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Considerações gerais
A palavra rescindir vem do latim rescindire, que significa “invalidar, anular”.
Ainda que poética a visão de Liebman acerca da ação rescisória, não há como
confundi-la, em contornos jurídicos, com a figura do recurso. Isso porque, além da
tramitação da ação rescisória não se dar num mesmo processo, o seu tratamento legal
adota formalidades próprias e específicas.
Desse modo, podemos entender que a ação rescisória tem natureza de ação,
razão pela qual deve observar todos os pressupostos processuais e condições da
ação. Contudo, temos também que ela é uma ação especial, pois tem o objetivo de
desconstituir a decisão transitada em julgado (iudicium rescindens) e para eventual
proferimento de nova decisão de mérito (iudicium rescisorium).
Natureza jurídica
A sua natureza jurídica é de uma ação (especial). Pode ser classificada como uma
ação de caráter declaratório e constitutivo. Declaratório porque visa reconhecer a pre-
sença de algum dos vícios descritos no artigo 485 do Código de Processo Civil (CPC) (v.g.,
existência ou inexistência de uma dada relação jurídica, autenticidade ou falsidade de
determinado documento que foi objeto de exame na antiga decisão etc.). Constitutiva
de forma positiva quando acolher a pretensão do autor e, de forma negativa, quando
rejeitar o pedido do autor (MARTINS, 2005, p. 506).
Previsão legal
Dispõe o artigo 836 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT):
PRÁTICA EM DIREITO DO TRABALHO
Art. 836. É vedado aos órgãos da Justiça do Trabalho conhecer de questões já decididas,
excetuados os casos expressamente previstos neste Título e a ação rescisória, que será
admitida na forma do disposto no Capítulo IV do Título IX da Lei 5.869, de 11 de janeiro
de 1973 – Código de Processo Civil, sujeita ao depósito prévio de 20% (vinte por cento) do
valor da causa, salvo prova de miserabilidade jurídica do autor.
Desse modo, verifica-se que a ação rescisória, na seara trabalhista, terá o mesmo
tratamento da ação rescisória comum (CPC, arts. 485 a 495), à exceção do valor do
depósito prévio.
Decisões rescindíveis
As características para que uma decisão possa ser objeto de ação rescisória
encontram-se no artigo 485 do CPC, que dispõe que “a sentença de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida”.
Decisão homologatória
A regra geral deveria ser a adoção da ação anulatória para rescindir as decisões
de cunho homologatório, conforme se infere do artigo 486 do CPC:
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente
homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei
civil.
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CLT, art. 831. A decisão será proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta de con-
ciliação.
Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irre-
corrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem devidas.
Desse modo, verificamos que a decisão que homologa a conciliação tem o caráter
de irrecorribilidade para as partes, podendo, contudo, ser objeto da ação rescisória.
Por sua vez, a decisão que homologa os cálculos, na fase de execução, apenas será
rescindível quando enfrentar questões envolvidas na elaboração da conta de liquidação.
A simples homologação, sem o enfrentamento dessas questões, não se mostra rescindí-
vel, como se infere das Súmulas 399 e 298 do TST:
Do trânsito em julgado
Faz-se necessário o trânsito em julgado da decisão atacada para a admissibili-
dade da ação rescisória, como dispõe o caput do artigo 485 do CPC.
Contudo, isso não quer dizer que a parte somente poderá interpor ação rescisória
após esgotar todos os meios recursais cabíveis à espécie. Conforme a Súmula 514 do
Supremo Tribunal Federal (STF), “admite-se ação rescisória contra sentença transitada
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em julgado, ainda que contra ela não se tenham esgotado todos os recursos”, ou seja,
ainda que a parte não tenha exaurido o caminho recursal, será possível a impugnação
da decisão por meio da ação rescisória.
Sentença normativa
A sentença normativa, proferida em dissídio coletivo, pode ser objeto de ação
rescisória.
Lei 7.701/88, art. 2.º Compete à seção especializada em dissídios coletivos, ou seção nor-
mativa:
I - originariamente:
[...]
Competência
A competência para processar e julgar a ação rescisória é dos tribunais, conforme
se infere do seguinte dispositivo celetário:
[...]
[...]
2) as ações rescisórias das decisões das Varas do Trabalho, dos juízes de direito investidos
na jurisdição trabalhista, das Turmas e de seus próprios acórdãos.
Legitimidade
O artigo 487 do CPC dispõe sobre a legitimidade para propor ação rescisória,
ditando que:
Petição inicial
Para ser elaborada a petição inicial da ação rescisória, deverão ser observados os
artigos 488 e 282 do CPC.
Art. 488. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do art.
282, devendo o autor:
I - cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento da causa;
II - depositar a importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, a título de
multa, caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou improce-
dente.1
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no n. II à União, ao Estado, ao Município e ao
Ministério Público.
Art. 282. A petição inicial indicará:
I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;
II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido, com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - o requerimento para a citação do réu.
1 No caso da Justiça do Trabalho, por força do artigo 836 da CLT, o depósito prévio correspondente a 20% (vinte por cento) do
valor da causa.
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O autor deve indicar também as provas que pretende utilizar para comprovar a
veracidade dos fatos narrados na ação rescisória. Não se pode esquecer, contudo, que
existem provas que devem ser juntadas desde logo com a inicial (CPC, art. 396), como a
decisão rescindenda e a certidão do seu trânsito em julgado, devidamente autenticadas.
Dever-se-á atender aos critérios estabelecidos pelos artigos 258 a 260 do CPC? Conquanto
possa parecer que a resposta seja afirmativa, não podemos deixar de levar em conta o fato
de que a rescisória visa sempre a um pronunciamento jurisdicional (passado em julgado)
emitido em uma causa a que se atribuíra um valor; desta forma, em princípio, o valor a ser
dado à inicial da rescisória deve ser o mesmo que foi atribuído à demanda anterior, onde
foi proferida a decisão rescindenda. É óbvio que essa identidade de valores não poderá ser
a mesma quando, e.g., a rescisória tiver por objeto apenas parte da decisão atacada.
Hipóteses
O CPC indica em seu artigo 485, taxativamente, nove hipóteses que podem ser
invocadas para a proposição da ação rescisória.
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão
entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar literal disposição de lei;
VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja
provada na própria ação rescisória;
VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de
que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se
baseou a sentença;
IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;
Tais eventos deverão ser provados, não sendo necessário, todavia, que o ilícito
penal seja reconhecido em processo criminal.
[...] o dolo que leva a uma sentença nula pode ser anterior ao ajuizamento da ação ou
posterior. Ex.: o empregado consegue que terceiros se ofereçam ao empregador para ser
testemunhas a seu favor, mas com o propósito, que se concretiza, de favorecerem o recla-
mante. O dolo que autoriza a procedência pode ser da própria parte, de seu advogado ou
de seu preposto.
Deve-se observar que, para poder ser utilizado como hipótese de admissibilidade
da ação rescisória, o dolo deve ter influído de forma substancial na decisão da lide.
[...] para que seja possível, portanto, o aforamento da rescisória com fulcro no inciso III,
segunda parte, do artigo 485 do CPC, é indispensável que:
a) a colusão tenha sido realizada pelas partes (aqui compreendidos, igualmente, os seus
advogados, prepostos ou representantes legais);
b) o pronunciamento jurisdicional reflita a influência nele exercida pela colusão;
c) esta haja sido posta em prática com o objetivo de fraudar a lei.
Para dar azo à ação rescisória, a coisa julgada deve ser material, isto é, que
decorra do julgamento de mérito. A coisa julgada formal não pode ser atacada por ação
rescisória, pois pode ser dada entrada a nova demanda.
[...] um empregado reclama o pagamento de aviso prévio, décimo terceiro salário propor-
cional e férias proporcionais sob o fundamento de que foi despedido sem justa causa. A
reclamação trabalhista é julgada improcedente e o empregado interpõe recurso. O mérito
foi julgado. Houve coisa julgada material. O reclamante ingressa com outra reclamação
exatamente idêntica à primeira e o processo corre à revelia, sendo a reclamação julgada
procedente. O empregador não interpõe qualquer recurso. Surge uma segunda coisa jul-
gada material contrária à primeira e que sobre esta prevalece. A segunda sentença, con-
tudo, pode ser anulada mediante ação rescisória, desde que tal segunda sentença violou a
coisa julgada contida na primeira decisão. (LEITE, 2004, p. 790)
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Entende-se que agiu com acerto o TST ao excluir a Constituição Federal (CF) da
exigência da Súmula 83 do TST, uma vez que não pode imperar posicionamento sobre
interpretação da Lei Maior perante outros tribunais quando a única Corte que pode dar
a derradeira palavra acerca da norma constitucional é o STF.
Se a sentença admite a vigência de uma lei que não mais vigora ou que ainda está
em vigor havendo negativa de aplicação de um preceito legal, também cabe rescisória.
Por fim, segundo a Súmula 408 do TST, a petição inicial da ação rescisória fun-
dada em violação literal de lei deve expressamente indicar o preceito de lei vulnerado.
Prequestionamento
O TST tem exigido, para o cabimento da ação rescisória fundada em violação
literal de dispositivo legal, que haja pronunciamento explícito sobre o tema na decisão
rescindenda (TST, Súmula 298), de forma a obter o prequestionamento da matéria vei-
culada na rescisória. Referido entendimento não é acompanhado pelo STF.
PRÁTICA EM DIREITO DO TRABALHO
A posição adotada pelo STF curva-se à situação de a ação rescisória não ser uma
medida recursal, razão pela qual não haveria necessidade de exigir-se o prequestiona-
mento. Esse procedimento – fruto da política judiciária – tem o intuito de afunilar cada
vez mais o cabimento de recursos de natureza extraordinária, mas não de dificultar a
apresentação de ação rescisória.
Assinale-se, por fim, que a violação há de ser literal, frontal e direta. Nesse sen-
tido, é o exemplo dado por Carlos Henrique Bezerra Leite (2004, p. 792):
[...] quando a sentença declara válido o contrato de trabalho de um servidor público que
não se submeteu à prévia aprovação em concurso público de provas e títulos. Neste caso,
cabe a rescisória com base no inciso V do art. 485 do CPC, uma vez que a decisão rescin-
denda viola a letra do artigo 37, II, parágrafo 2.º, da Constituição Federal.
A condição sine qua non para que a falsidade sirva como possibilidade para o ajui-
zamento de ação rescisória é que a prova da falsidade tenha sido o único ou principal
fundamento da sentença rescindenda. Isso porque a má valoração ou valoração errônea
da prova não autoriza a rescisória.
A transação, por sua vez, pode ser judicial ou extrajudicial. No caso de concilia-
ção judicial, consubstanciada no termo de conciliação, conforme a Súmula 259 do TST,
é possível a interposição da ação rescisória.
E, por fim, a desistência deve ser interpretada como renúncia ao direito em que
se funda a ação, pois só assim poder-se-á fazer coisa julgada material.
Ainda, como salienta Bezerra Leite (2004, p. 794), “o erro deve ser do juiz e não
das partes. Se as partes se equivocaram na inicial e na defesa, induzindo o juiz a erro,
não há que se falar em rescisória”.
PRÁTICA EM DIREITO DO TRABALHO
Irretroatividade
A viabilidade da ação rescisória deve observar a lei vigente na época do trânsito
em julgado da decisão impugnada, sob pena de atentar contra a segurança jurídica.
Nada mais é, portanto, do que a observância do disposto no artigo 5.º, XXXVI, da CF
(respeitar a coisa julgada).
Efeitos
Conforme se infere do artigo 489 do CPC, a ação rescisória via de regra não
suspende a execução da decisão rescindenda, ocorrendo esse efeito nos casos impres-
cindíveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medida de natureza cautelar ou
antecipatória de tutela.
Prazo decadencial
O artigo 495 do CPC prevê que “o direito de propor ação rescisória se extingue
em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão.”
Ainda, tem-se que referido prazo é decadencial. Vale dizer, não está sujeito a
suspensão ou interrupção.
Peça processual
Como acima referido, a peça processual de ingresso da ação rescisória deve obe-
decer aos mesmos requisitos essenciais da petição inicial, constantes do artigo 282 do
CPC.
Endereçamento
O endereçamento da ação rescisória será feito para os tribunais. Se a decisão res-
cindenda tiver origem nas Varas do Trabalho ou nos tribunais regionais, a competência
para apreciar a demanda será dos tribunais regionais. Contudo, se a decisão rescindenda
foi proferida pelo TST, o endereçamento é feito para esse órgão judicial.
Procurador
Considerando-se que na questão objeto do exame da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) a peça processual é confeccionada por advogado devidamente constituído,
faz-se necessário consignar a existência do procurador legal da parte. Essa informação
poderá ser aduzida da seguinte forma:
Com fundamento no artigo 485, inciso (apontar qual inciso), do Código de Pro-
cesso Civil, propor AÇÃO RESCISÓRIA em face da (nome e qualificação da requerida),
pelas razões de fato e de direito que a seguir expõe: [...]
A primeira, noticiando que a medida judicial foi interposta dentro do prazo deca-
dencial fixado em lei, isto é, no prazo de dois anos.
A segunda, noticiando qual das hipóteses legais foi escolhida para o cabimento
da ação rescisória.
Importante chamar a atenção para o fato de que, não obstante o TST ter se posi-
cionado no sentido de que omissão quanto a subsunção do fundamento de rescindi-
bilidade do artigo 485 do CPC ou a capitulação errônea não tornam inepta a peça de
ingresso (TST, Súmula 408), para fins de Exame de Ordem essa falha seria imperdoável.
Assim, deve-se identificar claramente qual das hipóteses do artigo 485 do CPC
foi utilizada como fundamento da ação rescisória, não esquecendo das peculiaridades
de cada situação.
A quarta parte da peça inicial, indicando quais elementos probatórios são instru-
ídos com a ação rescisória para ratificar a pretensão do requerente.2
Pedido
Após a exposição dos fatos e fundamentos jurídicos vem o pedido, ou os pedidos,
porque o artigo 488, I, do CPC permite cumular o pedido de rescisão da decisão e o
pedido de novo julgamento da causa.
2 A título de exemplo, sugere-se consultar Marco Antonio Mazzuca (2004, p. 77-78) e Christóvão Piragibe Tostes Malta (2004,
p. 710-712).
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Requerimentos
Após terem sido deduzidas as pretensões, deve a petição inicial apontar alguns
requerimentos de ordem processual.
Valor da causa
O valor da causa, regra geral, deve corresponder ao valor da ação que o reque-
rente pretende rescindir. Observa-se, portanto, os artigos 258 e seguintes do CPC e a
Instrução Normativa 31 do TST.
Assinatura do advogado
Nome do advogado
3 Em relação aos honorários advocatícios, deverá ser observado o item II, da Súmula 219 do TST.