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As Técnicas de Recuperação de Estruturas Afetadas pela RAA no Brasil

Reinforcement Techniques for Pile Cap Buildings Affected by AAR.

José do Patrocínio Figueirôa (1)

(1) Professor Mestre, Departamento de Engenharia Civil da UFPE, Consultor da Engedata, e-mail:
engedata@engedata.eng.br. Rua Caio Pereira, 331, Rosarinho – Recife – Pernambuco, Brasil.

Resumo
Para remediar o grande número de fundações afetadas por RAA ,descobertas na cidade do Recife, nos
últimos 5 anos, o maior desafio dos engenheiros estruturais foi analisar resultados de pesquisas em corpos
de prova individuais e provas de carga em elementos de estruturas, para entender o comportamento do
modelo biela-tirante sob ataque da reação química.

Essa palestra mostra as conclusões dessas análises e apresenta um caso de obra e as técnicas utilizadas
para preenchimento de fissuras, reforço com anel de concreto protendido, colocação de armadura de pele,
impermeabilização e uso de equipamentos de monitoramento no concreto e nas armaduras.

Palavra-Chave: Reação álcali-agregado, reforço em fundações.

Abstract

A large number of concrete foundations affected by AAR were discovered in the city of Recife during the last
five years. The biggest challenges for structural engineers were to analyze research results on the behavior
of individual test specimens and load tests on structural elements to understand the behavior of strut and tie
models under attack from the chemical reaction.

This lecture shows the findings from that analysis and presents a case study showing the techniques used to
fill cracks, to dimensioning the external ring of prestressed concrete, the placement of a reinforcement cage
in the faces of the foundation providing waterproofing shell, and the use of monitoring equipment in the
concrete and in the reinforcement.

Keywords:Alkali aggregate reaction, pile caps, reinforcement.

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1 Introdução

A abordagem dos problemas relacionados com as obras afetadas pela RAA pode ser
conduzida por dois principais aspectos:

1.1 Aspectos relacionados com a química da reação


Reúne os estudos e análises para responder a questões relacionadas com o
aperfeiçoamento de exames laboratoriais e de campo, procedimentos para estancar ou
minimizar os danos e escolha de adições nos concretos das obras novas, para evitar
danos futuros.

A análise prévia da reatividade dos agregados já é um assunto bem resolvido nas obras
tipo barragem; no entanto, esse controle torna-se impraticável em obras de pontes e
edifícios, daí a necessidade de usar aditivos,geralmente com materiais pozolânicos, para
evitar danos futuros, mesmo se forem utilizados agregados reativos.
Essas adições já estão bem conhecidas atualmente e os novos projetos estruturais têm
obrigação de recomendá-las, principalmente após o aparecimento recente de diversos
casos de fundações na Região Metropolitana do Recife, tornando o problema de
conhecimento público, dando margem à cobrança de responsabilidades por qualquer
omissão, futuramente.

1.2 Aspectos relacionados com o comportamento estrutural dos elementos


afetados
Inicialmente, é preciso fazer uma divisão do problema em relação aos tipos de estruturas
afetadas:

 No caso de barragens, as análises de comportamento estrutural e as técnicas de


intervenção para recuperação e reforço já estão bastante avançadas, havendo grande
número de trabalhos sobre o assunto, publicados por renomados especialistas.

 No caso de fundações de pontes e edifícios, há uma carência de trabalhos publicados


com enfoque na questão estrutural, que já mostrem o que pode acontecer com as
armações e o concreto que fazem parte do mecanismo portante da estrutura, bem
como indiquem processos coerentes de reforço que compensem, quantitativamente,
as possíveis perdas de resistência decorrentes da atuação da reação.

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Como exemplo dessa dificuldade de informação para quem precisar fazer projeto de
reforço estrutural, tomando como referência os 164 trabalhos do congresso do
ICAAR(International Conference on Alkali-Aggregate Reactions in Concrete) na China, em
2004, apenas 20 trabalhos(12 %) apresentam o problema pelo lado estrutural.

Essa falta de um procedimento já pronto para cálculo e detalhamento do reforço, foi o


maior desafio dos engenheiros estruturais para enfrentar os sucessivos casos de obras
afetadas na RMR recentemente.

De repente, esses profissionais foram colocados frente a frente com situações concretas,
tendo que responder às seguintes questões:

 Ao descobrir um estado de fissuração exagerado, como é comum nesses casos, será


necessário desocupar o prédio imediatamente?

 Como o elemento portante, conhecido como biela-tirante, é afetado? Há perigo de


colapso das armaduras ou esmagamento de bielas?

 Como juntar os resultados de pesquisas de comportamento feitas em elementos


individuais, por diversos autores, para formar um modelo de comportamento do
conjunto e criar um projeto coerente de recuperação e reforço?

A partir dessas necessidades, foi necessário estudar grande número de trabalhos


individuais para entender um modelo de comportamento e escolher um procedimento de
reforço.

2 Entendimento de um modelo de comportamento

2.1- Análise dos estudos de elementos isolados

2.1.1- A perda de resistência em elementos com expansão livre e a influência benéfica do


confinamento.

É intuitivo que as grandes perdas de resistência que acontecem no concreto com


expansão livre se devem à formação de grande número de vazios por microfissuração
interna.

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Trabalhos importantes:

 Istructe (Institution of Structural Engineers 1992) - Figura 1.

Figura 1 – Influência do confinamento

 Le Roux (1992)

 C. Larive (1998)

Principais conclusões:

 A impermeabilização pode reduzir pela metade a expansão futura (C. Larive).

 Tensões confinantes da ordem de 4 a 5 MPa impedem a expansão (observar que as


tensões de compressão nas bielas são maiores que esses valores).

 As expansões na direção de concretagem são maiores (aproximadamente o dobro)


que na direção transversal e a armadura do tirante está na direção transversal.

2.1.2- O que acontece com as armaduras

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A expansão máxima possível (5000 a 7000 micro deformações na direção de
concretagem) não consegue comprometer a armadura.

A expansão do concreto produz tração na armadura (Figura 2):

Figura 2 - O que acontece com a armadura

A reação é uma compressão no concreto em torno da barra (protensão química).

2.1.3- O que acontece com a perda de resistência em vigas e peças comprimidas

Trabalhos importantes:

Prova de carga em viga (Univ. Carolina do Norte – EUA) Shenfu Fan e John M. Hanson.

Fissuração nas vigas carregadas (Figura 3):

Figura 3 – Zona de compressão preservada

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Resultados da prova de carga (Figura 4):

N – NORMAL R – REATIVO

Figura 4 – Flechas e curvatura

Principais conclusões:

 A zona de compressão do concreto é preservada.

Apesar das grandes perdas em corpos de prova com expansão livre, as vigas de concreto
normal e reativo apresentam comportamentos de resistência mecânica semelhantes.

A grande concentração de patologias associadas à doença do concreto acontece nas


partes sem confinamento por tensões de compressão; em experiências no campo,
fizemos extração de testemunhos atravessando fissuras com grande abertura na
superfície lateral do bloco, constatando que as mesmas se fechavam a 30 a 40 cm de
profundidade, quando se aproximavam da região das bielas.
No entanto, a reação poderia gerar fissuração longitudinal nas bielas, por conta da
expansão transversal.

Para responder a essa questão, estudamos os resultados de pesquisas em elementos


comprimidos a seguir:

Ensaios em elementos comprimidos:

-Ahmed T. (Univ. Londres) – Figura 5:

Figura 5 - Perdas 20%


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- Jacob G. Kapitan (Univ. Texas) – Figura 6:

Figura 6 - Perdas 17%

- Takemura: perdas 30%.

Principais conclusões:

 As perdas máximas relatadas em todas as situações, nas piores condições, são da


ordem de 30 %.

2.1.4-O ganho de resistência em blocos com confinamento externo

A idéia básica do modelo de reforço mais usado é criar um dispositivo que possibilite a
presença de um apoio lateral, na parte inferior do bloco, para um possível espraiamento
da biela, em caso de enfraquecimento por fissuração longitudinal, conforme esquema a
seguir (Figura 7):

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Figura 7 – Confinamento externo

Trabalho importante:

Ensaios de blocos na UFPE (2007) – Figura 8:

Figura 8 – Ensaio em bloco (Ézio Araújo – Paulo Regis)

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Figura 9 – Ensaio em bloco confinado - Ganho mínimo: 35%

O resultado mais surpreendente visto na figura 9, é o aparecimento de uma nova biela


desenhando uma outra configuração de ruptura para esses casos.

Principal conclusão:

 O ganho mínimo de resistência foi de 35 %

2.1.5- Por que não fazer encamisamento rígido ao redor de todo o bloco.

Estudando um período da vida do bloco com RAA e admitindo uma expansão horizontal
livre, da ordem de 3 mm/m, é possível estimar que, encamisando o bloco com uma
parede de 30 cm de espessura, desenvolvem-se tensões da ordem de 3 MPa contra a
parede, o que é exagerado para o seu dimensionamento (carga de 300 tf/m2)

Com as mesmas condições e usando uma parede de 5 cm de espessura, essa pressão


cai para 1.4 tf/m2.

Essa conclusão permite repor armadura de pele protegida por grauteamento, para
disciplinar a fissuração futura.

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3 Reabilitação e Reforço de bloco de fundação

3.1- Consolidação das trincas

Figura 10 – Execução das injeções

Figura 11 – Consolidação das trincas

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3.2- Anel de reforço protendido (flexo-tração) e armadura de pele

Figura 12 – Visão do reforço

Figura 13 – Detalhamento do reforço

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Figura 14 - Protensão das barras Dywidag

3.3- Instrumentação para monitoramento

Figura 15 – Colocação dos instrumentos

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Figura 16 – Caixa do sistema de monitoramento

O sistema foi programado para fazer leitura automática, diariamente, às 6h da manhã e os


resultados podem ser transferidos para um computador em qualquer época.

3.4- -Bloco do poço do elevador (7 m de profundidade)

Para o poço do elevador, o processo executivo está descrito a seguir:

- Como existia uma laje de piso armada, elevada de 1m acima do terreno natural, foi
feita uma escavação por baixo da mesma e foram cravadas estacas-prancha metálicas,
macaqueadas contra a laje e escoradas horizontalmente contra a própria parede do poço
– foto 5.

- Foi feito o rebaixamento do lençol freático até a profundidade de 0.5m abaixo do


fundo do bloco e repetido o reforço projetado para os demais.

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Dessa forma, todo o trabalho de escavação e reforço foi executado, para esse e para os
demais blocos, sem nenhuma interferência com a continuidade de uso do edifício.
Ao mesmo tempo, tomando partido da existência da laje de piso armada, os blocos
continuarão sem re-aterro lateral, no interior da edificação, formando ruas (2m de altura)
que permitirão a livre inspeção futura.

Figura 17 – Poço do elevador

Figura 18 – Detalhe do escoramento

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Figura 19 – Detalhe do escoramento

3.5- Impermeabilização

Figura 20 – Bloco impermeabilizado

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4 Referências

AHMED, T.; BURLEY, E.; RIGDEN, S.. Effects of asr on bearing capacity of plain and
reinforced concrete (ACI – Structural Journal – Farnnington Hills, MI – vol. 96, 1999).

ANDRADE, TÍBERIO; SILVA, JOSÉ JÉFERSON REGO. Diagnóstico do potencial de


reatividade dos agregados e do potencial de Inibição de RAA com uso de cimentos
e de adições minerais disponíveis na RMR.

ARAÚJO, ÉZIO DA ROCHA; REGIS, PAULO DE ARAÚJO. Estudo experimental de


reforço de blocos de estacas com degradação de resistência semelhante à atuação
da RAA – Laboratório de engenharia civil – UFPE, 2007.

FIGUEIRÔA, J. P.; ANDRADE, TIBÉRIO. O ataque da reação álcali-agregado sobre as


estruturas de concreto – Editora Universitária – UFPE, 2007.

FOURNIER, BENOIT; BÉRUBÉ, ANDRÉ; BISSONNETTE, BENOIT; SMAOUI, NIZAR.


Stresses induced by ASR in reinforced concrete incorporating various aggregates
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HANSON, JOHN M. AND FAN, SHENFU. Effect of ASR expansion and cracking on
Structural behavior of reinforced concrete beams. (ACI – Structural Journal – sep / oct
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KAPITAN, JACOB G.; M. S. E.. Structural assessment of bridge piers with damage
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Tese de Doutorado)

LARIVE, C.. Apports combinés de l’expérimentation et de la modélisation à la


compréhension de l’alcali-réaction et de sés effets mécaniques (Laboratoire Central
des Ponts et Chaussées – Paris, 1998).

LE ROUX, A.; MASSIEU, E.; GODART, B.. Evolution under stress of a concrete
affected by AAR – Application to the feasibility of strengthening of a bridge by
prestressing (9th ICAAR – London, Great Britain p.599-606, 1992).

OLIVEIRA, ROMILDE ALMEIDA DE (orientador); SILVA, GEOVANI ALMEIDA DA


(mestrando). Tese de Mestrado – Recuperação de blocos de coroamento afetados
pela RAA – UNICAP, 2006.

Structural effects of alkali-silica reaction-Technical guidance on the appraisal of


existing structures (Institution of Structural Engineers - U.K.).

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