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O mago dos investimentos conta como ganhar nas bolsas depois de Buffet e
Soros
É muito provável que o nome Peter Lynch não lhe seja familiar. Ele não
costuma freqüentar as páginas de revistas e jornais brasileiros como
acontece com os investidores George Soros ou Warren Buffet. Mas saiba que
esse americano também está na lista dos magos dos investimentos nos
Estados Unidos e, como tal, tem muito a ensinar sobre o assunto.
PETER LYNCH – Você deve, antes de tudo, entender o que a empresa faz,
qual é a sua natureza. A maioria das pessoas vê o investimento em ações
como um jogo. O que é preciso ter em mente é que se a empresa vai bem,
suas ações irão bem. Não é cassino. Não é para pensar nos próximos dias ou
nas próximas semanas. Pergunte-se: por que essa empresa vai estar melhor
daqui a cinco anos? Se ela vai bem, veja se ela tem condições de continuar
bem.
LYNCH – O que vai fazer com que o mercado acionário brasileiro tenha um
bom desempenho nos próximos 10, 20 ou 30 anos é o bom desempenho das
empresas brasileiras. Então, antes de qualquer coisa é preciso ver se você
acredita no País. Nos Estados Unidos, por exemplo, nós passamos por nove
recessões desde a Segunda Guerra. O Brasil está crescendo rápido. Há um
grande potencial de valorização. Mas é preciso separar uma parte do
dinheiro que você não vai precisar em, no mínimo, um ano. Se você precisar
do dinheiro nesse período, nem pense em entrar no mercado acionário.
Pense em daqui a 5, 10, 15 anos. Lembre-se de que o tempo trabalha a seu
favor quando você investe em ações. Quem poderia imaginar os problemas
com a Rússia, com a Ásia, ou mesmo a desvalorização no Brasil? Todos
afetaram muito o Brasil. Por isso, pensar em investir por menos de um ano é
um grande erro.
LYNCH – Nos EUA, em 1982, as taxas de juro eram de 20% ao ano. E aquele
era o momento exato de comprar ações. Porque todos esperavam uma
reviravolta na economia. Quem aplicou na época, viu seu dinheiro crescer
10, 15 vezes. Se você tem aversão ao risco, uma inflação de 5% ou 6% e
juros de 18% vão lhe desanimar. Em geral, no longo prazo, é melhor
investir em ações do que em renda fixa. Se você pensar em grandes
períodos, não há problema em comprar papéis mesmo com altas taxas de
inflação e de juros.
LYNCH – Mas acredito que no futuro mais empresas brasileiras terão seus
papéis negociados em bolsa. Nos próximos 10, 20 anos, surgirão boas
oportunidades para quem quiser investir diretamente em companhias ou por
meio de fundos de investimento.
LYNCH – Nunca faço esse tipo de análise. Não fico tentando adivinhar
quando o mercado vai cair. Eu adoraria saber. As pessoas diziam que o Dow
Jones estava sobrevalorizado quando bateu os 2.000 pontos, os 4.000, os
6.000, os 8.000, os 10.000. E quando o mercado cai, todas dizem que
estavam certas.
LYNCH – Eu faria muita pesquisa. Talvez haja áreas ainda melhores do que a
Internet. Veja o exemplo das empresas que produzem aqueles leitores de
códigos de barra usados nos supermercados. Elas foram criadas há 25 anos.
Quem mais se beneficiou dessa tecnologia não foram as empresas que
produziam os leitores, e sim os supermercados que os utilizavam. As
pessoas começaram a passar mais rápido pelos caixas, o índice de erros
diminuiu, o controle dos estoques melhorou. Assim, pode ser que muitas
empresas ou alguma indústria vão se beneficiar com a Internet. E não serão
necessariamente as empresas pontocom. Eu acho que a Internet está sendo
sobrevalorizada. Os aviões mudaram o mundo. Muita gente ganhou muito
dinheiro. Mas muitas empresas aéreas perderam muito dinheiro, faliram. A
Internet vai ser maior do que a indústria de empresas aéreas?
DINHEIRO – Por que o sr. costuma dizer que investir está mais
relacionado ao estômago do que ao cérebro?
LYNCH – Quando as pessoas vão comprar uma geladeira elas são muito
racionais. Elas passam horas procurando, comparam preços, e fazem de
tudo para economizar 12 dólares. Quando vão comprar uma ação, não
fazem nenhuma pesquisa. Depois, ouvem que haverá recessão na Ásia e
ficam nervosos. É preciso ter um estômago forte para isso.
LYNCH – Em primeiro lugar, se você está lidando com dinheiro, precisa saber
para onde está mandando. O ponto é: você está realmente investindo ou
está jogando? Não é para chegar às quatro da tarde e dizer: “São quatro da
tarde e eu ainda não comprei nenhuma ação”. Não há dúvida de que a
Internet é rápida para comprar e vender ações. Mas quem se importa se ela
é doze minutos mais rápida?
LYNCH – Não é preciso mais do que algumas horas por mês. Antes de
investir, faça um teste: explique para a sua esposa, para os seus filhos ou
para o seu vizinho por que comprou aqueles papéis. Você deve conseguir
fazer isso em dois minutos. A justificativa não pode ser a alta da bolsa no
último mês. Deve haver uma razão para você ter comprado as ações de
determinada empresa. E preste atenção no que vê a sua volta. O que o
supermercado está vendendo bem? Que empresa fabrica? É uma boa opção
de investimento?
LYNCH – O fato de o mercado não ser maduro não é nem bom, nem ruim.
Isso significa que se tudo correr bem com o País, será possível ganhar muito
dinheiro no mercado acionário brasileiro. É nisso que os investidores devem
pensar. Com os juros altos, você pode ganhar 18%, 19%. Mas eu prefiro
fazer meu dinheiro se multiplicar por 10, por 20. E as taxas de juro tendem
a cair.