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Universidade de Brasília - UnB

Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas - LIP


Laboratório de Gramática para o Ensino Fundamental e Médio
Prof. Dra. Eloísa Pilati
Seminário: Como trabalhar a temática da formação da oração e da seleção argumental em sala de
aula?

1. NGB e GTs
Divisão do conteúdo da sintaxe conforme a Nomenclatura Gramatical Brasileira e as gramáticas de
Celso Cunha e Rocha Lima.

Além disso, para Rocha Lima:

- Objeto Indireto, para Rocha Lima, tem o traço [+animado] e é sempre passível de
pronominalização (na 3ª pessoa) por lhe(s). Ex. Beijar o anel ao cardeal.
- Complemento Relativo tem traço [-animado] e é pronominalizado com preposição + pronome
nominativo. Ex. gostar de uvas (delas)
- Complemento Circunstancial é de natureza adverbial, serve para locativos (Ir a Roma), exprimir
tempo (Viveu muitos anos)

2. Estudos Linguísticos
Maria Helena Duarte

- Crítica à classificação proposta pela NGB


“os grupos apresentam elementos que se situam em diferentes níveis da hierarquia sintática”
“A Tripartição clássica não contribui para o entendimento de que há complementaridade entre os
termos que compõe as orações. O aluno acaba pensando que os termos essenciais são mais
importantes do que os integrantes e acessórios, isso devido aos adjetivos utilizados para classificar
cada uma das classes.”
- Crítica de MárioPerini às definições tradicionais de sujeito e predicado. (Como pode o predicado
ser aquilo que se diz do sujeito se há orações sem sujeito?) (Qual é o ser sobre o qual essa
oração diz alguma coisa?)
- Conceitos de sujeito/predicado se confundem com os conceitos de tópico/comentário. (Corrida
de Cavalo, eu nunca fui ao jóquei clube.)

Estrutura oracional
“quando se tem como propósito descrever e entender a estrutura da oração é mais razoável olhar
para o elemento nuclear que dá origem à oração, o ‘predicador’, e tratar o ‘sujeito’ como um entre os
vários termos articulados com esse predicador”
(Predicadores verbais, nominais e predicados complexos)

Predicadores verbais
Proposta de análise dos predicadores verbais e seus argumentos (estruturas) projetados. DIvisão
conforme o número de argumentos.
- Estruturas com três argumentos
a. Ele deu o dinheiro aos pobres.
b. Eu dividi o pão com os pobres.
c. Eu levei as crianças ao colégio.
- Estruturas com dois argumentos
a. Ele matou o pássaro.
b. Isso interessa aos alunos.
c. Eles acreditam em você.
d. Eles moram no Rio.
- Estruturas com um argumento
a. As crianças pulam.
b. Chegou uma encomenda.
c. _ Houve muitas festas.
- Estruturas sem argumento
_ Choveu.

Predicadores nominais (Kato & Mioto)

No caso dos predicados nominais, o verbo de ligação não realiza seleção argumental/semântica, e sim o
predicativo.
A relação temática se dá através de uma relacão de predicação chamada minioração (MO).
[MOo ator [talentoso]] -> [o ator é[MO[_][talentoso]]].
[MOa adolescente [grávida]] ->
[a adolescente está [MO[_][grávida]]].
“Ao se combinarem com verbos de ligação, o sujeito da MO passa a ser o sujeito gramatical da
sentença, movendo-se de sua posição de origem onde deixa uma lacuna.

Predicadores complexos
“Há certos predicadores verbais que se combinam com predicadores nominais, gerando uma estrutura
complexa que a tradição gramatical se refere muito coerentemente como predicado verbo-nominal”.
Ex. O João achou/julgou/considerou a festa ótima.

Nesse caso, o predicador verbal seleciona um argumento externo e um interno e o predicador nominal
seleciona um argumento externo que coincide com o argumento externo do predicador verbal. “É a
soma desses dois predicadores com seus argumentos que produz a estrutura classificada como
predicado verbo-nominal: verbo + objeto direto + predicativo do objeto.”

O João achou [que a festa foi ótima]OD [a festaSuj foi ótimaPS] [achou a festaOD ótimaPO]

Verbos Intransitivos
Inacusativos
O bebê nasceu. Marisa morreu. A semente germinou.
Inergativos
O bebê soluçou. O trem apitou. Luiza sorriu.

Os primeiros se caracterizam pelo fato de o predicador selecionar um argumento externo e para os


outros um argumento interno, que coincidiria com o objeto direto. Utilizam-se orações reduzidas de
particípio para identificar o argumento. No caso da oração "O bebê nasceu." ("nascido o bebê"), ou "A
semente germinou." ("germinada a semente"), pode-se observar que o verbo seleciona o argumento
interno. Já em "O bebê soluçou." (*"soluçado o bebê"), ou em "Luiza sorriu." (*"sorrida Luiza"), a
agramaticalidade das reduzidas mostra que o predicador seleciona um argumento externo, por isso o
nome de inergativos.

Regra de identificação do sujeito (Perini)

Condição prévia: O sujeito é um SN cuja pessoa e número sejam compatíveis com a pessoa e número
indicados pelo sufixo de pessoa-número do verbo.
(i) Se na oração só houver um SN nessas condições, esse SN é o sujeito.
(ii) Se houver mais de um SN, então o sujeito é o SN que precede imediatamente o verbo.
(iii) Mas se o SN em questão for um clítico (me, te, se), ele não conta, e o sujeito é o SN precedente.
A classificação do argumento externo segundo sua forma e referência (conteúdo) (Duarte)

Conclusões
Na sala de aula o trabalho com os termos da oração não deve ser meramente de identificação de
cada termo.
Deve-se levar o aluno a reconhecer e identificar os constituintes da sentença, de modo que entenda,
por exemplo, como opera a concordância entre o verbo e seu argumento externo, ou mesmo o motivo
da impossibilidade da separação por vírgulas do predicador e seus argumentos.

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