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Livro Eletrônico

Conhecimentos Específicos p/ PETROBRAS (Engenheiro de Segurança Júnior)


Aplicabilidade das NR aos órgãos públicos da administração
Professor: Mara Camisassa

direta e indireta

84035048534 - Eimar Lucena Dantas Filho


Secretaria de Inspeção do Trabalho
Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho
Coordenação-Geral de Normatização e Programas

NOTA TÉCNICA N2 /2013/CGNORIDSST/SIT

N° do Processo: 46010.000399/2013-33
Interessado: Maria Rita Branco Ramos
Assunto: Manifestação do MTE sobre aplicabilidade das Normas
Regulamentadoras aos órgãos públicos da administração direta
municipal.

I. Introdução

Trata-se de solicitação para posicionamento esclarecedor por parte da Secretaria


de Inspeção do Trabalho acerca da aplicabilidade das Normas Regulamentadoras aos órgãos
públicos da administração direta municipal. A Sra. Maria Rita Branco Ramos, funcionária do
município de Itapevi/SP, integrante da equipe de Vigilância à Saúde do Trabalhador, questiona
sobre quais os procedimentos aplicáveis no ambiente de trabalho para o resguardo da segurança
e saúde dos servidores públicos quando o regime laboral adotado não for regido pela
Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT.

II. Da Análise

Inicialmente, cumpre esclarecer sobre a obrigatoriedade de adoção do Regime


Jurídico Único - RJU pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios para os servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.
O Supremo Tribunal Federal, em ,2 de agosto de 2007, deferiu cautelar na Ação
Direta de Inconstitucionalidade - ADIN n° 2.135, declarando inconstitucional a redação dada
pela Emenda Constitucional - EC n° 19/98 ao caput do art. 39 da CF, que extinguiu a
possibilidade de adoção simultânea de dois regimes jurídicos (celetista e estatutário) dentro do
mesmo órgão ou unidade, voltando, portanto, a vigorar o RJU.
Assim, os Municípios, no âmbito de suas competências, devem adotar um regime
jurídico único para disciplinar as relações de trabalho de todos os seus servidores, podendo este
ser o estatutário ou o celetista.

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A Norma Regulamentadora - NR 01, que trata de disposições gerais, logo no item
1. 1, define o âmbito de aplicabilidade das NRs, conforme abaixo transcrito:

1.1 As Normas Regulanientadoras - NR, relativas à segurança e medicina do trabalho,


são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos
públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes
Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis
do Trabalho - CLT.

Ressalta-se que, conforme o item 1.1.1 da NR-01, as disposições contidas nas


NRs aplicam-se também, no que couber, aos trabalhadores avulsos, às entidades ou empresas
que lhes tomem o serviço e aos sindicatos representativos das respectivas categorias
profissionais. Ademais, o cumprimento das exigências previstas nas NRs não desobriga as
empresas de cumprir outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos
de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios, e outras, oriundas de
convenções e acordos coletivos de trabalho.
Constata-se, portanto, que apenas os contratantes de mão de obra pelo regime
celetista estão obrigados a cumprir as exigências impostas pela Consolidação das Leis
Trabalhistas - CLT e pelas NRs, bem como pelas demais legislações laborais esparsas.
Dessa forma, caso o Município institua o regime celetista para os seus servidores,
deverá obrigatoriamente obedecer às normas de segurança e medicina do trabalho disciplinadas
nas NRs. Contudo, se instituído o regime jurídico estatutário, não há a obrigatoriedade de o
Município cumprir as NRs, já que as regras regentes da relação de trabalho, em regra, serão as
previstas no respectivo estatuto.
Todavia, os entes da administração direta, autarquias e fundações adotantes do
regime estatutário, apesar de excluídos do âmbito de abrangência das NRs, não estão isentos de
assegurar que os servidores exerçam suas funções em ambiente de trabalho seguro e sadio,
cabendo ao empregador tomar as medidas necessárias no sentido de reduzir os riscos inerentes
ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, conforme art. 7°, inciso XXII, da
Constituição da República Federativa do Brasil - CRFB/88.
A Carta Constitucional está repleta de dispositivos que reforçam o direito
constitucional de todos os trabalhadores usufruírem de um ambiente de trabalho seguro e sadio,
como será comprovado a seguir. Por exemplo, o artigo 6° prevê o direito à saúde, ao trabalho, à
segurança e à previdência social como direito sociais de todos os indivíduos. Já os artigos 196 a
200 determinam que a saúde é direito de todos e que o Estado tem o dever de garantir e
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promover a efetividade desse direito, mediante políticas, ações e serviços públicos de saúde,
organizados em um sistema único, que podem ser complementados por outros serviços de
assistência à saúde prestados por instituições privadas. Mais especificamente, os incisos II e VIII
do art. 200 afirmam que compete ao sistema único de saúde, entre outras coisas, executar as
ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; e colaborar
na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Por fim, o artigo 225 prevê o
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida,
encontrando o meio ambiente de trabalho também proteção jurídica nesse dispositivo, pois o
inciso V do §1' fixa que cabe ao Poder Público assegurar a efetividade desse direito controlando
a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem
risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
==e4330==

A CRFB/88, no §3° do artigo 39 estende aos ocupantes de cargo público o


disposto no artigo 7°, incisos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX,
XXII e XXX, ou seja, alguns dos direitos sociais assegurados aos trabalhadores urbanos e rurais.
Verifica-se, portanto, a previsão expressa de aplicabilidade do inciso XXII aos servidores
públicos, tornando incontestável o direito a um meio ambiente de trabalho seguro e sadio,
através da aplicação de normas de segurança e saúde do trabalhador.
Por fim, conforme afirma o ilustre José Afonso da Silva, citando Canotilho, "as
normas que reconhecem direitos sociais, ainda que programáticas, vinculam os órgãos
estatais, de tal sorte que "o Poder Legislativo não pode emanar leis contra estes direitos e, por
outro lado, está vinculado à adoção das medidas necessárias à sua concretização; ao Poder
Judiciário está vedado, seja através de elementos processuais, seja nas próprias decisões
judiciais, prejudicar a consistência de tais direitos; ao poder executivo impõe-se, tal como ao
legislativo, atuar de forma a proteger e impulsionar a realização concreta dos mesmos
direitos". (Grifo nosso).
Pelo exposto, impõe-se a observância pela União, Estados, Distrito Federal e
Municípios para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações
públicas dos preceitos relativos à medicina e segurança do trabalho, mesmo que as relações
laborais sejam regidas pelo regime estatutário, a fim de atender aos princípios constitucionais da
dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho, da igualdade de todos perante a lei com
isonomia de tratamento e do direito de todos à saúde e ao meio ambiente de trabalho seguro.

SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 3a ed., São Paulo,
Malheiros Editores.
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III. Da Conclusão

Por todo o exposto, considera-se que os órgãos da administração direta que


insiluírem o regime estatutário para seus servidores, apesar de fora do âmbito de aplicação das
NRs, devem obedecer aos ditames de saúde e segurança no trabalho por determinação
constitucional.

À consideração superior.

Brasília, de Março de 2013.

P, . Q'"
RISCILA BRASIL DE CASTRO
Auditora Fiscal do Trabalho

De acordo. Encaminhe-se a CGOR.


Brasília,jl / O /2013. /

SARAR DE MA TOS OLIVEIRA


Coordenadora de Normatização e Registros

De acordo. Encaminhe-se ao DSST.


Brasília ') / /2013.

ROMULO 4XCHADO E SILVA


Coordenador-Geral de Normatização e Programas

De acordo. Encaminhe-se à SIT.


Brasília, 2Z / Õ 2013.

CELSO ffIA HADDAD


Diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho

De acordo. Encaminh se ao GM.


Brasília45 /0 /2013.
/ 2
LUIZ FELIPE BRANDÃO DE MELLO
Secretário de Inspeção do Trabalho

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