Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
cp069891 PDF
cp069891 PDF
RIO DE JANEIRO
MARÇO, 2006
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ÉRICA GOMES DANIEL MONTEIRO
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Profª. Drª. Celeste Zenha – Orientador(a)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
___________________________________________________
Prof.ª Drª. Maria Paula Nascimento Araújo
Universidade Federal do Rio de Janeiro
____________________________________________
Prof.ª Drª. Ana Maria Mauad
Universidade Federal Fluminense
RIO DE JANEIRO
MARÇO, 2006
Monteiro, Érica Gomes Daniel
A Guerra como Slogan: visualizando o Advertising Project
na propaganda comercial da revista Seleções do Reader’s Digest
(1942-1945). / Érica Gomes Daniel Monteiro – Rio de Janeiro:
UFRJ, PPGHIS, 2006.
xi, 134f.; il.; 31cm
Orientador(a): Celeste Zenha
Dissertação (Mestrado), UFRJ, IFCS, Programa de Pós-
Graduação em História Social, 2006.
Referências Bibliográficas: f. 125-134
1. Brasil – História – 1942-1945. 2. Estados Unidos –
História. 3. Propaganda Comercial – Brasil. I. Zenha, Celeste. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-
Graduação em História Social. III. Título.
Para Alex e Selma.
INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 1
O objetivo desta dissertação é estudar a formulação pelo Office of the Coordinator of Inter-
American Affairs do projeto Cooperation with U.S. Advertisers in the other American
Republic, afim de perceber como este órgão incentivou exportadores, comerciantes e
industriais privados norte-americanos, que anunciavam na América Latina, a continuarem a
anunciar, apesar das dificuldades de se atender aos pedidos no período da Segunda Guerra
Mundial, e que, em seus anúncios, publicassem mensagens que remetessem à política da
boa vizinhança. Para visualizar como este projeto foi implementado, analisaremos
anúncios publicitários veiculados na revista Seleções, versão em português da Reader´s
Digest, durante os anos de 1942 e 1945. O intuito será discutir a forma como a propaganda
comercial de produtos norte-americanos, feita durante o período da Segunda Guerra
Mundial, foi um veículo de divulgação da política de boa vizinhança, buscando perceber a
aliança entre os interesses do setor privado e do governo norte-americano, que,
respectivamente, buscavam novos mercados de consumo e construir uma posição
hegemônica sobre a América Latina.
The objective of this dissertation is to study the formularization for the Office of the
Coordinator of Inter-American Affairs of the project Cooperation with U.S. Advertisers in
the to other American Republic, for to perceive as this agency stimulated exporters, traders
and North American private industrials, who announced in Latin America, will continue it
to announce, despite the difficulties of if taking care of to the order in the period of the
Second World War I, and that, in its announcements, they published messages that they
sent to the politics of the good neighborhood. To visualize as this project it was
implemented, we will analyze announcements advertising propagated in the Seleções
magazine, version in Portuguese of the Reader's Digest, during the years of 1942 and 1945.
Intention will be to argue the form as the commercial propaganda of North American
products, made during the period of the Second World War I, was a vehicle of spreading of
the politics of good neighborhood, searching to perceive the alliance enters the interests of
the private sector and the North American government, that, respectively, searched new
markets of consumption and to construct a hegemonic position on Latin America.
Gerson Moura
(Tio Sam Chega ao Brasil – A penetração cultural americana. São Paulo:
Brasiliense, 1988.)
INTRODUÇÃO
A política externa dos Estados Unidos, desde a Doutrina Monroe (1823), esteve
continente frente aos europeus. No início do século XX, passada a ameaça colonizadora
início a política do Big Stick (Grande Porrete), cujo principal objetivo era defender os
governo norte-americano. Desta forma, estas nações “começaram a pressionar [os EUA] a
mútuas”1.
No entanto, somente a partir do final dos anos de 1920 ocorreram modificações nas
1
MOURA,Gerson. Estados Unidos e a América Latina. São Paulo: Contexto, 1990, p. 28.
2
Um dos pais da política de Boa vizinhança, juntamente com Elihu Root, embora Hoover tivesse feito a
maior parte da sua contribuição antes de se tornar presidente. Enquanto serviu por quase oito anos como
Secretário do Comércio (1921-1928), foi responsável pelo redirecionamento da política dos EUA, afastando-
a do que ela sempre fizera de mal – ocupação militar – e aproximando-a do que ela sempre fizera
externa passou por um redirecionamento: ainda que o intervencionismo militar não tivesse
após ser eleito, Hoover realizou uma viagem pela América Latina, tendo feito na cidade de
Amapala, Honduras, um discurso em que fez uso da expressão good neighbor. Pretendia
mudar alguns aspectos da sua política externa, contudo, a conjuntura interna da crise de
1929 impossibilitou um avanço nas questões relativas à melhoria das relações entre seu
mudança das relações políticas entre os Estados Unidos e a América Latina, deixando de
político. Tal política foi estruturada ao longo dos anos de 1930. Cabe, no entanto, ressaltar
força. Um bom exemplo foi o que ocorreu nas colônias germânicas do sul do Brasil.
excepcionalmente bem – negócios. Ver: SCHOULTZ, Lars. Estados Unidos: poder e submissão – uma história
da política norte-americana em relação à América Latina. Bauru, SP: EDUSC, 2000.
3
Ver: MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana. São Paulo: Brasiliense,
1988, p.17. Trata-se de livro precursor no tratamento do tema da elaboração de uma cultura política no Brasil
a partir da crescente influência cultural norte-americana.
4
Ver SCHOULTZ, L. Estados Unidos: poder e submissão..., op. cit.
A influência da ideologia nazista nas colônias de origem germânica do sul do Brasil
já se fazia presente desde o início da década de 1920, fosse devido à chegada constante de
Exterior5.
americano percebeu que, para estabelecer-se como centro hegemônico do continente, seria
Afinal, após a crise de 1929, a América Latina passou a ocupar um lugar relevante na
solidariedade entre as nações, sempre tomando cuidado para não parecer como um
5
MAGALHÃES, Marionilde Dias B de. “A Alemanha no Brasil durante a Segunda Guerra”, in Coggiola,
Osvaldo (org). Segunda Guerra Mundial: um balanço histórico. São Paulo: Xamã: Universidade de São
Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de História, 1995, p. 255.
6
Ver MOURA, Gerson. Autonomia na Dependência – a política externa brasileira de 1935 a 1942. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
elemento de dominação. Para obter sucesso nesta estratégia, os norte-americanos buscaram
Latina, principalmente com o Brasil. Sua ofensiva política visava converter a hegemonia
dominação política aparecesse como respeito à soberania nacional das repúblicas latino-
americanas7.
Carmem Miranda e Diego Rivera, e fomentando hábitos de consumo, sobretudo nos anos
que antecederam a eclosão da Segunda Guerra e durante o seu desenrolar, foi parte de um
projeto que tinha ambições mais amplas do que a promoção de um estilo de vida e de um
hegemônico do continente.
americano, sob a liderança dos Estados Unidos, seria necessário uma ação econômica e
político-ideológica. Esta ação mais direta se deu através das Conferências Inter-
vizinhança, com a criação de órgãos como o OCIAA (Office of the Coordinator of Inter-
American Affairs), comandado por Nelson Rockefeller. Este órgão, que atuou em diversas
7
MOURA, G. Autonomia na Dependência..., op. cit., pp. 170-171.
8
Nestas conferências, foram debatidos os princípios que norteariam a política externa entre os países
americanos. Ver RODRIGUES, José Honório & SEITENFUS, Ricardo A.S. Uma História Diplomática do Brasil.
1931-1945.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.
irradiador de uma contra-ofensiva propagandística diante da crescente presença de
intitulado: Cooperation with U.S. Advertisers in the other American Republic. Tal projeto
política de boa vizinhança fomentada por aquele governo. Seu escopo era convencer os
1945. O intuito será discutir a forma como a propaganda comercial de produtos norte-
mercados de consumo e construir uma posição hegemônica sobre a América Latina. Deste
modo, a propaganda comercial foi fundamental para edificar no Brasil uma imagem cordial
do Reader´s Digest, durante os anos de 1940, são um instrumento de estudo essencial para
comportamentos pela qual passava a sociedade brasileira, além de serem fontes relevantes
para revelar os novos recursos e métodos utilizados pelo governo americano para divulgar
constituidor de significados e valores, não devendo ser encarada como simples transmissão
conscientes, mas como todo o processo de produção de sentido. O modelo construído por
Raymond Williams para pensar a dinâmica cultural busca dar conta das complexidades dos
configura numa rede vivida de práticas e relações que constituem a vida cotidiana. A
desenvolvidos por Gerson Moura12. Em suas obras, o autor propõe um enfoque mais
9
WILLIANS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p.115.
10
Ibidem, p. 116.
11
Ibidem, p. 142.
12
Ver MOURA, Gerson. Tio Sam Chega ao Brasil..., op. cit.
reducionistas – que enfatizavam o imperialismo norte-americano como um poder que
subjugava os demais países do continente – produzidas pela historiografia dos anos 1960 e
1970. Ao realizar uma interpretação mais complexa e menos determinista, Moura enfatiza
Estados Unidos para a América Latina, ressaltado a forma como contribuiu para a
divisão. No primeiro capítulo, intitulado De mãos dadas com Tio Sam, busca-se discutir a
mudança que se instalou a partir dos anos de 1930 no padrão cultural dos grandes centros
e, for fim, o terceiro item versa sobre a criação da versão em português da revista Reader´s
ressaltando a forma como seu surgimento se coadunou com a política da boa vizinhança,
pelos seus leitores, os artigos da Revista Publicidade e uma carta de Barclay Acheson,
americanos.
No segundo capítulo, primeiramente, discorre-se sobre a criação do OCIAA (Office of
Cooperation with U.S. Advertisers in the other American Republic. Para tal, utilizam-se
utilizaram técnicas de venda das agências de publicidade, com o intuito de criar demanda
vizinhança, ao estamparem nos seus anúncios mensagens que remetiam à aliança pan-
americana, fomentando assim o combate aos partidários do Eixo, tendo como exemplo o
veiculados na revista Seleções, entre 1942 e 1945, além das correspondências e dos
relatórios do OCIAA.
vizinhança, foi um veículo utilizado pelo governo dos Estados Unidos para a construção de
13
WATSON, Linda. Siglo XX. Moda. Madri: Edilupa, 2004, p. 52.
1.1
MUDANÇAS DE HÁBITOS
centros urbanos brasileiros, que não possuía uma identidade cultural própria. Assim sendo,
Acreditamos que tal transformação não se deu de forma espontânea, mas foi fruto
governo passou gradativamente a abandonar a política do Big Stick por uma postura de
consolidação deste novo padrão de comportamento cultural, pois “os periódicos ilustrados
sociabilidade”16.
estava em franca expansão, tendo contribuído para o seu crescimento a ampliação dos
camadas médias no Brasil, cuja atividade profissional podia gerar um rendimento capaz de
de nossas elites de adotarem um estilo de vida urbano, teve como corolário a intensificação
14
PIKE, Frederick B. “FDR’s Good Neighbor Policy: Sixty Years of Generally Gentle Chãos” (Austin, U.T.
Press, 1996), apud FREIRE-MEDEIROS, Bianca. O Rio de Janeiro que Hollywood inventou. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2005, p. 8.
15
Ver MOURA, Gerson. Tio Sam Chega ao Brasil – A penetração cultural americana. 5ª edição, São Paulo:
Brasiliense, 1988.
16
MAUAD, Ana Maria. “Na Mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas ilustradas
cariocas, na primeira metade do século XX”. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 1, n. 13, p. 133-176,
2005, p. 23.
dos hábitos de consumo, que se converteram em padrão de civilidade e de modernização
da sociedade.
na cidade "(...) a metrópole moderna recebe uma representação ambivalente como o local
enquanto coletividade.
Ao longo das primeiras décadas do século XX, “as funções de socialização foram
transferidas do âmbito mais íntimo e privativo para a esfera pública, seja pela ação do
17
Ver SEVCENKO, Nicolau. Orfeu Extático na metrópole. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 18.
18
FERRARESI, Carla Miucci. Cinema Hollywoodiano no Processo de Construção da “Civilidade Moderna –
São Paulo, 1920, em http://www.mnemocine.com.br
19
MAUAD, Ana Maria. “Sob o signo da imagem: a produção da fotografia e o controle dos códigos de
representação social pela classe dominante no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX”. Niterói,
UFF, Programa de Pós-Graduação em História Social, Tese de Doutorado, 1990.
que representavam”20. Periódicos como O Cruzeiro, que revolucionou o padrão gráfico e
em suas páginas divulgar os mais variados assuntos, intitulando-se como uma revista
Fon-Fon e Careta, buscavam modernizar-se para atender a um público leitor que crescia
internacionais.
uma referência para a população das grandes cidades, ao veicularem padrões estéticos e
valores daquela sociedade, que passou a ser identificada como simulacro da modernidade.
“Os temas comumente associados aos americanos, como o ideal democrático, o esforço e o
O crescimento das salas de cinema, por seu turno, ocasionou uma transformação do
mercado editorial brasileiro, pois surgiram muitas revistas especializadas no tema, como
Cinelândia (RJ), Scena Muda (RJ), Cine Revista (SP), Cine-Fan (SP). Tal tendência foi
seguida por outras publicações ilustradas que, ao longo dos anos, inauguraram sessões
20
Idem, “Na Mira do Olhar...”, op. cit., p. 23.
21
ORTIZ, Renato. A Moderna Tradição Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1999, p. 71.
22
MENEGUELLO, C. Poeira de Estrelas – O Cinema Hollywooddiano na Mídia Brasileira das Décadas de 40
e 50. Campinas, S. P.: Editora da Unicamp, 1996, p. 79. Ver também AMÂNCIO, Tunico. O Brasil dos
Gringos. Niterói: Intertexto, 2000.
exclusivamente de cinema, que veiculavam as últimas notícias e os bastidores de
que os valores emanados nos filmes hollywoodianos não eram temáticas exteriores à
Cabe, por fim, ressaltar que o crescimento do mercado editorial foi fundamental
fundada por João Castaldi e Jocelyn Bennaton, denominada Castaldi & Bennaton, que logo
23
MAUAD, A. M. “Na Mira do Olhar...”, op. cit., p. 40.
mudou de nome para Eclética. Antes de 1913, não existia no Brasil uma
desconhecimento dos ganhos que a publicidade podia oferecer, devido à própria falta de
24
REIS, Fernando. “São Paulo e Rio: a longa caminhada”, in: BRANCO, Renato C., MARTENSEN,
Rodolfo L., REIS, Fernando (coord.). História da Propaganda no Brasil. São Paulo: T.A Queiroz, 1999, p.
302.
25
Publicidade &Negócio, 05/08/1953.
26
P&N, 05/04/1953.
informação sobre os métodos modernos de venda e de um consumidor ainda em processo
de formação.
em conjunto com a agência Harris, contratou meia folha na primeira página, aos
Essa conta passou para a Eclética em 1925, que a manteve até 1930.
Com a transferência da conta para a Eclética, começaram a ser usados os
jornais do interior, uma vez que havia interesse em servir os agentes da Ford
espalhados pelo Brasil. Foi uma verdadeira batalha a entrada de nossa
agência de publicidade pelo interior, devido às dificuldades de contato e,
sobretudo pelo receio dos publicitários de tratar com ‘gente de publicidade’.
Para vencer essa dificuldade, a Ford, pela Eclética, instituiu a colaboração e
o pagamento aos agentes, com a ajuda da verba de divulgação, contribuindo
com 30$000 (trinta mil réis) por carro vendido. O preço de cada carro na
época oscilava entre 3.500$000 a 4.000$00028.
27
P&N, p. 19, 05/08/1953.
28
P&N, p. 20, 05/08/1953.
29
P&N, p. 20, 05/08/1953.
A Eclética foi a primeira agência brasileira a representar contas de produtos norte-
americanos no Brasil. Segundo Julio Cosi, em meados dos anos de 1920 já não havia
norte-americanas; além disto, o fato de representar cotas estadunidenses fez com que
muitos publicitários brasileiros viajassem para lá. Júlio Cosi, por exemplo, foi um deles,
viajando em 1926, levando exemplares de jornais e revistas, com gráficos e estatísticas que
norte-americanas.
iniciaram a sua instalação entre nós, ocorreu um momento de desânimo, pois a Eclética
perdeu a cota da Ford para a primeira destas agências a se instalar no Brasil, a N. W. Ayer
& Son, concessionária dos anúncios da Ford nos Estados Unidos. Ao estabelecer-se aqui,
no entanto, a Ayer contava com elementos brasileiros, entre eles vários profissionais da
Eclética. Outros anunciantes, cujas fábricas e escritórios estavam sediados nos Estados
americano de propaganda.
30
P&N, p.21, 05/08/1953.
31
P&N, p. 20, 05/08/1953.
32
P&N, p. 59, março de 1954.
headline, caption e tantas outras. A técnica da propaganda comercial já
fartamente desenvolvida por ‘Tio Sam’, atingia finalmente o Brasil. O
Departamento de propaganda da General Motors, constitui-se no cantinho
onde foram forjados (...) valores de nossa classe que mais tarde vieram a
servir de embasamento para todo o ensino publicitário (...) De lá saíram
Orígenes Lessa, Charles Dulley, Francisco Teixeira Orlandi, Aldo Xavier
(...) e muitos outros33.
Deste modo, de acordo com Sarmento, não foi difícil para as agências
da General Motors já tinha aberto o caminho. Segundo Sarmento, quando ele começou a
trabalhar em propaganda, havia no país duas agências americanas: a N. W. Ayer & Son e a
Com a sua vinda, ela absorveu, junto com a Ayer, os antigos profissionais do
Praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo. Seu principal objetivo era atender à
própria General Motors. Posteriormente, abriria outro escritório no Rio de Janeiro; neles
trabalhavam, ao lado dos profissionais estrangeiros, brasileiros como Orígenes Lessa, que
No entanto, a importância da J.Walter Thompson vai muito além disto, foi ela uma
incorporando como seus clientes cotas relevantes, como a da Kodak, a da Sul América
passou a utilizar no Brasil os mesmos padrões e métodos que utilizava em sua sede
original, como, por exemplo, o uso da fotografia nos anúncios publicitários, do qual foi
33
MARTENSEN, Rodolfo Lima. “O ensino da propaganda no Brasil”, in: BRANCO, R., MARTENSEN, R.,
REIS, F. (coords.). História da Propaganda no Brasil..., op. cit., p. 32.
pioneira. Nela, anteriormente, a maioria dos anúncios era à base de desenhos: muitos
sido fundamentais para promover um maior interesse pelos anúncios junto ao público
anúncios, esta técnica, devido aos seus altos custos e à falta de modelos, demorou muito
para ser utilizada em grande escala pelas agências de publicidade no Brasil, como
Portanto, a partir dos anos de 1930, apesar do período conturbado pelo qual passava
o país, com os sucessivos golpes e revoluções, além da instalação das agências norte-
propaganda entre nós, tais como o crescimento dos meios de comunicação de massa, o
rádio, que, aos poucos, começava a ganhar espaço nos lares de todo o país, e que recebe,
34
Publicidade, Setembro de 1940, pp. 26-27.
35
Publicidade, Janeiro de 1944, p. 16.
36
Ver SARMENTO, Armando de Morais. “As agências estrangeiras trouxeram modernidade, as nacionais
aprenderam depressa”, in: BRANCO, R., MARTENSEN, R., REIS, F. (coords.). História da Propaganda no
Brasil..., op. cit., p. 26.
a maior agência de publicidade do Brasil e a Inter-Americana (1938), e as norte-
A escolha dos nomes das agências refletia a influência norte-americana, como, por
exemplo, Standard, para uma agência de publicidade brasileira, o que remetia ao glamour
norte-americano. Mas o exemplo mais exótico talvez seja o de três profissionais que se
(...) no Grupo Ducal, todos as empresas começavam com a letra ‘D’. Então
eles disseram: ‘Puxa, precisamos de um nome com inicial ‘D’ e que soe
americano’. Pesquisaram, pesquisaram e o único com ‘D’ que soava
americano era o de um diretor da agência Thompson na época. O homem ia
sair do Brasil e chamava-se Robert Dennison. O trio não hesitou: ‘Esse
nome é bom e o gringo não volta mais’. Foi assim que foi batizada a
Denison Propaganda37.
brasileiros a publicidade realizada nos Estados Unidos, que estava muito além da análise
da escolha dos nomes das agências nacionais. Cada vez mais, publicitários brasileiros
relevante para o progresso da nossa propaganda. Um de seus clientes era a Standard Oil
brasileiro Armando de Moraes Sarmento, que havia trabalhado na Ayer & Son e que,
37
REIS, Fernando.“Sobre o colunismo publicitário e as publicações especializadas”, in: BRANCO, R.,
MARTENSEN, R., REIS, F. (coords.). História da Propaganda no Brasil..., op. cit., p. 63.
O depoimento de Armando de Moraes Sarmento é um bom exemplo da
Com o passar dos anos, cada vez mais se importavam profissionais norte-
renovação e a sofisticação dos nossos anúncios, trazendo para nós uma mentalidade nova
pena.
anunciantes.
Para se ter uma idéia da importância destas agências e da postura brasileira frente à
38
SARMENTO, A. de M. “As agências estrangeiras trouxeram modernidade, as nacionais aprenderam
depressa”, in: BRANCO, R., MARTENSEN, R., REIS, F. (coords.). História da Propaganda no Brasil...,
op. cit., p. 21.
39
Ibidem.
brasileiras que embora sem nacionalismo, reagiram à adoção estrita dos
métodos americanos40.
Mundial, pela fundação do Ibope e pela chegada ao Brasil da revista Seleções do Reader’s
Digest41, ambos em 1942. Nesta revista passariam a circular os principais anúncios das
implantou uma revolução nos meio radiofônico brasileiro com a criação dos programas
Repórter Esso, que estreou em 1941, sendo transmitido pela Rádio Nacional do Rio de
Janeiro e pela Rádio Record de São Paulo, tendo como locutor Heron Rodrigues, e o
Correspondente Estrangeiro RCA Victor, que foi criado no período da segunda guerra
milhão de melodias, um dos maiores sucessos da Rádio Nacional, patrocinado pela Coca-
40
Anuário Brasileiro de Publicidade, 1951, p. 162.
41
Ver JUNQUEIRA, Mary. “A visão da América Latina na Revista Seleções do Reader’s Digest”, in
TORRES, Sônia (org). Raízes e Rumos – Perspectivas Interdisciplinares em Estudos Americanos. Ed. 7
Letras, 2001, pp. 126-135.
42
CALABRE, Lia. A Era do Rádio. Rio de Janeirio: Jorge Zahar, 2005.
A chegada da prática de pesquisa de mercado ao Brasil, no final da Segunda Guerra
Mundial, foi mais uma contribuição das agências norte-americanas; a Thompson, em 1945,
pesquisas de seu departamento e também do Ibope, com o intuito de traçar um perfil dos
de embalagem, etc. Um de seus objetivos era dar um caráter mais técnico e profissional à
método recall. Tratava-se das duas revistas de maior circulação neste período, e a
1930, nosso mercado consumidor era ainda incipiente. Se levarmos em consideração que a
sociedade brasileira ainda era neste período marcada pelo localismo43, o impacto da
chegada das agências de publicidade estrangeiras foi sem dúvida um dos fatores que
contribuíram para que, nas décadas seguintes, se estruturasse uma cultura de consumo de
massa no Brasil.
43
ORTIZ, R. A Moderna Tradição Brasileira..., op. cit., p. 49.
AS PUBLICAÇÕES ESPECIALIZADAS EM PUBLICIDADE E OS ANUÁRIOS
publicações do mesmo tipo que circulavam nos Estados Unidos. Entretanto, Fernando Reis
salienta que não é possível precisar quantos exemplares saíram, e nem quando o caderno
deixou de circular44.
No entanto, foi também a partir dos anos de 1930, com a vinda das primeiras
específico, cujo nome era Propaganda, que mais tarde se transformou numa revista de vida
Em 1937, surgiu a revista Propaganda, lançada em São Paulo, que teve a duração
jornalista Lycurco Costa. Foi dirigida por Genival Rabelo, Manoel de Vasconcellos e
Walter Poyares, este último trabalhou como homem de criação nas principais agências
44
REIS, Fernando. “Sobre o colunismo publicitário e as publicações especializadas”, in: BRANCO, R.,
MARTENSEN, R., REIS, F. (coords.). História da Propaganda no Brasil..., op. cit., p.55.
45
Ibidem, p. 63.
Propaganda, a Interamericana e a J. Walter Thompson, além de ter fundado sua própria
moderna, tendo sido posta em circulação com muitos sacrifícios e recursos financeiros do
próprio W. Poyares46.
O objetivo de Publicidade.
Publicidade aqui está. Uma revista técnica de propaganda. Surgiu
para realizar um objetivo. Mas quis começar como todas coisas da natureza
modestamente. Não apareceu de repente pronta. Queremos ser sinceros. Os
primeiros números lançados ainda este ano representam um ‘test’.
Queríamos sentir como seria recebido nosso esforço. Já apreciamos as
primeiras reações. E elas incentivaram-nos a ir para a frente.
Publicidade tem sua vida equilibrada em 1941, a começar de
Janeiro. Tem feição definitiva e apresentação adequada. Sua capa em
policromia, obedece a um estilo moderno, digno e brasileiro. E Publicidade
tem o seu programa. Publicidade pretende ter sua expressão definida como
veículo de propaganda. Cabe-lhe a propaganda da propaganda. E nessa
função há muito há realizar.
Basta pensar no desconhecimento que ainda há em grandes setores
do nosso país e por parte de muitos homens de negócios, de princípios
elementares de nossa poderosa arma de ação psicológica. E a pouca
propaganda faz então, por critério empírico, cujos resultados muitas vezes se
refletem maleficamente sobre o próprio conceito de propaganda.
Mas é forçoso reconhecer a dificuldade de se estudar propaganda
entre nós. O que há em língua portuguesa foi pouco difundido. Aí, pois se
abre o enorme campo para a Publicidade.
E neste ponto apelamos a todos os técnicos de propaganda. Que
pródigos em repartir os seus conhecimentos. As páginas desta revista
acolherão estudos, os resultados de experiências, as informações estatísticas,
as notícias. Pois Publicidade será também um meio de intercâmbio entre os
homens de propaganda.
Publicidade conta com colaboração total. É preciso que as agências,
os jornais, as revistas, as estações de rádio, os estabelecimentos gráficos
todos se movimentem. A campanha será nossa. O objetivo é levantar o nível
da propaganda. Nenhum momento seria mais indicado para isso do que o
atual, quando o Brasil está vivendo uma fase [de] energizamento. É a hora
46
As informações sobre a criação da revista Publicidade foram dadas pelo publicitário Walter Poyares, em
entrevista no Rio de Janeiro em 25/11/2004 e através de artigos publicados nesta revista.
da propaganda no Brasil. Depende dos atuais homens a orientação que a
mesma terá no futuro.
O espírito de Publicidade é construtivo. Criticará quando julgar
eficiente, mas sempre de forma objetiva, sincera.
Revelará tudo quanto encontrar de bom. Revelará, para incentivar.
Por isso esta revista espera colaboração, muita colaboração47 [grifo no
original].
A necessidade de uma publicação como Publicidade pode ser medida por um artigo
da Associação Brasileira de Propaganda, que deixava claro que era preciso fazer uma
início dos anos de 1940, como um meio fundamental para o crescimento das vendas e para
sociedade e sobretudo para os homens de negócios, que ainda viam com algumas ressalvas
os ganhos que poderiam obter com a publicidade de seus produtos. Coube, portando, aos
47
Publicidade, janeiro de 1941, p. 4.
48
Publicidade, setembro de 1940, p. 32.
periódicos especializados, como Publicidade, e aos órgãos de propaganda levar os homens
nome da revista, em 1947, para Publicidade e Negócios, que circulou até 1961, quando
mudou novamente de nome, passando a chamar-se Política & Negócios. Muitas outras
revistas publicitárias surgiram neste período, mas pela limitação deste trabalho, não nos
deteremos nelas.
Além das revistas, três anuários foram publicados regularmente, por vários anos: o
revistas como Publicidade e Propaganda passam a ser editados com a missão de fazer com
vinda das agências de publicidade norte-americanas, foi, sem dúvida, fundamental para a
49
MAUAD, Ana Maria. “A América é aqui: um Estudo sobre a influência cultural norte-americana no
cotidiano brasileiro”, in TORRES, Sônia (org). Raízes e Rumos – Perspectivas Interdisciplinares em Estudos
Americanos. Ed. 7 Letras, 2001, p. 139.
muito contribuiu, através de suas técnicas de venda, para fomentar a necessidade de
dos anos de 1940 passou a ter melhores condições para se desenvolver com o crescimento
muito contribuiu para estas transformações, fomentando entre a nascente sociedade urbana
veículos de comunicação, como o rádio, o cinema e a imprensa, que, com o passar dos
Assim sendo, acreditamos que a análise do mercado editorial das revistas ilustradas
A Revista Reader´s Digest foi criada nos Estados Unidos em 1922, pelo casal Roy
Willian De Witt Wallace e Lila Acheson Wallace. Seu lançamento causou impacto, pelas
novidades no que tange ao seu formato de revista de bolso com uma capa que continha um
O objetivo da Reader´s Digest era ser, como sugere o seu próprio nome, uma revista que
científicas que nem sempre são de acesso do grande público. Reader´s Digest buscava
levar ao seu público um texto condensado, onde o leitor de classe média, ao qual era
chegando à casa de um milhão dez anos após o seu lançamento50. A origem presbiteriana
Ainda que fosse marcada por tais concepções, a Reader´s Digest procurava oferecer
aos seus leitores uma grande diversidade de assuntos; com o seu crescimento, passou a
Um dos fatores que também contribuíram para o êxito da Reader´s Digest, foi o
fato de ter sido publicada, durante os anos de 1922-1956, sem a presença de anúncios
publicitários, o que permitiu que sofresse menos os efeitos da crise de 1929 do que os
outros periódicos norte-americanos, que dependiam das cotas publicitárias para baratear o
custo da publicação. A Reader´s Digest nos Estados Unidos viveu durante aqueles anos
interna e externa norte-americana, onde buscava deixar claro para os seus leitores uma
50
JUNQUEIRA, Mary. Ao Sul do Rio Grande - imaginando a América Latina em Seleções: oeste, wilderness
e fronteira (1942-1970). Bragança Paulista: Edusf, 2000, p. 22.
51
Ibidem, p. 23.
52
CANNING, Peter. American Dreamers. The Wallace and Reader´s Digest: An Insider´s Story. New York:
Simon & Schuster, 1996, parte 3.
propensa imparcialidade que, no entanto, para Heidenry53, era questionável, pois, em
termos estatísticos, ocorria uma proporção maior de artigos que refletiam a postura
ser de grande auxílio na divulgação do estilo de vida norte-americano e que poderia ajudar
de grupos nazista na América Latina, sugeriu a Willian De Witt Wallace que promovesse
uma versão da revista para povos de língua hispânica do continente americano54. Este
vizinhança implantada pelos EUA, sobretudo nos anos que antecederam a Segunda Guerra
Mundial.
revista para a América Latina, a fim de diagnosticar o perfil do público bem como o seu
poder aquisitivo.
consideração tais dados, Al Cole, um dos especialistas, propôs que o público norte-
americano arcasse com os custos das primeiras assinaturas da revista em língua hispânica
53
HEIDENRY, John. Theirs Was The Kingdom. Lila and DeWitt Wallace and the Story of The Reader’s
Digest. New York/London: W.W. Norton & Company, 1993.
54
CANNING, P. American Dreamers… op. cit., p. 91.
como parte do esforço de guerra e em nome do intercâmbio entre as repúblicas do
hemisfério55.
1940, fosse lançada a versão em espanhol da Reader´s Digest, intitulada Selecciones del
Reader´s Digest, inicialmente no México, chegando pouco tempo depois aos outros países
de língua espanhola.
dependeu muito das cotas de anúncios, pois, como o seu preço era baixo, diferentemente
para a o seu sustento, como demonstra uma carta de Berclay Acheson, responsável pelas
55
HEIDENRY, J. Theirs Was The Kingdom … op. cit., p. 154.
56
Digest – 4º capa, set/1940, apud JUNQUEIRA, Mary, op. cit., p. 36.
Reader´s Digest. Buscava convencer as grandes empresas norte-americanas a anunciarem
demonstrar que os anunciantes, assim como a Reader´s Digest, deveriam aliar-se para
57
Uns dezoito meses atrás, porque nós sentimos o perigo que é agora aparente, nós decidimo publicar, sem
fins lucrativos, uma edição espanhola The Reader’s Digest. Nós acreditamos que era a melhor maneira de
apresentar diretamente aos povos da América latina o mais fino das esperanças e dos ideais americanos e do
melhor da prática de negócio deste povo, como refletido nas páginas desta revista que milhões de norte-
americanos já liam. Esta era uma maneira direta dos norte-americanos dissipar nas mentes dos latino-
americanos a velha idéia do "Colosso do norte" que os agentes do Eixo estavam em toda parte promovendo.
A experiência foi bem sucedida indo além de nossas espectativas. Com o apoio das autoridades
publicas dos Estados Unidos e com o entusiástico suporte dos homens de negócios americanos, a primeira
edição em espanhol – intitulada SELECCIONES del Reader’s Digest – foi publicada em dezembro de 1940.
Hoje, apenas um ano depois, SELECCIONES é comprada por aproximadamente duas vezes mais latino-
americanos do que qualquer outra revista em espanhol. Quase 400.000 compradores em todos os países
latino-americanos esperam com ansiedades as novas edições. Cada mês a revista traz para os leitores latino-
americanos um retrato atualizado e estimulante dos ideais americanos, da sua maneira de viver, e dos seus
produtos que estão fazendo com que essa maneira de viver seja alcansavel. Carta assinada por Barclay
Acherson no início de 1942. A cópia deste documento encontra-se arquivada no Centro de Documentação e
Pesquisa em História Contemporânea (CPDOC), Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, estando seu
original arquivado no The National Archives of Washington (NARA).
promover, com o apoio do governo dos Estados Unidos, o combate às ideologias que não
Digest seria um excelente espaço para a divulgação de seus produtos na América Latina e
período de guerra. Barclay Acheson procura deixar claro que a veiculação de Selecciones
del Reader´s Digest não visava lucros para os seus editores norte-americanos, estando
mais comprometida com a divulgação dos ideais daquela sociedade e com os avanços de
suas indústrias do que com interesses financeiros. Devido a tal postura dos editores,
Acheson ressalta em sua carta que a participação dos anunciantes neste projeto seria
fundamental, pois a verba dos anúncios cobriria grande parte dos gastos com a edição e a
guerra em 1942, ao lado dos aliados, fizeram com que a política de boa vizinhança fosse
58
Sem a cooperação de uma lista de anunciantes tidos como os melhores negóciantes americanos, o sucesso
extraordinário de SELECCIONES não seria possível. (Nós não buscamos lucro com SELECCIONES. Mas
seu preço relativamente baixo na América latina - 10 centavos – exige rentimentos com os anúncios para
evitar um prejuízo insuportável.) Por esta cooperação nós somos gratos. Mas agora há razões mais fortes
para considerar SELECCIONES como um meio sem igual para remeter os interesses de ambos: de seus
negócios e da nação. Ibidem.
enfatizada. Dentro deste contexto, Nelson Rockefeller, que era coordenador do Office of
política de boa vizinhança, na medida em que o OCIAA e outros órgãos do governo norte-
ser claramente justifica pelo fato de o OCIAA procurar diferentes veículos para a
uma revista que ressaltava em suas páginas o American way of life, Nelson provavelmente
acreditava que sua veiculação em todos os países da América Latina seria um espaço
norte-americano.
Como vimos no primeiro item deste capítulo, a sociedade brasileira dos grandes
American way of life, veiculado nos filmes e nas propagandas de produtos norte-
americanos60. A proximidade com esta cultura, construída com grande participação dos
meios de comunicação, foi, sem dúvida, fundamental para a boa receptividade entre os
Reader´s Digest.
A primeira edição foi lançada em fevereiro de 1942, com uma tiragem de 100 mil
Reader´s Digest.
Propaganda (DIP), ressalta a boa receptividade que teve o lançamento da revista no Brasil
e sobretudo salienta que ela seria um espaço de interligação entre o Brasil e os Estados
Unidos.
A aceitação relatada por Lourival Fontes foi ratificada num texto publicado pelos
editores da revista:
cada edição mensal, artigos das renomadas publicações e de livros, oferecendo ao leitor em
61
Depoimento de Lourival Fontes, Diretor Geral do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),
publicado na revista Seleções do Reader´s Digest em fevereiro de 1942, contracapa.
62
Seleções do Reader´s Digest, maio/1942, contracapa.
forma resumida artigos variados, que podiam ser encadernados, agradou ao público
brasileiro da mesma forma que já acontecia em outros países, onde a revista era distribuída.
periódicas. Afinal, a revista servia como uma fonte de informação sobre o que acontecia no
a revista era capaz de agradar a leitores variados, como políticos, intelectuais e o público
da revista, com o intuito de que estes indicassem pessoas para receberem exemplares
gratuitamente.
63
Ibidem, outubro/1942, Contracapa. Depoimento do Dr. Thomaz Bernardino.
64
Ibidem, junho/ 1942, contracapa.
Divulgue a sua descoberta! Se você acha que a descoberta de
Reader´s Digest lhe foi tão grata quanto proveitosa, não lhe parece que
alguns de seus amigos estimariam participar dela recebendo um exemplar
espécime da revista? Para auxilia-los a partilhar a sua descoberta com
outras pessoas teremos o maior prazer em remeter exemplares grátis de
Seleções a uns cinco de seus amigos (...) Bastará escrever e remeter (...) uma
carta ou bilhete postal com os nomes e endereços desses amigos65.
fundamental para o crescimento da sua circulação no mercado brasileiro. Além disto, para
pondo seus leitores em contato com os assuntos mais relevantes de uma forma resumida,
Desta forma, podemos perceber que esta norma em muito contribuiu para o seu
êxito, era uma forma de direcionar a sua leitura, ainda que não possamos cair nas
armadilhas de olhar o leitor como um ser passivo66; sem dúvida, este formato de
representados tanto nos artigos como nos anúncios publicitários, encartados no final da
revista.
era produzida nos Estados Unidos, sendo Otávio Mangabeira o responsável pela tradução
Portanto, ainda que elaborada nos Estados Unidos, Seleções possuía colaboradores
brasileiros, o que, sem dúvida, facilitou uma melhor formatação dos textos ao gosto do
público brasileiro.
65
Ibidem, junho/1942, contracapa.
66
Ver GINZBURG, Carlo, O Queijo e os Vermes – O cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela
Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, e CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano,
Petrópolis: Vozes, 1996.
Com o sucesso alcançado pela versão em português, ela passa, em 1950, a ser
já se havia tornado a segunda revista mais lida no Brasil, ficando atrás apenas de O
Cruzeiro.
imprensa e da propaganda comercial no Brasil a partir dos anos 1930; como vimos, o apoio
financeiro das empresas norte-americanas que pagavam pelos anúncios nela publicados foi
quanto para solicitarem o envio de artigos de escritores brasileiros para serem publicados.
Desta forma, acreditamos que o sucesso da revista no Brasil só foi possível devido
a uma receptividade dos valores da cultura norte-americana, que, como vimos no primeiro
item, já se construíra desde os anos 1930, pelo crescimento gradativo dos meios de
comunicação e das camadas médias nos grandes centros urbanos, além do surgimento de
uma sociedade de consumo no Brasil; este último fator teve, sem dúvida, como principal
meios de comunicação anúncios que veiculavam toda uma gama de novidades industriais.
de anúncios publicitários para a América Latina que buscava criar demanda para seus
ADVERTISING PROJECT
Caro Wayne,
De fato, os resultados que foram alcançados
estão além de nossas expectativas originais.
(...) o lançamento de anúncios tem sido uma
contribuição poderosa no nosso esforço de
guerra nas outras Américas.
Sinceramente,
N.R Coordenador.
(Carta de Nelson Rockefeller ao Senhor Wayne C.
Taylor, subsecretário de comércio dos Estados
Unidos.)
2.1
NELSON ROCKEFELLER E O OCIAA
Company e o Chase National Bank. Inicialmente, por conta de suas atividades como
67
ROWLAND, Donald, W. (dir.). History of the Office of the Coordinator of Inter-American Affairs –
Historical Reports on War Administration, Washington: Government Printing Office, 1947, p. 282.
[Tradução Livre]
Museum, ambos sediados em New York, onde estabeleceu seus primeiros contatos com as
Negócios Estrangeiros do Chase National Bank, iniciou sua amizade com Joseph
Rovensky, que era vice-presidente deste banco e que se tornou anos depois seu auxiliar no
OCIAA68.
Devido aos negócios de sua família, fez viagens a diversos países latino-
americanos, como Venezuela, Brasil e Argentina. Durante estas visitas, teve contato com
Unidos, teve em mente que a América Latina era uma área vital para os Estados Unidos.
região. No entanto, muitas vezes suas propostas iam de encontro às idéias defendidas pelo
Roosevelt.
Yorque – Jay Crane, tesoureiro da Standart Oil de Nova Jersey, Wally Harrison, Hugh
68
Sobre as informações a respeito de Nelson Rockefeller e seu envolvimento com a América Latina, ver:
REICH, Cary. The Life of Nelson A. Rochefeller. Worlds to Conquer. 1908-1958. New York: Doubleday,
1996 e COLBY, Gerard & Dennett, Charlotte. Seja feita a Vossa Vontade. A conquista da Amazônia: Nelson
Rockefeller e o Evangelismo na Idade do Petróleo. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 1998.
69
A Fundação Rockefeller foi criada em 1913, por iniciativa do milionário John D. Rockefeller, com o
objetivo de implantar em vários países medidas sanitárias baseadas no modelo americano, com a prioridade
de empreender o controle internacional da febre amarela e da malária. Ver MARINHO, Maria Gabriela
S.M.C. Norte-americanos no Brasil: uma história da Fundação Rockefeller na Universidade de São Paulo
(1934-1952), São Paulo: Editora Autores Associados; Universidade São Francisco; 2001.
publicitário William Benton e Joseph Rovensky, do Chase Bank. Em suas reuniões foi
Estados Unidos, que sugeriu que fosse encaminhado ao presidente F. D. Roosevelt, que,
Neste plano havia sugestões para que o governo norte-americano reduzisse as taxas
acima de tudo, fomentava que fosse iniciado um programa de trocas culturais, educacionais
buscava promover uma integração entre as ações do governo dos Estados Unidos com o
âmbito das relações econômicas e culturais com a América Latina, fomentar a colaboração
70
SOUSA, Marquilandes Borges. “Semear aos Quatro Ventos – O uso do rádio pela propaganda política dos
Estados Unidos durante a Segunda Guerra: os casos do Brasil e do México”. São Paulo: Universidade de São
Paulo, 2002, Dissertação de Mestrado, pp. 24-25
71
ROWLAND, D. W. (dir.). History of the Office of the Coordinator of Inter-American Affairs... op. cit., pp.
279-280.
72
TOTA, Antônio Pedro. O Imperialismo Sedutor: a americanização do Brasil na época da Segunda
Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 48.
Esta agência chamou-se primeiramente Office for Coordination of Commercial and
Cultural Relations between the American Republics, um ano depois passou a se chamar
Birô Interamericano. O nome para comandar a agência foi alvo de intensas disputas, sendo,
no entanto, sua coordenação entregue a Nelson Rockefeller, homem de negócios que tinha
mediador que ele poderia desempenhar. Tal constatação ficou evidente na montagem do
grupo que iria gerenciar o Office; Rockefeller escolheu como seus auxiliares homens de
saúde, que tinha como foco programas sanitários e a divisão de relações culturais, que
No Brasil, o Office tinha como representante Berent Friele, que contava com a
formado por executivos representantes de empresas, tais como General Electric, Standart
Oil, Metro Goldwin Mayer, Light and Power, The National City Bank of New York.
73
Exceto como especificado, esta é a fonte das informações sobre o OCIAA. ROWLAND, Donald, W. (dir.).
History of the Office of the Coordinator of Inter-American Affair…, op. cit.
74
MOURA, G. Tio Sam chega ao Brasil.., .op. cit., p. 22.
75
A partir deste ponto, esta agência será denominada como OCIAA ou Office.
Sediado na cidade do Rio de Janeiro, tinha uma agência em São Paulo e subcomitês de
Neste trabalho, não irei discorrer sobre todas as divisões que compunham o
New York e Washington, esta divisão foi primeiramente chefiada por John M. Clark,
editor do Jornal Washington Post, e depois por Francis A. Jamieson, da Associated Press, o
Nesta divisão, trabalharam também alguns brasileiros, como Origines Lessa e Raimundo
Magalhães. Dentre as várias funções que exerciam, enviavam radiofotos com informações,
brasileiras.
pôsteres, panfletos e revistas, dentre as quais ficou famosa a Em Guarda. Como afirma
Gerson Moura,
cinema, uma das mais importantes, tendo produzido filmes de ficção e, sobretudo,
Miranda77, que se tornou a embaixatriz da política da boa vizinhança, tendo edificado com
seus trejeitos e balangandãs a imagem que o Brasil viria a ter neste período no exterior78.
Esta seção ficou sob o comando de John Hay Whitney, grande amigo de Nelson
parte do material utilizado já vinha pronto dos estúdios de Hollywood. Esta divisão
produziu filmes comerciais e não comerciais. Muitas das produções comerciais tiveram o
Brasil como cenário, como, por exemplo, Brazil Gets News, Brazil´s fishing shool79 e
Voando para o Rio (Flying down to Rio), de 1933, que foi sucesso de público nos EUA e
no Brasil, tornando-se um dos filmes mais lucrativos do estúdio da RKO. O público norte-
extravagantes. Os brasileiros, por sua vez, agradaram-se dos ares cosmopolitas que sua
76
MOURA, G. Tio Sam chega ao Brasil..., op. cit., pp. 34-35.
77
Ver MENDONÇA, Ana Rita. Carmem Miranda Foi a Washington. Rio de Janeiro: Record, 1999.
78
MAUAD, Ana Maria. “As três Américas de Carmem Miranda: Cultura política e cinema no contexto da
política de boa-vizinhança”, in Revista de Estudos Americanos, Rio de Janeiro, vol. 1, no 1, 2002.
79
Ver TOTA, A. P. O Imperialismo Sedutor... op. cit., p. 63.
capital assumia pela primeira vez em tela estrangeira80.
preocupações do Birô, somente no ano de 1943 ele patrocinou 8698 seções no Brasil que
países latino-americanos, sua música e seu folclore, afinal, eles deveriam ser um meio para
A divisão de rádio situada em Washington era dirigida por Don Francisco, famoso
homem de propaganda; esta seção encomendava programas aos diversos estúdios, sendo
Latina.
veiculados tanto em português quanto em língua alemã. Programas como estes eram, sem
80
MEDEIROS, Bianca Freire. “Quando o filme é um cartão-postal: assistindo e voando para o Rio 70 anos
depois”. Anais da XIII Jornada de Estudos Americanos: Sentidos da Americanidade, 2004, pp. 111-118.
81
MOURA, G. Tio Sam chega ao Brasil..., op. cit., pp. 41-42.
82
Ver MAUAD, Ana Maria. “A América é aqui: um Estudo sobre a influência cultural norte-americana no
cotidiano brasileiro”, in TORRES, Sônia (org.). Raízes e Rumos – Perspectivas Interdisciplinares em Estudos
Americanos. Ed. 7 Letras, 2001. Ver também MENEGUELLO, Cristina. Poeira de Estrelas – O Cinema
Hollywooddiano na Mídia Brasileira das Décadas de 40 e 50. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1996.
83
TOTA, A. P. O Imperialismo Sedutor... op. cit., p. 74.
dúvida, um meio de propaganda dos regimes nazi-fascistas. Foi devido a esta presença,
Office se tornou uma das mais bem cuidadas por Nelson Rockefeller. Seu escopo era
O intuito era que o rádio pudesse alcançar um público maior, abarcando diversos
viajou pela América Latina. A Divisão produziu diversos programas que ficaram famosos
Veiga e a Record, dentre outras, transmitiam a programação que era enviada dos Estados
84
RAC, Record Group 4, series 4, box 9, folder 73, apud, TOTA, A. P. O Imperialismo Sedutor..., op. cit., p.
73.
85
O primeiro exemplar da versão brasileira saiu em fevereiro de 1942, sendo um sucesso de público. Ver:
JUNQUEIRA, Mary. Ao Sul do Rio Grande – imaginando a América Latina em Seleções: oeste, wilderness e
fronteira (1942-1970). Bragança Paulista: Edusf, 2000.
2.2
O ADVERTISING PROJECT
anunciar, apesar das dificuldades de se atender aos pedidos no período da guerra e que, em
anunciarem, mesmo que não pudessem ter um retorno imediato. Neste período de
intempéries, o OCIAA salientava que era necessário fazer com que os seus nomes não
(NARA – Maryland-EUA), contudo, parte dela foi copiada e trazida para o Brasil por
tenham utilizado.
jornais e rádios, começam a ter uma queda acentuada. A entrada dos Estados Unidos no
conflito mundial, em 1941, fez com que muitas empresas convertessem suas produções
para o esforço de guerra. Grande parte dos produtos que eram anunciados, como
difíceis de se obter.
87
Pesquisador já falecido da Fundação Getúlio Vargas (FGV), dedicado ao estudo das relações
internacionais.
88
FGV, CPDOC. Inter-American Affairs (IAA) 390715. Coleção de documentos avulsos (CDA), que reúne
os selecionados por pesquisadores do Centro de Pesquisa e Documentação Contemporânea (CPDOC) da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) no National Archives and Administration Records (NARA).
imposto de renda das companhias dos Estados Unidos. O coordenador pediu que, se
possível, o Departamento de Tesouro lhe enviasse uma carta, que serviria para ele
Segundo esta mesma carta, o Office estava ansioso para que a propaganda das
companhias dos Estados Unidos continuasse a ser feita durante a guerra, por dois motivos:
primeiramente, porque pensavam que era necessário solidificar as marcas de produtos dos
Estados Unidos nas outras repúblicas americanas, levando em consideração que a disputa
por estes mercados tenderia a aumentar no pós-guerra. Além disto, o Office acreditava que
conservar os produtos mais escassos. Para o OCIAA, as críticas da população das outras
rádio dos países da América do Sul e Central, que atuavam ativamente na promoção da
U.S. Advertisers in the other American Republics – que, a partir deste momento, será
denominado apenas de Advertising Project – tinha como escopo alcançar objetivos amplos
que abarcavam múltiplos interesses, na medida em que a consolidação das empresas norte-
sua sobrevivência. O custo para se manter uma estação de rádio e um jornal era muito alto
neste período e, sem dúvida, o apoio do capital das empresas norte-americanas, que eram
1941, encaminhado por Edward H. Robbins, é possível perceber que as resoluções sobre o
Projeto, tomadas em Washington, deveriam ser avaliadas pelos comitês locais do OCIAA,
não sendo, portando, uma proposta acabada, idealizada pelo Comitê de Política, mas, pelo
contrário, deveria esta, para ter eficácia, levar em consideração as possíveis modificações
repassadas para os comitês locais, pois eram uma interessante exposição da atividade
nazista e que não havia razão para apreensão da ação deste plano localmente89.
Assim sendo, no Advertising Project, fica evidente que os comitês locais do Office,
espalhados por diversas cidades da América Latina, tinham uma atuação relevante no
desenvolvimento local do projeto, pois eram fontes de informações dos órgãos centrais do
89
Memorando enviado por Richard I. Phillips para Edward H. Robbins, Ibidem.
OCIAA, localizados nos Estados Unidos, propagadoras regionais das medidas elaboradas
por este.
em agosto de 1942; nele, o Office ressaltou que aproximadamente 500 fabricantes dos
maciço investimento em propaganda, e que, por outro lado, tal projeto seria uma forma de
comercial.
para explicar os detalhes do programa, informando-os, por exemplo, como os gastos com
Project poderiam ser dedutíveis do impostos de renda das empresas. Tal informe sobre esta
despesas dos anunciantes que se comprometessem com o Projeto, foi atendida, o que
90
Ibidem.
Nelson Rockefeller salientou aos exportadores norte-americanos que o Advertising
Project fazia parte do esforço de boa vizinhança e afirmou que as outras repúblicas
agressores do Eixo.
suas indústrias para a produção de materiais estratégicos. Além disto, Rockefeller ressaltou
aos exportadores norte-americanos que muitos veículos de mídia nas outras repúblicas
era um dever patriótico dos exportadores norte-americanos e uma solução para assegurar
seus comitês, espalhados pelas outras repúblicas americanas, informações de como ele
deveria ser posto em prática. Os comitês regionais deveriam divulgar o Advertising Project
91
Ibidem.
para as filiais locais de indústrias norte-americanas e também para as casas empresariais
contato deveria ser feito com precaução e inteligência com empresários de confiança do
comitê regional, que estivessem em comum acordo com a política de boa vizinhança.
Como podemos perceber neste trecho de uma correspondência enviada pelo Office aos
comitês de coordenação:
alemães.
92
A questão é como nós devemos proseguir familiarizando os homens de negócios nativos com estes
objetivos e assegurar sua simpatia para dar sustentação. A situação é delicada e deve ser controlada com
cuidado e muita inteligência. É meu sentimento que os membros de seu Comitê de Coordenação estão em
melhor posição para desenvolver o método de aproximação em cada caso particular. Você pode desejar
alcançar o quanto de anunciantes que for possível ou você pode se for aconselhável restringir isto a algum
dos anunciantes mais importantes que você pode conhecer pessoalmente e atingir individualmente de
maneira informal e obter a sua cooperação.Ibidem.
A análise da documentação do Office que foi pesquisada deixou claro que o
Advertising Project foi estratégico e deveria ser posto em ação com cautela. Sua execução
manchar a imagem cordial que vinha sendo construída dos Estados Unidos através da
Filadéfia, especializada em fotografia e gravuras, divulgou notícia sobre uma placa que
tinham criado para ser usada pelos anunciantes que aderissem ao Advertising Project.
93
FGV, CPDOC, IAA, 420602.
Como poderemos perceber nos anúncios publicitários das firmas norte-americanas,
que serão mais bem trabalhados no próximo capítulo, as agências abusavam da criatividade
Américas e aos ideais democráticos, tentando sempre expor um conteúdo que sublimava os
perceber que a carta dirigida pelo Coordenador do OCIAA, Nelson Rockefeller, obteve a
Latina94.
O documento relata ainda que, junto à carta do Coordenador, foi anexada outra, do
gasto em anúncios desta natureza. E ainda informa que 83 cartas foram enviadas para
Das empresas que deram uma resposta favorável ao Projeto, 56 indicaram estar
De acordo com o documento, a maior percentagem, cerca de 60% dos valores, ficaria
Sem dúvida, os documentos oficiais do Office nos permitem ter uma percepção das
ao projeto.
Nos anúncios publicados na revista Seleções, entre os anos de 1942 e 1945, que
foram por mim pesquisados e que serão mais bem analisados no próximo capítulo, fica
94
FGV, CPDOC, IAA, 390715.
patente a supremacia do número de anúncios das firmas acima elencadas pelo memorando
e a divulgação em seus anúncios das premissas políticas de boa vizinhança, propagada pelo
OCIAA.
exemplo, comprova uma carta95, encontrada em nossa pesquisa, enviada a Mr. Joseph C.
Commercio, do Brasil, em 02 de junho de 1942. Esta carta nos leva a supor que o
Latina, como era o caso do referido Jornal do Commercio, uma instituição de grande
prestígio, antes mesmo de seu anúncio oficial, e também a perceber que a imprensa latino-
América Latina foi sem dúvida fundamental para o estreitamento de laços entre os homens
norte-americanos.
Na carta, Joel A. Bliss salientava que estava de comum acordo como o projeto
formulado pelo Office, pois acreditava que este era fundamental para unificar os laços
OCIAA e ratificou que, como era destinado a grandes negociantes e industriais, acreditava
Joel afirmou ainda em sua carta que já havia pensando em um plano como este e
que visitou, meses atrás, associações comerciais que se mostraram favoráveis a colaborar.
95
FGV, CPDOC, IAA, 420602.
Assim como o representante do Jornal do Commercio, em pouco tempo outros
Advertising Project pelo OCIAA. O advento deste plano de cooperação do Office com os
anunciantes na América Latina foi visto por alguns membros da imprensa brasileira como
dependia das verbas dos anúncios – que, em muitos casos, eram de empresas norte-
Cooperação Publicitária.
O senhor Nelson Rockfeller, coordenador de assuntos Inter-
Americanos dirigiu-se a quinhentas firmas anunciadoras norte-
americanas que têm seus ramos na América Latina pedindo as
mesmas para que cooperem por meio de anúncios com a imprensa de
todas as Américas, dando assim, uma prova de solidariedade com a
imprensa cuja principal fonte de renda reside, justamente na
propaganda comercial96.
estabelecer contatos com membros da imprensa da América Latina para terem uma
96
Publicidade, outubro de 1942, p. 15.
americano, fossem eles simpatizantes do Eixo ou não. Sem a parceria da propaganda
comercial, como bem salientou a nota da revista Publicidade, uma das mais respeitadas do
ramo nos anos 1940, a solidificação da imprensa no Brasil assim com nos outros países
países latino-americanos das relações comerciais entre seus países e os Estados Unidos no
pós-guerra.
OCIAA, recomendou que os anúncios publicitários destas empresas não fossem creditados
repúblicas americanas, foi solicitado que se fizesse uma cópia para os principais diretores
de divisões e seções do Office. Summer Welles salientou que era necessário remover
rótulos oficiais ou linhas de crédito de qualquer material dado a anunciantes e dar outros
passos apropriados para evitar implicação do Governo dos Estados Unidos em qualquer
97
FGV, CPDOC, IAA, 370715.
suplemento à carta que foi enviada por Sr. H. Walter Blumenthal, do Escritório do
para o governo dos Estados Unidos terem material oficial utilizado para propósitos
comerciais.
Desta forma, podemos perceber que aquele governo não queria que fosse
abertamente divulgada sua vinculação ao projeto organizado pelo Office e tudo leva a crer
que o objetivo era demonstrar que o Advertising Project era uma iniciativa própria dos
por isto, necessitavam anunciar seus produtos e fomentar o demanda por consumo, apesar
através de slogans ou textos que exaltavam o esforço de guerra dos Estados Unidos, a
atuavam na América Latina e que estavam dando apenas sua parcela de colaboração para o
governo, o que comprova que a forma como eram feitos os anúncios publicitários e,
sobretudo, o conteúdo que eles divulgavam nesse período eram de suma importância para a
estruturação das idéias propagados pela política externa norte-americana, ainda que o
98
FGV, CPDOC, IAA, 390715.
Para viabilizar seus objetivos, o OCIAA buscou estabelecer contatos com agências
América Latina, com o intuito de que as agências pudessem ser um elo de ligação entre os
O Office sugeria aos anunciantes exemplos de slogans e jingles que poderiam ser
desenvolvidos pelas agências para serem veiculados nos anúncios de seus clientes,
acreditando que estes eram um meio eficaz para divulgar a política de boa vizinhança.
Além disto, o OCIAA pedia às agências de publicidade que fossem enviados dados sobre o
volume e cópias do tipo de anúncios utilizados pelos seus clientes na América Latina,
indicando também em que meios eram veiculados, ou seja, informações gerais sobre como
era feita a propaganda destes anunciantes. Solicitava que as agências também informassem
a localização dos escritórios mantidos pelos seus clientes nas Américas e nome dos seus
diretores, além de desejar saber se estavam trabalhando com o apoio da embaixada norte-
americana local.
promovendo a política de boa vizinhança nas Américas por intermédio da sua propaganda.
Elterich afirma que o OCIAA estava entusiasmado por poder aproximar-se dos clientes da
Elterich afirmava que era desejo do Office ter todos os fabricantes norte-americanos
que anunciam na América Latina cooperando ao máximo, utilizando seus jornais, suas
rádios e outras formas de anunciar para espalhar o que ele chamou de evangelho da política
99
FGV, CPDOC, IAA, 420602.
de boa vizinhança, para que as outras repúblicas das Américas pudessem unir-se nesta
causa comum. Elterich acreditava que estas milhares de mensagens, levadas diariamente ao
povo das Américas, poderiam contribuir muito para estabelecer a confiança da população
da América Latina na política de boa vizinhança. Para Elterich, todo exportador americano
deveria contribuir para esta batalha de natureza psicológica, pois assim estaria cumprindo a
Como exemplos de slogans a serem adotados pelos anunciantes, Elterich cita para o
dono da agência: “As Américas Unidas Vencerão”100, que estava sendo utilizado por
representante do OCIAA ainda ressaltou que já estava comprovado para o Office que estes
slogans estavam fazendo um trabalho notável na América Latina, sendo bem recebidos
pela população.
A análise desta carta de Elterich nos permite ter uma noção de como se dava a
relação entre o Office e as agências de publicidade e de como tal contato lhe permitiu ter
clientes das agências de publicidade norte-americana que anunciavam nela e dos recursos
Afinal, Elterich pede neste documento que lhe sejam enviadas informações sobre o
desenvolvimento dos tipos de promoção usados pelos clientes da agência nas Américas e o
volume por país. Além disto, pede também que indique o veículo utilizado: jornal, rádio,
panfletos, carros de som, bem como amostras do material de promoção utilizados pela
agência, o número aproximado de jornais por localidades, o tipo de programa que estava
100
Encontramos este slogan em muitos anúncios publicados em Seleções entre 1942-1945 por diversas
firmas norte-americanas.
O Office solicitou ainda que a agência divulgasse o local de qualquer escritório
mantido nas Américas por seus clientes, especificando se eles eram dirigidos por cidadãos
americanos ou não. Igualmente, foi requerido o envio de uma lista dos distribuidores de
cada um de seus clientes. O representante do OCIAA relatou que este órgão gostaria de
fazer contato com os clientes da agência que estavam fazendo viagens para a América
Latina, para estabelecer um contato prévio, antes de eles partirem e para obter destes
No entanto, a análise da documentação do Office demonstra que não parece ter sido
fácil a compreensão das premissas do Advertising Project por parte pelo menos de algumas
Kane, representante de uma agência de publicidade que tinha como cliente uma firma de
empresários dos Estados Unidos e os anunciantes tinham que superar a idéia de que as
destinados à América Latina, de forma que seu cliente, que nela estava anunciando,
pudesse obter ganhos para a sua empresa e também para o governo dos Estados Unidos.
Salientava ainda que era preciso que os anunciantes percebessem que o projeto formulado
pelo Office tratava de uma questão de idéias e não apenas de mídia/propaganda e que ele
questões101.
Portanto, o Office, em alguns casos, teve que fomentar entre os anunciantes norte-
quando esta findasse, salientando a importância ideológica do projeto que estava sendo
posto em voga.
empreendimento que aliou, através da ação do governo dos Estados Unidos, os interesses
da sua política externa aos objetivos econômicos das grandes empresas norte-americanas.
A relação estreita entre política e economia revela uma preocupação em manter uma linha
de coerência ideológica, que contribuiria para solidificar uma imagem favorável dos
do próprio sistema político norte-americano, que, ainda que se pautasse na livre iniciativa,
Ao que tudo indica, durante um período de extrema disputa econômica por mercados
101
FGV, CPDOC, IAA, 420602.
postos em segundo plano, pois, acima das disputas internas, estava a necessidade de
Culturais, em abril de 1942, Sr. Wallace K. Harrison, o Office tinha traçado algumas metas
respeito profundo dos latino-americanos pelos Estados Unidos, a crença em que a vitória
dos Aliados na presente guerra era inevitável, a convicção por parte da América Latina de
que a cooperação com os Estados Unidos era essencialmente necessária agora e no futuro
com os Estados Unidos seria promovido e estampado nos anúncios publicitários, sendo
conteúdos que deveriam ser contemplados pela propaganda destinada à América Latina: o
Desta forma, deveria também ser ressaltada a tradição de defesa, por parte do
estado social melhor para todos e a existência, nos Estados Unidos, de uma cultura extensa.
Robbins afirmava ainda que, para se viabilizar o Advertising Project, este poderia ser
americana, tais como: comercializar com os Estados Unidos era lucrativo e não
competitivo, a cooperação com os Estados Unidos significaria um nível de vida mais alto
102
FGV, CPDOC, IAA, 420415.
no hemisfério. Já a fomentação do medo do Eixo nos latino-americanos poderia, segundo
do Eixo.
Neste sentido, percebemos que a escolha dos temas a serem abordados nos
Project era feita de forma cuidadosa, pois tinha como escopo criar representações
depreciativas dos aliados do Eixo e positivas dos nortes-americanos. Fica evidente que os
nos textos, nos jingles e nas imagens da propaganda destinadas à América Latina, e que os
recursos publicitários teriam que ser capazes de exaltar a solidariedade entre os povos
democracia nos países sob sua influência e sua extrema militarização, dentre outros
aspectos negativos.
resguardar a cultura ocidental e de salvar o mundo, que cabia aos Estados Unidos. Já os
1943, que serviram de instrumento de acompanhamento das metas, dos progressos e dos
de ser fomentada uma propaganda de forma unificada entre os grandes anunciantes norte-
americanos na América Latina. Além disto, informava como este projeto estava sendo
Estados Unidos.
política de boa vizinhança estava sendo inserida nos textos e nos slogans dos anúncios
escritórios do Office nos Estados Unidos e dos seus contatos com os escritórios regionais
relataram seus planos para campanhas novas, fazendo perguntas como resposta à carta que
percebemos que estão longe de ser suficientes, mas que eram vistos pelo Office, sem
slogans dos seus produtos, distribuídos nos mercados da América Latina, a divulgar a
política de boa vizinhança e que muitas companhias submetiam as cópias destes slogans
vinculado às necessidades políticas dos Estados Unidos e econômicas das grandes agências
publicidade na América Latina, entre os anos de 1941 e 1942, e dos prováveis gastos para
103
Relatório de 15 de outubro de 1942 de H. Walter Blumenthal, FGV, CPDOC, IAA, 411219.
1943. Outro ponto de destaque é o relato da preparação, pelo Office, de listas de
das empresas que poderiam ser induzidas a anunciar como um grupo na América Latina.
Tal ação, segundo o relatório, teria que ser posta em prática rapidamente, levando-se em
intenção de saber se os incentivos dados por ele estavam sendo suficientes para aumentar o
viabilizar seu projeto, não mediu esforços, desenvolvendo até mesmo um plano para ajudar
receberiam passagens de avião para locais onde pudessem estabelecer acordos com
locais era um dos pontos a serem mais bem trabalhados, pois os Comitês de Coordenação
regionais do OCIAA relatavam o andamento dos seus projetos, com exceção apenas da sua
relação com os anunciantes locais. No final deste relatório, no entanto, se salientava que
este contato já começava a ser feito104. Tal preocupação com formação de parcerias dos
104
Relatório de 31 de outubro de 1942 de H. Walter Blumenthal, Ibidem.
O relatório de 16 de novembro de 1942 destacava que, logo após o início das
que o programa de propaganda de grupos industriais tinha sido aprovado por Nelson
pelas tropas americanas no front, os documentos oficiais do Office ao qual tivemos acesso
não trazem muitos detalhes sobre qual teria sido a ação das Câmaras e das Associações de
fundamentais pelos contatos que afirmavam ter ocorrido entre estas e os representantes do
Office.
mensagens da política de boa vizinhança juntamente com o nome das grandes empresas
boa vizinhança teve um gradativo crescimento a partir do final de 1942 e o início de 1943.
Das empresas contatadas pelo Office para participarem do Advertising Project, 367 lhe
1942 para 1943, 25% viriam a aumentar seus orçamentos para 1943, já 12% diminuiriam
seus investimentos e 23% ainda não tinham definido seus balancetes orçamentários para
1943. Das 210 empresas que haviam fechado seus gastos em 1942 e orçado os
expectativa do OCIAA era de que ainda houvesse aumento dos orçamentos para 1943,
devido à resposta positiva de muitas empresas que ainda não tinham fechado seus
previsão de que 36% iriam para publicações locais, 29% para rádios locais, 8% para
publicações em língua espanhola nos Estados Unidos e 27% seriam destinados às outras
Como naquele momento ainda era imprevisível o resultado da guerra, o OCIAA, enquanto
Project ser um instrumento que contribuiria para enfraquecimento ideológico dos inimigos
107
Relatório de 31 de dezembro de 1942 de H. Walter Blumenthal, Ibidem.
daquele país. Afinal, a conquista de mercados e de aliados na América Latina, fundamental
para a política externa norte-americana, vinha sendo feita de forma interligada por diversos
setores contatados pelo OCIAA, num projeto que era elaborado pelo governo norte-
América Latina, que, nos seus anúncios, vendiam produtos e fomentavam ideologias.
produzidas pelo OCIAA sobre o projeto Cooperation with U.S. Advertisers in the other
American Republics, seja possível levantar questões que nos levem a uma melhor
consumo para seus produtos e consolidar-se como centro hegemônico na América Latina,
além de elucidar novos métodos e meios utilizados pelo governo norte-americano para a
publicados na revista Seleções do Reader´s Digest, entre os anos de 1942 a 1945, como os
publicitários utilizaram os temas sugeridos pelo Office no projeto Cooperation with U.S.
Advertisers in the other American Republics, para ressaltar a política de boa vizinhança