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E-BOOK

APRESENTAÇÃO

Olá amigo (a),

O meu nome é Thiago Garcia, sou conhecido como “Delta Thiago” nas redes
sociais. Algumas pessoas escolhem as suas batalhas. No meu caso, fui escolhido pelas
minhas. Aos sete anos de idade, durante uma viagem, meu pai faleceu. Desse modo, já
na infância, tive que me transformar no homem da casa para cuidar da minha família.
Foi uma época bem difícil, quase passamos fome.

Percebi que a única saída era vencer pelos estudos. Comecei a estudar firme
desde esse período, mas os colegas da escola achavam isso incomum. Passei a ser vítima
de bullying. As agressões verbais e físicas eram constantes. Resultado: as minhas notas
eram quase todas “10”, mas repeti o ano por faltas.

Depois veio a fase “depressiva”. Não tinha vontade de sair de casa em razão de
tudo que ocorreu. Com muito esforço, comecei a cursar Direito. Trabalhava em dois
lugares (inclusive vendi revistas como ambulante), quase tive que trancar a matrícula
por falta de grana e tive apenas um livro durante os cinco anos: um Vade Mecum da
Rideel totalmente desatualizado!

Nesse período, meus avós – morávamos com eles – ficaram doentes. Tive que
ajudar minha mãe nos cuidados com eles. Em diversas situações, estudei nos hospitais.
Com o término da faculdade, o contrato dos meus estágios acabou e fiquei
desempregado. Além disso, meus avós faleceram e a namorada que estava comigo há
quatro anos terminou nosso relacionamento por telefone.

Mesmo com todos esses problemas, graças a minha força de vontade e a Deus,
consegui dar a volta por cima. Estudei sozinho – não tinha dinheiro para fazer cursinho
– e passei no concurso de Delegado de Polícia de São Paulo aos 25 anos de idade, na
primeira tentativa. Obtive também outras aprovações na primeira tentativa e sem
cursinho (SAP, MPF, OAB, TRF etc.), usando as técnicas e estratégias que desenvolvi.

Recebi homenagens, como a do Poder Legislativo de Campo Grande (título de


“visitante ilustre”), ganhei um prêmio da minha faculdade por ter conseguido a melhor
nota/média dos 5 anos, lancei um Vade Mecum com meu nome, escrevi livros em três
editoras diferentes (JusPodivm, LTr e Rideel), comecei a fazer palestras no Brasil inteiro,
passei a dar aulas nos melhores cursos junto com meus ídolos (CERS etc.), lancei meus
próprios cursos e atualmente sou o Delegado/Professor mais seguido do Brasil, com um
milhão de seguidores nas redes sociais (@deltathiago).

Por isso, caro(a) leitor(a), fica registrado o meu conselho: acredite em você,
tenha fé, lute e realize seus sonhos! Passe o trator nos obstáculos. Vale a pena!

Na próxima página deixei um convite para você!

ATENÇÃO: O conteúdo deste e-book é protegido pelas leis que cuidam dos direitos autorais. É proibida a
reprodução total ou parcial sem autorização do autor, sob pena de sanções criminais e cíveis.
3

Participe do meu curso gratuito pelo Telegram. Baixe esse aplicativo no seu
celular e entre no meu canal: Delta Thiago.

Siga-me no Instagram, no You Tube e no Twitter: Delta Thiago.

No Facebook estou como Delegado Thiago.

Nas minhas redes sociais apresento dicas de estudo e questões que despencam
na OAB e em concursos públicos (Delegado de Polícia, Magistratura, Ministério Público
etc.).

Fique com Deus!

Thiago Garcia.

ATENÇÃO: O conteúdo deste e-book é protegido pelas leis que cuidam dos direitos autorais. É proibida a
reprodução total ou parcial sem autorização do autor, sob pena de sanções criminais e cíveis.
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PROJETO

Este e-book faz parte do meu livro “Tudo o que você precisa saber sobre:
Delegado de Polícia, Lei Maria da Penha e Princípio da Insignificância”, lançado pela
Editora Rideel, com quase mil páginas, que aborda centenas de temas cobrados na OAB
e em concursos públicos. Serve para concurseiros e profissionais. O prefácio dessa obra
foi escrito pelos melhores juristas do Brasil (Rogério Greco, Cleber Masson, Pedro Lenza,
Norberto Avena, Paulo Gustavo Guedes Fontes, Márcio André Lopes Cavalcante, entre
outros).

Com relação à Lei Maria da Penha, a minha vó faleceu e foi vítima de injustiça.
Tentei aplicar a citada lei para protegê-la. Lutei com todas as minhas forças em nome da
pessoa que sempre amarei, mas na época dos fatos eu era somente um jovem pobre no
início da faculdade, sem recursos e sem apoio. Fui engolido pelo sistema e prevaleceu a
impunidade. Não podemos controlar o mal que praticam contra nós, mas temos o poder
de escolher o que faremos com ele. Eu escolhi transformar o veneno que me feriu em
antídoto. Hoje, como Delegado de Polícia, Professor, Escritor e Palestrante, aplico essa
lei e consigo ajudar inúmeras mulheres, que precisam do auxílio que minha vó não
recebeu. No meu livro, desenvolvi teses que poderão ser usadas em nível nacional para
combater a violência doméstica e familiar. Esse câncer faz o Brasil ser um dos cinco países
mais perigosos do mundo para as pessoas do sexo feminino viverem, em virtude da
grande quantidade de crimes que são praticados aqui contra elas. Essa luta também é
dos homens, não é só das mulheres, como parece ser para muitos! Pensar o contrário é
prova de machismo e de ignorância. A sobrevivência da sociedade civilizada está em
jogo, na medida em que é impossível imaginar a sua permanência, se o mar de sangue
feminino continuar nos sufocando.

Neste e-book eu vou te mostrar um projeto que criei. Ele é revolucionário


porque não necessita de alteração na lei nem de recursos financeiros. Estou
trabalhando para implementá-lo em todos os Estados do Brasil. Essa providência é fácil
e permite concretização imediata, milhares de mulheres serão protegidas! Só
precisamos de união e boa vontade. Diversos juristas, artistas e políticos já abraçaram o
meu projeto. Mas é necessário ter mais apoio! Governadores, Secretários de Segurança
e Delegados Gerais podem implementar este projeto com uma simples canetada.

Conhece alguém que pode nos ajudar nessa luta? Divulgue o projeto e entre em
contato comigo (contato@deltathiago.com). Se quiser ver a minha entrevista sobre ele,
acesse: https://www.youtube.com/watch?v=sXGjy0jUP_4.

Seguem algumas das principais matérias sobre o meu trabalho e projeto:

Revista Veja - Delegado de Polícia se torna referência nacional no combate à


violência contra a mulher
https://veja.abril.com.br/economia/mfpress/delegado-de-policia-se-torna-referencia-
nacional-no-combate-a-violencia-contra-a-mulher%EF%BB%BF/

ATENÇÃO: O conteúdo deste e-book é protegido pelas leis que cuidam dos direitos autorais. É proibida a
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Jornal Correio do Povo - Delegado contou em entrevista ao Correio do Povo como se


tornou referência no Brasil no combate à violência contra a mulher
https://www.correiodopovo.com.br/blogs/di%C3%A1logos/thiago-garcia-adoto-
medidas-que-n%C3%A3o-s%C3%A3o-comuns-1.340172

Jovem Pan – Lei Maria da Penha


https://blog.jovempan.com.br/mulheresdapan/nova-lei-maria-da-penha-promove-
desigualdade-entre-mulheres-diz-delegado/

Jornal O Globo – Medida protetiva para transexual


https://oglobo.globo.com/sociedade/em-sp-policia-civil-faz-curso-contra-homofobia-
23757012

Revista Exame - Delegado de Polícia que virou fenômeno na rede social afirma que o
‘vitimismo’ é uma desculpa
https://exame.abril.com.br/negocios/mfpress/delegado-de-policia-que-virou-fenomeno-
na-rede-social-afirma-que-o-vitimismo-e-uma-desculpa%EF%BB%BF/

Rede Record - Delegado de Polícia e palestrante motivacional tenta usar persuasão


para redimir criminosos
http://cartaodevisita.r7.com/conteudo/25056/delegado-de-pol-cia-e-palestrante-
motivacional-tenta-usar-persuas-o-para-redimir-criminosos

Juntos somos mais fortes!

Abraço,

Thiago Garcia.

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reprodução total ou parcial sem autorização do autor, sob pena de sanções criminais e cíveis.
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MEDIDAS PROTETIVAS INFORMAIS


CONCEDIDAS PELO DELEGADO DE POLÍCIA
Diante do veto presidencial em relação à Lei nº 13.505/2017 (art. 12-B),
considerando a baixíssima eficácia da Lei nº 13.827/2019 (art. 12-C) e a necessidade
inadiável de auxílio imediato para todas as vítimas de violência, pensamos que é
totalmente viável o Delegado de Polícia conceder medidas protetivas informais a elas,
instrumento idealizado por nós que busca a concretização de direitos fundamentais e
de Justiça. Nas palavras do Min. Luís Roberto Barroso, “tudo o que é correto, justo e
legítimo deve encontrar um caminho no Direito” (STF, RE nº 845.779).

De acordo com a Lei Maria da Penha (arts. 12, III, e 18, caput), um pedido de
medida protetiva demora,1 no mínimo, quatro dias para ser analisado, sendo que, em
algumas localidades, há informações dando conta que a vítima espera até seis meses2
para ter uma resposta do Poder Judiciário. Para se ter uma noção desse absurdo, basta
imaginar o paciente que está em situação de perigo e precisa de uma vaga na UTI. Seria
como deixá-lo no corredor do hospital, aguardando por longo período a liberação da
vaga. Há alguma dúvida sobre o que ocorreria com esse paciente? Não conseguimos
parar os ponteiros do tempo para a urgência, a violência e o perigo.

A gravidade desse quadro aumenta quando percebemos que o Brasil é um dos


cinco países mais perigosos do mundo para as mulheres viverem, em virtude do número
elevado de infrações penais que são praticadas contra elas aqui.3

Tal cenário viola o princípio da proibição de proteção deficiente. O Estado está


desrespeitando a Constituição Federal (art. 226, § 8º, entre outros) e diversos
compromissos por ele assumidos no âmbito do Direito Internacional (art. 3º da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher;
art. 7º da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher; entre outros), na medida em que não tem concedido instrumentos eficazes
para inibir a prática de infrações penais contra as mulheres. Não há como continuar
esperando a boa vontade dos políticos. Quase duas décadas já se passaram desde o
reconhecimento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos em relação à
omissão do Brasil no combate à violência doméstica e familiar (Caso Maria da Penha).

Uma das soluções para combater o referido problema é a medida protetiva


informal. É protetiva porque a providência tem como objetivo salvaguardar a mulher. É
informal porque não tem previsão legal.

1 A concessão "imediata" (sem demora) de medida protetiva (afastamento do agressor) está prevista
apenas no art. 12-C da Lei Maria da Penha. Conforme exposto no tópico anterior, esse dispositivo tem
alcance limitadíssimo. Em geral, somente os Delegados de Polícia que atuam em cidades muito pequenas
podem usá-lo. Por conseguinte, pouquíssimas mulheres são beneficiadas por ele.
2 Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4057685&disposition=inline>.
Acesso em: 18 jun. 2018.
3 Disponível em: <http://g1.globo.com/hora1/noticia/2015/11/brasil-e-o-quinto-pais-do-mundo-em-
ranking-de-violencia-contra-mulher.html>. Acesso em: 6 abr. 2018.

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Ressalte-se que a ausência de previsão legal não impede o seu implemento. Isso
porque criamos um formato que permite a concretização imediata, independentemente
da atuação do Poder Legislativo e sem necessidade de recursos financeiros. O Delegado
de Polícia continuará sem poderes para decretar as medidas dos arts. 22, 23 e 24 da Lei
Maria da Penha.4 Mas terá meios para diminuir o perigo representado pelo agente. É
aqui que entram em campo as medidas protetivas informais.

Em suma, as medidas protetivas informais são advertências feitas pelo Delegado


de Polícia ao suposto agressor, dando-lhe ciência no sentido de que deve respeitar os
direitos da mulher, tendo em vista os dispositivos da legislação nacional e internacional
que a protegem, sob pena de prisão.

Na condição de primeiro garantidor da Justiça, no exercício das suas nobres


funções (arts. 144, §§ 1º e 4º, da CF; 2º, caput, da Lei nº 12.830/2013), o Delegado de
Polícia não precisa de previsão legal para determinar que o sujeito cumpra a lei. Trata-
se de corolário lógico das suas missões constitucionais e legais. Seria desarrazoado
sustentar, por exemplo, que o Delegado de Polícia não pode falar para o namorado que
ele deve respeitar a integridade física da sua namorada.

Note-se que a advertência conta com certo grau de eficiência, caso contrário,
não seria uma das penas do art. 28 da Lei de Drogas. Na nossa proposta, por não ser
pena, ela não depende de previsão legal.

Por outro lado, é interessante observar a Lei de Execução Penal:

Art. 152. Poderão ser ministrados ao condenado, durante o tempo de permanência, cursos
e palestras, ou atribuídas atividades educativas.
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar
o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.
(grifos nossos)

Ora, sendo uma das funções da pena a prevenção, ao estabelecer que o


condenado por violência doméstica deve participar de programas de reeducação, o
legislador deixa claro que a informação, além de ter caráter pedagógico, possui natureza
inibitiva.

As medidas protetivas informais concedidas pelo Delegado de Polícia também


são baseadas em informações dadas ao agente e têm como escopo evitar a prática de
infrações penais contra a mulher. Logo, verifica-se que, já no início da persecução penal,
em muitos casos, é possível obter resultados que só seriam obtidos após o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, no curso da execução penal.

4 Evidentemente, a exceção diz respeito ao art. 12-C.

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Se o agente respeitar as advertências feitas pelo Delegado de Polícia, ele


alcançará a sua reeducação de modo antecipado. Essa mudança precoce de postura e
de pensamento impede a prática de crime contra a mulher e resulta em um processo a
menos no sistema criminal. Como se vê, os benefícios são evidentes!

Feitos esses esclarecimentos iniciais, vejamos as hipóteses de aplicação das


medidas protetivas informais.

Se o agressor é conduzido à Delegacia de Polícia em flagrante e fica preso, a


questão é simples, pois o Delegado de Polícia envia o pedido de medida protetiva
formal5 ao Poder Judiciário (art. 12, III, da Lei nº 11.340/2006) junto com a
documentação da prisão. Enquanto não sair a decisão do Juiz, ele permanecerá
encarcerado, sem oferecer perigo à vítima.

Há ainda mais três possibilidades: o agente foi conduzido à Delegacia em situação


de flagrante, mas foi solto pelo Delegado de Polícia mediante o pagamento de fiança
(art. 322 do CPP); o agente foi conduzido à Delegacia, mas não é caso de prisão em
flagrante, seja por causa da falta de estado flagrancial (art. 302 do CPP), seja por causa
da ausência de fundada suspeita contra ele (art. 304, § 1º, do CPP); o agente não foi
conduzido à Delegacia, apenas a mulher compareceu para registrar boletim de
ocorrência contra ele. Nessas situações, principalmente nas duas primeiras, é possível o
Delegado de Polícia conceder medidas protetivas informais à vítima, caso constate a
necessidade e o enquadramento na Lei Maria da Penha. Na última possibilidade,
evidentemente, a medida dependerá da existência de condições favoráveis, pois não é
sempre que a Polícia Judiciária consegue localizar e intimar o suspeito.

Registre-se que as medidas protetivas informais não substituem as formais. As


primeiras servem principalmente para não deixar a vítima desamparada enquanto não
saem as segundas. Na prática, isso significa que o Delegado de Polícia continuará
enviando os pedidos de medidas protetivas formais ao Poder Judiciário normalmente.

As medidas protetivas informais também são úteis quando a vítima não deseja
solicitar as protetivas formais, quando as formais são indeferidas pelo Poder Judiciário
e até mesmo quando as formais são deferidas, já que nesse último caso representam
um reforço para a proteção da mulher.

5 Para nós, as medidas protetivas formais são aquelas previstas na legislação (arts. 22, 23 e 24 da Lei Maria
da Penha). Com o advento da Lei nº 13.827/2019, as medidas protetivas formais podem ser divididas em:
judiciais e policiais. Em regra, somente o Juiz concede as medidas protetivas formais. Excepcionalmente,
apenas uma medida protetiva formal pode ser concedida pelo Delegado de Polícia ou por outro Policial: a
de afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida (art. 12-C da Lei Maria
da Penha). Já as medidas protetivas informais são aquelas não previstas expressamente em lei e concedidas
pelo Delegado de Polícia.

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No que diz respeito à concessão das medidas protetivas informais, o Escrivão de


Polícia deverá registrar que o agente foi advertido pelo Delegado de Polícia no sentido
de que não poderá praticar nenhuma conduta (lesionar, matar, ameaçar, xingar,
perturbar etc.) que viole os direitos da mulher,6 tendo em vista as normas nacionais e
internacionais que combatem a violência doméstica e familiar, sob pena de prisão. O
agente deverá assinar o documento. Caso não queira assinar, duas testemunhas
deverão assinar, atestando que presenciaram a leitura do documento para o agente.

Nessa oportunidade, a mulher deverá ser informada sobre todos os seus direitos,
bem como sobre a necessidade de acionamento imediato dos órgãos de segurança
pública em caso de perigo, para que sejam adotadas as providências cabíveis contra o
agente. Pensamos que também é útil esclarecer para a mulher que ela pode e deve
guardar todos os tipos de prova (gravação de imagens e de sons, prints de mensagens
enviadas por aplicativos de comunicação etc.) para que o agente seja responsabilizado
eventualmente.

Mesmo não tendo a força de uma medida protetiva formal, a medida protetiva
informal tem aptidão para inibir a prática de infrações penais contra a mulher. Entre
quatro paredes com a mulher, muitos “homens” se sentem inabaláveis, mas dentro de
uma Delegacia de Polícia, na frente da autoridade policial, a covardia e a valentia saem
de cena, tendo em vista o prestígio que o referido agente público ainda possui junto à
sociedade.

Em tom firme, o agente deverá ser advertido sobre as consequências jurídicas


(limitações da Lei Maria da Penha, cabimento de prisão em flagrante, de prisão
preventiva etc.), caso deixe de observar as advertências feitas na Delegacia de Polícia.
Sabendo que poderá ser preso, com certeza ele pensará mais antes de atentar contra a
vítima.

Evidentemente, a medida protetiva informal não é garantia absoluta de


preservação da incolumidade da mulher, nem a medida protetiva formal ostenta tal
característica. Mas esse paliativo é melhor do que nada! Atualmente, as mulheres saem
das Delegacias de Polícia apenas com os boletins de ocorrência em mãos.7 Enquanto as
decisões sobre os pedidos de protetivas formais não saem, elas ficam totalmente
vulneráveis.

Quanto ao descumprimento das medidas protetivas informais, se o agente ignorar


as advertências feitas pelo Delegado de Polícia, inexiste a possibilidade de aplicar o
crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha e a causa de aumento de pena prevista no art.
121, § 7º, IV, do CP, tendo em vista a ausência de previsão legal.

6 Mesmo sendo algo raríssimo, se o agente tiver que praticar um delito sob o abrigo de alguma excludente
do crime, é evidente que ele não poderá ser prejudicado nem preso por causa disso, tendo em vista a
aplicação da teoria geral do Direito Penal. Exemplo: o agente lesiona a sua esposa para se defender de uma
agressão injusta praticada contra ele por iniciativa dela. Incidem sobre esse caso os arts. 23, II, e 25 do CP.
7 Essa é a regra, tendo em vista o alcance limitadíssimo do art. 12-C.

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Não obstante, observadas as hipóteses do art. 302 do CPP, o agente poderá ser
preso em flagrante. Ignorar as advertências equivale a praticar algum tipo de infração
penal contra a mulher, pois, em geral, quase todas as advertências são baseadas em
infrações penais.

O Delegado de Polícia poderá também deixar de arbitrar fiança, sob o argumento


de que entende que é cabível a prisão preventiva para garantir a execução das medidas
protetivas formais (arts. 313, III, e 324, IV, do CPP).

Por oportuno, averbe-se que o próprio Poder Judiciário já usou a advertência feita
pelo Delegado de Polícia como razão de decidir:8

Ora, nenhuma irregularidade havendo na r. decisão que decretou a prisão preventiva, o que
as peças que instruem o presente procedimento estão a demonstrar é que o paciente
realmente não faz jus ao benefício da liberdade provisória, especialmente pelo fato de
desobedecer ordem judicial para manter-se afastado da vítima desde quando decretada a
medida protetiva relacionada a Lei Maria da Penha, quando foi devidamente advertido pelo
Delegado de Polícia acerca da necessidade do cumprimento daquelas determinações.

Ainda que se trate de infração penal de menor potencial ofensivo, a inserção do


agente no cárcere é possível. Isso porque a Lei Maria da Penha (art. 41) afasta a
utilização da Lei dos Juizados Especiais Criminais para os casos regidos por ela. Logo, não
cabe a lavratura de termo circunstanciado (art. 69 da Lei nº 9.099/1995), devendo ser
confeccionado auto de prisão em flagrante.

Como se vê, o Delegado de Polícia conta com instrumentos para dar efetividade
às medidas protetivas informais.

Vejamos um caso hipotético.

Tício é conduzido à Delegacia de Polícia, porque teria praticado vias de fato contra
Raimunda. Após a adoção das providências necessárias, o Delegado de Polícia verifica
que não foram preenchidos os requisitos da prisão em flagrante. Porém, antes de
dispensar o conduzido, a autoridade policial concede medidas protetivas informais para
Raimunda, sendo Tício advertido sobre elas. No boletim de ocorrência fica registrada a
concessão.

Passado algum tempo, Tício é levado novamente ao Plantão Policial, porque teria
ameaçado Raimunda. Ao consultar o sistema, o Delegado de Polícia percebe que houve
concessão anterior de medidas protetivas informais, ocasião em que ele foi advertido
de que deveria respeitar os direitos de Raimunda, inclusive no que se refere à
necessidade de se abster de praticar infrações penais contra ela, como o delito de
ameaça.

8
TJSP, 7ª Câm. de Dir. Crim., HC nº 0231253-42.2011.8.26.0000, rel. Christiano Kuntz, j. 1º-12-2011.

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Diante do histórico do agente, considerando o descumprimento da medida


protetiva informal, presentes os elementos necessários para a custódia cautelar, o
Delegado de Polícia decreta a prisão em flagrante de Tício.

No que concerne às semelhanças entre as medidas protetivas formais e as


informais, esse caso hipotético demonstra que o descumprimento de uma medida
protetiva informal pode ter a mesma consequência imediata gerada pelo
descumprimento de uma medida protetiva formal: a prisão em flagrante! Se a medida
tivesse sido concedida pelo Juiz, o agente responderia, no mínimo, pelo crime do art.
24-A da Lei Maria da Penha, sem prejuízo do concurso com outras eventuais infrações
praticadas contra a ofendida. No caso da medida protetiva informal, ele responderia
apenas pela infração penal praticada (crime de ameaça).

Quanto à fiança, como se sabe, o crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha não
comporta fiança em solo policial. Já no que tange às outras infrações penais perpetradas
contra a mulher (ex.: crime de ameaça), embora não exista proibição expressa de fiança
em solo policial para elas, o Delegado de Polícia pode entender que o caso não comporta
fiança (arts. 313, III, e 324, IV, do CPP). Em outras palavras, também em relação à fiança,
a medida protetiva informal é parecida com a medida protetiva formal.

Ressalte-se que há ainda outras semelhanças entre as medidas protetivas formais


e informais. Na prática, entre as medidas protetivas mais concedidas pelo Poder
Judiciário às mulheres, estão as previstas nestes dispositivos da Lei Maria da Penha:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente,
as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
(…)
II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III – proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo
de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
(...).

Quanto à medida do art. 22, II, ainda que o caso não se amolde ao art. 12-C, II, se
a mulher for a responsável pelo local (proprietária, locatária, possuidora etc.), o
Delegado de Polícia pode determinar o afastamento imediato do agente, caso essa seja
a vontade da mulher, sob pena de prisão. Isso é possível porque o crime de violação de
domicílio (art. 150 do CP) não é configurado apenas quando o agente entra em casa
alheia. Ele também resta caracterizado quando o agente permanece na casa contra a
vontade de quem de direito. Nessa modalidade, o delito é permanente, ou seja, a sua
consumação se prolonga no tempo, autorizando, portanto, a prisão em flagrante do
agente durante o período de sua permanência no local (art. 303 do CPP).

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reprodução total ou parcial sem autorização do autor, sob pena de sanções criminais e cíveis.
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Na jurisprudência:9

Violação de domicílio qualificada. Período noturno. Caracterização. Se o réu permaneceu na


residência à noite, contra a vontade da vítima, cometeu o crime de violação de domicílio na
forma qualificada. Apelação não provida.

Se a mulher não for a responsável pelo local, o Delegado de Polícia pode


determinar que uma equipe a acompanhe para assegurar a retirada de seus pertences
do local da ocorrência ou do domicílio familiar, nos termos do art. 11, IV, da Lei Maria
da Penha.

Nessa linha:10

HABEAS CORPUS. Violência doméstica. Trancamento da ação penal por alegada nulidade,
consistente em invasão de domicílio pelos agentes da lei. Não cabimento. Policiais civis que,
a pedido do Delegado de Polícia, acompanharam a vítima de violência doméstica, também
moradora no local (residência do paciente), para que esta retirasse seus pertences,
oportunidade em que ele cometeu os crimes de ameaça e resistência, pelos quais se
encontra custodiado. Hipótese em que o paciente cometeu os crimes dias após ser
agraciado com o livramento condicional. Trancamento da ação que implicaria ofensa ao
devido processo legal. Ordem denegada.

No que se refere à medida do art. 22, III, o Delegado de Polícia pode advertir o
agente que ele deve respeitar a tranquilidade da mulher, de modo que ela não seja
perturbada, sob pena de prisão. A aproximação física ou o contato abusivo por qualquer
meio (telefone, mensagens pela internet etc.) com a mulher tem o condão de atrair o
art. 65 da Lei das Contravenções Penais (perturbação da tranquilidade).

O paralelo que existe entre a protetiva do art. 22, III, da Lei Maria da Penha, e o
art. 65 da Lei das Contravenções Penais já foi mencionado pela jurisprudência:11

Agiu com erro o paciente diante de uma desinteligência conjugal, contudo não houve
violência e o potencial da ameaça há que ser melhor perscrutado ante as circunstâncias da
ocorrência. O paciente não tem maus antecedentes e goza de boa conduta social, sendo
conhecido advogado no Distrito Federal. Não há, portanto, evidente perigo à integridade
física da vítima ao ponto de manter todas as medidas protetivas deferidas, senão como
poderá o paciente engendrar os termos de uma separação conjugal se proibido de dialogar
com a ex-consorte a respeito, ou mesmo de se aproximar da mesma para instrumentalizar
propostas e assinar os respectivos termos. Desnecessárias, na hipótese as medidas
protetivas de proibição de aproximação e contato com a ofendida, as quais restam
revogadas, cabendo à vítima, em se tratando de aproximação ou contato abusivo de direito,
registrar ocorrência policial por perturbação da tranquilidade, já que todos gozam do direito
de não serem importunados.

9
TJDFT, 2ª T. Crim., ApR nº 20171510042007, rel. Jair Soares, j. 8-11-2018.
10
TJSP, 14ª Câm. de Dir. Crim., HC nº 20737050720178260000, rel. Miguel Marques e Silva, j. 25-5-2017.
Em igual sentido: STJ, HC nº 403.509, rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 31-8-2017.
11
TJDFT, 3ª T. Crim., HC nº 07061514220188070000, rel. Demetrius Gomes Cavalcanti, j. 24-5-2018.

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Expostos os principais pontos das medidas protetivas informais, apresentamos


abaixo um modelo que todos(as) os(as) colegas Delegados(as) de Polícia poderão usar
no dia a dia das suas Delegacias a fim de que o projeto em tela seja implementado
imediatamente em nível nacional.

TERMO DE CONCESSÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS INFORMAIS

Às _____ horas do dia _____ do mês de _____ de _____, na sede do Plantão Policial de _____,
presentes o(a) Delegado(a) de Polícia Exmo(a). Dr(a). _____ e o(a) Escrivão(ã) de Polícia _____,
compareceu a declarante Sra. _____ (nome ou nome social), _____ (qualificação), relatando
que _____ (resumo sobre os fatos), sendo apontado(a) como autor(a) o(a) Sr(a). _____ (nome),
_____ (qualificação). Diante do quadro exposto, o(a) Delegado(a) de Polícia determinou o
registro de boletim de ocorrência (nº_____), visando à adoção das providências cabíveis. Ato
contínuo, o(a) Delegado(a) de Polícia concedeu medidas protetivas informais à declarante. O(a)
suposto(a) autor(a) foi advertido(a) no sentido de que deve respeitar todos os direitos da
declarante, tendo em vista principalmente os dispositivos da Constituição Federal (arts. 1º, III,
3º, I e IV, 5º, I, II, III e X, 226, § 8º, entre outros); da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher (arts. 1º, 2º, 3º, entre outros); da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (arts. 1º, 2º, 3º, 4º,
5º, 6º, 7º, entre outros) e da Lei Maria da Penha (arts. 2º e 3º, entre outros). Ele(a) foi
advertido(a) que não deve praticar perturbação (art. 65 da LCP) da tranquilidade (por meio de
aproximação física, pela internet, pelo telefone, por carta etc.); vias de fato (art. 21 da LCP);
lesão corporal (art. 129, § 9º, do CP); feminicídio (art. 121, § 2°, VI, do CP); calúnia (art. 138 do
CP); difamação (art. 139 do CP); injúria (art. 140 do CP); constrangimento ilegal (art. 146 do CP);
ameaça (art. 147 do CP); violação de domicílio (art. 150 do CP); dano (art. 163 do CP); estupro
(arts. 213 e 217-A do CP) e qualquer tipo de conduta que caracterize violência física, psicológica,
sexual, patrimonial e moral (art. 7º da Lei nº 11.340/2006) contra a declarante e seus familiares,
sob pena de prisão imediata. Também foi informado(a) sobre as outras consequências legais
ligadas à inobservância das presentes advertências, bem como sobre a importância da
reeducação para o progresso individual e social, sob a ótica da redução da violência doméstica
e familiar contra a mulher. Por fim, a declarante foi informada sobre os direitos que lhe são
garantidos pela Lei Maria da Penha, sobre a necessidade de acionamento imediato dos órgãos
de segurança pública em caso de perigo e sobre a utilidade de guardar todas as provas (fotos,
áudios, vídeos, prints etc.) relacionadas à violação dos seus direitos. Nada mais.

__________________________
Delegado(a) de Polícia

__________________________
Escrivão(ã) de Polícia

__________________________
Declarante

__________________________
Suposto(a) Autor(a)

Esperamos contribuir para a construção de uma sociedade melhor. Acreditamos


que a jornada do ser humano no Planeta Terra é marcada pelas seguintes missões:
evoluir, ser feliz e cooperar para que todas as pessoas e o meio social possam progredir
também. Para que esses objetivos sejam alcançados, além de cultivar a Justiça, o amor,
o respeito e a paz, cada um de nós precisa deixar a zona de conforto de lado para fazer
o que a maioria não faz.

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