DEFINIÇÃO DE MEIO AMBIENTE: Para o Dicionário Aurélio da língua
portuguesa, ambiente é o “que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas, por todos os lados”. Por isso, alguns entendem que a expressão meio ambiente é redundante, podendo se referir à ambiente.
A definição legal do meio ambiente se encontra insculpida no artigo 3.º ,
I, da Lei 6.938/1981, que pontifica que o meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Aliás, o próprio Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA nos
trouxe um conceito de meio ambiente mais completo do que o posto na Lei 6.938/1981, englobando o patrimônio cultural e artificial, o definindo como o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
A constitucionalização do Direito Ambiental no Brasil somente ocorreu
com a Constituição de 1988, inexistindo regras significativas de proteção ao meio ambiente nas Constituições anteriores.
ESPÉCIES: Não há uniformidade doutrinária para a definição de meio
ambiente, havendo inúmeras críticas ao conceito legal acima transcrito (artigo 3.º, I, da Lei 6.938/1981), pois apenas foi dada ênfase ao elemento biológico, não ao social.
Entrementes, é certo que o meio ambiente em sentido amplo é gênero
que abarca o meio ambiente natural, cultural e artificial. Já há quem entenda existirem, ainda, o meio ambiente do trabalho e o genético, mas crê-se que o primeiro integra o artificial e o segundo o natural, ressalvando-se que não há uniformidade doutrinária sobre a questão.
Contudo, ressalte-se que o STF já reconheceu a existência do meio
ambiente do trabalho, ao lado do natural, do cultural e do artificial. CONCEITO DE DIREITO AMBIENTAL: É possível defini-lo como ramo do direito público composto por princípios e regras que regulam as condutas humanas que afetem, potencial ou efetivamente, direta ou indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, o cultural ou o artificial.
ESPÉCIES:
Meio ambiente cultural: Constitui o patrimônio cultural brasileiro, que
incluem o patrimônio artístico, histórico, arqueológico, turístico e paisagístico. São produzidos pelo homem mas se diferem do meio ambiente artificial Artificial: Construído pelo homem Natural: A atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, solo, subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Laboral: Os bens que são utilizados para o exercício digno e seguro da atividade laboral remunerado pelo trabalhador.
DIREITO AO MEIO AMBIENTE: O legislador constituinte reconheceu
expressamente o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (artigo 225, caput), 9 de terceira dimensão, pois coletivo, transindividual, com aplicabilidade imediata, vez que sua incidência independe de regulamentação. O bem ambiental é autônomo, imaterial e de natureza difusa, transcendendo à tradicional classificação dos bens em públicos (das pessoas jurídicas de direito público) e privados, pois toda a coletividade é titular desse direito (bem de uso comum do povo). Assim sendo, o meio ambiente ecologicamente equilibrado foi afetado ao uso comum do povo, não podendo ser desafetado (ou desdestinado), sob pena de violação constitucional. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é formalmente e materialmente fundamental, pois além de estar previsto na Lei Maior (aspecto formal), é condição indispensável para a realização da dignidade da pessoa humana (aspecto material), fonte da qual provêm todos os direitos fundamentais. Como direito fundamental que é, possui as seguintes características: Historicidade (decorre de conquistas por lutas dos povos em prol da defesa do meio ambiente); Universalidade (são dirigidos a toda a população mundial, muito embora exista variações entre as legislações das nações); Irrenunciabilidade (o povo não poderá abrir mão do direito ao equilíbrio ambiental); Inalienabilidade (está fora do comércio); Limitabilidade (são direitos relativos, pois nenhum direito fundamental é absoluto, podendo ceder, no caso concreto, em razão de outro direito fundamental inconciliável na hipótese, mediante o juízo de ponderação, norteada pela proporcionalidade); Imprescritibilidade (não prescrevem pelo não exercício).
GERAÇÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS:
Primeira: Exigem diretamente uma abstenção do Estado, possuem caráter negativo. Ex: vida, liberdade, propriedade Segunda: Em que o Estado passa a ter responsabilidade para a concretização de um ideal de vida digna na sociedade. São ligados ao valor de igualdade, sendo direitos sociais, econômicos e culturais. Ex: Educação. Terceira: Emergiram após a segunda guerra, e estão ligados aos valores de fraternidade e solidariedade. Quarta: Compreendem os direitos à democracia, informação e pluralismo.
PRINCÍPIOS:
Prevenção: Por este princípio, implicitamente consagrado no artigo 225,
da CRFB, e presente em resoluções do CONAMA, 2 já se tem base científica para prever os danos ambientais decorrentes de determinada atividade lesiva ao meio ambiente, devendo-se impor ao empreendedor condicionantes no licenciamento ambiental para mitigar ou elidir os prejuízos. Ele se volta a atividades de vasto conhecimento humano (risco certo, conhecido ou concreto), em que já se definiram a extensão e a natureza dos danos ambientais, trabalhando com boa margem de segurança.
Assim, o Princípio da Prevenção trabalha com a certeza científica,
sendo invocado quando a atividade humana a ser licenciada poderá trazer impactos ambientais já conhecidos pelas ciências ambientais em sua natureza e extensão.
Precaução: É previsto na Declaração do Rio (ECO/1992), no Princípio
15, litteris: “De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para precaver a degradação ambiental”. Ou seja, se determinado empreendimento puder causar danos ambientais sérios ou irreversíveis, contudo inexiste certeza científica quanto aos efetivos danos e a sua extensão, mas há base científica razoável fundada em juízo de probabilidade não remoto da sua potencial ocorrência, o empreendedor deverá ser compelido a adotar medidas de precaução para elidir ou reduzir os riscos ambientais para a população. Assim, a incerteza científica milita em favor do meio ambiente e da saúde (in dubio pro natura ou salute).
Desenvolvimento sustentável: Este princípio decorre de uma
ponderação que deverá ser feita casuisticamente entre o direito fundamental ao desenvolvimento econômico e o direito à preservação ambiental, à luz do Princípio da Proporcionalidade. Destarte, desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de existência digna das gerações futuras, sendo possível melhorar a qualidade de vida dos vivos sem prejudicar o potencial desenvolvimento das novas gerações. Poluidor-pagador: Por este princípio, deve o poluidor responder pelos custos sociais da degradação causada por sua atividade impactante (as chamadas externalidades negativas), devendo-se agregar esse valor no custo produtivo da atividade, para evitar que se privatizem os lucros e se socializem os prejuízos. Ele se volta principalmente aos grandes poluidores. Logo, caberá ao poluidor compensar ou reparar o dano causado. Ressalte-se que este Princípio não deve ser interpretado de forma que haja abertura incondicional à poluição, desde que se pague (não é pagador-poluidor), só podendo o poluidor degradar o meio ambiente dentro dos limites de tolerância previstos na legislação ambiental, após licenciado.
Usuário-pagador: Não se trata de mera reprodução do Princípio do
Poluidor-Pagador. Por ele, as pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar pela sua utilização, mesmo que não haja poluição, a exemplo do uso racional da água.
Cooperação entre os povos: Sabe-se que o meio ambiente não
conhece fronteiras políticas, sendo curial uma mútua cooperação entre as nações. Fenômenos poluidores geralmente ultrapassam as divisas territoriais de uma nação e atingem o território de outra, a exemplo da emissão de poluentes na atmosfera que venham a causar o efeito estufa e a inversão térmica. Por conseguinte, cresce a celebração de tratados internacionais na esfera ambiental, podendo-se citar como outro exemplo deste Princípio o artigo 77, da Lei 9.605/1998, que trata da cooperação penal internacional para a preservação do meio ambiente.
Solidariedade intergeracional: Por este Princípio, que inspirou a parte
final do caput do artigo 225 da CRFB, as presentes gerações devem preservar o meio ambiente e adotar políticas ambientais para a presente e as futuras gerações, não podendo utilizar os recursos ambientais de maneira irracional de modo que prive seus descendentes do seu desfrute. Não é justo utilizar recursos naturais que devem ser reservados aos que ainda não existem.
Natureza pública da proteção ambiental: Este princípio inspirou
parcela do caput do artigo 225 da CRFB, pois é dever irrenunciável do Poder Público promover a proteção do meio ambiente, por ser bem difuso (de todos, ao mesmo tempo), indispensável à vida humana sadia e também da coletividade. Deverá o Estado atuar como agente normativo e regulador da Ordem Econômica Ambiental, editando normas jurídicas e fiscalizando de maneira eficaz o seu cumprimento.
Participação comunitária cidadã: Pontifica que as pessoas têm o
direito de participar ativamente das decisões políticas ambientais, em decorrência do sistema democrático semidireto, uma vez que os danos ambientais são transindividuais. Exemplo da aplicação desta norma é a necessidade de realização de audiências públicas em licenciamentos ambientais mais complexos (EIA-RIMA), nas hipóteses previstas; na criação de unidades de conservação (consulta pública); na legitimação para propositura de ação popular ou mesmo no tradicional direito fundamental de petição ao Poder Público.
Função socioambiental da propriedade: Já se fala atualmente em
função socioambiental da propriedade, uma vez que um dos requisitos para que a propriedade rural alcance a sua função social é o respeito à legislação ambiental (artigo 186, II, da CRFB), bem como a propriedade urbana, pois o plano diretor deverá necessariamente considerar a preservação ambiental, a exemplo da instituição de áreas verdes. Outrossim, a função social (ou socioambiental) não se configura como simples limitação ao exercício do direito de propriedade, e sim tem caráter endógeno, apresentando-se como quinto atributo ao lado do uso, gozo, disposição e reivindicação. Na realidade, operou-se a ecologização da propriedade.
Informação: Ele mantém íntimo contato com o Princípio da Participação
Comunitária e da Publicidade, que informa a atuação da Administração Pública, notadamente no que concerne aos órgãos e entidades ambientais, que ficam obrigados a permitir o acesso público aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico. Por seu turno, “qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse específico, terá acesso às informações de que trata esta Lei, mediante requerimento escrito, no qual assumirá a obrigação de não utilizar as informações colhidas para fins comerciais, sob as penas da lei civil, penal, de direito autoral e de propriedade industrial, assim como de citar as fontes, caso, por qualquer meio, venha a divulgar os aludidos dados”.
Limite: Cuida-se do dever estatal de editar e efetivar normas jurídicas
que instituam padrões máximos de poluição, a fim de mantê-la dentro de bons níveis para não afetar o equilíbrio ambiental e a saúde pública.
Protetor-recebedor: Outro importante princípio ambiental é o do
Protetor-Receptor ou Recebedor, que seria a outra face da moeda do Princípio do Poluidor-Pagador, ao defender que as pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela preservação ambiental devem ser agraciadas como benefícios de alguma natureza, pois estão colaborando com toda a coletividade para a consecução do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Vedação ao retrocesso ecológico: De acordo com este princípio,
especialmente voltado ao Poder Legislativo, é defeso o recuo dos patamares legais de proteção ambiental, salvo temporariamente em situações calamitosas, pois a proteção ambiental deve ser crescente, não podendo retroagir, máxime quando os índices de poluição no Planeta Terra crescem a cada ano.