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5.

Relés

5.1 Relés de Sobrecorrentes

O relé de sobrecorrente tem como grandeza de atuação a corrente elétrica do sistema. Os


relés de sobrecorrente podem ser eletromecânicos, eletrônicos ou digitais. A corrente mínima
de atuação é a corrente de valor igual ou superior ao ajuste previamente estabelecido.

No caso dos relés eletromecânicos, possui os ajustes de:

(a) Corrente: é realizada pelo posicionamento do entreferro ou pelo posicionamento da


mola de restrição por tapes de derivação da bobina (ajustes de tapes);
(b) Tempo: é realizado pela regulação do percurso do contato móvel chamado ajuste do
dispositivo de tempo DT;

No eixo vertical são mostrados os tempos em segundos e no eixo horizontal aparecem as


correntes de acionamento em múltiplos de 1 a 20 vezes o tape escolhido. Desse modo, o tape
escolhido passa a ser o valor de atuação do relé.

Para os relés digitais esses dois tipos de ajustes são normalmente realizados via software
específico para cada equipamento. Alguns relés digitais permitem a configuração através do
próprio painel.

Quanto ao tempo de atuação, possuem características de dois tipos: de tempo definido e de


tempo dependente.

(a) Tempo definido: uma vez ajustados os tempos de atuação (ta) e a corrente mínima de
atuação (Imin,AT), o relé irá atuar neste tempo em qualquer valor de corrente igual ou
maior do que o mínimo ajustado.

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(b) Tempo dependente: o tempo de atuação do relé é inversamente proporcional ao valor
da corrente. Isto significa que o relé irá atuar em tempos decrescentes para valores de
correntes igual ou maior do que a corrente mínima de atuação.

As curvas de tempo dependente são classificadas em três grupos: normalmente inversa (NI),
muito inversa (MI) e extremamente inversa (EI).

As curvas são definidas por norma a partir das equações exponenciais:

k1 xTMS
t= k2
.
 I 
  −1
 IS 

No qual k1 e k2 são constantes que dependendo do valor recebido irão definir os grupos:

(a) Curva normalmente inversa: k1=0,14 e k2=0,02;


(b) Curva muito inversa: k1=13,5 e k2=1;
(c) Curva extremamente inversa: k1=80 e k2=2.

I é a corrente que chega ao relé através do secundário do TC;


IS é a corrente de ajuste ou de partida;

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TMS são os valores numéricos que variam de 0,01 a 1 para deslocar as curvas ao longo do eixo
do tempo:

Os relés de sobrecorrente são compostos de duas unidades: instantânea (50) e temporizada


(51). O número entre parênteses é o código definido pela ASA. A unidade 50 atua
instantaneamente ou segundo um tempo previamente definido. A unidade 51 atua com as
curvas de tempo dependente ou de tempo definido.

As unidades temporizadas ou de tempo dependente permitem os ajustes de corrente mínima


de atuação e curva de atuação. E as unidades instantâneas trabalham com os ajustes de
corrente mínima de atuação e tempo de atuação.

O esquema básico tradicional de proteção de sobrecorrente de um alimentador radial, trifásico


e aterrado, na saída da subestação, utiliza três relés de fase e um de neutro ou terra, ligado
através de três transformadores de corrente comandando um disjuntor (52).

Os relés de fase proporcionam proteção ao alimentador contra os curtos-circuitos e o relé de


neutro ou terra tem a função de proteger contra os curtos fase-terra.

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Os relés digitais realizam as funções 50 e 51 em um único equipamento, e desempenham
função de medição de corrente, registros de dados, oscilografias.

Para ajustar a corrente de atuação de um relé de sobrecorrente é necessária a definição da


relação do TC (RTC).

A RTC que alimenta um relé deve atender os seguintes requisitos:

(a) A corrente nominal primária do TC deve ser maior do que a razão entre curto-circuito
máximo (no ponto de instalação) e o fator de sobrecorrente do TC (FS). Geralmente,
FS=20.

I cc ,max
IN ≥
FS

(b) A corrente nominal primária do TC deve ser maior do que a máxima corrente de carga
a ser considerada:

I N ≥ k × I c arg a ,max

Os ajustes de corrente mínima de atuação de relés de sobrecorrente devem observar:

(a) Unidade 51 de fase:


a. Quando o relé for instalado no circuito alimentador da subestação, a qual não
possui equipamento de proteção para transferência, sua corrente mínima de
atuação deverá ser maior que o somatório da máxima corrente de carga do
circuito em estudo com a máxima corrente de carga do circuito que
eventualmente possa ser transferida, multiplicada pelo fator de crescimento
de carga (k) e dividida pela respectiva RTC:

k × ∑ I c arg a ,max
I min ≥
RTC

b. Quando o relé for instalado no circuito alimentador da subestação, a qual


possui equipamento de proteção para transferência, sua corrente mínima de
atuação deve ser maior que a corrente de carga máxima multiplicada pelo
fator de crescimento de carga (k) e dividida pela respectiva RTC:

k × I c arg a ,max
I min ≥
RTC

c. A corrente mínima de atuação deve ser ajustada com valor menor do que a
corrente de curto-circuito dentro da zona de atuação:

I cc
I min ≤
RTC

(b) Unidade 51 de neutro:

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Quando o sistema for ligado em estrela aterrado e não possuir cargas ligadas entre fase e
neutro, o relé de neutro deve ter a sua corrente mínima de atuação ajustada para um valor
menor que a corrente de curto-circuito fase-terra mínima dentro da zona de proteção. E deve
ser também maior do que 10% da corrente de carga do circuito:

0,1× I c arg a I cc
≤ I min ≤
RTC RTC

Quando o sistema for ligado em estrela aterrado e possuir cargas ligadas entre fase e neutro, o
relé de neutro deve ter a sua corrente mínima de atuação ajustada para o menor valor de
corrente de curto-circuito fase-terra mínimo dentro da zona de proteção. E também deve ser
maior do que 10 a 30% da corrente de carga do circuito.

A × I c arg a I cc
≤ I min ≤
RTC RTC

No qual A encontra-se entre 0,1 a 0,3.

(c) Unidade 50 de fase e neutro

As unidades instantâneas dos relés de fase e neutro não deverão ser sensíveis aos curtos-
circuitos localizadas após o primeiro equipamento a jusante.

Geralmente, a unidade instantânea é ajustada para proteger 80% do trecho compreendido


entre sua localização e o ponto de instalação do primeiro equipamento a jusante.

A unidade instantânea do relé de fase não deve ser sensível às correntes de energização do
circuito. Podem ser ajustadas para atuar para curtos-circuitos bifásicos e trifásicos próximos ao
primeiro equipamento de proteção à jusante.

A × I c arg a
I inst ≥
RTC
f ×I
I inst ≥ a cc
RTC

Em que A e o fator de multiplicação (3 a 8) depende da característica de carga do circuito. Em


sistema com muito transformador e motor de indução se trabalha com fator 8.

Quando o sistema for ligado em estrela aterrado e possuir cargas ligadas entre fase e neutro e
pode ser ajustada para atuar para curtos-circuitos fase-terra nas proximidades do primeiro
equipamento a jusante.

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A × I deseq
I inst ≥
RTC
f ×I
I inst ≥ a cc
RTC

No qual I deseq = ( 0,1 a 0,3) × I c arg a .

5.2 Critérios para localização dos equipamentos

Elo-fusível – Elo-fusível

O dimensionamento dos elos-fusíveis para proteção de circuitos primários considera os


critérios de corrente e seletividade:

a) A corrente nominal do primeiro elo-fusível de um ramal, no sentido da carga para a


fonte, deve ser igual ou maior do que 1,5 vezes o valor máximo da corrente de carga
medida ou estimada no ponto considerado.

I nom ≥ 1,5 × I c arg a

b) Os elos-fusíveis instalados à montante devem obedecer aos critérios:

- a capacidade nominal do elo-fusível deve ser igual ou maior do que 1,5 vezes o valor da
corrente de carga;

- a capacidade nominal do elo-fusível protetor deve ser no máximo um quarto (1/4) da


corrente de curto-circuito fase-terra mínimo no fim do trecho protegido;

- o elo protegido deve coordenar o elo protetor para o valor da corrente de curto-circuito fase-
terra mínimo no ponto de instalação do elo protetor;

Em um sistema radial, o elo-fusível mais próximo do local da falta é chamado protetor


(proteção principal) e o elo na retaguarda deste é o elo protegido (proteção de retaguarda).

c) Para coordenação de elos, utilizam-se as tabelas de coordenação fornecidas pelos


fabricantes ou pelas curvas tempo x corrente quando o tempo total de interrupção do
fusível protetor não exceder 75% do mínimo tempo de fusão do fusível protegido:

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Os fabricantes de elos-fusíveis fornecem por bitola, as curvas características tempo x corrente
de fusão e interrupção:

- curvas de tempos mínimos de fusão;

- curvas de tempos máximos de fusão;

- curvas de tempos totais de interrupção.

Para a coordenação ou seletividade de elos-fusíveis são usadas as curvas de tempos mínimos


de fusão e tempos totais de interrupção.

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Exemplo 1: ver exemplo 1, ref. [1], pag 82.

Exemplo2:

a) Dimensionamento dos elos-fusíveis dos transformadores:

30 kVA – 2H;

45 kVA – 3H;

75 kVA – 5H.

b) Dimensionamento dos elos-fusíveis dos ramais:

A corrente nominal do 1º elo-fusível do ramal é I nom,4 ≥ 1,5 × 6,3 ≥ 9, 45 A , elo acima de 10K.

Ao considerar a corrente de curto-circuito fase-terra mínimo é de 125 A no trecho, a


capacidade nominal do elo-fusível protetor máximo deve ser I nom,4 ≤ 1/ 4 ×125 ≤ 31, 25 A .

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Desse modo, o elo-fusível pode ser: 10K, 12K, 15K, 20K, 25K, 30K.

A coordenação dos elos K e H para corrente limite de 220 A, no ponto 4 deve ser instalado um
elo de 12K para coordenar com o de 5H segundo a tabela 2.4.

O elo 5 é o protegido em relação ao elo 4 (protetor), assim o elo 5 é de 20K conforme tabela
2.6.

1ª Avaliação: Simulação ATPDraw

Data: 06/05 segunda-feira

Temas: Energização de bancos de capacitores, faltas monofásicas, bifásicas, fase-fase-terra e


trifásicas.

Bibliografia:

[1] Eletrobrás, Proteção de Sistemas Aéreos de Distribuição, Coleção Distribuição de Energia


Elétrica, vol. 2, Ed. Campus, cap.3.

[2] Almeida, M.A.D., Apostila de Proteção de Sistemas Elétricos, UFRN, 2010.

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