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A mídia e os conflitos do Oriente Médio

Marcel Mohamad Mustafa Ali

Professor Orientador: Fábio Hansen

RESUMO:

O presente artigo reflete sobre os problemas no oriente médio, em especial ao conflito


Israel – Palestina, contando a história e analisando a forma com que a mídia trata a tensão e
conseqüentemente o impacto das notícias sobre a opinião pública.

PALAVRAS CHAVE: Palestina; Israel; Mídia; Agenda-setting; Conflito; Opinião


Pública

INTRODUÇÃO

Este artigo trata sobre a forma com que a mídia retrata os conflitos (guerras) no oriente
médio, em especial ao conflito entre Israel e Palestina.

No primeiro momento o artigo contextualiza o leitor sobre o conflito, trazendo um


conteúdo histórico, que vem desde o séc. XIX até o presente momento.

Após esta primeira passagem o texto se utiliza de autores consagrados nas áreas de
teorias da comunicação e sociologia, (como Pierre Bourdieu, E. Noelle Neuman, Cláudio
Camargo, entre outros) para pensarmos sobre a mídia como um todo. Tratando de conteúdos
como agenda-setting, espiral do silêncio, fatos-ônibus, entre outros que explicitem o poder da
mídia em relação à sociedade.

No terceiro momento haverá uma relação entre o conflito e a forma com que a mídia
trata do mesmo, haverão exemplos de noticias veiculadas nos principais meios de
comunicação do Brasil e do mundo, para mostrar o quanto os mesmos distorcem a noticia a
favor de seus interesses, tanto econômicos como ideológicos.

No quarto e último momento haverá uma reflexão sobre o assunto e sobre as


conseqüências do problema.
1
CRONOLOGIA DO CONFLITO

Todos sabem que existem diversos conflitos no Oriente Médio, alguns que começaram
há pouco tempo e outros que são resultado do colonialismo e do imperialismo ocidental. No
centro das atenções está o conflito entre israelenses e palestinos. O problema começou após o
I Congresso Sionista, em 1897, onde ficou decidido que alguns rabinos de Viena enviariam
dois representantes à Palestina, na época habitada majoritariamente por árabes. “Era uma
missão exploratória para verificar a viabilidade das decisões daquele Congresso, que havia
aprovado a criação de um “lar nacional” na Palestina para o povo judeu”. (CAMARGO, 2008,
p. 427). A resposta que os rabinos de Viena receberam por telegrama foi “A noiva é bela, mas
está casada com um outro homem”, o que explicitava claramente que aquelas terras já eram
habitadas pela população árabe.

Com o tempo o Movimento Sionista começou a ganhar força, principalmente após o


jornalista judeu húngaro Theodor Herzl (7860-1904) escrever o livro Der Jundenstaat (o
Estado Judeu). O livro defendia a criação de um estado nacional judaico, devido ao anti-
semitismo existente na Europa Central e Ocidental.

Os sionistas tiveram sua primeira grande vitória diplomática em meio à Primeira


Guerra Mundial com a Declaração Balfour, de 1917, uma carta que o ministro do
Exterior britânico Arthur James Balfour enviou ao lorde L.W Rothschild, na qual
expressava o apoio do governo de Sua Majestade Britânica ao projeto sionista. Na
época da declaração, a população judaica na Palestina era de cerca de 56 mil
pessoas, contra uma população nativa árabe de 644 mil almas. Os sionistas
acreditavam que os benefícios econômicos trazidos pela emigração judaica
atenuariam a resistência árabe à entrada de judeus na Palestina. (CAMARGO, 2008,
p. 428-429)

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, a comunidade


internacional se viu obrigada a tomar uma decisão perante a questão judaica, ou seja, a criação
de um Estado próprio.

Segundo o autor de “A indústria do Holocausto”, Norman G. Finkelstein, “O


Holocausto”1 tem uma conexão tênue do que realmente foi o holocausto nazista ¹.

O Holocausto não é uma arbitrariedade, mas uma construção internamente coerente.


Seus dogmas centrais sustentam interesses políticos e de classes. Na verdade, O
Holocausto provou ser uma indispensável bomba ideológica. Em seus
desdobramentos, um dos maiores poderes militares do mundo, com uma horrenda
reputação em direitos humanos, projetou-se como um Estado “vítima”
(FINKELSTEIN, 2001, p.7)

1
Neste texto, holocausto nazista significa o fato histórico, da forma como ele realmente aconteceu, O Holocausto, por sua
vez, a representação ideológica criada pelos sionistas.
2
Neste contexto, no dia 14 de maio de 1948, foi proclamada a existência do Estado de
Israel, que foi imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos e pela União Soviética.
(SMITH, 2007)

Um dia após a declaração da existência do Estado de Israel o mesmo foi atacado por
forças regulares da Síria, Egito, Transjordânia, Iraque e Líbano, mas “Ao contrário do que diz
a historiografia oficial israelense, a Guerra da Independência de Israel não foi uma luta de
Davi contra Golias.” (CAMARGO, 2008, p. 432). Houve sim um equilíbrio militar no campo
de batalha, reconhecido inclusive por muitos historiadores israelenses.

A tensão era grande entre Israel e os demais países da liga árabe, que no ano de 1964,
durante a Conferência do Cairo, haviam declarado que seu principal objetivo era a destruição
do Estado de Israel. A liga árabe sabia que seu poderio militar era infinitamente inferior ao
israelense. Neste mesmo ano surge a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), desde
1958 existia também a organização guerrilheira da Palestina Al Fatah, que buscava utilizar
países árabes como base para ações militares contra Israel. O Al Fatah incorporou-se à OLP
no ano de 1964, mas agia de forma independente. (CAMARGO, 2008)

Em junho de 1967 o governo de Israel recebe autorização dos EUA para atacar. Neste
momento começa a Guerra dos Seis Dias. No primeiro dia a Força Aérea Israelense (FAI)
destrói cerca de 400 aviões árabes. No segundo dia as tropas israelenses cruzam a fronteira
norte do Sinai. No terceiro dia pára-quedistas israelenses conquistam a cidade velha de
Jerusalém. 9 de junho as Forças de Defesa Israelense (FDI) ataca a Síria e como saldo final da
guerra relâmpago, Israel havia ocupado Cisjordânia, Gaza, Jerusalém oriental, as colinas do
Golã e a península do Sinai. O conflito custou a vida de 4.300 soldados árabes contra 980
israelenses (CAMARGO, 2008.).

Em 1969, Yasser Arafat se torna líder da OLP, que em 1974 é reconhecida pela ONU
como representante do povo palestino. Em 1973 ocorre a guerra do Yom Kippur, que foi no
dia em que os árabes atacaram Israel de surpresa, durante o feriado do yom kippur. Em 1987
ocorre a primeira intifada, que consiste na revolta do povo palestino contra a ocupação
israelense, onde jovens palestinos foram às ruas lutar contra o exército israelense, mas a
diferença é que suas armas eram paus e pedras, contra tanques e fuzis. (CAMARGO, 2008;
SMITH, 2007)

3
Após a guerra do golfo, o governo americano decide mediar a paz entre Israel e
Palestina. Como conseqüência, em 1993 ocorre os históricos acordos de Oslo, que consistiam
na “entrega de partes da Cisjordânia e Gaza aos palestinos e a criação da Autoridade Nacional
Palestina (ANP), embrião de um futuro Estado palestino.” (CAMARGO, 2008)

Em 1996, Arafat é eleito presidente da ANP e Netanyahu ganha as eleições em Israel.


Netanyahu é contra o acordo de Oslo e acaba congelando as resoluções para o
conflito.(SMITH, 2007)

Em setembro de 2000 Ariel Sharon, ministro da defesa do Estado de Israel, visitou a


Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, também conhecida pelos muçulmanos como Al
Sharif. Local onde os islâmicos acreditam que Maomé teria subido ao céu e os judeus
reverenciam o local pela construção do primeiro e do segundo templos. A visita causou
grande revolta pela parte dos palestinos, o que ocasionou a segunda intifada do povo
palestino, que teve conseqüências muito mais agressivas que a primeira, especialmente após a
eleição de Ariel Sharon como primeiro ministro.

“Ataques suicidas e de carros-bomba pelos palestinos; e envio de foguetes,


execuções sumárias e ataques com tanques por Israel. Em meados de 2002 estes
ataques destruíram grande parte da infra-estrutura administrativa da Autoridade
Palestina – sua capacidade física e logística para exercer autoridade. Israel, então,
inicia a construção de um muro separando fisicamente o seu território da
Cisjordânia. A construção desse muro não apenas interrompeu subitamente o
contato destes dois povos como também determinou quais indivíduos que poderiam
ultrapassá-lo.” (SMITH, 2007, p. 65)

Hoje os palestinos são o maior grupo de refugiados do mundo, tanto dentro quanto
fora de Israel, numero que consiste em 3,8 milhões de refugiados, este que cresce cerca 3% ao
ano (dado de 2004). A população no Estado de Israel no ano de 2004 era de 4.188.000
palestinos e 6.400.00 Judeus. Em Gaza a população palestina é de 1.178.000 que ocupa cerca
de 60% do território, contra uma população de 6.900 colonos judeus, que ocupam 40% do
território, sendo a densidade demográfica da parte ocupada pelos judeus de 48 pessoas por
Km² contra 5.451 pessoas por Km² da parte palestina (considerada a maior densidade
demográfica com mundo). (SMITH. 2007).

A MÍDIA

Existem diversos intelectuais que se dedicam a estudar a mídia e sua influencia sobre a
sociedade. Dentre eles temos Pierre Bourdieu e Elizabeth Noelle-Neumann que são
referencias nas áreas de sociologia e teorias da comunicação, nesta respectiva ordem.

4
Primeiro veremos uma análise no ponto de vista de Bourdieu depois iremos refletir sobre as
teorias de Noelle-Neumann e fazer ligações com o conflito árabe-israelsense.

Os meios de comunicação se utilizam de uma censura invisível, na medida em que o


assunto e as condições da comunicação são impostos. Além do mais, o tempo usado para
informar sobre determinado assunto é tão pequeno que é praticamente impossível que algo
possa ser dito. Para atrair audiência/leitores os meios publicam fatos-ônibus. “Os fatos-ônibus
são fatos que, como se diz, não devem chocar ninguém, que não envolvem disputa, que não
dividem, que formam consenso, que interessam a todo mundo, mas de modo tal que não
tocam nada de importante ” (BOURDIEU, 1996, p. 23). Os fatos-ônibus são importantes para
os meios de comunicação na medida em que eles ocupam tempo/espaço, estes que poderiam
ser usados para dizer outras coisas. (BOURDIEU, 1997)

Outro ponto a ser questionado é o paradoxal fato de que a mídia consegue ocultar
mostrando. Mostrando algo diferente do que deveria ser mostrado sobre determinado
problema, para que haja dificuldade para se interpretar o fato, construindo um sentindo não
correspondente à realidade. Ela pode tanto exagerar fatos que não sejam de suma importância
como diminuir a importância de fatos relevantes. (BOURDIEU, 1997)

No âmbito das teorias da comunicação, tem uma famosa teoria criada por E. Noelle
Neumann que é chamada de agenda-setting, que segundo Donald Shaw:

Em conseqüência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de


informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou
negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas têm tendência
para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media
incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir
àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de perto a ênfase
atribuída pelos mass media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoa (SHAW,
apud WOLF, 2001, p. 144).

Esta passagem nos leva a entender que mídia tem o poder de determinar (agendar) o
tema que será falado pelo grande público através dos assuntos que ela põe em pauta nos seus
veículos. Confirmando mais uma vez o que foi dito por Pierre Bourdieu na sua obra “Sobre a
Televisão”.

A mesma Elizabeth Noelle-Neumann fala sobre a Espiral do Silêncio, teoria que tem
como base o fato de que os indivíduos podem ser excluídos de seus grupos de convívio caso
manifestem uma opinião que não vá de acordo com o que considerem que seja a opinião da
grande maioria do grupo.

5
“Isso significa dizer que o isolamento das pessoas, de afastamento do convívio
social, acaba sendo a mola mestra que aciona o mecanismo do fenômeno da opinião
pública, já que os agentes sociais têm aguda percepção do clima de opinião. E é esta
alternância cíclica e progressiva que Noelle-Neumann chamou de Espiral do
Silêncio” (LAGE, 1998, p. 16).

A MÍDIA E O CONFLITO

O conflito Israel-Palestina está praticamente todos os dias na agenda da mídia, porém


a forma com que ele é abordado é inadequada. A imprensa apenas joga algumas informações
maquiadas, distorcendo a realidade. Isso faz com que, segundo a teoria da espiral do silêncio,
exista uma falsa opinião pública, então pessoas que se manifestam a favor da causa Palestina,
por exemplo, tendem a se calar, pois os meios de comunicação são sionistas e difamam os que
vão contra o estado de Israel, seja não noticiando uma passeata contra o massacre que ocorre
na Faixa de Gaza ou dando a entender que um ativista que leva ajuda ao povo palestino é
terrorista.

Para ilustrar melhor a situação iremos analisar primeiramente duas notícias veiculadas
no g1, portal de noticias da Rede Globo:

Israel lançou ataques aéreos sobre a Faixa de Gaza nesta terça feira (25, madrugada
no horário local) depois que militantes palestinos dispararam um foguete e morteiros
em território hebreu, afirmaram autoridades palestinas e militares israelenses.
Médicos palestinos disseram que cerca de dez pessoas ficaram levemente feridas
pelos destroços dos ataques aéreos. Não há registros de vítimas do lado israelense.
Um grupo de militantes palestinos que se identifica com a Al Qaeda assumiu a
responsabilidade por disparar o foguete e os morteiros contra Israel desde Gaza,
região controlada pelo Hamas. (Notícia publicada em 25/05/2010, no portal g1,
assinado pela agência Reuters )

A primeira noticia se trata de foguetes disparados por palestinos ao território


Israelense, no caso o jornalista trata os “terroristas” como militantes. Outro ponto a ser
observado é o momento em que a noticia trata a Faixa de Gaza como região controlada pelo
Hamas, dando a entender que o Hamas dominou a região através de meios ilícitos e violentos,
sendo que foi através de eleições legitimas, que ocorreram no ano de 2006, além do mais eles
governam e não controlam a Faixa de Gaza.

Israel expulsa militantes pró-palestinos. JERUSALÉM, Israel, 2 Jun 2010 (AFP) -


Criticado por todos os lados, Israel expulsou nesta quarta-feira centenas de ativistas
estrangeiros pró-palestinos após a decisão do primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu de expulsar todos os presos durante o ataque contra a flotilha que viajava
para Gaza. "Apenas um dos prisioneiros está atualmente na prisão", declarou à AFP
o porta-voz da administração penitenciária israelense, Yaron Zamir. Por sua vez, a
porta-voz do serviço de imigração indicou que "404 passageiros da flotilha esperam
6
para deixar o aeroporto Ben Gourion (em Tel Aviv) e 102 estão a caminho do
aeroporto para serem repatriados”[...] O processo de expulsão foi acelerado após a
decisão do gabinete de segurança israelense presidido na terça-feira por Netanyahu
de mandar todos para seus países em 48 horas, segundo a rádio militar israelense. A
maior parte dos governos de países que possuíam cidadãos a bordo dos navios da
"flotilha da liberdade" pediu a sua "libertação imediata". [...] (Notícia publicada em
02/06/2010, no portal g1, assinada pela agência France Presse)

A segunda noticia fala sobre centenas de ativistas pró-palestina que foram expulsos de
Israel. Se observarmos a noticia avulsamente é de causar estranheza o fato de ativistas serem
chamados de militantes.

Se compararmos as duas notícias, veremos que a imprensa deu o mesmo tratamento


aos ativistas (da segunda notícia), que levam ajuda aos palestinos, que deu aos “terroristas”
(da primeira notícia). Pois chamou ambos de militantes. Seria a intenção deles, que
relacionássemos os ativistas com terroristas?

Outro ponto a ser observado é o tratamento em questão de repercussão dos atos de


terror por ambos os lados. Se um palestino ataca, é um ataque terrorista, se Israel ataca é uma
ofensiva ou até um “incidente”.

GAZA (Reuters) - Uma patrulha naval israelense matou pelo menos quatro
militantes palestinos com equipamentos de mergulho na segunda-feira na costa de
Gaza, disseram fontes do grupo islâmico Hamas e do Exército de Israel. "Uma
patrulha naval israelense avistou um barco com quatro homens em trajes de
mergulho, a caminho de realizarem uma ação terrorista, e atirou contra eles", disse
um porta-voz militar, sem esclarecer qual seria o suposto alvo do ataque militante.
[...] O incidente2 ocorreu oito dias depois de soldados israelenses invadirem barcos
que tentavam furar o bloqueio imposto à Faixa de Gaza, matando nove ativistas
turcos. No sábado, Israel impediu outra embarcação de chegar ao encrave palestino,
desta vez sem violência. [...] Também na segunda-feira, fontes do Hamas e de
hospitais disseram que um avião israelense jogou um míssil contra militantes num
terreno perto da Cidade de Gaza, ferindo gravemente um homem. Um porta-voz
militar de Israel confirmou que o míssil tinha como alvo um grupo de militantes que
estaria tentando lançar um foguete contra Israel. (Notícia publicada em 07/06/2010
no portal g1, assinada por Nidal al Mughrabi )

O incompreensível na notícia acima é o contraditório fato de ela deixar claro


que Israel atacou conscientemente, mas usar termos como “incidente” para o fato. Que
segundo o dicionário mini Aurélio 6ª Edição Revista Ampliada significa: “[...] 2. sm.
Circunstancia acidental.”. Ou seja, algo que não foi intencional.

Três policiais israelenses ficaram feridos, dois deles gravemente, após levarem tiros
de palestinos armados em um ataque no veículo onde estavam na Cisjordânia, nesta

2
O ataque aos mergulhadores palestinos é considerado um incidente
7
segunda-feira (14), disse a policia. “Foi definitivamente um ataque terrorista3. Foi
realizado em um veículo policial comum”, disse o porta-voz da polícia, Micky
Rosenfeld. Nenhum grupo palestino se responsabilizou pelo ataque. Os três feridos
foram socorridos a um hospital. (Notícia publicada em 14/06/2010 no portal g1,
assinada pelo próprio site e pela Reuters)

Esta outra notícia logo de início trata o fato como um ataque e em nenhum momento
fala de incidente, confronto, resistência ou qualquer outro sinônimo. Além de mostrar um
discurso que chama mais uma vez os palestinos de terroristas. Comparando as duas notícias
anteriores fica evidente que eles conseguem vitimar três policiais feridos e incriminar quatro
mergulhadores mortos.

Se formos procurar o significado da palavra terrorismo, o dicionário Aurélio tem como


definição:

Terrorismo
s.m. Uso ou a ameaça de violência, com o objetivo de atemorizar um povo e
enfraquecer sua resistência. &151; Entre os atos mais comuns de terrorismo estão o
assassinato, o bombardeio e o seqüestro. O terrorismo político é utilizado para
conquistar ou conservar o poder.

Pelo que podemos notar a mídia distorce o termo terrorismo, pois quem usa da
violência para conservar/conquistar o poder é o estado de Israel e não os palestinos. Os
palestinos oferecem resistência. Se bombardeio é considerado ataque terrorista, ainda mais se
tratando de um contexto de atemorizar e enfraquecer a resistência palestina, a notícia anterior
na parte em que fala: “Também na segunda-feira, fontes do Hamas e de hospitais disseram
que um avião israelense jogou um míssil contra militantes num terreno perto da Cidade de
Gaza, ferindo gravemente um homem”. Deveria ser tratado como um ataque terrorista, mas
para a mídia eles jamais serão terroristas.

Estes exemplos se enquadram no capítulo do livro “Sobre a Televisão” em que


Bourdieu fala sobre o fato de os meios de comunicação ocultar mostrando. “Os jornalistas têm
“óculos” especiais a partir dos quais vêem certas coisas e não outras; [...]. Eles operam uma
seleção e uma construção do que é selecionado” (BOURIDEU, 1997, pg. 25)

Outra teoria que se aplica a estes exemplos é a Espiral do Silêncio, pois a mídia trata
os palestinos como terroristas e os israelenses como vítimas que apenas se defendem deste
terror. Assim qualquer pessoa que apóie a causa palestina tende a não manifestar
publicamente, já que os meios de comunicação dão a entender que a opinião pública é a favor
3
O confronto dos palestinos com os policiais israelenses é considerado um ataque terrorista
8
de Israel. Se é uma pessoa que não tem opinião formada ela terá maior propensão a aderir à
suposta maioria, ou seja, a falsa opinião pública.

Isso reforça a disponibilidade para a expressão e para a evidência dos pontos de vista
difundidos pelos mass media, e daí o poder que essa evidência tem sobre aqueles
que não formaram ainda uma opinião própria. O resultado final é que, muitas vezes,
a repartição efectiva da opinião pública se regula pela opinião reproduzida pelos
mass media e se adapta a ela (WOLF, 2001, pg.144)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em raros momentos as instituições de comunicação nos fazem realmente refletir sobre


os problemas que estão acontecendo no Oriente Médio. Os motivos pelos quais levam um
homem em sã consciência a plantar uma bomba no seu corpo ou os motivos pelos quais levam
ativistas do mundo inteiro a fazer levantes para ajudar o povo palestino.

A falta de informação, ou distorção de informação faz com que cada vez mais os
ocidentais sejam preconceituosos e intolerantes em relação ao mundo árabe. O ocidente está
se tornando cada vez mais etnocentrista e os indivíduos estão pensando cada vez menos no
mundo, na sociedade como um todo. Talvez porque vivemos na sociedade da urgência,
urgência em ganhar dinheiro, urgência em ser popular, urgência em ser parte de um todo. Esse
todo é composto por milhões de indivíduos, cada um com uma história, uma opinião, que a
mídia simplesmente homogeneíza, mostrando apenas o ponto de vista dos que tem poder, mas
assinando em nome da “massa”.

Não é apenas o povo palestino que a mídia cala, lembremos dos tibetanos, dos saarauis
e tantos outros povos ou classes que são minoria na sociedade e não tem espaço para contar a
sua historia, seu ponto de vista, suas verdades.

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REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.

CAMARGO, Cláudio, Guerras árabes-israelenses. In MAGNOLI, Demetrio (org.) História


das Guerras, São Paulo: Contexto, 2008. p. 425-452.

LAGE, Louise Costa. Do silêncio à fala: O caminho da mensagem jornalística. 1998.


Dissertação

WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação – Mass media: contextos e paradigmas, Novas


tendências, Efeitos a longo prazo, O newsmaking. Trad. Maria Jorge Vilar de Figueiredo –
Lisboa: Editorial Presença 2001.

FINKELSTEIN, Normam. A Indústria do Holocausto, Rio de Janeiro: Record: 2001

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/06/ataque-palestino-deixa-tres-policiais-israelenses-
feridos-na-cisjordania.html

acesso dia 23/06/2010

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/06/israel-mata-4-militantes-com-roupa-de-
mergulho.html

acesso dia 23/06/2010

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/06/israel-expulsa-militantes-pro-palestinos.html

acesso dia 23/06/2010

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/05/israel-bombardeia-gaza-apos-ataques-de-
militantes-palestinos.html

acesso dia 23/06/2010

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