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Revista Saneamento para Todos Nº 01 Corpo
Revista Saneamento para Todos Nº 01 Corpo
novoparaespaço
a
busca contribuir para viabilizar
a reforma institucional do setor
saneamento brasileiro com a
reestruturação de sua gestão. A
apresentação Secretaria atua junto aos Estados
e Municípios e aos prestadores e
de idéias reguladores dos serviços públicos
criativas de saneamento, sobretudo com
vistas ao estabelecimento de
novos modelos de organização e
gestão, e de novas estruturas de
prestação e regulação, objetivando
Com o lançamento da revista o aumento da eficiência e da
Saneamento para Todos, capacidade de financiamento
a Secretaria Nacional de do setor. A meta maior é a
Saneamento Ambiental (SNSA) universalização dos serviços.
abre novo espaço para a
discussão de problemas e para No campo legal e regulatório, o
a apresentação de propostas e Projeto de Lei no. 5296/2005,
ações criativas. em tramitação no Congresso
Nacional, estabelece as diretrizes
Escolhemos para inaugurar para os Serviços Púbicos de
esta publicação a experiência Saneamento Básico e a Política
do Serviço Autônomo de Água e Nacional de Saneamento Básico,
Esgoto de Guarulhos na gestão tendo por objetivo a integração
de perdas de água por seu caráter de esforços e de recursos dos
inédito. E, principalmente, pela diversos níveis de governo e da
importância que concedeu, em sua iniciativa privada. O projeto está
primeira fase, ao protagonismo baseado nos princípios básicos
dos servidores do prestador do da universalidade, integralidade
serviço no processo. Outro mérito e equidade, sempre privilegiando
do programa é que, em sua o interesse público.
segunda fase, os consumidores e
usuários serão mobilizados, sendo O PL 5296 cria um ambiente pro-
convidados a exercer plenamente pício à melhoria de desempenho
seus direitos de cidadania. dos prestadores de serviços, so-
bretudo diante dos atuais baixos
A próxima edição será dedicada níveis de eficiência global do se-
ao tema da capacitação. tor, acentuados, particularmente,
pelas elevadas perdas de água
A nova revista está alinhada com verificadas nos sistemas públi-
o objetivo central da SNSA de cos de abastecimento. Segundo
assegurar os direitos humanos dados do Sistema Nacional de In-
fundamentais de acesso à água formações sobre Saneamento, em
potável e à vida em ambiente 2003 o índice médio das perdas
salubre nas cidades e no de faturamento do conjunto de
campo, com a universalização prestadores de serviços do País
do abastecimento de água e foi de 39,4%, enquanto o índice
dos serviços de esgotamento de perdas de água por ligação
sanitário, da coleta e tratamento ativa foi de 502,3 litros/ligações/
dos resíduos sólidos, e do manejo dia, em média. Ao compararmos
das águas pluviais. esse número com o consumo per
1
A experiência de Guarulhos
capita médio de água, igual a 149 O objetivo das ações empreen- Ministro das Cidades: Márcio Fortes
litros/habitante/dia, observa-se didas é implantar uma solução Secretário Executivo: Felipe Mendes
que o índice das perdas de água definitiva e sustentável, sensibili- e Oliveira
é significativamente elevado. zando os trabalhadores do SAAE Chefe de Gabinete: Rodrigo José
para a importância da atuação Pereira-Leite Figueiredo
A gravidade do baixo desempenho individual e coletiva de todos no Secretário Nacional de Saneamento
dos serviços de abastecimento enfrentamento do problema. Ambiental (SNSA): Abelardo de
de água, no que diz respeito às Oliveira Filho
perdas, pode também ser vista sob Espera-se que, a partir dos re- Secretária Nacional de Habitação
a ótica financeira. Uma estimativa sultados desta experiência, a Se- (SNH): Inês Magalhães
do retorno financeiro decorrente cretaria Nacional de Saneamento Secretário Nacional de Transporte
da redução das perdas de água Ambiental esteja contribuindo e Mobilidade Urbana (SEMOB):
até um patamar de perdas para a disseminação de um mo- José Carlos Xavier
inevitáveis, estimado em 20%, delo exitoso de gerenciamento Secretária Nacional de Programas
indica um valor anual da ordem das perdas de água em sistemas Urbanos (SNPU): Raquel Rolnik
de R$ 2,4 bilhões, correspondente públicos de abastecimento no Diretor de Desenvolvimento e
à soma dos valores estimados Brasil. Cooperação Técnica da SNSA:
referentes à diminuição dos Marcos Helano Fernandes Montenegro
custos de produção e ao aumento Diretor do Departamento de Água
do faturamento. e Esgotos da SNSA: Cesar Scherer
Abelardo de Oliveira Filho Diretor do Departamento de
Muito embora as elevadas Articulação Institucional da SNSA:
perdas de água possam sinalizar Secretário Nacional de Sérgio Antonio Gonçalves
problemas de ordem operacional, Saneamento Ambiental do Coordenador do Programa de
as ações mais eficazes para a Ministério das Cidades Modernização do Setor
solução de tais problemas estão Saneamento (PMSS):
no campo da gestão. Dentre Ernani Ciríaco de Miranda
outros, podemos citar itens
como: mudanças na estrutura Programa de Modernização do
da organização; mudanças de Setor Saneamento (PMSS):
comportamento dos técnicos, SCN - Qd 01 - Bloco F - 8º andar
corpo gerencial e dirigentes; Edifício America Office Tower - 70711-905
busca de soluções alternativas; pmss@pmss.gov.br
treinamento e capacitação de www.cidades.gov.br e www.snis.gov.br
pessoal; implementação de Conselho editorial: Marcos Helano
instrumentos de sustentabilidade Fernandes Montenegro, Ernani Ciríaco,
das ações de combate às perdas; e de Miranda, Rodolfo Alexandre Cascão
participação da área encarregada Inácio
do gerenciamento das perdas no Reportagem e Edição: Antônio Carlos
orçamento da organização. Queiroz ( DF 00645 JP )
Foi exatamente no contexto Secretaria geral, Edição de arte,
dessa compreensão do problema Editoração eletrônica: Rosana Lobo
que a Secretaria Nacional de Ilustração: Fernando Rabelo
Saneamento Ambiental, por Fotos: SAAE/Guarulhos, Rodolfo
intermédio do PMSS, decidiu Alexandre Cascão Inácio, Antonio
apoiar o Serviço Autônomo Carlos Queiroz
de Água e Esgotos (SAAE) de Fotolitos e Impressão:
Guarulhos na construção de um Gráfica Qualidadade
modelo alternativo de gestão das Tiragem:5.000 exemplares
perdas de água, privilegiando a
articulação de todos os setores
da autarquia em torno de ações
integradas de redução e controle
das perdas.
2
SANEAMENTO PARA TODOS
O nosso desafio na área de abastecimento de água é grande: Guarulhos tem mais de um milhão e
duzentos mil habitantes e trabalhamos com a premissa de que água é um direito de todos.
A situação do fornecimento de água encontrada na cidade em 2001, quando assumimos a Pre-
feitura, era crítica. Por conta da falta de investimentos durante vários anos, o problema de falta de água
atingia muitos bairros, sendo que alguns chegavam a ficar até 20 dias sem abastecimento. A cidade tam-
bém sofria com perdas no sistema, provocadas principalmente por constantes vazamentos.
Diante desse quadro, investimos até agora cerca de R$ 25 milhões para resolver a questão do
abastecimento, construímos mais de 160 km de redes e fizemos mais de 42 mil novas ligações de água.
Também elaboramos, em 2002, o Plano Diretor do Sistema de Abastecimento de Água, que vai nortear as
intervenções e os investimentos necessários até 2025.
O problema das perdas precisou de uma grande atenção de nosso governo. Implantamos um Pro-
grama de Controle e Redução de Perdas que resultou, por exemplo, na troca de 45 mil hidrômetros entre
2002 e 2004, quase 20% do total de medidores do município. O Sistema Autônomo de Água e Esgoto de
Guarulhos (SAAE) conseguiu, ainda, vários outros resultados positivos, como a criação de um sistema
para aquisição e recebimento de materiais e a melhoria nos procedimentos de execução de obras, com a
utilização de materiais mais adequados.
Além de resultar em economia e melhoria da produtividade, o Programa de Controle e Redução de
Perdas tem ainda uma grande importância social e ambiental, já que a cidade de Guarulhos está inserida
numa região de cabeceira de bacia, com baixa disponibilidade hídrica e onde, portanto, é fundamental
não perder água.
Elói Pietá
Prefeito de Guarulhos
SUMÁRIO
18 Olhares múltiplos
4 Guarulhos, oitava economia do Brasil
20 Mobilização social
6 Nova gestão, novos horizontes
22 Mobilização social
8 O Programa de combate às perdas
25 A Peleja
11 As Diretrizes 28 A engenhoca
12 As Oficinas 29 Combate ao desperdício
14 O que pensam os ARPs 30 PMSS e PROCEL
16 A redução de perdas 31 Modelo sustentável
3
A experiência de Guarulhos
Igreja Matriz
SANEAMENTO PARA TODOS
Brasil
Aeroporto
Vista panorâmica
SANEAMENTO
94% dos domicílios de Guarulhos são
abastecidos com água e 72% dispõem de
esgotamento sanitário.
O município conta comtrês fontes de água
bruta, comprando da Sabesp o maior volume
(cerca de 87%).
O abastecimento é complementado com a
produção de poços profundos e das Estações
de Tratamento do Cabuçu e Tanque Grande.
Guarulhos tem 19 reservatórios, com
capacidade total aproximada de 88.300 m³.
Nova gestão,
Novos horizontes
H ocupando a superin-
tendência do SAAE, no
segundo mandato consecutivo do
Nos últimos quatro anos e meio,
no entanto, mais de 400 mil
pessoas, ou 45% da população,
prefeito Elói Pietá, o engenheiro tiveram o abastecimento de água
João Roberto Rocha Moraes tem regularizado. “A cidade tinha
dados e histórias para escrever um déficit de água que variava
um livro sobre o recente de um a 20 dias; havia retorno
desenvolvimento de Guarulhos. de esgotos na torneira da casa
Um processo de mudanças dos moradores; e os sistemas
riquíssimo que, segundo ele, de água e de esgoto não tinham
acabou revolucionando a cultura cadastro”, lembra João Roberto.
e a consciência da população
local, “que só nos últimos anos PLANO ESTRATÉGICO - Ele conta
se deu conta da grandeza de que todos esses problemas foram
Guarulhos e de que a cidade atacados logo na segunda sema-
deve ser parceira e não caminhar na de janeiro de 2001, quando se
“...por várias vezes a a reboque de São Paulo”. fez um plano estratégico para en-
contrar soluções para os proble-
população se propôs, João Roberto explica que mas mais graves em no máximo
historicamente Guarulhos serviu, 90 dias. “Nós começamos 2001
em um esquema de e ainda serve, em parte, como com 78% de reprovação dos ser-
cidade-dormitório da capital. viços, mas em abril esse número
mutirão, a ser nossa Mas, com mais de 1,2 milhão já havia baixado para 41%, e em
de habitantes e com o oitavo agosto para 14%. Permanecemos
parceira. PIB do País, ela se deu conta de muito bem referenciados junto à
que pode andar com as próprias população, porque ela entende a
Participamos de pernas, ou melhor, que pode voar falta de solução imediata, desde
de maneira autônoma, referindo- que seja devidamente esclareci-
um movimento se ao fato de o município abrigar da. Quando a gente se deparou
o maior aeroporto da América do com alguns problemas de natu-
de construção e Sul. reza financeira, por várias vezes
a população se propôs, em um
consolidação de GRANDES MUDANÇAS - Algumas esquema de mutirão, a ser nossa
das maiores mudanças ocorre- parceira. Sem querer, participa-
cidadania nesta ram justamente no SAAE. Em mos de um movimento de cons-
2001, a população estava tão trução e consolidação de cidada-
cidade”. insatisfeita com a falta d’água nia nesta cidade”.
que, nas manifestações de
protestos, queimava pneus na
Via Dutra e amarrava motoristas
6
SANEAMENTO PARA TODOS
João Roberto acrescenta que, tal e de novas relações comuni- O superintendente informa que
nesse esforço, foi preciso cons- tárias. A reestruturação física da grande parte das redes estão
truir mais do que reconstruir o autarquia incluiu a maciça com- em funcionamento há mais de
SAAE. Para isso firmou-se um pra de equipamentos de informá- 35 anos e grande parte dos hi-
pacto com os servidores, inau- tica. “Os poucos computadores drômetros não funciona adequa-
gurando-se um relacionamento que tínhamos eram locados por damente, duas das principais
entre a direção e os servidores uma prestadora de serviço. Se causas do alto índice de perdas
da autarquia. “O SAAE tem um essa empresa, por algum motivo, de água. Para combater as per-
corpo técnico muito sério e mui- saísse do SAAE, no dia seguinte das de água , o SAAE implantou
to comprometido, mas que, his- não podíamos rodar a folha, as uma política intensa de troca
toricamente foi relegado na polí- contas de água, nada”. dos hidrômetros. E para rever-
tica da instituição. Então existia ter a evasão de receitas , adotou
uma defasagem entre o que o Segundo João Roberto, “antes, uma forte política de cortes dos
corpo técnico sabia e a realida- quando o usuário queria fazer inadimplentes.
de do mercado. Nós tratamos de alguma reclamação, tinha que se
diminuir essa diferença, usando deslocar ao longo da cidade, por “TORÓ DE PALPITES” - João Ro-
todos os recursos para isso. Foi vezes pegando até três conduções berto está empolgado com as
muito importante, por exemplo, para chegar numa unidade. Hoje ações de gestão de perdas inicia-
a participação de outras cidades são sete unidades centralizadas das em meados de 2002 com o
onde já tínhamos trabalhado, de atendimento ao cidadão, apoio do Programa de Moderni-
extremamente gentis e compa- informatizadas e integradas com zação do Setor Saneamento da
nheiras nessa jornada em que a área operacional. Visam a dar Secretaria Nacional de Sanea-
a troca de experiências foi mui- agilidade e inclusive mudar o mento Ambiental. Ele chama de
to rica. Mas o mais legal foi a estado de ânimo da população “toró de palpites” – tradução bem
pró-atividade dos funcionários que precisa solicitar um serviço humorada da expressão america-
e a vontade de querer mudar a ao SAAE”. na “brainstorming” – o processo
história. Eles foram peças fun- das oficinas montadas para mo-
damentais para o sucesso que a MODERNIZAR SISTEMAS - Para bilizar e engajar os servidores do
gente teve até agora”. modernizar os sistemas de abas- SAAE na discussão e proposição
tecimento de água e de esgota- de soluções para os problemas
REESTRUTURAÇÃO - A autarquia mento sanitário, o SAAE buscou enfrentados por todos os setores
foi completamente reequipada: os financiamentos possíveis jun- da autarquia.
reestruturou-se a Divisão de to ao governo federal e às insti-
Recursos Humanos; criou-se o tuições internacionais, e ampliou Com um balanço positivo das
departamento de Comunicação bastante as receitas das tarifas. ações já realizadas, João Rober-
Social; e foram implementados O volume dos recursos obtidos to diz que o SAAE pretende ago-
programas de educação ambien- até agora, no entanto, não é su- ra atuar em duas frentes. Na
ficiente para resolver primeira, intensificando as in-
todos os problemas. tervenções para obter resultados
Do atual orçamento, mais breve no combate às perdas.
sobram menos de R$ 9 Na segunda, envolvendo a popu-
milhões por ano para lação no programa, por meio de
investimentos. Mas se- ações de comunicação (fôlderes,
riam necessários cer- filmes), atividades lúdicas (es-
ca de R$ 145 milhões quetes de teatro) e em discussões
para resolver definiti- públicas promovidas em parceria
vamente os problemas com a sociedade civil organizada
de água e mais R$ 450 (Confederação das Indústrias
milhões para concluir do Estado de São Paulo - Ciesp,
o plano de esgotamento. Associação Comercial, Conselho
Regional de Engenharia, Arqui-
tetura e Agronomia - CREA), por
João Roberto Rocha Moraes exemplo.
7
A experiência de Guarulhos
Como surgiu o
programa de
combate às perdas
de Guarulhos
m 2001, o sistema de Paula Sobrinho, diretor de Pla- De acordo com o técnico, a
E abastecimento de água
da cidade de Guarulhos
encontrava-se em estado caótico.
nejamento e Projetos.
8
UM PROGRAMA DE QUALIDADE
s perdas em um sistema de abastecimento de água decorrem de
10
SANEAMENTO PARA TODOS
As 10 Diretrizes
O caminho das pedras para a redução das perdas
Dez diretrizes detalham as metas do Programa de Redução de Perdas de Guarulhos. Mais do que isso,
elas refletem o modelo democrático adotado. Foram selecionadas dentre as 400 sugestões feitas pelos 1.200
funcionários que participaram das 42 oficinas promovidas no SAAE. Suas matrizes foram as quatro operações do
Plano Operacional originalmente definido pelo Comitê.
É importante assinalar que as diretrizes não são meras declarações de intenção, mas a compatibilização
do entendimento de todos os níveis hierárquicos da autarquia. A responsabilidade por seu cumprimento é atribuída
a funcionários de um ou mais departamentos, que devem prestar contas de cada etapa de sua implementação.
11
A experiência de Guarulhos
OFICINAS de SENSIBILIZAÇÃO
ois gerentes foram os res-
D
Até na escolha do local para história do SAAE, a crise da água
ponsáveis pela coorde- a realização das oficinas, o na região metropolitana de São
nação das 42 oficinas auditório de um hotel três Paulo, noções de educação am-
“aprender a não perder”, que estrelas, os organizadores das biental e, mais especificamente,
atraíram 1.054 dos 1.435 funcio- oficinas se preocuparam em a discussão de problemas técni-
nários do SAAE: Hamilton Tadeu valorizar os servidores. cos de hidrometria, válvulas de
Maurício e José Casimiro Corrêa pressão, desperdícios etc. Na se-
Lima, da Divisão de Desenvolvi- “BEM BOLADO” - Houve também gunda parte, houve trabalho em
mento de Recursos Humanos. o cuidado de organizar as turmas grupo para o levantamento de
por departamentos, de maneira propostas e para a escolha dos
Lotado no Departamento de a não prejudicar o andamento agentes de redução de perdas,
Comunicação, Hamilton conta dos serviços da autarquia. além da avaliação das oficinas.
que o primeiro grande avanço no “Cada departamento fez o seu
combate às perdas foi a direção ‘bem bolado’, um esquema de “A minha impressão das oficinas
do SAAE ter chegado à conclusão revezamento das turmas”, diz foi muito boa, porque houve um
de que as soluções não poderiam Hamilton. empenho bastante positivo dos
ser apenas técnicas. Deveriam funcionários, tanto na freqüência
ser fruto de um trabalho mais Segundo José Casimiro, a di- quanto na participação. Nós
orgânico, que envolvesse todo o nâmica das oficinas previa, ini- tivemos um número grande de
corpo funcional da autarquia. Era cialmente, a exposição de infor- propostas e, no final de cada
preciso, portanto, sensibilizar e mações gerais sobre os recursos oficina, o pessoal construia uma
mobilizar, se não todos, a grande hídricos no mundo e no país, a frase para uma futura campanha
maioria dos funcionários, muitos junto à população”, diz José
dos quais, no passado, estavam Casimiro.
alienados da missão da empresa
ou a viam apenas como um QUEBRANDO O GELO - Segun-
cabide de emprego. do Hamilton, houve o cuidado
de não transformar as oficinas
As oficinas, diz Hamilton, em sessões maçantes. “A gen-
foram organizadas não apenas te tentou não tornar aquilo um
para repassar informações aos monte de gente falando, falando,
servidores, mas sobretudo para falando e a pessoa sentada escu-
ouvir as suas opiniões e sugestões. Hamilton Tadeu Maurício tando. Com as idéias do Cascão
Foram três seus objetivos: (o consultor do PMSS, Rodolfo
estimular a identificação de Alexandre Cascão Inácio), a gen-
problemas e soluções; definir “As soluções não podem te procurou fazer um teatrinho.
ações imediatas; e constituir ser apenas técnicas, mas Uma coisa mais brincadeira,
a rede de agentes de redução mais light, porque o funcionário
de perdas (ARPs). Segundo
fruto de um trabalho não estava acostumado com isso:
Hamilton, o processo tomou orgânico, que envolva ‘Olha, vou chamar você para me
mais de um mês de trabalho, em todo o corpo funcional da dar uma informação. Alguns vie-
fevereiro e março de 2004, “todos ram até naquela de ‘que se abrir
os dias, só parando sábado e autarquia.” a boca, vou dançar’. A gente ten-
domingo”. tou criar um campo neutro, onde
12
José Casemiro Corrêa
“Houve participação
Os encontros
bastante positiva dos
aconteciam
funcionários.”
em campo neutro.
não eram as chefias que estavam Não eram as chefias
ali. Onde se podia conversar e
falar à vontade, discutir os as-
que estavam ali.
suntos. Onde eles sentissem que
são importantes na empresa e
que fazem parte da empresa. Nós
conseguimos quebrar o gelo”.
13
esperiência de Guarulhos
A experiência
Quando vejo vazamento nas ruas, eu comunico à firma. A firma analisa, vai
lá e arruma. Eu fiscalizo os vazamentos. Ah, eu sinto orgulho de ser ARP.
Eu tenho 14 anos dentro da firma, e pensava que não servia para alguma
coisa. Depois eles me convidaram para participar da reunião dos ARPs e
pediram para a gente ser voluntário. Aí eu peguei e disse: “Tudo bem, eu
vou”. É que eu gosto de estar conversando, gosto de estar no meio do povo.
Faz uns 30 anos que eu moro no Bom Clima. Lá todo mundo me conhece. Eu
sou comunicativa. Onde eu ando, eu converso, eu puxo conversa. Eu passo
as informações para o pessoal, como é que funciona, como é que não.
Neide Ferreira, auxiliar geral, lotada na
recepção do Departamento de Projetos.
14
SANEAMENTO PARA TODOS
Eu sou voluntário porque, com 15 anos dentro do SAAE, a gente conseguiu pegar uma
certa experiência. A gente sabe que a perda em Guarulhos é muito grande. Eu me
voluntariei justamente por causa disso, porque eu sabia que tinha alguma coisa a
dar ao município de Guarulhos e ao SAAE. Eu gosto muito, me dou muito bem
aqui na empresa. A gente procura sempre fazer uma parceria com o pessoal do
esgoto e com o pessoal da manutenção. Para quê? Para diminuir a perda de água.
Eu também sou um munícipe. Como eu trabalho muito na rua, procuro orientar
as pessoas: “Se tiver um vazamento, entre em contato com o SAAE”. Por quê?
Porque isso vai doer não nele mas sim nos filhos e nos netos dele, porque no amanhã
a gente sabe que a água doce do planeta vai diminuir muito. É muito gratificante
e muito objetivo ser ARP. Tem um lado positivo porque todo mundo te ouve. A
gente dialoga muito, troca muitas idéias nas reuniões, todo mundo consegue falar
a mesma língua. Já sentimos que o SAAE lucra com isso em tudo: materiais e
condições de trabalho. Gastando menos água, a gente consegue economizar e ter
menos dívida para poder pagar a água que compramos da Sabesp.
Roberto dos Santos, chefe de seção que faz ligações de água
Meu cargo de origem é trabalhador braçal. Estou no SAAE há quase cinco anos
e para mim foi um prazer participar como ARP. A gente tem visto informações
que antes não tinha. Isso tem ajudado muito porque a gente pode passar para os
próprios colegas de trabalho e para a população também a preocupação do SAAE
com as perdas. Se a gente puder controlar as perdas, o benefício maior é da
nossa própria cidade. Desde que eu me interessei por trabalhar no SAAE, a gente
sempre ouvia falar em privatização, “que vão vender, que não dá lucro”. Eu sempre
achei que o caminho da privatização não é a saída. A saída é procurar melhorar
aquilo que nós temos. Temos uma fonte muito boa, que é a água, importante
para a nossa vida. Se não procurarmos atingir a meta da redução de perdas vai
chegar um tempo que a gente não vai conseguir nem pagar aquilo que a gente
deve. É verdade que o resultado do programa está lento. Está precisando mais
ação. Hoje, cada setor toma conta da sua área. Na minha opinião, deveria ter um
departamento, uma divisão que cuidasse especificamente das perdas. Temos um
órgão que faz isso, mas a gente percebe que as funções ali estão acumuladas.
Júlio César Moraes, escriturário
15
A experiência de Guarulhos
$$$$$$$$$$$ $ $ $ $ $$ $ $ $ $$ $ $ $ $ $ $ $$$$$ $ $ $
$$$$$ $ $ $ A redução
$ $ $ $ $ $$ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$$$
$ $ $ $ $ $de
um ponto percentual
$$$$$$$$$$$ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $$ $ $ $ $ $ $ $$$$$ $ $ $
$$$ $ $ $ $ $ $ $ $significa
$$$$$$$$$$$ $ $ $ $ $$ $$ $ $ $ $ $ $R$ $$$$$$$$$$
$ $ $ $3$milhões $$ $ $ $ $$ $ $ $ $ $ $ $$$$$ $ $ $
O do Marcon trabalha
h á 1 7 anos na área de
saneamento, já tendo passado,
com um índice de perdas de
faturamento de mais ou menos
56%. Ora, se a meta de redução,
número bem abaixo dos limites
médios das prefeituras e de
companhias congêneres. Outros
por exemplo, pela companhia de 10%, fosse cumprida, estima- R$ 52 milhões nós pagamos à
de saneamento de Diadema. No se que a receita líquida cresceria Sabesp, de quem compramos
SAAE de Guarulhos desde 2001, para perto de R$ 160 milhões, cerca de 87% da água que
ele ocupa a diretoria comercial, um ganho de R$ 30 milhões. consumimos em Guarulhos. So-
financeira e de recursos huma- O raciocínio é válido porque há braram, portanto, R$ 23 milhões
nos, e tem uma visão muito re- demanda reprimida no município para os outros gastos, que
alista tanto dos problemas como e, assim, é possível estimar que incluem os serviços de tapa-vala,
das limitações para resolvê-los o volume de perdas de água informática, manutenção da
no curto prazo. recuperado será transformado frota de caminhões e automóveis,
em faturamento. Portanto, cada serviço de leitura de hidrômetros
Nesta entrevista procuramos ponto percentual de redução etc”.
saber por que a meta de redução de significaria quase R$ 3 milhões,
perdas de 10% não foi alcançada dinheiro que hoje faz muita falta. TROCA DE HIDRÔMETROS - Para
e quanto significaria reduzir Heraldo explica por quê. “Para este ano, projeta-se a arrecada-
cada ponto percentual. Heraldo uma receita bruta de R$ 143 ção bruta de R$ 175 milhões,
faz as contas rapidamente. A milhões no ano passado, nós dos quais R$ 58 milhões com a
receita líquida do SAAE no ano comprometemos R$ 58 milhões folha, R$ 52 milhões com a con-
Investimos bastante
em manutenção.
Trocamos mais ou menos
45 mil hidrômetros.
Heraldo Marcon
16
SANEAMENTO PARA TODOS
ta da Sabesp, R$ 38 milhões com terço do valor da conta normal que devem surgir na sociedade
o custeio e R$ 16 milhões com o para consumo de até 25 metros é assim: ‘Bom, vocês estão
pagamento de um precatório da cúbicos, tem se mostrado um pedindo para a gente economizar
Sabesp. De novo, portanto, não instrumento eficaz. “A tarifa água, mas olha só o nível de
sobrará praticamente nada para social tem dois objetivos: tentar perdas que vocês têm. O que é
os investimentos. “Precisaríamos colocar uma certa ordem nessas que vocês estão fazendo para
realmente ter uma melhora bas- áreas porque em algumas a não desperdiçar água?’ A gente
tante significativa no projeto de situação é bastante caótica, com precisa estar preparado para
redução de perdas para alavan- problemas de contaminação responder a isso”.
car a receita”, diz Heraldo. etc. O outro objetivo é trazer
esse pessoal para a cidadania. AVALIAÇÃO POSITIVA - Mais
TAREFA DIFÍCIL - Não é que não Dizemos assim: ‘Olha, a gente vai do que dar respostas, diz, é
tenha havido avanços, pondera botar água de qualidade, vai fazer preciso mostrar resultados. No
o diretor. A questão é que os a manutenção, vai cobrar uma cômputo geral, Heraldo avalia
avanços são ainda insuficientes. tarifa, só que você vai pagar. Só positivamente o programa de
Antes, as perdas na distribuição que é uma tarifa menor do que o redução de perdas. Diz que o
estavam no mesmo nível das restante da cidade paga. Portanto ritmo poderia ser mais acelerado,
perdas de faturamento. Com as você não tem desculpa para mas pondera que há uma série
providências tomadas pelo SAAE, não pagar’”. Heraldo acrescenta de limitações, tanto financeiras
essas últimas foram reduzidas que o SAAE oferece também como gerenciais.
para cerca de 48%. “Investimos alternativas para as famílias que
bastante em manutenção. acumularam débitos. “Para as
Trocamos mais ou menos 45 famílias que ganham até cinco
mil hidrômetros, a maioria com salários mínimos, há o desconto
mais de 15 anos de uso”. Heraldo na conta de água. E também dá
ressalta, no entanto, que essa para parcelar”.
providência, isolada, não é uma
boa alternativa, pois quando se Segundo Heraldo, ainda falta
troca o hidrômetro, a conta sobe uma perna para a política da
e amplia-se a inadimplência. tarifa social, porque, mesmo
Vários procedimentos precisam sendo menor, muita gente não
ser tomados simultaneamente: consegue pagar a conta. “Existe
a troca de hidrômetro, o corte hoje em nosso País a miséria
dos inadimplentes e a caça absoluta. O cara que não
aos vazamentos. Todos esses consegue pagar um real. Então
procedimentos exigem, no a gente precisa também ter uma
entanto, mais investimentos. Um alternativa para essa gente.
hidrômetro simples, da classe Pensamos em um fundo, em que
B, custa R$ 30,00. E, como diz as pessoas pagariam um pouco
Heraldo, seria preciso trocar mais para bancar os miseráveis.
mais de 100 mil. A questão é que Mas isso não foi para frente, eu
o SAAE não dispõe dos recursos acho que falta essa perna”.
necessários. “A gente fica naquela
brincadeira do cachorro correndo CAUTELA - Com relação à
atrás do gato. Mas precisamos externalização do programa
romper esse círculo”. de redução de perdas, Heraldo
tem uma posição de cautela.
Não é uma tarefa fácil. Heraldo “Eu acho que a gente precisa se
diz foi preciso também intervir estruturar melhor para poder
na cidade em favelas ou dizer à sociedade que temos um
assentamentos irregulares, programa que está em curso,
com os clássicos problemas de em funcionamento, construir e
abastecimento de água e falta mostrar os indicadores, e poder
de esgotamento sanitário. A assumir compromissos. Porque,
criação da tarifa social, com um certamente, uma das perguntas
17
A experiência de Guarulhos
Olhares múltiplos
“Só o que toca o coração e harmoniza
Adélia Prado
os sentimentos é capaz de provocar
sintonizados
nas perdas
comportamento ecológico”
cada vez maior o grito das águas, clamor de denúncia sobre a precária
É situação da disponibilidade de água no planeta. Grito que nos alerta
para os riscos de poluição das reservas de água doce. Fonte primordial
de vida, a água é um recurso finito que estamos dilapidando a passos largos.
O grito das águas nos conclama a um constrangimento ético: somos todos
co-responsáveis no equacionamento do problema – instituições públicas e
privadas, entidades da sociedade civil, cidadãos do planeta. Devemos todos
dar a nossa contribuição.
1
Socióloga, consultora do PMSS.
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SANEAMENTO PARA TODOS
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“O percurso que a gente fez no ano passado
Mobilização social, foi de construção, era inaugural. Ninguém sabia o que
era um ARP. Muitas coisas eram novidade inclusive para a
um processo em consultoria. Fomos aprendendo juntos.”
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SANEAMENTO PARA TODOS
cionários.” Assim, reitera, “é preciso estar vigilante para biente. É que pretende fazer um trabalho mais abrangen-
que não ocorra queda no ritmo dos encontros e reuniões te, levando a discussão das questões ambientais para as
dos ARPs”. ruas da cidade.
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A experiência de Guarulhos
Programa de redução de
perdas exige
mudança cultural
Rodolfo Alexandre Cascão Inácio*
istoricamente, os progra- informativo ou, quando da produção bruta e se conclui com a utilização da
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SANEAMENTO PARA TODOS
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A experiência de Guarulhos
24
A
L ucas ARP, um agente de redução
de perdas, anda perdendo o
sono com as estripulias de João
Gastão, um dos grandes responsáveis
pelos 56% de perdas de água no
peleja
município de Guarulhos. Após
rigorosas investigações localiza a
casa do perdulário e faz todo tipo de
pressão sobre ele. Matreiro, esperto,
João Gastão utiliza a sedução de
sua mulher, Raimunda, para tentar
ludibriar o funcionário do SAAE.
Lucas recebe, então, uma ordem
superior: para eliminar um problema
tão difícil como o João Gastão, só
mesmo apelando para Lampião
do SAAE
contra
e Maria Bonita. Os cangaceiros
aparecem em nova versão e, após um
entrevero, os personagens concluem
que a violência não resolve a questão:
só a união de todos poderá um dia
diminuir o desperdício e as perdas
de água na cidade.
João
Gastão
Esse é o enredo da peça bem
humorada do Grupo de Mobilização
Teatral ‘Aprender a não perder’.
O grupo, constituído de
servidores voluntários, foi formado
durante o processo participativo de
2004. Alguns atores destacaram-se
nas oficinas setoriais ocorridas em
março e abril daquele ano, quando se
apresentava um esquete na abertura
dos trabalhos.
Os atores foram treinados em
artes cênicas por Cascão, consultor
do PMSS e especialista em arte
mobilização. Daí resultou a peça da
peleja do SAAE contra João Gastão,
criada coletivamente. Cascão redigiu
o texto final da peça cuja produção
ficou por conta de Adriana, da
Educação Ambiental.
Durante o mês de dezembro de
2004, a peça foi apresentada nas uni-
dades de trabalho do SAEE nos vários
bairros da cidade e teve a função de
sensibilizar os funcionários do SAAE
para o Programa de Redução de
Perdas. Os atores Jaime (Segurança
Patrimonial), Edna (Educação Am-
biental), Tatiana e Samuel (Relações
Comunitárias) tiveram que mostrar
versatilidade nas encenações em pá-
tio aberto, dentro de corredores ou
no auditório da prefeitura. A aceita-
ção foi enorme entre os 600 funcio-
nários que assistiram ao espetáculo.
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A experiência de Guarulhos
Lampião:
Moradores de Guarulhos
é grande a satisfação
de tá aqui nessa cidade
de um povo que é muito bão
mas num saco de batata
tem uma que é podridão
e pra esse desperdiço
(tirando a peixeira)
eu empunho meu facão
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SANEAMENTO PARA TODOS
pois pra combater as perdas (Todas as três se juntam indignadas e As três juntas:
olha aqui Guilherme Tell vão alternando as falas)
(falando pra Lampião) E pra combater as perdas
tem que ter o Nextel João Gastão: tem que ir é de mansinho
e renovar a nossa frota com amor e com carinho
Vixe Santa Benedita melhorando a integração
Lampião: Ave, que provocação
(Agora, todos os quatro entram no
Oxente, muito obrigado Raimunda: desfecho final)
Pelo que a senhora fala
Mas temos que assuntá Num aceitamo violência Lampião:
Que dinheiro tem na mala e nem discriminação
A dívida da Sabesp Vocês três me convencero
É maior que essa sala João Gastão: de acabá co João Gastão
Como o povo num paga em dia só pegando a parte técnica
o SAAE tá indo pra vala As muié quem mais preocupa juntando coa educação
com a conscientização
E pra combater as perdas Maria Bonita:
chega desse nhenhenhé Maria Bonita:
num é coisa de muié Trabalhando nas favelas
(puxando um trabuco) Sai pra lá com esse machismo e na micromedição
eu resolvo é na bala! tá por fora Lampião
João Gastão:
Raimunda:
Todos:
A
peleja
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A experiência de Guarulhos
A dinâmica da
engenhoca
No final de cada oficina,
os ARPs foram convidados a avaliar as discussões do dia
de maneira inusual.
Ao mesmo tempo em que expunham suas opiniões,
colaboraram com a complementação de uma escultura
feita de tubos e conexões.
Escolhiam no chão uma das peças soltas
e tentavam conectá-la à “engenhoca”,
como passaram a chamar a escultura.
Se alguém tinha pouca habilidade,
era ajudado pelos colegas.
Foi um exercício divertido,
que ajudou os funcionários a refletir sobre
a importância do trabalho coletivo.
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SANEAMENTO PARA TODOS
P da água de abastecimento
público nas cidades brasileiras
é a missão do Programa Nacional
Foi constituído dos seguintes
subprojetos:
de Convênio entre a SNSA e a
Fundação de Apoio à Universidade
de São Paulo (FUSP), vários
de Combate ao Desperdício de . Modernização do Cadastro Técnico; DTAS foram elaborados e outros
Água (PNCDA), instituído em . Estudo de Setorização e revisados.
abril de 1997, e desenvolvido pela Macromedição do Sistema;
Secretaria Nacional de Saneamento . Modernização do Cadastro Comercial; Ainda no âmbito da fase III do
Ambiental do Ministério das Cidades. . Avaliação do Nível de Erro de Programa, no projeto de Estratégias
Entre seus objetivos está a melhoria Hidrômetros Existentes; de Educação e Comunicação, em
da saúde pública e a maior eficiência . Avaliação Comparativa de 2003, foram oferecidos cinco cursos
dos serviços de saneamento. A Hidrômetros Classes C e B; de capacitação em combate ao
conquista de melhor produtividade . Avaliação de perdas de água em desperdício de água a uma clientela
dos ativos existentes permite, é ligações prediais; diversificada (operacional e gerencial)
claro, o adiamento de parte dos . Influência da Redução de Pressão nas de prestadores de serviços das cinco
investimentos para a ampliação dos Perdas da Distribuição; regiões do País.
sistemas. . Pesquisa de Vazamentos não Visíveis; e
. Avaliação do Volume de Água de Os DTAs podem ser acessados na
De maneira específica, o Programa Processo Utilizado na ETA. página eletrônica do Ministério das
define e implementa ações e instru- Cidades (www.cidades.gov.br) no
mentos tecnológicos, normativos, O enfoque principal dos subprojetos ícone de Programas e Ações da SNSA.
econômicos e institucionais com esteve voltado para a gestão dos A página do PNCDA tem interface
vistas a uma efetiva economia dos serviços do SAAE, tendo como amigável, que oferece, além das
volumes de água demandados para premissa essencial a redução das informações técnicas (documentos
consumo nas áreas urbanas. perdas de água. Além disso, o Projeto produzidos pelo PNCDA e demais
Piloto contribuiu para a qualificação documentos correlatos), uma parte
Executando hoje a sua Fase III, nas dos técnicos do SAAE e a integração de notícias, eventos e campanhas de
Fases I e II o programa concentrou de seus diversos setores em torno combate ao desperdício.
esforços no apoio ao desenvolvi- do tema “perdas de água”.
mento, à transferência e à dissemi-
nação de tecnologia, em articulação Em agosto de 2003 foi realizada em
com outros programas federais e Brasília a Oficina de Planejamento
apoiando os Planos de Combate ao do PNCDA, que consistiu num
Desperdício de Água. fórum de especialistas de todo
o País – consultores externos,
Durante a Fase I, executada em 1997, técnicos do Ministério das Cidades e
foram discutidos 16 Documentos instituições parceiras – para debate
Técnicos de Apoio (DTAs), que sobre as estratégias do Programa
refletiram a retomada de estudos e refinamento de seus elementos
abrangentes na área. chave. A Oficina levantou metas
qualitativas e quantitativas de curto,
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A experiência de Guarulhos
U da Secretaria Nacional de
Saneamento Ambiental
(SNSA) do Ministério das Cidades,
Um ponto fundamental na sua
metodologia adotada é o de que todo
volver ações integradas no campo
da conservação de água e energia
elétrica em sistemas de saneamento
tem suas ações voltadas para a o processo de apoio às intervenções ambiental. Os trabalhos da coopera-
criação das condições propícias de mudança e melhoria dos órgãos e ção desenvolvem-se por intermédio
a um ambiente de mudanças e entidades do setor de saneamento, de três Programas, sendo dois da
de desenvolvimento do setor em especial dos prestadores de Secretaria Nacional de Saneamento
saneamento no país. serviço, esteja vinculado a propósitos Ambiental (PMSS e PNCDA) e um
e compromissos claros de mudança da Eletrobrás/MME, o Programa
Sua pauta principal é o apoio por parte dos demandantes. O apoio de Conservação de Energia Elétrica
técnico para o desenvolvimento de tem continuidade na medida em que (PROCEL).
mudanças nos órgãos e entidades, as avaliações demonstrem avanços na
especialmente os prestadores de obtenção de resultados, expressos na A parceria tem apoiado impor-
serviço. O propósito é melhorar a melhoria de desempenho, conforme tantes ações para o melhor uso
qualidade e o nível de eficiência e os objetivos acordados. de água e energia nos sistemas de
eficácia de suas ações, condição básica saneamento do País, com ênfase
para universalização dos serviços. A assistência técnica do PMSS na extensa programação de cursos
Neste sentido, são potenciais é precedida de uma negociação para capacitação e sensibilização de
beneficiários do PMSS: o Estados política, que estabelece as diretrizes técnicos, corpo gerencial e dirigentes
e Municípios, na formulação de gerais e identifica as principais dos operadores públicos brasileiros
políticas públicas e desenvolvimento demandas. Como resultado dessa (companhias estaduais e serviços
de planos de saneamento; as negociação, são celebrados Acordos municipais). Para a realização dos
instâncias de regulação e fiscalização, de Cooperação Técnica (ACT) cursos, a cooperação estendeu-se
na implementação de atividades entre a entidade beneficiária e o também à Associação Brasileira de
regulatórias e de controle social; e os Ministério das Cidades, sem ônus Engenharia Sanitária e Ambiental
prestadores públicos de serviços, na para a beneficiária. (ABES), que desenvolve os cursos
sua revitalização e reestruturação. em todo o País, numa programação
A segunda etapa do Programa de dois anos, iniciada em 2004.
É nessa última linha de ação que o – o PMSS II – é resultado do
PMSS vem apresentando, nos últi- Acordo de Empréstimo n° 4292- Outra importante iniciativa
mos dois anos, uma forte mudança BR, celebrado em 16.06.1999, entre da cooperação tem sido o
conceitual, privilegiando os operado- o Governo Brasileiro e o Banco desenvolvimento de doze projetos
res públicos, sejam eles companhias Internacional para a Reconstrução e demonstrativos de Conservação
estaduais ou serviços municipais. O o Desenvolvimento - BIRD, devendo e Uso Racional de Energia Elétrica
foco de sua atuação tem sido a rees- ser executada até outubro de 2007. e Água no Setor de Saneamento
truturação dos prestadores públicos, Ambiental. Selecionados em
apoiando ações nas áreas institucional, Informações a respeito do PMSS Chamada Pública, entre 57 projetos
operacional, administrativa, financeira, podem ser obtidas pelo e-mail de empresas municipais e estaduais,
comercial e jurídica. O Programa tem pmss@pmss.gov.br, ou diretamente têm por objetivo desenvolver ações
se concentrado na assistência às com- pelo telefone (61) 3322-7170, da integradas de redução de perdas
panhias estaduais, sobretudo do Nor- Unidade de Gerenciamento do de água e do consumo de energia
te e Nordeste, mas também do Sul. Programa (UGP). elétrica em sistemas públicos de
abastecimento de água.
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SANEAMENTO PARA TODOS
O
planejamento da oferta de serviços públi- e estender as redes até áreas sem atendimento,
cos de abastecimento de água no Brasil geralmente localizadas nas periferias.
ganhou impulso a partir da criação do
Planasa (Plano Nacional de Saneamento), institu- Observa-se que a soma de fatores criou, então, o
ído em 1971 pelo Banco Nacional de Habitação ambiente propício ao crescimento descontrolado
(BNH), o qual, do ponto de vista da ampliação da das perdas de água nos sistemas de abastecimento.
cobertura dos serviços, permitiu avanços consi- Essas perdas alcançaram patamares elevados
deráveis ao setor de saneamento do País. e tornaram-se um dos maiores problemas
dos sistemas de abastecimento de água do
Desde aquela época, a demanda por serviços de País. Segundo dados do Sistema Nacional de
saneamento fez-se mais forte nas áreas urbanas, Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2003,
por concentrar maiores problemas relativos à o índice médio de perdas de faturamento no Brasil
saúde pública e ao meio ambiente, conseqüência foi de 39,4%, enquanto que o indicador médio das
evidente do crescimento populacional acelerado. perdas na distribuição foi de 502,3 litros/ligação/
Segundo dados do IBGE, a cobertura passou de dia.
45,7% em 1970 para 81,2% em 1991.
Em que pese os altos índices de perdas verificados
Os investimentos em saneamento, seguindo o atualmente, há muitos anos o combate
modelo da maioria das obras de infra-estrutura aos desperdícios de água nos sistemas de
urbana, privilegiaram as grandes obras, com ên- abastecimento tem merecido atenção de técnicos
fase nos sistemas de produção (captação, adutora e pesquisadores do setor saneamento. Desde
e tratamento). 1980, percebeu-se que, não só o crescimento
da demanda, mas também as perdaas e os usos
A lógica dos grandes empreendimentos justificava- inadequados, exigiam ampliações nos sistemas
se pelo emprego do conceito de expansão absoluta produtores, cada vez mais distantes, com custo
da oferta, que era a base, à época, do planejamento marginal elevado. Contudo, as atenções voltadas
dos serviços públicos vinculados a redes de ao problema não foram suficientes para manter
distribuição.Em conseqüência, a tecnologia dos as perdas em patamares aceitáveis.
sistemas evoluiu em maior escala na produção
e tratamento de água e menos nos sistemas de Mais recentemente, a discussão do problema
distribuição e nas ações de desenvolvimento retornou à cena. Para isso contribuíram diversos
institucional. fatores, como o debate nacional em torno da
necessidade de revisão do modelo atual de
O cenário das grandes obras e da expansão gestão dos serviços de saneamento brasileiros,
absoluta da oferta considerava a água doce associando os elevados índices de perdas à
como bem inesgotável, usada em abundância, ineficiência do modelo atual.
sem a preocupação de conter desperdícios e de
promover o uso racional, tudo isso associado à
cultura de que o bem-estar social está diretamente
relacionado ao aumento do consumo.
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A experiência de Guarulhos
Outros temas, como a necessidade de ordenamento há escassez de água e conflitos pelo uso; elevados
dos usos da água, as secas constantes, o aumento volumes de águas não faturadas; e um ambiente
crescente da poluição dos recursos hídricos, a de competição, em que os indicadores que retratam
importância das perdas no cenário da conservação as perdas de água estão entre os mais valorizados
da água, em seu conceito mais amplo, e a exigência para a avaliação de desempenho.
por serviços de maior qualidade também têm
despertado o interesse da sociedade. Tal situação renova e enfatiza a necessidade de se
desenvolver metodologias e procedimentos para a
Tudo isso, agregado aos aspectos econômicos avaliação das perdas, incluindo a construção de
da prestação de serviços de água, na esteira da indicadores – base para o planejamento, a avaliação
reorganização dos serviços públicos, trouxe a figura de resultados e a comparação de desempenho – e
dos entes reguladores, com a função de controlar o estabelecimento de metodologia para avaliação
e fiscalizar a prestação dos serviços, em suas da confiabilidade dos indicadores.
variáveis técnica e econômica. Aos responsáveis
pelos serviços deve interessar, agora, mostrar que Assim, é de fundamental importância adotar
o seu gerenciamento está se dando com qualidade um modelo de gerenciamento das perdas de
e custos eficientes. água, contínuo e sustentável. As soluções para o
problema, no campo tecnológico, são conhecidas
Todo esse quadro fez inverter a lógica da aplicação e as inovações são de mais fácil assimilação pelos
de recursos no setor, dirigindo os investimentos, técnicos dos serviços de abastecimento de água do
prioritariamente, para as ações de desenvolvimento País. No entanto, o mesmo não se pode dizer sobre
institucional, dentre as quais se destacam aquelas a gestão das perdas, que deve estar associada à
de redução e controle das perdas. Programas de gestão dos sistemas como um todo e utilizar-se de
investimentos do Governo Federal e de organismos ferramentas de planejamento; ações integradas
internacionais passaram a exigir menores níveis envolvendo todos os setores do prestador de
de perdas como condição para os prestadores de serviços; orçamento próprio, incluindo competição
serviços acessarem recursos voltados à ampliação pelos recursos internos do prestador; e, sobretudo,
dos sistemas. garantia de que o retorno financeiro das ações seja
reaplicado em novos projetos de redução e controle
A redução das perdas possibilita o melhor de perdas.
aproveitamento da infra-estrutura existente e
a postergação da aplicação de recursos para **Mestre em tecnologia ambiental e recursos
ampliação dos sistemas. Além do mais, possibilita hídricos; coordenador do PMSS - Programa de
um grande retorno financeiro, seja pela diminuição Modernização do Setor Saneamento da Secretaria
dos custos de produção de água seja pelo aumento Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério
do faturamento. das Cidades.
*Compilação do artigo publicado na Revista ECOS,
Uma avaliação simplificada desse retorno estima nº 24, ano 11, junho de 2004, na seção Opinião.
um valor de R$ 2,4 bilhões ao ano, considerando-
se a redução até o patamar de perdas inevitáveis,
previsto em 20%.
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