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All content following this page was uploaded by Pedro J Pinto on 24 December 2014.
RESUMO
O concelho de Tomar é um território com uma ocupação bastante dispersa, tendo a aplicação das
regras de construção para o “solo rural”, definidas no Plano Director Municipal de Tomar (1994),
contribuído para acentuar esta forma de ocupação.
No âmbito da revisão do Plano Director Municipal (PDM) tem-se afirmado insistentemente a intenção
de reforçar a consolidação e a reabilitação nos aglomerados urbanos existentes, em detrimento da
definição de áreas de expansão urbana excessivas e da construção em espaço rural e evitando,
sempre que possível, o crescimento linear ao longo de vias. Esta é, aliás, uma preocupação
igualmente patente no Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo (PROT-
OVT), recentemente em discussão pública. Nas normas de ordenamento, este documento reforça
que os PDM devem estabelecer modelos de usos e ocupação do solo que promovam a concentração
da edificação em aglomerados urbanos ou núcleos rurais, devidamente identificados e delimitados
para o efeito, procurando contrariar formas de povoamento disperso ou linear e a expansão difusa e
extensiva dos aglomerados urbanos, privilegiando a reconversão ou requalificação dos espaços
edificados existentes já servidos por infra-estruturas e equipamentos, face à proposta de novas áreas
de expansão.
O carácter inovador da metodologia apresentada nesta comunicação assenta nos seguintes pontos:
ABSTRACT
The municipality of Tomar presents a very scattered human occupation of the territory. The permissive
development laws for “rural” land, as stated by the Municipal Land-use Plan (PDM) of 1994, have in fact
contributed to heighten this form of occupation.
During the current revision of the PDM, the intention of strengthening and consolidating existing settlements
has been repeatedly stated, instead of the definition of over-dimensioned expansion areas and construction
in “rural” land, avoiding, whenever possible the linear extension along the roads. This is, in fact, one of the
main concerns of the Regional Plan for the “Oeste e Vale do Tejo” (PROT-OVT), a planning instrument of
higher hierarchy, to which the PDM must conform.
In the planning norms, this document emphasizes the need for the PDM to establish models of land-use
that promote the concentration of buildings in the delimited urban or rural settlements, avoiding scattered
construction and linear and unplanned expansion of the settlements. The existing settlements should
instead be consolidated, by promoting urban in-fill and strengthening service and infrastructure provision.
In this sense, a methodology for the correct delimitation of the Consolidated Areas of the rural and urban
settlements was defined, with the purpose of accurately describing present-day human occupation of the
territory. Its main innovations consist on:
• Proceeding to accurately and clearly define the criteria for the proposed delimitation,
enhancing their perceptibility and acceptance and minimizing their subjectivity;
• Assuring that the said criteria are generalized that is, applicable and adequate to all the
territory under analysis;
• Resorting to digital geographic information that, besides facilitating the delimitation task, will
allow for a much easier updating and incorporation into the Municipal Geographic Information
System.
KEYWORDS: Urban Sprawl, Land-Use Planning, Consolidated Urban Areas, Urban Areas Delimiting
1. A Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo e a
delimitação de perímetros urbanos
Efectivamente, pode ler-se nos objectivos enumerados na LBPOTU que deve ser promovida:
“a preservação e defesa dos solos com aptidão natural ou aproveitados para actividades
agrícolas, pecuárias ou florestais, restringindo-se a sua afectação a outras utilizações aos
casos em que tal for comprovadamente necessário”.
A proposta do PROT-OVT identifica ainda um conjunto de normas para a criação de novas áreas
urbanas ou expansão das existentes e para classificação do solo como urbano e de critérios de
1
qualificação do solo urbano para “áreas urbanizadas consolidadas” .
O PDM de Tomar, aprovado em 1994, foi elaborado, tal como a quase totalidade dos designados
“PDM de 1ª geração”, ao abrigo do Decreto-Lei nº 69/90. Não sendo os PDM, à altura, de elaboração
obrigatória, o que é certo é que houve uma mobilização generalizada dos municípios na elaboração
1
- designadamente a concentração de edificações destinadas a residência e/ou funções e usos urbanos em áreas com densidade superior a 7
edifícios/ha, tendo por referencia um mínimo de 80 edifícios
destes planos, decorrendo tanto de incentivos (acesso a financiamentos para infra-estruturação e
equipamento do território), como de limitações de competências para os municípios que não se
dotassem deste instrumento de planeamento (designadamente na declaração de utilidade pública
para efeitos de expropriação de iniciativa das Autarquias Locais, condicionadas à vigência de PDM
eficaz).
É indiscutível que os PDM elaborados contribuíram para a formação de uma nova cultura e
consciência sobre os problemas da distribuição das actividades no território e o seu funcionamento
conjunto. Este processo constituiu uma importante oportunidade para a discussão das questões
urbanísticas e de ordenamento do território e para aprofundar conceitos respeitantes a esta matérias,
abrindo decisivamente espaços de concertação e de negociação. Paralelamente, fez ressaltar as
insuficiências, tanto em termos de formação como da informação necessária para melhor
fundamentar os planos que foram ratificados. Tomar não foi excepção e, na elaboração do PDM em
vigor, a delimitação dos perímetros urbanos efectuou-se sobre uma base cartográfica muito
desactualizada e sem assegurar uma correcta incorporação das sugestões de Juntas de Freguesia e
particulares. Tal resultou em inconsistências na actual delimitação de perímetros urbanos (Figura 1).
2
O aglomerado urbano de maior dimensão populacional tem, aproximadamente, 1000 hab.
Os perímetros urbanos do PDM em vigor geram quatro situações complexas e de evidente injustiça,
quer relativamente aos direitos dos particulares, quer no que diz respeito à prossecução dos
objectivos contidos na LBPOTU:
Para a primeira questão muito terá contribuído a regulamentação do PDM em vigor, que conduziu ao
aumento da construção em “solo rural”. A título exemplificativo, apresentam-se as regras a aplicar a
construções afectas a habitação (Quadro 1):
Quadro 1: Regras de ocupação para as classes de espaço florestal, agro-florestal e agrícola, definidas no
PDM de Tomar
Assim, num terreno localizado em espaço florestal ou agro-florestal, bastará possuir um terreno com
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uma superfície de 3000 m , para poder construir uma habitação com 150 m .
As regras acima exemplificadas, associadas à existência de uma forte pressão para a construção de
determinadas tipologias habitacionais, particularmente a habitação unifamiliar, em contexto urbano ou
suburbano, e a moradia isolada, dirigida ao mercado da segunda habitação, acabou por gerar um
número muito elevado de pedidos de construção fora dos perímetros urbanos. As freguesias de
Tomar em que a residência secundária assume maior expressividade concentram-se precisamente
nas áreas mais afastadas da sede de concelho. Das reuniões realizadas com os representantes das
Juntas de Freguesia, no âmbito da revisão do PDM, conclui-se que apenas as freguesias mais
próximas da albufeira de Castelo de Bode, se assumem como freguesias com um uso habitacional
fortemente sazonal associado a uma componente de lazer e que nas restantes freguesias o uso
habitacional sazonal corresponde essencialmente a uma população com raízes em Tomar que,
trabalhando e residindo durante a semana fora do Concelho (principalmente na zona da Grande
Lisboa), regressa aos fins de semana.
Para esta forte pressão construtiva poderão ter igualmente contribuído a reduzida oferta de espaços
não construídos em aglomerados de menor dimensão, a concentração de grande parte destas áreas
de expansão nas mãos de proprietários que não demonstram intenção de edificar ou de transaccionar
as suas parcelas, e a reduzida oferta de novos fogos na cidade de Tomar, acentuada pelo lento ritmo
de execução de alguns planos de pormenor e loteamentos inseridos no perímetro urbano da cidade.
Tornou-se, assim, evidente a necessidade de proceder a uma revisão aturada dos perímetros
urbanos, tendo em vista a rectificação das disfunções identificadas.
3. Metodologia proposta para a identificação das áreas consolidadas
A determinação dos valores anteriormente descritos, tais como os afastamentos entre construções,
ou a profundidade média dos lotes, foram alvo de um processo de revisão iterativa, tendo em conta
as características de áreas diversas do território de Tomar, e acabaram por se revelar adequadas
para a identificação dos limites das áreas consolidadas, reflectindo de um modo geral as
preocupações expressas pelas Juntas de Freguesia relativamente à delimitação de 1994. O esforço
evidente de eliminar factores subjectivos e de procurar adequar a metodologia à realidade específica
do concelho de Tomar acabou por se reflectir geralmente no reconhecimento e correcção de diversas
situações de injustiça ou erros de delimitação criadas pelo PDM de 1994 e identificados pelas Juntas
3
A cartografia digital actualmente disponível foi realizada com base na fotointerpretação de ortofotomapas datados de 2004, pelo que construções
posteriores a este ano não foram contempladas nesta primeira delimitação das áreas urbanas consolidadas. As alterações produzidas após a sua
incorporação não serão, no entanto, muito significativas, de acordo com a análise efectuada em colaboração com as diversas Juntas de Freguesia.
de Freguesia. Como tal, e porque se retirou a componente subjectiva e se eliminou o poder
discricionário, a metodologia foi unanimemente aceite por estas.
Figura 2 - Comparação das Áreas Urbanas Consolidadas e Aglomerados definidos pelo PDM de 1994
Aliás, apesar da metodologia ter sido desenvolvida, numa primeira fase, sem ter como referência os
critérios para a delimitação de aglomerados estipulada pelo PROT-OVT, a sua posterior conformação
àqueles pressupostos acabou por se revelar muito directa, dada a sua plena adequação aos
princípios que lhes estavam subjacentes.
Partindo de uma definição da extensão actual dos perímetros urbanos rigorosa, será então possível
estabelecer áreas de expansão que reflictam directamente os propósitos de utilização racional do
espaço, em conformidade com o expresso na LBPOTU. Dar-se-á preferência à consolidação da
estrutura urbana existente, nomeadamente através da identificação de uma hierarquia do sistema
urbano clara.
A actual tendência de transferência de serviços para um único pólo de oferta (cidade de Tomar)
poderá assim ser atenuada, garantindo um serviço de qualidade, a nível da oferta de equipamentos
de ensino, saúde ou apoio social. A selecção dos centros urbanos que receberão estes “centros
cívicos” baseia-se na localização em pontos de máxima acessibilidade relativamente ao território que
servem e na selecção dos aglomerados com maior população e/ou maior relevância cultural.
O reforço dos centros urbanos terá igualmente de se traduzir por uma definição de áreas de
expansão dos aglomerados reduzidas apenas ao necessário para garantir o regular funcionamento
do mercado imobiliário, capaz de responder essencialmente às solicitações da população residente
naqueles aglomerados. A delimitação destas áreas de expansão, além de parcimoniosa, reflectirá
naturalmente todas as preocupações de salvaguarda de corredores ecológicos e zonas vulneráveis
(cursos de ribeiras, encostas, espaços verdes urbanos…), nomeadamente através da criação de uma
categoria de espaço urbano non aedificandi, aplicável mesmo aos aglomerados urbanos de menor
dimensão.
Apesar de a simples restrição da construção fora de aglomerado já ser garantia de uma forte
diminuição do fenómeno de construção dispersa, é igualmente importante garantir a revisão dos
actuais IGT (designadamente Planos de Pormenor) e a agilização dos compromissos urbanísticos
existentes (loteamentos) em espaço urbano. Desta forma será possível garantir a criação de
habitação em espaço urbano planeado, em acordo com as solicitações normais do mercado
imobiliário.
Considera-se, assim, que após uma primeira geração de PDM onde algumas preocupações
entretanto vertidas na LBPOTU não encontraram real reflexo, surge agora a oportunidade de transpor
para o terreno as preocupações com a contenção e consolidação do espaço urbano, não só a nível
das grandes cidades, mas igualmente na sua aplicação a pequenos aglomerados.
CCRR LVT, “Plano Regional de Ordenamento do Território da Região do Oeste e Vale do Tejo”, Abril
de 2008.
FERREIRA, José Álvaro Antunes, ALMEIDA, Joana Castro & Pedro Pinto, “A função, o cálculo e a
percepção da taxa municipal de urbanização. Uma aplicação ao concelho de Tomar”. Comunicação
ao VII Congresso Ibérico de Urbanismo, Ponta Delgada, Açores, Setembro de 2007.