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a eclosão da crise das dívidas soberanas. expansionista de gastos da Alemanha.

O raciocínio é simples. Um ajuste fiscal é


tão mais bem sucedido quanto maior for
o crescimento da economia, pois a base
de incidência das receitas orçamentárias
A crise da Zona do Euro chama atenção,
também, para outro aspecto interessante. A
resposta das economias periféricas da Euro-
pa à crise asiática de 1997 constituiu-se em
Visão
do Desenvolvimento
torna-se mais elevada. Já em ambientes uma maior aproximação e, posteriormente,
recessivos ou de crescimento anêmico, a entrada na união monetária. A estratégia nº 82 „ 7 jun 2010
apertos fiscais contribuem ainda mais para era reduzir o risco da ocorrência de crises de
queda da atividade econômica, reduzin- confiança ancorando suas economias na es-
do as receitas tributárias e requerendo, pos-
teriormente, maiores contrações fiscais. En-
tabilidade e credibilidade do “deutsche
mark”. Como contrapartida, abdicou-se da
Os desdobramentos da crise
tra-se, portanto, em um círculo vicioso. utilização autônoma de instrumentos inter-
Nesse sentido, para melhorar os compo-
nentes cíclicos e estruturais dos déficits fis-
nos de políticas monetária e cambial. Se, ini-
cialmente, esse não era um preço alto a se
internacional na Zona do Euro
cais é necessário, paralelamente, elevar a pagar, a crise dos PIIGS em geral, e da Grécia
taxa de crescimento das economias. Por- em particular, mostra o quão importante Por Gilberto Borça Jr. um primeiro momento, ainda em meados
tanto, o ajuste nos PIIGS requer um vetor seria, nesse momento, a utilização da políti- Economista da APE de 2007, o estouro da bolha imobiliária
de demanda agregada que viabilize a ex- ca cambial como mecanismo restaurador da nos EUA acarretou uma acentuada que-
pansão do nível competitividade da nos preços dos ativos ao redor do mun-
de atividade em
Ajuste nos PIIGS poderá ser externa. Revés da O pânico gerado do (imóveis, ações e commodities). Em um
um contexto de suavizado por uma política Em compen- economia pelo agravamento da segundo momento, com o problema atin-
aperto fiscal. Para expansionista da Alemanha sação, outras grega explicita crise financeira inter- gindo os bancos norte-americanos e eu-
isso, a recupera- economias problemas de nacional, em 2008, ropeus, houve uma contração da liquidez
outros países
ção da competitividade externa torna-se emergentes – como, por exemplo, China, ficou para trás. Suas em escala global, impactando sobrema-
da região
fundamental. Índia e Brasil – adotaram, cedo ou tarde, consequências, no neira o nível da atividade mundial. Visan-
Em um arranjo monetário de uma moe- uma estratégia diferente de resposta à entanto, ainda se fazem presentes. O epi- do mitigar esses efeitos, os governos, in-
da única, entretanto, não há a possibilida- crise asiática de 1997. Ao invés de res- sódio mais recente, que vem ganhando des- tervieram maciçamente, realizando não
de de utilização de desvalorizações cam- tringirem a utilização dos instrumentos de taque na imprensa econômica especializa- apenas operações de salvamento de ban-
biais nominais como mecanismo restaura- política econômica, esses países optaram da, é o da Grécia. A combinação de uma cos e empresas, mas também políticas fis-
dor de competitividade externa. A alter- por realizar uma política agressiva de dívida pública elevada (superior a 113% do cais e monetárias anticíclicas. A atuação
nativa de curto prazo é a implementação acúmulo de reservas internacionais. Com PIB) com vencimentos concentrados no cur- das autoridades cumpriu seu objetivo, im-
de um ajustamento interno através de isso não apenas blindaram suas respecti- to prazo, e um déficit fiscal de 13,6% em pedindo uma contração ainda mais pro-
medidas restritivas que sejam capazes de vas economias de crises semelhantes às 2009, levou o País a uma situação vulnerá- nunciada das economias.
reduzir os custos domésticos. Esse proces- ocorridas nos anos de 1990, mas tam- vel perante os mercados. O caso da Grécia
so será tão menos custoso quanto maior bém elevaram o grau de autonomia de é emblemático, pois explicita as dificulda-
Visão do Desenvolvimento é uma publica-
for o compartilhamento do ônus do ajus- suas políticas econômicas domésticas. des também enfrentadas por outras eco- ção da área de Pesquisas Econômicas (APE),
tamento pelos países superavitários (leia- Quando a crise financeira internacional se nomias da Zona do Euro. do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-
se Alemanha). Em outras palavras, o ajus- agravou em 2008, a capacidade de res- Para se entender os atuais desdobramen- nômico e Social. As opiniões deste informe
são de responsabilidade dos autores e não
te nos PIIGS pode ser mais suave no que posta desses países foi muito mais efeti- tos da crise financeira internacional é im- refletem necessariamente o pensamento da
tange a seus impactos no nível de ativida- va do que a da periferia europeia. portante ter presente que sua evolução administração do BNDES.
de se for auxiliado por uma política foi marcada por três fases distintas. Em
Contudo, o final de 2009 reservou surpre- cação de risco. A Grécia, inclusive, perdeu Gráfico 5: Spread Médio das Operações com CDS de 5 anos dos PIIGS
sas importantes, trazendo a tona o terceiro sua condição de investment grade. (spread sobre os T-Bonds Norte-Americanos de 5 anos)
momento da crise financeira internacional, O objetivo desse número do Visão do De-
900
os chamados riscos quase-soberanos. Em senvolvimento é fornecer um panorama ge-
meados de novembro, surgiram dúvidas ral do atual estágio da crise internacional, 800
quanto à solvência da Dubai World – princi- analisando os fatores que tornaram os PIIGS Grécia
pal empresa de Dubai, um dos sete Estados vulneráveis dentro do arranjo monetário da 700

que compõe os Emirados Árabes Unidos. Zona do Euro. Destaca-se, em particular o 600
Foi necessário o auxílio financeiro de outro problema da Grécia. Embora as preocupa-
emirado, o de Abu Dhabi, mediante um ções venham se direcionando para a situa- 500

empréstimo de US$ 10 bilhões, para devol- ção fiscal debilitada dessas economias, a 400
ver o clima de tranqüilidade aos mercados. restauração da competitividade externa é Portugal
Em seqüência, o primeiro semestre de também um fator igualmente importante. 300
Irlanda
2010 trouxe à tona, como “bola da vez”, o 200 Espanha
risco soberano dos países excessivamente Endividamento público e Itália
endividados e com elevados déficits fiscais déficits fiscais 100

pertencentes à Zona do Euro, os chama- 0


dos PIIGS – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia O Gráfico 1 mostra o problema central dos

1/10/09

11/10/09
16/10/09
21/10/09
26/10/09
31/10/09
5/11/09
10/11/09
15/11/09
20/11/09
25/11/09
30/11/09
5/12/09
10/12/09

20/12/09
25/12/09
30/12/09

19/1/10
24/1/10

10/3/10

20/3/10
25/3/10
6/10/09

15/12/09

9/1/10
14/1/10

29/1/10
3/2/10

13/2/10
18/2/10
23/2/10
28/2/10
5/3/10

15/3/10

30/3/10
4/4/10

14/4/10
19/4/10
24/4/10
29/4/10
4/1/10

8/2/10

9/4/10
e Espanha. O excessivo volume de países mais vulneráveis da Zona do Euro, isto
endividamento público, aliado às perspec- é, a evolução dos níveis de endividamento Grecia Irlanda Itália Portugal Espanha
tivas de baixo crescimento econômico, le- público e dos déficits fiscais dos PIIGS. De Fonte: Bloomberg. Elaboração APE/BNDES
vou ao rebaixamento, ao fim de abril de acordo com as projeções da OCDE, a ex-
2010, dos ratings de Espanha, Portugal e pansão dos gastos públicos para combater
Grécia pelas principais agências de classifi- os efeitos da crise internacional em 2008 manha) à dívida grega. Um default da ros desse tipo é um fator a contribuir para
Grécia, ao abalar o coração financeiro da a credibilidade das medidas anunciadas.
Zona do Euro, certamente teria efeitos
Gráfico 1: Dívida Pública e Déficit Fiscal dos PIIGS negativos na já incipiente econômica da Conclusões
(como % do PIB) região, agravando a possibilidade da ocor-
rência de um “double-dip”. Obviamente A grande questão que permeia não ape-
não se deve perder de vista a possibilida- nas o problema da Grécia, mas em maior
de de agravamento de moral harzard em ou menor grau também os demais PIIGS,
uma conduta de salvamento desse tipo, a são os amplos déficits fiscais e o
qual poderia aumentar os problemas de endividamento público crescente. Essa
contágio da crise grega na direção de ou- combinação tem elevado de maneira con-
tros PIIGS. Nesse sentido, o auxílio con- siderável os custos de refinanciamento de
junto do FMI atua não apenas como me- suas dívidas, refletido na elevação dos
canismo mitigador do problema de moral spreads de CDS. A solução, no entanto,
harzard, mas também como órgão vai além da implementação de medidas
fiscalizador do cumprimento das medidas de combate ao déficit público. O sanea-
Fonte: Eurostat. Projeções da OCDE. Elaboração APE/BNDES. de ajuste fiscal anunciadas. Certamente, mento das contas públicas é condição
(p) = projeções
a experiência do FMI em auxílios financei- necessária, mas não suficiente para evitar
2 7
apenas 2,6% do PIB da região. Somente 9 dívida pública total estimada em cer- Gráfico 2: Participação e Custo Integral de Resgate das Dívidas do PIIGS em 2009
a partir de 2001, dois anos após a criação ca de US$ 535 bilhões, com mais de 25% (em % do PIB da Zona do Euro)
escritural da moeda única, foi permitida concentrada nos anos de 2010, 2011 e 2012.
sua entrada na união monetária. Porém, A resposta dos mercados a essa
Participação dos PIIGS na Zona do Euro em 2009 Custo do Resgate Total das Dívidas Públicas dos PIIGS em 2009
mesmo com a adesão ao Euro, o país con- vulnerabilidade de economia grega tem (em %) (como % do PIB da Zona do Euro)
25
tinuou a apresentar sérios problemas de sido dada pela diferenciação de seus
19,4
transparência e credibilidade em suas con- spreads de CDS (credit default swap) fren- 65,2% 1,7% 20

tas públicas. Há, inclusive, suspeitas de que te aos demais PIIGS (Gráfico 5). Desde o Portugal
Irlanda
1,9% 15

houve manipulação de seus indicadores final de 2009, a percepção de risco de Itália


Grécia 10
fiscais para o cumprimento dos Critérios mercado com relação à economia grega Espanha
16,8% 6,3
de Maastricht, que tinham por objetivo es- vem se elevando de maneira considerável Outros 5
1,3 1,2
3,0

tabelecer uma convergência das políticas frente à dos demais países. 0


2,6%
fiscais dos países da Zona do Euro, permi- Tendo esses números em perspectivas, o 11,8%
Portugal Irlanda Itália Grécia Espanha

tindo, no máximo, déficits públicos de plano de resgate elaborado para a Grécia


Fonte: Eurostat. Elaboração APE/BNDES.
3,0% do PIB, e uma relação dívida públi- foi realizado mediante uma ação conjunta
ca/PIB de 60%. dos países da Zona do Euro e do FMI. Inici-
A crise internacional teve impactos relati- almente o valor seria de €45 bilhões. Po- gerará, ao longo dos próximos anos, forte relativamente baixo, a ausência de um pla-
vamente mais su- rém, devido à crescimento da relação dívida pública/PIB no de salvamento poderia ser particular-
aves na perfor- Grécia deve encolher 2% em elevação das ta- desses países. Nem mesmo os planos de mente desastrosa. Tendo em perspectiva
mance da econo- 2010, enquanto o restante xas de rolagem ajuste fiscal anunciados por seus governos o caso da Grécia – que é o mais delicado
mia grega em da região pode crescer 1% exigidas pelos têm sido suficientes para reverter às pers- dentre esses países –, Roubini & Das (2010)1
2009 vis-à-vis à mercados no pectivas das trajetórias de crescimento do destacam que as economias europeias es-
região da Zona do Euro – queda de 2,0% refinancia-mento da dívida grega, e à pos- endividamento público. tão “too-interconnected-to-fail”, ou seja,
contra retração de 4,1%. Entretanto, as sibilidade de contágio aos demais PIIGS, A despeito desse quadro fiscal frágil, o estão muito interligadas através do siste-
perspectivas de recuperação para 2010 não esse montante foi elevado para €110 bi- Gráfico 2 mostra, simultaneamente, a par- ma financeiro europeu. A possibilidade de
são favoráveis. De acordo com as proje- lhões. Desse valor, que será desembolsado ticipação do PIB dos PIIGS na Zona do Euro contágio na ausência de um pacote de res-
ções da FMI, a Grécia apresentará retração ao longo dos próximos três anos, €80 bi- em 2009, e o custo de um possível resga- gate para a Grécia, com severos abalos para
de 2,0% em 2010, frente um crescimento lhões seriam provenientes dos países da te integral de suas dívidas como propor- a recuperação da atividade econômica na
de 1,0% da região como um todo2. Zona do Euro, e €30 bilhões do FMI. Como ção do PIB da região. Nota-se que o cus- região, seria eminente.
A gravidade da situação da Grécia pode contrapartida, o país terá de implementar to total da dívida dos países varia sensi- Nesse sentido, o último relatório do BIS
ser particularmente evidenciada frente a um intenso ajuste fiscal, o qual, dentre ou- velmente. Enquanto Itália e Espanha, em (Bank for International Settlements) sobre
alguns indicadores: tros objetivos, contemplará cortes de gas- conjunto, representariam um ônus de mais as estatísticas dos principais sistemas ban-
9 segundo maior déficit fiscal da Zona tos orçamentários no valor nominal de €30 de 25% do PIB da Zona do Euro, Portu- cários do mundo, sintetizado no Gráfico 3,
do Euro em 2009 (13,6% do PIB) bilhões, reduzindo seu déficit fiscal para um gal, Irlanda e Grécia, apresentam núme- mostra a exposição dos bancos europeus
9 déficit em transações correntes de valor inferior a 3,0% do PIB em 2014. ros bem mais modestos – respectivamen- por país relativamente à dívida dos PIIGS.
9,6 % do PIB em 2009 A opção por esse formato de ajuda fi- te 1,3%, 1,2% e 3,0%. Ao fim de 2009, o montante total do
nanceira se deve a motivações bem especí- Apesar de o custo de resgate das dívidas endividamento atingia o valor nominal de
ficas. Há interesse na manutenção do apa- públicas de Portugal, Irlanda e Grécia ser US$ 3,2 trilhões, dos quais França e Alema-
rato institucional da moeda única devido à nha, em conjunto, respondiam por 50%.
2 As projeções divulgadas em maio pela Comissão Europeia,
indicam que a retração na Grécia será ainda mais intensa, exposição dos sistemas bancários das prin- 1 Roubini & Das (2010). “Will Europe`s PIIGS Learn to Fly?”.
No caso específico da Grécia, bancos fran-
atingindo 3,0%. cipais economias da região (França e Ale- www.roubini.com ceses e alemães carregavam cerca de 57%
6 3
nha ao longo da década de 2000. Essa pos- Na Zona do Euro, a utilização da moeda
tura alemã representa uma reversão às políti- única impede que o mecanismo clássico
cas expansionistas realizadas na década de de recuperação da competitividade exter-
1990, que contemplavam os custos da na via depreciação cambial nominal acon-
reunificação e da absorção de massa de tra- teça. Com isso, esses países possuem duas
balhadores oriundos do antigo lado Oriental. alternativas. A primeira é implementar um
Esses países, portanto, necessitam atuar rigoroso processo de ajustamento e refor-
em duas frentes para a resolução de seus mas estruturais na economia, de modo a
problemas de dívida soberana. Se, por um reduzir os níveis de preços e salários do-
lado, torna-se fundamental a realização de mésticos. Essa opção, no curto prazo, pro-
políticas fiscais contracionistas que reduzam vocará resultados recessivos, elevando as
de maneira drástica os níveis de déficits pú- tensões sociais e as pressões políticas. A
blicos, por outro, há necessidade de recu- segunda opção, que não exclui a primeira,
peração da competitividade externa. Um é uma expansão da demanda externa
ajuste fiscal estrutural cíclico somente será viabilizada por políticas expansionistas dos
dos papéis da dívida pública grega. ciais, em um contexto de rigidez da taxa bem sucedido se vier acompanhado de al- países europeus superavitários, como a Ale-
No entanto, os problemas dessas eco- nominal de câmbio (EURO) leva, invariavel- gum vetor de demanda agregada que manha. Quanto mais compartilhado for esse
nomias vão além da atual situação fiscal mente, a uma apreciação real de suas ta- viabilize a retomada do nível de atividade. processo de ajustamento, menor será o
debilitada e da necessidade de redução xas de câmbio. Além disso, esses países Ajustes fiscais em ambientes recessivos ou ônus em termos de nível de atividade e
dos déficits orçamentários. A entrada dos tiveram perdas de market-share de seus de crescimento anêmico tornam-se contra- emprego para os PIIGS.
PIIGS na Zona do Euro teve como conse- mercados exportadores devido à concor- producentes, pois impactam de forma ne-
quência imediata a melhora das condições rência de países cujo custo unitário do tra- gativa o crescimento econômico e a arreca- “A Tragédia Grega”
de captação dos governos junto aos mer- balho é mais baixo (China e Turquia, por dação tributária. Exigem-se, posteriormen-
cados. Seus custos convergiram na direção exemplo). O resultado foi o aumento dos te, cortes orçamentários ainda maiores, que A Grécia é um país relativamente peque-
dos títulos emitidos pela Alemanha. Além déficits em transações correntes e maior novamente impactam o nível de atividade. no da Zona do Euro. Em 2009, representou
disso, a adoção de uma moeda única, an- necessidade de financiamento externo. O
corada na estabilidade e credibilidade do Gráfico 4 mostra, entre 2000 e 2008, tanto
“deutsche mark”, proporcionou aumento a perda de competitividade dos PIIGS em Gráfico 4: Taxa de Câmbio Real Efetiva (2000 = 100) e Saldo em Transações
de poder de compra dos agentes econô- relação à Alemanha, como a evolução de Correntes/PIB dos PIIGS e da Alemanha
micos. Houve, portanto, uma combinação seus respectivos déficits em transações cor- Taxa de Câmbio Real Efetiva (*) Saldo em Transações Correntes/PIB
de redução do custo de emissões da dívi- rentes. Essa situação caracteriza-se como 150 10

140,2
da pública e elevação do poder de compra uma espécie de “European Imbalance”, 140 5

das famílias, sendo responsável por fomen- semelhante à que ocorre atualmente na 130 122,9 0

tar o crescimento da demanda doméstica. economia mundial entre China e EUA – 120
119,5 -5
Esse processo gerou perda de “Global Imbalance”. 117,0
113,8
110 -10
competitividade externa dessas economi- Essa perda de competitividade externa 100,0
as frente à Alemanha. As majorações de dos PIIGS é fruto não apenas do crescimen- 100
98,2
-15

preços e salários nos PIIGS aconteceram em to de preços e salários em ritmo superior 90


2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
-20
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
níveis superiores aos ganhos de produtivi- aos ganhos de produtividade, mas também Portugal Irlanda Itália Grécia Espanha Alemanha Alemanha Grécia Irlanda Itália Portugal Espanha

dade. Uma elevação mais rápida dos cus- da adoção de políticas deliberadas de con-
Fonte: Eurostat e OCDE. Elaboração APE/BNDES.
tos domésticos perante os parceiros comer- tenção dos custos domésticos na Alema- (*) custo nominal unitário do trabalho deflacionado pelo de 36 parceiros comerciais
4 5
nha ao longo da década de 2000. Essa pos- Na Zona do Euro, a utilização da moeda
tura alemã representa uma reversão às políti- única impede que o mecanismo clássico
cas expansionistas realizadas na década de de recuperação da competitividade exter-
1990, que contemplavam os custos da na via depreciação cambial nominal acon-
reunificação e da absorção de massa de tra- teça. Com isso, esses países possuem duas
balhadores oriundos do antigo lado Oriental. alternativas. A primeira é implementar um
Esses países, portanto, necessitam atuar rigoroso processo de ajustamento e refor-
em duas frentes para a resolução de seus mas estruturais na economia, de modo a
problemas de dívida soberana. Se, por um reduzir os níveis de preços e salários do-
lado, torna-se fundamental a realização de mésticos. Essa opção, no curto prazo, pro-
políticas fiscais contracionistas que reduzam vocará resultados recessivos, elevando as
de maneira drástica os níveis de déficits pú- tensões sociais e as pressões políticas. A
blicos, por outro, há necessidade de recu- segunda opção, que não exclui a primeira,
peração da competitividade externa. Um é uma expansão da demanda externa
ajuste fiscal estrutural cíclico somente será viabilizada por políticas expansionistas dos
dos papéis da dívida pública grega. ciais, em um contexto de rigidez da taxa bem sucedido se vier acompanhado de al- países europeus superavitários, como a Ale-
No entanto, os problemas dessas eco- nominal de câmbio (EURO) leva, invariavel- gum vetor de demanda agregada que manha. Quanto mais compartilhado for esse
nomias vão além da atual situação fiscal mente, a uma apreciação real de suas ta- viabilize a retomada do nível de atividade. processo de ajustamento, menor será o
debilitada e da necessidade de redução xas de câmbio. Além disso, esses países Ajustes fiscais em ambientes recessivos ou ônus em termos de nível de atividade e
dos déficits orçamentários. A entrada dos tiveram perdas de market-share de seus de crescimento anêmico tornam-se contra- emprego para os PIIGS.
PIIGS na Zona do Euro teve como conse- mercados exportadores devido à concor- producentes, pois impactam de forma ne-
quência imediata a melhora das condições rência de países cujo custo unitário do tra- gativa o crescimento econômico e a arreca- “A Tragédia Grega”
de captação dos governos junto aos mer- balho é mais baixo (China e Turquia, por dação tributária. Exigem-se, posteriormen-
cados. Seus custos convergiram na direção exemplo). O resultado foi o aumento dos te, cortes orçamentários ainda maiores, que A Grécia é um país relativamente peque-
dos títulos emitidos pela Alemanha. Além déficits em transações correntes e maior novamente impactam o nível de atividade. no da Zona do Euro. Em 2009, representou
disso, a adoção de uma moeda única, an- necessidade de financiamento externo. O
corada na estabilidade e credibilidade do Gráfico 4 mostra, entre 2000 e 2008, tanto
“deutsche mark”, proporcionou aumento a perda de competitividade dos PIIGS em Gráfico 4: Taxa de Câmbio Real Efetiva (2000 = 100) e Saldo em Transações
de poder de compra dos agentes econô- relação à Alemanha, como a evolução de Correntes/PIB dos PIIGS e da Alemanha
micos. Houve, portanto, uma combinação seus respectivos déficits em transações cor- Taxa de Câmbio Real Efetiva (*) Saldo em Transações Correntes/PIB
de redução do custo de emissões da dívi- rentes. Essa situação caracteriza-se como 150 10

140,2
da pública e elevação do poder de compra uma espécie de “European Imbalance”, 140 5

das famílias, sendo responsável por fomen- semelhante à que ocorre atualmente na 130 122,9 0

tar o crescimento da demanda doméstica. economia mundial entre China e EUA – 120
119,5 -5
Esse processo gerou perda de “Global Imbalance”. 117,0
113,8
110 -10
competitividade externa dessas economi- Essa perda de competitividade externa 100,0
as frente à Alemanha. As majorações de dos PIIGS é fruto não apenas do crescimen- 100
98,2
-15

preços e salários nos PIIGS aconteceram em to de preços e salários em ritmo superior 90


2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
níveis superiores aos ganhos de produtivi- aos ganhos de produtividade, mas também Portugal Irlanda Itália Grécia Espanha Alemanha Alemanha Grécia Irlanda Itália Portugal Espanha

dade. Uma elevação mais rápida dos cus- da adoção de políticas deliberadas de con-
Fonte: Eurostat e OCDE. Elaboração APE/BNDES.
tos domésticos perante os parceiros comer- tenção dos custos domésticos na Alema- (*) custo nominal unitário do trabalho deflacionado pelo de 36 parceiros comerciais
4 5
apenas 2,6% do PIB da região. Somente 9 dívida pública total estimada em cer- Gráfico 2: Participação e Custo Integral de Resgate das Dívidas do PIIGS em 2009
a partir de 2001, dois anos após a criação ca de US$ 535 bilhões, com mais de 25% (em % do PIB da Zona do Euro)
escritural da moeda única, foi permitida concentrada nos anos de 2010, 2011 e 2012.
sua entrada na união monetária. Porém, A resposta dos mercados a essa
Participação dos PIIGS na Zona do Euro em 2009 Custo do Resgate Total das Dívidas Públicas dos PIIGS em 2009
mesmo com a adesão ao Euro, o país con- vulnerabilidade de economia grega tem (em %) (como % do PIB da Zona do Euro)
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tinuou a apresentar sérios problemas de sido dada pela diferenciação de seus
19,4
transparência e credibilidade em suas con- spreads de CDS (credit default swap) fren- 65,2% 1,7% 20

tas públicas. Há, inclusive, suspeitas de que te aos demais PIIGS (Gráfico 5). Desde o Portugal
Irlanda
1,9% 15

houve manipulação de seus indicadores final de 2009, a percepção de risco de Itália


Grécia 10
fiscais para o cumprimento dos Critérios mercado com relação à economia grega Espanha
16,8% 6,3
de Maastricht, que tinham por objetivo es- vem se elevando de maneira considerável Outros 5
1,3 1,2
3,0

tabelecer uma convergência das políticas frente à dos demais países. 0


2,6%
fiscais dos países da Zona do Euro, permi- Tendo esses números em perspectivas, o 11,8%
Portugal Irlanda Itália Grécia Espanha

tindo, no máximo, déficits públicos de plano de resgate elaborado para a Grécia


Fonte: Eurostat. Elaboração APE/BNDES.
3,0% do PIB, e uma relação dívida públi- foi realizado mediante uma ação conjunta
ca/PIB de 60%. dos países da Zona do Euro e do FMI. Inici-
A crise internacional teve impactos relati- almente o valor seria de €45 bilhões. Po- gerará, ao longo dos próximos anos, forte relativamente baixo, a ausência de um pla-
vamente mais su- rém, devido à crescimento da relação dívida pública/PIB no de salvamento poderia ser particular-
aves na perfor- Grécia deve encolher 2% em elevação das ta- desses países. Nem mesmo os planos de mente desastrosa. Tendo em perspectiva
mance da econo- 2010, enquanto o restante xas de rolagem ajuste fiscal anunciados por seus governos o caso da Grécia – que é o mais delicado
mia grega em da região pode crescer 1% exigidas pelos têm sido suficientes para reverter às pers- dentre esses países –, Roubini & Das (2010)1
2009 vis-à-vis à mercados no pectivas das trajetórias de crescimento do destacam que as economias europeias es-
região da Zona do Euro – queda de 2,0% refinancia-mento da dívida grega, e à pos- endividamento público. tão “too-interconnected-to-fail”, ou seja,
contra retração de 4,1%. Entretanto, as sibilidade de contágio aos demais PIIGS, A despeito desse quadro fiscal frágil, o estão muito interligadas através do siste-
perspectivas de recuperação para 2010 não esse montante foi elevado para €110 bi- Gráfico 2 mostra, simultaneamente, a par- ma financeiro europeu. A possibilidade de
são favoráveis. De acordo com as proje- lhões. Desse valor, que será desembolsado ticipação do PIB dos PIIGS na Zona do Euro contágio na ausência de um pacote de res-
ções da FMI, a Grécia apresentará retração ao longo dos próximos três anos, €80 bi- em 2009, e o custo de um possível resga- gate para a Grécia, com severos abalos para
de 2,0% em 2010, frente um crescimento lhões seriam provenientes dos países da te integral de suas dívidas como propor- a recuperação da atividade econômica na
de 1,0% da região como um todo2. Zona do Euro, e €30 bilhões do FMI. Como ção do PIB da região. Nota-se que o cus- região, seria eminente.
A gravidade da situação da Grécia pode contrapartida, o país terá de implementar to total da dívida dos países varia sensi- Nesse sentido, o último relatório do BIS
ser particularmente evidenciada frente a um intenso ajuste fiscal, o qual, dentre ou- velmente. Enquanto Itália e Espanha, em (Bank for International Settlements) sobre
alguns indicadores: tros objetivos, contemplará cortes de gas- conjunto, representariam um ônus de mais as estatísticas dos principais sistemas ban-
9 segundo maior déficit fiscal da Zona tos orçamentários no valor nominal de €30 de 25% do PIB da Zona do Euro, Portu- cários do mundo, sintetizado no Gráfico 3,
do Euro em 2009 (13,6% do PIB) bilhões, reduzindo seu déficit fiscal para um gal, Irlanda e Grécia, apresentam núme- mostra a exposição dos bancos europeus
9 déficit em transações correntes de valor inferior a 3,0% do PIB em 2014. ros bem mais modestos – respectivamen- por país relativamente à dívida dos PIIGS.
9,6 % do PIB em 2009 A opção por esse formato de ajuda fi- te 1,3%, 1,2% e 3,0%. Ao fim de 2009, o montante total do
nanceira se deve a motivações bem especí- Apesar de o custo de resgate das dívidas endividamento atingia o valor nominal de
ficas. Há interesse na manutenção do apa- públicas de Portugal, Irlanda e Grécia ser US$ 3,2 trilhões, dos quais França e Alema-
rato institucional da moeda única devido à nha, em conjunto, respondiam por 50%.
2 As projeções divulgadas em maio pela Comissão Europeia,
indicam que a retração na Grécia será ainda mais intensa, exposição dos sistemas bancários das prin- 1 Roubini & Das (2010). “Will Europe`s PIIGS Learn to Fly?”.
No caso específico da Grécia, bancos fran-
atingindo 3,0%. cipais economias da região (França e Ale- www.roubini.com ceses e alemães carregavam cerca de 57%
6 3
Contudo, o final de 2009 reservou surpre- cação de risco. A Grécia, inclusive, perdeu Gráfico 5: Spread Médio das Operações com CDS de 5 anos dos PIIGS
sas importantes, trazendo a tona o terceiro sua condição de investment grade. (spread sobre os T-Bonds Norte-Americanos de 5 anos)
momento da crise financeira internacional, O objetivo desse número do Visão do De-
900
os chamados riscos quase-soberanos. Em senvolvimento é fornecer um panorama ge-
meados de novembro, surgiram dúvidas ral do atual estágio da crise internacional, 800
quanto à solvência da Dubai World – princi- analisando os fatores que tornaram os PIIGS Grécia
pal empresa de Dubai, um dos sete Estados vulneráveis dentro do arranjo monetário da 700

que compõe os Emirados Árabes Unidos. Zona do Euro. Destaca-se, em particular o 600
Foi necessário o auxílio financeiro de outro problema da Grécia. Embora as preocupa-
emirado, o de Abu Dhabi, mediante um ções venham se direcionando para a situa- 500

empréstimo de US$ 10 bilhões, para devol- ção fiscal debilitada dessas economias, a 400
ver o clima de tranqüilidade aos mercados. restauração da competitividade externa é Portugal
Em seqüência, o primeiro semestre de também um fator igualmente importante. 300
Irlanda
2010 trouxe à tona, como “bola da vez”, o 200 Espanha
risco soberano dos países excessivamente Endividamento público e Itália
endividados e com elevados déficits fiscais déficits fiscais 100

pertencentes à Zona do Euro, os chama- 0


dos PIIGS – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia O Gráfico 1 mostra o problema central dos

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e Espanha. O excessivo volume de países mais vulneráveis da Zona do Euro, isto
endividamento público, aliado às perspec- é, a evolução dos níveis de endividamento Grecia Irlanda Itália Portugal Espanha
tivas de baixo crescimento econômico, le- público e dos déficits fiscais dos PIIGS. De Fonte: Bloomberg. Elaboração APE/BNDES
vou ao rebaixamento, ao fim de abril de acordo com as projeções da OCDE, a ex-
2010, dos ratings de Espanha, Portugal e pansão dos gastos públicos para combater
Grécia pelas principais agências de classifi- os efeitos da crise internacional em 2008 manha) à dívida grega. Um default da ros desse tipo é um fator a contribuir para
Grécia, ao abalar o coração financeiro da a credibilidade das medidas anunciadas.
Zona do Euro, certamente teria efeitos
Gráfico 1: Dívida Pública e Déficit Fiscal dos PIIGS negativos na já incipiente econômica da Conclusões
(como % do PIB) região, agravando a possibilidade da ocor-
rência de um “double-dip”. Obviamente A grande questão que permeia não ape-
não se deve perder de vista a possibilida- nas o problema da Grécia, mas em maior
de de agravamento de moral harzard em ou menor grau também os demais PIIGS,
uma conduta de salvamento desse tipo, a são os amplos déficits fiscais e o
qual poderia aumentar os problemas de endividamento público crescente. Essa
contágio da crise grega na direção de ou- combinação tem elevado de maneira con-
tros PIIGS. Nesse sentido, o auxílio con- siderável os custos de refinanciamento de
junto do FMI atua não apenas como me- suas dívidas, refletido na elevação dos
canismo mitigador do problema de moral spreads de CDS. A solução, no entanto,
harzard, mas também como órgão vai além da implementação de medidas
fiscalizador do cumprimento das medidas de combate ao déficit público. O sanea-
Fonte: Eurostat. Projeções da OCDE. Elaboração APE/BNDES. de ajuste fiscal anunciadas. Certamente, mento das contas públicas é condição
(p) = projeções
a experiência do FMI em auxílios financei- necessária, mas não suficiente para evitar
2 7
a eclosão da crise das dívidas soberanas. expansionista de gastos da Alemanha.
O raciocínio é simples. Um ajuste fiscal é
tão mais bem sucedido quanto maior for
o crescimento da economia, pois a base
de incidência das receitas orçamentárias
A crise da Zona do Euro chama atenção,
também, para outro aspecto interessante. A
resposta das economias periféricas da Euro-
pa à crise asiática de 1997 constituiu-se em
Visão
do Desenvolvimento
torna-se mais elevada. Já em ambientes uma maior aproximação e, posteriormente,
recessivos ou de crescimento anêmico, a entrada na união monetária. A estratégia nº 82 „ 7 jun 2010
apertos fiscais contribuem ainda mais para era reduzir o risco da ocorrência de crises de
queda da atividade econômica, reduzin- confiança ancorando suas economias na es-
do as receitas tributárias e requerendo, pos-
teriormente, maiores contrações fiscais. En-
tabilidade e credibilidade do “deutsche
mark”. Como contrapartida, abdicou-se da
Os desdobramentos da crise
tra-se, portanto, em um círculo vicioso. utilização autônoma de instrumentos inter-
Nesse sentido, para melhorar os compo-
nentes cíclicos e estruturais dos déficits fis-
nos de políticas monetária e cambial. Se, ini-
cialmente, esse não era um preço alto a se
internacional na Zona do Euro
cais é necessário, paralelamente, elevar a pagar, a crise dos PIIGS em geral, e da Grécia
taxa de crescimento das economias. Por- em particular, mostra o quão importante Por Gilberto Borça Jr. um primeiro momento, ainda em meados
tanto, o ajuste nos PIIGS requer um vetor seria, nesse momento, a utilização da políti- Economista da APE de 2007, o estouro da bolha imobiliária
de demanda agregada que viabilize a ex- ca cambial como mecanismo restaurador da nos EUA acarretou uma acentuada que-
pansão do nível competitividade da nos preços dos ativos ao redor do mun-
de atividade em
Ajuste nos PIIGS poderá ser externa. Revés da O pânico gerado do (imóveis, ações e commodities). Em um
um contexto de suavizado por uma política Em compen- economia pelo agravamento da segundo momento, com o problema atin-
aperto fiscal. Para expansionista da Alemanha sação, outras grega explicita crise financeira inter- gindo os bancos norte-americanos e eu-
isso, a recupera- economias problemas de nacional, em 2008, ropeus, houve uma contração da liquidez
outros países
ção da competitividade externa torna-se emergentes – como, por exemplo, China, ficou para trás. Suas em escala global, impactando sobrema-
da região
fundamental. Índia e Brasil – adotaram, cedo ou tarde, consequências, no neira o nível da atividade mundial. Visan-
Em um arranjo monetário de uma moe- uma estratégia diferente de resposta à entanto, ainda se fazem presentes. O epi- do mitigar esses efeitos, os governos, in-
da única, entretanto, não há a possibilida- crise asiática de 1997. Ao invés de res- sódio mais recente, que vem ganhando des- tervieram maciçamente, realizando não
de de utilização de desvalorizações cam- tringirem a utilização dos instrumentos de taque na imprensa econômica especializa- apenas operações de salvamento de ban-
biais nominais como mecanismo restaura- política econômica, esses países optaram da, é o da Grécia. A combinação de uma cos e empresas, mas também políticas fis-
dor de competitividade externa. A alter- por realizar uma política agressiva de dívida pública elevada (superior a 113% do cais e monetárias anticíclicas. A atuação
nativa de curto prazo é a implementação acúmulo de reservas internacionais. Com PIB) com vencimentos concentrados no cur- das autoridades cumpriu seu objetivo, im-
de um ajustamento interno através de isso não apenas blindaram suas respecti- to prazo, e um déficit fiscal de 13,6% em pedindo uma contração ainda mais pro-
medidas restritivas que sejam capazes de vas economias de crises semelhantes às 2009, levou o País a uma situação vulnerá- nunciada das economias.
reduzir os custos domésticos. Esse proces- ocorridas nos anos de 1990, mas tam- vel perante os mercados. O caso da Grécia
so será tão menos custoso quanto maior bém elevaram o grau de autonomia de é emblemático, pois explicita as dificulda-
Visão do Desenvolvimento é uma publica-
for o compartilhamento do ônus do ajus- suas políticas econômicas domésticas. des também enfrentadas por outras eco- ção da área de Pesquisas Econômicas (APE),
tamento pelos países superavitários (leia- Quando a crise financeira internacional se nomias da Zona do Euro. do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-
se Alemanha). Em outras palavras, o ajus- agravou em 2008, a capacidade de res- Para se entender os atuais desdobramen- nômico e Social. As opiniões deste informe
são de responsabilidade dos autores e não
te nos PIIGS pode ser mais suave no que posta desses países foi muito mais efeti- tos da crise financeira internacional é im- refletem necessariamente o pensamento da
tange a seus impactos no nível de ativida- va do que a da periferia europeia. portante ter presente que sua evolução administração do BNDES.
de se for auxiliado por uma política foi marcada por três fases distintas. Em

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