O que vai acontecer com as famílias que moram nas favelas ou
bairros carentes das cidades, num país como o nosso? O jornal paulista Folha de São Paulo, em uma reportagem publicada no dia 26 de março de 2020, afirmava: “Em quarentena – diz o jornal - 72% dos moradores de favelas têm padrão de vida rebaixada por conta da crise provocada pela Covid 19. A reportagem explica a razão disto estar acontecendo. A metade dos trabalhadores que vivem nas favelas são autônomos precários e sobrevivem nas “virações” e lutam para ter os básico para sobreviver. Um bom número deles são trabalhadores informais e não podem contar com o suporte da legislação trabalhista nem com as políticas de emergência, pensada somente para quem tem carteira assinada. São trabalhadores precários, vivendo a “vida nua”, onde um dia comem e no outro dia saem para o trampo para ter algo para comer e manter a família. A reportagem, também, cita moradores de uma favela localizada na Zona Sul de São Paulo que estão sentindo na pele os efeitos causados por esse vírus. Mas é preciso compreender que a “vida normal” das pessoas excluídas é a batalha diária para chegar em casa com alguma coisa para comer e “improvisar” algo para não morrer de fome. Não é, portanto, o Coronavírus a única causa da precariedade em que vive uma grande parcela da população, seja em São Paulo, seja no Rio de janeiro e outros estados da federação. Quem conhece o nordeste e o norte do país não deixa de observar a imensa desigualdade social, as “vidas e mortes Severinos”. O vírus acelera as mortes, mas elas sempre fizeram parte da realidade urbana de nosso país. Digo isso porque morei no Norte, na “Paulicéia Desvairada”, no Nordeste, onde o que vemos diariamente são pessoas pedindo esmolas pelas esquinas; favelas imensas nos centros urbanos, assassinatos e repressão violenta por parte das polícias que cresce. Vejam, por exemplo, como vem crescendo o aprisionamento no nosso país e no mundo. mostrando as suas faces trágicas e cruel. Há vários tipos de segregação e o presidio é uma delas. Mas ficar segregado nas suas casas e não conseguir dar alimentos para seus filhas e filhos é algo cruel. Pois é assim a vida de quem mora nas periferias. Quando não se tem básico para sobreviver a vida torna-se um inferno. Não se vive, sobrevive-se, o que transforma os seres humanos em inumanos, despertando ódios e culpas. É a barbárie! Esses são os imensos números de pessoas que não contam com nenhum tipo de proteção e vivem ao “Deus Dará”, como dizia a canção. Como diz a reportagem na Folha de São Paulo, “quando o vírus tocar nas favelas e nas periferias das cidades, o que veremos é um genocídio. E genocídio é, literalmente, a eliminação, a morte dos pobres. É impossível não imaginar, diante dessa catástrofe, se algo muito perverso não vem sendo planejado para, literalmente, eliminar os pobres. Observem o comportamento das classes mais aquinhoadas com relação aos pobres, as vezes explicitados diretamente ou de forma camuflada. Há, sim, um forte desejo de extermínio e não é de hoje. Estamos no pico de uma tragédia humanitária, alimentado pelas elites donas do dinheiro. Eles querem ver um imenso número de pessoas longe de seus olhos. Essa é a dura e trágica realidade. O pior é que a miséria material esconde uma outra tragédia: a ignorância, o ódio e, porque não dizer, um certo masoquismo. Os pobres adeptos do Presidente Bolsonaro sabem muito bem cultivar o ódio e comandar uma legião de pessoas que sonham com um mundo melhor, que, segundo eles, “Deus dará”, como diz a canção. A cegueira está nos levando ao caos. Isso está diante de nossos olhos, mas negamos isso, infelizmente!
O QUE NÓS TORNA HUMANOS?
Benedito Carvalho Filho (Publicado dia 02.07,2020)
Esta pergunta tem, nesses tempos sombrios em
que estamos vivendo, chamado minha atenção, principalmente depois que vi aqui na Internet as falas nas redes sociais do grande pensador chamado Mário Vitor dos Santos, que fundou um espaço cultural chamada A Casa do Saber. O homem é “o lobo do homem?” Afinal, o que somos e para onde vamos? Se olharmos o que aconteceu (e vem acontecendo) isso nos leva a pensar que o “mal-estar na civilização” (Freud) tende a se agravar e nos levar a uma tragédia. Eis aí o que temos diante de nós: uma forte pulsão de morte nessa era de peste, talvez mais dramática daquela narrada por Camus no seu livro exatamente chamada A Peste. Fico impressionado como muitas pessoas, mesmo diante da catástrofe que estamos vivendo são otimistas diante dessa crise, onde a morte ronda os nossos lares e nas ruas. Alguns acham que tudo passa e vamos sobreviver. Será isso vai acontecer? Freud em um de seus livros escreveu sobre a chamada “pulsão de vida” e “pulsão de morte”. Mas observem o que está acontecendo no nosso país e no mundo? Quem observa o que está passando no mundo não pode ser muito otimistas. O que temos diante de nós é macabro e nos leva a crer que caminhamos para uma catástrofe. O que torna humano é a capacidade de se sensibilizar pelos outros, tanto os que estão perto como os que estão longe. O que nós torna humanos é a capacidade de se indignar com as injustiças que vemos diante de nós. O que nos torna humanos é ter sentimento e amor pelos seres humanos. O que nos torna humanos, demasiadamente humanos (Nietsche) é conviver com os outros, desejar que todos vivam bem e sejam felizes. O que nos torna humanos é deixar de ser onipotente, narcisista sempre pensando na sua vidinha sem vergonha. O que nos torna humanos é partilhar a vida como outros, amá-los em todas as circunstância. O que nos torna desumanos é achar que a pobreza é uma coisa natural, que sempre foi assim. Isso é uma fuga para não assumir as responsabilidade que temos na sociedade, lutando pela justiça e as desigualdades sociais. O que nos torna humano é correr risco de enfrentar os poderosos, interessados somente nos seus lucros. Uma pessoa humana, demasiadamente humana, é capaz de se indignar com a desigualdade social, com esses lucros imensos, onde os 200 pessoas mantém uma riquezas de um trilhão maior que os PIBs brasileiros. Nos anos 70-80 muita gente, sensibilizadas pelo crescimento da pobreza, ia para as favelas, baixadas e todos os lugares onde havia miséria. Mas, infelizmente, isso não existe mais ou está muito reduzido. Quem é que vai para esses lugares hoje em dia? A compaixão sumiu e o que vemos é uma sociedade individualista onde ter é o único interesse. O que nós torna humanas é não está pensando que cursar uma universidade nos leva necessariamente a uma ascensão social, fechando nos seus individualismos. O que nós torna humanos é não odiar ou viver a sua vidinha sem vergonha, como se nada estivesse acontecendo na sua cidade. O que nós torna humana é saber que somos seres que um dia morrerá, desaparecera, pois a arrogância não leva ninguém a nada. O “Deus Dinheiro” com sua arrogância pode nos levar a uma tragédia, tão evidente Fora a arrogância, a insensibilidade, o ódio. Somos seres mortais. Na Itália temos 6 milhões de pessoas morrendo. Os sinais do tempo estão diante de nós. “Isso é um homem” A SUSPENSÃO DAS AULAS NA UFAM Benedito Carvalho Filho
Esses dias estive na Universidade Federal do
Amazonas, que está em quarentena por 15 dias. Mas, pelo andar da carruagem, com esse agravamento provocado pelo coronavírus, a paralização vai continuar e não sabemos quando vai voltar normalidade. O certo é que A floresta está esvaziada e o silêncio reina nos espaços da instituição. Quanto tempo isso vai durar? Isso ninguém sabe. Mas se dependesse de Bolsonaro a quarentena já teria terminada, o que seria uma tragédia inominável. Seria um viva la muerte, pois, como dizia Miguel Cervantes, pois “o medo tem muitos olhos e enxerga no subterrâneo.” (Dom Quixote). Fui informado que algumas pessoas estavam desejando a transmissão das aulas pelas redes sociais, ou seja, pela Internet. Ou seja, cada professor se cadastraria e ministrava suas aulas por esse meio. E me perguntei: não era isso que estava (ou ainda está) nos planos do Ministro da Educação? Não seria um oportuno projeto de ensino à distância, como o próprio Ministro vem dizendo, e, talvez apostando nessa aposta? Não estou nada otimista com o que vem pela frente se a peste se prolongar. Achei sensata a posição dos dirigentes da instituição em adiar a volta, mas a dramática situação nos leva a uma quarentena mais prolongada, principalmente porque estamos vendo o vírus se espalhar pelo mundo. Zygmunt Bauman, no seu livro chamado O Medo Líquido (Editora Zahar), já dizia que “bizarro embora muito comum e familiar a todos nós, é o alívio que sentimos, assim como o súbito influxo de energia e coragem quando, após um longo período de desconforto, ansiedade, premonições sombrias, dias cheios de apreensão e noites sem sono, finalmente confrontamos com o período real: uma ameaça que podemos ver e tocar. Que talvez essa experiência não seja bizarra quanto parece ser, afinal, viemos saber o que estava por trás daquele sentimento vago, mas obstinado de algo terrível e fadado a acontecer que ficou envenenando os dias que deveríamos estar aproveitando, mas de alguma forma não podíamos - e se tornou nossas noites insanas...Agora que sabemos de onde vem o golpe, também sabemos o que possamos fazer, se há algo a fazer, para afastá-lo – ou pelo menos aprendemos como é limitada nossa capacidade de emergir incólumes e que tipo de coisa e que tipo de perda, dano ou dor seremos obrigados a aceitar.”(p.7) O que nos torna mais preocupados nessa era de coronavírus é saber como esse vírus vem se propagando em todo mundo, aumentando as nossas incertezas, nos fragilizando, entrando em depressão. Além do terrível medo da morte (que mais cedo vai acontecer) não poderíamos tornar uma boa maneira de usar o tempo dentro de casa e aproveitar para ler, para meditar e ficar mais perto dos seus entes queridos, dos amigos? Somos produto de um tempo que poderíamos chamar de pós-modernidade, viciados no consumo, que deseja gozar, se desterritorizalazer, frequentar shopping-center. Uma “vida para o consumo”, como nos mostrou o mesmo Zygmunt no seu livro chamado Vida para Consumo – A transformação das pessoas em mercadoria, Editora Zahar. As pessoas parecem embriagadas, alienadas, e em crise quando não podem consumir. Mas, até que ponto, esse não é um “convite” para que possamos mudar os nossos padrões de vida? É evidente que vamos sofrer muito nesse processo, mas o que estamos experimentando nessa tragédia que estamos vivendo, cuja dimensões parecem trágicas, pode se tornar um momento para cada um refletir sobre sua vida; esse “estar no mundo”, algo tão provisório e efêmero e, por isso, produtor de mal- estares.
O Futuro de uma Ilusão Sigmund Freud I Quando já se viveu por muito tempo numa civilização específica e com freqüência se tentou descobrir quais foram suas origens e ao longo de que caminho ela se desenvolveu