Você está na página 1de 19

culo XIX, que resultou não ape-

nas na reafirmação da escravidão


como instituição, mas, também,
na formulação e implementação,
por parte de uma elite açucareira
baiana, de uma verdadeira
política de subdesenvolvimento.

Para além da Polis

Por uma História


Política da Economia
Escravista
E m um tempo de transfor-
mações aceleradas, fica evi-
dente que importantes mu-
danças de rumo na economia são
objeto de negociações estabeleci-
Os rumos da economia são objetos de
das entre os mais diversos grupos negociação entre os mais diversos grupos
componentes de uma sociedade.
Ubiratan Castro de Araújo* Este seria um processo de uma mais
acentuada politização da economia
nas sociedades contemporâneas.
Como defini-lo? Para além das po-
Tomando como referência líticas de governo e dos mecanis-
uma Nova História Política, que mos de intervenção estatal, com-
busca através "O Político" - o ponentes indispensáveis do pro-
"carrefour" onde se entrecruzam cesso de acumulação de capital,
e se condensam as mais variadas emerge um espaço social mais am-
relações sociais - a percepção do plo do que a "polis", onde mani-
movimento global das sociedades, festam-se os mais variados interes-
empreende-se a reconstituição do ses e projetos particulares, onde
entrechoque dos interesses dos di- eles se confrontam e onde se esta-
versos grupos, secções e classes belecem convenções que terminam Para além da Pólis

de uma Bahia escravista do sé- por compor uma malha complexa

* Professor do Departamento e do Mestrado em História da Universidade Federal da Bahia.


A primeira versão deste texto foi apresentada no 1o Congresso de História Económica do
Brasil, realizado em setembro de 1993, na Universidade de São Paulo. O autor agradece a
leitura crítica do professor João Reis.
de pontos de equilíbrio entre os manifestação, por vezes violenta,
grupos das mais variadas nature- de várias classes contra os novos
zas. termos de uma divisão internacio-
nal do trabalho que se quer
A existência desse domínio convencionar.
mais amplo, onde a política está
disseminada, faz com que o Esta- Por mais óbvio que possa pa-
do, tomado em seu sentido estrito recer, o confronto de classes his-
de aparelho burocrático, tenda toricamente bem definidas - com
cada vez mais a incorporá-la em uma inserção nacional específica,
um espaço controlado e norma- com uma conformação cultural
tizado das instituições. É também particular - ocorre em conjunturas
O alargamento do político. próprio a esse processo de alarga- sujeitas a todos os condicionamen-
mento do político as investidas dos tos e vicissitudes de variadas na-
dirigentes do aparelho de estado, turezas. A imprevisibilidade e a
tentando colocar-se na posição de incontrolabilidade desses fatores
promotores, de demandantes e de são mais que evidentes. Por exem-
árbitros de grandes acordos ou dos plo, durante a última mudança de
pactos ditos sociais. presidente no Brasil, as repenti-
nas mudanças da correlação de for-
Também no tempo presente ças entre classes em decorrência
estamos assistindo o alargamento também de incidentes construídos
desse campo político, através de e/ou amplificados pelos órgãos de
processos de consulta direta à po- comunicação, terminaram certa-
pulação sobre grandes diretrizes de mente por alterar os rumos de uma
política econômica brasileira. Hoje, política económica. Incidentes
1994, no Brasil, a campanha para eventuais como as guerras e as ca-
as eleições presidenciais tende a tástrofes naturais, não podem ser
se transformar em uma grande igualmente desprezados: o impac-
consulta sobre a estabilização eco- to do acidente de Chernobyl sobre
a população da ex-União Soviéti-
nómica.
ca e o trauma da derrota nas
Malvinas para os argentinos.
Olhando também para a ex-
periência européia, impossível não
Nesses quadros particulares
ver o monumental processo de engajamento, esses grupos,
plebiscitário sobre a construção de secções e classes, não apenas "por-
uma economia da Europa confe- tadores de estruturas", atuam como
derai, seja através a consulta for- os agentes formuladores e deci-
mal em todos os países membros sores da política em geral e da po-
da comunidade, seja através da

atuando como agente formuladores e decisores da política em geral.


lítica econômica em particular. que grupos de homens, que clas-
Assim, esse espaço político alar- ses em conflito tenham podido al-
gado, não seria um mero reflexo terar o curso do mundo sem fazê-
Esse espaço político
alargado
da infra-estrutura econômica, su- lo, tal como os médiuns no espiri-
bordinado à sua racionalidade, mas tismo, na condição de simples for-
um espaço onde se articulam ça vital, de mão cega dirigida pela
diversas ordens de tendências. racionalidade transcendente que os
Hoje, no Brasil e no mundo, os incorpora ?
economistas nunca foram tão po-
líticos, e os políticos nunca foram Uma segmentação apenas
tão economistas. metodológica "do económico" ter-
minou por constituir esta concep-
Uma tal revelação do presen-
ção sobrenatural, ou pelo menos
te constitui-se em apelo irresistível
ao jogo retroativo com o passado, sobrehumana do económico, defi-
tal como nos propõe Edgard nido como infra-estrutural determi-
Morin, no qual o conhecimento do nante do todo social. Rehumanizar
passado contribui para o conheci- o económico é acima de tudo,
mento do presente, mas também recolocá-lo em seu lugar, como uma
rehumanizar o econômico, como uma
as experiências do presente con- atividade social, parte da realidade atividade social
tribuem para o conhecimento do social e integrado na dinâmica do
passado, e assim o transformam seu conjunto. Assim como qual-
(Morin, 1981, p. 320). Mas ousar quer outra instância do real, ele é
violar o lacre da absoluta invio- gerido por homens organizados em
labilidade da economia, quem há- grupos, secções e classes, o que
de? Com que olhos reler esta sin- termina por cristalizar micro-rela-
cera profissão de fé de Pierre Vilar ções de poder em cada uma das
de que a economia está acima e atividades ou setores econômicos
fora do alcance das forças do ho- considerados particularmente,
mem?: como também macro relações de
poder no que diz respeito à gestão
" ...o homem sempre tentou da economia como um todo. Aí en-
dominar as condições econômicas; contraríamos então "o político" na
mas até hoje ("os planejamentos" economia.
são ainda incertos) ele não domi-
nou a economia. Portanto, não se
A redescoberta desse "polí-
deve atribuir a um homem ou a
um governo resultados que os ul- tico" disseminado em todas as ins-
trapassam" (Vilar, 1980, p. 54) . tâncias do real tem sido um dos
fatores responsáveis pelo impulso
Como pensar que homens, renovador de uma História Políti-
ca que, desembaraçada do seu se-
cular ranço factual, busca hoje da pelo "econômico".
ocupar o lugar de uma "science
carrefour" no dizer de René "Porque o político é o lugar
Remond, largamente pluridisci- de gestão da sociedade global, ele
plinar e, portanto, atenta a todas as comanda em parte as outras ati-
novas fontes de informação, aos vidades; ele define o estatuto e o
novos métodos e às novas técnicas funcionamento delas. A lei auto-
de pesquisa. riza ou proibe, encoraja ou en-
trava. Os créditos públicos incen-
Mas não para aí a ambição tivam, apoiam, favorecem. A de-
desta História Política renovada. cisão política pode criar situações
Ela reivindica para si uma vocação inteiramente novas que abrem o
globalizante. É o próprio René campo para todo tipo de ativida-
Remond quem afirma : des: a aprovação do plano
Schuman modificou profundamen-
Nada seria tão mais con- te a situação da siderurgia fran-
trário à compreensão do político e cesa. " (Remond, 1988, p. 384)
de sua natureza do que
representá-lo isoladamente: ele Esta nova História Política
não tem fronteiras e se comunica que se pretende paradigmática, é
com a maior parte dos outros do- marcada profundamente por uma
mínios. Do mesmo modo, os his- vocação de história do tempo pre-
toriadores do político não seriam sente e de um passado dele muito
capazes de isolar-se e cultivar o próximo, onde a busca do político
seu jardim secreto, longe das disseminado na sociedade e do po-
grandes correntes que atravessam lítico centralizado no estado se dá
a História. A História Política ins- em sociedades do tipo moderno,
creve-se forçosamente em uma cujas estruturas são bastante apro-
perspectiva global em que o polí- ximadas das sociedades contempo-
tico é um ponto de condensação. " râneas. Esta mesma História Políti-
(Remond, 1988, p. 382) ca seria viável a propósito de soci-
edades do tipo "ancien regime" ?
Em um momento de mudan-
ça de paradigmas nas Ciências So- Esse problema se coloca cla-
ciais, René Remond reivindica ramente no estudo de uma socie-
também para "o político" a posi- dade escravista, onde o esmaga-
ção de centralidade em relação às mento da maioria dos homens em
demais instâncias da vida social, uma economia do chicote, os faz
contrapondo-se explicitamente à parecer apenas força bruta, força
centralidade anteriomente ocupa- de trabalho em estado natural, in-
capazes portanto de sequer pensar, fuga. " (Ministère des Affaires
quanto mais de agir e de transfor- Etrangères. Correspondance
mar a realidade. É aliás urgente evi- consulaire et commerciale.
tar que uma visão exclusivamente Consulat de Bahia. Vol. 2, fol.
economicista da escravidão colo- 211).
que-nos em uma posição conver-
gente com as percepções dos mais Do campo teórico da Ciência
lídimos defensores da escravidão Política se nos levanta uma barrei-
no passado, como o racista consul ra tão mais sutil quanto eficaz, pos-
francês na Bahia Jacques to que reduz o espaço do político
Guinebaud. Ele considerava os es- no Brasil do século XIX ao jogo
cravos absolutamente incapazes de elegante entre o rei e seus barões,
qualquer reflexão ou ação política os de dentro da "polis", os únicos
inteligente, excessivamente embru- homens que podiam exercer a ma-
tecidos que eram para os misteres gistratura. Revivemos pois a mile-
mais elementares da conspiração e nar concepção aristotélica, pela
da rebelião. qual apenas se viam como verda-
deiros cidadãos, os "homens polí-
Em seu despacho de 24 de ticos", aqueles que eram soberanos
dezembro de 1828. relatando a re- c que tinham a faculdade de agir
pressão à revolta de escravos em soberanamente, na gestão dos ne-
alguns engenhos de Santo Amaro, gócios comuns (Aristóteles, 1990.
no Recôncavo Baiano, dizia o côn- p. 228). Aos de fora. simples "de-
sul Jacques Guinebaud: mos", restava exprimir coletivamen-
te a sua insatisfação, resultante das
"O plano da rebelião foi péssimas condições materiais de
concebido abrangendo uma cir- vida, mediante revoltas e outros
cunscrição mais vasta do que de atos de desordem. Reprimidos, go-
ordinário. Os meios a serem utili- vernados, excluídos e bestia-
zados eram o incêndio dos enge- lizados, barrados no último baile do
nhos e o assassinato dos brancos. Império, estavam expulsos também
O objetivo era muito vago e tal todos do território da História Po-
como se pode esperar de negros lítica. (Carvalho, 1990, p. 228).
estúpidos, entre os quais alguns
acreditam poder voltar ao seu país O espaço de decisões no sé-
( a Africa) por terra e outros são culo XIX estaria assim limitado ao
incapazes de estender seus Conselho de Estado, à Assembléia
cálculos além das duas combina- Geral, às Assembléias Provinciais
ções primitivas: o porrête e a e, principalmente, à burocracia im-
perial. Nesse "intra-muros", as que o fez antever, pela primeira vez,
grandes questões sobre economia uma teia complexa de relações de
e sociedade, como a questão uma sociedade francesa cm crise
fundiária, a escravidão e o modelo (Ehrard e Palmade. 1965, p. 261).
econômico, teriam sido pensadas e
decididas. Os "outros", os de fora, Graças a essa experiência ele
nada tiveram a dizer a respeito? pode dar o primeiro passo de den- Um passo de dentro para fora
Acaso nem tentaram exprimir-se, tro de um espaço social restrito
autonomamente ou mesmo através aos "notáveis" para fora, na dire-
de canais de subordinação já esta- ção do conjunto da sociedade. As-
belecidos? sim pôde ele empreender a supera-
ção do simples relato como forma
de percepção do passado, substi-
A Voz do Povo tuindo-o pela tentativa de recons-
trução de uma totalidade viven-
ciada no passado .
A experiência do passado na
Bahia não autoriza uma concepção A primeira das revoluções
tão restritiva do político. A análi- baianas, a dos Alfaiates, é também
se de uma longa conjuntura que vai exemplo de um desses clarões
de 1798, quando é reprimida a cha- reveladores. Uma revolução libe-
mada Conspiração dos Alfaiates, ral abortada? Uma revolução popu-
até 1838, quando é esmagada a re- lar negro-mulata? Uma simples in-
volução federalista dita "A Sa- subordinação militar? Nenhuma
binada", demonstra a complexa das versões elaboradas desta re-
rede de articulações na qual são te- volução pode desconhecer o clima
cidos os vários levantes e rebeli- de intensa mobilização politica
ões. permeando os vários segmentos de
uma sociedade urbana cm crise .
Ver também é uma questão de
jeito de olhar. As revoluções são No primeiro aviso colado em
momentos geradores do conheci- lugares públicos na manhã do dia
mento histórico, posto que fazem 12 de agosto de 1798. os revoluci-
emergir em toda a sua abrangência onários apresentam-se ao Povo
e em toda a sua crueza a totalidade Bahiense como 676 seguidores do
do vivido (Bourde e Martin, 1983, Partido da Liberdade: 34 Oficiais de
p. 162-163). Jules Michelet experi- Linha; 54 Oficiais de Milícias; 11
mentou uma dessas revelações du- Homens graduados em postos e
rante a Revolução de Julho de 1830. cargos; 46 inferiores de linha; 34
inferiores de Milícias; 107 soldados gêneros de negócios e mais vires,
de linha; 233 soldados de Milícias; contanto que aqui virão todos os
13 Homens graduados em Lei; 20 Estrangeiros tendo Porto aberto,
Homens do comum; 8 Homens do mormente à Nação Francesa"
comércio; 8 Frades bentos; 14 (Accioli, 1931, p. HO).
Franciscanos; 3 Barbadinhos; 14
Terésios; 48 Clérigos; 8 Familiares ' Proclamavam assim a neces-
do Santo Ofício (Accioli, 1931, p. sidade de uma primeira medida
106). Os autos da devassa revelam, concreta de descolonização - a aber-
por seu turno um espectro bem tura dos portos ao comércio com
mais amplo de segmentos sociais países estrangeiros, a qual só seria
perpassados pela articulação polí- encaminhada posteriormente ao rei
tica dos revoltosos. Muitos são os de Portugal pelas elites baianas, em
negros e mulatos, do campo e da 1808.
cidade.
Mais uma vez repetimos: nem
Naquele momento, os ho- só no estômago pensava o povo da
mens do povo não pensaram ape- Bahia. Em 1798, os papéis sedi-
nas no preço da farinha e no paga- ciosos falavam em igualdade e em
mento de soldos atrasados. Eles ti- república. Em 1823, populares vito-
nham fome e sede de igualdade, as- riosos da guerra de Independência
piravam a construção de uma nova pensavam em constituir uma pátria
pátria mais fraterna. Eles pensavam nova que, além de independente,
também na destruição de um siste- fosse capaz de incluir todos os ho-
ma colonial exclusivista. No 9° mens livres e não apenas os "no-
Aviso revolucionário protestavam táveis". Varias outras questões po-
contra: líticas globais foram objeto das
reivindicações populares, tais como
"os muitos e repetidos Latro- a forma de governo, a forma do es-
cínios feitos com os títulos de im- tado e o regime político. A questão
posturas, tributos e direitos que da autonomia regional foi mesmo
são cobrados por ordem da Rai- capaz de soldar uma aliança entre
nha de Lisboa ", ao tempo em que os traficantes de escravos como o
comunicavam ao "Poderoso e Hygino Pires Gomes e os escravos
Magnifico Povo Bahinense Repu- crioulos do Batalhão dos Libertos
blicano" que serão tomadas me- da Pátria em 1837.
didas imediatas "para o progresso
do comércio do Açúcar, Tabaco e Ao longo desta conjuntura
pau brasil e todos os mais (1798/1838), a rebelde cidade do
Salvador experimentou várias on- modernização da economia açuca-
das de revoltas: a guerra da Inde- reira. Somente os Rodrigues de
pendência, que criou as condições Brito e os Caldeira Brandt Pontes
para os vários motins populares, teriam sido capazes de pensar a
fugas de escravos e raids de gru- economia regional e agir sobre
pos de soldados desertores: as vá- ela. Os outros, os de fora da
rias revoltas africanas, que culmi- "polis", teriam sido incapazes de
naram com o levante dos Malês em oferecer qualquer projeto capaz de
1835;a série de revoluções federa- constituir uma alternativa à crise da
listas, dentre as quais a mais expre- economia colonial.
ssiva foi a Sabinada em 1837/38.
É muito comum entre os his-
Desta cronologia depre- toriadores considerar as reivindi-
endem-se duas linhas de reflexões. cações e as idéias veiculadas pe-
A primeira diz respeito à comuni- los movimentos populares apenas
cação política e mesmo à articula- no limite das questões mais imedi-
ção entre os segmentos mais diver- atas ligadas à condição material das
sos de uma sociedade urbana. A camadas populares, sem no entan-
segunda refere-se à construção de to atingir um grau de formulação
projetos alternativos que refletiam mais global c crítico da sociedade,
a capacidade de formulação de pro- capaz de alimentar alianças perma-
postas políticas concretas por parte nentes com os demais segmentos
de todos aqueles a quem se nega da sociedade.
habitualmente um papel ativo na
História. É verdade que nenhum dos
movimentos com apoio popular
conseguiu formular um projeto
A Vitória da Escravidão económico completo para a Bahia.
No entanto, ao longo de todas es-
tas revoltas, é possível recompor
Além das questões específi- uma pauta de reivindicações que
cas, houve uma verdadeira gesta- configuram uma espécie de progra-
ção de vários projetos econômicos ma de caráter urbano e popular, al-
alternativos que terminaram sendo ternativo ao modelo "escravidão -
objeto do afrontamento das clas- império - açúcar". Os quatro itens
ses. A historiografia baiana tradi- mais visíveis são: autonomia polí-
cional consagra uma versão pela tica da província, a emancipação
qual uma elite ilustrada haveria con- dos escravos, a diversificação da
duzido racionalmente um projeto de economia de exportação e a aber-
tura da fronteira para a pequena Os segmentos que, em tese,
propriedade. eram os mais interessados na abo-
lição da escravidão - escravos, li-
Três desses itens de pauta bertos e população de cor - ao se
diziam respeito diretamente a um manifestarem nas várias rebeliões
modelo econômico dissidente. O e motins não formularam um proje-
primeiro item, a emancipação dos to unificado de abolição. Grupos de
escravos, foi objeto de um trata- escravos colocaram separadamen-
mento descontínuo e hesitante dos te na "mesa de negociações" a
movimentos populares baianos da questão da abolição da escravidão
primeira metade do século XIX. Em ( Reis, 1989). Nestas oportunida-
nenhum momento houve qualquer des, cada um deles formulou a de-
formulação de um projeto de aboli- manda da "sua" libertação e nunca
ção generalizada do regime de tra- a da libertação generalizada. Mes-
balho escravo. mo os Malês, que articularam ex-
plicitamente um projeto social afri-
Os dois projetos mais conhe- cano para a cidade do Salvador,
cidos, e que deixaram marcas no não falaram em abolição geral da
posterior abolicionismo baiano, fo- escravidão, mas em liberação do
ram o projeto de emancipação gra- "seu povo", os crentes do Islã e
dual elaborado por José Bonifácio daqueles que se chegassem a eles.
de Andrada e Silva durante o perí- Em alguns depoimentos no inqué-
odo de funcionamento da Assem- rito policial falou-se até em um pro-
bléia Constituinte - e que aliás ja- jeto de escravização dos mulatos.
mais chegou a ser apresentado ( Diante de tal evidência, o historia-
Andrade e Silva, 1825), e o projeto dor apaixonado pelos seus in-
do Francisco Gê Acayaba Mon- terlocutores do passado corre em
tezuma, o Visconde de Jequi- defesa dos seus "bravos Malês"
tinhonha - homem de cor e um dos exclamando: "Afinal, qual o escra-
mais radicais líderes da Independên- vo que nunca desejou ser senhor?"
cia na Bahia - formulado somente (Reis, 1986, p. 149).
em 1865. Este também era um pro-
jeto de liberação a prazo, pois esti- No entanto, a falta de um pro-
pulava a libertação dentro de dez grama dentro das normas da arte
anos dos escravos maiores de 25 e política e da retórica da época não
a abolição total dentro de 15 anos obscurece a evidência de que es-
(Duque Estrada, 1918, p. 44). tes movimentos múltiplos e
descoordenados exerceram uma medidas formais, "para inglês ver",
fortíssima pressão para dentro da restritivas a este tráfico .
"polis", cujo resultado foi a con-
testação da instituição servil, em No front interno, o direito de
um momento constitutivo do esta- traficar escravos transformou-se
do nacional brasileiro. mesmo em uma afirmação de sobe-
rania nacional, mobilizando a
A manutenção da escravidão "polis" contra os imperialistas in-
não foi, assim, uma decorrência na- gleses, ao tempo em que a perse-
tural da preservação de uma estru- verança no contrabando evitava a
tura produtiva centrada na agro-in- ruptura do fornecimento para p mer-
dústria exportadora, mas justamen- cado local de escravos, o que con-
te o inverso. A capacidade de tinuou permitir que segmentos os
Uma necessidade
de reimposição reimposição da escravidão no Bra- mais variados de homens livres,
sil por parte de uma classe açu- mesmo pobres, mesmo de cor pu-
careira, foi o elemento decisivo para dessem dispor da mão de obra es-
a sobrevivência do engenho de crava (Mattoso. 1982, p.75-77).
açúcar e de seus barões.
As elites baianas consegui-
Assumindo as principais ta- ram também alargar sua base de
refas políticas da conservação de apoio pela adesão ativa de grupos
uma estrutura econômica fundada cada vez mais numerosos de pes-
sobre a escravidão, esta classe as- soas interessadas e beneficiárias de
segurou para si o apoio dos varia- uma economia da escravidão que
dos segmentos interessados na es- se espalhou pelo interior da Pro-
cravidão . Para tanto, desenvolveu- víncia, em todas as regiões, a par-
se uma "política da escravidão", tir de 1840 ( Araujo, 1992). Assim,
que não se limitou apenas à repres- até as vésperas da Abolição, a cau-
são das revoltas africanas e ao es- sa da escravidão tinha os seus
magamento das rebeliões popula- adeptos distribuídos nos vários
res com participação de escravos e segmentos da sociedade baiana e
libertos crioulos. Essa política de- nas várias regiões da Província, o
senvolveu-se também para a conti- que autoriza-nos a afirmar, sem ris-
nuação do tráfico clandestino de co de exagero, que a Bahia foi uma
escravos africanos do Golfo de das sociedades regionais brasilei-
Benin, mediante um conjunto de ras onde a escravidão foi mais per-
ações visando o amortecimento da sistente e generalizada. Este fenô-
pressão inglesa e pela adoção de meno constituiu-se em uma parti-
cularidade , que contrastava com ção incorporada na produção
uma realidade nacional onde, na açucareira, foi na utilização do tra-
maioria das províncias do Império, balho escravo que os homens do
onde registrava-se uma tendência açúcar buscaram a redução ao ex-
ao estreitamento da base social de tremo dos custos de produção de
apoio à escravidão pela diminuição um açúcar baiano de má qualidade.
progressiva do número de senho- Quem melhor expressa a profunda
res de escravos e sua concentração convicção dos senhores de enge-
em algumas atividades econô- nho baianos c Francisco Adolpho
micas bem definidas (Conrad. Varnhagen:
1978).
"A América não pode metter-
A generalização da escravi- se a querer competir com a Euro-
dão foi a moeda com que os princi- pa em detalhes de refino. Estarei
pais interessados na manutenção em erro; mas por ora sou de opi-
do trabalho servil, os senhores de nião que se o Brazil proceder nes-
engenho e os plantadores de cana, ta indústria ( o açúcar) como fez
negociaram com vários outros seg- com a do caffé, procurando pro-
mentos da sociedade local, com ou duzir antes muitíssimo inferior,
sem voz dentro da "polis", a so- que um pouco menos, um tanto
brevivência de uma economia agro- melhor, os seus assucares, embora
exportadora centralizada na econo- menos alvos, matarão com o tem-
mia açucareira. De uma certa for- po (em virtude da grande diffe-
ma, a escravidão foi o dom cujo rença nos preços) todos os outros
contra-dom foi o apoio político que por mais refinados que saiam dos
permitiu aos senhores de açúcar o engenhos. "( Varnhagen, 1863, p.
controle do aparelho de estado na 14).
Província, a partir de onde pude-
ram desenvolver uma política de Muito diferentemente do per-
salvação da economia açucareira. fil de uma elite ilustrada e mo-
Ou seja, para viabilizar o seu inte- dernizadora, os donos do açúcar
resse particular de classe, eles ti- na Bahia perseveraram no con-
veram que se encarregar da servadorismo em termos de incor-
viabilização de um projeto mais glo- poração de inovações técnicas c
bal, a escravidão . (Polanyi. 1980. organizacionais nos seus enge-
p. 155-157). nhos. Houve iniciativas pioneiras
no tempo do Conde dos Arcos que
Uma Política de terminaram por introduzir algumas
inovações, principalmente no que
Subdesenvolvimento diz respeito à economia de com-
bustível nos engenhos de açúcar.
Mais do que qualquer inova- No entanto, a generalização do va-
por nos engenhos é ainda extrema- arrobas. Constataram também que
mente problemática em 1854, quan- as médias dos resultados anuais
do estes engenhos apresentaram obtidos pelo trabalho na agro-in-
um desempenho econômico apenas dústria da beterraba eram ainda
medíocre, segundo o diagnóstico mais elevados: 600 arrobas por tra-
feito pelo Governo Provincial. Em balhador . (Araujo, 1992, p.498).
uma amostragem de 5 paróquias do
Recôncavo constatou-se que a As alternativas que se mani-
produção média anual de açúcar festavam nos limites de um modelo
por engenho a vapor atingia cerca agro-exportador centrado no açú-
de 5.500 arrobas, ao tempo em que car, apontavam todas na direção da
a média anual dos engenhos movi- transformação do engenho em en-
dos a animais atingia 6.970 arrobas. genho central e deste em usina. O
(Araujo. 1992, p.501-508). que se anunciava como virtuali-
dade deste percurso era o controle
A crise crônica do açúcar cada vez maior desta agro-indús-
baiano, que se estendeu por todo tria pelas casas comerciais, finan-
o século XIX, ilustra-se também ciadoras do dia a dia, e pelas gran-
pela sua literal expulsão do merca- des empresas européias exporta-
do externo, esmagado pela produ- doras de equipamentos para fábri-
ção açucareira Antilhana e Asiáti- cas de açúcar. A antevisão do fim
ca e, principalmente, pela expansão deste processo, a inexorável des-
espetacular da industria açucareira truição do pólo dinâmico da eco-
européia de beterraba. nomia baiana - o engenho de açú-
car - em torno do qual gravitavam
todas as atividades económicas, e
Não apenas nas quantidades
a consequente perda do prestígio
decrescentes exportadas a partir da
social e da capacidade de exercício
marca dos 50 refletiu-se este qua- do poder político, está na base de
dro de marasmo, mas também na toda uma política de conservação
baixa produtividade do trabalho na de um sistema econômico regional,
agro-indústria açucareira relativa- que se coloca na contra-corrente
mente às áreas concorrentes. Uma de todas as transformações ditadas
comissão nomeada pela Presidên- pela expansão de um mercado mun-
cia da Província em 1852 concluiu dial.
que na Bahia, um escravo ativo, di-
rigido por um feitor competente, Em 1857, as elites açucareiras
produzia cerca de 100 a 120 arrobas estiveram colocadas diante desta
de açúcar. Nos Estados Unidos e virtualidade. No seguimento de
em Cuba, a produção de cada tra- uma série de iniciativas que produ-
balhador chegava a 300 e 400
ziram uma avaliação da agro-indús- nho. Este empreendimento teria a
tria açucareira, o presidente da Pro- participação de Carl & Cie e goza-
víncia da Bahia João Lins Vieira ria, durante 10 anos, de uma sub-
Cansansão de Sinimbu, através de venção governamental correspon-
representantes em Paris, Pedro dente a 5% do capital investido. Pe-
d'Alcântara Lisboa e Francisco dia-se também uma redução adici-
Muniz Barreto de Aragão, estabe- onal de 2% sobre os direitos de
leceu negociações com vários fa- exportação de todo açúcar expor-
bricantes europeus de equipamen- tado que fosse produzido em en-
tos para fábricas de açúcar, visan- genhos importadores destes equi-
do a importação do necessário para pamentos.
a instalação de uma fazenda mode-
lo, subsidiada pelo governo pro- Em 1857, o correspondente
vincial, a partir da qual se preten- parisiense do governo provincial
dia difundir as novas técnicas de da Bahia escrevia desesperado:
produção do açúcar entre os se-
nhores de engenho. Os contatos "A iniciação do ano passado
chegaram a um estágio mais avan- e minha insistência hoje, na
çado com a companhia Carl, Halot organização dessa instituição de
& Cie de Bruxelas, grandes forne- crédito, baseadas na convicção
cedores dos engenhos das Anti- que tenho de não ser possível ob-
lhas Francesas. (Araujo, 1992, p.510- ter, da companhia Carl & Cie
514). avanços mediante longa amorti-
zação , nem mesmo com a garan-
Desde os primeiros orçamen- tia geral ou provincial do governo
tos apresentados pela companhia do Brasil, não obstante o grande
belga ficou evidente que os senho- crédito de que goza o crédito
res de engenho, e mesmo quais- financeiro do Brazil." Arquivo
quer outros negociantes ou capita- Público do Estado da Bahia. Ar-
listas baianos, seriam incapazes de quivo Colonial e Provincial. Maço
financiar esta operação. Da com- 4602. 1857 (Araujo, 1992, p. 513)
pra de equipamentos a negociação
evoluiu rapidamente para o finan- Queriam os belgas garantias
ciamento belga dessas importa- reais, mui especialmente a hipote-
ções. Chegou-se mesmo a esboçar ca de engenhos e terras de cana
o projeto de criação da Sociedade dos clientes a serem assistidos por
Industrial Agrícola, um verdadei- essa Sociedade Industrial Agríco-
ro banco de crédito rural, capaz la. Isso não queriam os baianos,
de financiar a compra de equipa- acostumados tradicionalmente a
mentos pelos senhores de enge- dar como garantia de suas opera-
ções financeiras as safras e os es- todo-poderoso , mas doente crôni-
cravos, e mui justamente atemori- co.
zados diante da perspectiva de uma
nova colonização estrangeira na De 1851 a 1889, a administra-
forma de um rígido controle da pro- ção geral do Império e a adminis-
dução açucareira e de desapropria- tração provincial baiana empreen-
ção em larga escala de senhores de deram uma série de ações voltadas o socorro do açúcar
engenho endividados. Afinal, não para o socorro do açúcar, conside-
era essa a experiência que estava rada "a grande lavoura", com os
sendo vivida pela economia recursos captados, principalmente
fumageira baiana, onde o controle através um mecanismo de favore-
exercido pelas companhias hambur- cimento fiscal (Araujo, 1992, p.516),
guesas e bremenenses sobre o co- em outras lavouras de exportação
mércio e indústria do fumo era to- que se desenvolveram no interior
tal? da Província apesar de todas as
restrições contra elas levantadas
Se a conservação da escravi- pelos representantes do mundo
dão a todo preço tinha sido a dire- açucareiro (Araujo, p. 451-454).
triz central de uma política de sus- Esse protecionismo açucareiro não
tentação do açúcar até 1851, per- era aliás uma exclusividade brasi-
didas enfim todas as veleidades leira ou baiana, pois os países eu-
modernizadoras em favor da pre- ropeus colocaram também em prá-
servação do açúcar de cada dia, os tica medidas protecionistas para os
senhores de engenho passaram a seus açúcares coloniais e "indíge-
articular as sucessivas políticas de nas" - os de beterraba . Mesmo na
salvação do açúcar. Elas foram as Inglaterra, onde finalmente venceu
responsáveis por uma radical mu- o livre-cambismo, os açúcares ori-
dança na estrutura política e ad- ginários do Império Britânico foram
ministrativa da Província. Até durante muito tempo beneficiários
aquele momento, a administração das restrições impostas à importa-
provincial não passava de um pá- ção originária de países que man-
lido reflexo de um poder real exer- tinham a escravidão.
cido pelos senhores de engenho,
reduzida à triste condição de uma A união indissociável entre
administração corrompida a ser- o açúcar e a administração impe- A união indissociável entre o açúcar e a administração
viço dos traficantes de escravos.
rial constituiu a Bahia do século imperial
De repente, esta instância políti-
co-administrativa passou a ser cha- XIX. Assim pensavam os barões
mada a desempenhar um papel de do açúcar baianos. Enquanto, em
coordenação do socorro público em 1878, as classes açucareiras do Sul
favor de um mundo açucareiro do País se reuniam no Congresso
Agrícola do Rio de Janeiro e as do verno revolucionário que se opôs
Nordeste reuniam-se no Congres- energicamente a esse expediente foi
so Agrícola do Recife para o baiano Rui Barbosa, derrotado e
convencionarem suas políticas, excluído em sua terra pelo "poder"
uma elite açucareira baiana conten- açucareiro.
tava-se com o espaço protegido do
Imperial Instituto Bahiano de Finalmente, não há como ne-
Agricultura, qual uma academia gar a eficácia dessa política con-
científica, de onde se lançavam servadora que foi capaz de retar-
para a grande aventura de cria- dar, pelo menos em meio século,
ção, instalação, e desenvolvimen- um processo de desenvolvimento
to da primeira escola superior de de uma economia agrário - expor-
agronomia - a Escola Agrícola da tadora e sua inserção em termos
Bahia - pela qual esperavam com- mais favoráveis em uma economia
bater a mentalidade retrógrada da mundial. Não há também como
maioria dos senhores de engenho, evitar a evidência de que foi na
formando assim uma nova elite ca- esfera do político, onde se deci-
paz de gerir com mais eficiência a diu e de onde emanou a força de
agro-indústria açucareira. (Tou- conservação de uma economia "na-
rinho, 1982). turalmente" condenada.

A capacidade de resistência
desse modelo conservador só foi Um Novo Caminho?
finalmente anulada por força de
uma revolução política (Saes,
1985) - a República - que impe- Apesar de toda a preeminên-
diu a chantagem da indenização cia do político, a aplicação dos
das perdas dos ex - proprietários métodos de uma nova História Po-
de escravos pela lei de Abolição lítica ao estudo das decisões sobre
do 13 de Maio, pela qual os açu- a economia em uma sociedade
careiros baianos esperavam viabi- escravista, por si só não é sufici-
lizar a transferência dos recursos ente para perceber a riqueza dos
gerados no Sul cafeeiro para o processos de decisão, incorporan-
Recôncavo açucareiro, com os do as rebeliões, os levantes e os
quais contavam poder prolongar a demais movimentos sociais , jus-
sua doce agonia, impedindo ao tamente porque os grupos ou clas-
mesmo tempo o desenvolvimento ses que deles participaram não fa-
da Bahia. Talvez não tenha sido laram de dentro da "polis" nem exer-
apenas por uma ironia da História ceram sua pressão sobre ela atra-
que o ministro da fazenda do go- vés de canais e utilizando uma lin-
guagem formalmente politica. categoria utilizável pelo historiador,
Assim , como não recorrer forço- não mais estruturada internamente
samente a outras disciplinas à la Marx, mas ainda assim "totali-
especializadas da História como a dade histórica vivenciada" tal co-
História Social e Cultural para com- mo se fez revelar ao romântico
preender as malhas das articula- Michelet.
ções entre os grupos sociais, seus
interesses, os têrmos das negocia- A prática de uma História Po-
ções estabelecidas e mesmo uma lítica da Economia, necessariamen-
moralidade normalizadora dessas te pluridisciplinar, com uma mani-
relações? festa ambição totalizante e com a
vocação de apreender o político
De um novo paradigma da dentro e fora da "polis", pode de-
centralidade do político em relação sempenhar, no interior da Historia
às demais instâncias da sociedade, Económica como disciplina, o pa-
considerado como local de conden- pel de antídoto contra uma Histó-
sação de relações sociais as mais ria extremamente voltada para a
Colocar o político no interior
variadas, decorre a absoluta neces- construção teórica de modos, mo-
de uma totalidade histórica
sidade de recolocá-lo no interior de delos, sistemas ou leis, da qual se
uma "totalidade histórica". Para a espera sempre a demonstração de
compreensão de cada uma das uma lógica interna da realidade em
grandes políticas pelas quais se detrimento da realidade social ela
operou a reorganização económica mesma: os homens socialmente or-
da Bahia no século XIX, como a ganizados, que geriram as suas eco-
política da escravidão e a salvação nomias e que lutaram por elas ou
por causa delas.
do açúcar, ou mesmo de cada uma
das políticas mais particulares vol-
tadas para a ocupação do interior, Neste esforço de reintegração
foi preciso, não somente recompor do "económico" no fluxo contínuo
a teia de relações, agentes e inte- e ininterrupto da vida no passado,
resses a elas articulados, mas tam- pode-se tomar como ponto de
bém os cenários específicos em que partida o estudo do "político",
as decisões foram tomadas. entendido como um campo alarga-
do de tomada de decisões sociais
O estudo do político em eco- sobre o "econômico". Guiados por
nomia, que nos impõe a rea- esse fio de Ariadne poderemos per-"
presentação da realidade histórica correr o caminho das negociações,
dos conflitos, das lutas das classes,
em sua integralidade, coloca-nos
enfim da aventura humana de
pois diante do desafio de recons-
truir a "totalidade histórica" como recriação incessante da vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADA E SILVA, José d'


1825 Representação à Assembléia Geral Constituinte e
Legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura.
Paris, Typographia de Firmin Didot - Impressor d'el
Rey, rua Jacob, n° 24.

ACCIOLI, Ignacio .
1919-1931 Memórias Históricas e Políticas da Província da Bahia.
Anotador: Braz do Amaral. Bahia, Imprensa Oficial do Estado.

ARAÚJO, Ubiratan Castro de


1992. Le Politique et l'economique dans une société esclavagiste. Bahia,
1820/1889. Paris: Tese ( doutorado) - Universidade de Paris Sorbonne
(Paris IV), 1992.

ARISTOTELES.
1990 Les Politiques. Paris, Flammarion.

BALMAND, Pascal .
1990 Le renouveau de l'Histoire politique. In: BOURDE, Guy e
MARTIN, Hervé . Les écoles historiques. Paris, Ed. du Seuil, p.363-
389.

BOURDE, Guy e MARTIN, Hervé .


1983 Les écoles historiques. Paris, Editions du Seuil, p. 162-163.

CARVALHO, José Murilo de.


1990 Un théâtre d'ombres. La politique impériale au Brésil. Paris,
Editions de la Maison des Sciences de l'Homme.

DUQUE ESTRADA, Osório .


1918 A Abolição. Esboço histórico. 1831 - 1888. Rio de Janeiro, Livraria
Editora Leite Ribeiro & Maurillo.

EHRARD, J. e PALMADE,G.
1965 L'Histoire. Paris, Armand Colin, 1965. p. 261
MOR1N, Edgard .
1981 Pour sortir du XXe.Siècle. Paris, Fernand Nathan

POLANYI, Karl.
1980 A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro,
Campus.

REIS, João José .


1989 O jogo duro do Dois de Julho: o "Partido Negro" na Independência da
Bahia. In: REIS, João José e SILVA, Eduardo . Negociação e conflito. A
resistência negra no Brasil escravista São Paulo, Companhia das Letras,
p. 79-98.

REIS, João José .


1986 Rebelião Escrava no Brasil. São Paulo, Brasiliense

REMOND, René .
1988 Du Politique. In: REMOND, René (organizador) Pour une histoire
politique. Paris, Ed. du Seuil, novembro de p. 379-387.

SAES, Décio.
1985 Formação do Estado Burguês no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra,

TOURINHO, Maria Antonieta de Campos .


1982 O Imperial Instituto Bahiano de Agricultura A instrução agrícola e a
crise da economia açucareira na segunda metade do século XIX.
Salvador, Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - UFBA, 1982.

VARNHAGEN, Francisco Adolpho.


1863 Carta ao Exmo. Ministro da Agricultura, a respeito principalmente
de vários melhoramentos nos engenhos de assacar das Antilhas
aplicáveis ao Brazil. Segunda tiragem. Caracas, Imprensa de V. Espinal.

VILAR, Pierre .
1980 Ouro e Moeda na História. 1450 - 1920. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
NOTAS

- A expressão "quadros particulares de engajamento" foi usada como sinônimo da


palavra francesa "enjeu".

- Estas são algumas das principais obras sobre os Alfaiates: Affonso RUI. "A
primeira revolução social brasileira." Salvador, Tipografia Beneditina, 1951. Luis
Henrique Dias Tavares. "Historia da sedição intentada na Bahia em 1798". São Paulo,
Pioneira, 1975.KatiaM. de Queiros MATTOSO." Presença francesa no movimen
to democrático baiano de 1798". Bahia, Editora Itapuã, 1969.__________________
"Bahia 1798: Liberdade, fraternidade, igualdade. Proposta de nova leitura".sl. sd..
Istvan JANCSO. "Contradições, tensões e conflitos: a inconfidência baiana de
1798." Tese de Livre Docência. UFF. Rio de Janeiro, 1975. Florisvaldo MATTOS.
"A comunicação social na Revolução dos Alfaiates". Salvador, UFBA/ Núcleo de
Publicações, 1974.

- Foram escolhidas as seguintes paróquias: Pirajá, Matoim, Nossa Senhora do


Socorro, Rio Fundo e Nossa Senhora da Purificação.

Você também pode gostar