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Machado, Adriane Picchetto Manual de Avaliação Psicológica / Adriane Pichetto Machado, Valéria
Cristina Morona. – Curitiba : Unificado, 2007.
A avaliação para fins de cirurgia bariátrica é uma atividade recente no campo da Psicologia da Saúde. A
própria modalidade cirúrgica é nova e os conhecimentos relativos à Avaliação Psicológica para esse fim se
encontram incipientes, em construção. Também há poucas referências bibliográficas que possam nortear
esse trabalho.
Como ainda não há um protocolo de avaliação estabelecido, configuram-se como muito difíceis as
situações de contra-indicação, pois os psicólogos ficam inseguros em conseguir prever a condição de
“sucesso psicológico” de uma cirurgia como essa. Também não há pesquisas consistentes sobre os
resultados dessas cirurgias, que possam apontar procedimentos e tomadas de decisão a respeito dos
candidatos.
Assim, é uma área ainda muito incipiente, na qual há, em geral, pouquíssimas referências a respeito na
formação da graduação, assim como pesquisas ou referências bibliográficas.
http://www.abeso.org.br/atitude-saudavel/mapa-obesidade
De acordo com o Conselho Federal de Medicina, o psicólogo e/ou o psiquiatra que integram a equipe responsável
pela avaliação multidisciplinar pré-operatória, devem estar atentos para a ausência de uso de substâncias, bem
como de quadros psicóticos ou demenciais. Também são esses profissionais os responsáveis em certificar de que o
paciente possui nível intelectual e cognitivo de compreensão acerca dos riscos da operação e cuidados inerentes a
esse procedimento no período do pós-operatório imediato e em longo prazo.
Para determinar a aptidão de um candidato à cirurgia bariátrica, diferentes aspectos da vida do paciente são
avaliados pelos psicólogos. Dentre os fatores psicossociais merecedores de atenção, os mais citados nas publicações
foram: compreensão do paciente quanto à operação e as mudanças de estilo de vida necessárias; expectativas
quando aos resultados; habilidade de aderir às recomendações operatórias; comportamento alimentar (histórico de
peso, dietas, exercício físico); comorbidades psiquiátricas (atuais e prévias); motivos para realizar o procedimento
cirúrgico; suporte social; uso de substâncias; status socioeconômico; satisfação conjugal; funcionamento cognitivo;
autoestima; histórico de trauma/abuso; qualidade de vida e ideação suicida.
O psicólogo, durante o processo de avaliação deve estar preparado para investigar aspectos emocionais,
psiquiátricos e cognitivos que podem influenciar o resultado da operação. Para tal finalidade, a entrevista clínica e a
testagem psicológica aparecem como recursos valiosos para a obtenção de informações sobre o funcionamento
psicológico do paciente.
A testagem psicológica visa obter medida objetiva do ajustamento psicológico do paciente e de seu preparo para o
procedimento, sendo considerada ferramenta imprescindível de coleta de informações, para complementar os
dados subjetivos coletados durante a entrevista clínica.
Apesar da variedade de informações disponíveis quanto à condução da avaliação psicológica, incluindo os aspectos
importantes a serem avaliados e os recursos mais utilizados, não foram encontradas delimitações de tempo em
relação à duração do processo de avaliação pré-operatória, nas publicações internacionais. Essa falta de clareza
quanto à duração da avaliação psicológica gera incerteza em relação ao número de sessões destinado a tal
finalidade. Contudo, devido aos resultados encontrados indicando a necessidade da aplicação de testes psicológicos
e da realização de entrevista clínica, infere-se que o processo exija mais do que uma sessão. Nas publicações
brasileiras, foram encontradas menções em relação ao tempo de duração da avaliação pré-operatória, indicando
grande variabilidade quanto ao número de sessões, com alguns pesquisadores citando, inclusive, que a avaliação
psicológica vem sendo realizada em apenas uma sessão, ou conforme o “bom senso” de cada profissional13,15,19.
Outra alusão ao tempo de avaliação foi encontrada em pesquisa realizada com operados bariátricos, que indicou que
67,4% deles gostariam de ter se preparado melhor psicologicamente, com mais do que uma sessão de avaliação
psicológica.
A avaliação psicológica também é considerada como oportunidade única de realizar a psicoeducação do paciente
sobre as mudanças implicadas à cirurgia bariátrica, oferecer apoio psicológico e preparar o candidato para as
mudanças comportamentais exigidas na fase pós-operatória8,20. Sendo assim, o psicólogo assume diferentes papéis
no momento da avaliação: é um pesquisador, coletando dados; um educador, provendo informações; e, ainda, um
terapeuta, aumentando a motivação e gerenciando as emoções emergentes durante a avaliação.
Um tópico recorrente, encontrado na maioria das publicações consultadas, refere-se ao fato de que não existem
guidelines ou protocolos norteadores da avaliação psicológica para cirurgia bariátrica.
O grande problema dos tratamentos propostos para a obesidade mórbida é a manutenção da perda do peso a longo
prazo, e a cirurgia bariátrica surgiu como ferramenta terapêutica eficaz, com reais possibilidades de minimizar as
falhas terapêuticas que ocorriam com os tratamentos clínicos e nutricionais.
A OMS classifica a obesidade baseando-se no Índice de Massa Corporal (IMC)a e no risco de mortalidade associada.
Assim, considera-se obesidade quando o IMC encontra-se acima de 30kg/m². Quanto à gravidade, a OMS define
obesidade grau I quando o IMC situa-se entre 30 e 34,9 kg/m², obesidade grau II quando IMC está entre 35 e
39,9kg/m² e, por fim, obesidade grau III quando o IMC ultrapassa 40kg/m².
Sendo a obesidade uma condição médica crônica de etiologia multifatorial, o seu tratamento envolve várias
abordagens (nutricional, uso de medicamentos antiobesidade e prática de exercícios físicos)². Entretanto, vários
pacientes não respondem a estas manobras terapêuticas, necessitando de uma intervenção mais eficaz. A cirurgia
bariátrica tem se mostrado uma técnica de grande auxílio na condução clinica de alguns casos de obesidade. A
indicação desta intervenção vem crescendo nos dias atuais e baseia-se numa análise abrangente de múltiplos
aspectos do paciente.
O paciente no período pós-operatório também deve ser avaliado, a intervalos regulares, para o acompanhamento
do seu funcionamento psicológico posterior.
Indicações e contra-indicações para Indicações e contra-indicações para realização das operações bariátricas
realização das operações bariátricas
Como a obesidade é uma condição médica crônica de etiologia multifatorial, seu tratamento envolve vários tipos de
abordagens. A orientação dietética, a programação de atividade física e o uso de fármacos anti-obesidade são os
pilares principais do tratamento.8,9 Entretanto, o tratamento convencional para a obesidade grau III continua
produzindo resultados insatisfatórios, com 95% dos pacientes recuperando seu peso inicial em até 2 anos. Devido a
necessidade de uma intervenção mais eficaz na condução clínica de obesos graves, a indicação das operações
bariátricas vem crescendo nos dias atuais.
A indicação do tratamento cirúrgico deve basear-se numa análise abrangente de múltiplos aspectos clínicos do
doente. A avaliação desses pacientes no pré e pós-operatório deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar
composta por endocrinologistas, nutricionistas, cardiologistas, pneumologistas, psiquiatras, psicólogos e cirurgiões.4
A seleção de pacientes requer um mínimo de cinco anos de evolução da obesidade com fracasso dos métodos
convencionais de tratamento realizados por profissionais qualificados
Quanto a critérios psicológicos e/ou psiquiátricos de exclusão para pacientes candidatos às operações bariátricas,
não há um consenso na literatura. Cada equipe multidisciplinar parece usar seus próprios critérios. Transtornos
psiquiátricos, especialmente do humor, ansiosos e psicóticos são comumente considerados contra-indicações para o
procedimento. Contudo não há dados precisos nem fatores preditivos de bom ou mau prognóstico adequadamente
estudados e/ou comprovados.
Diante dessas restrições, cabe-nos refletir sobre a importância de a avaliação psicológica neste contexto ter o
objetivo não só de avaliar as psicopatologias, mas de ser sim uma análise holística, considerando os fenômenos
biopsicossociais do paciente com objetivo de avaliar se ele possui recursos internos e suporte familiar para enfrentar
não só o procedimento cirúrgico mas também todas as restrições e conflitos frequentes após a cirurgia.
Não há regulamentações que especifiquem de forma mais detalhada o processo de avaliação, apontando
constructos que devem ser avaliados ou determinando quais instrumentos devem ser utilizados.
Na literatura também não há estudos que revelam sucesso de protocolos de avaliações. O que as pesquisas
atualmente mostram são pontos de atenção, ou seja, características que devemos avaliar nos pacientes, pois podem
causar o adoecimento psíquico no pós-cirúrgico.
Dentre elas destacam-se a percepção da cirurgia como procedimento estético, reflexo do alto índice de insatisfação
corporal, e a ansiedade por estarem diretamente relacionadas à frustração; e o desenvolvimento de patologias após
a cirurgia, dentre elas ansiedade, depressão, vigorexia, bigorexia ou transtornos dismórficos corporais.
Além das restrições descritas nas resoluções, as pesquisas apontam a importância da investigação do suporte
familiar, pois além de tratar-se de uma cirurgia que envolve muitas restrições nos primeiros dias após o
procedimento, o controle alimentar frequentemente influencia em episódios de muita ansiedade e os relatos dos
pacientes apontam o suporte familiar como um dos principais aliados no enfrentamento dessas crises.