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Assunto: Votação da PEC nº 10, de 2020 por Plenário Virtual com riscos para cidadania
1 https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/59543
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de forma remota por meio de Plenário Virtual da Câmara dos Deputados. A
dúvida reside no fato de que o Ato Conjunto nº 1, de 31 de março de 2020,
apenas disciplina a apreciação de Medidas Provisórias 2 durante a calamidade
pública nacional decorrente da pandemia causada pelo coronavírus,
enquanto o Ato Conjunto nº 2, de 1º de abril de 2020, regulamenta “a
apreciação, pelo Congresso Nacional, dos projetos de lei de matéria
orçamentária de que trata o Regimento Comum do Congresso Nacional”3;
2. Compatível com o formato virtual somente poderão ser pautadas em Plenário
Virtual as matérias urgentes ou relacionadas com a pandemia do Covid-19
previstas em projeto de lei, que para isso tenham a anuência de 3/5 (três
quintos) dos Líderes Câmara dos Deputados e do Senado Federal;
3. A Resolução CD nº 14, de 2020, que institui, no âmbito da Câmara dos
Deputados, o Sistema de Deliberação Remota, medida excepcional destinada
a viabilizar o funcionamento do Plenário durante a emergência de saúde
pública de importância internacional relacionada ao coronavírus (Covid-
19)4, não contempla a hipótese de discussão e votação de reforma
constitucional;
4. Quórum bastante diferente é o de proposta de emenda à Constituição da
República, sendo exigida duas votações em dois turnos, com aprovação de
3/5, não podendo ser substituído por voto de líderes;
5. Também o modelo virtual inaugurado para matéria que a própria
Constituição da República permite o disciplinamento por medida provisória
(art. 167, § 3º), qual seja, a abertura de crédito extraordinário para cobrir
despesas em período de calamidade pública, não observa, por óbvio, os
pressuposto formal próprio processo legislativo de emenda, que possui nas
fases de iniciativa e discussão e votação (fase constitutiva de deliberação
legislativa) regras e filtros muito mais restritivos do que os previstas para a
2 http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/ato-conjunto-das-mesas-da-camara-dos-deputadose-do-senado-federal-n-1-de-2020-250639870
3 http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/ato-conjunto-das-mesas-da-camara-dos-deputadose-do-senado-federal-n-2-de-2020-250852931
4 https://www2.camara.leg.br/legin/fed/rescad/2020/resolucaodacamaradosdeputados-14-17-marco-2020-789854-publicacaooriginal-160143-pl.html
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elaboração de uma lei ordinária e de uma lei complementar (art. 60, inciso
I);
6. O Regimento da Câmara dos Deputados prevê a constituição de Comissão
Especial para proferir parecer sobre PEC e códigos (art. 34), cujo rito não se
confunde com projeto de lei;
7. Ao votar o Ato Conjunto, Vossa Excelência 5 foi enfática no sentido de que
a PEC Emergencial (PEC 186/2019) e outras propostas em análise na
Comissão de Constituição e Justiça não teriam debates, leituras de
relatório ou votações de maneira remota. Esclareceu que as reuniões
virtuais somente deveriam se destinar às iniciativas infraconstitucionais
relacionadas à Covid-19;
8. De acordo com a teoria dos limites implícitos, propostas que alteram
instituições do Poder Executivo, sem que a iniciativa tenha partido do
referido Poder, atrita com a noção de independência dos Poderes solenizada
no art. 2º da Carta Política, uma vez que emenda à Constituição não se sujeita
à revisão por sanção ou veto presidencial. Nesse sentido, a proposta que
desnatura o Banco Central do Brasil, permitindo que a autoridade monetária
se distancie da sua função precípua e passe a comprar e vender títulos
privados no mercado secundário viola o referido princípio;
9. O próprio Presidente da Câmara dos Deputados reconheceu, em entrevista 6:
“Estamos avaliando inclusive a hipótese de retificar o relatório e poder
reapresentar essa parte, ou recuperar a parte do texto da autorização de
compra de título público privado pelo Banco Central”, afirmou, lembrando
que a instituição financeira tem um posição divergente da do Tesouro
Nacional””;
10. Calamidade pública, embora não esteja mencionada explicitamente no art.
60, § 1º da CRFB, é causa de decretação de estado de defesa (art. 136, caput
5 https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/simone-tebet-afirma-que-votacao-remota-so-sera-utilizada-para-medidas-relacionadas-ao-coronavirus
6 https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2020/04/02/maia-diz-que-camara-pode-votar-pec-do-orcamento-de-guerra-na-sexta.htm
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e § 1º, inciso II), impeditiva de reforma constitucional. Não por outra razão
os casos de guerra e de calamidade pública ladeiam as hipóteses de
abertura crédito extraordinário por medida provisória (art. 167, § 3º), dado o
caráter extremamente perturbador dessas duas situações;
11. A calamidade pública nacional em decorrência da Covid-19 impõe ao
cidadão restrições que nem mesmo a situação de guerra impõe. Confinados
em suas residências - cidadãos e Congressistas -
12. A restrição a que os cidadãos estão acometidos, durante a atual calamidade
pública de natureza sanitária de dimensão internacional, causa prejuízo
demasiado, jamais vivenciado pela população brasileira após a
redemocratização;
13. O rito legislativo necessário para reformar à Lei Maior pressupõe debate
presencial entre Parlamentares, minoria e maioria, cidadãos, Governos e
sociedade civil organizada. São partes legítimas do processo legislativo que
se completam mutuamente.
14. Nesse sentido, a tentativa de reformar a Constituição da República por
votação remota, com os cidadãos e Congressistas confinados em seus lares,
fere os fundamentos da República Federativa do Brasil, sobressaindo a
cidadania e a noção de que todo “o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente” nos termos da Lei Maior;
15. Não há, no texto da PEC 10/2020, nenhum dispositivo que não possa ser
disciplinado por lei complementar, lei ordinária, decreto legislativo ou
medida provisória, sendo totalmente dispensável alterar a Magna Carta e
abrir precedente perigoso que pode levar a desestabilização político-social;
16. As limitações explícitas ou implícitas visam assegurar a continuidade da
Carta Política, essencial para a estabilidade política e social. É impensável a
manutenção da ordem sócio-política, sem que haja uma Lei Maior que
preveja as garantias dos indivíduos e os fundamentos básicos do Estado
Democrático;
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17. A inobservância dessas limitações possibilitaria, ainda que de forma velada,
a aprovação de reformas que viessem a constituir uma espécie de nova
Constituição, em detrimento dos comandos normativos ora vigentes.
Cordialmente,
LUCIENI PEREIRA
Auditora Federal de Controle Externo-Área de Controle Externo do Tribunal de Contas da União
Presidente da AUD-TCU
Diretora da CNSP para Assuntos da Área Federal
Professora de Gestão Fiscal
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ANEXO I
Proposta de Emenda Constitucional nº Comentários Técnicos e Proposta
10, de 2020 – Câmara dos Deputados Alternativa da AUD-TCU
Institui regime extraordinário fiscal, financeiro e de Lei Complementar pode instituir regime
contratações para enfrentamento da calamidade extraordinário fiscal, financeiro e lei ordinária ou lei
pública nacional decorrente de pandemia complementar pode instituir o regime diferenciado de
internacional e dá outras providências. contratações para enfrentamento da calamidade pública
nacional decorrente de pandemia internacional e dá
outras providências.
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públicas e fundações públicas, com poder para Presidente, dos Presidentes da Câmara dos Deputados,
anulá-los, revogá-los ou ratificá-los, dentre outras do Senado Federal, de Líderes da maioria e minoria, do
funções afins compatíveis com o escopo do regime Ministro da Justiça e mais seis cidadãos. O Presidente
emergencial, e a seguinte composição: da República pode convocar Ministros de Estado para
participar das reuniões do Conselho (art. 90, § 1º).
I – o Presidente da República, que o presidirá;
O Senador José Serra apresentou Projeto de Decreto
II – os ministros de Estado da Secretaria-Geral da Legislativo para normatizar o funcionamento do
Presidência da República, da Saúde, da Economia, Conselho da República durante a calamidade sanitária.
da Cidadania, dos Transportes, da Agricultura e
Abastecimento, da Justiça e Segurança Pública e da A composição do Conselho da República demonstra-se
Controladoria-Geral da União; mais democrática, na medida em que envolve líderes
III – dois secretários de saúde, dois secretários de da maioria e minoria, permitindo ao Presidente da
fazenda e dois secretários da assistência social de República designar os Ministros de Estado das áreas
estados ou do Distrito Federal, de diferentes regiões afetadas e ao Congresso Nacional, por meio de suas
do País, escolhidos por entidades representativas, e Casas, indicar 4 integrantes, além de mais dois
sem direito a voto; membros indicados pelo Presidente da República (art.
IV – dois secretários de saúde, dois secretários de 89, inciso VII, da CRFB).
fazenda e dois secretários da assistência social de
municípios, de diferentes regiões do País,
escolhidos por entidades representativas, e sem Desnecessário PEC para disciplinar esse tema.
direito a voto;
V – quatro membros do Senado Federal, quatro da
Câmara dos Deputados, um do Conselho Nacional
de Justiça, um do Conselho Nacional do Ministério
Público, e um do Tribunal de Contas da União,
escolhidos pelas respectivas instituições e sem
direito a voto.
§ 2º O Presidente da República designará, dentre os Desnecessário PEC para disciplinar esse tema.
ministros de Estado, o secretário executivo do
comitê instituído pelo § 1º.
§ 3º Eventuais conflitos federativos decorrentes da O art. 102, inciso I, alínea f da CRFB já estabelece que
aplicação deste artigo serão resolvidos
questões envolvendo conflito federativo é matéria de
exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal. competência originária do STF. Desnecessário PEC
para dizer o que já está disciplinado.
Desnecessário PEC para disciplinar esse tema.
§ 4º Ato do Conselho de Gestão da Crise disporá Requisitos orçamentários para contratação de pessoal é
sobre a contratação de pessoal, obras, serviços e matéria já prevista no art. 169 da CRFB, tema de
compras, com propósito exclusivo de finanças públicas e orçamento que pode ser
enfrentamento da calamidade e vigência restrita ao disciplinadas por lei complementar editada com
período de duração desta, que observará processo fundamento nos arts.163, inciso I, e 165, § 9º da CRFB.
simplificado que assegure, sempre que possível, Assim, lei complementar que disciplinar um regime
competição e igualdade de condições a todos os diferenciado de contratação de pessoal para caso de
concorrentes; a contratação de que trata o inciso IX calamidade pública pode dispor sobre exceções às
exigências do § 1º do art. 169 da CRFB.
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do art. 37 desta Constituição fica dispensada da
observância do § 1º do art. 169 desta Constituição. A Lei Federal nº 8.745, de 1993, foi alterada
recentemente pela MPV 922, de 2020, assando a
seguinte redação:
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quando caracterizarem substituição de servidores e
empregados públicos.” (grifei)
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respectivo superávit financeiro e os decorrentes da complementar, com exceção dos mínimos
realização de operações de crédito, e os da constitucionais de saúde e educação, sem razão para
desvinculação de que trata o art. 76 deste Ato das desvincular esses limites em momento de calamidade
Disposição Constitucionais Transitórias, exceto os pública, sem um amplo e democrático debate com a
recursos vinculados ao pagamento da dívida sociedade, por meio do Plenário Virtual. Há saída na
pública. própria Constituição.
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decorrentes de operações de crédito realizadas de finanças públicas (inciso I), dívida pública externa e
para o refinanciamento da dívida mobiliária interna, incluída a das autarquias, fundações e demais
poderão ser utilizados também para o pagamento entidades controladas pelo Poder Público (inciso II) e
de seus juros e encargos. emissão e resgate de títulos da dívida pública (inciso
IV).
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período da calamidade pública nacional em razão de
I – deverá ser autorizado pela Secretaria do crise sanitária.
Tesouro Nacional e imediatamente informado ao A questão do fórum adequado se resolve, sem
Congresso Nacional; e assombro, com eventuais regras excepcionais, se for o
caso, em complemento aos arts. 26 a 28 da LRF. Com
II – requer aporte de capital de pelo menos vinte e
esta manifestação, a AUD-TCU não está defendendo,
cinco por cento pelo Tesouro Nacional. tampouco rechaçando, a ideia de compra e venda de
títulos privados de crédito em mercado secundário. A
análise realizada, de forma perfunctória, diz respeito
à via legislativa anunciada, sendo certo que não há
necessidade de emenda à Constituição para esse debate.
Caso o Congresso Nacional entenda pela
regulamentação da matéria, a AUD-TCU é de opinião
que deve o Tesouro Nacional ser a autoridade fiscal
responsável por eventuais compra e venda de direitos
creditórios e títulos privados de crédito em
mercados secundários.
O Bacen tem como missão a solvência do Sistema
Financeiro Nacional (SFN). Títulos de empresas não-
financeiras não devem ser adquiridos pelo Bacen,
porque tais empresas não afetam a solvência do
SFN. A questão deve ser debatida e eventualmente
conduzida pela autoridade fiscal, jamais pela autoridade
monetária.
Caso seja necessário emitir moeda, em situação
extrema, o Bacen, na condição de autoridade monetária,
pode emitir com fundamento no art. 164 da CRFB e da
lei complementar prevista no art. 192, repassando ao
Tesouro Nacional, para que este, com transparência,
informe à sociedade sobre os atos praticados e sua
execução.
Oportuno relembrar que a delegação desse tipo de
competência ao Bacen tem o risco de ressurgimento do
orçamento monetário, que já gerou descrédito ao
orçamento geral da União (OGU). Na prática, o
Congresso Nacional deixaria de legislar sobre matéria
financeira de densa relevância. Segundo estudos8, o
orçamento monetário, cuja prática foi disseminada na
década de setenta, funcionava como uma ferramenta de
controle do passivo monetário e não-monetário que era
utilizado, de uma forma geral, para política cambial,
8 https://www.economiabr.net/economia/7_financas-antes80.html
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subsídios, linhas de crédito, dentre outros programas
instituído à margem do Congresso Nacional.
Nesse modelo, não há como se proceder um controle
eficaz da política monetária e do endividamento
público. A utilização da autoridade monetária como
bancos de fomento já foi experimentada na década de
setenta e fracassou.
A autoridade monetária não opera segundo o mesmo
padrão de transparência do Tesouro Nacional, e nem se
pode exigir isso daquela autoridade. Atualmente,
tramita no Senado Federal o PLS 19, de 2019, para
regulamentar a autonomia do Bacen e não se deve
confundir os papéis.
Desnecessário PEC para disciplinar esse tema.
§ 12 Ressalvada a competência originária do A proposta suprime todas as demais instâncias do Poder
Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Superior do Judiciário abaixo do STJ. Da mesma forma, suprime-se
Trabalho, do Tribunal Superior Eleitoral e do a atuação descentralizada do Ministério Público, com a
Superior Tribunal Militar, todas as ações judiciais concentração de funções na figura do Procurador-Geral
contra decisões do Comitê de Gestão da Crise da República, burocratizando o processo e tornando-o
serão da competência do Superior Tribunal de mais lento, na medida em que impede a ágil adoção de
Justiça. medidas urgentes pelos representantes do Ministério
Público Federal, através de seus representantes que
atuam em todo o país, próximos e conhecedores das
realidades locais.
9 https://www.antcbrasil.org.br/?secao=noticias&visualizar_noticia=914
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§ 13 O Tribunal de Contas da União fiscalizará os O art. 71 da CRFB já disciplina a competência do TCU.
atos de gestão do Comitê de Gestão da Crise, bem
como apreciará a prestação de contas, de maneira O art. 73 da CRFB confere ao TCU competência para
simplificada, no prazo de trinta dias, contados a aprovar seu regimento interno e a Corte de Contas tem
partir da apresentação do relatório. demonstrado comprometimento no trato das ações de
controle externo neste período de calamidade pública.
Questão pode ser resolvida com resolução do TCU que
formalize um rito processual abreviado, o que já vem
sendo feito na prática.
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A CMO pode solicitar ao TCU pronunciamento
conclusivo caso a autoridade governamental não preste
os esclarecimentos requeridos (art. 72, § 1º, da CRFB).
O TCU já adota rito abreviado para solicitações do
Congresso Nacional conforme previsto seu Regimento
Interno.
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Novas hipóteses de depósito, a exemplo do depósito
voluntário que se pretende instituir por emenda
constitucional, poderá ser disciplinada por lei
complementar com fundamento no art. 192 da CRFB.
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ANEXO II
As entidades signatárias desta Nota receberam com preocupação a proposta enviada pelo Presidente
da República à Câmara dos Deputados, autuado como Projeto de Lei nº 791, de 2020.
Grave, todavia, é que tal ato deverá ser praticado monocraticamente por Ministro do TCU, designado
pelo seu Presidente, sem expressa previsão da necessidade da análise técnica, pelo Órgão de Instrução
tal como previsto na Lei Orgânica do TCU (Lei nº 8.443, de 1992), omitindo-se, ainda, a necessária
participação do Ministério Público de Contas que atua junto àquela Corte. Nessas bases, a proposta
exclui a parcela técnica e de fiscalização da ordem jurídica do TCU, que tantas contribuições podem
dar, de forma ágil e responsável, neste momento à sociedade brasileira. Trata-se, também, de sério e
perigoso precedente, uma vez que o Poder Executivo acabará, por iniciativa própria, por interferir no
funcionamento do TCU, em flagrante afronta ao art. 73 da Constituição da República e à jurisprudência
pacífica do Supremo Tribunal Federal (STF).
Não bastasse, o processo de contratação “chancelado” na esfera de controle externo será submetido,
sem sorteio de relator, a homologação monocrática pelo Presidente do STF, ouvido previamente o
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Procurador-Geral da República. O rito processual, de colorido heterodoxo, inaugura uma fusão
inconcebível - sob a ótica constitucional - de instâncias independentes, o que subverte a lógica, a
doutrina e a própria jurisprudência do STF.
Trata-se, como se vê, de violação aos princípios do promotor natural e do juiz natural, o que pode
comprometer o devido acompanhamento das ações governamentais pelos órgãos competentes e, por
consequência, a otimização dos escassos recursos públicos destinados ao combate à pandemia.
Além de confundir e misturar as funções nas esferas judicial e de controle externo, o que por si só já
destoa da lógica impregnada no texto constitucional, a proposta não observa a necessária separação
entre controle externo e gestão de contratos a cargo do Poder Executivo, em flagrante violação ao
princípio da segregação de funções.
Espera-se que o Congresso Nacional dedique atenção especial à proposta, a qual, em seu texto original,
acaba por investir contra a harmonia e a independência dos Poderes da República e do Ministério
Público da União e dos Estados, na medida em que a previsão da aprovação de diretrizes vinculantes,
pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Conselho Nacional do Ministério Público, a serem aplicadas
a todos os integrantes da Magistratura e do Ministério Público, viola o livre exercício das funções
judiciais e ministeriais, dificultando sobremaneira a tutela de direitos fundamentais em situação de
risco.
A hora não é de exclusão, mas sim de reunião de esforços de todos, ou seja, do Órgão de Instrução do
TCU, do Ministério Público de Contas, da Magistratura e do Ministério Público da União e dos Estados,
que tanto têm contribuído para o aperfeiçoamento da Administração Pública, a fim de que as
dificuldades decorrentes do novo coronavírus (COVID-19) sejam superadas da maneira mais eficiente
possível para todos os cidadãos, consideradas as atuais circunstâncias.
Os agentes públicos de referidas instituições estão preparados para servirem à Nação no enfrentamento
da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da pandemia, e manifestam
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apoio a medidas voltadas a conferir maior celeridade aos processos, o que deve ser definido em
consonância com o ordenamento jurídico pátrio. Mas não compactuam com propostas que possam vir
a suprimir instâncias de constitucional atuação a cargo de órgãos independentes, pilar de sustentação
do sistema de freios e contrapesos.
Diante de todo exposto, as entidades signatárias desta Nota pedem que o PL nº 791/2020 seja
amplamente revisto, e pugnam pela abertura do diálogo para que possam construir, com o Parlamento
Brasileiro e com as instituições envolvidas, com a urgência que o momento requer e no menor tempo
possível, medidas alternativas em conformidade com a Constituição da República e com as leis
orgânicas vigentes.
Associação Nacional dos Auditores de Controle Externo dos Tribunais de Contas do Brasil | ANTC
Confederação Nacional dos Servidores Públicos | CNSP (em apoio a esta nota)
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