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A capacidade de resistência
desse modelo conservador só foi Um Novo Caminho?
finalmente anulada por força de
uma revolução política (Saes,
1985) - a República - que impe- Apesar de toda a preeminên-
diu a chantagem da indenização cia do político, a aplicação dos
das perdas dos ex - proprietários métodos de uma nova História Po-
de escravos pela lei de Abolição lítica ao estudo das decisões sobre
do 13 de Maio, pela qual os açu- a economia em uma sociedade
careiros baianos esperavam viabi- escravista, por si só não é sufici-
lizar a transferência dos recursos ente para perceber a riqueza dos
gerados no Sul cafeeiro para o processos de decisão, incorporan-
Recôncavo açucareiro, com os do as rebeliões, os levantes e os
quais contavam poder prolongar a demais movimentos sociais , jus-
sua doce agonia, impedindo ao tamente porque os grupos ou clas-
mesmo tempo o desenvolvimento ses que deles participaram não fa-
da Bahia. Talvez não tenha sido laram de dentro da "polis" nem exer-
apenas por uma ironia da História ceram sua pressão sobre ela atra-
que o ministro da fazenda do go- vés de canais e utilizando uma lin-
guagem formalmente politica. categoria utilizável pelo historiador,
Assim , como não recorrer forço- não mais estruturada internamente
samente a outras disciplinas à la Marx, mas ainda assim "totali-
especializadas da História como a dade histórica vivenciada" tal co-
História Social e Cultural para com- mo se fez revelar ao romântico
preender as malhas das articula- Michelet.
ções entre os grupos sociais, seus
interesses, os têrmos das negocia- A prática de uma História Po-
ções estabelecidas e mesmo uma lítica da Economia, necessariamen-
moralidade normalizadora dessas te pluridisciplinar, com uma mani-
relações? festa ambição totalizante e com a
vocação de apreender o político
De um novo paradigma da dentro e fora da "polis", pode de-
centralidade do político em relação sempenhar, no interior da Historia
às demais instâncias da sociedade, Económica como disciplina, o pa-
considerado como local de conden- pel de antídoto contra uma Histó-
sação de relações sociais as mais ria extremamente voltada para a
Colocar o político no interior
variadas, decorre a absoluta neces- construção teórica de modos, mo-
de uma totalidade histórica
sidade de recolocá-lo no interior de delos, sistemas ou leis, da qual se
uma "totalidade histórica". Para a espera sempre a demonstração de
compreensão de cada uma das uma lógica interna da realidade em
grandes políticas pelas quais se detrimento da realidade social ela
operou a reorganização económica mesma: os homens socialmente or-
da Bahia no século XIX, como a ganizados, que geriram as suas eco-
política da escravidão e a salvação nomias e que lutaram por elas ou
por causa delas.
do açúcar, ou mesmo de cada uma
das políticas mais particulares vol-
tadas para a ocupação do interior, Neste esforço de reintegração
foi preciso, não somente recompor do "económico" no fluxo contínuo
a teia de relações, agentes e inte- e ininterrupto da vida no passado,
resses a elas articulados, mas tam- pode-se tomar como ponto de
bém os cenários específicos em que partida o estudo do "político",
as decisões foram tomadas. entendido como um campo alarga-
do de tomada de decisões sociais
O estudo do político em eco- sobre o "econômico". Guiados por
nomia, que nos impõe a rea- esse fio de Ariadne poderemos per-"
presentação da realidade histórica correr o caminho das negociações,
dos conflitos, das lutas das classes,
em sua integralidade, coloca-nos
enfim da aventura humana de
pois diante do desafio de recons-
truir a "totalidade histórica" como recriação incessante da vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1919-1931 Memórias Históricas e Políticas da Província da Bahia.
Anotador: Braz do Amaral. Bahia, Imprensa Oficial do Estado.
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BALMAND, Pascal .
1990 Le renouveau de l'Histoire politique. In: BOURDE, Guy e
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1965 L'Histoire. Paris, Armand Colin, 1965. p. 261
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1981 Pour sortir du XXe.Siècle. Paris, Fernand Nathan
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1980 A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro,
Campus.
REMOND, René .
1988 Du Politique. In: REMOND, René (organizador) Pour une histoire
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1985 Formação do Estado Burguês no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
VILAR, Pierre .
1980 Ouro e Moeda na História. 1450 - 1920. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
NOTAS
- Estas são algumas das principais obras sobre os Alfaiates: Affonso RUI. "A
primeira revolução social brasileira." Salvador, Tipografia Beneditina, 1951. Luis
Henrique Dias Tavares. "Historia da sedição intentada na Bahia em 1798". São Paulo,
Pioneira, 1975.KatiaM. de Queiros MATTOSO." Presença francesa no movimen
to democrático baiano de 1798". Bahia, Editora Itapuã, 1969.__________________
"Bahia 1798: Liberdade, fraternidade, igualdade. Proposta de nova leitura".sl. sd..
Istvan JANCSO. "Contradições, tensões e conflitos: a inconfidência baiana de
1798." Tese de Livre Docência. UFF. Rio de Janeiro, 1975. Florisvaldo MATTOS.
"A comunicação social na Revolução dos Alfaiates". Salvador, UFBA/ Núcleo de
Publicações, 1974.