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DOS BENS

1. Conceito

Bens são todos aqueles objetos materiais ou imateriais que sirvam de utilidade
física ou ideal para o indivíduo.

2. Bens x coisas

Apesar da corrente majoritária defender que a Coisa é o gênero do qual o Bem é


uma espécie. Ou seja, Coisas são todos os objetos existentes – exceto as pessoas – ao passo que
Bens são somente aquelas coisas de valor econômico o legislador, no âmbito legal, adotou uma
corrente oposta a essa que diz que os Bens são gêneros do qual as Coisas são espécies, que os
objetos matérias são as coisas, ou seja, objetos corpóreos. Por outro lado, os Bens abrangem os
objetos matérias (coisas) e os objetos imateriais (ideais). Desse modo, há bens jurídicos que não
necessariamente são coisas por não serem corpóreos como, por exemplo, a liberdade, honra,
integridade moral entre outros.

3. Patrimônio

Em sentido amplo, o conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a um


titular, constitui o seu patrimônio.
Patrimônio, segundo a doutrina, é o complexo das relações jurídicas de uma
pessoa, que tiverem valor econômico.
O patrimônio pode se classificar como sendo:
a) Global: aquele que abrange todas as relações jurídicas de conteúdo econômico
de uma pessoa. (Engloba créditos e débitos);
b) Ativo: restringe-se às relações jurídicas em que a pessoa é credora (sujeito
ativo). Ou seja, créditos que a pessoa venha a receber, podendo ser bruto ou líquido. Tem-se
bruto com a soma de todos os créditos e líquido com seus devidos descontos em decorrência de
suas obrigações.
O patrimônio não inclui as qualidades pessoais, como a capacidade física ou
técnica, o conhecimento, a força de trabalho, porque são considerados simples fatores de
obtenção de receitas, quando utilizados para esses fins, igualmente não integram o patrimônio as
relações afetivas da pessoa, os direitos personalíssimos, familiares e públicos não
economicamente apreciáveis, denominados direitos não patrimoniais.

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3.1. Bens corpóreos e incorpóreos

Os bens corpóreos e os incorpóreos integram o patrimônio da pessoa.


Os bens Corpóreos são aqueles bens físicos, tem sua existência material e podem
ser atingidos pelo homem. Também são considerados bens corpóreos as diversas formas de
energia, como a eletricidade, o gás, o vapor, etc., mesmo que, materialmente, não possamos
atingi-los.
Os bens Incorpóreos são os bens que detém valor econômico e tem sua existência
abstrata ou ideal, como o direito autoral, o crédito, a sucessão aberta, o fundo de comércio etc.

4. Classificação dos bens

O legislador enfoca e classifica os bens sob diversos critérios, levando em conta as


suas características particulares. Ora considera as qualidades físicas ou jurídicas que revelam
(mobilidade, fungibilidade, divisibilidade), ora as relações que guardam entre si (principais e
acessórios), ora a pessoa do titular do domínio (públicos e particulares). Pode um bem
enquadrar-se em mais de uma categoria, conforme as características que ostenta. É possível,
com efeito, determinado bem ser, concomitantemente, móvel e consumível, como a moeda, e
imóvel e público, como a praça, por exemplo.
O Código Civil de 2002, no Livro II da Parte Geral, em título único, disciplina os
bens em três capítulos diferentes:
I - Dos bens considerados em si mesmos.
II - Dos bens reciprocamente considerados.
III - De acordo com a titularidade.

Considerados em si mesmos:
I - Dos bens imóveis.
II - Dos bens móveis.
III - Dos bens fungíveis e consumíveis.
IV - Dos bens divisíveis.
V - Dos bens singulares e coletivos.

Reciprocamente considerados:
I - Bens principais.
II – Bens acessórios.

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De acordo com a titularidade:
I – Bens públicos
II – Bens particulares

4.1. Bens considerados em si mesmos

4.1.1. Bens imóveis

Os bens imóveis são aqueles bens que não se pode transportar de um lugar para o
outro sem o destruir, conhecidos assim como bens raiz, também os bens imóveis por
determinação legal, aqueles que o código traz expresso que serão imóveis independentemente
de suas características, e aqueles bens, por características imóveis, que devido ao avanço
tecnológico da ciência de engenharia é possível sua locomoção conservando sua integridade.
O Código Civil atual descreve, no art. 79, os bens imóveis:

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.

E o art. 80 complementa o enunciado, mencionando os imóveis assim


considerados, para os efeitos legais:

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:


I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.

Quanto a sua classificação, os bens imóveis são atualmente classificados em


imóveis por natureza, por acessão natural, por acessão artificial e por determinação legal
supracitado acima pelo art. 80.
a) Imóveis por natureza — A rigor, somente o solo, com sua superfície, subsolo e
espaço aéreo. Tudo o mais que a ele adere deve ser classificado como imóvel por acessão.
b) Imóveis por acessão natural — Aqueles imóveis que derivam da natureza.
Incluem-se nessa categoria as árvores e os frutos pendentes, compreendem as pedras, as fontes e
os cursos de água, superficiais ou subterrâneos, que corram naturalmente.
c) Imóveis por acessão artificial ou industrial — Entende-se como o imóvel em
que tem origem da vontade do homem, quando decide aderir/construir um imóvel ao solo seja

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ele natural como uma plantação ou uma construção de uma casa, de modo que se não possa
retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano.
d) Imóveis por determinação legal — Aquele bem, que independentemente de
sua característica, o Código Civil traz expresso ser bem imóvel. O direito, pelo Código,
determina a natureza daquele bem mesmo que não confira com sua realidade física/material.
O código ainda traz os bens que não perdem o caráter de imóveis no art. 81:

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:


I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem.

4.1.2. Bens móveis

O código civil define, pelo art. 82 os bens móveis:

Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por
força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Assim,
compreende os bens móveis, os bens que podem mudar de um local para outro sem causar
dano ao bem ou local.

Os bens móveis podem ser classificados por natureza, por antecipação e por
determinação legal.

a) Bens móveis por natureza: Os bens móveis por natureza são aqueles que, por
força própria ou estranha, podem ser transportados sem deterioração e se dividem em
semoventes e propriamente ditos, sendo ambos corpóreos.
I - Semoventes: São aqueles que se movem por força própria, como os animais.
II - Propriamente ditos: São aqueles que sem danificar admitem remoção por força
alheia.

b) Bens móveis por antecipação: São aqueles transformados em bens móveis pelo
ser humano tendo como finalidade o lucro, a economia. (Exemplos: fruta colhida,
madeira cortada, pedra extraída, etc). Por serem tratados como bens móveis, não
requerem escritura pública para serem comercializados.

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c) Bens móveis por determinação legal: São bens imateriais, que adquirem essa
qualidade jurídica quando o Código Civil traz expresso no art. 83:

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:


I - as energias que tenham valor econômico;
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

É importante ressaltar o art. 84 do Código civil:

Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem


empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes
da demolição de algum prédio.

4.1.3 Bens fungíveis

O Código Civil define os bens Fungíveis no seu art. 85:

Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.

Assim, entende-se, os bens fungíveis aqueles cuja substituição possa acontecer


desde que seja da mesma espécie, qualidade e quantidade. Como são homogêneos e
equivalentes, a substituição de umas por outras é irrelevante.
São exemplos de bens fungíveis o dinheiro, a água, caneta etc.
É importante ressaltar que um bem fungível pode ser tornar um bem infungível.
Para isso acontecer é necessário a vontade do detentor do bem. Como exemplo, podemos citar
um empréstimo (mediante contrato) de uma garrafa de vinho para uma exposição com a
obrigação de ser restituída no final. Este empréstimo também chamado de “ad pompam vel
ostentationem” (Para a pompa e ostentação).

4.1.4. Bens infungíveis

Os bens infungíveis, ao contrário de bens fungíveis, são aqueles bens cuja


substituição não é possível devido suas características específicas. É uma característica própria

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dos bens imóveis, mas também se encontra presente em alguns bens móveis como, por exemplo,
os veículos automotores (individualizados por seu chassi, placa etc). A infugibilidade poderá
resultar da natureza do bem ou mediante a vontade das partes.
O Código Civil ressalta a importância da diferenciação dos bens fungíveis e
infungíveis, diferenciando os tipos de empréstimo. No caso de bens fungíveis, o empréstimo
chama-se de mutuo (art. 586, CC/02) e em se tratando de bens infungíveis o empréstimo se
chama de comodato (art. 579, CC/02).

4.1.5. Bens consumíveis

O Código Civil traz o conceito de bens consumíveis expresso no art. 86:


Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da
própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
Os bens consumíveis são aqueles bens móveis em que o detentor daquele bem
adquire com a intenção de satisfazer das necessidades e interesse das pessoas podendo ser de
duas espécies consumíveis de fato (natural ou materialmente consumíveis) e de direito
(juridicamente consumíveis).
a) Consumíveis de fato: São os bens cujo uso para atender as necessidades
humanas gera sua destruição imediata. Como exemplo pode ser citado as frutas, os legumes etc.
b) Consumíveis de direito: São os bens cuja consuntibilidade se dá no âmbito
jurídico. Também destinado a atender interesse das pessoas, mas por meio de alienações. Como
exemplo a alienação de um automóvel.

4.1.6. Bens inconsumíveis

Ao contrário dos bens consumíveis, os bens inconsumíveis são aqueles que podem
ser usados de forma contínua e reiterados sem que isso importe na sua destruição imediata. O
bem inconsumível pode se tornar um bem consumível pela vontade do detentor, como exemplo
o vinho que é consumível, porém, pela vontade do detentor do mesmo que torna objeto de
exposição não podendo assim ser consumível ou alienada.

4.1.7. Bens divisíveis

O Código Civil entende os bens divisíveis pelo seu art. 87:

Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam

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São divisíveis, portanto, os bens que podem sofrer divisão em partes homogêneas e
distintas sem a perda considerável de seu valor. Como exemplo uma barra de ouro partida em
duas partes, cada qual ainda será considerada ouro, ou seja, não perdeu seu caráter substancial
mesmo com a divisão.
Dispõe o art. 88 do Código Civil que os bens naturalmente divisíveis podem
tornar-se indivisíveis por duas hipóteses:

Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por


determinação da lei ou por vontade das partes.

4.1.8. Bens indivisíveis

São aqueles bens no qual não é possível sua divisão sem alterar consideravelmente
seu valor econômico, de substância, qualidade ou utilidade essencial.
Os bens indivisíveis são classificados por natureza, por determinação legal ou
vontade das partes.
a) por natureza: aqueles que não se pode dividir sem diminuição do seu valor
econômico ou alteração de sua substância. Como exemplo uma motocicleta, que ao dividir no
meio, perderia seu valor econômico, alteraria sua substância e não seria mais utilizável.
b) por determinação legal: quando a lei traz expresso impedimento do bem,
como exemplo tem-se o art. 1.791, parágrafo único no qual diz que o direito à sucessão aberta
(herança) é considerado indivisível até o momento da partilha, ou seja, por mais que os bens da
herança em si sejam bens distintos, o conjunto é indivisível até o momento da partilha. Outros
exemplos que podemos extrair do texto legal são os das servidões prediais (Art. 1.386, CC/02) e
direito de hipoteca (art. 1.421, CC/02).
c) por vontade das partes (convencional): A vontade das partes definirá a
indivisibilidade do bem com um acordo/contrato. Uma hipótese legal que poderíamos dá seria a
do art. 1.320, § 1º que nos diz que se duas ou mais pessoas tiverem a posse de um mesmo bem
(ou seja, tiverem em condomínio) poderão requerer a indivisibilidade desse bem por até cinco
anos, sendo lícita sua prorrogação ulterior.

4.1.9. Bens singulares

O Código Civil traz expresso em seu art. 89 sobre os bens singulares:

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Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,
independentemente dos demais.

Os bens são, em regra, singulares sendo coletivos apenas por determinação legal ou
vontade das partes. São singulares, portanto, quando considerados na sua individualidade, como
um cavalo, uma árvore, uma caneta, um papel ou um crédito. Importante relevar que o bem é
singular quando observado na sua individualidade e pode se tornar coletivo quando houver
vários da mesma espécie. Essa regra não se aplica a todos, como exemplo uma caneta e uma
árvore. A árvore, agregada a outras, forma um todo, uma universalidade de fato (uma floresta),
mas a caneta só pode ser bem singular, porque a reunião de várias delas não daria origem a um
bem coletivo, ainda que reunidas, seriam consideradas de per si, independentemente das demais.
Os bens singulares podem ser classificados como:
a) Simples: são aqueles bens que, reunidos, estão ligados pela própria natureza,
como um cavalo, uma árvore.
b) Compostos: são aqueles bens que são ligadas pela indústria humana, como um
edifício.

4.1.10. Bens coletivos

Os bens coletivos são chamados, também, de universais ou universalidades.


São aqueles constituídos de bens singulares formam um todo (individualidade
incomum), mas sem que desapareça a condição jurídica de cada parte (autonomia funcional).
O Código Civil divide os bens coletivos em universalidade de fato em seu art. 90 e
universalidade de direito em seu art. 91.

Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,


pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de
relações jurídicas próprias.
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de
uma pessoa, dotadas de valor econômico.

A universalidade de fato distingue-se dos bens compostos pelo fato de ser uma
pluralidade de bens autônomos a que o proprietário dá uma destinação unitária, podendo ser
alienados conjuntamente, em um único ato, ou individualmente, na forma do citado parágrafo
único.

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A universalidade de direito tem a presença dos bens singulares incorpóreos. Nesse
caso, reúnem-se os direitos existentes sobre os bens corpóreos como, por exemplo, o direito de
herança.
A distinção fundamental entre a universalidade de fato e a de direito está em que a
primeira se apresenta como um conjunto ligado pelo entendimento particular (decorre da
vontade do titular), enquanto a segunda decorre da lei, ou seja, da pluralidade de bens corpóreos
e incorpóreos a que a lei, para certos efeitos, atribui o caráter de unidade, como na herança, no
patrimônio, etc.

4.2. Bens reciprocamente considerados

Os bens reciprocamente considerados estão divididos em bens principais e


acessórios.

4.2.1. Bens principais

O Código Civil define os bens principais na primeira parte do art. 92:

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; ...

Os bens principais são aqueles que tem sua existência própria, autônoma, que
existe por si.
Quanto aos bens imóveis, o solo é o bem principal e tudo que se incorporar nele de
forma permanente é acessório. No caso dos imóveis, o bem principal é aquele para o qual se
destina um acessório. Por exemplo, a caneta é um bem principal e sua tampa um bem acessório.

4.2.2. Bens acessórios

O Código Civil define os bens principais na segunda parte do art. 92:

  Art. 92. ...; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.

Acessório é aquele cuja existência depende do principal.


Os bens acessórios podem ser:
a) Naturais: aqueles que aderem naturalmente ao bem principal. Como, por
exemplo, as arvores e seus frutos.

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b) Civis: aqueles que aderem ao bem principal por determinação legal, não
dependendo de vinculação material. Exemplos: Juros, aluguel etc.
c) Industriais: aqueles que aderem ao principal por força de engenho humano.
Como exemplo pode ser citado um prédio que é erguido sobre um lote de terra.

4.2.2.1. Espécies de bens acessórios

São espécies de bens acessórios os frutos, produtos, benfeitorias e pertenças.

4.2.2.1.1. Fruto

É toda utilidade que um bem produz de forma periódica e cuja percepção mantém
intacta a substância. Embora sejam bens acessórios, podem ser objetos de relações jurídicas
próprias. Os frutos têm duas classificações distintas:
I) Com relação à sua natureza: (segue as definições já supracitadas)
a) naturais ou verdadeiros (por exemplo a fruta de uma arvore);
b) civis (determinação legal – por exemplo o aluguel);
c) industriais (por exemplo uma caneta fabricada)
II) Com relação a vinculação com o bem principal e seu estado:
A) percebidos ou colhidos: aqueles que já foram colhidos, separados do bem
principal.
B) pendentes: aqueles que ainda estão unidos naturalmente ao bem principal.
Exemplo: uma fruta que ainda está ligada à arvore que a produziu.
C) percipiendos: aqueles que deveriam ter sido colhidos, mas ainda não foram.
D) estantes: são os frutos que já foram colhidos e encontram-se armazenados ou
acondicionados para venda.
E) consumidos: são os frutos que não existem mais por sua condição natural de
consumo ou por perecerem.

4.2.2.1.2. Produto

O produto pode ser confundido com o fruto, porém existe uma diferença.
Enquanto os frutos são bens que se reproduzem periodicamente, os produtos são
bens que se retiram da coisa desfalcando a sua substância e diminuindo a sua quantidade. Uma
fruta de uma arvore, por exemplo, ao ser colhido nascerá outro periodicamente, por isso são
tidos como frutos. Por outro lado, os minerais extraídos de uma jazida e o petróleo extraído de
um poço, são produtos por não haver essa reprodução periódica.

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O art. 95 do Código civil traz:

Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos
podem ser objeto de negócio jurídico.

4.2.2.1.3. Benfeitoria

É toda espécie de despesa ou melhoramento realizada em um bem com o fim de


evitar sua deterioração (benfeitoria necessária), aumentar seu uso (benfeitoria útil) ou dá mais
comodidade (benfeitoria voluptuária).
O Código civil em seu art. 96 expressa:

Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.


§ 1º São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso
habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2º São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3º São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se
deteriore.

É válido ressaltar que a benfeitoria não cria coisa nova, apenas incrementa. Como o
art. 97 do Código Civil expressa:

Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos


sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.

4.2.2.1.4. Pertenças

As pertenças têm seu conceito no art. 93 do Código civil:

Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se
destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.

Em regra, são os bens móveis que servem aos imóveis, como, por exemplo, um ar-
condicionado em um estabelecimento comercial, mas excepcionalmente, um bem imóvel
também pode ser pertença.
É importante destacar o que diz o art. 94 do Código civil:

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Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem
as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso.

4.3. Bens quanto ao titular do domínio: públicos e particulares

4.3.1. Bens públicos

O código Civil, na primeira parte do art. 98, considera os bens públicos como:

Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas


jurídicas de direito público interno; ...

É válido já dizer que, para a doutrina majoritária, a definição de bem público não
deveria ser tratada pelo direito civil, tendo em vista ser esta uma vertente do direito privado.
Para eles, o mais correto seria que essa definição e classificações fossem tratadas pelo direito
constitucional e administrativo.

4.3.1.1. Classificação dos bens públicos

A classificação dos bens públicos é trazida expressa no art. 99:

Art. 99. São bens públicos:


I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou
estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de
suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito
público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

a) Bens públicos de uso comum: Os bens de uso comum do povo são aqueles
bens que, embora pertençam a uma pessoa jurídica de direito público, podem ser utilizados pelo
povo. Ou seja, o domínio do bem é do poder público, mas o seu uso é estendido a qualquer
pessoa do povo como, por exemplo, os mares, rios, ruas etc. Esse bem de uso comum pode ser
gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração
pertencerem como estabelece o Código Civil em seu art. 103:

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Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído,
conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem.

É importante destacar que o inciso I do art. 99 do Código Civil, que conceitua os


bens de uso comum do povo, é meramente exemplificativo, existindo outros bens de uso
comum do povo não expresso como as praias.

b) Bens públicos de uso especial: São os bens destinados especialmente aos


serviços públicos. Como exemplo pode ser citado o prédio no qual está locada a sede da
prefeitura de um município, o prédio de uma escola municipal ou estadual, hospitais, etc., (bens
imóveis); ou até mesmo as canetas, computadores, mesas etc. (bens móveis).

c) Bens dominicais: Também conhecidos como bens do patrimônio disponível,


são os que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Incluem-se nessa categoria as terras devolutas, as estradas de ferro, oficinas e
fazendas pertencentes ao Estado. Não estando afetados a finalidade pública específica, os bens
dominicais podem ser alienados por meio de institutos de direito privado ou de direito público
(compra e venda, legitimação de posse etc.), observadas as exigências da lei, conforme expressa
o art. 101 do Código civil:

Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as


exigências da lei.

Os bens dominicais são do domínio das pessoas jurídicas de direito público


conforme expressa o parágrafo único do art. 99:

Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os


bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de
direito privado.

4.3.1.2. Alienação dos bens públicos

Sobre a alienação dos bens públicos o Código Civil expressa nos artigos 100 e 101:

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Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são
inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as
exigências da lei.

Conforme os artigos acima elencados os bens públicos de uso comum do povo e os


de uso especiais são, em regra, inalienáveis, isto é, enquanto conservarem a sua qualificação, na
forma que a lei determinar (bens afetados). Por outro lado, os bens públicos dominicais podem
ser alienados, observadas as exigências da lei (bens desafetados).
Uma observação importante é a de que os bens públicos não estão sujeitos a
usucapião conforme o art. 102 do Código Civil:

Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.

4.3.1.3. Características dos bens públicos

As características dos bens públicos são:


A) Inalienabilidade: característica somente dos bens afetados (bem de uso comum
e especial). Esses bens, enquanto conservarem a sua qualificação, não podem ser alienados.
B) Imprescritibilidade: são imprescritíveis (não prescrevem) as pretensões da
administração pública com relação aos bens públicos.
C) Impenhorabilidade: decorre da característica da inalienabilidade dos bens
públicos, ou seja, os bens públicos não podem ser dados como garantia e não podem ser objeto
de execução judicial (adjudicação ou arrematação).

4.3.2. Bens particulares

Os particulares são definidos por exclusão conforme expressa a segunda parte do


art. 98 do Código civil:

Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas


jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a
que pertencerem.

São aqueles bens que não pertencem a nenhum órgão ou entidade de domínio
público. Ou seja, aqueles bens que não pertença à União, aos Estados, aos Municípios, ao DF,
às autarquias, às fundações públicas de direito público, etc.

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4.4. Bens quanto à possibilidade de serem ou não comercializados: bens fora
do comércio e bem de família

O bem de família foi deslocado, no novo Código Civil, para o direito de família,
estando regulamentado nos arts. 1.711 a 1.722.
O vocábulo comércio era empregado no sentido jurídico, significando a
possibilidade de compra e venda, a liberdade de circulação, o poder de movimentação dos bens.
Coisas no comércio são, por conseguinte, as que se podem comprar, vender, trocar, doar, dar,
alugar, emprestar etc.; fora do comércio são aquelas que não podem ser objeto de relações
jurídicas, como as mencionadas.
Esse capítulo não foi reproduzido no Código de 2002.
Todavia, pode-se dizer que se encontram na situação de bens extra commercium,
por não poderem ser objeto de relações jurídicas negociais, mesmo não mencionados
expressamente, os bens:
a) naturalmente inapropriáveis: os insuscetíveis de apropriação pelo homem, como
o ar atmosférico, a luz solar, a água do mar etc.;
b) legalmente inalienáveis: bens públicos de uso comum e de uso especial, bens de
incapazes, bens das fundações, lotes rurais de dimensões inferiores ao módulo regional (Lei n.
4.947/66, art. 10, § 2º), bem de família (CC, art. 1.711), bens tombados, terras ocupadas pelos
índios (CF, art. 231, § 4º) etc.; e
c) indisponíveis pela vontade humana: deixados em testamento ou doados, com
cláusula de inalienabilidade (CC, arts. 1.848 e 1.911).

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5. Referências

BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1a edição. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. “Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivIl_03/Leis/2002/L10406.htm>. ” Acesso em: novembro de
2018.
LACERDA, Victor. Direito Civil – Bens. 2016. “Disponível em:
<https://vwavee.jusbrasil.com.br/artigos/394018532/direito-civil-bens>. ” Acesso em:
novembro de 2018.
PINTO, Davi Souza de Paula. Definições e disposições gerais de bens jurídicos.
In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI, n. 55, jul 2008. “Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3083>”. Acesso em
novembro de 2018.

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