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Resumo
Um grande impulso na construção de habitações populares no Brasil ocorreu na década de 70. Edifícios de
até quatro pavimentos em alvenaria resistente foram empregados como uma alternativa de baixo custo. A
principal característica destas construções é a utilização de blocos de vedação com função estrutural. Esse
tipo de sistema tem fundamentação técnico-científica questionável e não encontra amparo normativo. As
paredes mais solicitadas dessas edificações não atendem aos critérios de segurança e apresentam ruptura
brusca com colapso progressivo. A estabilidade das edificações existentes só pode ser explicada
considerando-se algum incremento na capacidade de carga da parede decorrente da capa de revestimento
existente. Este trabalho apresenta análise do desempenho de paredes construídas com blocos cerâmicos,
revestidas com argamassa de cimento, cal e areia. Foram ensaiados prismas com e sem revestimento de
argamassa e os resultados obtidos mostram que há incremento da capacidade de carga dos prismas revestidos
para ações compressivas.
Palavras-chave: Alvenaria resistente, prismas de alvenaria, alvenaria, alvenaria estrutural, revestimento
Abstract
Popular buildings in Brazil grew up quickly in the decade of seventy. Buildings of up to four storeys made
using non structural units as the main resisting system were used as a low cost solution. This type of system
does not have scientific support and there is no code to allow its use. The walls most stressed of these
buildings do not satisfy safety criteria and exhibit fragile failure, characterized by a gradual collapse. The
stability of the existing buildings can only be explained considering some increment in the load capacity
generated by the existing covering layer. This work presents analysis of the performance of walls made from
clays bricks, covered with cement, lime and sand mortar. Prisms were tested and the gotten results showed
Keywords: Resistant masonry, prisms, masonry, structural masonry, mortar
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, ocorreram diversos acidentes com edifícios construídos em alvenaria de
blocos cerâmicos ou de concreto destinados a vedação, mas utilizados com finalidade estrutural, no
estado de Pernambuco. A prática construtiva local se caracterizava pelo uso dos blocos assentados
com os furos na horizontal, resultando numa estrutura que apresenta ruptura brusca e colapso
progressivo [1]. Estes sinistros têm chamado a atenção da comunidade técnica para a necessidade
de se estabelecer critérios de projeto de reabilitação que permitam uma intervenção corretiva nestas
edificações com níveis de confiabilidade aceitáveis. Estima-se que o problema com estas
edificações na Região Metropolitana do Recife atinja aproximadamente 250.000 pessoas, o que
representa 10% da população. Do ponto de vista do projeto, são escassas as informações sobre
técnicas de recuperação deste tipo de construção, e o que se tem observado na prática é o emprego
de soluções de recuperação fundamentadas em visões empíricas que carecem de reflexão mais
aprofundada sobre sua eficácia e aplicabilidade.
A grande produção destas edificações deveu-se a algumas vantagens tais como: menor
custo em relação às obras com estrutura convencional, o que implicou menores custos de
financiamento; rapidez na execução e grande aplicabilidade dos blocos cerâmicos e de concreto
produzidos no estado de Pernambuco. Por outro lado, a busca pela minimização dos custos,
motivada pela perda do poder aquisitivo da população, associada à falta de controle de qualidade
sobre a técnica construtiva e a inexistência de norma técnica específica, vem causando, ao longo
dos últimos anos, uma série de patologias e acidentes com este tipo de obra, que têm sido
amplamente divulgados na imprensa local e nacional. A freqüência destes acidentes tem gerado
inquietação à comunidade técnica local e, principalmente, aos moradores destas edificações, que
hoje vivem em sobressalto pela incerteza das condições de segurança de suas residências.
2 IMPORTÂNCIA DA PESQUISA
Os blocos cerâmicos utilizados na pesquisa representam aqueles que têm sido usualmente
empregados nas edificações em alvenaria portante no nordeste do Brasil. Tratam-se de blocos
cerâmicos vazados assentados com os furos dispostos na horizontal, conforme se ilustra na parte (a)
da Figura 1. Foram ensaiados 15 blocos quanto aos seguintes aspectos: dimensões, massa e
resistência à compressão. A TABELA 3 a seguir sumariza os resultados obtidos. Todos os blocos
utilizados nos ensaios foram adquiridos em uma cerâmica de porte médio localizada na Região
Metropolitana do Recife, sendo os mesmos obtidos da mesma fornada.
(a) (b)
Figura 1 – (a) Blocos e (b) Prismas de blocos cerâmicos com e sem revestimento
O transporte dos protótipos para a máquina de ensaios exigiu cuidados especiais a fim de
se evitar danos às amostras. No caso dos prismas, o transporte foi realizado com carrinhos
devidamente. A Figura 2 a seguir ilustra o aparato utilizado para transporte dos prismas.
Quando se constata que a maior parte das edificações construídas em alvenaria resistente
na cidade do Recife apresenta valor da tensão atuante na parede mais carregadas da ordem de 0,07
2
kN/cm , é razoável admitir que os revestimentos de argamassa existente nestas paredes podem ser
um dos fatores responsáveis pela garantia da sua estabilidade.
Este acréscimo na capacidade de carga deve, no entanto, ser analisado com cautela, já que
será tanto maior quanto menor for a resistência dos blocos utilizados e é provável que menores
valores sejam obtidos quando se utilizam blocos com resistências mais elevadas.
5 CONCLUSÕES
• Foi observado nos ensaios realizados que os revestimentos contribuíram para aumentar a
capacidade de carga vertical dos elementos de alvenaria resistente estudados;
• Este aumento na capacidade de carga alcançou 335%, nos modelos ensaiados. No entanto, é
preciso ter em mente que este acréscimo está diretamente relacionado com a resistência à
compressão das unidades. Com efeito, quanto menor a resistência das unidades maior será a
contribuição do revestimento para a resistência global do elemento;
• Vários tipos de ruptura foram observados nos prismas não sendo possível eleger uma forma
de ruptura típica. Por outro lado, foram freqüentes as rupturas por deslocamento lateral
excessivo da capa de revestimento decorrente da mudança do estado de tensão da argamassa
de assentamento em virtude do quadro de fissuração excessivo dos septos dos blocos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] OLIVEIRA, R. A., SOBRINHO, C. W. A. P. Acidentes com prédios em alvenaria resistente na região
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[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. “Blocos vazados de concreto simples para alvenaria
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[10] MOTA, J. M. de F. P. Influência da argamassa de revestimento na resistência à compressão axial em prismas de
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