................................................................. 16

4. Caracterização do Estudo ............................................................................ 22

5. Justificativa ................................................................................................... 27

6. Análise.......................................................................................................... 28

7. Considerações Finais ................................................................................... 45

8. Referências Bibliográficas ............................................................................ 47

9. Obras Consultadas ....................................................................................... 50


11

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a Reforma Psiquiátrica brasileira tem em seu campo


normativo e legislativo a Lei Federal 10.216/2001 que dispõem sobre “a
proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais”. Além disso, tal lei
privilegia a oferta de tratamentos em serviços alocados na comunidade, porém
não deixa claro sobre a extinção do modelo manicomial. Com a realização da
III Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em dezembro de 2001, as
Políticas de Saúde Mental se consolidaram e os serviços substitutivos
ganharam maior espaço com o financiamento do Ministério da Saúde. E ainda,
com esta conferência novas medidas foram criadas para a redução de leitos
psiquiátricos em hospitais para este tipo de tratamento específico. Assim, neste
momento a rede de atenção à saúde mental ganha uma expansão significativa,
com uma política traçada e organizada com estratégias promovendo assim o
processo da desinstitucionalização (BRASIL, 2005).

A desinstitucionalização constitui-se em uma prática de diversas


experiências internacionais, ligadas ao processo de desospitalização. Porém,
como afirma Amarante (1995, p.493) “desinstitucionalização não significa
apenas desospitalização, mas desconstrução”. Ou seja, a desconstrução dos
manicômios e a construção de novos serviços, baseado no sujeito e não com o
foco na doença, tendo como proposta libertar os portadores de transtorno
mental destes espaços de exclusão e maus tratos (AMARANTE, 1995).

Ainda neste contexto, Ferro (2009, p.757):

“A prática da desinstitucionalização não prega a simples extinção


dos hospitais psiquiátricos, mas baseia-se em uma mudança do
paradigma no qual estes foram erigidos, que inclui diversas das
tecnologias reabilitativas presentes atualmente”.

Os serviços extra hospitalares de saúde mental surgem nessa nova


perspectiva de reformulação da atenção, a partir dos Movimentos da Reforma
Psiquiátrica Brasileira, tendo como objetivo substituir o modelo de atenção
12

baseado no “tratamento prioritariamente hospitalar e medicocentrado pelo


paradigma da atenção psicossocial” (FIORATI, 2011, p.121).

Esses serviços são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS)


a toda população constituindo-se assim em: ambulatórios de Saúde Mental ou
unidades preparadas para prestar o cuidado, Unidades Básicas de Saúde
(UBS), Programas Saúde da Família (PSF) com a proposta de promoção e
prevenção da saúde mental, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que
oferece tratamento diário para portadores de transtornos mentais, Serviços
Residenciais Terapêuticos (SRT) promovendo a reinserção social através da
moradia a pessoas com histórico de longas internações psiquiátricas e Centros
de Convivência que estimulam a cultura, além de ser um espaço de troca para
usuários e a sociedade (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2012).

Além desses serviços citados, há ainda o Programa de Volta para Casa,


que constiui-se em um instrumento que permite contribuir para reinserção
social do indivíduo com longas internações, através de um auxílio-reabilitação,
que no ano de 2011 estava no valor de R$ 408,75. Ainda há o Programa
Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar/Psiquiatria (PNASH/Psiquiatria)
que é uma ferramenta de avaliação da qualidade da assistência prestada nos
hospitais psiquiátricos, podendo descredenciar aqueles que não prestam
assistência compatível com as normas do SUS. Esta ferramenta permite
classificar os cuidados dispensados, acarretando no fechamento de leitos que
não conferem com as exigências mínimas de respeito ao indivíduo, evitando
assim a desassistência a essa clientela. E por fim, a estratégia de redução de
leitos em hospitais psiquiátricos, o chamado Programa Anual de
Reestruturação da Assistência Hospitalar (PRH) que promove a redução de
leitos anualmente conforme o número de leitos existentes para cada classe de
hospitais, em consonância com o aumento progressivo de equipamento e
ações na rede extra-hospitalar (BRASIL, 2005).

Essa rede de serviços desinstitucionalizantes são de suma importância


para a consolidação do sistema de emancipação e autonomia dos portadores
de transtornos mentais.
13

A criação de Serviços Residenciais Terapêuticos se deu através da


Portaria/GM nº 106/2000, pelo SUS, e constitui-se em uma “modalidade
assistencial substitutiva da internação psiquiátrica prolongada” segundo art.2.º
desta lei. A mesma homologou também que a cada transferência de um
paciente de uma Instituição Hospitalar Especializada para uma Residência
Terapêutica deve-se reduzir ou descredenciar do SUS igual número de leitos
deste hospital (BRASIL, 2000).

Serviço Residencial Terapêutico (SRT), que pode também ser chamado


de Residência Terapêutica ou “moradia” são casas localizadas
preferencialmente no espaço urbano e na comunidade com o objetivo de
atender as necessidades de moradia dos portadores de transtornos mentais
graves, reinserindo-os na sociedade por meio de relações com a comunidade.
Abriga até oito moradores, contando com suporte profissional interdisciplinar
conforme as demandas de cada usuário. O apoio profissional conta com uma
equipe de referência que pode ser o CAPS ou ainda uma equipe de atenção
básica, garantindo a esses indivíduos o acompanhamento individual,
respeitando sua singularidade, e não embasado somente no coletivo (BRASIL,
2004).

O índice de residências terapêuticas no país no ano de 2011 contou com


625 módulos em funcionamento, com total de 3470 moradores, sendo que
ainda haviam 154 serviços residenciais terapêuticos em fase de implantação
até este período. Estes números demonstram o avanço da desospitalização no
país, sendo que nos últimos quatro anos nota-se uma progressão do número
de serviços residenciais terapêuticos como conseqüência do fechamento de
grandes hospitais psiquiátricos comparado ao ritmo que era lento em períodos
anteriores (BRASIL, 2012).

Segundo a Portaria GM nº 106/2000 em seu art.3.º, define que os


serviços residenciais terapêuticos tem como função:

“garantir assistência aos portadores de transtornos mentais com


grave dependência institucional que não tenham possibilidade de
desfrutar de inteira autonomia social e não possuam vínculos
familiares e de moradia; atuar como unidade de suporte destinada,
14

prioritariamente, aos portadores de transtornos mentais submetidos a


tratamento psiquiátrico em regime hospitalar prolongado; promover a
reinserção desta clientela à vida comunitária”.

Os beneficiários deste tipo de serviço são: indivíduos egressos de


internações psiquiátricas, além destes, os egressos de Hospital de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico, pacientes em acompanhamento no CAPS com
problemas de moradia identificado pela equipe de referência e moradores de
rua com transtorno mental severo inseridos no CAPS em projetos terapêuticos
(BRASIL, 2004).

Os trabalhadores de um serviço residencial terapêutico devem


considerar o ponto de vista dos usuários que irão lidar com eventuais
inseguranças ao deixar o hospital e com as dificuldades que surgirão no
cotidiano. A convivência entre moradores e profissionais dependerá do vínculo
estabelecido entre os mesmos. Por isso, há que se planejar estratégias que
permitam que este relacionamento diário e contínuo seja de confiança entre si.
Os profissionais responsáveis pelo cuidado devem determinar o suporte
oferecido para a aquisição da autonomia do morador, por meio de negociações
constantes na realização de atividades que incluem desde tarefas domésticas
até a administração do próprio dinheiro, requerendo do trabalhador desenvolver
e planejar novas estratégias de atenção (BRASIL, 2004).

Este estudo irá focalizar o processo da Reforma Psiquiátrica através dos


Serviços Residenciais Terapêuticos.
15

2. OBJETIVO

O objetivo do presente estudo é realizar uma revisão bibliográfica sobre


Serviços Residenciais Terapêuticos através da literatura disponível no período
de 2002 a 2012.
16

3. METODOLOGIA

Para alcançar o objetivo proposto deste estudo, a revisão bibliográfica foi


o método de escolha para essa pesquisa, com o intuito de analisar a
experiência da desinstitucionalização através dos serviços residenciais
terapêuticos.

Segundo Silva e Menezes (2005, p. 37):


“A revisão de literatura resultará do processo de levantamento e
análise do que já foi publicado sobre o tema e o problema de
pesquisa escolhidos. Permitirá um mapeamento de quem já escreveu
e o que já foi escrito sobre o tema e/ou problema da pesquisa”.

A pesquisa bibliográfica consiste nos seguintes passos: escolha do


tema, elaboração do plano de trabalho, identificação, localização, compilação,
fichamento, análise e interpretação e redação (MARKONI e LAKATOS, 2003).
Esta pesquisa bibliográfica é de caráter qualitativo. A pesquisa
qualitativa responde a questões particulares, e preocupa-se com a realidade
que não pode ser quantificada, isto é, os significados, desejos, crenças, valores
e atitudes que não podem ser reduzidos a execução de suas variáveis.
(MINAYO, 1996)
A seleção do material se deu a partir da busca na Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) no banco de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde) com as palavras serviço$ and residência$ and
terap$, totalizando 88 referências. Através da análise criteriosa incluindo a
leitura dos títulos e resumo de tais referências, foram excluídos aqueles que
não correspondiam com o objetivo do estudo.

O material selecionado teve como critérios de seleção: 1) ter a temática


“Serviços Residenciais Terapêuticos” relacionado ao processo da Reforma
Psiquiátrica; 2) ter sido publicado entre os anos 2002 a 2012; 3) ter sido
publicado nos idiomas português e espanhol; 4) ser exclusivamente artigos de
periódicos. Segundo esses critérios foram excluídos os trabalhos publicados
em anos anteriores e idiomas diferentes aos mencionados nos critérios de
17

inclusão, ser tese ou dissertação, e não conter informações que condizem com
o objetivo da pesquisa.

Tabela 1 – Identificação dos estudos analisados – 2002-2012.

Código Primeiro Autor do Título do Artigo Ano de


Artigo Publicação

1 AMORIM, Ana Desinstitucionalização em 2009


Karenina Arraes saúde mental e práticas de
cuidado no contexto do
serviço residencial
terapêutico

2 AMORIM, Ana Loucura e cidade: cenas 2009


Karenina Arraes biopolíticas e incursões (des)
institucionalizantes

3 BASTOS, Liana Vivências de moradores de 2011


Cajado Residências Terapêuticas de
Feira de Santana, Bahia: do
fio da vida administrada no
“Hospital Colônia” à vida em
liberdade na cidade

4 BELINI, Marya Gorete Projeto Morada São Pedro: 2006


da institucionalização à
desinstitucionalização em
saúde mental

5 FASSHEBER, Da tutela à autonomia: 2007


Vanessa Barreto narrativas e construções do
18

cotidiano em uma Residência


Terapêutica

6 FONSECA, Poty A moradia protegida no 2008


Colaço contexto da reforma
psiquiátrica: interlocuções
com a família e o campo
social

7 FURTADO, Juarez Avaliação da situação atual 2006


Pereira dos Serviços Residenciais
Terapêuticos no SUS

8 HONORATO, Carlos O trabalho do profissional de 2008


Eduardo de Moraes saúde mental em um
processo de
desinstitucionalização

9 JAEGGER, Rosimery A experiência de morar fora: 2004


Corrêa avaliação da satisfação de
usuários em um serviço de
saúde mental

10 LUIZ, Raquel Estado da arte sobre o 2011


Terezinha Serviço Residencial
Terapêutico no Brasil: um
panorama exploratório

11 MACEDO, Jaqueline A experiência da implantação 2009


Queiroz dos Serviços Residenciais
Terapêuticos – Análise
quantitativa e qualitativa

12 MÂNGIA, Elisabete Desinstitucionalização e 2002


Ferreira Serviços Residenciais
19

Terapêuticos

13 MÂNGIA, Elisabete Desinstitucionalização e 2004


Ferreira serviços residenciais
terapêuticos: novas
perspectivas para o campo
da reabilitação psicossocial

14 OLIVEIRA, Alice Serviços Residenciais 2008


Guimarães Bottaro de Terapêuticos: novos desafios
para a organização das
práticas de saúde mental em
Cuiabá-MT

15 RIBEIRO NETO, Conhecendo os cuidadores 2009


Pedro Machado de um serviço residencial
terapêutico

16 ROMAGNOLI, Por uma clínica da 2009


Roberta Carvalho resistência: experimentações
desinstitucionalizantes em
tempos de biopolítica

17 SANTOS JUNIOR, Práticas de cuidados 2009


Hudson Pires de produzidas nos Serviço de
Oliveira Residências Terapêuticas:
percorrendo os trilhos de
retorno à sociedade

18 SILVA, Danielle Souza A reforma psiquiátrica na 2011


visão de quem cuida:
percepções de profissionais
do serviço residencial
terapêutico
20

19 SILVA, Danielle Souza As novas práticas em saúde 2011


mental e o trabalho no
Serviço Residencial
Terapêutico

20 SILVEIRA, Maria de Que eles falem por si: relatos 2011


Fátima de Araújo dos profissionais sobre a
experiência nas residências
terapêuticas

21 SUIYAMA, Renata Serviços Residenciais 2007


Cristina Terapêuticos em Saúde
Mental: uma proposta que
busca resgatar a
subjetividade dos sujeitos?

22 SPRIOLI, Neila Cuidar em novo tempo: o 2011


trabalho de cuidadores com
pacientes psiquiátricos em
moradias

23 VENTURINI, Ernesto “O Caminho dos Cantos”: 2010


morar e intersetorialidade na
saúde mental

24 VIDAL, Carlos Reforma Psiquiátrica e 2008


Eduardo Leal Serviços Residenciais
Terapêuticos

25 WACHS, Felipe Processos de subjetivação e 2010


territórios de vida: o trabalho
de transição do hospital
psiquiátrico para Serviços
Residenciais Terapêuticos
21

Portanto, após seguir a seleção por meio dos critérios de inclusão e


exclusão, chegou-se ao resultado final de 25 artigos científicos para análise de
estudo.

Através das informações obtidas na coleta de dados foram elaboradas


questões norteadoras para discussão dos resultados, sendo estas:

1. Como é a experiência dos moradores de um Serviço Residencial


Terapêutico no processo de desinstitucionalização?

2. Qual a visão e como é o trabalho dos profissionais que acompanham os


moradores de um Serviço Residencial Terapêutico?

3. Quais os fatores positivos e negativos no processo da


desinstitucionalização encontrados nos Serviços Residenciais
Terapêuticos?
22

4. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

Os artigos selecionados para este estudo foram analisados conforme


sua caracterização incluindo os itens: ano de publicação do artigo, profissão
dos principais autores, formação acadêmica com local de atuação dos
principais autores, classificação quanto à metodologia de cada artigo e
principais palavras-chaves/descritores dos artigos.

Primeiramente, foi observado o ano de publicação dos artigos escolhidos


para análise. Conforme a metodologia deste estudo, obedecendo aos critérios
de inclusão, observa-se que dentre as 25 publicações selecionadas houve um
aumento gradual das publicações sobre a temática nos últimos anos, sendo
2011 e 2009 os anos com maior número de publicações nessa área. Nos anos
de 2004, 2006, 2007 e 2010 houve igual numero de publicações, enquanto em
2003, 2005 e 2012 não houve nenhuma publicação.

Gráfico 1- Distribuição dos artigos conforme Ano de Publicação

Esses dados corroboram com a estatística do Ministério da Saúde que


mostra o ritmo de crescimento da implementação de Serviços Residenciais
Terapêuticos nos últimos 10 anos, em que houve momentos em que a criação
23

de SRTs mantiveram-se contínuas por alguns anos, e que a partir de 2010


houve uma aceleração da criação de RTs, consequência do processo de
fechamento de grandes hospitais psiquiátricos (BRASIL, 2012). Ou seja, as
publicações de artigos sobre a temática deste estudo, estão de acordo com o
desenvolvimento das SRTs.

Em relação à categoria profissional dos dois autores de cada artigo,


observamos que os enfermeiros são os que mais produzem sobre SRTs,
consequentemente são parte da equipe de cuidadores e referência dos
moradores, representando 28% desta categoria.

Gráfico 2 - Disposição dos artigos de acordo com a categoria profissional


dos principais autores dos artigos estudados

Quanto à formação acadêmica do primeiro autor foi identificado um predomínio


de discentes como primeiro autor (32%) e docentes como segundo autor
(48%), seguindo a lógica de incentivo a publicação aos alunos de graduação,
24

orientados pelos docentes acadêmicos que tem sua produção valorizada no


meio profissional.

Gráfico 3 - Formação Acadêmica do Primeiro Autor dos Artigos

Ao analisar a metodologia utilizada na pesquisa realizada pelos autores,


identificamos que a grande maioria dos artigos utilizaram a pesquisa de campo
que representa 64%, enquanto 9 autores desenvolveram o método da revisão
bibliográfica representando 36%.
25

Gráfico 4 - Classificação quanto a metodologia dos artigos

O quadro abaixo mostra as principais palavras chaves e descritores


encontrados nos 25 artigos selecionados.
Palavras-chave segundo Brandau, Monteiro e Braile (2005, p. VIII) “não
obedece a nenhuma estrutura, é aleatória e retirada de textos de linguagem
livre”.
Nota-se que os artigos usam denominações diversas para um mesmo
tipo de serviço (residência terapêutica, serviço residencial terapêutico, moradia
assistida, moradia protegida, instituições residenciais, serviços de saúde
mental).

Tabela 2 – Principais palavras-chaves dos artigos selecionados

Palavras-chave Nº artigos

Residência Terapêutica 5

Serviços Residenciais Terapêuticos 4


26

Moradia Protegida 1

Instituições Residenciais 1

Reforma Psiquiátrica 5

Porém quando se trata de descritores há denominações reduzidas,


levando em consideração que descritores segundo Brandau, Monteiro e Braile
(2005, p. VIII) “são organizados em estruturas hierárquicas, facilitando a
pesquisa e a posterior recuperação do artigo”.

Tabela 3 – Principais descritores dos artigos selecionados


Descritores N° Artigos

Moradias assistidas 7

Serviços de Saúde Mental 8

Saúde Mental 16

Desinstitucionalização 11
27

5. JUSTIFICATIVA

O tema escolhido para este trabalho de conclusão de curso foi decidido


após estudos e reflexões que realizei sobre as formas de desospitalização da
Reforma Psiquiátrica. O Serviço Residencial Terapêutico me despertou a
curiosidade dentre os serviços existentes na rede extra-hospitalar de
tratamento em saúde mental. Pensando na segregação vivida pelos portadores
de transtorno mental e a dificuldade da família de reinseri-los em seu lar,
estimulou-me a pesquisar como funciona este serviço dentro da lógica da
desinstitucionalização.
28

6. ANÁLISE

A análise deste estudo inicia-se pela seguinte questão norteadora: Como


é a experiência dos moradores de um Serviço Residencial Terapêutico no
processo da desinstitucionalização? Os autores: Bastos; Aguiar (2011);
Jaegger et al (2004); Macedo; Silveira (2009); Fassheber; Vidal (2007) e
Fonseca et al (2008) discutem essa questão em seus trabalhos.

Através da leitura dos artigos percebe-se nas entrevistas realizadas com


os moradores dos SRTs, a satisfação com o novo espaço de moradia. Esta
nova realidade proporcionam-lhes a oportunidade de conquistar seu direito
enquanto cidadão, e de reconquistar a autonomia que lhes foi tirada pelo
enclausuramento dos manicômios, apesar das dificuldades (divisão das tarefas
entre os membros da moradia, instalações da moradia que podiam ser
melhoradas, relacionamento conturbado com vizinhos, preconceito da
comunidade), que as mudanças trazem neste novo contexto de vida (BASTOS;
AGUIAR, 2011; JAEGGER et al, 2004; MACEDO; SILVEIRA, 2009;
FASSHEBER; VIDAL, 2007; FONSECA et al, 2008).

Para indivíduos que passaram longos anos internados em instituições


psiquiátricas, tendo sua cidadania abolida pelo aprisionamento, passar a viver
em liberdade na cidade representa o resgate do habitar, de possuir um território
como qualquer individuo tem direito, além de construir as relações no convívio
do cotidiano. Essas vivências nas RTs proporcionam segundo Bastos e Aguiar
(2011) o resgate do direito que lhes foram tirados, e também a oportunidade de
assumir a responsabilidade pela própria vida, como apontado no exemplo
abaixo:

“Para os moradores das residências terapêuticas, em Feira de


Santana (BA), a reinserção na vida social, no cotidiano da cidade
significa, acima de tudo deixar para trás uma vida coletivizada,
administrada e privada do inesperado e da surpresa.Enfatiza-se que
as vivências em residências terapêuticas mostram-se
potencializadoras da luta por direitos que lhes foram suprimidos, por
meio de um longo e constante processo de marginalização, no
manicômio, e também da tomada de consciência de que há
responsabilidades por atos às quais não podem fugir. Ao serem
tutelados, perderam essa possibilidade que agora buscam resgatar –
29

poder falar por si mesmos, assumir seus deveres na relação consigo


e com o outro” (BASTOS; AGUIAR, 2011, p.444).

O novo contexto de vida, nesta nova forma de moradia, são


caracterizados nos estudos através das atividades de auto cuidado (higiene,
aparência pessoal, cuidados com objetos pessoais), participação das
atividades domésticas, circulação pelo bairro, relação construída entre os
moradores, com os cuidadores, com os vizinhos, com a sociedade em si,
estimulando a convivência social, e criando novas possibilidades de vida
(MACEDO; SILVEIRA, 2009; BASTOS; AGUIAR, 2011; FONSECA et al, 2008;
FASSHEBER; VIDAL, 2007). Esta afirmativa fica evidenciada na frase:

“As narrativas e o cotidiano de moradores de residências terapêuticas


estão permeados por uma subjetividade que emerge a partir das
relações que estes estabelecem com seu novo meio social. A
residência terapêutica é, acima de tudo, uma moradia, um lar que
estimula a convivência social, a liberdade e a construção de novas
possibilidades de vida, diferenciando-se, assim, dos demais serviços
substitutos oferecidos atualmente” (FASSHEBER; VIDAL, 2007, p.
205,206).

A identidade desses indivíduos é construída de forma distinta, embora


estejam inseridos no mesmo espaço físico. A narrativa dos moradores é repleta
de lembranças da época em que foram institucionalizados, sejam elas boas ou
ruins, mas percebe-se a conotação enfática da preferência pela RT, como
espaço de moradia, verificando-se assim a recuperação da identidade que lhes
foram roubadas pela institucionalização conforme afirma (FASSHEBER;
VIDAL, 2007):

“O modo pelo qual o indivíduo percebe e se apropria do novo espaço


de moradia se dá através de uma construção estritamente individual,
ou seja, de uma construção subjetiva. Sendo assim, cada morador
constrói o significado do novo lar de forma distinta, embora estejam
todos inseridos no mesmo espaço físico” (p.206).

Neste estudo ainda chama a atenção nas falas das moradoras, o


cuidado entre as mesmas, sendo que algumas necessitam de auxílio mais
intenso devido alguma deficiência física/mental, sendo ajudadas pelas colegas
de quarto que se preocupam com o bem-estar da companheira. A formação de
vínculo entre as moradoras deste SRT fica muito clara nesta relação construída
30

a partir da subjetividade que são as relações estabelecidas em seu meio social


proporcionando ao sujeito uma experiência inovadora.

O estudo de Fonseca et al (2008) mostra um relato de experiência de


uma moradia protegida, planejada de maneira a proporcionar a vivência de
pessoas longamente institucionalizadas em um ambiente mais próximo
possível do convívio familiar, tendo a família a participação nos gastos e
também no acompanhamento do desenvolvimento do projeto individual/singular
de seu familiar desinstitucionalizado.

Esta experiência resultou em aspectos positivos na vivência dos


moradores, como o fato de “todos conseguirem desenvolver significativamente
o poder contratual, o que permitiu o exercício de escolhas, a tolerância às
decisões coletivas e a melhoria dos relacionamentos interpessoais na moradia”
(FONSECA et al, 2008, p. 80). Além disso, conquistas como, retorno ao
convívio com familiares mesmo que em curto período de tempo, retorno ao
trabalho, aos estudos, interesse por passeios e viagens, demonstram como é
satisfatório o desenvolvimento deste projeto de tratamento em locais externos a
instituições hospitalares.

Outra questão norteadora que foi analisada: Qual a visão e como é o


trabalho dos profissionais que acompanham os moradores de um Serviço
Residencial Terapêutico?

Os autores Silveira e Santos Junior (2011); Santos Junior e Silveira


(2009); Sprioli e Costa (2011); Honorato e Pinheiro (2008); Wachs et al (2010);
Silva e Azevedo (a) (2011); Silva e Azevedo (b) (2011); Ribeiro Neto e Avelar
(2009); Belini e Hirdes (2006) discutem essa temática.

Os artigos analisados demonstram a importância dada pela maioria dos


profissionais ao SRT como novo contexto de vida para o sofredor psíquico,
salientando a lógica do cuidado baseado na proposta da Reforma Psiquiátrica,
tendo o SRT como dispositivo para reinserção social, foco da desospitalização.
Contudo, a prática do cuidado passa por problemas (falta de capacitação
31

profissional, suporte e estrutura insuficientes, falta de apoio e entrosamento da


família, política de gestão isolada e descontínua) nesta mudança
paradigmática, dificultando que as ações desses profissionais sejam
efetivamente concreta nesse novo contexto de aprendizado para moradores e
cuidadores (SANTOS JUNIOR; SILVEIRA, 2009; SILVEIRA; SANTOS
JUNIOR, 2011; SILVA; AZEVEDO, (a) 2011; SILVA; AZEVEDO, (b) 2011;
HONORATO; PINHEIRO, 2008; BELINI; HIRDES, 2006). Esta afirmativa esta
explicitada nos trechos abaixo:
“A experiência dos técnicos produz uma técnica de escuta e
mobilização em constante movimento. O trabalho sustenta-se no
encontro das diferenças. É no escopo do mundo comum da
pluralidade que a tarefa política da reforma Psiquiátrica Brasileira
ganha sentido” (HONORATO;PINHEIRO, 2008, p.377). [...] a Reforma
Psiquiátrica foi percebida pelos profissionais de enfermagem como
um movimento que propõe mudanças na organização dos serviços de
saúde mental, na sua postura e prática profissional, exigindo outras
maneiras de cuidar e enxergar os portadores de transtornos mentais
[...]” (SILVA; AZEVEDO, (a) 2011, p. 593). [...] a prática de atenção à
saúde mental a partir das Residências Terapêuticas conduz os
profissionais a “novas” práticas em saúde e abre perspectivas
enriquecedoras, envolvendo o resgate do diálogo entre o
conhecimento e a realidade de mundo, rompendo com o tradicional
hermético e se abrindo ao cotidiano, necessários para a manutenção
da saúde mental. [...] as dificuldades enfrentadas pelos profissionais
se caracterizam por ser a base estrutural, de recursos humanos e de
apoio social, podendo vir a se configurar como entrave para o alcance
das perspectivas, as quais são: reinserção social, familiar e no mundo
do trabalho e desenvolvimento da autonomia” (SILVEIRA; SANTOS
JUNIOR, 2011, p. 2097). “é preciso construir um referencial teórico
embasado nas práticas que se efetivam nas residências terapêuticas,
permitindo reflexões, construindo conceitos para os trabalhadores de
saúde mental consolidarem avanços nos novos dispositivos em
saúde mental no contexto da reforma psiquiátrica” (BELINI; HIRDES,
2006 p. 562).

Segundo Santos Junior; Silveira (2009) e Silva; Azevedo (a) (2011) a


assistência aos usuários das RTs se dá de modo mais humanizado, em
comparação ao cuidado que esses indivíduos recebiam no hospital psiquiátrico.
Com a Reforma Psiquiátrica, o cuidado passou a ter enfoque mais no âmbito
psicossocial, olhando para o sujeito como um ser individual com suas
singularidades respeitadas na moradia. Essa humanização citadas pelos
entrevistados (profissionais atuantes nas RTs) traduz um cuidado mais
adequado com as necessidades e desejos individuais de cada indivíduo,
diferentemente da assistência prestada no modelo hospitalocêntrico, em que o
32

cuidado era mais tecnicista, “a que se assemelham mais a uma linha de


montagem industrial, na qual as tarefas e, o que é mais grave, o sujeito, são
fragmentados e encadeados como qualquer mercadoria de produção comum”
(SANTOS JUNIOR; SILVEIRA, 2009, p.792). Ou seja, há um rompimento do
modelo segregador para um modelo de cuidado mais humanizado, como
afirma Silva; Azevedo (a) ( 2011),
“[...] a partir da Reforma, o profissional é “motivado” a assumir uma
nova posição em relação ao doente, a adoção de uma postura mais
horizontal e humanizada, que se propõe a desconstruir a imagem do
profissional autoritário, tecnicista e impiedoso do modelo asilar [...]”
(p. 591).

Além disso, a formação de vínculo entre o cuidador e o usuário permite


que o profissional exerça uma visão holística do cuidado, à medida que a
aproximação com os moradores neste novo contexto de vida em que passaram
a viver permite que os profissionais reconheçam as dificuldades desses
moradores nesta nova experiência. Mas para isso o profissional precisa “abrir
mão do poder que subjetivamente ele exerce sobre o morador, partindo do
princípio de que a última palavra e a solução de problemas estão em cada
sujeito” (CAMPOS1 (2001) apud SANTOS JUNIOR; SILVEIRA, 2009, p.793).
Assim cada membro desta experiência, seja ele profissional ou usuário,
exercem sua função contribuindo com o que pode para superar os obstáculos
do cotidiano desta vivência (SANTOS JUNIOR; SILVEIRA, 2009).
Para Santos Junior; Silveira (2009) e Spriolli; Costa (2011) os cuidadores
realizam o acompanhamento dos moradores nas atividades cotidianas, como o
autocuidado por exemplo, que na maioria das vezes é uma tarefa que precisa
ser estimulada pelos profissionais, uma vez que esta prática que parece ser tão
rotineira para estes indivíduos foram perdidas nos longos anos
institucionalizados, como citado abaixo:
“É também realizado, no cotidiano das moradias, um trabalho de
aprendizagem e estimulação do usuário para as atividades de
autocuidado, que é uma prática de atividades que os indivíduos
iniciam e executam em seu próprio benefício, para a manutenção da
vida, da saúde e do bem-estar, já havendo alguns usuários que

1
CAMPOS, R.O. Clínica: a palavra negada – sobre as práticas clínicas nos serviços
substitutivos de saúde mental. Saúde Debate, v.25, n.58, p.98-111, 2001.
33

assumem essa tarefa integralmente e outros parcialmente [...]”


(SANTOS JUNIOR; SILVEIRA, 2009. p. 793).

Para que as ações implantadas de assistência ao indivíduo com


transtorno mental venham realmente a serem efetivadas, faz-se necessário
desconstruir o estigma da loucura existente na sociedade para que o sofredor
psíquico seja visto como um sujeito que necessita de cuidados e possuem
direitos como qualquer cidadão.

No estudo de Sprioli e Costa (2011) os cuidadores atribuem seu trabalho


nas RTs a fatores subjetivos como a formação de vínculo com o morador para
que a assistência a esses indivíduos seja de fato concretizada e respeitando os
pressupostos da Reforma Psiquiátrica, e a necessidade de supervisões
periódicas para lidar com as adversidades deste novo contexto de assistência.
Vale ressaltar que este estudo foi realizado com sujeitos principais e
secundários, sendo os primeiros os cuidadores que atuam diariamente na RT e
os segundos as supervisoras de equipe, encontrando-se opiniões divergentes
em alguns momentos no que diz respeito ao cuidado produzido neste serviço,
como exemplificado abaixo:
“Para a maioria dos cuidadores, seu trabalho com os moradores
exige atributos pessoais, como paciência, capacidade de inspirar
confiança e manifestações de afeto [...]. (SPRIOLI; COSTA, 2011, p.
tela 5) Os significados que se podem apreender, partindo dos
depoimentos dos cuidadores, revelam a compreensão do cuidado
bastante comum entre os principais sujeitos da pesquisa (e que se
afasta das concepções verbalizadas pelas supervisoras). Ao
associarem o cuidado a carinho e paciência, os primeiros revelam o
acionamento de uma lógica ordenadora que é construída, tendo por
base o sentimento para a atribuição de sentido ao objeto de seu
trabalho. Apenas uma supervisora, diferentemente, estabelece, em
entrevista, relação entre cuidado e afeto; todas elas, entretanto, falam
como deveria se reger o trabalho dos cuidadores e a necessidade do
saber técnico raras vezes encontrado entre eles [...]” (SPRIOLI;
COSTA; 2009. p. tela 6).

O estudo de Honorato e Pinheiro (2008) corrobora com a pesquisa de


Sprioli e Costa (2009) em que o trabalho do profissional de saúde mental é
realizado por meio de intervenções junto aos moradores das RTs através da
construção do vínculo terapêutico necessário neste processo do cuidado.
Muitas técnicas pessoais de cada cuidador são enriquecidas e colocadas na
34

experiência do cuidar, o que acontece com profissionais que atuam nas RTs ,
por meio da reabilitação colocada em prática através de ações do cotidiano de
qualquer cidadão (manuseio do dinheiro, relação entre os moradores, hábitos
de autocuidado, entre outros) resgatando a autonomia do individuo
institucionalizado, como descrito:

“[..] O cuidador estimula, induz o morador à comunicação, e a


oportunidade para isto se dá na necessidade de resolver problemas;
questões que a vida nos coloca, desafios e obstáculos que devemos
enfrentar” (HONORATO; PINHEIRO, 2008, p. 373). “A realização da
tarefa requer lentidão e perseverança e a constituição de uma equipe
(rede). A realização das tarefas depende de renormalizações e
negociações. O trabalho é práxis política, que visa a transformação
social e produz subjetividade ao profissional. Na equipe, destaca-se o
papel dos cuidadores como novos intelectuais da Reforma, em ação
social. Em seu trabalho cotidiano com os moradores, eles se
corporificam como multiplicadores sociais da proposta” (HONORATO;
PINHEIRO, 2008, p. 377).

O estudo de Ribeiro Neto e Avellar (2009) permite observar o


despreparo dos cuidadores para o trabalho no SRT, principalmente pelo fato de
que a grande maioria dos profissionais que atuam neste serviço não são
trabalhadores da saúde, são de outros ramos profissionais como: balconista de
loja, salgadeiro, cuidador de criança e faxineira, ou seja, possuem pouca
instrução voltada para a saúde mental e os objetivos da Reforma Psiquiátrica.
Percebe-se um distanciamento entre os cuidadores que atuam diariamente
neste serviço e dos gestores do mesmo, como afirma RIBEIRO NETO;
AVELLAR, 2009:

“Através de dados deste estudo, constata-se a existência de certo


distanciamento entre gestores do SRT e os cuidadores da residência
terapêutica. Parece que há uma lacuna, uma vez que os cuidadores
encontram-se parcialmente isolados de certas questões e têm de lidar
de imediato com uma gama considerável de ocorrências no cotidiano
de trabalho” (p.x).

Um dos pontos citados pelos profissionais pesquisados do estudo de


Silveira e Santos Junior (2011) é a falta de capacitação profissional,
corroborando com a pesquisa de Ribeiro Neto e Avelar (2009) no sentido em
que as capacitações são necessárias para que os cuidadores consigam lidar
com as adversidades que aparecem no serviço. Silveira e Santos Junior (2011)
ressaltam que as capacitações acontecem esporadicamente, mas que os
35

profissionais privilegiados geralmente são os de nível superior, que são os


supervisores de equipe, e que nem sempre os cursos e treinamentos estão
próximos aos cuidadores (profissional de nível médio) que estão presente
diretamente na assistência aos moradores das RTs, “[...] são estes os sujeitos
que estão no manejo, no contato e nos cuidados diários com os moradores”
(SILVEIRA; SANTOS JUNIOR, 2011, p. 2093).

Wachs et al. (2010) trabalharam em seu estudo a proposta de pesquisa-


intervenção por meio do processo de transição de usuários que viveram longos
anos internados de um hospital psiquiátrico para um SRT em Porto Alegre –
RS. Os pesquisadores encontraram resistência em alguns momentos dos
profissionais do hospital frente essa transição, muitas vezes podendo interferir
na decisão do usuário de optar pela mudança para o SRT. Percebe-se que os
cuidadores desta unidade hospitalar se mostraram resistentes ao processo de
desinstitucionalização como observa-se neste trecho:

“[...] Muitos trabalhadores sentiam a proposta de alta daqueles


asilados como se estivessem lhes roubando um morador que,
geralmente, é aquele que retribui carinho, que se comunica bem e
participa intensamente das atividades propostas, além de auxiliar nas
rotinas de banho, almoço, roupas... O desejo muitas vezes manifesto
pelos funcionários é de que o morador, não raro, se sente na
obrigação de responder a este desejo e não contrariar (abandonar)
aquele que sempre cuidou dele baseado numa lógica tutelar. O
convite para mudar-se para o Morada está sujeito a produzir o
mesmo efeito: o morador pode se sentir obrigado a aceita-lo como
forma de recompensar os cuidadores que o estão incentivando à
mudança” (WACHS et al., 2010, p. 902).

Os profissionais atuantes na instituição vivenciam a sensação de perda


dos pacientes que passarão a ser moradores de um novo espaço, assim os
mesmos não acreditam que o indivíduo institucionalizado poderá seguir neste
processo de transição como passar uma noite longe de seus cuidados e que
com o tempo sejam capazes de transitar em outro território que não sejam sob
a tutela hospitalar (WACHS et al., 2010).

Vale ressaltar que os autores desta pesquisa expõem que esse trabalho
se deu início em uma “fase turbulenta com demandas constantes e recursos
escassos” (WACHS et al., 2010, p. 907), mas após acalmados os impasses no
36

cenário político e a “constante interação com a equipe do Morada contribui para


que a mudança de novos usuários não fosse vista apenas como sobrecarga de
trabalho, mas como novas conquistas de serviços” (WACHS et al., 2010,
p.908).

Os profissionais dos SRTs fazem alguns apontamentos em relação às


dificuldades percebidas no trabalho como: estrutura física inadequada,
recursos humanos insufucientes, suporte financeiro inadequado, falta de
capacitação para equipe, falta de apoio das ESFs e dos serviços de saúde
mental como CAPS (que em alguns SRTs não tem o CAPS como equipe de
referência deste tipo de serviço).
Promover o acompanhamento diário dos moradores, seguindo os
pressupostos da Reforma Psiquiátrica de reinserção social, autonomia,
reconstrução do habitar não é um trabalho simples, uma vez que a grande
maioria dos profissionais que trabalham neste serviço vem de uma assistência
hospitalocêntrica, ou ainda de profissionais que não atuam diretamente na
saúde mental. Assim, torna-se necessário reforçar o objetivo desse serviço, a
proposta da desinstitucionalização, capacitações em saúde mental, apoio de
equipes e supervisões que apoiem esses cuidadores na condução das
situações cotidianas da RTs (SILVA; AZEVEDO (a), 2011; SILVA; AZEVEDO
(b), 2011; RIBEIRO NETO; AVELAR, 2009). Este pensamento fica evidente no
parágrafo abaixo:
“A dinâmica de funcionamento do SRT apresenta problemas graves,
como a precariedade da estrutura física e recursos materiais e
humanos insufucientes. São necessárias iniciativas conjuntas, não
somente dos profissionais diretamente inseridos no SRT, mas dos
demais serviços/profissionais de saúde e, especialmente, da atenção
e investimento da gestão municipal de saúde, na tentativa de sanar
as dificuldades constantemente enfrentadas” (SILVA; AZEVEDO (b),
2011, p.608). “Sugere-se a criação de espaços onde possam ser
discutidas com os cuidadores e moradores questões como o cuidado
à saúde, à loucura, entre outras, para que os profissionais dos
serviços residenciais tenham um suporte consideravelmente mais
abrangente para a condução de seu ofício” (RIBEIRO NETO;
AVELAR, 2009, p.x).
37

E a última questão norteadora a ser analisada neste estudo é: Quais os


fatores positivos e negativos no processo da desinstitucionalização
encontrados nos Serviços Residenciais Terapêuticos?

Essa questão é respondida pelos autores: Venturini (2010), Furtado


(2006), Mângia; Rosa (2002), Vidal; Bandeira; Gontijo (2008), Suiyama; Rolim;
Colvero (2007), Amorim; Dimeinstein (2009), Oliveira; Conciani (2008),
Romagnoli et al. (2009), Amorim; Dimeistein (2009); Luiz et al. (2011) e
Mângia; Marques (2004).

A melhora da autonomia foi considerada um fator benéfico no processo


de desospitalização de indivíduos que passaram longos anos
institucionalizados, promovendo a reabilitação psicossocial por meio de
habilidades para viver em comunidade, resultando em melhora da qualidade de
vida (VIDAL; BANDEIRA; GONTIJO, 2008). Mas para que esse processo
ocorra de fato é necessário que a comunidade entenda o que são as RTs e
desmistificar o estigma gerado pela doença mental como afirmam os autores
Vidal; Bandeira; Gontijo, 2008; Venturini, 2010:

“Nas RTs do município de Barbacena, são várias as intervenções de


reabilitação adotadas. Dentro das casas, ocorrem reuniões semanais
dos técnicos com os moradores, aproveitando-se a ocasião e o
espaço para treinamento da fala e da escuta e para a manifestação
individual de desejos, dúvidas, angústias e curiosidades. Nessas
reuniões, os moradores aprendem a negociar e resolver os conflitos e
a elaborar as dificuldades e os medos diante das novas situações
vividas. As tarefas de cada um, dentro da casa, são definidas, e os
assuntos de interesse individual ou coletivo são discutidos (VIDAL;
BANDEIRA; GONTIJO, 2008). [...] Mas as residências terapêuticas
deveriam também produzir saúde para a comunidade, afirmando o
papel dos cidadãos em promover saúde, agregando ênfase nos
recursos das pessoas, mais do que nas insuficiências deles. [...] no
envolvimento da gestão e de apoio diferente da reabilitação
tradicional. Penso, por exemplo, no envolvimento na gestão das
associações dos usuários, de familiares, de voluntários [...]”
(VENTURINI, 2010).

As RTs enquanto mediadoras do processo de reabilitação constituem-se


em um espaço que os usuários resgatam o significado de “viver o cotidiano”
(MÂNGIA;MARQUES, 2004, p. 129) promovendo assim o aumento do poder
contratual que é “precondição para qualquer processo de intercâmbio, de
trocas” (MÂNGIA;MARQUES, 2004, p. 133). E as RTs permitem que os
38

usuários exercitem esse poder contratual, ao serem responsáveis pela sua


própria reabilitação. Saraceno2 (1999, apud MÂNGIA; MARQUES, 2004, p.133)
define reabilitação como “um conjunto de estratégias orientadas a aumentar as
oportunidades de trocas de recursos e de afetos: é somente no interior de tal
dinâmica das trocas que se cria um efeito habilitador”.

A intersetorialidade é citada como método organizado sob dois modelos:


administração passiva e socialização ativa. “no primeiro, as necessidades das
pessoas são tratadas geralmente de maneira rígida e repartida em setores. O
segundo procura ativar a integração das redes sociais com as instituições”
(VENTURINI, 2010, p. 476), como descrito:

“[...] os profissionais de saúde mental, além do próprio papel


(psiquiatra, psicólogo, enfermeiro, operador social) deveriam sempre
ser analisadores da realidade social e valorizadores do recurso
humano. Tendo presente as situações especificas dos doentes
deveriam estimular a coesão social (melhorando as relações
interpessoais entre usuários da residência e os vizinhos), sustentar as
redes informais (tomando protagonistas os grupos de auto-ajuda e os
serviços voluntários), manter as motivações (através da valorização
dos sucessos dos usuários, mas também daqueles pessoas
envolvidas na gestão da residência), apoiar mais a convergência do
que as disputas, legitimar os sujeitos envolvidos (através da
descentralização do poder) Os objetivos deste processo procuram
afirmar o papel central dos cidadãos, reconsiderar os pontos de vista,
redefinir a pergunta de saúde (no sentido de um pedido de bem-estar
coletivo além do bem-estar individual). Em síntese, procurar
simplesmente a democratização da comunidade, sendo a democracia
a melhor proposta de saúde para todos” (VENTURINI, 2010, p. 476).

Oliveira e Conciani (2008) contradizem a afirmação dos autores acima


citados, considerando o processo de autonomia atrelado a gestão municipal,
por meio da Secretaria Municipal de Saúde que promove o auxilio necessário à
RTs. Porém a mudança de gestão no município de Cuiabá- MT provocou
mudanças na equipe que conduz esses cuidados, equipe esta com pouca
proximidade com a saúde mental, resultando em uma “centralização da
condução em torno de questões administrativas” (p. 175).

2
SARACENO, B. Libertando identidades: da reabilitaçãopsicossocial à cidadania
possível. Rio de Janeiro: Instituto Franco Basaglia/ Te Corá, 1999.
39

Mângia e Rosa (2002) apontam a importância da implementação dos


SRTs, a partir de experiências internacionais de desinstitucionalização como,
por exemplo, Inglaterra, Canadá, EUA, Itália, que de um modo geral
apresentam a inserção deste tipo de serviço desde o hospital até a
comunidade. De Luca, Frattura (1996) estudaram a experiência inglesa,
canadense e norte-americana, mostrando os SRTs com características
manicomiais, com risco de ocorrer a transinstitucionalização em que ocorre o
“deslocamento da clientela psiquiátrica [internada] para instituições similares de
outro tipo, tais como delegacias, penitenciárias, asilos de idosos, casas de
enfermagem. [...], o que resultaria em transferência dos pacientes de uma
instituição para outra, sem que fizesse a crítica do paradigma psiquiátrico”
(VASCONCELOS3, 2002 apud OLIVEIRA; CONCIANI, 2007, p. 171-172) ao
invés da desinstitucionalização.
Contrário à experiência italiana que serviu como referencial em que a
implementação dos SRTs junto dos serviços de atenção contínua assumiram a
necessidade de superação dos hospitais psiquiátricos, essas transformações
tiveram de atender às demandas individuais (estruturando a nova identidade
desses indivíduos), familiar (aceitação dessas pessoas que foram longos anos
excluídos do convívio familiar) e social (inclusão dos portadores de transtornos
mentais no território) (MÂNGIA; ROSA, 2002).

Para Mângia e Rosa (2002, p.73): “Essas novas dimensões delineiam o


papel mais complexo e articulado que os serviços residenciais devem assumir
no interior da lógica mais ampla da implementação de serviços territoriais”.
Analisando a situação brasileira até então neste estudo no ano de 2002, tais
autores perceberam a emergência de SRTs no estado de São Paulo, que
inicialmente passaram por experiências com lares abrigados, núcleos de

3
VASCONCELOS, E. M. Dispositivos residenciais em saúde mental, um campo aberto
para os trabalhadores sociais: revisão de estratégias, tipologia e principais desafios políticos,
teóricos e práticos. In: Vasconcelos EM, organizador. Saúde mental e serviço social: o desafio
da subjetividade e da interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez; 2002. p. 97-124.
40

convívio, pensões protegidas, vilas terapêuticas e residências assistidas, que


eram moradias dentro da estrutura hospitalar com aspecto modificado
promovendo melhores condições de moradia/alojamento, em que inicialmente
eram trabalhados a personalização e autonomia. A primeira experiência com
SRT foi no município de Campinas no Hospital Dr. Candido Ferreira em 1990.
E assim outras experiências pioneiras no estado foram ocorrendo como no
HPRP (Hospital Estadual de Ribeirão Preto – Santa Tereza), a “República”
criada em 1995 no bairro Pacaembu em São Paulo entre outras que deram o
primeiro passo na experiência desinstitucionalizante no estado de São Paulo.

Durante o processo histórico relacionados a moradias para portadores


de transtornos mentais, destaca-se a promulgação da Portaria Nº 106/2000
pelo Ministério da Saúde que prevê a garantia da assistência a pacientes
institucionalizados promovendo a reinserção na comunidade, além da
elaboração de um Projeto Terapêutico voltado para as necessidades do
usuários, processo esse que produz a subjetividade, e a apropriação de um
território (SUIYAMA; ROLIM; COLVERO, 2007) como exemplificado abaixo:

“[...] enxergar as ações dos sujeitos e as particularidades dentro da


estrutura de serviço, verificando que em cada RT poderia haver
tantas “casas” quanto moradores que nela habitavam, já que “casa” é
uma construção subjetiva” (SUIYAMA; ROLIM; COLVERO, 2007, p.
108).

Suiyama, Rolim e Colvero (2007) analisaram o SRT como proposta de


resgate a subjetividade dos sujeitos através da “ampliação dos espaços de
troca e participação dos sujeitos” (p.102). Por meio de um processo histórico de
experiências acerca das residências para indivíduos com transtornos mentais
que deu início na década de 1980 foi possível extrair as conquistas e desafios
dessa trajetória. Assim, por um lado percebe-se “a melhora nos cuidados,
consigo e com a casa, nas relações entre os moradores, por outro o hospital
permaneceu como referência da qual era difícil desligar-se” (p.108). No final da
década de 1990 com a publicação da Portaria 106/2000 regulamentando os
SRTs “... estes serviços ganharam uma nomenclatura própria e uma forma
específica de financiamento, deixando claro o papel de estratégia de
desinstitucionalização” (p.109).
41

Em 2003 houve a primeira publicação com os depoimentos dos


moradores que são os alvos principais deste serviço e que até então não havia
textos que protagonizavam esses sujeitos, representando uma nova conquista
para a saúde mental, confirmado por SUIYAMA; ROLIM; COLVERO, 2007, p.
109):

“Com toda a trajetória algumas inquietações vieram a tona: “A


subjetividade dos moradores estaria começando a ser colocada em
destaque em relação às questões estruturais do serviço?... De que
forma os SRTs podem ser espaços de busca de subjetividade perdida
há tantos anos nos longos corredores do hospital psiquiátrico?” Essas
são algumas das inquietações que podem ficar para os protagonistas
dessa história ao olharmos para os Serviços Residenciais
Terapêuticos como estratégia de desinstitucionalização da psiquiatria
no Brasil. É a partir das incertezas e dos questionamentos que
podemos procurar investir em novas possibilidades e potencialidades
latentes o que exige de todos criatividade, ousadia e paixão. O que
nos ocorre é que pensar tais iniciativas passa inicialmente pelo
envolvimento individual que pode vir a ser o esteio de experiências
mais amplas, resultando numa construção coletiva, onde profissionais
mais sensibilizados podem dar início à operacionalização de
propostas que se tornem realidade. No entanto, a vontade política é
fundamental” (SUIYAMA; ROLIM; COLVERO, 2007, p. 109).

O processo de desinstitucionalização articulado com a relação loucura-


cidade permite-nos analisar através da biopolítica os desafios para a saúde
mental por meio dos SRTs. Romagnoli et al (2009) apresenta entre outras a
experiência em Natal - RN sendo que nesta capital há um único SRT
recentemente implantado que guarda algumas peculiaridades como o fato de
não existir uma articulação entre as moradias com um modelo terapêutico de
referência para os técnicos que ali atuam, sendo um desafio pensar em um
projeto terapêutico para este serviço.
Para Romagnoli et al (2009) encontra-se uma clínica de resistência
instalada neste espaço, sendo que os gestores compreendem a importância do
respeito à singularidade de cada morador, reconhecem a necessidade de
ações promotoras de reinserção social, mas por outro lado, questionam a
necessidade de um projeto terapêutico para a residência, uma vez que os
moradores têm a possibilidade de serem tratados no CAPS, tendo assim seus
projetos terapêuticos desenvolvidos neste lugar. Porém a articulação com o
CAPS e outros serviços da rede de atenção básica esbarram em diversos
42

problemas dificultando o acesso dos moradores à estes serviços, como


mostrado abaixo:
“No que diz respeito especificamente à atenção básica, são
observadas várias dificuldades, tais como: problemas com a
marcação de consultas, enfrentadas por qualquer usuário do SUS,
falta de informação, descuido com o paciente, até a falta de
capacitação dos profissionais e a não sensibilização para as
demandas específicas destes usuários. Hoje os moradores recebem
atenção de um posto de saúde próximo em algumas especialidades
médicas, sem entrar na fila de espera, o que foi possível mediante
“acordo” feito com a gerência do distrito sanitário. Assim, o que se
tem é uma atenção especial que se obtém por “concessões
especiais”, e não pelo direito que estes usuários têm de serem
atendidos em suas reais necessidades de saúde, respeitando-se o
princípio da integralidade da atenção. Aqui o desafio é o da
construção de redes efetivas de comunicação e ação entre a atenção
básica e especializada, de modo a atender a estas diversas
demandas em saúde apresentadas por esses moradores. Em relação
à articulação com o CAPS a que esses moradores estão vinculados,
tem-se desde a dificuldade de comunicação entre os técnicos dos
dois serviços, e todos os desdobramentos e problemas que isso
produz, até o questionamento em relação à necessidade de
acompanhamento pelo CAPS e a regularidade das visitas dos
moradores a este serviço para participarem de suas atividades e
receberem medicação, sabendo-se que há uma equipe de saúde
específica para a residência” (ROMAGNOLI et al, 2009, p. 202,203).

Em outro artigo Amorim e Dimeinstein (a) (2009) analisaram os


problemas e desafios deste mesmo SRT em Natal, Rio Grande do Norte,
problematizando “a lógica manicomial” (p. 195) com serviços substitutivos a
essa lógica. A desarticulação com a rede de saúde mental CAPS e SRT
provoca o surgimento de dispositivos biopolíticos no cotidiano em que se opera
esta lógica. Para superar esta política de resistência é proposta uma “clínica
que possibilite encontros potentes com a cidade e a construção de “redes de
trabalho afetiva” produtoras de liberdade” (p.195).

Estes desafios dependem da transformação de diversos níveis para que


a construção de redes de cuidados seja de fato efetivas. Amorim e Dimenstein
(2009 (a), p. 202) propõem algumas iniciativas nos diversos níveis:
“Num nível macropolítico, está a necessidade de políticas públicas
que exijam e possibilitem aos serviços a articulação com a vida “lá
fora”, na construção de redes de conexão e diálogo nos diferentes
espaços onde cada usuário circula e constrói sua vida de modo a
garantir a (des) construção permanente das práticas de cuidado de
acordo com as necessidades específicas de saúde de cada usuário.
Num nível micropolítico, estaria a articulação entre os próprios
43

técnicos, moradores e comunidade mais ampla, na


produção/invenção do cuidado destes moradores. Aqui estaria talvez
a própria condição de se pensar que este tipo de serviço trabalha
para não ser mais necessário ao morador que, como uma pessoa
qualquer na cidade, poderia buscar um “serviço de saúde” quando
necessitasse. E, para isso, devem ir se desenvolvendo redes sociais
de apoio e cuidado, construídas no cotidiano da cidade, com vizinhos,
amigos ex-internos, namorados, técnicos que viraram amigos
acolhedores, comerciantes, motoristas de ônibus, entre outros,
multiplicando o cuidado na vida de todos e cada um”.

Para Romagnoli et al (2009, p.205):


“Esse contexto de articulação entre a micropolítica e a macropolítica
ancora a clínica em duas tarefas fundamentais para uma ação
produtiva e transformadora da realidade: a identificação do que se
repete, do que se instala como microfascismo no território clínico; e a
ativação da potência de inventar novas maneiras de viver e de
pensar”.

Amorim e Dimenstein (b) (2009) em outra publicação argumentam sob


as formas de resistência aos manicômios por meio de “lutas em rede” (p.319).
Segundo Merhy4 (2003 apud Amorim e Dimenstein, 2009 (b), p.332) esta
expressão refere-se as “redes tecidas numa costura macro e micropolítica, no
campo da saúde – nas articulações entre gestão-serviço-comunidade...”. E
para os moradores essas redes são construídas na vida social em comunidade
possibilitando assim encontros entre loucura e cidade, nos quais são
produzidas as cenas urbanas da vida desses indivíduos diariamente (AMORIM;
DIMEINSTEIN, 2009 (b)).

Furtado (2006) avaliou a situação dos SRTs no Brasil, atendidos pelo


SUS, e levantou cinco categorias de problemas que afetam a expansão das
RTs no país, sendo estas: “Gestão e Financiamento”, “Legislação e Normas”,
“Trabalhadores e Assistência Ofertada”, “Clientela”, “Respostas de Outros
Setores e Comunidade”. Até o ano de 2006, observou-se que o número de
SRTs é incompatível com a lógica do processo de desinstitucionalização
esperado, mostrando uma equivalência inversamente proporcional com a
proposta prevista pela Portaria 106/2000.

4
MERHY, E.E. A loucura e a cidade: outros mapas. Niterói, UFF, 2003
44

Analisando os números atuais de RTs em 2011 comparados aos dados


de 2006, percebe-se uma acentuada expansão, contudo com uma área de
abrangência aquém do preconizado (30% de leitos ocupados
permanentemente em hospitais psiquiátricos seriam para beneficiários de um
SRT). Atualmente (2011) são 32284 leitos psiquiátricos para 3470 moradores
que migraram para um SRT, como informado pelo Ministério da Saúde, 2012.

Estas afirmativas são confirmadas no trecho abaixo:

“Análise dos problemas que afetam diretamente a expansão dos


SRTs no Brasil: Categorias e Principais entraves: “Gestão e
Financiamento: baixo envolvimento do gestor local do SUS; redes
municipais de saúde mental incipientes ou inexistentes;
incompatibilidade entre gestão de outros serviços do SUS e a das
residências terapêuticas; garantia de acesso e utilização de recursos
já existentes (realocação de AIHs, autorização orçamentária);
“Legislação e Normas”: Lei de Responsabilidade Fiscal impede
contratação de recursos humanos para a saúde mental;
“Trabalhadores e Assistência Ofertada”: baixo envolvimento dos
técnicos no processo; ameaça de desemprego vivida pelos
trabalhadores dos hospitais dificulta a aceitação dos SRTs;
“Clientela”: pacientes apresentam receio de deixar os hospitais;
“Respostas de Outros Setores e da Comunidade: eventualmente,
locatários se recusam a alugar seus imóveis para egresssos de
internações psiquiátricas; refratariedade de alguns vizinhos aos
SRTs; falta de campanha nacional sobre as mudanças na área de
saúde mental;” (FURTADO, 2006, p. 794).

Contudo, percebe-se que os SRTs ainda esbarram em muitos problemas


e dificuldades para sua implementação e que as experiências em curso
encontram muitos questionamentos em relação à proposta
desinstitucionalizante da Reforma Psiquiátrica. Porém, há de salientar que os
benefícios promovidos aos indivíduos que fazem essa transição do
enclausuramento do hospital psiquiátrico para a liberdade nas RTs são fatores
que demonstram o êxito desta iniciativa que mesmo com todos os entraves,
proporcionou a mudança necessária no tratamento dos portadores de
transtorno mental.
45

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A iniciativa da implantação de SRTs como nova proposta de moradia


para indivíduos que passaram longos anos internados promoveu mudanças
significativas na área de saúde mental. A proposta de desinstitucionalização
para os portadores de transtornos mentais permitiu que os mesmos tivessem a
oportunidade de vivenciar a vida em comunidade com o resgate da autonomia
que lhes foram tiradas nestes longos anos de enclausuramento nas instituições
manicomiais.

Este estudo analisou por meio da revisão bibliográfica a experiência dos


moradores dos SRTs, o trabalho dos profissionais e sua visão sobre este
serviço, e os fatores positivos e negativos no processo de implementação dos
SRTs.

A experiência dos moradores neste novo contexto de vida proporcionou-


lhes inúmeras conquistas como: resgate da autonomia e da cidadania,
construção das relações entre si e com a comunidade, oportunidade de circular
pela cidade, reaprendizado de atividades de auto cuidado, asseio com a casa,
além de atividades de lazer que são realizadas junto aos cuidadores, e
principalmente o resgate do “habitar”, de adentrar em um território, de assumir
a responsabilidade por si próprio. Ou seja, conquistar o direito de viver, de
gozar da liberdade a que qualquer indivíduo tem direito, de reconstruir uma
nova possibilidade de vida.

Os profissionais que atuam nos SRTs são os responsáveis por suscitar o


cuidado a estes indivíduos que necessitam reaprender as atividades cotidianas,
desde cuidar da higiene pessoal até administrar o próprio dinheiro. Esta
trajetória constitui-se em uma tarefa árdua, mas ao mesmo tempo prazerosa
para estes profissionais. Os cuidadores percebem a importância deste novo
contexto para a saúde mental, valorizando as RTs como dispositivos
promotores da reinserção social e vivenciam junto dos moradores os benefícios
desta mudança. Mas para que o cuidado seja efetivado e promova a
46

desinstitucionalização, atendendo aos objetivos da Reforma Psiquiátrica, estes


cuidadores necessitam de suporte e capacitações para atender as demandas
dos moradores.

A implantação de SRTs passa por um processo de mudanças


paradigmáticas que envolvem desde a promoção da reabilitação psicossocial
dos moradores até o processo de gestão que envolve financiamento e
legislação. Os benefícios adquiridos com as intervenções reabilitadoras
resultam em melhora da qualidade de vida dos moradores, com o poder de
decisão e a apropriação do território. Por outro lado há ainda desafios há serem
superados, como o processo de gestão que operam sob a lógica de atividades
administrativas centralizadoras em que o cuidado é controlado rigorosamente,
perdendo assim o intuito de resgate da autonomia, como acontece em algumas
gestões municipais do país. A falta de articulação dos SRTs com CAPS e rede
de atenção básica também foi fator de destaque entre os problemas
encontrados na administração deste serviço.

Enfim, há inúmeros desafios que ainda precisam ser vencidos, mas as


conquistas já alcançadas demonstram que a desinstitucionalização é o
caminho para a promoção das mudanças necessárias e as RTs é um dos
dispositivos que podem promover novas estratégias de cuidado para a saúde
mental.
47

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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