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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Maria Lucia da Cunha Waldow

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da


voz cantada: um estudo acústico e perceptivo

Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

São Paulo
2015
Maria Lucia da Cunha Waldow

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da


voz cantada: um estudo acústico e perceptivo

Dissertação apresentada à banca examinadora da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de Mestre
em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem,
sob orientação da Profª. Drª. Zuleica Camargo.

São Paulo
2015
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA

Waldow, Maria Lucia da Cunha

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz cantada:


um estudo acústico e perceptivo, 2015.

108p.: il.; 30 cm

Dissertação de Mestrado apresentada à banca examinadora da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Linguística
Aplicada e Estudos da Linguagem.
Orientador: Camargo, Zuleica

1. Qualidade de Voz, 2. Canto, 3. Respiração, 4. Acústica, 5. Fisiologia.


Maria Lucia da Cunha Waldow

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz cantada: um


estudo acústico e perceptivo

Dissertação apresentada à banca examinadora da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de Mestre
em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem,
sob orientação da Profª. Drª. Zuleica Camargo.

Aprovada em: ____ / ____ / ______

Banca Examinadora

Prof. Dr. ____________________________________________________________


Instituição: _____________________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. ____________________________________________________________


Instituição: _____________________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. ____________________________________________________________


Instituição: _____________________________ Assinatura: ___________________
Dedicado ao meu querido e amado Babu.
AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agradeço à Profª. Drª. Zuleica Camargo pelas aulas maravilhosas e


inspiradoras e por toda orientação e ensinamentos compartilhados.
AGRADECIMENTOS

Este trabalho só aconteceu graças à colaboração e ao apoio de muitas


pessoas que se envolveram com o projeto e contribuíram para seu desenvolvimento
e realização.

Agradeço, com todo o meu amor, aos meus amados Horácio e Babu, família
escolhida, por todo afeto, por toda a inspiração e toda a força!

Para Fabíola, todo meu amor, admiração e gratidão sempre, minha irmã
querida. Sem você, não teria conseguido seguir, meu porto seguro!

Para Mônica Castro e Francisca Monteiro, meus profundos agradecimentos


pela escuta, apoio, torcida, carinho e colo nas horas difíceis!

Para Ching Wong Ann e Célia Strauss, meu obrigada pelo suporte,
ensinamentos e ajuda logística para enfrentar os desafios do projeto no contexto
do cotidiano.

Agradeço o apoio e carinho dos meus queridos Adriana Prior, Rogério


Nascimento e Sylvia Vitalle.

Agradeço à Profª. Drª. Sílvia Pinho por ter partilhado tantos conhecimentos
em seus cursos e por ter me ensinado a importância do conhecimento da fisiologia
da voz para o estudo, a performance e o ensino do canto.

Agradeço ao Prof. Dr. Celso Carvalho e equipe, em especial, aos


pesquisadores Desiderio Cano e Renata Claudim por toda atenção e ensinamentos
preciosos sobre respiração e possibilidades de pesquisa e avaliação do
comportamento respiratório, no laboratório e ambulatório de fisioterapia do Instituto
Central do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Agradeço as contribuições e reflexões propostas pela Profª. Drª Gláucia


Salomão durante a qualificação, importantes motivações e esclarecimentos para a
finalização deste estudo.

Agradeço à Profª. Drª. Sandra Madureira pelas contribuições essenciais,


pelas aulas preciosas.
Agradeço ao Prof. Dr. Luiz Carlos Rusilo por todo suporte e contribuição
essencial nas questões estatísticas deste trabalho.

Para a doutoranda Nathalia Reis, meus agradecimentos por todo o suporte


técnico, ensinamentos, companheirismo e generosidade.

Agradeço ao Prof. Dr. Enio Lopes por toda a contribuição, envolvimento e


apoio na fase de definição do experimento e das coletas de dados.

Agradeço à Profª. Drª. Lilian Kunh pelos ensinamentos do PRAAT,


etiquetagem e colaboração nas coletas.

Agradeço à doutoranda Andrea Baldi por todo suporte, apoio, conversas,


colo acadêmico e aprendizado, além de toda ajuda com a Plataforma Brasil e
durante as coletas.

Agradeço todas as risadas, cafés e ajudas providenciais da mestranda Layla


Penha nas versões do resumo para o inglês e no companheirismo durante as
disciplinas do curso.

Agradeço à mestranda Gabriela Luiza Daneluci por seu coleguismo e por


sempre partilhar informações importantes.

Agradeço às estagiárias do LIAAC pela ajuda na finalização da etiquetagem


dos arquivos.

Agradeço ao Luiz Hirano e ao CEM pelo apoio e pela torcida constante ao


longo de todo o curso de mestrado.

Agradeço, de todo o coração, aos meus alunos pela renovação de


perspectivas, alegrias e amor pelo canto.

Agradeço a todos os profissionais, professores, colegas de pesquisa, alunos,


amigos e familiares que, de alguma forma, colaboraram para esta pesquisa e
tornaram esta caminhada possível: Paulo Menegon, Amauri Silva, Roberta Isolan
Cury, Fabiana Gregio, Cristiane Magacho, Renata Vieira, cantoras voluntárias, juízes
voluntários, técnicos de gravação da TV-PUC, Ronaldo e toda a equipe técnica da
rádio-PUC.
Agradeço as contribuições de Ingrid Galleazzo.

Agradeço Mariana Waldow, Vinícius Waldow e Tiaraju Aronovich pelas ajudas


com traduções, computadores, PowerPoint e localização de artigos. Agradeço ao
Luís Eduardo Waldow por seu carinho.

Agradeço aos meus pais pela possibilidade da existência e do estudo.

Agradeço a generosidade e o apoio de todos aqueles que me auxiliaram com


questões técnicas, metodológicas e criativas durante o projeto.

A lista é grande e aumenta a cada dia, fato que renova minha motivação para
a pesquisa, para o canto e a música e para continuar seguindo, mesmo em períodos
de extremo desafio.

Agradeço o apoio da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal


de Nível Superior).
RESUMO

Waldow, M. L. C. Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz


cantada: um estudo acústico e perceptivo. [Dissertação]. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2015.

A qualidade vocal constitui um elemento fundamental da expressão do canto.


Estratégias respiratórias utilizadas durante a produção da voz cantada podem
promover inúmeras mobilizações pneumofonoarticulatórias e, desta forma,
demonstram-se relevantes para a função vocal como um todo e para a produção e
variação da qualidade vocal. O objetivo desta pesquisa foi o de investigar os efeitos
de estratégias respiratórias na qualidade da voz cantada, em indivíduos saudáveis e
sem treinamento profissional. Participaram do estudo quatro sopranos com idades
entre 25 e 35 anos. Os procedimentos de coleta foram realizados por meio da
avaliação da estratégia respiratória utilizada pelos sujeitos, realizada por juiz
credenciado no método GDS (Godelieve Dennys-Struyf – Method), e registro de
amostras em formato de áudio. O corpus foi composto por um trecho de canção e
uma vocalização, realizadas a partir das estratégias respiratórias clavicular e
costodiafragmática abdominal, em forte e fraca intensidades. As amostras de áudio
foram submetidas à análise perceptivo-auditiva (julgamentos de similaridade,
afinação, agradabilidade, intensidade e tensão), por juízes com experiência na área
de canto, e à análise acústica (medidas de f0, intensidade, declínio espectral e
espectro de longo termo, extraídas a partir do script ExpressionEvaluator no
software PRAAT). Os dados foram analisados por meio de análise estatística de
natureza multivariada. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
PUC-SP sob o número de 782.680. Os resultados indicaram a diferenciação das
medidas acústicas para as estratégias respiratórias, especialmente em termos da
média e do desvio-padrão de declínio espectral. Na etapa perceptiva, estas
diferenças acústicas, produzidas a partir de cada estratégia respiratória, foram
detectadas pelos juízes. Correlações entre as esferas acústica e perceptiva foram
demonstradas na análise integrada, destacando-se a influência da estratégia
respiratória no julgamento da agradabilidade da voz e do padrão de afinação, assim
como a relação entre as medidas relativas à tensão laríngea (média e desvio-padrão
de declínio espectral) e a percepção das diferenças de qualidade vocal.

Palavras-chave: Qualidade de Voz; Canto; Respiração; Acústica; Fisiologia


ABSTRACT

Waldow, M. L. C. Respiratory strategies and their effects on voice quality in


singing: an acoustic and perceptual study. [Dissertation]. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2015.

Voice quality is a key element in singing. Respiratory strategies used during the
production of singing may promote several pnemophonoarticulatory movements and,
thus, are relevant for vocal function as a whole, as well as for production and
variation of vocal quality. The objective of this study was to investigate the effects of
respiratory strategies on voice quality in singing in healthy individuals without
professional training. The subjects of the study were four sopranos, aged between 25
and 35 years old. Collection procedures included an assessment of the respiratory
strategy used by the subjects, conducted by a GDS Method – accredited judge
(Godelieve Dennys-Struyf Muscular Chains Method), and recording the samples in
audio format. The corpus comprised an extract of a song and a vocalization,
performed from clavicular and abdominal costal diaphragmatic respiratory strategies,
in strong and weak intensities. Audio samples were submitted to perceptual analysis,
conducted by judges with experience in the area of singing on similarity, tuning,
pleasantness, intensity and tension. An acoustic analysis (measures of f0, intensity,
spectral slope and long-term spectrum) was conducted in PRAAT software using
ExpressionEvaluator script. Data were submitted to multivariate statistical analysis.
Project approved by PUC-SP Ethics and Research Committee under number
782.680. Results indicate different acoustic measures depending on respiratory
strategies, particularly in terms of average and standard deviation spectral slope. In
the perceptual analysis, judges were able to detect the differences produced by each
respiratory strategy. Correlations between the acoustic and perceptual areas were
shown in an integrated analysis, highlighting the influence of the respiratory strategy
in judging voice pleasantness and tuning pattern, as well as the relationship between
measures relative to laryngeal tension (average and standard deviation spectral
slope) and perception of voice quality differences.

Keywords: Voice quality; Singing; Breathing, Respiratory Strategies; Acoustics;


Physiology
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise


discriminante para estimação das tarefas trechos de canção (inicial e final)
e vocalizações (oitava e sustentação de grave) a partir das medidas
acústicas. ............................................................................................................ 66

Tabela 2 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise


discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a
partir das medidas acústicas extraídas de amostras de trechos de canção
(inicial e final) e vocalizações (oitava e grave).................................................... 71

Tabela 3 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise


discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a
partir das medidas acústicas extraídas de amostras de trechos de canção
inicial (sem agudo final sustentado). ................................................................... 72

Tabela 4 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise


discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a
partir das medidas acústicas extraídas de amostras de trechos de canção
final (sustentação de agudo)............................................................................... 73

Tabela 5 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise


discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a
partir das medidas acústicas extraídas de amostras de vocalização
(oitava). ............................................................................................................... 74

Tabela 6 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise


discriminante para estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a
partir das medidas acústicas extraídas de amostras de vocalização
(sustentação de grave). ...................................................................................... 75

Tabela 7 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise


discriminante para estimação das cantoras a partir das medidas acústicas
das amostras de trechos de canção (parte inicial e final) e vocalizações
(oitava e sustentação de grave). ......................................................................... 77
Tabela 8 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise
discriminante para estimação de intensidade a partir das medidas acústicas
das amostras de trechos de canção (parte inicial e final) e vocalizações
(oitava e sustentação de grave). ......................................................................... 78

Tabela 9 – Síntese de variáveis relevantes (em %) da análise discriminante das


respostas às questões 1 a 5. .............................................................................. 80

Tabela 10 – Níveis de correlação (em %) das respostas às questões 1 a 5 da


análise de correlação canônica de dados acústicos e perceptivos. .................... 81
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Tradução dos termos da Figura 1........................................................... 27

Quadro 2 – Tradução dos termos da Figura 3........................................................... 34

Quadro 3 – Tradução dos termos da Figura 5........................................................... 38

Quadro 4 – Tradução dos termos da Figura 6........................................................... 47

Quadro 5 – Características dos sujeitos do grupo estudado quanto a idade,


formação musical, experiência em canto coral e características biofísicas. ....... 50

Quadro 6 – Agrupamentos da análise aglomerativa hierárquica de cluster –


medidas acústicas para estratégias respiratórias alta e baixa. ........................... 79
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Aparelho fonador: trato vocal e vias aéreas (traqueia, brônquios e


pulmões). ............................................................................................................ 27

Figura 2 – Imagem ilustrativa da ligação biomecânica entre a musculatura


respiratória e o volume pulmonar. ...................................................................... 32

Figura 3 – Cartilagens e respectivos músculos intrínsecos da laringe. ..................... 33

Figura 4 – Imagem esquemática: pressão subglótica vibração das pregas


vocais.................................................................................................................. 35

Figura 5 – Representação esquemática da produção vocal...................................... 38

Figura 6 – Imagem esquemática do Modelo fonte-filtro para a produção das


vogais – Teoria acústica da produção da fala – estruturas fisiológicas e
representações do espectro da fonte glótica, da filtragem supraglótica
(transferência) e da saída (output vocal). ........................................................... 46

Figura 7 – Set de gravação, cantora realizando estratégia de respiração


clavicular (respiração alta). ................................................................................. 54

Figura 8 – Set de gravação, cantora realizando estratégia de respiração


costodiafragmática abdominal (respiração baixa). .............................................. 54

Figura 9 – Imagem da partitura de referência da tarefa trecho de canção:


partitura adaptada de trecho da canção renascentista “Pase el Agua”
(compositor anônimo), com sustentação da nota Fá 4 no final. .......................... 58

Figura 10 – Imagem da partitura de referência para tarefa vocalização de oitava


em [a], com sustentação inicial da nota Dó 3, solicitada durante a coleta de
dados. ................................................................................................................. 58

Figura 11 – Imagem de tela do software PRAAT com trecho de arquivo e


exemplo do padrão de etiquetagem utilizado para separação e organização
das amostras de trecho de canção e sustentação do agudo final. ..................... 62
Figura 12 – Imagem da partitura correspondente a etiquetagem da tarefa trecho
de canção – trecho de canção inicial (parte sem sustentação de agudo) e
trecho de canção final (sustentação agudo final). ............................................... 62

Figura 13 – Imagem de tela do software PRAAT com trecho de arquivo e


exemplo do padrão de etiquetagem utilizado para separação e organização
das amostras do exercício de vocalização de oitava com sustentação de
grave inicial. ........................................................................................................ 63

Figura 14 – Imagem da partitura correspondente a etiquetagem da vocalização


(sustentação de grave inicial e oitava). ............................................................... 63

Figura 15 – Gráfico de centroides da análise discriminante das tarefas trechos


de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave) a
partir das medidas acústicas. ............................................................................. 66

Figura 16 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia


respiratória a partir de medidas acústicas extraídas das amostras de
trechos de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de
grave).................................................................................................................. 72

Figura 17 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia


respiratória a partir de medidas acústicas das amostras de trechos de
canção inicial (sem agudo final sustentado). ...................................................... 73

Figura 18 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia


respiratória a partir de medidas acústicas para estratégia respiratória das
amostras de trechos de trechos de canção final (sustentação de agudo
final). ................................................................................................................... 74

Figura 19 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia


respiratória a partir de medidas acústicas para estratégia respiratória das
amostras de trechos de vocalização (oitava). .................................................... 75

Figura 20 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia


respiratória a partir de medidas acústicas para estratégia respiratória das
amostras de trechos de vocalização (sustentação de grave). ............................ 76

Figura 21 – Gráfico de centroides da análise discriminante de cantoras, a partir


de medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de trechos
de canção (parte inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de
grave).................................................................................................................. 77

Figura 22 – Gráfico de centroides da análise discriminante da intensidade, a


partir de medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de de
trechos de canção (parte inicial e final) e vocalizações (oitava e
sustentação de grave). ....................................................................................... 78

Figura 23 – Dendograma da análise aglomerativa hierárquica de cluster –


medidas acústicas para estratégias respiratórias alta e baixa. ........................... 79
SUMÁRIO

1. Introdução ......................................................................................................... 18

2. Objetivo.............................................................................................................. 25

3. Revisão de Literatura........................................................................................ 26

3.1. Mecanismos básicos subjacentes ao canto..................................................... 26

3.2. Questões pedagógicas do canto ..................................................................... 38

3.3. Fundamentação teórica para estudos acústicos e perceptivos da


qualidade da voz cantada ................................................................................ 44

3.4. Instrumentos de investigação da qualidade vocal ........................................... 47

4. Metodologia ....................................................................................................... 49

4.1. Descrição dos sujeitos ..................................................................................... 49

4.2. Procedimentos de coleta de dados ................................................................. 51

4.3. Procedimentos de análise dos dados .............................................................. 59

4.3.1. Análise das estratégias respiratórias ........................................................ 60

4.3.2. Análise das amostras de áudio................................................................. 61

4.3.2.1. Análise acústica por meio do script Expression Evaluator


(BARBOSA, 2009) ................................................................................... 61

4.3.2.1.1. Análise estatística dos dados acústicos ......................... 65

4.3.2.2. Análise perceptivo-auditiva ................................................................ 67

4.3.2.2.1. Análise estatística dos dados perceptivos ...................... 70

4.3.3. Análise integrada de dados ...................................................................... 70

5. Resultados......................................................................................................... 71

5.1. Dados de análise acústica ............................................................................... 71

5.1.1. Análise discriminante de estratégia respiratória ....................................... 71


5.1.2. Análise discriminante das cantoras .......................................................... 76

5.1.3. Análise discriminante da intensidade ....................................................... 78

5.1.4. Análise aglomerativa hierárquica de cluster ............................................. 79

5.2. Dados de análise perceptiva ........................................................................... 80

5.2.1. Análise de confiabilidade intra e interjuízes .............................................. 80

5.2.2. Análise discriminante para as respostas das questões 1 a 5 ................... 80

5.3. Dados de análise integrada: acústicos e perceptivos ...................................... 81

5.3.1. Análise de correlação canônica ................................................................ 81

6. Discussão .......................................................................................................... 82

7. Conclusões ........................................................................................................ 93

8. Referências ........................................................................................................ 94

Anexo 1 – Autorização para uso do script ExpressionEvaluator...................... 101

Anexo 2 – Autorização para uso de imagem ...................................................... 102

Apêndice 1 – Roteiro de perguntas para inclusão ou exclusão de sujeitos


de pesquisa ..................................................................................................... 103

Apêndice 2 – Termo de consentimento livre e esclarecido ............................... 104

Apêndice 3 – Tutorial para coleta de dados........................................................ 106

Apêndice 4 – Roteiro para realização de tarefas nas coletas para a


pesquisa .......................................................................................................... 107

Apêndice 5 – Método de Estruturação de Cadeias Musculares e


Articulares Godelieve Dennys-Struyf (GDS): ............................................... 109
18

1. INTRODUÇÃO

Um dos desafios do ensino e aprimoramento técnico do canto reside no fato


de que a maior parte dos mecanismos de controle da produção vocal não é passível
de observação direta.

Assim, a busca pela integração dos recursos perceptivos e metafóricos


tradicionalmente utilizados no ensino do canto às informações geradas pelas
pesquisas científicas na área de voz faz-se cada vez mais presente. Tal fato não
deixa de ser também uma consequência das atuais demandas do ensino e da
performance da voz cantada (APPELMAN,1986; COELHO, 1994; SCARPEL,
PINHO, 2001; CORDEIRO, PINHO, CAMARGO, 2007; MELLO, 2008; PINHO,
KORN, PONTES, 2014).

A expressão e a comunicação na fala e no canto são possíveis, em parte,


pela possibilidade de controle dos mecanismos do aparelho fonador. Fala e canto
são funções adaptadas que envolvem e mobilizam estruturas dos aparelhos
respiratório e digestório, e solicitam do corpo a organização e coordenação de
diversos e sofisticados ajustes (MATEUS et al, 2005; FERREIRA, 2012; PINHO,
KORN, PONTES, 2014). Tais ajustes mobilizam a coordenação de conjuntos de
estruturas (MELLO, 2008; MELLO, ANDRADA E SILVA, 2009). Dessa forma,
percebemos que as atividades do canto e da fala envolvem mecanismos
associados: neurolinguísticos, aerodinâmicos, fonatórios, articulatórios, acústicos e
auditivos (ABERCROMBIE, 1967; SUNDBERG, 1987; CAMARGO, 2002; PINHO,
KORN, PONTES, 2014).

Essas atividades são, portanto, extremamente elaboradas, frutos da


adaptação e do desenvolvimento do corpo pela evolução, em prol da necessidade
de comunicação e expressão humanas.

Aspectos da dinâmica vocal produzidos pela variação da altura, da


intensidade e da duração são propriedades prosódicas e podem ser modificados por
meio do controle dos mecanismos do aparelho fonador. Além desses aspectos da
dinâmica vocal, há também a qualidade vocal, o produto da combinação de ajustes
19

musculares de longo termo que podem ocorrer simultaneamente nos níveis laríngeo
(ajustes fonatórios), supralaríngeo (ajustes articulatórios) e de tensão muscular
(ajustes de tensão laríngea e supralaríngea). A qualidade vocal significa, portanto, a
complexa resultante de características multidimensionais da voz de cada falante ou
cantor (LAVER, 1980; BJORKNER, 2006; PINHO, KORN, PONTES, 2014). O
controle das variações da qualidade vocal e dos aspectos da dinâmica vocal são
mecanismos da produção da voz utilizados para expressar emoções e atitudes na
fala e no canto (BEHLAU, PONTES, 2001; CAMARGO, 2002; MADUREIRA, 2004;
SALOMÃO, 2008; GUSMÃO et al, 2010).

A qualidade vocal, dentre estes recursos de controle e variação da expressão


da voz, é um dos elementos de grande interesse nas pesquisas sobre a produção da
voz humana e representa uma das questões centrais no treinamento e na
construção da proficiência no canto (SUDBERG, 1987; BJORKNER, 2006). Assim
como na fala, diferentes qualidades vocais são utilizadas durante a voz cantada e,
como supracitado, acontecem pela integração de múltiplos fatores em função da
demanda expressiva e técnica da performance musical (ADLER, 1965; APPELMAN,
1986; SCARPEL, PINHO, 2001; BJORKNER, 2006; PETER PINHO, 2007;
SALOMÃO, 2008).

A coordenação desses fatores, enquanto demanda multifacetada do canto,


impõe ao corpo e, especialmente ao aparelho fonador, uma exigência
significativamente maior e mais refinada que a imposta pela fala cotidiana. São os
mesmos órgãos pneumofonoarticulatórios1 acionados, mas, na maior parte dos
cantos que se pretendam artísticos nos moldes ocidentais, os ajustes precisam ser
produzidos a partir de planejamento e de escolhas técnicas, a fim de alcançar
determinado resultado expressivo e musical (CELLETTI, 1996; BJORKNER, 2006;
PETER, PINHO, 2007; MELLO, ANDRADA E SILVA, 2008; SALOMÃO, 2008;
PINHO et al, 2014). Ou seja, há uma clara necessidade de construção de controle
da resultante vocal e, portanto, de conhecimento dos mecanismos subjacentes a

1
A coordenação pneumofonoarticulatória refere-se, em geral, à coordenação entre a respiração e a
emissão da fala, possível de ser observada em diversas situações de emissão vocal como conversa
espontânea, leitura em voz alta ou durante a prática do canto. A coordenação
pneumofonoarticulatória é a relação entre as forças expiratórias, as estruturas mioelásticas da laringe
e as estruturas articulatórias (VANNUCCI, 2011; PORTAL EDUCAÇÃO, 2013).
20

esta produção, assim como a consciência sobre a interferência da variação de seus


elementos no resultado qualitativo da voz.

Recursos pedagógicos proprioceptivos, assim como a experimentação


corporal, respiratória e vocal durante os treinamentos da voz cantada, já
contribuem com subsídios de autopercepção e elaboração de sensações ligadas
ao comportamento da voz enquanto instrumento (APPELMAN, 1986; FERREIRA,
1988; CELETTI, 1996; COELHO, 1994; COSTA, ANDRADA E SILVA, 1998;
PACHECO, 2006). Mas a falta de consenso na área do canto a respeito da
descrição, da conceituação e do treinamento adequado das estruturas envolvidas
reforça a importância de agregar informações advindas de estudos experimentais
em voz para os procedimentos pedagógicos.

Esse tipo de abordagem de ensino resulta em méritos importantes para o


desenvolvimento vocal e musical. Entretanto, a construção técnica gerada por um
maior conhecimento do funcionamento e das possibilidades de controle do
instrumento vocal promove condições para o aprimoramento destas ferramentas
pedagógicas. Um exemplo do acréscimo desse tipo de enfoque é o próprio
refinamento da percepção em si, proporcionado pelo olhar mais abrangente sobre o
produto vocal final da voz cantada. Com essa soma de perspectivas, há a
possibilidade de associar a percepção sensorial da qualidade vocal do canto com
seus possíveis correlatos fisiológicos, aerodinâmicos e acústicos. Tal integração na
condução do treinamento vocal redimensiona o recurso perceptivo que passa a não
só fornecer sensações metafóricas sobre o som, mas oferece pistas sobre os ajustes
corporais relacionados na produção vocal.

Apesar da falta de consensos pedagógicos e conceituais na área do canto, a


respiração sempre foi apontada por respeitadas escolas e metodologias como um
dos pilares técnicos da voz cantada (MARCHESI, 1970; APPELMAN, 1986;
CELETTI, 1996; COELHO, 1994; THOMASSON, 2003; BJORKNER, 2006;
PACHECO, 2006; GAVA JÚNIOR et al, 2010). A respiração também é citada como
um dos elementos básicos da comunicação, expressão e produção vocal (MASSINI-
CAGLIARI, CAGLIARI, 2001; SILVA, 2002; MADUREIRA, 2004). Dessa forma, o
papel ocupado pela respiração na produção da voz e a dificuldade de consenso a
seu respeito no âmbito do canto constituem a motivação para a investigação sobre
21

os efeitos acústicos e perceptivos que diferentes estratégias respiratórias podem


promover sobre a qualidade da voz cantada.

Sem dúvida, o canto é resultado de múltiplos fatores e não somente da


respiração, mas, talvez, o papel da respiração como personagem central das
questões vocais tenha uma resposta na própria funcionalidade do corpo enquanto
instrumento do canto.

A produção vocal, tanto na fala quanto no canto, é possível a partir de vários


comportamentos respiratórios (SUNDBERG, 1992; THOMASSON, 2003; STARK,
2008). De qualquer forma, é perceptível que cada manobra de respiração utilizada,
dentro de um contexto de canto, pode resultar em qualidades vocais diversas.
Assim, podemos deduzir que cada escolha respiratória pode promover interações
variadas das estruturas envolvidas na produção da voz e, possivelmente, diferentes
recursos de controle dos mecanismos vocais (SUNDBERG, 1987; COSTA,
ANDRADA E SILVA, 1998; GAVA JÚNIOR et al, 2010). Observa-se também que,
embora exista certa independência entre vários aspectos da relação entre sopro,
fonação e emissão, há um limite de realização de compensações nas esferas
glóticas e supraglóticas para atenuar, “corrigir” ou até mesmo tentar anular
determinadas consequências das estratégias respiratórias no canto resultante
(SUNDBERG, 1992; PINTO, 2012).

Alguns pesquisadores e professores da atualidade confirmam a importância


da respiração na performance do canto, mas apresentam questionamentos sobre o
papel e o espaço que esse parâmetro ocupa dentro da trajetória da pedagogia e das
técnicas de treinamento para a voz cantada. Para estes, a respiração no canto é
relevante quando realizada em conjunto com outros recursos de controle vocal.
Exercícios específicos para a dinâmica inspiratória e expiratória, fora do contexto da
prática em si, são considerados essenciais no processo inicial do aprendizado. Tais
autores argumentam que a respiração deve ser exercitada, preferencialmente, em
situações em que esteja associada a outros mecanismos do aparelho fonador
(VENNARD, 1967; STARK, 2008).

Em vista das várias abordagens técnicas e pedagógicas pesquisadas, assim


como das características fisiológicas e perceptivas que permeiam a voz cantada,
perguntamo-nos, desde o início deste estudo, em que medida seria pertinente ou
22

relevante pensar a questão respiratória e a escolha da estratégia de respiração


como ação organizadora do corpo, durante a atividade do canto. Outra questão
levantada refere-se a em que medida é possível reconhecer acusticamente e
perceptivamente os efeitos de diferentes comportamentos respiratórios na qualidade
da voz cantada. Ou seja, seria possível esboçar uma reflexão sobre a questão
respiratória, pensando-a como um vetor, um fator-chave capaz de coordenar ajustes
pneumofonoarticulatórios a partir dos subsídios e índices de informações oferecidos
pela qualidade vocal produzida no canto?

Um fator que sinaliza a favor da respiração como um vetor capaz de promover


diferentes interações das estruturas do aparelho fonador e condições diversas de
fonação é a própria natureza da sua função na cadeia de eventos subjacentes à
emissão do canto: o papel de provimento da energia aerodinâmica que inicializa o
processo de geração da energia acústica que será transformada em voz
(SUNDBERG, 1987; PINHO, 1998; SALOMÃO, 2008).

Como mencionado, é por meio do suprimento aerodinâmico que os eventos


relacionados à produção vocal são iniciados. Ou seja, é a existência deste
suprimento aéreo e sua associação aos componentes mioelásticos que criam as
condições para o processo fonatório e garantem a emissão na fala e no canto.
Durante a produção da voz, a laringe é responsável pela modificação do fluxo de ar
que sai dos pulmões, sendo a resistência das pregas vocais que gera o aumento da
pressão subglótica. Essa interação é responsável por desencadear uma complexa
dinâmica entre os elementos das forças aerodinâmicas e mioelásticas (VAN DEN
BERG, 1958; SUNDBERG, 1987; CUKIER, 2006; SALOMÃO, 2008).

Verifica-se, então, que tal dinâmica depende diretamente do fluxo aéreo que
sai dos pulmões. O início desse processo está diretamente ligado à geração do fluxo
de ar e à pressão subglótica adequada. E há o pressuposto de que o fluxo de ar e a
pressão subglótica exercem influência nas condições de vibração das pregas vocais.
Tais aspectos fazem-nos refletir a respeito das interações e dos ajustes corporais
que podem ser estimulados, a partir de estratégias respiratórias diversas, no
momento de origem da primeira informação acústica que resultará na voz. Ou seja,
nas mudanças apresentadas pelo canto e pela fala em seus produtos finais e seus
possíveis efeitos nas qualidades perceptivas e acústicas da voz como indicativos
23

das variadas interações entre respiração e fonação (APPELMAN, 1986; LAVER,


1980; PINHO, 1998; SALOMÃO, 2008). Esse aspecto da dinâmica vocal e de
associações das instâncias mioelásticas e aerodinâmicas será retomado mais
detalhadamente na revisão de literatura.

Além destas considerações, é importante ressaltar que a própria conformação


mecânica dos órgãos que compõem a estrutura comum aos aparelhos respiratório e
fonador atua como catalisadora de interações. O fenômeno conhecido como
“tracheal pull”, traduzido como “tração da traqueia”,2 por exemplo, pode ser
considerado como um destes efeitos ocasionados pela atuação direta entre órgãos
que estão ligados mecanicamente e são dotados de versatilidade funcional
(SUNDBERG et al, 1989; SUNDBERG, 1992; VILKMAN et al, 1996; IWARSSON,
SUNDBERG, 1998; IWARSSON, 2001). Esta característica da fonação, a integração
de um conjunto de estruturas que se coordenam, sugere a interferência mútua dos
órgãos que se mobilizam para a produção da voz.

Tais particularidades e as solicitações específicas do corpo e do aparelho


fonador durante o canto podem encontrar na fonética, em suas vertentes perceptiva,
acústica e articulatória, respaldo e referencial teórico capaz de aprofundar o
conhecimento sobre os complexos sistemas e mecanismos da voz. Como ciência
dedicada ao estudo da produção e percepção dos sons produzidos pelo aparelho
fonador, a fonética oferece a possibilidade de análise tanto da fala quanto do canto
sob perspectiva científica, oferecendo instrumental que torna possível este tipo de
abordagem multidisciplinar e integrada (LAVER, 1980; LAVER, 2000; CASSOL et al,
2001; CAMARGO, 2002).

O respaldo em teorias e modelos que permitam o estudo das características e


interações de produção e percepção são particularmente interessantes para os
estudos da voz cantada, pois oferecem a possibilidade de exploração destas
relações sob o prisma qualitativo e não só quantitativo dos fenômenos envolvidos.
Nesse sentido, esta pesquisa buscará fundamentos na teoria acústica de produção
da fala (FANT, 1970), em que se destacam os princípios do modelo linear da fonte e
do filtro. Tal teoria considera as ações dos elementos glóticos e supraglóticos do

2
A tradução do termo “tracheal pull” para “tração da traqueia” foi sugerida pela Profª. Drª Gláucia
Salomão, que realizou o trabalho da tradução completa do livro The Science of the Singing voice,
de J. Sundberg.
24

aparelho fonador, permitindo a investigação e descrição da produção vocal por meio


de correlações perceptivas, fisiológicas e acústicas destas instâncias. Além disso,
possibilita o estudo destas esferas separadamente em suas específicas ações e
interações (FOURCIN, ABBERTON, 1999; CAMARGO, 2002; VIEIRA, 2004).

Assim, a partir da perspectiva fonética e seu recurso analítico, consideramos


as questões expostas nesta introdução acerca da voz cantada e o papel da
respiração para sua realização e definimos, como principal objetivo da presente
pesquisa, a investigação dos efeitos de diferentes estratégias respiratórias sobre a
qualidade da voz cantada. Para efeito de uma delimitação das variáveis que foram
envolvidas nesta pesquisa, o grupo estudado foi constituído por indivíduos
saudáveis, de mesma classificação vocal, com condições anatomofisiológicas
equivalentes e sem treinamento profissional para o canto.

Neste estudo, portanto, buscamos caracterizar os efeitos das estratégias


respiratórias clavicular e costodiafragmática abdominal, relacionando os dados das
amostras de áudio obtidas, a partir de cada estratégia, com suas características
acústicas e perceptivas. Também procuramos esboçar as possíveis consequências
das diferentes estratégias respiratórias na qualidade vocal durante o canto, em
consonância com as questões teóricas e metodológicas da linha de pesquisa
Linguagem e Patologias da Linguagem e do Grupo de Pesquisa de Estudos sobre a
Fala (GeFALA, CNPq).
25

2. OBJETIVO

O objetivo desta pesquisa foi o de investigar os efeitos acústicos e


perceptivos de diferentes estratégias respiratórias na qualidade da voz cantada em
sujeitos sem treinamento vocal profissional.
26

3. REVISÃO DE LITERATURA

Neste tópico, serão apresentadas uma descrição básica das principais


estruturas e mecanismos acionados para a produção do canto, uma abordagem
sobre algumas questões pedagógicas em relação às manobras e aos treinamentos
respiratórios para a voz cantada, bem como a explanação acerca da fundamentação
teórica desta pesquisa e das técnicas de investigação sobre qualidade vocal
envolvidas neste estudo.

3.1. Mecanismos básicos subjacentes ao canto

O canto, assim como a fala, depende da adaptação e da mobilização de


complexas e múltiplas estruturas periféricas, especialmente aquelas dos aparelhos
respiratório e digestório. Assim, sob esta perspectiva, é possível dizer que as vias
aerodigestivas superiores, envolvidas nesta atividade adaptativa, compõem o
aparelho fonador humano. O aparelho fonador é formado, portanto, pelo trato vocal
(delimitado pelos lábios e pregas vocais) e pelas vias aéreas inferiores (traqueia,
brônquios e pulmões), conforme apresentado pela Figura 1 (WARD, 1988; PINHO,
1998; CAMARGO et al, 2004; RUA, 2006; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Podemos observar que, além de estruturas periféricas, o complexo


anatomofisiológico acionado para o canto mobiliza mecanismos neurolinguísticos,
aerodinâmicos, fonatórios, acústicos e auditivos. As estruturas envolvidas no canto
desempenham mais de uma função: dependendo do momento, atuam na
respiração, na deglutição ou na fonação. Todas essas funções são complexas e,
mesmo assim, o corpo é capaz de coordenar sua alternância em pequenas frações
de segundos (PINHO, 1998; CAMARGO et al, 2004; PINHO et al, 2014).
27

Figura 1 – Aparelho fonador: trato vocal e vias aéreas (traqueia, brônquios e pulmões).
Fonte: <http://www.voiceproblem.org/anatomy/learning.asp>.

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 1: TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 1:


Brain: cérebro
Nasal Cavity: cavidade nasal Resonating e Modifying System: ressonância
Soft palate: palato mole e sistema de modificação
Oral cavity: cavidade oral
Lips: lábios Resonators X Articulators: ressoadores X
articuladores
Tongue: língua
Vocal folds: pregas vocais
Vocal tract: trato vocal
Pharinx or throat: faringe ou garganta
Epiglotis: epiglote
Vibratory system: sistema vibratório
Larynx or voice box: laringe ou caixa da voz
Trachea or windpipe: traqueia
Air pressure system: sistema de pressão de ar
Chest walls and muscles: caixa torácica e
músculos
Lungs: pulmões
Diaphram: diafragma
Abdominal muscles: músculos abdominais

Quadro 1 – Tradução dos termos da Figura 1.


28

Diante dessas interações e estruturas multifuncionais coordenadas, as


relações entre respiração e fonação apresentam grande complexidade e constituem
desafio para o conhecimento e a compreensão da produção da voz cantada e sua
qualidade, como veremos a seguir.

Thomasson (2003) descreve que o sistema respiratório é constituído pelo


sistema pulmonar, que engloba as vias respiratórias e os pulmões, pela caixa
torácica, pelo abdômen e pelo músculo diafragma. As cavidades nasal, oral e
faríngea constituem as vias aéreas superiores e estão separadas das vias aéreas
inferiores pela laringe. Abaixo desta há ainda a traqueia, os brônquios, os
bronquíolos e os alvéolos, onde ocorrem as trocas gasosas, função primordial do
sistema (WARD, 1988, PINHO, 1998; CUKIER, 2006; RUA, 2006). Tais trocas
gasosas são chamadas de homeostase e são vitais para o corpo. Para que a
homeostase possa acontecer, é preciso que o ar chegue até os alvéolos no
movimento de inspiração e que seja expelido no movimento de expiração (WARD,
1988; THOMASSON, 2003). Este movimento ventilatório, assim como a fonação,
depende da ação de forças musculares, forças elásticas e forças gravitacionais que
atuam durante a respiração (SUNDBERG, 1992; FELTRIM, 1994; CUKIER, 2006;
PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Além do papel fundamental na homeostase, as duas fases da respiração


(inspiração e expiração) também são essenciais na atividade fonatória. Em cada
uma delas, ocorre uma sinergia entre as ações das forças musculares, elásticas e
gravitacionais, que interagem promovendo as condições para a produção vocal.

Na inspiração, as forças musculares dos intercostais externos e a contração


do diafragma são acionadas (forças musculares inspiratórias) e as forças elásticas
atuam permitindo a variação de volume da caixa torácica. Essa associação de
mecanismos promove a ampliação do volume de ar dentro dos pulmões e a
suspensão das costelas. Durante o movimento inspiratório, acontece a abdução das
pregas vocais para que o ar possa entrar nos pulmões, momento no qual temos a
ação dos músculos cricoaritenóideos posteriores, consequência da ativação dos
motoneurônios laríngeos e dos movimentos respiratórios de inspiração: contração do
diafragma e intercostais externos e variação do volume pulmonar na caixa torácica
29

(APPELMAN, 1986; SUNDBERG, 1992; IWARSSON et al, 1998; BJORKNER, 2006;


CUKIER, 2006; PARREIRA et al, 2010).

Para que a fonação aconteça, é necessária a existência de pressão aérea


alta dos pulmões, sobrepressão de ar capaz de colocar as pregas vocais em
movimento, denominada pressão subglótica (SUNDBERG, 1992; CUKIER, 2006;
SEARA et al, 2011).

A expiração também demanda forças variadas agindo em sincronia. Forças


musculares expiratórias são exercidas pelos músculos intercostais internos e pelos
músculos da parede abdominal, e as forças elásticas da caixa torácica permitem sua
variação de tamanho e o esvaziamento dos pulmões. Na expiração (repouso), o
espaço glótico é estreitado. Para a produção da voz, além do relaxamento da
musculatura envolvida na inspiração, é possível observar a contração da
musculatura intercostal interna em demandas vocais maiores, como o canto
(SUNDBERG, 1992; PINHO, 1998; CUKIER, 2006).

As forças gravitacionais interferem em ambas as fases descritas da


respiração (SUNDBERG, 1987; BJORKNER, 2006).

Além das funções de ventilação, regulação da quantidade de água do


aparelho respiratório e resfriamento corporal, o sistema respiratório é o
responsável por gerar e controlar a pressão subglótica necessária para a fonação.
Podemos dizer que, tanto no canto, como em qualquer demanda fonatória, a
possibilidade de controle voluntário dessa função é um aspecto diferenciador de
outras atribuições do sistema. Tal fato contrasta com a expiração silenciosa, por
exemplo, quando os músculos envolvidos agem automaticamente para a posição
de relaxamento e repouso (WARD, 1988; BJORKNER, 2006; THOMASSON,
SUNDEBERG, 2001; PINHO, KORN, PONTES, 2014). Embora possa ocorrer por
mecanismos reflexos ou involuntários, a fonação pode estar associada também a
mecanismos voluntários que acontecem de acordo com as necessidades de
comunicação e expressão dos indivíduos por meio da voz. Esse contraste entre a
respiração utilizada para a ventilação do corpo e a respiração utilizada para a
produção da voz nos permite perceber que há a possibilidade de diferenças entre
comportamentos e características das estratégias respiratórias acionadas pelo
corpo em cada situação. E, de fato, existem padrões respiratórios diferentes para
30

cada solicitação do corpo. Algumas, como já dito, são reguladas de forma


automática e outras podem ser fruto de escolhas de uma determinada estratégia
como acontece no canto, por exemplo (SUNDBERG, 1987; WARD, 1988; THORPE
et al, 2001; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Em geral, o comportamento respiratório recebe as seguintes nomenclaturas:

- Quanto ao modo: oral, nasal ou oro-nasal (mista). Corresponde ao


predomínio respiratório revelado pelo indivíduo durante as situações de repouso,
fora dos momentos de fonação.

- Quanto ao tipo: clavicular (ou costal superior), diafragmática (inferior) e


costodiafragmática abdominal (associação da inferior com a expansão e sustentação
dos intercostais).

Os tipos e modos respiratórios, assim como os volumes e as capacidades


respiratórias variam de acordo com características de gênero, idade e altura
(PINHO, 1998; THOMASSON, 2003; CUKIER, 2006).

Para a fonação, em geral, é preconizado como ideal o padrão respiratório


costodiafragmático abdominal. Este padrão respiratório promove a anteriorização do
osso esterno, a abertura das costelas, a ampliação da cavidade torácica na fase de
inalação, a redução de tensão nos ombros e na pressão subglótica, além do
abaixamento do músculo diafragma e consequente expansão abdominal. Tal
abordagem respiratória permite maior controle vocal, se comparada com a
respiração clavicular ou costal superior. Também denominada como respiração alta,
a respiração clavicular não promove a ampliação corporal, que acontece no outro
tipo de respiração, a costodiafragmática abdominal. Ao contrário, na respiração alta,
acontece a diminuição da dimensão do aparato respiratório e o tensionamento de
diversas estruturas do corpo (APPELMAN, 1986; SUNDBERG, 1992; FERREIRA,
PONTES, 1994; IWARSSON et al, 1998; PETER et al, 2001; THOMASSON, 2003;
CUKIER, 2006; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Estas diferenças e contrastes entre comportamentos respiratórios nos


demonstram que o sistema pode ser treinado e ter as suas ações inspiratórias e
expiratórias planejadas, de acordo com a demanda de fonação a ser enfrentada.
Além disso, pode-se perceber que a movimentação corporal diferenciada entre as
estratégias respiratórias permite a observação do tipo respiratório predominante
31

entre cantores e falantes, tornando-se importante ferramenta de avaliação


perceptiva do comportamento respiratório. A possibilidade de constatação dessas
diferenças é necessária para o treinamento vocal, sendo o tipo respiratório
empregado um aspecto relevante para o produto vocal final e um agente modificador
das condições de fonação. Como sua ação interfere nos recursos corporais
responsáveis pela dinâmica e qualidade da voz, é essencial ter a informação acerca
dos ajustes associados a determinadas pistas corporais, como a expansão
abdominal (ligada ao abaixamento e à contração diafragmática decorrente da
respiração costodiafragmática abdominal) ou a elevação dos ombros e a redução da
caixa torácica (consequência da respiração clavicular superior) (APPELMAN, 1986;
SUNDBERG, 1987; DINVILLE, 1993; COELHO, 1994; PINHO, 1998; COSTA, 2001;
MELLO, 2008).

Portanto, fatores como o tipo e o modo respiratório constituem possíveis


agentes modificadores das condições de fonação. Assim, podemos dizer que as
estratégias respiratórias adotadas representam influência nas interações das
estruturas e dos recursos corporais responsáveis pela dinâmica e pela qualidade da
voz cantada, podendo ser percebidas, entre outros recursos, por meio da perceptivo-
visual (APPELMAN, 1986; SUNDBERG, 1987; DINVILLE, 1993).

Diante desta estrutura e das capacidades do aparelho fonador, percebe-se


que a complexa interação entre respiração e fonação é estabelecida não só pelo
papel de suprimento de energia para a movimentação das pregas vocais. Tal ligação
ocorre efetivamente no aspecto biomecânico também. Há uma conexão física entre
diversas estruturas componentes.

As pregas vocais, responsáveis pela produção do primeiro sinal sonoro que


irá se transformar na voz humana, estão situadas dentro da laringe, um tubo
cartilaginoso alongado que, por sua vez, está ligada à traqueia, que está ligada aos
pulmões. O diafragma possui fibras musculares em suas extremidades inferiores
inseridas no contorno da parte inferior da caixa torácica.

Assim, quando o volume de ar nos pulmões aumenta na inspiração e o


diafragma desce, ocorre um abaixamento da traqueia e esta também traciona a
laringe para baixo (Figura 2). Para esse evento, o volume do ar inspirado é um dos
aspectos relevantes para a distância tracionada entre os órgãos: um volume maior
32

de ar inspirado está associado a um abaixamento mais significativo da laringe. Tal


evento é denominado de “tracheal pull” ou tração da traqueia (SUNDBERG 1992;
THOMASSON 2003; BJORKNER, 2006; CRUZ, 2006; CORDEIRO, PINHO,
CAMARGO, 2007).

Tais interações do aparelho fonador ainda não foram completamente


esclarecidas, mas, segundo estudos, interferem e, por vezes, definem as
configurações laríngeas e supralaríngeas durante a produção vocal no canto
(SUNDBERG, 1992; IWARSSON, SUNDBERG, 1998; IWARSSON, 2001;
BJORKNER, 2006).

Figura 2 – Imagem ilustrativa da ligação biomecânica entre a musculatura respiratória e o volume


pulmonar.
Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-hFuPMJUvQrk/TfkF7F9CehI/AAAAAAAAAis/jIXzN9srB4A/s1600
/yoga-respira%25C3%25A7%25C3%25A3o%252Bdiafragmatica.jpg>.

Para melhor entender as possíveis consequências fonatórias do fenômeno


“tracheal pull” (tração da traqueia) e o efeito em cadeia que pode ocorrer entre os
órgãos que compõem o aparelho fonador, é importante realizar uma descrição da
laringe e das pregas vocais (SUNDBERG, 1992, IWARSSON, SUNDBERG, 1998;
IWARSSON, 2001, PETER et al, 2001; BJORKNER, 2006).

A laringe localiza-se no pescoço e é um tubo alongado, composto por


estruturas musculocartilaginosas, membranosas e ligamentosas (Figura 3). Em seu
33

interior, ficam as pregas vocais (duas estruturas formadas por músculo e mucosa,
em posição horizontal). Apesar de se apresentar sustentada por membranas,
ligamentos e músculos ligados ao osso hioide, a laringe pode movimentar-se
verticalmente quando tracionada. Extremamente complexa em sua estrutura e
funções, desempenha vários papéis de vital importância fisiológica: respiração,
proteção dos pulmões, apoio para realização de movimentos de força com membros
superiores e fonação. Segundo Pinho, Korn e Pontes (2014), algumas dessas
atividades são reflexas e involuntárias, como o selamento dos pulmões; e outras
podem acontecer voluntariamente, como o início da respiração (embora a respiração
tenha mecanismos de regulação involuntários também) ou a própria fonação
(ADLER, 1965; APPELMAN, 1986; LAVER, 1980; SUNDBERG, 1987; WARD, 1988;
DINVILLE, 1993; SALOMÃO, 2008; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Figura 3 – Cartilagens e respectivos músculos intrínsecos da laringe.


Fonte: <http://www.voiceproblem.org/anatomy/learning.asp>.
34

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 3:


Adam’s Apple: proeminência laríngea
Vocal ligaments: ligamentos vocais
Thyroid cartilage: cartilagem tireoide
Arytenoid cartilage: cartilagem aritenoide
Interarytenoid muscle: músculo interaritenóideo
Posterior cricoarytenoid muscle: músculo cricoaritenóideo
posterior
Lateral cricoarytenoid muscle: músculo cricoaritenóideo lateral
Cricoid cartilage: cartilagem cricoide
Trachea: traqueia
Quadro 2 – Tradução dos termos da Figura 3.

Na fonação, a laringe é responsável por modificar o fluxo de ar que sai dos


pulmões, o qual encontra as pregas vocais aduzidas. A resistência das pregas
vocais a esse fluxo gera o aumento da pressão subglótica. No momento em que a
pressão subglótica gerada vence a resistência oferecida pelas pregas vocais em
adução, elas se afastam e, imediatamente, diversas forças agem em conjunto,
promovendo um novo fechamento glótico. Entre essas forças, as de maior
relevância são a elasticidade das pregas vocais (regulada pela musculatura
intrínseca da laringe) e o efeito de Bernoulli (a relação entre a velocidade do fluxo
de ar e o estreitamento glótico, que resulta no efeito similar ao de sucção das
pregas vocais). Assim que o ar passa pela glote (espaço entre as pregas vocais), a
pressão subglótica diminui e a força que está abduzindo as pregas vocais também
é reduzida, ocorrendo a reaproximação delas. Há novamente uma sinergia de
fatores: conservação da força adutora intrínseca da laringe, elasticidade dos
tecidos e a ação do efeito de Bernoulli. Quando o fechamento glótico se completa,
a pressão subglótica volta a aumentar e a fonação recomeça (VAN DEN BERG,
1958; LADEFOGED, 1973; PINHO, 1998; SUNDBERG, 1987; PINHO, KORN,
PONTES, 2014).

Ou seja, neste processo, acontece a conversão da energia aerodinâmica em


energia acústica, o que demonstra que a fonação acontece pela associação de dois
componentes: um aerodinâmico e um mioelástico (VAN DEN BERG, 1958;
APPELMAN, 1986; LAVER, 1980; SUNDBERG, 1987; PINHO, 1998; CUKIER, 2006;
SALOMÃO, PINHO, KORN, PONTES, 2014).
35

Alguns parâmetros fisiológicos estão relacionados à modificação do fluxo


aéreo expiratório em som laríngeo. São eles: a pressão subglótica e as forças de
adução das pregas vocais, assim como sua extensão, massa e rigidez. Os músculos
intrínsecos da laringe, segundo Pinho, Korn e Pontes (2014), controlam a frequência
e a intensidade da voz por promoverem tensão das pregas vocais, modificações da
massa vibrante e variações na pressão aérea subglótica (Figura 4), evidenciando a
interação das forças aerodinâmicas, aéreas e as musculares supracitadas (VAN
DEN BERG, 1958; TITZE, 1980; LAVER, 1980; SUNDBERG, 1987; THOMASSON,
2003; CUKIER, 2006; SALOMÃO, 2008; PINHO, KORN, PONTES, 2014). Pinho,
Korn e Pontes (2014) ainda observam que a atividade neuromuscular é fundamental
para o controle da massa, tensão e elasticidade das pregas vocais (componente
mioelástico), mas, a partir daí, o fenômeno vibratório ocorre essencialmente pela
ação das forças aerodinâmicas relativas ao fluxo aéreo.

Figura 4 – Imagem esquemática: pressão subglótica vibração das pregas vocais.


Fonte: <http://www.voiceproblem.org/pdfs/anatomy.pdf>.

Por interferir no comprimento, na massa e na espessura das pregas vocais,


pode-se dizer que tanto no canto, quanto na fala, a pressão subglótica é ajustada de
acordo com a intensidade vocal e a altura vocal pretendidas (LAVER, 1980;
SUNDBERG, 1987; PINHO 1998; BEHLAU, PONTES, 2001; SALOMÃO, 2008;
PINHO, KORN, PONTES, 2014).
36

Tais parâmetros fisiológicos citados são, portanto, resultantes do tipo de


interação das esferas mioelásticas com o fluxo aéreo transglótico e possuem relação
com o ajuste laríngeo, a intensidade (loudness – percepção da intensidade) e a
frequência (pitch – percepção da frequência). Além disso, nessa interação do fluxo
aéreo transglótico e da vibração das pregas vocais, temos a variação do volume
torácico decorrente das interferências das variações respiratórias no comportamento
laríngeo, o qual representa importante fator para a qualidade vocal. Ou seja, as
configurações pneumofonoarticulatórias geradas por condições aerodinâmicas
diversas parecem resultar em diferentes condições fonatórias e, consequentemente,
variadas qualidades vocais, pois também alteram o ajuste geral do aparelho fonador
e seus mecanismos de ação (APPELMAN, 1986; LAVER, 1980; PINHO 1998;
BEHLAU, PONTES, 2001; THOMASSON, 2003; CUKIER, 2006; SALOMÃO, 2008;
PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Prosseguindo à descrição da laringe, ressaltamos que seus músculos


intrínsecos, subdivididos em abdutores, tensores e adutores, são responsáveis,
principalmente, pelos ajustes da fonte glótica:

- Abdutores: CAP (cricoaritenóideos posteriores, músculos pares, com


compartimentos horizontal e vertical).

- Tensores: TA interno (tireoaritenóideos internos, músculos pares, porção vocal


ou compartimento interno, responsável pelo encurtamento) e CT (cricotireóideos,
músculos pares, parte reta e parte oblíqua, responsável pelo alongamento).

- Adutores: AA (aritenóideos, músculo transverso ímpar e músculos oblíquos


pares); CAL: cricoaritenóideos laterais, músculos pares e TA externo
(tireoaritenóideos externos, músculos pares, porção tireomuscular ou
compartimento externo).

E, finalizando esta descrição básica da fisiologia da laringe, observamos a


participação da sua musculatura extrínseca nas funções exercidas pelo órgão. Além de
constituir um elo entre os sistemas respiratório, digestivo, fonatório e articulatório, esta
musculatura também é atuante, exercendo ajuda no desempenho geral da estrutura.

Os músculos extrínsecos são divididos em infra-hióideos (esternotireóideo,


esternoióideo e omoióideo), responsáveis por alterar a forma das cavidades de
ressonância, especialmente por atuarem no abaixamento da laringe; supra-hióideos
37

(genioióideo, miloióideo e ventre anterior do digástrico), que elevam e tracionam


anteriormente a laringe e os constritores faríngeos (cricofaríngeo e tireofaríngeo),
que influenciam na produção vocal em ação conjunta com os demais. Portanto, a
movimentação da laringe é afetada por sua musculatura extrínseca e esses
músculos também influenciam nas condições glóticas. Durante o canto, a ação de
fixação da laringe é exercida pelo esternotireóideo (PINHO, 1998; HANAYAMA et al,
2007; PETER, PINHO, 2007).

Completando a descrição dos mecanismos atuantes durante as dinâmicas


respiratórias e de sustentação da voz, é relevante citar a participação do conjunto de
músculos que compõem a cinta abdominal. Esses músculos são indispensáveis para
a firmeza das costelas e sua atuação é essencial na fala e no canto em fortes
intensidades, assim como na utilização do ar de reserva (APPELMAN, 1986; PINHO,
1998; MELLO, ANDRADA E SILVA, 2009).

Concluímos esta parte da revisão de literatura, acrescentando alguns


conceitos frequentes e úteis para a reflexão e o estudo da instância respiratória:

- Volume corrente: volume de ar que flui durante a respiração em repouso.

- Capacidade pulmonar total: volume de ar total ao final de uma inspiração


máxima e que compreende a capacidade vital ou quantidade de ar máxima
mobilizável durante a respiração.

- Volume residual: ar que permanece sempre nos pulmões, mesmo após a


expiração máxima.

- Capacidade residual funcional: posição de repouso do sistema, ocorre na


porção expiratória final do volume corrente.

Todas as manobras e produtos vocais, resultantes dos refinados mecanismos


descritos neste breve panorama, possuem suas correspondências perceptivas e
acústicas. Abaixo, na Figura 5, segue a representação das conexões entre as
estruturas e cavidades do aparelho fonador durante a fonação.
38

Figura 5 – Representação esquemática da produção vocal.


Fonte: <www.ispl.korea.ac.kr/~wikim/research/speech>.

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 5:


Muscle force: força muscular
Lungs: pulmões
Trachea: traqueia
Vocal cords: pregas vocais
Pharyngeal cavity: cavidade faríngea
Tongue hump: curvatura da língua
Velum: véu ou palato mole
Nasal cavity: cavidade nasal
Oral cavity: cavidade oral
Nose output: sinal de saída (nasal)
Mouth output: sinal de saída (oral)

Quadro 3 – Tradução dos termos da Figura 5.

3.2. Questões pedagógicas do canto

Além dos complexos aspectos e interações anatomofisiológicas envolvidas na


produção da voz expostos no tópico anterior, o estudo e a reflexão acerca do canto
deparam-se com questões pedagógicas particulares. A pesquisa sobre a voz
39

cantada encontra variações de conceitos, terminologias e abordagens tão amplas


que tal diversidade de termos e ausência de consenso torna-se praticamente uma
característica intrínseca à tradição pedagógica e artística no canto.

Sem dúvida, escolas e diferenças de estilos podem ser caracterizados e


identificados, mas, na prática, há divergência nas expressões utilizadas. Tal fato
ocorre, inclusive, por adeptos de uma mesma escola ou estilo e, por vezes, sobre
um mesmo parâmetro de dinâmica vocal, descrição de qualidade de voz ou, até
mesmo, sobre certa descrição de algum mecanismo fisiológico subjacente à
produção do canto (APPELMAN, 1986; LAVER, 1980; SUNDBERG, 1987; STARK,
2008; MARIZ, 2013).

Essa imprecisão não impede bons resultados de ensino, mas dificulta a


discussão em relação a determinadas instâncias do estudo e da pesquisa do canto
que pressupõe, além de capacidade perceptiva da sonoridade e da condição
corporal do aluno, a possibilidade de compreensão mais objetiva a respeito do
treinamento vocal. Por exemplo, uma mesma metáfora ou exercício pode promover
resultados completamente diversos em dois cantores diferentes. Sem o consenso de
terminologia e sem a construção de uma linguagem comum, inúmeras vezes
acontecem falhas ou limitações na comunicação da informação pedagógica e no
treinamento para a performance. Tal desencontro tende a ser reduzido com a
inclusão de conceitos e termos que possuem correlatos corporais e vocais já
consolidados no meio da pesquisa fonética ou da fisiologia da voz.

Hipócrates recebe os créditos de, ainda no século V a.C., ter apresentado as


primeiras especulações em relação ao papel e à importância dos pulmões, da
traqueia, dos lábios e da língua para a fonação. Entretanto, dentro da tradição do
canto ocidental, seja ele erudito ou popular, a inclusão de determinadas reflexões
associadas à constituição do instrumento vocal sob uma perspectiva científica é
datada do século XIX (GRANGEIRO, 1999; PACHECO, 2006; STARK, 2008;
PINTO, 2012).

Antes desta época, a característica primordial dos tratados e métodos de


ensino do canto era a da proposta prática e instintiva. Os exercícios utilizados
pelos professores durante as aulas seguiam esses mesmos preceitos. O foco
principal das obras e do treinamento do cantor residia no estabelecimento de
40

regras estilísticas e cuidados para um “bom cantar” descrito com adjetivos e termos
impressionísticos, com raras associações às questões fisiológicas. Muitas vezes,
os professores davam maior ênfase na orientação em relação ao comportamento
do pupilo. Desta forma, alguns conceitos utilizados até hoje no meio do canto
foram cunhados a partir da demanda musical, expressiva ou comportamental,
desprovidos de uma preocupação com os correlatos fisiológicos (PACHECO, 2004;
STARK, 2008).

A partir do século XVIII, começa a surgir uma preocupação maior em


descrever, em publicações e métodos de ensino, algumas estruturas e
movimentações de partes envolvidas no canto, mas, é com a chegada do século
XIX, que essa tendência ganha força e adeptos (STARK, 2008; PINTO, 2012;
MARIZ, 2013).

Em meio à explosão científica da era positivista, surge uma figura histórica


que é apontada por inúmeros estudiosos como um divisor de águas dentro das
abordagens do ensino do canto: Manuel Garcia II (RADOMSKY, 2005; PACHECO,
2006; SALOMÃO, 2008; STARK, 2008).

Nascido no início do século XIX, Manuel Garcia II (1805-1906) era de uma


família de músicos e teve a curta carreira de cantor interrompida por problemas
vocais. Passou, então, a dedicar-se exclusivamente ao ensino do canto. Colecionou
sucessos nessa empreitada, chegando a conquistar o posto de professor do
renomado conservatório de Paris. Além de somar sucessos em seus treinamentos
com cantores de ópera, Manuel Garcia II dedicou-se a pesquisar a fisiologia dos
mecanismos vocais. Tal fato produziu informações e descobertas que culminaram
no que é descrito por vários pesquisadores como “a grande virada” dentro da
pedagogia da voz cantada (RADOMSKY, 2005; PACHECO, 2006; SALOMÃO, 2008;
STARK, 2008).

Conta-se que ele, já interessado em buscar recursos para a visualização das


pregas vocais, viu o sol refletido nas janelas do Palais Royal e teve a ideia de
comprar um espelho dentário e acoplar ao final de um cabo, a fim de observar suas
próprias pregas vocais e a de seus alunos: era desenvolvida a técnica de
41

laringoscopia indireta (PINTO, 2012).3 Com a evolução dos achados científicos,


aconteceu uma proliferação de tratados que incluíam as descrições fisiológicas da
voz cantada, mas, possivelmente, Manuel Garcia II foi o primeiro professor de canto
a investir na inclusão de informações de fisiologia da voz como estratégia de ensino
de canto e aprimoramento da técnica vocal (RADOMSKY, 2005; STARK, 2008;
PINTO, 2012; MARIZ, 2013).

Independentemente das controvérsias associadas aos seus métodos de


ensino (como as diferentes interpretações sobre sua técnica do golpe de glote),
Manuel Garcia II, mobilizado pela inquietude e pelas curiosidades científicas e
pedagógicas acerca da constituição e do funcionamento do aparelho fonador
enquanto instrumento do canto, acrescenta uma nova consciência aos
ensinamentos da voz cantada que transforma os rumos dos estudos nessa área.

Tal mudança de perspectiva na pedagogia da voz cantada (ocidental), a


partir da apropriação dos achados científicos para estruturação do treinamento
vocal e da formação do cantor, inaugura uma mudança de percepção do corpo e
da voz em relação a este corpo. Nesse momento histórico, há a profusão de
descobertas e descrições fisiológicas que permitem o conhecimento das
associações de várias estruturas do corpo. É neste contexto que Manuel Garcia II
inventa o laringoscópio, agregando aos seus estudos e aulas o recurso de
visualização da instância glótica. Tal recurso viabiliza, mesmo que ainda de forma
rudimentar, a observação das pregas vocais e dos mecanismos da fonação. A
fonte glótica e a geração do primeiro sinal acústico podem ser avaliadas durante o
canto, para melhor compreensão de sua relevância na qualidade vocal final. Assim,
mesmo que a “grande virada” de Manuel Garcia II não tenha sido propriamente um
divisor histórico entre procedimentos de ensino, mudança esta processual,
podemos dizer que ele iniciou uma nova tendência pedagógica que passaria a

3
Philip Bozzini, Benjamin Guy Babington, Ludwig Turck, Czermak, Adelbert von Tobold são outros
nomes associados à história da invenção e do aperfeiçoamento do laringoscópio. Em 1854, há o
registro de que Manuel Patricio Rodríguez Garcia alegou ser o primeiro a ver sua própria laringe
usando, de forma adaptada, um espelho que era utilizado por dentistas. E, ainda, publicando sua
experiência no ano seguinte, obteve da Universidade de Konigsberg um diploma de médico honorário
pelo relato de seus estudos. No contexto de nosso trabalho, o que queremos ressaltar é a perspectiva
que Manuel Garcia acrescenta em seus procedimentos pedagógicos, a partir da inclusão do aspecto
fisiológico da produção vocal em seus ensinamentos (PEREIRA, 2014).
42

coexistir com os métodos adeptos de descrições exclusivamente metafóricas,


impressionísticas ou holísticas.

Sob esse aspecto, tal mudança na pedagogia do canto (ocidental), a partir da


inclusão das informações e dos termos advindos de pesquisas científicas, passou a
oferecer uma alternativa para a condução dos estudos da voz, por meio da inclusão
de um acervo mais objetivo e consensual de termos e descritores dos mecanismos e
treinamentos vocais.

Atualmente, mesmo que uma grande parcela de cantores opte por mesclar
técnicas, podemos identificar ainda um grande número de escolas de canto
vigentes: escola italiana, francesa, alemã, belting, speech-level etc. Cada uma com
suas particularidades e, em geral, oferecendo soluções vocais voltadas para um
estilo específico de repertório de canto. Mesmo com todos os avanços científicos e
técnicas de investigação, percebemos, ao conviver com os termos empregados por
estas variadas abordagens, que ainda não há uma terminologia comum neste
meio, nem para descrever fenômenos subjacentes a qualquer atividade fonatória,
nem para conseguir estabelecer estudos comparativos entre estas linhas de
trabalho vocal (SUNDBERG, 1987; BJORKNER, 2006; SALOMÃO, 2008; MARIZ,
2013).

Reforça este aspecto a questão respiratória propriamente dita, para a qual


também é possível listar divergências conceituais e descrição de recursos técnicos
contrastantes como: apoio, contra-apoio, técnica de “não apoiar”. Alguns destes
termos aparentemente contrários são utilizados, inclusive, entre cantores
pertencentes a uma mesma escola ou treinados por um mesmo professor
(SUNDBERG, 1987; SUNDBERG, 1992, MARIZ, 2013).

Desta forma, entendemos que a investigação que busca uma descrição


mais objetiva sobre a qualidade da voz cantada demanda subsídios descritivos
de fora do âmbito musical, e do jargão associado ao canto, predominantemente
impressionístico e sem situação de consenso. Ou seja, o estudo da qualidade
vocal solicita ferramentas conceituais que permitam a identificação e a
descrição (sem o juízo de valor) das possibilidades de interações e ajustes do
aparelho fonador, assim como dos parâmetros para os diferenciais de
43

gradiência dos processos envolvidos na produção vocal (LAVER, 1980;


SUNDBERG, 1987).

Ainda considerando questões pedagógicas relevantes acerca da voz cantada,


podemos citar as possíveis diferenças respiratórias e vocais entre os naipes de
canto, os ajustes específicos de cada indivíduo e as diferenças entre os
procedimentos corporais utilizados durante o canto solo e o canto coral
(SUNDBERG, 1987; GRANGEIRO, 1999; CRUZ, 2006; PACHECO, 2006; BASTOS,
FERREIRA, CAMARGO, PINHO, 2007; MELLO, 2008).

Em relação ao conceito de naipe, na música ocidental, um coro misto (de


vozes adultas masculinas e femininas) compõe-se de quatro naipes: sopranos
(vozes agudas femininas), contraltos (vozes graves femininas), tenores (vozes
agudas masculinas) e baixos (vozes graves masculinas). Essa classificação das
vozes leva em conta as características vocais do cantor em relação à extensão,
região da extensão com maior aproveitamento de volume e resistência, notas de
transição dos registros vocais e qualidade vocal (COSTA, 2001; BEHLAU,
REHDER, 1997; BASTOS, FERREIRA, CAMARGO, PINHO, 2007).

Além destes quatro naipes, também são descritas outras duas categorias: o
mezzo-soprano (voz feminina intermediária entre o contralto e o soprano) e o
barítono (voz masculina intermediária entre o baixo e o tenor) (GRANGEIRO, 1999).

Ainda sobre essa questão do conceito de naipe e classificações vocais, é


importante lembrar que há a classificação vocal de contratenor e de sopranista,
atualmente atribuída ao resultado da técnica de falsete utilizada por homens adultos,
com voz falada de tenor ou baixo, para cantar partes dos naipes de contralto ou
soprano (CRUZ, 2006).

Observando os critérios de classificação das vozes, embora não aconteça


uma determinação infalível, é possível perceber que cada naipe tende a uma
estrutura corporal e a certas características anatomofisiológicas. Esse fato sugere
que aspectos como extensão, região de troca de registros e conforto de emissão
também dependem da constituição corporal do instrumento, além da escolha técnica
(COSTA, 2001; BEHLAU, REHDER, 2007).

Como já mencionado, não há uma determinação por tais fatores, mas essas
tendências de características biomecânicas demonstram que cada naipe
44

corresponde a um instrumento de canto diferente e, possivelmente, apresenta


características respiratórias diversas (SUNDBERG, 1987; BEHLAU, REHDER, 1997;
GRANGEIRO, 1999; PACHECO, 2006).

Dentre as singularidades no âmbito do ensino do canto, finalizamos


observando que os ajustes individuais, a faixa etária e as solicitações de cada estilo,
assim como as diferenças entre o canto solo ou coral, apresentam-se como variáveis
relevantes na prática pedagógica e nos estudos da voz cantada. Essas
características foram consideradas para definir a delimitação e caracterização do
grupo de sujeitos desta pesquisa (SUNDBERG, 1987; BEHLAU, PONTES, 2001;
BJORKNER, 2006; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

3.3. Fundamentação teórica para estudos acústicos e perceptivos da


qualidade da voz cantada

Considerando a complexidade dos mecanismos e sistemas envolvidos na


qualidade respiratória e vocal durante o canto, buscou-se fundamentação teórica
capaz de abordar essa refinada concatenação de estruturas, ajustes e funções
corporais como um todo. Dessa forma, este tópico expõe a importância da relação
entre a percepção e a produção da qualidade vocal. Enfoca, especialmente, a
relação entre mecanismos respiratórios e os ajustes fonatórios e articulatórios
possivelmente associados, assim como a relevância do suporte teórico do modelo
escolhido para investigar as interações dessas instâncias solicitadas durante a
produção da voz cantada.

A qualidade vocal depende das condições que os sistemas envolvidos


apresentam no momento da geração da energia sonora. Assim, modelos teóricos
que apresentem a possibilidade de enfoque das contribuições dos níveis glótico e
supraglótico, bem como o estabelecimento de correlações destes eventos com as
condições do suprimento pulmonar, são de interesse para estudos sobre a
45

qualidade vocal (TITZE, 1980; CAMARGO, 2002; VIEIRA, 2004; MASTER, 2005;
SALOMÃO, 2008).

Modelos que permitem uma perspectiva onde há a relativa independência


entre fonte e filtro e identificam elementos do aparelho fonador e suas relações
fonético-acústicas são uma via para a compreensão da capacidade respiratória
como primeira atividade a diferenciar a qualidade da produção sonora (FANT,
1970; LAVER,1980). Tais abordagens possibilitam a percepção de que a
respiração utilizada durante o canto é capaz de interagir e influenciar,
dependendo de suas características, a atividade glótica e supraglótica e,
portanto, a qualidade vocal como um todo, durante a produção da voz cantada
(APPELMAN, 1986; CAMARGO, 2002; VIEIRA, 2004; CUKIER, 2006;
BJORKNER, 2006; SALOMÃO, 2008).

Estudos da voz (na fala e no canto) realizados por meio de técnicas


experimentais como a análise acústica (CAMARGO, 2002; PESSOA, 2012;
QUEIROZ, 2012; ALVES, 2013), entre outras, têm utilizado como fundamentação de
seus trabalhos o modelo fonte-filtro para a produção das vogais, e a teoria acústica
da produção da fala (FANT, 1970).

A teoria acústica da produção da fala (FANT, 1970) oferece subsídios para a


análise da produção vocal a partir de uma perspectiva científica que contempla os
diversos componentes e interações dos eventos pneumofonoarticulatórios que
produzem a qualidade vocal. Tal teoria, na qual se destacam os princípios do
modelo linear da fonte e do filtro, considera as ações dos elementos laríngeos e
supralaríngeos do aparelho fonador. Essa característica oferece importante
ferramenta que respalda estudos que buscam compreender interações das
estruturas envolvidas.

O enfoque da teoria acústica da produção da fala (FANT, 1970) recai


sobre a fonte vibratória (resultante da vibração das pregas vocais) e o filtro (o
tubo de ressonância configurado por diversos ajustes do trato vocal
supraglótico). Toda a produção vocal pode ser compreendida pelas relações
acústico-articulatórias (Figura 6), apesar de o autor não referir qualidade vocal
nas descrições desse modelo.
46

A produção da fala é analisada, então, no contexto do modelo, que a


descreve como a geração de energia da fonte glótica (fonte de voz) modificada pela
ação do filtro supraglótico (configurações do trato vocal em consequência das
mobilizações dos articuladores). Além disso, a teoria acústica fornece fundamentos
para análise acústica da fala e do canto, o que possibilita a inferência de medidas de
atividade glótica e supraglótica, estabelecendo a possibilidade de correspondência
entre dois aspectos da voz: a produção e a percepção (CAMARGO, 2002; VIEIRA,
2004; SALOMÃO, 2008; GUSMÃO et al, 2010).

Figura 6 – Imagem esquemática do Modelo fonte-filtro para a produção das vogais – Teoria acústica
da produção da fala – estruturas fisiológicas e representações do espectro da fonte glótica, da
filtragem supraglótica (transferência) e da saída (output vocal).
Fonte:<http://www.spectrum.uni-bielefeld.de/~thies/HTHS_WiSe2005-06/session_05.html>.
47

TRADUÇÃO DOS TERMOS DA FIGURA 6:


Lungs: pulmões
Airstream: corrente de ar (energia aerodinâmica)
Vibrating vocal folds: vibração das pregas vocais (fonte)
Source: fonte
Vocal tract: trato vocal (filtro)
Output sound: som de saída
Output spectrum: espectro de saída (após filtragem)
Filter function: função de filtragem
Source spectrum: espectro da fonte (só fonte)
Quadro 4 – Tradução dos termos da Figura 6.

3.4. Instrumentos de investigação da qualidade vocal

Segundo Pinho e Camargo (1998), a tecnologia disponível para a


investigação da produção vocal encontra respaldo teórico nos princípios acústicos
da descrição da fala, com destaque para a teoria acústica da produção da fala,
proposta por Gunnar Fant, em 1960, e descrita no tópico anterior.

Com o desenvolvimento tecnológico e computacional, recursos analógicos


foram substituídos por digitais, mudança que expandiu a capacidade de
processamento e análise de dados relativos à produção da voz. Vários
equipamentos foram agregados às demandas da pesquisa científica da voz, da fala
e do canto (PINHO, CAMARGO, 1998).

As bases fisiológicas e as informações acústicas passaram a estabelecer


parâmetros para a avaliação perceptiva, a partir das descrições advindas dos
laboratórios de voz.

Aspectos da dinâmica vocal, assim como o detalhamento funcional do trato


vocal, ganharam, nas últimas décadas, a oferta de inúmeros equipamentos e
técnicas de registro, mensuração e descrição da voz e das estruturas do aparelho
fonador (PINHO, CAMARGO, 1998; PINHO, CAMARGO, 2001; BJORKNER, 2006;
PINHO, KORN, PONTES, 2014).
48

A pesquisa das correspondências entre parâmetros acústicos, fisiológicos e


aerodinâmicos da qualidade vocal não remonta há muito tempo na literatura
fonética, ao contrário dos estudos acerca da dinâmica da voz (duração, pitch e
loudness) (SALOMÃO, 2008). Há uma complexidade nesse tipo de estudo, pois
não há correspondência direta entre medidas ou descritores perceptivos, como
acontece nos aspectos da dinâmica vocal. Pesquisas dedicadas à qualidade vocal
demandam o estabelecimento de correlações e inferências de variáveis de
diversas esferas da produção vocal (LAVER, 1980; LAVER, 2000; CAMARGO,
2002; BARBOSA, 2009).

Dessa forma, a associação de técnicas para a coleta dos dados desta


pesquisa, assim como a simultaneidade dos procedimentos, foi a opção escolhida
por este estudo, pois pesquisas relevantes têm apontado benefícios na combinação
de técnicas para a pesquisa da qualidade vocal, devido à diversidade das esferas
envolvidas. Os achados obtidos por meio da associação de técnicas têm sugerido
interessantes correlações entre dados coletados, medidas extraídas e correlatos
fisiológicos (VIEIRA, 2004; IWARSSON, SUNDBERG, 1998; KENT, BALL, 2000;
THOMASSON, 2003; BJORKNER, 2006; SALOMÃO, 2008; PESSOA, 2012).
49

4. METODOLOGIA

A metodologia é exposta em termos da descrição dos sujeitos de pesquisa,


dos procedimentos de coleta, dos recursos de análise das amostras e das
justificativas de suas escolhas.

4.1. Descrição dos sujeitos

Para composição do grupo de sujeitos, foram contatadas cantoras de três


coros amadores da cidade de São Paulo. A partir do retorno obtido pelo chamado da
pesquisa, foram inicialmente selecionadas 6 sopranos, por meio de questionário
(Apêndice 1), o qual possibilitou a verificação das características dos sujeitos de
pesquisa, levando em conta os seguintes critérios de inclusão e exclusão:

Critérios de inclusão das cantoras:


- Deveriam estar classificadas no naipe de soprano
- Deveriam ter idade entre 25 e 35 anos
- Deveriam ser integrantes de coro amador da cidade de São Paulo
- Deveriam possuir entre 3 e 9 anos de experiência em canto coral
- Deveriam ter formação musical e técnica vocal iniciante
- Não deveriam atuar profissionalmente ou ter formação profissional em canto
- Não deveriam ter técnicas respiratória e vocal consolidadas
- Deveriam ter capacidade de realização das tarefas respiratórias do experimento
- Deveriam ter capacidade de realização das tarefas de canto e vocalização do
experimento
- Deveriam apresentar características biofísicas aproximadas
50

Critérios de exclusão das cantoras:


- Não deveriam apresentar alterações vocais e respiratórias
- Não deveriam estar em período gestacional
- Não deveriam estar em período de amamentação
- Não deveriam referir alterações auditivas

Assim, foi possível compor o grupo de sujeitos de pesquisa com o seguinte


perfil: indivíduos sem alterações vocais, na faixa etária entre 25 e 35 anos, com
experiência em canto coral e musical equivalentes e portes físicos aproximados.

Uma das candidatas à coleta cancelou sua participação por motivo de


saúde, então, participaram das sessões de coleta 5 cantoras que atendiam aos
critérios de inclusão e exclusão elencados. Destas, uma apresentou sinais de
fadiga vocal, tais como rouquidão e quebras frequentes em notas específicas no
dia de gravação, tendo suas amostras descartadas do banco de dados.
Compuseram, portanto, o banco de dados da pesquisa amostras de 4 sopranos
sem experiência ou treinamento profissional no canto, todas cantoras de três coros
amadores distintos da cidade de São Paulo, com faixa etária entre 25 e 35 anos e
experiência equivalente no canto coral amador, assim como formação musical e
técnica vocal aproximadas.

No Quadro 5 são apresentadas as características de cada participante:

Formação Experiência em coro Tamanho


Sujeito Idade (anos)
musical amador uniforme/altura
S1 25 Iniciante 9 anos G / 162 cm
S2 27 Iniciante 7anos G / 160 cm
S3 29 Iniciante 5anos G / 178 cm
S4 34 Iniciante 3anos M / 163 cm
Quadro 5 – Características dos sujeitos do grupo estudado quanto a idade, formação musical,
experiência em canto coral e características biofísicas.

As coletas foram concentradas no naipe de sopranos em função da oferta dos


sujeitos nos coros amadores visitados, da possibilidade musical, da competência
para realização da tarefa do experimento e da disponibilidade de agenda dos
sujeitos para coleta. Todas as cantoras escolhidas para a participação nesta
51

pesquisa foram informadas previamente que seriam solicitadas a gravar três


repetições, com pequenos intervalos, de trecho de canção e vocalização em [a],
ambas tarefas de curta duração e simples no aspecto musical. Igualmente, foram
informadas de que receberiam as partituras e o estímulo de áudio com antecedência
para estudo, pois não seria a questão de memória ou de leitura musical o foco deste
estudo. Assim, as melodias poderiam estar bem memorizadas e conhecidas para
que fosse possível cantar de “maneiras diversas”. Foi exposto para as pesquisadas
que o estudo em questão investigava a voz cantada. Entretanto a especificidade
sobre a busca de caracterização dos efeitos e das relações entre respiração e
qualidade vocal foi revelada apenas ao término da coleta, para que os dados fossem
preservados de qualquer estudo técnico prévio que pudesse afetar ou comprometer
os resultados.

Todas as cantoras expressaram seu livre consentimento na etapa de


preparação e, no momento das coletas, assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE – Apêndice 2) após a explicação minuciosa das tarefas
envolvidas no experimento.

4.2. Procedimentos de coleta de dados

As sessões de gravação foram realizadas em ambiente acusticamente


tratado, no Laboratório de Rádio da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e
Artes (FAFICLA) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

Os registros de áudio foram realizados de forma simultânea à avaliação do


comportamento respiratório e da validação da estratégia respiratória solicitada, por
parte de juiz credenciado no método de Estruturação de Cadeias Musculares e
Articulares GDS (Godelieve Dennys-Struyf) (Apêndice 5).

Para as gravações em áudio, foi utilizada mesa de som digital 16 canais,


Soundcraft 328XD. O software utilizado foi o SoundForge P2011.0
52

Antes das gravações, dentro da cabine do estúdio, foi posicionada uma


câmera de vídeo a uma distância de um metro e meio e ângulo de 45º do local
demarcado para o posicionamento dos indivíduos. Neste local, foi posicionada uma
estante de partitura metálica e foram dispostas cópias para consulta dos trechos a
serem cantados, as quais puderam ser acompanhadas durante a execução das
tarefas e gravações.

Foram realizadas as calibragens antes e depois de cada coleta, e observadas


as mesmas condições de gravação para todos os sujeitos de pesquisa. Para o
procedimento de calibragem, foi utilizado um medidor de pressão sonora (Radio
Shak Sound Level Meter; catálogo número 33-2055; Radio Shak Corporation, Forth
Work, TX) a uma distância de 12cm da saída de reprodução de um sinal de 1kHz,
gerado pelo software Praat. Os dados de calibragem foram anotados e esse
parâmetro de distância foi registrado e utilizado para posicionar o microfone de
cabeça nos pesquisados, observando a mesma distância de 12 cm entre microfone
e comissura labial direita. O microfone utilizado foi modelo Shure Headset WH20.

Os indivíduos realizaram todas as tarefas na posição em pé e com inspiração


oronasal. A avaliação do comportamento respiratório e da movimentação
toracoabdominal foi realizada por juiz credenciado no método de Estruturação de
Cadeias Musculares e Articulares GDS (Godelieve Dennys-Struyf). Este juiz esteve
presente durante todas as coletas e foi responsável por avaliar e validar ou não as
amostras de áudio, pelo critério da execução das estratégias respiratórias
solicitadas. Quando algum sujeito de pesquisa não alcançou a validação do juiz, ou
seja, não foi capaz de realizar determinada tarefa cantada com a estratégia
respiratória solicitada, a amostra foi descartada e nova coleta foi realizada. Só foram
aproveitadas as amostras das tarefas cantadas com as estratégias respiratórias
solicitadas e validadas pelo avaliador.

A coleta de dados também contou com a complementação do registro em


vídeo (câmera Panasonic-FP1– Lumix 12 Megapixel), realizado por dois membros
da equipe TV-PUC.

Para observação detalhada da movimentação toracoabdominal durante as


respirações, os sujeitos utilizaram roupas similares, fornecidas pelo pesquisador
53

(legging preto e regata branca, sem folgas no tecido, principalmente na parte


superior do corpo).

As tarefas solicitadas foram: respiração clavicular (também identificada como


alta nos resultados) e respiração costodiafragmática abdominal (também identificada
como baixa nos resultados), para realização de trecho cantado e vocalização em
forte e fraca intensidades.4

As partituras e o áudio foram previamente fornecidos aos sujeitos.

Como suporte sensorial proprioceptivo, para facilitar a realização das tarefas


com estratégias respiratórias diferentes – respiração clavicular e respiração
costodiafragmática abdominal –, foram posicionadas duas fitas sintéticas, coloridas
e elásticas no corpo das cantoras, acima da regata e legging, seguindo os
seguintes critérios:

- Durante todas as tarefas realizadas com estratégia de respiração


clavicular (trecho de canção e vocalização), duas fitas foram
posicionadas: uma na região clavicular e outra nas cristas ilíacas, com a
instrução de que, aquela posicionada na região clavicular deveria ser esticada,
durante a inspiração, pela entrada de ar concentrada na parte superior do
tórax; e que a fita posicionada na região das cristas ilíacas, abaixo do umbigo,
deveria manter-se frouxa (ou seja, só a parte superior do corpo deveria ser
mobilizada na inspiração, a parte dos intercostais e do abdômen inferior
deveriam se manter sem expansão) (Figura 7).

- Durante todas as tarefas realizadas com estratégia de respiração


costodiafragmática abdominal (trecho de canção e vocalizações), duas
fitas foram posicionadas: uma na região dos intercostais (quinta costela) e
outra nas cristas ilíacas, com a instrução de que, nesta tarefa, ambas as fitas
deveriam ser esticadas no momento da entrada do ar (pela ampliação
toracoabdominal, consequente à estratégia respiratória costodifragmática
abdominal) (Figura 8).

4
O termo fraca intensidade será também identificado como piano, termo musical correspondente.
54

Figura 7 – Set de gravação, cantora realizando estratégia de respiração clavicular (respiração alta).

Figura 8 – Set de gravação, cantora realizando estratégia de respiração costodiafragmática


abdominal (respiração baixa).

Na sequência, as partes e o roteiro de coleta serão apresentados no texto.

Assim, a fase de preparo das cantoras (prévia à coleta) pode ser descrita como:
55

- realização de aquecimento vocal, com duração aproximada de dez minutos


- explicação detalhada das tarefas, divididas em dois grupos (A e B)
- orientação para realização de ambos os grupos de tarefa na postura em pé e
com respiração oronasal
- orientação de que, ao final de cada grupo de tarefas, a cada final de
gravação, a tarefa seria novamente descrita e rememorada, assim como uma
referência de afinação seria oferecida
- disponibilização da escuta da gravação referência fornecida para estudo,
veiculada por meio das caixas de som no estúdio

Terminadas as instruções, as cantoras foram posicionadas na marca no chão,


estabelecida para a câmera. Finalizando os preparativos, foi ajustado um microfone,
modelo de acoplagem em cabeça Shure WH20, unidirecional a 12 cm de distância
da comissura labial direita das participantes. Todas também foram alertadas para a
importância de manter o microfone na mesma posição ao longo de toda aquisição
das amostras, assim como de evitar ruídos com os cabos dos equipamentos durante
os registros.

Neste posicionamento demarcado no chão, os indivíduos puderam ser


avaliados, durante as coletas, pelo juiz credenciado, solicitado a permanecer no
ambiente de coleta durante todo o experimento, para que pudesse avaliar a
execução da estratégia respiratória solicitada. O juiz permaneceu fora da cabine de
gravação, separado pela proteção de vidro, a uma distância de aproximadamente
dois metros e meio, em um ângulo de 45º em relação à cantora. Neste
posicionamento, tinha amplo acesso visual ao sujeito em atividade.

O padrão inspiratório escolhido para este experimento, como supracitado, foi


oronasal para todos os sujeitos e tarefas do experimento, uma vez que essa
inspiração é o tipo predominante durante as atividades de fala e canto.

Todas as cantoras realizaram todas as tarefas na mesma sequência e


receberam partituras e áudio, assim como cantaram as melodias na mesma tonalidade.

A sequência e o roteiro realizados durante as coletas, e as partituras do


trecho de canção e da vocalização serão apresentados a seguir.
56

O tutorial seguido para os procedimentos pré-coleta e coleta estão no


Apêndice 3.

Para melhor compreensão da sequência de tarefas, apresentamos os grupos


de tarefas “A” e “B” e a sequência realizada por todos os sujeitos de pesquisa:

GRUPO “A” DE TAREFAS

EMISSÕES DE CANTO COM ESTRATÉGIA DE RESPIRAÇÃO CLAVICULAR


(ALTA):

1. Trecho de canção, com estratégia de respiração clavicular, emissão em


forte intensidade.

2. Trecho de canção, com estratégia de respiração clavicular, emissão em


fraca intensidade.

3. Vocalização com estratégia de respiração clavicular, em forte


intensidade, com a vogal [a].

4. Vocalização com estratégia de respiração clavicular, em fraca


intensidade, com a vogal [a].

GRUPO “B” DE TAREFAS

EMISSÕES DE CANTO COM ESTRATÉGIA DE RESPIRAÇÃO


COSTODIAFRAGMÁTICA ABDOMINAL (BAIXA):

1. Trecho de canção, com estratégia de respiração costodiafragmática


abdominal, em forte intensidade.

2. Trecho de canção, com estratégia de respiração costodiafragmática


abdominal, em fraca intensidade.

3. Vocalização, com estratégia de respiração costodiafragmática


abdominal, em forte intensidade, com a vogal [a].

4. Vocalização com estratégia de respiração costodiafragmática, em fraca


intensidade, com a vogal [a].
57

As cantoras realizaram 3 repetições de cada tarefa dos grupos A e B. O


intervalo entre as três etapas de coletas foi de, aproximadamente, 10 minutos. A
hidratação dos sujeitos foi permitida livremente, sempre que julgassem necessário.

O corpus, portanto, foi constituído por um pequeno trecho de canção e


vocalização curta em [a] realizadas nas estratégias respiratórias clavicular (alta) e
costodiafragmática abdominal (baixa), em forte e fraca intensidades (correspondentes
aos termos musicais forte e piano, utilizados nos resultados e gráficos).

O trecho de canção renascentista selecionado para a gravação tinha


aproximados 25 segundos e possuía, na sua linha melódica, a sustentação da nota
Fá45 no final.

A vocalização escolhida foi um exercício de oitava, com sustentação da nota


mais grave inicial, Dó3.6 A vocalização foi solicitada na vogal [a], e alcançou cerca
de 21 segundos.

Tanto o trecho de canção, quanto o exercício de vocalização foram escolhidos


pela simplicidade de suas características musicais e por suas estruturas
apresentarem demandas recorrentes na performance e na aprendizagem da técnica
do canto, nos moldes ocidentais.

Essa simplicidade das tarefas musicais permitiu que a investigação dos


efeitos de estratégias respiratórias na qualidade da voz cantada não sofresse a
interferência de demandas vocais ou musicais mais complexas.

Além desse aspecto, o trecho de canção (com letra) e a vocalização em [a]


ofereceram ao experimento uma diversidade complementar de informações: o trecho
canção solicitou a articulação de texto e a sustentação do agudo final, e o exercício
de vocalização exigiu a realização da tarefa com apenas uma vogal – [a] – e a
sustentação do grave.

Os trechos escolhidos para gravação estavam sempre na mesma tonalidade


para todos os sujeitos.

5
Esta nota corresponde ao Fá uma sexta menor acima do Lá3 (8 semitons acima do Lá3),
considerando-se o Lá3 o Lá 440Hz (MED, 1996).
6
Esta nota corresponde ao Dó uma sexta maior abaixo do Lá3 (9 semitons abaixo do Lá3),
considerando-se o Lá 3 o Lá 440Hz (MED, 1996).
58

As partituras do trecho de canção e da vocalização em [a] solicitados durante


a coleta são apresentadas a seguir nas Figuras 9 e 10:

Figura 9 – Imagem da partitura de referência da tarefa trecho de canção: partitura adaptada de


trecho da canção renascentista “Pase el Agua” (compositor anônimo), com sustentação da nota Fá 4
no final.

Figura 10 – Imagem da partitura de referência para tarefa vocalização de oitava em [a], com
sustentação inicial da nota Dó 3, solicitada durante a coleta de dados.

Um roteiro para organização das sessões de coleta foi estabelecido e é


apresentado no Apêndice 4.

Algumas amostras tiveram de ser gravadas mais de uma vez durante as


coletas. Isso ocorreu quando:
- O juiz avaliava que a meta para realização da estratégia respiratória não
havia sido atingida
- Em caso de equívoco na pronúncia (vogal ou consoante)
- Na situação de perda acentuada da afinação e da tonalidade
- Quando não havia nenhuma distinção entre as intensidades propostas
59

Nenhuma repetição para aquisição do registro da amostra excedeu o número de


três tentativas em uma mesma coleta, evitando fadiga e desgaste para as cantoras.

O projeto descrito foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia


Universidade Católica de São Paulo, via Plataforma Brasil, e aprovado sob o número
782.680 no ano de 2014.

4.3. Procedimentos de análise dos dados

Os procedimentos de análise de dados compreenderam as avaliações das


estratégias respiratórias (por examinador especializado), assim como as análises
perceptivo-auditiva e acústica. As análises foram abordadas em tópicos específicos
relativos às avaliações das estratégias respiratórias e das amostras de áudio. Os
dados obtidos foram abordados também de forma integrada, para construir relações
entre as esferas estudadas.

Foram analisadas apenas as amostras validadas pelo juiz credenciado, no


aspecto da realização da estratégia respiratória solicitada em cada tarefa: estratégia
respiratória clavicular (alta) e estratégia costodiafragmática abdominal (baixa). As
amostras obtidas durante as coletas do experimento compõem, portanto, emissões
de trecho de canção e de vocalizações em [a], cantadas com as estratégias
respiratórias supracitadas, nas intensidades forte e fraca.

A primeira etapa dos procedimentos de análise dos dados ocorreu no


momento da própria coleta. A validação ou não da estratégia respiratória solicitada
foi o primeiro critério utilizado para selecionar as amostras a serem estudadas
posteriormente. Dessa forma, quando as coletas foram finalizadas, os arquivos
obtidos já eram fruto de uma triagem inicial, realizada a partir da avaliação do fator
central do trabalho: a estratégia respiratória.

Na sequência, todas as amostras de áudio foram etiquetadas e identificadas a


partir dos sujeitos de pesquisa (cantoras), tarefas de canto (trecho de canção ou
60

vocalização), estratégia respiratória (alta ou baixa), intensidade (forte ou fraca),


solicitação vocal e musical específica (trecho com ou sem sustentação de agudo ou
grave) e número de coleta (1, 2 ou 3).

Após esse procedimento de organização e identificação das amostras, foi


realizada a primeira etapa da análise acústica, incluindo o total das amostras obtidas
e etiquetadas.

A partir dos primeiros resultados, pelo grande volume de dados obtidos,


optou-se por selecionar parte das amostras para a realização de uma tarefa de
avaliação perceptiva, para a qual foram escolhidas, então, as amostras de áudio dos
trechos de canção (as vocalizações não integraram esta etapa). Tal escolha ocorreu
pela similaridade deste conjunto de registros com a situação da prática do canto em
si, pois continha maior variedade de sons (vogais e consoantes), presença de
coarticulações e solicitações musicais diversas.

Finalizando o procedimento de análise de dados, estas amostras de trecho


de canção selecionadas para a perceptiva também foram submetidas à análise
acústica integrada.

4.3.1. ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS RESPIRATÓRIAS

A análise das estratégias respiratórias e da movimentação toracoabdominal


foi realizada simultaneamente às gravações, durante as coletas das amostras das
tarefas de canto, conforme indicado no item 4.2.

Para a análise integrada e os resultados, a estratégia respiratória clavicular


será identificada como respiração alta e a estratégia respiratória costodiafragmática
abdominal será identificada como respiração baixa.
61

4.3.2. ANÁLISE DAS AMOSTRAS DE ÁUDIO

As amostras de áudio selecionadas para análise compreenderam todo o


material gravado e validado quanto à estratégia respiratória. Ou seja, todo material
gravado das tarefas de canto, a partir da realização das estratégias respiratórias
solicitadas: clavicular (identificada como alta nos resultados) e costodiafragmática
abdominal (identificada como baixa nos resultados).

As amostras de áudio foram analisadas dos pontos de vista acústico e


perceptivo. Do ponto de vista acústico, todas as amostras de trecho de canção e
vocalizações em [a] selecionadas foram analisadas com a utilização do script
ExpressionEvaluator (BARBOSA, 2009), aplicável ao software de livre acesso
PRAAT (disponível em http://www.fon.hum.uva.nel/praat).

Do ponto de vista perceptivo, foi aplicado um teste com a participação de


examinadores com formação musical e experientes na área do canto. Pelo grande
volume de dados obtidos, a avaliação perceptiva foi realizada a partir de um recorte
das amostras. Para esta etapa da análise perceptiva, foram considerados todos os
arquivos sonoros realizados com a tarefa trecho de canção, a partir das estratégias
respiratórias e intensidades solicitadas. Os arquivos das amostras do exercício de
vocalização de oitava não foram utilizados para a perceptiva.

4.3.2.1. Análise acústica por meio do script Expression Evaluator (BARBOSA,


2009)

As amostras obtidas foram segmentadas em 283 trechos para análise


acústica. A etiquetagem foi realizada de forma a organizar e identificar as amostras
de áudio segundo os sujeitos de pesquisa (nomes), tarefas de canto (trecho de
canção ou vocalização), estratégias respiratórias (alta ou baixa), intensidades (forte
62

ou fraca), particularidade na solicitação vocal e musical (trecho com ou sem


sustentação de agudo ou grave) e número de coleta (1, 2 ou 3).

Abaixo, exemplo de etiquetagem de amostra de trecho de canção (Figura 11)


e partitura correspondente (Figura 12):

Figura 11 – Imagem de tela do software PRAAT com trecho de arquivo e exemplo do padrão de
etiquetagem utilizado para separação e organização das amostras de trecho de canção e
sustentação do agudo final.

Figura 12 – Imagem da partitura correspondente a etiquetagem da tarefa trecho de canção, mostrada


acima – trecho de canção inicial (parte sem sustentação de agudo) e trecho de canção final
(sustentação agudo final).
63

A seguir, exemplo de etiquetagem do exercício de vocalização de oitava em


[a] (Figura 13) e partitura correspondente (Figura 14):

Figura 13 – Imagem de tela do software PRAAT com trecho de arquivo e exemplo do padrão de
etiquetagem utilizado para separação e organização das amostras do exercício de vocalização de
oitava com sustentação de grave inicial.

Figura 14 – Imagem da partitura correspondente a etiquetagem da vocalização (sustentação de grave


inicial e oitava).

Todas as amostras etiquetadas foram analisadas por meio do script


ExpressionEvaluator (BARBOSA, 2009). O autor desse script autorizou sua
utilização nesta pesquisa, conforme documento disponível no Anexo 1.

O script ExpressionEvaluator (BARBOSA, 2009) extrai automaticamente as


medidas de frequência fundamental – f0 (mediana, semi-amplitude entre quartis,
assimetria e quantil 99,5%) e derivada de f0 (média, desvio-padrão e assimetria),
64

intensidade (assimetria), declínio espectral (média, desvio-padrão e assimetria) e


espectro de longo termo – ELT (desvio-padrão).

Com base em BARBOSA (2009), segue uma breve explicação de cada uma
das medidas geradas pelo script ExpressionEvaluator:

- mediana de f0 (frequência fundamental): medida que pode ser


considerada como o f0 habitual do falante. Sua extração prevê a suavização
de valores. Trata-se de uma medida que evita erros de detecção de f0 que
podem ser frequentes, sobretudo os que mudam o valor para uma oitava
abaixo ou acima;

- semi-amplitude entre quartis de f0: medida de variação dos valores de f0,


excluindo-se os valores espúrios (por motivos de normalização, foi dividida
pela metade, justificando a atribuição do termo semi-amplitude). O termo
amplitude refere-se à variação da medida;

- quantil 99,5% de f0: valores de frequência fundamental normalizados por


meio do cálculo de Z score da mediana (dobro), acrescido do valor de desvio-
padrão. Essa medida busca, sem valores espúrios, detectar o limite superior
de f0 do falante;

- média de derivada de f0: representa a taxa de variação de uma função.


Medida que considera não somente a variação, mas a “velocidade” dessa
alteração;

- desvio-padrão de derivada de f0: medida que infere a dispersão estatística


conforme a variância de f0 contida na amostra;

- assimetria de derivada de f0: infere relações de como aconteceram as


mudanças de taxa de variação de f0 na função;

- assimetria de f0: medida da assimetria de distribuição de f0, baseada na


razão entre a diferença entre média e mediana / semi-amplitude entre quartis
de f0. Esta medida busca estimar a tendência em ter valores à esquerda
(negativos) ou à direita da média (positivos);
65

- assimetria de intensidade: medida de intensidade normalizada, baseada


na proporção de intensidade no intervalo de frequências de 0,0 Hz – 1250 Hz /
1250 Hz – 4000 Hz. Permite que as amostras possam ter suas intensidades
estimadas, mesmo aquelas que não tenham sido captadas com fixação da
distância entre boca e microfone;

- média de declínio espectral: média de valores da proporção de intensidade


nos intervalos 0 kHz – 1,0 kHz / 1,0 kHz – 4,0 kHz. Considerada como
importante medida do nível de tensão laríngea do estímulo aferido;

- desvio-padrão de declínio espectral: medida do desvio-padrão de declínio


espectral (acima explanada);

- assimetria de declínio espectral: medida de assimetria de distribuição das


medidas de declínio espectral (acima explanada);

- desvio-padrão de espectro de longo termo (ELT): desvio-padrão das


medidas normalizadas de intensidade ao longo de intervalos de frequências do
espectro sonoro.

4.3.2.1.1. Análise estatística dos dados acústicos

A análise discriminante foi aplicada para estimar a capacidade discriminante das


medidas acústicas em estimar a tarefa, a estratégia respiratória e a cantora. As medidas
acústicas também foram submetidas à análise aglomerativa hierárquica de cluster.
Todas as análises foram conduzidas por meio do software XLSTAT, Addinstsoft.

Os dados da análise discriminante das medidas acústicas para estimação de


tarefas (Tabela 1) revelou alta capacidade discriminante das medidas acústicas
(98,94% no total) na segregação de trechos de canção (inicial e final), vocalizações
(oitava e sustentação de grave) com maior influência de medidas de f0 (mediana:
96,2% e assimetria da derivada: 72,8%). Tal achado justificou tanto a opção por
análise estatística das medidas acústicas de forma diferenciada por grupos de
66

tarefas (trecho de canção – inicial e final e vocalizações – (vocalização de grave


inicial e vocalização de oitava), quanto a seleção de apenas um conjunto de tarefas
(tarefa trecho de canção) para a prova de percepção.

Final
8a Grave Inicial
Tarefa canção Total % correto
vocalização vocalização canção
(agudo)
Vocalização
(8ª) 95 1 1 0 97 97,94%
Final canção
(agudo) 0 47 0 0 47 100,00%
Vocalização
(grave) 1 0 90 0 91 98,90%
Inicial canção 0 0 0 48 48 100,00%

Total 96 48 91 48 283 98,94%


Tabela 1 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise discriminante para
estimação das tarefas trechos de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de
grave) a partir das medidas acústicas.

Centroides (eixos F1 e F2: 80,51 %)

10

Vocalização
8a
5
Trecho
Canção
F2 (21,87 %)

(Inicial)
0
-15 -10 -5 0 5 10 Centroides

Trecho
Canção
-5
(final) Vocalização
Grave

-10

F1 (58,64 %)

Figura 15 – Gráfico de centroides da análise discriminante das tarefas trechos de canção (inicial e
final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave) a partir das medidas acústicas.

Demais dados de análise discriminante de medidas acústicas são


apresentados no capítulo de Resultados.
67

4.3.2.2. Análise perceptivo-auditiva

Como anteriormente exposto, pelo volume total das amostras coletadas, entre
emissões de trechos de canção e vocalizações em [a], optou-se por selecionar, para
esta etapa, o conjunto dos arquivos de áudio com as emissões do trecho de canção,
a fim de viabilizar a execução da perceptiva. A escolha por este recorte também foi
motivada pelo fato de estes arquivos apresentarem uma proximidade maior com a
situação da prática do canto em si, com maior variedade de sons (vogais e
consoantes) e solicitações musicais.

Para esta etapa da análise, integraram todos os trechos de canção


registrados de todos os sujeitos de pesquisa em todas as solicitações do
experimento, conforme descrição abaixo:

- Emissões de trecho de canção, com estratégia de respiração alta, emissão


em intensidade forte, dos sujeitos 1, 2, 3 e 4, de todas as coletas.

- Emissões de trecho de canção, com estratégia de respiração alta, emissão


em intensidade fraca (piano), dos sujeitos 1, 2, 3 e 4, de todas as coletas.

- Emissões de trecho de canção, com estratégia de respiração baixa, em


intensidade forte, dos sujeitos 1, 2, 3 e 4, de todas as coletas.

- Emissões de trecho de canção, com estratégia de respiração baixa, em


intensidade fraca (piano), dos sujeitos 1, 2, 3 e 4, de todas as coletas.

Dentre o total de amostras coletadas pelo experimento, 54 arquivos de áudio


eram de trechos de canção: trecho de canção inicial – sem sustentação de agudo –
e trecho de canção final – com sustentação de agudo. Todos os 54 arquivos das
amostras de trecho de canção integraram esta etapa.

Foram organizadas, por meio de sorteio, 27 pastas com dois arquivos


sonoros de trecho de canção do mesmo sujeito em cada uma. O sorteio foi
realizado de maneira a compor duplas de arquivos com estratégias respiratórias
68

diferentes ou intensidades diferentes, ou ambas, sempre de um mesmo sujeito,


utilizando o material de todas as coletas de trecho de canção. Foi elaborado um
roteiro para a comparação intrassujeito das amostras. Foram realizadas avaliações
perceptivas por meio da comparação dos arquivos contidos em cada pasta. Estava
incluída neste total a amostra de confusão para posterior averiguação da
consistência dos examinadores.

A seguir, exemplo do roteiro aplicado na avaliação perceptiva das amostras,


aplicado aos examinadores com formação musical e experiência na área de canto:

Iniciais do juiz:_________
Na mídia recebida, estão 27 pastas. Em cada pasta, há dois arquivos sonoros.
Escute e compare os dois arquivos sonoros contidos na primeira pasta e responda às
perguntas relativas a eles, marcadas com o número 1, identificando a pasta 1. Os
arquivos podem ser ouvidos quantas vezes o examinador julgar necessário.
Ao término das questões sobre os arquivos da pasta 1, prossiga para a pasta 2 e
avalie também comparativamente os dois arquivos da pasta 2 e assim por diante. As
questões terão sempre o número correspondente à sua pasta. Ou seja, as questões
sobre os arquivos sonoros da pasta 2 receberão o número 2, as questões sobre os
arquivos sonoros da pasta 3 receberão o número 3 e assim sucessivamente. Todas as
questões seguirão este mesmo padrão de identificação.

1. ESCUTE OS DOIS ARQUIVOS DA PASTA 1:


1a. Comparando a escuta dos dois arquivos da PASTA 1, há diferença na qualidade
de emissão?
( ) SIM ( ) NÃO

1b. Comparando a escuta dos dois arquivos da PASTA 1, qual tem maior intensidade?
( ) DaCBFSag_3_ está mais forte ( ) DCAFSag_1_ está mais forte
( ) Emissões da PASTA 1 são similares em intensidade

1c. Comparando a escuta dos dois arquivos da PASTA 1, qual dos dois arquivos
apresentou emissão com qualidade vocal mais agradável para você?
( ) DaCBFSag_3_ é mais agradável ( ) DCAFSag_1_ é mais agradável
( ) Emissões da PASTA 1 são similares em agradabilidade

1d. Qual dos dois arquivos da PASTA 1 apresenta melhor padrão de afinação?
( ) DaCBFSag_3_ está mais afinado ( ) DCAFSag_1_ está mais afinado
( ) Emissões da PASTA 1 são similares no padrão de afinação
69

1e. Qual das duas emissões da PASTA 1 apresenta qualidade vocal mais relaxada?
( ) DaCBFSag_3_ apresenta emissão ( ) DCAFSag_1_ apresenta emissão
da voz com mais relaxamento da voz com mais relaxamento
( ) As emissões da PASTA 1 são similares no parâmetro relaxamento vocal

2. ESCUTE OS DOIS ARQUIVOS DA PASTA 2:


2a. Comparando a escuta dos dois arquivos da PASTA 2, há diferença na qualidade
de emissão?
( ) SIM ( ) NÃO

2b. Comparando a escuta dos dois arquivos da PASTA 2, qual tem maior intensidade?
( ) DCApSag_1_ está mais forte ( ) DCBpSag_2_ está mais forte
( ) Emissões da PASTA 2 são similares em intensidade

2c. Comparando a escuta dos dois arquivos da PASTA 2, qual arquivo apresentou
emissão com qualidade vocal mais agradável para você:
( ) DCApSag_1_ é mais agradável ( ) DCBpSag_2_ é mais agradável
( ) Emissões da PASTA 2 são similares em agradabilidade

2d. Qual dos dois arquivos da PASTA 2 apresenta melhor padrão de afinação?
( ) DCApSag_1_ está mais afinado ( ) DCBpSag_2_está mais afinado
( ) As emissões da PASTA 2 são similares no padrão de afinação

2e. Qual das duas emissões da PASTA 2 apresenta qualidade vocal mais relaxada?
( ) DCApSag_1_ apresenta emissão ( ) DCBpSag_2_ apresenta emissão
da voz com mais relaxamento da voz com mais relaxamento
( ) As emissões da PASTA 2 são similares no parâmetro relaxamento vocal

O roteiro repetiu esta estrutura e padrão até apresentar todas as amostras


contidas nas 27 pastas, em duplas de arquivos a serem comparados perceptivamente.

Participaram oito juízes desta etapa. Todos com formação musical e


experiência profissional com a voz cantada.
70

4.3.2.2.1. Análise estatística dos dados perceptivos

A análise estatística das tarefas de percepção envolveu, em uma primeira


etapa, procedimentos de intra e entre juízes participantes, considerando-se o
comportamento para respostas aleatorizadas que foram apresentadas em repetição e
as respostas comparadas entre juízes. Para esta etapa, foi utilizado o software Excel.

Em uma segunda etapa, a análise discriminante foi aplicada para avaliar a


capacidade discriminante das variáveis como cantora (1, 2, 3 e 4), estratégia respiratória
(alta ou baixa), parte do trecho canção avaliado (inicial ou final) e intensidade (forte e
piano) em estimar as respostas às questões 1 a 5 da tarefa de percepção.

Todas as análises foram conduzidas por meio do software XLSTAT.

4.3.3. ANÁLISE INTEGRADA DE DADOS

Os dados coletados foram analisados por meio de análise integrada, com


vistas a explorar os efeitos acústicos e perceptivos das estratégias respiratórias na
qualidade vocal durante o canto.

A aplicação de procedimento de análise estatística de natureza multivariada


(análise de correlação canônica) propiciou a abordagem integrada das esferas
perceptiva (respostas 1 a 5 da tarefa de percepção) e acústica (medidas acústicas
extraídas pelo script ExpressionEvaluator) da qualidade da voz cantada, em relação
à estratégia respiratória utilizada durante a produção das amostras.
71

5. RESULTADOS

5.1. Dados de análise acústica

Os resultados são expostos em termos das análises discriminantes para


estimação da estratégia respiratória, das cantoras e da intensidade, além da análise
aglomerativa hierárquica de cluster.

Os resultados são descritos em tópicos referentes às análises acústica e


perceptiva e à integração dos dados de ambas as esferas de análise.

5.1.1. ANÁLISE DISCRIMINANTE DE ESTRATÉGIA RESPIRATÓRIA

Os dados são apresentados na matriz de confusão para amostra de validação


cruzada (Tabela 2), revelando maior capacidade discriminante das medidas
acústicas para a estratégia de respiração baixa (55,41%).

Estratégia
A B Total % correto
respiratória
Alta 46 89 135 34,07%
Baixa 66 82 148 55,41%
Total 112 171 283 45,23%
Tabela 2 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise discriminante para
estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de
amostras de trechos de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e grave).

As variáveis de maior influência foram a mediana do declínio espectral (72,1%),


o desvio-padrão do declínio espectral (69,9%) e a assimetria de intensidade (67,1%).
72

Os dados apresentados estão representados na Figura 16 por meio do gráfico


de centroides.

Figura 16 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia respiratória a partir de


medidas acústicas extraídas das amostras de trechos de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava
e sustentação de grave).

A análise discriminante da estratégia respiratória também foi aplicada


individualmente ao conjunto de amostras das tarefas realizadas com trecho de canção
(inicial e final) e vocalizações (vocalização de oitava e sustentação de grave).

Os dados das tarefas trechos de canção (inicial) estão apresentados na


matriz de confusão para amostra de validação cruzada (Tabela 3), revelando
capacidade discriminante das medidas acústicas para a estratégia de respiração
baixa (79,17%) e alta (50,00%).

de \ a A B Total % correto
Alta 12 12 24 50,00%
Baixa 5 19 24 79,17%
Total 17 31 48 64,58%
Tabela 3 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise discriminante para
estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de
amostras de trechos de canção inicial (sem agudo final sustentado).
73

As variáveis de maior influência foram as medidas de assimetria de


declínio espectral (43,7%), semiamplitude entre quartis de f0 (21,6%) e quantil
99,5% de f0 (21,1%).

Os dados apresentados estão representados na Figura 17 por meio do


gráfico de centroides (apenas para a tarefa de trecho de canção, inicial, sem
sustentação de agudo).

Centroides (eixos F1 e F2: 100,00 %)

1,2

0,8

0,4
F2 (0,00 %)

Alta Baixa
0
Centroides
-1,2 -0,8 -0,4 0 0,4 0,8 1,2

-0,4

-0,8

-1,2
F1 (100,00 %)

Figura 17 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia respiratória a partir de


medidas acústicas das amostras de trechos de canção inicial (sem agudo final sustentado).

Os dados das amostras de trechos de canção (final) são apresentados na


matriz de confusão para amostra de validação cruzada (Tabela 4), revelando
capacidade discriminante das medidas acústicas para a estratégia de respiração
baixa (43,48%) e alta (33,33%).

de \ a A B Total % correto
Alta 8 16 24 33,33%
Baixa 13 10 23 43,48%
Total 21 26 47 38,30%
Tabela 4 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise discriminante para
estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de
amostras de trechos de canção final (sustentação de agudo).
74

As variáveis de maior influência foram as medidas de assimetria de derivada


de f0 (44,2%) e assimetria de declínio espectral (39,5%).

Os dados apresentados estão representados na Figura 18 por meio do


gráfico de centroides apenas para a tarefa de trecho de canção final (sustentação
de agudo final).

Centroides (eixos F1 e F2: 100,00 %)

1
F2 (0,00 %)

Baixa Alta
0 Centroides
-1 0 1 2

-1
F1 (100,00 %)

Figura 18 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia respiratória a partir de


medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de trechos de trechos de canção final
(sustentação de agudo final).

Os dados de trechos de vocalização (oitava) são apresentados na matriz de


confusão para amostra de validação cruzada (Tabela 5), revelando capacidade
discriminante das medidas acústicas para a estratégia de respiração baixa (64,15%)
e alta (41,30%).

de \ a A B Total % correto
Alta 19 27 46 41,30%
Baixa 19 34 53 64,15%
Total 38 61 99 53,54%
Tabela 5 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise discriminante para
estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de
amostras de vocalização (oitava).
75

As variáveis de maior influência foram assimetria de intensidade (56,9%),


mediana de f0 (55,8%) e assimetria de declínio espectral (54,4%).

Os dados apresentados estão representados na Figura 19, por meio do


gráfico de centroides, apenas para a tarefa de vocalização (oitava).

Centroides (eixos F1 e F2: 100,00 %)

1
F2 (0,00 %)

Baixa Alta
0 Centroides
-1 0 1

-1
F1 (100,00 %)

Figura 19 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia respiratória a partir de


medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de trechos de vocalização (oitava).

Os dados de trechos de vocalização (sustentação de grave) são


apresentados na matriz de confusão para amostra de validação cruzada (Tabela 6),
revelando capacidade discriminante das medidas acústicas para a estratégia de
respiração baixa (58,33%) e alta (35,14%).

de \ a A B Total % correto
Alta 13 24 37 35,14%
Baixa 20 28 48 58,33%
Total 33 52 85 48,24%
Tabela 6 – Matriz de confusão para amostra validação cruzada da análise discriminante para
estimação das estratégias respiratórias (alta e baixa) a partir das medidas acústicas extraídas de
amostras de vocalização (sustentação de grave).
76

As variáveis de maior influência foram desvio-padrão de ELT (49,4%) e


semiamplitude entre quartis de f0 (32,2%).

Os dados apresentados estão representados na Figura 20 por meio do gráfico


de centroides apenas para a tarefa de vocalização (sustentação de grave).

Centroides (eixos F1 e F2: 100,00 %)

1
F2 (0,00 %)

Alta Baixa
0 Centroides
-1 0 1 2

-1
F1 (100,00 %)

Figura 20 – Gráfico de centroides da análise discriminante de estratégia respiratória a partir de


medidas acústicas para estratégia respiratória das amostras de trechos de vocalização (sustentação
de grave).

5.1.2. ANÁLISE DISCRIMINANTE DAS CANTORAS

Os dados são apresentados na matriz de confusão para estimação de


cantoras a partir das medidas acústicas (Tabela 7), revelando maior capacidade
discriminante das medidas acústicas para a cantora 2 (78,87%) seguida das
cantoras 3 (69,86%) e 4 ( 64,79%).
77

de \ a D1 F2 L3 LN4 Total % correto


1 27 17 13 11 68 39,71%
2 9 56 1 5 71 78,87%
3 7 3 51 12 73 69,86%
4 8 4 13 46 71 64,79%
Total 51 80 78 74 283 63,60%

Tabela 7 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise discriminante para
estimação das cantoras a partir das medidas acústicas das amostras de trechos de canção (parte
inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave).

As variáveis de maior influência foram desvio-padrão do declínio espectral


(75,3%) e média do declínio espectral (73,2%).

Os dados estão representados na Figura 21 por meio do gráfico de


centroides, revelando distribuição diferenciada das emissões das 4 cantoras.

Centroides (eixos F1 e F2: 89,75 %)

4
F2 (19,63 %)

2 0 Centroides
-2 0 2 4
1 3

-2
F1 (70,12 %)

Figura 21 – Gráfico de centroides da análise discriminante de cantoras, a partir de medidas acústicas


para estratégia respiratória das amostras de trechos de canção (parte inicial e final) e vocalizações
(oitava e sustentação de grave).
78

5.1.3. ANÁLISE DISCRIMINANTE DA INTENSIDADE

Os dados estão apresentados na matriz de confusão para amostra de


validação cruzada (Tabela 8), revelando maior capacidade discriminante das
medidas acústicas para a intensidade forte (81,63%).

de \ a Forte (F) fraca (p) Total % correto


Intensidade Forte (F) 120 27 147 81,63%
Intensidade fraca (p) 49 87 136 63,97%
Total 169 114 283 73,14%
Tabela 8 – Matriz de confusão para amostra de validação cruzada da análise discriminante para
estimação de intensidade a partir das medidas acústicas das amostras de trechos de canção (parte
inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de grave).

As variáveis de maior influência foram as medidas de desvio-padrão de


declínio espectral (84,8%) e média de declínio espectral (84,1%).

Os dados apresentados estão representados na Figura 22 por meio do gráfico


de centroides.

Centroides (eixos F1 e F2: 100,00 %)

0,8

0,6

0,4
Forte piano
0,2
F2 (0,00 %)

0
-1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 Centroides
-0,2

-0,4

-0,6

-0,8

F1 (100,00 %)

Figura 22 – Gráfico de centroides da análise discriminante da intensidade, a partir de medidas


acústicas para estratégia respiratória das amostras de de trechos de canção (parte inicial e final) e
vocalizações (oitava e sustentação de grave).
79

5.1.4. ANÁLISE AGLOMERATIVA HIERÁRQUICA DE CLUSTER

A análise aglomerativa hierárquica de cluster revelou o agrupamento similar


das medidas acústicas em função da estratégia respiratória (alta e baixa), conforme
pode ser observado no Quadro 6 e na Figura 23.

Observação Classe
média de derivada de f0 1
semi-amplitude entre quartis de f0 2
quantil 99,5% de f0 1
assimetria de f0 2
média de derivada de f0 3
desvio-padrão de derivada de f0 3
assimetria de derivada de f0 3
assimetria de intensidade 2
média de inclinação espectral 2
desvio-padrão de declínio espectral 2
assimetria de declínio espectral 3
desvio-padrão de ELT (LTAS) 1
Quadro 6 – Agrupamentos da análise aglomerativa hierárquica de cluster – medidas acústicas para
estratégias respiratórias alta e baixa.

Dendrograma

-0,218906766

-0,018906766

0,181093234
Similaridade

0,381093234
assimetria_de_derivada_de

padrao_de_derivada_de_f0

assimetria_de_intensidade
media_de_derivada_de_f0

media_de_derivada_de_f0
desvio padrao de LTAS

desvio padrão declínio


assimetria de declínio

0,581093234
semi-amplitude entre
media_de_declínio

quartis de f0
desvio

quantil 99,5% f0
espectral

espectral
_f0

_espectral

0,781093234
assimf0

0,981093234

Figura 23 – Dendograma da análise aglomerativa hierárquica de cluster – medidas acústicas para


estratégias respiratórias alta e baixa.
80

5.2. Dados de análise perceptiva

5.2.1. ANÁLISE DE CONFIABILIDADE INTRA E INTERJUÍZES

Na análise intrajuízes, a consistência interna variou de 80% a 100%. Dados


da consistência interjuízes variaram de 69% a 97%.

5.2.2. ANÁLISE DISCRIMINANTE PARA AS RESPOSTAS DAS QUESTÕES 1 A 5

A análise discriminante revelou influências de variáveis como estratégia


respiratória (baixa ou alta), cantora (1 a 4) e intensidade (forte ou piano), conforme
dados da Tabela 9.

Variáveis de análise /
Questões da análise Cantora Estratégia respiratória Intensidade
perceptiva
Questão 1
Cantora 4
(diferença na qualidade
(51,7% a 55,0 % )
da emissão)
Questão 2 Forte (85,9%)
(estímulo de maior Piano (85,9%)
intensidade)
Questão 3 Alta (67,6%)
(qualidade vocal mais Baixa (67,6%)
agradável)
Questão 4 Alta (97,1%)
(melhor padrão de Baixa (97,1%)
afinação)

Tabela 9 – Síntese de variáveis relevantes (em %) da análise discriminante das respostas às


questões 1 a 5.
81

5.3. Dados de análise integrada: acústicos e perceptivos

5.3.1. ANÁLISE DE CORRELAÇÃO CANÔNICA

A análise de correlação canônica revelou que, dentre o total de 12 medidas


acústicas aferidas para todas as emissões, aquelas que tiveram maior correlação
com as respostas de Q1 a Q5 foram a média e o desvio-padrão de declínio
espectral, conforme dados de correlação canônica apresentados na Tabela 10.

Medidas acústicas/
Desvio-padrão de declínio
Questões da análise Média de declínio espectral
espectral
perceptiva
Questão 1
(diferença na qualidade da 39,3% 38,9%
emissão)
Questão 2 35,9% 34,0%
(estímulo de maior intensidade)
Questão 3 28,2% 25,4%
(qualidade vocal mais agradável)
Questão 4 14,9% 11.3%
(melhor padrão de afinação)
Questão 5 31,7% 28,4%
(qualidade vocal mais relaxada)
Tabela 10 – Níveis de correlação (em %) das respostas às questões 1 a 5 da análise de correlação
canônica de dados acústicos e perceptivos.
82

6. DISCUSSÃO

A qualidade vocal representa uma das questões centrais no treinamento e na


construção da proficiência no canto e é um recurso fundamental para a
expressividade e a construção do discurso artístico (LAVER, 1980; SUNDBERG,
1987; BJORKNER, 2006). Diferentes qualidades vocais são solicitadas e utilizadas
durante a voz cantada e acontecem pela integração de múltiplos fatores, em função
da demanda expressiva e da técnica da performance musical. Demandas estas que
exigem capacidade de controle ou administração das variáveis corporais envolvidas
na produção do canto (ADLER, 1965; APPELMAN, 1986; SCARPEL, PINHO, 2001;
BJORKNER, 2006; PINHO, 2007; SALOMÃO, 2008; MELLO, 2008).

As condições para a produção e o controle da voz cantada podem ocorrer por


meio de vários comportamentos respiratórios (SUNDBERG, 1992; THOMASSON,
2003; STARK, 2008), mas é perceptível que cada manobra de respiração utilizada,
dentro de um contexto ou de uma demanda de canto, pode resultar em qualidades
vocais diversas, sugerindo correlação entre estratégia respiratória utilizada e
qualidade vocal resultante.

A relação entre a respiração e a produção vocal é amplamente descrita na


literatura fonética a partir da função exercida pelo aparato respiratório como
provedor do suprimento aéreo e da pressão subglótica adequada à fonação (VAN
DEN BERG, 1958; ABERCROMBIE, 1967; LAVER, 1980; LADEFOGED, 1996;
MASSINI-CAGLIARI, 2001; SILVA, 2002).

Embora esta seja uma importante função do aparato respiratório para a


fonação, as relações entre a respiração e a produção da voz ainda não são
completamente conhecidas. Como descrito neste estudo, tal fato deve-se à
natureza multifuncional das estruturas integrantes do aparelho fonador e de suas
interações biomecânicas de extrema complexidade e difícil observação direta. A
observação ou inferência de alguns desses processos, muitas vezes, depende por
completo de instrumental tecnológico (SUNDBERG, 1987; FOURCIN, ABBERTON,
1999; PINTO, 2012).
83

Há, portanto, um princípio de que, tanto para a fala, quanto para o canto,
existindo uma sobrepressão controlada nos pulmões, a produção vocal acontece
independentemente do comportamento, do tipo ou da estratégia de respiração
empregada. Tal pressuposto é corroborado pelo fato de que a pressão subglótica
pode ser alcançada por meio da contração de diferentes grupos de músculos
respiratórios, que se mobilizam e se adaptam a fim de promover a pressão
subglótica suficiente para colocar as pregas vocais em movimento, com diferentes
recursos de volume pulmonar (SUNDBERG, 1992; IWARSSON, THOMASSON,
SUNDBERG, 1998; BJORKNER, 2006).

Por outro lado, a possibilidade da fonação acontecer por meio da mobilização


e adaptação do aparelho fonador a partir de diferentes recursos aéreos aponta para
características inerentes ao mecanismo vocal: a plasticidade das estruturas e a
capacidade de diversidade das interações pneumofonoarticulatórias que o aparelho
é capaz de realizar (LAVER, 1980; BJORKNER, 2006).

Tal condição dos sistemas envolvidos permite o controle e a variação da


qualidade e dos aspectos da dinâmica vocal na fala e no canto. Ou seja, a fonação
acontece independentemente da estratégia respiratória que a gerou, mas o produto
vocal final é passível de variações.

No presente estudo, foi possível verificar, por meio dos dados acústicos e
perceptivos, a coexistência destes dois aspectos que permeiam as relações entre
respiração e produção vocal: a relativa independência fonatória e a interação das
estruturas que a produzem.

A relativa independência da fonação sobre a respiração pode ser observada a


partir da competência apresentada por todos os sujeitos de pesquisa em produzir,
independentemente da estratégia respiratória utilizada, as tarefas solicitadas com
emissão de voz cantada, assim como as intensidades propostas.

As interações, possivelmente promovidas pela respiração no aparelho


fonador, foram reveladas por dados de natureza acústica, perceptiva e integrada das
diferentes estratégias respiratórias. Tais dados evidenciaram diferenciações da
qualidade vocal, em função da estratégia respiratória utilizada para a emissão do
canto. A relação entre essas variáveis acústicas associadas às condições laríngeas
84

e à estratégia respiratória acionada também apontou para a relação entre a


respiração e a qualidade vocal da voz cantada.

Pode-se deduzir que a diferença entre as estratégias tenha promovido


condições variadas de volume de ar nos pulmões e alteração do posicionamento
laríngeo, já que esta estrutura está ligada biomecanicamente aos pulmões pela
traqueia, podendo sofrer tracionamentos diferenciados, dependendo do grau de
ampliação dos pulmões. Um volume maior de ar inspirado (mobilização relacionada
à estratégia respiratória costodiafragmática abdominal) está associado a um
abaixamento mais significativo da laringe. Tal evento é denominado de “tracheal
pull” ou tração da traqueia e oferece a correlação provável entre a estratégia
respiratória, os dados acústicos e as condições laríngeas correspondentes
apresentadas nesta pesquisa (SUNDBERG 1992; THOMASSON 2003; BJORKNER,
2006; CRUZ, 2006; CORDEIRO, PINHO, CAMARGO, 2007).

As análises realizadas nas amostras de voz cantada, representativas de


trechos de canção e vocalizações, com solicitações respiratórias e intensidades
diversas, permitiram estabelecer tais correlações entre as esferas de produção e
percepção, sugerindo essa relação entre as estratégias respiratórias utilizadas e a
qualidade vocal dos sujeitos de pesquisa.

Discutiremos, a seguir, o detalhamento dos achados que indicam esta


possível interação da respiração e da qualidade vocal, em seus aspectos acústicos e
perceptivos. Dessa forma, a discussão proposta buscará expor a reflexão acerca
dos resultados da investigação realizada, a respeito dos efeitos acústicos e
perceptivos que diferentes estratégias respiratórias podem promover na qualidade
da voz cantada.

A separação das amostras entre as estratégias respiratórias clavicular


(identificada nos resultados como alta) e costodiafragmática abdominal (identificada
nos resultados como baixa) constituiu o ponto de partida para análise dos dados
obtidos, a partir das amostras das tarefas de canto compostas por trechos de
canção e vocalizações.

Durante a análise de resultados do presente estudo, o conjunto de medidas


extraídas por meio do script ExpressionEvaluator (BARBOSA, 2009) permitiu a
descrição das características acústicas das amostras de canto coletadas, a partir de
85

estratégias respiratórias diferentes. Além da extração das medidas acústicas, foi


possível associarmos os resultados acústicos com a esfera perceptiva.

Aspectos da dinâmica vocal, como a intensidade e a altura (afinação),


também revelaram resultados que reforçam a relação com a estratégia
respiratória empregada.

A qualidade vocal, como resultante de um conjunto de ajustes recorrentes das


esferas articulatória, fonatória e de tensão do trato vocal (LAVER, 1980), não pode
ser traduzida em uma única medida acústica. Mas suas descrições, em termos das
esferas acústica e fisiológica, são plausíveis se considerarmos os achados de
correlações entre as variáveis relativas às medidas acústicas de declínio espectral e
ao grau de tensão laríngea (LAVER, 1980; HAMMARBERG, GAUFFIN, 1995;
CAMARGO, 2002; QUEIROZ, 2012).

Sob esse prisma, podemos verificar os resultados obtidos na análise


discriminante de estratégia respiratória (Tabela 2), a qual apresenta um “efeito”
acústico que será reiterado em outros dados: a possibilidade de diferenciação dos
componentes acústicos da qualidade vocal das amostras emitidas, dependendo da
estratégia respiratória acionada.

Como mencionado, efeitos promovidos pelas estratégias respiratórias na


qualidade da voz cantada não apresentam correspondência direta com medida
acústica específica. Mas as medidas acústicas da qualidade vocal podem revelar a
relação entre as instâncias respiratória e fonatória. Tal interação é expressa, por
exemplo, nos resultados obtidos para as medidas acústicas de desvio-padrão de
declínio espectral e de média de declínio espectral, considerados indicadores
robustos para a descrição das condições laríngeas durante emissões (SUNDBERG,
1987; SUNDBERG, 1992; IWARSSON et al, 1998; CAMARGO, 2002; PESSOA,
2012; QUEIROZ, 2012).

Detalhando os dados acústicos, destacamos a análise discriminante


responsável por identificar a consistência das estratégias respiratórias a partir das
medidas acústicas (Tabela 2). Os achados indicam maior capacidade discriminante
das medidas acústicas para a estratégia de respiração baixa (55,41%), tendo como
variáveis de maior influência as medidas acústicas de desvio-padrão do declínio
espectral (72,1%) e de assimetria de intensidade (67,1%). Esse dado sugeriu maior
86

eficiência, por parte das cantoras, em realizar as tarefas do experimento a partir da


estratégia respiratória costodiafragmática abdominal. Além disso, a análise permitiu
a averiguação da diferença existente entre os componentes acústicos produzidos
nas amostras de estratégias respiratórias diversas. No gráfico de centroides obtido
para esse item (Figura 16), foi observada diferença entre os conjuntos gerados a
partir das amostras de estratégias respiratórias clavicular (alta) e costodiafragmática
abdominal (baixa). Esses conjuntos apresentaram reduzida área de intersecção com
o outro, sendo o vetor da diferenciação a estratégia respiratória diversa.
Ressaltamos ainda que uma das variáveis de maior influência neste resultado, a
medida de desvio-padrão do declínio espectral, constitui importante medida do nível
de tensão laríngea do estímulo aferido, sendo uma expressão acústica de elemento
constituinte da qualidade vocal (SUNDBERG, 1987; SUNDBERG, 1992; IWARSSON
et al, 1998; HAMMARBERG, GAUFFIN,1995).

Quando exploramos os dados de análise discriminante das estratégias


respiratórias por conjunto de amostras das tarefas, realizadas separadamente
enquanto trechos de canção (inicial e final) e vocalizações (oitava e sustentação de
grave), as relações entre estratégias de respiração e medidas acústicas referentes à
qualidade vocal mostraram-se mais consistentes.

Na análise discriminante realizada com as amostras das tarefas de trecho de


canção inicial (sem sustentação de agudo) foi possível observar maior capacidade
discriminante das medidas acústicas para a estratégia de respiração baixa (79,17%)
em relação à alta (50,00%), tendo sido a medida de assimetria de declínio espectral
(43,70%) a variável de maior influência para obtenção deste resultado, seguida pela
semiamplitude entre quartis de f0 (21,60%) e quantil 99,5% de f0 (21,10%). Tais
dados, apresentados na Tabela 3 e na Figura 17, reforçam a diferenciação entre os
resultados sonoros obtidos, com a segregação das estratégias respiratórias
solicitadas durante o experimento. Foi possível notar que esse conjunto de tarefas
foi delineado no gráfico de centroides com maior distanciamento entre os conjuntos
discriminados a partir das estratégias respiratórias, sugerindo que, durante a
realização destas, os sujeitos de pesquisa alcançaram maior consistência na
diferenciação das estratégias, fato que pode ser também associado à estrutura
musical da tarefa trecho de canção inicial (sem sustentação de agudo): emissão
cantada de melodia com letra, sons diversos (vogais e consoantes), sem situação de
87

sustentação de grave ou agudo ou saltos melódicos grandes (APPELMAN, 1986;


BJORKNER, 2006; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Na análise discriminante realizada com as amostras de trechos de canção


final (sustentação de agudo), os dados indicaram, mais uma vez, a capacidade
discriminante maior para estratégia respiratória baixa, conforme informações
expostas na Tabela 4 e na Figura 18. Medidas acústicas de assimetria de derivada
de f0 (44,20%) e de assimetria de declínio espectral (39,50%) revelaram maior
influência. Com esses dados, podemos reiterar a observância da influência que as
medidas relacionadas às condições laríngeas representam na diferenciação
qualitativa das amostras e a relação entre respiração e afinação, habilidade técnica
especificamente exigida em situações de sustentação de nota em vogal, no caso
sustentação de agudo em vogal [a] (SUNDBERG, 1987; DINVILLE, 1993; PINHO,
KORN, PONTES, 2014).

Na análise discriminante realizada com as amostras de trechos de


vocalização (oitava), podemos observar que as variáveis de maior influência foram
assimetria de intensidade (56,9%), mediana de f0 (55,8%) e, novamente, a medida
de assimetria de declínio espectral (54,4%). Esses resultados reforçam, mais uma
vez, a relevância das medidas associadas ao nível de tensão laríngea (pelos valores
de declínio espectral) e revelam, por meio das variáveis de intensidade e mediana
de f0, as características peculiares da demanda técnica da tarefa de vocalização:
onde há variação mais rápida de alturas e desafio de cantar, apenas com a vogal [a],
um intervalo maior que supostamente perpassa várias regiões associadas a
mudanças de registro vocal (SUNDBERG, 1987; SALOMÃO, 2008; GUSMÃO et al,
2010). A Tabela 5 apresentou que a capacidade discriminante das medidas
acústicas para a estratégia de respiração baixa atingiu 64,15% contra 41,30% na
alta. A Figura 19 reforça a composição acústica diversa produzida por essas duas
estratégias respiratórias, o que possibilita a separação completa em dois grupos.

Finalmente, a análise discriminante realizada com as amostras de trechos


vocalização (sustentação de grave) revelou maior capacidade discriminante das
medidas acústicas para a estratégia de respiração baixa (58,33%) em relação à
alta (35,14%), representadas na Tabela 6. As variáveis de maior influência
foram as medidas de desvio-padrão de ELT (49,40%) e semiamplitude entre quartis
88

de f0 (32,20%). As estratégias respiratórias novamente puderam ser


significativamente discriminadas. Observando a representação do gráfico de
centroides da Figura 20, notamos dois conjuntos menos distanciados que os
produzidos pelas análises discriminantes das tarefas trechos de canção (inicial) e
vocalização (oitava). Fato que também pode ser observado no gráfico de centroides
resultante da tarefa trecho de canção (final, sustentação de agudo). Essas
diferenciações maiores ou menores, em termos de concentração das características
acústicas, podem ser relacionadas à dificuldade específica apresentada por
determinada tarefa do experimento como, por exemplo, a demanda de sustentação
de determinado som, apenas com a vogal [a], tanto no grave quanto no agudo
(SUNDBERG, 1987; PINHO, 1998; PINHO, KORN, PONTES, 2014).

Ainda com relação à análise discriminante a partir de medidas acústicas,


alguns comentários adicionais mostraram-se importantes.

Para diferenciação dos sujeitos de pesquisa (cantoras – Tabela 7 e


Figura 21), as medidas acústicas que apresentaram maior capacidade discriminante
foram as da cantora 2 (78,87%), seguidas das cantoras 3 (69,86%), 4 (64,79%) e 1
(39,71%). As cantoras, portanto, foram capazes de produzir amostras de canto com
características acústicas diferenciadas, sendo as variáveis de maior influência na
separação o desvio-padrão do declínio espectral (75,3%) e a média do declínio
espectral (73,2%). Podemos hipotetizar que a diferença de tensão laríngea entre as
cantoras foi importante fator de diferenciação de qualidade vocal.

Para diferenciação dos níveis de intensidade, as variáveis de maior expressão


foram o desvio-padrão de declínio espectral (84,80%) e a média de declínio
espectral (84,10%), sugerindo conexão entre a intensidade produzida e a tensão
laríngea (SUNDBERG, 1987; SALOMÃO, 2008; STARK, 2008; PINHO, KORN,
PONTES, 2014). Nesse caso específico da intensidade, recurso da dinâmica vocal,
é importante relembrar sua relação com as condições da pressão subglótica. A
intensidade, assim como o aspecto da afinação, é produzida com o gerenciamento
dessa pressão que afeta massa, espessura e comprimento das pregas vocais
(SUNDBERG, 1992; PINHO, KORN, PONTES, 2014) Foi possível, sob este prisma,
observar ainda que os dados da Tabela 8 revelaram maior capacidade discriminante
das medidas acústicas para a intensidade forte (81,63%), sinalizando novamente a
89

questão do controle do suprimento aéreo e da pressão necessária nas tarefas do


experimento. Assim, podemos refletir que a tarefa de variação de intensidade
durante o canto, realizada por cantoras sem um treinamento profissional
(provavelmente com menor controle da estabilidade laríngea durante as
diferenciações de dinâmica), afetou a instância glótica. Tal dado foi revelado a partir
dos valores acústicos de desvio-padrão de declínio espectral (84,80%) e de média
de declínio espectral (84,10%). Esses dados estão demonstrados no gráfico de
centroides da Figura 22.

Finalizando esta parte da discussão, temos o dendograma representativo da


análise aglomerativa hierárquica de cluster (Figura 24), o qual apresenta distribuição
similar de agrupamentos, relacionado ao fato de que as medidas que sofrem
alteração, em função da estratégia respiratória, são as mesmas.

No que diz respeito à análise perceptiva, as correlações entre os efeitos das


estratégias respiratórias e a qualidade vocal também foram observadas, além de
outras interações na produção dos dados obtidos.

Nas análises discriminantes para as respostas de 1 a 5, por exemplo, o tipo


de estratégia respiratória foi a variável mais influente para que os juízes avaliassem
a agradabilidade (questão 3) e a afinação (questão 4) dos arquivos. Esta influência
da estratégia respiratória, tanto em um aspecto da dinâmica vocal, passível de
mensuração, como é a afinação, quanto para um conceito impressionístico
associado à qualidade da voz ouvida, sugere a amplitude dos efeitos respiratórios
nas avaliações perceptivas. Tal resultado corrobora os dados obtidos na análise
acústica, que também apresentou aferições e dados que correlacionaram a
estratégia respiratória como vetor de variação do produto vocal, nos âmbitos da
dinâmica e da qualidade.

Ainda em relação às 5 questões da avaliação perceptiva, os julgamentos das


intensidades forte ou fraca foram as variáveis de maior importância para que os
avaliadores considerassem o parâmetro de intensidade (questão 2), indicando a alta
capacidade dos juízes em reconhecer perceptivamente as diferenças entre os
arquivos comparados.

E, em relação à qualidade de relaxamento (questão 5) entre os arquivos


comparados e a diferença ou similaridade de emissão (questão 1), o maior fator de
90

diferenciação referiu-se ao sujeito de pesquisa (cantora). Novamente, podemos


relacionar esse dado com os achados acústicos que permitiram a separação
completa do conjunto de amostras cantadas, a partir das cantoras e da capacidade
perceptiva dos juízes em detectar a diferença de relaxamento e de emissão (fatores
associados à qualidade vocal), pela variável cantora.

As respostas da análise perceptiva também foram estudadas em relação às


medidas acústicas, por meio da correlação canônica. Nesta análise, destacaram-se
as correspondências entre as respostas às questões 1 a 5 com medidas acústicas
de média e de desvio-padrão de declínio espectral (Tabela 10). Tal achado reforça,
novamente, a correlação entre as esferas acústica e perceptiva na qualidade vocal
cantada, visto que as medidas de desvio-padrão de declínio espectral e de média de
desvio-padrão de declínio espectral são associadas às condições de tensão
laríngea, elemento do trato vocal fundamental na produção da qualidade e da
dinâmica vocal (SALOMÃO, 2008; STARK, 2008).

Ainda em relação à análise perceptiva, vale destacar que a quase totalidade


das respostas confirmou a percepção de diferença entre as emissões dos arquivos
colocados para escuta comparativa (questão 1). E a cantora 2, que obteve 78,87%
como resultado na análise discriminante por sujeito de pesquisa, também teve
seus arquivos mais facilmente diferenciados em relação aos julgamentos de
intensidade, afinação e grau de relaxamento vocal na avaliação perceptiva por
parte dos juízes avaliadores.

Reiteramos que, embora não seja possível estabelecer uma relação de


determinação entre as estratégias respiratórias e a qualidade vocal na voz cantada,
há indícios, nos dados obtidos, de que as estratégias respiratórias utilizadas durante o
canto podem promover interações no aparelho fonador. Tais interações possivelmente
acarretam mudanças, não só nos mecanismos de controle da dinâmica vocal, mas
também nas configurações e nos ajustes pneumofonoarticulatórios, e podem ser
percebidas pelas qualidades vocais produzidas.

A diferenciação da qualidade e dos recursos da dinâmica vocal interfere na


produção de significado e expressão (LAVER, 1980; SHERER, 1991). Assim,
entendemos que a escolha da estratégia respiratória pode afetar, além da
proficiência técnica, as significações no discurso expressivo do canto, uma vez que
91

foi observada sua potencialidade em influenciar e promover diferentes efeitos no


parâmetro qualidade e nos aspectos da dinâmica vocal.

A partir desses indícios, buscando maior consciência acerca do


funcionamento do corpo para produzir e controlar os recursos expressivos,
pensamos no canto como uma refinada coreografia7 interna do aparato vocal. Para
realizá-la, a compreensão dos ajustes corporais subjacentes às descrições
metafóricas da voz pode oferecer uma possível ferramenta pedagógica e artística
capaz de elucidar dúvidas ou incrementar informações advindas da explanação dos
processos vocais, por meio do recurso impressionístico e metafórico.

Para alcançar tal compreensão, a integração das esferas perceptiva e


acústica acerca da questão respiratória na qualidade vocal do canto foi a via que
permitiu, para esta pesquisa, refletir sobre possíveis correlatos acústicos dos ajustes
promovidos entre os sistemas atuantes na produção vocal. Os dados perceptivos e
acústicos são, sob esta perspectiva, provedores de informações sobre os ajustes
realizados pelas estruturas do aparelho fonador para a produção da voz cantada.

Com estes subsídios, a qualidade vocal e a variação da gradiência nos


aspectos da dinâmica vocal tornam-se pistas sonoras de variados e refinados
ajustes acionados durante o canto. Tal perspectiva redimensiona o recurso
perceptivo, que passa a não só fornecer sensações metafóricas sobre o som, mas
oferece pistas sobre os ajustes relacionados em sua produção.

Dessa forma, podemos sugerir que estratégias respiratórias diferentes são


capazes de promover interações e coreografias pneumofonoarticulatórias

7
O termo “coreografia” vem do grego e expressa, de maneira geral, “grafia da dança”, roteiro
de movimentos que compõem uma dança. Expressão corporal em que os desenhos coreográficos
são formados a partir de movimentações e onde há relação entre movimentações coordenadas e
determinado resultado final produzido. Essa expressão ocorre a partir de utilizações variadas da
mobilidade corporal, de forma voluntária, escolhida.
Realizando um paralelo entre dança e voz, neste estudo, utilizamos a palavra coreografia para
expressar, em alguns contextos, as mobilizações e interações realizadas pelo aparelho fonador
(“coreografias” pneumofonoarticulatórias, por exemplo), considerando que, no canto, assim como na
fala, há a possibilidade de escolha voluntária da resultante vocal nos parâmetros da dinâmica e da
qualidade vocal, com a motivação da expressão. Assim, pode-se estabelecer uma relação entre as
movimentações coordenadas do aparelho fonador (diferentes “danças” das estruturas integrantes
dele) e a possibilidade de produção de ajustes, dinâmicas e qualidades vocais diversas (LAVER,
1980; SUNDEBERG, 1987; DINVILLE, 1993; FERREIRA, 2012; MACEDO, PEREIRA, 2014).
92

diferenciadas, produzindo “pistas sonoras” características. Tal capacidade foi


observada nas análises dos resultados deste experimento, os quais evidenciaram
que diferentes estratégias respiratórias podem produzir qualidades de voz distintas,
assim como acarretam diferenciadas condições de controle dos aspectos da
dinâmica vocal.

Tais diferenças de qualidade vocal e as variações nas possibilidades de


controle dos mecanismos vocais são consideradas fruto, portanto, no contexto de
nosso estudo, das estratégias respiratórias e de seus efeitos na produção vocal.
Efeitos estes que puderam ser reconhecidos perceptivamente nas amostras de voz
cantada e apresentaram componentes acústicos que permitiram sua segregação e o
estabelecimento de correlatos com distintas condições de fonação e de emissão
para as tarefas de canto.

Finalmente, a partir deste estudo e da nossa experiência com o canto,


gostaríamos de sugerir a continuidade da reflexão sobre a contribuição respiratória
para a qualidade vocal da voz cantada, não apenas por sua relevância na fonação
como suprimento aerodinâmico, mas também pelo seu potencial de estabelecer
interações e mobilizações das instâncias laríngeas e supralaríngeas. Interações e
mobilizações estas essenciais para o controle da dinâmica e da qualidade vocal
durante o canto, arte na qual estas informações sonoras representam expressão e
produção de significado.
93

7. CONCLUSÕES

A investigação realizada neste estudo, com grupo composto por cantoras sem
treinamento profissional, demonstrou que diferentes estratégias respiratórias são
capazes de produzir diferentes qualidades de voz cantada.

Foi possível verificar, nos resultados desta pesquisa, que as amostras de canto
produzidas a partir das estratégias respiratórias clavicular (alta) e costodiafragmática
abdominal (baixa) apresentaram diferenciações acústicas e perceptivas.

Do ponto de vista acústico, as medidas de média e desvio-padrão de declínio


espectral foram relevantes para segregação das amostras e, do ponto de vista
perceptivo, destacaram-se os parâmetros de agradabilidade e de afinação nas
avaliações das emissões de canto.

A análise integrada demonstrou correlações entre os resultados das esferas


acústica e perceptiva, destacando-se a influência da estratégia respiratória no
julgamento da agradabilidade da voz e do padrão de afinação, assim como a relação
entre as medidas relativas à tensão laríngea (média e desvio-padrão de declínio
espectral) e a percepção das diferenças de qualidade vocal.
94

8. REFERÊNCIAS

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101

ANEXO 1 – AUTORIZAÇÃO PARA USO DO SCRIPT ExpressionEvaluator


102

ANEXO 2 – AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM


103

APÊNDICE 1 – ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA INCLUSÃO OU EXCLUSÃO DE


SUJEITOS DE PESQUISA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUSP

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

Pesquisa: Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz cantada:


um estudo acústico e perceptivo

Orientadora: Profª. Drª. Zuleica Camargo

Orientanda: Maria Lucia da Cunha Waldow

Roteiro de perguntas para inclusão ou exclusão de sujeitos de pesquisa:

1) Possui alguma alteração vocal?


2) Possui alguma alteração auditiva?
3) Encontra-se em período de gravidez ou amamentação?
4) Qual a sua classificação vocal?
5) Qual a sua idade?
6) Canta em coro amador? Se sim, em qual naipe?
7) Canta em coral e tem contato com música há quanto tempo?
8) Sua atuação é amadora ou profissional?
9) Já fez aulas particulares de canto?
10) Considera seu treinamento musical e vocal iniciante, intermediário ou
avançado? Considera sua técnica respiratória e vocal consolidada?
11) Qual o tipo de repertório do seu coral?
12) Qual sua numeração de roupa? G, M ou P? Qual a sua altura?
104

APÊNDICE 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do participante: ___________________________________________________ D/N: ____/____/_____

Endereço: ______________________________________________________________

Cidade: ______________ Estado: _____ CEP: _____________ Telefone: (____)_____________ RG: ______________
CPF: __________________

Email: malumalu11@hotmail.com

Nome da pesquisadora principal: Maria Lucia da Cunha Waldow

Instituições envolvidas: Laboratório Integrado de Análise Acústica e Cognição da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(LIAAC-PUCSP)

1. Título do estudo: Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz cantada: um estudo acústico e perceptivo
2. Propósito do estudo: O objetivo do estudo é investigar os efeitos de diferentes estratégias respiratórias na qualidade vocal
durante o canto, do ponto de vista perceptivo e acústico, em indivíduos saudáveis e sem treinamento profissional para o
canto.
3. Procedimentos: aquecimento vocal prévio, memorização das linhas melódicas e instrução das tarefas respiratórias,
aferição dos instrumentos não invasivos para registro de gravação em áudio, vídeo e avaliação simultânea do
comportamento respiratório por juiz credenciado.
4. Riscos e desconfortos: Nenhum.
5. Benefícios: A minha participação é voluntária e não trará qualquer benefício direto, mas proporcionará melhor
conhecimento a respeito do tema pesquisado.
6. Direitos do participante: Eu posso retirar a minha participação deste estudo a qualquer momento, sem sofrer nenhum
prejuízo e tenho direito de acesso, em qualquer etapa do estudo, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas.
7. Compensação financeira: Não existirão despesas ou compensações financeiras relacionadas a qualquer etapa do estudo,
incluindo exames e consultas, exceto reembolso dos gastos com transporte até o local do estudo.
8. Incorporação ao banco de dados do LIAAC-PUCSP: Os dados obtidos com minha participação na forma de entrevistas,
gravações de dados de fala, canto, medições respiratórias toracoabdominais serão incorporados ao banco de dados do
laboratório referido, cujos responsáveis zelarão pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para fins
científicos, apenas consentindo o seu uso futuro em projetos que atestem pelo cumprimento dos preceitos éticos em
pesquisas envolvendo seres humanos.
9. Em caso de dúvida quanto ao item 8, posso entrar em contato com os responsáveis pelo banco de dados do LIAAC
(Profª. Drª. Zuleica Camargo e Prof. Mário Fontes) pelo telefone: (11) 3670-8333.
10. Confidencialidade: Compreendo que os resultados deste estudo poderão ser publicados em jornais profissionais ou
apresentados em congressos profissionais, sem que a identidade seja revelada.
11. Se tiver dúvidas quanto à pesquisa descrita posso telefonar para a pesquisadora Maria Lucia da Cunha Waldow
no número (11) 3237-3886 a qualquer momento.

Eu compreendo os meus direitos como um sujeito de pesquisa e voluntariamente consinto em autorizar a participação
dele(a) neste estudo e em ceder os dados dele(a) para o banco de dados do LIAAC-PUCSP. Compreendo sobre o que, como e porque
este estudo está sendo feito. Receberei uma cópia assinada deste formulário de consentimento.

São Paulo, ______________________

Assinatura do sujeito participante Data__________________________________________


105

Assinatura do pesquisador
106

APÊNDICE 3 – TUTORIAL PARA COLETA DE DADOS

Antes da coleta:

1. Contato com coros amadores e divulgação da pesquisa


2. Caracterização do grupo a partir dos critérios, da oferta, da inclusão e
da exclusão
3. Entrega de áudio e partituras para memorização prévia das melodias:
parte do trecho de canção e da vocalização.

No dia da coleta:

1. Padronização do uniforme de coleta


2. Aquecimento
3. Posicionamento dos sujeitos no local marcado para filmagem
4. Calibragem do equipamento
5. Indicação de utilização de inspiração oronasal
6. Instrução sobre as tarefas de canto e estratégias respiratórias
7. Colocação de estante e partitura para possibilidade de consulta
durante a gravação
8. Ajuste das fitas-marcadoras nos locais previamente pesquisados com
pontos proprioceptivos das estratégias respiratórias a serem realizadas
9. Acoplagem do microfone de cabeça
10. Afinações a cada coleta e pausa
11. Preenchimento dos roteiros de controle a cada coleta: coleta 1, coleta
2, coleta 3
107

APÊNDICE 4 – ROTEIRO PARA REALIZAÇÃO DE TAREFAS NAS COLETAS


PARA A PESQUISA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA – PUC-SP – PEPG – LAEL/LIAAC

ROTEIRO PARA REALIZAÇÃO DE TAREFAS NAS COLETAS PARA A PESQUISA:

Estratégias respiratórias e seus efeitos na qualidade da voz cantada: um


estudo acústico e perceptivo

Orientadora: Profª. Drª. Zuleica Camargo

Orientanda: Maria Lucia da Cunha Waldow

DATA:______________ HORA:_____________ SUJEITO: _____________

CALIBRAGEM: inicial _____/ final _____

COLETA 1

POSICIONAR FITAS-MARCADORAS PARA FACILITAR PROPRIOCEPÇÃO DO


SUJEITO DE PESQUISA PARA A REALIZAÇÃO DAS TAREFAS CANTADAS, COM
RESPIRAÇÃO PREDOMINANTEMENTE CLAVICULAR.

GRUPO “A” DE TAREFAS: ......... Emissões de trecho de canção e vocalização em [a]


com estratégia respiratória clavicular (alta), nas intensidades forte e fraca.

TRECHO DE CANÇÃO

A.1. Respiração ALTA + FORTE INTENSIDADE

A.2. Respiração ALTA + fraca intensidade

VOCALIZAÇÃO EM [a]

A.3 Respiração ALTA + FORTE INTENSIDADE

A.4 Respiração ALTA + fraca intensidade

Observações:
108

REPOSICIONAR FITAS-MARCADORAS PARA FACILITAR PROPRIOCEPÇÃO DO


SUJEITO DE PESQUISA PARA REALIZAÇÃO DAS TAREFAS CANTADAS, COM
RESPIRAÇÃO PREDOMINANTEMENTE COSTODIAFRAGMÁTICA ABDOMINAL.

GRUPO “B” DE TAREFAS: ......... Emissões de trecho de canção e vocalização em [a]


com estratégia respiratória costodiafragmática abdominal (baixa), nas intensidades
forte e fraca.

TRECHO DE CANÇÃO

B.1. Respiração BAIXA + FORTE INTENSIDADE

B.2. Respiração BAIXA + fraca intensidade

VOCALIZAÇÃO EM [a]

B.3 Respiração BAIXA + FORTE INTENSIDADE

B.4 Respiração BAIXA + fraca intensidade

Observações:
109

APÊNDICE 5 – MÉTODO DE ESTRUTURAÇÃO DE CADEIAS MUSCULARES E


ARTICULARES GODELIEVE DENNYS-STRUYF (GDS):

O método de Estruturação de Cadeias Musculares e Articulares Godelieve


Dennys-Struyf (GDS) é um método global de fisioterapia e de abordagem
biomecânica e comportamental. Essa metodologia tem como proposta uma leitura
das marcas morfológicas e da delimitação do terreno de predisposições das cadeias
musculares, do ajustamento ósteo-articular, da reestruturação da função e da
reorganização corporal, como resultado do aprendizado do gesto.

Criado e desenvolvido pela fisioterapeuta e osteopata belga Godelieve Denys


Struyf nas décadas de 1960 e 1970, o método visa a uma leitura precisa do gesto,
da postura e das formas do corpo, favorecendo uma abordagem individualizada na
prevenção, no tratamento e na manutenção da organização corporal.
O método de Cadeias Musculares e Articulares GDS trabalha com o conceito de que
nossa atitude postural e a forma de nosso corpo derivam de uma multiplicidade de
fatores, desde a genética até o psiquismo e o comportamento.8

8
Fonte: APGDS. O método. Disponível em: <http://apgds.com.br/metodo/>.

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